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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


BACHARELADO EM DIREITO

BRUNA GARCIA DOS SANTOS


ÉSHYLLA MYLLENE SANTOS DO NASCIMENTO
MARIA RUANNA BARBOSA DE OLIVEIRA
GABRIELA LIMA ARAÚJO

DIREITO ROMANO

JOÃO PESSOA

2019
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BRUNA GARCIA DOS SANTOS


ÉSHYLLA MYLLENE SANTOS DO NASCIMENTO
MARIA RUANNA BARBOSA DE OLIVEIRA
GABRIELA LIMA ARAÚJO

DIREITO ROMANO

Trabalho sobre Direito Romano,


desenvolvido no curso da disciplina de
História e Antropologia Jurídica como
requisito parcial para a obtenção de êxito
nesta no semestre 2019.1. Professora ​Ana
Karolina Soares Bezerra Cavalcanti​.

JOÃO PESSOA

2019
2

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO …………...….…………………………………………………...3
2. ROMA………………………………………………………………….... .……....3
2.1 FUNDAÇÃO……..…...………………………………………………………….3
2.2 CLASSES SOCIAIS E ECONOMIA......………………………………………..4
2.3 RELIGIÃO...…...……...……...……...……...……...……...……...……...……...​6
2.4 PÁTRIO PODER E SUAS CON​SEQUÊNCIAS JURÍDICAS……………....…........6
3. INSTITUIÇÕES POLÍTICAS DE ROMA………………………………………..7
3.1 MONARQUIA………………………………………………………………...…8
3.2 REPÚBLICA………………………………………………………………...…...8
3.3 IMPÉRIO…………………………………………………………………...…....10
4. DIREITO ROMANO………………………………………………………..…….11
4.1 PERIODIZAÇÃO DO DIREITO ROMANO……………………………..……..11
4.1.1 PERÍODO ARCAICO………………………….………………………..……..11
4.1.2 PERÍODO CLÁSSICO………………………………………………..………..12
4.1.3 PERÍODO PÓS-CLÁSSICO………………………………………..…………..12
4.2 FONTES DO DIREITO ROMANO………………………………..……………..13
4.2.1 COSTUME……………………………………………………...……………….13
4.2.2 LEIS E PLEBISCITOS………………………………………..………………...13
4.2.2.2 OUTRAS LEIS…………………………………………….………………….14
4.2.3 EDITO DOS MAGISTRADOS…………………………….…………………...15
4.2.4 JURISCONSULTOS…………………………………………………………….15
4.2.5 SENATUS-CONSULTOS.…………………………….………………………...16
4.2.6 CONSTITUIÇÕES IMPERIAIS…………………….…………………………..16
4.3 DIVISÃO DO DIREITO ROMANO………………………………………….…..17
4.3.1 DIVISÃO BASEADA NA ORIGEM…………………………………………...17
4.3.2 DIVISÃO BASEADA NA APLICABILIDADE………………………………..17
4.3.3 DIVISÃO BASEADA NO SUJEITO……….…………………………………...18
4.4 CAPACIDADE DE DIREITO…………….……………………………………….18
4.4.1 STATUS LIBERTATIS………………….………………………………………..18
4.4.2 STATUS CIVITATIS………………….………………………………………….19
3

4.4.3 STATUS FAMILIAE………………...…………………………………………..19


4.5 FILOSOFIA CRSTÃ DA HISTÓRIA ...………………………………………….20
5. O ESTUDO DO DIREITO E OS ADVOGADOS EM ROMA...…………………..22
6. REFLEXÕES SOBRE O DIREITO ROMANO E O DIREITO MODERNO……...23
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS………………………………………...……………..24
8. REFERÊNCIAS ……………………………………………………..…………..….25
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1. INTRODUÇÃO

A história romana, que vai desde 753 a.C. até 565 d.C., é a história do povo latino,
tendo, desta forma, ampla influência em sua atual cultura, sua língua e, o que é o enfoque do
presente trabalho, seu direito.

A ciência jurídica romana sofre um processo de renascimento no século XII, quando


passa a ser estudada nas universidades europeias. Enquanto fonte, eram utilizadas as
compilações feitas pelo imperador Justiniano como, por exemplo: o Digesto ou Pandectas e o
Novus Justinianus Codex (Código Novo de Justiniano). Em lugares como o Brasil e a
Alemanha, onde, respectivamente, os Códigos Civis só entraram em vigor em 1917 e em
1900, esses textos serviam como instrumento de ensino e, na falta de leis específicas, de
suplemento ao direito vigente. Isso trouxe consigo uma influência em larga escala do direito
romano no direito europeu continental.

O jurista alemão Von Ihering concorda com tal afirmação no momento em que diz
que a importância do Direito Romano não limita somente “por um momento, a fonte ou a
origem do direito” já que esse valor seria passageiro. O seu prestígio estaria no fato de ter
provocado uma “profunda revolução interna (...) em todo nosso pensamento jurídico, em ter
chegado a ser, como o Cristianismo, um elemento da Civilização Moderna”.

Um exemplo mais objetivo da tamanha influência do Direito Romano se encontra no


fato de que 80% dos artigos do nosso Código Civil foram confeccionados baseando-se direta
ou indiretamente nas fontes jurídicas romanas.

Tendo essa relevância do Direito Romano em vista, objetiva-se neste trabalho


apresentá-lo de maneira geral, considerando-se os aspectos da sociedade, das instituições
políticas, o direito em si, como se dava o seu estudo, sua importância e, por fim, as conexões
entre o direito romano e o direito moderno.

2. ROMA

2.1 FUNDAÇÃO

A tradição literária antiga, que se baseia, principalmente, nas obras de Tito Lívio,
Dionísio de Halicarnasso e Plutarco, liga a história de Roma à destruição de Tróia –
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mostrando a complexa história das relações políticas e culturais entre Roma e os Gregos.
Aqui vale ressaltar que as narrativas sobre a fundação romana não podem ser consideradas
históricas, pois tratam-se de lendas, contos populares, e reflexão de eruditos sobre o assunto,
sendo então muito mais importante para compreender como se dava a consciência identitária
deste povo. Se questiona se o que se encontra nesses textos não seriam mais uma projeção no
passado de como os romanos se viam e gostariam de ser vistos pelos outros.

Segundo a lenda, Eneias, o mais valoroso guerreiro sobrevivente da Guerra de Troia,


com a queda de sua cidade e seguindo o conselho de sua mãe – Afrodite – segue com seu
filho Ascânio para a cidade de Lácio, na Itália central, lugar no qual será fundada, no futuro, a
cidade de Roma. Eneias então desposa a filha de um rei local e funda a cidade de Lavínio.
Mais tarde o filho de Eneias, Ascânio, funda a cidade de Alba Longa, onde lhe sucederão
mais doze reis.

Entretanto, dá-se uma crise dinástica quando Amúlio usurpa o trono de seu irmão
Numitor e transforma a filha dele, Réia Sílvia, em sacerdotisa da deusa Vesta, o que
significava que ela teria de permanecer virgem – o que não aconteceu. Réia acaba
engravidando dos gêmeos Rômulo e Remo, o que faz com que o usurpador Amúlio mande
lançar as crianças no rio Tibre.

A pessoa encarregada de realizar tal tarefa, seja por piedade ou receio, acaba
colocando as crianças num cesto. Levado pela corrente, o cesto fica depositado num banco de
areia. Uma loba acaba achando os bebês e os amamenta, mais para frente uns pastores os
recolhem e os criam.

Quando crescem, os gêmeos descobrem sua ascendência e tiram o avô Numitor do


trono. Fundam uma nova colônia em Alba Longa, que mais tarde se tornará Roma – nome
que tem origem em Rômulo, que mata seu irmão Remo. Roma então passa por um grande
desenvolvimento e expansão em razão de dois fatores: sua enorme força bélica e capacidade
de absorver estrangeiros.

2.2 CLASSES SOCIAIS E ECONOMIA

A economia romana se baseava na agricultura e na pecuária. As grandes propriedades


eram pertencentes à aristocracia patrícia, que controlava os meios de produção e as
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ferramentas necessárias para a agropecuária, realizando domínio sobre a classe pobre e livre
dos plebeus. A mais baixa classe era a dos escravos, base da produção e constituída, em sua
maioria, por presos de guerra e caracterizados não como pessoa, mas como ​res​ (coisa).

2.3 RELIGIÃO

Já a religião se caracterizou, inicialmente pelo politeísmo, com influência dos cultos


de diversos povos, a exemplo dos gregos, etruscos e orientais. O costume tradicional, então,
ia sendo adaptado às novas realidades da população.

Os deuses antigos romanos, por influência grega, eram antropomórficos, ou seja, se


apresentavam como humanos tanto na forma física, quanto em suas personalidades,
possuindo afinidades, qualidades e defeitos.

No âmbito privado os cidadãos veneravam os espíritos domésticos – chamados ​lares –


e os espíritos de seus antepassados – os chamados ​penates.

Posteriormente, com a crescimento do cristianismo, o imperador Constantino


promulga o Édito de Milão e declara a liberdade de culto, dando fim à perseguição que
ocorria. Já no século IV, o imperador Teodósio declara o cristianismo como religião oficial
de Roma.

2.4 PÁTRIO PODER E SUAS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS

Em sua clássica obra “A cidade Antiga”, o historiador Fustel de Coulanges dedica-se


a explicar o pátrio poder e sua conexão com a tradição religiosa, com a concepção de família
e de autoridade.

Aqui vale falar de como se fundava a sociedade romana no período inicial referente ao
Período Monárquico, que se encontrava num estágio clânico. Isso significa que na época não
existia um individualismo perante o Direito, a sociedade se organizava em torno da figura
paterna, ou seja, não existiam indivíduos, mas famílias (clãs). E quem representava a vontade
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da família era o pai. O poder do basileu (rei) não era absoluto, não era mais importante do
que o poder pátrio.

A primeira coisa a se entender é que o poder não se origina na Cidade. A família é


quem determina como o Direito Privado deve funcionar, não o contrário. Isso se exemplifica
no fato de que o pai, se julgar adequado, pode vender ou tirar a vida de seu filho. Se a lei
partisse da Cidade, isso não aconteceria, pois seria dever dela proteger a individualidade do
filho em relação ao seu pai. Desta forma, pode-se dizer que o Direito antigo não é obra de um
legislador, mas se impôs a ele através das tradições familiares.

É importante, então determinar o que caracteriza uma família e como se davam as


relações entre seus integrantes. Não é simplesmente o laço de sanguíneo que a determina,
mas o culto doméstico. Um filho nascido do adultério não fazia parte da família por não
existir comunidade religiosa entre ele e o pai, não por não ser de uma linhagem de sangue
pura. Só mais para frente, com o enfraquecimento da religião antiga é que o sangue passa a
falar mais alto, quando o parentesco por nascimento passa a ser reconhecido pelo Direito e é
chamado de ​cognatio.

Mas, voltando à relação familiar a partir do culto doméstico, é importante descrever


quais os direitos garantidos pelas leis ao pai. Ele é chefe supremo da religião, senhor da
propriedade e juiz de seu lar. Desta forma, dirigia todas as cerimônias do culto, sendo
responsável pela perpetuidade do culto e da família. Possui o direito de reconhecer ou
rejeitar a criança quando ela nasce; o direito de repudiar a mulher em caso de esterilidade ou
adultério; e o de adotar ou emancipar um filho. Entretanto, o filho nada possuía, se recebesse
uma doação, ela iria para o pai. E se o filho cometia um crime, a ação era movida contra o
pai. O mesmo valia para a mulher. Desta forma, a justiça, tanto para o filho quanto para a
mãe, só se encontrava no próprio lar.

Sendo assim, o pátrio poder era fruto do costume e, até a vinda da República, o
costume era a principal fonte de direito na sociedade romana. Isso só muda quando o direito
passa a assumir a forma escrita, a partir desse momento o direito costumeiro e a lei escrita
passam, por vezes, a conflitar nas relações de pai e filho.
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3. INSTITUIÇÕES POLÍTICAS DE ROMA

Dividimos a história em três períodos politicamente diferente que contempla a


história da ​urbs.​ Divide-se, assim, em Realeza (da fundação de Roma até 510 a. C.).
República ( de 510 a.C. até o ano de 27 a.C.) e Império ( de 27 a.C. até a morte de Justiniano
em 566 d.C.). Este último pode ser subdividido em alto e baixo, essa subdivisão remete ao
absolutismo do imperador que era menor no primeiro e incondicional no segundo.

3.1. MONARQUIA

A fundação de Roma é baseada no mito dos irmãos Rômulo e Remo datado de 753 a.
C. Na época de sua criação, Roma e em seus arredores eram habitados basicamente por uma
população com o idioma comum, o latim. Essa população normalmente habitava em ​vinci
(aldeias), essas aldeias eram ocupadas por grandes famílias patriarcais agrupadas em ​gentes.
Os chefes de família, denominados ​patres​, advindo daí a alcunha de patrícios para os
romanos, que mais tarde irão reuniram-se para formar o Senado romano.

A realeza romana tinha característica não hereditária, vitalícia, porém eletiva, ou seja,
eleitos por outras instituições. O senado romano, formado por Patrícios. As assembleias,
chamada de Comícios Curiatos, escolhia o rei cujo nome havia sido proposto pelo Senado.

Em Roma, aponta-se que houve sete reis. O último Tarquínio, O Soberbo finalizou o
seu reinado culminando na queda da monarquia e ascensão da república, proclamada pelo
Senado romano.

​Senatus ​vem da palavra ​senis ​quer dizer ancião.É um corpo composto de cem, depois
trezentos,eram patrícios nomeados pelo rei. O rei consultava em casos mais graves. O senado
ratificava a lei votada pelo povo por proposta do rei

Comícius Curiatos eram reuniões de todos os homens considerados como “povo” , ou

seja, os patrícios e os clientes, ficando de fora plebeus e os escravos.

3.2. REPÚBLICA

RES + PUBLICAE (coisa do povo )


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Esse novo regime, capitaneado pelo Senado romano, é caracterizado pela pluralidade
das assembleias e magistraturas, anuais e colegiais. Com a República, os romanos decidiram
pulverizar o poder do executivo para mãos de muitos, com mandatos curtos, na maior partes
dos casos, evitando que o poder exacerbado na mãos de um.

Somente o Senado permanecia vitalício, entretanto sua função primordial durante este
período foi cuidar das questões externas.

Os que detinham o poder executivo em Roma Republicana era os Magistrados e cada


qual com sua função específica. Eles eram divididos em Magistrados Ordinários e os
Extraordinários. Os Ordinários eram permanentes e era eleitos anualmente. Os
extraordinários. como os censores, eram temporários e somente escolhidos quando havia
necessidade.

● Cônsules

Eram sempre em números de dois, com poderes equivalentes. Eles comandavam o exército,
presidiam o senado e os Comícios. Era costume repartirem os poderes entre si, no caso de
batalha alternavam-se a cada dia a chefia suprema do exército.

● Pretores

São os magistrados mais importantes, pois estavam ligados à justiça, cuidavam da


administração da Justiça, mas não era juiz. Eram dois tipos: Pretor Urbano, que cuidavam de
questões envolvendo romanos na cidade, e o Pretor Peregrino, que cuidavam de questões
envolvendo à justiça no campo e envolvendo estrangeiro.

● Edis

Os Edis tinham função de cuidar fisicamente da cidade, ou seja, cuidavam das provisões da
cidade, velavam pela segurança pública e pelo tráfego urbano, vigiavam aumento abusivos
dos preços e a exatidão dos preço e medidas do mercado, e também cuidavam da conservação
de edifícios e monumentos públicos, pavimentação e promoviam jogos públicos.
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● Questores:

Cuidavam das questões da fazenda, custodiavam o tesouro público, arrecadação de impostos.

● Censores

Eram eleitos de cinco em cinco anos, eles eram responsáveis pelo Censo que era
realizado a cada cinco anos, e também responsável pelo ​Regimen Morum o policiamento dos
costumes. Cargo mais respeitado da República, ocupados por cidadãos respeitado.

As guerras de conquistas eram um dos motores da economia romana. O seu


objetivos, além dos saques praticados, era o aprisionamento dos vencidos, fornecendo
escravos e terras para os latifúndios patrícios

Acesso a plebe às magistraturas

O surgimento da República não modificou imediatamente a situação política da plebe.


Ela não abriu o acesso da lebe às magistraturas, nem ao Senado. Mas pouco a pouco, tanto na
política como na esfera do direito privado, a plebe obtém seu reconhecimento.

Tribuna da Plebe

​Conhecido como Tribuno do Povo. Eram os representantes plebeus, eleitos pelo


conselho da Plebe com função de defender direitos dos plebeus e enviar aos senadores as
reivindicações.

3.3. IMPÉRIO

Divide-se em dois períodos distintos.

Alto Império (27 a. C. a 284): surgiu com a crise política provocada pelas dificuldades
sociais, elas vastas conquistas e ela má administração do progresso econômico.

Com a crise que ascendeu o Império, o poder concentrava-se cada vez mais nas mãos dos
generais. Um deles, Octavio, conseguiu centralizar o poderes em suas mãos e acabou por
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receber do Senado, o título de Augusto, sendo proclamado imperador. Foi a época de


esplendor da civilização romana.

Baixo Império: ​Este período começa com a morte de Diocleciano (284 d.C.) e encerra-se
com a morte de Justiniano.

O imperador possui um poder absoluto. Sem dúvida, seu poder, já no Alto Império,
havia de fato se tornado absoluto com a submissão do Senado. Mas o imperador era ainda, ao
menos em teoria, um magistrado investido do poder por meio de eleições.

Um dos governos mais marcantes dessa época foi o de Constantino, período em que a
religião cristã foi reconhecida oficialmente, com a publicação do Edito de Milão(era a
proibição da perseguição de cristãos), em 313. Constantino também foi responsável pela
fundação de uma nova capital- Constantinopla, antiga Bizâncio- que se tornou a sede do
Império Romano do Oriente. Este ao contrário do Império do Ocidente, que sucumbiu às
invasões bárbaras em 476, manteve-se até o século XV. Justiniano governou entre 527, foi o
ùltimo imperador desse período.

4. DIREITO ROMANO

Como um todo o Direito Romano é o conjunto de normas vigentes em Roma da


Fundação (século VIII a.C.) até Justiniano no século VI d.C. Para os romanos, a definição de
Direito passava por seus mandamentos, que são: "viver honestamente, não lesar ninguém e
dar a cada um o que é seu". Esse direito foi fruto de séculos de trabalho e bom senso, antes de
tudo. O pragmatismo romano encontrou no Direito um centro inesgotável para
desenvolver-se dentro dos parâmetros que eles mesmos consideravam como essenciais.

4.1. PERIODIZAÇÃO DO DIREITO ROMANO

Podemos identificar três períodos ou fases de evolução do Direito Romano. Essas


fases são distintas entre si, e cada uma tem características próprias, são estes: Período
Arcaico, Período Clássico e Período Pós-Clássico.

4.1.1. PERÍODO ARCAICO


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Esse período vai da Fundação de Roma, no século VIII a.C., até o século II a.C.
Neste, o Direito caracteriza-se pelo formalismo, pela rigidez, pela ritualidade. Mesmo porque
o Estado Romano somente depois de algum tempo tornou-se mais presente no dia-a-dia da
cidade. A família era o centro de tudo, mesmo do Direito. Os cidadãos romanos eram vistos
como membros de uma unidade familiar antes mesmo do que como indivíduos. Mesmo a
segurança dos cidadãos dependia muito mais do grupo a que pertenciam do que do Estado.

O mais importante marco desse período é a Lei das XII Tábuas, feita em 451 e 450
a.C. como resposta a uma das revoltas da Plebe Romana. Essa legislação foi uma codificação
de regras costumeiras e, mesmo entrando rapidamente em desuso, foi chamada durante toda a
História de Roma como a fonte de todo direito.

4.1.2. PERÍODO CLÁSSICO

Esse período, do século II a.C. até o século III d.C., foi o auge do Direito Romano e,
mais especificamente, foi o auge do desenvolvimento do Direito Romano. O Poder do Estado
foi centralizado e dois personagens - pretores e jurisconsultos -, adquirindo maior poder de
modificar as regras existentes, puderam revolucionar constantemente o Direito.
Jurisconsultos e Pretores e suas atividades serão vistas mais profundamente quando tratarmos
das Fontes do Direito Romano.

4.1.3. PERÍODO PÓS-CLÁSSICO

Nesse período, do século III até o século VI d.C., o Direito Romano não teve grandes
inovações, vivia-se do legado da fase áurea; entretanto, para acompanhar as novas situações,
o Direito vulgarizou-se e sentiu-se a necessidade de fixar-se definitivamente as regras por
meio de uma codificação que, a princípio, era muito mal vista pelos romanos. Houve algumas
tentativas, nesse período de codificação do Direito vigente, porém estas eram feitas de forma
restrita. Como exemplos, podemos indicar o Codex Gregorianus, o Codex Hermogenianus, o
Codex Theodosianus. Somente após a queda do Império no Ocidente, Justiniano, Imperador
do Oriente, conseguiu empreender tal feito. A Codificação Justinianeia, chamada de Corpus
luris Civilis, é considerada conclusiva, mesmo porque praticamente todos os códigos
modernos trazem a marca dessa obra.
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O Corpus Júris Civilis é composto por quatro obras: o Codex, o Digesto (chamado
também de Pandectas), as Institutas e as Novelas.O Codex foi completado em 529 e reúne a
coleção completa das Constituições Imperiais (veremos seu significado a seguir), o Digesto
(de 530) é a seleção das obras dos Jurisconsultos, as Institutas são um manual de Direito para
estudantes e as Novelas são a publicação das leis do próprio Justiniano.

4.2. FONTES DO DIREITO ROMANO

O Direito Romano possui diversas fontes, algumas são gerais e outras são específicas
a um período da História de Roma.

4.2.1. COSTUME

O Costume é a forma mais espontânea e mais antiga da constituição do direito


romano. Os romanos chamavam-no de consuetudo e, tinham como suporte fundamental e
modelo do seu viver comum a tradição, no sentido da observância dos costumes dos
antepassados, mos maiorum.​ Transmite-se de geração a geração por uso repetido. É
freqüentemente conhecido com o ius non scriptum (direito não escrito).

4.2.2. LEIS E PLEBISCITOS

Para o Direito Romano, a palavra Lex tem significado mais amplo do que se tem
modernamente. Para eles, a lex indica uma deliberação de vontade com efeitos obrigatórios.
No período republicano há duas espécies de leis dependendo de onde se origina, a Lex fiogata
e a Lex data, sendo esta última a lei proveniente do senado ou de algum magistrado. As
Leges Rogatae eram as leis votadas pelos cidadãos romanos reunidos em Comícios e eram
propostas pelos magistrados e somente entravam em vigor após a ratificação pelo Senado.

Caso essa aprovação fosse feita somente pelos plebeus (parte da sociedade romana)
nos Plebiscitos, eram válidas, a princípio, somente para os próprios plebeus, porém, após a lei
Hortência de 286 a.C., as decisões de Plebiscito tinham força de lei para a sociedade como
um todo.

Por oposição ao costume, a lei é uma disposição obrigatória que retira a sua
autoridade do consenso formal dos cidadãos. O rei propõe a lei ao povo reunido em comício
por cúrias ou por centúrias: o povo aceita ou rejeita a proposta. Se a aceita, a lei se torna
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obrigatória a todos, após ratificação do Senado. A publicidade com que a votação é feita
permite a cada um o conhecimento fácil e preciso da lei. Esta é uma das vantagens da lei
sobre o costume, como fonte do direito.

4.2.2.1. LEI DAS XII TÁBUAS

Durante os três primeiros séculos de Roma, o direito privado só teve o costume como
fonte; sua incerteza favorecia a arbitrariedade dos magistrados patrícios, os únicos
encarregados de administrar a justiça. A plebe exigia a redação de uma lei conhecida por
todos, aplicável a todos os cidadãos.

Em 462 a.C. o tribuno Tarentílio Arsa propôs que fosse nomeada uma comissão
encarregada de redigir uma grande lei. Os patrícios e o Senado, composto exclusivamente de
patrícios, no desejo de conservarem seus privilégios, resistiram por oito anos. Os plebeus, em
resposta, mantiveram os mesmos tribunos no poder. Em 454 a.C. os patrícios cederam e se
prontificaram a redigir uma lei que se aplicasse a patrícios e plebeus. Uma delegação de três
patrícios foi enviada para a Magna Grécia (Itália meridional), com a missão de reportar cópia
das leis gregas em vigor, com o inspiração. Ao retornarem, em 452 a.C., as magistraturas
ordinárias foram suspensas e o poder foi confiado a uma comissão de dez membros, os
decemviri legibus scribendis, eleitos em 453 a.C. por comícios centuriatos e encarregados de
redigir as leis.

Dez tábuas de leis foram redigidas, votadas pelos comícios centuriatos e gravadas em
dez tábuas de bronze que ficaram expostas no comitium , a parte do fórum na qual se
desenrolava a justiça. No ano seguinte, em 450 a.C., outros decênviros, nomeados para
redigir novas leis, propuseram duas novas tábuas. A tradição relata que estes decênviros
desejaram permanecer ilegalmente no poder e foram derrubados. Suas tábuas foram
aprovadas pelos comícios centuriatos e expostas no fórum com as demais. As XII Tábuas,
destruídas pelo incêndio de Roma infligido pelos gauleses em 390 a.C., foram depois
reconstituídas. Mas não chegaram até nós. É possível parcialmente reconstituí-las por meio
de seus fragmentos, graças às citações e aos numerosos comentários de juristas, como Gaio, e
de literatos, como Cícero e Aulo Gélio.

4.2.2.2. OUTRAS LEIS


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Leges rogatae. – A partir da lei das XII Tábuas, até o final da República, as novas leis
são numerosas. A lei é votada pelo povo por proposta (rogatio) de um magistrado. Daí o
nome leges rogatae (leis rogadas) em oposição às leges datae (leis dadas).

Uma lei compreende três partes: a praescriptio (data e nome do magistrado que a
propôs), a rogatio (ou dispositivo) e a sanctio (sanção, isto é, o enunciado das medidas que
serão tomadas contra os transgressores).

Leges datae. – No final da República, algumas leis são designadas como leges datae
(leis concedidas). São medid as unilaterais tomadas em nome do povo, sem votação, por um
magistrado, que impunham verdadeiros regulamentos para certos municípios, colônias ou
províncias.

4.2.3. EDITO DOS MAGISTRADOS

Os Pretores, responsáveis pela justiça que possuíam um cargo na República, ao iniciar


seu mandato publicavam os Edicta para tornar pública a maneira pela qual administrariam a
justiça durante seu ano.

Com os Editos, os Pretores acabavam criando novas normas e estas acabavam por
estratificar-se, visto que os Pretores que estravam utilizavam-se largamente das experiências
bem-sucedidas dos Editos dos Pretores anteriores. Esses Editos eram chamados Edictum
Tralacium e eram diferenciados dos Editos que continham inovação propostas pelo Pretor,
chamados Edictum Repentinum. Tais regras foram codificadas pelo Jurista Sálvio Juliano por
volta de 130 a.C., por ordem do Imperador Adriano.

4.2.4. JURISCONSULTOS

Depois que os costumes nacionais foram codificados e conhecidos de todos, foi


preciso de um lado preencher as lacunas da lei das XII Tábuas e, de outro lado, adaptar a lei
às necessidades em permanente modificação pela prática. Este trabalho de acomodação é a
interpretatio, obra de jurisconsultos, iurisprudentes ou, simplesmente, prudentes. O termo
jurisprudência (iurisprudentia) designava, em Roma, a ciência do direito. Modernamente o
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termo jurisprudência tem um significado muito diferente: designa um conjunto de decisões


continuadas dos tribunais superiores. O conceito romano corresponde, então, mais ao
moderno conceito de doutrina.

Até pelos menos o fim da República, a atividade dos Jurisconsultos não era utilizada
como fonte de direito, tinha apenas valor para o caso específico apresentado a ele. A partir do
século I a.C., seus pareceres passaram a ter força de lei, os Jurisconsultos passaram a
responder com a mesma autoridade do Príncipe.

A jurisprudência passou então, como fonte do direito, a ser um dos elementos mais
importantes para o desenvolvimento do Direito Romano.

4.2.5. SENATUS-CONSULTOS

Eram deliberações do senado mediante proposta dos magistrados, estas somente


passam a ser fonte de lei após o Principado. No período anterior, isto é, durante a República,
o Senado não legislava, entretanto indiretamente influenciava o Direito, à medida que
aconselhava os magistrados para que seguissem determinadas prescrições na administração
da justiça.

Quando, no Império, os Imperadores passaram a centralizar mais fortemente o poder,


os senatus-consultos passaram a ser somente um formalismo que era desejado pelo
Imperador, quando este queria fazer valer uma decisão que era impopular, para, dessa forma,
livrar-se do ônus político.

4.2.6. CONSTITUIÇÕES IMPERIAIS

A partir do segundo século depois de Cristo - depois do Imperador Adriano - as


decisões dos Imperadores passaram a ser fontes do Direito. Durante o Império, com a
centralização do poder, o Imperador passou a substituir as outras fontes do Direito, para
culminar como a única fonte.

As providências legislastivas do Imperador eram chamadas constitutiones e podiam


ser na forma de edicta, mandata, decreta ou rescripta. Edicta eram as deliberações de ordem
geral. Caso não sejam revogadas pelos seus sucessores, a edicta tem duração indefinida.
Mandata eram as instruções dadas pelo imperador aos funcionários imperiais e aos
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governantes de província, na qualidade de chefe supremo. Seu caráter é, portanto,


administrativo, exercendo algumas vezes influência sobre o direito privado. Decreta são as
decisões do Imperador proferidas em um processo no exercício do supremo poder
jurisdicional que este possuía. O Príncipe decidia em primeira instância ou em grau de
apelação. Os decretos eram aplicados e estendidos pelos juristas a casos semelhantes.
Rescrípta eram as respostas solicitadas ao Imperador a respeito de casos jurídicos a ele
submetidos pelos magistrados ou por particulares.

4.3. DIVISÃO DO DIREITO ROMANO

Os romanos consideravam várias divisões de seu direito; para tanto, baseavam-se na


História, na origem da norma, na aplicação ou no sujeito a quem era destinada a norma. A
principal diferença entre os Direitos (ius) era entre o Ius Cilvile e o Ius Gentium.

Ius Civile: é o direito próprio do cidadão romano e exclusivo deste. lus Gentium: é o
direito universal, aplicável a todos os homens livres, inclusive os estrangeiros.

4.3.1. DIVISÃO BASEADA NA ORIGEM

Baseando-se na fonte do Direito, os romanos diferenciavam o Ius Civile, o Ius


Honorarium e o Ius Extraordinarium. O Ius Civile era o Direito tradicional que provinha do
costume, das leis, dos plebiscitos e, na época imperial, dos senatus consultos e das
Constituições Imperiais. O Ius Honorarium era o Direito elaborado e introduzido pelos
pretores e o Ius Extraordinarium era derivado da atividade jurisdicional do Imperador na
época do Império. O Imperador e seus funcionários, tomando conhecimento das controvérsias
de forma diferente da ordem natural dos juízos originaram todo um conjunto de normas.

4.3.2. ​ ​DIVISÃO BASEADA NA APLICABILIDADE

Essa distinção se faz baseada em de que forma as regras podem ou não ser aplicadas.
Distingue-se, então, entre Ius Cogens e Ius Dispositivum. Jus Cogens é a regra absoluta. Sua
aplicação não depende da vontade das partes interessadas. É o caso do Direito Público. Ius
Dispositivium é o Direito que admitia a expressão da vontade dos particulares, as regras
podiam ser modificadas ou postas de lado de acordo com o desejo das partes.
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4.3.3. DIVISÃO BASEADA NO SUJEITO

Dependendo da regra, se esta era aplicável a todos ou somente a alguns, os romanos


distinguiam o Ius Commuze do Ius Singulare. O Ius Commune é o conjunto de regras que
regem de modo geral uma série de casos normais. É a regra que se opõe à exceção. O Ius
Singulare são as regras que valem somente para uma categoria de pessoas, grupos ou
situações específicas. É importante salientar que o Ius Singulare não é uma determinação
particular, válida somente a uma pessoa. Essa situação era chamada no Direito Romano de
Privilegium e não tinha o peso do Ius Singulare.

4.4. CAPACIDADE DE DIREITO

Capacidade jurídica de gozo - chamada também de capacidade de direito - é a aptidão


do indivíduo para ser sujeito de direitos e obrigações. Hoje em dia, na maioria dos países do
mundo, todos têm capacidade de direito, mas em Roma não era da mesma forma. Havia uma
série de precondições para que o homem tivesse capacidade jurídica de gozo. Para ter
completa capacidade de direito, era necessário que a pessoa fosse livre (status libertatis),
tivesse cidadania romana (status civitatis) e fosse independente do pátrio poder de alguém
(status familiae).

4.4.1 STATUS LIBERTATIS

Para ter capacidade Jurídica o indivíduo tinha que ser livre. Escravos não tinham
direitos, nem privados, nem públicos, eram apenas objeto de relações jurídicas.O indivíduo
podia ou nascer escravo ou tornar-se escravo. Nesse último caso, a pessoa tornava-se escrava
por aprisionamento em guerra, por disposições penais ou, até a Lei Licínia Sextia (século IV
a.C.), poderia tornar-se escrava pelo não-pagamento de uma dívida. Pelo Ius Civile antigo,
eram muitos os crimes pelos quais o indivíduo poderia pagar com a escravidão, como, por
exemplo, se o cidadão não aceitasse o recrutamento ou fugisse da obrigação do censo.

O escravo não podia contrair matrimônio legítimo e todos os bens adquiridos por ele
pertenciam, a princípio, ao senhor. Entretanto, era costume entre os romanos, principalmente
para escravos urbanos, permitir ao escravo ter um peeúlium, ou seja, ter a posse de alguns
bens pelos quais poderiam desenvolver algum comércio ou serviço. Da mesma forma que
uma pessoa poderia tornar-se escrava, ela também poderia deixar de sê-lo através da
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manumissão. Esta era bastante comum em Roma, não só porque com a possibilidade da,
liberdade o escravo produzia mais, mas também porque a vaidade romana gostava muito de
cortejos fúnebres, acompanhados pelos escravos manumitidos pelo defunto. A princípio,
eram apenas três as fórmulas jurídicas de libertação de um escravo: o cerjsu (o escravo era
inscrito, com a permissão do dono, no registro censitário do censor), a vindicta (processo
judicial no qual se discutia a liberdade do escravo), testamento (o escravo era libertado em
testamento, essa forma já era reconhecida na Lei das XII Tábuas).

O pretor reconhecia outras formas de libertação: a feita perante testemunhas


(manumissio inter amicos), fazendo-se sentar o escravo à mesa (per mesa), por escrito (per
epistulam) ou mesmo somente colocando o chapéu na cabeça do escravo (per pileum).O
escravo libertado, chamado liberto, não tinha os mesmos direitos das pessoas que nunca
estiveram na condição de escravos (estes eram chamados de ingênuos), seus direitos políticos
eram limitados e, no campo do direito privado, o liberto encontrava-se na dependência do
ex-dono.

4.4.2. STATUS CIVITATIS

A cidadania romana era condição imprescindível para a capacidade jurídica plena. Os


não-cidadãos (nascer em Roma não era garantia de cidadania) e os estrangeiros podiam ter
propriedade, fazer testamento, por exemplo, mas pelas regras de sua cidade de origem.

Somente os inimigos vencidos (peregríni dediticii) cujo direito e independência não


tivessem sido reconhecidos pelos romanos estariam privados do uso de seu direito de origem.
Era cidadão aquele que nascia de casamento válido pelo ius civile, ou se a mãe fosse de
família cidadã. Podiam tornar-se cidadãos os indivíduos ou povos que recebessem a
cidadania por lei ou por vontade do imperador. A cidadania podia ser perdida através da
Capitis Deminutio, que era a diminuição ou perda dos direitos de cidadão. "Civili ratione
capitis deminutio morti coaequatur" - no Direito Civil, a perda da cidadania se equipara à
morte.

4.4.3. STATUS FAMILIAE


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Atualmente, a situação do sujeito perante a família não tem grande valor no que diz
respeito à sua capacidade de direito; em Roma, era de suma importância essa posição, pois o
status familiae determinava a capacidade.

Para uma completa capacidade jurídica de gozo era preciso que o indivíduo fosse
independente do pátrio poder (pátria potestas). Dentro da organização familiar romana, eram
distintos dois tipos de pessoas: os sui iuris - totalmente independentes, sem um pater-familias
e os aliem' iuris - pessoas sujeitas ao poder de um pater famílias. A independência do pátrio
poder não tinha, necessariamente, relação com idade ou com o fato de se ter paternidade. Urn
recém-nascido, por exemplo, se não tivesse ascendente masculino, era independente do pátrio
poder. Em outro extremo, um ancião, com o pai ainda vivo e que nunca tivesse sido
emancipado, era alien iuris.

Os alien iuris não eram totalmente incapazes juridicamente. No que diz respeito aos
direitos públicos, tinham plena capacidade, podiam votar e ser votados para as magistraturas
(ius sufragü e ius honorum), podiam participar do exército. No tocante aos direitos privados,
podiam casar-se (ius conubii), desde que obtivessem o consentimento de seu pater famílias.
No campo patrimonial, tudo o que o alien iuris adquiria o fazia para o pater famílias, ao
contrário das obrigações assumidas pelo atíeziiuris, pelas quais o pater famílias somente
respondia em casos excepcionais. O indivíduo podia sair da condição de alien iuris, caso
perdesse seu ascendente masculino direto por morte ou fosse emancipado. Poderia também,
sendo suí íuris, tornar-se alien iuris por adoção.

Todos os casos considerados nos pontos acima são exclusivos do sexo masculino,
visto que à mulher não era permitida plena capacidade. Elas não tinham direitos públicos e
sofriam restrições no âmbito do direito privado também.

4.5. FILOSOFIA CRISTÃ DA HISTÓRIA

Quando o cristianismo apareceu em roma ele não se apresentou como uma corrente
filosófica , pois o ensinamento de Cristo trazia uma conduta ética interessante, porém se
baseava em uma fé em Jesus, como o salvador, e não em uma tentativa de dar uma explicação
racional ao universo.
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Sendo assim, vêm a questão de por que se desenvolveu uma filosofia cristã? Segundo
Cicco (2017, p. 91) “havia o risco de sua mensagem não ser tomada a sério se não tivesse
uma apresentação filosófica”

Porém havia um limite ao qual a filosofia cristã não poderia ultrapassar, nuca a
racionalidade ou os argumentos poderiam negar a fé e os preceitos cristãos. E mesmo depois
de tanto tempo, tal fato ainda é permanente no meio do cristianismo.

Um dos principais filósofos desse período foi Santo Agostinho. Em seus estudos,
Agostinho tentou combinar a revelação da bíblia com os ensinamentos da antiguidade
clássica grega e romana. Em uma de suas cartas a Marcelino, Santo Agostinho deixa claro
que o povo cristão obedece às leis vindas do Estado ele diz ainda que tal povo não é
revolucionário ou ainda contestador das ações vindas do Estado.

Muitos políticos romanos e até mesmo o povo, que não eram cristãos, diziam que a
principal causa da decadência do império romano se deu devido a adesão ao cristianismo. O
povo, principalmente, dizia que os deuses que protegiam Roma teriam abandonado o império
a própria sorte, pois teriam sido deixado de lado.

Mas, Agostinho com a intenção de refutar os ataques contra o cristianismo escreveu


sua principal obra intitulada A Cidade de Deus. Nesta, Agostinho mostra que a decadência do
império romano não se deu pelo fato da adesão ao cristianismo.

Em sua obra Santo Agostinho diferentes dois tipos de pessoas, as pessoas más e
ambiciosas das pessoas boas e humildes, as primeiras pessoas formam o conjunto da "cidade
dos homens" enquanto que as segundas fariam parte da “cidade de Deus”. Tais pessoas
viveriam misturadas na Terra e a história nada mais seria do que a luta entre as duas cidades.

Nessa concepção o Estado serviria como um remédio, quando governado pelas


pessoas boas, mas seria um instrumento de maldade se administrado com maldade. Sendo
assim, de acordo com Agostinho, o Estado que proteja as virtudes cristãs chegará aos seus
objetivos, porém o Estado que persiga os cristãos se afastará do bem comum, assim como
aconteceu em uma parte do Império Romano.
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Segundo Cicco (2017, p. 93) "com essa obra, o pensador africano inaugura os estudos
de Filosofia da História, buscando um sentido total para as miríades de ações humanas que
marcam o caminhar da humanidade"

Outra contribuição importante introduzida por Santo Agostinho é a concepção linear


do tempo, pois na antiguidade, tanto no ocidente quanto no oriente, o tempo era considerado
como cíclico, mas a partir de uma visão bíblica em que todas as coisas teriam um início e
existiria um fim do mundo, o Cristianismo proporcionou a ideia de história para a mudança
para algo novo.

Santo Agostinho afirmava que a lei de Deus, contida nos dez mandamentos, seria a lei
suprema a qual o homem deveria se subordinar. Segundo Cicco (2017, p. 94) "é a hierarquia
das leis que será retomada e enriquecida durante a época seguinte, por exemplo com São
Tomás de Aquino, quando utilizando a ética Aristotélica e o direito romano, mostra que
mesmo sem a revolução seria possível ao homem conhecer algo da lei natural ou ordenação
divina da natureza" .

5. O ESTUDO DO DIREITO E OS ADVOGADOS EM ROMA

Antes de sofrer as influências dos povos conquistados, a educação romana era ​per
exemplo,​ ou seja, o indivíduo era educado pelo seu pai ou por um tutor por ele indicado. Já o
método de ensino era fundado na prática, pelo chamado ​respondere audire​: os jovens
assistiam às consultas que se davam entre mestre e cliente, assim como ouviam as
explicações minuciosas desses mestres sobre o caso. É só a partir do primeiro século antes de
cristo esse ensino prático passa a ser sistematizado: tem-se doutrina, princípios, divisões,
classificações e terminologias precisas.

Quanto mais cresceu a influência dos Jurisconsultos, mais o estudo direito se


desenvolveu. Além de servir para consultas jurídicas, eles também funcionavam como uma
escola pública. Localizavam-se perto de templos, que possuíam bibliotecas anexadas. É
importante, aqui, diferenciar a figura do ​iurisconsultos d​ o ​orator. O primeiro estudava o
aspecto jurídico das controvérsias, enquanto o outro fazia a defesa de seu cliente.

Ser advogado era quase uma tendência natural em razão do enorme apego que os
romanos tinham com a oratória. Os maiores políticos da época republicana eram da área
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jurídica, tanto é que não havia o recebimento de honorários pelo trabalho em razão do apoio
eleitoral que se ganhava realizando-o. Isso muda só com o Império, onde a carreira política
perde seu destaque e o recebimento de honorários passa a ser permitido por lei, nascendo
então a profissão jurídica.

6. REFLEXÕES SOBRE O DIREITO ROMANO E O DIREITO MODERNO.

Não há como negar que nosso pensamento, nossos costumes, nosso direito, nossas
práticas embora com sentidos e representações distintas, nossa sociedade é herdeira da
tradição latino-romana.

A busca pelo passado na tentativa de legitimar o presente, tão recorrente na nossa


sociedade era praticada pelos romanos e, certamente nos foi repassada por essa tradição.
Aquilo que se falava sobre o passado definia o presente, sendo o presente a continuação do
passado.

O cidadão era reconhecido por sua participação no culto da cidade, e dessa


participação, provinham todos os seus direitos políticos e civis. Renunciar ao culto era
renunciar aos direitos. O culto proporcionava a familia, que por sua vez possibilitava a
cidadania e o acesso ao direito.

O termo magistrado, tão utilizado na atualidade, refere-se àquele que governa,


demostrando a relação estabelecida entre o governante e o direito. Aquele que dizia o direito
era também aquele que comandava a cidade, a religião, a familia.

De acordo com Santos (2014, p.92) “a inexistência do debate e de um grupo


especifico para pensar o direito impossibilitou o surgimento de uma jurisprudência no inicio
da república romana. O cônsule ficava sobrecarregado de atividades e o direito era apenas
uma das inúmeras funções do cargo”. Sendo assim, a prática jurídica ficou atrelada aos
costumes e a tradição. O excepcional apego dos romanos à tradição, a lei escrita, tornou-se
uma das práticas mais corriqueiras do direito. Acreditava-se que “o dar a cada um o que é
seu”, conceito popular da justiça, ocorria de forma mais efetiva pelo apego à tradição.

Como herança do direito romano, temos que foi ele o primeiro a organizar e construir
um corpo jurídico na antiguidade (corpus juris civilis). Além disso, varios institutos juridico
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brasileiro se originam no direito romano, como por exemplo o contrato de compra e venda.
Deste modo o estudo do direito romano é essencial para a formação de um jurista, pois não
basta apenas conhecer as coisas como elas são, mas também é necessário saber como elas se
originaram e se modificaram ao longo do tempo.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do que foi abordado no decorrer do texto, o império romano deixou inúmeras
contribuições para a atual sociedade, principalmente no que diz respeito ao atual sistema de
direito, que corresponde ao civil law herança de um direito romano.

De acordo com Maciel e Aguiar (2010, p.74) “a história do direito romano [...] vai do
século VII a.C. a V d.C., com a queda do Império Romano do Ocidente, prolongada até ao
século XV com o Império Romano do Oriente, também conhecido como Império Bizantino”.
O império romano se desenvolveu e cresceu até certo ponto que a sua administração era
quase impossível, tendo em vista os mecanismos administrativo da época, e as invasões
bárbaras, principalmente, fez com com o império se dissolvesse.

Os povos bárbaros não tinham o mesmo nível político-administrativo dos romanos o


que fez com que ocorresse uma descentralização do poder após a queda do império romano.
Tal descentralização foi responsável, futuramente, pelo surgimento dos feudos e também deu
partido para a idade média.
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8. REFERÊNCIAS

SALDANHA, Daniel Cabaleiro. História e Teoria das Fontes do Direito Romano. 2011.
Dissertação (Mestrado Direito) - UFMG, Belo Horizonte, 2011. Disponível em:
http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/BUOS-8MQGPW/hist_ri
a_teoria_das_fontes_do_direito_romano_daniel_cabaleiro_saldanha.pdf?sequence=1. Acesso
em: 28 jul. 2019.

SANTOS, Eucléia Gonçalves. A HISTÓRIA DO DIREITO ROMANO E SUA


PERMANÊNCIA. Cadernos da Escola de Direito e Relações Internacionais, Curitiba, 15 jul.
2014. Disponível em:
http://revistas.unibrasil.com.br/cadernosdireito/index.php/direito/article/view/831/788.
Acesso em: 28 jul. 2019.

LEÃO, Delfim; BRANDÃO, José Luís. História de Roma Antiga I: Das Origens À Morte de
César. Coimbra: Imprensa Da Universidade de Coimbra, 2015. Disponível em:
https://estudogeral.uc.pt/bitstream/10316/32496/1/LEA%cc%83O_BRANDA%cc%83O_201
5_As%20origens%20da%20urbe%20e%20o%20peri%cc%81odo%20da%20monarquia.pdf.
Acesso em: 28 jul. 2018.

DE CASTRO, Flávia Lages. História do Direito Geral e do Brasil. Rio de Janeiro: Editora
Lumen Juris, 2007.

GILISSEN, John. Introdução Histórica ao Direito. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,


1997.

BARBOSA, Susana Mesquita; BAGNOLI , Cristina Godoy Bernardo de Oliveira Vicente.


Introdução À História Do Direito. [​S. l.]​ : Atlas, 2014.

LOPES, Jose Reinaldo de Lima. O Direito na História - Lições Introdutórias. [S. l.]: Atlas,
2000.

CRISTINA, Miguel; SANTOS, Miguel; JUNIOR, Wilson. Antiga Roma. [S. l.], 2007.
Disponível em: https://antigaroma.webs.com/. Acesso em: 28 jul. 2019.

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