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Carlos Biasotti

“QUOUSQUE TANDEM ABUTERE, CATILINA,


PATIENTIA NOSTRA?”
(Cicero, Oratio Prima in Catilinam, I, 1)

9a. ed.

2023
São Paulo, Brasil
O Autor

Carlos Biasotti foi advogado criminalista, presidente da


Acrimesp (Associação dos Advogados Criminalistas do Estado de
São Paulo) e membro efetivo de diversas entidades (OAB, AASP,
IASP, ADESG, UBE, IBCCrim, Sociedade Brasileira de
Criminologia, Associação Americana de Juristas, Academia
Brasileira de Direito Criminal, Academia Brasileira de Arte,
Cultura e História, etc.).

Premiado pelo Instituto dos Advogados de São Paulo, no


concurso O Melhor Arrazoado Forense, realizado em 1982, é
autor de Lições Práticas de Processo Penal, O Crime da Pedra,
Tributo aos Advogados Criminalistas, Advocacia Criminal
(Teoria e Prática), Da Prova, Da Pena, Direito Ambiental,
O Cão na Literatura, etc., além de numerosos artigos jurídicos
publicados em jornais e revistas.

Juiz do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São


Paulo (nomeado pelo critério do quinto constitucional, classe dos
advogados), desde 30.8.1996, foi promovido, por merecimento,
em 14.4.2004, ao cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça.

Condecorações e títulos honoríficos: Colar do Mérito


Judiciário (instituído e conferido pelo Poder Judiciário do Estado
de São Paulo); medalha cívica da Ordem dos Nobres Cavaleiros
de São Paulo; medalha cultural “Brasil 500 anos”; medalha
“Prof. Dr. Antonio Chaves”, etc.
“QUOUSQUE TANDEM ABUTERE, CATILINA,
PATIENTIA NOSTRA?”
(Cicero, Oratio Prima in Catilinam, I, 1)
Carlos Biasotti

“QUOUSQUE TANDEM ABUTERE, CATILINA,


PATIENTIA NOSTRA?”
(Cicero, Oratio Prima in Catilinam, I, 1)

9a. ed.

2023
São Paulo, Brasil
“QUOUSQUE TANDEM ABUTERE, CATILINA,
PATIENTIA NOSTRA?”
(Cicero, Oratio Prima in Catilinam, I, 1)

I. As palavras que servem de título a este breve ensaio


proferiu-as o célebre orador romano Marco Túlio Cícero, no
dia 8 de novembro do ano 63 a. C., no templo de “Jupiter
Stator”(*), onde, na condição de Primeiro Cônsul, reunira
o Senado para denunciar a conjuração de Catilina, “homem
audacioso e temerário”(1), que pretendia subverter os
fundamentos das instituições políticas e sociais de Roma.
Quatro orações pronunciou o notável tribuno contra
o demagogo, conhecidas pelo nome de “Catilinárias”, termo
que passou a designar toda a “acusação enérgica e
eloquente”.(2)
Segundo o historiador Salústio, “Lúcio Catilina, de
nobre ascendência, foi de grande força de alma e de corpo;
porém de má e depravada índole. (…) Depois da tirania
de Sila, um desenfreado desejo o assaltara de escravizar
a república; e como o reino obtivesse, não olhava por que
meio”.(3)

(*) “Stator, oris – Estator, epíteto de Júpiter (= que faz parar os que fogem)”
(cf. Francisco Torrinha, Dicionário Latino-Português, 3a. ed.; v. Stator).

(1) Plutarco, Varões Ilustres, 1944, p. 167; trad. Mário Gonçalves Viana;
Editora Educação Nacional; Porto.

(2) Caldas Aulete, Dicionário Contemporâneo, 2a. ed.; v. catilinária.

(3) Obras, 1945, p. 36; trad. Barreto Feio; Editora Cultura; São Paulo.
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Catilina e seus sequazes foram, por decisão do


Senado, condenados à pena última.
Por haver descoberto e reprimido a conjuração de
Catilina, o povo concedeu a Cícero o título de Pai da pátria
(“Pater patriae”).
Os sicários do triúnviro Marco Antônio, seu inimigo
figadal, contra quem havia proferido “uma longa série de
catorze discursos conhecidos pelo nome de Filípicas”(4),
puseram termo à vida do imortal orador, cortando-lhe a
cabeça e as mãos, que foram pregadas no rostro, ou tribuna
dos oradores, em Roma.
“Cícero foi morto a 7 de dezembro do ano 710 da
fundação de Roma, isto é, 44 anos antes da nossa era: tinha
a idade de 63 anos, 11 meses e 5 dias”.(5)

II. Exemplo clássico de exórdio “ex abrupto”(6), aquele


tópico de Cícero — “Quousque tandem abutere, Catilina,

(4) Arlindo Ribeiro da Cunha, “In Catilinam”, 1943, p. CLIII; Livraria Cruz;
Braga.

(5) Cezar Zama, Três Grandes Oradores da Antiguidade, 1896, p. 571; Bahia.

(6) “Exórdio improviso ou abrupto é aquele em que o orador, arrebatado por


uma impetuosa paixão, abala inesperadamente os ouvintes. (…) subitamente
inflamado pela presença duma pessoa ou dum objeto, o orador começa logo a
trovejar na assembleia. Assim contra Catilina investe de súbito o orador romano
(na I Cat.): Até quando enfim, Catilina, hás de abusar da nossa paciência?”
(A. Cardoso Borges de Figueiredo, Retórica, 1875, pp. 48-49; Coimbra).

Manoel da Costa Honorato, pelo mesmo feitio: “Exórdio veemente ou ex


abrupto é aquele em que o orador entra bruscamente em matéria, apodera-se das
disposições de seu auditório e entrega-se, desde o princípio, aos movimentos
apaixonados, como fez Cícero, entrando repentina e audaciosamente no senado
romano, onde exprobrou a Catilina por achar-se também nesse recinto, dizendo:
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patientia nostra?” —, vertido em vulgar, significa: Até


quando enfim, Catilina, abusarás da nossa paciência?(7)
Cai a lanço transcrever aqui a narração de Narciso
José de Morais acerca do fato histórico:
“No momento em que os exércitos da república
colhiam na Ásia, com Pompeu, troféus brilhantes, Roma
ficou exposta de repente a um perigo terrível.
O ascendente dos cavaleiros tornara-se insuportável
e, enquanto que ostentavam em Roma suas fortunas
escandalosas, uma população inteira, arruinada pela usura,
errava na Itália, esperando só um chefe para se sublevar.
O momento era favorável para tentar qualquer
empresa audaciosa; Catilina aproveitou-o. Era homem de
têmpera superior, mas profundamente corrompido. Tinha-se
tornado centro de todos os devassos arruinados, de todos os
que esperavam restabelecer a sua fortuna sobre as ruínas da
cidade. Catilina chegou a fazer desta turba um partido, uma

Até quando, ó Catilina, abusarás de nossa paciência?” (Compêndio de Retórica


e Poética, 1879, pp. 30-31; Rio de Janeiro).

De igual teor, a lição de M. Fábio Quintiliano: “(…) como o mesmo Cícero


também já tinha praticado contra Catilina: Até quando abusarás, ó Catilina, da
nossa paciência?” (Instituições Oratórias, 1888, t. I, p. 259; trad. Jerônimo
Soares Barbosa; Imprensa Real da Universidade; Coimbra).

Finalmente, o erudito Francisco de Pina: o exórdio repentino ou veemente,


“quando o orador, com toda a veemência, sai com uma proposição inopinada;
como aquela de Cícero na primeira Oração contra Catilina: Quousque tandem
abutere, Catilina, patientia nostra?” (Arte de Retórica, 1776, p. 54; Lisboa).

(7) Assim traduziu Napoleão Mendes de Almeida, latinista exímio, o conhecido


lugar de Cícero (cf. Gramática Latina, 29a. ed., p. 371; Editora Saraiva; São
Paulo).
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sorte de exército pronto para todas as violências e para todos


os atentados.
Afastado do consulado, resolveu, por meio duma
conspiração, degolar os cônsules, uma parte dos senadores,
e apoderar-se do poder.
Nada tinha ainda transpirado da conjuração prestes a
rebentar, e era uma vez Roma, se uma mulher, Fúlvia, não
tivesse tudo descoberto a Cícero. Este fez então lançar o
famoso decreto: Caveant consules…(8), que se promulgava
nos dias de crise e de perigo” (Flores Históricas, 1887,
pp. 18-19; Porto).

III. Diversamente do português — em que os vocábulos


têm uma sílaba tônica(9), marcada, quando necessário, com o
sinal diacrítico, por exemplo: intrépido, trôpego, júri, recém,
rubrica, avaro, misantropo, etc. —, no latim as sílabas
pronunciam-se conforme a quantidade (breves ou longas).

(8) “Caveant consules… Que os cônsules tomem cuidado. Fórmula com a qual
o Senado Romano, nas grandes crises, investia os cônsules do poder ditatorial:
Caveant consules ne quid detrimenti respublica capiat. Que os cônsules tomem
cuidado para que a república não sofra algum dano” (Arthur Rezende, Frases e
Curiosidades Latinas, 1955, p. 83; Rio de Janeiro).

(9) Sílaba tônica – “(…) aquela sobre a qual recai o acento tônico da palavra,
isto é, aquela cujo tom predomina” (Napoleão Mendes de Almeida, Gramática
Metódica da Língua Portuguesa, 29a. ed., p. 50; Edição Saraiva).

“Acentuação prosódica é a maior intensidadde de tom de uma sílaba em


relação às outras do mesmo vocábulo. A sílaba mais acentuada diz-se
predominante ou tônica. Tão relevante é o papel do acento tônico, que a este
chamou Max Müller a alma e o centro de gravidade da palavra” (Osório Duque
Estrada, A Arte de Fazer Versos, 1914, p. 62; Francisco Alves & Cia.).
13

A quantidade de uma sílaba é o tempo que se gasta na sua


prolação. A sílaba longa equivale a duas breves.
Para indicar a vogal breve emprega o latim o
sinal ˘ (braquia)(10); a vogal longa, um traço horizontal ̄
(mácron). Assim: mēnsă, vīrtūs, jūdĭciārĭus.
Aqui vem a ponto o reparo de Júlio Comba, mestre
em latim e insigne humanista:
“Acentuação. a) O acento latino não cai nunca sobre
a última sílaba: amor (amor) pronuncia-se ámor. b) Nas
palavras de mais de duas sílabas o acento cairá na
penúltima, se esta for longa; cairá na antepenúltima, se a
penúltima for breve: Amabāmus (amávamos), pronuncia-se
amabámus; Oceănus (Oceano) pronuncia-se océanus;
circumdăbĭtis (circundareis) pronuncia-se circumdábitis”
(Gramática Latina, 4a. ed., p. 18; Editora Salesiana Dom
Bosco).

Autores modernos, para efeitos didáticos e por obviar


a dificuldades em estabelecer os sinais indicativos da
quantidade silábica — braquia ( ˘ ) e mácron ( ̄ ) —, têm
usado o acento agudo para assinalar a sílaba tônica da palavra
latina.

Em suma: embora os escritores romanos nenhum


acento gráfico empregassem — pois nem os sinais de longa e
breve eram de rigor —, pareceu bem que, para atender às

(10) Representação gráfica da braquia: “(…) pequena curva com a concavidade


para cima ( ˘ )” (cf. Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 11a.
ed.; v. braquia).
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conveniências do estudo, se introduzisse o costume de marcar


as palavras latinas com o acento agudo ( ´ ), como têm
praticado sujeitos de nomeada e raro saber. Obrou nesta
conformidade José Lodeiro, ao recorrer à notação léxica
(acento agudo) para ressaltar a sílaba tônica das palavras da
bela sentença do poeta Ênio: “Amícus cértus in re incérta
cérnitur”(Pequeno Dicionário de Frases Latinas, 1946,
p. 23; Edição Tabajara; Porto Alegre). Tradução: O amigo
verdadeiro conhece-se nas ocasiões precisas.

(Isto em ordem à pronúncia; que, escrita a frase em


latim, o uso do acento será de todo o ponto escusado:
“Amicus certus in re incerta cernitur”).(11)

(11) A prática de acentuar graficamente a sílaba tônica de palavra latina tem sido
adotada por gramáticos e filólogos de pulso, como forma de evitar constantes
solecismos prosódicos (“silabadas”).

Na verdade, à luz do pragmatismo que hoje parece orientar as ciências,


importa mais saber, por exemplo, que na palavra “labore” — da expressão “pro
labore” (pelo trabalho) — a sílaba tônica é a penúltima (“labóre”), do que
declarar, pela craveira latina, a quantidade (breve ou longa) de suas sílabas…

Outro tanto, em referência ao advérbio “ubinam”, empregado por Cícero:


“Ubinam gentium sumus?” (1a. Cat., cap. IV). Em que parte do mundo estamos?
Atenta a quantidade de suas vogais, a palavra é marcada com a braquia ( ˘ ):
“ŭbĭnăm”. Como a devemos pronunciar, porém?! Aqui é que está o busílis!

Eis por que autores de obras latinas, por amor da exação da pronúncia, têm
optado pelo sinal de acento agudo ( ´ ) para marcar a sílaba tônica da palavra,
como fez o abalizado Júlio Comba: “Úbinam (…)” (op. cit., p. 201). E outros
mais: Mílton Valente, Gramática Latina, 82a. ed.; Ludus (Curso de Latim), 61a.
ed.; Livraria Selbach; Porto Alegre; Júlio Comba, Gramática Latina, 4a. ed.;
Programa de Latim (vols. I e II), 2003; Editora Salesiana Dom Bosco; Diurnal
Monástico (latim – português), 1962; Edições “Lumen Christi”; C. Torres
Pastorino, Latim para os Alunos, 1963; J. Ozon Editor; G. Campanini – G.
Carboni, Vocabolario Latino-Italiano, 1957; Torino; V. César da Silveira,
Dicionário de Direito Romano, 1957; 2 vols.; José Bushatsky, Editor;
15

IV. “Abútere” ou “Abutére”?


F. R. dos Santos Saraiva (Dicionário Latino-Português,
9a. ed.; v. ăbūtŏr) traz os tempos primitivos do verbo que, em
nosso vernáculo, significa abusar: “Ăbūtor, ăbūtĕrĭs, ăbūsŭs
sum, ăbūtĭ”.(12)
De par com essa forma típica depoente, registra a
seguinte, que averba de arcaica: “Ăbūtŏ, ăbūtĭs, ăbūtĕrĕ”.
É seu paradigma o verbo “légere”, da 3a. conjugação.
A dar-se o caso que “abutere” — que consta da frase de
Cícero — estivesse no modo infinitivo (presente), havia-se de
pronunciar “abútere” (abusar). Mas — e aqui bate o ponto! —,
a forma verbal que empregou O Príncipe da Eloquência
Romana foi “a da segunda pessoa do singular do futuro
imperfeito do indicativo. Cícero emprega-a frequentemente
(…)” (Maximiano Augusto Gonçalves, Tradução das
Catilinárias, 2a. ed., p. 22; Livraria H. Antunes Ltda.; Rio de
Janeiro).(13)

A forma verbal “abutere” — da fulminante invectiva


de Cícero contra Catilina —, portanto, não admite, pelos

São Paulo; José Vicente Gomes de Moura, Compendio de Grammatica Latina e


Portugueza, 1850; Imprensa da Universidade; Lisboa, etc.

(12) O Vocabolario Latino-Italiano, de G. Campanini – G. Carboni, pondo a


mira em dar a conhecer ao leitor, “prima facie”, a escorreita prosódia das formas
verbais, apresenta-as deste modo: “Abútor, abúteris, abúsus (a, um) sum, abúti”.

(13) Assim entende esse lugar a generalidade dos latinistas: Mílton Valente,
Gramática Latina, 82a. ed., p. 148; A. J. da Silva D’Azevedo, “Humanitas”, 4a.
ed., p. 77; Nicolau Firmino, As Catilinárias, 4a. ed., p. 67; José Cretella Júnior,
Latim para o Colégio, 1950, pp. 152-153; Vandick Londres da Nóbrega,
A Presença do Latim, 1962, vol. III, p. 44; José Pinheiro, Selecta Latina, 1960,
vol. II, p. 284, etc.
16

regulares cânones gramaticais, senão a pronúncia “abutēre”,


pois é longa a penúltima sílaba.
Daqui a razão por que mestres de latinidade, no
intento de prevenir “estridentes silabadas” — na frase do
preclaro João Ravizza(14) —, soem grafar a palavra com
acento agudo: “abutére”.

Em suma: “Quousque tandem abutere, Catilina,


patientia nostra”? Até quando enfim, Catilina, abusarás da
nossa paciência?

V. Cícero, cujo nome estará eternamente associado aos


homens de pensamento, aos artistas da palavra e aos cultores
do Direito, é “o maior vulto da literatura latina”(15) e,
juntamente, o espelho de todos os oradores e advogados.
Ilustrou, com infinitos exemplos, o poder imenso da
palavra e expôs aos advogados, em soberbas lições, a arte de
patrocinar causas judiciais e obter com a oratória triunfos
singulares.
A leitura atenta e aturada de seus discursos descobrirá
aos que fazem profissão da vida forense as excelências da
doutrina e os princípios que regem o exercício da defesa e a
técnica da argumentação à face dos pretórios da Justiça.
Ler Cícero, mesmo em tradução, é faiscar em terreno
de inesgotáveis tesouros, que nenhum espírito culto e ávido
de saber costuma desdenhar.

(14) A Morfologia Latina, 1934, p. 5.

(15) Augusto Magne, Selecta Latina, 1914, p. 333.


17

Que seja isto superior a toda a dúvida, para logo o


conhecerá aquele que se detiver na leitura de seus lapidares
discursos forenses, v.g.: Oração em Defesa de Róscio
Amerino(16), “Pro Milone” (em favor de T. Ânio Milão)(17),
“Pro Ligario” (em favor de Quinto Ligário)(18), “Pro

(16) Orçava Cícero pelos 27 anos de sua idade quando defendeu Róscio
Amerino, acusado de parricídio. “Ele teve a satisfação de ver Róscio declarado
inocente” (Luiz Carlos Muniz Barreto, História das Orações de M. T. Cícero,
1772, p. 9; Lisboa).

(17) “(…) a obra-prima da sua eloquência. Como diz um velho autor, cada parte
é perfeita no seu gênero; admira-se a majestade do exórdio, a clareza da
narração, a conexão das provas, o vigor dos pensamentos; finalmente o patético
lastimoso, que é como a alma da peroração” (Arlindo Ribeiro da Cunha, “In
Catilinam”, 1943, p. CXL; Livraria Cruz; Braga).

(18) Dos primores desta oração disse tudo Plutarco, ao escrever: “Quinto
Ligário foi processado como inimigo de César, e Cícero encarregou-se de o
defender. Sabendo disto, César disse aos seus amigos: Que mal pode haver em
deixarmos falar Cícero? Há já muito tempo que não o ouvimos. O cliente dele é
um homem pérfido, é meu inimigo; já está condenado de antemão. Mas Cícero
impressionou extraordinariamente o juiz, desde o começo de seu discurso; à
medida que ia falando, excitava paixões tão contraditórias, dava à sua linguagem
uma tal doçura e encanto, que houve quem visse César mudar muitas vezes de
cor, e revelar, na fisionomia, os diversos sentimentos que lhe agitavam a alma.
Quando, por fim, o orador falou na batalha de Farsália, César, não podendo
dominar os nervos, começou a tremer, e deixou cair os papéis que tinha na mão.
Cícero, vencendo o ódio do julgador, obrigou-o a absolver Ligário” (Varões
Ilustres – Demóstenes e Cícero –, 1944, p. 230; trad. Mário Gonçalves Viana;
Editora Educação Nacional; Porto).

Por fim, o juízo crítico do tradutor, em nota de pé de página:

“Este discurso é, com efeito, uma peça oratória admirável, e o triunfo de


Cícero, alcançado em condições tão adversas, é um dos mais assombrosos
exemplos do poder convincente e avassalador da palavra falada” (Idem, ibidem).
18

Murena” (por Licínio Murena), Em Defesa do Poeta


Árquias, “Pro Marcello”(19), Catilinárias, Verrinas, etc.

VI. Textos Antológicos de Cícero

l. “Justitia omnium est domina et regina virtutum” (De


Officiis, III, 6).
A justiça é a senhora e rainha de todas as virtudes.
2. “Cedant arma togae” (De Off., I, 21).
Cedam as armas à toga.
3. “Dubitando ad veritatem pervenimus” (Tusculanae
Disputationes, I, 30, 73).
Duvidando chegamos à verdade.
4. “Deum non vides tamen Deum agnoscis ex operibus
ejus” (Tusc. Disp., I, 28).
Não vês Deus, mas tu o conheces pelas suas obras.
5. “Errare malo cum Platone quam cum istis vera sentire”
(Tusc. Disp., I, 17, 39).
Prefiro errar com Platão a ter razão com esses.

(19) “Pela elegância de estilo, viveza de sentimentos e habilidade nos elogios


feitos ao Senhor do Mundo, é, no gênero, uma das obras mais perfeitas que a
antiguidade nos legou” (Arlindo Ribeiro da Cunha, op. cit., p. CXLVI).
19

6. “Historia vero testis temporum, lux veritatis, vita


memoriae, magistra vitae, nuntia vetustatis”(De Oratore, II,
9, 36).
A História é a testemunha dos tempos, a luz da verdade,
a vida da memória, a mestra da vida, a mensageira da
antiguidade.
7. “Summum jus, summa injuria” (De Off., I, 10, 33).
Justiça excessiva torna-se injustiça.
8. “Patria est communis omnium parens” (Cat. , I, 7).
A pátria é a mãe comum de todos nós.
9. “Praeterita mutare non possumus” (In Pisonem, XXV,
59).
Não podemos mudar o passado.
10. “Verae amicitiae sempiternae sunt” (De Amicitia, IX,
32).
As verdadeiras amizades são eternas.
11. “Imago animi vultus” (De Orat., III, 59).
O rosto é o espelho da alma.
12. “Nihil difficile amanti puto” (Orator, X, 39).
Penso que nada é difícil para quem ama.
13. “Cujusvis hominis est errare; nullius, nisi insipientis in
errore perseverare” (Phil., XII, 5).
É próprio do homem errar; mas só do insensato
perseverar no erro.
20

14. “Cum tacent, clamant” (Cat. I, VIII).


O silêncio deles é uma eloquente afirmação.
15. “Habes somnum imaginem mortis” (Tusc. Disp., I, 38,
6).
Tens no sono a imagem da morte.
16. “Accipere quam facere praestat injuriam” (Tusc. Disp.,
V, 19, 56).
É melhor sofrer que cometer injustiça.
17. “Nihil tam absurdum dici potest, quod non dicatur ab
aliquo philosophorum” (De Divinatione, I, 58).
Não há coisa, por mais absurda, que já não tenha sido
afirmada por algum filósofo.
18. “Nemo igitur vir magnus sine aliquo afflatu divino
unquam fuit” (De Natura Deorum, II, 167).
Nenhum grande homem ainda existiu, sem que nele
houvesse uma como centelha divina.
19. “Optimus est enim orator, qui dicendo animos
audientium et docet, et delectat, et permovet” (De Optimo
Genere Oratorum, I, 3).
É ótimo orador aquele que, falando, não só instrui,
como deleita e comove os ouvintes.
21

20. “Ut enim magistratibus leges, ita populo praesunt


magistratibus; vereque dici potest magistratum legem esse
loquentem, legem autem mutum magistratum” (De Legibus,
III, 2).
Como as leis guiam os magistrados, assim os
magistrados o povo. Poder-se-ia dizer em verdade que o
magistrado é a Lei falando, e a Lei o magistrado mudo.
21. “Consuetudo quasi altera natura” (De Finibus
Bonorum et Malorum, V, 25).
O hábito é quase uma segunda natureza.
22. “Amicitia magis elucet inter aequales” (De Amic.,
XXVII, 101).
A amizade mais reluz entre os iguais.
23. “Haec igitur lex in amicitia sanciatur, ut neque rogemus
res turpes nec faciamus rogati” (De Amic., XII, 40).
Seja esta a primeira lei da amizade: não pedir aos amigos
nem fazer-lhes senão coisas honestas.
24. “Nihil est enim quod studio et benevolentia vel amore
potius effici non possit” (Ad Familiares, III, 9).
Nada existe que se não possa fazer com dedicação,
bondade e amor.
25. “Notatio Naturae et animadversio peperit artem”
(Orator, LV, 183).
Da observação atenta da Natureza nasceu a arte.
22

26. “Si hortum in bibliotheca habes, deerit nihil” (Ad


Familiares, IX, 4).
Se tens um jardim ao lado da biblioteca, nada aí faltará.
27. “Mendaci ne verum quidem dicenti creditur” (De
Divinatione, II, 146).
O mentiroso não é acreditado ainda quando diz verdade.
28. “Quid est sanctius, quid omni religione munitius, quam
domus uniuscujusque civium?” (Pro Domo Sua, 109).
Que há de mais sagrado nem mais santo em toda a
religião que a casa do indivíduo?
29. “Nihil est aliud bene et beate vivere, nisi honeste et recte
vivere” (Paradoxa, XV).
Viver bem não é outra coisa que viver reta e honestamente.

30. “Judicium hoc omnium mortalium est, fortunam a Deo


petendam, a ipso sumendam esse sapientiam” (De Natura
Deorum, III, 36).
É opinião comum dos mortais que a fortuna provém de
Deus; a sabedoria, essa nós próprios a devemos adquirir.
31. “Perjuri poena divina exitium, humana dedecus” (De
Legibus, II, 22).
A pena divina reservada ao perjúrio é a destruição; os
homens castigam-no com a infâmia.
23

32. “Meminerimus etiam adversus infimos justitiam esse


servandam” (De Off., I, 13, 41).
Lembremo-nos de que também em relação às pessoas da
última esfera devemos praticar justiça.
33. “Nemo doctus unquam mutationem consilii inconstantiam
dixit esse” (Ad Atticum, XVI, 7).
Nenhum douto jamais averbou de inconstância o mudar
de parecer.
34. “Omnium rerum principia parva sunt” (De Finibus, V,
58).
São pequenos os princípios de todas as coisas.
35. “Mens et animus et sententia civitatis posita sunt in
legibus” (Pro Cluentio, LIII, 146).
O espírito, a alma e a sabedoria de um povo residem nas
suas leis.
36. “Mihi omne tempus est ad meos libros vacuum, nunquam
sunt illi occupati” (De Republica, I, 9).
Para os meus livros tenho sempre tempo, e eles estão
sempre livres para mim.
37. “Honos praemium virtutis” (Brutus, LXXX).
O louvor é o galardão do mérito.
38. “Fundamentum est justitiae fides, id est, dictorum
conventorumque constantia et veritas” (De Off., I, 7).
O fundamento da justiça é a boa-fé, a saber, a firmeza e
sinceridade nas palavras e contratos.
24

39. “Aliud est male dicere, aliud accusare. Accusatio crimen


desiderat, rem ut definiat, hominem notet, argumento probet,
teste confirmet. Maledictio autem nihil habet propositi,
praeter contumeliam” (Pro Caelio, III, 6).
Uma coisa é acusar ou denunciar, outra dilacerar uma
reputação. A acusação requer a descrição do fato criminoso e
a indicação do autor, instruída a causa com argumentos e
testemunhas. A maledicência, ao revés, não arma a outro fim
que ofender a honra alheia.
40. “In plerisque rebus mediocritas optima est” (De Off., I,
36).
Em muitas coisas a mediania é ótima.
41. “Memoria est thesaurus omnium rerum et custos” (De
Orat., I, 18).
A memória é tesouro e custódia de todas as coisas.
42. “Homo praeclara quadam ratione generatus est a
supremo deo”(De Leg., I, 22).
O homem é gerado de um deus supremo por uma
recôndita razão.
43. “Nil honestum esse potest quod justitia vacat” (De Off.,
I, 19).
Nada pode ser honesto, que não se conforme com a
justiça.
44. “Cavendum est ne major poena quam culpa sit” (De Off.,
I, 24).
Cumpre atender a que seja a pena proporcional à culpa.
25

45. “Prudentia est locata in delectu bonorum et malorum”


(De Fin., V, 23, 67).
Consiste a prudência em discernir o bem do mal.
46. “Ratio docet et explanat quid faciendum fugiendumve
sit” (De Off., I, 28).
A razão ensina e explica o que se deve fazer e evitar.
47. “Breve enim tempus aetatis, satis longum est ad bene
honesteque vivendum” (De Senectute, XIX, 70).
Breve é a duração da vida, mas bastante longa para viver
bem e honestamente.
48. “Nihil est veritatis luce dulcius” (Academica, II, 31).
Nada é mais doce que a luz da verdade.
49. “In omni re vincit imitationem veritas” (De Orat., III, 57,
215).
Em todas as coisas, a verdade supera a imitação.
50. “Veritas vel mendacio corrumpitur, vel silentio” (De
Off., I, 23).
A verdade pode corromper-se com a mentira ou com o
silêncio.
51. “Quis ignorat maximam illecebram esse peccandi
impunitatis spem?” (Pro Milone, 16, 43).
Quem ignora que a esperança da impunidade é o maior
incentivo do crime?
26

52. “Judicis est semper in causis verum sequi” (De Off., II,
10).
Nas causas, é dever do juiz procurar sempre a verdade.
53. “Nemo est tam senex qui se annum non putet posse
vivere” (De Senectute, VII).
Ninguém é tão velho que não acredite possa viver mais
um ano.
54. “Legum omnes servi sumus, ut liberi esse possimus” (Pro
Cluentio,146).
Somos todos escravos das leis, para que possamos ser
livres.
55. “Quis nescit, primam esse historiae legem, ne quid falsi
dicere audeat?” (De Orat., II, 15).
Quem ignora ser o dever da verdade a primeira lei da
história?
56. “Studia adulescentiam alunt, senectutem oblectant,
secundas res ornant, adversis perfugium ac solacium
praebent” (Pro Archia, VII).
Os estudos nutrem a juventude, recreiam a velhice,
adornam os momentos felizes e consolam nos adversos.
57. “Cibi condimentum est fames! (De Finibus, II, 28).
O melhor tempero da comida é a fome.
27

58. “In dissensione civili, cum boni plusquam multi valent,


expendendo cives, non numerando” (De Republica, VI, 1).
Nas divergências civis, quando os bons valem mais que a
maioria, deve-se pesar, não contar os cidadãos.
59. “Ut sementem feceris, ita metes” (De Orat., II, 65).
Conforme semeares, assim colherás.
60. “Turpitudo pejus est quam dolor” (Tusc. Disp., II, 13).
A desonra é pior que a dor.
61. “Senectus est natura loquacior” (De Senectute, XVI,
55).
São os velhos de seu natural mais loquazes.
62. “Sunt quidam homines non re, sed nomine” (De Off., I,
30).
Há certos homens que o são de nome apenas, que não de
fato.
63. “Quanto superiores simus, tanto nos geramus
submissius” (De Off., I, 26).
Quanto mais alta nossa condição, tanto mais
humildemente devemos proceder.
64. “Est adulescentis majores natu vereri” (De Off., I, 34).
É próprio de um jovem respeitar os mais velhos.
28

65. “Lex est recta ratio imperans honesta, prohibens


contraria” (Phil., XI, 12, 28).
A lei é a reta razão que ordena o bom e proíbe o mau.

_________________
Bibliografia:

1) Arthur Rezende, Frases e Curiosidades Latinas,1955;


2) Renzo Tosi, Dicionário de Sentenças Latinas e Gregas, 2000;
trad. Ivone Castilho Benedetti; Martins Fontes;
3) Ettore Barelli e Sergio Pennachietti, Dicionário das Citações,
2001; trad. Karina Jannini; Martins Fontes;
4) Marco Túlio Cícero, Diálogos, 1911; trad. Duarte de Resende;
Livraria Garnier, Irmãos;
5) Napoleão Mendes de Almeida, Dicionário de Questões
Vernáculas, 1a. ed.; Editora Caminho Suave Ltda.;
6) Mílton Valente, A Ética Estoica em Cícero, 1984; Editora da
Universidade de Caxias do Sul;
7) José Lodeiro, Pequeno Dicionário de Frases Latinas, 1946;
8) Paulo Rónai, Não Perca o seu Latim, 1980; Editora Nova
Fronteira;
9) Cicero, Laelius (ou De Amicitia), 1987; trad. Nicola Flocchini;
Milano;
10) Cicéron, Lettres Familières, 1935; Garnier; Paris;
11) Cicerone, L’Oratore, 1968; Giannicola Barone; Mondadori;
Milano;
12) L. de Mauri, Flores Sententiarum, 1990; Hoepli; Milano;
13) Cícero, Da Velhice e da Amizade, 1964; trad. Tassilo Orpheu
Spalding; Editora Cultrix; São Paulo;
14) Marco Tullio Cicerone, Le Tusculane, 2019.
29

VII. Outros “Cíceros”


Em todas as nações civilizadas houve oradores que,
por discursarem com suma elegância perante assembleias, à
maneira do gênio da tribuna romana, passaram à posteridade
com o cognome de “Cícero”.
1. Dom Jerônimo Osório (1506 - 1580), bispo de Silves,
autor de numerosas obras em língua latina — “De Regis
Institutione et Disciplina” (Da Instituição Real e sua
Disciplina, 1944; trad. Antônio J. da Cruz Figueiredo;
Edições Pro Domo; Lisboa); “De Rebus Emmanuelis Gestis”
(Da Vida e Feitos de el-Rei D. Manuel, 1944, 2 tomos; trad.
Francisco Manuel do Nascimento (Filinto Elísio); Livraria
Civilização – Editora; Porto); “De Gloria” (Tratado da
Glória, 2005; trad. A. Guimarães Pinto; Imprensa Nacional
– Casa da Moeda; Portugal); “De Justitia” (Tratado da
Justiça, 1999; trad. A. Guimarães Pinto; Imprensa Nacional
– Casa da Moeda; Portugal), etc. —, “é geralmente
conhecido pelo Cícero Lusitano” (Aubrey F. G. Bell, O
Humanista Dom Jerônimo Osório, 1933, p. 9; trad. Antônio
Álvaro Dória; Imprensa da Universidade; Coimbra).
2. Pe. Antônio Vieira (1608-1697) — “mestre Vieira, o
grande”, como lhe chamou Rui (Réplica, nº 332) — foi
cognominado “O Cícero Português”:

a)“Começou em segundo lugar o nosso Túlio Português


o seu discurso” (André de Barros, Vida do Apostólico Padre
Antônio Vieira, 1746, p. 400; Oficina Silviana; Lisboa);
30

b)“Seus compatriotas o cognominaram Cícero Lusitano;


e de fato merece esta honrosa distinção” (Biografia
Universal, vol. 48; apud Luís Gonzaga Cabral, Vieira
Pregador, 1936, p. 415; Livraria Cruz; Braga).
3. José Estêvão (1809-1862), egrégio tribuno português:
a) “(…) por duas vezes mostrou que era no foro
rival de Cícero(…)” (Joaquim Simões Franco, Discursos
Parlamentares de José Estêvão Coelho de Magalhães, 1878,
p. X; Imprensa Comercial; Aveiro);

b) “Morreu o Deus da palavra, assim escreveu o nosso


primeiro jornalista, consagrando um artigo ao passamento
do grande tribuno português, do Cícero do nosso
parlamento, José Estêvão Coelho de Magalhães” (J.A. de
Ornelas; apud Camilo Castelo Branco, Correspondência
Epistolar, 1968, t. II, p. 168; Parceria A. M. Pereira Ltda.;
Lisboa).

4. Emílio Castelar (1832-1899), grande orador espanhol:

“Seu mestre foi Cícero. E, como o tribuno romano,


procurava vestir as suas ideias com roupagens rutilantes”
(Hélio Sodré, História Universal da Eloquência, 3a. ed.,
vol. II, p. 388; Editora Forense; Rio de Janeiro).
5. Daniel Webster (1782-1852), “o americano mais
eloquente”:
“Cícero seduziu-o. Leu seus discursos com delírio e
satisfação. Decorou muitos trechos de sua preferência, os
quais costumava repetir, em voz alta” (Hélio Sodré, op. cit.,
p. 414).
31

6. Belisário Roldan (1873-1911), que exerceu na Argentina


o primado da eloquência:
“Todavia, forçoso é reconhecer que melhor lhe caberia o
título de Cícero argentino” (Idem, ibidem, p. 526).

7. Também ao nosso Rui (1849-1923) foi dado o epíteto não


só de “Águia de Haia”, senão ainda (e com assaz de razão)
de “Cícero Brasileiro” (cf. Laudelino Freire, Rui, 1958,
pp. 24 e 99):
a) “Possuía como Cícero, como Vítor Hugo, em grau
insólito, o dom da amplificação e desenvolvimento das
ideias” (Antão de Morais, Rui Barbosa, 1923, p. 40);
b) “E Rui Barbosa amou os livros, amou-os como se deve
amar às coisas dignas de amor. Nisto era ainda igual a
Cícero, que os estimava entranhadamente, e tinha a sua
biblioteca como a alma da casa” (Homero Pires, Rui
Barbosa e os Livros, 1949, p. 18; Casa de Rui Barbosa).
c) “Sobre haver sido o mais sublime dos nossos oradores,
êmulo de Cícero e Demóstenes, Rui Barbosa foi o mais
correto, o mais rico e o mais harmonioso dos nossos
escritores. Seus escritos são exemplares genuínos de
linguagem intemerata e opulenta, igual, e às vezes superior à
dos mais celebrados padrões da vernaculidade” (José de Sá
Nunes, Língua Vernácula, 1939, 4a. série, p. 56).
d) “Rui Barbosa não foi o Cícero do Brasil?” (A.J. de
Figueiredo, Aspectos da Vida e do Estilo de Clóvis
Beviláqua, 1960, p. 31; Livraria Freitas Bastos S.A.; Rio de
Janeiro).
32

8. “Burke (1719-1797), considerado o Cícero inglês, dando


parecer contrário a um projeto de lei no parlamento, disse:
Previ, há um ano, que esta proposta seria apresentada.
Vede. Fui bom profeta! Um colega, que a defendia, replicou:
O colega Burke proclamou-se profeta. Mas a que profeta
se assemelha? Só posso compará-lo a Balaão, que foi
censurado até pelo próprio asno. Burke pediu a palavra
novamente e acrescentou: Aceito a comparação com Balaão.
A quem daremos a parte do asno? Verdadeiramente, não
sei! Chamo vossa atenção somente para o fato de que
o único a censurar-me, até aqui, foi o meu colega que
acaba de falar”… (José Duarte, in Revista Brasileira de
Criminologia e Direito Penal, 1954, ns. 1 e 2, p. 207).

VIII. Juízos, Notícias e Curiosidades acerca de Cícero

1. “Marco Túlio Cícero (Marcus Tullius Cicero), o maior


prosador latino e um dos mais notáveis vultos da literatura
universal, nasceu em Arpino, cidade da Itália, a 3 de janeiro
do ano 106 a. C.” (Maximiano Augusto Gonçalves, As
Catilinárias, 6a. ed., p. 7; Livraria H. Antunes Ltda., Editora;
Rio de Janeiro).
2. “Patérculo afirmou: o gênero humano desaparecerá da
terra antes de que a glória de Cícero desapareça de sua
memória” (V. César da Silveira, Dicionário de Direito
Romano, 1957, vol. I, p. 127).
3. “(…) aquele grande orador Marco Túlio, cume da
oratória, ao qual entre todos os mortais foi reservada a
palma da humana eloquência” (Heitor Pinto, Imagem da
33

Vida Cristã, 1940, vol. I, pp. 31-32; Livraria Sá da Costa –


Editora; Lisboa).
4. “Cícero é o maior vulto da literatura latina” (Augusto
Magne, Antologia Latina, 3a. série, 1943, p. 151; Editora
Anchieta).
5. “Santo Agostinho (De Magistro, V, 16: Quid in lingua
latina excellentius Cicerone inveniri potest?” (Idem, ibidem,
p. 155).
Que é o que se pode encontrar na língua latina superior a
Cícero?
6. “Segundo Quintiliano, os contemporâneos de Cícero
diziam ser ele o rei da barra (regnare in iudiciis); a
posteridade, porém, afirma o mesmo gramático, não mais
considerou Cícero como nome de um homem, mas como o
símbolo da eloquência: apud posteros vero id consecutus,
ut Cicero iam non hominis nomen, sed eloquentiae
habeatur (Inst. X, 1, 112)” (Bernardo H. Harmsen, Cícero
– Antologia, 1959, p. 10; Editora Vozes).
7. Cícero: “O mais alto entendimento que tem honrado a
nossa espécie” (Rui, Obras Completas, vol. XXXVIII, t. II,
p. 66).
8. Cícero: “O maior orador político de todos os tempos e de
todas as literaturas. De tal forma que Santo Agostinho
chegou a dizer que, se pudesse viajar de volta ao passado,
teria desejado acima de tudo presenciar duas coisas: Jesus
Cristo pregando às multidões e Cícero discursando no
Senado” (João Paixão Neto, Literatura Latina, 1995, p. 63;
Editora Teresa Martin).
34

9. “Magna erat Ciceronis facundia: lapides lamentari


coegisset. Grande era a eloquência de Cícero: teria feito
chorar as pedras” (E. Ragon, Primeiros Exercícios de
Latim, p. 156).
10. “Marco Túlio, que ilustrou a filosofia latina e meteu
o mundo em admiração com sua rica língua e alta
eloquência…” (Heitor Pinto, op. cit., vol. IV, p. 258).
11. “Dizem que S. Jerônimo, por causa de Cícero, levou uma
sova dos anjos” (Heitor Pinto, op. cit., vol. IV, p. 258; nota
de rodapé).
12. Visão que teve São Jerônimo: “Então o que presidia
disse-me: Estás a mentir. É ciceroniano que tu és, mas
não cristão” (in Tratado da Imitação, de Dionísio de
Halicarnasso, 1986, p. 26; Raul Miguel Rosado Fernandes
et alii, Centro de Estudos Clássicos das Universidades de
Lisboa).
13. Cícero: “Cicer, em latim, significa grão-de-bico”
(Plutarco, Vidas dos Homens Ilustres — Demóstenes e
Cícero —, 3a. ed., p. 43; trad. Sady-Garibaldi).
14. “Cícero quer dizer ervilha, e Marco Túlio tomou esse
nome porque um dos seus ascendentes apresentava na ponta
do nariz uma protuberância que lembrava um grão de
ervilha, e recebera esse apelido. Cícero chegou certa vez a
mandar gravar num vaso de prata o seu nome Marco Túlio a
que mandou se ajuntasse, gravado, um grão-de-bico ou
ervilha” (Alfredo Xavier Pedroza, Compêndio de História
da Literatura Latina, 1947, p. 58; Imprensa Oficial; Recife).
35

15. “Sabendo da sorte que o esperava, o Orador resolvera


dirigir-se ao Oriente, aos arraiais de Bruto, e chegou a
pôr-se a caminho. Depois de muitas hesitações, voltou,
porém, a uma das suas casas da Campânia e, quando ia de
liteira em direção ao mar, foi surpreendido por Popílio,
tribuno militar, e Herênio, que, por ordem de Antônio, lhe
cortou a cabeça com que pensara as Filípicas e as mãos com
que as escrevera.
Aquela cabeça singular foi colocada, entre as duas mãos,
no meio dos esporões da tribuna do Forum.
Contam que Fúlvia, esposa de Antônio, que se dizia
ofendida pelo defunto Orador, quisera exercer nela a sua
vingança de mulher. Tomou-a com ambas as próprias mãos,
pousou-a nos joelhos e extraiu-lhe a língua, que ia
espicaçando com o bico duma agulha” (Arlindo Ribeiro
da Cunha, “In Catilinam”, 1943, p. CLXI; Livraria Cruz;
Braga).
16. Refere Pantaleão de Aveiro que se achara na cidade de
Zante, ilha da Grécia, a sepultura de Marco Túlio Cícero, e
dentro dela “dois vasos de vidro muito maciço”: guardava
um “a cinza de seu corpo”; no outro “haviam estado as
lágrimas dos amigos”. Tinham estes frascos seus letreiros.
O das cinzas: “Urna cinerum”; o das lágrimas: “Urnula
lachrymarum amicorum” (cf. Itinerário da Terra Santa,
1927; pp. 19-20; Imprensa da Universidade).
l7. “Petrarca não se consolava de haver perdido o De
Gloria, de Cícero, dádiva com que o brindara o jurisconsulto
Raimond Soranzo, e que ele emprestara ao seu velho mestre
Convennole, que, sempre sem recursos, o dera em penhor
36

a um desconhecido. Mais que Petrarca, foi o patrimônio


mental da humanidade atingido desse grave deslize, só em
virtude de um empréstimo fatal. E assim em nenhuma parte
nem no comércio dos livros no século, nem nas coleções dos
conventos, nem nas das idades modernas, se encontrou
jamais o extraviado livro de Cícero” (Homero Pires, Rui
Barbosa e os Livros, 1949, p. 99).
18. Em seu imortal Poema, Dante colocou Cícero no
primeiro Círculo (IV, 141): “entra com Virgílio no Limbo
(…); continuando, vão dar a um senhoril castelo, dentro do
qual estanceiam os sábios da antiguidade, que, embora
pagãos, tiveram vida virtuosa”.
“(…) e Túlio, por muito estimado por Dante, que do seu
livro De Amicitia serviu-se como de guia para introduzi-lo
nas partes mais íntimas da filosofia, inspirando-lhe todo o
amor por esta ciência (…). É Cícero por ele recomendado,
não só como insigne entre os filósofos, e oradores, mas como
virtuoso cidadão, por ter contra Catilina defendido a
liberdade romana (…)” (A Divina Comédia de Dante
Alighieri – O Inferno –, 1886, pp. 113 e 127; trad. Joaquim
Pinto de Campos; Imprensa Nacional; Lisboa).

19. “Mais estendeu Cícero a glória do Império Romano


com a sua pena, do que César com a sua espada”
(Bluteau, Vocabulário, 17l6, t. V, p. 165).
20. “(…) Marco Túlio foi afamado entre os seus
contemporâneos e reverenciado até os nossos dias pela sábia
disposição de seus discursos, pela graça inimitável da sua
locução, pela textura simétrica de seus períodos, pela sua
variada e profunda erudição, pela veemência de suas
37

explosões retóricas, e pelo fogo das suas paixões no foro e


na tribuna (…)” (José Maria Latino Coelho; Demóstenes,
A Oração da Coroa, 1877, p. III; Lisboa).
21. “M. T. Cicero: Omnium Romanorum eloquentissimus
fuit, & Latinae Eloquentiae Princeps” (Calepinus, Lexicon
Latinum, 1772, vol. I, p. 140). Foi Marco Túlio Cícero o mais
eloquente de todos os romanos e o Príncipe da Eloquência
Latina.
22. “Cicero optimus ex Romanis oratoribus fuit. Cícero
foi o melhor dos oradores romanos” (F. Kinchin Smith,
Aprenda Sozinho Latim, p. 113; trad. Milton Campana;
Livraria Pioneira Editora; São Paulo).
23. “O Sr. Rui Barbosa – Quer o Senador (A. Azeredo) que
eu ontem aqui me parecesse com Cícero acusando a Catilina.
Não me pega a ironia da comparação. Se é por me
magoarem que me submetem ao sarcasmo de tais contrastes,
podem acreditar que os recebo como donde vêm, que é como
devemos, neste mundo, receber o bem e o mal. No ambiente
de hoje em dia abundariam arremedilhos de Catilina. Mas
Cíceros, para se lhes contraporem, é o que tais ares não
criam. E, se Cícero atualmente ressurgisse, não seria para
esmagar a Catilina, mas ser por ele esmagado. Hoje não é
a tribuna que há de tomar contas ao vício. É o vício que
há de chamar a contas a tribuna” (Rui Barbosa, Obras
Completas, vol. XLI, t. III, p. 321).
24. “O famoso orador foi de elevada estatura, dotado de
um rosto formoso e expressivo, como nos atestam seus
contemporâneos e afirmam o magnífico busto, que se
conserva na Galeria dos Ofícios de Florença, e outros três
38

que se admiram no Museu Vaticano” (João Ravizza,


Orações Ciceronianas, 1930, p. XXIV; Niterói).
25. “Apesar de seus defeitos, era um homem honesto, que
amava muito o seu país, como o dizia o próprio Augusto,
num dia de franqueza e de remorso. Se por vezes foi hesitante
e fraco, acabou sempre por defender o que considerava a
causa da justiça e do direito; e, quando a justiça foi vencida
para sempre, prestou o último serviço que ela pode reclamar
de seus defensores: honrou-a pela sua morte” (Gaston
Boissier, Cícero e seus Amigos, 1946, p. 68; trad. Júlio
Abreu Filho; Editora Renascença S.A.; São Paulo).
26. “Por outro lado, César dedicava a Cícero o tratado da
Analogia e a propósito dizia-lhe em linguagem magnífica:
Descobriste todas as riquezas da eloquência e dela te
serviste primeiro. Por isto bem mereceste o nome de romano
e honraste a pátria. Obtiveste a mais bela de todas as glórias
e um triunfo maior do que os dos grandes generais, porque
mais vale estender os limites do espírito do que distender as
fronteiras do império. Para um escritor essa era a mais
delicada lisonja, porque vinha de um vitorioso como César”
(Idem, ibidem, p. 206).
27. “Marco Antônio podia, naturalmente, ser liberal, agora
que dois mil dos mais ricos homens da Itália haviam sido
vencidos e despojados. Pagou ao centurião nada menos que
um milhão de sestércios pelo saco ensanguentado que
continha a cabeça e as mãos do que fora Marco Túlio Cícero.
Nem com isso, porém se satisfez sua sede de vingança. A
cruel aversão do sangrento indivíduo pelo homem que lhe
fora superior na escala moral, fê-lo imaginar uma horrível
façanha — sem prever que a vergonha dela decorrente se
39

voltaria contra ele até o fim dos tempos. Ordenou que as


mãos e a cabeça da vítima fossem pregadas no Rostrum do
qual Cícero eloquentemente apelara para o povo congregar-
-se contra Antônio, em defesa da liberdade romana.
A plebe assistiu ao espetáculo no dia seguinte. Em meio
ao Forum, no Rostrum, via-se a cabeça do derradeiro
campeão da liberdade. Enorme prego enferrujado perfurava
a fronte que pensara milhares de grandes pensamentos;
pálidos e enrugados, cerrados, estavam os lábios que haviam
proferido mais docemente que quaisquer outros as sonoras
palavras da língua latina; fechadas as pálpebras para
esconder os olhos que, por sessenta anos, tinham velado pela
República; inertes jaziam as mãos que haviam escrito as
mais belas epístolas de sua era. Mas nenhuma das acusações
que o famoso orador pronunciara dessa tribuna contra a
brutalidade, contra a fúria do despotismo, contra a infração
da lei, podia denunciar tão convincentemente a eterna
afronta da força, como o fazia, agora, a silenciosa cabeça
degolada do homem assassinado. O terrífico espetáculo do
cruel martírio tinha, sobre as massas intimidadas, poder
mais eloquente do que os mais famosos discursos com
que outrora clamara, do profanado Forum. O que fora
concebido para ser vergonhosa humilhação, tornara-se a
última e maior vitória” (Stefan Zweig, Obras Completas,
1956, t. XIII, pp. 143-144: O Momento Supremo; trad. Elias
Davidovich; Editora Delta S.A.; Rio de Janeiro).
28. “Mas é em vão, entretanto, Marco Antônio (pois a
indignação que jorra de meu coração e de meu espírito me
obriga a deixar o tom ordinário da minha obra) é em vão,
digo, que ofereceste dinheiro àquele que faria emudecer essa
40

voz divina e cortar essa cabeça tão ilustre e que, com salário
macabro, provocasse a morte de um tão grande cônsul,
outrora salvador da república! Pois arrebataste a Cícero
dias inquietos, anos de velhice, uma vida que teria sido mais
infeliz sob teu governo que na morte sob teu triunvirato; mas
a fama, a glória de suas ações e de seus discursos, isto não
lhe tiraste, pelo contrário aumentaste. Ele vive, ele viverá na
memória de todos os séculos. Enquanto este corpo que forma
o universo e que o acaso criou, a providência ou qualquer
outra causa, enquanto este mundo que ele, quase sozinho
entre todos os romanos, pôde contemplar com sua
inteligência, abranger com seu gênio, iluminar com sua
eloquência, subsistir, conduzirá com ele na sua eternidade a
glória de Cícero. A posteridade mais longínqua admirará o
que ele escreveu contra ti, detestará o que fizeste contra ele
e a raça dos homens desaparecerá da face da terra antes da
sua lembrança” (Veleio Patérculo, História Romana, II,
LXVI; apud Tassilo Orpheu Spalding, Pequeno Dicionário
de Literatura Latina, 1968, p. 56; Editora Cultrix Ltda.; São
Paulo).
29. “Foi (Cícero), de todos os oradores, aquele que melhor
fez sentir aos romanos o encanto que a eloquência acrescenta
às coisas honestas e o invencível poder da justiça quando
é sustentada pela força da palavra” (Plutarco, Cícero e a
Queda da República, p. 24; trad. Lobo Villela).
41

30. Numa livraria, pergunta o cliente à vendedora:


— A senhora tem o livro As Catilinárias de Cícero?
E a vendedora (sem dissimular radiante ignorância):
— Infelizmente, não! Arte Culinária só temos a de Maria
Teresa!(20)
31. “Mitto tibi navem prora puppique carentem”. Envio-te
um navio sem proa nem popa.
Saudação que Cícero mandou a um amigo. Com efeito, se
de “navem” tirarmos a proa e a popa — o n e o m —, ficará
“ave”, isto é, “bom dia!” (cf. Arthur Rezende, Frases e
Curiosidades Latinas, 1955, p. 416; Rio de Janeiro).
32. Na Capital do Estado de São Paulo tem Cícero seu
monumento, no Largo do Arouche. Executou-o Galimberti
Poletti, arquiteto e escultor. Guilherme de Almeida,
“Príncipe dos Poetas Brasileiros”, compôs-lhe a seguinte
inscrição:(21)

(20) Alusão ao famoso livro de Maria Thereza A. Costa, Noções de Arte


Culinária, 1964, 28a. ed.; Editora Vozes Ltda.; Petrópolis (RJ).

(21) Cf. O Monumento a Cícero, de Galimberti Poletti, 1961, p. 3; “Graeca &


Latina”; Editora Sociedade Brasileira de Expansão Comercial Ltda.
42

A RENOVAR NO BRONZE PERENE A TUTELAR


E UNIVERSAL IMAGEM DE MARCO TÚLIO
CÍCERO, UM DIGNO ARTISTA — O CONDE
HUBERTO GALIMBERTI POLETTI DE ASSANDRI
— MODELOU ESTA IMAGEM DO SUPREMO
MODELADOR DA “LINGUA MATER”,
BUSCANDO EXPRIMIR-LHE DA MENSAGEM
O ALCANCE, DA ELOQUÊNCIA A ALTURA,
DO ESTILO A ELEGÂNCIA, DO HOMEM A
VERDADE E, JUNTO A ESTE MARCO
ESPIRITUAL DA LATINIDADE, A
UNIÃO NACIONAL DE CULTURA
GRECO-LATINA,
QUE O ERIGIU,
FAZ POR UM INSTANTE — “CEDANT TEMPORA
TOGAE” — PARAR A “CIDADE QUE NÃO PARA”.
“MACTE”.

SÃO PAULO, XQI – VII – MCMLX

Guilherme de Almeida(*)
____________
(*) A placa de bronze, em que estava gravado o elogio histórico de Cícero, mãos
criminosas furtaram para sempre! É bem o caso, pois, de exclamar com o excelso
Orador: “O tempora! o mores!”.
43

Busto de Cícero
(Museo Capitolino, Roma)
Fig. 1
44

Cícero denuncia Catilina


Mural de Cesare Maccari (1840-1919);
Palazzo Madama (Senado Italiano), Roma
Fig. 2
45

Frontispício da edição de 1543 das Orações de


Cícero e do celebérrimo Exórdio da 1a. Catilinária
(cópia de exemplar do acervo da Biblioteca Mário
de Andrade; São Paulo, Brasil).
Fig. 3
46

Estátua de Cícero
(Largo do Arouche; São Paulo, Brasil;
Escultor: Galimberti Poletti)
Fig. 4
47

Torre di Cicerone
Padrão histórico levantado em Arpino (Itália) para
indicar o sítio do nascimento, em 3 de janeiro de
106 a.C., do Príncipe da Eloquência Romana.
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Homenagem da cidade de Arpino (Itália) ao mais


ilustre de seus filhos: Marco Túlio Cícero, que
ensinou ao mundo a sublime arte da palavra.
50
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(Tradução)

Marco Túlio Cícero

Ele foi o que, único, sobrelevou a todos. Com os primores


de sua arte de dizer enriqueceu a língua dos romanos e
ilustrou, com suma edificação, as nações sujeitas à mãe
comum.
Defendeu a liberdade oprimida pelas lutas civis.
Glória da sabedoria antiga e arauto da cultura universal,
acabou imolado pelas discórdias políticas.
No segundo milênio de sua morte, rende-lhe este preito de
homenagem a Sociedade de Estudos Ciceronianos.

Arpino, 7 de dezembro de 1957


52
53

(Tradução)

Esta é a pátria minha e de meu irmão. De estirpe


antiquíssima, aqui em verdade nascemos; estão aqui as
relíquias de família, aqui a origem e os numerosos vestígios
de nossos antepassados.
(Das Leis, II, 3)

No XV Certame Ciceroniano, a cidade de Arpino e o


Liceu Tuliano prestam tributo a Marco Túlio Cícero, no ano
2100 de seu nascimento.

Arpino, 29 de maio de 1995


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56

Magnífica estátua de Cícero


(Junto ao pórtico do Supremo Tribunal de
Justiça da Itália; Corte di Cassazione; Roma).
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(Corte di Cassazione; Roma)


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Domus Ciceronis
Na colina do Palatino, sobranceira ao Forum Romanum,
situava-se a majestosa casa de Cícero, mandada arrasar,
ao tempo de seu exílio (58 a.C.), pelo tribuno Clódio,
que lhe votava ódio implacável.
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Rostrum
(Rostro ou tribuna dos oradores no Forum
Romanum). Aqui, onde tantas vezes discursara com
desconhecida eloquência, foi exposta a cabeça de
Cícero, cuja morte, em 7 de dezembro de 43 a.C., o
tribuno Marco Antônio havia decretado.
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Tribuna dos Rostros (Rostra) no Forum Romanum


Na época imperial e hoje (ao lado).
(Fotos de Roma Reconstruída, pp. 40-43;
Gruppo Lozzi Editori; Roma).
61
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No Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,


uma herma perpetua a glória do Cícero Brasileiro:
Rui Barbosa (1849 – 1923). No pedestal lê-se
a famosa divisa: Estremeceu a pátria,
viveu no trabalho e não perdeu o ideal.
63
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(Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo)


Trabalhos Jurídicos e Literários de
Carlos Biasotti

1. A Sustentação Oral nos Tribunais: Teoria e Prática;


2. Adauto Suannes: Brasão da Magistratura Paulista;
3. Advocacia: Grandezas e Misérias;
4. Antecedentes Criminais (Doutrina e Jurisprudência);
5. Apartes e Respostas Originais;
6. Apelação em Liberdade (Doutrina e Jurisprudência);
7. Apropriação Indébita (Doutrina e Jurisprudência);
8. Arma de Fogo (Doutrina e Jurisprudência);
9. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (1a. Parte);
10. Citação do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
11. Crime Continuado (Doutrina e Jurisprudência);
12. Crimes contra a Honra (Doutrina e Jurisprudência);
13. Crimes de Trânsito (Doutrina e Jurisprudência);
14. Da Confissão do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
15. Da Presunção de Inocência (Doutrina e Jurisprudência);
16. Da Prisão (Doutrina e Jurisprudência);
17. Da Prova (Doutrina e Jurisprudência);
18. Da Vírgula (Doutrina, Casos Notáveis, Curiosidades, etc.);
19. Denúncia (Doutrina e Jurisprudência);
20. Direito Ambiental (Doutrina e Jurisprudência);
21. Direito de Autor (Doutrina e Jurisprudência);
22. Direito de Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
23. Do Roubo (Doutrina e Jurisprudência);
24. Estelionato (Doutrina e Jurisprudência);
25. Furto (Doutrina e Jurisprudência);
26. “Habeas Corpus” (Doutrina e Jurisprudência);
27. Legítima Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
28. Liberdade Provisória (Doutrina e Jurisprudência);
29. Mandado de Segurança (Doutrina e Jurisprudência);
30. O Cão na Literatura;
31. O Crime da Pedra (Defesa Criminal em Verso);
32. O Crime de Extorsão e a Tentativa (Doutrina e Jurisprudência);
33. O Erro. O Erro Judiciário. O Erro na Literatura (Lapsos e Enganos);
34. O Silêncio do Réu. Interpretação (Doutrina e Jurisprudência);
35. Os 80 Anos do Príncipe dos Poetas Brasileiros;
36. Princípio da Insignificância (Doutrina e Jurisprudência);
37. “Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?”;
38. Tópicos de Gramática (Verbos abundantes no particípio; pronúncias e
construções viciosas; fraseologia latina, etc.);
39. Tóxicos (Doutrina e Jurisprudência);
40. Tribunal do Júri (Doutrina e Jurisprudência);
41. Absolvição do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
42. Tributo aos Advogados Criminalistas (Coletânea de Escritos
Jurídicos); Millennium Editora Ltda.;
43. Advocacia Criminal (Teoria e Prática); Millennium Editora Ltda.;
44. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (2a. Parte);
45. Contravenções Penais (Doutrina e Jurisprudência);
46. Crimes contra os Costumes (Doutrina e Jurisprudência);
47. Revisão Criminal (Doutrina e Jurisprudência);
48. Nélson Hungria (Súmula da Vida e da Obra);
49. Ação Penal (Doutrina e Jurisprudência);
50. Crimes de Falsidade (Doutrina e Jurisprudência);
51. Álibi (Doutrina e Jurisprudência);
52. Da Sentença (Doutrina e Jurisprudência);
53. Fraseologia Latina;
54. Da Pena (Doutrina e Jurisprudência);
55. Ilícito Civil e Ilícito Penal (Doutrina e Jurisprudência);
56. Regime Prisional (Doutrina e Jurisprudência);
57. Alimentos (Doutrina e Jurisprudência);
58. Estado de Necessidade (Doutrina e Jurisprudência);
59. Receptação (Doutrina e Jurisprudência);
60. Inquérito Policial. Indiciamento (Doutrina e Jurisprudência);
61. A Palavra da Vítima e seu Valor em Juízo;
62. A Linguagem do Advogado;
63. Memorando aos Colegas da Advocacia e da Magistratura;
64. Código de Defesa do Consumidor (Casos Especiais em Matéria
Criminal);
65. Crime de Dano (Doutrina e Jurisprudência).;
66. Nulidade Processual (Doutrina e Jurisprudência);
67. Da Coação no Direito Penal (Doutrina e Jurisprudência);
68. Violação de Domicílio (Doutrina e Jurisprudência);
69. Indenização (Doutrina e Jurisprudência);
70. Desistência Voluntária (Doutrina e Jurisprudência);
71. A Embriaguez e o Direito Penal (Doutrina e Jurisprudência);
72. Embargos de Declaração (Doutrina e Jurisprudência);
73. A Estrada Real do Direito;
74. Coautoria (Doutrina e Jurisprudência);
75. Medida de Segurança (Doutrina e Jurisprudência).
Carlos Biasotti
Cícero

http://www.scribd.com/Biasotti

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