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HISTORIA INTERNA

DO

DIREITO ROMANO PRIVADO


IlISTOm fflTEM
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DIREITO ROMANO PRIVADO

ATÉ JtSTIMAXO

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LUIZ ANTONIO VIEIRA DA SILVA


Natural do Maranhão
Doutor cm Lois c cm Cânones pela Universidade de Hcidelborg
no Grão-Ducndo de Baden.

RIO DE JANEIRO
PUBUCADA £ A' VENDA KM CASA DOS EDIIOHES
EDUARDO & HENRIQUE LÁEMMERT
RUA DA QUITANDA, 77

1854
Bio d< J«ii. Typ. Oniriruí ilíLiímmtrl, r. dtnIniilid')!,61B,
A MEU PAI

Dr. JOAQUIM VIEIRA DA SILVA E SOUZA

Do Conselho dc Sua Magtfitartc o Imitcrador,


Presidente da Relação do Maranhão.
- J
AO LEITOR.

jendo este o primeiro trabalho que ap-


Íparece em língua portugueza sobra a
'historia interua do direito romano pri-
O^aâo não podemos resistir á lisongeira idéa ,
ife^de que, publícando-o, podcsse vir a ser de
SS» alguma utilidade para o desenvolvimento
do estudo do direito romano no nosso paiz, e
também em Portugal.
Não é ura trabalho perfeito; mas quem tiver
conhecimento das difíicuklades com que tem de
lutar quem se propõe a escrever sobre matérias
stientiíicas no nosso paiz poderá ser indulgeute
para comnosco, que por demais, talvez, tenhamos
confiado na bondade daquelles para quem escre-
Tiíj AO LEITOR
yeraoti, esperando nos relevem algumas das imper-
feições desle livro, filhas da hrevidade com que
fazemos esta publicação, se é que taes imperfeições
não nascera da falta de suíficiente capacidade nossa,
e da experiência que só trazem longos annos de
estudo e de meditação.
Duas existências esta vão reservadas ao direito
romano: a primeira para o povo romano; a segunda
para os séculos futuros. Acabou a sua primeira
existência em meados do segundo século da era
christaa; a segunda principiou com Diocleciano,
ou para melhor dizer ho tempo de Constantino.
Mais feliz do que seus antecessores, Justiniano
conseguiu pôr anhrigo do tempo a legislação romana;
e pôde dar-lhe, nas suas collecções, que possuímos
com o nome de Corpus júris cmlis, a forma com que
de então para cá tem sido conhecido. A segunda
época desta segunda existência começou 800 annos
depois era princípios do meado do XIIo secnlo.
Irnerins, em Bolonha, escreveu notas curtas,
glossas, sobre as collecções de Justiniano; abrio
uma escola de direito romano; elle e seus succes-
sores chamárão-so até meados do XIIl' século, tjloí-
sadores.
Antes dos glossadores era incompleta a existência
desle direito e profundamente incerto o conheci-
mento que delle se tinha; isto tanto assim era que
AO LEITOR jX
depois até se suppôz que por muitos séculos
cahíra em desuso, e que só fôra descoberto pelos
glossadores. Desse imperfeito conhecimento que
se mha do direito romano resultou a imperfeita
applicaeão que delle se fez. Imerius e seus sucçes-
sores reunindo as collecçóes que exlstião dispersas,
não limitarão só a isso o seu trabalho, mas tornárão-
se tão senhores do üorpus júris civilis que o sabião
de cór e salleado. É este conhecimento profundo
dos raateriaes dispersos no Corp. jur. dv.. a expli-
cação feita do que nelle se contém—o principal tra-^
balho íbeorico da escola dos glossadores; é este o
merecimento que elles se grangeãrão para o futuro,
como pais da nova jurisprudência. Outra revolução,
e não menos importante para a nova historia do
direito romano quanto ao resultado pratico, foi
também por elles feita , e vem a ser a grande exten-
são que conseguirão dat á applicaeão deste direito.
Á sua validade scientifica, ao seu caracter em
gorai europeu deve o direito romano o ter-se vulgo-
risado; porquanto os glossadores apenas forão orgãos
das vistas geraes de todos os homens insfruidos
desse tempo.
A nova jurisprudência não encontrou em Hes-
panha obstáculos por ser abi o direito romano,
direito pátrio; o mesmo aconteceu no Sul da
França; ao passo que no Norte vio-se em conflicto
DIB. ROM. *
I AO LEITOR
cora o direito germânico oosUimeiro; vindo depois
a adquirir ahi a maior validade scientifica possível;
passou para Inglaterra e para a Escossia, e neste
ultimo paiz tem ainda muita iiiAuencin, o que dá
á urisprudencia escosscza decidida superioridade
sobre a ingleza, á qual apenas podemos imputar
caracter scientifico; finalmente foi á Scandinavia,
e á Allemanha, que entre todos os paizes estava
reservada a figurar á frente deste movimento scien-
tifico.
Hoje pois o direito romano recebido ó aquelle
que Justiniano nos deixou; não é o denomi-
nado « jus antejuslinianeum, » isto ó, os escriptos
anleviores ao tempo de Justiniano , e que fazem
parte do Cor pus júris civilis, escriptos estes que só
tem influencia juridica mediata como adjutorios
importantes para melhor conhecimento do direito
justinianeo; assim também não é recebido o «jus
postjustinianeum, »isto é, a legislação dos imperadores
bysantinos que se seguirão.
A nossa tarefa limita-se á parte histórica, e esta
só até Justiniano.
Maranhão, 22 de Setembro de 1853.

VIEIUA DA SILVA,
HISTORIA

DO

DIREITO ROMANO PRIVADO.

INTRODÜCÇÃO.

Objecto e plano desta Obra.

§ 1. É a historia do direito romano privado o


ohjecto deste livro; limitaremos porém a nossa
tarefa ao seu desenvolvimento só até Justiniano.
A importância do direito romano nos está mostran-
do, de si mesmo, qual deve ser a da sua historia,
a necessidade desta, e o proiundo estudo que
sobre ella necessitamos fazer para bem entrarmos
no espirito das leis, e divisões jurídicas adoptudas
pelos modernos. Se pois a historia do direito romano
é da maior importância, tanto mais, quanto deve-
mos considera-la como historia do desenvolvimento
da iulelligencia humana; não pôde como tal ser
despida de interesse para todos; e se o talento dos
jurisconsultos romanos assegurárão a este direito a
immortalidade, fazendo-o passar, e servir para outros
tempos, e para outros homens, de maneira que ainda
hoje é estudado como modelo, e como a fonte da
qual emana o direito de todas as nações civilisadas.
convém ao pirisconsulto procurar conhecê-lo per-
1
DIB. BOM.
2 HISTORIA
feUamenle para assim marchar sempre seguro pela
vereda, que deseja trilhar.
0 philologo delle precisa para melhor conheci-
mento da antigiiidade, assim como dos clássicos
antigos, dos quaes necessariamente lhe deyeráõ ser
muitas passagens escuras, sem um tal ou qual
corfheciraento de direito romano. O jurisconsultO
deve ser um tanto philologo, assim como ophilologo
um tanto jurisconsulto.
0 direito romano existe ainda hoje não como ura
pnmdo, e sim como um presente: é um modelo;
existe pela sua importância para a sciencia do di-
reito; e o nosso não se compõe senão de pensa-
mentos todos romanos ; existe nao por assim o
ter querido e autorisado o legislador; pela forca da
convicção scienliílca.
A historia do direito faz-nos conhecer o direito
positivo desde sua origem até sua perfeição. Como
exposição, que é de suas successivas modificações
tem a historia do direito duas tendências, 0 seu
organismo desenvolve-se, e modifica-se cora relação
ao todo, ou a uma de suas partes; e cada uma dessas
partes tem uma historia, embora conjunota e depen-
dente do todo. A historia do direito tem dous lados
bem dislinelos; o que abrange seu todo, e a historia
de cada uma das suas partes. Esta chama-se historia
interna do direito, ou anliquüalcs júris; aquelk
chama-se historia externa* ou então historia júris (a).
Os melhodos a seguir são dous: o primeiro é o

(a) Bnasckv, Annotaçõesa Waldeck. Coitnb. 1845. Sccco, Manual


Uiíiorico da Direito romano^ Coimb. 1848.
1)0 DIREITO R03IAS0 PRIVADO. S
xynchronisüco introduzido por Hugo; o segundo é o
chronologico seguido por ilaubold , de Savigny ,
Zimniern, Ihibaut e oútrOs muitos. O primeiro
divide a historia do direito romano em períodos, e
mostra como o direito se formou e se desenvolveu
era cada período, ou como existia no fim de cada
um delles: o segundo dá a historia de cada matéria,
sem interrupção, desde a sua origem até perfeição,
ou seu desappareciraenlo no tempo de Jusliniano,
ou mesmo antes. Ambos estes rncthodos tem suas
vantagens, assim como desvantagens : o primeiro
porém é mais difficil pela divisão em periodos; por
. sso que todas as matérias não se forãò desen-
volvendo ao mesmo tempo; accrescerido ainda,
que muitas vezes é incerta a origem ou Incerta a
época das modiílcaçóes, que soílVeu a legislação.
Julgamos, portanto, mais conveniente eicpôr as
matérias, que são ohjeclo da hislori» interna sem
interromper uma para saltar para outra, antes de
concluir aquella. O mesmo porém já nao acontece
com a historia externa, sondo-lhe preferível a divi-
são em períodos.
Os periodos são quatro; o primeiro ó da fundação
de Roma, até a lei das XII Taboas, 300 annos, (íe
750a ihOantes de J. Chr.; oseguudo. daleidasXII
Tahoas á tnonarchia no reinado de Octaviano, 420
annos, de 450 a 30 antes de J. Chr.; o terceiro, de
Octaviano até Constantino o Grande, 350 annos, de
30 antes de J. Chr. a 320 depois de J. Chr,: o
quarto finalmente, do Constantino até a morte de
Jusliniano, 250 annos, de 320 a 570 dep. de J C,
HISTORIA

Fontes da historia do direito romano


privado.

I. MONUMENTOS.

A.—Inscriprões e documentos (a).


§ 2. Tudo o que diz respeito aos Romanos são
fontes; e não são só livros, porém também monu-
mentos escriptos de outra especie, como por exemplo;
inscripções (6), documentos (c) e mesmo moedas, e
medalhas romanas [d].
As fontes, ou são jurídicas, ou não: como jurí-
dicas consideramos aquellas cujo fim é todo e
puramente jurídico; assim como não jurídicas as
que, casualmente tratão de matéria, ou trazem
noticia jurídica, e que por isso se tornãode interesso
para a jurisprudência.
Tem interesse jurídico entre as inscripções, a
documentos antigos os seguintes:

(«) E. Sparigenbcr),', Jur. Rom. tabulae negotlorum soiemnium


modo in oere, modo in mármore, modo in charla supcrstites. Lips.
1822. C, G. Uauboldi, Antiq. Rom. monumenta legalia. Sect. II.
(ft) J. C. Orellr, fnscriptionum latinar. seleclaram amplíssima
collectio etc. 2 T. Turici 1828, 8. Entre as collecções antigas são
Importantes a de J, Gruter: Inscriptiones antíqOic toüus. orbis Romani
in corpus absolutisslraum redactse. Heidelberg. 1603, foi. et cumnotis
Gudii cura Grasvii, Amestel. 1707. foi.; a de U A. Muratori; Novus
thesaurus veterum inscripiionnm in prscdpuis earum collectionilnis
hactenus praitermissarum. A T. Mediof. 1739-/t2. foi.
(c) (Sclp. Malfci), Istoria diploraatica etc, Mantova 1727. A. G.
Aiarini Papirí diplomatiéí. Roma. 1805. foi.
(íí) Ezech. Spanhem, de praestaut. et usu numism. antiq. Rom,
16eA; ultima edição Amestd. 1717. foi. F. H, Eekhel, Doctrina
aunimormn veterum, 8 vol, VMoíwh. 1792-98, A.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 5
Senatusconsultum de líachotialibus ( e] de a. U.
566.
Os fragmentos da Lex Thoria [f], de a. U. 647.
Os fragmentos da Lex Servilia repelundarum (3).
a. U. 648, e 654.
O Plebiscitum de Thermeusibus, (/i) talvez de a.
U. 682.
A Lex Julia immicipalis [i], de a. U. 709, ou 710.
geralmente chamada Tabula Heraclensis.
Um fragmento da Lex Gallia, Cisalplna (j), a. U.
712.
A obligatio prwdiorum, a que lambem (erronea-
mente) se deu o nome de Tabula, alimentaria Trajani,
[k] a. U. 855-866.

(e) Impresso em Ilauboldl Monumenta legalia p. 5—7. A chapa de


melai existe no Museo Imperial de Viennai ^Áustria.
(f) Hauboldi Vlonumenta legalia p. 22 e seguintes. Por ultimo
jiuldicada e trabalhada por RudorfT em a ZeUscbrift hier geschichtl.
liechtswisseuscliuft T. Xp. 1—19/i; compare-se com Huschke em
Richter's Krit. Jahrb. T. X p. 579 e seg.
(g) Fragmenta Legis Serviliae repetund. ex tabulis o eis primum
conjunxit, restitoit, illustravit C. A. C. Klenze. Berol 1825- 'u
Hauboldi Monum. leg. p. 22 e seg. Consulte-se também (Memmsen)
ad leg. Servil. repet. criticae qtuedam observationis, em IUchter's
Kril. Jahrb. T. XII p. 726 e seg.
(A) Hauboldi Mon. leg. p. 98 e seg. Dirksen Versuche z. Kritik u.
Auslcgungd. r. Rechtes (Rpz. 1823) p. 137—196.
(i) Hauboldi Mon. leg. p. 98 e seg. G. Th. L. Marezoll. Fragm. leg.
romanae in a versa (abuÊe heraclensis parte. Goctting. 1816. 8.
U) Hauboldi Mon. leg. p. ihh e seg. Dirksen, Obss. ad selecta leg.
Gallia; Cúalp. capital. Berol. 1812. U. P. de Lama, Tavola legislativa
delia Gallia Cisalpina. Parma. 1820. h.
(k) M. C. H. Pausler, Quaelio antiquaria de pueris et puellis ali-
mentaríis; Dresdae 1809. 4.1'. de Lama, Tavola alimentaria Veleiate:
Parma 1809. 4. A chapa de bronze d de 10 1/2 pés de largo, e 5 de
comprido; foi achada nasnünasde Veleia em 1747.
6 HISTORIA

II. LIVROS.
§ 3. Classificaremos os livros em jmidieos, meio
j,uiidico8, e não jurídicos.
a. Jurídicos.
1. Corpus jmis civilis (a).
Em 13 de Fevereiro de 528 ordenou Jusliniauo,
que se fizesse uma eollecção das eoustiluições impe-
riaes (6) Este codigo, que se chamou Jusíinianeo, foi
publicado aos 7 de Abril de 529 (o).
Em 15 de Dezembro de 530 ordenou, que se
fizesse uma eollecção de leis, composta de frag-
mentos tirados das obras dos jurisconsultos romanos,
(d). Durante este trabalho Justiniano (529—532)
publicou 50 consliluições, pelas quaes se deveriào
decidir duvidas até então existentes. Quinquaginta
dceisiones, Ainda antes de concluído, este trabalho
mandou elle, que se fizesse outro, afim de servir de
introduceão, com o nome de Instiluliónes, e que foi
publicado aos 21 de Novembro de 533 («).
A eollecção mandada fazer das obras dos juris-
consultos {Codex enudeati júris] foi concluída no
anno de 533, e publicada aos 16 de Dezembro de
533 com o nome de Digesta s. Paudeelaj (/],
Tendo porém sido publicadas muitas conslilui-

(«) Sobre Justiniano (nascido íin 482, e em 565 fallecido), e Sobre


Triboniano, ÇKwstor sacri Palatii, consulte-se em particular; J. p
Ludewig vila Justiniani atque Tliodoraj etc. Ilall. 1715. 4.
(h) Const. Haec quae necessário.
(c) Coost Sarama rei publ.
(ct) Consí. Deo auetore.
(«) Proera. inst. e Const, Tanta, § 11.
(/■) Const. Tanta. Coust, Aiíwxty.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 7
ções novas, depoie da publicação do codigo, mandou
Jusliniano fazer outra revigão do mesmo, o lhe
forão accresceuladas essas constituições, e as quin-
qmgmia decisiones. Esta nova edição [repetita prw-
lectio) foi publicada aos 16 de Novembro de 534
[g], e mandou-se então cassar o primeiro codigo
justinianeo.
De 535 até sua morte (565) publicou Jusliniano
ainda nmilaseonstitniçõos [h), [NovellcBcmstiíuüoncs].
Com a publicação das Pandectas, Jnstiníano pu-
blicou em 16 de Dezembro de 533 uma constituição
ordenando aos professores de direito (Const. ad
Antecessores), que se servissem das suas colloccões
de leis para ensino de direito.
a. Imtitudünes. (Instituliones (Instituía), Ele-
menta, Isagoge), são divididas em 4 livros, e estes
era títulos. Convém fazermos notar a difíerença,
que ha no modo de contar os íituios do 3.' livro
em varias edições, por içso, que era umas vem 29,
e em outras 30 títulos. As primeiras são as exactas,
porquanto esta diíferença provém de ter Jusli-
nianodeclaradono §91. de gratl. cognat. (3, 6], que
para mais clareza da computação dos gráos de
parentesco mandava accrescentar uma arvore genea-
lógica, e em muitos manuscriptos ficou para ella um
espaço, que não foi entretanto preenchido, e dabi
vem o erro de se suppôr a falta de rubrica de um

(#) Const. Cordi nobis.


(A) CoDsullu-si! sobre as ('.oliccções de direito de Jusliniano: E.
Spangenberg Elnicitung in d. rocmisch—Juslinianisr.hc Rechlsbuch.
llanover 1817. 8. II. F. Ciossiiis, Hermeneulik des roera. Reclits und
Kinleltung in d. Corp. jnr. civil, ira Orundrissc. LpZg. 1831. 8.
$ msTonu
titulo; de maneira^ que no titulo 6.°, o § 10 foi
contado como um novo titulo « de xwvili cogna'
tione » (i).
Trabalbárão nas Inst.: Trib., Theophilus, eDoro-
tbeus, e tomárão por modelo principalmente as
Inst. de Gaius, e as Res quotidianw, e até quanto
possível conservarão suas próprias palavras (j). O
conteúdo porém foi tirado das Pandectas, e do
codigo (&), misturado com observações históricas (/),
e mesmo algumas vezes com modificações, que
tinhúo lugar sempre, que Jusliuiano julgava dever
faze-las indepcndenlemente de publicação em orde-
nança especial, do que temos ura exemplo no § 25
I. de rerum divisione (2, 1).
b. Digesta. [Digexta, Pandedai, ou Codcx enucleati
júris). Corapôe-so de 50 livros, que se dividem,
segundo a matéria, em títulos, exceptos os treslivros,
XXX, XXXI, XXXII « de legatis, et {idemnmism y>
que quando se citão para diflferença um dos outros
se accrescenta I, II, III. Os títulos ordinariamente
contém muitos fragmentos, que se chomão leges,
multas vezes porém contem uma só, e então cha-
jn&se—lexúnica. Os fragmentos também são dividi-
dos em §§, o primeiro chama-se principium, e a nu-
meração começado segundo em diante. Os 50 livros
formão sete partes.
(í) len. Allg. Litt. Zeitung. 1827 p. 21 cVg.
(j) Proom. Inst.
(A) Proem. Inst. g/i.
(/) Proem. Inst. g 5. (lonstilte-se: E. Boccklng, Tabulae ilclinea-
tionem systliematis Çatanaram Justiniananimque tnstitulionuui inter
se comparati exÃijjeutes, Bonn. 18A1. Puchta. Cnrs, Inst. p. A5A seg,
T. h
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 9
Parte I. Lib. I—IV (rWa).
» II. Lib. V —XI (de judiciis).
» III. Lib. XII — XIX (de reb. sc. credilis).
» IV. Lib. XX — xxvn. (Umbilicus,
nrtvToçj.
» V. Lib. XXVIII—XXXVI (de leslamenlis).
» VI. Lib. XXXVII—XL1V.
» VII. Lib. XLV—L.
As fontes do Digesío são, os escriptos de 39 ju.
risconsullos romanos. Trabalhárão no Digesto;
Constantinus, Theophilus, Dorotbcus, Anatolius,
Cru ti nus, e dez advogados, Stepbanus, Mena, Pros-
docius, Eutolmius, Timotlieus, Leonidas, Lcontius,
Plalo, Jacobus, e Constantinus (m). Empregou-se a
língua latina; entretanto nãò apparecern sómonte
algumas palavras, e phrases gregas no texto latino,
como também excerptos de tres obras gregas (de
JJmcinnns, Pupinianus, e Modeslinus) (n).
c. Codex. O codigo justinianeo compõe-se de 12
livros, os tilulos contém constituições arranjadas
chronologícamente, e que também se chamão leijes.
As constituições tem na regra uma meriplio, i. é, o
nome do imperador, que a deu, assim como do
magistrado, ou particular a quem foi dirigida; tem
lambem mais uma subscriptio, i. é, o nome do lugar,
e data de sua publicação. Logo que uma inscriptio
tem o nome de muitos imperadores denota isso ter

(m) Const. Tanta § 9.


(n) L. a, Oumlagui Diss. ad Graeca Pandect. Hs. 1786. k. G. E.
Dkksende vesiigiis linguae graecn-ínfDnsliUilioiilbnslmpp.scrlpüsqne
ictorum rornanor. Uogiom. 1817. li.
dir. nou. 3
10 HISTORIA
emanado a Const, de um delles, c haver tido validado
no reinado dos outros. A comrmssão encarregada
do codigo compunha-se de *. Johannes, Leohtius,
Pbocas, Basilide?, Th ornas, Tribonianus, Conslan-
linus, Theophilus, Dioscorus e Praisenlius (o).
Quanto á língua, forão a maior parte das constitui-
ções publicadas em latim, e em proporção poucas
forão as que mais tarde appnrocêrão em grego. O
codigo abrange tanto o direito privado, como o
publico, e ecclesiastico. As constituições, que se
rcferiãoadircitojá antigo, esera Força delei, deverião
em verdade ter sido excluídas da nova collecção,
mas muitas passagens forão abi inseridas para
melhor eomprehensão, o explicação histórica de
algumas constituições (p). O systema do codigo
é o dos Edictos dos Pretores, no todo consequente-
mente (e com poucas exccpções) o mesmo do Digeslo.
d. Novellffl Justinianece. Collecção de constitu
çóes, que Jusliniano, publicou depois do codigo , e
que não pode nelle incluir. Quanto á lingua era que
forão as Novellas publicadas, não padece duvida ,
que a maior parle o forão em grego, porquanto:
Justiniano mesmo diz ser a lingua grega a mais
conhecida, e a que mais espalhada estava no seu
império. Existe das Npvellaa escrlplas em grego uma
antiga traduoção latina conhecida com o nome de
« Versio vulyaJa, » e não julgamos que haja difli-

(o) Const. Itec quae necessário § 1.


(p) Loehr Ubcrsicht der das Privgtrcciit betreíTcnden Constitn-
tionen der roem. Kaiser von Constantirt í bis anf Theodos ii n. Valen-
tinian itt. Wctzlar 1811. 8, u. von diesen bis anf Jnstinian. Wetzlar
1812. 8.
DO DIREITO ROMANO 1'RIVADO. 11
wiklatlc alguma em altribui-la ao tempo de Jusli-
niano, c le-la por traducção authentiea. Além desta,
existem muitas traducções novas cm latim. Ás
Novellas tem em regra uma iusciipção {inscriftio]
com o nome do imperador. Um prefacio [proefotio),
(nfooia,i«), que ordinariamente narra o motivo, por-
que foi publicada a constituição, ou então contém
um resumo da mesma. 0 final [Epilogus], que (além
da formula «qti(È igitur placuerunt hobü, et per hanc
sacram declarmtw kg em ») especifica o modo da pu-
blicação dalei, e as penas com que é sanccionada, etc.
A subscripção (suãscripíio), i. é, o lugar e data da
publicação (ijr).

2, Fontes do direito anlejustinianeo.


a. Gaii Imlitutionum Commeníarii IV. Gaius uu
Gaius, ou Cajus, ou Cajus) fioresceu no tempo de 11a-
driano até Marco Aurélio. Tudo o mais se ignora so-
bre a vida deste jurisconsullo, e nem mesmo sabemos
lodo o seu nome. E notável, que não seja elle citado
pelos contemporâneos, porquanto: mesmo as pala-
vras de Poraponius L. 39 D. de stip. serv. (45, 3);
«quodCaius noster dixit» pôde lambem referir-se
a Caius Cassim. As instituições de Gaius forào
descoberlas por Niebubr em 1816 em Verona.
Tendo olias sido escriptas era pergaminbo, e este
mesmo pergaminbo servido para copiar as cartas
de S. Jeronymo, aebando-se assim o texto apagado,
(7) Solire a publicarão das Novcllas (pelo Praifectus Pratoris, aos
liçctorcs Provincfarura, ou Patriarcbas aos Mdllopolilanüs, c aos
llispos) timsullo-sc üiener, Gescli. der Jiovollca— Jutiiniausp, Si—Si-
BírUn 182/!. 8.
" HISTORIA
6 substituído pelo do Snnto, só se tornou visível
outra vez por meios cbimicos: de 125 folhas 02
forão escriptas duas vezes, o que augmeníando a
difíhiuldade da leitura do tosto, fez com que fosse
ate impossível em muitos lugares. Outra parte desta
obra já tinha sido encontrada tempo antes n'um
outro rôlo de pergaminho, e fora desde logo publi-
cada. Em 1817 mandou a Academia de Berlim
Goescben a Verona, para que com o auxilio de
Bethmann-Hollweg decifrasse o MS., donde resultou
grandíssima vantagem, á vista do estado em que se
achava. Muitas lacunas, que ainda íicárão puderão
depois ser preenchidas por Blume na nova revisão
que se fez. O roonuscripto, se bem não declare ser
as Inst. de Gaius, comtudo bem o dá a entender.
A primeira edição nppareceu em 1820, e a segunda
em 182-4, sendo esta a de Goeschen, e distingue-se
das outras pela revisão de Blume. A terceira appa-
receu em 1842 por Lachmann. Entre outras muitas
edições possuímos também a de Klcuze, e a de Boe-
cking; a primeira é de 1829 em 4.°, e esta ultima
de 1837 em 12. etc.
b. Domitii Ulpiani Liber singularü Regularum
[vulgarmente chamado Fragmenta Ulpiani). Domr
tius Ulpianus nasceo n'urna colotiia dos Tyrioa na
Pheniciu, e parece que já no tempo de Sepliinius
Severus, e de seus successores gozava de consi-
deração (sua obra prima escreveo elle no tempo de
Caracalla); assim como já tinha occupado lugares
jmportantes. Heliogabalus o desterrou, (Lamprid.
Elag. 10 Removit et Ulpianum jurisconsultum
DO D111E1TO ROMANO PIUVADO. 13
ut Lonum virura » ); porém Severus Alexander
tornou a cliama-io; deu-lhe differenles empregos,
e por ultimo o nomeou Preefectus Prajtorio, Foi
assassinado 228 annos depois de L Chr.
João Dutillet (Tillius} foi o primeiro, que publicou
esta obra era 1549, de raanuscripto, que achou em
1544; provavelmente ó o mesmo , que existe no
Vaticano. Esta obra não está completa, ha lacunas
mui grandes. No seu todo assemelha-se muito ás
Instituições de Gaius, Divide-se era 29 litulos, os
quaes só em parle estão completos.
c. Valicana Fragmenta. Descobertos por Ângelo
Majo, em 1823 em um paliinpscsí.us do Vaticano.
Apparecérão primeiramente sob o titulo: Júris civ.
autejustin. reliquieo ineditee.... cur. Ang. Majo.
Komee 1823. 8; no mesmo anno também em Paris;
em 1824 em Berlim sob o titulo: Jur. rom. ante-
just. fragmenta Valicana. A melhor edição é a de
Bethmnnu-IIolhveg. Bonn. 1833. 12. Este frag-
mento por ter sido achado no Vaticano, assim se
denomina Valicana fragmenta. É do 4.° ou prin-
cipio do 5.° século (r).
d. Julii Pauli Sentenharum receptarum Lihri V.
Talvez natural de Padua, foi membro do auditório
de Papiniano, quando esteservio de Preefectus Pree-
lorio, e depois do Consilium do imperador (s), assim
como também Prtefeclus Preetorio (í). As suas
Peceptw sentenüte escreveu elle no tempo do impe-
rador Seplimius Severus, ou pouco depois.
('') E. F. F. W. Dcurcr, Orundriss fuer acusscrc Gesch. u. Inst.
des roem. Rcchts p. 138.
(s) Puchta. Curs. Insi. p. hôli n. w.
(O Lamprid. Alexand. 26.
ü HISTORIA
Esta obra vem no codigo romano dos Wisigotbos
(Breviarium). 0 escripto é dividido em 5 iivros,
cada livro em títulos , com rubrica , e esta divisão
não é já feita no Breviarium. A expressão «recc^í®
scntenliw » só apparece nos MSS. do Breviarium,
e mesmo nem em todos. Muitas presumpções sc
dão a este respeito. Segundo Puchta este nome
Ibe Vèio por sua recepção no Breviarium, e para
diCFèrèitçar o que foi recebido na Lex romana
AVíki^otborum do escripto primitivo (que não era
rêcefúdo nos tribunaes). As « Sentmtiw »tem sido
muitas vezes publicadas já' de per si, já com outras
Fohléfe. A primeira edição appareceu em Paris em
1815; depois forão aügmenladas em parte com o
que pertencia propriamente ao trabalho wisigotbo,
ou com o que de outro modo se tem achado (na
Collatio, Consultalio, Dígesto etc.).
e. Codex fíregorianm do tempo de DiocUciano
em 13 livros pelo menos, dos quaes porém só resta
uma pequena parte.
f. Codex Hermogenianus. Como as constituições
dos tempos primitivos não pertencessem por assim
dizer senão á Jitleratura jurídica, e as mais impor-
tantes quaes os Besoriptos se achassem no codigo
Gregoriano, e sendo necessário que cada um se
procurasse as novas constituições, de per si tornou-se
urgente uma collecção. 0 codigo Hermogemano
porém pouco remediou esta necessidade [u)>

(a) Codicis Gregoriani ct Codicis Ilcrmogeniani fragmenla; Ad


AXXV libror. MSlomm et prior, editiouuin lidem rccognovit cl
anuolationc critica instnuit G. Haend. Bonn. 1835,
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 15
g. Codex Theodosianus. Resolveu-se onlão Theo-
iIosíq TI a man(,líll■ fazer uma nova eollecção, para o
que nomeou uma cpramissao composta de seis
oíiiciaes, e advogados illustres para que a fizessem
sob a presidência deJAiUiochusJ A eollecção devia
abranger todas as constituições de Conslantino, e
de seus successores, que ainda tivessem validade,
conforme o texto verdadeiro , dividido segundo a
matéria em livros e titulos (u). Isto foi em 429, e
era 43,r nomeou ellenova commissão, sendo o mesmo
nliochus presidente, afim de ajuntar, e reunir as
Leqçs Edictales. A eollecção feita por esta commissão,
o (.odes Xheodosianus, já tinha sido publicado cm
438.

g. Meios jnridicos.
a. Volusim Macianus, assis disiributio. A primeira
edição é de Sichard. Ha também uma de líoecliing.
b Jialbus ad Cekum dc Asso minul,isque ejus por-
Uunculis, do agrimensor Balbus, que floresceu no
tempo de Augusto.
c. Os Auctom rei agraria'', talvez,do 7.°século;
e uma eollecção já multo estragada composta de
extracios das obras dos agriraensores romanos.
d. Incerti auflores magistratvm ct sacerdotiorum P.
P. erpositiones. Curta descripção da magistratura
romana, e das dignidades sacerdolaes, e cuja origem
o tão incerta, que talvez se possa julgar pertencer
mesmo á idade media.

(v) L. 5. Cod. Th. (Je coasí. princ, (l, 1); Isidor Cvig. V, l.
16 HISTORIA
r Nâo juridicos.
a. Tit. Livius, Historice. C. Corn. Tacitus, Anna-
les et Historiarum libri. C. Suetonius Tranquillm,
Yitce XII impeiatorurn. Os Scriptom histories Au-
yustcB. Polyhim, tirropítt kuoTikü. (A melhor edição é de
Joh. Schweighaeoser. Lips, 1780 em 8 T.) Diony-
sius Halicarmsscnsis, bap.w,*. (a melhor
edição, com uma traducção latina é de J, Jac.
Reiske. Lips. 1774—77 em 6 T.) Diodorus Siculus,
Bipxiouii*«Ttrrofb«í. (Edição de Ludw. Dindorf. Lips.
1828). C. Cassius Coccejanus Dio, "fopía. (dom
traducçaü latina por Herm, Sam Reimarus. Hamb.
1752. 2 T )
b. Além de Cicero, e Anuceus Soneca. M. Fabius
Quintilianus, Inslitutionis oratória) libri XII e De-
clamationes. C. Plinius Sec. Historia naturalis, e C.
Plinius CcbcíUus Sec., Episiolw.
c. M. Terentius Varro, de língua la tina libri XXIV.
Festo, de siguificatione verborum. Nonius Marcellm,
de proprielate sermonum. Aurel. Macrobius Am-
irosius Thcodosm, Coramentariorum in somnium
Scipionis libri duo, e Saturnalium conviviorum
libi seplem. ValermsMaximus, Factorura, uictorum-
que memorabilium libri IX ad Tiberium Csesarem
Augustum.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 17

Manuscriptos. Edições. Modo de citar o


Gorpus júris civiiis.

A. — Manuscriptos.

§4. O texto das colleceòes de direito de Justi-


n ia no chegarão até nòs por manuscriptos, Se hera
Justmiano (a) prolnbisso « Siglse » e abreviações no
copiar as collecçóes, não foi isso seguido á risca, o
que deu origem a desintelligencias na interpretação
dessas «Siglae » em copias, que depois se fizerão, 0
maior numero de MSS. é do tempo dos Glossadores
e do 13. e 14.° séculos , a maior parte glossados.
O rnais importante porém de todos é o MS. Flo-
rentmo, que se achou em Pisa em 1406, e que
depois veio para F/omi^fPandectm Pisante, Flo-
rentinse). Quando este MS. não seja do tempo de
Justmiano é sem duvida alguma jã do 7.° século i[ã).

M COnst Tanta g 22, Cõrdi nobis § 5,


Sobre os manuscriptos consulte-se: I. L. G. Beck índick
etedition. jur. Justin. prodromus. Lips. 1823. 8 codicum
Sobre os manuscriptos das Instítutiones consulte-se em particular •
rodrcunusGor^ jur. civ. a Schradcro, Clossio, Tafelio edendi. Berol!
Ibddelbcrg 182^ 8 ^ lUm ^ Kecht«-I
a í aS,Pan ctóí 0nsulte sc: Bfck rocir
o e^rw% Xi !«Í f í - P - P^.
iIuon,ndam
^ ^
rãinL TrXad Rh".' S £m"íeCtar- *' factum ^emplarü Fio-
á duvi( 86 deste MS
to íf - procedêrao todos os outros do Diges-
r s.c rít S)1?1;;\L T
' 8Í|2 8) p m s cse -
Pnclua, Curs. inst. p. 709 seg. ( ' - S-
Sobre os MSS. do Codcx consulte-se: Gôscben Ed. Gaii Praef
p. 60 seg. JNicbuhr in d. Zeitèclivtft f. gesch. 11. w. 10/i seg.
nm. rom.
18 HISTORIA

B. —Edições do Corpm júris civilis.

Em primeiro logar cumpre-nos notar que se fi-


zerão edições do corpus júris civilis, e de cada uma
de suas partes em separado.

I. EDIÇÕES EM SEPARADO.

a. Das Institutos.
A edináo mais antiga (editio princeps] é a de
1468 publicada por Peter Schoefler em Mayença.
Além desta lemos a de ;
J. Chappuis. Paris 1503.4. (e mais vezes).
Gregorius Haloander, Norimb. 1529.8. cujo texto
tem servido para muitas outras edições.
Contius (Le Corate ] Paris 1567. 8.
J. Cujacíus (Cujas) Paris 1585. 8.
F. A,. Jnencr, Berol. 1812. 8.
F. Jluchor, Erlang. 1826. 8.
W. M. Rossberger, Berol. 1829. 8. com traduc-
cão
* aliem ãa.
Klenze eBoecking, Berol. 1829. 4. cora o texto de
Gaius. (Inst.)
E. Sehrader, Berol. 1832. 4. com exeellenles
notas criticas e exegeticas. Do mesmo, Berol. 1836.
12.

b. Do Digesta.
Editiones príncipes: a) Do Dig. velas: H. Clayn
Perus. 1476. foi. ; b) Infortiatum: Puecher. Bom.
1475 foi. ; c) Dig. novum: do mesmo Hora. 1476.
DO DIREITO ROMANO FRITADO. 19
foi. Das outras edições merecem menção as se-
guintes:
G. Haloander, Korimb. 1529. 4. 3 T.
L. e T. Torelli (Taurellius ) impresso em Fktren-
ca
a in uüicina Laurentii Torrentíni 1553 em 3 T. foi.

c. Do Godip.
A editio princeps é : <*) do Codigo conformo os
Glossadores: por P. Scboeflor em Mayença 1475. foll
Do Codigo nao existe edição alguma digna de ser
considerada excellente á excepção da de Haloander,
Norimb. 1530. foi.; p) dos treslibri» Rom. 1576.
foi.

d. Das Novellas.
Ediiio princeps, Hom. 1476. foi.

II. EDIÇÕES DO CORPOS JUR. C1V. COMPLETO.

a. Glossadas.
Logo, que se descobriu a imprensa todas as edi-
ções do Corp. jur. civ. trazido as Glossas aecursia-
nas; forão impressões exactas de MSS. (incunabu-
la, em ali. Incunabeln); e são por isso de grande
importância para a critica do texto. As edições, que
merecem especial menção são as seguintes ;
As nove edições feitas por daplüta de Tortis nos
annos 1482—1507. Veneza.
As cinco edições de Fradin em Lyão nos annos
1510—1536 {na edição de 1510 forão as leges nu-
meradas pela primeira vez).
20
hístojua

1369 tír1" POr mrrllim em 1>aris 1365-1566.


As de Díonisius Gothofredus, que appareeêrào em

1604 1611
t e^Tl foi j ' ,Est«

Teml*^rd:i:%r:::"emLíioeml593-
A mais moderna das glossadas é a que « opera Fe-
nu» appareceu em Lyão em 6 T. fo].

b
- -/Vão glossadas.
Estos edições ou trazem notas dos jamconsut-

dTóo^r8""'8^™'ou 8im
i'icsrae'"«

«. Sem notas mencionaremos :


qUe a
iáí PParec
io»y e loüo. 8. e era Genebra ^rãoe em
1598 Lyão
1625. em
8. Re-
impressoes da mesma por Elzcvir em Amsterdáo
1664 ( com o erro de imprensa «Pars secundug»).
As edições (incorrectas ) de Freyesleben (corp.
jur. civil, academicam ) de 1721—1789. 4e8

I5. Com notas (criticas e exegeticas):


Z. Rumrdus, em Lyão 1560 -1561 em 2 vol. foi.
Reimpressa depois era Antwerpen 1566—1577
e 1569-1570, em 7 e 10 vol. 8.
Contius em Paris 1560—1562 era 9 vol, 8 e em
Lyao em 11—15 vol. em 8.
Z. Charondas, Anlwerpen 1575. foi.
/. Pacius, im Genebra 1580 em 2—3 vol fo'
e em 9 vol. 8.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 2Í
Dionisim Golhofredus. Ainda em vida sua appa-
recôrão 4 edições com notas ; 1) Lugd. 1583. 4.
(1585) ou Gonev. 1583. 4. 2) Lügd. 1590 foi.
3) Genev. 1602 foi. ft) Lügd. 1607. foi.
A quinta edição fez Jocobus Golhofredus (com os
papeis de seu pai) em Genebra 1624. 2 vol. foi.
a melhor de todas. Seguirão-sé muitas reimpres-
sões.
G. Chr. Gebauer e E. Spangenberg. Goettingen
1776-1797 em 2 vol. 4.
J. L. W. Beck. Leipzig 1825—1836 em 4 vol. 8.
A. M. Kricgel, Leipzig 1833-1837. 1843. 1844
em 3 vol. 4. O codigo é de E. Hermann, as No-
vellas são de E. Osenhrüggcn. Esta é a edição que
recotnmendamos.
Tradueções do Corpus jur. civ. existem : a] uma
franceza, b) uma allemãa publicada por C. E. Oito,
B. Schilling, e C. F. F, Siníenis. Leipzig 1830 —
1833, 7 vol. 8.

C. —Modo de citar o Corpus jur. civilis (*).

As Institutas, Digesto eo Codigo são divididos em


libri e tituli; cada titulus tem a sua rubrica. No Di-
gesto e Codigo os títulos se compoem de leges, que
também se ohamãu, fragmenta, capita, e no Codigo
também constiíutiones. Logo que o fragmento é maior
divide-se então em §§ , sendo o primeiro denomi-

(*) Consulte-se: Bruscky, Annotações i Waldeck. A. L. S. H. Scc-


co, Manual histórico, parte II. § 112. Sclditing, Inst. T. I. p. "6
seg. Hugo, in civ, Mag. T. IV f. 212 scg. /iüP scg. Thibaut, civ. Ahh.
p. 205 seg.
22 HISTORIA
nado principium , e o que se segue então § 1, como
já o dissemos. As Novellas forão divididas pelos
Glossadores, em collationes (só a Nov. 8 forma 2
tituli), e cada Novella em capita, e estas, quando
possível em §§.
Para citar o Corp. jur. servem-se os jurisconsul-
tos de ftbbreviações ; assim em principio cilavão as
lastitutas:
Institu., Instil. Inst.
Eoje porém cita-se sóiueuto com um I.
O Digesto citava-se:
P., p. n, Dig. D.
Ou também com: £f (aj.
Para o Codigo :
Cod. C.
As Novellas:
Autbcnt. , Auth,, Nov., N.

L. (quer dizer, lex), Fr. (fragmentam), const.


ou c. ( constituúo ), pr, (principium ].
Cumpre também notar as seguintes abbreviaçóes:
L. un. (lex única), L. ult. (leiultima), ou L. fín.
(lex fínalls); do mesmo modo L. peunlt. ou L. an-
te peuult. H. t. (hoC titulo, i. é, o fragmento de um
titulo do qual se trata ) ; arg. leg. ( argumento legis
i. é; o que se diz não vem expressamente mencio-
nado nas leis, seguo-se porém dcllas ), Nas glossas
vem também i, isto é, infra, e s, isto é, supra, o que

(a) Cramer de sigla Digcsioruin ff. Kll. 1796. li.


DO DIHEITO ROMANO PRIVADO. Sá
quer dizer, que o lugar citado está na parte que se
segue, ou na que procedeu.

Os primeiros jurisconsultos do tempo de Justi-


niano cilavão o Corp, jur. com o numero, segundo
o livro, titulo, e as sentenças. Assim citavão tam-
bém os jurisconsultos bysantinos, e os que estuda-
vão o direito romano antes dos Glossadores. Estes
citavão porém dando em principio o nome da col-
lecção; depois a rubrica do titulo; por ultimo as pri-
me -as palavras da sentença, e talvez as do §, como
por ex. ;
§. Si adversus, Inst, de nnpt.
L. Si inst. §. De testam. D. de inoff. test.
L. Ab Anast. §. Et iustum. C. mandati.
Depois também citava-se o titulo etc. como por ex.
§. Si adversus. 12. Inst. de nupt.
L. Si instit. 27 § De test. i. D. de inoff. test.
L. Ab Anast. 23 §. Et juslum. 3. C. mand.
Hoje cita-se ;
§ 12 Inst. {on I.) de nupt.
L. 27 § 4 D. de inoff. test.
L. 23 § 3. C. mandati.
ou accrescenlando-se ainda a rubrica do titulo, o
numero do livro e titulo; assim por ex.
§12 I. de uupt. (1,10 ].
L. 27 § 4 D de inoff. test. (Y, 2 ].
L. 23 § 3. C. mandati (IV, 35).
ou dcisando-se a rubrica do titulo como por ex.:
§ 12 I. I, 10.
24 HtSTORIA
L. 27 §4. D. Y, 2.
L. 23 § 3. C. IV, 35.
Como os Lib. XXX, XXXI, XXXII do Digesfo
não tenbão senão um tilulo, e com a mesma ru-
brica «de legatis et fideic. » citão-se do modo se-
guinte :
D. de leg. I (30); D. de leg. II (31); e D. de
leg. 111(32),
o que já antes tinbaraos dito.
Os Glossadores citavão as Novellas segundo a ru-
brica do titulo, com as primeiras palavras do capi-
tulo, com o§. por ex.:
Aulhent. de hered. ab intest. § Si quis.
muitas vezes lambera com o numero da collalio:
Authent. d. her. abint. § Si quis. ColI. IX.
hoje citão-se simplesmente :
Nov. 118. Cap. 1.

Litteratura.

I. IIISTOniA EXTERNA (HISTORIA JUHIs).

Aym. RkalUi, Civilis historiai júris libri V, Ya-


lent. 1515 e mais vezes.
Valer. Forsícrí, de historia juv. civ. Rom. libri
III. Bas. 1565.
Sfihubart, de fatis jurisprudenlioe Romanse. Jen.
1606, depois publicada porTilling. Leipz. 1797.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 25
Hoffrmnn, liistoria ur. llotnnno — Juslmianei
F. 1. Li ps. 1718 e 1734 tom. 11.1726.
Brunnquell, historia jur. Romano—Germanici
Jena 1727 e mais vezes.
Heineccii, historia júris civilis Romani ac Germa-
nici. Hal!. 1733, e mais vezes, epor ultimo também
publicada por Silberrad. Argent. 1751 e 1765.
Terrasmi, histoire de la jurispr. romaine. Par.
1750.
J. Â. Bach, historia jurisprudentiee Romanae IV
libris comprebensa. Lips. 1754; por ultimo publi-
cada por Slockmann 1796, e 1806 {espera-se uma
edição de Schilling].
Theod. Max Zachariac, Vecsuch einer Geschicbte
des roem. Rechts. Breslau 1814.
Gruendler, Handbuch d. roem. Rechtsgeschichte
T. I. Geschichle d. roem. Staats, dessen Verfassung
und Staatsrecht. Bamb. 1821.
Maacüiowsky, historia jur. Rom. Varsov. 1820.
1825.
Tigmtroem, d. aeussere Geschicbte des roem.
Rechts. Berl. 1842.
Buchardi, Staats-und. Rechtsgeschichte der Roe-
mer, Staltg, 1841. (como primeiro T. do Lehrbnch
des roemischen Rechls).
Giraud, histoire du droit Roraain. Par. 1841.
Stockhardt, Tafeln d. Geschicbte des roemisob.
Rechts. Líiipz. 1828.
lamasvh, tabellariseheUebersicht d. roemischen
Rechtsgeschichte Leipz. 1831.
DIB. HOU. k
26 HISTORIA
A. L. de S. II- Secco, Manual Hislorico do Direito
Romano. Coimbra IfUB.

n. nisToniA inteuna (antiq. júris).

llcinecòii, Antiquitalum Romanar. jurispruden-


tiam illustrantium syntagma. Ilall. 17J9; publi-
cada depois muitas vezes, sendo por ultimo por
Muehlenhruch, Francof. 1841.
Sckhow, Elementa antiquilatum Jur. Rom. publ.
et jur. priv. Goett. 1757 ; publicada depois sob o
titulo: Elem. Rom. antejusl. ibid. 1778.
Tigersiroem, Die innere Geschichte des roem.
Rechts. Berl. 1838.
Chrisliansen, Die Wissenschaft der Rechtsge-
sohichte im Grundrisse, Tom. í. Kiel 1838.
Fritz, Innere Qescb. d. roera. Privatrechfs.
Frerb. 1811.

m. msTOim externa, e interna.

Gravinac, Originum júris civilis libri III, pu-


blicada primeiro em Neap. 1701, Lips. 1701:
a obra completa appareceu em Lips. 1708, e depois
mais vezes.
Hugo, Lehrbuch der Rechtsgeschichte bis auf
unsero Zeiten. Berl. 1790; appareceu depois sob
o titulo : Lehrbuch der Geschichte des roem.
Rechts 1832.
DO D1HEITO ROMANO PRIVADO. 27
Hufeland, Lehrbnch dei'Gescliichte u. Encyclo-
pedie olter ia Deutschland ^eltenden positiven
Uecbte. Primeira parte: Jen. 1796.
Guenther, Historia jur. Rom. Heluist. 1796.
fíummel, Handbuch d. Ilechtsgesbhicble, R vol.
Giessen 1805 e 1806.
Schweppc, Roem, Rechtsgeschichte u. Rechtsal-
tcrthuemer. Goett. 1822.
Zimmcrn, Geschichto d. roem. Privalrechtes bis
Justinlan, T. I. Heidelberg. 1826. 1829.
Hollius, Historim jur. Rom. lineamenta. Leod.
1830 e1840.
Walter, Gescbichto d. roem. Rechts bis uuflusti-
nian, Bonn 1834, completa 1840.
SehiUing, Lehrbnch der Institulionea u. Gescb.
d. roem. Privatrechts, Leipz. 1834. 1837.
Puclita, Cursos der Institulionea Leipz. 1841.
1842.
Thibaut, Lehrbnch d. Gesch. u Institutionen d.
roem. Rechts, publicado depois de sua morte por
Guyet, Berl, 1842.
Brusihj , Annolações aWaldeck. Goiir.b. 1845.

Accrescentareraos mais as seguintes ;

Pemice, Gescbichte, Alterthuemer u. Institutio-


nen d. roem. Rechts im Grundrisse, Hall. 1821,
1824.
Kknze, Grundtiss zu Vorlesungen uebec d. Ge-
scbichte des roem. Rechts. Berl. 1827; appareceu
M
HISTORIA
d«pois com o titulo: Lehvbuch der Gesch, d. roera.
Recbls, ein Grundriss aus den Onellen. Berl. 1835.
Buchardi, Geschichte u. lustitutionen d. roem.
Rechts, Kiel 1834.
Danz, Lehrbuch d. Gescbicble d. roem. Recbls
Leioz. 1840. Parte I, eem 1843 a Parte II.
Hudorlf, Grundriss zu Vovlesungen iieber die Ge-
scbichte des roem. Rechts bis Justinian. Berl. 1841.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 29

LIVRO I.

DIREITO DAS PESSOAS.

INTRODLCÇÃO.

§ 5. Segundo o sysleraa dos Roíuunos, o direito


ou pertence ás pessoas, ás cousas, ou ás acções:
owne jus quo nlímur vel ad penonas pertinet, vel
ad res, vel ad nctiones (a). Com esta divisão talvez
não quizessem os jurisconsultos romanos abranger
unicamente o direito privado, porém também o
publico; comtiido no desenvolvimento lirnilárão-se
ao primeiro, e do direito publico só tratárão da
parte que tinha relação com o privado. Segundo
este systema, estão as obrigações entre cousas, e as
acçoes; parecendo ass n duvidoso pertencerem as
obrigações áquollas, ou a estas. Tbeophilus [h]
quer que se considerem as obrigações como in-
troducção ás acções, opinião esta que foi se-
guida por Hugo (c); outros jurisconsultos porém

(n) Gai I, 8; § 12 I de jure natur. (1,2).


(b) Theophll. paraphr, III, 13 pi'. IV, 6, pr.
íc) Civil. Magaz. IV, p. 1—46, V. p. 38&—/i31, VI. p. 283—346.
30 HISTORIA
dizem que Gaius parece ter comprebeudido as
obrigações nas cousas, de que elle não só trata [d) no
exemplo das res incorporales, como quando falia da
applicaeão da mancipatio, in jure cessio etc., ás res
corporales e incorporales menciona nestas ultimas,
depois da hereditas, as obrigações (e); ebama a obli-
gatio res nec mancipi [f].
A idéa de direito seria de importância nenhuma
sem que se desse a existência de uma pessôa reco-
nhecida como sujeito do mesmo. Pessoa é o homem
ou sujeito qualquer capaz de direitos. Considerado
o homem como naturalmente livre, suppomos-lbo
necessariamente a possibilidade de uma vontade
pela qual elle se possa altribuir uma acção, assim
como de sujeitar-se, e tornar-se capaz de direitos.
A personalidade é a capacidade de ser um tal sujeito,
é a possibilidade de uma vontade em direito.
Os homens aut liben sunt aut servi: tal é a
summa divisio de jure personarum [g). Outra divisão
é em homines sui júris, e homines qui alieno júri
suhjecti sunt [h]. Os romanos tinhão quatro poderes
aos quaes podia estar sujeita uma pessôa : poder
do senhor sobre seu escravo—poteslas dominica (i);
poder do pae sobre seus filhos —patria poteslas (j);

(rf) Gai. ir, a.


(«) Gal. 11, 38.
If) Gai. n, 85.
(g) Gai. I, 9; pr. i. de jure person. (1, 3).
(A) Gai. I, A8.
(ij Gai. I, 52—5Zi; § 1. I. de his qui sui (i, 8); L. i, § 1. 1). eod.
(d, 6)^L2i5D. deV. S. (50,1G).
(j) Gai. I, 55, e seguinlus; UJp. V, i; pr. § 2. 3. T. de pntr. pot.
(1, 9); L 3, ll. D. de iús q. sui. (d, 6); L. 245 D. de V. S. (50,16).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 31
poder que por direito antigo podia ter o marido
sobre sua mulher— manus mariti; [k] poder do
senhor sobre filhos e esposas vendidas—manei-
pium (/). Quem não estivesse sujeito a um destes
poderes {potestas) era homo mi júris, no caso
contrario — homo alieni júris. Havião pois quatro
especies de homines alieni júris por direito romano:
os escravos, servi (m); os filhos em pátrio poder,
filii et filiwfamilias; (n) o uxor in rnanu, materfami-
lias; (o) e os filhos e mulheres vendidas, homines
in mandpio [p]. Os homines sui júris forão chamados
depois paires e matresfamilias [q], ao passo que
antigamente a expressão matres-familias só cabia
ás uxores in manu [r] e provavelmente serviria a de
pater-familias para designar aquelle, que tinha pá-
trio poder (s).
O jus gentiufn reconhecia como incapazes de
direitos certos homens — os escravos; d'ahi vem
as três classes livres (de nascimento), escravos,
e libertos (t). O jus civile, além desta classificação
fez a de eives, latiní, peregrini; e finalmente a
diflèrença entre as pessoas, donde resultou a clas-
siíicação era homines sui júris e homines alieni júris.

(k) o,li. 1,108—113 ; Ulp. IX, l.


(0 Cai. L 116—123.
(w) li. 1 § 1. D. de his tjuisui (1, 6).
(1) L. U. D. eod.; L. 195 s 2 I). de 1 S. (50, 16.)
ja« ToP- ^ Festüs v. Materfamilias; Quint. Inst. Orat. V,
Í \ ü' 6; L- 193 § 2 D. cit.; IsidoriOi'ig. VIU, 5.
(P) «ai 1,117,118,
(</) L. à. D. de his qui sui (1, 6); L. 195 § 2 D. de S. (50, 16).
(;■) Veja-seanot. o,
(j) L. 195 § 2. D, cit.; Ulp. IV, 1.
(0 L. 40. de J. et J. (1, l).
32 HISTORIA
O bomem livre ou era ingênuo, ou libertinò; ingê-
nuo se nascia livre ; libertino se tendo nascido
escravo fôra manurnettido ex justa servitute (w).
Os libertos erào eives rornani, latini, ou dedititio-
rurn numero (-»).

CAPITULO I.

Liberdade e Escravidão

DEFINIÇÕES.

§ 6. A divisão em homens livres e escravos é a


summa divisio dejmepersonarmn (a). Pertence a uma
destas classes nquelle que á outra não pertence. É
livre quem não ó escravo.
O escravo não tinha sobre si senão seu senhor,
e este só á sua consciência era responsável pelo seu
tratamento. Quem na mão e poder de outro homem
se acha, sem vontade própria , e que é pois objecto
de vontade alheia, em direito não pôde ser pessôa.
Escravo era todo aquelle, que sendo objecto para
propriedade alheia, era uma cousa — res in com.
mercio. Savigny [b) quer que se diííerertcs com
relação ao escravo dominium, e polestas como cousas

(u) Gai. I, 10, 11; § 5 L dnjuro person. (1, 3); pr. $ 1.1. de hig.
(1, li); pr. I. dc liberimis. (1, 5).
(v) Gai. I, 12.
(a) Gai. I, 9.
(b) Savigny. Syst. 1 g 55.
DO DIREITO ROMANO FRITADO. 33
distinctas; contra esta opinião ó sem razão talvez,
entre outros, Walter (c). O escravo se como cousa
era objeclo para propriedade alheia; como homem
porém era capaz de vontade, capaz de aceão.
A liberdade constituía um status [slaius líhertalis).
Status é a condição convencional ou physica do
homem, e denota quaes sejão os difrorentes direitos
de que goza; assim se diz: status hominum, jus per-
sonarum, conditio hominis. Tria enim sunt quae
habemus libertatem, civitatem, famliam [d]. A reunião
destes tres status em uma pessoa constituia a sua
caput (e).

(c) Walter, Gescli. des roem. Uechts T. 2. p. 55.


{d) L. 11. D. de cap. miuut. (U, 5); Saviguy Syst, II Beilage VI
diz-nos ter sido a expressão status empreiíada só pelos modernos.
(e) Vangerow, professor de direito romano na Universidade de
Heidelberg, uo seu « Leitfaden fucr Paiidfkte»—Vorlesungen» T. I p.
61 e seguintes apresenta sobre estes tres status as seguintes conside-
rações. iodo homem com relação ao seu pliysico é objecto para
propriedade, e assim ou eká elle uo domínio de outrem, ou tem
domínio sobre si mesmo. No primeiro caso é escravo, e como tal
juridicamente tido como uma cousa, 6 não como pessôa, de maneira
que quando mesmo fosse abandonado pelo senhor, não se tornava
livre, e sim res nuilius, e cabia ao primeiro occupante, arg. leg 38
§ 1. de noxalib. act, (9, 4); L. 8 pio derclicto (41, 7); L.';í6 de stipul.
serv. (45, 3). Para que pois um homem fosse considerado como su-
geito capaz de direitos (Rechlssubjecl) devia ser livre, i. é, ter domínio
sobre si mesmo (Pers. Sat. V, v. 88; Dion, HaUc. 11,27; v. VangeroVs
Latini anianí. ' rai-buijr 1833 p. 67 e seguintes), quer elle o tenha já
de nascimento (ingênuas); quer viesse a uolé-lo por via de seu antigo
senhor (liberlínus)- O status libertatis é pois a condição fundamental
de toda personalidade jurídica.
Como porém o domínio {Eigenthum) entre os Romanos se dividisse
em civil [dominium ex jure Quiritíum) e natural (o in bonis esse,
também cliamatlo domínio bonitario) o mesmo acontecia cora relação
ao domínio que tinha qualquer sobre si mesmo. Uma pessôa pois ou se
tinha a si proprio em domínio bonitario, o que acontecia a iodos os não
Civis, ou em dominio qúiritario, e era civis romanus. Este era o
caracter fundamental da civitas romana. Se alguém tivesse simples-
mente o dominio natural sobre si mesmo, só podia ter direito ao jus
gsntium; que só dominio quiritario sobre si proprio poderja dar-lhe
DIB. DOU. {j
HISTORIA
A primeira condição em direito é a liberdade:
quem a não possue não pôde ter status algum: assim
do escravo que obteve sua liberdade se diz — hoàie
incipit statum hahere. A segunda é a civitas, que
compreheode a primeira. Não pôde ser civis quem
não fô vre, assim como não tem o status civitatis
todo homem livre. A terceira o a fainilia, que abrange
os dous primeiros. A perda de qualquer destes steíws
chamava-se capitis dimimtio; e como so daváo três
status, davão-se do mesmo modo três capit. dimin.
Quem perdia o status libertatis soffriu uma capitis
diminutio maxima; com a perda do status civitatis,
soíTria-se uma capitis diminutio media: e a mínima
tinha lugar, quando se mudava ou trocava a familia
a que até então se havia pertencido (f).
A liberdade posjo que seja uma emanação do di-
reito natural, comtudo, para que entre os romanos
tivesse validade positivamente jurídica, precisava ser
reconhecida pelo Estado, A liberdade ou era adquí-

direir s próprios de cidadão romano. Em uma palavra o status civitatis


era a condição fondomeulal de toda personalidade civil.
Entretanto oc dadão romano não se achava unicamente comprehcn-
didono numerode lodosos homens livres, pelo que se tornava capaz de
direitos, e no de eives romani, pelo qiu obtinha a sua personalida 1p
civil, mas também no circulo fla Familia, pela qual' ■ d( emos
comprehender as relações unicamente de parentesco, e sim a aenars,.
L. 195 á 2. An. de V. S., nem se julgue ser necessariamente pr '
dar-se a reunião de muitas pessoas, por isso que também o emancivaiZ
« propriam familiàm habet » L, 195 cit. Todo cidadão romano como
tal tem o status familiae, o qual como base fundamental oara mmw
e importantes direitos (basta "ó pensar no direito de succeMão) amnlia
o status civitatis. Finalmente daqui se deprehende, nue o
famihse separado do status libertatis, oo civitatis não vai Zi-i/TZ
c sim trocado, ao passo que todo e qualquer cidadão como t
estar era uma fatmba , embora fosse esta a sua própria
A«t (6),
fi. nr^í
pr. § 1. fV
l 6 ; mp X 10 13 L 11 D
2. 3.1.T 3de capit.- demmut
I' - (1,
J -16). -de capit. min.
DO DIREITO ROMANO FRITADO 35
rida por nascimento, ou por manumissão feita segun-
do todas as condições legaes. Para garanti-la havia
ura inlerdielo pretorio: Interdictum de libero homine
exhibendo.
A civitas era adquirida de tres modos, por
nascimento, concessão, ou manimiissao. Por nasci-
mento quando provinha ella da mãi, ou do pai —
lendo-a este no momento da procreaçao^), e haven-
do entre elle e a mãi matrimônio com cvnnubiitm,
por isso que influía o connubium para que o filho
seguisse a condição de seu pai (i) Da parte da mãi
provinha a civitas, quando esta sendo civis romana
linha filhos de matrimônio sem connubium, ou
quando os tinha sem ser de matrimônio por seguirem
elles a mãi conforme a regra natural, e partilharem
sua condição fosse ella qual fosse no momento do
parto [j]. A applicação porém desta regra tornava-se
duvidosa logo, que uma romana tivesse contrahido
matrimônio com um peregrino sem ter obtido ojus
connubii. A Lex Memsia ordenou, que fosse o filho
percgnuo (fe). Depois porém, que os romanos, e os
provincianos liverão mais relações entre si, um se-
natusconsullo do tempo de Adriano mandou , que
com relação ao Matrimônio de um peregrino , e

(?) Gai. I, S3 ; Ulp. V. 10).


(») Gai. L 56, 57, 67, 80; ülp. V. 8; L. 19 D. de statu hom. (1,5).
Quando a mãi fosse latina, ou peregrina,deviahaver concessão especial
de cünnubium para o matrknouio, do contrario não erão os íllhoí
romanos.
(/) Cie. Top. c. 4; Gai. I, 67 , 80, 88—92; Qlp. V, 8,9,10; L. 24
D. de statu homin. <1, 5).
[k) Ulp. V, 8; ai. I, 78. A existência da lex Mensla é duvidosa
segundo Puclita, Inst. Ǥ17. N. h.
' HISTORIA
quer se desse ou não conriubium, que seguisse o
filho do peregrino a condição de seu pai (í). Da mes-
ma lomia, quando uma peregrina casada cora um
peregrino concebia, embora houvesse obtido antes
do parto a civitas, não nascia o filho romano, mas
permanecia peregrino como tinha sido concebido (w).
A cmtas podia ser concedida ou a um indivíduo,
ou mesmo a um Estado inteiro, e jã com o jm
sujjragii, já sem elle. Tanto uma, como outra cousa
dependia da vontade do povo, e ficou depois depen-
dendo da do imperador. Se um peregrino casado
com uma civis romana, obtinha a civitas, o filho
procreado como peregrino , porém ainda não nas-
cido nascia civis romanas; o mesmo acontecia
quando um peregrino e sua mulher, estando esta
pejada, recebião a cmtas (n).
Perdia a civitas o cidadão quando era expulso ou
deportado (o): o que porém não tinha influencia
sobre os filhos, que já tivessem sido procreados,
como eives, e ainda mesmo quando uma mulher,
que tivesse concebido na constância do matrimônio
viesse a perder o direito de civis antes de dará luz;
seu filho nascia ainda civis (p). Os homens livres
pois, quer fossem ingênuos, quer libertinos, ou erão
eives romani, ou não eives. A civitas romana tinha
influencia política e civil. Por sua influencia política
1 1
i li ■ " t
(0 Gai. I, 77.
(m) Gai. 1,92.
(n) Gai. I, 02, 94.
161 ? LeÍ 10 S 6 D de
- *jnS V0C- í2' ^ § 2. L de
(p) Gai. T, 90; Lei 18 D. de statu hom. (1, 5).
BO DIREITO ROMANO PRIVADO. 37
conferia o jus mfjragii et hononm, e parte em as
munera publica: nem todos porém os cidadãos tinhão
esses direitos, e até mesmo muitos havião, que não
tinhão capacidade para estes últimos. No segundo
caso conferia ella — commerciwn, e connuhium.
Em principio todo o não civis em Roma era incapaz
de direitos. Este rigor porém se foi modificando por
tratados com as outras nações; e á proporção que se
forão estendendo esses tratados, e que outros povos
forão sendo subjugados ao império romano , desap-
pareceu este principio. Assim forão declarados os
nao eives, logo que erão livres, capazes de direitos
em geral: continuou|porém a haver [entre- ellcs, e
os eives grande differença , não lhes cabendo direito
algum político, e ficando o jus civile tido sempre
como proprium jus civium romo.nornm. Aos nao eives
cabia unicamente o jus gentium.
Em completa contraposição aos eives esta vão os
peregrini. A peregrinidade consistia na incapacidade
para o jus eiviíe, carência de commercimi, e de con-
nuhiuin. Isto porém não excluía, que a um peregrino
fosse concedido, mesmo sem a civitas, o commer-
ãum: isto é capacidade para obter dominio segundo
o jus guiritium com suas adquisicões, obrigações
romanas, testamentos romanos (ç). Do mesmo modo
por concessão especial podião elles obter—connu-
hium; isto é matrimônio romano, e direitos de
família (r). O pretor por uma ficção também tornou
opplicaveis aos peregrinos muitos preceitos áojus

Ulp. XIX,'i; XX, 14; Cie. pro AvchlaS.


(r) Ulp. V, 5; Gai; I, 57.
38 HISTORIA
cwile (s). Em os demais casos erão os peregrinos
capazes do jm gentiwn, e do seu direito pátrio,
tanto quanto este fosse reconhecido pelos Romanos (í).
Era-se peregrino por nascimento segundo oju$
gentium, logo que a mai fosse peregrina, embora
outra fosse a condição do pai. Também se podia vir
aser peregrino por perda da civitas, e finalmente pela
manuraissâo ex lege Aelia Sentia. Um dos casos desta
lei desappareeeu cora a Lex Junia, o outro perma-
neceu até nos últimos terapos — dediticia libertas.
Entre os peregrinos, e os eives estava a latinidade,
cuja importância consistia na capacidade para o
jus commercii. Os latinos não tinhão o jus connubii,
assim como os peregrinos.

TITULO I.

Origem da Escravidão.

í. SEGUNDO O JUS GÉNTIÜM.

§ 7. Os escravos ou nascem, ou se fazem (a).


Por direito romano era escravo o bomern ou por
nascimento, ou per capíivitaíem.
Por nascimento. Era escravo todo aquelle, que
nascia de uma escrava, ex ancillis nosfm, fossè qual

(í) tíal. i, S7.


(0 uip. xx, ià.
(a) § !i. I. de jure pers, (1,3)! Servi autera aul najcuntur, autflunt.
Nascuntur ex aclllia noalrts, flunt aut jure gentjum, \â est «x-
tapt1> itate, aut jure civili etc.
DO DIRSITO ROMANO FRITADO. S5
fosse a wndiçno de seu pai (b) O filho por ura prin-
cipio mtuTal—regula júris gcntium, seguia a condição
de sua mâi, regra esta, que pelo jus civile soCTria
modificações; por isso que, sempre que pelo jus
civile se désse connuhium entre o pai e amãi seguia
o filho a condição de seu pai (c). Como porém não
podessem escravos ter connuhium entre si, não se
entendia para aqui a excepçao, que fazia o jus
citile.
Durante a gravidez como pudesse a mãi ter sido
livre, e escrava, estabeleceu-se como principio, que
com relação aos filhos tidos de matrimônio, os quaes
consequentemente seguião a condição de seu pai
decidiria o tempo da escravidão, e com relação aos
outros o tempo do nascimento [d). 4ssim se uma
escrava estando gravida obtivesse a liberdade, não
nascia seu filho escravo (e). Quando porém se desse o
caso de ter sido reduzida á escravidão a mãi durante
sua gravidez, e como tal dava á luz: se o filho era
de matrimônio nascia livre; e se o não fosse, como
devesse seguir o ventre—nascia escravo [f]. Depois
porém lá para o fim do terceiro período foi estabe-
lecido o principio de que; non debet calamilasmatris
nocere ei qui in ventre est, e segundo este principio
nascia livre tanto um como o outro, e até mesmo
quando a mãi durante a gravidez tivesse sido livre

(i) Gaí. I, 82.


(c) Gai, 1,80; tJlp. V, 0; L, 2i D. de statuhom, (1,5).
(d) Gai. 1.88, 80, 9â; Ulp. V, 10.
(«) Paul sent. II, 2/1,1.
(f) Gai. II, 91
&0 HISTORIA
um minuto que fosse, ou ainda durante o parto (j).
Per capíivitatem. Pelo jus gentium todo aquelle,
que cabia em poder de povo estranho tornava-se
escravo deste, o que ordinariamente acontecia ,
quando se era feito prisioneiro na guerra, não sendo
necessário, que estivessem os dous povos em guerra
declarada, porquanto: muito bastante era não
existirem relações amigáveis entre elles {h). Já muito
fazia o inimigo que conservava a vida aos captivos,
e que se contentava com despoja-lo de sua liberdade.
Á palavra servus parece vir de servare (i). Não estavão
porém neste caso os prisioneiros de guerra civil (j);
assim como os que tivessem sido aprisionados por
salteadores ou piratas [k]. Correspondia ao eapúvo
o àeditus, isto é, aquelle que por ordem do Pnierpa-
tratus, ou Primeps Fecialium era entregue ao ini-
migo (í). O dedilus nem sequer gozava áojus Poslli-
minium, como o captivo o qual logo que voltava
intra romana praedia era restituido ao seu antigo
estado.
0 postliminiuro era uma ficção jurídica pela qual
o captivo, que voltava era considerado como se
nunca o tivesse sido. Dictum est postliminium a limine
etpost (m). Sendo o captivo resgatado por outro ro-

Ptrat. sent. H, 24, 2, 3; t. 5 § 2, 3; L. 18 D. de statu hom.


(1. 5).
(A) L. 5 § 2 D. de captiv. (49,15).
(i) § 3. L de jure per&on. (1,3).
(/) L. 21 ® 1, P de captiv. (49,15).
(A) L. 19 § 2. D.; L. aàü.eod.
(í) Cie. de Orat. I c. 40; Cie. pro Caec. c. 34.
(jn) § 5. I. quib. mod. jus potest. solvlt. (1,12); Kestus v, Poslli-
tnininm; Gai. 1,129; L. 4, 5,12.16,19 D. de capitv. (49,15); Ulp.
I>0 DIRklTO ROMAMO PRIVASO.
raanosahia elie na realidade do capíiveiro — ficava
ainda porém como penhor em poder daquejle, que
o tinha resgatado, vjgorando ojus postlimmii com a
restituição do dinheiro dado para seu resgate [n]. Os
caplivos pertencião áquelles, que os linhão aprisio-
nado (o), exceplo qnando as tropas faziao prisionei-
ros estando em serviço porquanto: erão então estes
vendidos em beneficio do Estado (p), e é ao que se
chamava veudüío sub comia [q], Para que ti resse
lugar o postliminium exigia-se , que voltasse o
captivo {mverms ab kmibux); cora tudo tinha lugar
também quando elle morria cm captiveiro : por-
quanto pela lex Cornelia fasia-se uma ficção pela
qual se julgava ter morrido o captivo no momento
de ser aprisionado, como se não tivesse perdido a
liberdade, isto ó, solfrido uma ca pi lia diminutio ina-
ocima. Tal é a fietio legis Corneliaè (r).
Não tinha porém postliminlo p transfuga por-
quanto; qui maio consílío, et prodilúvis animo palriain
veliquit, kostium numero habendus cst (sj. Assim tam-
bém não linhão o postliminio aquelles, qui armit
vieti hosíibus se dederunt (t).
0 postliminio tinha duas tendências, uma pas-
T *
(n) L. 20 § 1. D. q,ui testam, faccre (28,1); L. 3 & 3 D. de homiae
libero (43, 2g L. 15,19, g 9. L. 21 D. de captiv. (40,15); L. 2. 6. C.
de postl. revers. (43, 29); L. 2 § 1 C. Th. de postl. (6 5).
(o) L. ■ ■ § 1. p. de statu hora. (1,5).
(p) S 2.1. de jure person. (1, 3); Varro de re rústica II. 10.
w) Quanto á razão deste nome corisulle-se: GejI. Vil, 4; fest.
p. 300,
(r) L. 10, U, 12,18, 22. D. de captiv. (49,15); Ulp. XXm, 5; L.
12 D. qui testam. (28,1).
9
W §4—8. D. captiv. (49, 15);
{/) L. 17 D. eod.
DII* ROH. fi
A2 HISTORIA
siva, e oulra acliva; pela primeira o que voltava do
inimigo era restituido ao antigo poder como acon-
tecia com o lilhofamiliasl que era restituido ao
pátrio poder, o escravo a seu senhor, e assim todas
as cousas—jure postliminii; pela segunda concedia
elle ao reversus ab hostibus seus antigos direitos (w).

11. SEGUNDO O JUS CIVILE.

§ 8. Já mesmo antes da lei das XII taboas oquelle,


que não tivesse podido satisfazer ao seu credor lhe
era entregue, e por este tratado como escravo; o
que não foi revogado por esta lei. Neste caso devia
elle ser vendido trans tiberim (a). Antes da venda
o devedor insolvente era nexus, ou addictus, e
servus só depois de ler sido vendido, porquanto:
o poder que o povo estranho adquiria então sobre
elle é que o fazia escravo (ò).
Pela mesma lei das XII taboas, aquelle que fosse
agarrado furtando, fur manifestus, flcavu sendo
escravo daquelle a quem tivesse feito o furto (c).
Por ediclo dos pretores subslituio-se multa pecu-
niária a esta determinação da lei das XII taboas [d).
Também incorria na mesma pena o que fugia
ao recrutamento, lectio, sendo vendido pelo Estado
como escravo (e); o que cahio em desuso com a
aíHuencia dos soldados voluntários (/").
(w) L. li pr. D. eod.
(d) GeU. XX, 1.
'fi) Gai. Uí, 189,199; Varro dc ling. lat. VI, 6.
(c)Gai. I] 189; Gell. XI, 18.
(J) Gai. III. 189; IV. 111.
(c) Cie. pro Caec. c. 34.
(f) L. 4- § 10 D, de re milit. (49,16).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 43
Aquelle que se nao tivesse alistado no maus
soífria a mesma pena; o que só com o censos"
acabou (i/).
Pelo Senatusconsultum Claudiamrn: logo que um
lioraem livre tivesse tido filhos com uma escrava
ignorando a sua condição (í), e julgando-a mulher
livre, deveriâo seus filhos, sendo do sexo feminino,
seguir a mãi, e os do masculino ao pai. \ espaziano
reslubeleccu o principio do jus genlium revogando
esta parle do Senatusconsulto {h).
Pelo mesmo Senatusconsulto logo que uma mu-
lher livre tivesse contrahido contuhernium com um
escravo, precedendo para isso consentimento do
senhor deste, devia-se fixar por um pacto , que os
filhos serião todos escravos, ficando ella entretanto
livre (i). Excepçâo esta, que Adriano revogou (/)■
O mesmo Senatusconsulto ordenou : que aquelia
mulher livre, que sabendo, tivesse relações com um
escravo estranho sem consenliiuento de seu senhor
a despeito de tres avisos [denunliatió] do mesmo, e
continuasse a manter taes relações, fosse então
reconhecida escrava do senhor do escravo, assim
como seus filhos, ainda quando tivessem nascido
antes da ajudicação da mãi (/c). Só Justiniano re-
vogou esta parte do Senatusconsulto (/).

(<?) Liv. 1,44; Dtp. XI,',11.


(4) GaL I, 85.
(i) Gai. I, 84, 86.
(j) Gai. 1,84. ,
(4) Taciti, Ann. XU, 53: Gai. 1, 84, 91, 160; ülp. XI, 11; Paol.
sent. rec. II, 21 A.; Plin. 11. V. XXXV, c. penull.; Plin. Ep. Vu, 6;
L. 6. 8. C. Th. ad Sct Qaud. (4, H).
(I) S !• !• dcsuecess. subi. (3,12).
kk HISTORIA
Todo sqnelle que lendo vinle «anos de idade
se deixasse vender dolosamente como escravo para
depois provar, que era livre, e participar do di-
nheiro da venda, com quem o vendeu, ficava sendo
escravo de quem o tivesse comprado (/n). Direito
este que Jnstiniano não revogou.
Desde Augusto , que sa sentio a necessidade que
havia de se proteger o patrono pelo raodoIngrato de
proceder do seu liberto contra elle. Opretor dava
ao patrono uma acçãó penal em certos casos contra
o liberto (ra). A lex Aelia Sentia concedeu-lhe direito
de occusaóáo (o). Cláudio concedeu a revocatio in
tsrviiutem propter ingratitudinem contra o liberto [p],
Commodo ordenou que tivesse lugar a revocação
no caso de persistir o liberto em faltar aos seus
deveres: o magistrado devia vendè-lo e dar o preço
ao patrono (q). Depois estabeleceu-se, que sem
mais formalidade o liberto ngralo fosse entregue
ao patrono como seu escravo (r).
Os condem fiados á morte, ou in metallum, ou in
opus melalh [s]. Os condemnados tornavao-se servi
pwnce; não erâo escravos do Estado e sim escra-
vos sem senhor, e por isso nada podia ser adqui-
rido por intermédio delles.
Só no tempo dos príncipes foi introduiido a

(m) $ 1/ L dc cap. min. (1,16); L. 7.33,40 D. de lib. causa (4,12);


1.1, 3. 5 D. rjuib ad lib. prod. non licct. (40,13).
(n) fiai. IV, 46, 183.
(o) L. 30 D. qn; et a quib. m. (/'0,0); L, 70 pr. D. dfe T. S. (50,16).
fp) Ia 5 pr. D. dc jure patroa (37, Í4).
(q) L. 6 § í. D. de agnose. lib. (25,3).
(r) L. 1. G. Th. de Ubert. (4,10); h. 2. C. Just. eod. (6, 7).
fcj) Lí 1. 8 §4—11; L. 18 S6;l* 36. D, de pôenis. (43,19).
DO DIKD1TO ROlIAfíO PRIVADO. 45
servilus pana (f), que foi revogada por Jusli-
niano (u).

TITULO II.

A escravidão na sua continuação.


i

I. EM GERAL.

§ 9. 0 escravo considerado como cousa deve


como tal estar em o domínio de alguém ; como
homem porém sujeito a urna potestas. A poteslas
sobre o escravo abrange poder sobre a sua existência
—jus vitae et necis; e em segundo lugar tudo o que
elle adquiria não era para si, porem para o senhor
em cujo poder se achava. 0 escravo era um instru-
mento por via do qual podia o senhor fazer negó-
cios, excepio naquelles casos em que era tida
como incapaz uma servilis persona [a). Podia o
escravo possuir üm pecúlio (6), ser membro de cor-
porações , e de alguma fôrma pertencia á família
do senhor; e á semelhança do filhofamilias tudo
adquiria para aquelle em cujo poder se achava (c),
podendo até por elle obrigar-se [d]. 0 que tirasse
dos bens do senhor não era considerado furto (e).

(í) Cie. de inv. II, 50.


(k) Nov. 22. c. 8.
(a) pr. L de stip. servor. (3, 17); Gal. II, 96.
(b) T. D. de pecúlio (15,1).
(c) Gai. I, 52; H, 86, 68; Ulp. XIX, 18—20; pr. § 3. I. per
rpias pera. (2. 8).
(d) S 1--5. L quod cum eo (4, 7); L. 1 § 2 D. de priv> dclict. (47,1).
(e) L. 17 pr, D. furtis (47, 2),
/|6 IllSTOKlA
O senhor podia vendé-lo (/"), e além de poder
casliga-lo corporalmento, podia até tiraivlhe a
vida {g). Não podia o escravo accusar seu senhor
em juízo, assim como não havia entre escravos,
e se não podia contrahír com elles matrimônio,
e sim coníMfcermuwi (ft). Quanto a existir contuber-
nium entre elles, e com elles ficou sendo sem-
pre como era pelo direito antigo; assim também
não se commettia adultério para com elles (í);
entretanto, o parentesco que multava de suas
uniões tornava-se um impedimento logo que
oblinhao a alforria (j).
Em melhores tempos outra era a condição do
escravo ; muitos vezes comião mesmo á mesa com
seus senhores, de cujos filhos eráo os mestres;
e tomavão parte nos encargos domésticos como se
fossem da família [k].
Yangciownos seus cursos de historiado direito
romano, em Heidelberg, seguindo a opintao de
que o escravo não está só em domínio, mas tam-
bém na potestas de seu senhor, difTerença o filbc-
fami/ias do escravo em estar aquelle na potestas de
seu pai, entretanto qne este está em poleslas e do-
minio de seu senhor. Contra esta opinião é Wal-
ter. Pucbta diz-nos na sua obra, Curs. Inst. que
não é só domínio que tem o senhor sobre o esora-

íf) Calo, de re rústica. 2.


ig] Gal I. 62.
(ã) Prtr senu II, 19 § 6; Varro dere rústica 1,17, 6.
(t) L. 2 S1 D. si eo noxaL (3,9}; L. 26 S 9 D. de nox, acU (9, U).
(i) Gal. ÍV, 77.
{k) Gal. IV, 78.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 47
vo. est > esle tarabem sugeitá á poteglas d'aquelle,
e não é uma potestas privativa cTelles, porém tam-
bém possível sobre pessoas livres (como a patria
potestas). O homem livre que está inpoUslüte limi-
ta a sua personalidade jurídica , o que já não acon-
tece como escravo, que nada mais tem a limitar; e a
potestas do senhor sobre elle antes lhe dá uma po-
sição jurídica; porquanto torna-se elle igual a
uma parte ou membro do senhor tendo assim a
possibilidade de represental-o, de ser instituído
herdeiro em testamento vindo por via d'elle a caber
a herança á pessoa do senhor. Domínio e potestas,
entretanto, não são requisitos necessários á escra-
vidão, porquanto mesmo um escravo sem senhor
não é por isso livre. Poderem escravos fazer con-
tractos obrigando-se por elles de maneira que essa
obrigação depois da sua manuraissao tenha vali-
dade embora limitada, é, segundo o mesmo Puchla,
uma consequeneia da potestas em que elles estão,
e pela qual até certo gréo tomão parte na persona-
lidade do senhor. Por delictos que couimetlèrão
durante a escravidão e pelos quaes podião ser accu-
sados, depois que tivessem obtido a liberdade, nao
o podião ser pelo senhor (/).
O escravo porém como completamente incapaz
de direitos, e isto não só pelojus cioile como pelo
jusgentium, pois é de ambos os direitos, não era
contado entre as pessoas, —nullum capai habet.
Pela escravidão tornava-se o homem uma cousa,

(0 L. ÍU. D. de O. et A. (W, 7); Gai. IV, 77 , 78.


(58 HISTORIA
igual a uma fera, e objecto para propriedadè do se-
nhor, que d'elle podia dispor como bem lhe pa-
recesse. Assim no lerapo de Augusto, ou Tiberio pelo
Senatusconsullum Silanianura levava-se o escravo
do senhor assassinado á tortura, afim de se desco-
brir o assassino; e do mesmo modo se ordenava o
castigo d'aqucile escravo, que não tivesse vindo em
soccono a seu senhor [m].
Só pouco a pouco se foi modificando este rigor.
Reconheceu-se, que o escravo, segundo a razão na-
tural, era sempre um homem e igual aos outros
homens (n). Uma lex Petrenia do tempo de Nero
prohibio, que se vendessem escravos para com-
bater com feras nos jogos públicos, ainda mesmo
quando tivessem merecido castigo (o). Adriano
procurou proteger os escravos, e não queria que
o senhor fizesse uso do direito, que tinha sobre
o escravo de vida, e de morte, devendo os tri-
bunaes decidir sobre o bom ou máo fundamento
da pena de morte (p); e n'este espirito dar o
senhor arbitrariamente a morte ao seu escravo (ij) ,
exceptos nos casos previstos pela lei (r), e também

(m) D. XXIX, 5; de S. C. Silaniano et Glaudiano.


(n) L. 32 ü. de reg. jur. (50, 17).
(o) L. 11). § 1. 2. D. ad. leg. Coni. de siear. (/;8. 8); I,. 42 D. de
contrali. emt. (18,1); um exemplo dá Gellius V, lá.
(ji) Spart. Iladr. 18; L. 2. D. de his qui sui (1,6).
(q) Sneton. Claud. 12; Gai. 1, 53 ;L. .1 §2D. de hisqul sm (1, 6)
§2. I. de Ms qui sui (1. 8);L. 1 §2 D, ad. içg. Cornei, de sicar.
(48,8); L. 1. C. de emend. servor, (9, l/l) ■
(r) L. 24 D. ad. leg, Jul. de aduller. (48,5); L. 1 § 4 D, ad. leg.
Cornei, de sic. (48,8); a estes casos se referem as : L. 53 § 3. D. de
legal. T 10;L. 96 D. de verb. obi. (45,1) iL. 5. n. de accus,
(48, 2); L. 1 § 5 D. de off. praef. urb. (1,12),
CO DIREITO ROMANO PRIVADO. ki
cnstiel-Q (j), foi declarado delicto publico. Nm
alienações não se consentia mesmo, que viessem a
ser separados dos seus parentes mais projimos (í).
Antouiuo Pio prohibio em geral todo e qual-
quer tratamento cruel, e obsceno do senhor para
Oom seu escravo (u); e mandou, que aquelle,
que matasse de proposito ao seu escravo incor-
resse na pena da Lex Cornelia de sicariis, como se
fosse elle alheio. Tombem por máos tratos devia
o senhor ser obrigado a vendê-lo.
Uma concessão singular, e única feita aos escra-
vos, que pertêncião ao Estado era de poderem dis-
pôr por testamento de metade do que tivessem (u).

II, EM PARTICULAR».

A. — AdquisiçõeS do senhor pelo escravo.

§ 10. Era um principio natural, que perlenciâo


ao senhor as adquísições feitas pelo escravo, que
nada podia ter seu proprío. Tudo o que o escravo
adquiria era para aquelle, que sobre elle tinha
a potesias, quando a esta estava unida a pos-
sessão (a).
Possuindo os romanos abastados innumeros es-
cravos não os empregavão unicamente no serviço

W S^t. Domit. 7L. 3 § 4 ; L. Í| § 2; L. 6. D. çd. leg. Corne), de


sicar. (48,8); Paul. sent. rec. V. 23 § 18.
(3.( 38^ 35 D' de aedÍ1Ít' edÍCtl (21' ^ ; L-li' ^ ««ntn. utr. judie.
(u) õai. 1^50 ; L. 2. D. de his qui sui (1,6).

(a) Gai. I, 52; n, 86» 89.


911. 10*, v
SO nisTOnu
comuium; porém também como procomclorca, cô-
micos, declamadores, médicos, e no ensino como
mestres; e podião por diligencia e economia
sua (b), cora a protecção do senhor, que o fazia era
interesse proprio, obter uma íbrlnna , e até mesmo
ter a administração d'esses bens. Um pecúlio podia
pois ser constltuido em beneficio do escravo, o
qual não de facto, pórem de direito ficava per-
tencendo ao senhor (c), que sempre que quizosse
podia rehavel-o [d]. Segundo Tácito, era mesmo
costume entre os romanos dar ou promeUer a liber-
dade áqnelle escravo, que tivesse conseguido elevar
o seu pecúlio a uma certa quantia (e). 0 direito po-
sitivo considerava o peculin como doado ao escravo,
logo que o senhor coneedendo-lhe a liberdade, não
tivesse expressamente reservado esses bens para
si {[). Pecúlio pois, são aquellesbens, que o senhor
entregava ao escravo sob sua administração, osquaes
não estaváo poréra juridicamente separados dos
outros bens; não bastando ter o escravo a posse,
por isso que se tornava necessária uma concessio
pecutü. Logo que o senbor dava ao escravo libera
adminütraüo sobre os bens do pecúlio podia elle
alienal-os, mas não doal-os [h] Na concessão do pe-

(é) L. 39. D. dt pecúlio (15,1).


(c) L. 37. § 1. P de acquir. rer. dom. (41,1); pr. 1. quib, non
v
po mitt. (2, 12).
(d) L. 8 D. de pecnlio (15, 1).
te) Tacitl, Ann. XIV , 42 ; DSoiiys. IV, 24.
(/) Figin. Vat. § 261 ;L. 53. D. de peeullo (16,1); L, un. C. <?-
pec. ejai (7 , 23) § 20. J. de legal. (:, 20).
(<?) L à 3 2. D. de pecúlio (15,1).
(4) L 125. D. de V. S. (50, 16).
£0 DIREITO ROM AH O PRIVADO. 51
culio estava comprelieadlida tacitamente a autori-
sação até xnesnío para rontialúr dividas. Por esta
razão concedia o pretor, que um terceiro por ne-
gócios feitos com o escravo movesse contra o senhor
umaacção, afim de ser embolsado, devendo este sa-
lisfazel-o com os bens do pecúlio, e não era obri-
gado a mais (í). A acção porém segundo o ediclo do
pretor logo que o escravo tivesse íãilecido, ou que
tivesse sido vendido ou marmraettido devia ser mo-
vida dentro de um anno {j). Com relação ao que o
senhor tivesse direito do escravo proferia elle a
todos os outros (&), por ser de summa unportancia
ter sido elle o primeiro a apresentar-se (/). Não era
raro ter um escravo no seu pecúlio outros escra-
vos, os qqaes podião também vir a ter pecúlios
próprios; taes erâo os servi vicarii em contraposi-
ção a servi ordinarü. Estes estavào oomprehendi-
dos no pecúlio principal; e no caso de divida ílca-
vão sugeitos a ella, e do mesmo modo sugeitos á
deducção, que o senhor tivesse a fazer (m),
Com a concewopeculü declarava o senhor em geral
qual a sua vontade quanto a adquirir o escravo
para elle; donde vinha poder o escravo, ignorando
aquelle, adquirir a posse para o pecúlio, epor con-
seguinte para seu senhor; e o senhor por meio delle
tinha a posse de outras cousas, (razão por que com-

(í) Gai. IV, 73; § 4. J. quod cumeo (4,7); L. 1. 4. D. de pecúlio


i).
(j) L. 1. D. quando de pecúlio (15,2).
(A) L. 1 §2, D- de tribut. act. (14, 4); t. 5S4; L 9S2 3, 4; l*
11 $ 2 O. de pecúlio (15,1).
(O I 10, 21 pr. D. depeculle (15, 1).
(m) L. 17. D. de pecúlio (16,1); Theophil, IV. 7, $ 4.
ÍS HISTORIA
mettendo o escravo um farto contra o senhor não
lhe tirava a posse), possue-se a si proprio também
para o senhor, e d'ahi vem continuai* a posse sobre
o escravo fugido até que outra pessoa viesse a ad-
quiri-la {ri).
Havendo condomínio sobre o escravo tiuhão to-
dos os senhores polestas sobre elle, e lambem do-
mínio (o); recebião pro raia o que era adquirido
pelo escravo, e só se fazia uma excepção quando o
escravo expressamente adquiria para um dos se-
nhores: Titio Domino meodari spondes ? Ou então;
ífnnc rem ex jure Quiritium Lucii Titii domini mei
esse aio ea quoe ei empta esto hoc aere aencaquc libra. »
Quando o escravo emprehendia um negocio por
ordem de um dos senhores, sem declarar entre-
tanto o nome, adquiria elle segundo a opinião da
eschola Sahiniana para esse só; e foi esta a adop-
tada por Justiniano, desprezando-so assim a da es-
chola Proculeiana [p\. Se o escravo estivesse no do-
mínio bonitario de um, e no quirilavio de tercei-
ro, ex omnibus causis ei soli per eum adquiri cujus in
bonis est [q).
Em beneficio do usufructuario só adquiria o es-
cravo de duas maneiras: a) ex re sua, isto é, quando
os próprias bens da usufructuario forneciáo os meios
para a adquisiçno, que se dá já no usus do es-
cravo ; h) ou ex operis servi, isto. é, o que lhe adqui-

fn) 1.1 L. 13pr.;L. 15,47- D.dendqii.pass. (41, 2)


(o) h, 215. D. de V. S. (50,16).
(p) Gai. III, 167; J3. Lper quaspers, nobis obl, (3. 28); L. 6
D do stip. servor, (45,3).
' {q] Gai. 11, 88.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO, 53
ria o escravo pelo seu trabalho e serviço, cuja ad-
quisíçao só está no fructus (r). O mestno acontece
com relação ao que adquire um bonm fidei posses-
sor, quer de um escravo, quer de uma pessôa li-
vre (s).
Mas para se adquirir a posse por via do escravo
era preciso que sobre elle se tivesse posse; por
que com esta vinha-se a ter a posse lambem
d'aquilIo de que elle se apossara ((}. 0 simples di-
reito da potestas não era suíFicienlo portanto para
a adquLsição da posse, e por conseguinte indilTe-
rente era ser o possuidor do escravo dono ou nao.
Porem como a posse seja um direito, a adquisiçao
da posse só era reconhecida áquelle dono, que
possuía o escravo; e só se dava este caso para
o possuidor de um escravo estranho, quando bonae
fidei possemr, ex re &jus, ou ex operis ejm (m).

B- — Como se obriga o senhor pelo escravo.

§11.0 senhor pelo seu escravo só se obrigara


pelos actiones adjectitiae qualitatis, ou noxakr, ex-
cepluados estes casos, são era elle obrigado por ne-
gocio, ou delicio algum do escravo.
Obrigava-se o senhor por negocios do escravo
quando para isso o tivesse autorisado, quer ex-

Jr)Oal II, 91; III, m; Ullp. XK, 21; §2. L per quaspers.
(3, 28}.
(i) Gal. II 86; III, 164; » 1. L per qurs ners. nob. obL (3, 28),
{<) ai. 15. 50 § 1. D. de adqu. poss. (Al, 2).
fu) Gai. II, 94, §4.1. per quas per». íidqu. (2,9); 1 86 D. de
adqu. poss. (41, 2); L, 21, pr, D. df adqu, dom. (41 ;í),|
5A BisTonu
pressa, quer lacilamente; porquanto: o escravo
aqui não era senão um instrumento. Era lambem
possível ao escravo emprehender negocio só por
sua couta ; e pelas dividas que por ventura resql-
tassem de tal negociação não era responsável o se--
nhor, por isso que um homem livre só por sua
própria vontade se podia obrigar, e não se obriga-,
va pela de outro homem. Para o escravo rcsultava
uma obrigação, que porém só era e só podia ser
natural (a).
Quando o senhor autorisava o escravo a con-
cluir um negocio por elle podia então ter lugar,
pelo edicto dos pretores.uma actio quod jussu con-
tra elle (6). 0 negocio era considerado d'algoma
fôrma como concluído pelo senhor, por isso que
do escravo se não tinha elle servido senão como
de um instrumento. Se fosse o proprio senhor quem
o tivesse feito, n'esse caso ir-se-hia contra elle com
a acção dirccta, e não com a adio quodjussu (c).
Punha o senhor muitas vezes um escravo seu
em navio mercante como mestre, ou como faclor
em qualquer ramo de industria; podia u'este caso
ter lugar contra o senhor uma adio exercitoria, ou
imíitoria pelos negocios concluídos pelo escravo
n^ssa qualidade (d).
Como o senhor pelo escravo assim também se

(a) Cai. 111,110.


(b) Gai. IV, 70; L. 1. D. quodjussu (15, 4); § 1.1. quodeumeo
(4,7).
(c) L. 5 pr. D. quodjussu. (15, 4).
{d) Gai. IV, 71; L. 1 D- deexercit, act. (14,1);L. 1. 3. 5. D.de
instit. act. (14,2).
DO DIREITO ROMANO FRITADO. 65
obrigava o paterfuro ilias pelo filho-famílias (e).
Quanto aos dollctos do escravo contra um terceiro
d'elles resultava uma ohíiqalio; a acção porem só
podia ser movida tendo o escravo obtido a sua al-
forria [f). Contra o senhor resultava uma acção no-
xal pela qual ou elle fazia reparação do damno
causado, ou entregava o escravo [g]. Entregava-se
o escravo segundo as formalidades estabelecidas
para a íradilio do domínio quiritario {h). No caso
de nao ser possível uma acção contra o senhor
levava edlão o autor o escravo para sua casa
por ordem do pretor, e sobre elle adquiria o
dorainio prctorial (i), Se leu filho ou servo teu no-
xam commiserit, em quanto em teu poder, comligo é
a acção : omnes 7ioxales acíiones caput scquuntur}
se fôr parar depois no poder de outrora cum illó
incipií adio esse (j). Se o escravo contra o senhor
noxam commiserit não tem este contra o escravo
acção alguma [k). Se porventura qualquer escravo
noxam commiserit mihi, e antes de intentada a acção
Se tornasse meu , segundo os Sahinianos desappa-
recia esse direito de acção que tinhamos contra
o escravo ; segundo os Proculeianos porém ficava
elle unicamente suspenso até a alienação do dito
escravo [l].
(«) L. 1 D. qiiotl jussu. (16, á).
(f) Gai. IV, 77; L, l/i L. deoblig. et act. (Zii, 7).
(g) Gai. IV, 75—78; Tit. 1. de noxalib. act. (4,8); L. 1. 2. D. de
mox. act. (9, 4).
(4) Gai. IV, 79.
L. 2 § l D. siex noxali (2,9); L. 26 §6D, denox. act. (9,4)j
0) Gai. iv, 77.
(k) Gai. IV, 78.
(í) Gai, 1, c.
se HISTORIA

TITULO III.

Da Liberdade-

INTRODÜGÇÃOi

§ 12. É homeni livre todo aquelle, i^iie não


é escravo. Se é livre por nascimento denomina-
se ingenuus, se por manümissão libertut s. lihcr-
tinus. Livres erão pois os que já assim uascião, ou
que tendo nascido escravos viorõo a obler a sua
liberdade; e mesmo os que estavão servorum loco
pertcncião á classe dos livres. Com a manümissão
não desnpparecião para o mauumetlido todas as con-
seqüências, e recordações da escravidão; d'ahi pro-
vinha essa difíerença entre os livres, denominavão-
se ingênuos aquelles, que linhão já nascido livres e^
para differença delles, aos que tinhão sido escravos
chamavão-se liberlinos. Não linhão estes até o tempo
do imperador Jusliniano completa independência,
estando sujeitos como estavão ao patronato j poder
que foi todos os dias diminuindo de importância até
que por fim, salvos ainda rarissimos casos, como
que desapparecen. Antes de Jusliniano, até mesmo
por uma lex ViselKa se dava urna acção criminal
contra o libertino que se arrogasse a condição e os
privilégios de ingênuo (a]»
Como acabamos de dizer, ingênuo era aquelle*
que não tinha nascido escravo; mas exigia-se

(a) L. un. C. ad legem Viselliam (9, 21)4


DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 57
também, que não tivesse vindo a cahir depois
em uma justa servüus, ou que tendo sido delia
manumettido tivesse obtido a restitulio mtalium. Por
arrogaçáo na familia de um homem livre não
se tornava por isso o arrogado ingênuo (6).
0 direito de ingenuidade podia ser concedido
por privilegio. Os imperadores coucediâo pela na-
talium restitulio o direito de ingenuidade a um
libertino, tornando-o assim igual a um ingênuo (c).
Quanto porém ao^us aureorum amuhrum pelo qual
também obtinha o libertino o mesmo direito, fi-
cava elle ainda sujeito ao patronato, «xceptuado o
que, era tudo o mais era como um ingênuo.
Á difléreuca entre liberto e libertino servia para
denotar no primeiro caso o manumettido com
relação especial a seu patrono; e no segundo por
contra-posição a Ingênuo (dj.

I. DA LIBERDADE,

A. — Da Mannmissão.

1, Princípios geraes.

a. Sua natureza e definição.

§ 13. Obter direitos inherentes á qualidade de


homem livre, istoé, a possibilidade de sahirda es-

(6) GelL V, 19.


(c) D. XL, 11: de natalib t cstituendis; Cod. VI, 8; de jure aureor.
anubrnm; Fragm. Vatic. 226.
(<0 Isidór. Orig. IV. O sentido antigo destas duas palavras era este
segundo Sueton. CJaud. 24: temporibus Appil etdeip-eps aliquaindlu
libertinos dicitur, non ipsosqol nianomiUGientur, sed ingênuos ex bis
prorrealoa.
DIA. ROH, 8
58 HISTORIA
cravidão, éuma conseqüência necessária da mesraa
escravidão. Sendo pois essa possibilidade uma con-
seqüência do captiveiro, e sendo esle consíitnido
pelo poder que um povo estranho tinha de
facto sobre um homem, ficava o captiveiro de-
pendente da prolongação desse mesmo poder, e
acabava quando os captivos delle se vião livres;
o que lhes era possível fugindo do povo ini-
migo, voltando para o seu paiz , ou alcançando o
de gente alliada e amiga. A liberdade não tinha
outro requisito mais do que o de voltar o cap-
livo ((!í|.
A transição de escravo para homem livre, afóra
esse caso, tinha logar por manumissão da parte
do senhor ( alforria ); para a manumissão porótn
exigião-se requisitos, sem os quaes não podia
sortir delia eífeito algum , ou quando assim fosse
não era completo e sim parcial.
A manumissão é aquella declaração pela qual
o senhor dava a liberdade ao seu escravo ; de-
claração esta porém que devia ser feita conforme
os direitos que regulavao este acto. A manumis-
são não era outra cousa mais do que uma —aíie-
natio rei mancipi.
A possibilidade que havia de obter a liberdade
trazia comsigo uma condição necessária, e pela
qual, quando mesmo ainda se fosse escravo , com-
tudo já pela proxtmidado á liberdade oblinha-se
certa entidade juridica , e tal era a condição do in

(a) L 19 §3. D. decaptiv, (49, 15).


DO DIRKITO ROMASO PRIVADO. 59
Ubertale esse. O escravo podia in UberUdc esse, em
primeiro logar poi' vontade do senhor," por quanto
uma manumissão incompleta não podia conferir
senão uma liberdade factícia —dispensa do serviço;
esta liberdade era entretanto protegida pelo magis-
trado, no caso de querer o senhor retirar o que
tinha sido talvez mera liberalidade sua. Propria-
mente porém ainda se era escravo (ã).
Segundo o ponto de vista romano [jure quiri-
iium) a liberdade concedida por um peregrino
a seu escravo nao era senão uma liberdade íacficia,
por quanto o liberto só era considerado como
quem volunlate domini in Ubertate est: por isso que
não podia um peregrino manumoUir conforme as
formulas prescriptas pelos Romanos.
Sem ser por vontade do senhor podia um escravo
in Ubertate esse, e vivia elle como se livre fosse: e a
prolongado duração desta condição dava uma prces-
criptio lemporis, a qual levava então á verdadeira
liberdade. Quando o que in Ubertate erat morna,
seus bens cabião ao senhor jure peadü (c).
Obtinha o libertino pela manumissâo a civitas,
a latinidade, ou a peregrinidade. Para que elle
fosse civis era preciso, que o manumissor fosse civis
romanus, (d) devendo a manumissâo ter sido feita
segundo as formalidades marcadas pela lei (e). A.
civitas era também concedida ôquelles captivos, que
fossem manumettidos pelo Estado (/*).
(h) Gai. m, 56.
(c) Ulp. I, 10,12; Gai. HI, 56; Fragm. Dosith. 14.
(d) Theoph. 1, 5,5 3.
(«) Gai. 17 Ulp. I, 5.
(í) L. 5 § 3 D. d» captiv. (49,15).
60 HISTOHU
OuanJo o escravo não tivesse sido raanumeüido
segundo as formalidades quiricias; ou quando o
manumissor não fosse dorainus exjwe qumtium, e
em summa quaroio a manumíssao não tivesse sido
feita apud conrilium, e o escravo tivesse menos de
30 annos, era-se iatino (g).
A peregvinídade linha logar em um único caso
marcado pela i&r Aelia Sentia. Não tínhão estes
libertos nem conubium , nem eommerdutn [h] ,
não ousavão apresenlor-se em Roma, e nem mes-
mo se quer inlra centesimum milianum; e de modo
algum podião obter a civitas (t). Seus descendentes
porém erão peregrinos, e não eslavão sujeitos a esta
restriceão particular.
Libertinonm tria sunt genera, mm aut eives remam,
aut lalini, aut dediticiorum numero sunt (/).

b. Causas por que se não pôde mammeUir.

§U. A manuraissão tornava-se muitas vezes sem


effeito pelas causas seguintes;
Só in bonis habere dava potestas, mas já não acon-
tecia assim quanto ao nudum jus qmrilium (a), e
dabi provinha que aquelle, que tivesse o escravo
in bonis, raonumeltindo-o não o fazia senão latinus;
civis só podia faze-lo quem o tivesse não só in bonis,
como também ex jure quiritium [b). Aquelle que nao
■ M.. & M > " . " '"' — . ,I
{tf) Gai. 1,17; Theoph, I, 5 § 4.
(/«) Ulp V, h; XIX, li,
.i) Gai. 1,25,26,2V, 67; Sueton. OcUvian. 40.
(j) Gai. 1,12.
(a) Ulp. 1,16; Gai. 1, 35.
(b) Ulp. 1,16.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO 6Í
tivesse o escravo m bonis, nem ex jure quirüium não
podia xuanumctti-lo. A mulher que estava em tutela,
o pupillo, e a pnpilla :7áo podião manuraeltir (c).
Um de muitos consenhores raanumeUmdo a um
escravo não lhe dava por isso a liberdade, e se o
manumettia renunciava aoseu direito sobre o escravo,
nccrescendo a sua parle aos outros consenhores.
Tendo lugar uma manumissão menos solemne {inter
amtm eíc.) por ella não provinha, nem podia haver
(se bem alguns juvisconsulCos o queirão) um jus
accrescéndi a favor dos outros. A opinião desses
jurisconsnltos é falsa por isso que o manuraeltido
inter amicos mesmo pela lex Junia era conside-
rado como livre, pelo que acabava o poder de ma-
numissor sobre elle; o que porém não era senão
apparente, pois que o poder só acabava emquanto
vivia o liberto, mas por sua morte era considerado
como se tivesse sempre sido escravo. 0 consenbor
porém podia logo que quiiesse raanumettir o escravo,
obrigar aos seus soclos a renunciar á parte que
tinhao, entrando elle com o valor; isto é, elle podia
exigir a divisão, e que se lhe desse o escravo indem-
nisando elle os outros (d); e Justiniano ordenou, que
quando ura dos consenhores desse a liberdade ao
escravo, ou lh'a quizesse dar, que os outros ven-
dessem a sua parte, e até mesmo marcou-se o preço.
Não tinha pois logar em semelhante caso um jus
accrescendi (a).
- - 1" .■ _ | I) .1. I ,^1
(C) Ulp. 1,17 Frgrn. Dosith. Í2; Paul. IV, 12, f.
('' L. 1 pr. C. de comm. servo manum. (7, 7),
(e) L. 1 pr. C. eod.
62 HJ5T0RU
O senhor não deitava de potlíT mamirneUir
aquellc de seus escravos que estivesse no usu-
fracto de alguém; continuava porém o usufructo,
e só quando acabava é que o escravo era real-
mente livre. Os jvmsconsultos encaravão o escravo
neste caso como servus sim domino; e alguns
mesmo queriào, que fosse elle depois do usufructo
não ám, e sim lalims (f).)Just'miano mandou que
fosse elle já tratado como livre, embora continuasse
o direito do usufrucluario [g). Se porém o usu-
fractuario manumeUra o escravo, não ficava este
sendo livre; e tanto quanto vivesse o usufroc-
tuario seu senhor não podia exigir delle serviço al-
gum [h].
O escravo a despeito de hypotbeca geral podia
ser manuraeltido ; por hypotbeca especial, afina de
que tivesse validade a manuraissão, devia ter sido o
credor satisfeito, e ter portanto caducado a hypo-
íheca (t). Aqui tombem só como latinus reconhecião
os jurisconsultos romanos ao escravo.
0 dedilimrum numero, que era visto intra centm-
mum miliarum da cidade de Roma tornava a ser
vendido como escravo., e não podia mais ser manu-
mettido (j).
Ordenou alexTElia Sentia , que fosse nulla toda e
qualquer manum.issão ia fraudem creditorem; e um

(f) Figro. Dosith. 13; Ulp. 1,19.


( ;; L. 1 pr. C. coinin. de maDum. (7,15).
{h) L. 1 pr. C. cit.
(í) Frgm. Dosith. 18; t. 3. D. de maniua. (40,1); L. 36, 27 § 1 D.
quieta qalh. man. (4o, 9).
<j] Cal. I- 27.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 63
Selam, do tempo de Adriano mandou, que o mesmo
se entendesse com relação aos peregrinos (fc). A frau-
de tinha logar; a) quando no momento da manumis-
são se tornava omamimissor insolvente; b) quando
havia de sua parte animus fraudendi. A lei excep-
tuava o caso em que o senhor para evitar a igno-
minia de um concurso depois de sua morte, dei-
xava era seu testamento o escravo livre, e o insti-
tui a seu herdeiro (/}.
Também ao patrono d'«que]le, que manumettia
com o lim de diminuir a' sua herança dava a lex
^Elia Sentia o direito de revogar a manumissão feita
cora esse proposito (tíl).
A lex yElia Sentia ordenou também parte em
interesse do proprio senhof, parte no do Estado,
e para evitar raanumissões irreflectidas, e até mes-
mo para dimífiui-las, que o senhor nao pudesse
manuraeltir escravo algum seu, sem ter comple-
tado, elle senhor, vinte annos de idade; e só por
uma manumissão vindictã podia ter logar tendo
convocado um concilio [apud coneilium] para esse
fim (composto em Roma de cinco senadores , e
cinco equites, nas provincis de vinte recupera-
tores do mesmo modo eives romani]; e provasse
existir uma justa causa manuiniltendi (n). Justae
autem causae inanumissionis sunt veluli d quis pa-

_ (k) Ulp. I, 15; Gai. I, 37,47; pr. § 3. I. qui et qnib. ex caus. ma-
§ 1. D. de statu lib. (40,7); L. 10, 24. D.

(m) Gai, i, 37;> Ulp. ), 15,


Uip. J, xo,
(n) Gai. I, 38; Ulp. I, 13.
6a HISTORIA
trem, mt maírem, mt pedagogum, auíem colacla-
neum mammittat (o). Pela determinação irrevogá-
vel desta lei de que fosse só valida uma manumissão
vindicta apud comilium tornava-se impossível a
um menor de vinte annos manumetlir por tes-
tamento (p). Justiniano porém mandou em principio
que fosse a manumissão lestamentaria valida logo
que o senhor tivesse 17 annos completos , por ul-
timo que fosse valida a manumissão feita poraqnello
que podesse fazer testamento (q).
Á Lex Fúria Canima querendo oppôr um dique ás
manumissões lestamentarias, que se tornavão de
dia para dia mais levianas ordenou : que quem tives-
se três escravos não pudesse manumeltir mais de
dous por testamento; quem tivesse de quatro a
dez mais de ametade ; de onze a trinta uma terça
parte ; de trinta e um a cem uma quarta parte ; de
cem a qumhentos a quinta parte. Mais de cem
escravos não podia pessoa alguma manumeltir em
seu testamento. Quando por ventura o testador
excedesse o numero marcado pela lei, e se tornasse
difficil saber qual o nome do escravo que tinha pela
ma nu missão excedido o numero , já escrevendo-se
os nomes em um çirculo,. ja nomeando-os, torna-
va-se de nenhum eífeito as manumissões (r).
Justiniano revogou esta lei (s).

(o) Gai. I, 19, 39.


lp) Gai. I, kO.
(q) § 7.1. qui et quib. ex caus. man. (1.6); Nov. 119 c. 2.
(r) Gai, I, Zi2 —AG , Ulp. I, 24. 25; Paul. IV, IA adlegem furiam
canín.
(í) I. I, 7 de lege fnr. can. tolUnda.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 65
A manumissão de um escravo podia lambera ser
prohibida por um pado ou testamento (í) ou por
uma lei, como por exemplo a lex Julia de aditlteriis
cora relação áquetles escravos , cujas manumissões
erão diíiiculladas por qualquer inquirição crimi-
nal (w).

2. Da manumissão para a civitas romana.

a. Requisitos em geral.

§ 15. Tres erão os requisitos principaes para


que o escravo viesse pela manumissao a obter a ci-
vitas romana.
Exigia-se que fosse o manumissor dorainus exjure
quirüium (a); que a manumissão fosse et justa ac
legitima, isto ó , r/indicla, censu, aut testamento (b).
(Estas tres manumissões ainda exislião no tempo de
Cicero); Do mesmo modo exigia-se, que tivesse o ma-
numeltido trinta annos de idade; porquanto mandava
a lex iEÜa Sentia, que aquelle escravo que ainda
não tivesse trinta annos de idade, nao fosse ávis, e
sim latims[c). Excepção era feita em alguns casos,
como por exemplo, quando a manumissão tivesse
sido vindicía e existisse uma justa causa manumittendi,
provada perante juizes competentes [d). Do mesmo
modo logo que o senhor nsolvente declarava livre

(0 L. 9 § 2 D. qui et a qulb. (ZiO, 9).


(m) L. 12—14 n. qul ct a qulb. (40,9),
(a), Gai. I, 17.
(b) fiai. I. c,
(«) Ulp. 1,12; Gai. 1,18 — 21; Fragm. Dosith. 10,19
(rf) Gai. 1,18; ulp. 1,12; Theophil. I, 5 $ Zi; V. § 13/
UIH. ROM. a
66 HISTORIA
em testamento o escravo, e o insliluin herdeiro (e).
Finalmente quando o escravo menor de trinta annos
era manumettido por testamento, poróui com a cláu-
sula expressa de só vigorar a manumissão quando
elle completasse a idade legitima (/"),
Não padece pois duvida determinar a lex Aelia
Sentia que o escravo raanumeltido antes de ter
completado trinta annos não obtinha a civitas
romana.
Ulp. I. 12. diz; « Eadem lege (sc. Mia Sentia]
cautuvi est, ut minor triginta annorum servus vindicta
mannmissus civis romanns non fiat nisi apud concilium
prohata fuerü. »
Gai. I, 18 — « nara ea lex minores triginta anno-
rum servos non aliter vduit mammissos eives romanos
feri quam si »
Segundo estas duas fontes pergunta-se, se o es-
cravo ainda não tivesse trinta annos, qual era a
determinação da lei quando de outro modo tivesse
elle sido manumettido? Eis uma questão bem deba-
nda, e que merece ser examinada.
Os jurisconsoltos allemães estavão perfeitamente
de accordo quanto á pergunta: o que se tornava o
escravo assim manumettido? Respondido Iodos a
mesma cousa: que uma tal manumissão não tinha
validade alguma, (tivcepío quando por testamento, por
delia resultar então o in liberlatc morari, depois a

(e) Ulp. I, llt; Gai, I, 21; L, 27 de manum. test. (60,6),


{f) Gai. II, 276; L. 39 § 2. D. iam. ercisc. [10,2,); L. 38, 66, D.
jnanum. test. (60,6); L, 13 § ult, de statu lib. (60,7); L. ult. D, de reb.
dubiis (36,5).
1>0 DIREITO ROMAMO PRIVADO. 67
latlnidade. Esta opinião se fundava nas palavras de
Ulp. 1,12.—«... ideo sine consilio rnanummum Cce-
saris servum manerc putat: testamento vero manu-
missum perínde haberejubet, aique si domini voluntate
in libcrtate esse, ideoque latinus fít. » Segue porém v,
Vangerow opinião diversa desta, e querelle: que
o escravo manumeltido antes dos trinta annos de idade
fosse latinus jmianus , c isto quer por (estamento,
quer de outra maneira manumeltido : por quanto
Gaius dá tres requisitos positivos para se obter a
civitas : nam in cujus personna iria hasc concurrunt,
ut maior sil annorum trigintUi et ex jure Quiritium
domini, et justa ac legitima manumissione liberetur,
id est vindida, aut ccnsu, aut testamento, is civis
romanm fit; ún vero aliqUid eorum deerit latinus
erit. » Assim Gaius diz, que logo que faltasse um
destes tres requisitos, consequentemente quando
também faltasse a idade competente do escravo para
podor ser mannmeuido , que fosse latinus. Impos-
sível seria que Gaius se exprimisse deste modo
quando o menor triginta annorum sendo manu-
meltido fosse latinus em um único caso. Para
aqui devemos ainda trazer a primitiva reslricçuo
da causce probatio mencionada por este juriscon-
sulto ; Gai, I, 29; « Eadem lege dília Sentia
cautum est, ut minores triginta annorum manumissi
latini facti» etc. Gai. I, 31 . «Hoc tamen jus adipis-
cendaj civitatis romanoe etiarnsi soli minores triginta
annorum manumissi, et latini facti, ex lege ddia
Sentia habuerunt, tamen posfeaScto... etiammajo-
ribus triginta annorum latinis faelio concessum est.»-
68 HISTORiA
Falia Gaius de § 12 a 36 dos differenles modos
por que se é manumeltído, e do effeito de uma ma-
numissão valida ; e só de § 36 a -48 dá elle as cau-
sas , que annullão uma manumissão. Necessaria-
mente teria Gaius nesta ultima parte, e não na pri-
meira como fez, fallado dos trinta annos do escravo
quando por ventura considerasse isto como um im-
pedimento para se obter a liberdade. Considerando
pois Gaius, etudo quanto elle diz, ecomparando-se as
expressões, por elle nsadnscom as que elle emprega
quando deve a manumissão ser nulla, não se poderá
duvidar então que Gaius pelo menos não considera
a falta dos trinta annos senão como ura impedimento
para o escravo ser civis, e não um impedimento para
a sua liberdade. Theophüus (gf) diz em geral, que
o escravo quando ainda não tivesse trinta annos,
sendo manumettido, não era senão latinm junianus.
Ouanto á palavra Cwsaris (ideo sine consüium
manumissum Cwsaris servum manere pulat, etc,),
é de que ella não pôde deixar de ser um engano,
é boje geralmente reconhecido (ft); e a opinião de
Petitus (t) não pôde ter quem hoje a siga. Scbultlng
ad h. 1. nota que se a lex ^Elia mandava que fosse o
liberto neste caso escravo do imperador, que então,
em vez da palavra servum manere devia-se ter empre-
gado a expressão servum fieri A maior parte porém
dos jurisconsultos antigos contentão-se cora riscar a
palavra Cwsaris; entretanto como é que foi o copistu

{g} Theoph. L. [, Tit 5. § U.


(h) V. Vangerow Latini Juniani p. 24 § 6.
(í) OJjBerwaü. lib. lí. cap. 5.
DO DIREITO ROMAMO PRIVADO. 69
metterno texto uma palavra estranha? Mas dado esse
caso pouco ganharíamos; porquanto teria Ulpiano
dito então: que pela lex yElia Sentia oquelle escravo
que ainda não tivesse completado os trinta annos de
idade fosse pela manumissão findlcta civis romanos
quando precedesse justiíicação de uma justa causa
apud conúlinm; tendo ellá (lex yfllia) pois, como
escravo aquelle, que fosse manumeltid-o sine con-
silio. Que se diga também de uma lei putat é notá-
vel , porém não deíxão de haver exemplos como na
L. 25deStatu lib. (40, 7) etc., e não é mal applicado
logo que se não queira dar a deterraioação expressa
da lei, e sim mais como um pensamento que partira
do legislador, e que indirectamente se manifesta
na lei. Para o nosso caso não podemos esperar senão
que seja uma conseqüência deduzida da mesma
lei , o que bem claro é pelo ideo Mas o que se se-
guiria senão que a lex ^Elia Sentia exige para o
escravo que não tem trinta annos de idade, o ser
elle manumettido vindicta apud consiiium para
poder obter a civitas, sendo assim o que fosse
manumettido stne comilio escravo!
Hugo na sua edição de Ulpiano julga ser era vez da
palavra Cwsaris o nome de um jimsconsulto ou uma
lei, o que se deva entender. Assim Puchta quer que
se leia em vez deCoesaris, Gassius, ao passo que Beth-
mann-Hollweg com mais approximacão do manus-
cripto quer que se emende a palavra com CiE. SABIS
(Cfelius Sabinus). Zimmern quer que, era vez de
Coesa ris se leia Senalun, que é então o sujeito de putat
e jubet; apoia-se emGai. II, 276. Schilling quer
70 HISTORIA
finolmente que se leia em vez de Ceesaris, ccnsuve.
Vangerow provando a incoherencia de todas estas
emendas quer que se considerem as palavras «ideo
sineconsilio manumissum Ceesaris ser oum manerc putat»
como umagíossa, que entrou no texto, e que delle se
deve riscar. Conservando-se essas palavras, quer se
risque Ceesaris, quer se troque com outra é sempre
um impossível explicar-se como é que pode UJpiano
considerar essa sentença uma eonsequenda, pondo-a
em contradicção com outras muitas fontes. Além dis-
to , levando-se em consideração o putat ea expressão
não latina : sine consilio manumissus em vez de :
causa apud consilium non probata manumissus; é
força confessar que tudo claramente demonstra ser
falsa a passagem em questão,
Toda dilíiculdade desapparece cortando-so essa
sentença. Ulpiano quer determinar os direitos do
escravo, que foi manumetlido antes dos trinta an-
nos. Ora, naturalmente épela differença das manu-
missões. DaraanumissiocenxM não falia por ter cabido
em desuso, assim como também não menciona a ma-
numi&no inter amicos, porque nada tinha de parti-
cular; assim, era o mesmo quer tivesse o escravo trinta
annos , ou não; ficava-lhe porém a manummiõ vin-
dicta, e testamento; e então o que diz elle é que o
escravo que fosse manumetlido vindicta era civis
romanns tendo precedido uma justa causa apud con-
silium ; quando porém manumetlido testamento, que
era então latinus.
Seguimos a opinião do nosso digno mestre : por
quanto se fosse o pensamento de Ulpiano dizer, que
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 71
o escravo que ainda não tivesse trinta annos sendo
manumettido, e não tendo precedidojusía causa apud
concilium, permanecesse escravo — não teria dito: «-
visromanus non fit. Assim, quando tratando da manu-
missão dada pelo senlior que ainda não tinha 20 an-
nos de idade diz elle: dominas manumittere prohi-
betur ( Ulp. 1,13) e não diz «servus a minore viginti
mnorum manumissus civis rornanus non fit.» Jul-
gamos mais com o Dr. v. Vangerow que alguém len-
do a sentença em questão entendeo-a assim ; a lex
iEIia prescreve, que precedendo uma causas prohatio
o vindicla manumissus seja civis romanus e o testa-
mento manumissus só oblinha o in libertole morari.
Ergo, pensou esse quem quer que foi, o que fôr
rnanumeltido vindicta sem causwprohatio permanece
escravo; e então julgara acertado escrever á margem
do seu manuscripto; ideo sine comilium manumissum
l. oe. s. (lex iElia Sentia) servum manere pulai.
Algum eopista tomando provavelmente esta obser-
vação por palavras do texto para abi as transcreveo,
e ou elle, ou outro depois trocando o 1. por C. lêo
então em vez dei. oe. s., Coes., donde facilmente
se fez a palavra Csesaris.
Não padece duvida que estas letras Cees. se achão
em todos os MSS. que possuimos de ülpiano; pelas
pesquizas de Savigny, e Hugo é certo que todos os
que conhecemos são copiados do MSS. que existe
no Vaticano.

b. Em particular das manumissões solcmnes.

§ 16. A mais antiga dastres manumissões de que


vamos tratar é sem duvida alguma a manimistio
I

72 HISTORIA
vindicta; e tinha lugar o açlo da manumissão por
uma legis actio perante o magistrado. Esta manu-
missão não era senão uma in jure cessio; uma appa-
rente vindicutio in lihertate. Quando a um escravo ou
homem inmancipio se queria conceder a liberdade
por um processo, seu defensor, asseri&r, apresen-
tava-se como auctor e dava principio ao aclo da
vindicatio cora o réu — pretendido senhor. —Agar-
rando o escravo com a mão tocava-lhe de leve com a
fesluca (/estoca s. vindicla] e pronunciava as palavras
solemnes do estylo; « Hunc ego hotninem ex jure
quiriliummeum esse ai o secundum causam sicut 'dixi:
ecce tibi vindictam imposui. » A este acto deveria
seguir-se da parte do senhor uma contraoindicatio se
por ventura se intentasse uma verdadeira tmdicalio;
poréjn era vez delia seguia-se a .manumissão. O se-
nhor largava o escravo que ate então tinha tido
seguro pela mão (mana mittebat); declarava ser sua
vontade conceder-lhe a liberdade fazendo o escravo
descrever um circulo [circumagere, vertere], ou tam-
bém declarando expressamente: « hunc hominem
liberum esse volo (a) etc.; » ou mesmo de ambos
os modos se quizesse, o que era mais geralmente
praticado. Seguia-se fazer então o prelor o que lhe
cumpria, declarando justa a assereão do assertor, o
homem livre , e civis romanas. A palavra manu-
missio é derivada deste modo de alforriar, e até
parece denotar ser ella a mais antiga que se conhece.
Quanto a se julgar, que a expressão vindicta empre-
gada para esta manumissão vem do escravo. Vin-

(a) Festus v. manumiltí; Isidor. Or, IX, Zi.

É
»0 DIREITO ROMAMO FRITADO. 71
dicius nào tem origem senão de uma graça sediça
e antiquada,e que foi depois tomada ao serio. Veio-
se a simpliíicar ainda mais esta manumissão. Em
principio era ainda o lictor quem fazia o papel de
assertor [h], depois dispensou-se ao senhor da assis.-
lencia nas formalidades, e lambem achou-se ser
incommodo o repelir o lictor ainda as palavras da
vindicação, conservou-se só a cereraonis da pan-
cada, que se dava com a festuca, ou sem ella (c);
por ultimo considerou-se inútil estar o lictor pre-
sente, bastando que o senhor onde encontrasse o
pretor, e só, sem assistência de alguém mais, senão
do proprio escravo, lhe fizesse saber, qual a sua von-
tade; e o protor então declarava o escravo livre (d).
A segunda manumissão conhecidaóa manumissão
censu. Esta manumisí, o tinha logar, quando o es-
cravo por consentimento de seu senhor era contem-
plado. no arrolamento do censor. O senhor nestas
vistas trazia o seu escravo perante o censor, que to-
mava a professio deste, e assim tornava-se elle livre
e civis. A confirmação porém deste acto do censor
estava no lustrum, e só um census luslralis infloia
para que este acto se tornasse valido. Com o ccnsus
lustralis acabou esta manumissão (e). Ainda no tempo
de Caius ó ella mencionada como existindo (/); j4
porém U1 piano a taxava de antigüidade [g].
{b) Schol. adPers. sat. V. 88; Boethiusin top. 2 (p. 288, Orem).
(c) L. 23. D. de manum. vlndicta. (4a, 2).
(d) nip. L. 8. D. de mamim. vind. (40,2): Ego quum In villa curo
prastorr- tuissem, passas sum íipud eum manumitti, etsi lictorl*
praisenila non esse t. Ulp. I, 7; Liv. IL 5; XLI, 9; Tlicoph. 1,5, § 4.
W Ull' 8; IL, 7.
\f) Gal. 1,17 e 44.
0?) Ulp. I, 8.
B1R. SOU. 19
7á KISTOMIi
Mantmissio testamento. Tinha lugar esta raanu-
raiesão quando o tesladov directarueBtB declarava
no seu testamento que ficava livre o seu escravo
{liber esto, liber sit, liberam esse jubwj. Oulra cousa
era a commissão transferida ao herdeiro de dar a
liberdade a um escravo [fideimnmma ou fideicom-
mssaria libertas], o que não era uma manuraissao,
porém obrigação para isso. Na libertos direclo data
era o testador o manumissor, e o mauumottido era
seu libertas; donde vem a expressão libertas oreinus
para significar aquelle liberto cujo patrono estava
no Orcas (A). Devia o escravo ser do senhor tanto
no momento em que se fizesse o testamento, como
tdnquelle em que elle expirasse (i). Devia o senhor
declarar expressamente que rannumellia o seu es-
cravo ; por quanto quando mesmo o tivesse insti-
tuido seu herdeiro, não declarando que ficava livre,
era a instituição considerada de nenhum effeilo.
Expressamente devia o senhor dizer; Slichus servas
meus liber, hercsqm esto, ou keres, Uherque esto {j).
Justíniano revogou este direito e mandou que
logo que o senhor tivesse instituído o escravo seu
herdeiro, que se devia entender tel-o lambem
mamimetlldo; de mane.ra que heres esto, ficou
eqüivalendo a liber et heres esto (&).
O imperador Consíantino instituio uma nova
menu missão, e tal era a mammissio m sacrosancíis

(k) tllp, 1,9. GaL 1. c.


(í) ül1 Í. 23.
O") íai. II, 186. 187: Wp. XXII, 7,12.
(A) L. 5. C. de necessariis servis heredib. íristilucndis vcl wbst,
(e, 27); pr. I. de heredibus instituendis (2, lã).
SO DIREITO ROMENO PR1TADO. 75
eeclesm. O senhor declarava na presença de sacer-
dote» ebristãos livre aquelle escravo que queria
manumetlrr dando-lhe um documento assignado
por elles como testemunhas (í).

3. Das manumissões pwra a laiinitas.

§ 17. 0 principio essencial estobelocido pela lex


Junra foi este : qui volmtate domini in libertate
fuerií, liber sit. Todos aquelles pois, que o senhor
manumettisse minus solemniter, isto é, aquelles que
elle declarasse expressamente livres, que porém nao
tivesse munumiettido segundo as formalidades esta-
belecidas e de que já tratamos nos §§ antecedentes,
erão livres, porém latim.
Para as manumissões menos solemncs não tinhào
os- Romanos expressão alguma , elles apresentarão
porém como representativa destas manumissões a
mais commuin d'en(re elios, qual era a imnmnissio
rnlef amitos fít). Esta manumissão consistia em de-
clarar o senhor perante1 testemunhas ser o seu
escravo livre (í>). A palavra amiei não deve ser
tomada aqui como antigamente muitas vezes acotí-
fecia pela sua signiQ cação stricta, e sim por teste-
munhas (e). Amiet com esta significação é muitas
vezes nsada pelos Romanos (d).
Como a mammisisio inter arnim só pudesse ter
(0 L. 1, 2 pr. C. de hisqui in eccles. (1,13).
(a) Gai.1, M, h!u
(fr) L. un. C. delat. lib. toU. (7, 6).
(c) Dirkscn, Versuch zur Krttik und Anslegunç dev QadleM das
rõm. Hcdils, Leipz. 1823. p. 88 sega.
{d) Consuite-M GaL II, 25.
HISTORIA
lugar com relação aos presentes , por isso também
se inanumeítia per epistolam áquelles escravos que
por ventura estiy.essenA ausentes. Dirksen considera
estas duas manumissões como o typo das manumis-
sões menos solemnes. Enlretanto não se exigia só
declaraçãò expressa do senhor, bastando qualquer
acção de sua parte da qual se podesse concluir ser
essa a sua vonlade, como por exemplo o facto do
j o senhor á mesa o seu escravo: manumissioper
mensam, s. cònvivii adhibitime. Sendo esta manu-
laissáo a mais vulgar de todas as que se fazião por
esse modo, era ella considerada como a represen-
tativa daquellas que lhe fossem analogas (e).

A. Das manumissões dos dediticios.

§ 18. Ordenou a lex Jllia Sentia, que todo nquelle


escravo, que tivesse sido marcado com fogo, ou que
tivesse combalido com feras, ou sido gladiador, no
caso de ser mauumettido, que só podesse pertencer
á condição dos peregrini dediticii (a). Charaavão-se
peregrinos dediticios os que oombatèrào contra o
povo romano, e que com as armas nas mãos venci-
dos, se renderão jè). Taes escravos, por qualquer
modo que fossem manumettidos, e qualquer que
fosse a sua idade, embora fossem pleno jure Domino-
rmn> não erão nem eives romanos, nem latinos, e
sim por Iodas as fôrmas dediticiorum numero 5).

(e) Gai. Epit. L. 1 T. 1. § 2.


(«) Ulp. 1,11; Gai, 1,13.
(b) Gai. 1,14.
(c) Gai. I, i5.
BO DIREITO ROMANO FRITADO- 77

B. — Outras causas da liberdade além da manumissão.

§ 19. Obter a liberdade também podia o escravo


sem mesmo preceder uma manumissão. Ouaes
sejão os casos em que isso acontecia é o que agora
vamos expôr.
Era livre o escravo, que por velho, ou enfermo
tivesse sido abandonado pelo senhor, e isto por um
edicto do tempo de Cláudio (a). Pelo Senatuscoa-
sullutn Silanianum era lambem livre o escravo que
descobrisse o assassino de seu senhor (b]. 0 que
descobrisse, e denunciasse crimes mportantes, e
seus auclores (c) ; assim aquelle que denunciasse o
rapto de virgem (d); um moedeiro falso (e); um
deserlorl/"). Pela prescripção obtinha o escravo do
mesmo modo a liberdade, quando tivesse vivido o
lomjvm tempus de dez ou vinte annos estando de boa
fé; não estando erao-lhe precisos trinta annos ((/).
Assim também, por ordem de Mai*cus e Comraodus,
o escravo alienado sob condição de serrnanumettido,
quando a obrigação não fosse satisfeita ficava elle
livre (/i), sendo porém liberto do comprador (f). No

(a) L. 2. D. qui sine manum. (/(O, 8}.


(b) L. 3. § k. D. de suis et legit. (38,16);L. /[. D, de bon. libert.
(3à,2J; ]„ 6. D. qui sine manum, (/|ü,8).
(c) íi. 2—h. C. pro quib. caus. serv. (7,13)-
W L. 1 § /( C. Th. de raptu virg. (9, 24).
M U 2. C. Tü. de falsa moneta (9, 21).
(/) L 4 C. Th. de desertor. (7,18).
W L. 1. 2. 3. C. de longi tempor. prssscr. quae pro libert (7, 22);
L. 3. 5. C, Th. de liber. causa (4, 3).
(4) L. l. 3. 4. gpr,; L. 9 D. qui sine manum. (40, 8); L. 15 g 1 D.
de condict. causa data (12, 4); L. 3,10 D. de serv. export. (18,7); L-
10, D. d nanumiss. (40, 1); L. 2, 6. C. si mancip. (4, 57).
(f) L. 3 § 2. D. de legit. tul. (26,4); L 8 g 1. D. de jure patron.
(37,14).
7S HISTORIA
tempo de Trojuno pelo Senatusconsultum Arliculeia-
num maudou-se , que o magistrado tomasse conhe-
cimento e fuesse a manumissão no caso da liberdade
lideicomrnissaria, quando o herdeiro não fosse da
mesma província (j); ou quando para não cumpríl-a
se ausentasse, (Sctum Rubrianum); ou quando mesmo
estivesse ausente ex justa causa, sendo nesse caso con-
siderado como mamiraissor, (Sctum Dasumianum).
Por um Sctu m Vitrasianum devia o pretor interpór a
sua autoridade no caso de sftr o herdeira infans, e
como tal impedido de eraprebender o acto da ma-
numissão. — O Sctum Junianura prevenia o caso
em que o escravo cuja manumissão fôra incumbida
a outro não pertencesse ao teslador (Ã|.
Pelb jus Postlímini, era livre aquellc que voltasse
do capliveiro [l)f

n. DA CONDICÃO
a DOS LIBERTINOS.

A, —Considerada em si mesma.

1. Da condição dos tiberLini eives romam.

§ 20. Além dos patrícios e plebèos outros cidadãos


romanos haviâoos quaes se diflerençavão-daquelies,
em não terem o^us honorum (jus. magistratus capmdi)
nem o jus suffragii; que em summa não erão opiimo

Cí ) L- 51 g 7. D. de íidciromra. ;lil)ei:t. (40, 5J..


(kj L. 26 g 7—11; L ?7, 28 pr. $ I, 2, 3;L. 33 p;I. 35 pr.;
L. Afc D.dHÍldeicom. libeiL (AO, 5),;t. 22 ;f2iE. 36 pr..; L 51 %fi, 5,6.
D. de /idcicouun. Kbert, {AO, 5),; L. 30 D. de fldeicomni. liaered.
(AO. 5); L. 5. . de ffddcomHn. liberL (AO. 5).
(L). t. At 5, IA, 16, ÍS. D. de captiv. (49,. 15); $ í T. de ncg. (1-, A).
00 DIREITO ROMANO PRIVADO, 79
jure cket. Entre estes ostavão compreheadidos aquel-
Jes escravos, que linlião sido manumettidas por
cidadão romano, e do mesmo modo seus filhos, Es-
tes tinhão a faculdade de votar nos comitia ccnluriaía;
erão porém excluídos da magistratura, e do senado.
No senado até mesmo não podião entrar os netos
de um libertino * e talvez que o mesmo acontecesse
para a magistratura por ser ella a porto para o se.
nado. Na mão dos libertinos achava-se a industria,
com a qual se não oocupavão os ingênuos, e seus
descendentes , á excepção talvez dos estrangeiros
estabelecidos em Roma por ser a industria, e o
coinmercio tidos era cousa de pouca monta, e
por isso interdictos a patricios e plebeus. Os liber-
tinos votavão nos comitia centuriata, e muitos d'entre
elles linhão graugeado riquezas consideráveis , e
com ellas grande importância nesses comidos, para
o que linbão também a vantagem de morarem todos
na cidade, não perdendo elles assim reunião alguma,
ao passo que o mesmo não era possível a muitos ple-
bêos por morarem fóra, nas suas quintas. Além disso,
seus negodos os cbamuvão Iodos juntos ás praças,
e ás ruas, donde veio o nome que se lhes deu depois
como partido — forensis faclio- Como um partido no
Estado, e com influenda tal, e sempre crescente
appaveeêrâo elles desde o 5.° século trabalhando
por obter os direitos de plebôos. Era meados desse
século dous homens apparecèrão e se ligarão;
um delles tornou-se o chefe do partido, e foi Cn.
Flavius, o outro foi Appius Ocus, Este Appius, da
família dosClaudios, sendo censor, emprehenden
80 HISTORIA
pelo odio que votava ao partido plebeu — moles-
tal-o e corrompei-o, admittindo nessa classe mem-
bros cuja condição era desprezível; isto fez ellc
sem pensar que desse modo vinha a fazer mal á
classe a que elle mesmo pertencia. Admittio Appius
os libertinos nas tribos, e fél-os plebêos; espalhou-os
por todas as tribos, dando-lhes com isso influencia
real nos tributa coinilia, onde só comparecia uma
parte dos plobèos. Ainda mais, admittio no senado
filhos de libertinos. Em summa, Flavius, filho, ou
neto de um libertino , occupou logares importantis-
siraos na magistratura (a). No anno de 565 uma lei
do tribuno Terentius Culleo revogou uma das gran-
des restricções perrailtindo que fossem os filhos de
libertinos tratados como ingênuos no censo (6).
Desse tempo em diante foi então que principiárao a
ser comprehendidos na classe dos libertinos somente
aquclles que tinhão sido escravos (c). Os libertinos
erão excluídos das legiões; podião porém servir na
flota [d]. Não tinhão conmbium com ingênuos (e).
No terceiro período erão elles ainda considerados
eives romani, latini ou peregrini. Os primeiros erão
aquelles que tinhão sido manumettidos por um civis
romanwi segundo todas as formalidades legacs, como
já tudo fica exposto nos §§ antecedentes. Depois da
lex Julia ficárão elles tendo connubium com ingênuos

(fi) Liv. IX, 46.


(6) Pluiarcli. Flamin. 18.
(e) Liv. XLV, 15; Suetoti. Claud. 24.
(d) Liv. XXXVI, 2; XL1I 27, 31; XIJII, 12.
(«) Liv. XXXIX, 19.'
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 81
oxcepto povóm com senarlores e filhos desles (/"];
conlinuavâo polr inhibidos de servir nas legiões, de
servir cargos de honra, tanto emlíoma, como nos
municipios, sendo excluídos até mesmo do decu-
rionalo. Não raras vezes concedia o príncipe a um
libertino o jus áureo rum annulorum, elevando-o
assim á condição de cavalleiro [g]; e finalmente pelo
nalalium resiilutio ]iodia o príncipe fazer desappa-
recer até mesmo toda a nodoa da sua ascendência (h).
No q uurto período ainda subsistio a mesma divisão
dos libertinos em dves, íatini, e dediticii; e do mes-
mo modo erão ainda excluídos dos empregos pú-
blicos (t). Por ultimo foi tudo reformado pelo impe-
rador Jusliaiano.

2. Da condirão dos latini jmiani,

§ 21. A lex Junia Norbana regulando a condição


daquelles escravos manuraeltidos menos solemne-
menle mandou que fossem latinos, e deu-lhes o
nome de latini juniani (a). Quanto á epocha em que
foi publicada esta lei, não padece duvida ter sido
em 772, consequentemente de ser posterior á lex
iElia Sentia (756).

{f) Dio Gass. LIV, 16; LVI, 7; L. 23, M, U9. D. de ritunupt.


(23,2); L. 9. D. de senator. (1,9).
(y) lio Cass. XI.VIII, 45 LIII, 30; Sueton. Galba 14; Visell. 12 ;
Tacít. hist. 1,13; II, 57.
(A) L. 2,3,5. D. de natal rest. (40,11); L. 10 § 3. D. de in jus voe.
(2,4); L. 3 § 1 D. de bon. libert. (38,2); L. 2. C, de jure aureor. annuL
(6,«).
(t) L. 3. C. Th. de libert. (4,11); L. 1. C. J. ad leg. ViseU. (9,21);
li. 9. C. J. de dignit. (12,1).
(a) Gai. I, 79.
dis. rov, li
82 historia
Tinhâo os latini juniani o jus eommercii, mas não
o jus connubii (6). Não tinhâo testamenti factio (leti-
va (c), pelo que não podiãb testar, vindo seus bens
a caber ao manumissoi' jure pcculü por morrerem
clles como se fossem escravos. Geralmente se diz
não terem os latini juniani testamenti factio passiva
por determinação especial da lex Junia. Confundia-
se porém com a testamenti factio passiva, a capaci-
dade, sobre o que só nestes últimos tempos se fez
reparo. A determinação da lex Junia só se refere ao
non capere posse, no que concordão perfeitamente as
nossas fontes (d). Isto procuraremos demonstrar,
ainda que suecintamente. Quando os Romanos di-
zem : Mihí cum Titio testamenti factio non est: que-
rem elles dizer que o não podem instituir herdeiro
ou lembrar era testamento. Assim, quaudo alguém,
que por ventura não tenha a testamenti factio pas-
siva, tenha sido lembrado deve ser essa disposição
considerada como se não existisse, e pelos prin-
cípios estabelecidos não podia ella tornar-se valida
ainda quando o lembrado viesse a ter a testamenti
factio. Em summa, a testamenti factio passiva deve
necessariamente existir já no momento da confec-
ção do testamento, e no da adquisição;- por quanto,
ainda que venba depois, em nada influía. Muda
entretanto de figura quando é prohibido a alguém
o capere por lestarnenlo de outrem. Neste caso não

(b) Ulp. XIX, a; Gail, 56, 57, 67, 68, 70,75.


(c) Gai. 1,23; Ulp. XX, ih.
(d) Gai. I, 23; Ulp. XXII, 3; compare-btí com Gai. I, 24; 11, 110,
275; Ulp. XXV, 7.
DO DIRSITO ROMAHO PRIVADO. 83
se pôde altender ao xnouienlo da confecção do tes-
tamento, e sim ao tempo por vir em que se fosse
realisar a adqnisição, por isso que não era probibido
lembrai', só era probibido adquirir', o que das
fontes mui bem se collige. A disposição pela qual
tivesse sido lembrado ura latinus jmianus não se
tornava nulla, como aconteceria se Ibe não fosse
permiilida a tcstamenü faclio passiva; portanto logo
que elle viesse a ser civis romanos ficava ella tendo
validado. Tlnbão pois os latini juniani, testamcnti
fàdio passiva, só não tinbão capacidade, pelo que
a disposição em favor delles não devia ser conside-
rada pro non scripta, podendo unicamente vir a
caducar; differença esta, que fazia a lex Julia et
Papia Poppaea. Caducar diz-se era geral de tudo o
que tendo sido inslituido valido veio depois a tor-
nar-se de nenbum efleito.
Não tinha o latino juniano capacidade para ser
tutor testamentario (e). Quanto aos filhos de um
latino, é sabido, que se elles nascessem depois da
manumissão erào ingênuos, e era esta a vantagem
que tinha a lalinidado sobre o simples in liberlate
esse por nascerem escravos os filhos dos que se
achassem nesta condição, logo que pela lex iElia
não fosse concedida a causce probatio. Na condição
dos filhos existem as seguintes differenças: se erão
de latinos [f] convinba saber com que mulher
tinbão sido procreados. Se o latino se tivesse

(«) Gai. 1,23; Ulp. XI, 16.


(/■) Entejide-sc que se falia de filhos de matrimônio, porquanto os
vui/jo guxsiti juridicamente são sine paire.
8A HISTORIA
casado com uma civis romana, erao os filhos
eives romani [g], por não ter havido connubium
entre os pais. Se a mulher fosse porém latina, erão
os filhos pelo monos logo latinos ingênuos [h], Esta
condição entretanto era passageira, por Isso que os
filhos obtinhão depois a civil as pela causes probalio.
Se porem fossem os filhos procreados com uma
peregrina seguião a condição da mãi, e erão pere-
grinos por não se dar connubium com sua mãi (i).
Os filhos de uma latina erão latinos ingênuos,
fossem elles de quem fossem. Se se casasse ella com
um latino, erão os filhos latinos por seguirem a con-
dição de seu pai; se tivesse casado com um civis
romanus erão os filhos latinos, por isso que devião
seguir a mãi (k). Fazia-se uma excepção em um
único caso, e era quando se concedia a um civis
romanus connubium com uma latina, sendo então
os filhos romanos {/),
Adquiria um latinus junianus a civitas romana
da maneira seguinte:
Iteratione, Isto ó quando depois se cumprião
todas as formalidades das manumissões solemnes;
o que só podia partir d'aquelle, que sobre o latinus
tivesse o jus quiritium (mj.
Pela amiculi causes probalio da lex dElia Sentia.
A.quelle escravo que por falta de idade legal, isto é,

{g) Gai. I, 80; Gai. I, 30, 66.


(A) Gai, 1. 66;Ulp.in, 3.
(t) Gai. I, 81.
(A) ülp. V, 9, compare-se com Gai. 1,67.
([} Gai. I, 57.
(m) Ulp. III, 4,
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 85
que nao tivesse os trinta annos completos} pelo que
não oblinha a civitas pela manumissão, se casasse
com uma civis, ou uma latina colonaria, ou mesmo
com uma mulher que pertencesse á sua condição e
manifestasse perante sete testemunhas, as quaes
devião todas ser eives romanas, terem sido suas
vistas contrahir matrimônio valido , e com a for-
mula Hberorum qucBrendorum causa; quando desse
matrimônio tivesse lido um filho, e este comple-
tasse um anno de idade [anniculus] podia elle então
apresentar-se ao pretro ou ao presidente da pro-
víncia, expòr-lhe o facto {causam probare] e alcan-
çava a civitas com a declaração do magistrado de
ser o facto exacto; e não só elle, como também sua
mulher e o filho («). Estendeu-se depois esta deter-
minação da lex ./Elia Sentia por um Sct. do tempo
dos cônsules Pegasus e Pusio no reinado de Ves-
pasiano a todos aquelles casos em que o manu-
mellido só tivesse obtido a latinitas (o). Entretanto
permaneceu sempre o principio de que este modo
de obter a civitas só cabia a ura lalinus; podendo
uma latina só oblè-la se por ventura tivesse por
marido ura lalinus junianus (p). Admira que isto não
fosse notado por jurisconsultos modernos.
Erroris causw probatiü. Antes da descoberta do
MS. de Gaias não se conhecia esta instituição senão
por uma passagem muito incompleta e truncada de
Ulpiuno [q]. Hoje dá-qos porém Gaius noticias

(n) Gai. I, 29.


(o) Gai, T, 31.
Ò?) Gai. I, 61,68, 69,70.
(7) Ulp. VII, li.
56 nisToniA
exactas (r). Quando ura civis roraanus tivesse casado
por engano com uraa latina, peregrina, oudediticía,
julgando-a civis romana, os filhos havidos d'esse
inati iinotuo não podião cahir no poder do pai, por
isso que nem ao menos obtinbão elles a civitas,
« sed ex senatuscomulto permitlitur causam srroris
probare et ita uxor quoque et jiUui ai ávitatem ro-
manam pcrveniunt, et ex tmpore incipit fdius in
potestate esse. » 0 que soffria porém uma exeep-
eão cora relação á mulher quando era ella uma
dedilicia, por não poder esta jamais obter a civitas
romana (s). O mesmo tinha lugar quando uraa civis
romana casasse cora ura peregrino ou dedllieio jul-
gando-o romano, ou latino, dado que neste ultimo
caso tivesse ella observado as formalidades da lex
iElia Sentia. Se tivesse tomado por marido a um
dediticio tinha lugar a mesma excepção, o que se
deprehende facilmente por não poder este obter
a civitas, e por conseguinte patria potestas (t). 0
mesmo tinha ainda lugar, quando uma /atina fvesse
casado com mu peregnnojulgando ser elle latino («)•
Do mesmo modo lambem se um latino tivesse casado
com uraa peregrina na supposição de ser ella latina,
ou civis romana, observadas as formalidades da lex
iElia (v). Além destes casos, também quando um civis
romanus julgando-se a si proprio latino tivesse
casado com uma latina; ou julgando-se peregrino
TI—■■'■r ■1——'—1 ;■ w— r—
(r) daí. r, 67 e seg.
(í) Gal. I, 67,
(t) Gai. 1,68.
(u) Gai. 1,69.,
(v) Gai. I, 70.,
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 87
tivesse casado cora uma peregrina [x]. Por Gaius
sabemos nós que a erroris probatio nao foi iutrodu-
zida pela lex iElia Sentia, e sim por ura Scto ; assim
como só por elle [y] lemos noticias exaclas sobre a
origem da erroris causae probatio como já dissemos.
Quanto á epocha era que appareceu o senatus-
consulto só podemos julgar, que foi posterior á
publicação da lex yElia, e anterior ao tempo de
Adriano (x). Quanto á hypothese de Gaius (aa), de
que seja elle o Sct. Pegosianum para isso não se
basêa elle era fundamento algum. O matrimônio
devia ter sido contrahido, assim como devia um
dos esposas estar em erro sobre a condição do
outro [bb). Deste casamento devia ter nascido uma
criança não importa de que sexo (cc). Se a criança
devia ter ou não ura anno é duvidoso; entre-
tanto que assim se tornava necessário em certos
casos, pelo menos é o que se pôde deprehender das
palavras de Gaius [dd]. Só nos casos acima mencio-
nados concedia o senado a erroris prôbatio, e por
ella obtinhão a civitas romana tanto o marido como
a mulher e os filhos.
Miliíia. Por uma lex Visillia que geralmente se
diz do anno 777, aquelle htinus, que servisse nas
cohorles, mililes vigües, seis annos em Roma, tor-

ta;) Gai. I, 71.


(y) Gai. 1.67 e scgs., II, 142.
(z) Gai. I, 73 ; II, 143.
(aa) Oans, Scholien p. 125.
(bb) UIp. Vir, 4.
(cc) Goi. 1,72.
(dcí) Gai. I, 73.
83
MISTOniA
nava-se àvu, O que foi depois reduzido a Ires annos
por um senalusconsulto [ee].
Nave. Por um edicto do tempo de Cláudio torjia-
va-se romano o latino que tivesse construído um
navio de 10,000 modii, e nelle tivesse carregado
trigo para Roma por espaço de seis annos {(f).
jEdificio. O latino que tivesse applicado certa
parle de seus bens (quanto não sabemos) para edifl-
car em Roma [gg],
Pistrino. Mais do que esta palavra não conbece-
mos, e só sabemos que pistrino obtinha o latino a
civitas {hh). Talvez que por ella se deva entender
o facto de estabelecer uma padaria*

3. Da condição dos dediticii.

§ 22. Da dediticia libertas resultou uma classe


especial de peregrinos; sendo adiírerenon mais com
relação ao direito publico do que ao privado: assim
aos manumettidos que estavao no caso da lex üllia
Sentia, e que por isso erão dediticiorum numero nao
podia ser feita applicação de direito algum proprio;
porquanto is qui dediticiorum numero esí testamentum
faeere non pole&t cum sit peregrinus, nec quasi pere-
grinus qmniam nullius certa civitatis civis est, ut
adversas leges civitatis sua testelur [a).
Os escravos que tivessem coramettido crimes
sendo manumettidos por um cidadão romano nao

(ee) Ulp, m, 5.
{ff) Ulp. III, 6; Gai. I, 33.
(gg) TJIp. IH, l;Gal. 1,33.
{hh} Ulp. III, 1.
(a) Ulp. XX, ia.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 89
obtinhão senão a dediticia libertas; e mais ainda,
não podião de modo algum obter a civitas; e se
fossem agarrados em Roma ou perto de Roma (mira
centesimum miliarium] erão vendidos pelo Estado
como escravos, e não podião ser outra vez manu-
mettidos; e caso o fossem , tornavâo-se então es-
cravos do povo romano (6).
Justiniano só falia em tudo isto como já tendo
cabido completamente em desuso (c).

i. Dos Statu liberi.

§ 23. Statu tíber est qui statutam et destinatam in


tempus vel condilionem liberlatem habet («]. Entende-
se pois por slatulibor aquelle escravo designado
livre, mas que ainda para sel-o dependia isso de
um acontecimento futuro; isto é, que linha sido
manumettido com uma condição ou modus [b]. No
tempo das tres manumissões solemnes só podia ter
isso lugar pela mánumissio testamento (c) e de duas
maneiras; já por condição expressa, já por condição
tacita (d). 0 statuliber em quanto não se realisasse
a condição era escravo do herdeiro (e), e como tal
considerado com relação ao serviço (/"), á aíiena-

(b) Gai. 1,13—15; Ulp. 1,11; Gai. 1,25-27; Paul. IV, 12, 3—8.
(c) Cod. VII, 5 de dediticia libertate tollenda,
(а) L 1 pr. D. de statulibaris (/(O. 7).
(б) Madai, die Staluliberi. Ilalte 183/(, 8.
; e) Ulp. II, i; Gai. U, 200; ''estus v. statuliber.
{(/) L. 1 pr. § l. D. de slaluliber (50, 7); L. 12 § 7; L. 13 D. aui et
a quib. (50, 9).
(") Uai. II, 200; Ulp, II, 2; L. 9pr. de statuliber. (50, 7).
{f) L. 3 §8. D. de statuliber, (50,7).
SlR. bomino. 12
insrcmu
cão [g], á bypotheca [hf, e noxfle dediíid [i], teudo-se
sempre porém oKeneão cora a condição pendente.
As sdqnisiçõés feitas nesse tempo calnão ao senhor
quando não tivesse sido legado com a liberdade o
pecúlio conjunctamente; porque neste caso cabiâo
as adquisicoes então ao pecúlio (j). Um tal escravo
não perdia esse direito á liberdade [k\, ainda mesmo
quando tivesse sido reduzido á escravidão enne-
miga, obtcndo-o outra vez logo que voltava (?).
Quando se verificasse a condição era elle livre,
como se o tivesse sido directamente pelo têstador (m
o que linha lugar ainda quando mesmo se tivesse
tornado impossível ao herdeiro satisfazer a condi-
ção [n). Se o herdeiro quizessc manuraettír o escravo
antes de se ter verificado a condição não lhe era
vedado, e ohlmha sobre elle provisoriamente o
direito de patrono; porém só o podia fazer latims (o);
e só era elle civis quando se realisasse a condição,
e então liberto do manumissor [p],
Se a ma nu missão condicional fosse fldcicoramis-
saria, erão-lhe applicaveis estes mesmos princípios

(q) TJlp. II 3; L. 6 § 3; L. 25. D. de staluliber, (40, 7)'.


(h) li 13gl, D. de pigjior.(20,1).
(»■) L. 9pr. §2; D. deslatuliber. (40, 7); L. 14 § 1; L. 15. D. de nox.
act (9,4)-
(Í) L. 28 § 1. D. stalulib. (46, 7).
W Ulp. 11, 3; L. 6. D. si ex. noxali causa (2, 9).
(0 1.12 § 10 D. de captfv. (49,15).
(m) L. 23 § 1. D. de mauum. testam. (40, 4); L. 3 § i. D. de
.statulib. (40, 7).
(n) Ulp. II, 5; Festus v. slatulibei'! L. 3 § 1, 7. 16. D, de statulib.
(o) L. un. § 7. C. de latina libert. (7, 6).
(V) L. 2 pí. D. de statulib. (40, 7)>; L. un. §7.C. de latina libert.
(7,6),
DO DIRIITO ROMANO PRITA0O- 81
analogamente {^); o liberto porém era sempre li-
berto do herdeiro.

B. —Direitos do patrono.

§ 24, Com a manurnissão não ncubavão certas


relações entre o raanumettido, e o raanumissor,
conservando ainda este, cora o nome de patronus,
muitos direitos importantes, jura patronatus, com
relação áqnelle, e a seus bens, além dos deveres, e
obrigações que lhe erão devidas. O liberto pelo bene-
ficio, que tinha recebido de seu senhor conce-
dendo-! be a liberdade, devia considera-lo como pai,
e como seu protector (a); tomava o seu nome (b); e
permanecia intimamente ligado á casa (c). 0 patro-
nato no seu todo tem estampado o cunho de cos-
tumes antiquissirnos, e que por leis [d], pelo edicto
pretorio (ej, e pela jurisprudência {[] foi regulado,
e inlorpreíndo. Com rélação aos patrícios o patronato
formava uma parte da antiga clientela, nao sendo só
o liberto que ficava ligado á familia do senhor, e á
sua gens, porém também seus descendentes e li-
bertos. Comtudo não é certo, que já então houvesse
ura patronato plebéo sobre os libertos. Depois da
lei das XÍI taboas tendo desapparecido a differença,

(?) L. 21. 51 $ 3. D. de fideicorain. libert. (49,15).


(a) Jm 9. D. deolscq. (37,15).
(i) L, 77 § 15; L. Hü § 6. 13. de legat. II. (31); L. 94. D. de tegaL.
III (32); L. 108 D. de conü. (35,1).
(c) Cie. ad famil. XIIÍ, 23.
(4) Ulp. XXÍX, 1; Gai. líl, «0; Vatic. fragm. S 308.
ie) p, 7 S 4. D. de obseíj, (37; 15).
(/) ntp. XI, 3; I,. 3 pr. D. de legit. to». (26,4),
92 HISTORIA
que havia entre patrícios, e plebêos, podia até
mesmo um liberto vir a ser patrono de seus
libertos (j).
linha o liberto obrigação de se mostrar oflDieíoso
e respeitosa em todos os tempos para com seu
patrono—oheqmum et revercntiam praslare debet (ã).
Para mauutengao deste direito tinha o patrono já
nos tempos mais antigos poder disciplinar sobre o
liberto (i); depois íicou-Ihe poder para desterra-lo
para fóra da cidade j]; e por direito posterior até
mesmo podia reduzi-lo outra vez á escravidão sendo
o liberto ingrato [k). 0 dever de gratidão e piedade
estendia-se por um lado aos filhos do manumet-
tido (/); por outro lado passava também essa obrigação
para os filhos (m), e herdeiros (n) do patrono.
0 liberto só com licença do pretor é que podia
chamara juízo o patrono, seus filhos e seus pais (oj;
com uma acção infamante só, em casos gravíssimos
podia fazê-lo (p); e nunca accusa-lo (g). Tinha lam-
"1 " • ' " ' • ■■ 'TT" "
(g) L. 5 S 22. D. dc agnoscendis ct alend. liberls. (25, 3).
(A) L. 5 § 3. D. de off, procous. (1,16); L. 4 § 16. D. de doli maU
excento (dl, dV
(») Valer. Max. VI, 1,4.
U) Tacit., Ann, XIU, 26.
(k) Vid. < >8,
(i) L. 3, C. 'i'h. delibcrt. íd, 11); L. d.C. delibert. (6,7).
pn) L. 5 § 20. D. de agnosc. liberta. (25,3);L. 1§10. D. de off. praef,
Wb. (1, 22); L. 9 § 3. D. de oílic. procons. (1,16; L. 1. D. de jure
pairo (39.14).
(n) L. 2. 3. a Th. de libert. (d, 11); L. 3. C. de libert. (6. 7).
(o) Gai. IV, 66,183, 1S7; L. d S 1; L. 10 § 6—9;L. 2d, 25. D. in
jus voe. (2, d).
(p) L. 10 § 12. D. dc in jus voe. (2, d); L. 2.5 § 2; L. 6,7, pr. D. de
obseq. (37,15)?L. 2, C, de in jus voe, (2,2); L. 2. C. qui et advers.
quos in integr. restit. (2, d2).
(q) L. 8. D. de accusat, (d8, 2); l. 21. C. de accus. (9,1); L. 2 C.
Tb. de libert. (d, 11); L. d. C. Th. ne praeter criinen majest. (9, 6).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 93
bem o liberto obrigação em caso de necessidade de
alimentar o patrono, seus filhos, e seus pais (r); edo
mesmo modo de servi-lo em outras oceasiões; iá
administrando seus bens, já encarregando-se da
tutela de seus filhos quando para isso fosse cha-
mado (s).
Estes direitos todos tinhão os filhos do patrono
como membros naturaes da casa , e não como her-
deiros. razão por que lhe cabiào sempre ainda quando
mesmo tivessem renunciado á herança, ou tivessem
sido desherdados (í). Por um senatusconsalto do
tempo de Cláudio perrailtia-se ao liberto por uma
asngnatio liberli, não caber o patronato a todos os
filhos commummente, e sim a um, ou a alguns (w);
e por uma tal assignatio podião até mesmo os nems
obter o patronato (u); quando porém ha1 ;ao muitos
manumissores estendia-se a assignatio áquelles, que
a tinhão emprehendido (a:).
Além destes direitos que por lei perlenciao ao
patrono, podia este ainda fazer com que no momento
da manumissão lhe fossem prometlidos certos
direitos; nisto estava coraprehendida a reservada
certos presentes (y), e serviços (dona et munera).

(r) Dosith. ITadriani scnícnt. 8; Paul. sen. rec. ÍI, 32; L. 6 § 18—■
21,24.25,26. D. de agnosc. liberis. (25, 3); L. 24. D.dejuvc. patron.
(37, 14).
(p iJionys. XI, 36; L. 19. D. de jure patron. (37,14); Vatic. fragm.
§ 221.
(í) L. 9, T). de jure patron. (37,14); Gai. m, 58.
(«) L. 1. D. de assign, l)b. (38, 4); pr. § 1—3. I. eod. (3, 8).
(p) L. 3 § 1. 2. D. eod.
(jj) L. 2. 3. pr. D. eod.
{y) L. 7. S 3. L. 47. D. deoper. libert. (38,1); L. 53, 194,214. D.
de verb. sign. (50,16).
94 insTOftiA
Os sorviços ou erão opem oflicialcs, e tievmo ser pres-
tados sempre que o patrono os exigisse {?); ou operas
fahriles (aaj; e peste caso para que fossem obriga-
tórios devia a promessa ser feita pelo modo de uma
stipulatio [bb], ou por um juramento (cc). Se a pro-
messa fosse feita com relação aos Qlbos, linhão estes
direito ao seu cumprimento, ainda mesmo quando
pão herdassem do patrono (dd). Sem promessa ex-
pressa ás operw offifíiales, oeabaváo ellas com a pessoa
do patrono; os outros serviços porém passaváo para
seus herdeiros (ee), e para seusülhos {[(]. Slipular di-
nheiro em vez de serviços da parle do liberto já desdo
a lex dilia Sentia que era prohibido sob pena de perda
do patronato {gg). Presentes e serviços era tudo pois
o que se podia exigir do liberto pela liberdade que
se Ibe linha concedido. Havia para isso porém uma
w^jçção, qual era não poder o patrono receber
esses presentes, e stipular tfhs jerviços sem perder
o seu diroito á herança do liberto. Quando o pa-
trono exigia do liberto dom el mmera [hh] , ou
■■ IM, n. m, , figfwujmjij » ii|i MHJ,,,,.», , ,_III n>|
(z) L. 1. 3. 13S2iI* 15 pi.; L. 18 § U 17,22.pr.; L. 33 S 15
L, 26 pr.; L. 38. D. de opens líbert. (38,1).
(aa) L. 26 § 12. D. de cond. índ«b.. (12,6); L. 7 § 5; L. 16, 23 pr.;
L. 24. D. de oper. libert. (38,1).
(bb) L. 3p£;L. 5,37pr, O. de oper. libert. (38,1),
(cc) Gaí. ep. II, 9 § 4; L. 7 pr. § 2 D, dc oper. libact (38,1); L. 44
pr. D. de liber. causa (40,12).
(<40 L, 4. 5. 22 §1.; L. 29. D. de ojvr. libert. (38, i).
(ee) L. 6. 9. D. de oper. libert. (38,1).
(//) L. 7 § 6—9; 1* 22 § 1. D. eodem.
(gg) L. 32 §1. 2. D. qui et a quib. (40-, 9); b. 5 §22. D. de agiwsc.
liber. (25,3)} L. 6 § 1. D. de jure patron. (3 14); L. 6 pr. C. de oper.
libert. (6, 3).
(hh) L. ?0. D. dc jivro patroa. (37,14); L- 32. D. de oper, libert,
(38,1); L. 2. C. debon. posa. contr. tabu), libert. (6,13).
DO DIREITO ROUANO PRIVADO. 95
(prando as tivefsse vendido ao liberto 't-i) eqüivalia
isso a renunciar elle á herança do liberto. Outra
pcâlvlcção fazia também a lex Julia et Papia Poppaea
íoucedendo que o liberto que tivesse doas filhos
em seu poder se considerasse isempto da obrigação
de prestar taes serviços e presentes (j}").
O patronato ia perdido para o patrono quando
eíle não alimentasse o seu liberto necessitado (ftft);
quando movesse contra elle uma aceão capital [llj; e
pela lex iElia Sentia quando o obrigasse a dar jura-
mento de se não casar [mm]. Do mesmo modo
quando o patrono por pena fosse deportado (m),
e quando o liberto cora permissão do patrono
casasse com uma colouaria (po).
Justiniano concedeu mesmo que o manuraissor
pudesse por uma declaração desligar o seu liberto
do patronato, e com isso ficava elle isempto de
tudo menos do respeito devido (ppj ao patrono.
Finalmente o patronato ia lambera perdido por
ura privilegio, e tal é o fiatalium restitutio, o qual
porém para ser concedido precisava, que a isso
annuisse o patrono (çç).
(ti t. 37 pr. D. de bon. libert. (38.2); L li. G. de oper. libert. 05,3).
(Jj) L. 37 pr. D. dr oper. lib. (3'8,1).
(ki) L. 5 g 1. D. de jure pairou. (37, ià); t. 6 pr. D. de agnosc.
liber. (25,3); L. 33. D. de b"n. libert. (38, 2).
W L í) § 1; L. 10,11,17. D le jurepatron. (37,14): L. 10 § 11.
D. de iu jus voe. (2,4'); G. 5 § 231>. de agnosc. libert. (25,3); L 14
pr. D. de bon. libert. (38, 2).
(mm) Li 6. 15. D, <fc jure patrcui (37,14); L. 3^5. D. desuis
(38,W);L. 24D. dcbon. libert. (38,2);L. 31, 32 pr. D. quietaqulb.
(40,9).
(jin) L. 10 § 6. D. de in jus voe. (2, 4),
(oo) L. 2. C. de bon. libert, (6, 4).
(j/ji) L. 3. C. de bon. lib. (0,4).
(çç) I 2—5 D. de natal. rest. (40,11).
95 HISTORIA
Havia tarabem um patronato sobre os filhos
emancipados (ít), e por direito mais antigo sobre
mores in manu, quando separadas do mando («s);
este patronato porem que só podia caber ao pai, ou
marido, não passava aos filhos [tt].
Sobre os filhos e esposas manumettidas ex mancipio
também havia um patronato, sendo chamado o
patrono, quando não era o pai o mnnumissor, ou
o marido, extraneus manummr (wu).

111. REFORMAS FEITAS POR JUST1NIANO COM RELAÇÃO


AOS LIBERTOS.

§ 25. Justiniano revogou as três diíferentes


classes de libertinos e determinou que todo escravo
man ume Ilido fosse civis. Mandou que da dediticia
libertasse não tomasse mais conhecimento por ler
já cabido em completo desuso (fl). A laliniías per-
maneceu até o seu tempo. A reforma principiou-a
elle pelo nudum jus Quiritium, que extinguio (á).
Depois das consiluições ácerca dos dominios seguio-
se uma que especialmente tocou na latinilas man-
dando que o facto de não ler ainda o manumeltido
trinta annos de idade não fosse motivo para que
deixasse de alcançar a civitas (c); ficando deste modo

(rr) TlL D. si a parente quis man. sit. (37,12).


(ís) Gell. X, 23.
(«) L. 1 § S. C, si a par. quis man. sit. (37,12); § un. L de fiduc.
lut. (1,19).
(mm) Gai. 1,114,115; § 3.1. de bon. poss. (3,9).
(a) L. un. C. de dedit. libert. toll. {7,6).
(b) L. un. C. de nudo jure Qulrit. (7, 25).
(c) L 2. C. communia de manum. (7.15).
DO D1KEITO ROMANO PRIVADO. 97
como causa uiuca para a latiu Idade uma manur
missão menos solemoe. Mão julgo-u porém Justi-
mano ter feito cora isso tudo, e como já tivesse
extinguido acojuiiç^o dos dediticios, quiz também
acabar com a dos latinos. Dos muitos casos que
havião e pelos quaes o escravo raanumeltido só
obtinha a latinidade reservou Justiniauo alguns , e
lhes concedeu a civitas; negando toda o qualquer
validade aos demais outros (d).
Jusliniano ordenando que todo e qualquer homem
livre no impe tio fosse tratado como civis fezappareeer
a diíTerença entre Romanos e barbari le].

AITMDICE AO CAPITULO PRIMEIRO.

DOS COLONOS ROMANOS.

§ 26. Era oolono aquelle homem, que a um


terreno estava ligado, e que por amor á cultura era
delle inseparável. Os coloni s. agricol®, rustici, in-
qmlvni, glübcv inhwrentes, adsmpiim, cerniH, tri-
butarii, originam, erão pessoas livres; pelo que
podião contrahir matrimônio (a). Pela dependência
poróra era que estavão da terra tornárão-se-lhes
applicaveis muitas regras de direito, que também o
erão a escravos. Assim sobre elles tinha o dono do

(d) L. un. C. de latina libertate toU. (7, 6).


(e) Consulte-se a Nov. 75. C. 1. 2. 6.
(a) L. 24 C. de agricol. (il, 47); Nov. VaJenl. íit. XXX de colonis
vagis c. 1 § 2. 3.
PIB. BOM AMO. 15

«
98 HISTORIA
terreno um poder fò); tinha direito de casliga-los (c);
na regra podião elles demanda-lo em juizo (d); os
eolonos fugidos erão perseguidos como os escravos
o erão quando lambem fugidos (e); e quando mesmo
■o dono do terreno tivesse separadamente vendido
nm colono tinha direito a revindica-lo {[]. Aquillo
porém que o colono economisasse ou adquirisse
era propriedade sua; só não podia alienar se erão
terrenos, do mesmo modo que não podia alienar
qualquer parte do terreno que lhe tivesse sido dado
para cultura (í;). Os bens que o colono possuia cha-
mava-se—o sen pecúlio \h]. Na intima ligação do
colono com ura terreno certo não estava só a sua
approximação ú condição do escravo, esta constituía
fembemadiíícrença entre ambos, e era uma garantia
paraocolono, eassim osubtrahia ás disposições arbi-
trarias do senhor. 0 colono estava para cora o dono
do terreno como uma pessoa obrigada pelo canon
annual, annua funetio, pelo qual era responsável, e
que geralmente satisfazia em fruetos (i). Por este
modo olhava-se como uma especie de alforria o fazer
o senhor ao seu escravo colono; e é donde vem o
nome de patronus ao dono do terreno.

(é) L. 21. G. de agric. (11,


{cj L. 2/i. C. de agric. cod.; L. 52, 54. C. Th. dehaeret. (15, 5).
(d) L. 2. C. in (luih. caus. colon. (11, 49).
(<) L. 1. 2. C. Th, de colon. fugit. (5, 9);L. 6. 12. 23pr. §2. C. de
colou. Illyr. (11,52); L. 2. C. de íugit. colon. (11, 63).
(/") L. 7. G. de agric. (11, 47).
a í., 1. C. Th. de colou. (5,11); L. 2. C. in quib. caus. coloni,
9).
(4) L. 1. C. Th. de inquilin. (5,10); L. 18. 23 § 2, C. dc agricol,
(11,47); L. 2. C. inquib. caus. colou. (11, 49).
(í) L, 5. 20 § 2. C. de agricol. (11, 47).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 99
Escravos podião vir a ser colonos por vonladh de
seus senhores [j). Pessoas livrespodíão vira sê-lo
por um pacto, que porém não era suíiiciente, sende
ainda necessária a conCinuacao judicial (k). Do
mesmo modo por prescripção, logo que se tivesse
vivido trinta annos como colonos {/). A verdadeira
origem do colonalo óa procreacóo de pais colonos,
donde lhes vem o nome de originam. De matri-
mônio entre colonos e pessoas não livres seguião os
filhos á mãi (m). Os filhos de pessoa livre cora uma
cclona sogui&o também a mãi (^). Com relação aos
filhos de pessoa livre com um colono ha vão leis
conUadiclorias (o),. Os filhos de uracamponez livre
cora uma colona do fisco, ou vice-versa erão sempre
colonos do fisco (p).
A origem do colonato foi esta. Desde tempos mui
remotos distlngaião-se os escravos destina tios para
o serviço urbano d'aquel!es que se empregavão no
cultivo dos campos, A familia rústica eslava do
Ciclo sobre certos respeitos melhor partilhada; e,
estes escravos estando com suas famílias d'algiima
sorte ligados vantajosamente ao terreno sempre
que o senhor tinha tino erão considerados como
accessonos, e delle não erão separados senão em
caso de necessidade. Estavão elles portanto na

Ü) í- 7. C. deag' ol. (li, Ü7),


pe) L. 22 pr. C. de agricol. (11, 47),
ffl L 18. C. de agricol. (11, 47)i
mj L, 21 a de Sgrjçnl, (11, 47).
(n) L. 1. C. Th. de ínqullin. (5, 10); L. 18. 21. 24- C. de
agr»"»!. (11, 47).
(o) Nov. 64 pr. c. 1.; L. 24. C. de agricol. (11, 47). Nov-
182. c. const. Jnst. dc odflcrlpt. et colon. a. 540.
(p) L. 1. C. dc proed, Xiunlre. (1168),
lOD H1SÍORIA
mesma eoadição de facto, qüe depois vierüo a ficar
os colonos de direito. Mudar pois essa condição,
que só de facto existia por uma de direito, e fazer
ao mesmo tempo apparecer o zelo, e o interesse
desses braços não livres, conciliado com uma renda
garantida para o senhor, não podia deixar de in-
teressar os senhores de terras, priacipalmettte os
mais abastados. Pelo que o legislador permittio, que
fossem os escravos assim manumellidos ficando de-
pendentes da terra, em uma palavra—colonos.
Ouando isso teve lugar não o sabemos. í ao faltárão
para logo pessoas livres, que pertencendo ás classes
miseráveis procurassem sua subsistência nessa con-
dição, Daqui resultou a cultura das terras, que pelos
tributos IídIvío sido abandonadas pelos proprielurioa;
d'8qui também resultou poder-se augmentar os
impostos; e d'ahiozelo com que desde Ccmstantino
se olhou para esta institoíçáo; e até mesmo por lei
foi determinado que, quem demmciaáse um men-
digo que estivesse ainda em estado de trabalhar
podesse fazê-lo colono (q).

(?) L. un. C. de mendic, valid. (li, 23).


DO DIREITO ROMANO PRIVADO.

CAPITULO II.

Homines sui, et alieni júris.

1NTRODÜCÇÃ0.

§ TI. Alem da escravidão de que tratámos no


capitulo primeiro resta-nos ainda examinar qnaes
sejão os poderes {potestaü] que sobre pessoas livres
existião por direito romano, e laes sao; a patria
pofcsian i manus, e mancipium.
A familia no civil eompreliendia poderes a que
estavão sujeitas certas pessoas. Cbmpuabu-se ella
de membros que não estavão sujeitos a algum destes
poderes, e tal era o pater-fcmilias, e de outros que
estavão sujeitos á patria potestas, e erao estes os
filii ct filicB familías] e assim também, com relação
aos maridos, as uxores in manu mariti, que erao
como se fossem filhas. Estas erão as pessoas que
constituião a opnatio. A gjiatio era a união era que
existião (bílerenter, pessoas pela patria pofestas, ou
pela manus, e em cujo poder estarião coujuncta-
mente reunidas se ainda vivesse o chefe da familia.
Todos estes poderes, [patria e domin.) potestas
manus, e mancipium estavão comprehendidos na
palavra jus. Jus no sentido technico do termo é,
segundo v. Vangerow, domínio privado sobre a
vontade. Embora uma pessoa fosse livre podia
entretanto ter a sua vontade sujeita ao dorainio
privado de outrem, e era então alieni júris; drâhi
provém não poder realisar seus fins, e sim os
1&2 HISTORIA
daqtiellc em cujo poder se achava; e do mesmo
modo, com relação a bens, tudo adquiria não para
si, e sim para aquelle a cujo poder estava sujeito.
São sui júris, os que não são alieni júris.
Assi tu como havia uma domnica potealas, do mes-
mo modo se instituio o manripium, que nada mais
era do que uma imitação dapoíesto dominica. A con-
veníio in manu mariti não era senão uma imitação
da patria potestas; a uxor in mam era filicB in toco.
Não podia um ÍIlhoFainilias ter uxor in manu, por
isso que estando ainda debaixo do pátrio poder a
uxor in manu não estava filice in loco, e sim nepotis
in loco; porquanto não tem outro em seu poder
quem ainda está no puder de outrera.
Mesmo no tempo daquelles jurisconsultos que
destas matérias tratarão já de ha muito tiuháo a
mams e mancipium perdido a sua importância.
Nos últimos tempos só se conhecia a dominica e
a patria potestas; e Justiniano a estas mesmo fez
modiflcações com relação ao seu caracter primitivo.

TITULO I.

Patria potestas.

1. CARACTER DO PÁTRIO PODKR EM GERAL.

§ 28. Cabia a patria potestas a um paterfamilias


sobre todos os seus descendentes emqnanto vivo
fosse; e nos tempos primitivos dava ella um jus vitcc
et necis sobre os filhos; e é d'abi que vem a definição
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 103
que algumas vezes se lhe dá de jus vitw el necis in
liberas (a).
A patria potestus era de direito natural quanto á
protecção natural, á criação, assim como vemos
nas feras com relação a seus filhos (6). O direito
romano porém nm limitava a sua duração tão
somente á necessidade da criação dos filhos; e todos
os direitos se achavão na mão do avô com exclusão
não só da mãi, como tarnbem do pai, quando o avô
ainda vi1 ia (c). Não linha o palerfamilias sobre o
filho um direito de propriedade, por isso que este
não era uma cousa (cí), e nem a patria potestas
era mais do que uma especie de magistratura;
<jue não podia ser herdada nem alienada. Além
do direito que tinha o pai a todas as adquisiçòes do
filho, também tinha o direito de castiga-lo , e até
mesmo de dar-lhe a morte; podia aliena-lo, linha
o direito da noxce datio; podia aiuga-lo; nomear-lhe
quando fosse menor não só tutores, como também
herdeiros, ao que se chamou subsíiíutio pupillaris;
e finalmente tinha direito de decidir do casamento
dos filhos, nao podendo estes casar contra a vontade
-de seu pai; e devendo ainda as filhas casar como
elle quizesse.

(«i) Gai. I, 55, 56, 67, 80; llp. V. 1.; S 3. I. de patr. pot.
{i- 0); L. 19 D. de statut. honi. D. (1, 5); L. 3. D. de his quí
sü {1, 6); L. 18 § 1. D. de judie. (5,1); L. k. § 2; L. 10 § 1 —
3. D. d grad, et off. (38, 10); Cie. pro domo c. 29; L. 10. C.
de palr. pot. (8, 47).
(4) L. 1 § 3. D de J. et J. (1,1).
(c) § 3. L de patr. pot. (1, 9); L. 3. D. de his quí sui (1, 6).
{d) iJaul. sent. rec. V, 1 § ; L. 5. D. quée res pjgn. (20, 3);
L. 1. C. de patrib. qui fii. (4,, 43); L. 1. § 2 D. de rei vinil.
(6, 1).
W HISTGnU
A patriu polesías em negócios publieoy, -quamlo
nestes podia o filho intervir independentemente de
seu pai era considerada como supérflua: %n publicis
■causis filnfamilias tanquam patres familiar habeulur.

11. ORIGEM DA PATRIA POTESTAS.

k.—Sobre os filhos.

§ i9. A origem mais commum da patria potestns


é o matrimônio —jugtw mptiw: do matrimônio
é qim resulta a certeza, ou pelo menos a neces-
sária presumpoão de que todos os filhos havidos
em matrimônio tem por pai o marido « paler est
quem miptice demondrant» (a). Este principio se
entende cora qualquer matrimônio, mesmo com
relação ao natural [ò], Fóra do matrimônio pó,de
provar-se a descendência de uma criança eom relação
á sua mãi; porém não ao pai. Filhos naíuraes par
conseguinte não tem juridicamente um pai, e assim
também aquehes que nascerão de matrimônio em-
bora eontrahido, porém positivamente probibido
pelo direito civil o não tem (cj. Um hornem juridi-
camente só pôde ter filhos quando fòrão estes pro-
creados com sua esposa.
Pelo principio de que o pai tinha potcslas sobro
todos os seus descendentes, agnadosseus, estendia^
se ella por consegui ate não só sobre os próprios
111 1 1
, M t j .i ^^, _.i_
{1 ^ (2, li) \ L. 6, D. de bis qqí sui
(tf) Ulp, Va, h; Gai. I, 68.
74 L 23 a slatu
lo.l.^nup^V' ' ' ** í1' 5)' S
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 105
filho? como também sobre netos e bisnetos etc. {d).
Para ter o pai patría potestas sobre os filhos neces-
sário era que tivesse contrahido matrimônio segundo
o juscivile; mas só cidadãos romanos tinha o ora
conmbii, isto é, faculdade de contrahir matrimônio,
que como tal fosse reconhecido pelo jus eivile, e
assim revestido de sua validade (e). Se os pais depois
de gerado o filho obtivessem a civitas, pelo que se
tornaria o matrimônio de direito civil, ainda não
obtinlião porém a palria potestas sem que delia lhe
fosse feita concessão especial {/'). Este principio
sofiria uma evcepçào, e éra a favor dos latinos
quando obtiuhao a civitas (</). A patria potestas era
um direito só proprio de cidadãos romanos; pelo
que tanto o pai como o filho devião ser cidadãos
romanos [h], O matrimônio devia ser Valido (i); bas-
tava porém que fosse valido no môraenlo da pro»
creação, embora depois se tornasse nullo (j). Com-
tudo a falta de casamento valido podia ser reparada,
em muitos casos, e vir a estabsIecer-Sc a patria po^-
testas depois: assim era quando (fe) tinha lugar um.
casamento não valioso, ou em parte não valioso,
logo que viesse a convalescer, quer fosse por um
privilegio, querd'outro qualquer modo (í); o que

(rf) Gai. T, 55; Ulp. V, í; § í, â. I. de patr. potest. (1, 9).


W Klp , 3,
(/") PíiQ. Epist. X, 6; Gai. 1,93, 94; IIJ, 20.
(í) GaL I, OS.
(A) Gai. I, 67, 87, 128; Ulp, X, 3.
(i) Gai. I, 55 — 57; pr. I, de palf. pot. (1, 9).
(;) GaL I, 90, 9J; l)lp. V, 10; pr. § 1. D. de inspic. ventre
(25, àh
(t) GaL I, 65; § 13. L de nnpt. (t 10).'
(i) L. 46. D. deadopt. (1, 7); L. 67.§ 1. D. de ritu nupt, (23»
PIS. SOHANO. ' 11

1
historia
entre os Rornauos linha lugar pela causa;probaíio (m);
e do mesmo modo quando esposos nao romanos
tivessem alcançado a civitas (n); o que porém Adria-
no restringio, como já dissemos, mandando que um
peregrino com a civitas pedisse a patria poteslas,
èque esta solhe fosse concedida especialmente (o).
Os filhos naturaes no sentido romano também
podião ser reconhecidos, e obterem os mesmos di-
reitos que terião se tivessem nascido de matrimônio
justo, o que tinha lugar pela legitimação. Erão
applicaveis aos filhos de concubina três fôrmas de
legitimação por direito romano; legitmatio per sub-
sequens matrimonium, per reseriptum prindpis, e per
cúrias dationem.
Parece ter sido Conslautino o primeiro que or-
denara que pelo casamento com a concubina fossem
os seus filhos considerados como se tivessem nascido
de matrimônio, comtanto que á concubina fosse
pessoa livre. À esta legitimação chamou-se legitimaüo
per subsequens matrimonium (p). O imperador Zeno
ordenou que podesse ter lugar esta legitimação
quando não existissem filhos legítimos; o que foi
repetido por Anaslasius [q] Justiniano finalmente
mandou que não tivessem os filhos que nascessem
depois do matrimônio mais direitos do que os legi-

2); L. 68. D. de jure dot. (23, 3); L. 25. C. de donat. inter V,


et U. (5, 16y,
(wi) Gai. I, 65 — 80: üt. 5.
(n) Gai. I, 92, 05, 96.
(o) Gai. I, 93, 9/1.
(p) L. 6. C. de natur. lib. (5, 27).
{(/] L. .5. C. eod; L. 6. C. eod.
DO DIREITO ROMAKO PRIVADO. 107
limados (r); e fez ainda mais, ordenou que não fosse
considerado como um obstáculo mais a existência
de filhos tidos em um matrimônio anterior para
serem legitimados os que se tivesse tido de concu-
binei; assim como estendeu-se a legitimação lambem
sobre o casamento cantrahida mesmo com uma
concubina liberta (s),
Lcgif irmtio per rescriptum prmcipisi Por meio de
um rescripto imperial podia o pai declarar como
filhos.legítimos, os que tivesse tido de sua concu-
bina (/). Esta legitimação talvez fosse inslituida
também por Conslantiiio, e que viesse a cahir era
desuso, se bem Jusilnlaoo pareça querer (it) ser
considerado como o primeiro, que a introduzira.
Este imperador (Justioiano} mandou que para ter
lugor esta legitimação fosse, preciso dar-se a não
existência de filhos de matrimônio, e ter havido
impossibilidade de casamento cora a concubina;
podendo n'este ultimo caso os filhos naturaes por
inorte do pai, quando para isso este os tivesse auto-
risado era testãmento, pedir serem reconhecidos
como legitimes (ç}.
Legitimaíio per curice datimem. O pai que fizesse
inscrever os filhos que tivesse tido de sua concubina
no ordo decurionum legilimava-os por esse simples
fado; e assim também legitimava elle a filha havida
de sua concubina casando-a com umdecurião (x) Esta
(r) L. lo. C. eod.; Nov. 19.
(í) Nov. 12 c. 4; Nov. 18 c. 11; Nov. 78 t,. 4; Nòv. 89 c, 8*
(í) L. 1. C. de natural, lib. (5, 27 .
(u) Nov. 74. priKin. c. 1.
(D) NOV. 74. c. 2>
r) § 13. 1. de impt, (1, 10).
198 msTonrA
legitimaçãü data do tempo de Theodosío II, e Va-
len tini ano IIL
Justiniano, oslabeleceu este princípio 5 que aqueile
qqe tivesse tido. filhos com uma mulher cora a qual
se podia ter casado, e declarava em documento,
publico, ou no seu testamento ler tido taes filhos
sçm dizer que erão naturaes, que fossem estes,
considerados como se tivessem nascido de ma-
trimônio [y].
Entende-se. que a legitimação só pode estabelecer
potria potestas, quando teye lugar ainda em vida
do pai, e não depois de sua morte por. testamento (z).
A legitimatioper çurice dgtionem não legitimava senãoi
çom relação ao proprio pai, e não quanto aos outros
parentes do lado paterno (aa); com quanto por via
delia se estabelecesse verdadeira e valiosa pairia
poffisfas sobre p filho assim legitimado \hh]

B. — Sobre estranhos.

| 30. Juridicamente podia-se estabelecer a pairia


potestas por via da adopção que é aqueile aclo pelo,
qual se faz d'alguém o igual a um filho. Divide-se.
em adoptio, quando r, adoptado eslava sujeito, a
uma patriç po.testas- homo alieni júris, e arrogalio,
quando o adoptado era homo sui jum (a). Uma das
condições que se impunha era que não devia o,
i - • ' • " i .. - f
(j/) Nov. 117. c. i,
(ü) >Iov. 89. c. 2,; Nov. 117. c. 1.
faa) Nov. 89. c. 4.
(46) S 13- I. de nupt. (1, 10).
(«) Gai. I, 08, 99; L. 1. 2. pr. D. de adopt. (1, J)- pr. $
eod. (l, ll)-
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 109
odoplaiíte ser castrado (b); assim como depois também
se ordenou que fosse mais velho do que aquellc que
elle quizcsse adopt-ar pelo menos dezoito annos, por
isso que: — üJopíio imitatur naturam (c); e do mesmo
modo devia estar na idade le poder procrear; o que
se fixou até os sessenta annos (e). As ferueas não po-
dião nem arrobar, nem adoplar por nao tçrem patria
potestas, { f\.
T rafarem ps da arrogatio em primeiro lugar,
Até o tempo dos imperadores requeria-se para
cpie podesso ter lugar a arrogatio, que ella fosse feita
em os comüiif cahtit, que se reunião duas vezes no
anno pelas cúrias epa dias marcados [g], e eráo pre-
sididos pelo poniifex maximus. Depois bastavão uni-
camente trinta lictores, que ainda representavão
as trinta cúrias; e de Galba sabemos, que reunindo
os seus soldados fez perante elles a arrogação de
um filho (h\. Tanto o pai como. o filho adoplandp
deverião comparecer pessoalmente nos coraicios (í).,
e logo que ambos declara -do estarem de accordo,
0 pontifex maximus exigia a confirmação da assem-
bléa—rogabat populum (j); d'onde vem o nome

(é) Gal, I, 103; S 9- Ii t, 2 § 1; M § 2, D. dc adopti


(1 7).
'(e) Gai. 1, 106; L. 40 § 1. 1», de adopt, (1, 7); § 4. I. de
nrtojit- (l, 11).
Cd) Gell. V, 19.
(í:) L. 15 § 2. D. de adopt, (l, 7),
(/) Gal. 104; Ulp. VIU, S a.
(ff) Gai. I, 99, 101; ülp. VUI, 2; GeU. V, 19; XV, 27; Tacit,
Hisl I, 15.
(A) Soetia. in Galba c. 17.
(i) L. 24. 25 S 1. D. de adopt. (1, 7)^
(;) Gell." V, 19,
110 HISTORIA
arrogatio. As femeas e menores não podião ser ar-
rogados [k).
No terceiro periodo, . é, no tempo dos imperado-
res, a arrogação lambem podia ser feita — üutoritate
principis, e delia se servíão para fazer a arrogação
de mulheres e menores; e foi deste modo eabíndo
em desuso a arrogação feita authoritate populi [íj.
Por esta nova forma podia-se também arrogar fora
de Roma o que não era permittido pela antiga
attenta a sua natureza (m).
Devia o collegio dos pontífices antes da arrogação
proceder a indagações, afim de se certificar que nada
havia contra ella (w); o que depois, no tempo de
Diocleciano, passou para o magistrado (o). O resul-
tado destas investigações consistia era saber se por
ventura os tutores do arrogado tinliuo ou nao con-
sentido na arrogação havendo Cláudio mandadnque
fosse esse consentimento ura requisito indispen-
sável^); se o que arrogava já tinha sessenta annos
de idade, porque em tal caso só por motivo par-
ticular podia a arrogação ter lugar (ç); do mesmo
modo se não era oproprro tutor, que por meio da
arrogação procurava excusar-se de. apresentar as con-
tas (r); se não havia um fim infame na arrogação (s);

(A) Gai. I, 101, 102; Ulp- VIU, 5; Gell. V, 19.


(í) Gal. I, 101; ülp. VIII, 8; L. 21. D. de adopt. (1, 7)« k i
I. eod. (1, 11). ^ '
(m) Gal. I, 100; ülp. VIÍI, li.
(«) Gal. I, 102; Gell. 1. c.; Tacit. llistor. 1, 15.
ti» L. 2. C. de adopt. (8, /i8).
(p). L. 8. eod.; L. 5. C. de auetorit. praist. (5, 59).
ig) L. 15 § 2.3. L. 17 § 2. 3. D, de adopt. (1,7); L.3.C. eod.
(r) L; 17 pr. D. eod.
(») L. 17 pr. § 1. D. eod.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 111
e finalmente se não acarretava elia damno algum ac
arrogado (í). Um pupillo não podia ser arrogado;
o que porém veio a ser concedido com certas
condições por Antonino Pio (u); larabetn não podia
ser arrogado o liberto de ou trem com prejuízo do
patronato [v); e só por motivos plausíveis é que
podia ser arrogado o proprio liberto, que obtinha
na família o direito de ingênuo, porém não fóra (a;).
O arrogado sofiria uma capitis dmimtio mínima, e
por isso se tornava necessário nos tempos do paga-
nismo que elle renunciasse aos sacris de sua família,
por uma sokmne detesta/tio sacrorum [y]. O arrogado
não ficava tão sóinentc como se fosse verdadeira-
mente filho e na poteslas do pai arrogator [s], porém
também na família, e tomava o seu nome (ao Se o
arrogado tivesse filhos tornavão-se estes, netos do
pai arrogator (66). Antes de Justiniano tinha lambem
o pai arrogator uma succcssio per universitatem (cc),
mas não se tornava elle obrigado pelas dividas (dd),
de maneira que os credores precisavão de uma res-
titutio propter capitis diminutionem afim de serem
satisfeitos. 0 edicto dos pretores dava aos credores

(í) L. 17 s 2 D. eod.
(uj QèB. V, 19; Gai. I, 102; ülpi VIII, 5;L. 17. Di de adopt.
(1," 7j; S 3. I. eod. (1, 11). ^ ...
{v'j L 15 § 3. D. de adopt. (1, 7); L. 1 § 2. D. si quis a parente
(37, .12).
(x) Gelt. 1. c.; L. 3. C. de adopt. .(8,. i8); L. 27. D. de st.
hom. (1. ó); L. 32. D. de ritu nupt. (23, 2).
iy) Gell. VI, 12; XV, T
(z) Gai. I, 107; Geü. V, 19.
laa) Tacit. Ann. XI, 11; XH, 25 26.
íbb) Cal. I, 107; Ulp. VIU, 8;
(cc) Gai. UI, 82; pr â i. I. de acq. pet1 arrogat. (3, 10).
(dd) Gfli» in, 83.
112 HíSíORfA
daqaellesquô tivessem soffndo uma capitis dimimtio
mínima uma restituição pela perda do seu direito de
Mcção [eé). Em eousequeucia da reslituiüàd nao dei-
xava de existir a capL dminutio, que só se íingia
ainda não ter tido lugar, eler o direito de aeção
ainda validade (ffj. Justiaiano ordenou porém que
o pai arrogalor só tivesse o usufructo dos bensf^),
com obrigação de satisfazer as dividas {hhj. O filho
adoptivO, se fosse de melhor condição do que o pai
arrogator não se rebaixava por isso (ií), pelo menos
não a perdia. O pai arrogator não podia sem motivo
fundado emancipar o arrogado, e até mesmo devia
esperar, que este chegasse á idade da raaiortdade,
e reslituir-lhe seus bens se este assim o quizesse (jjj;
e no caso de morrer o pai adoplivo, ou de o ter
emancipado sem úausa, devia ficar uma quarta parfe
de seus bens {(parta divi PU) para o arrogado {&&].
Datio inadoptionem. A datio ín adoptionem trazia:
extincção da pátria potesias, e nova pátria potestas;
conseqüência necessária da creação da segunda pátria
potestas por extincção da primeira.
Para a adopção era necessário o consentimento
do pai natural, por isso que a patria potestas era por
si um direito inalienável, e transferi-la para outrein
seria ura impossível se não fosse o puder que liuhu

(«) L. 2 $ 1, 4; L. 7 S 3. D. de caplt. min. (4, 6).


iff) Gai. m, 845 IV, 83.
(ggi § 2. I. de aJqul, per arrog. (3, 10).
\hh) § 2. . eod.
(ti) L. 6 § i. D. de senator. (1, 9); L. 35. D. de adopt. (1, 7).
íjj) § 3, I. eod. (1,, 11),
(A4) § 3. I. eod.; L. 22. pr. D. eod. t. 8.$ 15 D. de inoíT,
teai (5, 2); L, 2. C. de adopt. (8, 48)'.
150 DIBKITO ROMANO PRIVADO. 115
o pai de vendei" o ülhojepara destruir o patno poder
preciso era fingir uma venda. Os filhos devião ser
vendidos tres vezes, e o comprador, píer fidudarius,
deixava-o ficar ainda livre a primeira e segunda vez,
e so na terceira o remancipava ao pai, o qual então
o deixava ao adopíante pela in jure cessio perante
«m magistrado munido da legii adio [11], A reman-
cipação com respeito ás filhas, e netas podia ter
lugar logo da primeira vez [mm]. Depois encurlou-
«e ainda o processo, bastando que o comprador pela
maneipatiQ désse o adoptando directamente ao pai
fldoptivo [nn], Justiniano simplificou a adopção
mandando, que comparecessem tanto o pai na-
tural, como o «doptivo, e o filho perante o juiz,
e fizessem registrar em um protocolo o acto da
adopção (ooj.
0 filho adoptivo sahia de sua família natural para
entrar na «doptiva pelo que soffria uma capitis dimi-
nutio minima, do mesmo modo que o arrogado (pp).
Os filhos porem do adoptivo fleavão na pátria po-
testas do avô natural, e não na do avô adoptivo [qq],
Justiniano mandou que fosse como acima fica dito,
quando os filhos do que tivesse sido adoptado nao
fossem descendentes do pai adoptivo, tornando-se
neste caso a adopção unicamente um direito de suo-
' ^— tj—^——.
(«) Gai. I, 98 — 101; 132 — 135; Ulp. VIÜ, 2, 5;Gell. V. 19-
L- 2, pr. 3, /(, 36 § 1. D. de ,adopl. (1, 7). ' ' '
(mm) Gai. I, 134, 135; UJp, X, i.
(nn) Gai. l, 134.
{oo] L. 11. c. de adopt, (8, 48).
Ipp) UIP- XI, 3; § 2. I. de legit. agnat. (3, 2); L. 23. D. de
adopt. (1, 7J.
(??) S 11- r- de adopt. (1, 11)..
■•II. *»M,
iih rrrsTOnrA
cessão estabelecido a favor do adoptado (rr); e d'aqui
lhe vera o nome moderno de adoptio minus plena.
Nesta mesma occas'ão revogou Jusliniano o Sctum
de adoptionibus ex tribos maribui, pelo qual logo que
o pai dava um do três Ixllios que linha, a este devia
o pai adoptivo deixar a quarta parte de seus bens
(quarta divi Pii) {ss}.
Diocleciano também concedeu que uma mulher
pudesse adoptar, o que antigamente só por privilegio
especial podia ter lugar; e pelo menos quando não
tivessem íilhns (íí). Neste caso porém não se esta-
belecia uma patria potestas, por isso que mulheres a
não tinhão, e isto tanto por arrogação, como por
adopção; davao-se por conseguinte só as mesmas
relações que existem entre as mais, e os filhos [uu].
Quanto ás adopçôcs per teitamentum, e que muitas
vezes tinha lugar entre os Romanos, mas que entre-
tanto as fontes jurídicas não mencionâo, não erão
senão instituições de herdeiros, com licença , ou
obrigação de trazer o nome do testador (uu). Estas
adopçóes podião também ser feitas por mulheres,
e isto já no tempo em que ainda ellas erão consi-
deradas incapazes do emprehender uma verdadeira
adopção (ajas).

(rr) L. 14. I. de hered. quae ab intest. (3, 1); § 8. I. quib*


mòd. jns pa ir, pot. soC. (1, 12).
(m) Theoph [II, 1, § t
'«) (Jiú. í, 104 Ulp. VIII, 8.
(mm) L. 5. C. de adopt. (8, 48).
(w) L. 7. 63 § 10. D. ad Sct. Trebell. (36, 1).
(xx\ Sucton. in Galba c. 4.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO.' 115

111. IPiFLUENClA DA PATR1A FÜTESTAS.

A. —Direüòa do pai sobre os filhos.

§ 31. Jus viUB et necii. Este direito anuexo á patria


potestas, por direito romano, talvez que fosse j raes-
modo tempo de Ronmlus; eque alei dasXII Taboas
não fizesse mais do que repeli-lo (a). Deste modo
exercendo o paterfemilias sobre seus filhos poder
de vida e de morte de maneira que o podemos
cliumar com Suetonio — domesticus judex, ou ma-
gistratus, podia carrega-los de ferros, casliga-los
como bem lhe parecesse, e até mesmo dar-lhes a
morte como Já dissemos. De que este direito conti-
nuara , embora só quanto a certas formalidades, e
o que não padece duvida. Assim pertenceu elle
por muito tempo ao palvio poder , cora quanto
raras vezes fosse exercido, ale o tempo dos impe-
radores , em que cahio em desuso até mesmo antes
de ser revogado por lei. Por direito moderno matar
a um filho era commelter parriadium [b].
Jus exponendi. Podia o pai expôr ou matar o filho
quando nascesse deforme, para o que se exigia
que antes de fazê-lo convocasse cinco testemu-
nhas dentre os seus vizinhos, e lhes mostrasse
a crianca, afim de decidirem se era um partus de-
formis. 'isto que Já se altribuin a Romulus. foi pela
lei das XII Taboas imposto como uma obrigação.

(a) Dlrkâeii's Uebersichl p.271 — 278. „ ,


(>) L. un. C. Th. de parridd. 9, ,15); L. un. C. de his qui
parentes vcl liberos ocdd. (9, 15).
íis üísfomi
Assim tamíjem aprouve a Romuíus orJertaf qtíe se
Jião matassem nem íilhos, riem filhos, nem crianças^
çiue ainda não! tivessem completado tres annos de
3dade (c). Estas excepçôes devemos entretanto con-
siderar não como uma contràdiccão ao jv& vitw' d
nem annexo á pntrin poteslas, mas como leis parti-
culares feitas para evitar abuso!* do jus vitee et neci»
e dojus expônendr.
Conslnntino, além de acabar Cora essa immora-
lidade, estabeleceu um subsidio tirado do cofre pu-
blico para os filbos das pessoas desvalidas [d].
Jus vendendi. Tinha lugar pela mancipalio (e). A
mancípatio era também designada como nexim
ftwarc (/"), ou per ws et libram gerere (91), e consistia
em uma imaginária venditio. Pela maucipatio soíTria
elle uma cctpitis diminútiü mínima [h].
Ordenou a iei das XII Taboas quanto ao filho
direclamente rendido pelo pai: «Si pater fdmm iet
temm dabit, filius a paire Hbcr esto (i). » 0 filho
assim vendido não se tornava escravo, mas cabia
era mancipío d'aquelle, que o tivesse comprado;
não perdia o seu direito de ingênuo; só era obrigado
á servir como escravo [j]. Foi Constantino quem
restringio este direito, mandando, que tivesse o pai
o jus nmàmdi só sobre os filhos sangainolenti [k)j
í) Monts. H; 11, 15.
(rf) L. l. 2. C. Th. de alímerit. {11, 27).
(e) Gai. I. 117
(f) Festus v. Ncxum, Nuncupata.
(g) Gai. II, 107; 111, 173.
(A) Gai. I, 162.
(t) Ulp. X, 1; Gai. I, 132; IV 79;
{j) Gai. I, 116, 117.
{Jc': Fragm; Vai; § Sio
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. IÍ7
Jus noxcc dandi. Quantio por delictos 'do filho era
intentada um^ acção contra o pai, tanto quanto
durou a noa:® dalio, devia a alienação ter lugar como
outra quuicpier, e do mesmo modo pela manci-
patio (/). O que foi por Justmiano completamente
revogado [m).

—Injlnencia da patria poieslat sobre os bem.

§ 32. Não podia por direito romano antigo ura


filhofaruilias ter bens próprios, entretanto podia
adquirir para seu pai, e este o mais que fazia era
dar ao filho bens, para que lh'os administrasse; e
o que elle com esses bens adquirisse fosse seu^ Os
bens porém não ficavão por isso deixando de per-
tencer ao pai, nem adquiria o filhofamilias direito
algum sobre elles. A esta separação de bens cha-
mava-se peculium, i. e. bens pertencentes ao pai, e
que com consentimento seu estão nas mãos e sob
a administração do filho. Por direito porém posterior
ordenou-se (no tempo dos imperadores), que tudo
o que um filhofamilias adquirisse, qm miles, lhe
pertencesse como se fosse pa teria mi lias; e com
relação a este caso considerado como homo sui júris.
Ainda aqui mesmo dominava o direito antigo, por
isso que se fingia o filhofamilias paterfamilias por
não poder elle como filhofamilias ter bens próprios^
A estes bens chamavão os jurisconsultos romanos

(/) Gai. IV, 75 — 79; L. 3 § Zi. D. de lib. liom. eshib. (43, 29).-
(m) § 7. I. de noxal; act; (4, 8)í
118 HISTORIA
pecnlinm castrense. Com relação a este caso coa-
sideravão elles o direito civil como fjus commune
suspenso pelo jus singulare; e esta suspensão
tornava-se definitiva, quando o filho fazia tes-
tamento; e no caso de o não fazer o jus singulare
era considerado então como não existente, indo
o pecúlio castrense cahir nas mãos do pai—jure
peculii.
Mais tarde este mesmo direito estendeu-se a outras
adquisições, ás quaes se deu o nome de qmsi cas-
trensia.
Constantino e outros imperadores depois delle
mandarão que, o que o filbofamilias adquirisse
pelo lado da mãi ficasse sendo seu. As vistas de
Constantino não forão outras senão assegurar, que
o filho recebesse esses bens, logo que elle sahisse
do pátrio poder, e para conciliar isso cora o direiio
paterno deixou ao pai o usufructo desses bens, e
também a administração, tendo o filho a propriedade.
Por ultimo todos os bens, que os filhos adquirissem
e que nao fossem ex substantia pai ris, quod a patre
proficisdíur, e oxcepto os dous casos — b&na cas.
trensia, e quasi castrensia, constiluião o que se veio
a chamar peculium adventiíium. Diz-nos Puchta que
a expressão bom adoenlitia lhe seria mais apropriada
do que peculium; não só porque se não encontra
nas fontes a palavra peculium para este caso, como
também por não estarem esses bens verdadeira-
mente separados dos do pai, o qual, embora não
tenha sobre elles direito algum de propriedade,
tem comtudo o usufructo; de maneira, que antes
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. li!)
se |iúi]em chainnr peculmm do pai, do que do
filho.
A lerminologia moderna é esla:

Peculium paganuni:
a) Profectltinm; b] Adventicíom.
s] Ordinarium; p) erÍTaordiiiarium.

Peculium milüare:

a( Castrcnse; b) Quasi castrense.

Peculium profectitium. Este pecnlio não era senão


aquella porção de bens que o pai entregava ao filho
para detenção, e administração. Era necessária pois
a vontade do pai, emeessio peculii; assi n como que
os bens fossem pertencentes ao mesmo, adqnisioão
ex suhstantia patris, ou de um terceíio com essa
intenção.
O pecúlio profecticío pertencia por conseguinte
uridicamente ao pai (a). Não podia o filho alienar
esses bens sem prévio consentimento do pai {b);
assim como também não podia testar sobre elles (c).
Se o fisco por dividas confiscasse os bens do
pai ficava o pecúlio para o filho; o que porém já
não era assim com relação a outros credores, e
quando tinha lugar a eonfiscaçao por crimes, o
qne muitos erroneamente pensavão.
1
■ » ■■■' ^ i 1
(a) Pr, T. qulb. aon pernilt' (3, 12).
(ij L. !8 § 2 D. de pact. (2, Itir, L. £ $ 1. D. qiue re piKR.
{21, 3); L. 7. pr. S 2, 4, 6. D. de donat. (39. 6).
(o) L. 6 pr. D. qu testam. (28, 1); L. 25 $ 1. D. dc mort.
cans. donat. (39, (3),
150 HTSTOKIX
Pemlium caslrense e qmsi casireme. Bona castren^
sia sao aquelles bens que um filhofamilias miles,
como tal adquiria. Adriano nelles mandou lambem
contar a herança da mulher. Pela pemutatio podia
qualquer cousa lornar-se caslrense, assim por
exemplo: o que com pecunia oaslnnse era comprado.
Já do tempo de Augusto e de outros imperadores
era permittldo ao filhofamilias testar sobre esses
bens (d); e do mesmo modo poder manumettir ura
escravo caslrense (e). Finalmente estabeleceu-se
este principio, que sobre os bens castrenses era o
filhofamilias qual paterfamilm, em todos os sen-
tidos, e como tal d'elles podia dispôr como bem lhe
aprouvesse tanto em vida como por morte sua {/");
e só quando o não tivesse feito virião então esses
bens a pertencer a seu pai.
Depois de Conslantino principalmente se foi esta-
belecendo o principio de que tudo o que o filho-
familias adquirisse por empregos civis constituísse
também um pecúlio, ao qual se deu o nome de quasi
caslrense [g).
Peculium advoniicium. Adventicium é tudo o que
um filhofamilias adquire; e que nem ó ex substantia
patris, nem caslrense, nem quasi caslrense. Os bens
pertencentes á mãl só podião tocar ao filho quando
•ella o instituísse herdeiro, com a condição de ser
i< " ■ - 1

(rf) ütp. XX, 10; pr. I. qulb. non pcrmltt. (2, 12).
(e) L. 19 § 3. D. de caslr. pecut. (49, 17); L. 8 pr. D. de
jure patron. (37, 14).
{/■) L. 1 § 3; L. i D. ad Sct. Maced. (14, 6); I, 15 § 3. D.
de castr.. pec, (49, 17),
(í) L, 1 S 6 ; L. 16 S 12 ad Sct. Treb. (36, 1); Li 1 S 15.
D. de collat. (37, 6); $ 6. I. de milit, testam. (2, 11),
DO DIREITO ROMASO PRIVADO. 121
elle emancipado pelo pai, por isso que por direito
antigo cahião seus bens em poder do marido (/i).
Constanliuo então ordenou que pertencessem esses
bens ao filho; porém que tivesse o pai o usofructo,
e a administração («). Vendo Justiniano que este
direito só existia era theoria e que quasi era inap-
plicavel pelas suas muitas excepções mandou que
em todos os bens do filho que não íbssem cx
subsíantia patnx, tivesse o pai o usofructo tendo
o filho o domínio (j). O direito romano excluía
ainda mesmo do usofructo e da administração o
pai, sem coratudo tornar-se o filho por isso igual
a um palerfamilias, como acontecia com relação
ao pecúlio militar {k}. Á estes bens chsinavão
adventicia irregularia, ou extraordinária. O filho-
familias não podia testar, nem dispor delles como
bem lhe parecesse (í).
Resumindo pois o direito justiníaneo, tudo o que
o filhofamilids adquiria—-adquiria para si só, tendo
o pai o usofructo, e a administração'— bona adven-
ticia (m). D'esta regra se fazia excepçâo quanto
áquelles bens adquiridos ex suhstantia palris, que
pertencem ao pai, castrensia, ou qupji casirensia, e
adventicia irregularia, que são do filho. Assim os

(A) L. 16 § 2. D. de curat. íur. (27, 10).


(0 L. 1. 2. C. Th. de bon. matei*. (8, 18).
Ij) $ 1. I. per quas pers. (2, 0).
(*) L. 8 pr. § 1. G de bon. qul lib. (6, 61); Nov. 117, c. 1;
Hov, 118 c. 2; Nov. 13/i. c. 11.
(i) L. 11. C. qui testam, fac. (6, 22^; L. 8 § 5. C. de bon.
quae lib. (6, 61); pr. I, qnlb. non permln. (2, 12).
(m) L. 6 pr. c. de bon. quse lib. (6, 61).
VIR. ROM. 16
(22 ijistouu
Iiens que o filho possuifi, pu ello os possuía de facto,
e não de direito, pemlium, ou de direito, e nào de
facto [adventicia], ou taqto de faeto como de direito
[bom castrensiq,, vel qimi castronsia, adventida irre-
gularia).
Accrcscentaremos ainda aqui duas palavras sobre
o modo por que se podia obrigar um filholamilias.
Por contractos e delidos não provinha ao filho-
íãmilias uma obrigação, nem direito algum de
aeção (n); por isso que o pai adquiria Iodos os seus
direitos; enlrelanln a este principio geral fez a juris-
prudência muitas eícepções pelas quaes podia o
filhofamilías intentar uma aeção mesmo em seu
proprio nome. Com relação ás dividas, que elle
contrahia nada tinha o pai (o); cxceptos porém
aquelles casos em que lambem o senhor do mesmo
modo era obrigado pelo seu escravo (h). 0 filho
porép por essas dividas olnigava-ee sendo maior,
não naturalraento como um escravo, e sim civü-
mente (^; d'aqui provinha poder elle ser fiador de
seu pi [r], vindo a ter lugpr a acçao contra elle
quando tivesso o credor em que pegar, i_ é, quando
elle tivesse adquiridOi bens (s). Conheceu-se porém
a necessidade de limitar os empréstimos de dinheiro,

{«) L. 9. D. de obL et açt. (hà, 7); L. 13 § 2. D. quod vi


(43, 24).
(o) L. 3. C. ne filius pro patre (4, 13).
(p) ?r. § 6. I, quod cum eo (4, 7).
[g) L. 141 § 2 de V. O. (4 , 1): U 33. D. de abt. et act,
(44, ?>.
(r) L. 10 § 2. D. de lidejnss. {46, 1).
(í) L. 2. pr.: L. 4 S 2. 3.; L. 5 pr. D. quod cum eo (14, 5),
1

DO DIREITO ROMANO FRITADO. 123


pelo que Cláudio ppohiínu negocies de fiança com
íilboníbmilm?, ctijo pagamento devesse ser realisado
pot morte do pai (í). OSenutusconsultuín Macedonia-
nura do tempo de Vespasiano prohibiu todo e qualquer
empréstimo de direito a íilhosfamilias negando ao
credor para sempre direito deacção (u). Finalmente,
mesmo entre o pai, e o filho podlão existir relações
de negoeíos; não se dava porém o direito de acçâo,
e sim uma obrigação natural. Só tinha lugar uma
excepção, quando se tratava de bens pertencentes
ao pecúlio militar (n). Doações de pai para filho
erâo nullas (o:); e só no tempo dos imperadores no
caso de morrer o pai sem reclama-las é que poderião
então valer como doações mortis causa (y).
Com relação a delictos: se contra terceiro
podia este demandar o pai, e no caso de não querer
elle defender o filho podia então -atentar uma acção
directamente contra o filho; [2) o que porém só
tendo o filho bens próprios poderia servir de alguma
cousa (ao), ou então podia exigir-se do pai, que
como indomnisação entregasse o filho {bb), o quo
linha lugar pelo modo ordinário da marnipalio (cc).
Fntretanto logo que o credor se tivesse indemni.

(0 Tacit. Aon. XI, 13.


(«) L. 1 pr. D. de S. C. Macedon. (£4, 6).
(v) L. 38 pr. § 1. 2. D. le cond. indeb. (12, 6).
(x) L. 1 8 1 pro donat. (41, 6); Frtm. Vatic S 224, 205, 206.
IjÓ Frgm. Vatic. } 274, 277, 278 , 281.
(»} L. 33, 34. D. e dox. act (9,4); L. 30. D. de obl. etact.
(44«7.)
(ao) Gai. I, 77.
(bb) Gai. IV, 75—7á.
(ec) Gai. 1,141; IV, 79.
124 HISTORIA
sado da divida era obrigado pelo prelor a manu-
miltil-o [dd]. A noxac datio cahío em desuso com o
chrisli.mismo , e Justiniano a revogou completa-
mente (ee).

IV. COMO SE EVTLVaUE A PATIUA 1'OTESTAS.

§ 33. A patria potcslas, durava ordinariamente


toda a vida, isto ó tanto quanto vivesse o paterfa-
milias , ou o íilhofamilias. Por morte do pater-
familias o filho tornava-se mi júris, os netos porém
e os filhos deste pennanecião em seu poder (a).
A patria potestas extiuguia-se logo que o filho
que a ella estava sujeito soííria uma capitis dimi-
nutio [h]; assim pois, quando se tornavao escra-
vos (c), ou perdião o status Uvitatis (d). Finalmente
pela emancipatio, cujas formas antigas se asseme-
Ihão ás do acto da adopção. 0 filho devia ser ven-
dido a fim de que se extinguisse a patria potestas;
e da mancipailo pela qual isso tinha lugar é que
se deriva a palavra. A differença que havia era
esta; em vez de ler lugar uma in jure cessio, como
na adopção, seguia-se uma manumisáo vindicta (e).

{dd) Collal. leg. Mos. 11, 3.


{ee} § 7. I. de noxal. aet. (4, 8J.
Uj Gal, I, 127; ülp. X, 2; pr. I. qnil). mod. (1, 12).
(b) $ 3. I. de legit. agnat. tut. (1, 15).
(c) L. 7. D. de Ms qui sui (1, 6); Ulp- X, 4 ; § 5. I quib.
mod. ju8 patr. pot. solv. (1, 12). Gal. I, 29.
{d) Gal. I, 128; L 7. D. de Ms qui sui (1, 6); L. 6. C. ue
senlent. pass. et resr (9, 51).
(e) Gai. I. 132 — 137; ti, 141; III, 6. IV; 79. Ulp. X, 4.;
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 123
O pai maneipai a o filho a um amigo ftduciw causa;
este devia tornar a mancipar-ih'o, e pela remanci-
ipaiio cahia elle então em mancipio do proprio
pai, que então o manumettia, e oblinha o direito
de patrono [f). Quando era ura filho tornava-se
necessário fazer a mancipatio Ires vezes; por duas
vezes era elle manaraetlido, afim de tornar a cahir
na palria poteslas do pai, sendo só na terceira
vez possível a mancipatio cora fiducia, e ao pai
fazer a manumissão.
Por direito mais moderno mandou Anastasius
que se fizesse a emancipação por um rescriplo
imperial, e servia parlicularmente para os que
estivessem ausentes. Justiniano em vez da eman-
cipação anastasiana mondou que para a eman-
cipação se fizesse uma declaração perante o ma-
gistrado apud acta {<)]. A vontade do filho era
nccessana (ft), porém não se exigia a do filho adop-
tivo (í).
Com a emancipação tinha lugar uma capitis ditni-
nutio, e perda da família (j) que porém se podia
conservar por direito mais moderno havendo
concessão especial (fe). Os filhos que tivessem

§ 6. I. qnib. mod. jus patr. pot. solv. (1,12); L. 1. C. de emancip.


(8, AO
(fl Gai. I, 132, 135, 1A0; Ulp. X, 1.
ig) L. 5. C. de emancipai. (8, 49); § 6. I. quib. mod. (1,12).
(A) L. 5. C. de emancipat. (8. 49); Nov. 89. c. 11 pr.
(i) L, 132 pr. D. de verb. obl. (45, 1); L. 9. 10 pr. C. de
adopt. (8, 48).
ij) Gai. I, 162, 163; L- 3 § 1. D. de capit. min. (4, 5); L.
13. 14. D. de adopt. (1, 7); § 11. I. de heredit. (3, 1).
(k) h. 11. C. de legit. hered. (6, 58).
125 BlSfORlA
sido procresdo» antes da emancipação, se ainda
não tivessem nascido ficarão sngeitos á patria
potestas do avô (/). O filho emancipado não tinha
indemnisação alguma pelo direito de herança,
que perdia; entretanto ücava elle com o pecúlio,
e todos os outros bens de que lhe tivesse feito
doação seu pai, dado o caso de os não ler reolamado
pelo acto da emancipação («»). O pai oanservava sobre
os bens advenltcios do filho o usufructo de uma terça
parte, istoporordem deConstantino(n); eJusliníano
mandou quo tivesse usufructo de metade (o).
Se o avô tivesse soffrido uma capitis dimmulio
maxima por ter sido feito priaioneiro de guerra ,
tornara a reviver a potestas logo que o poííhnníiMim
lhe podesse ser applicavel (p).
Os flamines diales, e as vestaes erão sui júris pela
sua dignidade (ç). Justiniano mandou mais que
não estivessem também sugeitos ó patria potestas, os
patrícios, cônsules e prefeitospretorios (r), os raa-
ghtrati mililum, advoigados, palroni fisci, e os
agentes in rebas, e os bispos (s).

(Vj GW. I, 135; in, 2.


(m) Frgm, Vatic. § 255, 260, 2él; 2L. 31 61§ 2.083D. de3 donat.
(39, â); 17. C. de donat, (o, 54); S !• P " «T P®* - (2,9),
(n) L. 1 g 2; L. 2. C. Th. dematern. bon. (&, 18).
(o) % 2. I. per qnas pers. (2, 9); L, 6 g 3. C. de bon. qu®
Mb. (6, 61).
(p) Gal. I, 127 — 129, Dtp. X, 2 — 4.
(7) G.'1 1, 130; III, 114; Olp, X, 5; GeB. 1, ií.
(r) L. S. 6. de consulib. (12, 3); § ft. 1. qtttb. mod. ias patr.
pot. solv. (l, 12).
(s) Nov. 82, proem. c. 1—3; Nov. 123, c, 4; compare-se com
l. 66. C. de dccumu. (18, 31).
DO DIREITO ISOMAKO PRIVADO. i37

TITULO IL

Manus.

I, SUA DEFINIÇÃO E NATUREZA.

§ 34, A palavra manus é a expressão de que


se servião os jurisconsultos romanos para defhiir
o poder do marido sobre sua mulher; poder que
eJIe obtinha quando o casamento era feito com
certas formalidades empregando-se a expressão
mnus em vez de polmlas como analoga. 0 justum
matrimonium ou era cum in manum conventione,
ou sine in manum conventione (a).
Veln convenlio in manum i a esposa era juridica-
mente como se fosse filha de seu marido, filia} in
loco, e irmâa de seus filhos (6). Se o marido ainda
eslava sugeito á patria polestas era sua mulher
considerada como se fosse neta de seu pai, nepotis
loco (c). A uxor in manu entrando pois para a
farailia de seu marido soffria uma capilis diminutio
minima, e era propriamente a mãi de família [d], É
assim, que parece caber a expressão mater-familias
á «jsor in manu mariti, e a de matrona aquella,
que tinha contraindo nupcías sine in manum conven-
tione (e). Dissemos ser analoga á potestas, a expres-

(«) Gai. 1,108,109,


(A) Gai, I, lll, 114, 115 b., 136; IL. 139.
(c) Gai. II, 15!" IIT 3; Ulp. XXII, lí|.
(tf) Gai. 1,162; IV, 38; Uiil. Xi, 13.
128 BisTom
são mant», c dissomos bem ; por isso que alguma
differença eiísíe. Assim não tinha o marido sobre
a mor in manu verdadeiramente o jus vita ei necis,
como tmha o pai sobre os ülhos, que estarão
sugeitos ao seu pátrio poder; podia porém ser juiz
ooDTocando um cooselbo de família, e n'esle caso
alé mesmo o podia ser para o caso de morte {/').
0 direito de manapar talvez que só fosse possível
em certos e determinados casos.
Os bens da mor in manu passarão para seu ma-
rido por uma sucmsto per univemtalem. O que ella
adquiria para elle adquiria (gj.
Com relação ás obrigações, não tinha lugar o
mesmo princípio da palno potestas; excaníracíu,
obrigava-se a esposa, e o marido, ou escolhia de-
fende-la e então obrigava-se in solidum, ou deixava
o credor á uma mimo in bonis, em que só erâo obri-
gados os bens da mulher, e os que lhe teríão vindo
a caber se por ventura não tivesse tido lugar a
conventio in manum [h], Com relação aos delidos
da mulher nada sabemos.

U. DA FORMAÇÃO DA MANUS.

§ 35. As tres fôrmas conhecidas, o que entre


marido e mulher estabelecião a conventio in manu
erão.: confarrealio, coemtio, usus (a).
' " —— "V •—-
(/) Liv. XXXIX, 18; Taclt. Ann. XtiT, 32.
(ff) Gai. (t, 60, UU, 96; ÍII, 82—84; 163.
(/1 Gal. IV, 80.
(a) Gai. I, 110; oilm Itaque '.ribas modis ia manam nnvenie-
bant, usa, farreo, coempiione
DO DIREITO ROMANO PRITADO. 129
A confarreatio consisifa em ceremonias reli-
giosas e formulas prescriptas em presença de dez
testeomnbas, e um ponüfcx, e no sacrifício in quo
farreus panis adhibeiur (/;), A cmfarreatio só per-
tencia a patrícios, e as duas outras aos clientes e
plebéos; as ultimas pelo menos desde a lei das
XII Taboas. 0 matrimônio assim contrahioo era
considerado como particularmente saiu-lificado (c]-
A dignidade do flamen de Dis, de Marte e de
Quirinas só podia ser concedida a um ülho cujos
pais tivessem, çontrahido matrimônio pela con-
farrofição (con/arrealíõne) (d): e da mesma maneira
nao podia o (latnen diales contrahir matrimônio
que não fosse com estas formulas sauctas; e seus
filhos erão chamados por excelleucio paírimi, ma-
trimi [f]. Por esta intima união com as dignidades
socerdotaes patricias a confarréatio ficou ainda em
uso entre os patrícios, quando já mesmo havia
desapparecido da vida comraum. Tiherio ordenou
então, que com relação á manus assim estabelecida
não houvesse para o civil maís importância algu-
ma [g); e com a religião antiga desappareceu final-
mente essa formula.

Ooemptio. Consistia em a venda da esposa perante


cinco testemunhas, e um libripçm; tinha pois lugar

(i) Gai. I, 112; Dionys. Hal. n, 25.


(4 Dionys. Hal. 1. c.
(<0 Tacit. /Vnn. IV, 16.
(«) GaL I, 112.
(/) Tacit. Ann. IV, 53; Festus v. Flamen.
Ig) Gai. I, 136; Tacit. Ann. IV, 6.
DIR. W». 17
130 HISTORIA
por uma manei palio (h). Para a filhafamilias era
necessário o consentimento de seu pai, ou de seu
tutor (í). Servius (j), menciona perguntas reci-
proeas e respostas; sese cocmendo vir et uxor inter-
rogabant, vir ita: An rríulier sibi materfamilias esse
vellet? illa rcspondehaí: Velle. Item mulier interroga-
bat: Utrnm vir sibi paierfamilias esse vellet ? Ille
rospondebat : Velle. Itaque mulier in viri manum
conveníebat, et vocabantur hwc nuptia per coemptio-
nem; et erat mulier materfamilias viro, loco fim.
Usus. Tinha lugar quando a esposa habitava
um anno inteire com o marido sem interrup-
ção [k]. Esta formula não tinha lugar quando
a mulher estava sob tutela, mas sob patria po-
lestas (í). k lei das XII taboas concedia entretanto
um meio pelo qual podia a esposa impedir a manus
no caso de assim o querer; e bastava ausentar-se
do casa do marido per hinoefium (wi). Isto tinha
lugar em um tempo era que o divorcio promovido
pela própria mulher era diflicd por ser elle tido e
considerado contra os costumes. Também ficava
ainda o pai Com o pátrio poder no caso de o não
querer transferir immediatamente para um homem,
a quem talvez ainda não conhecesse bem.
Já no tempo de Gaios linha sido revogada esta

(A) Gai. I, 113.


(i) Cie. pro Flacco; Gal. I, 195; III 113.
(j) SerVius, Aen. IV, 103, 214.
(Xr) Gai. 1,111.
(/) Cie. pro Flacco 34.
(r/i) Gai. III, 3 Macrob. Sal um. I. 3.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO* 131
formula em parte por lei e em parle pelo desuso (n).
Assemelhava-se este modo de estabelecer a manus
ao usucapião; por quanto tal era lambem o modo de
adquirir o dorainio júris gentiwn.

HI. COMO SE DISSOLVIA.

§ 36. Dissolvia-se o matrimônio com a convenlio


inmanum de diíferentes modos: assim se dissolvia
a rmfarrentio ou com a morte, ou com perda da
civitas, ou pela dãfjarreaüo. Diffamatio [a], genus
erat sacrificü, quod inter virum et mulierum flebal
dissolutio, dieta diffarreatio, quia fiebat [amo libo
adhibito. O matrimônio porém contrahido por ura
(iamen diales nem mesmo pela diffarreatio podia ser
dissolvido (íi]. A coemptio e usus podião ser dissol-
vidas como a patria potestas (c). A dissolução do
matrimônio porém i :;o envolvia dissolução da ma-
nus. A mulher divorciada podia exigir do marido a
sua emancipação (d).

IV, COEMPTIO FIDUCIAE CAUSA.

§ 37. Assim como havia um mancipium, assim


lambem se dava uma manus apparonle, e que nada
mais era do que uma formalidade jurídica para

(n) Gai. I, m.
(a) Festus v. (liffarreiiilo.
(i) Gell. X, 15. Festus v. Flameo.
(c) Gai. 1,115,195.
{d) Gai. 1,137.
132 HISTORIA
outros lios; á qual cliamav j os junsconsullos
coemplio /iducicB causa.
Tinha lugar a coempiio ftducicc causa: Mela evi-
tandi causa. A rnulher, que desejava ver-se livre de
uma tutela pesada, quer fosse a do agnado, quer a
do patrono; contraída um casamento ficlicio sendo
o marido obrigado a emancipa-la úquelle, que ella
queria que fosse sen tutor (a)... quce vero alterius rei
causa fàcit coemplionem cum exlraneo, vehl íulelcc
evitandae causa, dicitur fiduciae causa compl. Quod
est tale: si qu» velit quos hahet tutores roponcre ut
alium nauciscatur c. f. deindc a coemptionatore re-
mancipalã ei cui ipsa velit, et ab eo vindicta manu-
missa incipit eum habcrc Morem a quo manumissa
est qui tutor fiduciarius dicitur.
Cicero [b] dá-nos noticia da ainda applicaçao
da coempíio. Ouondo as mulheres para se verem
livres das sacra privata de suas familias dellas
sahião por uma mancipaçâo íiclieia. Elias porém
quasi sempre se fazião mancipar a velhos sem filhos,
afim não só de se exltuguirera por morte destes —
as sacra, como também para ficarem herdeiras
desses seus pretendidos maridos (c).
Tcstamenti facicndí causa. Para que as mulheres
podessem testar ora-lhes também precisa a coempiio,
assim como exigia-se que não tivessem ellas agnados
soffrcndo por esse motivo uma capitis diminulio
minima. Ainda no tempo de Adriano nao podião

(a) Gai. I, lli, 137, 195.


(b) Clc. pro Mur. c. 12.
(c) Gaj. 1, 136.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. t 133
ellas testar sempre que tivessem aguados, dfim de
que os bens náo deixassem de ficar na família (d).

TITULO III.

Mancipium.

§ 38. Omancipium é analogo á do mi nica potes Ias,


é a serviUs conditio, denota a condição daquelles
homens li res, que por uma capitis ííi/jvmutio mini-
ma passárão da mao do pai, ou do marido, no
primeno caso se erão filbos-familias, no segundo
uxores in manu, para o poder e serviço de outra
pessoa o que linha lugar ou por alienação ou pela
noxae dalio. Deriva-se o nome dahi, que para ter
lugar o mancipium preciso era uma nancipalio (a).
O poder que resultava do mancipium era o mesmo
que a dominica potestas com relação a escravos;
por isso que abrangia não só o direito de proprie-
dade , como não se extinguiu por morte do que o
tinha e passava para os herdeiros, e até mesmo para
a mão de uma mulher, sendo a maneira de manu-
metlir a mesma que se empregava para a ma-
numissão dos escravos, Com tu do uma grande
diiferenca havia desta condição para a outra, e era
que o liherum caput in mancipio não perdia o seu
direito de ingênuo, o qual só ficava por então sus-

[d) Gai. 1,115 a.


(a) Gai. I, 117—123, 132 — 135, 141; IV, L. 3 § 1. D-
de cap. min. (4, 5); L, 3 § 4 D, de libero hom, exhib, (43,29).
1
34 HISTORIA
penso (q). Mãos tratos da parte do que tinha o
wãncipium dava direitos ao que a elle eslava sujeito
de intentar uma adio de injuria (c). As fontes não
nos lirào da duvida que existe: se por ventura podia
a acção ser logo intentada, ou se depois de sua ma-
nurnissão, e se por elle, ou por seu pai em seu
lugar [d). Devendo ter lugar com relação aos homines
in mancipio uma manumissâo tal qual se exigia para
escravos; comtudo não se entendia com relação a
elles o que a respeito dos escravos determinou a lex
Áelia Sentia, e Fúria Caninia (a). No caso da noxce
datio podia a manumissâo ser exigida logo que o
homem in mancipio tivesse satisfeito a divida [f].
Pela alienação voluntária impunha-se muitas vezes
a condição, pelo pactum fidum, de ser elleremanci-
pado ao pai afim de se evitar de vir um estranho a
ser o mannmissor (y). Quando a alienação era feita
para destruir a patria potestas, ou a manus nunca
ficava sem effeito a condição imposta; e até mesmo
contra a vontade do senhor podia ter lugar a manu-
missâo mandando-se para o censo o nome daquelle
que estava em mancipio (A). Era quanto em man-
cipio devia quem a elle esti vesse Sujeito servir o
senhor como se escravo fôra, e do mesmo modo
tudo para elle adquiria (í). Se o homo in mancipio

(b) Gaj. II, 90.


(e) Gai. I, IZd.
{d) Walter, Rechtígesch. T. 2. §482.
(«) Gai. i 139, lio.
(/) Collat. II, 3.
(ff) Gaj. I 114, 115, 118, 132, 134, 141; IV, 79.
(A) Gai, I, 140.
{0 Gai. II, 90. Ulp, XIX, 18.
DO DIREITO ROMAKO FRITADO. 135
conlrahia matrimônio valido., seus filhos se nas-
ciâo na primeira ou segunda alienação cahião
em poder do avô; se na terceira Gcavâo sujeitos
também ao mancipio até que o pai alcançasse a
manumissão vindo elles a cahir em seu poder, sob
sua patria potestas (j). Ouanto ás dividas contrahidas
por elle, podia o credor exigir para seu pagamento
aquellesbens que porventura elle teria possuido se se
não achasse em mancipio [k]. Ao manumissor ficava
uma especio de direito de patrono, que porém não
deixava de ter grande importância com relação á
tutela, e á herança. Por direito Juslinianeo nao
deixou o mancipio de existir de todo.

CAPITULO ÍII.

Do Matrimomo.

1. EM GERAL DAS UNIÕES PERM1TT1DAS.

§ 39. Os Romanos conheeião o matrimônio, ou


nupcias, propriamente dito comubium; o concu-
binato; e o coatubernium. Elles consvdemão o
matrimônio pela sua natureza como uma união jw-
ris gentium (a); enlrelanla pelo lado jurídico era elle

<j) GaL I, 135.


(k) Gai. IV, 80.
(«) L. 1 § 3. D. de J. et J, (1, i).
130 HISTORIA
valioso quandoo.onfoimoe munidode todos os requi-
sitos civis; tal era o matrimônio legilxmum s. justam
(6); dahia definição—rwpt/o} aulern.sive matrimonium
est mri et mulieris ppnjmctio, individuam vitce con-
suetudinem conlinens (c). O Digesto dá-nos a seguinte
definição; mptiae sunt conjunctio maris et femim et
comortium omnis vitm divini et humani júris communi-
eatio [d]. A' capacidade de coutraliir matrimônio con-
forme as leis civis chamava-se cmnubium. Ulpiano
diz • justum matrimonium est si inter eos qui nuplias
contrahuntconnuhiumsit etc. § 3. Comuhvumest uxoris
jure dticendw facultas (e). Entretanto na definição do
matrimônio pela communio júris humani não se
deve coraprehendev communbão de bens, e sim
talvez a igualdade da mulher ao marido quanto á
posição e dignidade deste; diffarençando-se por este
modo a mulher (uxor) daconcubina [f]. A communio
júris divini referia-se ás sacra privata, que já pelo
antigo direito se tornavão communs pelo matri-
mônio (g). O matrimônio ou era valido segundo
o jus gentiura , ou de direito civil, e era então yusfe
nwplicB. O malrimonium justum ainda podia ser de
duas maneiras: ou com a conventio inmanum da
qual já íãllámos, e pela qual obtinha o marido
poder sobre sua mulher, e esta cbnmava-se ma-
terfarailias, ou sine convont. in manum , e neste

(6) Ulp. V, 2; JnstsB nuptke. Gai. 1,55.


(c) § 1. J, de patr. pot. (1, 9).
[d) L. 1. D. de ritu nupl. (23, 2).
(o) TJlp. V. 9, 3.
(f) Ziminern, Rcchtsgesch. p. 299.
(g) Zeitsclirift f, gesch. ft. W. T: 2.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. Í37
caso só oblinha patria potestas sobre seus filhos ; a
mulher era chamada matrona. Uxor chamava-se ella
quer tivesse contrahido matrimônio júris gentinm ,
quer júris civilis. Pela regra só ura Romano e uma
Romana tinhão o jus connubii. Entre Romanos e
latinos ou peregrinos não havia senão um matrimônio
natural, a menos que lhes não tivesse sido especial-
mente conferido o jus connubii para esse fim [h].
Latinos e peregrinos podião contrahir matrimônio
legitimo, isto é, conforme o direito de suas nações;
o direito romano porém considerava-o do mesmo
modo como matrimomo natural, O mesmo se en-
tendia a respeito do matrimônio contrahido por
libertos, que tivessem alcançado o direito de latinos
ou peregrinos. Logo pois, que uma união entre
latinos, e peregrinos , ou entre estes e Romanos-7-
fosse um consoriium omnis vilae, com a affecíio
marilalis, e reconhecido como tal, quando não
tivesse validade civil tinha-a geral; era assim que os
filhos tinhão um pai: paler est quem nuptice (não
justae mptiae) demonstrant. A affectio raaritalis eia
expressa com as palavras: Uberorum qumendorum
causa (i).
Logo que se désse um impedimento positivo para
o matrimônio então nem se quer podia elle ser
considerado como natural; mas como uma união pro-
hibida (j). Dominava era Roma o principio mo-
nogamo. O concubinato foi também autocisado

[h) Gai I, 57; Ulp. V, h.


(i) Ulp. 111, 3.
(j) Gai. I, 6U; Ulp. V, 7.
01R. HOM, 18
438 HISTORIA
por direito romano; e era uma união duradoura
porém sem a afjeciio maritalis. No tempo antigo
a seduoi ao, e a dissipação erão consideradas como
criminosas com relação a ambos os sexos; entre-
tanto que se consentia que um homem não casado
tivesse por sua concubina pessoa que com isso não
soffresse em sua reputação, ou fosse sua aberta,
ou mesmo escrava. Tomava-se pois em conside-
ração a possibilidade de affeição duradoura entro
aquellas pessoas que entretanto se não podião casar.
Neste sentido são as leis de Octaviano. A lex Julia
de adulteriis ameaçava com penas rigorosas aquelle
que coramettesse stupiv.m pelo menos com raparigas
honestas, quer iòssem ingênuas, quer libertas. O
concubinato foi poiem autorisado pela lex Julia et
Pnpift Poppaea; não se dando assim stupro neste
caso (&). Para rirfferençar que havia concnhineto e
não stupro pelo qual se incorria em penas—devia
preceder uma declaração em regra (í).
Como é de suppòr, junto á mulher ninguém
podia ter uma concubina (w). 0 concubinato diffe-
rençava-se do matrimônio pelo lado jurídico, e
pela vitae communw (n). A rapariga honesta perdia
o seu bom nome com o concubinato (o).
_- —r—
D de
Ut) L. 3. S 4- - coacub. (25^7).
(0 1. 3 pr. D. de concub. (25, 7); L. 24. D. de rilu nupt.
(28, 2). .
(m) Paul rec. sent. II, 20 ; L. un. C. de concub. (5, 26); L.
3. C. de mamim. (7,15).
(n) L. 3 S 1. D. do doiut. int vir. (24, 1); L. 31 pr. D. de
donat. (3r n) ; L. 8. G. de nat. lib. (6, 27),
(o) L. 41 S .. D. de rltu nupt. (23, 2); L 13 pr. 1». ad leg.
Jiü. de adnU. (48, 6).

i
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 139
Uma honesta feminina só por uma kslaiio expressa
tornava-se concubina , porque do contrario a união
era um slupro (p). Quanto ao concubinato do patrono
com sua liberta era considerado como mais ho-
nesto para elle neste caso, do que mesmo o ma-
trimônio [q). O concubinato não deshonrava a liber-
ta (r). Por iníidelidadc commotlia ella adultério (s), e
segundo Ulpiano, a concubina do patrono, qualt/ícor
não se podia separar delle contra a sua vontade ti.
Mesmo uma escrava se podia ter por concubina (íí).
O concubinato continuava tanto quanto durasse a
vontade; por isso deitava de existir logo quê uma
das partes enlouquecia. Entretanto com relação
ao patrono tinha lugar uma excepção: porquanto
sua liberta sendo sua concubina continuava ainda a
se-Io, quando mesmo elle enlouquecesse (t). Os
que vivião em concubinato denominavão-se pellices.
Pellex pois chamava-se a concubina embora fosse o
homem solteiro ou casado (íc).
Justiniano publicou diíTereutes ordenanças a
respeito dos filhos de concubina; a maneira por
que podião ser libertos, e legitimados; assim o
concubinato durou até os últimos tempos.
Contubernium nada mais era do que matrimônio

hi) L. 1 § 1; L. 3. pr. s !• D' de concub. (25, 7).


i'/] L. Ipr. D. de concub. (25, 7),
('■) Ij. hí § 1. D. de ritu nupt. (23, 2); L. 13 pr. D. ad leg.
Jlü. de aduh. (48 , 5).
(í) L. 13 pr. D. ad leg. Jul. de adullcr. (48 , 5).
(t) L 1 pr. D. de concub, (25 , '7).
(m) L. 6. 8. D. de pígnor. (20 ,1) ; Paul. scnl. rec. II, 17 § 6.
(») L. 4. D, de concub. {52, 7); L. 2. D. eod.
(.») Festus v. Pellices.
ltl0
HISTORIA
entre escravos, feito com o consentimento de seus
senhores, ou entre escravos e pessoas livres.

II. COMO E QUEM PODLV CONTEAHIR MATRIMÔNIO.

§ -40. Para se contrnhír matrimônio era pre-


ciso que não houvesse impedimento e que os
conlrahentes se considerassem como esposos («).
Também havião certas formalidades como fosse a
declaração que perante amigos fazia o homem—
se liberorwn qumrmdoruin causa more ducere, e ó
donde vem appellar-se para a fides amirorum (ã); o
acto solemne de copulação, como jugum itnpo-
situm, dexterae junetae (c) —, a domum dedwtio
(d), e outras ceremonias até finalmente levarem a
noiva ao quarto de dormir (e). Entretanto estas
formalidades não erão essenciaes, de maneira que
bastava o facto de se viver juncto cora uma ingênua
para que, no caso de duvida, e de não apparecer
uma prova, valer isso como um casamento (/"). Por
ultimo ordenou Justiniano que as pessoas de con-
dição fizessem contracto de casamento, dotalia ins-
trumenía ; e aquellas que pertencessem ás classes
médias fizessem uma declaração perante o defensor
ecclesiae do lugar, e em nm protocolo lavrado com
assistência do sacerdote [g],

(a) L. 11. D. de spons. (23, 1); L. 30 D. de R. J. (50 17).


(0) L. 22. C. de napt. (5, 4).
(c) Isldor. X, 8.
(a) M. Seneca controv. III, 21; Festus v. rapi; L. 66 § 1. D.
de donat. int. vir. (24,1).
(') Festus v. geaiaJír,, pronubac.
(/) L. 24. D. acritu nupt. (23, 2); L 3, D. deconcab. (25, 7).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 141
Ao xnatrirnonío precedião esponsaes. No tempo
antigo servião-se das formulas da xiipulaíio. O noivo
stipulava, e o pai promellia: filiam in matrimomum
datum iri; o pai stipulava, e o noivo promellia;
filiam morem ductum iri [h). Era infame aquelle
que contraLia bina iponsalia (í). A' noiva chamava-se
sperata, i. é a futura; ou pada, i. é a promettida;
sponsa, i. é a solcmuemente promettida; e lambem
destinata [j]. As doações feitas com atlenção a ma-
irimouiü futuro não podião ser reclamadas civil-
raenle por aqnelle que tivesse sido o culpado da sua
dissolução {k). Depois derâo-se arrha spoimlitia e as
perdia aquelle que fosse culpado da dissolução, po-
dendo-se até mesmo impor a condição de pena no
quádruplo (í). Para ser valido o matrimônio e como
tal reconhecido era necessário que fosse elle pos-
sivel entre os conttabcntes. A esta possibilidade
chamava-se connubium. Entretanto muitos outros
motivos havião que lornavão impossível o matri-
mônio entre duas pessoas, taes erão os impe-
dimentos como taes, já por sua natureza religiosa,
politíca, ou mesmo natural. Assim certas pessoas
erão absolutamente incapazes de contrahirmatrimô-
nio, taes como escravos, castrados, impuberes, e
os qne já vivião em matrimônio em quanto este
durasse. A mulher também não devia tornar
a casar em quanto não houvesse certeza a respeito

(A) GelL IV, 4; Varro de 1. lat. V, 70, 71.


(i) L. 1.13 § i—4. d. de lils quS notant (3, 2).
(?) Bbein. R. Privatrecht. p. 189.
(*) Vatic. Frgm. § 262.
(0 L. 6. C. Th. de spous. (3,5); L. 3. C. dcsponsal. (5, 1).
Ü2 HISTORIA
da paternidade, isto é, para evitar a turbaíio san-
guinis, o que porém não annullava o casamento,
e só trazia certas penas. Exigia-se que a mulher
tivesse doze annos, e o homem quatorze (m). Que
fosse solteiro , do contrario seria infame (w). Tam-
bém era necessário o consentimento daquolíe a cujo
poder ainda se estivesse sujeito (o).' 0 que depois
foi minorado pela lex Julía (p). Escravos não podião
casar com pessoas livres (ç), o que porém pela lex
Julia só foi limitado a senadores, e seus descen-
dentes. Nos tempos primitivos não se tornava nullo
o casamento, mas não gozava de muitas vantagens
como os outros (r). Só por um Sct. do tempo de
Marco é que elle se tornava nullo (s). Isto levava a
perguntar o que seria se um senador ou filho de
senador se casasse com uma liberta , e perdesse
depois essa dignidade. Em quanto senador não era
a liberta mor, mas já no segundo caso principiava
ella a ter os direitos de uxor (í). O que foi revogado
por Justiniano, que primeiro fez uma excepção para
aquelle, que tendo casado com uma liberta che-
gara depois á dignidade de senador (m); até que
depois concedeu a qualquer o poder casar-se com a

(ot) Ulp. V, 2; pr. J. de rmpt. (1,10).


(n) Gai. I, 63; L. 1. D. de his qui notanl. (3, 2); L, 2. C. de
incert. nupt. (5, 5).
(o) Ulp. V, 2; L. 7 S 1- D- de sponsal (23, 1); L. 2, 18, 25,
36. D. de ritu nupt. (23, 2); pr. J. oenupt. (l, 10).
{p) L. 19. D, de rJtd nupt. (23, 2).
(7) Ulp. V, 5.
(r) Ulp. XVI, 2
(s) L. 16 pr. D. de ritu nupt. (23, 2); L. 16 D. de sponsal (23,1).
(/) L. 27, 34 § 3. D. de ritu nupt. (23, 2); L. 9, D. senator.
(1 , 9).
(«) L. 28. C. de nupl. (5, 4).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 1/Í3
sua liberla (539) (»); e por ultimo acabou com
todas essas restriccoes (541) (a;).' Era lambem pfo-
hibido o casamento de ingênuos com aclmes (y).
Do praeses provindor durante o seu governo na pro-
víncia (s). Do soldado destacado (aa). Não podia o
tutor ou íllho do tutor casar com sua pupila , e isto
por ura senalhsconsulto do tempo de Antonino e
Commodo [bb]; exceptosos casos em que nãopodesse
ter lugar uma in integrum mtilutio. Não era per-
mittido o casamento do adúltero com a adultera (cc).
Do raptor com a raptada [dd]. Yalentiniano I por
motivos politicos prohibio o casamento com bár-
baros (ee). Entre ascendentesedescendentes: assim
como entre aquelles que estivessem no mesmo
caso, quer pela adopijão, quer pela aiSiudade—não
era pcrmiltido o casamento. Na mha eollateral por
direito anligo ia o impedimento talvez até o 6.°
grio , e assim — era impossi el o casamento
entre sobrini (ff). O jus osculi talvez servisse para
denotar até onde ia o impedimento, e não como diz
Plularcho para se saber se as mulheres hebiào
vinho. Depois só se deu impedimento até o 4.°
——— ■
ív) Nov. 78. c. 3.
(a:) Nov. 117 c. 6.
(y) ülp. XIU, 1, 2; L. 44 pr. D. de ita nupt. (23, 2).
(») L. 38 pr. D. de rita nupt. (23, 2).
(aa) L. 63, 65. D. eodem.
{/)b] 1. 69, 60. D. de ritu nupt. (23., 2).
(cc) L. 11 gll; L. 29 g 1. D, ad leg. Jnl, de adulter. (48, 5);
L. 9. C. ad leg. Jul (9, 9)! Nov. 134 c. 12
(dd) L. 1, 2, 3 C. Th. de rapto. (9, 24); L. un. g l. c. de raptu
(S . 13).
(««) I. un. C. Th. de nnpt. gentil. (3, 14)
{ff) Tacit. Ann. XII, 4.
HISTORIA
gráo, assim pois só alé aos consobrini [gg). Ainda
mais tarde só se Atendia até o 3.° gráo; e Cláudio
ainda fez uma excepção a favor do tio com sobrinha
filha do irmão [hh]. Os filhos de Constantino pro-
hibirão depois o casamento com sobrinha sob
pena de morte (n), Theodosio II o prohibio entre
primos germanos [jj]. Arcadius porém no Oriente
decidio não haver entre elles impedimento al-
gum (kk). Justiniano prohibio o casamento quando
tivesse lugar um respectus pareníeh; assim pois
quando ambos despendessem da stipes communis.
Também era um impedimento na linha collateral a
adopção tanto quanto existisse (11); não assim a
a Umidade por direito antigo [mm]. No tempo dos
imperadores era prohibido o casamento com a viuva
do irmão, e a irmãa da mulher [nn]. Do mesmo
modo sem haver parentesco, nem aülnidade, era o
casamento prohibido, como por exemplo, coma
viuva do enteado, a madrasta da mulher (oo); com a
noiva do filho, ou do pai [pp]. Justiniano prohibio o
casamento do padrinho com o afilhado de haptismo
por considerar a igreja existir entre elles uma
cognatio spiritualis [qq].

(gg) Ulp. V, 6.
(hh) Gai. 1 , 58 —64.
(it) L. 1. C. Th. de Lijust. nupt. (3,12).
(jj) L. un. C. Th. si mipt. exrescr. (3, 10).
(kh) L. 19. C. de nupt. (5, 4).
(íí) L. 17 pr. § 1; L. 55 § 1, D. de rilu nupt. (23, 2).
("""•) Cie. dedlv. I, 46; Valer. Max. 1,5, l\.
(nn) I 5, 8. 9, C. de incest. nupt. (5, 5).
(oo) L. 15. D. derltu nupt (23, 2).
(pp) L. 12 § 1, 2; L. 14 § 4 1). eud.
(qq) L. 6. C. de nupt. (5, 4).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. Uã

111. DO DOTE,

§ 41. Dos parece vir do grego ítiW. Chama-


se dote aquelles bens, que trazia a mulher ao
marido para ajudar os encargos do matrimônio,
onera malrimoniL Já Plautus chamava aquellas
raparigas que não tinhão dote illocabiles. Interes-
sava ao Estado, que ás mulheres se desse um
dote; e o que era de simples uso fazer-se tornou-
se então uma obrigação para certas pessoas. Assim
foi o pai obrigado a da-lo á filha por uma consti-
tuição de Severo, e Antonino '(a). Por ma^
necessitado que estivesse, diz Plautus, devia o
irmão dar germanam suam sororem um dote para
que ella casasse , e embora o fizesse contra a
vontade do noivo. Se o não fizesse era elle infame.
O dote ou era o pai quem dava, e chamava-se pro-
fccticia [ex subst. patris]; ou era ura estranho „ ou
mesmo a mulher, e então chamava-se adveníicia (6).
Dos aut datur, aut dicitur, aut promittitur (c).
Datio dotis, dadiva de um objeclo para sobre
elle se ter domínio; principalmente porém tudo o
que podia ser objecto de dote, e assim lambera
uma divida [d].
Promissio dotis. Tinha lugar quando se constifuia
o dote por uma stipulatio. Já a promissio de per si

(a/ L. 19. D. derit. nupt. (23, 2).


(íi Olj.- VI, 3.
(c) Ulp. VI, 1.
(d) Uni. II, 63 ; L. 23, Z18. § 1. D. de jiire dot. (23, 3).
OIR. RO». 19
1A6 HISTORIA
constituiu o dote quando tivesse sido feita logo ao
marido; e talvez que não fosse a obrigação de consti-
tui-lo. Sponderi tuam gnatam uxorm mihi ? Spaiãeo
et milliari Philipum dotis (c).
Didio dotis. Tinha lugar por palavras solem nes
que continbão uma declaração. Capazes erão as mu-
lheres, e seus tutores, o pai, e ascendentes pa-
ternos da mulher, e Qnalmenle o devedor desta, por
sua ordem [f]. Por direito posterior só duas ma-
neiras havião de couslituir o dote, e erão: a datio e
prommo dotis Tbeodosio II ordenou mais, que para
esta ultima bastasse uma simples polUcüatio (g).
0 dote ficava ^omprehendido nos bens do marido,
e se erão cousas tornava-se elle dominas. Durante
o matrimônio não tinha a mulher direito algum
sobre elle; chamava-se entretanto o seu dote
quando constituído por ella, ou para ella afim
de lhe ser restituido para o futuro. D'ahi: quamvis
in bmis mariti dos sií, mulieris tamen est; a mulher
tinha um dueifo porém só de futuro (A).
Era considerado de interesse publico entre os
Uomanos, que o dote da mulher lhe fosse restituído
para seu sustento futuro; pelo que se lhe assegu-
rava a sua restituição de differentes modos. A
lex Julia de fundo dotali ordenou que não podesço
o marido alienar ou hypothecar fundos dotaes na
Italia (»). Com permissão da mulher podia alienar

(e) Plaut. Tm. V. 2. 34.


(J1 Wp. VI, 2; Vatic. Frgm. § n9, 100, HO.
i./) L. li, C. Th. de dotib. (3, 13); L, 6. C. dedot prom. (5,11),
[ft) L. 74. D. de juoe dotal. (23, 3).
(t) L 4. D. de fundo dot. (23, 5).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 1/|7
mas nao hypolhecar [j]. Os juvisconsoltos romanos
leváráo esta prohibição in [avoreni mulierum tão
longe, que nem mesmo podia ter lugar o usueapião
contra ellas (fc). Também ainda se vacillava quanto
a se dever ou não entender esta determinação sobre
fundos provinciaes (í). A alienação tornava-se nulla
quando com a dissolução do matrimônio viesse o
terreno a caber á mulher (m). Jusúmano ordenou
o mesmo com relação a terrenos provinciaes, e até
mesmo prohibio a alienação ainda quando feita
com consentimento da mulher (n).
Cabe-nos aq.u examinar a muito debatida questão
se por ventura para ura casamento com a conventio
in manam tinha lugar um dote propriamente dito.
Hasse (o), nega que tivesse sido possivel ter tido
lugar um dote no sentido propriamente jurídico
da palavra , dando-so o caso de um matrimônio
com a conventio in manam; por isso que para se
poder chamar dote era essencialmente preciso, que
precedesse um matrimônio pelo qual fossem os
bens de ambos os esposos separados de direito.
Ainda isto só não bastava, por ser preciso mais,
que elle fosse dado para ajudar os encargos do
matrimônio sob garantia da lei, e reunido aos
bens do marido por um acto especial. Logo, so
' ' ■ c —'— 1" ' r " t —
(/) Gal. II, 32, 63; Paul. n, 21. b. § 1.; L. 1 pr.; L. U. 16. D.
de fundo dot. (5, 23); L. 1. C. eod. (5, 23); L. un. § 16. a de rei
ux (6,13).
(*) L. 1, pr.; L. 16. D. de fundo dotal. (23, 6).
i Gai. II, 63.
(m) L. 3. § 1,; L. n. de fundo dotal. (23,6).
(n) Pr. J. qi alten. Ucet (2. 8),
(o) Hasse , Giiierrecht der Ehegatten p. 220.

»
148 HISTORIA
fultassc qualquer destes requisites a expressue dos
não era empregada no seu sentido technico, e só
como expressão vulgar; e neste caso as passagens
apresentados como provas contra esta asserção po-
dem ser tomadas como a favor. Danz (p), é também
de opinião ser o dote contra o espirito da in manum
conventio. A manus, diz elle, que por direito antigo
adquiria o marido sobre a mulher não era um
ônus, e sim um jus', era uma udquisição que se fazia
da mulher pelo casamento; assim como não
podemos considerar como um ônus a adquisição de
um filho, que por arrogaçao veio a cahir em o
nosso pátrio poder. Sómento quando o matrimônio
não era com a conventio in manum,, é que se poderia
entender, que se fizesse, uma doação para ajudar
os encargos do matrimônio, por isso que a mulher
apezar de dever ser sustentada, não fazia porte da
fomlia de seu marido. Contra Hasse apresentou-
se primeiro Unterholzner (^], assim como também
Schilling (r). Buchardi é de opinião ser possível
constitiur-se um dote á mullier mesmo qua&do
contrnhisse ella matrimônio com a conventio in
manum (í). Só a mulher ó que se não podia fazer a
si própria um dote, por isso que seu» bens « ãotis
mmine » cabiâo ao marido (<).
Quanto ás dividas da mulher só se dava ao credor

{/)} Danz , Lchrb. P. !• p-153.


(?) Hall. allgem. L\tt. Zeit Attgustheít V. J. 1824. N.* 202, e
depói&o mesmo m a TflMug. krit. Zeítschr. T, V. p. 26 e íttgutuus.
(r) Pemerkungen p. 174 seguintes.
(íj Vatic. Frgm. §115.
(í) üic. Top, c, 4; pro flaeeo c. 35.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. Ílx9
uma accão para o montante do que ella tivesse
trazido (u). Tudo porém quanto a mulher adqui-
risse depois do matrimônio cabia a seu marido por
via da inanus (ü), por isso que ella como filha,
juridicamente nada podia ter seu propfio (®). Morria
a mulher antes do marido não tinha lugar successão
alguma; se porém morria elle antes da mulher
recebia ella uma parte da herança como filha (y];
e ainda mesmo como viuva conservava-se ella para
com os filhos na mesma relação, e herdavão-se
reciprocamente.
Com relação ao casamento sem a conventio in
manum sendo o dote como destinado para ajudar
os encargos do matrimônio, cabia em poder do
marido, que delle podia dispor como bem lhe
parecesse, observadas as restricções já mencionadas.
Ouanto aos outros bens da mulher não corapre-
hendidos no dote , e que os Gregos cbamão «afmíífejwa,
a elles não tinha o marido direito algum.
O dote ou aquelles bens, que a mulher trouxe
ao marido, e que soluto matrimônio lhe devião ser
restituidos outra vez chamavão-se res uxori®; e
estes bens reclamava ella depois de dissolvido o
matrimônio com a acíio rei uxoiifâ', alem disto
existião cautiones rei itxoriw para as quaes se deu a
acíio ex stipulalu (z). Para o caso de divorcio
quando o matrimônio era com a manus linha a

(m) Gai. III, 83, 8Í1; IV, 38.


(u) Gai II 86, 4)6; 111,163; Ulp. XIX, 18 ,'19.
(a) Gai II, 96.
(y) Gai. II. 139, 159; 111, 3; Ulp. XXII, ih; XXIII, 3, XXIX, 1.
(í) L. 67. D. de jure dot. (23, 3).

í.
150
HISTORIA
mulher a actio rei uxoriw. Talvez que por não
haver antes urn direito de acçao é que se diga ter
sido pelo divorcio de Carvilius Ruga , que se
ndoptárâo as cauções (aa). Podia também ter sido
stipulado sobre o dote, e neste caso havia contra
o marido e seus herdeiros uma actio ex stipulatu
depois de dissolvido o matrimônio, por ser esta
a condição da slipulaln [bb]. Slipulalor podia ser
a própria mulher, quer fosse ella ou outra pessoa
quem tivesse constituido o dote, ou então o ter-
ceiro que o constituio (cc).
A mulher, ou outra pessoa por ella, podia exigir
a restituição do dote se a dissolução do matrimônio
tivesse sido ©ocasionada por morte do marido, ou
por divorcio sendo a mulher auctora. Se ella
estivesse sobre o pntno poder então a seu pai cabia
faze-lo, porem sempre de acnordo com a filha, e
seus herdeiros, e só no caso de estar o marido em
móra [dd]. Se foi por morte da mulher que teve
lugar a dissolução do matrimônio tinhão direito a
pedir restituição do dote, se era dos profectida, o pai,
ou seus descendentes paternos (ee); ficando porém
uma quinta parte para os filhos; se o dote fosse
adventicia, isto é, todo equalquer dote que não fosse
profectida ficava pertencendo ao marido [ff] 0 dote
ou devia ser restituido innatura, ou então pelo

(aa) GeU. IV, 3.


ibb) L. 21 —23 de jure dot. (23, 3).
(<*) UIp. VI, 5; Vatic. Frgm. § 112.
'rfrf) Ulp. VI, 7; Vatic. Frgm, § 112.
lee) Ulp. VI, 3.
(ffl Ulp. VI, 3—5; vatic. Frgm. § 108 ; L. un. S 6. C. de rei
uxonae act. (5,13).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 151
seu justo valor; e devia a sua restituição ser feita
em Ires términos de anuo, annua, bimã, írima
die [gg]. O que foi alterado por Justiniano [hh].
Finalmente, se a mulher fosse culpada do divor-
cio ficava para cada filho 1/6 do dote, porém nunca
mais de 3/6 (m). Propler mores; se por delicio da
mulher houve divorcio , propler mores graviores,
como por exemplo por adultério, 1/6; se/mores
1/8(jj). Se era o marido o culpado; quando propter
mores maiores, era obrigado a reslituir o dote imme-
diatamente sendo res fungibiles, o que era caso
contrario elle só teria obrigação de fazô-lo nos Ires
términos; se propler mores minores, então em seis
mezes [kk]. Tinha também lugar uma reíentio dotis
propter res donatas; isto ó valor d'uquellas cousas doa-
das á mulher e que não forão outra vez resti tuidas (íí):
propter res amotas; isto é valor daquellas cousas
tiradas pela mulher e não recuperadas (min). Propter
res impemos, feitas pelo marido sobre os bens dotaes
segundo o principio necessários impensw ipso jure
minnunt dotem [nn]. Todas estas retentiones ficavão
porém de nenhum effeité pela actio ex stipulatu:
pelo que creoa-se então propter mores um judicium
de moribus particular, e a actio de moribus (oo).j

igg] Ulp. VI, 8, 13.


{hh) L. un, § 7. C. de rei uxoriae act. (5, 13).
(íi) Ulp. VL, 10; Vatic. Frgm. § 105, 106, 107, 120, 121.
(jj) Wp. VI, 12.
(/c/t) Ulp. VI, 13.
(«) Ulp. VI, 9; L. 66 §1. D. de donat. int. V. etü. (24, 1);
L. 15 § '- O. solut. matr. (24, 3).
(min.) Ulp. VI, 9.
(wn) Ulp. VI, ; L. 5, 7, 8,9,11,15,16 D. de imp. In res dot.
facl. (25.1)-
(oo) Gai. IV, 102 ;L, 5pr. D. de pact dot. (23,4).
153 HISTORIA

IV. INFLUENCIA HO MATRIMÔNIO SOBRE OS BENS.

§ -42. Entre mnrido e mulher durante o ma-


trimônio não podio ter lugar doação alguma
valida (a), por isso que o imf.rinaomo não devia
ser uma especulação. Assim as doações feitas entre
marido e mulher não erão validas juridicamente
e podião ser demandadas. Exceptuavão-se os se-
guintes casos:
As moríw causa domlioms, por ;«so que estas
doações só erâo perfeitas depois da dissolução do
maírxmonto, Toda e qualquer doação era que o
doador morria sem reclaraal-a. Do mesmo modo a
doação divorcii causa, quando os esposos conccnsy
se separarão (fc). Quando o uxor in mmum fazia
um furto ao marido, não tinha elle uma octio
furli contra ella, e sim uma retentio propter regam-
tas em caso de divorcio. Além d'ísso concedeu-se
uma actio rerum amotarum, lendo lugar o divorcio.
0 mesmo tinha lugar com relação ao matrimônio
nine manu: o furto commetlido pela mulher não era
um furto, e nem Unha o marido outro direito senão
o da vinàicatio, e uma miáiho furtiva. Se porém
o furto fosse feito com vistas de divorcio, depois
de divorciado ia o mando contra a mulher com a
actio renm amotarum. 0 mesmo acontecia a favor
■ I>i'|*iyp| iHfi I I III I-.H i-j I-I i ^ m ■■ LI"' I II» ■ ■ , 11 j ■ ii r
(a) <íp VII, 1; Paul. sent. II, 23; L. 1»3 pr. D. de donat Int.
vir, (24,1).
(b) Ulp. VL 1; D, XXV, 2; de actíonererum nmotarom; C, V, 21;
Rerum amotarum.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 153
da mulher contra o marido ein circurnstancias
idênticas.
No tempo dos imperadores, instituio-se a domtio
ante nuplias, a-mçepvi, depois chamada por Jus-
linlano propler nuptias (c). Tal é a doação que faz
o marido á mulher afim de que ella e seus filhos
podessero contar com esses bens para seu sustento;
já prevendo o caso de cahir ella em miséria, já por
divorcio por culpa d'elle marido, já no caso de
morrer elle. ©'estes tres casos não sabemos exacla-
mente qual tivesse sido o caso normal. Antiga-
mente devia esta doação ser feita antes do matri-
mônio; Justiniano finalmente mandou que podesse
ser feita mesmo durante o matrimônio (d). Esta
doação assemelha-se ao dote n'isto; que o dote era
a mulher que trazia para ajudar os encargos do
matrimônio; e esta doação era feita para asse-
gurar o futuro da mulher, e dos filhos, podendo
por direito justinianeo, a mulher exigir mesmo
uma donaíio propíer nuptias sempre , que houvesse
dote.
Por morte do marido tinha a mulher direito a
esta doação
« no caso de ter filhos;' e não os lendo
só quando expressamente assim fosse declarado (e).

V. DO DIVORCIO.

§ 43. Antes de en trarmos em matéria, cumpre


notar o seguinte: repudium dizia-se propriamente

(c) §S. L de donat. {2,1).


(d) % 3. L cod.
(e) Nov. 22 c. 32, 33; Nov. 127 c. 3.
DIR. ROH, 20
15í| BISIOIUA
do mando ou noivo, que se retirava («); divomnm
díz.a-se da rmilber, que se separa [b] ; depois
porém confundiruo-se estas expressões.
Dos primeiros tempos nada sabemos concernente
ao divorcio.
Sabemos que a confarrmiut tornava o rmilrimcmio
indissolúvel, mas não talvez pela ma nus; a con-
fwrmúo era um requisito necessário á dignidade
de jlamm áialis, 0 tanto assim era que se a mulher
lhe morria, perdia elle a dignidade de ftamen:
« morem si amisit flaminio decedü (e)». Mas como é
de suppdr, era contra o espirito do paganismo,
tornor-ee i roposmel ao marido repudiar a mulher.
Podia este por delictos da mulher repndial-a f
depois de ter deliberado coro os paienles (d), tendo
então Ingur a divorcio pela àiffmretüio (e). Cora
respeito a outros casamentos, tinha lugar o divorcio
sem outra formalidade mais do que o quererem am-
bos ou um só dos esposos divorciar-se : repudium
milím?. No tempo da repuMica era jé o divorcio
punido quando não houvesse ura motivo justo ,
que O' íuitomasse; asaiust se por culpa do marido
era elle punido cmu anoio censenia; se por culpa
da mulher línhão lugar diminuições feitas no dote.
Suppoera alguns jurisconsultos já ter a lei das
Xll Tahoas tratado d« divorcio r e talvez se firmem

(«> Pkat. Aul. IV, 10» 53.


(i\ Cic-addiv.
(ci Marüal X, 41, 8 ;TacU, Ana. XII., 4® . IL, 86; GeM. X. 15.
(d) Plut Pomul. 22,
(«) Festusv. diflarrtatio.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 155
em Cie. philipp. II, 28 (mimam illam suaá res sibi
habere jussit ex diieclecírn tabnlis; claves adejnit
exigil); o que porétn esta passagem não justifica.
Do mesmo modo se di- também ser Spurius Car-
vilius Ruga o primeiro que se divorciára em Roma
em 520 (/]. O que além de ser extraordinário não
é verosirail [g).
Com a corrupção dos costumes tornárâo-se os
divórcios mui freqüentes, e motivos fuleis bastavão
para repudiar-se ainullier, ou divorciar-se ella do
marido [h]. O dique que se oppòz foi de incor-
rer o culpado em certas penas pecuniárias; e
debaixo deste ponto de vista perguntava-se, se o
divorcio tinha sido por livre arbítrio de um , se
por culpa do outro (i); ou se por veotura por moti-
vos, sem entretanto ser ura d'elles culpado, e tal
era o divorcium bom gralia ij). Também quanto
ás formulas nada havia juridicamente marcado (fe).
Foi a lex Julia deadulteriis, que então estabeleceu
uma formula para o divorcio ; notificação do repu-
dio por via de um liberto da família perante sete
teslemunlias eives romanl (í). Logo que o divorcio
não fosse feito d^este modo continuava o matri-
i , l r — ' *
(/) GeM. IV, 3; XVU, 21; Dionys. II, 72; Valer. Max. U, 1, 4.
iíl) Entre outros consulte-se: Walter Uechtsgescii. T. 2 p. 122.
n. 6a.
(4) Ptut. Aem. Paul. 5; Cie. atl fami). VIII., 7 ; Cie. pro ClUent. 5.
(i) Cie. Top. c. 4; Vatic. Krpui. § 121; L, 4. D. dcíliv,ortüs(24,2);
l. 7 D. soluto rnalrim. (24, 3).
lf) L- 6. D. de divorl. (2Í, 2); L. 14 Si !>• qui et aquib.
(40, 9).
(k) Cie. de orat. I, 40, 56.
//) L. 9, P. de divorl. (24, 2}; L. 43. D. ad leg. Jul, de adnlter.
(43, õ).
156
HISTORIA
monio jure a subsistir. Se o mairiraonio era com
manus não tinha o divorcio influencia alguma
sobre este : a mulher podia logo que se tivesse
divorciado do marido pedir a dissolução da ma-
nus (w). O que tinha lugar raras vezes por uma
erimmpatio, e sim por uma remancipatio a algum
parente ou amigo da mulher seguindo-se depois
a sua manuuiissáo; ou então pela coemptio (w).
No tempo dos imperadores, procurarão elles pôr
limites a tanta licença; e fixarão os delictos que
só poderião Valer á parte não culpada para intentar
o divorcio ; e erão contra o homem penas peounia-
rias; contra a mulher penas mesmo pessoaes. Neste
sentido legislãrão Constantino (o), Uonorius, Cons-
tantius (p), Theodosio II [q], Yulentiniauo III (r) e
Justiniano (s). Assim pois de Conslantino por diante
procurarão os imperadores acabar com os abusos
relativos ao divorcio, e ditlereiiçavão-se nos últi-
mos tempos os seguintes casos: Divortium commani
consenm. Este divorcio foi permittido até o tempo
de Justiniano (í}; depois por elle prohibido (m).
Divortium bona gratia (u}. Quando promovido por
uma das partes por motivo plausível, e nao por

(m) Gai. I, 137.


(«) Gai. 1,115,195; Festus v. rcmancipatam.
(0) L. 1 C. Th. de repud. (3,16).
Cp) t. 2. C. Th. eodem.
{<!) Nov. Theod. Tit. XII, de repudils; L. 8. C. de repud. (5 17)
(r) Nov. Valent Tit. XXXIV. de episc. jud.
(s) L 10.11. § l. 2. C. de repud. (5,17); Nov. 22 c. L 15; Nov.
11 ( 8 9 13 Nov 12
?(1), \L. '9. 'C. de repud.
- 7'S,c.17).
/i; Nov. 134 c. 10,11.
(«) Nov. 117 , c. 10. Nov. 134 c. 11.
(") L- 7» 10 C. de repud, (5,17).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 157
culpa sua. Gomo causas couhecião-se: a impotên-
cia, segundo Justíniuno depois de dous ou tres
a a nos de prova; e o capliveiro. Constantiuo per-
miltio á mulher divorciar-se, quando o mando
partindo para a guerra a deixava por quatro
annos sem noticias suas. Justiniano porém prorogou
o tempo a dez annos (x), até que por ultimoprohibie
o divorcio por semelhante motivo {y). Repudiam;
tinha lugar por morte feita pelo maiído, destruição
detumulos, e adultério; por ordem de Constan-
tino (z). Depois fizerão-se modificações; e luliano
restabeleceu outra vez o direito antigo (ao). Honorio
porém fez algumas restricçoes (bb). Tbeodosio II,
restabeleceu (439) o direito do terceiro período;
porém, depois (449) o de Consbmlino, e deter-
minou as causas do divorcio; morte, adultério, e
outros crimes, máos tratos, vida mysteriosa, e até
mesmo se a mulher desobedecendo ao mando
fosse a jogos públicos (cc). Justiniano laudo rece-
bido este direito fez-lhe depois modificações pela
Nov. 114 e. 14. Por direito Juslinianeo máos tratos
não era motivo para divorcio, e por esse motivo
o marido só era obrigado a entregar i mulher 1/3
da donado propter nuptias. Honorius ordenou que
se fosse a mulher a parte culpada que perdesse o
dote; e que se fosse o marido perdesse elle a dono-

(x) Nov. 22. c. 14.


(lf) Nov. L17 c. 11.
'*') Ifc 1- C. Th. de repud. (d, 13).
(«*) I- 2. C. Th. dedoia. (3,13).
(66) L. 2.0. i. 18).
(ec) L. 8. C. de repud, (6,17),
158 rfUTOBJA
tio propUr mptias. Secundo Xlieodosio II queta
se divorciasse sem motivo plausível perdia da
mesmo modo o dote, ou a donatio propter mptíasí
e dado o caso de não haver uma ou outra cousa;
1/4 dos bens (não excedendo jámais a 100 C da
ouro) (ád) O que depois foi reduzido a só 1/3 [ee).
Finalmente pela Nor. 134 o. 11, aquelle que se
divorciasse iilegslmente quer fosse o marido, quer
a mulher devia recolher-se a um convento, e uma
parle de seus bens era destutada aos herdeiros legí-
timos, e oulra parlo para o convento.

IV. LUTO E SEGUNDAS NUPCIAS.

§ 44. Para a mulher a morte do marido trazia-


lhe o dever de pôr luto, assim como por outros
parentes mais provimos. O luto consistia em re-
nunciar ella a enfeites, adornos, e íesuns (a).
O luto d arava um anno de dez mezes (6).
Era prohihi.do á viuva passar a segundas nupcias
durante o loto (a). Infringia a viuva estalei tinha lu-
gar infa una exedictopraeiom, nãopreoedendo Uceaça
do senado. A iníamia recahta sobre o pai da mu-
lher e seu segundo marido, porquanto: nos tempos
primitivos não baviti iníamia para ella (d), Depois
porém a mulher soffria também a pena, e era in-
'i ■ l 11
" "' t" m i;
"' J
-" i '
(dd) L. 11 pr. S i. C. dc repud. (5,17).
(«> Nov. 117 c. 18.
'anl sent 1,21. S 14.
(5) Macrob. Satarn. 1,12.
(c) Plut Noma. 12.
(d) Vatíc. Fi-gro. §320, 321.
DO DIREITO ROMATO PRIVADO. 159
fame (í). Esta pena não era por causa do luto-, mas
para evitar a turbatio sanguinis í f).
Augusto mandou que as mulheres só três annos
depois da morte do marido purlessom passar a segun-
das nupdas (3); o quedepois reduzi o a doas annos (ft}.
Caligulu permittio no dia de seus annos que antes
de completar o tempo do luto podossem as mulheres
tornar a casar coratantoquenáo estivessem gravidas,
por dever-se evitar a turbatio sanguinis (i). Não po-
dia pois a viuva passar a segundas nupcias antes da
possibilidade de se saber que traz'a no ventre filho
do primeiro marido, sendo o tempo de dez mezes, e
segando Theodosio de doze (j). Logo que nascia a
criança deixava de vigorar tal prohibição, o que se
não deve confundir com o luto, porque este conti-
nuava (1;).
Entre os Romanos honrava-se a viuva que não ti-
nha passado a segundas n upciase a expressão mivira
era comosjmomraa de castimma. A estatua da Pudici-
cia em Roma não podia ser tocado, nem coroada
senão por aquellas mulheres, que só linhão casado
um vez (i). A viuva que tornava a casar não ousava
tingir a fronte com uma coroa (m|. Entretanto a lex
Julia et Papia Poppaea exigia um segundo casa-
mento.
(í) Vatie. Frgm. § 320,- L. 15. C cxqaib. caus. inf. {2,12),
(/) L 41 S,2. D- de Ws qul not (3, 2).,
(yj Sueton. Aug. 3â.
(h) DioCass. LVI, 72.
(t) Vatíc. Fr),™. § 320 e seguintes.
(j) L* 2. C. de sei. nupt. (5, 9).
(A) L. 11 § 2. D. de his qui not. (3, 2).
(I) Festus. v. pudícilíae síguum.
(m) Serv, ad Virg. Aen. XT. Íi76.
160 HISTORIA
De Constanlino em ilionte acerescentárão-se ás
segundas nupcias certas desvantagens jurídicas (poe-
nae secundarum mptiarum), o que era mais em con-
sideração aos filhos do primeiro leito; e por isso
entendia-se também com o marido (n). flunstanüno
ordenou que o marido logo que passasse a segundas
nupcias perdesse o usofructo d'aqueíles bens, que
aos filhos pertencião por sua mãi. Direito este que
só foi revogado pelo imperador Leão (o). Constantino
também tirou á binuba o direito de revogar as doa-
ções , que tivesse feito aos filhos do primeiro
matrimônio por ingratidão destes (p). Tbeodosio,
Graciano e Yalentiniano mandarão: que a mulher só
tivesse o usofrueto do lurrum nupliak, e o deixasse
sem indemnisação aos filhos do primeiro matrimô-
nio. 0 mesmo m&üdárão Tbeodosio e Valentiniano
que se entendesse com o marido [q]. Finalmente,
Leão I mandou que um binubus não podesse dar
ao segundo esposo mais do que aquillo que um filho
do primeiro leito d'elle recebesse (r).

CAPITULO IV.
Tutela,
I. TUTELA IMPIJBERUM.
§ 45. As pessoas que não estando sujeitas a uma
potestas, e cuja independência se tornava perigosa
(n) L. 3—9. C. de sec. nupt. (5, 9).
(o) L. h. C. de matem. bon. (6, 60).
(p) U. 7. C. de rev. don. (8, 56).
(9) L. 5. C. de sec. nnpt. (5, 9),
(;■) L. 6. C. eod.
1)0 DIREITO ROMiNO PRIVADO. 1BÍ
já em o propno üteresse, já no de seus herdeiros,
ou que pela sua idade precisava ainda da ajuda de
outra para usar de seus direitos—para ellas se ins-
tituio a tutela; que pelo direito primitivo linha
também a fôrma de um poder (a).
A uma tutela estavão sujeitos impuheres e mulieres,
e isto sempre que o não estivessem a algum poder
como amanus, ou mancipium; e como não fosseui
capazes de eraprehender negocies tomava-se neces-
sário que o direito civil por qualquer modo lhes
desse essa capacidade, o que porém só poderia ter
lugar sujeitando-os a outro poder; este poder cha-
mava-se tutela; impuheres em tutela cbamavão-se
pupilli; e tutores chama vão-se aquellos, que tinhão
esse poder. A tutela mulieris era um jus, podia ser
reivindicada , e também cedida in jure (ò). Pião era
ella porém uma poteslas, e por isso podiõ.o ser tutores
mesmo pessoas dependentes da própria mulher, e é
o que claramente manifesta não ter a tutela mulierum
o caracter de uma potestas. 0 contrario porém era a
tutela impuberum, que conforme o direito romano
antigo era uma potestas sobre a pessoa (c). A tutela
diflerença-se dos outros poderes em nada ter ella
com a familia, podendo lambem até mesmo latinos
estarem sob tutela (d). O seu característico consiste

(ti) Gai. I, 442, l/i 3. 189; Ulp. XI, 1; L. 1. D. de tutel. (26, i\ •


pr. § 1. 2. J, le tutel. (1, 13).
(à) ülp: XIX, 11.
(c) A mi tiefflue Servius; Tutela (impuberum) est ac potestas in
capite libero ad tuendam eum qui propter aetatem se defeudere
nequit, jure civüe data aeperraissa. t. t- pr. D, de tutel {25,1).
(d) Gai. I, 167; Vatíc. Frgm. § 193,231.
UR, ROM, 21
162 HISTORIA
na inlcrpõálio 'autorüatis do tutor. Para esta inter-
posição da autoridade não liaviao formalidades pres-
criplas, e podia ter lugar estando o tutor presente (e);
não podia entretanto o tutor interpô-la m rcm suam,
om negocio era que fosse parle [f).
Portanto o pupillo só com seu tutor é que podia
formar uma pessoa completa com relação á capa-
cidade jurídica. Ao tutor podia também ser trans-
ferida a administração dos bens, o que ordinaria-
mente assim acontecia. Com relação aos impuberes
tanto a aüctoritas como a administratio erâo conüadas
ao tutor, por isso que elles pela sua idade erão
incapazes [g]. Os pbpillos necessitarão da aüctoritas
tutoris por serem incapazes para certos ncgocios;
e da administratio tutoris pela incapacidade de já
administrarem os seus bens. A tutela impubemm ou
era legitima, ou testamentaria, ou datíva conforme
o modo por que fosse deferida.
Legitima tutela. Pela lei das XII taboas cbamavão-
se para tutor certas pessoas, tutores legitimi, e erão
os herdeiros mais próximos sendo pessoas idôneas!
De um ingênuo erao os ognados mais proximos (/i).
De libertos o patrono , ou seus filhos [ij. Entretanto
era chamado aquelle que tinha domínio ex jure
guiritium sobre o escravo, ainda mesmo quando
só fosse o nudum jus quiritium [j], A pessoa que

(e) L. 9 § 6. D. dc ann. tot. (26, 8).


{f) L. 7 pr. D. cod.
(g) Wp. XI, 25.
(«) Gai. II, 155—157,164; § 2. J. delegil. agnat. tnt. (1,15).
ji) Gai. I 105; ülp. XI, 3.
(;) GaL 1,167: Ulp. Xf, 19.
do diukito bojuno privado. 163
inananaellia ao que se achava em maiicipio era a
quem cabia a tutela , e cbaraavá-so esta tutela
fidudaria (/c). Se era o proprio pai manumissor, o
que assim ordinariamente acontecia pela emanci-
pação, a sua tutela era igual em direitos k tutela
legitima do patrono (í). Juslin.ano tendo feito modi-
ficações pela Nov. 118 ao direito de successao , por
elle se devia então regular o tutela legitima (m). Pelo
direito antigo esto tutela era um direito dos tutores,
e em interesse seu como aguados; pelo moderno
era ella simplesmente um dever.
Tutela testamentariá. Já a lei das XII Taboas
dava ao pai o direito de nomear por seu testamento
um tutor aos sut impuberes (n). Tanto o testodor
como o tutor devião ambos ter a testamenti faclio (o):
e um latirmsjunianus pouia ser tutor [p], menos
por testamento (ç). A nomeação do tutor era feita
no testamento cora formulas determinadas (tuío-
rem do, tutor esto) (r). Os Sabinianos dizião que
a nomeação do tutor não devia preceder a do
herdeiro ; os Proculeinnos snslenlavão poder ser
feita ainda mesmo antes (s). Podia ter lugar até
mesmo em codiclllos (í). 0 tutor nomeado podia

[k] Gai. I, 115, 166, 195 ; Ulp. XI, 5.


{/) Gai. T, 172, 175 ; L. 3 §10. de legit. lut. (20, íi); tu. J.
de letít, pareotel, tutel. (1, 18).
(m) Nov. 118. c. Ü.
(n) Ulp. XI, ih
(o) Gai. I, 23; Ulp. XI, 0; Vatic. Frgm. §172.
(jP) Vaüc. Frgm. § 193.
(g) Gai. I, 23; Ulp. XI, 16.
(r) Gai. I, làí).
(.t) Gai. II, 231; §3. I. q"i leslam. (1, la).
if) L. 3. 8 pr ; L. 34. D. de lesl. tut. (26, 2).
BIR. ROM. 31 *
164 historia
excusar-se da lulela, ou mesmo depois abdica-la fu).
Tutela dativa. A' gens compelia por direito antigo
tomar conta da tutela na falta de um testamento,
e na de agnados. No segundo período era na falta
d'estes a nomeação feita por nm magistrado. Porém
a daiio tutoris nao eslava comprehendidu na juris-
dicção ou imperium do magistrado, devendo a datio
ser concedida especialmente por lei (u). a Tutoris
datio negue imperii est neque jurisdictionis sed d
soli compeiit cui nominaim hoc ãedit vel lex, vel
senatmtmsultum, vel primeps. » Tinha lugar a
datio tutoris pelo praetor urbanus por via da lex
Alilia com admissão da maior pars Irihunorum
plebis, que deviâo eonstituir o seu concilio pelo que
dissesse respeito á tutela—íwtor aíilianus. Pelo pre-
sidente , praeses, da província, pela lex Julia et
Titia (a:); No terceiro período por constituições dos
príncipes erão os tutores nomeados lambem por
outros magistrados, e erão estes os cônsules (y),
assim como houverào também praelores tutelam
especiaes. Depois obtiverão tambem a datio tutoris
os magistrados municipaes (z). Em primeiro lugar
era chamado o tutor testamentario; depois chamavâo-
se os legitimi , que porém ainda o não erão, dando-se
o caso de haver incerteza de ser deferida a tutela
testamentaria, e tendo lugar provisoriamente uma

(m) Ulp. XI. 17.


(í1 L. 6, § 2. D. de lutelis (26, 1).
(ii-) riai. 1, 185 , 186. 187 ; Ulp, Xt, 18, 10,
(y) Valic. Frgfn. g 155,
(j) li. 3. 1). de tutel. dal. (26, 5.)

1
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 165
dalio da parte do magistrado {aa). O oíílcio do tutor
abrangia duas cousas, interposirão da aucloridade,
e administração [bb]. A primeira era com relação
aos nogocios jurídicos, os quaes pelas formalidades
de direito entre os Romanos devião ser emprehen-
didospelo pupillo em pessoa. Comparecia o pupillo,
deixavão-o fallar, e o tutor que a seu lado estava,
revalidava tudo o que por elle tivesse sido feito (cc).
Naturalmente o pupillo devia comprcheuder as
palavras, e poder repelil-as; e se era menor de sete
annos então o tutor era quem sósinho tudo fazia,
vindo tudo a ler validade para com o pupillo (dd) ,
se bem houvessem suas diffieuldades pelas forma-
lidades exigidas pelo antigo direito.
Pela administração dos bens estava o tutor obri-
gado a bem administral-os , e ser tão diligente
como um bônus pater famílias (ee). Devia o tutor
prestar contas ; e contra elle linha lugar uma
tutela adio {[[). Esta acção contra o tutor era uma
adio famosa [gg]. A seu favor linha elle uma adio
contraria [hh]. Os pupillos erão postos a abrigo da
possibilidade da má administração : em primeiro
lugar pela remolio. A lei das XII Taboas dava uma

(cw) L. 11 pr. D. de tcst. tut. (26, 2).


(bb) Dlp. XI, 25, 26.
(cri Gai. I, 184.
(bit' l.. 1 § 2 ; L. 2. pr. D. admin. (26, 7); L. 7.1). quando es
facto (26, 3:; § 9. 10. L de inulil. stipulat. (3, 19); L. 18 § 2. 4,
C. de jure delib. (6, 30).
(ee) I. 10. D. de ndinin. tut. (26, 7).
(ff) Gai. 1,191; iv, 62; L. 1 pr, S 3; L. 4 pr. ü. de tut. act.
(27, 3); L. 2. C. dc hered. tut. (5, 54).
(gg) Cie. deor. I, 37.
(hh) L. 1. pr. D. dc conlr. tut. {27, 4)
166 HISTORIA
accao contra os tutores suspecli crimen, ou postulaliò,
uma quasi publica accumíio [ii]. Os contulores erão
obrigados a fazêl-o , e tarabern o magistrado ex
officio (jj). A remoção ou tinba lugar cum infama
por culpa lata , ou sine infamia, por incapacidade
do tutor. Em segundo lugar, lioiilnndü-se a admi-
nistração. Na administração eslava incluído o direito
de alienação (excepto a doação), oqual eraillimitado
por direito antigo. Um senatusconsulto do tempo de
Severus ordenou que não podesse ter lugar aliena-
ção alguma de praedia rústica, e suburbana, sem um
decreto do praetor urbanus tendo precedido uma
causez cognitio, e provado a necessidade que disso
havia [kk). Eslendeu-se depois este principio aos
escravos de um praidium rusticum, e Conslantiuo
coraprebendeu todas ascousas de valor excepluando
porém aquellns que se pudessem por ventura
deteriorar (í/). Justiuiano lambem prohibio o re-
ceber elle pagas sem ter um decreto para isso, isto
porém com muitas escepçóes (mm). Em terceiro
lugar por satisdatio do tutor. Devia elle preslar-
caução, e fiador, rem pupillam salvam fore. Ex -
copluavao-se os casos seguintes : se o tutor fosse
testamentodatus (nn); se o patrono, e seus filhos erão
também exceptuados, é duvidoso; a opinião porém

(ti) Cie. de off. III, 17; L. i;§ 2, D. de susp. tut. (26, 10).
(jj) L. 3, § 4 D. eod.
(AA') 1 1. D. de reb. eorum^upsiib tul. (27, 9).
{II) L. 22. C. de adm. lut. '(5- .'17).
(mm) L. 25. C. de adm. tul. (2, 37); § 2, I. quib. al. (2, 8).
(nn) Gai. IT, 200; pr. I. de satisd. tut. (1, 2/i).
DO DIBEITO ROMANO PRIVADO. 16'
mais seguida era que se devia ler em consideração
as relações individuaes, e assim a posição, e a
fortuna do patrono (oo). Em quarto lugar por uma
hypotheca legal em tudo o que pertencesse ao
tutor (pp). E finalmente por fiança.
Incapazes de ser tutor erão as mulheres; e no
terceiro período por concessão especial so podiâo oer
nomeadas a mai, e a avó (qq); o que foi recebido
pelo direito justinianeo como regra geral, comtanlo
que não passassem a segundas nupcias (ít); também
escra vos e peregrinos. Taes erão as p? rsoas que por
direito antigo erãc incapazes ipso jwre de serem tu-
tores. Não se olhava para as incapacidades physicas,
e isto porque pelo espirito do direi tf) antigo era a
tutela um direito; pelo quepodião menores, furiosos,
surdos, mudos, e ausentes serem tutores quando
fossem chamados pela lei. Umcameule em casos es-
peciaes no impedimento destas pessoas se pedia então
um tutor. Depois tendo este direito soffndo modi-
ficações estabelecÔTÕo-se as seguintes regrai. pri-
meiro, o tutor nomeado pelo magistrado era e foi
sempre d'entào por diante considerado como não
lendo a tutella de direito, e sim por interesse do
pupillo, pelo que se exigia que fossem p( -soas,
que na gerencia dos negocios do pupdlo podessem
exceder-se em habilitações. Forão excluídos os
muli, surdi, furiosi, impubsrôs; e não podia o noivo
— — r- — —"
(oo) li. 5. § 1. D. de leg. tut. (20, li).
(pp) li. 20. C. de adm. tut- (5,37).
(oo) Gai. 1,195; L. 16 pr.; L- 18 D. de tutel. (26,1). .
(ir) L. 2. C. quando mní. (5,35); Nov. 118 c. 6.
168 ntSTOMA
ser tutor da noiva (««). Devia o magistrado affaslar
aquelle tutor que sendo incapaz embora fosse cha-
mado por lei, ou por testamento (íí).
Jnstiniano finalmente ordenou que não podassem
certas pessoas ser chamadas a ser tutor (uw): menores
soldados, bispos, monges (nu), e além d'esles os
credores, e devedores do pupillo [xx].
A tutela (ornou-se pois um munus eivile, accei-
ta-la um dever. Entretanto davão-se motivos para
excusatwnes, sendo a maior parle d'elle8 o mesmo
que os das outras mimempersonalia. Podia escusar-
se quem tivesse três, quatro, cinco üíbos (yy);
senatores, magistrafm, grammatici, sophislce, rhetQr&t,
legum docíorcshm Roma, e mediei [zz]. Além destes
motivos ainda outros havião, e assim o não saber
ler, nem oserever (o); paupertas (6); tria onera
tütelae (c). Quem já tivesse servido na tutela podia
evensar-se da euratela (d).

«. TUTELA MUL1EBRIS.

§ 46. Assim como se dava uma tutela impuberutn,


assim também conhecia o direito romano antigo
1 1 1
" li .... i. i i i H i , •„
6i de tuL 31 26 5
(ss) L. 21- S d * ( » )-
(«) L 10 § 1. D. de legit. tut. (6,30).
fuw) L. ü C. de leg. Int. (5,30j; § 13 J. de excusat. (1,25;.
('«) L. 25. C. de ep. et cler. (1, 3); Nov. 123 C. 5.
(«») Nov. 72. c. 1; Nüv. 99, c. 1,
(yy) L. 1. C. qui numero lib. (5, 66); Vatic. Frgm. § 247.
(íí) L 27 § 1. D. de tut. dat. (26,6); L. 1 §4. D. de excusat. (27,1).
(a) § 8.1. de excusat. (I, 25).
(b) Vatic. Frgm. § 240; L. 7. D. de excusat. (27,1).
(c) Vatic. Frgm. § 125; L. tm, C, qtt! mero taL (5,69).
(ti) Vatic. Frgm. $188—200; Paul. IT, 27, 2; § 18 I. de exruj.
(1, 25).
-DD DIREITO ROMANO PRIVADO.
uma tutela sobre as umlberes, as quaes mesmo
quando maiores por varias co-nsiderações estavãiy
sempre sujeitas a uma tutela (n).
A mulher logo que não estivesse sujeita a: uma
po testas, ou ma nus devia tanto quanto vivesse estbr'
sujeita a ura tutor, Esta tutela era concedido pelar
lei aos ugnados, e ao patrono> sobre ai sua libertai, e
ao manumissor sobre a liberta ex-mancipio {6)v Esta,
tateia não era dada em o interesse tento da mulher
como o era em parle no dos aguados, e herdeiros inaisi
proximoSi afim de lhes conservar os bens, e em
parte era mão dos bons costumes (<1). Os tutores»
wmfertwtt não tinirão a administração por competir
esta á própria mulher, e d'ahi vinha não haver
nem prestação de contas, nem ma1 direito de atíçáo
contra o tutor (idj, Elles só tinbãü a intorpôr a sua»
Ottüíoriías em casos dolerminados; comrv fosse para
pòder ella alienar uma r'es mamipi (a); emprelieader
um dvile negotium (/"), uma in jure cessm (gj, uma
m6iiurnissão(i/í)i, acceptilalio (í); para) a coamplio (jl)-
para poder constituir uni dote (/c); e em geral sei!»'
pre que a mulher se quisesse obrigar de uma; xüa-
nerta valida (i). Os Motos hgíbtim não podião'S0r

(o) Gai, I, iiià, 190, 192; Ulp, XJ, 1.


(fr) Wj). xr. ,1,51
(tó.GaLL 189; 190,
(<*) ( ai. T, 190,1 l.
(«J Wp. XI, 27; Gai. 1,192; II, 47, 80; Vatic. Frtrm. U,
(í) Ulp. Xí, 27.
(?) Vatlc. Frgm. % 45.
(A) Ulp. 1,17.
(«') Gai. U, 85, III, 171.
[j) Gai. 1,195 (Jlp. XI, 22.
W Gai. I, 178, 180; Ulp. XI, 20, 21.
U) Gai. 1,192; IIJ, 9), 108; i:])). XI, 27.
DIH. BOM.
179 HISTORIA
obrigarlos a dar ^ aulorilas; o que porém podia
ler lugar ex-magna causa (m). Elles podião pela in
jure césio differir a tutela — tutor ccssicius [n]. Por
uma excepçao, as virgens vestaes não estarão em
tutela ; e assim pela lex Julia et Papia também,
aquellas mulheres que tivessem o jus liberorum,
sendo ingênua tendo tres filhos; e sendo libertina
quatro (o).
Para exclusão da tutela legitima bastava, que o
pai nomeasse um tutor testa mentario, que servisse
mesmo depois de ser já maior a filha (p). Tanto
quanto elle vivesse era excluído o tutor legitimus.
O mesmo direito que o pai tinha o marido pela
eonventio in manum. Podia o marido dar á mulher
á íutoris opiio, permissão para se escolher um tutor.
Chamava-se optio plena quando a mulher podia esco-
lher ura tutor sempre que precisasse, e augusta
quando só o podia fazer detcrrainadas vezes. Os
tutores escolhidos pela mulher chamavão-se tutores
optivi, em contraposição ao nomeado pelo lestador,
dativi [q).
A mulher podia livrar-se da tutela agnatorum por
meio da coemptio cum exlraneo fiduciae causa. Era
este então tutor jiduciarius. Também se estendia á
tutela mulierum a lex Atilia (r), ella ordenava tutores
na falta completa de todos os outros. A lex Claudia

(m) GaL 1,192.


(n) Gai. 1, 168—172; Ulp. XI, 6—8.
(o) lat t, líá, líi5, m.
ip] Gai. T, 144,145.
(a) Gai 1.150 154.
(r) Ulp. XL 18.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. £71
acabou com a tutela dos aguados sobre as mulberef».
Ficou ainda tida como tutela legitima a dos patro-
nos, e do parens mo numissor ex-ma noi pio. Além
destas só havião ou testamentarias ou da nomeação
do magistrado (s). No quarto período a tutela mtdie-
rum desappareceu, porém não se sabe quando Dell*
ainda se fez monção em um edicto de Dioclecia-
no (í). Tanto no Codigo Tlieodosiano como Juslinia-
neo não se faz delia menção,

m. CURATIO.

§ 47. Logo que olgueux não podia estar á testa


de seus negocies, e se fazia necessário transferir a
admiuistração de seus bens, tinha sempre lugar a
curalio. O curador differençava-se do procurador
em ser este ultimo todo particular, e dependente da
vontade do dominus. A curalio era um munus pu-
blicum, e o curador um administrador nomeado pu-
blicamente. O curador tinha a administração dos
bens, e o curando como que debaixo deste ponto
de vista estava sob a sua direcção, ao passo que o
procurador era quem estava sob a direcção do dú-
tninus {a}.
Cura furicst, A lei das XII Taboas mandava que
se chamassem os agnadoá, e gentiles do furioso (6).
Era esta uma cura legitima. Na sua falta era a no-

(s) Gai. I, 157, Í71., 17?.


f<) Vatlc. FrfiD. § S25.
(a) L. 3. C. de in Int. Í2, 2ü;.
W Wp. XH, 1. 2; Gal. U , 64.
#5? WüWA
mfíaçÃjo feil,» jjçilç» ca^^radp (ç). for um rw-
ccipto de Marco Aucçljo qua^de p pai ífv«ese iftdi-
giülfido .eiji leslajofiuto um curínlpr devia o prstpr
4{i?êl-p (dj.
(CW® pndigi. A lei das XII Tahoas mondava que
íiifM' lle, que puldipameuí^ fosse Aido por prodi^o,
qve uopfíra elle se prqforiase a inlewíicçâo, e fossam
seus bens ooüpcados sob a eu ratei» dos ignados
Esta curador analogia da íura fbrwv, era consido
roda como legitima, quando por ventura o prodigo
viesse a herdar abifkteslato de seu pai, porque não
se dando esse caso dfevia então o pretor nomear o
AUi^dpr Não se dandp isto porém, pia a noraea-
-çãp .feUa .pelo magistrado A jurisprudência con-
pedeu qwe o .curador pom.eadp pplo pai em teala-
wenío foftse conapwdo pelp magistrada {h), somo
Siçoptonia m cura fktr-mi
mmrmi. Tendo desnpparomdo com 9 pw-
reia dos ppíUmues a fii,mpb cidade, .lorna^a^e nada
ve? mais lã mp^datíe npepssitada de pro,leoçao, de
nuwieira que os gue íossoro menopos se não amíii-
pssspm Ppróm qnp o meaor ptogass® a ser
oonsidçra.dp como predigo ppdip jé ler psWíJJfldo
a maior parle da siía fortuna; e foi isto o qqe a
Iw PXwtam tew .em n-ista prever. Este tei w^da-

(c) L. 8 S 3;íi. 12pr. D.jde tutor..et çurat. (26, 5); L. 1. 2.6. i?.
"B. Se curst. {at 40){t§3í 4.1. de oura*. (1,28).
(d) L. 16 pr. D, de corat. 27,10).
'Pi E 1, jtf D. de curat. (27, Iff); Ulp. XII, 1. 2.
(f) tnp. XII, 3.
Iff) Ulp. XII, 3; L. 1. 3. D. de curat, (27, JjO){ %% I, de curat.
(L, 23).
(A) E 16, D. de curat. (27,10).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 175
va que a fraude contra os menores de 25 annos (i),
désse nascimento a uma acção criminal que trazia
após si infamia. Pfobibioella estipulações e emprés-
timos de dinheiro feitos a menores quando estes não
tivessem pedido ao magistrado um curador, e obtido
certisex causis. Marco Aurélio mandou que menores
a pedido seu obtivessem sem causa determinada
um curador [j]. jYão se podiõn dar curadores a me-
nores contra a sua vontade, inviti non accipiunt cu-
ratorem; exceptos os casos em que outros tiverem
o direito de exigií-o como por exemplo in citem, e
do mesmo modo o devedor que quer pagar (Íí).
A curalela acabava na pessoa do curador tal qual
a tutela. Na pessoa do curando por capiiis dminutio;
e por exlincção da causa. A cura furiosi extinguia-se
logo que o furioso sarava; e do mesmo modo a
cura prodiiji, cora as melhoras destes (l); a cura mi-
fiorum com os 25 annos, ou já no terceiro período,
com a venia aetatis (m).
0 curador não tinha que iutorpôr a sua autori-
dade , e só sim o seu consentimento que não é
senão uma parte da administração.

{i} L. 2. C. Th. dedonat. (8,12).


0') Gfd. 1, 197,198.
\k) Ulp. XH, à; § 2.1, de curat. (1, 23).
Ú) L. 1. pr. D. de cur. for. (27,10).
fa») Jú. 1 g 3; L. 3 pr. D. de minor. (4, 4).
17á HISTORIA

LIVRO II.

D1KG1T0 DAS C011SAS.

CAPITULO I.

Do Dominio.

I. DA POSSE, E DA « BONAE FIDEI POSSESSIO. »

§ 48. Consideradas as cousas como objeclos des-


ímados para o domínio do homem, ellas exislem
para ser submetlidns á sua vonlade. Esta sujeição
se nos manifesta primeiramente como um facto,
sendo o poder factício sobre a cousa o resultado
d'el]e; e a isso chamamos a posse de uma cousa. A
posse porém como um facto, não tem desenvolvi-
mento histórico.
Quer Niebuhr que se procure a origem da posse
no ager puhlkus. Erão estes terrenos pela maior
parte distribuídos a particulares de modo que o
Estado conservava sempre a propriedade, e recebia
dos possuidores um imposto; forão estes terrenos
chamadospossessiones; e é a esta expressão, que se
refere a definição que dá Gallus Aelius posmsio
est usus quidam agri aut aedificio non ipse fundus
autager (a). A fôrma da cessão nos tempos mais

(a Festas, v. posseMio.
BO DIREITO ROMANO PRIVADO, . 175
antigos, quando ainda os patrícios eráo esolusiva-
mente privilegiados, era a occupatio por concessão
do Estado; depois pelos censores por meio da locatio.
Crô-se que estes possuidores, posscssom, tivessem
tido uma garantia por via dos inlerdictos possesso-
rios; e então concluio-se que desta primitiva appli-
cnção os inlerdictos se estendessem mais tarde ás
res mobiles. Esta hypotliese porém só se funda na
palavraposscrói. Aposse, dizPuchta, de um cujer
publicm, e a posse a que se fez a applicação dos in-
lerdictos possessorios, são bem difrorentes. Aquelía
funda-se em uma causa justa, concessão do Estado;
e esta é independente da causa. Além d'isto, em
parte alguma se faz monção da connexão entre os
inlerdictos possessorios, e o ager pablicm; até pelo
contrario encontramos para este outro interdieto,
que não é possessorio, e que foi introduzido para
garantia do possuidor1—iníerdiclum de loco publico
frucndo (b). Tanto baste para tornar esta hypotbese
de nenhum fundamento,
Na indagação, pois, da origem da possessio em
Roma não nos devemos mportar da posse do ager
publicus, nem da posse da propriedade de pere-
grinos, mas dos casos em que fosse o domínio
possível; por quanto só então se poderá conceder a
independência da posse, em contraposição a este.
Ainda mais, não se trata do usucapião da posse;
por quanto o usucapião não é puramente factício, e
consequentemente não conslilue com relação ao

(A) L. 1. pr. D. de loco publico frucndo (i3, 9).


T7fi HisrcmiA
domínio relações cooapletanieiite dislinctas; atiles
até mesmo ainda mais com elle se liga. Para ga-
rantia de uma simples posse dava porém motivo, é
este bastava nos tempos mais remotos de que temos
notícia, a decisão sobre o papel das parles sobre a
posse até decidir-se do direito de propriedade;
daqui veto estabelecer-se depois os interditice reti.
nend® possessimis, dos qnaes se originarão mais
tarde ainda os intcrdicta recuperando; pomssionus.
Como omloga ao dotninio aiipareeo a bonw fiéei
potsemo, que vinha a ser quando alguém peito
tituh, e em boa fé, tinha havido a cousa de
um não dominns. O bona fidei posmsor n o se tor-
nava dommus; nnha só a seu favor já por direito
antiquissimo, em primeiro lugar o usucapião peío
qual1 vinha a adquirir depois o dominio quirilario,
e era indifferente ser a cousa res mancipi, ou res
nec mmcipi (c); em segundo lugar , depois qué
pelos prelores foi dada a actiff pnbliciam, o btínút
fidei possessor podia usar d'ell:a mesmo ainda antes
d» completar o usucapião [d].

11. DAS DIFFEKENTES ESPECTES DE DOMÍNIO.

O dominio quiritario na antiga Iloma era co-


nhecido como o único e verdadeiro , e só em
reí. mobiles se dava um dominio privado. O Es-
tada esa exelusivamente quem tinha o domínio;
os particulares só erão considerados possuidores

(o) Gai. II, 43, Ulp. XIX, 8.


id) Gai. IV, 38 ; L. V. D. de Pubiic. (6, 2).
tio diheito romano privado. i"J7
*5 «sufrucluarios, tal era a possesm de uma parte
do ager publicus na sua fôrma primitiva. Esse do-
mínio privado de uma Tes mobilis era designado
pela formula; mewn cst ex jure Quiriliwn. Foi só
com a inüuencia do elemento plebeo que desappn-
receu coraplelaroente esse direito exclusivo de pro-
priedade do Estado; o jus Quirümn estendeu-se de
então por diante sobre todo terreno, e só perma-
neceu ager pubUcus uma parle d'elle. Entretanto
a expressão possesstio era ainda empregada para
aquelles terrenos que não eslavâo comprebendidos
no jus Quirilium. A proporção que o império Ro-
mano se foi dilatando estabeleceu-se o principio
de que não era possivel o jus Quirilium em terrenos
provinciaes; o que porém não impedia haver um
direito sobre elles analogo ao dominio quando por
ventura esses terrenos não fossem para o Estado,
distin^nindo-so n elles assim também (embora se
possa dizer ser propriedade do Estado lodo terreno
provincial) o ager publicus [a], ão ager privatus. 0
dominio do ultimo como bem o podemos chamar
era designado do mesmo modo que a posse do ager
publicus pelo nome possessio*
O jus Quirilium era só possivel aos que tinhio o
rommercium {júris civilis] ; isto é, eives romani,
latini; e não aos peregrinos, _ a menos que por
cxoepeão lhes não fosse o commcrcium espoclalmenfe
concedido. Demonstrão estas restricções que além
do jus Quirilium havia outro dominium , ou cousa

(a) fiai. H, tio.


01B» RÜM,
178 Historia
analoga reconhecida para os terrenos provinciaes,
assim como para os peregrinos. A este domimo não
quiritario era terrenos provinciaes deu-se o nome
de posscssio, até que mais tarde foi chamado domi-
n.o (6). Gaius servio-so d'esla mesma expressão
para exprimir o dominio d# peregrinos (r). Assim
lambem se referião a este dominio outras deno-
minações como por exemplo m cjus esl; só não
se uccrescentava : ex jure Quiripium. Os peregrinos
tinhão a seu favor uma in rem adio perante o prwtor
peregrinas, ou prelor da província com a intenção:
si pare', rem actoris esse. Entre os próprios Romanos
pois, e nas cousas mesmo capazes do dominio qui-
ritario formarão-se dous dominios, isto ó, um duplex
dominium: cora o quiritario appareceu um dominio
natural [d).

(b) Vatic. Frgm. § 315, 316.


(c) Gai. 11,/|0,
<i/) Gai. t. c. Zimmern em o líhciu. Mus. Ilt n.° 19 e seguintes,
nega ter o in bonis o caracter do domínio, c quer que unicamente
seja considerado como uma posse garantida. Os Homamis tinhão
reconhecido um dupíex dominium, mas isso não era com referencia
ao. bonitario, q quiritario, diz ellc, e sim ao nudum ius Quiri-
tium, e ao dominam ex wlroque jure. Vangerow não adraítíe esta
opinião e quer que as mesmas foiiles em que Zimmern ! apoia
sirvão para combatMo (Gai I, 5/i; II iO); por isso que diz uma
dellas: ita demum servum in potestate do mini esse dicemus si in
ejus bonis sit; assim muito claramente se diz que aquelle que tem
o in bonis sobre o escravo t chamado dominus. Da mesma ma-
neira .(ustiniano na L, pn. C. de nudo jure Quirit. tolt. (7,23),
e ThcophUus ad § ult. I. de libcrt. falia terminantemente de um
çumxYi ÍE;iT<iT£ttt, e um Íêí-orrí psiiTOfi*: compare-se a L. 15
§ 16, 17, 33 de damno infecto (39, 2). Jí finalmente Gaius e Gi-
pianus em muitos lugares usão para o dominio bonitario das exproii -
sões : mmm, tuwn, noslrum est: Gai. I, ''67; [, {1 Ulp. XXlf,
8. Consulte-se v. Vangerow, Leitfaden f. Pandeklen Vorles. T. 2.
p. 475.; Mayer, sobre o duplex dnmmimn do direito romano, em a
Zeitschr. für gesch. U. W. VIU., p. 2, e seguintes,
DO DIREITO romano privado. 179
O dominio natural era o resultado de uma res-
trieçâo feita ao quirilario. Esta reslríoção porém não
estava no objecto de maneira que o natural só fosse
possível n'oqiiellas cousas cm que não fosse o
domínio quirilario, o que não é assim por ser o
objecto comtnum tanto a um como ao outro. A
restricção também não está nas pessoas, de maneira
que fosse o do minto natural só para aquellas pessoas
que não erão capazes do quirilario, mas não; porque
entre os eives romani é que estes dous dofoinios se
differeDção; e assim lambera não tem conncxão
com o dominiodos peregrinos. Arestricção consisto
no modo da adquisição; como por exemplo dando-se
o caso de uma m maneipi, que sem maiiapío, ou
sem injwe cessio foi alienada por simples tradiíio (e).
As adquisições entre os Romanos derivavão-se
om parto do jus civile, e em parte âojus genlium (/").
É preciso conceder que houvesse um tempo em que
para se tornar perante o magistrado valioso o direito
de propriedade ter sido preciso appellar para uma
adqutsnsão cx jure cirile. Podia entretanto acontecer
não se poder judicialmente ser reconhecido domims.
Sapponbatnos ter alguém comprado um escravo ou
um cavallo, e que só pela Ir adido os tem era seu
poder antes de ter completado o usucapião. Os anti-
gos Romanos não julgavõo ser injusto o negar-se-lbo
a vinâimtio, por isso que se não servira elle dos meios
que se lhe oflereciao para que fosse valida a sua
adquisição; e até mesmo aquelle que alienara uma

(4 fiai. II, kl.


Xf) Uai. 11, 65; L. 1. pr. L. 53. I>. dr adqu. dom. (ftf, 1 .
'80 HtSTOKIA
resmancipi por meio de simples Iraditio conservava
contra uqnelle que a tinha em seu poder não só o
direito de propriedade como também o de reiv i-
dicaçào. Acudio porém a isto o protor dando ao
comprador contra essa reivindicação a exceptio doli,
que no caso de compra tinha o nome particular de
exceptio rei venditce et traditw. Ora entende-se, que
esta garantia se não limitava simplesmente á venda,
e entendia-se do mesmo modo quando havia uma
obrigação entre o dominus ex jure quirilinm, e o
possuidor pela qual aquelle era obrigado a entregar-
lhe o objecto,, e a considerar o nutro como daminm
e não a si, concedendo o pretor uma exceptio doli
contra a vindicarão Dado porém o caso de estar na
posse o dominus ex jure Quiritiuml Dava então o
pretor ao incompleto possuidor uma vindicação, o
contra a opposição do dominus exjure Quiritium uma
T&plkaüo rei venditw et traditm. Foi assim queáquelle
que não podia comparecer como dominus pelas res-
tricções íormaes do jus civile concedeu-se-lbe o ser
considerada como tal cora relação a ao effeito,7 e assim
appareceu junto ao dominio quiritario esse segundo
domínio, qiie se não limitava aos casos em que se era
dominus pelo jus gentium, e não pelo jus civile. 0
pretor vio-se levado a conceder novos modos de
adquirir o dominio; considerando porex. como her-
deiras pessoas que o não erão, e que como laes lam-
bem não podião ser do mini ex jure gmriíium da
herança antes do usucapião, mas que entretanto já
tinhão o direito de vindieaçòes do herdeiro; do mes-
mo modo mettia elle de posse dos bens do devedor
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. i8f
insolvente a seus credores com o direito de ven-
del-os ((i); e assim também mandava entregar o es-
cravo da mesma fôrma áquelle que d^lle escravo
soffrêra damno, não lendo querido sen senhor por
elle responsahilisar-se (/)). É a este domínio estabe-
lecido pelos pretores que chamamos natural, e que
bem poderíamos chamar pretorio, que porém os
Romanos distinguião pela expressão in bonis esse
in bonis hahere (i).
Depois do que fica exposto podemos dizer, que
tem unia cousa in bonis aquelle que para isso tiver
uma garantia, e no caso de não estar de posse delia,
nma aeção para recuperal-a [j). Isto assim era quan-
do nao tinha lugar uma exceplio rei vmditae et tra-
ditac, ou uma exceplio doli contra a reivindicação do
dominns ex jure Quiritium; assim como também com
relação áquolles a quem o pretor considerava como
domims por via da cxceptio, ou da aceão, isto é
dominus bonitarius assim chamado. A definição do
domínio bonitario é pois esta; domimo garantido
pelo pretor a ura civis fomanus, ou lalims sobre
objecto qualquer capaz de domínio quiritanto ;
e cujo modo de adquirir era do jm gentium, e não o
adoptado pelo jus civile ; ou que erítão fôra conce-
dido ou garantido pelo pretor. D'aqui podemos con-

' jf I■ JXLa Ovf« ^


(ã) L. 2. § 1. D. si ex nox. caus. (2, 9); L. 26 § 6. D. de noxalib.
srtiüràh. (9, k).
(t) D'onde veio depois a expressão—afominttí bonitarius, que veta
em TheopMlo na tradnceSo grega íeoitdnoç pCTiTÓfwç, como lambem
dominus quiritarius, ^Euirò-ms ex jwre quiritario. Ao dominio qul-
lario chama elle évvojjwí Ma-noTeív,, ao in bonis, tpuaix-ií íeiirittla
(/) L. 52. T) de adqu. dom. lii, 1).
182 HISTORIA
cluir que: ou se linha a cousa in hoiiis, e ao mesmo
tempo exjure Quiritium, isto é pleno fure, como por
exemplo quando o dominus bonitarius concluía o
usucapião; e em regra geral quando se tivesse o jus
Quiritium, não estando a cousa in bonis de um
terceiro lk). Era também possível tcl-a um in bonis,
e outro em o seu dominio quirilario; e chama-se a
este ultimo nudmi ;us quiritimi (l). O terceiro caso
possível era nquellc em que uma pessoa podia ter n
cousa in bonis sem que ella estivesse no dominio
quiritario de um terceiro como acontecia por certos
modos de adquirir próprios ão jus geníium. Onudum
jus quiritium era com relação ao bonitario, um di-
reito nominal; assim por elle nào se vinha a ter
potestas sobre o escravo, nem faculdade de o raanu-
metlir, &c.; e só no caso de ser raanumetlida uma
escrava do dominus bonitariusé que compeliaéquelle
que .nha sobre ella nudim jus quiritium a lutella
segundo a lex Junia (m).
Justiniauo acabou com toda diíferença entre jus
quiritium, e o in bonis (n). Por direito Justinianoo só
havia um dommio, e este podia caber a todas oquellas
pessoas capazes em direito, e sobre toda e qualquer
cousa que não fosse excluída do d reito privado, em
virtude do modo de adquirir, reconhecido por Jus-
tmiano ou por elle introduzido. Deste dominio nas-
ceu a civili m rem ar tio, e era-lbe analoga a bome
fidei possessio da qual já fallámos no § antecedente ,

(fr) Gai. n, 'm, c 6ai. I, 5'i.


(Í) Gai. 1, 5,Ilí, 166.
(m) Gai. I, 167.
(rt) Cod. VII, 25.
DO niRKlTO ROMANO PRIVADO. 183
e a exceplio (e repUcalio] rei venditae et traditac per-
maneceu para aquello que tivesse recebido o objeclo
de ura não dominus, quando esle ou seus successores
qui/easenv fazer valioso o seu direito de propriedade
contra uquelle ou seus successores (o).

1U. MODOS DE ADQUIRIR O DOMIMO.


A. — Em geral.
§ 50. Os modos de adquirir entre os Iloraanos
ou perlencao ao jw cioilc, e para estes prescrevião
elles formulas solemnes; ou consistião então na nd-
qiiisiçâo da posse e tal é a fórmo do jua gmlium. Se-
gundo esta divisão que foi em Roma de snrama im-
portância, e que ainda nas oollecções de Jusliniano se
conservou, embora nestas só tenhão caracter dou-
trinai, mencionaremos os diíTerentes modos de ad-
quirir tratando de cada mn de per si.
Varro ^n) dá-nos a enumeração dos modos de ad-
quirir porém tão somente para o domínio sobre escra-
vas, e limita-se ao quiritario. Ensina elle como o
comprador se podia assegurar de ser aquelle que
vendia o verdadeiro dominus; « In emlionibusdo-
minum legitimum sex fere respltrjimmt: sihereditatem
justam adiit, si ut debuit, mancipio ab eo aeeepit, a
(juo jure civile poluit aut si injure cessit cui potuit cer
dere et idubio portuit, aut si usu cepti, aut si e praeda.
sub corona emit, tuinve cum in bonis seclioneve cvjus
publico venit. »
Outra enumeração e em parte mais completa é
m rr"' ■"" ■ 1 tp-1' '-Wa* *
(o) D. XXT, 3, dc exceptlono rri VPndiUP M rraditae.
(«) Varro, de R. R. n, 10.
m HISTORIA
a que ín UJpiano (b). Singularum rerum domnia
nobis adcjuiruntur maiicipaliouo, íraditione, usucapio-
ne, in jure cessione, adjudicalimc, lege. » Estende-se
elle sobre todas as cousas, liinilando-se porém do
mesmo modo ao jus Quiritiwn, o excluindo d'es(.e
as adquisitioncs per tmivemtalein .
Gaius (c), porém na enumeração que faz, inclue
também os modos de adquirir do jus geníium.

B.—Em particular.

1. Acquisitiones civilcs.
a. Acquisitiones civiles com exclusão do usucapião.

$5 Mancipalio, ucxum fcKPfe (ft), ou per aes


tl libram gerere {b). O acto tinha lugar perante cinco
testemunhas, cidadãos romanos íou latinos) (c), e
de mais uma sexta pessoa da mesma condição, que
segurava uma balança, e era chamado libripens {d).
O que adquiro [qui mancipio accipil] apprehendia o
objecto cora estas palavras; hunc ego hominem ex
jure Quirilium meum esse aio, isque mihi emtus est
hoc aere nencaque libra; e atirava com um pedaço de
metal, aes s. rauduscuium, na balança (« rauduscuh
libram ferüo») (e); o que ella dava ao mesmo tempo
como preço ao vendedor (/').
J
' " '1 —ly | l ,■ lu
IS)' Úlp. Xir, 2.
(o) Gai. II, Í5 e seguintes.
(«) Festus, v. Nexum. Nuncupata.
W Gai. /[, 107; m, 173.
(e) Gai I, 113, 117; 11, lOíi; III, 174; Ulp. XIX, 4; XX, 2,
(d) Gai. 11, 106, 107.
(e) Varro, de L. L. V, 163.
(f) Gai. T, 119—122; Ulp. XIX, 3—6.
DO DHIUITO «OMASO "PRIVADO. 185
Se bem isto feito estivesse o essencial coneluido,
ordinariamente porém acaba-se o acto com uma in-
(erpellaçãe feita a uma pessoa {se pelo raancipanlo,
se pelo que recebia não sabemos) afim de ver que
tudo tinha marchado em regra; a esta interpellaeâo
chama vão antestari aliqmm, e aointerpellado anlesía-
tus {g). Devião as res moãfe estar presentes ao acto,
c serem noancipadas cada uma de per si; o que
mudava de ügnra com relação a terrenos, por isso
que não podendo ter lugar a apprehensão, e sendo
impossível estar-se presente quando erao muitos os
terrenos, e sitos em diversos lugares — erao estes
manei pados de uma só vez. A apprehensão do ohjecto,
comcpianto fosse um requisito da raancipação, não
era a apprehensão da posse.
A raancipatio lambem chamada imaginnrm ven-
ditio era a imitação de uma venda durante a qual se
pesava o preço; mas que por si mesmo nao era senão
uma formalidade (/i). Tanto a mancípniio, amo a
injure cessio forão confirmadas pela lei das XII Ta-
boas [i]. Limitava-se porém a raancipação a certos
objecíos; por isso se chamavão esses objectos da
raancipação,—res mandpi (mancipii); e em contra-
posição a estes erão todas as outras denominadas m
nec mancipii [j].
Erão res mandpi, isto é, objectos de raancipação
como transmissão de domínio: prédios no solo urba-
no, quer fossem prwdia rústica, quer urbana; escra-
' ——-—- T— 1 f ——
{g) Walch, de amestato in raancipatione. 1840,
(A) Gai. I, 113, 119- UJp. ÍCÍX, 5.
(i) Vailic. figm. § 50.
0) Ulp. XÍX, 1; Gai. O, 15—17; t 120.
MR. ROlf, 2^
186 HISTORIA
■vos; quadrúpedes quw dorso domaniur, isto é, bois ,
cavallos, mulas, jumentos. Caraollos e elephantes,
erão res nec mancipi [k). Os Procmleianos exigião que
os quadrúpedes fossem capazes de ser domados, ou
pelo menos que tivessem idade bastante que os tor-
nasse capazes disso; os Sabinianos os reconbecião
logo que nascião como taes, isto é, res mancipi. São
tambémm mancipi.' servitutesprwdionim rusticorum;
homens livres quando sujeitos a uam polestas, á ma-
nus, ou rmncipium; e em certos casos também os
bens (a fasnilia].
Sobre a razão da differeuça entre res mancipi, e
res nec mancipi existem muitas opiniões. Esta diíTe-
rença de opiniões provém de se querer descobrir
o caracter com muni de uma res mancipi, e de uma
res nec mancipi. àsslm uns julgão como Hugo serem
res mancipi os objectua de lavoura por que erão
os Romanos dados á agricultura; ou então como
Walter , as dependências de um prédio rústico
comprehendido elle; ou como Niebuhr as cousas
sugeitns ao censo; ou como Manhayn , osobjectos
de despejos. Geralmente se representão as res man-
cipi como cousas que devem ser mancipadas para
que poesão ser completamente alienadas , isto é ,
para se poder sobre ellas adquerir ojus Quiritium.
Esta idéa é porém inexacto; por isso que a manci-
patio nada menos é do que o modo exclusivo para a
adquisição dessas cousas; nem mesmo se quer é o
modo exclusivo por que se podem alienar, pois ha
lambem para fazel-o a injure cessio. Antes poderia-
■"(*) (Jip. xrx,' i.
DO DIREITO romano privado. 187
mos dizer que res niaiiMpi são aquelles objectos que
podem ser mancipsdos; quando para Iodos os
mais não linha validade alguma a mandpüiio. Ora
as servidões são em parle res ín&ncipi, e em parle
res nec mandpi; ninguém comprebende aqui a di-
visão, de maneira que julgue poder ser mancipadas
todas as servidões , e que as servidões rusI/icQS por
isso que são lidas como res manãpi devão sel-o;
anles devemos conceder , que só eslas ultimas
erão capazes da maneipação [l]. Esta divisão pois
com relação a outros objeclos não toma oulro
caracter; e islo lanlo assim e que Elpia no chama
a maiicipalio: — própria spccia alienaíiõnis rerum
manapi. 0 que elle queria lãcihnenle se eviden
cia; porquanto á usucapio, e in jure cessio chama
elle ; communis alienaíio et mancipí rerum et nec
mandpi. Do mesmo modo diz elle que é a traditw,
própria alienatio rerum nec mandpi; e está claro
negar-lhe elle a propriedade de servir para a aliena-
ção de uma res manwpi (m). De que se tenha algu-
mas vezes lançado mao da mancipatio para aquellas
res nec mandpi a que se dá"inuilo valor com o fim
de alieaal-as ou adquiril-as com certas solemnida-
des, é isso possível, e póde-se conceder, mas não
muda comtudo a noção estabelecida. Um juriscon-
sullo questionado a este respeito teria corlamenle
respondido: que se essas cousas le forâo mancipadas
e não leve lugar a Iradilio , não es dominus; tem
porém lugar a traditio ao mesmo tempo (como acon
— Ttt
(í) Gai. II, 29.
(w) ülp. XIX, 3, 7, 8, 9, 16, 17.

L
JeiS
HISTORIA
tece ordiuiinatncnltj a respeito de res hiobiles] então
adquirisle dorainio por via da traditio, e o acto da
mancipação, que não tem neste caso validado jur"
dica, não o prejudica,.até mesmo podendo as teste-
munhas da mancipãtio e o HbHp&ns, servirem como
testemunhas da traditio. Em Tácito Ann. I, 73; tra-
ftí-se da mancipatio de uma estatua; porém Tácito falia
expressamente da alienação de um terreno com as
estatuas que n'elle estiverem, e não da mancipâtio
de uma estatúa como de um caso particular. Em
Plinio, Hist. Nat. XX, 60 encontramos outro
testemunho: artigos de luxo, pérolas e outros
objectos preciosos a que a moda dá quasi o mesmo
valor; e nota elle: «et hoc lamen (lállando de
pérolas de maior valor) aetcrnac prope pomssionis est,
sequiíur hercdm, in rnancipatum venit ut praedium
aHquod, concluslia et purpuras omnis hora alteril.»
Neste caso a mancipação só servia também para dar
mais peso a traditio, mas não tinha validade alguma
jurídica (n),
F alta-nos agora demonstrar porque razão as cousas
que se denominão rcs mancipi são reconhecidas como
ohjeotos da mancipatio. Devemos procurar a razao
d'isto na mesma mancipação; e por isso ahstrahir-
nos dos ohjectns para os qnaes em principio não
teve lugar este acto, vindo isto acontecer só depois.
Estes objectos sao dquelles sobre os quaes nao
tem lugar o manm capere, parle a mais impor-
tante do acto: terrenos, servidões rústicas, ea
lamilia. Restão-nos os homens e os anirnaes. Estes
ín) Walter, Gesch. d, roem. R. T. 2. p. 168, n. 9.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 189
são justaiueule os que apparecem na renda tios
despejos do inimigo (praeda), que se compunha de
prisioneiros e de anirnaes tomados ao inimigo. A
mancipaçao é uma imitação dessa venda, e como
essas cousas por apprehensao natural eahião em
poder do povo romano, assim também por appre-
hensão civil, maneipium , eahião em poder de um
cidadão, e do mesmo modo passavão de um para
outro. 0 caracter de uma res mancipi não significava
pois restrioeão, e sim ampliação no seu modo de
adcjuifir, independência do in jure ccssio; e estes
privilégios se conccdêrâo depois a alguns terrenos
e também a certos direitos conuexos a elles , esten-
dendo-se assim a mancipatio sobre elles.
Por direito Justiniaueo acabou a mancipatio , e do
mesmo modo a diflereuça que havia entre res man-
dpi, e resnec mancipi (o).
Outro modo de adquirir é a in jure cessio. Consis-
tia em dever aquelle que adquiria o objecto vindi-
cal-o em juizo como se fôra já seu, e calando a
contravimlioação o dorninus que era até então—
passava o pretor a adjudicul-a ao outro. Vertdi-
cabat ei cui cedilur; In jure cedit dorninus, Áddkit
Praeior (p). Esta formula já vinha na lei das XII
Taboas (^j; era porem raras vezes usada, sempre que
podia ter lugar a mancipaçao (r). Tinha importância
pratica para transmissão de res incorporales para

(o) Cod. VII, 31. de usuc. transform, et de sublata difficrentia


rerum mauclpi, et nec nianrioi-
(p) Ulp. XIX, 9, 10; Cai. II, 24-
W) Vatic. frgm. § 50.
(r) Gai. II, 25.
190 HISTOfUA
as quaes a tradiho jamais liveia lugar , e a manci-
pação só quando se tratava de sewiiutes praediorum
tusticdrum (s). Pelo direito Justinianeo acabou com-
pletamente a injure cessio.
Adjudicalio; era também um modo de adqi..:,ir,
e não se exigia outro acto para que podesse ser
Ironsmitlido o domínio sobre a cousa adjudicada
fossem el Ias m mancipi, oures nec mancipi (í).
Lege; éa expressão geral para todas as adquisioões
civis, que não tem um nome particular; assim
Ulpiano diz: lege nobis acquinlur , velut caducum
(uma cousa sem dominm) vel ereptorium ex lege Papia
Poppaea (a herança, a cujo verdadeiro herdeiro não
pôde pertencer, etc.), item legatum ex lege XII Tabu-
larum (também o legado que deve immedialamenle
passar para os bens do outro), sive res mancipi sinl,
sive nec mancipi [u],
Emliosubcorona. As cousas aprisionadas na guer-
ra , ou erão distribuídas pelos soldados, ou erão
destinadas ao aerarium e para este fim vendidas.
Em ambos os casos consistia o acto da adquisioao na
adjudicação da cousa ítjla pelo magistrado; no ulti-
mo por via doquestor, que era quem fazia a venda.
Os objeclos aprisionados erão chamados praeda (v),
manubioe o dinheiro que d^lles provinha para o
acrarinm. Em puincipio erão estas cousas vendidas
cada uma de per si, e depois só o erão quando se
vendião os objectos mais valiosos , os prisioneiros;
(í Gai. n, 19, 28. 29, 30; Ulp. XIX, li.
«) l'ip. XIX, 16; Valic. figm. § Íl7.
íu) Ulp. 1 !í, 17.
(V) Gell. XIII, 2/4,
DO DIREITO ROMASO PRIVADO. 191
ao que se chamava vendiliosubcorona- A expressão e
derivada da corôa que levavão na cabeça os caplivos
que se vendião ; pelo menos é esta a opinião mais
seguida. Os mais objeclos dos despojos do inimigo
erão vendidos de uma vez a quem mais desse, e a
isto se chamava sectionm venire, e ao comprador
sector. Arvorava-se uma lança sempre que se fazião
essas rendas, o que servia para denotar os despejos
do inimigo; e veio depois passar para todas as vendas
que erão assim feitas pelo Estado (cc). Sob esta rubrica
estão incluídos todos os casos em que os bens que
vierão a pertencer ao Estado [hona puhlicata]; dos
devedores do Estado; de condemnados; ou os
que por outro qualquer motivo legal erão ven-
didos (pujiíice) pelos magistrados; os compradores
[seclores, ou com o nome ainda mais geral de
bonorum emtores] adquirião sobre elfes por adju-
dicação o domínio como successores universaes. A
estas se ajuntárao mais tarde as venditiones bono-
rum introduzidas pelos pretores (como meio de
execução a favor dos credores particulares), e que
davão aos bonorum emtores, sueeessão universal por
direito prelorio, e o dominio bonitario (y). Por di-
reito Juslínianeo só as vendas que fazia o Fisco de
bens vacantes, ou confiscados davão ainda uma
adquisilio per univcniíatm, pela qual o dominio
era transferido ao comprador sem a traditio (2).
-o — I
(rr) Paul. Diac. ex Festo: Hastae subiicicbautar ea quae publi-
ce (i. é por via de um magistrado em nome do povo) venum
dabant.
(y) Gai. III 80.
(z) L. 54 pi D. de H. P. f5, 3).
192 historu

b. Do usucapião em particular.

§ 52. A adquisição do domínio por posse conli-


nua e pacifica de uma cousa é o que se chama usu-
capião ; já a lei das XII Taboas a mencionava sob
o nome de mus auctoritns [usus et auctoriifls] (a), e
foi só depois que se lhe deu o nome de usus capio,
usucapio [b]. Cícero (Topic. 4) diz: esl cpioniam usus
auctorjtas fundi hienniumest, sit etiam aedium. At in
lege aedes non appellanluv et sunt cclerarum rerum
omnium quarum annuus est usus. Cie. (pro Caec. 19).
Lexusum et auetoritatem fundi jubet esse biennium. At
utimur eodeni jure in aedibus quce in lege non appel-
lüutur. As palavras indicão que o direito assim
{auctúritas]'1 adquirido manifesta a reunião do ele-
mento legal com o facto [usus], etc. Ususmctontas
fundi biennium est, explica-se deste modo: o que
adquire púde dizer—o tempo é o meu direito.
O usucapião como modo de adquirir que era
civil tomava-se por isso impossível a um peregrino.
O peregrino podia ter em sua posse objecto perten-
cente a um Romano, o que porém não trazia para
o Romano perda do seu jus Quintium sobre esse
objecto; msms et aucíoritas não podião júmais caber
na pessoa de um peregrino; ficava pois sempre esta
ultima pertencendo ao Romano; o que logo que foi
reconhecido em Roma o jus gentium tornou-se de
nenhum valor por ser garantida pelo pretor a ad-
" "■ "J ' ! i n .m li, ,
{a) Cai. n, 41, 42; Cie. Top. 4; pro Caec. 19
(6) Gcll. VII, ia.
DO DIREITO ROMAIÍp PRIVADO. . 193
quisição legai do peregrino. A regra acima esta-
belecida comprebende a passagem das XII Taboas:
adversus hosíem aeterna aucloratio. Hostis era língua
antiga designada os peregrinos; porém já não era
assim quando em vez áe hostis era um perduellis t
inimigo; por isso que logo que alguma cousa que
pertenci^ a ura Romano cabia em poder do inimigo
não linha dono tanto quanto durasse esse poder; o
mesmo acontecia cora relação ao que elles tomavão.
Para que o usucapião tivesse lugar era preciso que
fosse o objecto capaz de domínio; assim não tinha
effeito o usucapião sobre uma res sacra, ou religksa
do mesmo modo que não linha sobre uma pessoa
livre (c), A lei das XII Taboas prohibia expressa-
mente que fosse o lugar de uma sepultura e o que
mais lhe pertencesse [forwn buslumoe) objecto do
usucapião (d); o que não era propriamente uma
exclusão do usucapião, porém uma declaração
de que as res religiosa; não deixão de o ser só por
vontade privada ainda quando mesmo por tanto
tempo fosse considerada profana.
0 objoclo deve ser capaz de dorauxio, dissemos
nós, e particularmente do domínio quiritario; pelo
que se nao dava o usucapião era fundos provin-
ciaes (e). Não havia porém obstáculo era ser a cousa
res mancipi, ou res nec mancipi. Já a lei ^as XII
Taboas excluía o usucapião sobre objactos furtados
res fwlivae, e não só para o ladrão como também

(c) Gal. 11, 48.


{d) Cie. de leg. II, 24.
(í) Gal. 11, 46,
Din. ROK, 35
194 uistouu
para o terceiro bonaefideipomssor. (f) O objeeto alie-
nado i este caso era considerado, a maior parle das
rezes, um furto ig). A te Alinia repetio o mesmo, já
determinado, pela lei das XII Ta boas, accrescentando
que desapparecia o vicio, isto é, que se tornava a
cousa capaz do usucapião no momento em que
tivesse voltado para o poder do dominus, e da
mesma fórum logo que elle estivesse em estado de
a pqder vindicar [h], Do mesmo modo também um
servus fugitivas não podia ser objeeto do usucapião,
por isso que elle proprio de alguma fôrma se linha
roubado a seu senhor (i). Pela te Julia et Plautia, res
vipossessac, terrenos occupados por força erão consi-
derados como res furtime [j). Do mesmo modo pela
te Julia fepelufidarum estavão no mesmo caso as
cousas que tivessem sido dados, contra o estabe-
lecido n'essa lei, ao presidente da província [k]. As
res maitdpi de uma mulher que estivesse sob a
tutela do seu ognado pela lei das XII Taboas não
podião ser objeclos do usucapião, logo que não
tivessem sido alienadas por autorísação do tutor (í).
A lei das XII Taboas já tinha ordenado (m), e depois
também a te Mamilia o fez, que os limites entre

íf) Gai. 13, 45, 49.


fiV Gai. ü, 60.
(k) Gell. XVIt, 7.
m L. 1. c. fie serv. fag. ("6, 1).
(f) m;n, 45, 51; L. 4 §'52, 23; L. 33 S 2. D. de usurp.
(4i, 3;.
(k) L. 8. D. de leg. Jul. repet. (48, H); L. 48 pr. D. de
adipi dom. (41, 1).
(0 Gai H, 47; Cie. ad Att, I, 5; Clc. pro Flacco 34.
(m) Clc. de leg. I, 21,
DO DIREITO ROMAKO PRIVADO. 19õ
dous terrenos vizinhos, e que tivessem cineo pés
de largo, não fossem objectos do usucapião.
0 tempo marcado para o usucapião foi até Justi^
niano de um anno para res mobiles, e de dous annos
para as immobiles, ou então como diz a lei das XII
Tahoas de dous aunos para um fundus, e de um
anno para todas as outras cousas (w), Be que se
exigisse desde os tempos mais antigos a bona fides
ó pouco certo. Em todo caso porém foi isso muito
cedo recebido como o denolão tres excepcões, que
trazem era si estampadas o cunho da antigüidade,
Emquauto o herdeiro não estivesse na posse da
herança podia aquelle que chamasse a si uma cousa
da herança, sem consideração ã bona fides, e quer
fosse ella res mobllís, quer res immobüis, usucapil<-a
em um anno (o), ao que se chamou usucapio lucrâr
tiva pro herede. Adriano porém permitlio que a
hereditatis petitio não podesse mais ser excluida por
este usucapião [p]. Outros usucaplões são os que
conhecemos com o nome de usureceptiorns, pelos
quaes o antigo domims podia readquirir a cousa.
Quando o Estado fazia venda de prédios que lhe
tinhão sido hypotheoados, e o comprador [praeiiatorl
não usava do seu direito por espaço de dous anpos,
deixando na posse o antigo dominus, no fim d'esle
espaço de tempo vinha este a adquiril-os: tal era
a murmptio eso pmediatura [q]. Do mesmo modo

(») Gal. 11, 42; Ulp. XIX, 8.


(o) Gai. 11,-52—56; L. 2 § 1. D. de usucap. pro hered (41,6);
L. (33 § 1. D. de usurp. (41, 3)»
{p) Gai. II, 57, 58; 111. 201; L. 1. C. de usuc. pro herede (7, 29).
(?) Gai. II, 61.
1^6 HÍSTOBIA
quando alguém tornava a obter a posse civil de
uma cousa, que elle fidMCÍúB tausa (com promessa
de futura remancípação) rnanripára ou cedôra in
jure, em um anno (mesmo dado que fosse um
prédio) readquiria o dominío como se ella lhe
tivesse sido outra vez remancipadn. Ao que taim
bem se chamava usureceplio (r). Se alguém com-
prava de uma mulher uma res marnipí sem
auttu*isoção de seu tutor podia pela «c futiliana
fMistitutio, » (da qual nada mais sabemos) usucapt-la
quando antes do prazo marcado para o usucapião
lhe não tivessem restituido o seu dinheiro. Muitos
jurisconsultos dão a venda por nulla, e seria então
um usucapião sem titulo; outros porém julgão quô
elle possuía pro emptore, por isso que a mulher pelò
menos podia alienar a posse; e segundo esta opinião
affastava-se o usucapião da regra só quanto á boM
fdes («). Tudo isto porém desappareceu com o
direito Juslinianoo.
Longi tempam pmseriptio. A quem legalmente
tivesse adquirido uma continuada posse por longo
tempo dava-se uma exceplio, pela qual excluia elle
a aeção do dominus; longi temporis pmseriptio.
A pmseriptio exigia que a posse fosse adquirida
hona fide assim como também o exigia o usucapião;
e era ella possível mesmo a favor de peregrinos.
Quanto ao titulo e bona fides erào comprebendidos
na pmseriptio pela expressão justum initium (í)<

(r) 6a\. XI. 50—61,


fí) Vatic. frgm, 5 1.
(í) Paal. 5«m. v, 2, 4,
DO DIIIEITO AOJtfA-tfO PRIVADO. 197
Quando foi que appareceu apmsmplio não sabemos,
senão que no tertipo dos imperadores é que com
certeza se páde provar sua existência. Pela lei 33
§ 2. D. de usurp. (il3), já teria a lex Julia etPlotia.
a. U, 665 falindo do longo tvmpore capere; esta ex-
pressão porém foi talvez posta pelos corapiladores
por usucapere como se depreliende de Gaíus II f 45^
e § 2. I. de usuc. (2t 6).
É portanto fóra de duvida: 1.° que por hngum
tempníi se entendia em principio á letra, longo
tempo, até que constituições 'mpemes fisárão o
tempo da duração. Foi o tempo marcado de dez an-
nos, e para o caso de ausência do dominus coneedlião-
se vinte annos, de maneira que o longum tempm era
de dez annos inter presentes, e de vinte annos inter
absentcs («); 2.° que a longi iempom prmmptio aó
se entendia com res inmobiiis até Caracalla, que foi
quem a estendeu também sobre moveis; 3.° que
também se concedeu a successores singulares con-
tarem o tempo da posse de seus auctores {atmsio
possmíoMts) (v); ao passo que só herdeiros succedião
Ho usucapião; 4.° que em alguns casos se consi-
derava a longi iempom prmeriptio não sc como
motivo para uma eXceplio, porém lambem um ver-
dadeiro modo de adquirir (ícj.
Os nperadores do 4.° período até Jusliaiano
poucos ou nenhum motivo tiverão para legislar
sobre a longi tmpons prcescriptio e sobre o usuca-
- '" ^ - ■ ■' ■" ' - i I < l "i I I - Ml
(») Paul. sent. V, 2, 3.t 6jl t V, 8.
(v) | 13. 1. de usucap. (2, S),
G*) L. 8. pr. C. de plraascr. XXX ann. (7, 30).
198 HISTORIA
pião. O que porém não excluo que na praxe se não
tivesse mudado muitas cousas pelo menos era uma
parle do império. A differença propriamente pra-
tica entre usucapio e longi tertvporis prmscriptio con-
sistia então no tempo que se exigia ; os outros
requisitos erão quasi iguoes, e quanto ao dominio,
já n'esse tempo de nenhuma importância era a
díüéreuça entre o quiritario e o bonilario. Assim
nao nos devemos espantar quando em algumas
parles do império, principalmente n^quellas em
que por falta de prwdia italica só tivesse lugar a
longi tmporis prcescriptio , e de ter cabido comple-
taraente em desuso o usucapião, isto é, a posse de
um ou dous annos; o que assim acontecia no Im-
pério Wisigotbo cuja Lex Romana contém nas sen-
tenças de Paulus um titulo « de usucapione (V, 2] »
em o qqal porém não se trata do usucapião, mas
unicamente da longi temporis prsceoriptio. Diflferenle
porém era em outras provincias do império romano,
b natural que no império oriental se pudesse fazer
uso poucas vezes do usucapião sobre terrenos, por
isso que com excepção de poucas cidades que linbão
o jus italicum era tudo mais terrenos proviuciaes,
nos quaes só se dava a longi temporis prcescriptio.
Tinha porém lugar para res mobiles o usucapião.
Havia pois ura usucapio, e tinha lugar em res mo-
biles, eem terrenos que tinháo o jus italicum; e
um de dez ou vinte annos que era a íom/i temporis
prcescriptio , e que tinha lugar em todos os mais
terrenos á excepção dos mencionados. Os requisitos
em ambas erão os mesmos, havendo talvez alguma
DO DIREITO ROMANO PRIVADO.
differença quanto á accessio pomssionis; pelo menos
não hav a clareza sobre isso.
Assim achou Justiniano esta instituição. Em
528 declarou-se que a longi tmporis prcsscriplio
era um modo de adquirir o dominie, e que com
o usucapião , — podia dar lugar a uma acção ;
e então em 531 fixou-se: 1.° que a differença
entre terrenos itálicos e provinciaes acabasse; e
que se désso para todos elles a prescripção de
dez annos, mter pnesentcs, e vinte annos inter
abscntes; a de dous annos foi revogada (y); 2.°,
deüdio-se a duvida de quando era que tinha
lugar a prescripção de dez annos, e quando a
de vinte annos estabclecendo-se que logo que o
dominus e o possuidor tivessem o seu domicilio
na mesma província que fossem considerados como
presentes, quando era differcntcs províncias ah-
sentes; 3.°, o usucapião de ura anno foi revogado
e em seu lugar estabeleceu-se uma de três annos;
4.°, os requisitos erão; jusíus tituíus, bona fides,
e também se exigia que os objectos fossem capazes
do usucapião.
Justiniano ainda accreseentou outra proescnptio.
Desde Theodosio II, que existia uma prcscr.pcão
da acçao do dominus logo que o possuidor tivesse
trinta annos de posse. Esta prescriptio XXX anno-
rum não exigia uma posse justa, assim como não

(y) L. an. C, de usucap. transfomanda (7, 31). Desta faz talvez


parte: L. un. C. de nudo jure qiiiril. toll. (7, 25); e L. 12 C.
dc praescr. longi temp. (7,33). Consulte-se mais; pr. I. densu-
capionib. et longi teroporís praescriptionib. (2, 6).
3oo nisTORii
tinha senáo uma garantia pa^a o possuído,t' contra
a vindicacão, náo dava ella domínio, e nem o
tirava ao°dominus. Por esta Imgimmi temforis
pnsitissio concedeu Jnstiniano o poder-se também
udciuirir; com, outras palavras fez delia um usu-
capião logo que o possuidor tivesse bom (ide
obtido a posse [?).
Em resultado o direito Justinianeo é este: quem
quer usucapir uma rcs mohilis em tres annos, uma
mtmbiU$ em dez ou vinte annos deve ter a sua
posse com os requisitos que já menciamimos; i. é
jmtm tilulus, bom devendo a cousa ser capaz
de ser usucapida. Este é o qsucapio ordinário do
direito Jusiinianeo, Aqnelle porém que não pudesse
provar justus tilulus, ou que possuísse uma cousa
embora exduida do usucapião, mesmo assim não
perdia a possibilidade de usucapil-a logo que não
estivesse umía fide', precisava porem de trinta annos
ou de quarenta. Neste caso porém o dominus não
devia ser pessoa contra a qual não pudesse ter
lugar a prfnscriptio XXX ou XL annorum.

2. Das adquisitiones naiuraies.

§ 53. O modo de alienar proprio do jws gentium


era a tradüio, que outra cousa mais não era senão
a transferencia da posse; por ella se obtinha
sobrem necmancipi domínio quintano; e sobre
res mancipi o bonilario vindo-se a obter só pelo
usucapião o domínio civil. Neste caso, nos dQ113

(í) L. 8 § } C. de pF^scr. XXX annorum (7,3?).


1)0 DIREITO r.OítANO PRIVADO. ÍOI
primeiros annos, tanto fjuiifito o ainda não docninus
adquiria esse direito pelo usucapião, era o outro ~
dominus ecc solojurü qniritium (a). O que transferia
o dominio devia ser realmente dominus, por isso
que nmguem pôde transferir mais direitos do que
tem t Por direito .lustinianeo a traêitio substituio
a mancipalio e a in jure cessio, que, como já disse-
mos, fiubãodesapparecido, e era o modo geralmente
empregado para a transferencia do dominie (s).
Occupalio. E' um modo de adquirir segundo ojus
gentium quando essa appropriaçâo não vai de encon-
tro com os direitos de alguém- Para que se obtenha
o dominio pela occupaíio preciso era que a cousa
a ninguém pertencesse—nullius in bonis; f[iiod cnim
nullius est id ratione naturali oSüpantí conceditur (d).
E inditFereute que a cousa nunca tivesse estado
em o dominio de alguém, ou que se tivesse tornado
sim domino. A oempatio divide-se cm ocnipatio
belliea; thesauni; specifimtio.
Ocmpaíio Irollka. As cousas que estão em poder
do inimigo são m mdlm; pela occnpação ellas se
torna vão nossas. Òu ellas se tornavão propriedade
do Estado do qual depois passa vão para a de um
particular, ou se tornavão logo propriedade do
occupanle. As primeiras são as que pertencem á
categoria das que provém por via de conquista,
ou que estão comprebendidas nos despejos, as
■' 11 ^j
(а) Ulp. 1, 16, 19, 21).
(б) Cai. !T. 19 c. ségaintra; Ulp. XtX, 7.
c) § W de refi div.. P, !)• ^ s
• 4) Gai. II, 66^69; L. 1—6 D- dc adfju. dom. (Iil , 1);
12—19, hl, W .1 tle rrr. div. (2, 1).
2h
nrn. bom.
HISTORIA
segundas são acpiellas, que etn o começo da
guerra ostavão no paiz (e). Nos despojos estava»
comprabendidas as cousas que forão tomadas ao
inimigo, quando mesmo atiles nos tivessem per-
tencido, por isso que pelo puder que sobre ellas
tinha adquirido o inimigo erão consideradas como
outras quaesquer, que não tivessem lido dorainus.
Isto porém soíIVia cxcepções; porquanto cousas
havião, que logo que desapparecia sobre ellas o po-
der do inimigo vollavào á sua antiga condição. Estas
cousas tinhão o jus posíliminii e laes erão: terrenos,
escravos, cavallos, mulas, e também navios [f).
Themuri. Quando uma cousa estivesse tanto
tempo perdida de maneira que se não pudesse mais
saber a quem tinha pertencido lornava-se ella por
isso m mdlius. Um tal timaurus era adquirido pelo
occupante (p). Logo que no tempo dos imperadores
se tratou de augmentar as rendas publicas, e prin-
cipalmente as do fisco, facilmente se considerarão
os íhesauri como bom vacantiaj, e deu-se sobre elles
um direito em beneficio do erário e do fisco.
Adriano foi o primeiro que legislou sobre este
ponto [h). Aquelle que achasse um thesouro era
terra própria podia guardal-o, e era indifferente
lel-o procurado de proposito , ou tel-o achado
casualmente. Em todos os outros casos pesqui-

(<) L. 51 § 1. D. de adqa. dom. (41, 1).


(/) L. 3. 19 § 10; L. 28, 30 D. de captiv, (49, 151 ■ cie.
Ti))), 8,
(g) L. 31 $ 1. D. de adqu. dom. (41, 1); L. un. C. de The.
sauns (10, 16),
(h) S 39. J. de ror. div. (2, 1); Sparlian. Uadr. 18.

.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 203
zas feitas de proposito para descobri l-o fazião in-
correr na perda do achado. Orando a occupação
era conseqüência de achado casual, obtinba-se o
mesmo direito sobre o thesouro achado em lugar
religioso ou em monumentos; se se achava porém
em terreno estranho tinha então o do mi nus (quer
fosse o príncipe, o Estado, ou outra pessoa] direito
cá metade, que podia exigir do occupante. Entre-
tanto algumas vezes o estado passageiro das finanças
obrigou em alguns reinados a que todos os the-
souros perlencessoxn ao fisco de maneira que isso
como que se tornou commum, e um exemplo en-
contramos em Lampndius (í), 0 resultado foi que
sem duvida, quem descobria ura thesouro o oecul-
tava, e isto levou Constantino a marcar por lei gerai
que aquelle que descobrisse um thesouro tivesse
metade para si (j). Tbeodosio I restabeleceu o
direito de Adriano, mandou porém que o senhor
do terreno só tivesse uma quarta parte do the-
souro (fe). O imperador Leão adoptando o mesmo
d eito de Adriano prohibio os usos pagãos e artes
magicas empregadas para a descoberta de thesou-
ros (/). Este direito foi o recebido por Justiniano.
Spocificalio. A adquisição de uma cousa prove-
niente da nova fôrma que lhe dêmos [curn quis
ex níiíMfi materiam spcciem aliquara suo nominc
femit] chama-se especificação. Ella tem lugar não

(j) Consultc-sc Jar„ Ciothofredas ad L. 1. C. Tli. de thesaur.


(j) h. 1. C. Tb, de lhesauris (10, 18).
{h L. 2, 3. C. Th. cod.
{i) L. un. C. de thesauris (10, 15).
20U M.ISÍOKIA
só quando oobjeelo que nos pertence, e o estvaíiUo
são confundidos, como lambem quando objecto
completamenle estranho é empregado, e o fehri-
canle não tem de seu senão o trabalho, vindo n
adquirir sobre elle o direito de propriedade (m). Tal
era a opinião dos Proouleianos; pjrquanto os Sabi-
nianos querião que o objecto fosse resliluido ao
dono da matéria estabelecendo-se este principio;
quod ex re nostra fil nostrml est. A adquisicão doespe-
ciíicante devia porém segundo os Proculcianos ter
dous requisitos; o primeiro era verdadeiro fabrico,
e como tal não podia por exemplo valer a simples
côr, que por ventura se désse a uma substancia,
assim como qui excmsi spicas non novam speeiem
faeit, sedeum qucs cst deí&jit (»); em segundo lugar
exigia-se também mudança total do objecto cmprG'-
gado, por maneira tal, que se não pudesse mais
restaurar; assim não era por exemplo um vaso feito
com prata alheia uma especilieacão. Debaixo deste
ponto de vista a opinião dos Proculfíianos foi a
recebida por Jusliniano (o).
deemio. Tem lugar quando podem duas cousas
ser confundidas, ficando uma porém fazendo parte
da outra. Era um modo particular de adquisição
quando um terreno se uugmentava entrando por
um rio publico; o modo mais coramum dTsse aug-
menlo de terreno é quando o rio gradualmente vai

(«») Gai. 11, 79; L. 7 § 7; L. 24* 20 pr. § 3. D. de ailqu.


dom. (41, 1); § 25. J. de rer. div. (2, 1).
in) L. 7. | 7. D. de adqu. dom. (41, i).
(o) $ 25. D. de div. (2, 1),
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 2f)5
ajuntando lerra para um lado, e assim se vai affas-
tando d'esse lado, ao passo que vai entrando em
outro lugar, e augrnenta o seu leito. A terra por elle
depositada chama-se alluvio [p]. Não tem porém lu-
gar a alluvio em agri Umilati [q.] 0 segando caso é
quando por descobrir o seu leito apparece no rio
uma ilha —insula nata (r). Snppondo-se tirar uma
linha que separe o rio em duas rnotades iguaes se-
gundo o seu comprimento , o que da ilha couber a
este lado da linha pertence ao terreno d'esse lado
da margem, e o mesmo do outro lado (í) 0 mesmo
tem lugar logo que o rio descobre compíetarnenleo
seu leito [alveus dcrclioíus), e é quando muda o seu
curso, ou secca (í). Estas accessões erão porém ex-
cluídas em agri Umilati [m).
Quanto ás outras adquisíções nataraes são ellas de
pouco interesse para a historia (u).

IV. DlimiOS INUEBKMTKS AO DOMÍNIO.

§ 54. Dorainio é o direito absoluto sobre cousas ,


rerum dominium; é a legal e total sogeieão de uma
cousa. 0 domínio é só possível era cousas, isto é, em
objeclos corporeos; mas não ©possível em uma par-

(p) Gai. II, 70 , L. 7 § 1; L. 12 pr. D. de adqu. dom.


(?) L. 16 D. eod.
(r) Gai. í(, 71, 72.
(s) L. 7 § 3; t. 29, 56 pr. D. de adqu. dom. (ài, 1); § 22.
J. de rer, div. (2, 1).
(t) L. 7 § 5; L, 30 § 1 D. de adqu. dom. (Al, 1).); § 23,
24. J. de rer. div. (2, i).
(m) L. 1 § 6. 7. D. de flumiuib. (43, 12).
(o) Gai. II, 73—79; L. 7—43; L. 9 pr. § 1. 2 D. de adqu,
rer. dom. (41, 1).
^ü,> HISTORIA
te integral da couso purquanto não é possível um
domínio particular sobre essa parte por tel-ã o do-
rainus conju neta mente com o todo no seu direito de
propriedade. Isto entende-se por exemplo quanto
aos membros de ura animal, de uma planta, de um
edifício como parle do sólo. Ninguém é dono do edi-
fício sem o ser do sólo em que este se aeba (a), e o
dono do sólo não tem sobre o edifício um direito
particular [b). 0 mesmo se entende cora os produc-
tos orgânicos de uma cousa emquanto ainda con-
nexos com a cousa producente [fruetus pmdenLcs] ;
estes constituem ainda uma parte integral da mai,
que os traz (c); das plantas, que os produzem, e com
elles dos terrenos em que estão [d], e sao simples-
mente cousas futuras (e). Só com a separação da
cousa produetiva [fruetussepara,ti] é que se conslituem
organismos independentes, e só com essa separaçao
é que se torna possível a idéa de domínio sobre
elles. Já por direito antigo porém, davão-se casos de
restricçóes legaes do propriedade sobre muitas cou-
sas. Muitas se encontrâo na lei dasXÍI Tabons, que
ainda forão augmentados por direito posterior.
Nestas restricçóes enumeraremos a proliibieão
que se fez de maltratar-se cruelmente aos escra-
vos (do que já tivemos occasião de fallar); ellas
porém diziao respeito principalmente á propriedade
territorial, por isso que esta mais em coutado so

W L. 2. D. de snperlic. (/(3, 18).


'<0 L. 40. D. de ncr. erali (19, 1).
(c) L. 1 § i. j). (fe inspte. ventre (25, 4 .
(d) L. 14. D. dc R. V. (6, 1).
(«) L. 15 pr. D. de pignor. (20, 1).
DO DIHHITO HOMANO PKIVADO. 207
achava com os direitos de um terceiro, e cora o bem
publico. Os interesses religiosos obrigarão a que o
proprietário concedesse um caminho no seu terreno
áquelle que de outro modo não pudesse chegar ao
lugar do seu tumulo (/"); e que não pudesse mesmo
desenterrar o corpo que sem sua aulorisagão tivesse
sido enterrado em terra que lhe pertencesse, sem
consentimento dos ministros eccíesiasticos [g). Já
pela lei das XII Tnhoas se tinha ordenado em i nteresse
da commumcaçâo pelas estradai; que estas fossem
conservadas por aquelles, que estivessem situados
perto d'ellas, e no caso de o não fazerem deverião
então consentir que pelo seu terreno facão caminho
os que se servião das estradas publicas (/i); se a es-
trada acabasse por terremoto, ou por ter-se um rio
alargado, deveria então o vizinho mais proximo dar
da sua propriedade o que fosse necessário para seu
restabelecimento (i). Amesraalei dasXIITaboas, cm
nUcnçãoásalubridade publica e incêndios, ordenou
que na cidade se deixasse entre os edifícios um es-
paço [ambitus] de dous pés e meio, sestercimpes [j].
D'esle modo os edifícios novos devião ser construí-
dos como insulou [k]. Nero (I), e Antonius Verus (m)
eievárão-o a nove pés. No tempo de outros impera-

(f) L- 12 pr. D. de relig. (11, 1).


(ff) L. 8 pr. D. eod.; L. 2. § 2.; L. 7 pr.; L. !f3 eodem.
{h} Cie. pro Caec. 19; Feslus p. 371 (Milller).
(i) L. l/t § 1. D. quemadm. serv. (8, 1).
(j) Votus. flaecian. agris distribui. 46; Paul. Diac. ex Festo v.
ambitus.
[k) Paul. ex Festo V. insula.
(0 Tacili, Annat. XV, 43.
tm) L. 14. dc serv. pr. nob. (8, 2).
ÜOS H1STORU
dores passou a ser de doze. e em oasos par liou lares
até quinze .pés (rt). Tambeiu ooui relação á altura
dos edifícios cslobolecen-se um máximo de 70 pés
por ordem de Augusto, e do Trajano do 00 pés \o),
Zenão em uma ordenança explicita sobre edificios
concede 100 pés quando houvesse distancia pro-
porcionada aos edifícios mais proximos [p). Do mes-
mo modo em bens rústicos o estado já antigo e tradi-
cional com relação ao curso das oguas da chuva nao
podia ser arbitrariamente trocado com prejuizo do
vizinho, para o que já a lei das Xll Taboas linha dado
uma acção—mlio pluvips arcenda: (ç). A lei das XII
Taboas obrigava ao proprietário a permillir que se
rocolhessern os fructos [fflam] que tivessem cabido
do terreno vizinho para o seu (r); os pretores garan-
liao este direito por um interdielo [deglarkde legenda),
com esta restricção porém que o proprietário dos
fructos podesso vir sé um dia pelos outros («). Esta
mesma lei obrigava ao dono de madeiras e outros
materiaes que tivessem sido empregados era edifí-
cios ou vinhas de oulrem a se contentar cora o
dobro de seus valores, pelo que lhe concedia a adio
de tigno junclo {wdibus vel vinca;]; mas quanto á res-
tituição do objecto por meio da separação, não
se podia exigir [l]. Esta disposição da lei das XII
r 1
!- '*'
(a) L. 9, 11, 12. C. de «diíir. iifival. (8, 10).
(d) Sucton. OcJav. 89; L. 1. 5 17. D. de "O. N. N. (39, 1),
(p) L. 12 § li. C. de íEdific. priv. (S, 10).
(/}) Dig. XXXIX, 3 de aijua et aquín pluvitc arccndie; L. 21
pr. 1). de statu tiber. (/i0, 7).
(r) Plin. H. N. XV1, 6.
(.«) Dig. XLIIt, 28 do. glnndo legenda.
(!) Dig. XI.VII, 3, do ligno jnnetn.
BO DIREITO ROIIAKO PRIVADO, SÜ9
Taboasé conforme a restiluição feita porlíuschke [«).
Áquelleque deixava o seu edifício ameaçar ruinas
podia ser obrigado pelo que tinha a temer prejuizo
proveniente d'isso a promefler reparo pelo damno
que resultasse [cautio damni infreii]; se elle ne-
gava sujeitar-se ao decreto que o obrigava, dava
então o pretor ao A. a posse natural do edifício lin
possessime essejubcl], e no caso de que eslã coacção
se tornasse infruetifera podia ainda seguir-se uma
segunda missi-o inpóssessionepi {cx secundo decreto] pelo
qual era o R. cousidertido como derelinqueníe àe sua
casa; e ao interessado se dava e reconhecia pos^e
juridica, e propriedade ao A. {possiderc jubeí] (c).
tlma excepçáo se fezern benefíciodaagricultura ; não
se devia fechar ao vizinho a corrente de ar que elle
tivesse por ventura necessidade para a sua casa (x).
Não havia necessidade de consentir que uma
arvore envergada pelo vento pendesse com o tronco
para o nosso terreno, e só sim as ramas [y], que
se levantassem por cima, porém podia exigir-se
que ellas em 15 pés de altura [pedesquindcciih a terra
altius] ao redor ficassem aflastadus, por isso que as
ramas mais baixas é que poderião prejudicar [z].
Pende porém a arvore de um prédio sobre o nosso,

(") Htischke ad 1. XII laü. dp tigno jtmeto ojiDínentatfo 1837.


(Testus v. tignum et saqiiuntur) : Tignu juncium aedibus
vineave sei concapit ne soívito—neque vinea sarpla çumdogucj
donee dempta cntnt, tignu vindiçito.
(v) Dig, XXXIX, 2: de damno infecto el de suggnmdls et pro-
tectionibus.
(ir) L. iJi § 1. C. de serv. (3, 3')).
(y) L. 2 I). de arborib. rsedeiidis (f|3, 27>.
(:) h. i § 7-9. eod.
nin, sou, 27
IHO IIISTOKIA
podia-se enlno exigira sua completa destruição (aa);
e do mesmo modo logo que as suas raizes prejudi-
cassem o nosso edifício [bb], Se o proprietário nega-
va cortar o que d'elle se exigia podia então o preju-
dicado fazel-o e conservar para si a madeiro, haven-
do para isso um interdicto {de arboribus cwdendis).
Era prohibido em Roma dentro da cidade fazer de
um terreno qualquer lugar de sepulturas, o que já
a lei das XII Taboas tinha assim ordenado (cc). No
tempo dos imperadores estendeu-se essa medida a
todo o império [dd]. Proprietários havia aos quaes
não era permiuido alienar a sua propriedade; era
assim que se não podiaalienurum/w?iííus dotalis,&c.
Jus vindieandi. A acção do dominus contra o
possuidor pela qual aquella obriga este a reconhe-
cer o seu domínio, e a restituir-lhe o objeeto que
lhe pertence, chama-se rei vindicatio. A vindicaíio
já nos tempos primitivos estabelecia por uma
cousa um pleito que devia marchar com a assis-
tência do juiz. Para esse fim quando a cousa m
mobilis, era trazida perante o tribunal, ahi ambas as
partes pondo a mão sobre ella a redamavão como
sua; depois o pretor ordenava a ambas, que alargas-
sem [ee]; por ultimo passava-se a tratar com a legis
actio sacramento sobre o direito que se tinha; antes
porém da conclusão era a posse reconhecida a uma
das partes segundo mandasse o pretor prestando ella

(rtfi) L. 1 pr. § 1—6 eod.


(66) L. 1. C. de intvrd. (8, 1.)
(cc) Cie. de legib. II, 23.
idd) L. 3 S 5. D. de sepuichr. violato (67,12); Pau). I, 21, (2, 3.)
(ei) Festus v. vindicix; Gell. N. A. XX, 10.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO, 211
ilança,—ao que se dininava vindicias dicere (ff). Se a
questão versava sobre um terreno, então o magistra-
do ia lá com as partes; e como viesse a não ser isso
sempre possível por que necessário seria que hou-
vesse facilidade de transportes — desaüavão-se as
parles no tribunal para irem ao terreno; davão-se
ab< ura combate symbolico, e na presença das teste-
muribas trazião uma porção de terra [gg]. Dizip o A.
« fundum qui est in agro qui sabinus vocatur ego csc
juro qüiriíium vieum esse aio, indeibi ego te ex jure
mamm comertum voco. 0 R. dizia: unde tu me cx
jure mamm conscrtum vocasti, inde ibi ego te revoeo.
Então o prelor: suis utrisque superstitibus praisenübus
vindicias sumiic, inite viam. Como porém já tivesse
sido trazida a porção de terra accrescenlava o pretor,
depois de pronunciar as mesmas palavras,—redite
viam; e o acto da vindicatio tinha lugar sobre essa
porção de terra (A/i). Ainda mais tarde estabeleceu-se
para maior oommodidade das partes, e para se lhes
poupar dobrado caminho, que antes de compare-
cerem em juizo tivessem já concluido no terreno o
certame , ao que chamavão deductio quce moribus
fít («), dando ellas Qadores pela obrigação que
tinhão de comparecer perante o pretor , com cuja
assistência se fazia tudo apparentemente como
quem sabia por sua ordem , e tornava a entrar [jj].
Finalmente , no tempo dos imperadores era o

(/T) «ai- Iv, 16; Gell. XX 10,


ígg) Gell. XX, 10,; Cie. pro Mur. 1? 14; Varro dc L, L. VI, 64.
hh) Fcstiusv. supcrsiitcs, vindicim.
in) Cie. pro Tull. 20 ; pro Cscc. 1, 7 , 32.
(jj) Cie. pro Mur. 12.
212 historu
processo ainda mais simples. Trazia-se a poroao
de terra sem mais outra qualquer formalidade,
e sobre ella se procedia como sobre uma res
mohilis [kk].
No tempo do processo formular a vindicação to-
mou este caracter : o A. que queria reclamar a
cousa como sua , segundo o jm quirilium , provo-i
cava o possuidor para que lhe eslipulasse uma
somma para o caso de ler direito á cousa; devia
este então immedialamente estipular, e dar fiança
para sua restituição, assim como também dos
fructos, A proposição e o debate referia-se em
primeiro lugar á sponsio; porém depois da sentença
a somma não era exigida, e o A. só servia se do
prajudimm comprehendido na condemnação para
rehaver outra vez a cousa por essa mesma esti-
pniação [11]. Um caminbo ainda mais curto era a
formula petiloria, pela qual a proposição e a sen-
tença erão dirigidas dircctaraente sobre o domínio
do A, , e o R. era geral estipulava cumprir a
sentença (mm). A esta formula assemelhava-se lam-
bem a que se estabeleceu para o domínio prelorio,
adio Fuhlmana (nn). Quando por fim a acçao era
levada perante os centumvires o que , segundo
parece dependia da livre escolha, era ella ainda no
tempo dos imperadores instruida segundo a antiga
legis adio sacramento (oo). 0 pretor propôz depois

{kk) Cai. IV, 17, 31,5)5.


(li) üai. IV, 91, 93, 95. Ctc. in Verr. U-1, h, 5.
(mm) -Gai. IV, Ui , S9. 91, 92.
(nn) Gai. IV, 34,35, 36.
íoo) Gai. IV 31,95 ! Gell. XX, 10,
DO DlftEITO R05UX0 FRITADO. 21S
dous inlerdiclos. Para o possuidor de um terreno
marcou o mlerdiãmi uii possideíis, e para ganhar
o processo devia-se ser presentemente possuidor ,
assim como devia-se ter a posse ncc vi, nec ciam,
nec precário, Quando pois uma das partes era pos-
suidora , mas com um destes vicios, era a seu
adversário a quem cabia a posse , acontecendo assim
que aqueile que nao estivesse na posse presentemente
podia ser reconhecido nella por melo do inter-
dicto. que paraelle tinha a mesma força que um in-
terdictum recuperandcepossessionis. Uma conseqüência
que se pôde tirar é que no interdiclum rctinenda
possessionis ambas as parles podião ser consideradas
como possuidoras, e ambas ao mesmo tempo como A.
eR^e qualquer que provasse aposse era reconhecida
como possuidora [pp], Para a posse de uma res mobilis
marcou-se o iníerdictum utrubi [qq]. Aqui, segundo
o edicto do pretor, não decidia a posse presente; e
ganhava aqueile que no ultimo anno do principio
do processo, contaudo-se para trás, tivesse possuido
por mais tempo do que o seu adversário; de ma-
neira que, aqui também a posse que começasse
vi, ciam, aut precário, não linha validade para
aquella parlo que a tivesse começado; e era caso
contrario podia contar com o tempo da sua
posse, a pqsse do possuidor, do qual elle ex justa
causa a recebera; unha pois lugar uma acccssio pos-
smionis l^r). Já mesmo antes de Justimano este

(pp) Gai. IV, 160; L. 3 pr. D. utí possid. {4.3,17.)


[qq) Gai. IV, 160 L. 1 pr. D. uti-ubi (43, 311.
(rr) Gai. IV, 150- 152

.
2W flISTORIA
interdiclo foi confundido com o intcrdicluin uiipoí-
sidctis (ss).
O reslo pertence ao estudo do direito propria-
mente dito Justinianeo.

■■ iKgãOtt-r- -—

CAPITULO II.

Jura in re aliena.

1. SERVIDÕES.

§ 55. Se considerarmos as servidões quanto á


sua substancia veremos que ellas se distinguem
uma das outras já pela inlluenciu que exercera
sobre os direitos do dominus, já com relação
aos do previlegindo; no primeiro caso consiste a
restricção do dominus ou em dever elle consentir
em alguma cousa, que pelo seu direito de pro-
priedade bem podia impedir, ut aliquid paliatur;
smrvitutes inpatiendo, (servidões aífirmativas, ou
também chamadas positivas); ou em não dever
elle fazer alguma cousa, o que se assim n -o fosse,
como dominus, podia fazer, ut aliquid non facial;
servitutes in non fadendo , (servidões negativas).
Eassim que se diz: servitus in [adendo consistere non

{«) §Z|. I. dc intertl. (/i, 46); L. i. § 1. D. utnibi (43, 31).


DO DIREITO ROMAXO PRIVADO. 215
potesl (a). Mo segundo caso considerando a subs-
tancia da servidão cora relação ao privilegiado, e
o beneficio que d'clJas lhe resulta veremos, que
esta deve ter por objecto ura sujeito determinado,
e cujas necessidades devem ser suppridas pela
servidão. Toda servidão está ligada a um sugeito
determinado, e do qual senão pode separar, nem
ser transferida para outro; tem consequentemente
o sugciln influencia essencial sobre a natureza e
substancia da servidão.
Assim como existem duas classes de sujeitos,
existem também duas classes de servidões. O sujeito
pôde ser ou uma pessoa individual, cuja necessi-
dade pessoal deve ser satisfeita pela servidão; ou
ser então o proprietário de um prédio como tal,
e assim de alguma maneira o mesmo prédio; sendo
neste caso a substancia da servidão um beneficio
prestado a este prédio ou a todos os seus proprie-
tários como taes. D"ahi vem fazer a jurisprudência
romana duas divisões principaes : no primeiro
caso é a servidão servitus hominis, per nona, ou per-
sonalu; no segundo servitus rei ou praedii. Assim
temos; servidões pessoues, e servidões prediaes tam-
bém chamadas reaes (6).
Servitutes praediorum. Aqui a servidão consiste
em dous prédios um dos quaes é o dominante por
isso que para elle foi constituida a servidão (prac-
dium dominam], e o outro servienfe [praedium ser-

ia) L. 15 S 1. D. de s61"*'11- (8» 1)"' Vangerow LeitfadeD fucr


Pandecten-Vorlcs. T. p. 620 e seg.
{b) L. 1. D. de servit. (8, i); L- h, 20 § 3. D. de servit. pr. rust. (8,3).
HISTÓRIA
mnx], por ser o que serve, ou está sugeito. D aqui
resultarão três princípios fondamentaes esão; que
o beneíií^io para o qual foi a 'servidão conslUutda
deve ser prestado ao prédio dominante; além disso
deve ser prestado pelo prédio servienle; os prédios
devern estar situados de maneira a tornar possível
essa prestação de beneficio de um para outro. Uma
servidão real é só possível para um prédio; e só
quem o possue pôde tér uma tal servidão. E de
mais a substancia da servidão deve ser de natureza
tal , que d'ahi resulte beneficio para o prédio
dominante; e o beneficio que não fôr como tal
conslituido para o dor i do prédio quando o seja
dé outro uiodo jámais poderá ser considerado
uma servidão real (c).
Sendo a substancia da servidão determinada
conforme a necessidade do prédio dominante dêve
cila ter sobre a sua lohna necessariamente influen-
cia sobre a diíterença do prédio e seu objecto ; as
servidões são consoquenlemento diflerentes se-
gundo a sua substancia. Resulta d^qui a divisão
que foz o direito romano em servãutes praediorum
urbanorum, o Hislicorum. As expressões praeãia ur-
bana, e pracdta rústica não pódem ser lomodas aqui
pela ijiluaoão dos prédios, mas conforme o seu
objecto: praedki urbana são edifícios; praedia
rústica lugar não edíficado; e quando ambos
se reúnem em o mesmo prédio dominante de-
cidira então a pàrte do prédio sobro o qual única

(c) L 8 pr. í). do servit'(8, 1).


DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 217
c principalmenle se refere a substancia da ser-
vidão.
Das servidões praediorum ruxticonm exislem
principalmente quatro , as quaes estão em relação
com as primeiras e mais simples necessidades
da lavoura: iter, actus, via, aquwductus (d); estas
servidões são provavelmente as mais antigas. As
servidões praediorum urbanorum são aquellas que
recebera benefícios, ou os fornece a prédios por
restricçôes feitas a outros prédios; como por
exemplo: servitus oneris [ercndi; servilus tigni im-
missi (c); servitus projmendi, e proíegendi; [f] servitus
stilliddíi; servitus fumi emmittendi, cloacae; {(f) ser-
vilulis altius non lollendo, nc luminibus fífficiafur, nc
prospedus ofpciatur etc. [h].
Servidões pessoaes são aquellas, que se eslabe-
lecérão era uma cousa para beneficio de uma
pessoa. A jurisprudência romana conhecia quatro;
usus, nsusfruclus, habitütio, e o direito ás opera
sertonm, s. animalium (j).
A acçao que se linha era uma in rem actio (í:).
0 modo de constituir uma servidão, era analogo
aos princípios estabelecidos para transmissão do
dominio ; só havia esta differença, que sendo
cousa incorporea como era não tinha lugar uma

(rf) L. 1. T). de servit. pr. rust. (8, 3).


(e) Ij. 2. D. de servit. pr. urb. (8, 2).
(f) L. 2. -cit.; L. 242, § 1. D. de V. S. (50,16).
('/) li. 7. D. se servit. (8,1); L. 8 § 5. D. de servit. (8, 6).
(/i) L. 4,11,12,15- L7. ). de servit. pr. urb. (8, 2).
{j Dig. Lib. Vtr, T. 1,7,8; ínst. L. n, Til. 4, 5.
(A) r,ai. IV. 3.
Din. «nu. 28
218 HISTORIJi
traditio (I). As servidões rústicas como fossem con-
tadas no numero das res mancipi só podião ser
constiluidas pela mancipação, ou in jure cessio; as
outras porém como res nec mancipi podião se-lo
simplesmente pela in jure cessio (m). Este direito
ainda foi ampliado de dous modos; era primeiro
lugar acontecia muitas vezes , que alguém cons-
tltuia para ontrem uma servidão por um contracto,
e d'ella o deixava gozar de fado sem transferir-lh'a
pela mancipação ou in jure cessio; neste caso tinha
lugar por analogia o mesrao que acontecia a res-
peito de uma m mancipi, e que só fóxa dada pela
traditio, e por isso só em o domínio natural de
quem a recebeu. E ihi vinha que a jurisprudência
considerava o uso de uma, e o consentimento da
outra parle como uma traditio (n), e debaixo deste
ponto de vista concedeu-se para uma tal servidão
a garantia do prnlor (o), isto ó applicaeão da acção
publiciana, e dos interdictos [p). Em segundo lugar
estava-se era duvida quando pela ventura se
quizesse constituir uma servidão era ura prédio
provincial , em que não era possível nem uma
mancipação, nem uma in jure cessio: decidio-se

(/) Gai. 11,19, 28; L. b ^ 2. D, de act. emti (19,1).


(m) Gai. II., 29r 30, 32; Ulp. XIX, II; Vatic. Frg. § 45.
(n) L. 20. D. de servit. (8,1); L. 1 § 2. D. de servit. praed. rust.
(8, 3); L. 25, § 7. D. usufruet. (7,1); L. 3. D. siusufr. petat. (7, 6).
(o) Vatic. Frgm. g 61; L. 1 pf. D. (juib, mod. usufr. (7,4); L. 9, §
1.D. usufr. quemadm. cav. (7, 9; L. I, § 2. D. de servit. praed. rust.
(8,3).
(p) L. 11, § 1. Publ. (6, 2); L. 20. D. de servit (8,1); L. 16. D.
si servit. vind. (8, 5); L, 1, § 9. D. de superfic, (43, 18); L, 1§ 1,
2, D. deitin. 43,19).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 219
que para este caso fossem os servidões consliluidas
simplesmente por fados ou estipulações (g). Este
direito foi revogado por Justiniano , e, segundo as
modificações feitas ao domínio, deixou lambem de
ser applicada a tnancipaiio e injure cessio para aqui (r).
A adio publiciana tornou-se da mesma fôrma quasi
inútil ; entretanto que conservou ainda toda a sus
validade para o caso era que se tivesse adqu'r'd0 a
servidão bona jide de um outro que não fosse o
dominus (s).
Outro modo de constituir a servidão linha lugar
no usofructo por melo da deducçào , e era quando o
dono alienando uma cousa sua a outra pessoa reser-
vava para s o usufructo. Esta reserva porém so
tinha validade quando a transmissão do domisão
tivesse tido lugar ou pela inuncipalio , ou pela in
juro cessio, em que eslava pois comprehendida a
reserva na fôrma civil do aclo principal (í). Pela
íraditio ficava ella sendo de nenhum effeilo mesmo
quando fosse uma res nec mancipi, para as quaes
entretanto bastava a traditio para transmissão do do-
mínio m). Por direito Justinianeo desappnreceu
lambem esta restricção. D ahi vera estar Iradere no
lugar onde se devera dizer inandpare (t?).
As servidões podem, lambem ser constituidas por

{<?) Gai. n, 31.


(r) § à. I. de servit. (2, 3); § 1. I. de iisufr. (2, í|); L. 3, pr.
D. de usufr. (7,1),
(í) L. 11 S 1. D. te IHibl. (6, 2).
(í) Gai. II, 33; Vatic. Frgm. § a'» 50> 51 )•
(u) Vatic. Frgin. § 47.
(v) Vatic. Frgm. § 801 L. 3 § 1. D. de usufr. accresc. '7, 2
220 iiistoiua
legados (;r). Já muito no principio se fez menção
de legados de um usufruclo sobre todos os bens [y],
e isto deu causa a se publicar um Scíum permillin-
do que o usufructo decerto modo podia ler lugar
mesmo naquellas cousas quae um conmmuntur vel
mnuuntur [z]. Assim se conslituia urna servidão
por adjudicação em uma acção divisória (aa), como
também pela coníirmaoão em divisão, ou assigna-
ção de terrenos do Estado.
Adquisição de uma servidão pelo usucapião não
se daya [bb]; e até mesmo t mencionada uma lex
Scribonia que revogára o usucapião da servidão (ce).
A jurisprudência contou porém como titulo legal,
pelo menos quanto ás servidões prediaes, o uso
quando podia ser provado o longo tempo; e para
este caso deu-so um direito de acção (dd).
Exlinguia-so a servidão de differentes modos.
Quanto ao que diz respeitoáhistoria, o principal era
o non usus cujos primeiros vestígios encontramos
nas Pandectas, e por fórraa que se pode colligit
ler existido já muito antes (ee). As servidões proc-

(íf) L. 3 pr., L. 6. pr. D. de asufr. (7,1); § 4 I. de servit. (2,3);


§ 1. I. de usuí. 2, 4).
(ij) Cie. pro Cace. 4.; Top. 3.
(í) Ulp. XAIV, 2ü, 27; L. 1—5. D. de usufr. ear. rer, (7, 5); § 2.
í. de usufr. (2, 4).
(m) L. 6 § 1, D. de usufr. (7, 1); L. 22 § 3, D. de fam. herc.
(lü, 2); Vatíc. Frgni. § 47.
(/>/>) L. 14 pr. D, de servitut. (8, 1); L. 43 § 1 D. de adqu. rer.
dom. (41,1,)
(cc) 1 4 129. D. de usurp. (41, 3.)
(MJ L. 10. D, si servit. vind. (8, 5); L. 1 § 23 D. de aqua et a
q. pluv arcend. (30, 3); L. 5 § 3. D. de ilin. (43, 19); L. 1. 2, C.
de servit. (3, 34.)
(w) L. 4 S 29. D. dc usurp. (3, 34.)
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 221
diorum rmticommpodião eitingair-se pelo non usus,
ao passo que para as servidões prmd. urbanor.
exigia-se urna usucapio UbertaHs da parte do obri-
gado ([[]. A duração necessária do non usus re-
gulava-se por analogia pelo usucapião; assim
a servitus de uma res immobilis por exemplo ia
perdida por um non usus de dous annos. De Jus-
tiniano temos duas ordonanças, em que manda na
primeira que podesse o usufruo to acabar pelo não
uso de dous annos; e que ficasse pertencendo ao
usufructuario até a sua morte; excepto se elle por
tanto tempo não tivesse d'elle usado de maneira
que contra elle se podesse apresentar a longi tem-
poris praescriptio y caso quizesse demandar a cousa
como dono. Na segunda ordenanea mandou
que esta que acima fica referida, e que só se
estendia ao usufructo se entendesse para todas as
servidões [gg]. D'este modo por direito Justmianeo
toda servidão que não fosse usada por espaço de
dez ou vinte annos ia perdida.

II. EMPHYXEUSIS E SUPERFÍCIES.

§ 56. Superfieies. Em sentido lato chama-se ju-


perfincs tudo o que está firme na superfície de
um terrena—principalmente edifícios; em sentido
slricto cboma-se particularmente áqnelles edifícios
que pertencem-nos, mas que estão em sóío estra-
nho , e que se deaorainão superfíciaria wdificia;
assim como ptperfáarius é a expressão que de-
' i.i . . i " - Í-
ilf) 6. D. de serv. pr. urb. (8, 2,)
(99) L. 13. C. (3, 34-)
222 HISTORIA
signa nqudle que tem a superfloie. Pode por con-
seguinte ser permittido a alguém ediíicar em sólo
estranho, o que lhe deverá pertencer, não lhe
cabendo porém o domiuio, por não se tornar elle
dominus do sólo; assim também alugar um
prédio ou um andar do mesmo para sempre
ou para muito tempo; dar-se uma compra pela qual
o direito do comprador se limite ao edificio sem
o sólo (á superfície). 0 dinheiro do alugnel que
pelo solo deve ser pago, e pelo qual é permit-
tido ao privilegiado ter sobre elle uma mperficifis-'
chama-se solanum (a). 0 prefor garantia ao pri-
vilegiado a posse da superfície pelo interdictum de
superfície, que é uma semelhança do interdictum
uti possidctis; e lambera por uma utilis in rem actio,
analoga á acção do dominus [b). lleservava-se elle
uma causae cognüio, por isso que se não entendia
ser todo e qualquer alugador ura possuidor jurí-
dico; reserva esta que se acha no mlerdicto nas
palavras ex lege locationis.
Como já muitas vezes dissemos, houve tempo
em Roma em que talvez o Estado fosse dominus de
todo terreno, tendo os cidadãos sómente a posse,
o que mesmo tinha validade cora relaçao ao íerrito-
num em que a cidade eslava edilleada. Se se per-
millia a alguém ediíicar era um locus publicus,
cabia-lhe o direito de superfície (c); e assim se con-

(a) L. 15. D, qui pot. (20, 4); L. 2 § 17. D. ne quid loco publ.
(43, â).
(â) J)ip. XLm, 18 de ftiqjçrficicbus.
(c) L. 2 § 17 P. nequfd in loco pub. (43, 8).
DO DIREITO ROM ARO PRIVADO, 223
cedeu á plebe o babitar o Aventiao pela ter Jcilia de
Aventino do anno 298 U. c. (d).
O mper/icianus tinha todo o poder sobre o edifício
como superfície, tanto quanto , pelo negocio pelo
qual obtivera esse direito, fosse convencionado. O
seu direito é umjus in re, por isso que o prédio
principalmente lhe não pertence , e só sfm a supar-
ficie; porém é um jus in re pelo qual lhe está a
superfície , considerada em si mesmo , completa-
mente sugeita. Tambern não é só limitado á sua
pessoa , por isso que a pôde alienar, e passar a seus
herdeiros (e); o pretor reconhecia valiosa a hypo-
theca e servidão que elle por ventura tivesse cons-
tituído na superfície, direitos estes que não se
exlinguem senão com a própria superfícies (/").
lliírerençavão os Komanos por direito antigo o
ager vectigalis do emphyteusis. Agri veeíigales chama-
vão-se era geral aquelles terrenos que estarão
sugeitos a pagar um imposto ao Estado , ou a uma
corporação publica. Este imposto chamava-se vecti-
gal, e assim se chamava em gorai para diflerença
do que uma pessoa devia pagar de Iodos os seus
bens , que se denominava então — tribuium , sli-
pendium, aes equestrei aes hordiarium (g). Em pri-
meiro lugar eslava sugeilo ao vecligal o ager publi-
cus populi romani, quando no gozo de um ou outro

(cl) Dlonys. X 31, 32; Festns v. Plebeius).


W L. 1 § 7. d, de superf. 43. 18); L. 11 D. de íamil. herc.
(10, 2); L. 86 § 4 D. de leg. I. (30).
(/■) L. 1 § e. 9. D. de supcrüde. (43, 18); L. 13 §3, D. de
pign. (20,1).
ÍS) Festus, v. Vecligal.
22i HISTORIA
indivíduo, Com as conquistas, logo que o terreno
conquistado não era destinado para dotação de colô-
nias, principalmente o despovoado, era distribuído
áquelles que o querião occupar , algumas vezes
para posse , mediante um décimo dos fructos con-
junctamente com a scriptura [h). Nas províncias
além d'estes agri vectigales outros havião de diffe-
rente especie. Abi não erão só agri publici os que
eslavão sugeitos ao uecíq/o/, mas também os agri
privaíi , de maneira que todo terreno provincial
era considerado como propriedade do Estado, D'estes
agri pecligales de que falia llygin. p, 198. Goes.—
cujos possuidores erão domini tanto quanto se podia
considerar ura dominio em fundos provinciaes —
não tratamos aqui.
A concessão de uma parte do ager puhUcus a um
individuo para seu gozo mediante um vedigal dava
lugar a uma locatio d'este imposto a puhlicani, e era
de cinco em cinco annos. Não confundamos esta
locatio do 'oectigal com a do ager. Muitas vezes
porém eslavão ambas ligadas pois que, um districto
inteiro era concedido por cem annos a um mon-
ceps (i), o qual então o arrendava a ura e a outro. O
manceps não só era localor do ager vectigalis como
do mesmo vedigal; o mesmo tinha lugar quando
o districto de um municipio com cujo território
limita , lhe é concedido , mediante um imposto

[h) Fftstus v. scriptuTarius ager.


(») Paul. ex Feslo: Manceps dlcitur quí quid a popnlo emit,
conducitve, quia manu sublata significai: se auciorem t-miinnis esse,
qui liem praes dicitur, quia tam debet praestare popnlo quod
promislt, quam si qui pro co praes factus est.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 225
fixo pngo ao Estado pela caixa da cidade. Indepen-
dente de imposto, fazião-so lambem concessões ás
municipalidades [j].
Assim cahirão os agri vectigales em a posse das
cidades , e a forão trocando em domínio. As
terras das municipalidades urbanas erão em parte
agri vectigales , e em parto agri non vectigoles,
propriedade urbana , que não provinha do ager
fublicus populi romani [k]. Aquelles erão dados
para o goso perpetuo de um indivíduo ; erão
arrendados para sempre com a condição do paga-
mento exacto do tributo ao mancipio; estes erão
arrendados annualmente por um espaço de tempo.
Tinhão os sacerdotes, e virgines veslales também
agri vectigales, que geralmente erão arrendados por
cinco annos, e muitas vezes também só por um
anno (í). Opretordavaao Íocaíor de prédios públicos,
assim como de agri uctigales , um inlerdicto contra
toda e qualquer perturbação injusta. Com relação
aos agri vectigales ainda fazia mais o pretor conce-
dendo ao locator uma utilis in rem acíio contra todo
e qualquer possuidor , e até mesmo contra o con-
ductor [m]. Chamava-se á acçâo acíio vecligalis {n].
Assim o direito do foreiro era considerado pelo
pretor como um jus in re, e como tal alienavel, e
podendo passai para seus herdeiros; alémdhsso, ti-
nha elle a posse jurídica da cousa, (e não uma sim-

0 ) Hygin, p. 205 e seguintes.


W Paul. L. 1 pr. D. si ager vectig. (6, 3).
(0 Hynin. p. 206. Goes.
(m) L. 3. § i; l. 2 D. si ager vectig. (6, 3) ; L. 3. D, eod,
In) L. 15, § 20. D. de darano inf. (39,2).
DIB. BOM. 29
226 HISTORIA
pies quasi posxessio), e por conseguinte (lireilo aos
fructos no moruento da separação (o). Para o caso
de um arrendamento perpetuo fica o direito do fo-
reiro tão semelhante ao do dorninus, que se podia
perguntar se o contracto se não poderia considerar
como uma venda , isto ó, se o direito do possuidor
nao seria a considerar como de um dominus (p).
Gaius decide negativamente, e do mesmo modo
Paulus [q].
Desde Constnntino que se não falia mais em agri
vectigales, isto porém é só quanto ás palavras, porisso
que a cousa, o aforamento de terrenos de cidades,
e corporações religiosas continuou; e ura igual afo-
ramento foi recebido também para terrenos fiscaes,
e imperi a cs (r).
0 imposto que pagava o foreiro ainda em parte
era chamado vectigal, mais geralmente, porém,
canon, pensio (s). Com relação aos bens imperiaes
que por este modo erão distribuídos, diíforençavão-
se fundi empkyteuticani (ou júris emphyteuci); fundi
patrmoniales (ou patrimonalis ,uris); e fundi rei
privalac (í).
A differença consistia parte na administração, a
que estavão sujeitos , parte em certos privilégios
(isenções de certos encargos) de que dependem (m
' " " """ .i
ta) L. 25, § 1. D. de usur. (22,1),
{p) Oal m, 1Zi5.
l» L. 1, § 1. D, si ager vect. (6, 3).
(r) rjod. Theod. X, 3.
(í) 1*15. C. Th. .,13).
(1) lacob. Golhofred. ad Cod. Th. X, 3. paraklL
(u) L 9.10. a de fundo patiini. (11, 61: L 1, 3,9,12,20. C,
Tli. deextrao. num. (11,18).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 227
Nos dous últimos ha nlbrarnento feito por tempo
certo , e aforamento perpetuo , e neste ultimo caso
erão chamados fundi perpetmrii, e os possuidores
perpetuarí (v).
Praedia emphyteulicaria, erão talvez concedi-
dos erajws pcrpeluarium mediante um canon. Talvez
fossem, era principio, terras desertas, e que por
este modo se torna vão úteis, e que erão dadas para
serem cultivadas, e dahi o nome que lhe veio, e que
encontramos em primeiro lugar era Ulpiano (a;).
Depois chamou-se o direito de todo aforaraento he-
reditário ou perpetuariua, jm emphyíeulimm, fosse
de que especie fosse o fundo; não exceptuando
mesmo os fundi patrimoniates-, bens de município,
de igreja, e mesmo bens privados, cujos donos
tivessem d'elles disposto por esse modo.
No direito.Jnslinianeo não se falia pois, senão
nojus empbyteutico [j/)v
O mesmo que a respeito do ager vectigalis,
perguntava-se,. se o possuidor era ou não dominus
no emphyteum. Zeuão. decidio, que não fosse o
direito empbyteuticario considerado um simples
arrendamento, mas como uma alienação, um jm
in re (z).
A obrigação principal do emphyteuta consistia em

(v) L. 20. C. Th, eod.; L. 33. C. Th. 5, 13; L. 1. C. J. de loc


praed. civ. (11, 70.)
(.«) . 3, § Zi. D. de rcb. eor. (27, 9); L. 13. C. de praed. minor.
(6, 71).
(y] Uod. IV, 66: de jure emphyleutjeo; § 3. J. de local, (3, 2/1)
(r) L. 1. C. de jnre emphyU (/l, 66),
HISTORIA
pagar o canon annaal ao doininus, ou os impostos
públicos, se o fundo a elles estava sujeito,
A alienação do empbyteusis era pennittida ao em-
pbyleuta , porém de modo que o outro fique sujeito
as mesmas obrigações que elle (aa}.
O emphyteuta tinha a mesma acção que tinha o
foreiro do ager vectiijalis.

1H. HYPOTHECA.

§ 57. Pelo direito de propriedade que temos


sobre uma cousa , cabe-nos a faculdade de a trocar
por outra , que necessitamos; ou então mesmo sem
nos privarmos delia podemos receber a credito a
cousa de que precisamos; por quanto pela proprie-
dade que temos , e pela qual damos uma segurança
ao que empresta, obtemos credito para isso. A nossa
propriedade pois ó que oíTerece ao credor uma ga-
rantia ; e se quizermos tornar esta garantia um di-
reito , então necessário será designar ao credor uma
cousa que lhe oíTerecemos pelo credito, ou valor
que recebemos, e da qual poderã dispôr no caso de
o não satisfazermos. Ü acto pelo qual tem isto logar
charna-so hypolheca, obligalio rei, ou pignorls; a
cousa que respondo ao credor pelo seu direito é a
suahypothcca, pignus; o direito do credor por via
da hypotbeca , chama-se tnmhera hypothoca (o).
Já em os tempos mais antigos estava em uso ga-

(aa) L. 1. c. de íund. patrim. (II, 61).


(a) Em allcmSo chama-se 'erpfãndüng, o aclo; a eousa hypolhc-
cada, Pfand; e ao direito do credor, Pfandrechi.
DO DIREITO ROMARO PRIVADO. 229
rantir-se ao credor o seu direito; e isto tinha logar
pela maneira por que vamos expôr.
Fiducia [b]. Segundo o espirito do primitivo
direito civil era pela mancipatio, ou in jure cessio (c),
que se transferia ao credor o dorainio da cousa que
se lhe queria hypothecar, que lhe era dada para
sua garantia, e deveria servir para seu pagamento
caso o devedor não fosse pontual. Tinha o credor
direito de vender o objecto, porém para se pagar,
direito este que desapparecia com o pagamento da
parte do devedor; porquanto, se é verdade que o
credor ficava tendo um direito sobre a cousa ,
o devedor também não deixava de ter o seu, por
isso que delinilivamoute ainda não tinha renun-
ciado á sua cousa. Pela mandpação ou in jure
cessio obtinha o credor poder sobre a cousa, e por
elle se tornava capaz de vendé-la, por isso que
ella lhe pertencia; assim também o devedor tinha
direito a uma acçâo para exigir a remancipação da
cousa, tendo satisfeito ao credor dentro do prazo. Essa
promessa de remancipação chama-se fiducia, jiduciam
cmlrahere (d); donde vem o nome fiducia para esta
hypotheca, e para o seu objecto (e). Deste modo po-
dião ser mancipados todos aquelles objeclos capazes
de serem mancipados, ou In jure cedidos; isto e,
não só cousas, porém também filhos por seus pais ,
em poder dos quaes se achavão, e sobre os quaes o

(í>) Gai. II, 59 c seguintes; Paul sont. rec. II, 13.


(o) Gai. n, 59.
(d) Gai. II, 60 ; IN, 201.
(<) Paul sent. II, 13 Isidor. orig. V, 25, 23.
230 HISTORIA
credoi' adquiria o manoipio, com aquella conven-
ção [[]. Pelo exposto vemos que a hypotheca não
era um direito particular, era domínio (ou manci-
pium); e do mesmo modo ter o credor o direito
de vender não era o que havia nella de mais parti-
cular , mas o ser elle obrigado pelo direito do
devedor á restituição. Assim para todas as outras
intenções da hypolheca era este sem duvida alguma
o meio mais seguro, e o mais simples^ Por elle o.
credor, como dominus, podia satisfazer-se mi
cummodamente, o nem podia ter lugar collisáo de
muitos hypothecariossobreo ohjecto, por isso que se
nao podião dar muitos donos in soUdum. O inconve-
niente que esta hypotheca parece trazer ao devedor
privando-o dogozo da suacousa era sanado porpoder
o credor transferir-lhe a cousa como precarium Ig),
ou íilugivndo-lb a (h), o que era costume, quando
não corria risco de poder o devedor subtrahi-la ao
credor, por isso, que de direito tinha este uma vin-
dicaçao, e os meios judiciários possessorios para sua
garantia. O credor tinha o direto de vender o
ohjecto , logo que não fosse satisfeito; e este direito
nao lhe podia ser tirado (i) por uma promessa [ut
fiduriam sibi venderá non íiccal]. Emquanto não
tivesse lugar a venda linha o devedor a ftduciw actw,
fazendo o pagamento. Porém mesmo sem a venda

{/') Uv, ii, 24.


(?) Uidor. orlg. V, 25, 17: precarium esí, dum prece crcditor
rogai «m permitti, debitoram in posaessione íandi sibi obiigutio demo-
rari cl cx eo fruetus caperc.
(A) Gai. II, 60.
(i) Paul. 11, 13, 5; c II, 6, 1; L. 4. de pign. act. (13, 7).
f

DO DIREITO ROMANO PRIVADO- 251


podia extinguir-se esta accão dando-se o caso de
ter havido entre o credor e o devedor um accordo
pelo qual logo que se não fizesse o pagamento no
tempo determinado viesse a caberao credor a cousa,
pelo direito que elle tinha. A este accordo ou pro-
messa chamou-se lex commissoria; e assim a hypo-
theca tinha por substancia , ou o direito de venda
a favor do credor , ou a couvenção de ficar elle com
o objecto (j i. Esta lex commissoria estava muito em
uso; mas Constantiuo a prohibio em todas as liypo-
thecns, e mondou que fosse de nenhum vigor [k].
Pie/nus. —Tem ellolugar pela transferencia de uma
cousa para posse jurídica do credor, que se obriga
a restitui-la, logo que seja satisfeito. Era analogo á
ftducia, não era um negocio solemne; e o credor
não se tornava dominus, mas possuidor; a sua
obrigação não era um negocio de direito civil,
do qual nascia a actio fiduciae, porem de contra,c~
íus júris gentium, que era concluido por simples
traditio [re, não mancipio), com a actio pignoraticia.
Este pigms era com certeza mais moderno, do que
a fiduciã; a sua influencia muito mais incompleta
do que a da jiducia. 0 credor linha a posse, e esta
não lhe podia ser tirada por disposições do de-
vedor. A alienação era impossível ao devedor tanto
quanto o credor tivesse a posse, pelo menos era
impossível em res mobiles; nas immohiles, e que

[/) Cie. pro Flacco 21; Vatic. Frgm. 9.


(k) Cod. Th. m, 2: de commissoria roscindenda. Cod. Just.
VDI, 35: de pact. pign. et de lege comm. in pignorib. rescúi-
denda.
232 ' HISTORIA
podião ser mancipudas pelo não possuidor, não
tinha o credor a mesma garantia. De que elle pu-
desse defender-se contra a Tindicação do devedor
devemos crê-lo (mesmo no tempo das legis actiones,
quando ainda se jwo davão as exeepções); porém
contra a vindioacão do suceessor singular nãodiremos
o mesmo. Também era costume entregar o credor a
cousa ao devedor como precarmm (?) ; tanto quanto
em poder deste e de seus herdeiros eslava o credor
garantido e podia imraedialamente rehavê-la (por
isso que tinha contra o interdiclum de vi, ou
u t rubi, a exceptio precárioc possessionis] (m), ou
exigi-la com o interdiclum de precário. No caso de ter
o credor alienado o ohjeclo, tinha o devedor contra
elle o interdicto; porém não contra o comprador.
Se o credor vendesse a cousa, não lesava o direito
do devedor, só transferia para o comprador a
posse, e a conditio uíucapiendi. Com a Publiciana foi
melhorada a condição do comprador, e a do hypo-
thecario.
Uma outra especie de pignus havia á qual os Ro-
manos chamavão antichresis Consistia em
entregar-se ao credor uma cousa tendo elle direito
aos fruetos que lheerão dados pelos juros. Os juris-
consultos romanos consideravão a antichrese ana-
loga ao pignus; além disso esta convenção podia ter
lugar cora todas as hypothecas (w).

(0 L. 6 § 4. D. de precar, (43, 26).


(m) Paul. V, 6, 7.
(n) L. 11 § i. D. de pignor. (20,1) i L. 1 § 3, cod.; L. 17.
C. de usur. (4, 32),
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 233
Hypotheca. Nem sempre exigia a hypotheca um
pacto expresso, por isso que se davâo caso sem que
o credor tacitaniente» e de direito, adquiriu uma
hypotheca» Casos desta natureza erão já mencio-
nados por jurlsconsultos do segundo século (o)
outros forão introduzidos por senatusconsullos e
constituições imperiaes ■, e muitos por Justiniano
particularmente. A hypolhoca podia também abran-
ger todos os bens, de maneira que tudo o que o
devedor adquiria > ainda quando mesmo tivesse
alienado, permanecia sujeito á hypotheca {p)i Daqui
provinha um risco para o terceiro que, ignorando
a hypotheca, comprasse a cousa hypothecada, que
lhe podia depois ser exigida cora a acção hypolhe-
caria. Os Romanos contentavão-so de ameaçar com
uma pena ao devedor que vendesse uma cousa hy-
pothecada calando-se sobre a hypotheca (ç). Outra
collisão também se dava quando o mesmo objecto
se achava hypotbecado a diversos. Segundo os
princípios de direito, o mais antigo preferia aos
outros. Pela jurisprudência (r), e em parte por
alguns direitos provinciaes (sj davão-se exccpções,
que forão ampliadas por constituições imperiaes,
principalmente a favor do fisco. 0 antigo prim ipio
prevaleceu sempre. Entretanto podendo o devedor,
era certos casos, dar a favor de um credor que qui-
zesse proteger, como mais antiga a sua hypotheca ,

lo) L. u, 1. D. in quib. caus- pigu. (20,2).


{p) L. IÚ pr. D. de jure flse» (49, li).
(?) L. 3 § 1. D. de stellion. (47, 20).
(r) L. 5. D. qui potior. (20, a).
(j) Plinius, epist* X, 109, 110.
DIR. ROM. 30
S3i HISTORIA
do que ella realmeule era, procurou o imperador
Leão evita-lo mandando que aquelles que apre-
sentassem um documento authentico ou assignado
por tres testemunhas, tivessem preferencia aos
outros (í).

(í) L. 11. C. qui potior (8, 18).


DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 235

LIVRO III.

DIKEITO DE SUGGESSlO.

INTKODUCÇAO.

I. DA SUCCESSÁO UNIVERSAL DO DIREITO ROMANO


EM GERAL (*).

§ 58. Podião os bens de uma pessoa passar para


outra de uma só vez e por um único aclo de adqui-
sição,de maneira que entrava essa pessoa para o lugar
do até então possuidor; e isto sem tradição ou cessão
das obrigações : tal é a acquisitio s. succcssio per
imiversiíatem [a). Successóes universaes tinhão lugar
nos bens de pessoa ainda viva, ou nos que deixava
o defunto; o que era mais usual.
Successão universal nos bens de pessoa ainda
viva linha lugar em muitos casos por pena. Primeira-
mente quando os bens todos, ou uma quota delles,
erão tirados para o fisco, publicolio s. proscriplio
bonorum, que hoje chamamos conliscação. A confis-
cação era considerada como urna pena (b); ficava po-
. —r
(*) H. A. Schwanert, Emimeratk» per universitatem successionnm
quae extant in jure Rom. praeter hereditatem, et bouorum pos-
scssionem. Gott. 18/iü. Zi,
(а) L. 1 § 13. d. qUod legal or, (à3, 3); L, 2à § 1. D. de
damno infecto (39 2) ■ L 3 S 1. D, de exc. rei v.end. el Iradit.
(21,3). '
(б) L. 8 § 3. D. de bou. daran. (48,20).
236 H1ST0K1A
róm o estado responsável pelas dividas (c); e, por um
ediclo dos pretores do tempo dos imperadores, só a
quantocl legassem os bens confiscados (d). Já a Romu
lus se allribuia uma lei que ameaçava com pena de
confíscaçào ema melado dos bens ao pai que matasse
filho seu ainda menor de três annos (e). Por direito
posterior muitos erão os delidos que da vão lugar á
confiscação de bens; e, no tempo dos imperadores,
a tqdo o condemuado á morte , e do mesmo modo
a todo aquolle que soffresse uma capiíis dimin.
media eráo seus bens confiscados (/"), Cláudio man-
dou ({ue os filhos do delinqüente ficassem com o
pecúlio, que este lhes tivesse concedido (51). Quando
o delido tivesse sido cqmmettido por um filho-íá-
milias e viesse a ter lugím a cqnfisoação, mandoq
Alexandre Severo, que íicasse o pai cora o pccu-
lium cuntrensc, e quasi castrense do filho [h)> 0 dote
da filha em caso algum era confiscado (i). Se os
bens de uma mulher fossem confiscados por
crime, que naq o de lesa magestqde, nem de bomi-
cidio, ficava o marido dote Q"), Por outr^ lado
á mulher do delinqüente era conservado o seu

(c) L, U. 10. pr. D. de bon. damnat. (48,20); L. 1. C. de


fidejuss. (8, 4i); L. 2. C, nd leg. Jul. de vi oubl (9,12); L. 5.
C. de bon. proscrlpt (9,49).
(d) L. 1 § t! I" D. de jure fiscl (49,19); L. 8 § 1. D. qui
testam, fac. poss. (28,1).
(í) Otonys. H. IT, 15.
if) L. 1 pr. D, de bon. dainnat. (48, 20); L. 10. C. de bon. prose.
(9,4 9J-
(g) L. 3 § 4 in fine. D. de minorib. (4, 4).
CO L, 3, C. de bon. prose. (9, 49),
(i) L. g 1, D. de usur. (22,1); L. 42 pr. D. soluto matrim.
(24, 3); L. 8 $ 4; L. 10 § 1 D. de bon, damn. (48, 20),
[j) L, 3—5. D. eod,
DO DIREITO ROMANO FRITADO. 237
dote [k]. Conslantiao ordenou que este principio se
estendesse a todas as doações feitas pelo marido á
mulher [l]; ao que Justiniano finalmente accres-
centou que, quando ella não tivesse dote se lhe
desse 1/4 dos bens confiscados (w).
Muitos casos ainda se davão por direito romano
em que nos bens de uma pessoa vivi havia uma
successão universal a favor de ura particular; como
acontecia quando era alguera reduzido por pena á
escravidão (n), já por se ter feito vender dolosa-
mente pretii participandi causa (o), ja quando a ma-
numissão proptev inçjTaütudinem era revogada (p);
e do mesmo modo nos casos do Sfiíiíiíiíscojisuitüni
Claudíamm tanto quanto esteve em vigor (g); já
sempre que o devedor pela manus injcctio era redu-
zido á escravidão (f), e assim o far mnnifestus (s).
Os demais casos são todos do tempo de Justiniano.
Assim aquelle que raptasse uma mulher contra sua
vontade , á raptada cabião todos seus bens (í).
Aquelle que contrahisse uma união incestuosa sa-
bendo que o fazia, no caso de ter filhos do primeiro
matrimônio, passavão logo seus bens a estes filhos

(A) L. 2 § 1. D. de fundo dot. (23, 5).


(/) L. 1. C- Th- de bon. prose. (9, 42).
(m) Nov. 117 c. 5; Nov. 134. c, 13. „ . . .
(n) L. 6. D. de in integr. rest. (4, lj; L- 2. pr. D. de fundo
dolal, (23, 5) ; L. 32 á 6. D. de donat. V. et U. (24, 1), § 1.
I- de succ. subi. (3, 12).
(o) Veja-se o § 8.°
(p) I.odem.
(?) Eodem.
(r) Eodem.
(í) Eodem. .
(0 L. un. § 1. c. de raptu virg. (9, 13).
238 HISTORIA
eom a obvigaçiío porém de o alimentarem (w). A
viuva que tivesse casado antes de completar o luto
podia livrar-se das penas, que lhe erâo impostas
pela lei, entregando aos filhos do seu primeiro
leito metade dos bens («).
Ainda mesmo sem ser por pena encontramos uma
successao universal nos bens de pessoa ainda viva
por capitis diminutio rninima de um homo sui júris;
pelam manuni conventio de uma femin-asuis juris(x};
pela arrognçao ('</); pela causae probatio quando vi-
nhão os filhos a cahir sob a patria poteslas ; pela
legitimação; e da mesma maneira por revogação da
emmápadíQ pwpter imjraliíudincm, cabendo por di-
reito antigo os bens do capite minutus áquelle a cujo
poder ficasse sujeito , porém sem as dividas (z), com
o que estava ligado a in integrum restitutio propter
capitis diminutionem, que acabou por direito Justi-
nianeo, tendo desapparecido a m rnanum conventio,
e a causae probatio ; e cora relação aos outros casos,
segundo os princípios estabelecidos por Justiniano
quanto á arrogação vinha o pai a ter simplesraortle o
osufrueto dos bens, e por conseguinte a tanto quanto
chegassem esses bens devia ehe satisfazer as divi-
das [a( . Pela seciio bonorum em concurso—quando
o credor achava occasião de comprar a massa dos

(u) JSov. 12. e. 2.


(i>) Nov. 22 c. 22,
(«) Cie, pro Flacco c. 35; Top. c. Zi; Gai. JII, 82—8i:
IV, 38.
(y) Gai. m, 82 ; L. 15 pr. D. de adopt. (1, 7); pi-, § 1. 2.
I, de adquir. per arrog. (3,10).
íi) Gai. 111, 8Zi; 1.. /i2. D. de pecul. (15, 1).
{aa) S 2. 3. I, de adquis. per arrog. (8, 10).
DO DIREITO ROMAHO PRIVADO. 239
bens vindo a passai" para o comprador todos os do
devodor, sem as dividas, por isso que para estas
dava elle o dinheiro [bb].
Por morte de um indivíduo tem lugar uma suc-
cessao universal nos bens que deixa. Pôde con-
junclamente com esta dar-se uma successão singular
em alguns bens pertencentes á massa , e isto já por
determinação legal, como por exemplo; quando o
dote que o pai fizera ao filho, por morte daquelle
vinha a pertencer a este, assim como quando por
morte de ura de muitos usufrnctuarios a sua parte
accrescia aos outros &c.; já principalmeute por
determinação do defunto (legatum, fideicommimm,
domíio mortis causa]; o que porém era tudo acci-
dental, e pouco esscucial, quando havia quem
tivesse direito á successão universal. O direito a
esta successão universal é o que se chama herança,
(em ali. Erbrecht) em sentido subjectivo; á successão
lambem chamamos herança, hcreditas [cc] (em ali.
Erbfolgé]: ao successor eharaa-so heres (dd). Podemos
ser herdeiros, ou por nossa vontade, ou contra ella,
No primeiro caso duas cousas devemos diffevençar;
delata hcreditas, deferimento da herança , adquüita
hcreditas, adquisição da herança. A adquisiçüo deve
suppòr uma circumstancia que tome a successão pos-
sível. Dão-se duas causas de deferimento da herança
jure ãvili: a vontade do defunto, testamentum, tes-

{bb) Varro de re rústica II, 10, Gai, II, 98; III, 77; pr. I.
de success. subi. 3, 12).
(cc) L. 2íi D. de V. S. (50, 16).
(dd) Heres~é o mesmo que herus, Festus v. hertu.
240 HISTORIA
tamenlarin hereditas; e uma lei, lei, ou quodlegis
vicem ohlinet, legitima hereditas. Ambas suppoem a
morte do tostador. Pelo deferimenfo não é que
se dá a suceessão, porém só então a possibilidade
presente de ser herdeiro. A suceessão dá-se depois
da adquisicão, que consiste aqui em um acto da
vontade. Contra a vontade podia-se ser herdeiro,
ípso jure. Neste caso dá-se o deferimento e adqui-
sicão conjnnetarnonte.
A suceessão ou é ordinária, ou extraordinária t no
primeiro sentido é a que tem applicação nos casos
ordinários; no segundo só pertence aos casos
exeeptuados; e por isso com relação a esta não se
usa da expressão heres nem hereditas. Os casos mais
freqüentes das successões extraordinárias tem ori-
gem no tempo dos imperadores; mas já pela lei
das XII Taboas dava-se uma suceessão extraor-
dinária para o fisco nos bens de uma vestal,
quando morria sem testamento (ee); também suc-
cedia o fisco por suceessão extraordinária em parte
pela lex Comelia testamentaria, e era parte pela lei
Papia Poppsea nos bens vacantes {ff); a suceessão
do pai estabelecida por Octaviano no peculium cas-
trense, e quasi castrense de seu filho, quando falle-
cido sem testamento [gg]; a suceessão introduzida
por Marco Aureiio dos escravos por via da addictio

(ee) riell. I, 12.


(ff) L. 22 § 1. D. de capliv. (49, 15); Gai. II, 15; Ulp.
XXXIU, 7; L. 96 S 1 D- de legat- 1 f30); L- b. C. de bon.
vac. (10, 10).
(gg) L. 1 § 3. 4. D. quando de pecul. act. ann. sit. (15, 3).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 2/li
bonorum iibertatmi sermndarum causa [hk]; e final-
mente a successão da viuva miserável introduzida
por Justiniano; o do mesmo modo a successão da
concubina, e dos filhos de concubina, também de
Justiniano.

It. IIEREDITAS, R BONORUM POSSESSIO.

§ 59. É uma particularidade do direito de suc-


cessão entre os Romanos apparecer elle de duas
fôrmas, para o que muito contribuio a divisão do
direito romano em direito civd, e direito pretorio.
Encontramos um direito de successão dojuscivile,
hereditas propriamente dita, que tem sua origem
na mais remota antigüidade', e o direito de sue1-
cessão do edicto dos pretores sob o nome de bonorum

Desde o seu principio pendia o direito romano


para este pensamento: que a herança devia soffrer
tão pequenas mudanças que parecesse sempre que o
defunto ainda continuava a viver (d). Herdar podia
pelo menos desde a lei das XII Ta boas lodo e
qualquer cidadão; a vontade do defunto era cum-
prida á risca (ã). A sua vontade porém devia ser
expressa conforme as formalidades marcadas por
lei; não sendo altemlida em caso contrario. Esta
declaração formal feita pelo defunto e o que enten-
demos por testamento (c). Na falta de um testamento

[hk) Pr. § i /[, i. de eo cui lib. causa bona add. (3, 11).
(а) L. Si. D. de V. S. (50. 16). ^
(б) UIp. XT, IA; Gai. II. 22A; Cie. de mvent IT, 50.
(c) L. 1. D. qui tosU (28, 1)» a.
Din. noar, 31
2Zl2 HISTORlX
dava-se a successao ab intestato. Finalmente podia
haver mesmo um testamento e ser enlretanto, com-
batido por certas causas. São estas disposições, com
relação aos Ires casos mencionados, o que faz o
fundamento do antigo direito de successao. O
edicto dos pretores dava porém a certas pessoas
uma posse da herança, e a esta certa validade.
Assim conjunctamente cora o direito civil de suc-
cessao appareceu outro modo de succeder por con-
cessão da bonorum possessio; porquanto o pretor não
podia dar a heredilas quando o jus civile a não
dava, praelor heredem facere non polesl, assim como
não podia dar dominio; razão por que dava elle a
posse dos bens e com ella uma garantia , como se
elles fossem herdeiros ; donde veio chamar-so este
direito de successão pretoria—bonorum possessio , e
aos herdeiros— bonorum possessores.
Em muitos casos dava o pretor a bonorum pos-
sessio; assim dava-a elle ao credor do devedor insol-
vente. Também a dava nos bens do defunto áquelles
que reconhecia terem um direito á herança. O edicto
diíTerençava dous casos: existência de ura testa-
mento , e herança ab intestato. Para o primeiro caso
havia uma duplice bonorum possessio : contra tabulas,
e secmdum tabulas. Para o segundo davão-se tantas
bonorum possessiones quantas erão as classes de
pessoas que, já conjuncta, já separadamente com
relação
• umas ás outras, tinhão direito á herança.«
A bonorum possessio ou era sine re ou cum re {d).

{d} ülp. XXVIIt, 13; Gai. III, 35—38.


CO DIREITO ROMANO PRIVADO. 243
A origem e primeira causa deste direito de suc-
cessão ó incerta, e sobre ellas existem varias opi-
niões. Querem muitos jurisconsultos que a bonorum
posmsio, e o interdictum quorum bonorum fossem
introduzidos em primeiro lugar para os herdeiros
civis, afim de lhes proporcionar a posse da herança
mais facilmente; e que só depois é que vierão a
estender-se a outras pessoas, devendo-se primeiro
provar que se era herdeiro para então obter a bono-
rum possessio. Esta opinião não tem uma so prova
histórica a seu favor. A segunda opinião é de ter sido
dada a bonorum possessio em principio conjimandi
júris civilis gr aí ia, mas para regular a posse para
a hereditatis petitio. Opinião esta que so se unda em
hypolheses. Outra opinião e: que a bonorum pos-
sessio de seu principio foi contada ao direito de
successão, e até como uma ampliação ao mesmo.
No tempo da republica tornavão-se cada vez mais
insupportaveis as reslricções feitas pelo juscivile,
assim como na successão lestamentaria a exaclidao
de certas formalidades; por exemplo, no caso de um
poslhumus agnatus romper o testamento e entre tanto
v.r a morrer ainda antes do testador. Além disso o
terem só os aguados direito á successão al intestaio,
ao passo que cora tanta facilidade podião os bens
tornar-se res nullius por direito civil. E por ven-
tura seria melhor isso do que chamar os cogna-
dos á successão? Acudio pois o pretor a remediar
esta falta, e assim como ojus civile permittia a posse
de bens pertencenles á herança, assim deu o pretor*
a posse a certas pessoas que, na opinião de Iodos

«
2àlf HISTORIA
principiavão a ser lidos como os mais proumos s
successao. Deu-lhes um meio para reliaverem as
cousas de outros possuidores pro hcrede, e os pôz
em posição de se tornarem heredes pelo usucapião.
Tslo entendia-se principalmente nnquelles casos em
que o jus civile não marcava um heres , assim pois
mpplendi júriscivilis ijratia] naturalmente porém não
era negada a honorum possessio também ao heres, —
eonfirmandi júris civilis gralia; e finalmente podia por
eíléito delia vir-se a tirar a herança o a um heres, —
corrigendi júris civilis gralia. A torcoira opinião sobre
a possibilidade da causa da honorum possessio é:
a necessidade que havia de curar dos credores.
Onde não se davão herdeiros—dava-se aos credores
a honorum possessio.

CAPITULO I.

Da Successão ab intestato.

1. DA SUCCESSÃO AB INTESTATO NOS BENS DE UM NÃO


MANUMISSUS.

A.—Antiga successão civil.

§ 00. O característico da successão legitima, ou


nb intestato do antigo direito romano, era de fun-
dar-se ella exclusivamente na agmção , e na sua
ntnpliaçao á geniililas; dahi resultava que por qual-
quer capilis dimmtio mini ma se perdia o direito de
successão; n cognação só por si não dava direito
DO DIREITO IIOMAKO PRIVADO. 245
algmn a ella. Alei dasXII Taboas cbamavaá suc-
cessão logo que um civis morria Ântestatus em
primeiro lugar: os sui. Estes de si mesmos erao
herdeiros a menos que não fossem excluídos da
successao; e por isso não lhes dava a lei das XII
Taboas orpressamenle os bens, e sim aos aguados
na falta dos sui que, propriamente fallando, erão os
legitimi heredes: si iníestalo moritur cui suus heres
necescit, agnatus proximus familiam habcío (a). Sui
erào Iodos aquelles descendentes que estavão sujei-
tos á patria potesfas na occasmo da morte do paler-
familias (b)f incluindo a uxor in manu (c), que para
elle era como filha; assim como os descendentes
que vierão a nascer depois, posthumi, e que já
antes de sua morte tinbão sido procreados, e terião
cahido em seu poder (d). Os netos e bipnetos &c.
só herde vão quando os descendentes, mais proximos
dos quaes elles descendrão do defunto, já tinhão
morrido ou estavão fóra da farailia por edopção ou
emancipação (e); e então neste caso concorrião elies
com os outros descendentes mais proximos de que
não descendiào (f). A divisão fazia-se de maneira
que os filhos, sem differença de sexo, dividissem in
capita, i. é que recebessem portiomes víriles; os des-
' —;—» —'
(a) Ulp.XXVI, 1; Collat. XXI, 4.
(é) 6ai. III, 2; Ulp. XXVI, 7; § 2 —7. i. de her. quae ab
ínt. (3, l); i, 13. d. de sois et egat. (38, 16).
(c) Gal. in. 3; Collat. XVI, $ 2,
(<0 S 8. 1. de her. quae ab tnt. (3, 1); Gal. IU, 4—6; Collat.
Ç.; L. 4. C. de suis et lapit. hered. (6, 54).
(«) S ,7, 9, 10, 11. 1. eod.; L. 1 S 4—8. D, de suis etlegít.
(33,16).
(/) S 6. I. eod.; Gal. III, V; L. 3. G de sais ct legit. hered.
(6, 55).
246 HISTORIA
cendentes porótn em grúos mais remotos succedião
in stirpes i. é recebiüo a parte do filho de quem des-
cendião, e a dividião entre s [g). Quando porém
não havião sui hercdes erão então chamados pela lei
das XIÍ Taboas os agnados do defunto; á succossuo
era chamado uquelle que estivesse era gráo mais
proximo; de modo que o mais proxirao excluía o
mais afastado; os agnados recebião porções vi-
ris [h]. Nesta classe podiáo lambem aquelles filhos
cujo pai já não existia, e suas mãis ou madrastas»
herdarem-se mutuamente como aguados , quando
estas ultimas tivessem sido uxor in manu do de-
funto , por isso que erão então consideradas como
filhas do fallecido marido, e soror consanguinea dos
filhos (í).
As femeas não erão chamadas á successão ultra
consanguinitatü gradum, e muito provavelmente já
pela lei das XII Taboas [j). A lex Vocon.a rcstriugio-
Ihes muito a capacidade de poderem ser lembradas
em testamento , e dahi vem o ler a inierprctatio
prudentium applicado á successão ab intestato os
fundamentos dessa lei, a toconiana ratio, como
diz Paulus; e estabelecou-se na praxe que , quando
mesmo nos sui heredes e consanguinei, fossem com-
prcbendidas as femeas, por agnados só se deve-
riào entender homens, em conseqüência da antiga

(</) § 6. I. eod.; Gai. 111,8; Ulp. XXVI, 2; Collat. XVI, §3-


L. 2. C. de suis, (0, 55).
(A) Cie. luaest. Tusc. III c. 5; de Inv. 11, c. 50 ; ad Herenn.
I, c. 3; Ulp XXVI, S t e 5; CoUal XM, 2; S 2, 4; Gai. Ul,
9, 11; Tit. I de legit. agnau succ. (3, 2).
(i) Gollat. XVI. 6; Dionys. 11. 11, 25.
(j) Gai. III, 18—24; Ulp. XXVI, 6.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 247
dermição; agmti sunt cogmti virilis aexus per mares
descendentes [k]; de maneira que as mulheres só
podião herdar nas duas primeiras classes,—na dos
sr ■, e dos consanguinei [l).
Quando nao havia agnado algum ou proxlraus
mandava entãoa lei das XII Taboas: gentilcs jamiliam
habento (m). De que modo tinha lugar a successão
ignoramos. Já no tempo de Gaius tinha cabido
esta classe completamente, não havião pois mais
gentes (n).
Uma particularidade do direito de successão an-
tigo era este principie ; in legitiniis hercdilalihus non
est successio; o que quer dizer que a herança era
de uma só vez deferida aos herdeiros mais próxi-
mos , porém logo que estes a não adquirião, tam-
bém não entra vão em seu lugar os mais remotos, e
sim tornava-se a herança res nullius] o que não se
entendia com a classe dos sui por serem elles ipso
jure herdeiros (o).

B.—Successão do direito pretorio.

§ 61. Gradualmente se foi modificando o direito

(k) Ulp. XXVI, i ; Collat. XVI, 3, 7; L. 2 § i. D. de suis


et teeit, (a8, 16). , ^ j-. . i •
(O Paul. sent. rec. IV, 8 § 22. Feminae ad liprediUtes legt-
timas ultra ccmsfmguiueas successiones non admittuntur: idqne
jure cirili Voconiano ratione videtur effectum. Ceterum lex Xu
tabularum nulla discreiione sexus cognatos admittit. Collat XVI
S 3: Gai. III 14, 23; Ulp- XXVI, 6; Theoph. III, 2 § 3. I.
de Jog. agnat. succ. (3, 2); L. 14. C. de legit. hered. (6, 58).
(m) Collat. XVI, 4. , „
(n) Gai lU, 17; cie. in Verr. II, 1. c. 45; Sneton. m Cae-
sare c. 1.
(o) Gai. HI, $ 11—13 e 22; Ulp. XXI, 5; Paul, sent rec.
IV, 8, § 23; § 7. I. de legit. agnat. succ. (3, 2).
248 HISTORIA
Je successão, e já de si mesmo com a exlincçao dn
genlilitas, já pela admissão de outros princípios ju-
ridicos. O pretor tratava os bunorumpowessorescomo
herdeiros (a): deu-lhes asucções queelles terião como
herdeiros, como utíles, e também as ocções contra
elles da mesma forma [jictis iis hercdibus). E elles
tinhão por conseguinte asmrem actiones do leslador
como utiles. O pretor eoasiderava-o também como
dominus, isto é, o bonorum possemr era dominus boni-
tarius. Pelo usucapião, pro herede, tornava-se elle do-
nmus exjurequiríiium. Dava-lhes também o pretor
as noções pessones provenientes de obrigações per-
tencentes ao defunto como utiles ; assim como tam-
bém aos credores da herança contra elles dava as
acções, como utiles (6).
No terceiro período foi também concedida aos
bonorum possessores a hereditaíis petitio , possessoria
heredilatis petitio. O pretor concedia uma bonorum
possessio: si tabulw testamentí mllcs exlahunt; assim
pois uma successão proloiia ab-intestado, bonorum
possessio in lesta ti: st tabulai testamenti extabunt; o
neste ultimo caso contra íabulas, ou secundam
iabulas.
A bonorum possessio não era adquirida ipso jure,
não havião bonorum possessores necessarii. Era ella
adquirida pela declaração de que se queria ,
agnitio, admissio, petitio bonorum possessionis. Esta
declaração podia ter lugar perante o magistrado,
pretor, ou praeses.

(а) Oai. IH, 32; Ulp. XXVIII, 12; § 2. í. de bon. pos». (3, 9).
(б) Oai. IV, 34; ülp. XXVIII, 12.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 249
Os prolores com a introducçâo das tres classes ex
eàicto mãe liberi, ex edicto unde legitimi, e ex edicto
unde cognaü davão a hononim possessio não só aos
aguados chamados á succcssão pelo jus civik, como
(ambem a todos os cognados até o sexto gráo; em
parte até mesmo ao sétimo; a alguns apites, a outros
conju nela mente, a outros íinfllmente depois dos
aguados. Wuma quarta classe ex ediclo unde vir et
ttxor até mesmo na falta de todos os parentes habi-
litados para succederem dava-se ao esposo que sobre-
uvia a intestati bonorum possessio.
Unde liberi. Esta classe comprebendia os sui
heredes como era por direito antigo (cj; além delles
ainda os emancipati, filhos emancipados pelo de-
funto (d); ao passo que os que de outro modo se
acha vão fóra do palrio poder erão sempre excluí-
dos (e). Quando porém o filho emancipado tinha
os filhos em o pátrio poder do avô, i ét de seu pai
erão estes sui, porém por direito prelorio não
succediáo elles ao avô, succedus o filho emanci-
pado; o filho e os netos herdavão conjuncta-
tamente, mas como ficassem os outros lesados
com isso mandou-se que herdasse o filho tanto
como se fosse suus, e désse então a metade a
seus filhos, netos do defunto [f]. Quanto a serem
(<0 S 3. I. de bon. poss, (3, í); L. 1 | 6. D. si tab. test,
nullae ex tab. unde iibeii (38. 6); L. 5 § i. D. unde legitimi
(38, 7); L. 2. C. de suis at legit, hered. (6,55).
(rf) Gai, m, 25; Ulp. XiVIII, 8 S 9. I. de hered. qnae ab
intcsl. 1 (3,1); h 5. o. gi tab. test. nullae extab. (38, 6); L. 1.
C, un- , iib. (6, l/l),
(í) Ulp. 1. c.; § 10—13. I. de hered. quae ab intest. (3,1).
(f) L 1 pr. D. de conjungendis ciun emancipai, liber ejui
(37, 8).
DIR. nox. 32
250 HISTORU
os emancipali equiparados aos sm fez o pvetor uma
restricção; por isso que o cmancipatus desde a sua
emancipação principiava a adquirir para si, ao
passo que tudo o que os sui adquirissem era para
aquelle a cujo pátrio poder estavão sugeitos; e como
pelas adquisições do suus se augmentasse a herança,
assim pela parle que cabia ao eimncipatm diminuia
a do suus, pelo que se mandou, que elle eman-
cipaius ajuntasse seus bens á beroaça, collatio bo-
norum (3).
Unde legitimi. Nesta classe estavão comprehen-
didos os legitimi heredes do antigo direito civil (h);
nao erao os consanguinei os sós comprehendidos, e
os agmti, mas lambemos sui heredes (^. Não os capite
minuti, porque não erão legitimi. Asuccessão nesta
classe era no mais a mesma (j), e com relação á
exclusão á successão dos aguados permaneceu ella
em vigor {k); assim como a antiga regra de poder
ser só deferida ao aguado mais proximo, pelo que
nada aproveitava ao que estivesse era grão mais
remoto apresentar-se; e ainda mais, logo que o
mais proximo tivesse deixado passar o tempo, cabia
a successão na terceira classe.
linde cognati. Aqui erão comprehendidos todos
os parentes de ambos os sexos até o sexto gráo, e
do sétimo ainda os ex sobrino, sohrinaque mti

(ai Dig. XXXVn, 6. de collatlone (bonor).


Qi) L. 1. 2. § 2; L; 3. D. undí egit. (38, 7); GaL IH, 27.
(i) 1. 2. pr, D. unde legit. (38, 7); L, 1. § 11. D, succ.
ed. (88,0),
m t. 3, 5, 7, 9. C. de legit. hered. (6, 58).
{k, Gai. IH, 29.
DO DIREITO HOKAÍÍO PRIVADO. 251
mlaevf (/); e o mesmo aconteoio quer tivesse pas-
sado para outra família por adopção, ou por arro-
gaçno, quer não (m). Os mais proxiiuos exclmeo
sempre os mais remotos, ao passo que os que esti-
vessem em o mesmo gráo recebião poríionei v.-
riles. Nesta classe tinba lugar a sueeessio gradnmn,
de maneira que os parentes mais remotos podião
apresentar-se logo que os mais próximos tivessem
deixado passar o seu tempo (n).
Unde vir et uxor. Logo que não havião pa-
rentes, ou que ninguém tivesse procurado a bo-
norum pommo, cabia esta ao esposo que sobre-
vivia (o). Isto porém com relação ás nupcias sem
a convmtio in mam.

C,—Do novo direito de successáo.

§ 62. Com o andar do tempo foi se tornando


cada vez mais recebido o direito pretorio. Tratemos
agora do jus eivile examinando as leis que appa-
recérão do terceiro período em diante,
Do tempo de Adriano temos o senatiucomultum
Teríulmium (a). Estabelece este senotuaoonsulto
com exaclidão a successáo da mãi (b). Devia esta

(0 $ 5. I. de succ. cognat. f3,5) ; L. 1 § 3. D. unde


^ç^D-81 (38 8)
(m) Gai V ^7—31; ülp. XXVIII, 9; §13. L de hered. quae ab
to*- (3, 1); pr § i—h. I. de succ. cogn. (3,5); L, ^ pr, §4;
L. 2, n, unde cocu. (38, 8); L. 5 D. unde legit. (38, 7).
(n) S 7 I. de kg. agn. succ. (3, 2'': ülp. XXVIII, 11,
(o) L. un, D. unde vir et uxor (38,11); L. un. C. eod, (6,18).
(a) Paul. sem. rec. IV, 9; Inst. III, 3; Cod. VI, 56.
(é) § 2. I. de Sct. Tertttll. (3, 3).
252 ilZSTORZA
estar depois da classe unde liberi, (juando a esta
classe perleucessern descendentes de seu filho fal-
Jecido (c); assim também devia ella ceder, com
relação ao filho emancipado, ao pai, que herdava
por via do seu direito de patrono, porém não ao
avô, quando deste provinha a emancipação (d);
do mesmo modo se entendia, que ella não podia
succeder aos filhos, que ainda estavão era pátrio
poder, nos bens de seu pecúlio castrense, por isso
que estes pertencião ao pai (e)., Ella porém preferia
com relação aos filhos, quer legítimos, quer ille-
gítimos aos collateraes, tendo assim o proprio lugar
na classe unde legitimi (/"); mas isso, no caso de ser
ella livre, e de ter dado á luz tres vezes, e como
liberta quatro vezes, creanças capuzes de vida, e
não monstros (g).
Dava-se entretanto um caso em que a mãi herdava
eonjunolamenle com os collnleraes: quando o filho
de quem herdava linha pai, mas que desde seu
nascimento achava-se fora da família por adopção,
ou emancipação; ora, os consanguinei e agnati como
legitimi heredes excluião o p< neste caso, e este só
podia opparecer na classe unde cognati, e igual
direito áquelles deu o senalusconsulto á mãi, nao
concedendo portanto ao pai direito igual ao delia (A).
Do tempo de Marco Aurélio temos o senatitscon-

(c) S 3. I. eod.; L. 2 § 6—14; L. 5. D. ad Sct. Tertull. et


Orpliít, (38, 17).
(d) $ 3. I. eod. L. 2. § 15, 16. D. eod.
(«) Li 10. pr. D. eod.
(/) S 7. I. eod.
íff) «'aul. I. c.
M) L. 2 § 17, 18. D. eod.
SO DIREITO ROMANO PRIVADO. 253
mlíum Orphitianum (i). Por este seiiatusoonsulto
estabeleceu-se com relação á herança das mulheres
uma classe unde liberi; e seus filhos quer fossem le-
gítimos, quer illegltimos, erão seus herdeiros e pre-
ferião a todos os outros parentes (j). Este direito
porém só era coníbrido aos filhos do primeiro grão,,
e nao aos netos (A), Quando a mãi era uma liberta
exigia-se que o filho tivesse nascido depois- da ma-
numíssão (í); e aos filhos de uma civis Tomana*
que do mesmo modo não tinhão a civitãs não era
concedido este direito (m). Os filhos de maneira
alguma erão aqui considerados como sui Iwfodas,, e
herdavão ipso jure (n).
, Depois da publicação do scnatuscormltwm Orphi-
tianum até Constanlino permaneceu a successão ab
inlestalo como era; porém no tempo dos impera-
dores christãos apparecêrão mais modificações, e
muito principalmente nas duas primeiras classes da
bonovum possessio intestuíi. Assim mandou Conslan-
tino (no anno 321), que a mãi que não tendo o
jus Hberorum herdasse de seu filho com os col-
lateroes 1/3, que porém quando tivesse a jus libe-
rorum, e existissem irmãos do pai do filho fallecido-,
ou filhos ou netos destes, e fossem elles oscolla-
teroes mais próximos, que désse ella a estes 1/3 da

(0 Paul. sent. rec. IV, 10; Inst. III, à; Çod- VI, 57.
(j) Pr. ^ 1, 2. I. de Sct. OrpluL (3, 4)» l*. S "» ^ ^
I'. j , 6, 9. D. de Sct. Tert. et Orphit. (38, 17); L. 3. G, Theodi
de legit, hered. (5,1).
(i) SI- I. eoiL ,
(0 Paul. 1. c. §2.; L. 1 Pr- § 3- a eo(L
(ml Paul. I, c. % 3, .. ,
(n) Paul. 1. c. f ü; L. 1. C. de Sct. TermU. (6,56).
254 HISTORIA
heronça, mesmo quando tivessem por uma capiiis
dirnimtio mínima deixado de serem aguados do
filho (o). Valentiniano I ordenou (309), que os
fratres consanguinei do filho devessem preferir á mãi,
por isso que seria inconseqüente deixar concorrer
com ella o irmão do pai, e seus descendentes,
quando os irmãos em grão mais proximo não a pre-
feriào (p); e talvez mesmo que também desse ás
sorores comanguince metade da herança, com a mãi.
Graciano (3S5) mandou, que quando a mãi her-
dasse de seu filho ex testamento, ou ab intestato,
com irmãos destes, e se tornasse a casar, que tivesse
ella só o usofrueto de taes bens, e os irmãos
o dominio {$. Valentiniano II estendeu a appii-
cação do Sct. Orphiticno aos netos e descendentes
das femeas (r), e estabeleceu, que os descendentes
de uma filha já fallecida por morte do lestador,
sendo iguaes aos descendentes de um filho também
já fallecido, que entrassem em lugar de sua mãi;
entretanto, se com outros descendentes só recebião
2/3 da parte da herança materna; e quando fossem
agnados os outros herdeiros mais próximos devião
ceder a estes 1/4 da herança (s). Theodosio II (426)
mandou lambem que os descendentes das femeas
valessem como sui heredes com ralação a ellas e que
herdassem ipsojure. Na falta de consanguineos, que
a mãi herdasse ainda mesmo quando não tivesse o

(") L. 1. C. Th. deleglt. hered. (5, 1).


[p] L. 2. C. Th. eod.
(7) L. 3 § 1. C. de secund. nupt. (6, 9).
(r) L. U. C. Th. de legit. hered. (5, 1).
(s) L. 9. C. de suis et Jeglt. (6, 65).
DO DIHJSITO KOMAJiO PRIVADO. 255
jut liberorum, não deveudo dar só ao tio pa-
terno ou seus descendentes varões i/3 da he-
rança , raas também aos irmãos emancipados de
seus filhos (/).
A mãi que concorresse com os irmãos do filho
não perderia em caso de passar a segundas nupoias
toda a sua parte da herança; só nos honv paternis,
que o filho houvesse herdado de seu pai, per-
dia ella o domínio em beneficio dos irmãos do
filho («). A bonorum posmm unde vir et uxor deveria
ser sine re logo que existissem como herdeiros pró-
ximos parentes capazes de sucoeder de qualquer
modo que fosse [v]. Quando uma mãi, que tinha
sobre seus filhos a tutela (439) casasse antes de
prestar contas, perdia todo e qualquer direito
á herança d'est€ (ai),
A maior parte das outras modificações que não
mencionamos são do tempo de Justiniano.

H. SUCCESSÍO AB JNTBSTATO NOS BENS DE UM IIDEHTO.

A. — Antiga succemv civil.

§ 63. Até aqui tratámos dos iügenuos; cumpre


agora tratar dos libertos.
Sob a accepcão Hberíi compreliendem-se não
só os manumettidos como também os filhos eman-
cipadoi, e a mulher casada, e os filhos que tiubão

Ifi l.- 7. C. Th. de tegtt. hered (5, 1).


d L. 9. G. Th. de legit. hered. (5,1).
(i L. 6. C de Sct, TertuL <6, 56).
(®) v. Van^irw. óeitíarlen i. PaBdektravorlesungen, T. If. p.
29 e segointes.
J00
HISTORIA
sahido do mancipium em que estiverão (a). Em pri-
mein lugnr trataremos dos liberti eives romani.
Pelo antigo direito civil herdavão também aqui
os sui heredes como acontecia com relação ás outras
pessoas (6); na falta dos sui então o patrono, e
seus filhos de qualquer sexo que fossem tomavão o
lugar dos agnado.s e herdavão como agnados pela
proximidade do gráo de parentesco , e excluía ao
mais remoto o descendente mats proximo; se havião
muitos patronos, ou muitos descendentes a divi-
são era feita per capite (c). Por capitü diminutiõ do
patrono, ou do liberto desapparecia porém este di-
reito a herança (d] Se não existisse o patrono nem
descendente algum seu caião os bens do liberto
á gens do patrono (e).
Antes da lex Juma "Sorbana o manumeltldo mmus
solemniter morria como se fôra escravo; e mesmo
não podia ter lugar neste caso uma successão ab
inlestato, por que os latiuos não tinbão agnados,
e também o patrono não podia succeder ab inlestato,
or isso que o direito de successão do patrono só se
fundava em uma fingida agnação, e esta ficção não
se poderia dar ahi onde se não dava capacidade para
ser aguado; e assim ninguém, nem mesmo opa-

(a) g 6. [. quib mod. jus patr. pot solv. (1,12); e g I do


agn. succ. (3, 2); L. 4 ia fine C. de bon. iib. (6 4)"
HbíVí I^, 40; ^ XXW ' 1; XXIX' 1 dê succ.
(c) Cal HI, 45, 40, 61, 5',-62; Ulp. XXVII, 1—4; x\[X 2 S •
3
^- S. pr. D. de sulset $
^ íX 'tI?*c8 Va,ic- 306; Theoph. I, 17. ' ''
S1 i «■ül51,; 3^ s 2.1. d, ^ on* p.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 257
trono teria direito aos bens do falleeido latino, se
por ventura a lex Junia não previsse este caso [f).
Como já tivemos occas o de dizê-lo: o latino que
fallecia era considerado como se fosse escravo prin-
cipalmente com relação a seus bens. Mandou a lex
Junia então, que tudo o que adquirisse fosse para
o ruanumissorcomo seu senhor (gj, o qual chamava
a si esses bens depois da morte do liberto jure pe-
cuüi [h). Os bens do manumissus erão pois contados
aos bens do senhor, e quando já este tivesse falle-
cido cabião áquelles, que o tinirão herdado (ij.
Depois da lex Junia apparcceu o senatusconsultum
Largianmn do tempo do imperador Cláudio, que con-
cedia aos filhos do manumissor, que não tivessem
sido expressamente deshordados, direito a essa he-
rança, com preferencia a herdeiros estranhos (j).
Se o liberto era dediticiorum numero, o que elle
deixasse cabia ao patrono umas vezes já como he-
rança, outras vezes como pecúlio [k].

B—Da bonorum possessio [liberti].

§ 64. As classes erão; unde legitimi; unde cog-


nati; família patroni, ou tum qua s. tum quem ex
família; Patronus, patrona, item liberi et parentes
eorum; unde vir et uxor; cognati manumissoris (a).

tf) Gai. III, oG.


(a) Frgm, Dosilh. § 7.
(h) Gai. m, 56.
(x) Gai. m, 55—62. . T
U) Gai- HI, 63—71; $ h. 1- de success. libert. (3, 7); L. un.
§ 12 e 13 G. de lat. lib. toll. (7,6).
(A) Gai. III, y/j, 75, 76.
ia] Ulp. XXVIII, 7; § 3. I. de bon. poss. (3, 9).
33
DIB. ROM.
258 HISTORIA
Unde iiferi.Esta classe compreheudia (assim como
a dos«onnvmnmim), além dos sui, tamliem os eman-
ei palL
Unde lôgitimi, Chamavão-se nesta classe aqtielles
que erão também cliamados por direito civil.
Unde cognati. Scguiao-se os cognados do manu-
metlido, os qiiaes porém como se não contasse o
parentesco proveniente do caplivciro, só podião
sah. ■ dos descendentes.
Família palroni, ou tum qna s. tum quem ex fa-
milia. Erão comprehendidos aqui os agnados do
patrono na mesma ordem era que elles tinhào her-
dado do patrono.
Patronas, patrona, item liberi et parentes eorum.
Unde vír et uxor. Depois dos herdeiros acima men-
cionados era chamado o esposo, que tivesse sobre-
vivido ao outro.
Cognali palroni. Finalmente seguião-sc ainda os
simples cognados do patrono [b).

C. — Da bouonm possessio dimidiae parüs,


em particular.

§ 65. Estabeleceu-se pouco tempo depois, pri-


meiramente que não pudesse mais o liberto excluir
por um testamento ao patrono, e quando não fosse
insliluido algum filho, ao patrono coubesse o di-
reito de demandar contra o testamento a bonorum
possessio de metade (a). Uma emancipação, adopção,

[b] Danz, Gesch. des rõm. Rechts II, § 156. Walter, Gescb. des
rom. B. II, § 621.
(a) Gai. III, 50, 41; Ulp. XXIX, 1.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 259
e qualquer capilis diminutio mínima não iazia desap-
purecier esle direito (ò). Finalmente isto só dizia
respeito ao testamento de um liberto. Contra a
liberta não precisava o patrono d'esse direito á ho-
norum posmsh dimidiai partis, para sua garantia.
Em segundo lugar ordenava oedícto, que o pa-
trono só pudesse ser excluido da hentnça do seu
liberto falleddo ab intestato pelos filhos naturaes
d'este, e não como até então por um suus como era
o filho adoptivo, ou amulher mmuRw; o até dava-
lhe o edicto contra estes, e assim também a
seus filhos, um direito á bonorum imuessio dimidice
paríis. 0 que também não podia ser applicado ás li-
bertas , por isso que estas não tinhão siu(c).

D.—Modificações feitas pela lex Julia el Papia Poppaea


ao direito de succmdo do patrono.

§ 66. Pela kx Julia el Papia Poppaea logo que


nm liberto possuísse 100,600 sestercios em bens, e
tivesse menos de três filhos devia o patrono, ou
seus descendentes varões também concorrer com os
filhos do liberto, e berdavão per capita; eràoporém
excluídos quando o patrono tivesse tres ou mais
filhos (a).
A patrona ingênua , que tivesse dous filhos, ou
quo sendo liberta tivesse tres filhos devia, assim
como o patrono, segando o odicto, concorrer com

(ÍO L. Q S 2; L. 5 S 1; li. 11, 12 S 7; L 38, 39, 50 § 5 T).


de boií. Ubert. (38,2).
(c) Ulp. 1. c. § b, 6, 6; Gai. I. c. § 45, 46, 49, 50, 53.
(a) Gal. Iir, 42, 45; § 2. I. dc succcss. Jibcrt. (3, 7),
l
260 HISTORIA
os filhos adoptivos, ea mor in manu do liberto; e a
patrona ingênua que tivesse tres filhos concorrer
então como concorria o patrono com os filhos do
liberto (6).
Á filha do patrono também tinha em geral o mes-
mo direito que ellee seus filhos (c), logo que tivesse
um filho, porém para concorrer com os filhos adop-
tivos, e a uxor in manu, requeria-se que tivesse
o jus trium liberorum (d). Á liberta que tivesse quatro
filhos ficava livre do patronato; herdava porém o
patrono com os filhos da nherta per capita na classe
mde cognati [e).

E. — Legislação dc Justinimo*

§67. Por direitoJustinianeocessou eramuitosca-


sos o direito que tinhão ospntronosá herança doliber-
to, principalmente logo que elles o tivessem renun-
ciado cora antecipação, o que antes nao se admittia (o).
Os descendentes do liberto cora só excepção dos
filhos adoptivos herdavao como os de outra qual-
quer pessoa; depois seguião-se o patrono, e seus
descendentes; porém com exclusão dos filhos adop-
tivos. Os mais remotos erão excluídos pelos mais
próximos; e finalmente os coilateraes do patrono
segundo o gráo de parentesco (6).
Os libertos que tivessem menos de 100,000 so-

(6) Cai. III, 49, 50; l)tp. XXIX, 6, 7.


te) Gai. IH, 53 Uip. XXIX 7.
(d) Gai. m, 46; Uip. XXIX, 5.
W Gai. 1U, 44, 47; ülp. XXIX, 8.
(a) L- 3. 4 pr. C. dc bon. lib. (6, 4).
(b) L, 4. C. cit.
DO DIUEITO ROMANO PRIVADO. 261
lidi em bens poilião fazer testamento sem conside-
ração alguma com o patrono , e os filhos d'estes ;
aquellos porém que possuião mais de 100,000 solidi
se fazião testamento , e tivessem instituído descen-
dentes seus, excluião estes o patrono; do mes-
mo modo preferião os descendentes do testador
ao patrono quando mesmo tendo sido desberdados
tivessem aimullado o testamento com a querela inof-
jiciosi testamentL Se porém o testador não tivesse
descendentes, ou estes tivessem sido desberdados
de maneira valida, devia então deixarão patrono,
e a seus descendentes até o 5° grão 1/3 dos bens (c).

III. DIREITO DE SUCCESSÃO NOS BENS DE UM


EMANCIPATUS.

§ 68. Antes de Justiniano sabemos que a eman-


cipação era feita por uma manumissão; assim para
o pai do manumettido cx mancipio era de summa
importância ser elle proprio o manumissor. Ao
filho emancipado succedia em primeiro lugar os
sui, e os emancipados, só depois succedia o pai
como manumissor. A uma filha emancipada suc-
cedia o pai em primeiro lugar como manumissor;
por isso que ella não podia ter filhos sui e emanci-
pados ; e foi só Valcntiniano II ('t83), que concedeu
aos filhos d'esta o primeiro lugar (a). Na falta do
pai, se existia a mái vigorava o Sct. lertulliano; e
quando não , então seguia-Se a ordem do edicto.

(c) L. k. C. cit.
(íí) L. 3 C. Th. de legil. hered. (5, 1).
2Ô2 HISTORIA
Se [porém nuo era o pai o manumissor , e sim uni
estranho, succedin este segundo o ediclo; não na
primeira ou segunda classe, porque lhe erão ante-
postas dez pessoas dos cognados mais prosimos (ã).
Pela nova fôrma da emancipação era que não se
dava mais um manuunmr txtraneus desnpparcceii
essa àlíTerença (c); e Justiniano acabou com a
classe das dez pessoas [d). Este imperador mandou
tamhem queíbssem antepostos aos pais os irmãos do
emancipado conservando-se-lhes porém o usu-
ímeto (e).

IV, DA SUCCESSÃO AB INTESTADO NOS PECÚLIOS DO F1LH0-


FAMIL1AS.

§ G9. Os homens alieni júris não deixa vão por di-


reito antigo herança alguma, por isso que elles não
possuião bens, a menos que não fosse ura pecuíium
profecticium, que pertencia ao pai, ou a o senhor,
e que por conseguinte por sua morte ficava sempre
pertencendo a um ou ao outro (a).
Primeiramente fez-se uma excepção a esta regra
a favor dos servi publici sendo-lhes perroittido ins-
tituir herdeiro á metade dos bens do seu pe-
cúlio (6). Com a introducção do pecuíium caslreme

(b) Collat, XYl, 9; § 3. I. de bonor poss. (3, 9).


(c) § 8. I. do legit, adgnat. saccess. (3, 2); L. ü. C. de bon.
libert. (fi, 4).
(d) % 4. I. de bon. poss. (3, 9).
(c) L. 7 § 1. C. ad Sct. TertnlL (6, 56); L. 13. C. dc legit.
Iwered. (6, 58).
(a) L. 1 § 3, 4. D. quando dc pccul. act. ann. sit. (15, 2)
(4) Ulp. XX, 16.
DO DIBEITO ROSTAIfO PRIVADO. 263
e qmsi caslrense lornou-se possível ter um lllho-
lamilias uma herança a deitar. O que uai filho-
familias adquiria qua miles, íicava-ihe pertencendo
como se elle fosse paterfamiiia*; e era elle com
relação a estes bens considerado como se fosse hotno
sui júris (c). Teve lugar jiortanlo uma excepção;
porém para que ella tivesse lugar fiogío-se o íilho-
familias , puterfamilias; tão enraizado estava o
principio de que nãocombinava com a idéa de filius-
farailias, o ter elle uma fortuna propriamente sua.
Os urisconsullos romanos chamando a estas adqui-
sições do filho, peculium mstrensc, chamárão bem;
por isso que considerárâo elles o direito paterna como
jus commme, suspenso pelo jus singulare; e estó
suspensão tornava-se definitiva logo que o filho
fazia testamento; no caso de morrer elle sem testa-
mento , considerava-se o jus singulare como não
existindo, e os bens cabião ao p&i jurepeadii {d].
ANov. ÜS fez modificações não com relação ao pe-
culium profectitium , por isso que este voltava para
o pai; ella só diz respeito aos bens que pertencião
propriamente ao defunto; por^nto não revogou ella
o principio de pertencer ao pai o peculium profecti-
tium. Com relação porém aos pecúlios, que consli-
tuião bens propriamente do filhofamilias determi-
nou ella, que pudesse elle testar sobre esses bens,
com relação aos quaes era elle tido como homo sui

(») otp. XX, 10; § 0. I. de test. mil. (?, 11); pr. I. quili.
non p erra. (ac. est (2, 12); L. 18 pr. D. de süp. servor. (65,3);
L. 37 pr. c. de fnoff. test. (3, 28); L. 11, 12. C. qui. test. fac.
poss. to, 22).
(d) Veja-se o § 32.
264 HISTORIA
júris; mas que no caso de não fazer leslamonto,
vigorasse o anligo direito a favor do pai vintlo-lLe
a caber os bens não jure peculii, pois succedia elle
como heres, e asuccessão era considerada successão
universal, pelo que obrigata-so elle pelas dividas,
assim como acontecia com relação ao pecúlio pro-
fecticio durante ura anno , sendo em tudo conside-
rado como herdeiro (e). Assim por direito inoder-
nissimo o peculiun caslrense, e quusi castrense não
podip ser mais considerado como pecúlios, o por
conseguinte é um erro semelhante nome no di-
reito moderno; e só sc deveriao chamar taes bens,
bom, casírensia.
Sobre outros quaesquer bens não ]iodia o filho
testar, nem mesmo sobre os adventicia irregulariu [(].
Por sua morte permanecia ao pai, tanto quanto
vivesse, o usufructo no jieculiuííi adventitium ;e por
morte delle era dividido entre a mãi e os irmãos
o pecúlio como se desde o principio não tivesse o
pai existido [g].
Com relação aos filhos emancipados , por morte
destes, ainda quancto já não existisse a mãi, não
excluía o pai a seus''mãos, como patrono; antes
vinhão os bens a caber a estes, tendo elle unica-
mente o usufructo (ft).
le) L. 20 § 10. D. de hcred. pet. (5, 3); L 44 pr. D. de
legat. I (30): L. 18 pr. D. ad leg. Falo. .(35, 2J; L. 10 pr.
D. ad Ict. TertuU. (38, 17); L. 1, 2, 17 pr. D. de caslr. pecul.
(49. 17); L. 5. C. eod. (12, 37).
if) L. 11. C. h. t. (6, 22).
&) L. 7. C. de Sct. TertuU. (6, 56).
(4) L. 13. G. de leglt. hered. (6, 58).
i —
DO DIHEITO ROMANO PRIVADO, 265

CAPITULO 11.

Da Successão testamentaria.

j. uvTiiomicçÃo.

§ 70. Antes da lei das XIITaboasnãosecouhecía


senão a herança ab intestaio, razão porque aquelle
que queria fazer testamento devia declarar qual a
sua vontade nos comícios para ser ella sanccionada
pelo poder legislativo, que cabia ao povo assim reu-
nido; o que não era senão uma lex populi, uma
lex curíala. Foi então a lei das XIITaboas, que
permittio a qualquer poder dispôr de seus bens por
sua morte sem nisso intervir o poder legislativo. As
palavras das XÍI Ta boas são; Uti legassit super pe-
mnia tuíelave sucb rev, ita jus esto (a). Depois desta
lei cahirão em desuso as antigas formulas do testa-
inento (/)]; e sem duvida alguma foi de então para
cá, que se tornarão technicas as expressões—íasfan,
e tcslainenlum.
As disposições feitas por qualquer pessoa, quando
esta queria que ellas fossem cumpridas depois de
sua morte chamavão-se: ultimas voluntates, supre-

ta) tatas parecem ser as verdadeiras palavras da lei das XII


Taboa». Uip. XI, l/i; pr. f. de Icg. Fale, (2, 22); L. 120 D.
de V, S. (50, 16). Quanto ao que diz Cícero de invent. lí, 50,
ad Hcrenn. J. 13; Paierfimiüias uti super família pecuniaque
sua legaverit, ita jus esto; não pôde ser cxacto; porque assim as
mulheres não pqdcrião enlão testar. Consulfc-se: Erb cm IlugoS
civil. Mag. T. II Nr.» 15. Iloffman, Histor. jur. T. II, n. 189,
hlps. 1726.
{b) Gai. Ií, 103.
um. nov. ai
266 HISTORIA
mum judicmm (c); ao que fazia as disposições cha-
mava-se testador.
0 fim principal d'essas disposições era; heredes
instilutiones; cxheredationes; legata et fideicoinmma;
e tMíons datio. A disposição logo que comprehendia
a instituição de um herdeiro chamava-se teslamen-
tum; e quer fosse por escripto quer não (d); e só
em um ^estamento conjunctamente com a nstitui-
ção do herdeiro ó que podia ter lugar a exher'cdaUo.
Só depois de Augusto appareceu ojm codicillorum. Os
codicillos erão divididos em codicilli iestamentani, e
ab intestato, sendo que appurecessem com ura testa-
mento, ou sem elle (e); e os primeiros só tem
validade tanto quanto vigora o testamento (/"), ainda
se dividem em codicilli testamento confirmali, e non
confim ati.
II. DOS SUGE1TOS,

A.—Activa lestament ifactio.

§ 71. Chamava-se testamenti [adio a capacidade


para testar, para ser testemunha, epara ser contem-
plado era um testamento como heres ou kgatarius:
á primeira chama-se tcstamcnli factio activa; a segun-
da testamenti factio passiva. Incapazes de testar erão
todos aquelles que não tinhão ojus testamenti faclio-

(o) L. 1 § 1. D. de bon. poss. sec. tab. (37,11}.


(d) fiai. II, 273 ; § 2 I. de codicill. (2, 25); L. 2. C. ood.
(6, 36); L. l/i. C. de test. (6, 23).
{«) § 1. I. de codieillis (2, 25); L. 1. â. C. eod. (6, 36); D. 1.
C. Th. de testam. (4, 4).
(/} L. 3 § 2; L. 14 pr. D. de jure codicilli (20,7).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 267
nis em sentido lato (a); nesle numero compiehen-
dião-se; os peregrinos propriamente ditos (ft); e
também os peregrinos que fossem dados como refens,
e cuja beranon cabia ao íiseo, caso não tivessem
obtido uma graça especial para que pudessem fazer
testamento («); os peregrinos quer fossem subditos,
quer verflndeiramente estrangeiros, quer elles pu-
dessem testar, quer nao conforme o direito privado
de suas nações (d). Os que tivessem perdido a cioitas,
ou pela inlerdirth aqucD clignis, ou por deporlação,
depor In fio in wulam vel oasin (e); o que porém se
não estendia aos relegati {/). Os libertos que pela
lex Adia Sentia só erào dediticii (j). Os escravos [h] ;
e consequentemente aquelles, que se achavão em
captiveiro doinimigo (i). Entretanto que se fazia uma
excepção a favor dos servi publici. Os servi poe-
nce, i. é, os condoinnados á morte, a pelejarem com
feras, admetallum, niopodiào testar (fe). Oqueporém
foi revogado por Jusliniano, como já dissemos,
pela Nov, 22. c. 8. Erão tambern incapazes: osfu-

(AGai. II, 114; L. 4 D. qui test. facere poss. (26, 1).


(b) Gai. 11, 25.
(c) L. 11. D. eod.; L. 31 D. de jure fisci (49, 14).
le) L.IP8 ' D. qui test. fac. poss, (28,1); L. 6 § 7. ü.
de Lnjusin (28. 3J. L. 1 § 3—5. D. de legat. 111(32); t. 5 § 3.
D. extraord. cogn. (50, Í3); L. % €. de bon. proscript. (4,49),
(/■) L. (! § 3. D. qui test. £. p. (28,1); L. 7 g 3.' D. de mt.
et releg. (48, 22).
(.j) Uai. I, 25; III, 75. Ulp. XX, 14} XXH, 2.
(k) § 4. I. de her. qual. (2, 19); L. 16,19 pr. D. qm test.
fac. poas. (28, 1).
(í) « 5. 1. quil». no» penn, f. test (2, 12); L. 8 pr. D. qui
test. f. p. (28,1 ) L. 12 § 5. D. de captiv, (49,15).
(Ar) L. 8 § 4; L. 9, 1 S 2. D. T" test. fac. poss. (28,1) i
L. 6. § 6. 8. D. de injur.. (28, 3).
^ XlSTOHlà
viosos a menos que não fizessein (estamento nos in-
terrallos lúcidos (/). Os prodigos (m). Os surdos-mu-
dos de nascimento {»), Por direito mais mitigo
precisavão todos os mudos e surdos de um pri-
vilegio especial para testarem quando por ventura
elles não se tivessem tornado taes como soldados (o).
Com relação a outras doenças era preciso que a
fraqueza ou outro qualquer motivo fosse de ordetn
tal que o testador se não pudesse fazer compre-
hender (p). Os menores (ç). Os que se acha vão
sujeitos ao poder de outrera (r), e desta regra s6
se fazia excepção a respeito do peczdnm rasíreme,
e quast castrense (í). A fomeo, emquanto estivesse
sob tutela (tutela mulierum) só cora aulorisaeão de
seu tutor podia testar, não sendo elle um sim-
ples fidueiarius tutor; não podia ella assim pois
testar contra a vontade de seu tutor (í); o que foi

(0 S 1. L quib. non peru. fac. tesL (2,12) ; Ulp. XX, 13;


L. 16 § 1. D. qui tesL fac. poss. (28,1); L. 27. D, de cond.
inst. (28,7); L. 2 § 3. D. de jure cod. (29,7); L. 9 C. qui
lest. f. j(«ss. (6, 22).
(m) S 2- I. non perm. fac. tesL (2, 12); L. 18 pr. D.
qui test. fac. W. (28,1); Ulp. I. c.
(n) J 3.1. (fuib. non perm. fact. tes}. (2,-12); L.-10. C. qui test.
fac. poss. "(6,2%
(í) Ulp. 1. c. ; L. 8 § 1; L. -7. D. qui test. fac. poss. (28,1.)
Os) .L. 29 C. de testam. (6, 28).
(?) L. 5 D. qui test. fac. poss. (98,1); L. 4. C. eod. (6,22),
S 1 I. quib. non perra. fac.. (9,12); Gal. U, 113; Ulp. XX ;
12, 15, Cicf Top. c, tu
(r) Pr. 1. quib. non perm. fac. test. (2,12); Ju 6 pr. L. 16 pr.;
Jf. 19. D. qui test. fac. poss, (28, i); Ulp* XX, 10.
W Ulp. I, c. 6. I. de test. mil, (2,11); pr. I. qulb, non
perm. fac. test." (2, 12); L. 18 pr. D. de stip. serv. (46, 3); L. 37
, pr. G. de fhotf. test*. (3, 38); L. li, 12. C. qui test. fac. poss.
(6, 22),
(<) Uv. XXXIX, 9; Gai. I, 115, 192, U, H2, 118, 122; ÜI,
48, 44; Ulp. XX, 16; XXIX, 3.
DO DIJlEiTO ROMANO PRIVADO. 36»
porém tuodiíicado no tempo de Adriano (u). Esta
restricção não se entendia porém com as vcsíuus, que
nao esta vão sujeitas á iutsla mulierutn [x>]. Os latini
juniani também não podião testar pela lex Junia
Norbana (a;), No tempo dos imperadores christãos
erão os apóstatas considerados incapazes de testar [y]*

B. — Da passiva testamenti factio.

§ 72. Do mesmo modo que havião pessoas que não1


podião testar, assim também outras não podião ser
lembradas em um testamento, nem mesmo quanda
condicionalmente o lessem, isto év para quando vies-
sem a ser ca pazes; por isso que a capacidade era exigi-
da no momento da confecção do testamento (a). O
mesmo se entende a respeito da instituição do her-
deiro, do legado e da nomeação do tutor (t»); ao passo
que com relação aos íldeicoramissos se não fazia
restricção alguma (c); até que urasenotusconsulto do
tempo de Adriano os sujeitou também, em parte,
a esta regra (d). E' verdade que era dada então
capacidade para receberem íideicomnnssos a alguns

(«J fiai. I, 115 á, b.


lv) Gell. I, 12; Flutarchns, In Numa c. 11.
(vr) GaL 1, 23; Itl, 75 - Uly. X\. 14.
S L. 1—4. C. de apost. (1, 7); L. 1, 3, 4, (t. 7. C. Th. eod.
(16, 7).
(«) L. 49 § 1, D. de her. inst. (28, 5); L, 210, D, de R. J.
(50,17).
(b) Gai. 11, 238-243, 272, 274-276 , 285, 286; § 24. I- de
legal. (2, 20); Ulp. XI, 16; L. 21. D. de test. tut. (26,2;) L. 7.
C. uai dare tut. (5, 34).
(e) Gai. II, 272- 274—276, 285, 286.
d) Gai. II, 287; Ulp. XXV, 6, 13,
270
niSTOBU
que de oulro modo não podião ser contempla-
dos [e]; com o lempo porém cahio esta excepção,
e no de Jusliniano não se fez mais differenca
alguma.
O escravo podia ser instituído; razão por que
de alguma fôrma lhe era concedida uma testamenli
[adio. 0 escravo porém que por adultério tivesse
sido punido r. io podia ser instituído pela mulher
com quem tivesse commellido adultério, proliibi-
ção esta que fez Seplimius Severus (/"); assim como
não podia ser instituido um escravo , que ainda
não tivesse completado trinta annos de idade (g),
Quando se rnstituia herdeiro uin escravo eqüivalia
isso a ser seu senhor o instituido, pelo que se
devia ter em consideração a capacidade do se-
nhor [h).
A lex Voconia prohibia a lodo e qualquer cidadão
romano que tivesse cem mil asses de fortuna ,
que pertencia por conseguinte á primeira classe (i),
instituir sua herdeira uma femen ou mesmo deixar-
lhe um legado (j); com rclaçao aos legados a lex
Vocania perraillla a quem tivesse uma filha única,
e não tivesse nrn.s filhos, poder deixar-lhe em
legado uma parle de seus bens, um quarto
talvez {k). No tempo de Gaius ainda vigorava esta

W Ulp. XXV, 7.
(j) Pr. L de licred. inst. (2, llíj.
Uj) Gai. IT, 276.
(A) Ulp. XXIX, 9; L. 31 pr. L. 52. D. de hered, inst. (28, 5):
L. 10. G. :oo (6, 2/i); L. 82 § 2. D. de legat. II (31); L, 5.
D. de servit. leg. (33, 1).
(«) Gai. II, 27/i.
0) Cie. in Verr. II, 1 c. fil—63; Gai. 1. c.
(k) Cie. de Republ. II l c. 10.
DO DIRF.ITO ROMAIIO PRIVADO. 271
lei (í); porém não foi muilo depois que ella desap-
pareceu.
Pessoas incertas não podiuo ser instituídas (w); e
também pessoas jurídicas (n); pelo menos no tempo
antigo, quando talvez nem o Estado fazia uma
excepção, do que porém não ex stem provas. No
tempo da Republica ha tantos exemplos de ter
sido inst tuida a cidade de Roma, que não pa-
dece duvida ter sido isso valioso. Não só raonarcbas
estrangeiros instituião o povo romano herdeiro
de seus thesouros e de seus reinos, como tam-
bém cidadãos romanos o contem pia vão pelo menos
em legados, como fez, por exemplo, Piso Prugi,
e Júlio Caesar (o). No tempo dos imperadores não
só elles mesmos, como também outras pessoas
deixavão legados á cidade (p). Depois, sempre que
se queria instituir, não a cidade de Roma , e sim
o Estado, inslituiu-se então o fisco, cuja capaci-
dade lestamentaria a lex Papia Poppaca estabeleceu
logo de princípio (q). No tempo dos imperadores
era permitiido instituir herdeiros os templos que
por um privilegio tivessem capacidade para isso; [r]
e Conslantino conosdeu depois ás igrejas christãas,
capacidade em geral para herdarem (s).

(0 Cai. i. c.
(m) Gai. II, 238.
(n) Dirirsens, çivilist Abhlg. II p. 129—143.
(o) Sucton. in Caesaze e. 83; Tac. Annal. 11, 41,
(p) Suetoa. in OcLavfauti c. 101; Tacit. Ann, l, 8.
(f) L. 3 In fine D. de aüm. leg. (34,1).
(r) Ulp. TfVII, 6.
(í) L. 1. C. do . acrosanct. exccle». (1,2j; Enscbii llist, eccies.
X, 5.
272 mSTOIlU
Por um senulusconsullo do lerapo de Per li na x
era nulla a instituíío principis litis causa, quando
as vistas daquelle que tivesse demanda fosse col-
locar o seu adversário contra o inaperndoi' (t). As
testemunhas de um testamento podiüo receber um
legado, porém não ser instituidas, e como sendo
instituídas se tornassem incapazes de serem teste-
munhas, era nullo o testamento (u). Não se podia
contemplar illlmiladamente em um testamento a
concubina e seus fdbos. Valens, VaJentiniano II,
■e (iraciano forão os que primeiros probibírão que se
lhes pudesse deixar mais de 1/12 dos bens logo que
havião filhos legítimos (uj. Finalmente Justiniano
■regulou que á concubina se não pudesse legar mais
■de 3/12, e depois 6/12 dos bens (®).
Á lex Julia (757) e Pnpía Poppaea (762) introdu-
zirão muitas causas de incapacidadetalvez mesmo
as mais importantes [y]. Os não casados, coeliíies,
e os que não linbão filhos, orbi, não podiao ser
instituídos, nem receber legados de pessoas que não
estivessem pelo menos com elles em 6." gráo (z). Um
toelebs segundo a lex Julia não herdava o que lhe
tivesse sido deixado por testamento, nin intra centum
dies legi paruerií, logo que em cem dias (crelio

(t) L. 91. D. de hered. insl. (28, 5}; § 7. 8. I. quib. mod.


len, inflrm. (2,17).
(u) h, 20. D. qui test. fac. poss. (28,1); k 16 $ 1; L. 22.
C. de testam. (6, 23); § 8—11. I. de test. ord, (2,10).
(v) L 6. C. de inst. e subst. (6,25) ; L. 2. d de natur. lib.
(5,27).
(.-r) L. 8. C. de natur. lib. (5, 27).
(y) Utp. XIV, XVI-XY1I1.
(.-) Ulp. XVI, 1; Valic. Frgm. § 216—219.
CO DIREITO ROM ARO FRITADO. 37S
tulgarit] não tivesse casudo (aa). Êiceplimão-se
os que pela sua idade não podiãú mais contrahir
matrimônio [bb); spadões (cc); do mesmo modo
a mulher um anno depois da morte do marido;
e depois da separação meio anno (pela lex Papia
no primeiro caso dons annos, neste segundo, anno
e meio) [dd]] e as vestaes. Temporariamente forão
eioeplnados os homens que linhão mais de 60
annos, e as fomeas de mais de 50; porém um
smalusconsulti&n Percianum do tempo de Tiberio
mandou que os que tivessem esperado até esta
idade fossem considerados como coelibex, Um sena-
íusconsultum Claudiamm fez uma excépçao a favor
do homem que tivesse 60 annos de idade, mus
que tivesse casado com uma femea de menos de 50
annos. Entretanto o mesmo se não entendia em
o caso contrario, pelo Sctum Calvisiamim, do tempo
de Nero (ee).
Um orbus, isto é, aquclla pessoa que com'-
quanto casada, não tivesse filhos, só herdava,
pela lex Papia, metade do que lhe tivesse sido
deixado (jf). Do mesmo modo se considerava
quem nao tivesse filho algum vivo [gg). Bastava
ler-se um filho, afim de ser paler, e evitar
■- ■ —— ' —r
(oa) Gai. II, 111, 104, 286; Ulp. XVII, 1; XXII, 3; Frgm.
de fure flsci} 3.
(bb) Ulp. XV' L
(cc) I 128 D. de V. S. (60,16).
(dd) Ulp. XIV. , J
(«) Dl XVI, 1, 3, 0. Sueton. Claud. c. 23. Phn, ep, Vin, 18 {
L 27. C. de nupt. (5,0)-
(jf) Gai. IP, .'86
[gg) Ulp. XVT, 1.
siB. HOX. aa
S7ã HISTORIA
« poem orbiiatis {hh], e alé mesmo luslava que
licuvesBB um filho adoptivo. Um senatmconsultwn
Memmianum procurou pôr cobro aos «busos, que
disso se fazia, dando lugar a muitas ad cp-ões, entre-
tanto que depois de conseguido o fim porque ellas
se faiião, e tirada a vantagem que se queria ,
emaneipavão-so os filhos adopti vos («). Uma ingê-
nua devia ter três filhos, e uma libertina quatro
para não ser orba [jj). Tinha lugar uma excepçao,
no caso de n o ter a mulher ainda 20 annos, ou se
já tivesse mais de 50; se o homem ainda não tinha
25, ou se já tinha mais de 60 annos. Uma excepção
iam bem se dava quando o homem mpuhhcae causa
estivesse ausente (fcfc). Os casados que não tivessem
filhos pela lex Papia não podião herdar um do outro
mais do que um décimo do que lhe tivesse sido
deixado. Se elles porém fossem parentes até o 6.°
gráo recebião então tudo, logo que tivessem um
filho ou perdido ura já na idade da puherdade,
ou doug com tres annos de idade; portanto sempre
que se podesae provar não terem ficado sem filhos
de puoposito {11).
Gom relação a um pater solitarius estabelecerão-
se princípios espèciues (mm).
Os filhos de Constantino revogarão as pomas
— ^
(hh) Juvenal IX, 83, 86—88.
(ü) Tacit Ann. XV, 19.
(jfí I ias, 187. D. de V. S. (50,16>.
(h/c) Ulp, tVC, 1.
(11) iJlp. XV, XVI; Vatíc. Frgm. § 291.
(mm) Ulp. Xin de coelibe, orbo, et solitário patre.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO, 27^
mlibalus, e orbitatis (mi); Honorias e Xlieodosiusa
lex deeimaria (00). No direito Justinianeo desapp»-
recêrão as da lex Julia e Pa/na Poppaea.

Das diferentes (amas de testamento.

§ 73. Em os princípios de Roma havião duas


fôrmas de testamento , e isto linhão ambas de
comraum, que erão feitos perante o povo, que
tornava de alguma fôrma da vontade do testador
uma lei.
Testamenium in comitiis calatis. Cliaraava-se assim
por ser elle sanccionado nas assembléas populares,
que duas vezes por anno se reunião para tratar
de negócios privados, e por excelloncia erão deno-
minadas comitia calata (a).
Os que se achavao em campo linbáo o privi-
legio de ser bastante declararem elles qual era
a sua vontade perante o exercito formado em linha
de batalha, e este sancciona-lfu Ao lestameuto assim
feito chamou-se : tcstamentum in proeinctu [b).
Depois lançou-se mao da mancipalio para a fei-
tura de um testamento; e tal era o testamenium
per aes et libram. O familiac emtor eslava loco heredi;
e por este modo não linha lugar instituição alguma.
Fizerão-se porém depois modiíicaoões, e dellas
(nn) L. i. C. de infinnandis ^Menis coelíbalus, et orbitalte
f8,16; 8, 68).
(00) L. 2. C. de infirm. poen. celib. et orbit. et decimar.
tublíitÍJ. (8, 58).
(a) Gai. II, 101; Ulp. XX, 2; S 2. I. de test. ord. (2, IO),
{b) Gai. 1. c.; Cie. de nat. Deor. 11, 3 de orat. I, G«W.
XV. 27.
376 HISTORIA
resultou um testamento completo, e então o fami-
liae emior só poriormalidade ahi se achava (c).
Os dous pnoneiros testamentos desapparecórao
com este testamento per aes et libram. No tempo da
jurisprudência clássica era esta a fôrma que estava
em voga. Deviao achar-se presentes; o testador, o fdr
milincemtor, um libripens, e o antestatus e cinco
testemunhas; (assim sete pessoas além do testador,
e do familiae emtor]. Ás testemunhas não devião
ser menores, nem surdos, mudos, furiosos, nem
mulheres, assim como não devia ser o libnpens, nem
as testemunhas pessoas que estivessem em patm
potestas uns dos outros (d). Podião porém latini
jüntani servir de testemunhas, O aclo não devia
ser interrompido , é o que se chamava unitas
actus; consistia elle: primeiro na mancipaüo fa-
miliae como de ordinário, e só com uma formula
particular pela qual se declarava a posição do fa-
miliae emtor. Este dizia; familiam pecuniamque
luam endo mandatela; custodelaque ineam [ex jure
quiritium esse aio caque] quo tu jure testammlum
facere posm secundum legem publicam hõc aere aenea-
que libra esto mihi emla (e); segundo, na mncupaíio
et testatio. O testador pegando nas Tabulae declarava
perante as testemunhas ser esse o seu testamento :
kaec ita est in his tabulis cerisque scnpla sunt ita do,
ita lego, itaqm vos quiriles testimonium mihi prohi-
betote.
* * ' ■ iii —i i ■ li i ■ n, i , i i"11' 'i-1 mi ii - J .1 'LA
(c) Gai, II, 102—ÍOí.
(d) Up. XX, 3—6; Gai. II, 106—10».
</) Gat. U, 104,
V

00 DIREITO ROMANO PRIVADO. 277


Quando se testava por escripto bastava que o tes-
tador apresentasse, e se referisse na nuncupatio
testamenti ao que neüe se continha sem ser preciso
declarar o que era {[]. As testemunhas porém derião
sellar o testamento, signare, o que se funda em o
edicto do pretor [g); e no tempo dos imperadores
mandou-se que ellas assignassom, subsigmre, s.
tubscribere [h], provavelmente por constituições (i); e
sem duvida alguma por um Scto do tempo deNero,
que estabeleceu regras sobre isso marcando o modo
por que as testemunhas deverião assignar em tes-
tamoulos, e em outros documentos pubücos {j).
Além do testamento per oes et libram havia ainda
outro mais simples, eera o denominado testamentum
cum septem testihus introduzido não só pelo edicto do
pretor, como perraitlido; o pretor estabeleceu que
logo que um testamento se apresentasse tendo onu-
mero legal de testemunhas fosse concedida a ionorum
possmío secundim tahulas [k]. Quando porém fossem
requeridos sete sellos (1), devia então o libripens,
eo antesíatus sellar lambem o testamento (m). Porém
o sentido do edicto era este: que o pretor olhava como
suífi tente serdho apresentado um testamento, que
exteriormente parecesse legai sem mesmo exigir

Si Wp. XX, 9.
j á 3- I- de test* ord- (2,10).
(A) "estas v. Resignare; L. 29. D. de V. S. (60,16).
(i) § 3. I. de test. ord. (2,10).
(J) Saeton. In Nerone c. 17; Paul rec. sent. V, 25, § 6,
(A) CSc. in Verr. II. 1, c, 46.
(< GaL II, 119, 147; Ulp. XXyiII, 6.
<m] L. 3. D. si tab. test. (38,6); § 2. 3. 1. de test. ord. (3,10);
Iild. Origin. V, 20. § 6.
278 HISTORIA
a prova de ler sido conveuipntemenle obsemdo
o rito da inancipação, e todos os requisitos para
se testar legalmente; linbn-se com tudo enten-
dido também que um testamento sem manci-
pação podesse ser feito , logo que o testador
o tivesse sellado com sete testemunhas; assim se
accrescentou , no tempo dos imperadores, que
fosse assignado; e desta usual interpretação appa-
receu o testaraento pretorío. Esta forma porém
de testamento só tinha lugar quando era escripto;
até que Gordiano reconheceu o testamento nun-
cupativo perante sete testemunhas como sufficiente
para receber a bononm possessio semndum tabulai (»)-
Em principio era ainda a bonorum ptosessio prove-
niente de um testamento pretorio — honor. poss.
sine re, Jogo que houvessem herdeiros chamados
pelo direito civil quer fossem herdeiros testamen-
tarios por um testamento per aes et libram, quer
fossem ab inteslato (o]. Isto parece ter cabido em
desuso depois, e provavelmente por um rescripto
de ántonino Pio (p). Theodostü II deu ao íestamento
pretorio a fôrma legal mandando que não tivesse
mais lugar a mancipatio para um teslameiito; sendo
entretanto precisas sele testemunhas (q).
Justinlano accrescentou a esta fôrma de testa-
mento outras cousas man , o que se poderá ver nas
leis 23—30 C. de test. (6,23).
— —
(n) L. 2. c. de bon, poss. sec. tab. (6, li)-
(o) Gai. II, 110—122, 147, 148.
(p) Gai. H, 120—122.
(q) Nov. Theodosií II, lib. I, tiU 16.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 279

IV. DA SUBSTANCIA ESSF.NCIAL DOS TESTAMENTOS.

A. — U cr edis institutio.

§ 74. A substancia essencial do tcstaraento é a


instituição de herdeiro [heredem imtilwre, scri-
bere, facere) [a). Devia o testador nomear-se um
herdeiro (6); e apontar uma ou mais pessoas; do
contrario não havia testamento. Se se nomeasse
herdeiro só para uma parte da herança era nullo, a
menos que não desapparecesse semelhante restric-
ção. Morre-se tesíaíus, ou iniestatus; ou uma cousa
ou outra: nemo pro parte testatus pro parte iniestatus
deccdere potesl. Por direito antigo exigião-se certas
palavras soleranes ; em principio a declaração heres
esto, e depois heredem esse jubeo; não sendo valiosas
outras quaesquer como, por exemplo, esse volo,
instituo, fado. Os filhos de Constantino, porém já
no quarto período, mandárão que fpssem indiffe-
rentes as palavras empregadas; assim como que
se pudesse testar em outra língua, que não fosse
a latina [e].
Condições irnpossiveis erão lidas pro non scripiis,
segundo a opinião dos Sabinianos, que depois tam-
bém Justíniano recebeu. Os Proculeianos erão de
opinião contraria [d], O mesmo se entendia com

(a) Oíc. de Dr. I, 39.


{b) Gai. II, llfi, 117, 180—190; Ulp. XXI; Paul sem. ree. Hl.
461 Inst. II, 14 ,1c heredib. instituendis, Dig. XXVII, 5 ; CocL
VI, 24 de hered. inst.
(í) l. 15, 21 § 4 C. de testam. (6, 23).
{d) Oak ilt, 90 § io I. dc liered. inst. (2,14).
280 HISTORIA
Tfilacão ás conditiones turpes, e do mescao modo com
aquellas que fossem contra leges, ou contra princí-
pios que tivessem vicem legís (e). Aqui estão corapre-
hendidas as condições que se irnpòem de não casar,
e que erão contrarias ás disposições da les Julia e
Papia Poppaea (f). Erão também nullas as capta-
toriae imlituliones, dependência de fatura insti-
tuição de herdeiro pelo instituído (g).

B, — Substilutio.

§ 75. Se no testamento declara o teslador, que na


falta do herdeiro deve outro substitui-lo, a isso se
chamava substilutio (a). Assim era a nomeação de
um herdeiro sob a condição de que não possa
o outro nomeado vir a herdar, como, por exemplo :
'Titius heres esto [institutus] si Titius heres non erit,
Mevius heres esto [suhstitutus] si Mevius heres non
erit, Sempronius et Gaius heredes sunto [substitutus
substiíuti). Esta substilutio pôde ter lugar em todo
e qualquer testamento, vulgarís substilutio [h). Para
menores — sui do Lestadov tinha a substilutio
isto de particular que era mesmo possível para
quando o menor instituído fosse herdeiro, e mor-
resse ainda menor — o substituto havia todos os
bens. Tal era a substilutio pupillaris (c). Era ella

(e) L. llu D. de cond. Inst. (28, 7).


(/) L. 72 § 6; L. 64 § 1; L. 63 § 1; U. 79 § 4. D. de cond-
^ ^L. 71, 72 D. de hered. inst. (28, 5).
(a) Gai. 11, 174—184.
(4) Gai. II, 174—178; Inst. 11, 15.de vulgar, nubsiltutionc.
(c) Gai. II, 179—182; Inst. II, 16. de pupillar. subst.
DO DIREITO ROHARO PRIVADO. 281
considerada como um testamento do pai para o
filho no caso de vir este a morrer ainda menor.
Estabelecia portanto um testamento paterno como
valido, e cuja seqüela era a substituüo pupillaris.
Podia ter lugar ou no testamento do pai ou seguir-
se em um testamento particular. E' pois este um
testamento sobre duas hereditates. Com relação aos
pupilíos podia-se dar uma substiíutio vulgar e pu-
pillar—cíupfec substiíutio, por exemplo; filius heres
mhi esto, si heres non erit, sive erit et intra puber-
tatem deceseaü, tunc Gaius Seius herei esto. Até mes-
mo devia comprebender-se na substituição pupillar
a vulgar. Por uma constituição de Marco Auré-
lio também ás vessas de maneira que toda substi-
tuição de umpupillo era em duvida substituída (d),
in ulrumque casum {in primum et secundum] (e).
Também se podia substituir ao herdeiro um fidei-
commissario para o caso de ser elle o herdeiro,
isto e, sob a condição de dar a herança como
fideicommisso, substiíutio fideicommmaria s. precar
ria [[].
Quando alguém tinha filhos, que por outro qual-
quer motivo não podião testar, como por ex. ;
surdos, mudos, íuríosos, podia o pai, por ana-
logia á substituição pupillar, nomear um herdeiro
para o caso de morrer o filho aindp, nesse estado,
e isto por concessão particular do regente. Justi-
niano concedeu aos ascendentes de furiosos, em

(rf) L. íu C. de impub. et al. subst (6,26).


(«) L. 4 pr. 1. D. de vnlg. et pop. {28, 0),
(p Gai. U. 183; § 9. L de pup. subst. (2,16).
DIB. BOM. 3G
282 HISTORIA
geral,—suhsliluiio qmsi pupillaris, porém com res-
trlcçôes (51).

V. DA. NULLIDADK DO TESTAMEATO.

§ 76. E' nullo o testamento quando ipso jure,


e por uma certa causa , por uma certa falta, é
considerado como se não existisse , como se nada
houvesse — testafnmtum nullum; ou então quando
a falta dá a alguém direito a pedir rescisão do
testamento — o qual se tornava nullo pela res-
cisão. O testamento podia ser nullo logo de
principio, testamentum injuslum, non jure faclum;
ou vir a ser nullo depois por üúllidade que só
depois apparece: ruptum, irritum , destitutum [a].
Pôde um testamento ser nullo ou vir a ser
por incapacidade do testador. 0 fesfador deve ter
a teslamenti faclio activa no momento de fazer a
testamento, e continuar a tê-la no momento de sua
morte; do contrario era o testamento irritum. Isto
porém não se entendia para o caso de emloudocev
elle, mas só no de uma capüis diminutio (6); não se
entendia também para o caso de ter sido teslador
feito prisioneiro de guerra; porque ou elle voltava e
tinha o postlirainio, ou morria no captiveiro, e então

(a) L. 52 pr. D. de vulg. 28, 6); L. 9. C. de imp. subst.


(6, 26); § 1. de pup. subst. (2, 16).
(а) Gai. If, 138—151; Ulp. XXIII; Inst. 11, 17, quib. mod.
testam, inflraiantur; Dlg. XXVIII, 3, de injusto, rupto , irrito
fac. testamento.
(б) Ulp. XXIII, A.
DO DIREITO ROUAHO PRIVADO. 283
fingia-se ter elle morrido no momento de ser
aprisionado — ftctio kgis Corneliae (c).
Falta de alguma das solemnidades requeridas em
direito anmillava do mesmo modo o testamento.
Uma das principaes causas de nullidade era quando
um suus era preterido, isto é, quando elle nem
era corapetentemente instituído , nem coropeten-
leraente desherdado. Por direito antigo dava-se
para aqui o caso de nullidade quando era um filho
preterido, ou quando não crâo lembrados uma filha
ou netos, e estes accrescião aos instituídos in partem,
se erão sui os instituídos in partem virilem, se
estranhos in dimidiam (d). Se antes da filha morria
o filho era e permanecia então nullo o testamento
segundo a opinião dos Sabinianos; segundo a dos
Proculeianos só so decidia da sua nullidade por
morte do testador se ainda vivesse o pretendo (e).
Pnr direito Justinianeo era o testamento sempre
nullo (/].
Também era causa do nullidade quando depois
existia um suus pela agnatio posthumi; sendo então
o testamento ruptwm. Todo o qualquer poslhurao
preterido annullava o lestamonlo. Isto podia evitar-se
de duas maneiras, já instltuindo-o,jádesherdando-o,
o que porem não se podia dar para com todos. Não é
possível ser desherdado o filho adopíado depois do
testamento, ou a uxor que cahio in manus mariti, ou

(c) Ulp. XXItt, 5; S 5 T C[qi6. non esl perm. (2,12).


(4) Cal. U, i2i; Ulp XXIÍ, 17.
(e) Gai. U, 123, 12a.
(/) L. 4. C. de lib. praet. (0, 28).
2
8Í HISTORIA
o fiümex primo secumlaque mancipatione manumissus,
por serem estranhos, e a instituição de nada servia
por não serem instituídos como sui [g], Da mesma
maneira de nada servia a instituição e a exheredatio
na causae probatio [erroris causa); ao que fez uma ex-
cepçao ura Scto do tempo de Adriano para o caso de
ter ella lugar depois da morte do testador [h].
Ouando ninguém era herdeiro pelo testamento,
era este irritum, ou destitutum (■i).
Por revocaçáo tornava-se o testamento rupíum. A
revocação linha lugar por testamento posterior, sendo
jure factum, embora depois se tornasse nullo (j), e
também pela destruição do documento [k). Ilcvo-
gação natural não destruía a instituição (/), só por
direito Juslinianeo, quando apud acta, e perante tres
testemunhasse lizesse a declaração, e tivesse já de-
corrido dez annos [m].
Quando o testamento nada ou pouco deixava a
uma pessoa cuja exclusão era encarada como uma
quebra de piedade, era o testamento írioííicioso. O
jus civile dava a essa pessoa assim excluida o di-
reito da querela inolpeiosi testamenti, dentro de cinco
annos, representando ella ter a testador obrado

(g) Gai. II, 138—142.


(A) Gai. 11, 142, 143.
(i) Gai. II, 144.
{]■) Gai. II, 144; ülp. XXIII. 2; § 2, I, quib. mod. test.
(2, 17).
(£) L. 20. D. de injusto (28, 3); L. 1 S 8 D. si tab. test.
jiullne (38, 6).
(0 L. 15 4 i D. de lib, et post. (28, 2); L. 17 Ç 2. D. de
test. mil. (20,1).
(m) L 27. cie test. (6, 23).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 285
apaixonada e cegamente [quas/ non sanae mentis
futsset, colar msaniaé] [n].

VI. DOS TESTAMENTOS PRIVILEGIADOS.

§ 77. Testamentos privilegiados são aquelles qne


fazem excepçâo ás regras geraes estabelecidas sobre
testamentos. Os mais privilegiados são os militares.
O testamentum in prodnctu factum parece ter desap-
parecido ainda muito cedo; assim como desappare-
ceu o teatamentum in comiíns calatis; e de então
até Julias Cacsar não se Mia de testamento algum
privilegiado. Os privilégios que César concedeu
são pouco conhecidos, e forão ephemeros (a). Como
privilegio podemos considerar o que Augusto con-
cedeu aos filiifamilias miliies de poderem fazer
testamento sobre o pecúlio castrense [b], Quem
porém verdadeiramente concedeu testamentos pri-
vilegiados e illimitados por assim dizer foi Tito
Vespasiano; suas determinações a esse respeito
forão ainda ampliadas por Doimciano, Nerva, e
Trajano (c).
A capacidade que linhão os militares para testar
estendia-se também aos filiifamilias, que, como
dissemos, podiãcr testar sobre o pecúlio castrense (d).
Assim também seus testamentos erão validos ,

(n) L 2. 6, D. de inoff. test. (5,2).


(a) L. 1 D. de test. mil. (29,1).
{b) Pr. I. quíb. non cst perm. fac. test. (2,12).
(<?) L. 24 D. cit.
(d) Pr. I. eod. (2,12); L. 1, 2, 9, 13, 19 pr. § 2. D. de
castr. pecul. (49,17); L. 43 D. de test. mil (29, t).
2 86 HISTORIA
quando no momento da confecção do testamento
ignorassem quejáerán sui júris (ej.Podiuoos militares
também testar quando condemnados á morte sendo
que a sentença não fosse por crime de traição, mas
por infracção á disciplina do exercito; entretanto
só sobre o pecúlio castrense (f). Quanto ao modo
de testar podiao elles fazê-lo prescindindo de todas
as formalidades, bastando só declararem qual a
sua vontade, escrevendo ou mesmo dizendo qual
ella fosse perante algumas pessoas que estivessem
era estado de a testemunhar [g). Pouião'elles no
codicillo testamentar accvescentar mais herdeiros
aos já instituídos [h], Todos os privilégios concedidos
aos militares entendia-se com os militares de toda
especie e de toda e qualquer classe (i). Justiniano
porém mandou que delles só gozassem os que esti-
vessem in cjcpedihom [j].
Tanto quanto o soldado servia permanecia era
vigor as suas disposições (fc), e até mesmo em nada
influía soífrer elle uma capitis diminulio minima (/)
Outros testamentos privilegiados exlstião , os
quaes talvez só tivessem origem no tempo dos im-'
peradores.

(e) L. 11 § 1. D. detest. milU. (29, 1),


{[) L. 11 pr. D. eod.; L. 32 g 8 D. dc donat. int. vir et vuc,
(2Zi, 1); L. 1. D. dc veteran. et mil. succ. (38,12).
(?) Gai. li, 109; ülp. XXIII, 10; pr. 1. dc mil. test. (2, 11);
tj. 16 § 1; L. 24, 35, 40 pr D. eod.
(A) L. 30 pr. D. eod.; L. 8 § 4. D. de codicill. (29, 7).
(«) L. 20 pr.; L. 25, 42, 43 D. de test. mil. (29,1); L. un. § 1.
2. I). dc bon. poss. ex test. mil. (37.13).
(/) L. 17. C. testam, militis (6, 21); Pr. § 4. Ldemilit. testam.
(2, 11).
(A) S 3. 1. eod.
({) L. 22. 23. D. eod.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 287
Testamentum lempore pestis conditum. Quando gras-
sa» doenças epidêmicas é naUirul em todos o re-
ceio do contagio, e como quasi todos ordinaria-
mente fujão de concorrer a reuniões, permillio-se
ao testador fazer chamar cada testemunha de per
si, e com cada uma dellas fazer o seu testamento ;
que pela primeira vez se encontra em um rescripto
de Diocleciano, o qual pelas suas mesmas palavras
mostra não ser a fonte desse privilegio [m].
Por ordenanea de Constantino podião os sacer-
dotes testar sem que para isso fosse necessário
testemunhas, principalmente quando se manuraet-
liao escravos (n}.
Tcslamentum ruri conditum. Ouso e depois Jus-
tiniano concedeu aos ruslicani, gente do campo ,
poderem testar valiosamente perante cinco teste-
munhas (o).
Por ultimo introduzio Justiniano o tcslamentum
parenlum inter liberos (p), mandando que logo que
o ascendente instituísse herdeiro a descendentes,
alguns ou todos, que tivesse elle validade mesmo
sem que tivesse sido feito perante testemunhas ,
tendo otcstadoi escriptode seu propvio punho o testa-
mento {testamentum holographum, era contraposição
ao allograpkwn ], e declarado cora toda clareza a data
e o nome dos descendentes instiluidos, e a parle

(m) L. 8. C. de testam. (6, 23).


(n) L. (in. C. Th. de raanum. in eccles. (4, 7); L, 2. C. de hi» qui
In eccles. manum. (1,13).
(o) L. 31. C. de testam. (6, 23).
(p) L. 1. C. Th. fam. herc. (2. 24).
288 HISTORIA
que devia caber a cada um [q). A instiluição de
outras pessoas neste testamento não era valida ;
legados podião ser deixados a outras pessoas,
devendo então o testador declarar perante duas
testemunhas pelo menos que tudo tinha sido
escripto de seu proprio punho, e era sua vontade
firme (r).

CAPITULO m.

Da successão contra um testamento.

I. DA OBRIGAÇÃO RIGOROSA DE INSTITUIR OS FILHOS.

§ 78. Todo e qualquer cidadão romano podia no-


mear-se um herdeiro segundo o antigo preceito da
lei das XII Taboas uli quislegasset itajus esto; podia
o testador excluir ató mesmo seus próprios filhos, o
que porém quando assim quizesse fazer devia de-
clarar expressamente em seu testamento, afim de
que não houvesse duvida alguma principalmente a
respeito dos poslhumos , e para que se tornasse
manifesto que elle delles se lemhrára, ou não (a).
Esta declaração expressa, que elle devia fazer, de
desherdar, só era necessária quanto aos descen-
dentes inpaír. pot., por isso que a raâi não podia ter
heredes necessarii, e para o pai não erão heredes os
emandpati (6).

(?) L. 7 § 2. C. Th. de testam. (4, h).


(r) Nov. 117 proem. c. 1. 2.
(a) tíai. II, 130,134; Ulp. XXII, 14, 15-
(b) Ulp. XXII, 14,15.
DO DIREITO ROMAKO PRIVADO. 389
Tinha pois o pai obrigação de curar que o filho
que estava em seu poder não deixasse de ser insti-
tuído , ou então que fosse desherdado expressa-
mente ; porquanto , coso o preterisse ser-lhe-hia
inútil testar. Só tinha lugar nullidade quando o pre-
terido era um filho ; se erão filhas ou netos accres-
cião estes então aos inslituidos , se os instituídos
erão sui, in partem virilem, se outros, m dimidiam
partem (c). como fica dito.
As filhas, e os netos bastavão ser desherdados
inter-cceleros, com a cláusula unida á instituição dos
herdeiros cceteri exheredes sunto; devendo o teslador
quando elles nascião depois do testamento deixar-
lhes um legado, afim de fazer ver com isso, que
dellcs se linha lembrado ; e a não fazé-lo devia
então desherda-los expressamente , sendo em caso
contrario isso considerado como uma preterição (d).
Os posthuraos preteridos nascendo , quer fossem
filhos , filhas , ou netos, annullavão o testamento ,
posthumus ayitaiscendo rumpit kstamentum (e). Não se
entendia só com os postbumos em sentido proprio;
porquanto nao devião também ser preteridos pelo
testamento paterno os sui hôredes que apparecião
depois da confecção do testamento {/"j. Quando ainda
era vida do teslador lhe nascião filhos não se en-

(c) (Tai. II, 124; ülp. XXII, 17.


[ti) Gai. H, 128, 132, 134; Ulp. XXII, 20 — 22; pr. § 1. J. de
«vhrtr
... Iuii' Tih
llh fO f "!

' üai.' 11,133; § 2. J. de exher. lib. (2, 13); L. 3 § 1, D. de


inj. (28, 3).
MB. ROM, 37
290 H1STOHIA
tendia com cllesa Insliluíção ou desberdação depos-
thuraos, por isso que não erão verdadeiramente
postbumos, e sendo então sui heredes, tendo sido
preteridos annullavão o testamento. O mesmo acon-
tecia quando vinha o testador a ter filhos quer adop-
tando-os (3), quer tomando uma wor in manu [h] ,
quer vindo a ter filhos em seu poder pela causai
proboAio (i), o que introduzido pela lex Aelia Sentia
foi admittido , quando ainda mesmo o filho fizesse
valer a causa probatio depois da morte do pai, até
que por um Scto do tempo de Adriano foi re-
vogado (j).
Estes princípios também em parte podem ser
applicados quando haja a filhos que no momento da
confecção do testamento se não achavão em poder do
pai, e vlnhão depois a cahir sob seu poder ; assim
como quando tivessem sido mauumettidos pelo se-
nhor vollassetn para o poder do pai (/c); ou quando
voltassem do captiveiro uiimigofí); ou no caso de ser
o filho soldado, testar sobre o pecúlio castrense, e
que no emtanto deixando o serviço viera a obter por
morte de seu pai pátrio poder sobre os sui (m).
Justiniano mandou para que prevalecesse o testa-
mento fosse o filho, ou filha désherdados expressa-
mente (n).
{g) Gai. II, 138—lilO; Ülp. XXITT, 3.
(h] Gai. i. c.;Ulp. 1. c.
(í) Gai. II, 142.
(í) Gaí." li141! Ulp. I • c.; L. 8 § 1. D. de inj. (28, 3),
(í) L. 31. D. de 11b. et posth. (28, 2) i L. 6 j 1. 2.; t. 10 D. de
injiBr. (28, 3); L. 8, 9, 15. D. de captlv. (49, 15).
(jn) L. 28 § 1. D. dc lib. et posth. (28, 2).
(n) L. 4. C. de lib. praet. (6, 28).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 291
Vejamos agora o direito pretprio com relação á
successao contra um testamento. Por este direito
aquellas pessoas que tivessem a honorum possemo
mde liberi ou devião ser instituídas, ou desher-
dadas. 4 desherdação devia ser feita nomimhm
quando erão pessoas do sexo masculino os desher-
dados; porque para as do sexo feminino bastava
que fossem íníer cccleros, como j4 acima disseinus
Se estas pe=saas fossem preteridas concedia-lhes o
pretor a bonorum possemo contra o testamento (o),
contra iestamentum, contra lignum (p); elle só exigia
que houvesse um tal testamento não sendo pre
ciso que o herdeiro addisse a herança ; assim como
podia o testamento por outra qualquer causa ser
nullo jure civiii (ç). Propriamente faltando o testa-
mento não era nullo, razão por que permanecia a
substituição puplliar (r); assim como as disposições
feitas a favor dos descendentes do testador; só não
podião estas exceder a mais do que aquillo que
recebia ura bonorum possessor [s). Do mesmo modo
perraunecia o legado pelo qual se restítula á mu-
lher , ou á nora um dote, que o testador rece-
bera (í). Marco Aurélio estabeieceu, que com relação
ás femeas fosse a bonor. possessio considerada igual
á pretopiçáo dos su que não erão fUii, segundo o
direito civil (u].
(o) GaL II, 129, 135; ülp. XXTI, 23. *
íp) L. 19. D. deb. p.c. t. (37, ü).
(f) L. à pr, L. 19. D. de bon. poss. c. t. (37,4).
(r) L 22,34 $ 2. D. de vuig. et pujil', 'Aibst, (28, 6).
(í) Dig. XXXVH, 5, de legal, prsstand. conti. tab, bon. posses».
(t) L. 8$2.; L. 10SI. D. eod.
(u) GaL ti, 126.
292
IIISTOIUA
Já dissemos que Justiniano mandou, qu(3 a ct-
heredatio de descendentes fosse feita expressamente.

II. DA LEGITIMA.

A. — Do direito de legitima dos parentes.

§ 79. O herdeiro ab intestato de um testador a


quem esle tivesse deixado era seu testamento pouco
ou nada, ou a quem tivesse mesmo completa-
mente ignorado, ou expressamente desherdado,
ou instituído em uma diminuta porção, podia quei-
xar-se perante o tribunal centamviral de ter sido
feito o testamento contra a piedade e amor, isto
é inofficioso; e logo que a sua exclusão não
fosse bem fundada podião os centwnvires anul-
lar o testamento, por isso que se devia suppôr
o testador como não estando era seu perfeito
juizo (a).
A antigüidade porém deste principio nao é co-
nhecida, por isso que já Cícero o conhecia , e nada
existe que atteste a sua origem [b). Talvez que da de-
terminação dos edictos dos pretores, que mandavão
que os libertos deixassem uma parle de seus bens
ao patrono lirasssra os jurisconsultos o segurar-se
lambem para outros herdeiros uma parte dos heus.
Em todo caso a fonte não é uma tal lex Glicia como
suppoz Cujacius (c). Em principio, talvez que po-

(à) Pr. I. de inoff. tem. (2, 18); L. 2, 5, 19. D. cod. (2, 5),-
L. 36. D. delegat. 111,(32).
(6) Cic.ln Verr. II, 1. c. 42.
(c) Cujacius, observ. II, 21; XIV, 14.
DO DIHEITO BOMANO PRIVADO. 293
desse todo, e qualquer herdeiro proxioio ab iates-
tato, que se julgasse prejudicado, apresenlar-se
com a querela viojficiosi testamenti, e estaria então
ao livre arbítrio dos cenlumvirm rescindir o testa-
mento , ou não ; depois porém pouco e pouco, prin-
cipalmente em virtude de constituições imperiaes ,
estabeleceu-se que só descendentes , ascendentes ,
e irmãos, linhão a quvrela por serem parentes mui
chegados. Ulpiano ainda dava por possível a que-
rela de parentes mais remotos, a qual porém elle
reputava nãocomimim, e de nenhuma esperança (d),
üiocleciano os excluio da querela [e]; e Constan-
tino ainda fez mais concedendo-o só em certos casos
a irmãos [fj; de maneira que só tinhão os descen-
dentes e ascendentes do testador de ordinário direito
a ella [g].
Já no principio do tempo dos imperadores se
unha tomado um minimum, que era quanto bastava
para que logo que fosse deixado excluísse a querela,
o que também devia ser deixado aos herdeiros
intestados mais próximos, logo que não havião
razões plausíveis para desherda-los; tal é a portio
debita, s. legitima. Até ao tempo de Justiniano foi a
legitima de l/A da porção intesíudu [h], o que pro-
vavelmente foi derivado da Quarta Falcidia, por

{d} L- 1. 6 pr. D. de inoff. test. (5, 2).


{é) L. 21. C. eod, (3, 28).
[f) L. 27. G. eod.; L. 1. 3. C. Th. eod. (2,19).
(J/) * h I, eod. (2, 18).
(/i) Pile. Epist. V, 1; L. 8 § 8, 9. D. eod.; L. 6, 8 pr. C. eod.;
§ 7.1. eod.
29Zi HtsxoniA
isso que até mesmo algumas vezes se chamou a
legitima, quarta Faícwíía (í).
Para a deducção da legitima calculava-se a massa
dos bens deixados pelo tsstador deduzidas as dividas
e as despezas do funeral (j). Assim também para se
calcular a le^itimn erão contados os herdeiros mais
próximas, que desherdados valiosamente ou por
outras causas não liuhão direito & legitima (A).
Jusliaiano marcou , que quando se dessem quatro
herdeiros que fosse a legítima para menos de 1/íí,
quando cinco de 1/2 de suas porções intesladas (/).
A legitima podia ser deixada por instituição, por
legados, doações, logo que o fim que se linha em
vista era deixar—a legítima (m).
Zenao accrescentou que o dote ou donatio propíar
nuptias promellidos pelo íeslador ao herdeiro,
mesmo sem declaração, fossem comprehendidos
na legítima (n).
Jusliuiano ordenou que tudo o que o herdeiro
tivesse recebido do testador, fosse comprehendido
na sua legitima (o).

(i) L.28. C. Th. dejadaeii ■ tfi,8); L. 8 §9. D.deinoff. test. (5,


2); Vutic. Frgm. $ 281; L. 2. C. da mort. caus. don. (8, 57); L. 21.
C, fami. herc. (3, 36).
Õ") Paul. sent rec. IV, 5 § 6.; L. 6. C. de inoff. teat. (3, 28);
l, 8 S 0. D. eod.
(/t; L 8 S 9. D- eod.
(í) Nov. 18 c. 1; Nov, 30, c. 1.
(m) $ 3,6,1. de inoff. teat (2,18); L. 8 S 6; L. 25 pr. D. eod.;
L. 30 pr.; L. 33 pr.j L. 35 S 2; L. 33. C. eod.
(n) L. 29. c. eod.
fo) L. 20. a decoUat (6, 20).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 295

B.—Da* dmau pessoas que tmhdo direito á legitima.

§ 80. O antigo direito civil não eslabelecia res-


Iricção alguma ao modo porque testava um liber-
to (a); o mesmo porém já não acontecia a respeito
das libertas, que para lazè-lo precisarão do consen-
timento do patrono, como seu tutor legitimo [b];
pela ler Papia Puppaea—se a liberta tivesse dado á
luz quatro filhos ficava livre dessa tutela (c). En-
tretanto logo que app&receu a idéia de que o testa-
dor não podia prescindir de deitar alguma cousa
seus herdeiros ab intestato Qzerâo disso applicação
ao direito de successão do patrono. O edicto pre-
torio prescreveu, que um liberto que não tivesse
filhos legí timos deixasse ao seu patrono (não á pa-
trona) ou no caso de haver este já fallecido a seus
herdeiros varóes — metade de seus bens (d). Isto
porém não dizia respeita ao testamento de uma
liberta (e). A lei Papia Poppaea ainda foi mais longe
ordenando queo liberto que possuísse m Isestercios
e tivesse menos de tres filhos, deixasse ao patrono,
ou a seus herdeiros varões uma porção viril (/]; e
que a patrona e descendentes do patrono do sexo
feminino nos casos em que fossem considerados na
successão ab intestato iguacs ao patrono, e aos seus
- *- f 3—n —--
(a) Gal. III, 40; UIp. XXIX, 4.; pr. I. de success. lib. (3,7) L. S-
C. de bon. iib. (6, A).
(5) Gal. III, 43; 192; II, 118,122.
(c. Gal. m, 44, 45 , 59; Uifh X" [V , 3, 4.
0 GaL UI, 41, 45, 58; %. XXVII, 1; XXIX, 1,4.
W GaL 111, 43, 44-
(f) Gal. Ul 15; § 2.1. de succ. Iib. (3, 7); L. 4. C. de bon. tib,
(6, 4).
296 HISTORIA
descendentes varões tivessem igual direito a ser
contempladas no testamento do liberto [g]. Mandou
também esta lei que o liberto que tivesse o jus
qualu&r liberorum, visto poder testar indepen-
dentemente do patrono, qne pelo seu testamento
lhe deixasse uma porção \ :;1 (/ij.
Valenliniano III ordenou que logo que o liberto
ou a liberta tivesse descendentes de qualquer
modo que fosse, estes pudessem ser instituídos
herdeiros sem reslricção alguma de todos os bens.
Quando porém não houvessem descendentes, de-
veria então o patrono conservar o mesmo direito
que lhe era concedido pelas leis anteriores; os
filhos do patrono porém só tinhão 1/3 da herança;
e ás filhas e aos seus descendentes não era obri-
gatório deí.tar-se-lhes cousa alguma.
Finalmente Jusliniano ordenou que o liberto do
qualquer sexo que fosse, quando possuísse menos
de cem mil solidi, pudesse testar sem consideração
alguma com o patrono, e seus descendentes; e
no caso de pessuirem mais, não só os descendentes
do liberto instituídos excluião o patrono, como
também desherdados, quando tivessem sido bem
succedidos com a querei a ino/ficmi testamenti. Porém
não tendo o teslador descendentes, ou lendo-os,
havendo elles sido desherdados nominatim, seus
bens cabião ao patrono, e a seus descendentes

[g) uai. III, 49 , 50; UJp. XXIX, 6; Gai, III, 53; UIp. XXIX, 7;
Cai. ílf,/16, 47; Glp, XXIX, 5.
(4) Gai. Ul, 43 . 44; UIp. XXIX, 3.
(j) Nov. Yalent. 111, Tit. 25, §2, 3, 4, 8.
DO direito ROMANO PRIVADO. 297
até o 5.° gráo, podendo estes não o fazendo' elle
reclamarem contra o testamento (j).
A' viuva miserável concedeu Justiniano um di-
reito de succcasão excepcional (fc).

m. REFORMAS DA NOV. 115.

§ 81. Não podião ascendentes sem um motivo


plausível preterir "ou desherdar aos seus descen-
dentes; é os descendentes aòs ascendentes, ficando
em caso contrario nullò o testamento, porém em
vigor todas as outras disposições (a). No caso de
terem sido instituidos herdeiros de uma porção
menor do que a legitima, podião exigir restituição
do resto (6).

Capitulo iv

Gomo se extingue a herança

I. CAUSAS DA EXTLNCÇÃO (EM PARTICULAR DOS CASOS


DA TRANSMISSÃO).

§ 82; Muitos dos casos ém qüé o direito de suc-


cessão de um herdeiro passa para oütro herdeiro
tem referencia á morte do herdeiro, e são estes
os que exclusivamente se chamâo os casos da
transmissão.

(í) L. 4. C. de bon. lib. (6, 4).


(A) Nov. 117 c. 5.
(a) Nov. 115. c. 3;
(4) Nov. 115. c. 5;
DIB» BOM*
298 nmoniA
A mais antiga é a irarimimo cx capite reslitulionis
in integrum. De mandado de Antonino Pio esta-
beleceu-se que os herdeiros de ura herdeiro já
fallecido podessem a titulo de restituição ter o
direito de entrar em seu lugar, quando provassem
ter-lhe sido impossível por ignorar o deferimento da
herança ou por outras causas semelhantes declarar
antes da sua morte 'que adia a herança (a); e que
fambera o senhor ou pai do herdeiro, que não se
achasse era circurnstunclos de ordenar ao herdeiro
que adisse a herança antes da sua molde, pedisse
por igual motivo para si a restituição (6).
Segue-se depois o principio estabelecido pela
praxe, que logo que o herdeiro em o tempo mar-
cado para a sua apresentação tivesse fallecido antes
de aguoscer a bonorum possessio, que podião seus
herdeiros logo que se apresentassem no tempo mar-
cado obter a bonorum possessio (c).
Transmissio ex capite infcmliw, introduzida por
Theodosio 11 em : Mandava elle que quando
fosse deferida uma herança a uma criança menor
de sete annos, e que esta tivesse fallecido antes de
adi-la, pudesse então o ascendente, que sobre
ella tivesse tido poder (poícsíus) antes da sua morte,
adquirir a herança para si [d],
No anno de Ã50 instituiu Theodosio II a deno-

ta) L. 86 pr. D. de adqu. her. (29, 2); L. 3 § 30 — 32; L. i.


D. adSc.. Sil. (29, 5).
(b) L. 30 pr. D. de adqu. her. (29, 2).
(c) L. 0 § 3; L. 5. D. de bon. poss. c. t, (37, 4); L. 12, D. de
carhon. edict. (37,10).
(d) L. 18 § 1. 3. C, de jure delib. (6, 30).
DO DIREITO ROmm PRIVADO. 299
minada transmissio theodosianâ, para o caso de que
quando um dos descendentes instituídos pelo seu
ascendente tivesse faUecido antes da abertura do
testamento, deixando descendentes seus, podessem
estes succeder em seu lugar (e).
Por ultimo estabeleceu Justiuiano como principio
geral, que logo que um herdeiro dentro do tempo
marcado para deliberação, ou mesmo quando náo
fosse marcado tempo algum morresse sem previa
declaração sua, podião seus herdeiros adir a herança
no prazo marcado ou dentro de um anuo [f]; ao
que se chamou transmissio Jusliniamca. Por esta
transmissio perdeu muito de sua antiga influencia
a transmissio ex capite rcslüutionis, podendo-se delia
só fazer appllcaçâo quando a morte do herdeiro
tivesse lugar dando causa a ser necessário provar-
se que houve um motivo plausível pelo qual se não
fez declaração
« de adir a herança.
<9
Dos demais casos em que pôde outra pessoa
legalmente succcder a um herdeiro no seu direito
de successão temos a considerar como um dos casos
mais antigos — a caducidade estabelecida pela lex
Julia et Papia Poppmi.
Justiuiano mandou que quando fosse deferida
uma herança a um filho maior que se achasse
ainda sob o pátrio poder, não a querendo elle,
podesse seu pai adi-la em seu lugar (17).

(«) L. un. C. de bis qiii ante apert. tab. (a, 52); L. un. § 2. 3.
C. de caduc. toll. (6, 51).
(f) L. 19, c. dèjuredeliberandi (6, 30); Nov. 158.
(g) L. 8 pr. § i. 2. C. de bon. quae lib. (8,61).
300 HISTORIA

II. CONSEQÜÊNCIAS DA EXTINCÇAO (EM PARTÍCULA IV DO,


JUS ACCRESCENDl),

§ 83. Pela idéa de se considerava todo e qualquer


herdeiro como successor in univenum jus. de fundi,
de si mesmo se entende, que com a morte de
um de rauílos coherdeiros o direito destes se esten-
dia também á parla daquelle; e é ao que se
chamou accrescendi (a). Aquelle quase tornava
herdeiro nem mesmo podia renunciar á porte que.
lhe accrescia , plelQ que não precisava de primeiro
adir a herança por isso que a herdava ipso jure (ò);
e isto ainda mesmo quando o ignorasse ou tivesse
fallecido antes (ç).
Por morte de um herdeiro era preciso que a sua
parlo na herança ficasse vacante, pelo que logo que
o seu direito de successão fosse transferido a outros^
ou quando existissem, substitutas, o. jus. accrescendi
poderia ter lugar quando se decidisse, que estes
não podiao herdar, ou quando elles, não querião a
parte da herança que lhes cabia (d), Exigia-se que a
porção vacante não tivesse já sido adquirida, de
um modo valido, o que não, podia acontecer per
direito civil antigo, mas que se tornou possível

(a) L. 59 S 3: D. de her. inst. (28, 5); L. 31, 53 § 1. L. 55, 7R


pr. D. de adqu. hered. (29, 2); L, ;í § 9; L. li, 5. D. de bon. poss.
(37, i); L. 110 D. de succ. ed. (38, 9); L. 9. D. de suis (38,16);
L. 17 pr. L, 23 § 2. D. de inoff. test. (5, 2).
(5) L. 53, 55 ;6 pr. D. de adqu. her. (29, 2); L. 2 § 8. D. de b.
p. c. t. (37, il): L. un. $ 8—10. C. de cad. toll. (6, 51),
(c) L. 31. D. de, adqu. her. (29,2); L. 9. D. de suís (38, 16); § h.
I. de Sçt Orpli. (3,4).
{([) L. 2 $ 3. d. de b. p. s. t, (37, 11); L. un. § 12, C. de cad.
loÜ. (6, 51); Nov. 1. c. 1 § 3,
po DIREITO ROMANO PRIVADO. 301
depois que q edicto ptetorio deu a todos os her-
deiros a restituição contra quem adisse a herança,
e concedeq aos suis que herdarão ipso jure o be-
ne(idum abstinendi; e porque segundo Justiniano
podia o herdeiro fazer revalidar a sua herança em
conseqüência da chusula privQtoria.
Aquelle a quem accrescia não só devia ter adqui-
rido a sua própria porçâq, oqmo ter permanecido
sempre herdeiro; porquanto quem tivesse perdida
a herança por indigno, etc., não tinha direito
algum ao jus accrescendí, o qual antes cabia ao
que entrasse era seu lugar (e); isto não se entendia
cora aquelle que tivesse feito venda da herança,
porque permanecia herdeiro. Se accrescia a muitos
coherdeiros fazia-se a divisão entre elles conforme
a porção própria que coubera a cada ura (f). En-
tretanto nem sempre cabia a todos os coherdeiros a
porção vacante.
]Na snccessao lestamentaria os Iwredes ex re certa,
instítuidos com outros herdeiros, só gozavão d o jus
accremndi por morte de todos os outros, era cujo
lugar se lornavão herdeiros. Se o herdeiro que
morria fosse um heres conjunctus, a sua partb só
accrescia aos outros conjunclis, quer fossem só rc
conjuncti, ou ao mesmo tempo re et verbis conjtmcti;
ao passo porém que a porção de um heres disjunetus
era dividida entre todos {g).
■ ' -.11. j ' 1r. • ■ *** 111 miiiiii^ "
(è) L. 83. D. de adqu. her. (29, 2); L. un, § 12. C, de cad. toll.
(6, 51).
(f) L. un. ^ 10. C, de cad. toll. (6, 51).
(g) L. 17 § 1.; L. 59 § 3; L, 63, 66, D. de hered. inst. (28, 6);
L un, § J10. C. de cad. toll. (0, 5Í).
302 HISTORIA
Quanto á successuo ab intestato tinha lugar o
jus accrescondi quando um dos que perlencião a uma
stirpe morria, pelo que a sua porção accresm em
primeiro lugar aos outros coherdeiros desta mesma
stirpe [k).

CAPITULO V.

Oa adquisição da herança.

I. DA ADQUISIÇÃO.

A. — Segundo o direito ciml.

§ 84. Pelos preceitos estabelecidos por direito


civil quanto á adquisição de uma herança deferida
— dislinguem-se duas classes de herdeiros: — her-
deiros necessários , e herdeiros voluntários. Her-
deiros necessários erão aqueües, que na regra não
podiáo regeilar o direito de successão ; keredes ex-
tranei s. volmtarii erão os que não tinha o obri-
gação de ser herdeira'.
Os necessarii heredes por isso que não podiáo deixar
de aceitar a herança quer fossem chamados como
herdeiros testamenlnros , quer ab intestato, erão
ipge jure herdeiros (a); mesmo quando ainda não
-a -■ ...
(A) L. 12 pr. D. de b. p. c. t, (37, 4); U 7. D. de collat. (37, 6);
1» 1 S12. D. de conjung. cum emane. lib. (37, 8); L. 5 § 2. D. 9.
tab. test. (38, 6).
(<i) § 1. 2.1. de her. qual. (2, 19); $ 2—8. 1. de hcr. qu» ab
inte . (3,1); 1. 42 pr. D. de adqu. her. (29, 2); L. 14. D. de suis et
legit. (38,18); L. 3. C. de jure dclib. (6, 30).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 303
tivessem noticia do deferimento da herança (6);
ou erão absolutamente sem vontade (c). Os extranei
heredes pelo contrario devião adir a herança defe-
rida para poderem adquiri-la ; isto é , devião dar a
conhecer a sua vontade [d); porém por direito mo-
derno , exceplnava-se o caso em que elles erão des-
cendentes do defunto, por ter Theodosio II orde-
nado que fossem herdeiros ipso jure [e); do que
entretanto não se podia concluir serem elles obri-
gados a ser herdeiros.
Erão heredes necessarii: o escravo do testador
quando por eile manumettido e iustituido her-
deiro(/^; os filhos vendidos pelo testador e que
ainda estivessem in manei pio, porém só quando o
testador os tivesse instituído herdeiros (gf); os des-
cendentes que se achassem em poder do testador
ainda no momento de sua morte, ou que virião a
estar em seu poder se elles por ventura já tives-
sem nascido; e assim também a sua uxorin manu;
ou a de um de seus filhos (/i). As duas especies de
herdeiros que mencionamos era primeiro lugar são

(b) L. 30 § S. D. de adqu. her. (29, 2); L. 29 S 2. D. de castr.


pcctil (49,17}; L. 8. C. de suls et íenit. (6, 65).
(c) L. 7 S 2. C de cur. fur. (5, lüj.
(,{) e 3. i. de her. qual. (2.19); L. i, 2, 80. D, de adqu. herd.
(29, 2); L. un. § 10. C. de cad. toll. (6, 51).
(e) L 11. C. de suis. etlegit. (6, 55).
(/) Gai. n, Í52 — 15G; Ulp. XX)I, 2/i; §11, de hered. qual.
(2. 19).
(í) Gai II, 160.
(/i) Gai. 11, 157 —160 1 III, 2—5; i 2.1. de her. quaL (2.19);
§ 2—8.1. de her. quse ib loteai. (3,1); L. 1 § 2. D. de suis et legit.
(38, 16); L. 11, 29 § 12—15. D, de lib. et posth. (28, 2); Collat.
L. Mos. et Hom, XVI, 2, 6.
30li HISTORIA
chamados heredes necemrii; os últimos sui ei ne-
cessarii heredes.
Os hcredes extranei, s. vohmíflríi, como dissemos,
tinbão a escolher se queriao ou não adir a he-
rança que lhes fôra deferida (i). Elles a adião de
tres modos ; por uma decluração formal perante
testemunhas, ao que se chamava cernere heredi-
talem {j), ou por simples manifestação da von-
tade; ou tacilamente [k)i pro herede geslio, quando
o herdeiro se constituia de facto senhor da herança
e delia dispunha- Para esta declaração não havia
tempo algum marcado por leu Os credores porém
podião dirigir-se ao prelar e pcdiji-lhe quenlarcasse
um prazo, aílm de que o herdeiro adisse a he-
rança^,* o testadòr podia fazer um testamento, e
nelle prescrever uma crelio, isto é j declaraçuo for-
mal de que se devia adir a herança em um prazo
marcado, ordinammente de cem dias. Ha crelio
(vem de cernere) (m), vê-se que o essencial con-
sistia na declaração de se adir a herança', o que se
fazia com certas palavras solemnes: « Quod me Pu-
blius Uaevius testamento suo heredeem .nsíituit eam
hreditatem adeo cemoque » (n); e tinha isto lugar
perante testemunhas. Segundo a formula—ucretio ou
era vulgaris, ou era uma cretio ceríorum dierum
s. continua; no pr raeiro caso qufliido o testadòr

(<) Gai, II, 162, 163,


(í) Gai. II, 166; Ulp. XXII, 28; Varro de Ung. lat. VI, 81;
vn, 'is.
{k) Ciai II, 167; Ulp. XXII, 25, 26.
(/) Gai. II, .167; L. 23 § 1. 2. D. de liaered. inslit. (2815),
(m) Gai. 11,16/i; Isid. Orlg. V, 2i.
(n) Gai. U, 16.:; i Jp, XXII, 28.
DO DIREITO ROMASO TR1VADO. 305
tivesse nccrescentado as palavras « qUilms soiel po-
teriíqm » contando-sc o terapo do momento em
que o deferimento da herança fosse conhecido do
herdeiro (o); o contrario tinha lugar pela cretio
continua s., certorum dierum, i. é quando essas pala-
vras faltavão no testamento, do deferimento em
diante (p). Se tivesse sido prescnpla a creliofe para no
caso de omissão seguir-se a cxheredatio, nada apro-
veitava ao herdeiro chamado á successão ter elle tido
sem a cretio gestão como tal; porquanto logo que
expirasse o prazo entrava era seu lugar o herdeiro
que o devia substituir. Se a exheredatio não tivesse
sido expressamente declarada, ambos se tornavão
herdeiros; sendo o primeiro por haver tido gestão
como herdeiro; e o segundo por causa da cretio
não cumprida (ç). Finalmente podia a declaração
ser feita mesmo antes da abertura do testamento.
A lex Papia modificou este direito por querer eila
que a herança cujo dominus ainda a não tivesse
podido adir, no caso de morrer, fosse deferida ao
Fisco. Juslinianp porém restabeleceu o direito an.
tigo (r).
B. — Segundo o direito prelorio.

§ 85, Muitas das instituições antigas principal-


mente o direito de successão conforme a lei das
XII laboas nao se podia mais harmomsar cora as
idéas do tempo da republica; isto levou os pretores

(«) Cie. ad Att. xm, 46.


(») Gai. 11,170- -173; Ulp. XXII, 27, 31,32.
íq) GaL II, 174—178; Ulp- XXII, 33, 34.
i,-) L. «n. § 1. 5. C. de cad, toll. (6, 51).
DIR. BOM. 39
306 HISTORIA
a fazerem modificações (a). Esta nova forma de
adquisição da herança cbamava-se successorium edio
tum. Dislinguia-se ella nisto, que uquelle que se
julgava com direito á successao apresentava-se pe-
rante a autoridade, era principio perante o prctor,
era Roma, ou na provincia perante o presidente ;
depois, no tempo de Constantino, perante o magis-
trado do lugar (6); e a isto charaava-se agnosccre s.
peterc s. admitlere bonorum possessionem.
O tempo para a apresentação estava marcado,
sendo de ura mnus utilis para os ascendentes do
defunto , e para os seus descendentes de cem dias
úteis (c). Passado o prazo marcado, dava o magistrado
para aquelles que provassem ura direito á snccessão,
uraa missio in possessionem bonorum [d]. No caso de
se apresentarem pessoas que nao tivessem direitos
iguaes oblinba a posse aquello que fosse o parente
mais proximo; porém nenhuma consideração se
tinha para com os que se não tivessem apresentado
embora tivessem direitos iguaes ou mesmo me-
lhores (e). 0 tempo ÍUado para a apresentação não
corria para todos os herdeiros de uma só vez, porém
successivamento para cada classe (/).

(a) Gai. Ilf, 18 e segnialcs ] 8.1. de bon. poss. (3, 9).


(b) L. 2 § 3. D. quis urdo (38, 15); L. 9. C. qui admitti ad b. p.
poss. (6,9); 5 10- 1 ^ "'>on. poss. (3, 9).
(c) L. 1 § 8—16. D. de success. od. (38,9); L. 2. D. quis ordo (38,
4õ); In li, 9. D. de bon. poss. (37, 1); § 9, 19. L de bon. poss. (3,01.
{d) L. 2 S11. D. ad. Sct. Tertolí [38,17).
{e) Ulp. XXVin, U; Gai. III, 36, 37; L. 1 § 10. D. de success.
ed. (£ ., 9); L. 3, § 5; L. 4, 5. D. de bon. poss, (37,1); L. un.
G. quando non pet. part. (6, :10);L. 1, 2. C. de succ. ed. (6,16); §9.
I, de bon. poss,. (3, 9).
(/■) L. 9. D. de bon. poss. (37, 1); L. 5. C, qui admitli ad bon.
poss. possunt. (6, 9).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 307
Logo que a ninguém se tivesse dado a bonorum
possesm secmdum tabulas, nem contra labulas vinhão
então os herdeiros ab infestai o , não todos logo- de
uma só vez, porém a primeira classe» depois as ou-
tras quatro á proporção que expirava o prazo mar-
cado para cada uma (;/).
Quanto ao edéito da concessão da posse da he^
rança tinha o bonorum powessor em gerai loco he-
redis todos os direitos e deveres de um herdeiro (A);
não deixava porém de haver diJIerença desta deno-
minação bonorum possemr, para a de heres: por-
quanto a bonorum poxmsio como um modo de adqui-
rir pretorio não consfitira senão o in bonis esse,
com relação ás cousas da herança, que só por
usucapião passarão para o seu verdadeiro domí-
nio (i); podia também constituir unicamente uma
simples posse provisória e condicional; assim como
nos casos ordinários não dava ella necessariamente
um direito definitivo e permanente á herança.
Quando porém aquelles que tivessem recebido a
bonorum possessio fossem os únicos herdeiros mais
proximos então a estes era a herança sempre ga-
rantida, tanto como se elles a tivessem adido se-
gundo o jus civile. Quando os herduiroa estavão em
gráos mais proximos, ou em gróo igual dava a
bonorum possesm um direito definitivo se estes per-

(í) $ 8. L de bonor. poss. (3,9); L. 1 pr. $ 11. D. dè suceess.


e<L (38, 9); L. 4 § 1. D. quis ordo (38,15); L. 12 pr.; L. 17. D. de
injusto (28, 3).
(A) OaL III, 36—38; IV, 34; Ulp. XXVIII, 12, 8 2.1. de bonor.
po». (3, 9); L. 13 pr. D. de b. p. c. t. (37, 4); L. 1, 2,3 8 9; L 4.
5w D. de b. p. (37, i).
(t> Gai. m, 80.
308 HISTORIA
tencião ao numero dos novos herdeiros do direito
prelorin; se porém pcrtencião ao numero dos an-
tigos heredcs júris civilis, fossem elles herdeiros les-
tamenlarios, ou ab in testa to, logo que erão her-
deiros mais próximos, a bonorum possessio era unica-
mente uúlis; elles porém não procisavão agnosee-la'
por isso que podiiin fazer valer o sen direito contra
o bonorum possessor, por via da hereditatis pelitio \
o que não acontecia no primeiro caso , pois que
a bonorum poxscmo para os outros era necessária,
isto é, era uma condição necessária para a süc-
cessão, perdendo o seu direito aquelle que se não
apresentosso [j]. Daqui veio diflérençar-s© a bono-
rum possessio cum re, c sine re; entendendo-se por
bonorum possessio cum re, quando ninguém podia
haver do bonorum possessor a lie ronca; e b. p.
sine re, quando se dava a existência de herdeiro a
quem devia o bonorum possessor logo que prèeiso
fosse ceder parte, ou toda a herança [k]. Pelo usu-
capião desnpparecia o direito do herdeiro civil,
logo que o bonorum possessor tivesse estado de posse
da herança o tempo necessário para completar o
usucapião , exceptuando-se o caso de ser o herdeiro
civil um suus heres do defunto (í).

(;) L. 4. C. qul adm. ad bon. possess. poss. (6, 9).


(A) Gai. n, 118 eseguintes, 148 seguintes.; Ilí, 35 — 38; ülp.
SXHl, 6; XXVHI, 13; § 1. I. de bon. poss. (3, 9); L. 91. D. de R
J. (60,. 17); L. 25. C. de inoíT. test. (3, 28).
(i) L. 8. C. de jnre detib. (6, 3); L. 2. C. de usne. pro hcr. (7,27);
compare com Uai. Ilí, 201.
DO DIRfUTO ItOMAMO PRIVADO. 309

II. EFFEITOS DA ADQUISIÇÃO.

A. — Em (jefal

§ 8tí. Pela adquisinào da herança entra o her-


deiro em todos os direitos do defunto, e então
dá-se uma successão. A natureza pois deste direito
está na representação do defunto com relação aos
seus bens, e na transferencia da sua personalidade
para o herdeiro. Logo que tem lugar a adquisição en-
tende-se haver o herdeiro já succedido ao defunto
desde a sua morte. Hercs qmndoqw adeundo here-
dilatem jam tmc a morte successme defuncto inielli-
gitur (a).
O herdeiro é obrigado a satisfazer as dh Ias do
defunto com os seus próprios bens , logo que
aquellas excedessem a fortuna deixada (6), o que
já a lei das XH lahoas tinha prescripto (c). Este
principio soffreu porém excepçòes, sendo a pri-
meira pelo privilegio aos soldados concedido por
Justiniano (d); e assim também pelo beneficdum
inventam lambem introduzido por este imperador.
EUe ordenou, que o herdeiro quando ainda não
tivesse adido a herança (c), em 30 dias, depois
de lhe ser conhecido o seu deferimento, declarasse
querer proceder a inventario, e devia conclui-lo
- - t ^ ^ , .-|)
ia} L. 54. D. de rtdqil. hered. 29. 2).
(b) L. 8. pr. D. deadqu. hered. '29, 2); E. 33 D. sòlv. matr. (24,
3); L 10, 22 § 14. C. de jnre delib. (&, 30); L. 3 pr. D. de bon.
poss. (37, 1); § 5. de her. qual. (2,19).
(c) L, 7. C. de hered. ací. (4,16); L. 6. C. faní. herc. (3, 36).
(d) L. 22 S Í6. G. de jure dslib. (6, 30).
{«) L 22 § 1. C. cod.
ôlO HISTORIA
era sessenlíi dias, lendo sido feito com assistência
de nolarío, dos credores, e legatarios ou na pre-
sença de tres testemunhas [f] , tjuando estes nao
estivessem presentes.

B,—Em particular.

1. Da hereditatis petitio.

§ 87. Para tornar valioso o direito de successito


servião-se os Romanos da hereditatis pelitio, que
podia ser intentada contra todo aquelle que pos-
suísse a herança, uma parte delia, ou cousas da
herança (a) ou que se dava por possuidor, qui lili
se obtulií [b), contra os que possuião cousas da he-
rança, ou dolo possidere desiit (c); ou que recebêrão
um preço por ella [d]; e finalmente também con-
tra o júris possessor, isto é, aquelle sobre cujos bens
a herança tem direitos (e), ou que ficou devendo ao
testndor (/").
Igual á hereditatis petitio era o interdictum quo-
rum bonorum a favor do bonorum possessor, e linha
lugar contra aquelle que possuia a herança pro
herede, ou por possessore {g], e só podia ser inten-
tada para recuperar cousas corporeas pertencentes

(/) L. 22 § 2. a eod. Nov. 1. c. 2 § 1.


(a) L. Zi. 9. 10 pr.; L. 19 pr. D. de her. pet. (5, 3).
(i) L. 13 §13,L.45. D. eod.
(e) L. 13 § 14; L. 25 § 2—8; L. 36 § 2 e 3. i). eod.
(d) L. 10 D, si purs her. pet. (5, 4); L. 13 § 4 e 5; L. 16 § 1,
2, 5.; L. 33, 34, 35. D. de her. pet. (5, 3).
(e) L. 13 « 15.;L. 19 §3. D. deb •, pet. (5,3).
(/) L. 13 § 15; L. 14, 15, lO.pr. § 1—3; L. 42. D. eod,
(ff) L. Ipr.D, quorbon- (43, 2); L 2, C. eod. (8, 2).
DO direito romano privado, 311
á herança {h), nao sendo também essencial que
o bonorum pommr fosse o herdeiro mais protitmr.
Querendo porém o bonorum possessor provar ser elle
o herdeiro mais proximo, podia em tal caso servir-so
da hereditalis petitio ordinária, que se chamava então
hereditatis pelitio possessoria (i).

2. Relação dos coherdeiros uns para com os outros.

§ 88. Entre coherdeiros logo que elles adião a


herança dava-se uma commvmio. As obrigações e
as dividas já pela lei das Xll Taboas se dividião
entre elles. (a) Podia também um delles obrigara
fazer-se a divisão para o que dava a lei das XII
Taboas uma acção—adio familico herciscundw[b). En-
tre muitos coherdeiros pódo dar-se o caso de serem
elles obrigados a ajuntar, conferre, á herança (c)
os bens que já possuião, pelo que ficava ella tanto
maior; a isto chamava-se coüação. A mais antiga
collação era a do pecúlio profcchcio da parte dos
sui heredes, quando succedião ao paterfamilias.
Sendo este pecúlio, ao qual por direito antigo per-
tencia também tudo o que o pai tivesse doado
inter vivos a seu filho como parte dos bens pater-
nos, deviào por essa razão os sui que tinhão re-
cebido um tal pecúlio da-lo a collação, porem como

(fj L." 1^" D." d^poss. her. pet. (5, 5). Consulte-se Walter, Gesch-
d. roem. Uechts T. 2 § 632.
(a) U 25 § 13. D. <le fam. hcrcisc. (10, 2); L. 6. C. fam. herc.
(3, 36}.
Ib) L. 1 pr. D. fam. herc. (10, 2); Festus, v. eretum citum.
(c) 17, 19. C. dc collat. (6, 20).
312 HISTORIA
estivesse {ri); os bens qne Ibe fossem próprios, como
por exemplo, o pecúlio cKstronse, e quasi castren-
se («), e o pecujio adventicio [f] nada tinhão com
a eollação; bem como o que lhe tivesse sido doa-
do pelo pai mortis causa (rj); estando também no
mesmo caso todas aquellas doações que lhe forão
feitas por seu pai inter vivos, e que por elle não
forão revogadas, as quaes no tempo de Justiniano
erão tomadas em consideração e convalescião como
verdadeiras doações por morte do pai (/i); e que
de então em d.mte deixarão de ser contadas no
pecúlio profecticio. Também aos emancipados quan-
do, segundo o edicto, succedião na classe dos filhos,
ou contra o testamento, cumpria dar ã eollação os
bens que tivessem adquirido durante o tempo da
sua emancipação (i) ; no mesmo caso estava a filha
que quizesse tambom herdar, a qual era obrigada
a dar á eollação o dote que tivesse recebido (/).

3. Alienação da herança.

§ 89. Assim como uma cousa qualquer que


herdamos pôde ser alienada, do mesmo modo póde-

(rf) Vatic. Frgm. § 20/1—296; L. 13. 0. fam. hercisc. (3, 36);


L. 12, 13. C. de collat. (6, 20).
(e) L. 1 § 15. D. de c lat. (37, 6); L, 5/|. D. ad Sct, Treb. [36,1);
L C. fam. herc. (3. 36).
(f) L. 21. C. de collat. (6, 20).
(//) L. 13. C. eod.
(A) L. 18 pr. C. fam. hercisc. (3, 36); L. 25. C. de don. int. V. et
ü- (5, 16).
(») Ulp. XXVIII, /i; L. 1. pr. § 3, 5. D. de collat. (37, 6); L, 1
pr. ^ 13. D. decomiiug. cum emane liber. (37, 8); L. 18, 24. C. de
collnl. (6, 20).
(j) L. 1 pr.; L. 9. D. de dot. collat. (37, 7); L. 2, 8, /(, 7,12, iü,
16. 17,19. C. de collat. (6,20).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 313
se alienar a herança que nos coube ou uma parte
delia.
A alienação da herança, in jure cessio heredi-
tatis, pôde ter lugar quando a herança que se ven-
de, ou que se aliena já foi adquirida. O com-
prador, ou aquolle para quem se transfere a he-
rança não se torna por isso herdeiro; assim como
o herdeiro não deixa de o ser a despeito da alie-
nação. O comprador adquire entretanto o direito
de exigir que o herdeiro lhe entregue todos os
objectos da herança, que lhe trimsrnitta o domí-
nio das cousas , a cessão das obrigações activas,
Tosponsahilisando-se o herdeiro pelas passivas, sti-
pulaíiones emtoe et vendilce hereditaíis (a).
Quando porém a herança foi apenas deferida,
porém ainda não adquirida, muda então de figura
com relação á in jure cessio por quanto; o com-
prador pôde neste caso adir a herança tornando-se
assim pleno jure herdeiro, como se por ventura a
herança lhe tivesse sido deferida. Esta in jure ces-
sio nao podia ser emprehendida senão por um
legitimus heres (b).

(а) GaL II, 252; L. 3 § 2—8, D. de hered. vend. {18, à); L. 95


D. de leg. IÍI (32); L. 50. D. de V. O. (55, 1); L. 07 ÍJt de V. S,
(50, l(i).
(б) Gaj, n, 35-37; III, 85-87; Ulp. XIX, 13-15.

mtv» BOM» À0
314 mStõniA

CAPITULO VI.

Dos legados e fideicommissios.

I. DOS LEGADOS.

§ 90. O díreílo romano conhecia o legado que era


de direito civil, e o fideicommísso , que sendo
mais livre, só depois veio a ter effeito jurídico.
Fallaremos primeiramente do legado do direito
civil (a i O característico do legado era ser elle
constituído com palavras certas e estabelecidas, ver-
ia àvilia , que só pudião ser em latim (6). Ilavião
quatro fôrmas, e cada uma dellas com diirerenles
sijmilicacoes
O - e differentes eíleiloSi ^ #
Per vmdkalionem* A cousa passava ipso jure ,
para o domínio quirilario do legatario, qüe tinha
a rei vindicatio. Segundo os Sabiniattos era entre-
gue o legado logO que o herdeiro chegasse a adir
a herança, e isto quer o legatario soubesse, quer
mo; segundo os Proculcianos só depois de assim
ter querido o legatario. No tempo do Juriscon-
sulto Gaius foi esta ultima opinião aquelk que pre-
valeceu por um rescrlpto de Anlonino Pio (c). Os
Procuieiauos pretendião que por um certo espaço
de tempo fosse a cousa rei nullius, e não pertencendo
mesmo ao herdeiro. Se o legado tivesse sido dei-

(Al Gai. H, 101-2/15; üip. XXIV; Paul. seat. III, 6.


{!,) Gai. II, 281; Ulp. XXV, 9.
(e) Gai. II, 195.
DO DIHDITO ROMANp FKIVADO. 315
xado sub eonditione dizião os Proculeiaaos o mesmo;
porém os SaMuinuos queriào que a cousa durante
esse tempo pertencesse ao herdeiro (d). Exigia-se que
o testador tivesse sobre a cousa iegada o domínio
quiritario no momento de fazer o testamento, e no
de sua morte, e se erão cousas fungíveis só no
ultimo caso (e). Quando erão cousas alheias lega-
das, o legado era nullo; até que um Sclum. Nero-
nianum mandou que fosse considerado como um
legado per damnatiomm [f]. Era a cousa alienada
depois, tornava-se nullo o legado [g], Quando a
mesma cousa fosse legada a diversos tornavão-se
todos condôminos; o legado podia ser deixado, con-
jmctim n'uma phrase, Titio et Seio hominem Stichum
do lego; o\i disjunctim: Titum fundum do lego, Seio
eundem fvndim (/i), No caso de não adquirir um
delles—dava-se o jus accrcscendi a favor dos outros.
As palavras empregadas erão estas; Stichum ho-
mmem do kgo (t). Ou também : sumito, capito l
sibi habelo.
Per damnalionem. Hem meus Stichum servum meum
damnas esto (k). Ou então: dato, dare jubeo, fad-
to [l). Por este legado dava-se uma obrigação entre
o herdeiro e o íegatario para um dare ; mancipar,
cgdef bu jjire (m), etc. O Íegatario tinha uma in
Gai. II, 200
Íí) Gai. II, 196; Uty. XXIV, 7.
(/) Gai. U, 197; ülp. XXI , § 11 a; Vatic. Frgnj. § 85.
(g) GaL II, 198; § 2. L de legat. (2, 20).
(h) Gai. 11, 199;ljlí. XXI1 , 5 12.
(í) Fvagm raílc $'il, 57, 75.; PauL sent. III, 6, § 36.
[k) Dahi: damnas esto legahtm.
(h Gai. H, 201; Ulp. XXIV, 4.
(m) Paul. sent, 111,6 S 10-
3Í6 HISTORIA
personam adio ex tcslamenlo (íí), negando o herdeiro,
in dupluin (o). Cousas alheias e faturas podião ser
legadas deste modo (p). Se a diversos fôr uma cousa
legada, sendo conjunctim, recebe cada um uma
parte; sendo disjmctim recebem todos a cousa ,
um o seu valor, Não se dava aqui umjus accres-
cendi [q). A lex Papia fez algumas modificações.
Sinendi modo. Heres meus damnas esto sinere
L. Tiíiuni hominem Stichum sumere sibique hnbere.
Dava-se uma adio in personam ; o herdeiro era
obrigado a consentir que se levasse a cousa, mas
não era obrigado á mancipaçâo. Objecto do legado
podião ser cousas dotestndor, ou do herdeiro (r).
0 legado de cousas alheias era revalidado pelo
isclum Neroniamm (s). Se o legado foi deixado a
diversos, conjunctim, recebião elles a cousa em
comrnum, porém não havia o jus accrescendi vin-
do a faltar um delles; se disjunetirn, diversas erâo
as opiniões a este respeito; querião muitos que
se procedesse da mesma maneira porque se pro-
cedia com o legatum per damnationem ; isto é ,
para este caso fazião a applícacão de Sctum Ne-
roniamm, outros porém entendião que tinha me-
lhor direito, quem tivesse prevenido o outro (í).
Per prosccplimem. L. Titius hominm SUchim proe-
cipito. Os Proculeianos consíderavão a syllaba pro
(n) Gai. IV, 21.
(o) Gai. II, 283.
M Gai, XI, 202, 203.
(?) Gai. • [, 205; Ulp. XXIV, 13; Vatic. Fragm. $ 85, 87,
(r) Gai. II, 210.
(s) Gai. 11,211, 212,
(/) Gai, 11, 215; L, IA, D, (íe usu ieg. (33, 2).
SO DtAEITO ROVAKO PRIVADO. 317
desneceasorinj qüeríão que fosse como cu/rtío, e não
uma formula particular, mas um legado per vindiea-
tionem; q neste sentido havia uma constituição de
Adriano Os Sabmianos pelo contrario consideravão
como uma fórmula particular, e por ella só se podia
legar a ura coberdeiro; e segundo a palavra—priecí-
poro—, é tanto como pmmpmm sumere. Para um
estranho, Sabinus o considerava nollo; Julítino e
Pomponio ex Scto Neroníano, valido (u). Yaboso
tomava-se elle pelo familia herciscmde judicium (u).
Por esta razão é que só cousas pertencentes ao tes-
tador {res hereditária) podião ser assim legadas; as
cousas alheias só podião ler validade sendo lega-
das ex 5cto Neroniano (as).

n. DOS FIDE1COMMTSSOS.

§ 91. No segundo período estabeleceu-se que o


tostador podesse encarregar ao seu herdeiro, sem
mais formalidades, de um legado, incumbindo-o de
dar ou ceder alguma cousa a alguém (a), non emíi-
bus sed precativis verhis (6). A esta disposição cha-
mou-se fídei alicujus commiít&re; ao obrigado fiducin-
rius, e ao contemplado fideicmnnwsarivs. Este fidei
commitlcre está em contraposição com o directo jure

(«) Gal. IL 217, 218.


(v) GaJ. II, 219.
(v) Cai. 11,220.
(«) Gai n, 246—267: Glp. XXV.
(é) ülp. XXV, 1: Fideícoíiiniissnni est, quod non civilibus ver-
blssedprecatiic rcliniiuilur nec ex rigorc juri' cívllis prollfiacltur,
sed ex voiuntale daiur rdinqueniis. 2: verba fidiiconrnus^fem In
usu fcrehaec sunt: Meícommuto, peto, volo darl, et similia.
318 HISTORIA
rfílinquere. Ena princípio não se dava um direito
dp aeção contra o herdeiro; depois porém foi con-
cedida uma extraordinária cognitio em primeiro
lugar no tempo de Augusto, que foi o que encar-
regou desta cognitio aos cônsules, appareceudo de-
pois mesmo um prwlor ftdeiconmimrius (c).
Dava-se grande dilTerença entre legados e fidei-
commissos [d]. 0 fídeiconunisso podia ser consti-
tuído sem formalidade alguma. Verbalmente, com
qualquer declaração , e lambem por um simples
aceno (e).
Por escripla , por uma carta aos herdeiros, bi-
lhete , codicillo aos herdeiros testamentarios, assim
como por testamenti confirmais como non confirmati
aos herdeiros ab intestato por codicillos ab intes-
tado, etc. (f).
EJIes podião ser constituidos sem formalidade
alguma, exigindo-se unicamente certeza da vontade.
A pessoa lembrada em principio até mesmo podia
ser incapaz de sê-lo, por isso que ella não recebia
ex testamento. Assim pois pcregríni, latini juniani,
femeas, contra a lex Vocania , incertw personw, pos-
thumi alieni, ccelibes, e orbi. Isto foi porém modifi-
cado já no 3.° período pelo Sclum. Pegasianum, o
qual tornou áp[ilic'.avel para aqui o disposto na lex
Julia et Pu pia. Por um Setum. do tempo de Adriano
forão declarados os peregrinos como incapazes ,

(c) Cai. Ií, 278, 279; Ulp, XXV, 12; Suetoa. Claud. c.
23 § 1.
(ii) Gai. II, 268—289; Wp. XXY, 1—13,
(«) uip. xxy, 3.
{/) Gai, n, 270 a, 273; Ulp. XXV, 8.
DO DIREITO ROliAftò PRIVADO. 3Í9
devendo o que lhes fosse deixado ser vindidado pelo
Fisco, Do mesmo modo mcerta personw por um Scto
do lerapo d'este imperadoi' (g)» Dahi pôde ülpiano
dizer: fvdeicdmwÃsso dari potest his quibus et leqari
potest, com excepçãfl dos latini jmiani {h).
O effeito , é sempre um direito contra a pessoa
gravada; não se dava porém domínio ipw jure (t).
Jus omne fideicommssi non in vindicatione sed in pe-
tiíione consistit. Até mesmo escravos podiáo deixar
a escravos alheios a alforria [j). No caso de se
deixatem cousas alheias, e o gravndo as não podia
havet, julgão alguns que nada podia fazer o íideicom-
missario; outros porém, que podia elle demandar o
valor (fc). Esta ultima opinião prevaleceu no direito
jusliuianeo.
Os fideicotnmissos não estavâo sugeitos á lex Fal-
cidia, e só o foi por um Scto do tempo de Vespa-
síano (1).

III. DOS LEGADOS UNIVÉMAES.

§ 92. Era possível legnr-se uma quota dos bens,


ou mesmo todos os bens: legados universaes (a).
0 legado pelo quai uma quota da herança é legada,
chama-se partitio; a herança inteira não podia ser
legada, porque então não haveria a possibilidade de

(í) Gai. 11. 384—287.


(A) Dlp, XXV.
(i) Paul. sent IV, 1, 16.
tí) Gak IL 363—383; Elp. XXV, 18.
(A) Gai. H, 262.
(/) Gai. II, 254.
(a) Gai. II, 247 — 259.
320 HI3ÍORU
um herdeiro ; Heres meus cura Titio Iiereditelem
meara pariitor, dividito. Aqui lega-se a metade, a
parle podia ser também determinada. — Segundo
a opinião dosSabínianos recebia o legatario o valor;
ou então segundo a dos Proculeianos a quota de cada
cousa, como se fosse um coherdeiro, A opinião dos
Sabimunos foi amais seguida, entretanto assentou-
se que de direito era dividir a herança, como fosse
possível ao herdeiro ; devia-se olhar para a com-
modidade da divisão das cousas ; podendo os her-
heiros fazer a divisão , sem ser de cada uma de
per si. Com relação a este legado permaneceu ârme
o principio , de que ura legatario apenas era um
successor singulas. E' por este motivo, que se não
transmitíião as dividas, e o legatarius parliarius não
podia ser desmandado pelos credores. É assim que
tjnbáo logar entre o herdeiro e o legatario xtipula-
tiones partis et pro parte; o herdeiro promettia di-
vidir tudo o que fosse recebendo pro rata ; o lega-
tario , promettia de satisfazer o prejuízo do herdeiro
pro rata (6).
No direito Juslimnneo não existia este legado ,
porque por elle forão todos os legados universaes
considerados como fldmcommissos universaes.
Temos também o íideicommisso universal em
contraposição ao fideicommissum singularum rerum.
Não só uma quota, como toda a herança podia ser
o objecto de uma deixa. Também com relação
a este íideicommisso no começo se sustentou o

(b) Ulp. XXV, 15.


UO DIREITO ROMANO rflIYADO. 821
principio de que o íldei.comtmssário era apenas um
snccessor singular. Pelo que lornavão-se necessárias
lambem para aqui as eslipulações para o caso de
restituição. A estipulação tinha lugar como quando
se desse o caso de venda da herança , stipulationes
<jmsi emlm et vendiia) hcreditalis (c).
No tempo de Neroeslabeleceu-se pelo Sctum. Tre-
beüiantm (d), de que logo que ao fldeicommissa-
rio fosse reslitaida a herança segundo a vontade do
teslador, se considerasse como herdeiro , cabendo-
lhe todas as ocções para elle , e contra elle como
utiles.
Depois appareoeu o Sctum. PegaSÍanum (e), pelo
qual se ordenou a deducção da Faicidia. QvaaAo
pois o herdeiro ex senalusconsulto Pegasiano faz a
restituição , isto é, logo que a quarta parle lhe não
fosse deixada livre, que não tivesse applicação al-
guma o Senatnscomultum Treheüianum. 0 íideicom-
missario era tratado como um Icgatcwm partiarius,
e faziào-se eslipulações qmsi partü, et pro parte (f).
0 resultado foi este no tempo da jonsprudeacia
classica ; se se deixavo livre uma quarta parle, se-
guia-se uma restituição ex Senátusconsultum Trcbel-
liano] se isso não tinha acontecido então ex sena-
tumnsuUo Pegasiano com eslipulações. 0 mesmo
acontecia quando o herdeiro não queria fazer de-

(c) Gai, n, 252.


(d) Panl IV, 2.
(e) Paul.'IV, 3.
(f) Gai. n, 25a.
DIB. 41
322 HISTORIA
ducção alguma, tendo então lugar as stipulationes
quasi emtw, et venditm hereditatis {g).

IV, RESTflíCCÕES LEGAES FEITAS AOS LEGADOS.

§ 93. Pela lex Fúria ninguém podia receber mais


do que ura legado de 1,000 asses (a); exceptis qui-
busdam personis; parentes até o 6.° gráo compre-
hendido ode sobrims natus (b). Todo aquelle que
recebesse um legado maior do que este deveria res-
tituir o quádruplo (c).
Estas disposições forão revogadas pela lex Falci-
dia {d). A possibilidade de deixar legados não
deixou porém de ter certas restricções.

CAPITULO VII.

Bona caduca; erepticiu, et vacantia

I, BONA CADUCA.

§ 94 . Com o proposito de abrir para o fisco um


meio de se enriquecer e procurar também um prê-
mio para o matrimônio e para a procreaçào dos
filhos declarou a lex Julia et Papia iPoppaea que

(j) Gai. 11, 255—257; Ulp. XXV, li. Consulle-se mais; Cai.
II: 258 , 259.
(o) Cie. p. Balb. 8 ; in Verr. I. 42 ; Gal. 1.1, 225.
(b) Vatic. frgm. § 381; Ulp. XXVIIl, 7.
(c; Gai. IV, 23 , 24.
(V) Gai. 11, 227; Paul. sent. III, 8.
DO DIREITO RO3IAR0 PRIYADO. 323
seria caduco, em cerlos casos, qualquer disposição
festamentaria a favor de alguém que a não adqui-
risse, pelo que vinha esta a caber então ao fisco;
cointudo não se impedia aos testadores, Jogo que
a caducidade tinha lugar ainda em vida destes o
fazerem outro testamento, pelo que se veio a dizer
estarem os bens in causa cadun, em perigo de
se tornarem caducos, visto ter o teslador a pos-
sibilidade de evitar a caducidade por uma nova
disposição (a). Os casos da caducidade são os
seguintes :
Sempre que ura de muitos collegalarios por qual-
quer motivo não adquiria a sua parte no legado [b];
porém estabeleceu-se que caducasse o legado só
depois de aberto o testamento (c); no caso também
de morrer o herdeiro ou legalario, ou de soffrer
uma rapitis diminutio imxima- ou media, antes de
ter adquirido, e sempre que a sua morte physica
ou civil tinha lugar antes da abertura do testa-
mento [d]. Assim também caducavão as disposi-
ções deixadas a favor daquelles, que não l vessem
seguido as determinações da lex Julia et Papia
Poppaea a respeito do matrimônio e procreação
de filhos. Porém os descendentes do testador até
o 3.° gráo erão eximidos da lei e podião sucee-
der como dantes pelo que delles se dizia que ti-
nhão jus anliquum in caducis (e). Os mlibes e

(a) L. un. § 2, 4. C. <le Cad. toll. (6,51).


í>} Gal. If, 206, 207; ülp. XXIV, 12; L. 7.1). delegat. II (31).
(c) ülp } VIV, 31.
rf) l'Ip XVII, 1.
Ulp. XVI1J.
324 HISTORIA
como taes erão tidos os homens de menos de 60 annos
de idade e as femeas de menos de 50 annos que não
erão casados, ou vivião em matrimônio prohibi-
do {/"), erão incapazes , e não adquirião o que lhes
fosse deixado em um testamento a menos que não
tivessem casado nos cem dias depois da morte do
testador (gr). Também erão acapazes as mulheres que
não tivessem passado a segundas nupcias nos dons
annos depois de viuva , ou dezoito mezes depois
de divorciada (/i). Por um Sctmi Pcrsivianum de
a. U. 787 (3-4 depois de L C.) determinou-se que
aquelles que se tivessem casado depois de comple-
tados os 60 annos sendo homens, e os 50 sondo
do sexo feminino não se livravão com isso da
pena do celihato (i). Porém um Sctum Claudianum
resolveu que o matrimônio de um homem de
60 annos o livrasse da pena do celihato se a mu-
lher com a qual elle casou ainda não tivesse os
50 annos [j); mas pelo Sctum Cahisianum do
tempo de Nero a. U. 814 (61 depois de J. Ch.)
não se concedeu o mesmo beneficia á mulher que
se tivesse casado com um moço, e até mesmo man-
dou-se que o dote delia coubesse ao fisco {k). Os
orbi só tinhão capacidade para adquirir metade
daquillo que um terceiro por disposição testamen-
taria lhes tivesse deixado (í), tornando-se caduca
tf) Ulp. XV 1,2,3.
(tf) Ulp. XVIT, 1; XXII, 3; Gai. Ií, 111, 144, 286.
(h) Ulp. XIV.
(t) Ulp. XVI, 3; L. 27. 0. dc nupt. (5,4).
ij) Ulp. 1. c.
(k) Ulp. XVI, 4.
(/) Gai. II, 286.
DO DIDEITO ROMANO PRIVADO. 325
n outra metade. Davno-se porém excepçoes: um
aborto era considerado como um filho neste caso;
o filho fnllecido podia ser considerada um filho
maior, ou dous filhos de Ires annos, ou três fi-
lhos post nomimm diem (m). A viuva que tinha o
seu parto antes de decorridos os dez mezes podia
adquirir tudo o que seu marido lhe deixasse (n).
Finalmente não era orhus, o homem antes de 25,
ou que tivesse mais de 60, e a femea de menos
de 20, e de mais de 50 (o).
A lex Junia Norhnna accrescentou ainda um caso
de incapacidade á lex Papia Poppaea declarando
os latini juniani por incapazes, e caduco tudo o
que lhes tivesse sido deixado em um testamento,
a menos que nos cem dias depois da morte do testa-
dor não tivesse obtido a civitas {p).
Se bem o caducam pertencesse ao fisco entre-
tanto ainda por muito tempo outros lhe erao pre-
feridos. Se por ex., o teslador tivesse nomeado seus
lierdeiros a parentes aos quaes cabia o jut aníi-
quum in caducios, a estes cabia o caducum (q); no caso
de não se darem taes herdeiros havendo porém
paires, isto é, homens que tinhão filhos legítimos,
recebião estes os bens caducos e é o que se cha-
mou jus pairum caduca vindicarc, preferindo por-
tanto os herdeiros, que tivessem filhos, a legata-
tarios se por ventura o incapaz não tivesse um

(m) Ulp. XVI, i.


(") Ulp. 1. c.
(<?) Ulp. I.c.
(p) Gai.I,23,2Zl;lI,ii0,276;I%(j2;Ulp. XVII, 1; XXH, 3.
(?) Ulp. xvnr.
326 HISTORIA
colegalario, que fosse também pai;.na falta de her-
deiros com filhos entravuo os legaíarios, de maneira
que só quando não havia um pai é que sucoedia
o fisco (r).
0 Sclurn Flaucianum do tempo de Vespaxiano ,
foi que ordenou que coubesse no fisco o jideicom-
mismm tmlum, o direito da caducorum vendica-
tio (s); e Antoninus Pius só a concedia aos parentes
do testador, porém não aos paires (í). Depois foi
a caducidade revogada. Constantino restituiu aos
não casados, e aos orbos a capacidade (u). Justi-
niano revogou a condição dos latinos junianos (531)
e em 534 a caducidade, mandando em geral que
tudo o que o herdeiro não podesso adquirir cou-
besse então áquelle que teria recebido, quando elle
não tivesse sido o nomeado (v).

II. BONA EBEPTICIA.

§ 95. Casos se dão em que um herdeiro, lega-


tario ou íidelcommissario se podia tornar indigno
de succeder ou de conservar a herança ou o legado
no caso de já ter recebido ou uma, ou outra cousa.
Aquillo que a pessoa indigna não podia receber ,
ou nao podia conservar, e que se chamava erep-
torium seguindo-se a Hugo, e erepticium segando

(r) Gai. n, 206 — 208, 286; Ulp. I, 21; XXV, 17; Fragm. de
jure flsd, § 3. ^
(í) Ulp. XXV, 17; L. 69 § 1. D. ad leg. Fale. (35, 2).
(t) Ulp. XVII, 2.
(m) L. 1. C. de infirm. poen. orb. (8. 58); L. un. C. Th, eod. (8,
16).
(y) L. un. C. de caduc. toll. (6,51).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 327
Cujacius, e lanobem caducum (a), vinhu a cahir ao
fisco, e por excepção tombem a outras pessoas.
Parece ter sido ainda a lex Julia et Pap^ Pop-
paea a que primeiro inlroduzio os primeiros casos
em que tinha lugar a indignídodo, e que os bens
não adquiridos pelo indigno fossem adjudicados
ao fisco (6); em lodo caso foi no tempo dos im-
peradores , que appareceu o maior numero dos
casos em que era algucra considerado indigno,
e que forão augmenlados até o tempo de Justi-
niano e ainda continuarão a vigorar por direito
Justinianeo.
Entre muitos casos pelo senalusconsultum Sila-
nianum era indigno o herdeiro que adisse a he-
rança, quando se espalhasse o rumor, que o tes-
lador tinha sido assassinado por um escravo, antes
de ter procedido ás devidas inquirições contra o
assassino ( ), Do mesmo modo ia o fisco contra o her-
deiro ou legatario se um destes occullamente e
para defraudar a lei se encarregasse de entregar
um fideicommisso a uma pessoa incapaz (d); e pelo
Sclum Plaucianum nem mesmo se lhe reservava a
quarta Falcidía (e], e por pena perdia lambem o

(a) Exemplo deste ultimo nome vem na L. 9, D. ad Sct. Sflan. (29,


5): do primeiro nome: Ulp. XIX, 17. Consulte-se a L. 26. D. ad leg.
Corn. de fals. {48,10); L. 49. D. de jure fisci (49,14); Cujaeii, Obs.
VI, 37.
(b) ülp. 1. c.
(c) Paul. sent. rec. III, 5 § 1, 2,10; L. 3 § 29; L. 5 § 2. U. ad
Sct. Silanian. (29, 5); L. 3. C. de his quib, ut iudign. (6, 35).
(íí) L 103.1). delegai I (30); L. 3 § 3, 4. D. de jure fisci(49,
14); L. 10,18 S1.; L. 23 D. de his quae ut iudign, (34, 9),
{«) Ulp. XXV, 17; L. li. D. de his qu» ut indig, {34, 9); L. 59
1. D. ad C. Falcid. (35, 2).
o28 HISTORIA
direilo aos bens cadueos , que por venlura se des-
sem pelo testamento sendo elle pai [si liberos ha-
beat) [[]. Pela indignidade os bens, que se deviao
adquirir erão tomados ao indigno, esta não com-
prehendia incapacidade como acontecia em casos
de caducidade (gi).

111. BONA VACANTIA.

§ 96. Consideravao-se bom vacanlia os bens todas


as vezes que não havia um herdeiro por direito
civil, que adisse a herança; porém depois com a
honor um possessio a agniçâo de um bonorum pos-
sessor bastava para que os bens se não tornassem
vacantes (a).
As res heredüara;, para as quaes não tinha ap-
parecido herdeiro, erão adquiridas por occupação,
e usucapio pro herede por aquelle que delles se
poresse de posse animo domini (6). Pela lex Julia
et Papia Poppaea fizerão-se modificações, e então
não cabião no oceupante arbitrariamente os bom
vacanlia, e sim ao fisco (c). Este novo direito de
successão do fisco foi contado no numero das suc-
cessoes per universitatem [d).

(/•) Ulp. XXV, 17.


(j) V. Vangerow, Leitfaden f. Pandektcn-Vorles. T. II, § 665.
Ia)1 Ulp. XXV111, 7.
(i ) Gal. II, 19.
(c) Ulp. c.; L. 96 § 5. I). dc legal. I f30).
(d) L. 20 § 7. D. H. P. (5, 3); Consulte-se v. Vangerow, Leitfaden
fner Pandekten-Vorlesungcn. T. II, p. 592.
DO direito romano privado. 329

L1VI10 IV.

DAS OUItltiACUES.

INTftODUCCAO.

§ 97. O laço, que prende duas pessoas de si


mesmo livres, e indepeudenles, e pelo qual uma
dellas se torna obrigada á outra por alguma
cousa, chama-se oblitjatio (a). Para que uma
pessoa se possa dizer verdadeiramente obrigada,
preciso é que contra ella se dè.a possibilidade de
uma coaccao: por quanto, se isso só depender de
sua vontade, então não o está ella juridicamente.
Esta coacção não é physica. A Übligatio, eaacíio
conscgaintemente estão tão intimamente ligadas,
que logo que se dê a primeira, e se não dè a se-
cunda, juridicamente se não entende, que haja
um credor, e ura devedor (6). Moralmente porém
Mando casos se dão, cm que se pôde usar da
expressão obligalio, semcomludo haver uma coacção
externa; assim é se por ventura a consciência do
devedor for a sua única coacção. São estas as obri-
gações naturaes, em contraposição as civis (c). 0

w t MPrD0dfpí5' («dll L 16 Si D. de «dei».


W Tè SMf. U'»» S 1. "• 6.
jur. (50,17). 41
DIR, ROM,
330 HISTORIA
essencial pois em uma obrigação é ser ella munida
de uma acção, como dissemos, e poder o credor
obrigar judiciariamentc ao devedor a satisfazé-la;
por isso dissemos que a coaceão não era physica,
Quando uma acção lem lugar, o que sempre
acontece logo que as obrigações são todas de direito
romano, assim como com muitas que forão ndopta-
dasjfum gentium[d), chama-se á obrigação obligalio
civilis, veí honorarm s. pmloria [e). Só com relação
a estas obrigações é que tem applicação a differenoa
que se faz de obligaíiones slricti júris, e bonce fidei [f].
As obrigações naturaes, por direito antigo, não
podião ser demandadas emjuizo; mas com o desen-
volvimento da jurisprudência essas obrigações,
ás quaes faltava suncção, vierão a obter depois uma
garantia; o que teve lugar primeiramente para
aquellas obligaíiones júris gentium para as quaes
ainda se não tinha dado uma acção e ás quaes se
concedeu força obrigatória [g). D'aqui apparecou o
contraste entre obligationes júris gentium, quce pa-
riunt actionem, e quce pariunt exceptionem tantum [h];
e são estas ultimas as que se podem chamar pro-
priamente obligaíiones natumles, não só porque
talvez fossem ellas, que dessem motivo a esta deno-

(d) L. 7 pr. S 1. D. de pact. (2, IZi); Gai. III, 132.


(«) § !• J- de obl. <3, 13J; § 1. J. de act. (/i, (j), L. 42
S 1. D. de O. et A. (M,7); L. 1 § 1 D. de novat. (46, 2):
L. 8 § 4; L. 11 § 1. D. de accepiil- (46, 8); L. 10 D. úe V.
S. (60, 16).
(/} L. 1. 7. D. de eo quod. certo loco (13, 4); L. 38 pr. D.
pro socio (17, 2); § 28—30 J. de act. (4, 6); Gai. IV, 160.
(g) L. 84 S 1. JD. de R. J. (50, 17).
(A) L, 7 pr. § l D, de pact, (2, 14); L. 5 § 2. D. de solut.
(46, 3).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 331
minação, como porque estão logo depois daquellns
obrigações, que tem uma acção para sua garantia:
e isto tinha lugar quando era conlrabído um pactum
nuidum[i], quando entre pessoas, que se achavão
sujeitas ao pátrio poder existia uma obrigação [j],
e em outros muitos casos (/c). Em sumraa, foi-se
ainda mais longe, e comprehendeu-sc as obrigações
moraes em um dar ou fazer, nas obligationes
natural es (/).
O objecto de uma ohHgatio consiste emdare,
faccre, prosstare (m). Dare aqui não signiüca sim-
plesmente entregar alguma cousa, mas transferir o
dominio quiritario quesobreella se tinha para o que
a recebe (n). Facere. Abrange Iodas as outrasobriga-
ções, excepto uma classe. Pertencem para aqui todas
as obrigações de tradição, instituição, ou exhibição
de uma cousa; em geral tudo o que não fôr um dare
no sentido já exposto, e que consiste era fazer,
ou deixar de fazer, por exemplo, operas, insulara

(i) L. 7. pr. g i. D. de pacL (2, íli); L. 5 § 2 D. de solut.


(40, 3): L 84 § 1 D. de K. J. (50, 17).
m L. 38 D. de cond. indeb. (12 , 6).
Ik) L. 13 pr. D. eod. ; L. 14 D. de O. et A. (44, 7, L. 21
S 2. D. de fidejuss. (46, 1); L. 50 § 2 D. de pecvd. (15, 1);
L. 5 pr. de auet.. tut. (26, 8); L. 21 pr. D. ad leg. Fale.
(35, 2); L. 64 pr. D. ad. Sei. Treb. (36, 1); L. 25 § 1. D.
quando dies (36, 2).
{/) L. 25 § 11 D. de hered. pet. (5, 3); L. 65 § 2; L. 32
s 2: L. 26 S 12 D. de cond. ind. (12, 6}; L. 4 D. ubi pu-
pill. (27, 2); L. 1 § 2 D. de tut. act. (27, 3); L, 12 « 3; L.
13 § 2 D. de adm. tut. (26, 7); L. 20 D. solut. matr. (24, 3);
L. 73 § í- D- de jure dot. (23, 3); L. 5 § 14 D. de agn. et
al. lib. (25, 3).
(m) L. 18 S 1. D- de acceptil. (46, 4); Gai. IV, 60. 131,
136; S J* de act. (4, 6); Gai. IV 2.
(n) Gai, II, 204; IV 4; L. 75 § 10 D, de verb. obl. (45,1).
332 HISTORIA
adifcari, pccuniam te mihi crediturum, etc. Prwslarc
é tudo o que não fôr dare, ou facere, e designa pena
ou indemnisação, que pódc ser pedida por direito
civil, O principal objecto da obrigação é ser ella
cumprida de maneira, que obriguef a que se dê;
ou faça [dare, facere). Differenção também os Roma-
nos nas obrigações o certum quando era determina-
da a cousa, objocto da obrigação; e o inccrtum,
quando isto se não dava (o). Neste ultimo compre-
bende-se, além de outras, as res tutorporaies (p),
e a obrigação ad faciendum, ou ad prmtandum
aliquid. (9).
As obrigações tirão sua origem vel ex conímctu,
vel ex delicio, vel proprio quodam jure ex variis cau-
sarum figuris (r). O direito de ocção nos negoclos
commuas da vida Civil tira a sua origem, sem duvida
alguma, de costumes antiquissimos, e só podemos
crer, que alguma cousa foi determinada pelas leis
positivas com relação aos contraclos formaes, e aos
delictos, Para as aeções das obrigações erapregaváo-
se as formalidades do processo, servindo para isso a
legis aclio sacramento, ou per jiidicispostutationcm (s).
Cedo porém instituio-se para as acçòes que tinhão
por objecto um dare, um processo particular, a que
se chamou por uma denuníiatio, que nelle appare-

(o) L. 6 D. de reb. cred. (12, 1); L. 7ZÍ § 1; L. 75 pr. D.


de verb. obl. (15, 1).
(p) L. 75 § 3. D. de verb. obl. (15. 1).
1 i/) L. 68, 75 § 7 D. de verb. obl. (15, 1).
(r) Gai. UI, 88: L. 1, 1, 5 O. de obl. et act. (11, 7) ; § 2
J. d" obl. (3, 13).
(í) Gai. IV, 13, 20.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 333
cia, legis adio per condidionem (í). Esta foi introdu-
zida em primeiro lugar pot uma lex Silia para as
accões, que tiuhão por objecto uma certa pecunia, e
depois pela lex Calpurma ás accões pelo dare de qual-
quer certa res («]. Para aquellas accões cujo objecto
era um faccre permaneceu a legis adio sacramento,
e per judieis postulationem ainda por muito tempo
era uso. Depois das legis actiones appareceu o pro-
cesso formular. 0 pretor marcou para aquellas
obrigações, que já geralmente erão recoubecidas
como taes as formulas da acção^'), e do mesmo
modo para aquelles negocies, que ainda não tiuhão
occorrido na vida civil, e que, entretanto, se re-
conhecia deverem ter direito a uma acçao. A acçào
chamava-se neste caso adio utilis, ou fidilia em
contraposição á adio directa, ou vulgnrh [x]. Para
outros casos indicou o pretor factos determinados,
para os quaes daria elle uma acção de cada vez: foi
assim, que liverão origem as actiones in fadum do
direito pretorio (y). As outras formulas em um
dare, e darefacere op por ter o, tiuhão um nomecom-
—condictiones (z). Este nome derivou-se da
legis adio per condidionem, elle porém não é correcto;
por isso que uma condictio, isto é, uma denuntiatio,
nao tem lugar nestas formulas (aa); porém a nova

(0 Gai. IV, 12, 18; Festus v. condictio.


{«) Gai IV, 19 20.
(n) Gai. IV, 11, 33, Íi6, 47.
(a.) Gai, iV, 37, 38; L. 11, 21 D. praesc. verb. (19, 5).
(j/í L. 25 § 1 D. de oblig. et act (44, 7); Gai. IV, 46; S
8—12. J. de act. (4, 6).
(z) Gai. IV, 5.
(aa) Gai, IV, 18.
334 HISTORIA
rondiclio coroproliendia os mesmos casos da an-
tiga, e mais urna classe de casos, isto é, as
accões em um incertum (com dare, facere], em-
quanto que a antiga sómeute era por um certum
[ccrla pecmia, ou alia certa res). Á obrigação civil
quando possível de ser provada podia ser deman-
dada com uma condiciio, e isto quer ella tirasse sua
origem de um contracto, de ura delicio, ou de
qualquer outra causa [bb]. Assim pois, qualquer
obrigação de direito civil para pagamento de uma
quantia podia ser intentada em juizo com uma
condiciio, por se tratar sempre de um dare (cc). E'
verdade que mais commumente se lançava mão da
acção própria das obrigações ex contractu, ou ex
delicio. 0 dare propriamente dito exige um certum,
uma certa res corporalis, a jurisprudência porórn
fez applicação lambem da condiciio para certas
especies de incertum, isto é, como uma acção para o
dar, ou para restituição ideal de uma res incorporalis;
era assim que tinha lugar uma condiciio incerti para
que se consentisse, ou para que se estabelecesse uma
servidão {dd). Não tinha porém lugar intentar-^e
o processo com uma condiciio incerti sobre um
incertum, que consistia em ura facere (ee). A acção
por um dare exigia, que o A. ainda não estivesse

{bb) L. 9. pv. § 1. 2. 3 D. si certum pct. (12, 1); L, 28 S


U D. jurejur. (12, 2).
(cc) L. 11 § 2. D. de act. emtí (19, 2).
(dd) L. 3ò pr. D. de serv, praed. urb. (8, 2); L. 22 § 1,
D. de cond. indeb. (12, 6); L. 8 pr. D. de act. emti (19. 1):
L. '5 § 3 D. de íerb. obL (45, 1).
(ee) Pr. I. de verb. obl. (3, 15); L. 24 D. de reb. cred.
(12, 1); L. 4 pr. D. de ttsur. (22, 1).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 335
senhor do objecto. Uma cousa própria por conse-
guinte não podia ser demandada com uma condiclio;
dava-se entretanto uma exeepção para as cousas
roubadas {ff), e a jurisprudeuoia a ampliou a todos
os casos, quando alguém demandava cousa sua,
que outro possuía por um delicio, ou motivo
[99]' Quanto ás outras acções de direito civil
nas quaes o que pediu o A. era outra cousa, que não
\ymdare, davão-sedous casos, n'um em que se pedia
uma cousa certa, n'outi'o uma cousa tneerta ; dah'
vem a differonça, que se fez em formula certa,
e formula incerta [hh).

CAPHTLO I.

Das obrigações ex-contractu

I. DOS CONTRACTOS DOS ROMANOS EM GERAL.

§ 98. Temos a tratar aqui daquéllas convenções,


que entre duas pessoas estabelece uma obrigação.
Não é toda e qualquer convenção pela qqal alguém
se obriga para com outrem, nem toda e qualquer
promessa, que se faça, um contracto por direito
romano. Ainda mesmo antes de se dar a existência
de uma jurisprudência já muitas convenções erão
consideradas pelo direito costumeiro como tendo

[ff) Gai. IV, 5; L. 25 pr. D. de oblig. [hk 7),


ií/y) L. 1 § L L. 2 D. de cond. trit. (13, 3); 1 25, 26 D. de re
aiuoi. (25,2); L. 2 § 26 D. de vi bon. rapt. W, 8); L. 54 pr. § 1.
D. de furt. (47 , 2).
[hh) Gai. IV, 54. 131, 136.
336 HISTORIA
uma accao ; e depois pelos ediclos forão providas
com formulas particulares, taes erão ; a cniptio wn-
ditio, locnlio conducíio , mandatum, socictas, fiducia,
mutuum, commodalum, depositum, pignus. Estas
especies de convenções eráo chamadas particular-
mente contractus (o). Havia também a Sfypuíaíío, por
via da qual podia alguém obrigar-se por qualquer
cousa a outrem. 0 seu caracleristico consistia no
lado unilateral do cumprimento obrigutorio porella
estabelecido (6). No contracto litteral era preciso
uma especie de escriplura pela qual uma pessoa se
obrigasse a outra por um certo pagamento. Os qua-
tro contractoscmptio vimdiíio, locãtio conduvilo ,
socictas, mandatum s&o àe ÍSil natureza, que ficava
o negocio concluído logo , que os contrahenles es-
tivessem de accordo; tirando assim a obrigação sua
origem do simples consentimento (c). Quanto po-
rém ao mutuum, commodatum, depositum, pignus,
e fiducia , preciso é que a cousa tenha sido trans-
miltida para. que principie o negocio.
Os contractos do antigo direito civil erão de quatro
especies: conlracius vèrbis, liiteris , re, et con-
sensu [d); as duas especies ultimas podem ser
consideradas como excepções das duas primeiras.
Segundo os princípios do antigo direito ci il, para
que os contractos obrigatórios tenhão uma acção era

(a) Cie. de off. 111,17; L. 1 § 4; L. 7 pr. § !• D- de pact. (2, la);


L. 1 pr.; L. 2. 3. D. de praescr, verb. (19, &)•
(b) Gai. nr, 137.
(c) Gai. 111, 135. 136.
(rf) Gai. III, 89; § 2 I. de oblig. (3, 13); L. 1. D. de O. et A.
(44,7).
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 337
preciso , que se servissem de certas formulas, uma
vocal, o contractusverbis, do qual nascia a verborum
tíbligatio; e a outra por escripto, o contractus lilleris
donde provinha a litteranm obligatio. Desta regra
porém Gvccptuão-se oitoconlrnctos , que se dividem
em duas classes: os re contractus (contractos reaesj
dos quoes já fallámos, e são o mutuam: empréstimo
de cousas firtigivcis, e que não inspecie, masque
em igual qualidade, e qunniidade, deve ser resti-
tuido, a que também se chama res creditce (c). 0
commodatum: e é quando uma cousa especial é dada
para o uso de ou trem , porém de maneira , que essa
mesma cousa, e não outra, embon, igual, deve ser
restituidu {[], e se chama ao que empresta com-
modam s. conmodator, ao que recebe conmoda-
taríus. Deposüum s. commendalmi; e é quando
se dão cousas moveis a outrem para guarda-las , e
são acceitas (gi): e ao que dá chama-se deponens s. de-
posilor, e ao que recebe deposilarius [h), se bem
esta ultima expressão seja algumas vezes lambem
empregada para denotar aquello [i]. Pignm, con-
tractus pignoralüim; e tem lugar quando se dá um
penhor, pignm (>), quer seja a cousa uma res mo-
■ 'i -J ' 'i,-11 ■ ■ —""i ^ . r -i , .
(í) Gai. Kl, 90; pr. I. quib. mod. re (3,14); L. 2,3 D. de reb.
crod. {12, t); L. 1 § 2 D. de O et A. (Uti. 7).
(/) 8 2 J [uib, mod. re (3, IA); L. 5 § 12 D. commtid, (13, 6);
L. 1 § 3. D. de O. et. A. (A/l, ).
ig) S 3. J. quü). mod. re (3, IA); L, 1 pr.; L. 2A D. depôs.
(16,3).
(A) L. 1 S37 D. eod,; L. net. C. eod. (A, 3A); L. 19 C. de usur.
(A, 32).
(i) L. 7 S 2, 3 D. depôs. (16, 3); L 2A § 2 D. de bon. auet. Jud.
poss. (A2, 6),
(/) S A J. quib. mod. re (3, IA); L. <>, 39, A3 pr. I). dc pign.
íjCt. (13, 7).
mn. ao*. àS
IIISTOHJA
hilhj quer i/iuiwbilis. Ora como por estes cotitraclos
rceebe a pessoa causas-, que tem responsabilidade
de restituir é preciso, que elle de facto as tenha re-
cebido : reipsa canlralútUr uhíujalio {k). Os consunm
contraclus (contraclos consensuaes) que são : emptio
vendilio; contraoto bilateral pebqual um conlrahen-
le, o vendedor, venditor, transfere o domínio , ou
outro qualquer direito aJienavel para o comprador ,
emptor, que promelte dar por isso uma certa quantia
de dinheiro como preço, pretium. Na lei das XII Ta-
boas usava-se ã&eiiiplio vendilio para qualquer aliena-
ção (Tj; e os Proculoianos e Sabinianos disputavão
ainda se apefmwíaíto, trooa, devia ser considerada na
emptio vendilio (m). Localio tonduetio: neste contracto
um dos conlrahenles, o locutor, ou cede o uso de uma
eoasa,ou esta então serve, e o outro, conductor, pro-
melte pagar uma quantia absoluta ou relativa como
merces (n): propriamente são dous contractos e seus
objeclos mui diíferentes : localio condudio rerum (o) :
locatio conductio operarum [p], Mandalim: contracto
este pelo qual uma possua toma a seu cargo curar
de certos negocios do que outro o inoumbio, epara

{k) Gai. III, 132; IV, 116; § 2. J. de except. (4,13); L. 2§2;


L. 11 § 1. D. de reb. cred. (12, 1); L. 1, 2,9. C.denonnum.
pec. (4, 30).
(/) L, 29 § 1. D. de stat. lib. (i0, 7); Festus v. censui eensendo,
e VewUcativnes.
{ni) L. 1 § 1, D. de contr. empt, (18,1); Gai. III, §141; §2
J. de locat. cond. (3, 2a).
(n) Gai. m, 142—lií; pr. § 1. 2. J. de locat, cond. (3, 24);
L. ~
{p) b. Ipr, D. si mensor. (11, 6); L. 38 § 1 D. locati (19, 2j;
L. 5 § 2 D. prsasa, vcrb. (19, 5); L. 1. pr. §5,7, D. de esuaofd,
cogn. (50 > 13).
1)0 DIREITO ROMANO PRIVADO. 339
o que deu-lhe poderes (ij). O ultimo cliaraa-se man-
danss. inandator, aquelle mnndntarbi* s. procuraíor,
também chamado cognitor , quando o mandante
comparece com elle em jiii/Oj e nlii verbalmente
o declara seu procurador [/j. Soeietax: conlracto
pelo qual todos os socios, cujo numero é dlimi*
tado, estão uns para com os outros como cre-
dores, e devedores, lendo todos a mesma acçao,
aetio pro sono , que pôde ser intentada por um dos
socios contra outro (s).
Todas os outras convenções obrigatórias , que não
erão contractos ficarão com o nome geral de poefo,.
Estes em regra não davão origem a uma acção,
a menos, que por lei lhe não fosse isso conce-
dido (í). Nos pactos que não tinhão um direito de
acção eslavão comprehendidos todos aquelles ne-
gócios pelos quaes uma pessoa se obrigara a outra
sem que esta por isso tivesse prestado ou tivesse de
prestar alguma cousa. Estes portanto quer fossem
Juridicamente obrigatórios , doverião ser vestidos
com uma slipulalio (u). Alguns delles porém mesmo
sem a stipulaüo obliverào um uireito de acção ; como
por direito pretorio , o pacto hypothecario (ü), e o
— T * iri" " 1 M ' 'I 1 'I
1
(g) S nn. J. de obl. «lua ex cous. (3, 22); L. 1 pr. § 1. 2: t. C
S 2, I. 18. Ü. mandati (17,1) ; L. 60 D. de A. J. (50, 17); L. C.
C. roandati (4, 35); pr< § 1—6 J, eod. (3, 26).
(r) Gai. tr, 83, 84; Vatic. Frgui. § 313—319; Festus v.
cognitor; h. 1 pr. D. de procurai. (8, 3).
(3) l. 31, 32 D. ptosodo (17, 2).
(/) h. 6, 7, S 4, 5 D. de pact. (2f 14).
(m| L. 11 D. de elig. (11,7); L. 14, 21, 27, 28. C. de pact.
"(v) L. 1 pr. II. de pign. act. (13, 7); L. 4 D. de pignor. (20, 8);
L. 17 §2 D. de pact. (2, 1$.
3^0 HISTORIA
comtitutmn de divida própria,, ou allieia (a;), e por
direito moderno também a promessa de um dote ,
ou doação. Todos ospados introduzidos pelo Pretor,
e baseados simplesmente em uma promessa linlião a
acção preteria , a adio in facto , ou prescriptis verbis,
segundo a sua origem , a qual como pertença a um
tempo mui remoto , não soffreu modificação de
maior. S6 algumas acções como taes linhão um
nome particular.
Nesta classe pertencera do mesmo modo os con-
trados imominados dos modernos, osquaes em parle
poranologia com o contractus re [y], e em parte com
oconlradus consensu erão assim chamados, e reali-
sadospela adio in fadum, oa prescriptis verbis (2]. Os
jui-isconsultos romanos por interpretação derão uma
acção para muitos casos em geral, e também aos con-
tractos do ut des, do ut fadas, fado ut des, fado ut
fadas (aa). Por interpretação também dos juriscon-
sultos concedeu-se uma acção para os pada adjeda.
Finalmente no tempo dos imperadores por autori-
dade imperial recebeu direito de acção opadum de
donando [bb). Porém do tempo dos imperadores
especialmente semenciouão os contractosmodernos,
contractus emphyteuticarius, e suffragii [cc].

{(c) L. 1 D. de peciin. const. (13, 5); § 8, 9 J. de action. (4, 6).


fj/i L, 1 S 2. D. de rer. perm.
(«) L. 3 D. eod.; L. 7 S 2 c 3 § 7 e seg. de pact. (2, 14).
(rt«) I* 5 pr. § 1 seg. de pruíscrlpt verb. , 'o „ . . .
(bd) L. 35. c. de donat. et de dotando; u. 6. C, de dot.
(cc) Cod. IV, 66.
I.-'
60 DIREITO ROMANO PRIVADO. 341

II. DA STIPULATIO.

A. — Princípios geraes.

§ 99 A súpiilalio teve origem nos primeiros


tempos (a). É um negocio soiemne com perganlas
e respostas, e pelo qual uma pessoa se obriga
para com outra condicionalmente, ou sem con-
dição (6). Dare ccntum spondes? spondeo. Dabis ?
dabo. Promütis ? promitto. O essencial de uma
stipulação não estava em certas e determinadas pa-
lavras, e dahi vem poder-se stipular até mesmo era
diíTerentes línguas, mas na concordância material
das perguntas e respostas, devendo o aclo ser em-
prehcndido porpessous, que estivessem presentes.
Pelo antigo direito muito importava saber, que
verbo era empregado na stipulação. Assim por
exemplo a expressão — dare spondes só podia ser
empregada entre cidadãos Romanos, emquanto
que as outras slipnlações erão pemilUidas também
aos peregrinos (c). Leo I. ordenou, que tivesse a
stipulação validade ainda mesmo qmmdo se não
tivesse slipulado solemnibus et directis verlm (d),
, ,, —- ■ ■ 1 11 1
''1 1" l
vi ,
(a) Quanto á derivaçltü da palavra stimdatio: Varro de rtng. lat.
ed. Mditer V, 182. «Ifoc Ipsura stipenaiam ab stipe dictum, quod
aes quoque stipet" diccbaut; uamqiiod asses iibrales pondo erant,
cral acceperant majorem numerum non in arca ponebant, sed iu aliqua
celta stípabani, id est componcbanl, quo minus loci occuparet; ab
stipendo stlpem dicere coepcrant, Siipes ab srci^ti fortasse Graeco
verbo. Id apparet, quod ut tum institutum, ellain nunc diis cum
ibesaurls asses dan* stlpem dicunt et qoi pecuniam alligat, stipularí
et restipulari. n Vestus v. Stipcm. Isidor. Orig. V, 24.
b) Gai. III, 95—127.
(c) Gai. ÍII, 93 , 94.
(d) L. 10. C. de conlr. stlp. (8,38).
3Zl2 HISTORIA
Invtilís ern a stipuloção não só quando feila por
surdos, rnudos, e ausentes étc. (e), como por falia
de concordância nas palavras e respostas (/"). Assim
devia a slipulaçâo ser feita cora todos os requisitos,
e se não devia stipular cousas impossíveis (g). Fu-
riosos e escravos não podião stipular (/i), só o
podiâo fazer, estes ullimos, para seus senhores (i).
O infans (j], o impubes, n mulher não se podião
obrigar sem a auctorilait tutoris (/«). A obrigação
não podia ser promellida a bem de ura terceiro (I).
Entretanto para que um terceiro adquirisse direito
ao cumprimento da obrigação promellida chamava-
se a pessoa que pela stipulnçáo se tinha feito pro-
raetter o mesmo que o seu mandatario lhe fizera
proractter para si, adstipulator, mas nao que ella
para si adquirisse cousa alguma, pois que devia
entregar ao mandatario, ou a seus herdeiros.

B. —Daijuellos negócios, que çostumão ser feitos


sob a fôrma de uma slipulatio.

i. das doaçoes.

§ 100. Doação, donatio, s. mtm/séaquelle volun-


tário e espontâneo enriquecimento de um terceiro
a custa da diminuição por nós feita em os nossos
l
"" x * -1 ■ ■
[e) Gai. nr, 105.
(/■) Gai. m, 102.
ig) Gai. In, 97—109.
(A) Gai. m, 106.
(0 S 2. L de stip. serv. (3, il).
(j) Gai. 111,109.
(A) Gai. 111, 107, 108; § 9 I. de inut. stip. {3, 19).
([) Gai. III, 103; § 8 1. de inul. slip. (3, 19).
DO DIREITO ROMASO PRIVADO. 2á3
proprios bens, e por direito romano liavião muitos
fundamentos de nullidade nas doações, ultenden-
do-se a serem ellas actos de liberalidade, e que
muitas vezes podiâo ter sua origem não por uma
vontade nobre de fazer bem, mas da fraqueza,
vaidade, precipitação, ou prodigalidadeJ
A rcstricoão mais antiga feita ás doações era sem
duvida alguma a nullidade das doações feitas entre
marido e mulher. Talvez depois se seguisse a regra
estabelecida no edicto sobre a actio Fauliana de que
bastava, quanto ás doações feitas por um devedor
insolvente em prejuízo de seu credor, simpies-
menle a lesão do credor para que facilmente
fosse nulla (a).
As rcstricções porém mais importantesforão as da
lex Cinda a. ü. 550 [b]. Esta lei prohibio aos credo-
res, que como advogados se apresentavão por
outros, receberem por isso doação alguma (r) , e
marcava provavelmente a pena do crimen repc-
lundanm (d), a qual porém foi substituída por
Augusto pelo quádruplo da quantia recebida (e). En-
tendia-se lambem por uma doação a paga , que se
fazia aos advogados pelo seu trabalho; entretanto
um Senatusconsulto do tempo de Claudo pormittia
aos advogados exigir um honorário até a quantia de
10,000 sostercms; incorrião porem na pena do cri-

(«) L. 6 § 11: L. 17 § 1; L. 25 pr. D. quae in fraud. cred, (42, 8)


L. 5, C. eod. (7, 75).
(4) Cie. iu Cat. maj. c. 4;de Orat. II, 71.
(c) Tacit. Ann. XI, 5 ; XIII, 42; XV, 20.
(«') Tacit. íVnn. Xi ti, 7.
(e) Dio Cass. I,IV, 18,
244 HISTORIA
mm rcpctuiularuin no caso de excedei* esta soinma [{].
Posteriormente parece ter esta proili bicão da Lex
Cinda cabido em desuso, porque n^o seacha mais na
jurisprudência romana outra restricção feita á libe-
ralidade da parte contra o seu advogado, senão con-
siderar-se nullo o prometter-se ao advogado antes de
acabado o processo uma recompensa no easo de se ga-
nhar, palmarium (g), ou uma parte no ganho, quota
litis (ft). A principal restricção feita pela Lex-
Cincia foi, que a promessa de fazer uma doação só
por si não a tornava obrigatória, e que só valerião as
doações, quando já feitas; mas logo que excedessem
á quantia marcada era nulla ij). No primeiro caso
para que uma cousa fosse doada era preciso, que
fosse infallívclmente transferida a sua posse. Se era
uma res mancipi exigia-se uma mandpalio , ou in
jure cessio (k); porem não bastavâo aqui estas for-
mulas sem uma verdadeira traditio (/).
Sobre o máximo das doações marcado pela lex
Cinda fallão-nos completamente todas as informa-
ções, tendo assim só lugar hypotheses vagas. De que
foi provavelmente marcado poresta lei 20,000 sester-
ciosdecidio Liebecora razões bem fundadas. Liebe
faz diíTereuça entre mmera solemnia , o donationes

{/•) Taclt. Ann. XI, 7.


(íó L. 1 § 12 I). de extraord. cogn. (50,13).
(4) L. 5. C. de postul. (2, 6); L. 3. C. Th. cod. (2,10),
(t) Vatic. Frgrii. §263, 266, 268, 285, 293, 294, 297, 310—316.
0) UIp. 1,1; Paul. sent. rec. V, 11, § 6; L. 9 § 1; L, 11, 21
§ 1; L. 23 pr.; L. 24, 34 § 11). de donat. (39, 5); Vatic. Frgm.
§ 266, 304, 306,
(£) Vatic, Frgm. § 293, 313.
(0 Vatic. Frgm. § 293,310, 311.
»0 DIREITO KOMANÜ FRITADO. 345
propriamente ditas. As primeiras sao segundo elle
presentes pequenos feitos em certas oecasiões (m);
áonaíioncs porém são dadivas grandes, nas quaes se
tem em vista o interesse pecuniário («). Diz elle ser
o fim daLex Cinda evitar, que os presentes, a que
uma parte dos cidadãos era obrigada a fazer pelos
costumes, se convertessem em verdadeiras dona-
tiones. Assim , logo que a dadiva fosse ura immo-
dicus munns deveria valer como doação, donaíio (o).
Havia certas pessoas , pcrson® legis Cinrm ex-
cepío, que erâo isentas por esta lei; e não tinha lu-
gar contra ellas a revocação da doação pelo excesso
da quantia (p) ; sem vigor ficava tarabem a txceptio
legis Cinda'- contra a promessa , promimo, de uma
doação por via de stipulação formal (q); epara serem
perfeitas as doações não stipuladas bastava simples
maneipação de uma res mandpi, sem que tivesse
lugar a traditio , ou vice-vorsa a traditio sem a
maneipação; (r) e quando a doação era feita por
uma mulher nao se exigia a audoriM tutoris para
que ella fosse perfeita (s). No numero destas pessoas
estavão os parentes até o 6.° gráo, o sobrinus e
a sobrina , e todos aquelles que se acha vão sob o po-
der destas pessoas ; os affins ate o grão , ma-

(m) L. 12 § 3 D- de adm. tut. (XXVI, 7), Solemnia munera


parentibvis cognatisque mittet.»
(n) L. 194 D- de vwb, aign. (50,16).
(o) L. 31 S 3 I>. de donat. int /ir. et uxor. (26, 1) «Si vir uxori
munus immodlcum Kalendis Marliis aut natali die dednsel, donatia
esL »
(p) ülp. I, 1.; Vatic. Frgm. % 249, 304, 306.
{a) Valic. Frgm. § 263, 310, 311.
(r) Vatíc. Frgm. § 263, 310; L. 4 C. Th. de donat, (8,12).
(í) Vatic. Frgm. § 259, 264.
DIII. ROM, kí

L
3/iG msTOKU
rido e mulher, o noivo e a noiva, o tutor com re-
lação ao puplllo , os libertos com relação aos pa-
tronos , e finalmente com respeito a um dote todos
os cogoudos entre si sem consideração alguma com
os gráos (í).
No tempo dos imperadores tornou-se costume («),
que o aclo da doação fosse notificado pelo magis-
trado no registro publico [v]; e foi isto conservado
pelos imperadores , que se seguirão («) , mesmo en-
tre aquellas pessoas, que do tempo de Antoninus
esta vão isentas da umncipação, ou Íruííiíio (y). Em
A28 porém a donaíio ante nuptias, que não chega vão
a 200 solidi estava isemplo desta formalidade (z).
N'uma ordenança do anuo 316 além da insinuação,
prescreveu Constantino mais duas formalidades :
que se passasse um documento da doação perante
testemunhas; e que a tradilio tivesse lugar também
perante testemunhas (aa). Isto que não era marcado
por lei nao passava porém de um conselho. A tradilio
entretanto [bb), ou quando erào res mancipi, a man-
cipalio [cc], perrnanecêrâo sempre como essên-
cia es.
Justiniano ordenou, que a insinuação das doações
fosse considerada como essencial; porém íicavão

(í) Vatlc. Frgm. § 295—SOS.


(m) Vatic. Frgm. § 266, 268.
iv)1 L. 1. C. 'i'!). de sponsal. (3,5).
(a ) L. 1. 3. 3. 6. 8 § 1. C. Th. de donat. (8, 12); L. 30, 32. C.
de donat. (8,54).
{y) L. 5. C. Th. de donat. (B. 12).
(-) L. 8. C. Th. de sponsal. ('A, 5).
(aa) Vatic. Frgm. S 249; L. 1. C. Th. de donat. (8,12).
(bb) L. 8. C. Th. de donat. (S. 12).
(ce) L. 7. C. Th. de donat. (8,12).
RO B1RS1TO ROMANO 1'RITADO. M7
isemptas desta formalidade aquellas doações que
não excedessem de 300 solidi e depois até mesmo
500 (dd).
II. DA FIANÇA.

§101. Por fiança , satisdatio, entende-se o pro-


ineller alguém por uma stipulatio, responsabilisar-se
por uma divida estranha (a). Os Romanos linhão
para essa stipulação três formulas diílfirentes, polas
quaes diüerençavão-se os fiadores em spomorcs,
fidepromissores, e fidejussores (6). Os dous primeiros
diffcrençavão-se dos segundos nisto : que elles só
se podiao responsabilisar por uma obrigação ver-
bal , e estes por todas e quaesquer obrigações até
mesmo por uma obrigação natural (c). O devedor que
quizesse dar fiadores devia fazer publico o seu nu-
mero , e por quanto elles se responsabilisavão (d) ;
e uma lex Cornelia introduzio para todas estas tres
classes que nenhum delles se pudesse responsabili-
sar pelo mesmo devedor , para com o mesmo cre-
dor , no mesmo anno, e por mais de 20,000 ses-
tercios [e). uu • a
Pelo antigo direito estava ao iivre arbítrio do
credor demandar o devedor, ou o fiador; se porém
escolhia este ultimo ficava aquelle livre (/")•, e depois

{dcFj L. 3Zi pr.; L. 36 § 3. C. de dònat. (8, 5li); S 2. I. áe donat


'(a) L. 1 § 8 D. de O. et A. (M, 7).
Ib) Gai, III, 115, 116-
(c) Gai. III., 118,119-
(d) Gai. IU, 23.
U) Gai. III, 124, 125. „ , „ .
tf) Pàul. sent. rec. II, 17 § 16' Gai* "1,180, 181.
niSTOHIA
foi modificado , não só o primeiro [g)t como este se-
gundo principio (/»). Se o fíador foi obrigado a pagar,
podia exigir depois com a actio mandati indemnisn-
ção do devedor; os sponsores tinhão também neste
caso além disso, pela lex Publilia, a actio depensi, que
tinha quasi todas as vantagens da actio judicati [i], Se
havião muitos fiadores por uma divida podia um
dellesser demandadoeirdepois haver indemoisação
do devedor, isto também foi modificado: primeira-
mente por uma lex Apulya publicada também para
as províncias (e do sexto século de Roma) a qual de-
terminava , que logo que, um dos sponsores, ou
fide-promissores tivesse pago toda a divida, podesse
exigir de outros uma indemnisação proporcional (j).
Depois publicou-se uma lex Faria, e por ella o spon-
sor, ou fideprondssor só tinha a entrar com uma
parte proporcionada ao numero dos outros fiadores,
que ainda vivessem, e aquelle sponsor, que tivesse
pago mais podia exigir restituição do proprio cre-
dor [k). Um rescripto de Adriano epístola divi Ha-
driani estendeu esta determinação também aos fide-
jussores, porém no caso de poderem todos pagar (/).
Finalmente vigorava também mais esta diflérenoa
que com relação aos sponsores e fidepromissores a
obrigação não passava para os herdeiros; e mes-
mo na pessoa dofiador segundo a lex Fúria na Italia

(áO L. h. c. quando fisc. (4, 45); Nov. 4 c. 1>


(A) L. 28. C. de fidejuss. (8, 41).
Ó) Gai. III, 127; IV 9, 22, 102, 171, 186.
(7) Gai. III, 122.
{k) Gai. in, 121; IV 22.
(/) Gai. 1. u.
no direito nosuno privado.
só durava ella dousannos; quanto porém aos fide-
jmsores era isso ditierenle. Todas estas diffe-
renças acabarão com o direito Justinianeo, e nelle
só ó questão dos fidejossores (m).
Pela fragilidade sexus muliebris deve-se suppôr ,
que ntercedendo as mulheres multas vezes por
seus maridos, e com leviandade Augusto fôra levado
a prohibir-lhes dar fiança por estes [n]: e pelo se-
mtusconsultum felteianum do tempo de Cláudio
não podiao ellas dar fiança por qualquer pessoa,
que fosse (o) com pequenas escepções.

III. LITTERARUM OBL1GAT10.

§ 102. No tempo da republica todo o cidadão


arranjado e economico fazia a sua escripturação com
a maior ordem e clareza possível, servindo-se de
tantos livros quantos erão precisos aos seus negó-
cios. São destes assentos, que fazia todo bom pai de
família, donde tira sua origem a obrigação litteral [a].
Haviao dous livros, o simples diário, adversaria, e
o livro de receita e despeza, rationesdomestica; oa có-
dices acccpti, et expensi. Neste ultimo escrevia-se cada
mez, tirado do primeiro, as entradas, e sabidas; e
assim o que se devia acreditar ao dono do livro es-
crevia-se como despendido com o outro , expensum,
e o que devia ser acreditado ao outro , debitava-s©

(m) Tit. L de fidejuss, (3,2®.


òi) L. 2 pr. D. ad Sct. Vclleian. (16, 1).
(o) L. 1 § l.;L. 2 § 1. D. ad Sct. VeMau. (16,1),
(p) Cie. pro Rose. Com. 2. 3.:, pro Cluent. 30; in Verr. I) 23, 36.
330 HISTORIA
ao dono do livro, acceptum. As expressões leclmicas
são: expensum ferre, ou expenúlatio, e acceptum
ferre ou acceptilatio. Talvez fossem esses artigos—
ou entrados—o que se oliumasse nomina; expressão
esta, que depois se estendeu a todas as obriga-
ções.

Se pois a escripturação foi feita de maneira , que
a outro notamos como divida activa, aquillo que
elle por qualquer negocio nos estava devendo , ou
o que tinhamos a haver de um terceiro, por este
nomen franscriptiíium desapparecia a antiga divida,
que era substituída pela obrigação litteral [b]. Isto
porém exigia , que ambos estivessem de accordo;
e quando por ventura fosse negada recorria-se en-
tão neste caso á stipulação , e principalmente ás
provas, como em qualquer contracto: este era
o motivo por que ordinariamente se procedia a este
accordo perante testemunhas.
Parece que ainda no tempo de Gaius esteve em
uso esta fôrma de conlructo; porém nao mais no
■4.° e 5.° séculos {d]. Finalmente a escripturação dos
livros de contas não se referia mais a uma divida
transcripta e sim a um empréstimo fe to a dinheiro:
e a isto chamou-se arcarium nomen, e se não dava
origem a uma obrigação litteral servia para prova : a
obrigação ficava estabelecida já pela ennurae-
ração (e).

(b) Gai. III, 128, 129,130, 133, 137.


(c) Tlieopli. In, 21, pr.
(d) L. 1 D. óe ann. legal. (33, 1).
(#) Gai. III, 131,132.
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 351
Excepto esta fôrma de se obrigar por uma escrip-
tura outra não conhecião os ílomanos. Mas já nao
era assim com relaoao aos peregrinos ; e é este o
motivo porque se considerou de alguma maneira
como um contracto lilteral para elles a obrigação
que provinha de um Chirographum ou
Syngrapha, (su^^) [f).
Gaius nada diz cora relação á differença entre
tyngrapha , e chirographum , e só um escriptor não
jurídico , Asconius (g), é que declara aquelle como
um acto bilateral sobre qualquer divida, e este por
uma declaração sobre divida originada por um
empréstimo (/i).
De um contracto litteral deve-se differençar as
escripluras conhecidas entre os Romanos por uma
cautio, ou chirographum, e que tinhão lugar em
dous casos: em primeiro lugar, muitas vezes dava-
se um documento sobre uma stipulação que se fizera
em pessoa , ou que se tinha mandado fazer por ura
escravo. A escriplura neste caso não mudava a na-
tureza da obrigação, que permanecia sempre o que
era—uma obrigação verbal (i). A outra espeeíe de
cautio ou chirographum , era quando se dava uma es-
criptura sem a forma de uma stipulação como prova
(Bekennlniss) de se haver recebido um mutuo (/).
Aqui da mesma fôrma não se mudava a natureza

(f) Gai. III. 134.


(a) (Ascon.) Ad orat. in Verrem II, 1. c. 36.
(A) Waltcv Gcsch d. rõm. Rechts T. 2. § ii73. — (Fritz) Innere
Gesch. desrõm. Piivatrechtea, (Freiburg ISíiO.)—p, 125.
(i) Gai. III, 13i.
(/) L. 41 S 2. D. de usur. (22, 1).
351 HtSTOR/A
do mutuo pela eseriptura. Quando pois o credor fir-
mando-se no r.hirographum (erhob) a condktio ex
muluo , e que porém o réo negava ter recebido o
dinheiro — devia o A. provar a numeração ha-
vida como a verdadeira causa da acção [k], Como
porém depois dos imperadores foi marcado o tempo
da exccptio non numerata) pecuniw, foi esta empre-
gada naquella exceptio contra simples clarezas de
dividas, não tendo mais lugar logo que hou-
vesse decorrido o prazo. Esta exceptio non nume-
ratce pecunice só tinha lugar (jieatro de ura anno
util, (/) prazo este, que depois foi mudado em um
quinquennium continuam , e por ultimo em um bien-
niumcontinuam (m). Deste modo tornou-se possível,
que uma pessoa sem stipulação e sem verdadeira
numeraono—e só pela eseriptura se tornasse obri-
gada , ao que se chamou uma obrigação litteral,
no direito moderno (n.)

IV. NEXUM.

§ 103. Nexum, ou contractus per aes et libram: é


um acto solemne em presença de testemunhas, e
no qual uma pessoa dava a outra uma certa quan-
tia; porém nada mais era do que um empréstimo
symbolioo, mas tão valioso como se realmente se
tivesse dado a quantia era especie. Gellius (a) re-
lere-nosa maneira por que o credor se havia cora o
{k) L. 3. 5. 7. C. de non num, pecun. (4,30).
(0 C. 1 C. Herm. tit. I de cauta et non num. pec.
(»i) L. 14 C. de non num. pec, (4, 30),
(n) Plautus Asinar. I, 3. v. 95., Non. Marcell. V. 70.
(«) Gell. XX. 1.
DO DIREITO RÇMANO PRIVADO. 353
devedor quando este se obrigara para cora uquelle
deste modo, nexum (/>); quando o devedor não
pagava tendo porém confessado a sua divida [injure],
quando ou tendo sido condem nado pelo /ítcfec asalis-
faze-la (ams confessis rebusque jure judicatis] para o
que tinha ainda uma delonga de 30 dias. — Mas se
neste espaço de tempo nao a satisfazia, podia então o
credor passar-lhe a mão [manus injectio) (c) , e apre-
senta-lo em juizo, onde se por ventura não achasse
um vindex, que por elle se respousabilisasse [d],
era então addieto pelo pretor ao credor (addictus, ou
também nexus chamado) (e). Por sessenta dias devia
o credor trazer o devedor comsigo preso a uma cor-
rente , e durante esse tempo apresenta-lo em três
dias de mercado, proclamar a sua divida e ver se
alguém a pagava, e então podia vendê-lo como
escravo para fóral O credor tratava o addieto como
escravo seu, que era , e que devia trabalhar para
satisfazer a sua divida (/"); até que finalmente com a
publicação de uma lex Poetelia se melhorou a condi-
ção destes infelizes. Mandava esta lei que todos os
nexi fossem livres (</); que se nao entendessem com
outras obrigações as desvanlajosas conseqüências
do nexum, devendo unicamente ser reduzido á escra-
vidão o devedor quando realmente tivesse recebido

(4) Liv. VII, 19.


(c) Gaf 111,78; IV, 21.
(d) Cie. de or. II, 63; Sen. ben. III, 8; Festus v. vindex: dai
IV, 21 c seguintes.
(e) Liv. II, á3; Liv. VIII, 28; Valer. Ma\. VI, 1,9; Varro de
L. L. VII, 105. ' ' "0
(f) Dion. Hal, VI, 79.
(ff) Cie. de rep. II, Si; Liv. VIU, 28.
fim, ROM. a r;
35i HISTORIA
dinheiro, e pela actio depensi (h): e assim lambem
que não andassem elles presos era correntes.
Quanto á condição dos addicti—^epois (i), torna-
vao-se ingênuos logo que deixassem de estar sujeitos
pela divida. Entretanto nao supponhamos com isso
que a addictio pelas mesmas relações se confunda
com o rmncipiwn.

V. FOENUS.

§ 104. Um mutuam pôde ser dado mediante


um interesse ou mesmo sem elle; no primeiro
caso chama-se fosnus (et). Por usutgz entende-se a
compensação que o credor recebe por uma obligalio
qmntitatüpelo uso que tem, ou teve (6) o devedor do
capital; a este se chama ca/wí ou lambem son (c).
Esta obrigação exigia, que houvesse um contracto
bastando nas obligationes bom fidei um pactim
adjeetum (d); mas já nas obligotiones stricti juvis, e
por conseguinte em um empréstimo de dinheiro,
era preciso uma stipulação, quando se quizesse ter
direito a uma acção (c).

(A) Gai. IV, 25.


(t) Quinct. Inst. VII, 3; V, 10; III, 6.
(a) Non. MarceU. V, 78; L. 58 S 2 T). ad Sct. Treb. (36,1).
(b) L. 13 § 20 D. de act. «npti. (19,1); L. 3 § li D. de usur. (22,
l) i L. 58 §2 D. adSct. Treb. (36,1).
(oj L. 58 S 2,6 D. ad Sc rei. (36,1); L. 16. a de usur. (5,32);
L. 16 ^ 6 D. de ulgn. (20,1).
(d) L. 24 D. depôs. (16, 3); L. 10 § 4; L. 34 Pr- D. mandai (17,
1);L. 24 D. de prWr, verb. (19, 5); L. 5. C. de pact. int. empt. et
vend (4,54). . r c
(e) Paul. S. R. II, 14 pr.; L, 40 D. de reb. creçL (12, 1); L. 5
§ 2 D. de solut, (46, 3); L. 10 S 4 D. mandatl (17,1); L 3, 7. C. de
usur, (4, 32).
1)0 DIREITO ROMAMO PRIVADO. 350
Em muitos casos mesmo sem um contraclo
podia-se exigir juros {ofjino judieis priBsíantur] já
como iudemniál^ão (/"}, já como pena imposta ao
devedor [g], e já mesmo por motivos de equi-
dade [h).
Os Romanos dividmo o as em doze uncias a
meia em i/12, sextans 1/6=2/12, quadram em
j/4 = 3/12, tfiens 1/3=4/12, quicunx 5/12, senis
1/2 = 6/12, septunx 7/12, bes (tis tru-ns). 8/12,
dodrans (deest quadrans) 9/12, deeunx s. dextans
(deest sextans) 10/12, deunx [deasí meia] 11/12, as
12/12 (i).
Pela lei das XII Taboas náo era permitlido levar-se
de juros mais do que o foenus unciarium, i. é 1/12
do capital ao auno ou 81/3 por 0/0 (j), — A lex
Duilia Mamiaa.T}. 398 recommandava fortemente
que á risca se observasse o estabelecido sobre o
foenus mciariwn (fc).—Por um plebiscito a. U. 408
foi só perroittído o foenus semiunciarimi, ou 4 1/6
por 0/o (i); e uma lex Genuncia a. U. 413 até mesmo
prohibio corapielamenle o foenus entre cidadãos
romanos (w); o que porém deve ter sido por muito

{f) L. 17 § 4; l. 32 § 2 D. de usur. (22, 1); L. 5. C. de pact.


inter empt et vend. (4, 54); L. 1. 2. C. B; d( ugur. --ei jud. (7, 54);
L. 31 $ 3, L. 37 S 1. D. de ?eAt. (3, 5); L, 24. C. de usur.
(4,32); L. 16 D. de adm. tnt. (26, 7).
(j) L. 38 D. de ref gest (3,5); L. 10 § 3 D. mand. (17,1); L. 1
SI D de usur. (22,1).
(4) L. 2, 35 D. de usur. <22,1).
(») Varro de L, L. IV, 36.
(j) Tacit. Am. VI, 16.
(if) Lív. Vil, 16.
(0 Liv. VII, 27.; Tacit. I. c.
(w) Liv. VII, 42 ; Tacit. I> c.
OÔ6 HISTORIA
pouoo tempo: porquanto os peregrinos que não
estuvao sujeitos ás prohibicões e vestricções legues dos
juros—erúo apresentados como credores,—^ató que
uma lex Sempronia, a. U. 559 com vistas de evitar
isto—determinou que os socios, com relação aos em-
préstimos de dinheiro , fossem considerados em
tudo iguaes a ura Romano (íij.
No 7." século o costume grego de se pagar os ju-
ros mensalmente foi recebido em Roma e um Se-
natmconsultum a U. 700 estabeleceu como o má-
ximo dos juros mensaes, usuras centésimas, isto é,
1 7»—12 7„ ao anno conseguinlemenle (o), e desde
então a centésima mensal—o As, que se taxava de
dríTerentes fôrmas, ou se dividia em itncias , afim
de se expressar maior ou menor porcentagem [p).
Contra devedores peregrinos não se cingião a este
maximum, antes pelo contrario delles se exigião por
mez bina, terna e mesmo quaíernw centésima [q];
porémentre Romanosas usuracmtemnoipermnnecè-
i-ão como a maior porcentagem que se podia exigir
até o tempo de Jusliuiano (r). Juros illimilados só
se podia exigir por pceunia trajectitia, isto é, capital
emprestado para emprezas arriscadas — e que foi
dado com a condição de ser pago no caso de se não

(n) liv. XXXV, 7.


(o) Clc, ad Atticum V, 21.
íp) Issim se chamavão bina;, ternse, quaternee, quina; centesimw,
lll, ao, 48, 60 % ao anno, e usura; quatíranies, 3 7o> usura; trien-
tes, U "U, usura; quincunces, 5 "U, usurx semisses, 6 °/„, usuras
besses, 8 7o ao anno.
(?) Cie. ad Attic. V, 21; VI, 1, 2.
(j j Paul. 11, l/i, g 2, 4; Frgm. Vatíc. § 11; L. 8. C. si cert. pet.
(4, 2); L. 1, 2. C. Th. de usur. (3, 33).
1)0 DIREITO ROMANO PRIVADO. 357
ter ella mallogrado (s), e era este o fomus nau-
ticum , s. murai maritimcB (í). Conslunlino fez tam-
bém uma üxeepcão, e foi, receber-se um terço por
cada duas medidas de trigo emprestado (u) : e Gra-
da no , que as usurce rei judicata que Caracalla tinha
fisado a 12 "/o (f). fosse de 24 °ja ao anno (x) : assim
como Arcadius e Honorius pfohibirão aos senadores
receberem mais de 1/2 7» ao raez [y],
Justiu ano finalmente abaixou muito os juros,
não se devendo nunca convir em mais de 6 7»
{Ifòcenlesimü mensalmente) [z].PersoncB illmtres não
devião estipular mesmo mais do que 4 0/0 (1/3 cen-
tésima mensalmente) (aa); os negociantes porém 87.
(2/3 cenksima mensalmente [bb). Como ftenus nau-
tieum concedeu-se ainda 12 'f0 (1 centésima mensal-
mente) , (cc) assim como também para empréstimos,
que não consistião em dinheiro, species fomori
datee [dd). Aos colonos não se devia levar mais do
que uma Siliqua de Sólidas (4 7») Por dinheiro em-
prestado , e por trigo emprestado 1/8 do capital
anno
(12 1/3 7.) ao H-
111
— g
(j) L. 1,3,4, 5, pr. D. de naut. foen. (22, 2); L. 1, 3, 4. C. eod,
(4, 33.)
(j) Paul. II, 14 § 3. L. 4 pr. L. 5,6, 7, D. eod. L. 1, C. eod.
(ie) L. 1 C. Th. de nsnr, (2,33).
(») L. 1 C. de usur. retjud. (7, 54).
(a!) I un. C. Th. de usur. reljud. (4,19).
(y) L. 4 G. Th. de usur. (2, 33).
(z) L. 26 § 1. C de usur. (4, 32).
(aa) L> 26 § 1. G. cit.
(bb) L. 2ii 51. G. cit. Nov. 136 c. 4.
(cc) L. 26 § 1. C. Cit.
L. 26 § 1. C dt
(i) Nov. 32 c. 1.; Nov. 34 c. 1.
358 HISTORIA

CAPITULO II.
#
Obrigações ex delicto.

1. FURTUM.

§ 105. Furtum coraiueClin aquelle que se apos-


sava de uma res mobilis contra o que era de direito
com o fito era um lucro. 0 acto de se apossar cha-
mava-se conlraclatio , eas vistas no lucro animus fu-
randi lucri facicndl causa (a). O fira de tirar um la-
cro contra o que de direito está estabelecido pôde
estender-se a toda a cousa , ou ser só um lucro par-
cial como aconteceria cora o apossar-se alguém do
uso ou da posse (ô). Deste modo até o proprio do-
mims pode commeltcr um furto (c). Também
havia possibilidade de furto na pessoa de homens
livres em poder de outros.
Já a lei das XH Taboas fazia dUIerenea entre für-
tum manifestum, e nec manifestum. Depois ampliou-
se a sua significação. No tempo de Gaius dominava a
opinião; que se dava um furtum manifestum quando
o ladrão fosse encontrado no lugar em que comraet-
têra o delicto; depois, que era considerado tal
quando elle ainda não tivesse podido levar a cousa
para outro lugar. Outros ainda ião mais longo, e
considera vã o furtum manifestum sempre que ola-

(a) Gai. UI, 195; Gcll. XI, 18.


{h) L. 1 § 3 D. de furt. (47, 2); Gell. VII, 15; Valer. Max. VIU,
2, 4.
(c) L. 15 §1; L. 19 § 6 D, eod.
do diueito romano priyado, 359
drao fosse encootrado com o objecto , opinião esla
porem que não foi seguida [d]. Alei das XII laboas
nao tinha fixado a pena, que era deixada á conven-
ção das partes,—danwiwm decidere (e). Um homem
livre era castigado corporaltnence , e addiolo, quan-
do se náu tivesse concertado por um pacto com o
roubado; os escravos erão castigados com a pena de
morte, os menores erão castigados proporcional-
mente e obrigados á indemnisação (/"). 0 Pretor po-
rém a tudo isto subslituLo a ãdio fuvli mãnifôsti no
duplo. Quanto ao furtum nec manifestum já a lei das
XÚ Taboas dava uma actio furti no duplo como pe-
na [g]. A era cujos interest rem salvam esse [h]. Por
esta mesma lei mandava-se proceder a uma busca
solemne na dasa, lance et licio queerere li). 0 que era
revistado era despido ate a camisa, It-ciuai / latix era
um schawl que se levava na mão. Quanto a este ul-
timo , querem alguns, que fosse destinado para
com elle cõbrir-se o rosto pvoplCT matTem familias,
et virginum presentiam; outros querem que servisse
para nelle pôr-se o objecto, e segundo outros que
era elle posto na cabeça afim de que as mãos não
ficassem livres. Se era a cousa achada dizia-se fur-
tum conceplum; se estava em poder do ladrão era
esteconsideradocomo fur manifestus (j). Além disso,

(d) Gai. m, m Gell. XI, 18.


(e) Gai. IV, 37; L. 7 § IA ). de pacl. (2, íh).
{/") Gai. III, 189; Gell. XI, 18; Plini. XVIII, 3.
(ij) Festus v. nec.; Gai. III. 190. , „ .
(A) L. 10,11,12 pr. § 1.; L. 26 § 1; I. 71P de furüs (47,2).
(í) Gai. IH, 192; Gell. XI, 18; XVI, 10; Festus v. lance alicio.
(/) Gai. 111,192,194.
S60 HISTORIA
linha lugar a adio farli conceptum, no triplo [k).
Depois estabdeceu-so que a busca tivesse lugar pe-
rante testemunhas (1). Aquelle em cujo poder se
achava o objecto tinha a adio furli oblati no triplo
contra aquelle de quem elle o tivesse havido íi) .
Contra quem impedisse a busca dava o j/retora adio
furli prohibiti no quádruplo (n).
Por direito Juslinianeo não havia senão uma ac-
ho furli mqnifesti, e nec manifem contra o ladrão e
seus oomplices (o).

II. RAPINA.

§ 106. Nas guerras civis nos fins da Republica


tornou-se necessário dar uma garantia contra as
violências , e o damno que dellas necessariamente
se seguião. Opretoi M. Lucullus publicou com refe-
rencia a estas circuiflstancias um edicto pelo qual
logo que homens armados {homíriés arrnati caactiqtiei)
fizessem qualquer damno [damni quid fecerint) ou
roubassem [bona rapta esse dicentur) dava-se contra
elles uma acção no quádruplo , que depois foi cha-
mada adio vi bonorum raptorum, a favor do preju-
dicado , ou roubado (a).
Nas Pandectas já não apparece a expressão arrnati:

{k) GaL ra, 191.


(I) Gai. III, 186.
(m) Gai. RI, 191.
(n) Gai. m, 192.
(o) S 3.1. de obl. quae ex dei. (íi, 1).
(a) Cie. pro Tuilioc. 5 «Judiciam restram est, Recuperatores,
quantas pecuniae paret dolo maio familiae P. Fabi vi hominlbus armatis
coaclijuue damnum factum est M. Tullío.»
DO DIREITO ROMANO PRIVADO. 361
por wtôrpretação foi também deixada a expressão
coacti como não sendo necessária para fundamentar
a acção [b]. Finalmente o damnum , que era em
principio a principal causa da acção, deixou tarnbera
de ser considerado como necessário,—ficou o rou-
bo, rapina, então como a umea causa (c).

III. DAMNU.VI INJURIA DATUM.

§ 107. A lex Aquilia do 5.° ou 6.° século (a) tra-


tava sobre o damno feito ás cousas alheias. Delia
di/em respeito ao nosso caso o 1.° e 3.° capítulos.
Cap. I. Aquelle que injuria matasse um escravo
ou qmdrupes pecus devia pagal-os pelo seu maior
valor no ultimo anno. A acção era uma actio mixta.
Injuria é tudo contra o que é de direito; dolo e
culpa. O senhor era responsável pelo seu escravo
logo que podia impedir o darano.
O cap. III. Por todo e qualquer outro damno,
que corpore corpori datum era , marcava o maior
preço nos últimos trinta dias, do contrario tinha
lugar o determinado no cap. I.
A aetio legis Aquitúe não tinha lugar sempre que
o damno causado nao foi por um acto corporal
coiho por exemplo prender , deixar morrer de fome;
do mesmo modo sempre que não teve lugar injuria
da própria cousa , como por exemplo a soltura de
um animal, que veio a recebe-lo; e finulmenío

(b) li. 2 S 7 D. vibonor. rapt. (47, 8).


('•} L. 2 S17 D. eod., Gal. III, 209, IV, 8; pr. I. de vi bon. rapi.
(a) Cie. pro Tull. M; fiai. Ill 210—219Tnst. IV, SidelCgc
aipiilfí.
Din. ROM.
' J'6'2 HISTORIA
quaiulo uao era uma cousa , que recebia o damno,
e sim o corpo de um homem livre.

ÍV, INJURIA.
§ 108. Injuria é aquelle acto emprehendido com
vistas dolosas de prejudicar a alguém ou de causar-
lhe magoa ou dôr (a), a essa especie de dolus cha-
ma-se animus injuriandi. A lei das XIÍ Taboas já de-
terminava que fosse a injuria punida — e sendo
estalei modificada pelo edicto dos Pretores, com-
tudoa kx Cornelia marcou para este caso uma pena
publica (b). A injuria não é limitada a certos e de-
terminados actos, antes pelo contrariopóde ser exer-
cida;de differenles modos. Assim dão-se injuria quw
corpori inferuntur, e são quando praticadas contra
uma pessoa com o fim de fazer-lhe mal ou de rnal-
trata-la (c), ou então tem lugar quando se procurão
meios que possão ser nocivos á saúde: [d] injuriaad
dignitatm s. ad infamiam pertincntm; e são noticias
falsas e caluraniosas que de proposito se espalbão
contra um indivíduo (e); asseroões infundadas e que
prejudicão a sua honra (f] etc. : além destes casos é
também injuria attentar contra a liberdade de uma
pessoa querendo restringir essamesrna liberdade^);

[a) Pr. J. de ihjur. (4, 4) L. 1 pr. D. eofl. (47, 10); L. 6 § 1. D.


ad leg. Aqiiil. (9, 2).
4) Paul. 1\. S. V. 4, 6.
r) fiai. ill, 120; L 1 § 2, L. 5 pr. § 1 L, 7 § 8, L. 8, 9 pr.
L. 15 § 1. 27; L. 23, 27,42, D. de injur. (47, 10).
(d) L. 15 pr, D. ;od,
(e) L. 5 § 9, L. 15 § 27, 29 L. 18 pr. D. de injur. (47, 10); L. 5.
C. eod.; 1. un, G. íamos. lit>. (9, 36).
Cl t- tl § 9, L. 12, 22 D. le iujur. D. (47,10). L. 3, 9, 10 C.
de injur. (9, 35).
(í?) L. 2 § 9 D. ne quid in loco publ. (43, 8); L. 13 S 7 D. de injur.
(47,10).
DO DIREITO ROAUNO FRITADO. 363
privar alguém, prejudica-la, ou aimlquilár cou-
sas que lhe pertencem {h], etc. Segundo a lei das
XII Taboas por um mômbním rup/um—havia a pena
de talião (í); por um osso quebrado, os fracíiim,
a de 300 asses quando pessoa livre, e de
150 asses quando escravo [j]; por libelli famosi et
carmina famosa davão-se castigos oorporaes, ictus
fmtium [k).—O edicto dos Prelores reconhecendo a
necessidade que havia de providenciar a este res-
peito, atteutas as modificações que são necessaria-
mente fllhas do tempo e das eircumstancias, estabele-
ceu pena arbitraria para cada caso, devendo ella ser
imposta conforme as eircumstancias de que se reves-
tisse o facto [l]. As determinações da lei das XII Ta-
boas não forão revogadas com isto , mas cahii o em
desuso (m); acxccpçao da pena crime de um Ubellus
fumo SUS, não só foi conservada como ainda mes-
mo ampliada; porquanto um Senatus Consulto do
tempo dos imperadores mandou que por caricaturas
feitas contra alguém e espalhadas fosse a pena levada
até mesmo á deportação (n) : e Yalentiniano It man-
dou que aquelle que achasse semelhantes cousas e
as espalhasse , fosse punido como se fôra o auc-
tor (o). A lex Cornelia de injuriis por bordoadas ou
cousas semelhantes, verberare, et pnhare , ou por
violência praticada para entrar na habitação—con-

(A) L. 55 pr. D. de íurtis (A7, 2); L, 15 § 31 D. deinjur. {/i7,10).


(t) Festus v, Talionis; Gell. XVÍ, 10.
(í) Gai. IH, 223. Paul. V. í. § 6.
(Ic) L. 103 D. de V. S. (50, 16).
(t) Gai. III 22A; § 7.1. eod.
(m) S 7. I. eod.; Gell. XVI, 10.
(n) L. 5 § in, 11; L. 6, 38 D. eod.
(o) L. un. C. de famos. lib. (9, 36).
364 HISTOJIU
cedia ao injuriado direito de exigir em vez da multa
uma pena criminal (p),
No tempo dos imperadores injm-as de filhos
feitas aos pais erão lambem punidas criminal-
mente [q].
Para mover a acçao nem sempre é só o injuriado
o habilitado—, mas também aquelles que a si po-
dião chamar as injurias, e são : o marido por sua
mulher, (r) o noivo pela sua noiva (s), o pai por
seus filhos, (í) o padrasto pela enteada (u), o se-
nhor pelo seu escravo, (u) e o herdeiro pelo lestador
pelas injurias que depois de sua morte lhe forão feitas
ou dirigidas (a:). Os filhos em pátrio poder só podem
mover a acção quando seu pai se achasse impossibili-
tado de o fazer (y).—A injuria ou ó atroz, ou /ms;—
sendo a injuria atroz avaliada em muito mais (z).
Por injurias por parte do escravo vai a acção como
actio no.ralis contra o senhor, que tem a escolha
quando na o quer pagar, de receber a noxce datio, ou
responsai)ilisar-se para com o juiz pela entrega do
escravo para ser castigado.

(p) S 8. I. de injur. (M); L. 5, 7 § i- í - 37 § 1. D. eod : .. 12


S /l D. de accus. ('iS, 2); L. 22 § 2 D. ad les. JnJ. de adult. fíiS, 5).
(?) L. 1 D. de obrig. (37,15) ; L. U C. de palr. pol. (8, li7).
(r) § 2. I eod.; L. 1 § 3; L. 2, L. 111 7, L. 17 g lü^l/i, 22
í). de injur. (47,10).
(í) L. 15 § 2/i D. eod.
(í) § 2 I. eod.; L. 1 § 3, 5, 8, L. 26 D. eod.1 tíai. Ilf, 221.
(m) §3—6 I. eod. L. 1 § 3, 7, L. 15 § 3'(—AO, L. 16, L. 25,
b. 20 D. eod. Cai. III 222; L. 1, C. eod.
(o) L. 1 § /(, 6. D. eod.
(a?) L. 17 §10—22 D. eod.
iy) Paul. V,/i§ 10.
íi) L. 17 § /i-y d. eod-;—Paul, V, U § 22.

2FICM.
ÍNDICE DAS MATÉRIAS.

IntroduoçAo.
§ 1. Objcc.to e plana desta obra Pag. 1
Fontes iJn Instoría do direito romano privado ... d
§ 2. I. Monumentos A
§ 3. IL Livros 6
§ 4. Mamwarfptos. Edições. Modo de citar o corpos júris
civilis 17
Litteratun. 24
Livro Primeiro.—Direito das Pessoas.
$ 5. Introducção _ 29
Capitulo primeir?, - Liberdade e escravidão .... 32
§ 6. Definições................... 32
Titulo I. Drlgem da escravidão 38
« 7, /. Segundo o jus. gentium 38
§ 8. U. Segundo o jus dvlle 42
Titulo 11. A escravidão na sua enntinuação, 45
$ 0. I. Era geral 45
II. Era particular. 49
§ 10. A. Adquisiçõw do senhor pelo escravo 49
§ 11. B. Como se obriga n senhor pelo escravo 53
Titulo III. Da liberdade 56
§ 12. ÍJilroclurçao 56
I. Da lihertinldade 56
A. Da manumissão- 57
1. Princípios geraes . 57
§ 13. a. Sua natureza e definição 57
S 14. b. Causas por que se não pôde raanniDittii 60
2. Da manuroissão para a civitas romana 65
S 15. a. Requisitos em geral 65
§ 16. b. Em particular das manurotosões solemnes .... 71
§ 17. 3. Das nanumissóes para a latinitas 75
S 18. 4. Da manumissão dos cediticio 76
<5 19. B. Outras causas d bberdade além da manumissão. . 77 •
JI. p- condição dos libertinos 77
A. Considerada em si mesmo . 78
§ 20. 1. Da condição dos liberiini eives romani 78
§ 21. 2. Da condirão dos Latini Juniani 81
§ 22. 3. Da condição dos dediticii 88
*
366 ÍNDICE DAS MATÉRIAS.
S 23. 4. Dos Statu liberi 89
§ 24. B. Direitos do pairuno. 91
§25. IÍL Reformas dcJustiniano com relação aos libertos. . 96
§ 26. Appendico ao cap, L Dos colonos romanos .... 97
Capitulo segundo. Dos homines sui et alieni júris . . 97
§ 27. Introducção 101
Titulo I. Da patria poleslas 102
§ 28. I. Caracter do pátrio poder em geral 102
II. Origem da patria potestas 104
§ 29. A. Sobre os lilhos 104
§ 30. B. Sobre estranhos 108
III. Influencia da patria potestas. 108
§ 31. A. Direito do pai sobre u pessoa dos filhos 115
§ 32. B. Inllucncia da patria potestas sobre os bens .... 117
§ 33. IV. Como se extingue a patria potestas. 124
Titulo II. )a Manus 127
§ 34. I. Sua definição e natureza 127
§ 35. II. Da sua formação 128
§ 36. III. Por que modos se dissolvia 131
§ 37. IV. Coemtio flduciae causa 131
§ 38. Titulo III. Mancipiura 133
Capitulo Terceirt Do matrimônio. 135
% 39. I. Em geral das uniões permittidas 135
§40. II. Como e quem podia contrahir matrimônio. . . . 140
§ 41. III. Do dote 145
§ 42. IV. Da demais influencia do matrimônio sobre os bens, 152
§ 43. V. Do divorcio 153
§ 44. VI. Luto e segundas nupeias 158
Capitulo Quarto. Da tutela 160
§ 45. I. Tutela impuberum 160
§ 46. II. Tutela muíiebris 168
§ 47. III. Curatioi 171
Livro Segundo, u Jura in ré. u
Capitulo Primeiro. DO doihinio 174
§48. I. õa posse, e da bonae fidâipfíSsessio 174
§ 49. 11. Das differentes especies de aominio 176
III. Modos de adquirir o domínio 176
§ 50. A. Em geral 183
B. Em particular 183
1. Das acquisitioncs civites 183
§ 51. a. Acquisitiones civiles com exclusão do Usucapião. . 184
§ 52. b. Da Usucapio em particular 192
" § 53. 2. Das acquisitiones naturaies 200
§54. IV. Direitos inherentes ao domínio 205
Capitulo Segundo. Jura in re aliena 214
§ 55. I. Servidões 214
§ 56. II. Emphyteusis 221
§ 57. m. Hypotheca 228

i
ÍNDICE DAS MATÉRIAS. 367

Livro Terceiro.— Da Sucbobc&o.


lulrüducçao 235
^ 58. 1. Da Successão universal do direito romano 235
§ 59. It. tlereditas c bonorum possessio 24i
Capitulo Primeiro. Da successão aD intestato Ilih
I. Da successão ab intestato nos bens de um não ma-
numissus 2Zd(
§ 60. A. Antiga successão civil Wi
§ 61. B. Da successão do direito pretorio 2íi7
§ 62. C. Do novo direito de successão 251
II. Successão ab intestato nos bens de um liberto. . . 255
§ 63. A. Antiga successão civil 255
§ 64. B. Bonorum possessio 257
§65. C. Bonorum iioss. dimidiae partis em particular . . . 258
§ 66. D. Modificações íeitas pela lex Julia et Papia Poppaea
ao direito de successão do patrono 259
§ 67. E. Legislação de Justiniano 269
§ 68. III. Do direito de successão nos bens de um não eman-
cipatus 261
§ 69. IV. Da successão ab intestato nos pecúlios dos filhos
famílias . . 262
Capitulo Segundo. Da successão testamentaria. . . . 265
§ 70. I. Inirodncção 265
II. Dos sujeitos . 265
§ 71. A. Da ficliva tesfamenti fadio. 266
'§ 72. B. Da passiva testamenti faetio 269
§ 73. 111. Das differentes fôrmas de testamento 275
IV. Da substancia essencial dos testamentos 275
§ 74. A. Da heredis instiiutio 279
§ 75. B. SubsUtutio 280
§ 76. V. Da nullidade do testamento 282
§ 77. VI. Dos testamentos privilegiados 285
Capitulo Terceiro. Da successão contra um testamento. 288
§ 78. L Da obrigação rigorosa de instituir os filhos .... 288
1L Da legitima. 288
§ 79. A. Direito de legitima dos parentes . . ' 292
§ 80. B. Das demais pessoas que linlião direito A legitima. . 295
§ 81. lií. Beformas da IVov. 115 297
Capitulo Quarto, lixfineção da delação 297
§ 82. I. Causas da extineção (era particular dos casos da
transmissão) 297
§ 83. II. Conseqüências da exlincção (em particular do jus
acrrcscaidi) 300
Capitulo Quinto. Da adqulsicão da herança 302
I. Da adquisição . 302
§ 84. A. Segundo o direito civil . 302
§85. B. Segundo o direito pretorio 305
0. Efleitos da adquisição . ■ . 305
369 IXDICB DAS MATÉRIAS.
S 86. A. Em geral
B. Em
S 87. 1. Da hereditatis petitio " ' ' n7i
§ 88. 2. Relação dos coherdeiros uns para com os outros. . ali
§ 89. 3. Alienação da herança.
Capitulo Sexto. Dos legados e Inieicommissos. ... àm
S 90. I.II, Dos
Dos
legados ÍJ.Ij
$ 91.
S 92. ni, Dos legado laiivcrsues ■ • •
S 93. IV. fiestriccões legacs feitas aos legados. ...... ^
Capitulo Seíimo. fíona caduca, crephcta c vacaniid. iil
§ 94. I Bona caduca
1 95. II. Bona „
§ 96. III. Bona
Livro Quarto, — Da» Obrígaç&es.
' 329
97. 335
Gapiiulo Primeiro. Das olingaçoes ex contractu. 335
98 I. Dos contractos entre os Romanos em geral. 341
II. Da Stipulatio 341
S 99. A. Princípios geraes _ . ,
a Daquelles negoclos que costumao ser feitos sob 341
fôrma de uma Stipulatio. . . . 342
100. 1, Das doações 347
101. 2. Da fiança ......... 349
102. III. Litterarum obligatio. . . . 352
103. IV. 354
104. V. Foenus 358
Capiudo Segundo. Obrigações ex-dulicto 358
105. I. Furtum 360
106. II. Rapina. . . . 361
107. III. Damnum injuria datum. . . 362
108. IV. Injuria

FIM DO ÍNDICE.

Rio de Janeiro. Typograpliia Universal 6« LAfeMMERT


rua do? Invalido» n. fil »•
ERRaTA.

Pag. 29, !in. 13, onde diz — estão as obrigações entre cousas —
lía-se — estão as obrigações entre as cousas.
Pag. 51, lin. 18, onde diz —• Estes eslavão compreliendidos, etc.—
lêa-se — Estes pecúlios estavão, etc.
Pag. 221, iiu. 9, onde diz — Em que manda na primeira que
podesse o usofrueto, etc. — lêa-se — Era que manda na primeira
que não podesse o usofrueto, etc.

ms. no 47
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