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MATERIAL DE APOIO
DISCIPLINA: HISTÓRIA DO DIREITO
PROFESSOR: TANIA ALENCAR DE CALDAS
CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2022/1

Aula Inaugural, apresentação do curso e das normas que o regem: Lei de Diretrizes e
Bases; Diretrizes Curriculares; Regimento da Instituição.
APRESENTAÇÃO DO COMPONENTE CURRICULAR E DO PLANO DIÁRIO
(trabalhos, avaliações, referencial bibliográfico, contrato pedagógico, uso da
biblioteca, celular, metodologia ativa, frequência, comunicação).

INTRODUÇÃO

Figura 1. Panteão de Roma Figura 2. Soldado


romano
Disponível em: https://super.abril.com.br/wp-
content/uploads/2018/07/soldadoromano.jpg
Acesso em: 18 fev. 2021.

Segundo Wolkmer ( 2001, p. 21)

[...] o direito arcaico pode ser interpretado a partir da compreensão do


tipo de sociedade que o gerou. Se a sociedade da pré-história
fundamenta-se no princípio do parentesco, nada mais considerar que a
base geradora do jurídico encontra-se, primeiramente, nos laços de
consangüinidade, nas práticas do convívio familiar de um mesmo grupo
social, unido por crenças e tradições.

1. História do Direito em Roma: Período Quiritário


1.1 A estrutura sociojurídica do Período Quiritário: a família, a gens e a civitas;
1.2 A jurística sacerdotal: o mos e o fas;
1.3 As legis actiones;

Qual o significado de Quiritário?


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Quiritário se origina de quiris ou lança, primitivo símbolo de força e de direito


utilizado pelos romanos.

1.1 A estrutura sociojurídica do Período Quiritário: a família, a gens e a civitas

O Período Quiritário apresentava uma estrutura sociojurídica que reunia três


elementos: a família, a gens e a civitas.

A FAMÍLIA reunia as pessoas descendentes por linha direta e na constância de


casamento legítimo; assim, tem-se a origem do mais antigo dos regimes jurídicos:
família. Importante destacar o sistema de capacidades atribuídos aos integrantes da
família, segundo a qual a mulher e os filhos menores eram considerados civilmente
incapazes e, no âmbito público, são livres, ou seja, são capazes, diferentemente dos
escravos domésticos e dos estrangeiros.

À medida que a FAMÍLIA romana cresceu, também foi se subdividindo, dando


origem a outras uniões a partir do parentesco (nomem gentilicium). Essas uniões dão
origem à gens, ou seja, houve a ampliação espacial decorrente da inúmeras habitações
familiares e, por consequência, originado a cidade – Civitas.

O termo quiris representava o cidadão que, a partir dessa divisão das pessoas
em famílias, passa a denominar-se CÚRIA, como uma unidade que integrava o populus.

1.2 A jurística sacerdotal: o mos e o fas

As regras costumeiras (mores maiorum) eram aplicadas no plano normativo que,


apesar de apresentarem cunho jurídico, não possuíam elemento formal.

A religião e o misticismo marcaram o Direito Romano e, portanto, o sistema


processual romano, tanto que os pontífices determinavam como deveria ser o
comportamento dos cidadãos e o ritual simbólico processual, destacando-se o que
explica Tucci (2001, p. 41):
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[...] esse íntimo relacionamento entre direito (ius) e religião (fas) foi motivo
determinante não apenas para que a estrutura jurídica das legis actiones
fosse por demais formalista, mas também para
a incerteza entre os romanistas quanto à delimitação dos poderes do rei.

1.3 As legis actiones

A partir da fundação de Roma (754 a. C.), já existia o processo como um fato


social e, acerca do processo, Lacerda (1961, p. 74-75) apud Dias (2011) ensina que:

O processo é um fato cultural, na medida em que nele se reflete toda uma


cultura, considerada como o conjunto de vivência de ordem espiritual e
material que singularizam determinada época de uma sociedade. Por isso,
nada mais natural que sua função varie conforme a época e a mentalidade
reinante (LACERDA, 1961, p. 74-5).

As legis actiones, ou ações da lei, foram influenciadas pela igreja e reuniam


cinco ações:
Legis actiones Descrição dos cinco tipos de ações da lei

Sacramentum Possibilitava o exercício de direitos de natureza pessoal como


de direitos de natureza real.

Indicis postulatio Aplicada para a cobrança de dívidas de promessa de


pagamento, para a partilha de herança e, a partir da Lei Licínia,
também aplicada para a divisão de coisa comum.

Condictio Ação pessoal para cobrar quantia certa devida ou crédito


decorrente de coisa certa.

Manus iniectio Típica ação de execução, cabível quando não adimplida uma
obrigação decorrente de sentença ou de confissão

Pignoris capio Penhor realizado pelo credor por meio de palavras


determinadas (por força dos costumes e/ou por determinação
legal). Instituída pela Lei das XII Tábuas.
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1.4 O jus receptur moribus e os jurisconsultos republicanos;


1.5 A dicotomia Patrícios e Plebeus;
1.6 A Lei das XII Tábuas e a obra de Gnaeus Flavius: os Tripertita e a
desmistificação da jurística sacerdotal

1.4 O jus receptur moribus e os jurisconsultos republicanos

Os ius receptur moribus consiste na formação do ius por meio dos mores; ou seja,
aqueles consolidados pela convivência social, e os jurisconsultos conheciam tais mores
(costumes). O ius moribus receptur era visto como momento histórico. À medida que
mores e leges coexistiam resultava na perda do instituto moribus receptur. À medida que
a sociedade avançava para a era pós-clássica, reconheceu-se a equiparação entre o ius
moribus receptur e a consuetudo.

Os jurisconsultos atuavam no jus civile e desempenhavam três atividade básicas:

 Cavere – aconselhando aos cidadãos na celebração de negócios e redação dos


documentos;
 Agere – atuando como procurador e conselheiro, atuando em juízo;
 Respondere – respondendo as consultas sobre questões de Direito.

Pode-se afirmar que os jurisconsultos foram muito importantes no desenvolvimento


do Direito, com o estudo sistematizado do Direito. Por volta do fim da República,
Jurisconsultos ainda não tinham suas atividades como fonte do direito, mas, a partir do
século I a. C., os pareceres dos Jurisconsultos passam a ser considerados como
autoridade de Príncipe (CASTRO, p. 90).
Destaque-se a frase do Jurisconsulto Celso: “Ser jurisconsulto não é conhecer as
palavras da lei, mas seu espírito e poder”.
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1.5 A dicotomia Patrícios e Plebeus

Havia uma luta entre as duas classes: patrícios e plebeus e, segundo estudiosos
da história do direito, a Lei das XII Tábuas adveio para mitigar os conflitos entre ambas.
Nesse sentido, merecem destaque os trechos a seguir.

Segundo Rostovtzeff (1973, p.78), a origem histórica da Lei das XII Tábuas pode
ser assim explicitada:

Roma no Século V a C. – Com o crescimento do território romano,


aumentou o número de proprietários de terra, livres mas não patrícios, pois
os plebeus que participavam das campanhas de êxito recebiam como
recompensa as terras conquistadas. Muitos dependentes das famílias
dominantes eram, talvez, recompensados assim pelo serviço militar
prestado e tornavam-se com isso economicamente independentes. Aos
poucos, cresceu entre os plebeus a noção dos interesses comuns e o
desejo de organização. Tiveram representantes, talvez inicialmente os
comandantes das tropas plebéias, recrutados segundo as divisões
territoriais, que eram chamadas "tribos", mas que não devem ser
confundidas com as três tribos patrícias "gentias". Esses representantes
eram por isso chamados "tribunos" e chegaram a ser defensores de todos
os plebeus. Quatro tribunos talvez fossem, no começo, eleitos anualmente
– representavam as quatro tribos em que se dividia a cidade de Roma;
mais tarde, esse número passou a dez. Sua primeira vitória, na luta de
classes, foi conquistada quando forçaram o Senado e os patrícios a
preparar e publicar um código de Direito Civil – as Doze Tábuas – cerca
de 450 a C. Pouco depois, a lei de Canuleu (cerca de 445 a C.) levantou a
proibição, que era um pouco religiosa e um pouco política, de casamentos
entre patrícios e plebeus.

Fiuza (2003, p. 43) esclarece que:

Segundo a versão tradicional (Tito Livio, Dionísio de Halicarnasso e


Diodoro da Sicília), em 494 a. C., os plebeus, revoltados com sua situação
de inferioridade, teriam se rebelado e se reunido no Monte Aventino (à
época desocupado), a fim de fundarem uma cidade. Segundo alguns,
teriam sido soldados plebeus que se rebelaram e se retiraram para o Monte
Aventino. A eles foi enviado um representante dos patrícios, de nome
Menênio, que para persuadi-los a voltar, narrou-lhes o apólogo do
estômago e dos membros. Os membros se revoltaram contra o estômago,
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uma vez que só eles trabalhavam, enquanto aquele só comia e


descansava. Após a rebelião, o estômago morreu de forme, levando à
morte também os membros, que dele dependiam para sobreviver, para se
alimentar. Apólogo de lado, os plebeus cederam, mas com algumas
conquistas: os tribunos e edis da plebe e uma lei escrita, genérica, que
valesse para todos, patrícios e plebeus.

1.6 A Lei das XII Tábuas e a obra de Gnaeus Flavius: os Tripertita e a


desmistificação da jurística sacerdotal

Lei das XII Tábuas


Proposta pelo tribuno Tarentílio Arasa (462 a.C.) e elaborada pelos Decênviros
(eleitos em 461 a.C.), a Lei das XII Tábuas (Lex, ou Legis XII Tabularum ou Lex
Decenvilaris) - conjunto de 10 tábuas gravadas sobre bronze ou carvalho (451 a.C.) que,
no ano seguinte acrescentaram-se 2 outras tábuas.

Considerada como fonte de todo direito público e privado para os próprios


romanos. Foi uma das primeiras leis que ditava normas delimitando as diferenças de
classes, em razão da República. Originou o Direito Civil e as ações da lei (tipicamente
romano: povo prático, objetivo e imediatista).

Os principais dispositivos da Lei das XII Tábuas são os seguintes (VERAS NETO,
2001, p. 128-129):

Tábua I
Referia-se ao chamamento a juízo, ou seja, não se podia fugir do chamamento
judicial; o autor da demanda exercia as vezes do oficial de justiça, citando o devedor.

Tábua II
A causa era suspensa por motivo de doença e estabelecia prazo para posterior
comparecimento a juízo.
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Tábua III
Processo de Execução por quantia certa, no qual o devedor tinha 30 dias para
pagar, do contrário, seria preso e levado à presença do magistrado e, se ainda
persistisse a dívida, o devedor seria preso por correias ou com ferro de 15 libras aos pés;
e podia o devedor ser morto, esquartejado de acordo com o número de escravos ou
vendido como tal.

Tábua IV
Cuidava do poder paterno e de outras matérias relativas ao direito familiar (in jure
patrio): o filho monstruoso podia ser morto imediatamente, ser enjeitado pelo pai, que
tinha sobre o filho o direito de vida e morte, inclusive de flagelar, aprisionar, obrigar à
realização de trabalhos rústicos, vender e matar o filho. Com o tempo, tal poder foi sendo
amenizado e tais casos deram origem à destituição do pátrio poder.

Tábua V
Sucessão hereditária: As mulheres não podiam gerir seus próprios negócios,
permanecendo sob tutela perpétua (de seu pai ou de seu esposo).

Tábua VI
Propriedade e posse (dominio et possessione) - base do direito civil. Roma era
agrária (oliveira, vinha e trigo). Era proibida a compra de propriedades imóveis por
estrangeiros. A propriedade fundiária desempenhava papel essencial para os romanos,
tanto no cenário econômico, quanto no plano religioso, em razão do culto dos ancestrais
que eram enterrados e cultuados na propriedade da família.

Tábua VII
Direito aos edifícios e às terras - O reino, e depois a República, possuíam terras
públicas e por isto traduziram o livro de agronomia do cartaginês Magon. Não se podia
retirar as pedras das estradas, pois era o local de deslocamento das legiões romanas. O
inciso IX, desta Tábua, permitia cortar os galhos das árvores, se a sombra invadisse o
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quintal da propriedade vizinha. Pelo inciso X, o proprietário tinha direito a colher os frutos
das árvores vizinhas que chegassem ao seu quintal.

A obra de Gnaeus Flavius

Gnaeus Flavius é considerado o primeiro jurista de Roma que publicou por volta
do ano 300 a. C., as fórmulas para ativação do direito (actio legis). Destaque-se que tais
fórmulas eram de domínio dos sacerdotes. Atribui-se a Flavius a divulgação da agenda
dos julgamentos, assim, os cidadãos podiam comparecer e as informações não ficariam
somente nas mãos dos sacerdotes.

Depois dos atos de Gnaeus Flavius, o saber jurídico outrora monopólio do Colégio
de Pontífices fora fortemente golpeado quando os plebeus puderam ter acesso ao
Colégio, e assim, abriu-se o caminho para a jurisprudência laica e livre.

Tripertita

Nesta obra de Sextus Aelius Petus Catus, que foi Cônsul no ano 198 a.C. e censor
no ano 194 a. C.), se inicia a literatura jurídica romana. A obra recebe este nome por
reunir os seguintes conteúdo: XII Tábuas, Legis Actiones e Interpretatio.
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ROMA
Para iniciarmos o tópico 2 do planejamento da disciplina História do Direito, vamos
delimitar a linha do tempo da história de Roma, com destaque aos seus aspectos
geográficos (Figura 1) e de povoamento (Figura 2).

Figura 1. Aspectos Geográficos de Roma Figura 2. Povoamento de Roma

- MONARQUIA – séculos VIII a VI a.C.

o Reis (7 Reis: 2 latinos, 2 sabinos e 3 etruscos)


o A aristocracia patrícia, formada pelo Senado (Conselho de Anciãos) tinha
mais poder do que a figura do rei;
o Golpe dos patrícios que integravam o Senado derrubou o último rei de
Roma.
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- REPÚBLICA – séculos VI a I a.C – sua organização política:

 Senado - como principal órgão (300 senadores, com mandato vitalício):

o Funções: política externa, administração das províncias, práticas religiosas,


supervisão do tesouro público, escolha de alguns magistrados e confirmação
ou não das leis elaboradas e votadas pela Assembleia Centuriata.

 Magistraturas - exerciam o poder executivo e legislativo (6 magistrados, cargo


eletivo de um ano):
o Cônsules: 1 militar e 1 civil (eleitos pela Assembleia Centuriata)
o Pretor: responsável pela Justiça
o Questor: responsável pelas finanças
o Censor: contagem e cadastramento da população com base na renda
o Edil: responsável pela administração da cidade de Roma (responsável pela
construção de obras públicas, esgoto, ruas, tráfego e abastecimento).
o Tribunos da plebe

 Assembleia Centuriata
o Patrícios
o Eleição dos magistrados
o Decisões sobre guerra e paz
o Elaboração de leis

Lutas sociais da República:


o Século V a.C.
o Lutas entre patrícios e plebeus
o Patrícios reivindicavam a manutenção do monopólio do poder político
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 Reivindicações dos plebeus:


o Leis escritas
o Casamentos entre indivíduos de classes diferentes
o Fim da escravidão por dívidas
o Participação política

 Conquistas dos plebeus:

o Lei das XII Tábuas = leis escritas.


o Lei Canuleia = permitia o casamento entre indivíduos de classes diferentes.
o Lei Poetelia = fim da escravidão por dívidas
o Tribunos da Plebe e Assembleia da Plebe = participação política para os
plebeus. Os tribunos eram magistrados eleitos pela Assembleia da Plebe
para defender os interesses plebeus na República.
o Plebiscito: direito da Assembleia da Plebe de rejeitar as decisões do
Senado que afetassem os interesses dos plebeus.
o Lei Licínia Sextia: promulgada pelo Senado, obrigava que a cada ano, um
dos dois cônsules deveria ser plebeu.

2. História do Direito em Roma: Período do Direito Romano Universal ou Clássico

O Direito Romano consiste no conjunto de normas vigentes em Roma desde a


sua Fundação, no século VIII a.C. até Justiniano no século VI d.C., ou seja, foram 14
séculos. Os mandamentos romanos promoviam a definição de Direito: “iuris praecepta
sunt haec: honete vivere, alterum non ladere, suum cuique tribure” (as normas do direito
são estas: viver honestamente, não ultrajar o outro, dar a cada um o que é seu).

Vamos destacar a evolução jurídica segundo os períodos antes e depois de Cristo?


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Evolução

a) período do Direito antigo ou Direito quiritário - século VII a. C. a


século I a. C. - destacando-se, aqui, a data de 367 a. C., em que foi
instituído o pretor urbano;

b) período do Direito clássico - do século I a. C. ao século III d. C.;

c) período do Direito pós-clássico - final do século III d. C. (284) ao


século V d. C.;

d) período do Direito justinianeu ou bizantino - século VI d. c.


(527/565 d. C.).

2.1 A racionalização do Direito

O Período Clássico (do século II a.C. até o século III d.C.) apresentou o auge do
Direito Romano.
Houve a centralização do Poder do Estado em pretores e jurisconsultos, assim,
esses dois personagens puderam modificar as regras existentes.

2.2 Desenvolvimento do processo formular: a actio

O processo formulário ou formular sobreveio como uma alternativa mais moderna


em relação às ações da lei. O processo formular não era formado por diferentes formas
de ação, mas por um rito padrão, bipartido e sem segunda audiência (havia a instância
perante o pretor (in iure) e outra perante o iudex). Verificou-se o avanço na utilização da
escrita, ainda que parcial, além de maior participação do pretor e das partes nos atos
procedimentais e a natureza condenatória em sentenças.
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Sobre o in iure:
- iniciava-se pela editio formula – comunicação prévia do requerido realizada pelo
autor de forma oral ou escrita. Assim, caso esta comunicação não fosse realizada,
o pretor indeferia a ação.

As partes formularum eram quatro:


- intentio – onde o autor expõe a sua pretensão;
- demonstratio – traz os elementos para se determinar o quidquid nos casos em
que a intentio é incerta;
- adjudicatio - quando se permite ao juiz adjudicar a coisa a alguma das partes;
- condemnatio - em que se dá ao iudex o poder para condenar ou absolver o réu.

Sobre o iudex:
- Responsável pelo início do procedimento; o iudex era escolhido. A condenação
do requerido, se contemplado o dolo, implicaria em condenação duplicada da quantia
devida. Portanto, era o iudex quem proferia decisão condenatória (condemnatio) ou
absolutória (absolutio).

2.3 O jus honorarium

Direito pretoriano (praetorium). A antiga ordem tradicional baseava-se no direito


consuetudinário (mos maiorum) e foi em parte consagrada nas
XII Tábuas, sendo, às vezes complementada por leis e pelo senado. Já o direito
honorário assentava-se nos editos do pretor.
Destaque-se que a função da autoridade judicial mesclava-se às funções da
administração. Segundo Brasileiro (2007, p. 339):
[...] a magistratura romana chegou a assumir uma
ampla função de fonte de direito, por meio da publicação anual
de editos que ampliaram enormemente o estreito rol de direitos
reconhecidos pelo velho direito quiritário, bem como negaram
eficácia a múltiplas disposições deste, já não mais adequadas à nova
realidade econômico-social.
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A introdução do direito pretório teve por objetivo auxiliar e corrigir o ius civile,
sendo também denominado de honorário por conta da honra da magistratura dos
pretores.

2.4 A atividade interpretativa dos jurisconsultos clássicos e a categorização do


Direito: o jus prudentium

Responsa prudentium sunt sententiae et opiniones eorum, quibus


permissum est iura condere. (Respostas dos prudentes são as sentenças e as
opiniões daqueles a quem é permitido construir o direito).

O trabalho dos jurisconsultos clássicos encontra-se nas seguintes obras:

1) manuais destinados aos estudantes (institutas ou enchiridia);


2) livros de aforismas (regulae, definitiones, sententiae ou opiniones);
3) literatura de problemas sobre casos concretos (digesta, responsa,
epistulae, quaestiones ou disputationes);
4) tratados de direito civil, sob a forma de comentários;
5) obras monográficas;
6) Comentários a éditos de magistrados (pretor, governador de províncias
ou édiles, em geral);
7) livros dedicados a explicar ofícios de magistrados.

2.5 As escolas de interpretação: sabinianos e procurianos, o jus respondendi

Escola sabiniana – iniciada com as obras de comentários de Ulpiano, Pompônio e Paulo


ao tratado de direito civil de Sabino – o célebre jurista da época de Augusto,
do qual derivou o nome de uma das duas famosas escolas de juristas do final do I e início
do II século d.C.;
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A Escola Sabiniana reunia Ateius Capito e seus seguidores Massurius Sabinus, Cassius
Longinus, Caelius Sabinus, Javolenus Priscus, Salvius Julianus e Gaius.

Na Escola Sabiniana havia respeito à tradição (quae ei tradita fuerant).

Escola procuriana (ou proculeana) – reunia Antistius Labeo e seus seguidores Nerva
Pater, Proculus, Nerva Filius, Longinus, Pegasus,
Celsus Pater e Celsus Filius e Neratius Priscus.

Na Escola Procuriana havia uma tendência à inovação (plurima innovare instituit).

A escola sabiniana possuía orientação de cunho idealista, marcada pela prevalência do


ius civile, enquanto a escola proculeana estaria marcada pelo sobrelevo ao naturalismo
e ao ius gentium.
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FALANDO UM POUCO MAIS SOBRE AS DOZE TÁBUAS:


As Doze Tábuas estabeleceram prerrogativas dos paterfamilias, dos procedimentos
que podem ser aplicados na solução de litígios e das cerimônias e dos rituais como
casamento:

 Chamamento a juízo – Tábua I;


 Julgamentos e furtos – Tábua II;
 Direitos de crédito – Tábua III;
 Pátrio poder e casamento – Tábua IV;
 Heranças e tutelas – Tábua V;
 Direitos de propriedade e posse – Tábua VI;
 Delitos – Tábua VII;
 Direitos prediais – Tábua VIII;
 Direito público – Tábua IX;
 Direito sacro – Tábua X;
 Matérias complementares incluídas posteriormente nas Tábuas XI (lei e
casamento) e XII (penhor, posse e furto).

As características da Lei das XII Tábuas (séculos V a III a.C.):

 Objetivos: caráter antiponficial; compromisso político de patrícios e plebeus;


publicidade; progressiva laicização;
 Forma: forma oral, voltada à recitação e à memorização; vocabulário técnico;
formalismo jurídico; linguagem simples; estrutura pontual e esparsa;
 Conteúdo: regras necessárias à mínima ordenação social; normas de caráter
ritualista e cerimonial; sociedade de transição; problemas domésticos e de
camponeses; regras sobre contratos e relações de crédito

Questionamento: Como foi a CRISE da República (séculos VI – I a.C.)?

Os Irmãos Graco (133-121 a.C), Tibério e Caio eram tribunos da plebe; neste
período, ocorreram tentativas de reforma agrária para marginalização dos plebeus;
também foi um período no qual os patrícios se opuseram à reforma agrária e, nesse
contexto, Tibério foi assassinado e Caio se suicidou.
O período de 107-79 a.C. ficou conhecido como Ditaduras, tendo por governantes
Mário, que atuou na profissionalização do exército, ampliando o poder dos cavaleiros e
diminuindo o poder do Senado. Os patrícios apoiaram Sila que depôs Mário e, na
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sequência, Sila tornou-se um ditador sem qualquer popularidade, ocorrendo a repressão


contra as camadas populares e ampliado o poder do Senado.
Depois, dois TRIUNVIRATOS governaram: Primeiro Triunvirato (60 – 44 a.C.),
com Pompeu, Júlio Cesar e Crasso; e Segundo Triunvirato (43-30 a.C.), com Marco
Antônio, Lépido e Octávio.
Questionamento: Vamos falar sobre o Alto e Baixo Império Romano?

ALTO IMPÉRIO (século I a.C. – III d.C.)


O governo Otávio Augusto ocorre no período de 17 a.C. – 14 d.C.; ocorre a
concentração de poderes no próprio Otávio Augusto, com um culto imperial, são
construídos portos, estradas, aquedutos e um sistema de esgoto; é o período da Pax
Romana.
Com o imperador Nero, no período de 54-68 d.C.; ocorre a perseguição aos
cristãos, em razão de que os cristãos negarem o politeísmo, o culto imperial e a
escravidão.
BAIXO IMPÉRIO (século III d. C. – V d.C.)
O governo Diocleciano ocorre no período de 285 d.C a 305 d.C.;
Deocleciano criou a Tetrarquia que consistia no governo por dois augustos e dois
césares; foi responsável pelo Edito do Máximo, em 301 d.C. e que consistia no controle
dos preços para conter a inflação. Foi neste governo que se realizou a última perseguição
aos cristãos.
Figura 1. Os tetrarcas (300 d.C.)

Fonte: História do direito romano (2021)


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O governo de Constantino ocorre no período de 306 d.C. a 312d.C.;


Constantino foi responsável pelo Edito de Milão, em 313 d.C. e que consistia na
promoção da liberdade religiosa para os cristãos.
O governo Teodósio ocorre no período de 378 d.C. a 395 d.C.;
Teodósio foi responsável pelo Edito de Tessalônica, em 391 d.C. e que consistia
em tornar o cristianismo a religião oficial do Império Romano.
No ano de 395, Teodósio morre e ocorre a divisão do Império Romano entre:
Império Romano do Ocidente e Império Romano do Oriente.

A crise e queda do Império Romano decorreu de fatores econômicos, com


elevação dos gastos militares e consequente déficit orçamentário, desvalorização da
moeda e subsequente inflação; bem como de fatores sociais como as invasões bárbaras
e elevação da insegurança; fatores políticos como as disputas pelo poder e o aumento
das intervenções do exército. O resultado foi a queda do Império Romano do Ocidente,
em 476 d.C, quando Roma foi tomada por Odoacro, rei dos hérulos.

3. Direito Romano Oriental ou Romano Helênico

3.1 Transição do processo per formula para a consolidação da cognitio


extraordinária

O sistema processual romano da cognitio extra ordinem (extraordinária) perdurou


por mais de quinhentos anos. Ao assumir a competência para julgar determinadas
causas, o princeps decidia os litígios em única instância, sem nomear um árbitro para
fazê-lo (fase apud iudicem). Com o tempo, este mesmo poder foi conferido aos pretores,
eliminando-se definitivamente a bipartição de instâncias.
O Estado passou a impor aos particulares, autoritariamente, por meio do pretor, a
sua solução para os conflitos. Completava-se, assim, o ciclo histórico da transposição da
justiça de privada para pública.
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O magistrado (também juiz) passa a ser o titular do poder-dever de examinar as


provas e proferir sentença, portanto, pela primeira vez na história do processo civil
romano, se expressava a vontade do soberano (ex autoritate principis).
Segundo Tucci (2001, p. 140-141):
Mesmo ainda persistindo a possibilidade de o magistrado, num
determinado caso, atribuir funções jurisdicionais a um juiz delegado (iudex
datus), a investidura deste deixava de ser subordinada à vontade das
partes, uma vez que decorria exclusivamente de ato da autoridade judicial.
As vantagens do novo procedimento, a maior autoridade conferida ao juiz
e o abandono dos resquícios de formalismo, determinaram a sua
expansão, chegando, em pouco tempo, a ser aplicada tanto nas províncias
quanto na metrópole.

3.2 Hipertrofia do Império e a decadência da produção jurisprudencial: a Lei de


Citações

Com a formação do Império, o poder político se encontrava com o imperador


enquanto o saber jurídico se encontrava nas mãos dos aristocratas; esta separação
alterou as características do saber jurídico que havia sido construído nos últimos anos
da República.
Figura 2. Império romano em sua extensão máxima (117 d.C.)

Fonte: História do Direito romano (2021)


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Pode-se afirmar que o fim do direito jurisprudencial ocorreu quando a autoridade


do Imperador prevaleceu, ou seja, aquela independência das decisões deixou de existir.
A atividade da jurisprudência clássica foi encerrada no século II d.C., mas sua
memória permaneceu por meio dos juristas que se encontravam na administração
imperial. Entretanto, a sociedade do século V d.C. fez com que os juristas funcionários
passaram a interpretar o direito não como um saber dinâmico, mas como um discurso
que fosse aplicado independentemente de estar ou não ligado à realidade social, e
portanto, sem questionamentos. Pode-se concluir que os juristas eram burocratas.
O Imperador Valentiniano III promulgou a Lei das Citações, em 426 d.C. que
depois foi incorporada ao Código Teodosiano (439 d.C.):

Confirmamos todos os escritos de Papiano, Paulo, Gaio, Ulpiano e


Modestino; assim a Gaio deve ser reconhecida a mesma autoridade
que a Paulo, a Ulpiano e aos outros, e de toda a sua obra podem
tirar-se as passagens e recitar perante o juiz. Queremos que seja
válida também a doutrina daqueles cujas discussões e opiniões
todos os juristas agora mencionados inseriram nas suas obras: é o
caso de Cévola, Sabino e Marcelo, e de todos os outros que estes
juristas citaram, para que a natureza autêntica dos seus livros, pela
incerteza devida à antiguidade, seja garantida pela coleção dos
manuscritos. Quando depois são avançadas opiniões diversas,
prevaleça antes de mais a maioria dos autores, ou então, se o
número for igual, preceda a autoridade da parte em que se distingue
Papiniano, homem de engenho extraordinário; se prevalecer sobre
cada um, ele deve, porém, ceder relativamente a dois. Além disso
decidimos que se considerem inválidas, como há tempos se
estabeleceu, as notas de Paulo e de Ulpiano à obra de Papiniano.
Quando depois tiverem sido citadas em igual número opiniões
contrastantes, e estas pertencem aos juristas cuja autoridade se
reconheceu igual, a prudência do juiz escolherá aquelas que devem
ser seguidas. Também sentimos que valem sempre as “Sentenças”
de Paulo. (Theodosiani Libri XVI...2020, tradução nossa).
(GUANDALINI JÚNIOR, 2021, p. 258)

Foi essa nova concepção do direito que possibilitou o movimento codificador.


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3.3 Centralização da jurisprudência: constituições imperiais e interpretação


autêntica

A palavra constitutio não se confunde com o atual conceito de constituição. As


constituições podem ser classificadas em: éditos, decretos, rescritos e mandatos.

 Mandatos: instruções administrativas enviadas pelo Imperador aos funcionários


e governadores das províncias; destinadas a regular um grupo específico de
pessoas.

 Decretos: sentenças judiciais emitidas nos julgamentos dos litígios; o imperador


atuava como juiz supremo (primeira e única instância ou como instância de
apelação do que houver sido decidido por magistrados inferiores); portanto, se
referiam somente a caso determinado, criando lei apenas entre as partes do litígio.

 Rescritos: pareceres emitidos pelo príncipe consultado; não tinham alcance geral
e sim específico. Os rescritos se dividiam em: subscrições e epístolas:

o Subscrição: resposta a uma questão jurídica formulada por cidadão


particular, por meio do ofício da chancelaria imperial, que reduzia a
consulta a termo; após submissão ao imperador, um jurista da
administração imperial redigia a resposta no mesmo termo, daí o nome
subscrição;

o Epístola: resposta à questão jurídica formulada por funcionário ou


magistrado de uma província; como era realizada por meio de carta e
respondida por carta, recebeu a denominação de epístola.

 Éditos: eram as espécies mais importantes, pois tratavam-se de regras de


eficácia geral para a regulação de uma coletividade, por exemplo, para os
habitantes de uma cidade, de uma província ou de todo o Império. Apresentavam-
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se como manifestação da prerrogativa do ius edicendi dos magistrados já a partir


da República, havia uma mescla de discurso normativo e de mensagem política.
A característica que diferenciava dos éditos dos magistrados, os éditos do
imperador não tinham prazo de vigência limitado, eis que a autoridade do
imperador era perpétua.

3.4 Influência helênica e movimento de Codificação: as compilações pré


justinianeias e a busca pela certeza do Direito

Enquanto os éditos apresentavam vigência limitada ao tempo de mandato de


quem os criava, as constituições imperiais jamais perdiam sua validade porque
emanavam do Imperador, cuja autoridade perpétua. A vigência era permanente, exceto
se expressamente revogadas. A atividade legislativa imperial de 500 anos encontrava-
se mal conservada, dificultando seu acesso; assim, surgiam dúvidas e insegurança na
sua interpretação e aplicação; como solução surge o modelo do código.
Neste ponto, cabe registrar que referido Código não tem as características dos
Códigos atualmente utilizados no ordenamento jurídico.
A palavra em latim, Codex, se refere à forma de livro que foi uma verdadeira
revolução do século I d.C. Portanto, o vetusto rolo de papiro era substituído.
O Código era prático, econômico e funcional: páginas curtas, costuradas.
Enquanto os papiros eram o símbolo da oralidade, o livro era consultado em silêncio.
Dois esforços de codificação privada (iniciativas pessoais) na legislação imperial
foram:
 Código Gregoriano – elaborado em 292 d.C.; continha uma compilação de
constituições produzidas desde Adriano (117-291);
 Código Hermogeniano – elaborado em 294 d.C.; incluía as constituições de
Diocleciano promulgadas em 293 e 294 d.C.
Quanto à iniciativa oficial, foi Teodósio II, em 429 d.C. quem determinou a
realização de uma compilação de toda a legislação imperial desde Constantino (312 d.C.)
e que foi publicada em 438 d.C., ou seja, foram necessários nove anos para sua
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elaboração. O código Teodosiano permaneceu vigente por mais de um século, inclusive


após a invasão do Império do Ocidente pelos povos germânicos do norte.
Naquele período, não haviam sido revogados os Códigos Gregoriano e
Hermogeniano, as obras jurisprudenciais continuam utilizadas, de acordo com a Lei de
Citações e, além disso, os imperadores que se seguiram não editaram suas novas
constituições. Qual o resultado desse quadro? A complexidade das fontes das normas
romanas só se acentuava.

3.5 A Codificação Justinianeia: O Corpus iuris Civilis

A ascensão do Imperador Justiniano, em 527, trouxe um projeto político


restaurador; assim, Justiniano conseguiu a retomada de territórios na Península Itálica,
do Norte da África e na Península Ibérica. Portanto, com Justiniano, as conquistas
resultam na retomada e conquistas do Império Bizantino (565 d.C.).
O significado de Corpus iuris Civilis é corpo de direito civil. O objetivo de
Justiniano era preservar a cultura jurídica dos séculos I d.C. a III d.C., com integração
entre o antigo ius e novas leges, promovendo uma nova era do Império reunificado.
Interessante destacar que, na Basílica de São Vital, em Ravena, há um mosaico
retratando Justiniano.
O Corpus Iuris Civilis não era um documento único, consistia em quatro livros que
só foram reunidos no século XVI, pelo jurista Dionísio Gotofredo. Mas pode-se afirmar
que foi graças a Justiniano que conhecemos o direito romano como é atualmente.
O objetivo de Justiniano era o de substituir as obras anteriores (Código
Gregoriano, Código Hermogeniano e o Código Teodosiano).

Sua intenção era de, por meio de seu Codex, consolidar o direito romano de modo
a impedir modificações posteriores que pudessem deformar seu conteúdo;

Ocorreu que, em 534, Justiniano determinou a publicação de um novo código


denominado Codex Repetitae Praelectionis.
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Neste período, o uso de jurisprudência permanecia regulado pela Lei de


Citações de 426

Justiniano apresentou duas ordens de regulação em 530, com a Constituição Deo


Autore: as constituições dos príncipes e o direito extraído da literatura antiga. O
seu Codex continham as constituições dos príncipes, quanto ao direito extraído da
literatura antiga, Jusitiniano nomeou Digesta que em grego significa síntese e que em
latim, chama-se Pandectae. Mas, como reproduzir o saber jurídico de 1,4 mil anos de
história do Império Romano?

Ordeno-vos, portanto, que examineis e emendeis as obras que,


sobre o direito romano, escreveram os juristas antigos, a quem os
sagrados imperadores concederam a faculdade de redigir e de
interpretar as regras jurídicas, para que se recolha daquelas obras
todo o material necessário; não se deixa, nos limites do possível,
nenhuma repetição ou discordância, mas consiga-se com esse livro
que, único, as substitua a todas.
[...]
Todo o direito deverá ser distribuído em cinquenta livros e em títulos
determinados, tomando como modelo, quer o nosso Código, quer
o Édito Perpétuo, conforme vos pareça mais conveniente; deste
modo, nada se deixará de fora da coletânea [...]
[...]
Todos os juristas chamados têm uma igual dignidade, e a nenhum
deles deve ser reconhecido qualquer privilégio: porque ninguém é
sempre superior ou inferior aos outros, mas cada um o é, a cada
vez, em determinados aspectos. (The Digest of Justinian ..., 1904,
Constitutio Deo Auctore, Justiniano, 530 d.C. [...]). (GUANDALINI
JÚNIOR, 2021, p. 276).

Havia uma equipe formada pelo superintendente da chancelaria imperial, quatro


professores de direito e onze advogados. O grupo leu dois mil livros e três milhões de
linhas, concluindo o trabalho em três anos, com a publicação do Digesto em 533.
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Quadro 1. O direito romano entre I e III d.C.

Ciência do direito romano


Ius civile
Constituições
Ius imperiais
Características Ius Lex Ciência
honorium

Respostas Decênviros,
Éditos dos Respostas dos Autoridade
Fonte direta dos comícios e
pretores juristas do imperador
pontífices plebiscitos

Toda a
Fonte Deliberação Costumes Conselhos
Tradição tradição do ius
remota política mercantis dos juristas
civile

Forma Oral Escrita Escrita Escrita Escrita

Vontade da
Ritualismo Formalismo Conceitos
Estilo Concreto autoridade
religioso laico abstratos
política

Sigiloso Público Público Público Público

Fundado no
ius civile e
Oracular Pontual Processual Científico reinterpretad
o pela
ciência

Características Resposta
Consensua- Comandos
Indiciário Indiciário abstrata ao
lista abstratos
caso concreto

Informal e
Formalista Formalista Formalista Político
flexível

Casuísmo e
Casuísta Generalista Casuísta Generalista
abstração
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Ciência do direito romano


Ius civile
Constituições
Ius imperiais
Características Ius Lex Ciência
honorium

Superado Limitadas
Superada Autônoma,
pela Cristalizado pela
pela mas com
tradição no Édito autonomia
legislação capacidade de
jurispruden Perpétuo da ciência
imperial criação restrita
-cial jurídica

Fonte: História do direito romano (2021)

Quadro 2. O direito romano no século VI d.C.

Ciência do direito romano


Ius civile
Constituições
Ius imperiais
Características Ius Lex Ciência
honorium

Respostas Decênviros, Respostas


Éditos dos Autoridade do
Fonte direta dos comícios e dos
pretores imperador
pontífices plebiscitos juristas

Toda a Trabalho
Deliberação Costumes tradição técnico da
Fonte remota Tradição
política mercantis do ius burocracia
civile imperial

Forma Oral Escrita Escrita Escrita Escrita

Vontade da
Ritualismo Formalismo Conceitos
Estilo Concreto autoridade
religioso laico abstratos
política
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Ciência do direito romano


Ius civile
Constituições
Ius imperiais
Características Ius Lex Ciência
honorium
Sigiloso Público Público Público Público

Construídas
com base na
Oracular Pontual Processual Científico tradição
sistematizada
do ius civile

Resposta
Consensua- abstrata Comandos
Indiciário Indiciário
lista ao caso abstratos
Características concreto
Informal e
Formalista Formalista Formalista Político
flexível

Casuísmo
Casuísta Generalista Casuísta e Generalista
abstração

Superado
Superada
pela Codificado Codificado no
pela Codificado
tradição no Código e nas
legislação no Digesto
jurispruden- Digesto Novelas
imperial
cial
Fonte: História do direito romano (2021)
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4. História do Direito na Idade Média e na Renascença

A Idade Média se estendeu do século V d.C. até o século XV; portanto, desde a
queda do Império Romano, em 476. Tem-se a Alta Idade Média (século V ao século IX)
e a Baixa Idade Média (século IX ao século XV). A sociedade medieval apresentava a
seguinte divisão:
 homens livres – com poder das armas ou da Igreja;
 servos – não eram livres e não eram escravos.
Portanto, a Idade Média apresentava: homens que guerreavam, homens que
oravam e homens que trabalhavam.
Os direitos da Idade Média era composto pelos seguintes elementos:
 As influências do que restou do Império romano;
 Os povos germânicos que invadiram a Europa romana;
 A Igreja Católica que sobreviveu à queda do Império e se fortaleceu no período
medieval.
Sistema Feudal

O sistema feudal apoiou-se no Direito, envolvendo “[...] a vida, força, fé,


interesses, terra, divisão social e tudo quanto o ser humano é capaz de criar” (CASTRO,
2014, p. 121). Dentre as definições para feudalismo, destaque-se a definição dada por
Fourquin (1987, p. 11):
Pode-se entender por feudalidade um tipo de sociedade baseado numa
organização muito particular entre os homens: laços de dependência de
homem para homem estabelecendo uma hierarquia entre os indivíduos.
Um homem, o vassalo, confia-se a outro homem, que escolhe para seu
amo, e que aceita esta entrega voluntária. O vassalo deve ao amo
fidelidade, conselho e ajuda militar e material. O amo, o senhor, deve a seu
vassalo fidelidade, proteção, sustento. O sustento pode ser assegurado de
diversas maneiras. Geralmente faz-se através da concessão ao vassalo
duma terra, benefício ou feudo.
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A fragmentação do poder é a característica mais presente neste período, além da


necessidade de sobrevivência.

Contrato Feudo Vassálico – contrato pessoal entre um homem que será o


Vassalo e outro homem (o Senhor); ambos, em público e em um cerimonial, prometem.

O nome dessa cerimônia era Investidura, Fé e Homenagem:

 Investidura: entrega do benefício, do feudo ao vassalo, realizado de forma


simbólica;
 Fé: ato que antecedia a homenagem; era um juramento de fidelidade do vassalo,
realizado com a mão sobre o Evangelho;
 Homenagem: ato de autoentraga do vassalo que consistia em:

Sem armas, o homem, de cabeça descoberta, na maioria dos casos de


joelhos, coloca suas mãos juntas nas do senhor, que fecha as suas sobre
as do vassalo. Este ato material, consistindo em um contato físico, é rito
indispensável numa civilização em que os sistemas jurídicos foram
primeiro pouco evoluídos e em que, pelo menos no século XI, a escrita
ocupava um lugar ainda restrito. (FOURQUIN, 1987, p. 112)

Efeitos do Contrato Feudo Vassálico:

Quanto ao poder do senhor sobre o vassalo: obrigação de fidelidade (nunca


prejudicar o subordinado), obrigação de proteção e obrigação de sustento.
Quanto ao vassalo, as contrapartidas eram: fidelidade ao senhor (nunca praticar
atos perigosos contra o senhor); auxilium (ajuda militar e material) consilium (obrigação
de ajudar com conselhos).
CONSILIUM: relevante como instrumento da justiça; os vassalos se reuniam ao
senhor da Corte (Cúria) numa assembleia deliberativa.
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O fim do Contrato Feudo Vassálico:

Se um vassalo desejasse o rompimento unilateral do contrato, o acordo era


celebrado com o Desafio, que consistia em atirar uma flecha ou uma luva em direção ao
senhor, mas sem acertá-lo.
Se o senhor desejasse o rompimento unilateral do contrato, poderia fazer o
mesmo ritual, mas teria que ser por meio do conselho de sua Corte. O senhor poderia
retomar o feudo temporariamente, era o que se denominava Saisimentum, o que
acontecia como forma de advertir o vassalo.

Os direitos de Uso e Propriedade no Contrato Feudo Vassálico

No período medieval, propriedade e posse se confundem. A herança passada


do vassalo ao filho também ocorria em relação à filha (quando só houvesse filhas);
assim, no caso das mulheres, eram seus maridos que se tornavam herdeiros do
benefício.

Relações Feudo Vassálicas e a Justiça

A justiça era a questão mais controversa do feudalismo. O senhor do Feudo


não podia ser contestado pelos vassalos.
As questões criminais eram decididas pelas Cortes.

4.1 O Direito Bárbaro

O Direito Bárbaro reúne o direito Germânico com: Reino Vândalo, Reino


Ostrogodo, Reino Visigodo, Reino dos Burgúndios e Reino dos Francos.
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Fonte: História do Direito romano (2021)

Os povos que invadiram o Império romano eram da região da Germânia; muito


ligados à terra e não utilizam a escrita, portanto, seu direito era oral. Sua principal
instituição era a família, baseada no poder absoluto do pai; os filhos até serem
armados e as filhas, até casarem, vivem no seio da família, cultivando a terra e
realizando afazeres domésticos.

Cada tribo possuía seus costumes e por isso se fala em direitos


germânicos/bárbaros.

O direito era consuetudinário. Os povos sentiram a necessidade de um direito


escrito. Neste período, há o Personalidade das Leis, que determina que cada qual leva
consigo o estatuto jurídico de sua tribo de origem, onde quer que vá, ou seja, cada um
será julgado de acordo com sua legislação.
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DISCIPLINA: HISTÓRIA DO DIREITO
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Reino Vândalo – ano 477 - deixava a administração de impostos e os


julgamentos das causas para os romanos; o rei vândalo se valia de romanos para a
redação das leis em latim.

Reino Ostrogodo – ano 493 – conservou a legislação romana; mas, por


divergências religiosas, foi proibido o casamento entre ostrogodos e romanos
(porque romanos eram cristãos). O fim do reino ocorreu em 553.

Reino Visigodo – reino que mais durou, pois somente no século VIII foi invadido
pelos árabes. Se baseavam na Personalidade das Leis e, em 506, o rei Alarico II
mandou redigir a Lex Romana Visigothorum , cujo objetivo era restaurar o direito romano
imperial, mas que manteve a Personalidade das Leis. No ano 654, o rei Recesvindo,
suprimiu a Personalidade e promulgou um código em 12 livros e com inspiração no
Direito Romano, o Liber Judiciorum.

Reino dos Burgúndios – ano 474 a 516 – trata-se do centro da Europa (parte da
atual França) – regras de direito civil e de direito processual foram compiladas pelo rei
Godenbaldo, na Lex Romana Burgundiorum.

Reino dos Francos – habitaram até o século V às margens do rio Reno. O modelo
administrativo foi utilizado como base do feudalismo. A legislação produziu mais de 200
textos entre 744 e 884. As leis recebiam as seguintes denominações: Edicta, Decreta ou
Constitutiones, ou capitulares (artigos). Havia tribunais ordinários funcionando em
cada condado, compostos por homens livres e presidido por um conde; o conde
recebia a assistência dos legem dicere (dizer o direito).

4.2 O Direito Canônico – recebe este nome, em razão da palavra cânon, do grego
regra. A importância da Igreja se fazia presente, eis que esse direito era escrito.
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DISCIPLINA: HISTÓRIA DO DIREITO
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O direito canônico, durante séculos, foi responsável pelo domínio do direito


privado. Os tribunais eclesiásticos eram o locus para solução de casamentos e
divórcios.

As fontes do direito canônico são:

 Ius divinum – conjunto de regras que podem ser extraídas da Bíblia, dos escritos
dos doutores da Igreja e da doutrina patrística;
 Legislação canônica – decisões dos Concílios e escritos dos papas;
 Os costumes – desde que fossem seguidos a pelo menos 30 anos, não ofender a
razão, seguir direito divino;
 Princípios advindos do Direito Romano.

O processo eclesiástico era ESCRITO; na área penal, o processo atrelava-se à


queixa e à acusação.
Até o século XIII, eram utilizadas as provas de ferro em brasa ou água fervente,
de forma que, se a pessoa fosse inocente, ela não se feriria. Outra prova seria
mergulhar a pessoa em água com pés e mãos atados.
Era o que se denominava de prova irracional. Denominava-se a este tipo de sistema
de provas como ordálios unilateral.

Os ordálios bilaterais podiam ser provas de batalhas com luta de espada.

A partir do IV Concílio de Latrão em 1215, os ordálios foram condenados pela


Igreja.

4.3 A Recepção do Direito Romano –

Seria quase impossível a não utilização do Direito Romano durante a Idade


Média; tanto que em regiões mais romanizadas como as Penínsulas Ibérica e Itálica, o
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direito romano superou o Direito Germânico. A utilização do direito Romano como base
para outros direitos é denominada Fenômeno da Recepção.

Ocorreu o Renascimento do direito Romano, a partir do século XII na Itália e nos


séculos seguintes, principalmente apoiado no Corpus iuris civilis .

Os advogados não eram bem vistos na Idade Média e, sobre eles escreveu São
Bernardo ao Papa Eugênio III (1939, p. 269):

Admira-me poderem vossos religiosos ouvidos suportar as


discussões dos advogados, esses eternos combates de palavras em
que a inocência é frequentemente imolada e o crime favorecido, e
onde, enfim, perde a verdade a sua candura. Fazei calar essas
línguas de víboras, que destilam o fel da sátira e o veneno da
calúnia; fechai esses lábios impuros, dos quais fluem ondas de
iniquidade.

4.4 Glosadores, Comentadores e Humanistas

Na Baixa Idade Média, ocorre a formação do ius commune (direito comum) tem
como principal característica a unidade. O saber jurídico inspirado no Império Romano
ampliou-se nos currículos e influenciou a legislação nas chancelarias reais, no caminho
de uma teoria jurídica universal que resultou da interpretação teórica dos glosadores
acerca do Corpus Iuris.

O latim foi decisivo naquele tempo, TRIVIUM (dialética, retórica e gramática) e


QUADRIVIUM (aritmética, geometria, astronomia/astrologia, harmonia/música) eram a
base do ensino medieval.

Comentadores foram responsáveis pela renovação dos estudos e problemas,


de forma a aproximar o direito romano (direito Justiniano) dos direitos estatutários
(direito local).
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Humanismo – a partir do século XIV, com o Renascimento cultural, artístico e


científico da Itália, surgiu o Humanismo que levou à revalorização da ciência, da arte e
da filosofia. No campo do direito, o humanismo se opôs às autoridades medievais e
às formas de conhecimento da escolástica (ciência jurídica medieval).

Os humanistas identificavam as falhas de interpretação dos glosadores e dos


comentadores, decorrentes, inclusive da utilização de um latim pouco culto.

4.5 As Ordenações do Reino (Portugal) –

Nos séculos IX e X, apenas o norte da Península Ibérica não se encontrava sob


domínio árabe. Portugal nasce “[...] com uma espada na mão” e expulsando os
muçulmanos.

A codificação do direito português e a reestruturação do serviço judiciário


foram marcados pela criação do cargo de juiz, com jurisdição na cidade.

O reinado de D. Diniz foi o marco histórico do Direito Português.

As Ordenações formaram a primeira legislação portuguesa. O principal objetivo


das Ordenações era o de diminuir as inúmeras leis dispersas pelo reino.

Ordenações Afonsinas – dividia-se em cinco livros:

 Primeiro – regimentos dos cargos públicos (régios e municipais); governo, justiça,


fazenda e exército;
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 Segundo – direito eclesiástico; jurisdição e privilégios dos donatários, as


prerrogativas da nobreza, e o estatuto dos judeus e dos mouros;
 Terceiro – processo civil;
 Quarto – direito civil: direito das obrigações e contratos, direito das coisas, direito
de família e sucessões;
 Quinto – direito penal e o processo penal.

A estrutura judiciária reunia Magistrados Singulares e Tribunais Colegiados


de segundo e terceiro graus de jurisdição.

Magistrados Singulares - dentre eles:

 Juízes Ordinários – não eram bachareis de Direito, mas eram eleitos pela
Câmara Municipal (os chamados homens bons);

 Juízes de Fora – bachareis em direito que eram nomeados pelo rei e que
podiam substituir os juízes ordinários;

Tribunais Colegiados (segundo grau de jurisdição)– dentre eles:

 Desembargo do paço: apreciava questões cíveis relativas à liberdade do


indivíduo, como graça, perdão, indulto, privilégios.

Tribunal Colegiado – terceiro grau de jurisdição – Casa da Suplicação.

As Ordenações Afonsinas foram influenciadas pelo Direito Canônico, tanto que


emprega a palavra pecado como sinônima de crime.
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5. História do Direito na Idade Moderna

Vamos falar na Expansão Marítima que aconteceu entre os séculos XV e XVII?


Trata-se do período de transição da Idade Média para a Idade Moderna; período de
Renascimento Cultural e da Reforma Protestante e da Contrarreforma.
Os fatores mais relevantes dessa expansão tiveram seu foco na economia, política,
cultural, religiosa e social.
Ocorreu a ascensão da burguesia (maior consumo de produtos orientais).
Ideal cruzadista: expansão da fé cristã (impulso salvífico).
Tecnologias: bússola e astrolábio; velas triangulares; caravelas e naus

Figura 1. Astrolábio

IDADE MODERNA

Centralização do Poder e Absolutismo

Muitos processos ocorreram concomitantemente e um deles foi o renascimento


do Direito Romano, em razão das universidades e juristas que possuíam formação
no Direito Romano.

A chamada França de Luís XIV era como a França do século XVII ficou conhecida. Luís
XIV governou de 1661 a 1715 e foi um exemplo de centralização de poder.
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Teorias acerca do Absolutismo:

 Nicolau Maquiavel (1469-1527) – escreveu O Príncipe – obra para quem os fins


justificam os meios, logo, o governante pode “praticar qualquer ato”.

 Thomas Hobbes (1588-1679) – escreveu Leviatã – obra que visou entender a


formação do Estado e que justificou o poder centralizado nas mãos de um só;
Hobbes definiu como Estado de Natureza o permanente estado de guerra entre
os homens e, para evitar a destruição, foi necessário firmar um pacto.
o Com relação à lei: segundo Hobbes, sua fonte era a vontade do rei; tanto
que Hobbes exclui os costumes das fontes; pois, “[...] lei é o comando
de uma pessoa cuja decisão constitui uma razão suficiente para
obedecer-lhe” (HOBBES, 1997, p. 66).

Luís XIV dissolveu o Conselho de Estado, recrutou alguns ministros entre os


burgueses, governando quase que sozinho.

A organização social de Luiz XIV baseava-se em distinção social que era observada
no lugar em que as pessoas sentavam na igreja; aliás, os tecidos refletiam tal distinção:
seda para os nobres, casimira para os burgueses, sarja, algodão e linho para os
artesãos.

Conselho de Reforma da Justiça responsável pela:


Ordenação Civil de 1667 e
Ordenação Criminal de 1670; resultando no Código Luís.
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Não havia pena de prisão – mas era possível prender imediatamente quem
praticasse infração mesmo sem gravidade; para que fossem julgados.

Por ordem régia (ordem do rei) também se prendia e, só havia soltura se houvesse
ordem régia.

As condições da prisão eram péssimas.

O DIREITO COLONIAL BRASILEIRO

No Brasil, os habitantes viviam em comunidades e não existia a propriedade privada.

Havia regras não escritas. O trabalho era dividido: homens caçavam, guerreavam e
preparavam a terra para o plantio; mulheres cuidavam da agricultura, da preparação dos
alimentos, artesanato. O casamento era realizado de forma avuncular (tio materno com
a sobrinha) e, fora desse formato, o noivo deveria prestar serviço aos pais, tios e
irmãos da noiva. As relações eram reguladas pelo parentesco.

Primeiros documentos jurídicos na colônia

Portugal não possuía condições financeiras e nem de pessoal para a gestão do vasto
território brasileiro; assim, como solução adotou as Capitanias Hereditárias (espécie
de privatização da colonização).

Os donatários nomeavam o Ouvidor para exercer a jurisdição civil e criminal;


destaque-se que havia donatários que permaneciam em Portugal e enviavam seus
ouvidores.

Só duas Capitanias Hereditárias foram exitosas: Pernambuco e São Vicente.


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Município – Governo-geral e organização de aparato jurídico na Colônia


O Governo Geral foi instituído por Regimento e estabelecia que fosse realizada aliança
com os índios, evitando sua escravização.

PANORAMA DA ESTRUTURA JUDICIÁRIA DO BRASIL COLÔNIA

Ouvidor- julgava os processos cíveis e criminais, nos quais fossem partes interessadas:
procuradores, tabeliães, abades; as causas de competência dos juízes de fora, as
apelações dos juízes ordinários;

Juiz Ordinário ou da Terra – julgar processos cíveis e criminais; e nos locais onde não
houvesse juiz de órfão; julgavam as apelações e agravos das decisões dos almotacéis;

Juiz de Vintena – eleito anualmente pela Câmara dos Vereadores, na proporção de um


juiz para cada 20 habitantes; julgava processo verbal, sem apelação ou agravo, em
questões de pequena monta, excluindo-se, portanto, as questões de bens imóveis e as
infrações a posturas municipais;

Almotacéis – eram dois para cada município; resolviam questões sobre servidões
urbanas e nunciações a obras novas;

Juiz de Fora – substituia o juiz ordinário nas causas cíveis, cujos valores fossem
inferiores a mil réis, nos bens móveis e na localidade de até 200 casas.

Juiz de órfãos – eleitos ou nomeados quando o município possuísse mais de 400


vizinhos; processava e julgava inventários, partilhas, causas deles decorrentes e
também tutela e curatela.
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Direito sob domínio holandês no nordeste brasileiro

No Brasil, os holandeses conquistaram quatro capitanias: Pernambuco, Itamaracá,


Paraíba e Rio Grande do Norte.

Pouco se conhece de sua legislação, mas as leis penais incluiam a pena de morte,
assim executada:

- enforcamento;
- pela espada;
- pela fogueira;
- entrega aos índios;
- esquartejamento em vida.

Legislação da região das Minas

As características da região promoveram uma legislação específica em razão do ouro:


- Código Mineiro (1603 e 1618)
- Regimento (1702)

Código Mineiro
 Súditos do rei podiam extrair o ouro livremente (reservando a quinta parte para
a Real Fazenda);
 Autorizou a criação das Casas de Fundição
 Demarcava as chamadas “terras minerais”

Regimento de 1702
 Alterou os Códigos anteriores;
 Criou um governo especial para as zonas auríferas:
A INTENDÊNCIA DAS MINAS
 A vinculação da Intendência se dava somente à Lisboa;
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 ATRIBUIÇÕES DA INTENDÊNCIA:
o Policiar a mineração;
o Fiscalizar e dirigir as explorações;
o Atuar como Tribunal de primeira e última instância nas questões de suas
atribuições;
o O Superintendente realizava atividades jurídicas.
IDADE CONTEMPORÂNEA

6. História do Direito na Idade Contemporânea

No século XVIII, intelectuais da Europa reagiram ao Absolutismo Monárquico, reação


que recebeu o nome de Iluminismo ou Época das Luzes. A proposta era de uma
cidadania centrada na liberdade e na defesa burguesa da propriedade. Assim, a lei
deve organizar o poder na sociedade como Estado (QUIRINO, 1987, p.24):

[...] a cidadania já não poderá significar aqui o mesmo que para o


mundo antigo e medieval [...] ainda significa a ‘igualdade diante da
lei’, mas agora se aplica a todos os homens sem exceção, como
fundamento da cidadania, já que é a base sobre a qual serão
fixados os outros direitos que regularão a possibilidade de
expressão social da diferença entre os homens.

A proposta iluminista de Montesquieu era a de que por meio dos três poderes, fosse
alterado o modelo do Antigo Regime Absolutista Monárquico. Montesquieu baseava-se
na ideia de contrato social (de Rousseau). Acerca do contratualismo e da teoria de
Rousseau:
[...] o ‘contrato social’ é uma ideia, que não se põe como
pressuposto lógico de filósofo, mas como arma de reformador
político.

Quanto à lei, Rousseau serviu de base para a teoria de Cesare Beccaria:


[...] só à lei se devem a justiça e a liberdade. Só ela permitiu
subjugar os indivíduos para torná-los livres, encadear-lhes a
vontade com a sua própria autorização, fazer valer o seu
consentimento contra a sua recusa. (CHEVALIER, 1990, p. 171).

Mas, quem foi Cesare Beccaria?


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Advogado que integrava os Iluministas; nasceu em 1738. Vale ressaltar que pensar
sobre o Estado de Direito só é possível graças aos Iluministas, graças a Beccaria. A
relevância deste italiano está presente no direito penal moderno e também nos
direitos individuais.

A obra Dos Delitos e das Penas, escrita por Beccaria aos 25 anos de idade é de suma
importância para as bases do direito penal moderno. Beccaria buscava soluções para as
injustiças do sistema penal daquela época, que ainda era o mesmo desde a Idade Média,
com masmorras.

Juízes com poderes absolutos e uma legislação pouco clara eram a combinação de um
processo que tinha um só objetivo: fazer com que o réu confessasse. Este era o
cenário que Beccaria pretendia mudar.

Cesare Beccaria e suas ideias:

- lei e penas em geral: Beccaria entendia leis e penas como fruto da necessidade do
convívio social; a finalidade das penas era a proteção da sociedade; as penas deviam
ser proporcionais aos delitos, ou seja, era o que Beccaria entendia como proporção
entre os delitos e as penas.

Beccaria já afirmava que as penas dos delitos só poderiam ser fixadas por lei emanada
do legislador; ou seja, já era o prenúncio do que hoje se conhece como Princípio da
Legalidade ou Princípio da Anterioridade da Lei (Princípio presente na Constituição
Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso XXXIX e no artigo 1º, do Código Penal; eis que
não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.)

- penas cruéis e pena de morte: Segundo Beccaria, as penas cruéis não garantiam
alcançar os objetivos de leis e penas. Para ele, a crueldade leva a duas consequências:
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a) penas cruéis conduzem à impossibilidade de se alcançar proporcionalidade entre


delitos e penas;
b) penas cruéis se assemelhavam a espetáculos públicos e que eram esquecidas.

Quanto à pena de morte, Beccaria era claríssimo: “Se, no entanto, eu demonstrar que
a morte não é nem útil nem necessária, terei vencido a causa da humanidade”
(BECCARIA, 1998, p. 95)

Quanto à pena de prisão perpétua, Beccaria era favorável à sua aplicação.

- processo: Beccaria se coloca contra a tortura no processo e o uso de meios violentos


para que se obtivesse a confissão era também tido como injusto.

No século XVIII e durante toda a Idade Moderna e Média, prevalecia o princípio In Dubio
Pro Societate, ou seja, se houvesse qualquer possibilidade do réu ser culpado,
deveria ser condenado para proteção da sociedade.

Acerca das provas, para Beccaria, a prova testemunhal é relevante e “[...] a


credibilidade de uma testemunha torna-se tão sensivelmente menor quanto mais
cresce a atrocidade do delito” (BECCARIA, 1998, p. 63), portanto, a prova
testemunhal deve constar na legislação.

- prevenção dos delitos: Segundo Beccaria (1998, p. 130):

É melhor prevenir os delitos do que puni-los. É este o


escopo principal de toda boa legislação, que é a arte de
conduzir os homens ao máximo de felicidade ou ao mínimo
de infelicidade possível, conforme todos os cálculos dos bens
e dos males da vida.

Mas, a prevenção dos delitos não é alcançada somente com muitas leis, assim,
Beccaria aconselhava (1998, p. 131):
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Quereis prevenir os delitos? Fazei com que as leis sejam


claras, simples e que toda a força da nação se concentre em
defendê-las e nenhuma parte dela seja empregada para
destruí-las. Fazei com que as leis favoreçam menos as
classes dos homens que os próprios homens. Fazei com que
os homens as temam, e temam só a elas. O temor das leis é
salutar, mas o temor de homem a homem é fatal e fecundo
em delitos.

A prevenção, ainda segundo Beccaria (1998, P. 135), também se encontrava nas mãos
dos magistrados:

Outro meio de prevenir os delitos é o de interessar o colégio


executor das leis antes pela observância delas do que pela
corrupção. Quanto maior o número dos membros que
compõem tal colégio, menor é o perigo de usurpação das leis,
porque a venalidade é mais difícil entre os membros que se
observam uns aos outros [...]

Século XVIII – PRINCIPAIS FATOS

A Independência dos Estados Unidos

Para muitos, a independência dos Estados Unidos foi uma espécie de Revolução;
destacando-se que a formação do Estado norte americano decorreu das 13 Colônias –
(este era o nome dado pela Inglaterra à colônia na América).

1774 – Primeiro Congresso Continental de Filadélfia – pedia-se a revogação da leis


por conta da igualdade de direitos entre ingleses e norte americanos;

1775 – Segundo Congresso Continental de Filadélfia – favorável à independência.

Posteriormente – representantes do povo da Virgínia elaboram a Declaração de


Direitos do Bom Povo da Virgínia – MARCO PARA A LIBERDADE INDIVIDUAL =
primeiro documento escrito com valor jurídico, seguindo os ideais iluministas:

- Artigo 1º - direito natural: todos são igualmente livres;

- Artigo 2º - o poder deve vir do povo; e a Declaração da Virgínia acrescenta


elementos iluministas:
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* Que todo poder é inerente ao povo e, consequentemente, dele procede;

* que os magistrados são seus mandatários e seus servidores e, em


qualquer momento, perante ele responsáveis.

- Artigo 3º - trata da responsabilidade do Governo e indica a possibilidade de


revolta contra um governo não adequado; subordinando o Governo ao povo:

Que o governo é instituído, ou deveria sê-lo, para proveito comum,


proteção e segurança do povo, nação ou comunidade [...]

- Artigo 4º - iguala a todos, proibindo privilégios e negando a possibilidade de


hereditariedade nos cargos públicos:

Que nenhum homem ou grupo de homens tem direito a receber


emolumentos ou privilégios exclusivos ou especiais da comunidade [...]

- Artigo 5º - demonstra o intuito democrático, em termos de representatividade,


segundo Montesquieu e o poder tripartite:

Que os poderes legislativo, executivo e judiciário do Estado devem ser


separados [...]

- Influência de Beccaria: escolha de 12 jurados (em alusão aos 12 apóstolos):


“Não serão exigidas fianças ou multas excessivas, nem infligir-se-ão
castigos cruéis ou inusitados.”

- liberdade de imprensa: contemplada na Declaração:

A liberdade de imprensa é um dos grandes baluartes da liberdade, não


podendo ser restringida jamais, a não ser por governos despóticos.

- liberdade religiosa: apesar da escolha de religião, o modelo era o cristão


monoteísta.
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A Declaração de Independência

Dia 04 de julho de 1776 – na Filadélfia – redigida por Thomas Jefferson

Primeiro Parágrafo: Quando no curso dos acontecimentos humanos se


torna necessário para um povo dissolver o vínculo político que o mantinha
ligado a outro, e assumir entre as potências da terra a situação separada e
igual a que as leis da natureza e o Deus da natureza lhe dão direito, um
decoroso respeito às opiniões da humanidade exige que ele declare as
causas que o impelem à separação.

A Constituição Norte Americana

Como manter a união das 13 antigas Colônias após a Declaração de


Independência?

- em 1777 – foi elaborado o Articles of Confederation (Artigos de Confederação)


– estabelecendo a união dos Estados;

- em 1787 – finalizada a Constituição (um preâmbulo e sete artigos);

- A Constituição: divisão dos poderes em três: Executivo, Legislativo e Judiciário;

- Deputados: eleitos de 2 em 2 anos; mínimo de 25 anos de idade e ser cidadão


há 7 anos;

- Senadores: eleitos por 6 anos, sendo que a cada dois anos, um terço das vagas
são abertas às eleições; idade 30 anos e ser cidadão há 9 anos;

- Presidente: mandato de 4 anos; ser americano nato e ter 35 anos de idade; a


eleição não é totalmente direta;

- Poder Judiciário: fiscalizar a execução das leis e punir culpados por


transgressões. Compõe-se de: Suprema Corte e Tribunais inferiores;
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Equity e Common Law

O sistema norte americano diferencia-se do Direito inglês.

A escala hierárquica das normas: Constituição Federal; Leis e Atos Federais;


Constituições Estaduais e Atos Estaduais; e leis e atos municipais.

Common Law – mantida a tradição e esse direito podia ser declarado por via judicial
ou promulgado legislativamente.

Equity – corpo do direito positivo, com conteúdo próprio: patrimônio, hipotecas, cessão
de direitos.

A Revolução Francesa

As revoluções na Inglaterra (séc. XVII) apresentaram ao mundo esse novo caminho. E a


França?

Na França, às vésperas de sua revolução, o país tinha 85% da população agrária. A


máquina do Estado era pouco eficiente, assim, os impostos eram cobrados por
particulares. O Rei Luís XVI nomeou ministro e convocou a Assembleia dos Estados
Gerais, que desde 1614 não era convocada.

A Assembleia Constituinte e a

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

A Assembleia Nacional, em 09/07/1789, tornou-se Assembleia Constituinte. No dia


26/08/1789 foi aprovada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão – o
Palácio de Versalhes cai nas mãos do povo.

A tendência de participação popular já estava presente, pois o Iluminismo somou-se


às necessidades de igualdade, como se verifica no artigo 1º:

Art. 1º Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções


sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.
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O Princípio da Legalidade: seguindo Cesare Beccaria, no artigo 5º:

Art. 5º Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos
determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas [...]

O Princípio In Dubio Pro Reo: de acordo com o artigo 9º:

Art. 9º Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado


e, se se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda
da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei.

A Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã: As mulheres tiveram importante


papel na Revolução, na busca pela igualdade, assim, em 1791, foi redigida a
Declaração, tida como marco na história das Ideias de Igualdade:

Art. I. A mulher nasce livre e tem os mesmos direitos do homem. As distinções


sociais só podem ser baseadas no interesse comum.

As Constituições Revolucionárias

Na França, houve mais de uma Constituição. A Constituição de 1791 pode ser tida
como a primeira da Revolução (Monarquia Constitucional):

Art. 1º Todos os cidadãos são admissíveis aos cargos e empregos sem outra
distinção senão aquela decorrente das suas virtudes e das suas aptidões.

Art. 3º Não existe na França autoridade superior à da lei. O rei reina por ela e não
pode exigir obediência senão em nome da lei.

Era Napoleônica e o Código Civil

A chegada de Napoleão ao poder é tida como término da Revolução Francesa.

Nova Constituição é realizada em 1799.

O Poder Executivo era composto por 3 cônsules, nomeados pelo Senado, com
mandatos de 10 anos.

Napoleão recebeu o título de cônsul vitalício, em 1802:

 reorganizou e centralizou a administração,


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 fundou o Banco da França e


 melhorou a situação econômica do país.

Código Civil é concluído em 1801 e, em 1804 foi publicado.

Dentre alguns pontos, destacam-se:

- quanto à família: o poder patriarcal foi reforçado e o pai podia até deter o filho
por um mês e, se o filho tivesse mais de 16 anos, podia ser detido por 6 meses; o
divórcio era admitido.

7 História do Direito Brasileiro

Brasil Império: A independência do Brasil e a Constituição de 1823

A ideia de independência estava presente somente entre os chamados radicais.


D. Pedro, ao abrir os trabalhos constituintes: “[...] uma Constituição que, pondo barreiras
inacessíveis ao despotismo, quer real, quer democrático, afugente a anarquia, e plante
a árvore daquela liberdade, a cuja sombra deve crescer a união, a tranquilidade e
independência deste Império, que será o assombro do mundo novo e velho” (1823).

A constituição Outorgada de 1824


A Comissão nomeada por D. Pedro I foi chamada Conselho de Estado, composta por
6 ministros e 4 membros escolhidos pelo Imperador, sendo que havia prazo de 40 dias
para a redação da Carta.
Destaque da Constituição de 1824:
Art. 3º O seu governo é monárquico, hereditário, constitucional e representativo.

O Código Criminal de 1830

A proclamação da independência em setembro de 1822 deixou clara a necessidade de


regular aspectos da vida nacional.
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O Código Criminal de 1830 apresentava divisão entre partes geral e especial; 313
artigos:

I – dos crimes e das penas – arts. 1º a 67;

II – dos crimes políticos – arts. 68 a 178;

III – dos crimes particulares – arts. 179 a 275;

IV – dos crimes policiais – arts. 276 a 313.

A pena de morte tinha previsão no art. 38: “Art. 38. A pena de morte será dada na
forca.” E apenas a gestante não era condenada à morte antes de transcorridos os 40
dias depois do parto.
A pena de multa e a ideia do dia-multa foram introduzidos no Código.
Delitos cometidos no exercício do emprego público eram apenados com a perda do
emprego.

O Código de Processo Criminal de 1832

Quando D. Pedro I abdicou do trono, seu sucessor tinha 5 anos de idade e o Império foi
governado por uma Regência:

“Art. 121. O Imperador é menor até a idade de dezoito anos completos”.

O Código de Processo Criminal

Como o Código Criminal não previa os procedimentos, foi o Código de Processo Criminal
o responsável por dar atribuição aos municípios para exercerem as atribuições
judiciárias e policiais.
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DISCIPLINA: HISTÓRIA DO DIREITO
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Nascimento da Tradição Jurídica Brasileira

A história jurídica mundial foi a inspiração para o Código Criminal de 1830 e o do


Processo de 1832.

Os cursos jurídicos têm seu marco inicial no Brasil, com as Escolas de Olinda e de São
Paulo, quando os currículos dos cursos eram aprovados pelo Decreto de 1825, para
reunir:

[...] programas de direito natural e público, análise da constituição Imperial,


direito das gentes e diplomacia (1º ano), direito público eclesiástico (2º ano)
[...]

Depois, em 1853 e 1854, ampliou-se o currículo com Instituta de Direito Romano e


Direito Administrativo Pátrio.

Marco importante: fundação do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, em


07/08/1843.

A Proclamação da República e a Constituição de 1891

O nome do país foi alterado para Estados Unidos do Brasil.

A Assembleia Constituinte – 22/06/1890. Alguns pontos da Constituição de 1891:

Art. 1º A Nação brasileira adota como forma de governo, sob o regime


representativo, a República Federativa proclamada a 15 de novembro de 1889, e
constitui-se, por união perpétua e indissolúvel das suas antigas províncias, em
Estados Unidos do Brasil.

Art. 63. Cada Estado reger-se-á pela Constituição e pelas leis que adotar,
respeitados os princípios constitucionais da União.

O Poder Judiciário: composto pelo Poder Judiciário Federal e pelos poderes judiciários
estaduais. O Supremo Tribunal Federal tinha jurisdição ordinária e recursal. As questões
submetidas ao Supremo tinham o acompanhamento da população, que aplaudia e até
vaiava as sessões.
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DISCIPLINA: HISTÓRIA DO DIREITO
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O Código Penal de 1890 – definiu os Princípios da Legalidade e da Territorialidade para


os crimes:

Art. 1º Ninguém poderá ser punido por facto que não tenha sido anteriormente
qualificado crime, e nem com penas que não estejam previamente estabelecidas
[...]

Art. 4º A lei penal é applicada a todos os indivíduos, sem distincção de


nacionalidade, que, em território brazileiro, praticarem factos criminosos e
puníveis.

O Código previa a Progressão da Pena e o livramento condicional.

O Código Civil de 1916 – os Códigos civis elaborados após o Código Civil Napoleônico
tratavam dos direitos e deveres dos cidadãos. O projeto ficou parado e, foi com Clóvis
Bevilácqua, em 1916, que o Código ficou pronto. Foi sancionado em 01/01/1916 e, um
ano depois, o Brasil tinha seu primeiro Código Civil, ou seja, quase um século depois de
sua Independência.

A Revolução de 1930

Foi criada a Ordem dos Advogados Brasileiros, com objetivo principal disciplinar e
selecionar os advogados:

Art. 17. Fica criada a Ordem dos Advogados Brasileiros, órgão de disciplina e
seleção da classe dos advogados, que se regerá pelos estatutos que forem
votados pelo Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, com a elaboração dos
Institutos dos Estados, e aprovados pelo Governo.

Poder Judiciário – A Constituição de 1934 estabeleceu os órgãos:

Art. 63. São órgãos do Poder Judiciário:

a) A Corte Suprema;
b) Os juízes e tribunais federais;
c) Os juízes e tribunais militares;
d) Os juízes e tribunais eleitorais.

Foi criada a Corte Suprema em substituição ao Supremo Tribunal Federal:

Art. 73. A Corte Suprema, com sede na Capital da República e jurisdição em


todo o território nacional, compõe-se de onze ministros.
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Garantias Individuais

O artigo 113 da Constituição de 1934 descreve Direitos e Garantias Individuais. Pode-se


destacar a manutenção: do habeas corpus, a proibição do foro privilegiado, o mandado
de segurança.

Art. 113. A Constituição assegura a brasileiros e estrangeiros residentes no


País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à
segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

13) Dar-se-á habeas corpus sempre que alguem sofrer, ou se achar ameaçado de
sofrer violência ou coação em sua liberdade, por ilegalidade ou abuso de poder
[...]

27) A lei penal só retroagirá quando beneficiar o réu.

A Constituição de 1937

Ficou conhecida como Constituição Polaca em razão de sua influência da Carta


Polonesa de 1935 e da influência da Constituição Portuguesa de 1933; além da Carta
Del Lavoro e da Cartilhista de 1891.

Art. 1º O Brasil é uma República. O poder político emana do povo e é exercido em


nome dele, e no interesse do seu bem-estar, da sua honra, da sua independência
e da sua prosperidade.

O Poder Judiciário: O Supremo Tribunal Federal volta a ter esse nome, mas suas
atribuições sofrem a conjuntura de ditadura.

O Código Penal de 1940 e o Código de Processo de 1941

O Código Penal de 1940 foi sancionado pelo Decreto n. 2.848, de 7 de dezembro e


entrou em vigor no dia 01/01/1942.

O Código de Processo Penal de 1941, apesar de também datar do período varguista


ditatorial apresentava inovações.
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O Fim do Estado Novo e a Constituição de 1946

Após a deposição de Vargas pelos militares, em 2/12/1945, foi realizada a eleição para
presidente, e o campo para uma nova Constituição em 1946.

A Ordem dos Advogados do Brasil indicou uma lista de juristas para um anteprojeto.

Em setembro de 1946, foi aprovada a versão final da nova Constituição do Brasil.

A Constituição de 1946: mantido o presidencialismo, mas a definição do Poder


Executivo mudou e a vice-presidência:

Art. 78. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República.

Art. 79. Substitui o Presidente, em caso de impedimento, e sucede-lhe, no de


vaga, o Vice-Presidente da República.

O Poder Legislativo voltou a ser composto pela Câmara dos Deputados e pelo
Senado (que havia sido extinto pela Constituição de 1937).

O Poder Judiciário – a Constituição restaurou sua autonomia.

Art. 94. O Poder Judiciário é exercido pelos seguintes órgãos:

I – Supremo Tribunal Federal;


II – Tribunal Federal de Recursos;
III – juízes e tribunais militares;
IV – juízes e tribunais eleitorais;
V – juízes e tribunais do trabalho.

O Ministério Público foi previsto na Constituição de 1946, para as Justiças e os


Estados:

Art. 125. A lei organizará o Ministério Público da União junto à Justiça comum, à
Militar, à Eleitoral e à do Trabalho.

Direitos: direito de voto para analfabetos maiores de 18 anos e a obrigatoriedade de


alistamento.

Ditadura Militar: a ditadura de Vargas havia desarticulado o movimento operário e, após


1945, buscou-se a consolidação da estrutura oficial do sindicalismo.
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O Fim do Regime Militar

O ano de 1978 foi o último ano do Presidente General Ernesto Geisel e, nesse período,
forças populares e democráticas se mobilizaram. O país voltou ter esperança mudanças
para uma nova Constituição.

A Constituinte de 1987: as pessoas que dela participaram não refletiam a


heterogeneidade do Brasil, pois somente 3% dos congressistas eram profissionais
de nível médio.

Características Gerais da Constituição de 1988

São muitos elementos distribuídos em seus parágrafos e incisos poderiam ter sido
definidos em legislação comum.
A Constituição de 1988, também denominada de Constituição Cidadã assegurou os
Direitos Individuais .
O artigo 5º é é um desses princípios.
O Poder Judiciário voltou a ter independência.
O Poder Legislativo retomou sua independência.
Garantias Trabalhistas estão contempladas na Constituição Cidadã.

PRESENÇA DAS MULHERES NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL:

A PRIMEIRA MULHER A INVESTIR-SE COMO MINISTRA DO


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
Foi a Ministra Ellen Gracie Northfleet, natural do Rio de Janeiro/RJ,
nomeada pelo Presidente da República Fernando Henrique
Cardoso, em 23/11/2000, havendo tomado posse, como Ministra da
Suprema Corte, em 14/12/2000. (MELLO FILHO, 2014).

A SEGUNDA MINISTRA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


A Ministra Cármen Lúcia, constitucionalista eminente, foi a segunda
mulher a ser investida no cargo de Ministro do Supremo Tribunal
Federal.-Essa nomeação, precedida de aprovação pelo Senado
Federal (24/5/2006), ocorreu em 25/5/2006, realizando-se a posse
em 21/6/2006. (MELLO FILHO, 2014).
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A TERCEIRA MINISTRA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL-A


MinistraRosa Weber, ilustre magistrada de carreira da Justiça do
Trabalho, foi a terceira mulher nomeada para exercer o cargo de
Ministro do Supremo Tribunal Federal. Aprovada a sua indicação
pelo Senado Federal (13/12/2011), foi ela nomeadapor decreto
presidencial de 15/12/2011, havendo sido empossada em
19/12/2011. (MELLO FILHO, 2014).

Descrição/
Tema/Evento Período Visualização Contexto histórico
Processo

A Revolta da Vacina foi


um movimento ocorrido
entre 10 e 16 de
Revolta da novembro de 1904, na
1905 RHC 2244 PROCESSO ACÓRDÃO cidade do Rio de Janeiro,
vacina
contra a campanha
obrigatória de vacinação
imposta pelo governo
federal.
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RECURSO DE HABEAS CORPUS Nº. 2.244

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos de recurso de habeas corpus preventivo,


interposto pelo Dr. Pedro Tavares Junior em favor de Manoel Furtunato de
Araujo Costa. Dos mesmos consta que, tendo este recebido pela
segunda vez intimação de um inspetor sanitário para franquear a casa
de sua residência, esta à rua D. Eugenia C 2 desta Capital, a fim de nele
proceder-se a desinfecção por motivo da febre amarela, ocorrido em
prédio contíguo, e por parecer ilegal esta intimação, dela podendo
resultar injusta coação, impetra o recorrente uma ordem de habeas
corpus preventiva ao Juiz Seccional da 2ª vara do Distrito Federal sob o
fundamento de que, garantido como é, pela Constituição da República
a inviolabilidade do domicílio do cidadão, sendo apenas permitida a
entrada em casa, mesmo de dia, sem consentimento do morador
unicamente em casos e pela forma prescrita na Lei, a iminência da
entrada forçada em casa do paciente para as operações do expurgo
sanitário, autorizado pelo Regulamento anexo ao Decreto nº 5.156, de
8 de Março de 1904. Sem prévia disposição legislativa regulando o caso,
constituía ameaça de constrangimento ilegal, suscetível do remédio do
habeas corpus preventivo, consagrado no artigo 72 § 22 da citada
Constituição, que pelo dito juiz foi denegada a ordem requerida atenta à
inteligência dada por este Tribunal ao preceito constitucional relativo a
habeas corpus, só admitindo este como medida protetora da liberdade
corpórea do cidadão, pelo que, não ocorrendo no caso dos autos prisão e
nem ameaça dela, era descabida a providência solicitada, que de tal
decisão interpôs-se o presente recurso na forma e dentro do prazo da lei.
Isto posto, e considerando que, mesmo sem contrariar a doutrina firmada
por diversos arestos deste Tribunal, de que o habeas corpus apenas visa
garantir a liberdade física do cidadão, era admissível o pedido do recorrente
desde que a intimação expedida pelo inspetor sanitário e recebida pelo
paciente possa dar ensejo a uma coação física, sendo como é, facultado
àquela autoridade, em caso de resistência, requisitar o auxílio da polícia
para que a operação sanitária do expurgo seja levada a efeito
imediatamente, conforme é expresso no artigo 172 do citado Regulamento
nº 5.156. Considerando, porém, que a entrada forçada em casa do cidadão
para o serviço de desinfecção, sendo apenas autorizada por disposição
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regulamentar, importa flagrante violação do artigo 72 § 11 da Constituição


Federal, o qual cometeu a Lei o encargo de prescrever em quais casos é
permitido, de dia, a entrada em casa particular sem consentimento do
respectivo morador. Considerando também que, não colhe o argumento de
que o Regulamento, de que se trata, foi expedido em virtude de autorização
conferida pela Lei nº 1.151, de 5 de Janeiro de 1904, a qual encarregou o
Poder Executivo de organizar o respectivo serviço sanitário, visto como,
restringida a questão à espécie vertente nos autos, sendo função
exclusivamente legislativa regular a entrada forçada em casa do cidadão
nos expressos termos do §11 do artigo 72, não podia o Congresso Nacional
subdelegar essa atribuição ao Governo sem ofender a mesma Constituição
Federal, que traçou a esfera de cada poder político. Considerando, pois,
que sendo inconstitucional a disposição regulamentar que faculta à
autoridade sanitária penetrar, até com o auxílio da força pública, em casa
particular para levar a efeito operações de expurgo, a coação de que tal ato
possa provir é manifestamente injusta, e portanto, a iminência dela importa
ameaça de constrangimento ilegal que legitima a concessão do habeas
corpus preventivo: Acórdão dá provimento ao recurso para, concedendo o
impetrado habeas corpus preventivo, mandar que cesse incontinente a
ameaça de constrangimento ilegal a que se refere o recorrente, resultante
da iminência da entrada da autoridade sanitária em casa do paciente, sem
consentimento deste, não havendo lei alguma que autorize tal entrada.
Custas ex causa. Supremo Tribunal Federal, 31 de Janeiro de 1905. Aquino
e Castro, Presidente - Manoel Murtinho – João Pedro – Ribeiro de Almeida
– Macedo Soares – André Cavalcante, votei somente em espécie – Piza e
Almeida, vencido – Pindahiba de Mattos. Concedi a ordem de habeas
corpus preventiva somente para que não fosse preso o paciente, por
não me parecer justificável a ameaça de prisão de que se queixou. Não
considero nem considerei inconstitucionais a Lei e o Regulamento a
que se referem os considerandos do Acórdão que nesse ponto não aceitei.
– H. do Espirito Santo, vencido – Alberto Torres – Foi voto vencedor o Sr.
Ministro Pedro Antonio de Oliveira Ribeiro.

Julgado destacado do Supremo Tribunal Federal


Fonte: BRASIL. Supremo Tribunal Federal, 2018.
Disponível em:
http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp?servico=sobreStfConhecaStfJulgamentoHisto
rico&pagina=STFPaginaPrincipal1 Acesso em fevereiro de 2022.
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Fonte: BRASIL. Supremo Tribunal Federal

Disponível em:

http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/sobreStfConhecaStfJulgamentoHistorico/anexo/Habea
s_Corpus_2244.pdf Acesso em maio de 2021.
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Fonte: BRASIL. Supremo Tribunal Federal

Disponível em:

http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/sobreStfConhecaStfJulgamentoHistorico/anexo/Habea
s_Corpus_2244.pdf Acesso em maio de 2021.
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REFERÊNCIAS

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Janeiro: Maria
Augusta Delgado, 2009. Disponível em:
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/37831/epub/0 Acesso em: 03 fev.
2022.

BECCARIA, C. Dos delitos e das penas. Tradução de Lucia Guidicini e Alessandro B.


Contessa. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

CALLIOLI, Eugênio Carlos. A história do direito: aspectos conceituais. Revista da


Faculdade de Direito,
Universidade de São Paulo, n. 82, p. 240-249. 1987. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67105 Acesso em: 03 fev. 2022.

DIAS, Handel Martins. O processo formulário. Justiça & História. São Paulo, v. 11, p.
17-52, 2011.

FIUZA, César. Direito civil: curso completo. 6. ed. rev. atualizada e ampliada de acordo
com o Código Civil de 2002. Belo Horizonte: Del Rey, 2003.

GUANDALINI JÚNIOR, Walter. História do direito romano [livro eletrônico]. Curitiba:


Intersaberes, 2021. Disponível em:
https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/186195 Acesso em fevereiro de
2022.

HOBBES apud MACEDO, Silvio de. História do pensamento jurídico. 2. ed. Porto
alegre: Sergio Antonio Fabris, 1997.

LACERDA, Galeno. Processo e cultura. Revista de Direito Processual Civil,


São Paulo, v. 3, p. 74-86, 1961.

MELLO FILHO, José Celso de. Notas sobre o Supremo Tribunal (Império e República).
4.ed. Brasília: Supremo Tribunal Federal, 2014. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/publicacaoPublicacaoInstitucionalCuriosidade/anexo/N
otas_sobre_o_Supremo_Tribunal_2014_eletronica.pdf Acesso em maio de 2021.

ROSTOVTZEFF, M. História de Roma. Tradução de Waltensir Dutra. 3. ed. Rio de


Janeiro: Zahar Editores, 1973.

TUCCI, José Rogério Cruz; AZEVEDO, Luiz Carlos de. Lições de história do processo
civil romano. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.
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DISCIPLINA: HISTÓRIA DO DIREITO
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PROFESSOR: TANIA ALENCAR DE CALDAS
CURSO: DIREITO – 1º SEMESTRE - 2022/1

VÉRAS NETO, Francisco Quintanilha. O direito romano clássico. In: WOLKMER,


Antonio Carlos (org.). Fundamentos de história do direito. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
2001.

WOLKMER, Antonio Carlos. Direito e sociedades no oriente antigo. In: Fundamentos


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