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Bartolus de Saxoferrato, comumente conhecido como Bártolo, foi um importante

jurista italiano do século XIV. Nascido em 1313 na cidade de Saxoferrato, na região das Marcas.
Bártolo teve uma influência significativa no campo do direito durante o seu tempo e o seu
trabalho continua a ser estudado até hoje.

Bártolo estudou direito na famosa Universidade de Bolonha, uma das principais


instituições de ensino jurídico na Europa medieval, destacando se como aluno e, após concluir
os seus estudos, tornou-se professor na mesma universidade.

A sua obra mais famosa é o "Tractatus de Tyranno" (Tratado sobre o tirano), onde ele
discute o poder e a autoridade dos governantes. Bártolo defendia a ideia de que um
governante tirano, que age de forma contrária ao bem comum, pode e deve ser deposto.

A obra foi escrita no século XIV e teve influência significativa nas teorias políticas e
jurídicas subsequentes. Bártolo defendia a ideia de que a autoridade do governante está
vinculada à sua capacidade de governar em benefício da comunidade e de acordo com a lei.
Quando um governante se torna um tirano, agindo arbitrariamente e abusando do seu poder,
ele perde essa autoridade legítima.

Segundo Bártolo, um governante tirano pode ser deposto por um processo legal. Ele
argumentava que a deposição de um tirano não apenas era justificada, mas também era um
dever moral dos cidadãos, pois a tirania era considerada um regime ilegítimo e contrário ao
bem comum.

O tratado também aborda questões relacionadas à resistência ao tirano e à forma


como os cidadãos podem se opor a um governante opressor. Bartolo discute o conceito de
“resistência passiva”, ou seja, a recusa em obedecer a ordens ilegítimas, bem como o direito
dos cidadãos de se defenderem de medidas tirânicas.

O “Tractatus de Tyranno” teve grande influência no pensamento político e jurídico


subsequente, particularmente nas teorias sobre o poder do Estado e a legitimidade do
governo. O seu argumento de que um governante tirano pode e deve ser deposto foi retomado
por pensadores posteriores, como John Locke, que sustentava que o povo tinha o direito de se
rebelar contra um governo opressor, um dos principais teóricos do liberalismo.

Em resumo, o “Tractatus de Tyranno” é uma obra importante que defende a ideia de


que um governante tirano pode ser deposto e que os cidadãos têm o direito e o dever de
resistir a governos ilegítimos. A sua influência no campo do direito e na teoria política é
duradoura e o seu tratado continua sendo estudado e discutido até hoje.

Bártolo também escreveu extensivamente sobre direito civil e direito canônico. Os


seus comentários sobre o Corpus Juris Civilis, uma compilação do direito romano, foram
particularmente significativos e tiveram um grande impacto na prática jurídica em toda a
Europa, contribuindo significativamente para a sistematização e o desenvolvimento do Direito
Romano no período medieval.

No entanto, é importante notar que o Corpus Juris Civilis de Bártolo não é uma obra
original, mas sim uma compilação e comentário sobre o Corpus Juris Civilis de Justiniano, um
documento legal romano do século VI. Embora seja admirável que Bártolo tenha se dedicado a
estudar e interpretar essas leis antigas, o seu trabalho não pode ser considerado inovador ou
revolucionário.
Além disso, o Corpus Juris Civilis de Bártolo é fortemente influenciado pela visão
teológica da época, o que pode limitar a sua relevância para estudos jurídicos
contemporâneos. As suas interpretações muitas vezes misturam conceitos religiosos e legais, o
que pode prejudicar a compreensão precisa do direito romano.

Embora seja importante reconhecer a contribuição de Bártolo para o estudo do direito


civil, é necessário considerar o contexto histórico e as limitações do seu trabalho. Hoje em dia,
há muitas outras obras e teorias mais atualizadas e abrangentes sobre o direito romano, que
oferecem uma perspetiva mais completa e atualizada.

Por sua vez, O Corpus Juris Civilis de Justiniano é uma das obras legais mais
importantes da história e um dos pilares do direito romano. Elaborado no século VI pelo
imperador bizantino Justiniano, é composto por quatro partes principais: o Código, as
Institutas, as Pandectas e as Novelas.

O Código de Justiniano foi uma reunião e sistematização das leis romanas vigentes, que
buscava eliminar contradições e tornar o direito mais claro e acessível. As Institutas são um
manual introdutório ao direito, destinado a estudantes e principiantes nesta área. As
Pandectas, também conhecidas como Digesto, são uma coleção de trechos selecionados das
obras dos juristas romanos, que servem como precedentes e orientam a interpretação das leis.
Por fim, as Novelas são leis promulgadas posteriormente por Justiniano, abordando assuntos
que não estavam contemplados nas outras partes do Corpus Juris Civilis.

Esta obra teve um impacto duradouro no campo do direito civil, influenciando sistemas
jurídicos em todo o mundo. A sua organização, clareza e abrangência serviram de base para o
desenvolvimento de várias codificações civis ao longo dos séculos.

No entanto, é importante ressaltar que o Corpus Juris Civilis de Justiniano também


reflete as circunstâncias e valores da época em que foi elaborado. Algumas das suas leis podem
parecer ultrapassadas ou injustas à luz dos padrões atuais. Além disso, a obra tem uma
perspetiva fortemente centralizadora e imperial, enfatizando o poder e a autoridade do
imperador.

Apesar dessas limitações, o Corpus Juris Civilis de Justiniano continua sendo um marco
fundamental na história do direito, uma fonte valiosa para estudiosos e uma referência
importante para compreendermos o desenvolvimento e a evolução do direito civil.

Mas voltando a falar de Bartolo, este ainda, foi um dos primeiros juristas a utilizar a
língua vernácula (italiano) em seus escritos jurídicos, o que permitiu que suas obras fossem
mais acessíveis e populares entre estudantes e profissionais do direito.

A sua influência na lei foi tão significativa que Bártolo é frequentemente considerado o
pai do direito internacional. Os seus escritos e ensinamentos estabeleceram as bases para
muitos dos princípios jurídicos que ainda regem as relações entre os países hoje.

Bartolo morreu em 1357, mas o seu legado como jurista e pensador do direito
continua vivo os seus escritos são amplamente estudados e muitos de seus argumentos e
conceitos ainda são relevantes no campo do direito moderno.

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