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I. A. CASTANHEIRA NEVES, "O Método Jurídico", p. 224-228; PAULO FERREIRA DA CUNHA, JOANA AGUIAR E SILVA,
ANTÓNIO LEMOS SOARES, História do Direito, Almedina, 2005, cap. VI.
Bibliografia complementar: PETER STEIN, Roman law in European History, Cambridge University Press, 2004, pp. 38-54,
64-67, 71-76, cap. 2; FRANZ WIEACKER, História do Direito Privado Moderno, 4a. Ed., Fundação Calouste Gulbenkian,
Primeira Parte: os fundamentos medievais da história do direito privado moderno; RUIZ MIGUEL, Una Filosofia del
Derecho en Modelos Históricos, Editorial Trotta, 2002, p. 75-100. ALFONSO RUIZ MIGUEL, Una Filosofia del Derecho en
Modelos Históricos, Editorial Trotta, 2002, p. 57-73; PAULO FERREIRA DA CUNHA, JOANA AGUIAR E SILVA, ANTÓNIO
LEMOS SOARES, História do Direito, Almedina, 2005, cap. IV; ALMEIDA COSTA, História do Direito Português, Capítulo II;
SEBASTIÃO CRUZ, Direito Romano, vol I, 4a ed., 1984, no 6, 10, 19, 20 e 27.
II. Bibliografia complementar: NORBERTO BOBBIO, O Positivismo Jurídico: Lições de Filosofia do Direito, Ícone Editora,
2006, capítulo III – O código de Napoleão e as origens do Positivismo Jurídico na França.
III. Polis:
i. Jurisprudência dos Conceitos (Nuno Espinosa Gomes da Silva)
ii. Jurisprudência dos Interesses (Castanheira Neves)
iii. Jurisprudência dos Valores (Luiz Fernando Coelho)
iv. Escola do Direito Livre (Castanheira Neves)
v. Escola da Exegese (Castanheira Neves)
vi. Escola Histórica do Direito (Castanheira Neves)
vii. Teoria Pura do Direito (Baptista Machado)
viii. Interpretação Jurídica (Castanheira Neves)
ix. Método Jurídico (Castanheira Neves)
Bibliografia Principal:
- A época clássica – direito liberta-se do formalismo inicial para se recriar pela inteligência e prudência
dos juristas.
- Contexto de surgimento da Lei das XII Tábuas e suas consequências: [451 - 450 a.C.]
o Autonomia do direito;
o Mais certeza e segurança -> precisão de contornos do direito quiritário.
o Liberdade -> responsabilidade.
-Intencionalidade axiológico-material do direito -> exige que se quebrem velhos formalismos. Uma
ruptura?
Outra influência da cultura grega: a dialéctica. Também ela veio permitir o salto qualitativo na
jurisprudência dos romanos, sobretudo no que se refere à tópica.
- direito de juristas – justo prático [não de legislação nem juriscional] – ius naturalis.
a) Receção do Direito Romano no século XII. Supervivência: DR, embora sem o factor que lhe
deu origem – a civitas – permanece aplicável.
b) Processo de reconstrução da obra justinianeia como processo lento (só em 1583, Dionísio
Gotofredo imprime conjuntamente todos aqueles textos e lhes dá o nome de Corpus Iuris
Civilis).
c) Entre os séculos V e XI existiam escolas jurídicas, mas no oriente bizantino.
d) No ocidente, as primeiras escolas a autonomizarem o ensino do Direito são as que maiores
ligações tinham com o oriente bizantino: Ravena, Pavia, Bolonha.
e) Não é fruto de um domínio ou invasão de um povo estrangeiro, mas é assumido
voluntariamente por um grande conjunto de Estados, que vêm no DR uma solução para os
seus problemas jurídicos.
f) Já não é pensado como em Roma – contextualmente diferente.
g) Tribos germânicas – pluralismo – consuetudinarismo- vulgarização perante os costumes
locais.
h) Redescoberta do CIC – Digesto.
- Pensamento dogmático: os textos da antiguidade são intocáveis. Não são testemunhos históricos
do que se acreditava ser verdade numa determinada época, mas são entendidos como a própria
verdade. Apresentam o carácter de uma revelação que, se bem entendida, ou seja, se bem
interpretada, conduz à verdade. Eles são a ratio scripta! Testemunhos históricos da verdade. Teologia
e supremo conhecimento – revelação. Conhecer não é investigar, mas entender devidamente a
palavra e a doutrina. O CIC continha em si as regras da razão prática e da justiça. Exegética e
Comentário. Depuração e técnicas gramaticais e filológicas em vista à distinção, à síntese, ao
esclarecimento dos textos.
- Assim estão criadas as condições para o renascimento do Direito Romano na Idade Média, que vai
dar origem a uma específica experiência jurídica medieval, principalmente naquilo que foi a
expressão de duas principais escolas – os Glosadores e os Comentadores.
b) Tarefa do jurista: O CIC é admitido como texto de autoridade, logo, não se engana
(pensamento dogmático). Nele está a verdade, por isso convém compreendê-lo
corretamente – comprehensio legis. Técnica da glosa, essencialmente assente em
exegese gramatical com vista ao esclarecimento, à conciliação, à distinção e à síntese
dos textos relevantes.
c) Aqui nota-se já uma intenção dogmática (processo cognitivo cujas condições e
princípios fundamentais já estão predeterminados por uma autoridade). O seu modo
de trabalho não é casuístico, de busca indutiva de soluções justas a partir dos casos
concretos, mas com eles aparece já um tipo de pensamento dogmático de solução
dedutiva a partir dos textos jurídicos romanos e canónicos que refletiria a mesma
reverência ao texto da lei que cultivarão os juristas positivistas dos séculos XIX e XX,
que, nesta medida, não teriam feito mais do que continuar a esteira aberta pelos
primeiros civilistas e canonistas medievais.
d) O texto aqui pré-existe como colectânea de decisões, já constituída e objectivada.
e) Relação entre autoridade e razão – o objectivo dos glosadores é comprovar com o
argumento da razão (lógica escolástica - dialéctica) a verdade irrefutável da
autoridade (e não a justeza da afirmação, porque para eles isso seria já ponto de
partida).
f) O modus era o tipo escolástico, o recurso à lógica aristotélica e à retórica, fossem os
problemas reais ou imaginários, a invocar textos ou opiniões de autores, conjugadas
numa communis opinio.
✓ Resultado:
a) Domínio do texto romano - anunciou à Europa a importância do CICivilis.
b) Treino na exploração lógica dos problemas jurídicos;
c) Jurisdicionalização da Europa, onde se substitui a imposição de uma força e de
costumes irracionais só por si, procurando-se antes a justificação pelo Direito. Este
factor será essencial no progresso da cultura na Europa, promovendo o legalismo.
d) O que se aprendia com os glosadores era um método, uma gramática jurídica e não o
direito realmente aplicável nos vários domínios.
e) Nova classe de homens cultos (além dos clérigos): os juristas. Estes intervinham na
vida pública profana: diplomacia, administração civil, administração da justiça.
✓ Críticas:
a) Regressão da razão prática e da justiça pelo culto da autoridade e do formalismo
lógico.
A Magna Glosa sobre o CIC de Acúrsio viria a adquirir um prestígio extraordinário, procurando
satisfazer exigências de certeza do direito. Gradualmente é dada prioridade ao estudo da Glosa sobre
o dos próprios textos justinianos e tornou-se muito forte a fidelidade à glosa, manifestada no brocado
Quod non adgnovit glossa, non adgnoscit curia – o que não reconhecido pela glosa, também não é
reconhecido pelo tribunal. Os magistrados, temendo cometer algum erro, seguiam à risca a glosa,
esquecendo até os textos originais. Inclusivamente, começaram a fazer-se glosas sobre as glosas já
existentes, sem passarem pelo texto original.
Pensa-se que terá começado aqui a consciência da doutrina como fonte de direito. “[A Magna
Glosa] salva tudo aquilo que nela se inclui e faz cair no esquecimento tudo aquilo que dela fica
excluído”. Foi aqui que a Escola dos Glosadores estagnou, chegando ao seu fim e deixando espaço ao
aparecimento de uma nova escola – a dos comentadores.
Escola dos Pós-glosadores ou Comentadores (séculos XIV e XV, as suas metodologias vão dominar
até ao século XVIII)
Após a Glosa de Acúrsio, considera-se que a interpretação dos textos está definitivamente feita.
Então que espaço existe para os comentadores?
- Características:
e) Juristas assumem-se cada vez mais como uma autoridade, gerando-se uma nova fonte
de direito -> argumento de autoridade -> doutrina da comum opinião dos doutores.
Instrumentos do saber e ação humana – auctoritas e ratio. Há uma ligação essencial aos textos, que
não foi perdida, mas acentuada ao longo da Idade Média. Interpretação torna-se mais artificiosa e
imponente, para dar resposta às necessidades práticas...
Pensa-se o direito como lex (os legistas). A estrutura dogmática do direito europeu nasce na Idade
Média.
O direito passa a ser entendido como uma normatividade que se retira de fontes textuais, como
lex; o seu pensamento jurídico é essencialmente hermenêutico do ponto de vista epistemológico, e
lógico-dialéctico na metódica, que haveria de marcar (hermenêutica e dogmática) a ciência jurídica
europeia até ao presente.
PENSAMENTO JURÍDICO MODERNO [15]
- filosofia prática, embora comece já a tomar contornos que vão facilitar a sua transição para
o positivismo jurídico, já no século XIX –> Direito como ciência.
- Primeiro impulso: humanismo – autonomia do homem: a sua plena realização temporal e
como fundamentos únicos, a razão e a experiência, mas vista numa razão fundamentada nos
seus próprios axiomas e não transcendente ou “natural”. A natureza do homem! O direito
natural, mudado agora, assumia-se como princípio e modelo da interpretação segundo a
recta razão. Uma nova antropologia: o homem não aparece mais como uma obra divina,
eterna e desenhada à semelhança de Deus, mas como um ser natural, como elemento de um
mundo apreensível através de leis naturais, a desenvolver à natureza da sociedade, do direito,
do estado – também para estes haverá de se formular leis com a imutabilidade das deduções
matemáticas.
- Racionalismo: atitude espiritual que se traduz num abuso ou excesso de confiança na razão,
considerando-se que:
o Tudo o que é real é inteligível, ou seja, a razão consegue compreender tudo o que
existe;
o Não há conhecimento para além da razão, ou seja, exclui-se do conhecimento (e
também da ordem moral e religiosa) tudo o que, por definição, lhe é superior (supra-
racional) ou estranho (irracional).
Ou seja, estes métodos olham para o ser humano, enquanto ser social, como objecto de observação
e de conhecimento, liberto de pressupostos. Assim, o objectivo é encontrar as leis naturais que
regem os homens e que serão as leis da sociedade: objetivo do pensamento jurídico –> construção
de sistemas de direito natural; deste modo, descobre-se um sistema de Direito Natural (=leis naturais
da sociedade) que se vai dualizar perante o sistema de Direito Positivo:
✓ Direito natural deixa de ser visto como a fundamentação do direito positivo, intimamente
relacionado com as validades axiológicas comunitárias, para passar a ser a interpretação
segundo a recta razão, ou seja, a regra expressa ditada pela recta razão, em tratamento
analítico-dedutivo.
✓ Deus deixa de ser o verdadeiro fundamento do Direito –> há uma nova configuração do
direito natural. A verdadeira fonte de toda a moral e de todo o direito radica na natureza
racional do homem (e não noutros fundamentos, como Deus). Essa natureza é o logos que é
apreensível pela razão, comum a todos os homens, e que vai ordenar toda a actividade social.
✓ Atitude metódica:
o Razão não é serva da revelação;
o Razão é fonte autónoma de conhecimento do justo;
o Princípios de direito natural internos ao ser humano (≠reflexo de lei natural);
o Construção de sistemas completos e imutáveis de direito natural –> prenuncia já o
movimento de codificação na Europa –> fruto do Jusracionalismo.
o O sistema jurídico “normatiza-se”, através de regras a prescrever ou prescritas,
fundadas lógico-dedutivamente: de um sistema axiológico para um sistema de
regulamentação.
Um programa político-jurídico e não mais axiológico, a ser cumprido numa legislação sistemática,
numa codificação, num sistema de regulamentação.
Não já um conjunto de decisões prudenciais, não já um sistema de critérios dogmáticos e exegéticos,
mas antes um sistema lógico de normas a prescrever ou já prescritas – uma perspetiva normativista
do direito vence-se, afirmando-se plenamente.
As codificações oitocentistas
✓ Consequências metodológicas:
o O direito identifica-se com a lei escrita, de vocação totalizante, crente de alcançar uma
normatividade acabada, pré-determinada, não dependente de posteriores
interpretações = pouco espaço para interpretação.
o Carácter objectivo e neutral da linguagem jurídica, capaz de transmitir com clareza um
ou mais sentidos inequívocos e definitivos;
o Distinção entre a esfera política e jurídica;
o A racionalidade é imanente aos Códigos;
o Criação de regras interpretativas, tendentes a garantir a uniformidade dos resultados
interpretativos.
Nota distintiva: jurisprudência procurar agora o seu lugar já não numa filosofia prática, mas no meio
da ciência, descartando qualquer referência a valores e à dimensão prática do Direito, ou seja, ao
momento da sua aplicação.
Posição do juiz Juiz como livre órgão da sociedade Juiz como órgão do Estado –> juiz é
quanto à –> Juiz não está obrigado a escolher titular de um dos poderes estatais e
formação do Dto as normas emanadas pelo Estado, está subordinado ao poder
mas tem certa liberdade de escolha legislativo. O direito positivo é o
na norma a aplicar: costume, direito posto e aprovado pelo
doutrina, equidade… todas estão ao Estado –> é o único e verdadeiro
mesmo nível. O juiz escolhe a que se direito.
adapta melhor ao caso.
✓ Direito também se quer afirmar como ciência –> juristas dedicam-se à procura do método,
pois ele é que vai elevar a Jurisprudência à categoria de ciência.
✓ Diferença radical em relação ao método jurídico romano e medieval:
o Conceito descritivo de MJ: métodos identificam-se com a prática do pensamento
jurídico; é pela análise, pela descrição da prática que se chega ao método.
o Conceito normativo de MJ: há uma construção doutrinal que visa prescrever, prévia
e autonomamente, o modelo e o processo que o pensamento jurídico deve cumprir
para actuar correctamente.
✓ Pressupostos
o Funções do jurídico: segurança das expectativas + igualdade de tratamento.
o Não podemos compreender o positivismo jurídico do século XIX sem referência a duas
escolas fundamentais deste século – Escola da Exegese e a Escola Histórica – que,
apesar de diferirem muito nos seus pressupostos, partem de um ponto comum: o
direito é um pressuposto. A forma como se chega à conclusão de que o Direito é um
pressuposto é diferente nestas duas escolas:
Mas a consequência é a mesma: se o direito já está criado, já está posto, e se essa positivação não
passa pelo jurista enquanto tal, então a tarefa do jurista já não é a de contribuir para essa criação,
mas sim a de conhecer o Direito que já está constituído.
Tarefa do jurista –> perceber quais as relações entre os conceitos de direito, através de um processo
de lógica formal.
✓ Coordenadas
o Redução do jurídico a estruturas e categorias formais;
o Elaboram-se dogmaticamente conceitos e institutos jurídicos de índole abstracto-
formal, para construir um sistema unitário e fechado;
o Este sistema não deve ter contradições, nem lacunas -> tarefa de interpretação do
jurista fica reduzida a uma interpretação filológico-analítica;
o Pensamento jurídico de tipo lógico-formal e dedutivo: a norma funciona como
premissa e a solução como a conclusão, ou seja, autonomiza-se o momento da criação
e o momento da aplicação do direito.
o A validade dos juízos jurídicos não se afere por referências axiológicas ou intenções
práticas, mas pela coerência sistemática, ou seja, a conclusão a que o jurista chega
tem de se enquadrar de forma lógica no sistema que entretanto foi construído. Cada
conceito tem que estar encadeado e a solução tem de ser reconduzível à norma.
– ESCOLA DA EXEGESE
✓ Expoentes da EE: Alexandre Duranton, Charles Aubry e Frédéric Charles Rau, Jean Demolombe,
Troplong.
✓ Foi nesta escola que o legalismo da codificação pós-revolucionária, ou seja, o legalismo que se
estabeleceu após a Revolução Francesa e que se exprimiu, de forma excecional, no Code Civil,
onde encontrou a sua expressão doutrinária e metodológica;
✓ Pressões exercidas pelo regime napoleónico sobre as ED para que fosse ensinado apenas o
Direito Positivo. Há um desprezo pela filosofia e pela história. Bugnet: “Eu não conheço Direito
Civil, eu só ensino o Código de Napoleão”.
✓ Códigos oitocentistas –> produto do Jusracionalismo. Eram o produto de uma crença ilimitada
na razão humana, a quem se concedia a capacidade de descobrir e plasmar em obras unificadas
– os códigos – todas as leis humanas, que fossem justas. É claro que o princípio jusracionalista
admitia que essa razão se fosse descobrindo e adaptando às novas situações históricas que
surgissem. Disso mesmo nos dá conta Portalis no discours préliminaire ao Code Civil –> diferença
entre intenção dos redactores e intenção dos intérpretes. São os intérpretes do Código Civil que
vão formar a EE – são eles que adoptam de forma absoluta o princípio da omnipotência do
legislador, que é um dos dogmas do positivismo jurídico.
Postulados capitais:
1. Identificação do Direito com a Lei: este é um pressuposto que nos abre para uma questão mais
profunda -> pressuposto fácil de explicar, porque contende com a questão das fontes do Direito –>
a lei, ou seja, as normas gerais emanadas pelo Estado, é a única fonte de Direito.
Busílis da questão -> bivalência da expressão “lei”.
Trata-se de uma contradição? Num certo sentido sim, mas existe em toda esta concepção uma última ideia
que permite conciliar esta bivalência: a conformidade da lei positiva à justiça é um pressuposto adquirido:
Legislador = intérprete racional da vontade geral, vontade essa que resulta do contrato social, pelo qual os
cidadãos limitam a sua liberdade, delegando-a no Estado, então a lei, expressão do pensamento do
legislador, é também ela conforme às aspirações de cada um –> princípio da omnipotência do legislador.
Isto é um pressuposto adquirido: a lei positiva é conforme à justiça – inversão das relações tradicionais
entre DN e DP: em lugar de mensurar a validade do DP com base na sua conformidade com o natural, afirma
que o DN é tanto mais relevante quanto seja consagrado pelo DP.
Em suma, mais tarde, este postulado da Escola da Exegese, de uma identificação do Direito com a Lei, vai
passar a ser entendido apenas no sentido da lei como prescrição do Estado, portanto, prevalece a conceção
estatista –> mentalidade dos juristas é de respeito pela autoridade do legislador, facilmente conhecida na
lei. Portanto, há um culto ao texto da lei – o intérprete deve ser rigorosamente subordinado às disposições
do Código.
2. Exclusividade da Lei como critério jurídico: só o conteúdo normativo da Lei contém os critérios dos
juízos jurídicos decisórios. Não se confunde com o anterior, pois poder-se-ia defender que o Direito
é apenas a Lei, mas considerar que a interpretação do Direito ou a aplicação do Direito exige o
recurso a critérios normativos complementares.
Crítica: este é um pensamento a-histórico do histórico, porque não atende a qualquer validade de
critérios que se encontrem fora da lei, ainda que eles decorram das necessidades concretas da
sociedade.
3. Postulado da suficiência da Lei: exclusão de lacunas. Esta concepção de Direito fomenta a criação de
um sistema completo e fechado. É diferente do critério anterior, porque o facto de se decidir com
base apenas em critérios legais não significa que se considere que todos os casos estão previstos pela
lei. Assim, o juiz é obrigado a decidir ele próprio em todos os casos, mas sem lhe ser reconhecida
uma tarefa criativa. Mas como? É aqui que entra a questão do método, que nunca poderá ser outro
que não aquele que dá nome à Escola – o de uma estrita exegética.
Metodologia
3. Recusa da demanda – então o que acontecia aos casos que não estavam previstos na lei? Já sabemos
que o juiz não pode denegar a justiça, ou seja, ele não pode deixar de julgar e de dar uma solução ao
caso… A não ser que considere que esse caso não é jurídico, ou seja, que não deve cair na alçada do
Direito. Ora, se o próprio Código considera que existem em si todas as soluções jurídicas e se
aparece um caso cuja solução não está no Código, então a conclusão lógica é que o problema
colocado perante o tribunal não é um problema jurídico… portanto, a solução é a recusa da
demanda.
Estrutura do silogismo:
Então, o que vamos ter na EE é a apologia do silogismo judiciário, que seria a forma de raciocínio a adoptar
pelo juiz ao decidir o caso sub iudice. De facto, por muito que a EE identificasse o direito com a lei, a verdade
é que nem ela poderia negar que as proposições jurídicas, ou seja, as regras de direito existem para serem
aplicadas. A forma de aplicação da norma jurídica será então a do silogismo judiciário. Este silogismo, na
verdade, vai ser composto por duas operações lógicas, ou seja, por dois raciocínios:
S = P1 (S é um caso de P)
• Pode acontecer que a mesma situação da vida realiza as previsões de diferentes proposições
jurídicas, que são aplicáveis conjuntamente.
• Pode acontecer que a situação da vida, tendo todas as notas características de uma previsão legal,
ainda tenha mais alguma que vai excluir a aplicação dessa previsão legal para ser aplicada uma outra
previsão legal de uma norma especial ou excepcional.
Na lógica, diz-se que um silogismo de subsunção é aquele que ocorre de modo a que «os conceitos de menor
extensão se subordinem aos de maior extensão». Portanto, trabalha-se com conceitos. Ex: mesa.
Mas no silogismo nós não vamos subsumir conceitos a conceitos, mas uma situação da vida, ou seja, factos,
a um enunciado legal.
Ora, na verdade, esta afirmação também não é correcta, porque não vamos subsumir factos, mas sim
enunciados sobre uma situação de facto.
Para se poder produzir este enunciado, há que haver um julgamento da situação de facto enunciada, quer
dizer, o fenómeno da vida, em relação à presença das notas características respectivas –> este processo de
julgamento é o ponto fulcral da problemática da aplicação da lei.
A verdade é que a linguagem da lei e a linguagem das pessoas que contribuem para a formação do enunciado
da situação de facto não coincidem. É, por isso, necessário que o juiz faça aqui o papel de um tradutor,
daquilo que é a linguagem comum para a previsão legal. Ora, isto não se pode fazer através de múltiplos
processos de subsunção, porque a linguagem comum não corresponde a conceitos que se possam subsumir,
desde logo, à previsão legal. São necessários ainda outros juízos elementares, baseados na percepção ou na
1
O símbolo = é inadequado. Não é possível transpor a distância entre a situação geral que é enunciada (P) e a situação de facto
(S). Esta sempre vai apresentar outras notas, características da sua particularidade, para além daquelas que nos permitem
identificá-la com P.
experiência. Por isso não se pode dizer que a premissa menor é apenas de subsunção. Ao fazê-lo esquecemos
a parte do julgamento que permite obter a premissa menor.
Problema 2: o esquema de subsunção pressupõe que a premissa maior é definida segundo várias notas que
têm de estar presentes no seu conceito. Só que essa pressuposição é errada, porque nem sempre isso
acontece, nomeadamente quando nos encontramos perante «pautas de valoração carecidas de
preenchimento» (Larenz). Aqui não existe um processo de subsunção, mas de coordenação valorativa. Em
vez do juízo que diz que as notas distintivas existentes em P também existem em S, existe um juízo que diz
que S se equipara ou aproxima de a uma outra situação em todos os aspectos decisivos do julgamento, e
que deverá julgar-se, sem dúvida alguma, do mesmo modo. Ex: Este carro é vermelho –> “vermelho” não
pode ser definido – é um juízo assente na percepção. Percepção de quê? De que o objecto observado – o
carro – é da mesma cor que outro objectos que ele aprendeu a considerar vermelhos.
Problema 3: a conclusão do silogismo é muitas vezes insuficiente para determinar a consequência jurídica
no caso particular. C na premissa maior não é igual a C na conclusão. Ex: determinação de uma pena – é
preciso considerar critérios de medida da pena.
Juízo crítico
✓ Esta escola não pôde sobreviver muito tempo, porque a legislação rapidamente se mostrou estanque
e inadequada à resolução dos novos problemas que se suscitavam:
o Sociedade industrial
o Estado de compromisso social
✓ A doutrina analisa textos, mas não contribui para a evolução do direito, deixando de exercer a sua
vocação. Não reflecte sobre o conceito de Direito, porque assume que o Direito é a Lei. Isto imobiliza
o direito e impede qualquer nova ideia.
✓ Em relação ao raciocínio, mostrava-se muito difícil permanecer com a utilização excessiva de lógica
dedutiva, porque não se pode inferir como absoluta uma lei ou uma situação social se o homem e a
sociedade estão em constante transformação –> cria abismos entre os Códigos e a vida social e
económica. É um método muito pobre.
✓ Falta de sistema e de visão de conjunto – não se dá relevo a outras fontes de direito, quer formais
quer materiais –> prescinde de concepções sociológicas, morais, espirituais ou económicas…
inadaptabilidade a novas realidades sociais.
✓ Os códigos estavam a ser ultrapassados pela História e mostravam-se cada vez mais lacunosos, pelo
que foi necessário:
o Reconhecimento da distinção entre direito e lei;
o Integração;
o Recurso a uma normatividade extra-legal: o direito compreende-se não apenas como um
estatuto dogmático-formal, mas como uma intenção prática de uma racionalidade também
prática (prático-normativa) em que concorrem coordenadas axiológicas, políticas e
sociológicas.
o Reconhecimento da jurisprudência como criadora de direito na história.
✓ Expressão particular, no âmbito do pensamento jurídico, do vasto movimento cultural alemão surgido
na última parte do século XVIII e inícios do século XIX e que atingiu todos os domínios culturais (filosofia,
arte, ciência, história, filologia, direito…): o historicismo.
✓ Contexto cultural:
1. Romantismo alemão
2. Historicismo
✓ Postulado Fundamental: o direito como uma normativa realidade histórico-cultural que se manifesta na
vida historicamente real de um «povo», de uma concreta comunidade nacional, e como expressão
sociocultural do espírito desse povo e da sua espiritual consciência comunitária.
Consequência: o direito como uma entidade cultural de raiz histórica. Como é conhecido? Através de
uma elaboração científica chamada á sua explicitação e determinação sistemáticas.
✓ Coordenadas fundamentais:
a) Do Direito Natural: não existe um direito único, igual para todos os tempos e lugares. O
direito não é produto da razão e não pode ser elaborado a priori um sistema jurídico ideal
(Burke). Nega-se a existência de um Direito Natural fruto da razão e de princípios jurídicos
naturais de validade universal, embora se possa admitir um postulado de justiça que
integre o Volksgeist, ou seja, tem também ele de ter um valor histórico. O direito é um
fenómeno social, vivo no espaço e no tempo, ou seja, é um produto da História.
«Segundo os seus princípios, o direito continua a viver na consciência comum do povo, mas a sua
elaboração rigorosa e a sua aplicação concreta é a função específica da classe dos juristas»
(Savigny, System, 45).
O problema era o conceito que Savigny tinha de sistema – que vinha de Kant – como uma unidade
racional de carácter formal-estrutural e não teleológico-material: «as relações jurídicas são,
segundo a sua natureza, alheias a um fim, têm uma existência em si, independente do reino dos
fins» -> exclui, na sua formal racionalidade, o relativo-material essencialmente histórico. Resulta
assim que a dimensão científico-sistemática não converge com a dimensão histórica – são uma
dualidade não integrada.
Sendo necessário optar, a EHD optou pelo sistemático em prejuízo do histórico. Isto sobretudo
porque a “dimensão histórica” não se afirmava numa real investigação histórica, mas justificava
apenas a utilização de materiais históricos; não era a procura do direito histórico-social ou da
comunidade real como história, era a mobilização de textos históricos do direito ou sobre o
direito. O que Savigny fez foi por a investigação histórica ao serviço da dogmática.
Por isso houve uma grande preocupação de Savigny em definir uma teoria da interpretação
jurídica, enquanto elemento metodológico essencial da tarefa do jurista. A ele se devem muitos
avanços neste campo e foi este um grande legado deste jurista.
• 1ª fase de Savigny: escritos da juventude – a fase legalista
Nas suas lições de Inverno de 1802, o jovem Savigny advoga já que a Ciência Jurídica deve ser
simultaneamente e integralmente uma ciência histórica e filosófica. Para Savigny, a filosofia é entendida
como a unidade que subjaz ao sistema e, portanto, aqui muito mais próximo do conceito “sistemático” do
que de qualquer outro que possamos ter de filosofia, muito menos o de uma proximidade com princípios
jusnaturalistas. Trata-se da orientação da Ciência Jurídica no sentido de uma unidade imanente pressuposta
pela própria Ciência Jurídica.
Há portanto, já aqui, uma separação entre a teoria filosófica do Direito e um elemento sistemático da ciência
(positiva) do Direito, que pode ser estudada tanto com referência àquela teoria filosófica do Direito como
sem ela.
Na primeira fase, Savigny equipara o Direito positivo ao Direito legislado. Mas a legislação acontece no
tempo e, sendo uma actividade do Estado, então a história do Direito conjuga-se com a história do Estado e
a história dos povos.
• Elaboração histórica: deve tomar o sistema no seu todo e pensá-lo como algo progressivo, i.e., como
história do sistema da jurisprudência no seu conjunto.
• Elaboração sistemática: deve olhar o múltiplo na sua articulação, interessando-lhe:
o O desenvolvimento de conceitos
o A exposição de regras jurídicas segundo o seu “nexo interno”
o O preenchimento de lacunas da lei por analogia
→ Admite a analogia, porque pela analogia nada se acrescenta à lei. Para ele analogia é descobrir na
lei, quando haja um caso omisso, uma regra especial que proveja a um caso semelhante e reduzi-la
a uma “regra superior” que decidirá então do caso não regulado. É a legislação por si própria que se
complementa. No fundo, pressupõe que a regra especial estatuída na lei pode ser vista como
expressão de uma regra geral não estatuída nessa lei, mas nela contida segundo o seu espírito/regra
superior contida na norma (concepção do jusnaturalismo tardio, não propriamente explicada).
Savigny passa a considerar a fonte originária do Direito não a lei, mas o espírito do Povo (=comum convicção
jurídica do Povo). Nota: aconteceu pela primeira vez na “Vom Beruf unserer Zeit…”. Este espírito do povo
não corresponde a uma dedução lógica, mas a um sentimento e intuição imediatos:
• Não podem ser referidos a uma norma (produto do pensamento racional, geral e abstracto);
• Têm por objecto as concretas e típicas formas de conduta que, pela consciência da sua necessidade
intrínseca são observadas pelo conjunto dos cidadãos = relações da vida reconhecidas como típicas
pelo Direito (casamento, propriedade, compra e venda).
Na medida em que se pensam e organizam como uma ordem juridicamente vinculante, tais relações
constituem institutos jurídicos. Savigny passa então a considerar estes institutos a origem e o fundamento
de toda a evolução do Direito. Para Savigny eles têm uma natureza orgânica, ou seja, são um todo, pleno de
sentido e que se transforma no tempo => nunca pode ser inteiramente exposto pelo somatório das normas
que lhe dizem respeito!!
Não são as normas jurídicas que produzem os institutos jurídicos, mas é destes que aquelas se extraem,
artificialmente, por abstracção. É na intuição do instituto jurídico que as normas jurídicas encontram o seu
último fundamento. Consequências:
→ As regras não podem compreender-se por si, mas apenas pela intuição do instituto jurídico, pela qual
também se norteou o legislador; o juiz faz o caminho inverso do legislador: tem de restituir o nexo
orgânico de que a lei se mostra uma simples secção.
→ A n. j. corresponde a um único aspecto do instituto, que foi artificialmente isolado do todo,
originando um desajustamento cuja superação se impõe constantemente à CJ.
→ O PJ tem que conciliar intuição e conceito. O conceito precisa de ser constantemente alargado e
rectificado através da intuição. Esta exigência vai ser esquecida pela posterior Jurisprudência dos
Conceitos. Isso deve-se ao facto de Savigny nunca ter conseguido demonstrar como se efectua a
transição da intuição do instituto para a forma abstracta da regra jurídica e vice-versa, ou seja, desta
para a intuição originária. Larenz duvida até que tal seja possível, porque se a unidade do instituto
jurídico só se oferece na intuição, é claro que não pode ser compreensível cientificamente. O que
estrutura o sistema não é o nexo orgânico dos institutos, mas o nexo lógico dos conceitos.
→ Problema de Savigny e que levou a posterior desenvolvimento da jurisprudência dos conceitos:
considera que a apreensão dos institutos jurídicos só é possível através da intuição e não através do
pensamento conceptual, o que sucederia se ele tivesse visto no instituto jurídico um conceito geral
concreto em sentido hegeliano, o que permitiria corrigir o conceito abstracto da norma em vista do
conjunto de significação do instituto jurídico, nos casos-limite em que a norma levasse a uma
perversão de sentido.
→ Interpretação:
o Os 4 elementos da interpretação são os mesmos, mas já não se trata de quatro espécies de
interpretação, mas de quatro actividades que devem ser integradas para atingir um correcto
resultado interpretativo.
o O elemento sistemático orienta-se mais para uma ideia, para a actividade do espírito,
orientada a uma “intuição global” de que brota a regra jurídica => afastamento do legalismo
da juventude.
o Permite a utilização da “razão de ser” da lei na interpretação, embora continue a rejeitar que
integre o conteúdo da lei => por isso adverte que tem de ser usado sempre com “grande
precaução”. Admite a interpretação extensiva e restritiva para rectificar uma expressão
defeituosa.
o É por um caminho histórico que se procuram conhecer os pensamentos que o legislador ligou
à expressão imperfeita, mas também pela razão da lei (nexo interno).
o Analogia: já não consiste na remissão de cada regra especial para a regra “superior”
implicitamente contida nela, mas no regresso à intuição global do instituto jurídico
correspondente. Savigny distingue dois casos:
▪ Nova criação jurídica: novo instituto arquétipo que se forma, em afinidade com os
existentes e conhecidos.
▪ Dentro de um instituto já existente surge uma nova questão jurídica (proposições
pertencentes a esse instituto)
A ratio assenta na pressuposta coerência interna do direito, não logicamente, mas organicamente, entre
arquétipos.
✓ Legado:
1. Científico-jurídico: hermenêutica (teoria dos 4 elementos da interpretação) que culminou numa
dogmática (de carácter sistemático-institucional em Savigny e de carácter sistemático-conceitual
em Puchta).
2. Abre à Ciência Jurídica um processo que ainda não terminou – a relacionação entre o dever ser
(norma jurídica) e o ser histórico (a realidade social) – cf. Wieacker.
3. Jusnaturalista (Wieacker):
▪ Sistema pandectista: aplicado originariamente por Hugo e Heise, remonta aos discípulos
de Wolff… e, em última análise, ao sistema natural de Pufendorf;
▪ Método de construção sistemática e conceitual e dedução lógica da decisão jurídica a
partir do sistema e dos conceitos (copiado do método demonstrativo de Wolff);
▪ Princípios fundamentais da ciência pandectista (direito objetivo, direito subjetivo, negócio
jurídico, declaração de vontade, contrato bilateral, dever de prestação…).o formalismo
sistemático e conceitual foi ainda largamente utilizado por Puchta e pela jurisprudência
construtiva do jovem Ihering.
▪ Pressuposto de uma determinação ética geral para o Direito –> Savigny estava convencido
de que o direito serve a moral não porque dê execução a comandos morais, mas porque
garante a cada um o livre desenvolvimento da sua vontade individual.
A EHD conseguiu integrar a sufocante massa do ius commune num novo sistema de princípios que libertou
uma produtividade até aí insuspeitada, da inventiva jurídica e enriqueceu de forma desmedida o tesouro
das soluções jurídicas dogmáticas.
✓ Juízo crítico:
Críticas negativas:
Críticas positivas:
Puchta (1798-1846) foi quem conseguiu impor o formalismo conceitual rigoroso da pandectística. Puchta,
tal como Savigny, identifica três fases na vida dos povos:
• Período de inocência;
• Período de multiplicidade (=empirismo prático)