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DIREITO ROMANO: estudos das ações da lei e o Constitucionalismo Global.

Simone Helen Drumond Ischkanian¹


Ana Luzia Amaro dos Santos2
Letícia Esteves Siqueira da Silva3
Gabriel Nascimento de Carvalho4
Adam Smith Corrêa Liborio5
Dilani da Cruz MC Comb6
Darcio Faria Bayerlein Júnior7
1. INTRODUÇÃO
O Direito Romano, que atravessou séculos até chegar aos tempos atuais como
primeira fonte do Direito dentro do mundo ocidental, especialmente no que tange à
matéria cível, é de indiscutível importância para que possamos melhor compreender os
institutos jurídicos atuais, muitos dos quais brotaram da época Pretoriana, com suas
devidas adaptações e adequações às necessidades do mundo atual. O análogo das
perspectivas contemporâneas, “Roman law and global constitutionalism”, ilumina os
debates acadêmicos nos cursos de Direito sobre o constitucionalismo global.
A história do processo civil romano cobriu três períodos, cada um contendo um
sistema processual típico:
1º - O processo das ações da lei (legis actiones);
2º - O processo formulário (per formulas); e

1
ISCHKANIAN, Simone Helen Drumond - Doutoranda em Educação, Professora
SEMED, UEA e IFAM – Autora do Método de Portfólios Educacionais (Inclusão –
Autismo e Educação). SHDI é autora de artigos e livros. E-mail
simone_drumond@hotmail.com
2
AMARO, Ana Luzia Santos. Graduada em Ciências Contábeis - UNINORTE/AM,
Especialista em Gestão e Docência do Ensino Superior – FAEME/MA, Discente na
especialização em Gerenciamento de Projetos e Educação e Cultura pela Faculdade
Única – Manaus/AM, Acadêmica de Direito pelo Instituto Amazônico de Ensino
Superior – Manaus/AM. Servidora pública na Secretaria de Cultura e Economia
Criativa do Amazonas, do Departamento de controle e fiscalização na prestação de
contas. Experiência em habilitações e analises de projetos culturais no setor público. E-
mail: ana_amaro83@hotmail.com
3
SIQUEIRA, Letícia Esteves da Silva. Acadêmica do curso de Bacharel em Direito pelo
Instituto Amazônico de Ensino Superior - IAMES.
4
CARVALHO, Gabriel Nascimento. Administração (UNIP) e Direito (IAMES).
5
SMYTH. Adam Corrêa Liborio. Acadêmico de Direito. Empreendedor (Empresário).
E-mail: bmaflexmanaus@gmail.com
6
MC Comb, Dilani da Cruz. Acadêmica do curso de Bacharel em Direito pelo Instituto
Amazônico de Ensino Superior - IAMES.
7
BAYERLEIN, Darcio Faria Júnior. Empreendedor (Empresário). Acadêmico do curso
de Direito pelo Instituto Amazônico de Ensino Superior - IAMES.
3º - O processo extraordinário (cognitio extraordinária).
Esta demarcação só é amigável porque, apesar das três fases separadas e
distintas, existiam dois sistemas processuais separados no momento da alteração até que
o mais antigo expirasse, regendo determinada situação de direito já existente, para aos
poucos começar a ganhar um caráter geral, regendo situações generalizadas, o que
conseqüentemente gerou uma maior abrangência da norma jurídica. Ana Luzia Amaro
Santos enfatiza que “estudar os institutos jurídicos atuais fazendo uma prévia análise do
Direito Romano, proporciona aos acadêmicos de Direito uma visão geral do mundo
jurídico, ao mesmo passo em que o estudante passa a compreender”, e não apenas
decorar, inúmeros conceitos derivados do latim, língua oficial da civilização romana.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Processo civil romano (Jus actionum)


O processo civil romano era um conjunto de regras que um cidadão romano
deveria seguir para exercer seus direitos. Para os romanos, a palavra Jus também
continha o significado que os contemporâneos atribuíam ao direito subjetivo, ou seja, a
capacidade ou poder permitido e garantido pelo direito positivo.
Letícia Esteves Siqueira da Silva retrata que “o direito subjetivo é protegido
por uma ação (actio), que em sentido restrito ainda lhe dão, nada mais é do que uma
ação processual pela qual um indivíduo tenta proteger seus direitos e acionar a máquina
jurídica do Estado”. Para fazer isso, ele realiza uma série de ações legais prescritas, um
processo.
Lei e ação eram conceitos intimamente relacionados no sistema jurídico
romano. Os romanos consideravam e articulavam a lei de uma perspectiva
procedimental e não substantiva.
Gabriel Nascimento de Carvalho destaca que “o direito romano durante o
período clássico era um sistema de ações e procedimentos, e não um sistema de direitos
subjetivos”.
2.2 A evolução da magistratura romana
Na realeza romana, tudo estava concentrado nas mãos do rei, o líder supremo e
vitalício, o único guardião da potestas pública, reunindo por força de seu império, além
dos poderes militares e religiosos, domínios civis, legitimando-o a julgar em primeira e
última instância. Esse fato explica porque a estrutura jurídica do mais antigo sistema
processual romano – (legis actiones) - era por demais formalistas. A casta de sacerdotes,
assessorava o rei, ditava o comportamento dos cidadãos. Nesta conjuntura havia um
íntimo relacionamento entre direito (ius) e religião (fas).
Na República, a administração da justiça estava sobretudo nas mãos de dois
cônsules que a exerciam alternadamente: um durante o mês e outro no mês seguinte.
Mas a partir de 367 a.C., os cônsules se limitavam ao exercício da jurisdição
misericordiosa, e a jurisdição contenciosa era exercida pelo pretor; e questões sobre
venda de animais e escravos foram avaliadas (edis curuis).
No início, a jurisdição do pretor se estendia a todos os territórios submetidos a
Roma. Posteriormente, em certas circunstâncias, os magistrados locais (duumuiri iure
dicundo) passaram a exercê-la e em determinadas regiões da Itália, o pretor delegava
poderes aos (praefecti iure dicundo).
Adam Smith Corrêa Liborio reporta que “o grande afluxo de estrangeiros em
Roma levou à criação de um pretor peregrino, cujo papel era resolver disputas entre
estrangeiros ou entre eles e os romanos”. Quando surgiram as províncias (territórios
conquistados fora da Itália), os governadores com jurisdição sobre elas desempenhavam
as mesmas funções em Roma (edis curuis).
No principado, com a concessão da cidadania romana a todos os habitantes da
Itália, no século I a.C., desapareceram os praefecti iure dicundo. Assim, quanto aos
litígios de menor importância ocorridos na Itália, processavam-se eles diante dos
magistrados municipais, com jurisdição civil em determinadas circunscrições, no tempo
dos imperadores Marco Aurélio e Lúcio Vero, tiveram que mudar para Itália.
No principado, com relação as províncias, é preciso distinguir: as senatoriais,
cuja jurisdição era exercida por um legado (legatus) que atuava como mandatário do
governador (o procônsul), e por um questor que tinha a mesma função dos (edis curuis)
em Roma; e as imperiais, cuja jurisdição era delegada pelo Imperador aos (legati
iuridici), ou aos próprios governadores, que a exerciam com a assistência dos
assessores.
Dilani da Cruz MC Comb evidencia que “no dominato, com o processo
extraordinário, a justiça passa a ser competência dos juízes, funcionários do Estado”.
Surge, nesse período, a hierarquização dos juízes, classificando-os em:
AINFERIORES: que julgavam, normalmente, em primeira instância e se
denominavam (iudices ordinari).
PRAEFECTUS URBI: em Roma e Constantinopla, o praefectus urbi (que
substituiu o pretor urbano, nessa funções, a partir do século II d.C.).
OS LITÍGIOS: nas províncias, os litígios mais importantes se processavam
diante do governador (praeses, rector), ou dos iudices pedanei, por ordem do
governador; os litígios menos importantes (os de valor inferior, a princípio, a
50 solidi - moedas de ouro - e depois, a 300) se desenrolavam diante de
funcionários municipais, os duumuiri iure dicundo, e nos fins do dominato, o
defensor ciuitatis.
ASUPERIORES: em cujo cimo da escala hierárquica encontravam-se os
Imperadores do Oriente e Ocidente; abaixo deles, os praefecti praetorio, que
representavam os imperadores (razão porque suas decisões eram irrecorríveis
para aqueles); e mais baixo, os uicarii, de cujas decisões podia-se recorrer ao
imperador.
Fonte: Autores (2023)

Ainda no dominato, Constantino reconheceu que os bispos tinham jurisdição


quando um dos litigantes, durante o processo, pedisse a suspensão deste, a fim de que
passasse a correr diante de um bispo, cuja sentença, nesse caso, teria força executória.
Mas essa jurisdição foi revogada nos fins do século IV, ou durante o século V d.C..
Darcio Faria Bayerlein Júnior retrata que “Roma não conheceu o princípio da
separação dos poderes executivo, legislativo e judiciário”. Por isso, os magistrados
judiciários romanos, além da função de distribuir justiça, desempenhavam também
atribuições administrativas, e muitas vezes, militares.
Todo magistrado judiciário estava investido do poder denominado iurisdictio
(jurisdição) que, segundo o Digesto, se dividia em:
a) uoluntaria (graciosa) para realização de negócio jurídico, querido pelas
partes, por meio de um processo fictício; e
b) contentiosa (contenciosa) para a solução de litígios através do emprego das
seguintes palavras: do (termo usado pelo magistrado para ratificar a escolha pelas partes
do juiz popular que irá julgar a lide); dico (palavra empregada pelo magistrado quando
atribui a um dos litigantes a posse provisória da coisa litigiosa); e addico (vocábulo
utilizado pelo magistrado para adjudicar ao autor a coisa litigiosa ou mesmo o próprio
réu, quanto este não se defende convenientemente).
Em certos casos, o magistrado poderia denegare iurisdictionem, isto é, recusar
aos litigantes o direito de iniciar um processo diante dele.
A iurisdictio contentiosa não se exercia livremente pelo magistrado. Ao
contrário, ela era limitada pela competência que pode ser conceituada como a faculdade
de exercer a jurisdição num caso determinado. Esta competência dividia-se em dois
tipos:
COMPETÊNCIA DOS COMPETÊNCIA DO FORO
MAGISTRADOS
Lugar onde a ação deve ser
Era determinada em função de vários intentada que, em regra, era
fatores: território, natureza e valor determinada pelo domicílio do réu
das causas, condição das pessoas, (actor sequitor forum rei = o autor
grau hierárquico de jurisdição. segue o foro do réu), com exceções.

Fonte: Autores (2023)

2.3 O direito romano e o constitucionalismo global na visão do doutor em


Direito Rafael Domingo Osle

Os dez bons exemplos do direito romano e o constitucionalismo global escritos


pelo escritor e doutor em Direito, Rafael Domingo Osle, evidenciam que o direito
romano fornece ao constitucionalismo global uma relevância com valor instrumental e
valor social.

2.3.1 Um espírito cosmopolita (OSLE, 2019): A lei romana oferece ao


constitucionalismo global um bom exemplo de apoiar o cosmopolitismo como um ideal
político e uma atitude humana nobre. O espírito estoico, que animava quase todos os
juristas romanos e muitos dos pensadores romanos durante a república e o império
(Cícero, Sêneca, Marco Aurélio), tinha um caráter cosmopolita e constituía a principal
influência na educação jurídica romana.
Cícero aplicou ideias estoicas às relações internacionais, fazendo afirmações
relevantes sobre os deveres das comunidades e dos povos uns para com os outros, bem
como cunhando a expressão ius gentium (lei das nações) no processo. Segundo Cícero,
a raça humana é naturalmente e harmonicamente unida de maneira semelhante à relação
das partes do corpo entre si. É por isso que “a natureza não nos permite aumentar nossos
meios, nossos recursos e nossa riqueza despojando os outros”.
O constitucionalismo global é fundamentalmente cosmopolita. O que na Roma
antiga era um ideal e uma aspiração compartilhada por filósofos. A lei romana oferece
bons argumentos para a legitimação e a justificação dessas duas reivindicações.
Também abre as portas para a chamada abordagem pós-nacionalista, que insiste em
reformular a ideia do Estado-nação em face da globalização e da reterritorialização.
2.3.2 Constituição não escrita (OSLE, 2019): A linguagem do
constitucionalismo em relação à comunidade global se beneficia da experiência do
direito romano, que estabeleceu um modelo de comunidade sem uma constituição
codificada.
Roma nunca teve uma constituição escrita. Em vez de um único texto, a
constituição de Roma era um conjunto vivo e ágil de normas legais e políticas. Foi um
longo, contínuo e complexo processo de constituição da República, criando e
desenvolvendo instituições, poderes políticos, princípios e regras, práticas e funções,
bem como relações institucionais mútuas.
A constituição de Roma nunca foi reduzida a um documento, em grande parte
não escrita e evoluindo ao longo do tempo. Ela foi baseada na tradição, mas não em
precedentes obsoletos. Políbio e Cícero entendiam a constituição republicana como uma
constituição mista. Combinou elementos da aristocracia (o Senado) com a democracia
(o povo) e a monarquia (os cônsules). Neste contexto é válido destacar que a
comunidade global precisa ser organizada sob uma ordem legal global coerente que
garanta a harmonia global, a estabilidade e o desenvolvimento e limite o uso do poder.
Essa ordem legal exige, é claro, algum grau de constitucionalização, mas não uma
constituição escrita abrangente.
2.3.3 Respeito pela tradição (OSLE, 2019): Os romanos possuíam uma
especial veneração por tradição, precedente e autoridade. Eles estimavam os costumes
ancestrais (mores maiorum), os modos de seus antepassados e suas ideias tradicionais,
particularmente no campo do direito. Romanos preservaram um notável espírito de
tradicionalismo. Eles estavam relutantes em abolir qualquer lei válida, porque
consideravam seus ancestrais como parte do povo romano. Romanos tinham uma
profunda aversão por mudanças desnecessárias e por uma grande desconfiança de
novidades. Na verdade, transcende a si mesmo quando é aceito pelos outros como
universal. Para meus propósitos, isso significa que o constitucionalismo global será
universalizado quando for universalmente aceito como um elemento inerente à
comunidade humana global e uma política adequada de direito global.
2.3.4 Paradigma do estado não soberano (OSLE, 2019): A lei romana pode
ajudar o constitucionalismo global a transcender o paradigma estatal baseado na
soberania. O estado-nação soberano é uma abstração moderna bastante contrária ao
espírito romano. A ideia de soberania, por outro lado, representa um absolutismo
francês e uma adaptação exclusiva da majestade romana. A soberania apareceu pela
primeira vez em Les six livres de la République (1576), de Jean Bodin. O papel dos
constitucionalistas globais é livrar a ideia de soberania de seu lado negro, que envolve
exclusões, limites, impunidade e falta de solidariedade. Se o direito romano é pré-
soberano, o constitucionalismo global deve ser definitivamente pós-soberano.
2.3.5 Uma ideia integrada de direito público (OSLE, 2019): O direito público
evidencia a lei que dizia respeito ao estado da comunidade romana (quod ad statum rei
Romanae spectat). Em contraste, ele definiu o direito privado como a lei que rege as
relações entre indivíduos privados (ad singulorum utilitatem). Em geral, o direito
público foi estabelecido para o interesse da comunidade política ou do povo.
O direito público tratava da constituição, da administração e do funcionamento
da comunidade política romana. No pensamento Ciceroniano, o interesse público
(utilitas rei publicae) e a estabilidade (salus) eram os objetivos gêmeos do direito
público. O direito público moderno é o resultado da necessária secularização,
racionalização e positivação. Neste contexto, um excessivo emaranhado de soberania e
direito público leva a uma fragmentação deste último. Em contraste, uma ideia
normativa mais inclusiva de direito público relacionada com seu propósito (ou causa
última) constitui uma fonte de integração global.
2.3.6 Recuperar a ideia de necessidade como fonte de lei vinculante (OSLE,
2019): Para os romanos, a necessidade (necessitas) era uma fonte de lei obrigatória.
Necessitas era a deusa romana que personificava a força constrangedora do destino, o
inevitável. Em nossos dias, um forte senso de contratualismo alimentou o desrespeito
pela divisão das fontes da lei no consentimento, no costume e na necessidade.
O consentimento tornou-se primário, enquanto o costume e a necessidade são
relegados à irrelevância. O constitucionalismo global provoca a questão premente da
legitimidade da governança global, e o princípio da necessidade oferece uma boa
resposta. É precisamente o princípio da necessidade que torna o direito internacional
universal (lei global), protegendo alguns valores morais irrevogáveis (ius cogens) e
expandindo seu escopo (erga omnes norms).
2.3.7 Uma abordagem não fundacional do poder constituinte (OSLE, 2019):
A lei romana ajuda a esclarecer que o fundamental para o constitucionalismo global é a
comunidade política de cidadãos livres. A ideia do poder constituinte, no entanto, é
moderna, pelo menos na forma em que surgiu com a criação do Estado-nação.
O poder constituinte foi associado ao constitucionalismo por meio da
interpretação calvinista do poder soberano e foi transformado durante o Iluminismo
europeu, como resultado da racionalização secular. A comunidade global tornou-se
agora uma condição necessária, mas não suficiente para qualquer poder constituinte de
qualquer povo que seja um subconjunto da humanidade organizado como uma
comunidade política completa.
Nessa perspectiva, nenhum sistema jurídico em um mundo globalizado
consistiria apenas em normas e regulamentos comandados por um único soberano. Se
isto é assim, a ideia de poder constituinte deve ser estendida e não rigidamente
restringida ao poder nacional. Isso não significa, no entanto, que um poder constituinte
global deva ser reconhecido.
2.3.8 Uma abordagem não positivista da lei (OSLE, 2019): A lei romana
oferece uma abordagem pré-positivista da lei e impede que o constitucionalismo global
assuma uma posição positivista implícita ou explícita. O termo lei positiva (ius
positivum) não é uma criação romana, mas medieval. A distinção entre lei positiva e lei
natural foi proposta pela primeira vez por estudiosos franceses, como William of
Conches, Hugh de Saint Victor e Peter Abelard, bem como canonistas franceses do
século XII. Isso não significa que a lei romana não consista em lei positiva: a lei civil
romana, a lei pretoriana e a lei romana das nações certamente podem ser categorizadas
pelo termo não romano “lei positiva”. Nas palavras de um dos grandes positivistas,
Hans Kelsen, “o positivismo se confina a uma teoria do direito positivo e sua
interpretação”. O constitucionalismo global nos permite ver o estado não apenas de
dentro, mas também de fora. Isso explica por que a interdependência está no coração do
constitucionalismo global.
2.3.9 Centralidade de litígios e pluralidade de jurisdições (OSLE, 2019): A
história dos procedimentos legais romanos é muito menos que a história do próprio
sistema legal. Os recursos legais e o litígio em geral influenciaram tanto a estrutura e a
evolução do direito romano que o direito substantivo só pode ser entendido a partir
dessa perspectiva processual. Os juristas romanos estavam mais preocupados com
remédios legais específicos do que com direitos abstratos. Por essa razão, a lei romana é
por natureza uma lei de ações. O constitucionalismo global deve continuar expandindo
um sistema de pluralismo jurisdicional que dificulta, restringe e impede a concentração
excessiva de autoridade judicial, sem ter medo de uma fragmentação razoável. O direito
romano oferece ao constitucionalismo global um bom exemplo de pluralismo jurídico e
jurisdicional. Fronteiras territoriais não podem resolver todos os conflitos legais.
2.3.10 Uma lei prática relacionada com a realidade (OSLE, 2019): Os
juristas romanos cultivavam uma ciência legal sofisticada e prática, produzindo uma
literatura substancial no campo do direito. Seu interesse por questões filosóficas era
periférico. Eles não desenvolveram uma teoria geral de justiça, lei, estado ou
administração política. Os juristas romanos estavam preocupados com a prática diária
da lei, provavelmente porque a maioria deles eram homens públicos envolvidos na
política e estavam interessados em questões legais (sem qualquer remuneração) apenas
como parte de suas carreiras políticas. O desenvolvimento da ciência jurídica era uma
questão de disputa sobre interpretações do direito e a ciência jurídica estava muito
ligada a conflitos legais autênticos. O constitucionalismo global não deve ser apenas um
produto intelectual e infértil. Deveria ser, ao contrário, um modo de pensar que ilumina
todo o corpo do direito internacional na era da globalização.

2.4 Questões plurais sobre o Direito Romano


1) Por que são diferentes as expressões “estudar direito [penal, civil, tributário,
etc]” da expressão “estudar direito romano”? Quais são as complexidades e desafios
envolvidos no estudo do Direito Romano em termos geográficos, históricos e culturais?
Podemos falar numa pluralidade de “Direitos Romanos”? (RV Novaes, 2020)
2) Que dificuldades no estudo do Direito Romano “positivo” podem ser
compreendidas no artigo? Quais limitações temos em relação às fontes? São completas?
Versam sobre todo o direito?
3) O interesse no estudo do Direito Romano é o mesmo do estudo de um
direito vigente? Por que estudamos um direito vigente? Por que estudamos um direito
não vigente? (RV Novaes, 2020)
4) “Se é verdade que, conforme afirmou STERNBERG, não é possível em tese
fazer Direito sem História, o que redundaria forçosamente em desordem e destruição, a
certeza desta ponderação avulta em gravidade quando se trata de um tema como o
presente, de específica natureza histórico-jurídica” (RV Novaes, 2020).
No trecho citado, o autor se utiliza de dois argumentos retóricos. O primeiro,
argumento de autoridade, é muito comumente usado no Direito. O que é um argumento
de autoridade? Onde podemos encontrá-lo na passagem acima? O segundo, um pouco
mais complexo, é a chamada tautologia. Explique o que é uma tautologia e, em seguida,
responda: você concorda que existe tautologia na passagem acima? Explique.
5) “A segunda, a fase clássica do Direito Romano, que se bem poderia
denominar a fase áurea, como também a fase científica, cujo término se pode fixar em
239 d.C., data da morte de MODESTINO, o último dos grandes jurisperitos, discípulo
de ULPIANO […]”(RV Novaes, 2020).
O autor se refere a uma das formas periodização do Direito Romano, chamada
de História Interna. Ele menciona que a segunda fase da história interna do Direito
Romano que pode ser chamada de “científica” ou de “áurea”. Que críticas podemos
fazer a estas qualificações? Em que sentido podemos dizer “ciência”, em Roma? Qual
tipo de visão histórica pode ser deduzido a partir da expressão “fase áurea”?
6) A partir da leitura do artigo, porque se justifica o estudo do Direito Romano
nos dias de hoje?

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A lei romana constitui um excelente antídoto para o excesso de elementos
estatistas, positivistas e soberanos na elaboração e no desenvolvimento do
constitucionalismo global.
O grande veículo de penetração do Direito romano no eixo continental do
Direito europeu denomina-se Corpus Iuris Civilis, que viria a influenciar de modo
indelével o desenvolvimento do Direito ocidental. No entanto, não se pode deixar de
mencionar os vários estágios de desenvolvimento das fontes do direito romano como
punição pela simplificação destrutiva de séculos de história, o que atesta o
fortalecimento do direito escrito como a personificação da universalidade jurídica.
A justiça legal desenvolvida em Roma é um produto do desenvolvimento de
suas instituições políticas, que pode ser vista no desenvolvimento de suas fontes como
uma impressão histórica indelével. Partindo de um rei ainda associado ao primitivismo
tribal, onde os costumes dominam como fonte formal fortemente impregnada de
conteúdo religioso, Roma consegue estabelecer a lei escrita como fonte da sua ordem,
revelando assim, de forma inequívoca, a universalidade da vocação e lei como código
de conduta.
Se a república grega, com sua democracia direta, lançou a Grécia em uma
guerra mortal contra Siracusa, condenou Sócrates e sucumbiu ao império macedônico, a
República romana irá realizar em plenitude um projeto que, paradoxalmente, fora
concebido na decadência helênica: a república platônica.
O princípio da auctoritas, que se justifica em função da nobilitas, preside um
período histórico de esplendor, durante o qual, o Direito romano com sua pluralidade de
fontes, faz prevalecer a razão, que se manifesta de modo efetivo na lex. O perfil
histórico da ampliação das fontes não pode ser tomado de forma abstrata, cheia de
caminhos ocultos, mas de forma clara e fluente. Só a análise documental das fontes, que
aqui esquadrinhamos demonstrar, permite extrair desses elementos históricos
específicos as impressões de um desenvolvimento político que seria definitivo na
história ocidental.
A recuperação dos elementos do romanismo, enleiados nas fontes, permite-nos
recuperar a jurística romana, de modo a possibilitar a compreensão dessa vocação
universal do Direito, por intermédio de uma história coesa que reflete positivamente no
Direito Romano e nas ações da lei que contextualizam o Constitucionalismo Global

REFERÊNCIAS

ALVES, J.C. M. - Direito Romano. Editor Borsoi, RJ, 1965, vol. 1, c. XVII E XVIII.

JÚNIOR, J. Cretella - Curso de Direito Romano. 19ª edição; Ed. Forense; Rio, 1995.

JUSTINIANO, Imperador. Corpus Iuris Civilis. Comp. Paulus Krueger e Theodor Mommsen.
Berolini: Weidmannos, 1954.

KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. trad. Andres Wedberg (Cambridge
MA: Harvard University Press, 1945), 391.

TRICI, J. R. C.; AZEVEDO, L.C. - Lições de História do Processo Civil Romano. Ed.
Revista dos Tribunais, c. 3,4 e 5.

NOVAES, Roberto Vasconcelos. O que é o Direito Romano? Ano 2020. Disponível em:
https://www.robertonovaes.com.br/index.php/2020/07/26/o-que-e-direito-romano. Acesso em
28/12/2022.

OSLE. Rafael Domingo. Direito romano e constitucionalismo global. Revista Novos Estudos
Jurídicos - Eletrônica, Vol. 24 - n. 2 - MAI-AGO 2019.

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