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I
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SÂNZIO DE AZEVEDO
•
·
Professor de Literatura Cearense do Departamento de Letras Vern4culas do Centro de
Humanidades da Universidade Federal do e da Faculdade de Pllosofia do Ceará.
Da Academia Cearense de Letras •
-
·
CEARENSE DE LE TR A S - FO R JI LE Z A - 19 76
PUBLICICIO 04 ACIDEM IA •
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COLECÃO ANTONIO SALES
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natureza da época.
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AFRANIO COUTINHO
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DO AUTOR:
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Para
MARGARIDA,
minha esposa
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.. . . .
LtVIO, •
meu filho.
•
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_ �us agradecimentos a
quantos, de uma forma ou
de outra, contribuíram
•
CLAUDIO MARTINS
Presidente da A.C.L.
•
PREFÁCIO
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mia Francesa. o Clube Literário. a Padaria Esp iritual, o Gru-
po Clã, etc .
culo XX .
c1as .
•
so Estado.
14
f
fica de que fazia parte Gonçalves Dias; o poeta indianista,
segundo se conta, teria aconselhado Juvenal Galeno a explo
rar a poesia popular, com a qual viria a consagrar -se. Por
11m, Cruz Filho, em sua História do Ceará, fixaria o ano de
1872 como o do alvorecer de nossa vida cultural: nesse ano .
15
'
o s. Jo sé d e A le n ca r, p ost o q u e o
Por fim, também incluim
cr it or ce ar en se d o .q u e u m ce ar en
cotlSideramos menos um es
tu ra br a si le ir a , se u s ro m a n
se escritor. Já pertencente à litera
ej o sã o no en ta nt o pu ra m en te no ssos ,
ces Iracema e �o Sertan
os op or tu ni da de de ap re se nt ar um tr ec ho
razão por que terem
pelo menos do primeiro.
Somente discordamos de Dolor Barreira, bem como da
maioria de nossos antologistas, no tocante a Franklin Távora.
Este escritor, conquanto seja uma glória para o Ceará, que o
16
•
ra Lima chamou de "pernambucano de adoção". Antônio
Bales. aliás, não o inclui no estudo citado.
Cumpre-nos ainda esclarecer que, atendendo às dimen
sões do livro e ao espírito do programa que nos traçamos, res
tringimos os textos exclusivamente a·o campo da criação, ou
seja, a poesia e a prosa de ficção. Deixamos assim de apre
sentar páginas de autores que se destacaram única ou prin
cipalmente através do Ensaio, seja científico ou literário �a
não ser Que esses mesmos autores sobressaiam também no ter-
-
17
possfvel, nunt livro de proporções normais, o estudo de todos
aqueles que prosaram ou poetaram nesta terra de Alencar.
E.tcolhemos os nomes que nos pareceram mais significativos.
'
SÂNZIO DE AZEVEDO
18
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NEOCLASSICISMO
OS OITEIROS
.
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•
PACHECO ESPINOSA
Soneto
•
Já se esquece do que tem padecido.
20
•
•
21
•
O s one to inicial refere-se provavelmente ao primeiro des
terro de N�poleão, sendo ele, portan to, esse tirano, Que há de
ser odiado, visto haver ordenado a invasão de
Portugal pelas tropas de Junot, como se sabe; por isso deve
regozijar-se o port uguês, assim como o exército aliado contra
Bonaparte, e os americanos, ou seja, os brasileiros; note-se a
dicção clássica sobretudo através d·o hipérbato (A guerra afu
gentou que tudo ate"a). N o segundo soneto, a pretexto de
falar d a construção de um chafariz em Fortaleza, derrama-se
o poeta em elogios ao Governador Sampaio, que é citado no
Jninalmente; é um dos raríssimos poemas da época em que há
notas de poesia pastoril, apesar de tratar de uma fonte arti
ficial: é quando, no primeiro quarteto, fala da fonte "clara,
sussurrante", abundante de águas cristalinas, e Que o Sítio
jaz ameno e lison;eiro; há inversões igualmente nessa estro
fe. O soneto "Ao Aumento da Vila de Fortaleza", um dos
mais interessantes de Pacheco Espinosa, volta aos elogios,
exaltando o progresso da Vila, devido à "alta mente" do Go
verno Sampaio; no verso 8.� certamente quis o poeta fazer um
· · trocadilho, dizendo que a vila "já .tem o que não tinha", isto
é : fortaleza (qualidad·e de ser forte) , com o que mostra forte
acento barroco . Os sonetos todos seguem rigorosamente o es
quema rimático do Classicismo, em ABBA ABBA CDC DCD.
Pelo ·fato de serem quase todos dominados pe
. lo tom louvami
nheiro, o que, diga-se de passagem� era característica geral no
•
tempo, assim se expressou Sílvio Júlio, tratando precisamente
de Espinosa:· ''Sonetos, décimas, vários tipos de composições
que deixou referem-se a coisas do Ceará . É pena que estes
acontecimentos não fossem os da sociedade, porém os do go
verno. E� vez de cantar as praias batidas de vagalhões, o ho
mem, gelidamente, atravancava o Parnaso com décimas e so
netos sobre um chafariz!''
22
Nlemeyer (1828) , saída no Rio de Janeiro. Era Cônego, ten
do Sido Capelão do Governador Sampaio.
23
COSTA BARROS
Estrofe t.a
•
Com que de Elpino a mente estrepitosa,
Dos Heróis a favor foste inflamando,
Benigna hoje me assiste, hoje me inflama:
Com teu divino facho
Tu na minha alma ateia ardente chama:
Guia-me afoita mão, q� as Cordas fira;
E transporei às Eras
Ações, que assustam Mantuana lira.
Antfstrofe 1.a
24
•
Epodo 1.o
O monstro vê raivoso
A Lusitana glória!
Ar·ma contra a Nação, que vencedora •
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preparado o ambiente para se iniciar a descrição dos comba
tes: Napoleão intenta avançar contra Portugal, invejando-lhe
as glórias. Os lusitanos porém se opõem energicamente, e
forma-se inacessível barreira. Essa ode, embora sem grandeza,
representa muito bem o poeta da época, com suas freqüentes
alusões ao mundo antigo, e a pretensão de verem os poetas
·os seus cantos imortalizados tempos afora ("E transporei às
Eras 1 Ações, que assustam Mantuana lira.").
Outros Nomes
26
ROMANTISMO
27
Mas um dia. .. me ausentaram...
Fui obrigado. .. parti!
Chorando beijei-te as folhas . • •
A Jangada
38
Apraz-te a$ ondas sulcar?
Minha jangada de vela,
Que vento queres levar?
Se à liberdade suspiro�
Vens liberdade me dar;
Se fome tenho ligeira
Me trazes para pescar:.
Minha jangada de vela,
Que vento queres levar?
•
3'l
Minha jangada de vela,
Que vento queres levar?
Mistério do Mar
- Jangadeiro jangadeiro,
Que fazes cantando assim,
Embalado pelas vagas
No seio do mar sem fim?
E o jangadeiro cantava
No frio leito do mar,
Ao murmurio da brisa,
Das vagas ao soluçar!
38
E o jangadeiro cantava . . .
Era noite de luar:
Ao longe . . . na choça; a festa. . .
Gemidos, prantos no mar.
E o jangadeiro chorando
Cantava triste a gemer . . .
Deserta a praia . . . e na choça
O riso, a festa, o prazer.
E o jangadeiro cantando
A s1ta triste ca1zção . . .
Em balado pelas ondas . . .
Ao gemer da viração . . .
39
"Ai de quem sonhou constante
''Um peito falso. . . traidor .. . "
Cajueiro pequenino,
Carregadinho de flor,
Eu também sou pequenino,
Cerregadinho de amor.
Também aqui assinalamos os versos que não surgem na
produção de Juvenal Galeno . É que o poeta cearense recriava
as trovas anônimas, ou melhor, criava, a partir delas, à ma
nei ra de paráfrase, poemas de cunho popular. Claro está que
ele não poderia, com a formação cultural que j á obtivera, es
crever versos genttinamente do povo, como se fosse um can
tador de viola, mas só o fato de chegar ao aproveitamento de
trovas anônimas para compor suas redondilhas demonstra
seu sincero intuito de produzir poesia popular no seu mais
genuíno sentido. Ciente da importância de sua missão, n·ão
esperava entretanto aplausos da crítica erudita : "Sei que
mal recebido serei nos salões aristocratas, e entre alguns crí
ticos que, estudando nos livros do estrangeiro o nosso povo,
- desconhecem-no a ponto de escreverem que o Brasil não
tem poesia popular! " O título de seu livro, porém, pode ser
mal interpretado por algum leitor desavisado que entenda en
feixar, todo ele, canções e lendas extraídas da tradição popu
lar cearense ; tal não ocorre evidentemente, uma vez que, além
dos citados "A Jangada" e "Cajueiro", apenas em cerca de
seis poemas (entre eles "O Boiadão", "A Mulatinha", "O Vo
luntário do Norte", etc . ) segundo notas do próprio poeta,
temos notícia haja o autor aproveitado copias do povo, sendo
as demais cento e vinte e tantas composições fruto de uma
arte profundamente embebida na alma da gente de nossa
terra, q.u e o autor conheceu muito de perto e que desde crian
ça admirou e amou, mas escritas com as .Palavras com que
ele quis dar-lhes vida, o que fez certamente . Transcrevendo
estes cinco poemas, todos constantes das Lendas e Canções
Populares ( 1865), pretendemos dar uma idéia da faceta prin
cipal da poesia de Juvenal Galeno : "O Vaqueiro'' mostra-nos
o homem valente, orgulhoso de seu ofício, feliz cotn a vida de
campeador de gado ; através dessa produção,· tem- se perfeita
noção do que seJa o legítimo vaqueiro cearense e do ambiente
em Que vive . Em " O Rapaz da Guia" , temos · como que o oposto
-
41
deiro, no final de cada estrofe, bem assim a linguagem p opu
I
lar, quer na colocação do clítico (M'e s colheram), quer em con
cordância como a da 3a estrofe. Quanto ao "Cajueiro Peque
nino," é uma das mais belas páginas do nosso lirismo e um
dos mais farnosos poemas de Galeno; aí o poeta fala por si
mes mo, não interpreta sentimentos alheios, como na maio-
•
ria de sua obra . Mas ele não cantou apenas a vida interio
rana: "A Jangada, " outro poema bastante conhecido, traz-nos
a vida do jangadeiro que, falando carinhosamente à sua em
barcação, empresta-lhe qualidades humanas: aqui, a proso
popéia não é simples adorno, mas reflete a importância da
jangada para o pescador, ou s�ja, sua própria razão de ser;
é notável o uso do refrão ao fim de cada estância, com o que
parece imitar o vaivem monótono das ondas; o verso final,
porém, é imprevisto: em vez da repetida indagação (Que vento
queres levar?), conclui o poeta : É tempo de repousar! Embora
romântico, nem sempre Juvenal Galeno ostenta aquele sen
timentalismo da maioria dos poetas da corrente: O Vaquei
"
42
•
JOSÉ DE ALENCAR
Iracema
43
•
•
44
•
Nesse 1nomento o lábio arranca d'alma um agro sorriso.
Que deixara ele na terra do exílio?
Uma história que me contaram nas lindas várzeas onde
.
nasc1, a calada da noite, quando a lua passeava no céu ar-
'
45
damos como final da corrente os últimos anos da década de
80, que coincidem com o surgimento do Clube Literário, com
sua revista A Q uinzena. A Academia Francesa do Ceará en-
quadra-se cronologicamente bem no meio do período de fas
tígio da corrente, como uma reação que, não obstante s ua
grande importância, não chegou a instaurar uma literatura
an ti - romântica.
JUVENAL GALENO
28
Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja,
como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. En
quanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de
seu arco ; e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho
próximo, o canto agreste.
A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto
dela . As vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a vir
gem pelo nome ; outras, remexe o uru de palha matizada,
onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá,
as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de
que matiza o algodão .
Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue
a virgem os olhos, que o sol não deslllmbra ; sua vista per
turba-se.
Diante dela e todo a contemplá-Ia, está um guerreiro es
tranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta.
Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar, nos
olhos, o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e te
cidos ignotos cobrem-lhe o corpo .
Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha
embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face
do desconhecido.
De primeiro ímpeto, a mão !esta caiu sobre a cruz da
espada; mas logo sorriu. O moGo guerreiro aprendeu na re
ligião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e
amor. Sofreu mais d'alma que da ferida.
O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não sei
eu. Porém a virgem lançou de si o arco e uiraçaba, e correu
para o guerreiro, sentida da mágoa que causara. A mão, que
râpida ferira, estancou mais rápida e compassiva o sangue
•
que gotejava . Depois Iracema quebrou a flecha homicida; deu
a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta farpada .
O guerreiro falou :
- Quebras comigo a flecha da paz?
- Quem te ensinou, guerreiro branco, a li;nguagem de
46
meus irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca viram
outro guerreiro como tu?
- Venho de bem longe, filha das florestas . Venho das
terras que teus irmãos j á possuíram, e hoje têm os meU$
Bem- vindo o estrangeiro aos campos dos tabajaras,
senhores das aldeias, e à cabana de· Araquém, pai de Iracema .
XXXII ..
Descamba o sol .
Japi sai do mato e corre para a porta da cabana .
Iracema, sentada com o filho no colo, banha-se nos raios
do sol e sente o frio arrepiar-he o corpo . Vendo o animal, fiel
mensageiro do esposo, a esperança reanima seu coração;
quer esguer-se para ir ao encontro de seu guerreiro e senhor,
mas os membros débeis se recusam à sua vontade .
Caiu desfalecida contra o esteio . Japi lambia-lhe a mão
fria e pulava travesso para fazer sorrir a criança, soltando
uns doces latidos de prazer . Por vezes, afastava-se para cor
rer até a orla da mata e latir chamando o senhor; logo, tor
nava à cabana para festejar a mãe e o filho .
Por esse tempo pisava Martim os campos amarelos do
Tauape; seu irmão Poti, o inseparável, caminhava a seu lado.
Oito luas havia que ele deixara as praias de Jacarecan
ga . Vencidos os guaraciabas na baía dos papagaios, o guerrei
ro cristão quis partir para as margens do Mearim, onde ha
bitava o bárbaro aliado dos tupinambás .
Poti e seus guerreiros o acompanharam . Depois que
transpuseram o braço corrente do mar que vem da serra de
Tauatinga e banha as várzeas onde se pesca o piau, vieram
enfim as praias do Mearim e a velha taba do bárbaro tapuia .
A raça de cabelos do sol cada vez ganhava mais a ami
zade dos tupinambás; crescia o número de guerreiros bran
cos, que já tinham levantado na ilha a grande itaoca para
despedir o raio .
47
Quando Martim viu 0 que desejava , tornou ao s cam pos
da Porangaba, que ele agora trilha . Já ouve o ronco do mar
nas praias do Mucuripe ; j á lhe bafej a o rosto o sopro vivo das
vagas do oceano .
Quanto mais seu passo o aproxima da cabana, mais lento
se torna e pesado. Tem medo de chegar; e sente que sua alma
vai sofrer, quando os olhos tristes e magoados da esposa en
trarem nela .
Há muito que a palavra desertou seu lábio seco: o amigo
respeita este silêncio, que ele bem entende. É o silêncio do
rio quando passa nos lugares profundos e sombrios.
Tanto que os dois guerreiros tocaram as margens do rio,
ouviram o latir do cão a chamá-los e o grito da ará, que se la
mentava . Estavam mui próximos à cabana, apenas oculta
por uma língua de mato . O cristão parou calcando a mão no
peito para sofrear o coração, que saltava como o poraquê .
- O latido de Japi é de alegria, disse o chefe .
- Porque chegou; mas a voz da jandaia é de tristeza .
Achará o guerreiro ausente a paz no seio da esposa solitária,
ou terá a saudade matado em suas entranhas o fruto do
amor?
O cristão moveu o passo vacilante . De repente, entre os
ramos das árvores, seus olhos viram sentada, à porta da ca
bana, Iracema com o filho no regaço, e o cão a brincar . Seu
coração o arrojou de um ímpeto e a alma lhe estalou nos lá
bios:
- Iracema! . . .
48
O esposo viu então como a dor tinha consumido seu belo cor
po; mas a formosura ainda morava nela, como o perfume na
flor caída do manacá .
Iracema não se ergue mais da rede onde a pousaram os
aflitos braços de Martim . O terno esposo, em quem o amor
renascera com o júbilo paterno, a cercou de carícias que en
cheram sua alma de alegria, mas não a puderam tornar à
vida; o estame de sua flor se rompera .
- Enterra o corpo de tua esposa ao pé do coqueiro que
tu amavas . Quando o vento do · mar soprar nas folhas, Irace
ma pensará que é tua voz que fala entre seus cabelos .
O doce lábio emudeceu para sempre; o último lampejo
despediu-se dos olhos baços .
Poti amparou o irmão na grande dor . Martim sentiu
quanto um amigo verdadeiro é precioso na desventura: é
como o outeiro que abriga do vendaval o tronco forte e robus
to do ubiratã, quando o cupim lhe broca o âmago .
O camucitn qtte recebeu o corpo de Iracema, embebido
de resinas odoríferas, foi enterrado ao pé do coqueiro, à bor
da do rio . Martim quebrou um ramo de murta, a folha da
-
XXXIII
49
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Jacaúna veio hab�tar nos campos da Porangaba para es
tar perto de seu amigo branco; Camarão erguera a taba de
seus guerreiros nas margens da Messejana .
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ca r teve o cuidado de explicar , lo go no ca pi tu lo in ic ia l do li
vro: "Uma história que m e co nt ar am . na s lin da s vá rz eas on de
na sc i, à calada da noite, quando a lua passeava no ceu ar-
,
o
genteand os campo e a s, br isa ru git av a no s pa lm ar e s . " Tr a
ta-se , portanto, de uma lenda, cr iad a, como dissemos, para
narrar as origens do povo cearense, sendo Moacir o símbolo •
52
vão coincidir com alguns versos de metro tradicional, pelo
número de silabas e pelos ictos : log0 no parágrafo inicial, por
exemplo, vamos encontrar, entremeados, dois hexassílabos e
dois heptassílabos (ou redondilha maior) ; 6171617 . No segun
do parágrafo, temos anda menos de cinco heptassilabos : Ver
des mares que brilhais 1 como líquida esmeralda 1 aos raios
do sol nascente, I perlongando as alvas praias 1 ensombradas
de coqueiros . E seguem-se as frases, não mais em versos me
dido s, mas numa atmosfera de poesia que envolve perfeita
mente significante e significado . Isso levou Augusto Linha
res, um tanto arbitrariamente, a estampar, dividido em ver
sos, esse capítulo inicial de Iracema, na sua Coletânea de Poe
tas Cearenses ( 1952) publicada no Rio de Janeiro . Ressalte-se
ainda, no mesmo capítulot a apóstrofe : começa o escritor di
rigindo-se aos mares; passa depois a falar dos tripulantes da
embarcação e, por fim, volta-s.e para o próprio barco, augu
rando-lhe brandas auras . Inicia-se o romance, na verdade,
quando tudo j á passou (como Basílio da Gama fez no seu O
Uraguai) : a força da saudade, porém, faz com que, a partir
do capítulo II7 se i.nicie a narrativa . Nos capítulos finais pre
dominam as alusões aos topônimos e às personagens que re
almente viveram : fala o escritor de várias regiões conhecidas
ainda hoje, como Tauape, Porangaba, Mucuripe, Messejana, •
53
•
'
JOAQUIM DE SOUSA
54
I
•
À L UZ DE UMA ESTEARINA
55
•
Tu és ainda um raio de minh'alma
Que voga sobre o mar do céticismo;
Um traço do luar de noite calma
Resvalando dos céus, no meu abismo!
56
I
O Vaqueiro
29
Só! . . .
57
Füho das sombras, no bulcão tateio,
E me sumo no pego carrancudo .
Que me i mporta o porvir? meu nome leio
No pórtico fatal, sombrio e mudo! . . .
Da larva fria da morada escura
Tenho a veste manchada, e as mãos já tintas;
E o arcanjo feral da desven tura
Vem-me ao seio acordar vozes extintas! . . .
À MINHA IRMA
58
•
•
OuVi-me a canção.
Ouvi-me dizer.
•
30
•
E ela me escuta . . . dizendo: ��que louco!
Feriu-se, rasgou-se Me queres matar!" . . •
Ouvi-me COIJ1,tar..
. .
31
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-
-
Ai, pelos filhinhos reparto os melhores . . .
E o amo sorri-se . . . talvez a invejar!
A vida qu'eu levo,
Ouvi-me cantar.
O Rapaz da Guia
•
32
Oh ! que sina! No perigo
� meu dever a boiar;
Dão - m e sempre um bom ginete,
Em qu'eu me possa salvar .
Ai, qu'apenas me consola
Nesta vida em que estou,
Toadas de minha gaita . . .
ó Espaço . . . ê cou . . . ê lou . . .
33
•
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•
Cajueiro Pequenino
I •
Cajueiro pequenino,
Carregadinho de flor,
A sombra das tuas folh.as •
Tu és um sonlto querido
De minha vida infantil,
Desde esse dia . . . n1e lembro . . .
Era uma aurora d'abril,
Por entre verdes ervinhas
Nasces te todo gentil,
Cajueiro pequenino,
Meu lindo sonho infantil.
34
•
Cresceste . . . se eu te faltasse,
Que de ti seria, irmão?
Afogado nestes matos,
Morto d sede no verão . . .
Tu que foste sempre enfermo
Aq'lLi neste ingrato chão!
Cajueiro pequenino,
Que de ti seria, irmão?
35
'
�
REALISMO
•
O CLUBE LITE-RARIO
90 l
•
I
•
91
de abril de 1888, não deixa de tecer elogios ao citado roman
ce de Aluisio Azevedo, augurando um caráter mais naciona
lista ao nosso Naturalismo .
92
--- -
•
X . DE CASTRO
RESIGNADA
93
•
II
DISTRAIDA
94 '
•
III
EM PORANGABA
•
•
Pára o trent. Da vilazinha
Verde, risonha, engraçada,
Vem para a beira da estrada
. Toda a gente, ali vizinha.
XXI
AGUA CEIRO
De semblante carrancudo
Põe-se a velha em gritaria,
Dizendo: Corre, Maria! ...
Oh! Que pé-d'água barbudo!
'
• 95
•
- -
----- --- --
. -----
-- ---- - ------
---
------- - ---
Corre, negra/ Anda, ronceiral
B ota a jarra na goteira,
Tira da chuva o pilão! . ..
XXIII •
CONTRA TADOS
. a
Ela agora foi pedid
Para em agosto casar-se,
E desde logo pagar-se
Terna promessa devida .
A o vê-la já prometida
Vai o n oivo retirar-se .. .
Mas de.la ao aproximar-se
Sente-a triste . . . comovida! . ..
96
ingenuamente campesina de alguns de nossos românticos" .
12 X . de Castro explora quase sempre os aspectos anedóticos,
mas o que ressalta acima de tudo é a nota regionalista : tanto
as cenas como a linguagem são puramente cearenses. O cro
mo de n.0 I é descritivo, constituindo como que um flash da
vida praieira . O de n.o II, que sofreu ligeiras alterações depois
de estampado n' O Pão de 1.o de janeiro de 1895 (no v . s.o es
tava ruja, em vez de toca) , pode retratar uma cena de subúr
bio, tendo como protagonista uma rendeira, figura tipicamen
te nossa; a síncope em óculos deve ser menos reminiscência ro
mântica do que tentativa de "cor local", uma vez que é essa
(oc'los) a pronúncia corrente entre a gente simples do Cea
rá . O de n.0 XII focaliza a então vila de Porangaba , explo
rando um incidente algo jocoso, onde está presente um dos
produtos da terra, a castanha de caj u . O de n.o XXI mostra -
nos, com muita graça, o alvoroço e a alegria que as chuvas
causam em nossa terra : veja-se a ânsia de aproveitar a água
pluvial, límpida e leve ; note-se ainda o emprego de um termo
bem nosso, o vocábulo lesada, com o sentido de "amalucada,
boba" . O cromo n.o XXIII é o mais divulgado, sendo tam
bém, a nosso ver, o mais interessante e mais feliz : na rima
filhalfamília vemos ainda uma aproximação do linguajar do
povo, que palataliza o L antes dos ditongos crescentes; mas,
quando não fosse essa a razão, o poeta teria precedentes ilus
tres, como Castro Alves (com espalha I Itália, em "O Derra
deiro Amor de Byron") , ou Casimiro de Abreu (com exílio I fi
lho, na "Canção do Exílio") , sem falar de poetas que vieram
depois, e que deveriam ser mais exigentes, como Humberto de
Campos (com Itália 1 espalha, em "Poeira") . Esse cromo é
uma autêntica anedota, sendo imprevista a resposta final da
noiva . Outros poetas, mais ou menos por essa época, pratica
ram 0 cromo no Ceará, e entre eles podemos citar os nomes
de Antônio Sales e de José Carvalho, para não aludir a inúme
ros que se ocultavam sob criptônimos. X. de Castro, porém, fez
do gênero como que sua especialidade, cultivando desde os
tempos do Libertador.
97
Do Realismo na poesia baste o exemplo de X. de Castro
e seus cromos . Algo numerosa é a lista dos ficcioni stas da
corrente, dos quais escolhemos os mais representativos. Pre
nunciando-se nos contos que Oliveira Paiva publicou n' A
Quinzena, o Realismo vai consolidar-se com a publicação de
A Fome� de Rodolfo Teófilo, e se prolongará até quase aos
nossos dias, razão por que avançamos até épocas recentes,
uma vez que não poderíamos deixar de contemplar as figu-
ras de Gustavo Barroso e de Herman Lima, que rigidamente
não cabem noutra corrente.
RODOLFO TEóFILO
98
Li ra Rústica (1913) ; de contos, escreveu O Conduru (1910) e
de cr ônica ou memorialismo, Cenas e Tipos ( 191 9) e Coberta
de Ta cos (1931) , sendo ainda digno de nota o livro de polê
mica O s Meus Zoilos (1924) . Aqui, interessa-nos o roman
cista.
A FOME
99
carcará olhando o sitio onde outrora viveu luzido gado. Frei
tas andou às pedradas com o rapina, a fim de matá-lo. A ave
alou-se muito alto e se pôs livre das pedras . A janela da
casa estava aberta, e a porta fechada deixava ver riscos a
carvão formando inúmeras e diversas figuras . A primeira vista
parecia uma página de hieróglifos. Aproximando·-se, via-se que
eram desenhos de marcas de tamanho e formas diferentes não
só das fazendas da vizinhança como das mais distantes, cujos
vaqueiros na pista de animais perdidos deixavam os ferros
ali desenhados, a fim de não se apagarem da memória .
- ó de casa!
100
vísceras do morto. O terreno onde descansava o corpo estava
revolvido.
101
!
tado atrevimento. Pagariam com a vida os ins tintos carn1- •
ceiros e a audácia.
•
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •
•
•
102
. --
103
'
104
.. .. 'i!
....., ...
.
-
- ..
•
105
OLIVEIRA PAIVA
10.6
velho amigo e conterrâneo, o Silveira. É também acolhido
o Secundino, sobrinho do major, moço bem-apessoado, que
foge, acusado de crime em Pernambuco . Guidinha apaixo
na-se pelo rapaz, e de tal forma se desenvolve a paixã o que
•
•
Poço da Moita por último passara para Margarida, a
primeira neta do Reginaldo, filha do Capitão-Mar, casada com
o Major Joaquim Damião de Barros, um homenzarrão alto
107
e grosso, natural de Pernambuco uma boa alma. Viera ao
Cearã à compra de cavalos, e por cá se ficou amarrado aos
amores e aos possuídos da muito conhecida Guidin·ha elo
Poço. Tinha o preto-do-olho amarelo, com a menina esver
deada, semelhando um tapuru.
II
108
I
1825 não pOde esturricar, sumia-se quase na rocha, entre as
enormes oiticicas de um lado, e do outro o saib
ro do rio. Era
um trabalhão para os pobres vaqueiros: aqui, alevantar uma
rês calda; ali, fazer sentinela nas aguadas a fim de proteger
o gado amofinado contra a crueldade do mais forte; e, todos
os dias que dava Nosso Senhor, cortar rama. E ainda tinha
de percorrer constantemente as veredas e batidas para acudir
prontamente à rês inanida de fome e de sede, perseguir os
porcos, que algum desalmado vizinho teiraava em criar, per
segui-los à bala, porque o torpe cabeça-baixa empestava os
bebedouros .
109
•
'
110
olhava . Tinha duas escravas incumbidas unicamente de ser
vi-los, já a dar leite cozido às criancinhas, já a passar na
agua alguns molambos que as pobres mães não tinham força
,
111
(Manoel de Oliveira Palva. Dona Guidinha do Poço (I n
trodução de Lúcia Miguel Pereira). São Paulo, Ed . Sarai
va, 195 2, pp. 15-6 ; 22-4.)
112 ,
•
ADOLFO CAMINHA
A NORMALISTA
1 13
1 14
D e onde em onde zunia o falsete do ama�u
ense :
Quadra . . . Ou caçoava : Os anos de Cristo ! . . . Os
oculos do Padre Eterno !
,
115
•
populacho que se correspondia ocultamente com o presi
dente da província. Ela, porém, gabava, batendo no peito com
orgulho, que tinha uma vid·a limpa, graças a Deus ; que isso
de patifarias não lhe entrava em casa, não, mas era o mesmo .
Estava ali o Janj ão que não a deixava mentir.
Ao pé de D . Terezinha aprumava-se Maria do Carmo,
afilhada de João, uma rapariga muito nova, com um belo ar
zinho de noviça, moreno-clara, olhos cor de azeitona, carnes
rijas, e cuja atenção volvia-se insistentemente para o Zuza.
As outras pessoas eram também da intimidade : o Lou
reiro, guarda-livros da firma Carvalho & Cia. , o dr. Mendes,
juiz municipal, mais a senhora, a Lídia Campelo, filha da
viúva Campelo, e o estudante . Às vezes ia mais gente e o
víspora prolongava-se até meia-noite.
1 16
•
77 , dois anos depois de sua chegada à capital . Desde logo
tornou-se conhecido, suas façanhas corriam impressas nos
pasquins domingueiros. D'uma feita escapou milagrosamente
de ser preso por crime de defloramento numa menor, criada
do Dr . Morais e Silva ; d'outra feita apanhou de rebenque na
cara por haver caluniado um capitão �'infantaria propalando
uma infâmia . Toda a gente o conhecia muitíssimo bem , por
sinal tinha uma cicatriz oblonga e funda na têmpora esquer
da, e não largava o mau vezo de roer o canto das unhas .
• • • • • .
• .. . .
•
. .
•
. . . .. . .
• •
. .
•
. . • • • • . . . . . .
•
. . . . . . . . . . . . . . '
1 17
-- -
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os sentidos, acotovelando-se, confundindo-se . Na Mororó, mais
larga que as outras, havia uma promiscuidade franca de ra
parigas d·e todas as classes : criadinhas morenas e rechonchu
das, com os seus vestidos brancos de ver a Deus. de avental ,
conduzindo crianças ; filhas de famílias pobres em trajes do
mingueiros, muito alegres na sua encantadora obscuridade : •
1 18
sado l embranças de outras tantas patifarias, como vimos. Sa
ltente-se igualmente a insinuação malévola com relação a
certa correspondência entre a amásia do amanuense e o Pre
sidente da Província, bastante ridicularizado por Adolfo Ca
minha . Nos outros dois excertos, focaliza o romancista a Ave·
nida Caio Erado (Passeio Público) , onde havia diversas divi
sões, cada uma com sua população típica : aqui, damas da
elite ; ali, moças da classe baixa. Temos assim uma perfeita
reportagem acerca de um dos divertimentos do povo fortense
nas últimas décadas do século passado (a ação do romance
se passa no fim da década de 80) . É naturalista o romance.
uma vez que não expõe somente o real, o biológico, mas desce
ao patológico, fazendo pulular toda uma população de ver
mes : nada é grandioso. Já nem falamos de João da Mata,
um crápula ; o próprio Zuza, que numa obra romântica teria
sido a salvação da heroína, abandona-a menos por imposição
da família que por desinteresse. Ela, por sua vez, não tem
forças para resistir ao pad.rinho, chegando mesmo a sentir
certa atração pelo amanuense . Caminha, defendendo-se de
acusações feitas ao romance, escreveu : " Não me consta se
tenha escrito em parte alguma romance de costumes cea
renses observado e verdadeiro como este, em cujas páginas
vibra forte e caniculante o sol do Norte e onde a vida de um
povo é descrita com alguma precisão.'' O certo é que Caminha ,
temperamento violento e algo agressivo, e ainda por cima
recalcando mágoas do ambiente em que viveu e sofreu, en
controu no Naturalismo a corrente ideal para a expansão de
seu inegável talento de ficcionista. Sua obra-prima é o B om
-crioulo ( 1895) , que não focalizamos por não se tratar de
um romance cearense, nem ter sido aqui escrito. A Norma
lista, entretanto, bastaria para garantir ao seu autor lugar
dos mais destacados entre os romancistas da corrente, não
só na literatura do Ceará, mas no panorama das letras na-
cionais.
PAPI JúNIOR
1 19
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===--- --_-
de novembro de 1934 . Como acontece com outros nomes re
feridos neste panorama, Pâpi Júnior, apesar de não haver
nascido no Ceará, é puramente cearense pela obra que nos
deixou, toda escrita aqui. Veio para Fortaleza como praça
do Exército, abandonando depois a farda e seguindo para o
Norte do Pais, de onde regressaria para se fixar definitiva
niente aqui. Teatrólogo, poeta e contista, seu nome desta
ca-se principalmente como romancista, autor de O Si mas
( 1898) , Gêmeos (1914) , Sem Crime (1920) , A Casa dos Azu
lejos ( 1927) e Almas Excêntricas ( 1931) . Em 1898 publicara
a conferência A. Caminha e Sua Obra Literária, hoje desco
Ilhecida. E m 1925 publicou, com o título Teatro, os poemas
" Romance Antigo" e " Coroa". Em 1954 a Academia Cearense
de Letras publicou alguns de seus Contos. E a Secretaria de
Cultura, Desporto e Promoção Social reeditou O Simas , com
apresentação de Sânzio de Azevedo e un1 estudo de José Alves
F,ern andes.
O SIMAS
120
chorados de marroquim escuro, enquanto a criada entrava às
varridelas. A Felismina ia notando com exageros meticulosos
o estado em que tudo se achava : o assoalho nodoado de
cusparadas, coberto de pontas de charutos e de fósforo de
cera, as cabeças ardidas já. Demorou-se a olhar para isto, ao
começo sem grande interesse, sem particularizar a atenção,
mas de repente ficou abs.trata, olhos fixos no chão, e, pouco a
pouco, veio a fisionomia transtornando-se-lhe . Um tremor con
vulsivo, veemente, sacudiu-a toda . Pôs-se de pé, então, com
as mãos na cabeça, com um profundo sulco de desespero ca
vado em cada ruga das faces. Mandou fechar tudo novamente ;
subiu o grande lance da escada, trôpega, atordoada, sem res
piração, com duas lágrimas como dois punhos, limpas como
cristais, a tremerem-lhe sobre a epiderme rugosa da cara, a
I
121
límpida de cores, que, por fim, viesse esboroar as s uposiçõe s
que tanto a angustiavam. ·
122
•
Podia ser muito cedo ainda, convinha para seu descanso
fazer, quando a noite fosse alta, 11ma outra visita à sala de
jantar . E, pacientemente , deixou que as horas fossem ba-
tendo .na pêndula envidraçada do refeitório . A uma hora,
tornou, com as mesmas precauções, ao exame que uma vez
fizera . A chave continuava lá, não havia dúvida, viu-a, e vol-
tou para a alcova. banhada de um prazer intimo, afogando
-se nele por inteiro .
123
•
124
-se- lhe da mão e veio bater no assoalho ; a vela apagou-se, a
sala mergulhou em trevas .
125
•
DOMINGOS OLtMPIO
126
•
L UZIA -HOMEM •
127
- ---
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.. . ....
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onde repousava, reluzente ao sol, a formosa cidade intelectual ,
a casaria branca alinhada em ruas extensas e largas, os
telhados vermelhos e as altas torres dos templos, rebrilhando
em esplendores abrasados, surgia, em linhas severas e fortes�
o castelo da prisão, traçado pelo engenho de João Braga,
massa ainda informe, áspera e escura, de muralhas sem re
boco, enleadas em confusa floresta de andaimes a esgalharem
e crescerem, dia a dia, numa exuberância fantástica de ve
getação despida de folhas, de flores e frutos . Pela encosta de
cortante piçarra, desagregada em finíssimo pó, subia e des
cia, em fileiras tortuosas, o formigueiro de retirantes, velhos
e moços, mulheres e meninos, conduzindo materiais para a
II
128
geologia, quando morreu, inanido pelos jejuns, como um santo.
129
didos pelo despeito da invencível recusa, impassível às suas
insinuações galantes . .
• • • •
.
• • • • •
. • • • • • • • • • •
.
• • • • • • ? • � • • • • • • • • • • • .• • • • • • • • • • • • • • • • •
130
que foi adorno cobiçado, molambo ·que vestiu damas formo
sas. casca de fruto saboroso e aromático .
Não ; não fora feita para amar . Seu destino era penar
no trabalho; por isso, fora marcada com o estigma varonil ;
por isso, a voz do povo, que é o eco da de Deus, lhe chamava
Luzia-Homem .
• • • • • •
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •
13 1
te a dualidade meiguice versus energia moral de seu tempe
ramento. estampa-se a batalha travada entre o substrato ro
mântico (representado pela beleza) e a doutrinação natura-
lista (concentrada na força) " . 23 Nos textos apresentados,
temos, no início do capítulo I, a preparação do enredo, atra
vés da descrição da cena : nota-se de pronto que o autor não
primava pela concisão, sendo longos os seus períodos e, por
isso, às vezes pesados . Mas, embora nem sempre nos dê pá
ginas de estilo esmerado, reconstitui realisticamente as pai
sagens e as cenas, introduzindo com felicidade a presença da
seca, razão de ser da existência de tantos retirantes trabalhan
do na construção da cadeia. No trecho seguinte, início do ca
pítl.tlo II, entra em cena um subsídio para dar veracidade aos
fatos e à existência da heroína : o depoimento do diário do
\
francês Paul, que vira Luzia trabalhando entre os operários -
("Passou por mim uma mulh.er extraordinária, carregando
uma parede na cabeça . ") . Começa então a apresentação de
Luzia, sem dúvida alguma a maior criação de toda a romancís
tica cearense, e tlma das mais felizes da ficção nacional. Tra
ta-se de uma mulher singular, admirável, tanto pelo aspecto
)
físico quanto pelo aspecto moral : forte e disposta, de formidá
vel compleição física, havendo por isso mesmo recebido do
povo a alcunha de Luzia-Homem, com a qual ela mesma se
conforma, não se pense entretanto estar diante de uma vi
rago, com tendências lésbicas : no texto extraído do capítulo
XI, de sabor naturalista, sentimos perfeitameente que ela mes
ma se sentia diferente das demais ("Dera-lhe Deus músculos
possantes para resistir, fechara-lhe o coração para dominar,
amando como os animais fortes : procurar o amor e con·
quistá-lo ; saciar-se sem implorar, como onça faminta caindo
sobre a presa, estrangulando-a, devorando-a") ; entretanto,
·essa diferença apenas se resolve na impossibilidade de sub-
.
meter-se ( " Não, não fora destinada à submissão.") . Já vi- '
mos mesmo como Luzia prendia femininamente o manto. de
algodãozinho aos alvos dentes, "como se, por um·. requinte
de casquilhice, cuidasse com meticuloso interesse d'e preser�
var o rosto dos raios do sol" .. . . E , logo adiante, no capítulo
132 '
----·
ANTóNIO SALES
AVES DE ARRIBAÇÃO
133
Acontece que Bilinha, a professora pública, também se inte
ressa por Alipio . Afinal , entrega-se Bilinha ao praciano e fo
gem ambos, como aves de arribação, ficando Florzinha a es
perar o casamento que não se realiza. Em segundo plano,
aparece Matias, poeta sertanej o, apaixonado por Florzinha .
Segundo se diz, o próprio Antônio Bales estaria caricaturado
o 2s .
nesse poeta matut .
134
Outra te�dência sua, · a paixão partidária, longo tempo
refreada por certas conveniências, foi-lhe avassalando lenta
mente o espirita até que o dominou de todo .
•
II
135
solveu a voltar ao bom caminho, graças à ameaça do tio que ,
cansado de lhe dar conselhos, também não lhe quis mais dar
din.heiro . Por esse tempo morreu o pai do estudante, e este
fato concorreu em grande parte para que ele levasse a cabo
com regularidade o resto do curso .
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •• • • • • • • • • • • • • • • •
•
1 36
De envolta com a fragrância das flores da mongubeira,
sentia-se o hálito das res·es malhadas na praça da igreja e no
próprio patamar . E os vagos cicios da viração na folhagem
davam a ilusão de respiros humanos, como se se ouvisse a
população adormecida a arquejar sonoramente nos últim�s
paroxismos do sono .
. .
137
•
"Ora até que afinal chegou a tua vez, minh a donzela das
dúzias ! Agora vai acabar-se o meu cativeiro. De hoje em
diante há de abaixar a grimpa diante de mim! Ah ! ah ! Mulher
de nossa raça não mente fogo ... Eu sabia que havias de cair
também, mesmo com a tua proa e com a tua sabença . . . Já
não há de sentir tanto desprezo e tanta vergonha de tua
mãe, a quem tratas como a uma cadela. Agora falaremos de
igual a igual . . . Tão bom como tão bom! Muitas felicidades,
senhores noivos ! Estejam à vontade, e até amanhã ! "
138
•
(Antônio Sales. Aves de Arribação. S. Paulo, Companhia
'
139
professora alegrar-se com a queda da filha, por motivos que
seu monólogo deixa claros . Sal iente-se ainda a força de su
gestão contida nesse ' 'pass o balanceado de uma leoa decré
pita," com que se retira a velha mãe de Bilinha . Esse ro
mance, que um crítico desavisadamente disse enfocar "o dra
ma da seca," 26 na verdade não se enfileira nessa literatura
que se inicia com A Fome, de Rodolfo Teófilo . É o retrato de
um drama passional e da vida pacata de uma cidadezinha
do interior cearense. Para não repetirmos a classificação de
" regionalista," que alguns lhe têm dado, mas que nada ca
racteriza, preferimos considerá-lo um romance realista .
GUSTAVO BARROSO
'
GUSTAVO Dodt BARROSO Nasceu em Fortaleza, no
dia 29 de dezembro de 1888, vindo a falecer no Rio de Ja •
leira de Letras, da qual foi por duas vezes Presidente ; foi ainda
Diretor do Museu Histórico Nacional . Desde cedo salientou- se
nas lutas da imprensa como j ornalista de pulso. Sua vastís
sima bibliografia, que chega a quase cem títulos, abrange
os mais diversos temas e gêneros. Todavia, podem-se desta
car, na Sociologia Sertaneja : Terra de Sol ( 19 12 ) , Heróis e
Bandidos ( 1 917) , Almas de Lama e Aço ( 1930) ; na História :
Tradições Militares ( 1918 ) , O Brasil em Face do Prata ( 1930 ) ,
•
140 ,
Viola ( 192 1) , A través dos Folclores ( 19 27
) ; Conto e Novela :
Praias e Várzeas ( 19 15 ) , Mula Sem Cab
eça ( 19 22 ) , A lm a Ser·
taneja ( 19 23 ) , Mapirunga ( 1924) , Pergamin
hos ( 19 22 ) , Livro
dos Milagres ( 19 24 ) , O Bracelete de Safiras ( 19 31 ) Rom
; an
ce : Tição do Inferno ( 19 26 ) , O Santo do Br
ejo ( 19 33 ) , Missis
sipi ( 1961 ) . E não aludimos às obras sobre museologia, ar
queologia, lexicologia, política, economia, viagens, ou teatro.
Tendo adquirido renome logo quando estreou, Gustavo Bar
roso chegou a ser um dos maiores vultos de toda a litera
tura cearense. Leremos um de seus contos que vai transcrito
na íntegra :
ESPECTRO
141
misturando-se à areia grossa, dando-lhe um tom bistrado que
enegrecia à chuva . E lá para baixo do serro, numa curva
brusca, escorria o fio barrento do rio Fonseca, levando o mi
sero tributo de suas águas reles para as cheias invernais do
Banabuiú.
142
rava a semana inteira, sem interrupções. Não havia dia santo
que se guardasse. Sexta-feira da Paixão era o único. Matou
muito escravo de açoites e uma feita mandou arrancar, a
torquês, os dentes alvos duma sua odalisca que um hóspede
gabara a miúdo .
•
143
curldão como voz de além- túmulo que proclamasse ao mundo
dos vivos a fealdad.e e a torpeza daquela alma !
144
e contado num dos volumes de m
,
HERMAN LIMA
VENTURA ALHEIA
145
As duas casas ficavam a pouca distância uma da outra,
separadas apenas por uma cerca de pa-us-a-pique, e um capão
cerrado de paus-brancos e mo.fumbos,- çheios de perfume, en
frouxelados de arminho e de ouro no .inverno, garranchentos
e negros quando o estio chegava . :
. ' .
Vizinhos havia anos sem conta, os dois filhos do velho
Marcelino foram sempre muito amigos de Isabel, a filha de
sinhá Felipa. órfãos de mãe, muito �ovos ainda, os rapazes
cresceram desiguais em tudo . Justino, o mais velho, era um
cabloco airoso � vivo, muito fornido de cqrpo, de cara bonita
e franca, de uma alegria sem par. O outro, o Damião, pe
quenino, raquítico, o tronco abaul�do, os ombros para cima,
só tinha em proporção a cabeça, uma cabeçorra - horrível, de
olhos esbugalhados, · vítreos e mansos, como olhos de peixe
ou de sapo . O nariz rom�udo parecia arrebentado a socos .
.
•
O lábio superior, partido e arrepanhado . num "sinal de chave,"
descobrindo-lhe os dentes e as gengi.yas, daya�lhe um ar feroz
de cão de fila . O . mento :fino �ompia. saliente, entreabrindo
-lhe a boca enorme, de forma -� por consta�temente à mostra
um pedaço de lingua . entre a beiçada . .E os braços longos e
.
146
pr1m1c1as de amor, ria muito, ajudava-a a mimar
. , .
o · irmão,
exageradamente, chamava-a de ''m ãezinha '' ''m ãezinha ''
·
'
do outro . E, nos foguedos comun·s , figuravam sempre assim,
como uma família amiga e feliz, contentando-se o doentinho
com a S'orte d·e invâlido que lhe davam os outros .
•
• • • • • • • • • •
• •
• • • • • • • •
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •
• • • • • • • • •
147
Nesse dia, entretanto, Justino, que saíra do Aracati, duas
horas antes, apeava-se, ao anoitecer , em casa do Fortunato
Rocha, no Rancho do Povo, para um breve descanso, que apro
veitou para "bater a sela," o que, no dizer matuto, equivale
a boa ração de milho para o animal. E , quando cavalgou, no
vamente, o pedrês esquálido, rumando à casa, o sol descam
bava já para o poente, sem pompas violentas de cores, ama
relado e frio.
148
um instante, abaixou- se, dispunha-se a desfazer a armadilha,
quando vozes em diálogo, muito perto, o sustiveram . Erguen
do-se então a meio, protegido pela sombra da mata garran
chenta, correu a vista em tomo, a fim de ver quem falava .
149
•
cena dos 4ois namorados, aos beijos, à luz da lua ("a boca es-
cancarada, hedionda, deixava escorrer uma filetação de baba.
entre a beiçorra") . Conquanto publicado 11a Bahia, Tigipió,.
além · de · erueixar con�os. onde �stá :presente a �rra cearense,
'
. .
o '
1 ;
foi todo escrito aqui, sob o "influxo das ieituras de Afonso Ari-
nos e Gustavo · Barroso, sendo uma das · mais representativas
obras ·da ficção cearense, em : todos . os tempos .
150
- -----
O CENTRO LITERÁRIO
167
as idéias alevantadas, visando torná-las do embrião à reali
dade pelo consentâneo e mútuo auxüio de tódos por um . " Em
seguida vem a lista dos sócios, nesta ordem: _,....
Juvenal Galeno
Viana de Carvalho •
Temistocles Machado
Pápi Júnior
Alvaro Martins
Luis Agassiz
·Pedro Moniz
Rodolfo Teófilo
Alves Lima
José Olimpio
I
Otacílio de Oliveira
Ulisses Sarmento
Francisco Barreto
João Barreto
Bonfim Sobrinho
•
Alfredo Severo
Tancredo de Melo
J ovino Guedes
.
Quintino Cunha
Frota Pessoa
Eduardo Sabóia I
Alcides Mendes \
Farias Brito I
•
Bruno de Sabóia
Almeida Braga I
Belfort Teixeira •
'168
. . ·-
----=-
=--- =----
1 Guilherme Studart
2 Pápi Júnior
3 ---- Pedro Moniz
4 Alvaro Martins
5 Frota Pessoa
6 Viana de Carvalho
7 Francisco Carneiro
8 Francisco Matos
9 Antônio Ivo
10 Rodrigues de Carvalho
11 Soares Bulcão
12 Temístocles Machado
13 Joaquim Carneiro
14 Aníbal Teófilo
15 Marcolino Fagundes
16 João Lopes Ribeiro
17 Matos Guerra
18 Nabor Drumond
19 Alfredo Severo
20 Francisco Xavier de Castro
21 : · ernando Weyne
F
22 Pâdua Mamede
•
169
23 Alcides Mendes
24 Joaquim Fabricio
25 Martinho Rodrigues
26 Farias Brito
27 Antônio Bezerra
28 Justiniano de Serpa
29 José Lino da Justa
30 Fiúza de Pontes
170
··�
-- ------ ---
171
tante, um grupo de moços talentosos fundasse o ''Cen
tro Literário". A idéia partiu do cerebro de Pápi Júnior,
uma insubmissa mentalidade. 38
172
..
•
�
g inte a Padaria Espiritual expuls
ava os dois sócios, o que,
dtga-se de passag;em, inverte a situaçã es
o boçada por Antônio
�
S les, para quem a saída de Alvarins
e Temístocles é que te-
ria determinado o nascimento do novo grêmio. A não ser que
Sa le s tivesse escrúpulos em dizer abertamente que sua agrc
lniação havia punido com expulsão dois de seus membros, pelo
sim ple s fato de fundarem ou ajudarem a fundação de outra
sociedade literária.
.
Há porém um fato que tem passado despercebido a quan
tos se debruçam sobre os raros documentos de nosso passado
literário: Rodrigues de Carvalho, no citado artigo, fala de uma
Carta-Circular, de 15 de outubro de 1894, espécie de manifes
to dos criadores do Centro Literário, esclarecendo que tal
documento foi assinado por Temistocles Machado, Pápi Jú
tlior, Juvenal Galeno, Farias Brito, Pedro Moniz, Jovino Gue
des, Ulisses Sarmento, Alcides Mendes, Otacílio de Oliveira,
\'ia.n a de Carvalho e Bonfim Sobrinho (Grifos nossos).
, Te m ís to cl es M ac ha do e Jo vi no G ue de s
Álvaro Martins
ú n ic os m em br os da P ad ar ia E sp ir it u al a fa ze r
n ão seriam os
fo ra m ta m b ém ce n tr ista s R od ol
parte d a nova agremiação:
ô er ra , E d u a rd o S a b óia, A lm ei d a B ra g a ,
fo Teófiio, Ant nio Bez
Lope s F il h o e U li s s e s B e z e r r a .
co n ta o fa to d e a lg u n s h a ve re m en tr a
sem levarmos em
s d e a d m it id o s n a r e or g a n izaç ã o d a P a d a r ta
d o n o c e n tr o a n te
173
Espiritual, não deixa de ser estranho que, sendo rivais as agre
miações a ponto de se acreditar que a fundação de uma deter
mine a expulsão de membros de outra, não deixa de ser estra
nho que houvesse elementos que pertencessem simultanea
mente aos dois grêmios. Além disso, como se vê claramente
pelas notícias estampadas nos jornais da época, sempre que
havia festa numa das duas sociedades a outra se fazia repre
sentar, da maneira mais cordial.
Conforme temos visto, é enorme o número de componen
tes do Centro Literário; entretanto, procuraremos destacar
algumas de suas mais expressivas figuras.
174
nalidade do Mundo (1.0 vol. 1894; 2.o, 1899; a.o, 1905). sua
•
I
175 •
podemos destacar História do Ceará, Fámília Castro, Ligeirog
Apontamentos (1883), Notas Para a História do Ceará Se
gunda Metade do Sécuo XVIII (1892), Datas e Fatos Para a
História do Ceará 3 vols . (1896 a 1900), Dicionário Biobi
bliográjico Cearense 3 vols. (1910, 13, 15), Documentos
Para a História do Brasil e Especialmente do Ceará (1904, 09,.
10), Para a História do Jornalismo Cearense (1924), além de
mttitas outras.
176 •
•
José Pedro SOARES BULCAO (1873 1942) Político,
historiador e poeta, será visto oportunamente entre os verse
jadores d'e várias tendências que poetaram mais ou menos
independentemente.
.. ...... - ...
' (. -
177
•
poesia (1901), Poemas Sentidos (1902), Elegia à memória do
pranteado poeta cearense Alvaro Martins (1906), A Política
opúsculos contendo discursos e conferências.
no Brasil ou Nacionalismo Racial (1926), além de inúmeros
JOSlt d' Abreu ALBANO (1882 1923) Figura ímpar
em nossas letras, por muitos considerad9 o maior poeta do
Ceará, José Albano será estudado no capítulo dedicado às
diversas tendências de nossa poesia, visto não poder enqua
drar-se dentro de. nenhuma corrente estética de seu tempo.
Antônio BRUNO BARBOSA (1884 1956) Estreou
em livro aos 16 anós de idade, sendo seu livro recebido com
admiração. Posteriormente, bacharelando-se em Direito e
sendo nomeado juiz em S. Paulo, abandonou completamente
a po.esia . Publicou: Utopias (1900), com prefácio de Rodrigues
de Carvalho; Dois Discursos (1900) e Mocidade (1905) .
.
178
•
la .. tenacidade com
q e enfrentou as dificuldad�s d'e um m
� eio nem sempre favo
ravel a tais cometimentos, logrando uma existência bem mais
lo�ga .que a .da maioria dos grêmios ·de s·eu tempo, pelos no�
mes que congregou, alguns de projeção naciorial.
179
vista intelectual, para suplantar e avantajar-se uma à ou
tra ...", a
A ACADEMIA CEARENSE
180
vista intelectual, para suplantar e avantajar- se uma à ou
tra ...", a
A ACADEMIA CEARENSE
180
Antônio Luis DRUMOND DA COSTA
(? ?) Bacha-
rel em Direito pela Academia d o Reci
fe, foi Juiz no Ceará,
onde também exerceu as funções de pr
ofessor; militou no
jornalismo, com grande destaque. Faleceu
no Amazonas.
JOS� Domingues FONTENELE (1869 1905) Piauien-
se, foi no Ceará juiz e professor, salientando-se na oratória.
Deixou obras jurídicas e discursos.
181
•
TOMAS POMPEU de Sousa ·Brasil'.Filho (1B52 -- 1929)
___,.;. Figura entre os membros·. da. Acade
' mia Francesa do Ceará.
••
.
deiro-Mor, como vimos.
.
Um
dos Poetas da Abolição, foi também membro da Padaria Es
piritual e do Centro Literário.
182
�o ainda professor da Faculdade de Direito, militou no jorna-
lismo, mas suas obras tr�tam de a
ssuntos jurídicos. ·
1921)
- Foi professor d·o Seminário de Fortaleza e Vigário de Cas
cavel. Distinguiu-se como orador sacro e poeta. Era tio do ·
A partir de
tidade, a Revista da Academia Cearense, que iria sobreviver
até 191 4. Nos 19 tom os desse periódico foram publicado s inú - •
183
Tudo isso vem confirmar o que dissemos há· pouco: não
eram exclusivamente literários os objetivos da Academia Cea
rense, que por sinal pretendia editar uma obra, O Ceará em
1896, que seria uma espécie de enciclopédia regional, ficando
.
184
Tudo isso vem confirmar o que dissemos há· pouco: não
eram exclusivamente literários os objetivos da Academia Cea
rense, que por sinal pretendia editar uma obra, O Ceará em
1896, que seria uma espécie de enciclopédia regional, ficando
.
184
Lima· 12) Antonino Fonte
nele. 13) Júlio Maciel . 14) Alba
�
Val e� . 15) Moreira de Azevedo.
16) Carlos Câmara. 17) Pe.
Antomo Tomás. 18) Bales Campos. 19) Leiri de Andrad .
a e
20) Otávio Lôbo. 21) Cruz Filho. 22) Cu
rsino Belém. 23)
Ant6nio Teodorico da Costa. 24) Soares Bulcão. 25) Matos Pei
xoto. 26) Jorge de Sousa. 27) Beni Carvalho. 28) José Lino da
Justa. 29) Fernandes Távora. 30) Alvaro de Alencar. 31) .
Francisco Prado. 32) Júlio Ibiapina. 33) Ferreira dos Santos.
34) Andrade Furtado. 35) Raimundo de Arruda. 36) José
Sombra (filho). 37) Raimundo Ribeiro. 38) Antônio Dru
mon d. 39) Quintino Cunha e 40) Leonardo Mota.
Aconteceu todavia qu e, as su m in do o G ov er no do Es ta do
M ato s P ei xo to (q ue figu ro u en tre os 40
0 D r. José Carlos de
a em 19 22 ), h ou ve n ov a reor ga n iz a
componentes da Academi
ção, desta vez em 1930 , so b a in sp ir a çã o d o is�
to ria d or V á �
l r
ti d a d e a den o m in a r-se A ca d. enu a
Pompeu, continuando a en
ns e rv a n d o -se co m q ua re n ta m em b ro s,
cearense d e Letras, e có
cada Ca d e ir a c o m u m P a tr o n o .
1 85
•
Cerca de 27 escritores deixaram de compor a nova lista
de sócios, que ficou assim constitufda :
1) Ermínio Araújo. 2) Amora Maciel. 3) Luís Sucupira .
4) Pontes Vieira. 5) Antônio Furtado. 6) Pompeu Sobrinho .
7) Cruz Filho. 8) Válter Pompeu. 9) Fernandes Távora . 10)
Matos Peixoto. 11) Carvalho Júnior. 12) Joel Linhares . 13)
Natanael Cortez. 14) Misael Gomes. 15) Jáder de Carvalho .
16) Antônio Teodorico. 17) Renato Braga. 18) Andrade Fur-
tado . 19) Martinz de Aguiar . 20) Antônio Sales . 21) Clodo
aldo Pinto. 22) Leiria de Andrade . 23) Elias Malmann. 24)
Júlio Maciel . 25) Demócrito Rocha . 26) Otávio Lôbo . 27)
Pápi Júnior. 28) José Sombra Filho. 29) Carlos Studart Fi
lho. 30) Adauto Fernandes. 31) Mozart Pinto. 32) Josaphat
Linhares. 33) Tomás Pompeu Filho. 34) Dolor Barreira . 35)
Teodoro Cabral. 36) José Martins Rodrigues. 37) Mozart Fir
meza . 38) Monte Arrais . 39) Beni Carvalho . 40) Emídio Bar
bosa.
Nesse mesmo ano de 1930 foi criada outra agremiação,
denominada Academia de Letras do Ceará . Dela faziam par�
te alguns elementos da Academia Cearense de Letras, como
Antônio Furtado, Demócrito Rocha, Beni Carvalho, Mozart
Firmeza e Matos Peixoto, além de nomes estranhos ao velho
grêmio, como Henriqueta Galeno, Menezes Pimentel, Alencar
Matos, Sidney Neto, Perboyre e Silva, Gastão Justa, J . W . Ri
beiro Ramos, Hugo Catunda, Leite . Maranhão," Livino de Car
valho, Manoel Albano Amora e Adonias Lima, este último,
membro da Academia Cearense de Letras em 1922.
Estas duas agremiações terminaram por fundir-se em
1951, graças aos esforços de Dolor Barreira, Joel Linhares e
Clodoaldo Pinto, pela Academia Cearense de Letras, e de Hen-
.
riqueta Galeno, Albano Amora e Perboyre e Silva, pela Acade
mia de Letras do Ceará, com o que eram atendidos os apelos
que, nesse sentido, haviam feito Martins d'Alvarez e Mário
Linhares, residentes no Sul do País . Nas vagas dos sócios fa
lecidos ou ausentes, entraram os membros da segunda, e a de
nominação vitoriosa foi a de Academia C.earense de Letras.
'
186
Dolor Ba·rreira, figura principal dessa fusão,· foi entã acla
o
mado por todos para dirigir a entidade, que experimentou
·
(a
·
,
·
. · · : · . . · · .
187
Damos a seguir a lista das quarenta Cadeiras da Acade
mia Cearense de Letras, com os nomes de seus Patronos e os
nomes e noticias blobibllográflcas dos atuais ocupantes .
1 LFO Ferreira CAMINHA (romancista) Sânzio de
Azevedo.
2 ALVARO Dias TINS (poeta) Luís Sucupira, jor-
nalista, economista e professor. Foi Deputado Federal,
tendo exercido ainda as funções de Secretário de Estado
dos Negócios da Fazenda e de Inspetor da Alfândega do
Ceará, e interinamente foi Interventor Federal no Esta
do . É de todos conhecida a tenacidade com que sempre
defendeu os princípios do Catolicismo, através das pági
nas d'O Nordeste, ao lado de Andrade Furtado. É autor
1
•
188
mo, técnico em problemas agrários, além de humanista;
tem cultivado a poesia. Exerceu, entre outros, os cargos
de Secretário de Estado da Secretaria de Agricultura e
Obras Públicas e de Delegado do Ministério da Agricul
tura do Ceará. É professor da Escola de Agronomia da
Universidade Federal do Ceará, e membro do Instituto do
Ceará. De sua vasta bibliografia, destacamos: Tomás
Pompeu e o Seu Tempo (1954), Estudo de Zootécnia Re
gional (1950), ·O Pioneiro do Folclore no Nordeste do Bra
sil (1950), A Reforma Agrária no Polígono das Secas
(1959), Agropecuária e Desenvolvimento do Nordeste
(1960), Agronomia e Humanismo (1967), O Seminário de
Fortaleza e a Cultura Cearense (1967), Renato Braga -
' in memoriam (1969), A Integração do Ensino das Ciên
cias Agrárias na Universidade Brasileira Moderna (1970),
e Ensaios de Sociologia Rural (1971) É ainda autor das .
minúsculas (1973) .
189
•
•
.190
•
-
- - -
I
11 GUILHERME . STUDART (h
istoriador, ensaísta e médi
c o) José Valdivino, ensaísta, professor,· poeta e j oma
.
llsta . Exerceu a s funções de Diret
or do Instituto de Edu
c�ção Justiniano de Serpa e tem, através da impren
sa ou
da tribuna, versado temas ligados aos proble
mas da re
ligião, na qualidade de católico militant e. Publicou co
ração ( 1939) , de poemas, O Perigo da Co-Educação ( 1939) ,
A Poética do Padre Antônio Tomás ( 1940 ) , Ma Grammaire
Française (1940), A Flor da Jurema� ( 1940) , biografia,
além de vários ensaios estampados na Revista da Acade
mia Cearense de Letras, dentre os quais "A Comédia An
gélica de José Albano" ( 196 1 ) , "José Albano em Ode à
Língua Portuguesa, Alegoria e O Triunfo" ( 1962) , "A For
j a de Cruz e Sousa" (1 964) , "Linguagem de Alencar na
Iracema" ( 1 965) , ou "Fagundes Varela num Panorama
de Sua Obra" ( 197 1 ) .
191
•
192
ência Politica da Escola de Administração do Ceará e
da Faculdade de Direito da Universidade Federal do
Ceará. Membro do Instituto de Direito Público da Fun
dação Getúlio Vargas . Publicou Universidade da Amé
rica (1946), O Tempo e os Homens (1952), Dos Fins do
Estado (19·55), Do Estado Liberal e do Estado Social
(1958, 2 .a ed., 1961, 3.8 ed . , 1972), Ciência Política (1967,
2.a ed. 1972), Teoria do, Estado (1967), A Crise Política
Brasileira (1969), Textos Políticos da História do Brasil
(1973), em colaboração com R . A . do Amaral Vieira,
Reflexões Política e Direito (1973) .
•
193
- ---
..
após a morte de Filgueiras Lima, para esta, n.0 21, antes
ocupada pelo poeta. Será visto adiante.
22 JUSTINIANO José DE SERPA (jornalista, parlamentar,
orador e poeta) Eduardo Campos, contista, �omancista
e teatróJogo. Ex-Presidente da Aca.demia Cearense de
Letras, será visto no Grupo Clã.
194
28 MARIO DA SILVEIRA (poeta) - João Jacques, cronista,
contista e jornalista, será mais tarde estudado através
de um de seus contos · .
ca da s a m at ér ia s de· su a es pe ci al id ad e, po de m os
ria dedi
destacar O In tegr al i-sm o à L uz da D ou tr in a S oc ia l C a
tólica (1 933), A M oe da e as Fi na nç as Pú bl ica s (1 93 6) , O
lítica .. Financ eiera do B ra sil (1 93 7) , Pr é-
Mil--Réi s e a Po
195
•
•
196
•
demismo.
197
apenas um livro, A Estrutura Desmontada (1972), aná
lise das novelas de Durval Aires, não chegando nem mes
mo a anunciar a publicação de Conflitos e Tendências�
livro de ensaios que recebeu prêmio da Secretaria de Cul
tura do Município de Fortaleza. Entre os artigos espa
lhados em revistas, vale destacar "Hora de Decisão Marca
o Futuro da Primeira Academia do Brasil", estampado
na Revista da Academia Cearense de Letras, em 19 62.
39 Tristão de Alencar ARARIPE JúNIOR (critico literário
e romancista) Plácido Aderaldo Castelo, :p.istoriador,
educador e homem público. Foi Secretário da Fazenda,
Presidente do Instituto de Previdência çio Estado do Ceará,
Prefeito Municipal de Fortaleza, Procurador Judicial do
Estado, Secretário de Agricultura e Obras Públicas, Depu
tado Estadual, Ministro do Tribunal de Con�as e Gover •
.
·
198
Se podemos dizer que foi Guilherme Studart o idealiza
dor da Academia naquele ano de 1894, igualmente devemos
a Leonardo Mota e a Justiniano de Serpa a reorganização
�a A�ademia, em1922. Da mesma forma, a Válter Pompeu
e devida a reforma de 1930, sem a qual talvez a instituição
.
t1vesse desapareceido, com o falecimento de Serpa, em 1924.
Ao nome de Vâlter Pompeu é de justiça ligar-se o de Matos
Peixoto, Chefe do Governo então e membro da Academia d'esde
a reorganização de 1922, como vimos e falecido no Rio de
Janeiro, em 1976. E ligue.:Se ainda o nõme de Dolor Barreira
à providencial fusão das duas Academias, em 1951.
as cadeiras do sodalício:
199
como vimos, e cultor do ensaio folclórico; são de sua autoria;
Cantadores (19 21) , Violeiros do Norte (19 25) , Sertão Alegre
(1928) , No Tempo de Lampião (1930) , Prosa Vadia (1932) e
uma obra a que temos aludido várias vezes, A Padaria Espi..
ritual (1938). Leota (era este seu pseudônimo) colhia o ma
terial folclórico diretamente do povo, en1 longas viagens pelo
sertão.
ADONIAS Lil\iA (1887-1971) , paraibano que aqui pro •
200
•
-
--- ----
7.
LEITE MARANHAO (1894), médico, orador e ensaísta,
tem exercido o magistério, sendo autor de várias obras ligadas
a sua especialidade, bem como estudos sobre educação e li
teratura .
LEIRIA DE ANDRADE (1889-1935), j urista e escritor,
destacou-se também como orador . Embora cultivando a li
teratura e os estudos de metafísica, não chegou a deixar livro.
201
Professor de Direito Romano no Ri o de Janeiro . P'ublicou:
Reforma da Constituição Cearense ( 1924), Curso de Direito
Romano (1945) etc . Foi figura exponencial na segunda reor
.
202
•
naram-se largamento co
nhecidos. Publicou Escada de Jacó
( 1924) .
J
Mulher ( 1924) , Terra Verde (1925) , O Amazonas ( 19·27) , Yara
( 1928 ) , Demônio ( 1929) , sendo romances os dois últimos;
autor ainda de ensaios sobre, teatro .
203
Sentimento e a Arte na Poesia de Carlos Gondim (1930), Pá
ginas de Literatura e Crítica (1933), A Paisagem e o Home m
na Obra de Rodolfo Teófilo (1936), Cangaceirismo Nordestina
(1936), Lições de Geografia Geral (1936), Ao Sol de Me sse
jana (1937), Ignorante Sublime (1944), este último sobre
Barbosa de Freitas.
DOLOR BARREIRA (189·3-1967), jurista, historiador, pro
fessor e ensaísta. Foi um dos maiores advogados de Fortaleza,
tendo deixado várias obras jurídicas; exerceu os cargos de
Procurador Geral do Estado e de Catedrático de Direito Civil
da Faculdade de Direito do Ceará. Como Presidente da Aca
demia Cearense de Letras, foi responsável pela fusão desta
com a Academia de Letras do Ceará, conforme vimos; tendo-se
voltado, desde a mocidade, para as lides literárias, dedicou-se,
nos últimos vinte anos de sua vida, à redação de uma His
tória da Literatura Cearense, obra sob vários aspectos notá
vel, da qual chegou a publicar quatro tomos, em 1948, 1951,
1954 e 1962; nesse monumental trabalho de pesquisa, é de
justiça registrar a colaboração da bibliotecária Maria da Con
ceição Souza, como aliás fazia o autor, na abertura de t-ada
volume, exceto o 1.o. Essa obra foi uma iniciativa do Ins
tituto do Ceará, ao qual pertencia Dolor Barreira. De sua au
toria é também o livro Clóvis Beviláqua e Outros Trabalhos
(1956).
204
----____,___- -- -
Letras, Economia , R el ig iã o
Os Dois Tributos.
S POMPEU SO BR INH O (188 0 19 68), h istoria-
T
lo g o , pro fessor e en ge nheiro, foi u m a das
dor, geógrafo, etn ó
•
205
maiores culturas do Ceará. Dirigiu por muitos a,nos a Inspeto..
ria Federal de Obras Contra as Secas, tend'o sido Presidente do
Instituto do Ceará e da Academia Cearense de Letras, da qual
também foi Presidente d'e Honra . De sua vasta bibliografia,
ressaltamos: O Problema das Secas no Ceará (1916 ) , A Indús
tria Pastoril no Ceará (1917 ) , Esboço Fisiográfico do Ceará
(192 2 ) , Parêntese Geográfico (1932) , Prato-História Cearen..
se (1946) , Pré-História Cearense (1955) , etc.
FERNANDES TAVORA (1877 1974 ) , médico, jornalis-
ta, politico e orador. Deputado estadual em duas legislaturas,
deputado federal e senador, chegou também a exercer o car
go de Interventor Federal no Ceará (o primeiro que teve nos
so Estado) ; como jornalista, colaborou em inúmeros periódi
cos e fundou, em 1921 , A Tribuna, onde se revelou polemista
desassombrado. Doutor em Medicina, sua tese v.ersou sobre
Telepatia (19· 03) , assunto muito pouco explorado àquela épo
ca; estagiou posteriormente em vários hospitais da Europa .
Orador de renome, deixou inúmeros discursos estampados em
.
revistas ou em opúsculos .
MONTE ARRAIS (188 2 1965) , jurista. e jornalista . Di-
rigiu vários jornais em Fortaleza e chegou a ocupar por duas
vezes o cargo de Secretário de Estado; foi ainda deputado es
tadual e federal. Transferiu-se para o Sul, onde foi advoga
dq no Rio Grande do Sul e notário público no Rio de Janeiro.
Publicou : O Habeas-Corpus e a Autonomia Muni·cipal (1918 ) ,
Do Poder do Estado e dos �órgãos Governamentais (1935) , Ter
ra Redimida (19.37) , Estudos Parlamentares (1947 ) , etc .
AMORA MACIEL (1895) , jornalista, poeta, contista e ro
mancista. Foi delegado do Tribunal de Contas da União . Pu
blicou Cantigas de Pã (1922 ) , Sol Sobre Vidraça (1955) e Ti
ção (1956) , este último de· contos .
.
ANTONIO TEODORICO ( 1861 1939) , professor, ensaís-
ta e cientista, publicou : O Homem e os Progressos de Sua Lo
comoção (1907) , A Geografia (1909) , O Cometa de Halley
(1910) , Folhas ao Vento (1914 )- , Ruídos e Sonidos (1919 ) , R·ui
Barbosa (1923 ) , etc . ·
2 06
Pe . JOAO AUGUSTO DA
FROTA ( 1 849 1 942) , orador
sacro e Professor de Mate
mática do Liceu do Cearâ. Foi Dire
tor da Instrução Pública
do Estado do Ceará . Destacou-se na
campanha abolicionista .
OUTROS NOMES
•
os as pr in ci pa is fi gu ra s de n os so R ea lis m o ,
F oc alizam
m o n o te m p o at é ép oc as m ai s re ce n te s, on d e a
avancando mes
�
2 07
•
escola deixou remanescentes ilustres . Todavia, ainda pode
ríamos citar, além dos já mencionados ARTU R TEóFILO, da
Padaria Espiritual, autor de vários contos estampados n' O
Pão , e de PEDRO MONIZ, do Centro Literário, autor da nove
la O E stup ro, publicada na revista Iracema , em 1896, o con
tista JOSÉ LUíS DE c·AsTRO, no início do século colaboran-·
do no Almana qu e do Cear á, bem como ANTôNIO FURTADO,
com seu livro de contos Idé ia Fixa (1931) .
Podemos apresentar como figuras divergentes ANA FACó,
autora dos romances Rapto Joco so e Nuven s., surgidos ambos
em folhetins do Jorna l do Cear á em 1907 (segundo nos informa
Abelardo F . Montenegro em O Roma n.c e Ceare n.se , 1953) e
editados em volume� em 1937 e .38, respectivamente, o·bras que
são pautadas pela estética romântica ; JOÃO MIGUEL DA
FONSECA LOBO é autor do romance, também romântico_,
A Cam pone sa, publicado em 1914 .
S I M BO L I SMO
•
208
' - .
escola deixou remanescentes ilustres. Todavia, ainda pode
ríamos citar, além dos já mencionados ARTUR TEóFILO, da
Padaria Espiritual, autor de vários contos estampados n' O
Pão, e de PEDRO MONIZ, do Centro Literário, autor da nove
la O Estupro, publicada na revista Iracema, em 1896 , o con
tista JOSÉ LUíS DE c·AsTRO, no início do século colaboran-·
do no Almanaque do Ceará, bem como ANTôNIO FURTADO,
com seu livro de contos Idéia Fixa (19 31).
SIMBOLISMO
•
208
' - .
de Antônio . Sales ou de outros de seu tempo qua
se nada tinha
de comum com a arte de Heredia ou Leconte de Lisle. Assim .
•
LOPES FILHO
PHANTOS
209
•
•
IGREJINHA
•
'
210
• � · ..:;:-. •
• ;r.:
•
- - •
OS VENCIDOS DA VIDA
(De um quadro)
211
•
I
verso 1.0 da terceira estrofe, acrescentamos um que (o qual
deixamos entre parênteses) certamente omitido no original.
por erro tipográfico. No soneto "Os Vencidos da Vida" nova
mente se patenteia o p.essimismo decadentista, sob influêl1··
cia de Nobre (este poema é bem irmão daqueles em que o por
tuguês vazou sua desilusão, como o I?-·o 1 3, do Só, em que diz:
ó meus amigos! todos nós falhamos ... 1 Nada nos resta. s o.
mos uns perdidos). Ainda aqui surgem maiúsculas personifi
cadoras, sendo digna de nota a alusão a "claustro", o que in
troduz mais um elemento simbolista: o misticismo. Entre-
•
212
•
LtVIO BARRETO
213
•
dos maiores poetas de seu tempo e pertenceu, como Lopes Fi
lho, à Padaria Espiritual. Seu único livro de poesia, Dolentes�
foi publicado por iniciativa de Valdemiro Cavalcante, também,
"padeiro" e seu conterrâneo, que o prefaciou (1897) Algu ..
.
CREDENCIAL
214
Arte! ideal, oh sacrossanto viático!
'
•
LAGRIMAS
POEMAS NOTURNOS
215
Para as bandas do sul as nuvens correm
Como blocos de gelo sobre o mar;
Brancas, tão tênues que de ténues morrem;
Cansa-se a vista para as alcançar.
216
OS CRAVOS BRANCOS •
217
,-
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AO LUAR
218
- - ...
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gro, pp. 31-2; 90-1; 164-6; 218-19; 222; O Pão, n.0 30,
•
15. 12.95.)
•
•
219
Há poemas que oscilam entre o Romantismo e Rea lismo
nos � Dolentes; mas a feição definitiva do poeta é o Simbolis
mo, patente nas composições transcritas: na "Credencial",
ele fala na Arte do Verso, mas essa arte é cheia de maiúscu
las e notas .. litúrgicas, longe portanto da perfeição pamasiana.
"Lágrimas" mostra-nos, numa atmosfera de luares, o artífice
do verso, usando a anáfora com requintes de joalheiro. Nos
"Poemas Noturnos", os dísticos, entremeados com as quadras,
dão o tom solene de responsos, havendo ainda alusões caras
aos da corrente, como "Estrada de Santiago", bem como o cli
ma litúrgico ("Reza o Silêncio" ...) , sobretudo quando o poe
ta chama a lua de Monja da noite de rosário ao seio; para An
tônio Nobre, era a lua do convento do céu a eterna freira. Em
"Os Cravos Brancos", é estranha a musicalidade dos versos,
onde se misturam dodecassílabos trímetros (com ictos nas
sílabas 4.a e s.a) e hendecassílabos, havendo alguns com acen
tuação inteiramente irregular: na primeira estrofe, o verso,
inicial é um hendecassílabo trocaico, ao passo que os demais
são trímetros de 12 sílabas; o primeiro da terceira estrofe,
Cravos brancos, cravos brancos, lágrimas d'anjo, foge a qual
I
quer tipo conhecido de acentuação do dodecassílabo; por ou
tro lado, surgem alguns decassílabos ( Cravos que são como
hálitos de noivos e Para, ao voltar com as faces de papoula,
respectivamente terceiro da segunda e da sexta estrofe); apa
recem rimas curiosas, como a peneconsoante leite 1 corpete, ou
a imperfeita virgensjvertigens, largamente empregada pe
los românticos. Vê-se que as irregularidades desse poema são
pura bizarria simbolista, já que, através de outros poemas de
Lívio Barreto, podemos constatar seu domínio sobre a arte do
verso. No soneto "Ao Luar", por exemplo, segue ele estrita
mente as normas clássicas, menos com respeito ao suarabácti
do verso a.o onde temos de ler subijugando, com uma vogal
de apoio para perfazer as 12 silabas do alexandrino; o luar,
aqui, assume tons de mistério, sendo digna de nota a sineste
sia no verso inicial, com mistura de sensações visuais e audi
tivas. Quanto ao último poema, "O Sono do Coração", não
foi incluido nos Dolentes: encontramo-lo n' O Pão n o 30, de
.
'
220
15 de dezembro de 1895, trazendo data de 1893; fizemos ques
tão de reproduzi-lo (como já o fizéramos em nosso trabalho
�'Lívio Barreto e o Simbolismo no Ceará", introdução à 2.a
edição do livro do poeta) pela estranha beleza e notável musi
calidade de seus versos, em que se associam hendecassílabos
iâmbico anapésticos e octossilabos; não somente de seu ritmo,
como também da repetição da apóstrofe "Oh, lua de Junho'',
em cada terceiro verso, provém grande parte de sua magia
encantatória e de sua atmosfera de puro Simbolismo; ainda
aqui podemos lembrar a influência de Antônio Nobre, visto o
hendecassilabo iâmbico-anapéstico, muito usado por ele, ter
sido geralmente, no Brasil, desprezado pelos simbolistas, em
favor do trocaico. Lívio Barreto, não obstante haver-nos dei
xado apenas um livro, avulta como uma das expressões maio
res da poesia cearense no século passado ou· mesmo em todos
os tempos: observe-se que, apesar das irregularidades pró
prias da escola, o poeta não professava um pessimismo deca
dentista, antes preferindo expandir-se numa leve tristeza de
acentos românticos .
( OUTROS NOMES
VáRIAS TEND�NCIAS •
221
15 de dezembro de 1895, trazendo data de 1893; fizemos ques
tão de reproduzi-lo (como já o fizéramos em nosso trabalho
�'Lívio Barreto e o Simbolismo no Ceará", introdução à 2.a
edição do livro do poeta) pela estranha beleza e notável musi
calidade de seus versos, em que se associam hendecassílabos
iâmbico anapésticos e octossilabos; não somente de seu ritmo,
como também da repetição da apóstrofe "Oh, lua de Junho'',
em cada terceiro verso, provém grande parte de sua magia
encantatória e de sua atmosfera de puro Simbolismo; ainda
aqui podemos lembrar a influência de Antônio Nobre, visto o
hendecassilabo iâmbico- anapéstico, muito usado por ele, ter
sido geralmente, no Brasil, desprezado pelos simbolistas, em
favor do trocaico. Lívio Barreto, não obstante haver- nos dei
xado apenas um livro, avulta como uma das expressões maio
res da poesia cearense no século passado ou· mesmo em todos
os tempos: observe-se que, apesar das irregularidades pró
prias da escola, o poeta não professava um pessimismo deca
dentista, antes preferindo expandir-se numa leve tristeza de
acentos românticos.
( OUTROS NOMES
VáRIAS TEND�NCIAS •
221
ticam uma espécie de Romantismo de forma algo esmerada
para os cânones da escola, mas ainda bem distante do que de
veria ser a perfeição formal pamasiana. Hâ ainda os que
simplesmente repetem o puro Romantismo, retardatariamen
te, embora com notas pessoais. Nem se esqueçam aqueles que
não desdenharam a influência do Simbolismo, para não fa
lar dos de mais difícil classificação. O caso mais desconcer
tante, porém, é o de José Albano, com sua dicção puramente
clássica em pleno século vinte . . .
TEMfSTOCLES MACHADO
BORRASCA
222
Aterradora, ind6mita, selvagem,
Tudo arrasta na hórrida passagem
A potência ciclópica dos ventos .
I
•
II
223
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Pela triste avenida silenCiosa
Cantavam tristemente os passarinhos
Aquela endecha tr8mula e queixosa
Que tu, leviana, confiaste aos ninhos .
.
224
soneto ''Borrasca'', aproxima-se um pouco da arte de Alberto
de Oliveira.,· mas muito ·lhe falta ainda para chegar ao puro
lavor pamasiano no sentido francês: começa com acentos
descritivos, que dominam os quartetos e o primeiro terceto;
no final, porém, o descritivismo cede lugar ao sentimento do
poeta, até · então ausente do quadro apresentado. Os dois
sonetos que.compõem a "Ironia das Flores", por sua vez, tra
duzem clima romântico que podemos ver a partir do próprio
tema ou de alguns aspectos formais, como, no v. 3.o do so
neto II, a colocaçã o do clítico ainda assim, lembra de certa
maneira um autor geralmente incluído nas antolog:.as par
nasianas, Artur ·Azevedo, notadamente. pelo soneto ''As Es
tátuas". "Consolatio Miseris", um dos menos desconhecidos
poemas de Temístocles Machado, desafia-nos também a uma
classificação rígida por oscilar entre várias tendências de seu
tempo, com predomínio de notas realistas. Nos Sonetos Cea
renses, de Hugo Vítor (1938 ) ; há uma outra versão desse so
neto, com seis versos modificados.
RODRIGUES DE CARVALHO
OS SEIOS
225
•
•
I
Eles, qual fruto tentador das lendas,
São dois abismos santamente fundos,
Dois assassinos no grilhão das rendas.
DOIS CEGOS
VIúVA
226
Bela, no entanto ... pálida, vestida
• •
•
• •
De· um tecido crivado de martfrios
•
.
.
.
� feito de filigran� •
.
·
Qu� a . rtoite. no espaço v�ste . ..
.
. .. . .
•
.
•
. .
. · •
227
O rigues de Carvalho.
(IOd Prismas.· Fortaleza, Tip. Univer
sal, 1896, pp. 3, 9, 44;. Dolor Barreira. História da Litera
tura Cearense. Fortaleza, Ed. Instituto do Ceará, t. 2, 1951,
pp. 49-50.)
•
ALVARO MARTINS
228
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.
•'.
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ao tempo da criação da Padaria Espiritual era já ele larga-
mente conhecido: no Libertador, sob o pseudônimo Alva
rins, assinava ele as "Curvas e Retas", tendo ante riormente
militado no jornalismo carioca., ao lado de figuras como José
do Patrocínio. Só começaria a publicar livros ao tempo do
Centro Lite rário: Os Pescadores da Taíba (1895), Capela Mi-
lagrosa (1898), Agonia Suprema (1901), Casa Mal-Assom
.
OS PESCADORES DA TAlBA
(fragmento)
De melancólicas mágoas.
,.
,_-
•
Há desalentos fatais
No choro infinito ê vago,
Daquele inddmito lago
•
'
229
Tece amargas ironias
Com brancos fios de espuma.
• • •
NO ALTO · DA SERRA
• •
.
CASA MAL-ASSOMBRADA •
:
(fragmento)
•
De mandioca atulhados · � · , ·.
• t•
•
•
.
•
•
230
I
.
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No chão, .
Parlam, jogando os capotes,
Para alegrar o serão.
231
�---
Malicioso, o prenseiro
Olha-a, sorrindo, de esguelha.
E a moça, muito vermelha,
Que surpreende-lhe o olhar,
Se amua, solta um muxoxo,
•
A ARANHA
•
232
•
•
CEARA
233
I
I
234
•
O último poema transcrito é de 1905, e foi publicado ainda
no mesmo periódico, sob o títul o de "Praias", tendo sofrido
levíssimas correções. Vê-se por ele que o poeta voltou exata
nlente ao poetar dos primeiros versos reproduzidos aqui; isso,
•
para não falarmos das iní1meras trovas que espalhou pela im-
prensa nos últimos anos de vida, e às quais já nos referimos
de passagem. O principal de sua obra poética situa-se nessa
faixa do Romantismo agreste com que escreveu os Pescadores
da Taíba: pura poesia brasileira, com o sabor das coisas do
Ceará. Não haveríamos portanto de incluí-lo entre os parna
sianos unicamente pelo soneto A Aranha'', este, porém, re
''
BONFIM SOBRINHO
PECADORA
235
•
Lembro-me, sim, que, teu caixão fechando,
Vi-te as mãos postas, como se, rezando,
Tivesses fenecido arrependida . . .
VISÃO DE ENFERMO
I
•
Nisto, acordei, de súbito chorando �· ·
E, viva, ó ceus, estavas, carinhosa,
Junto ao meu leito pálida, velando . . .
NOIVADO FúNEBRE
236
Há de embalar o nosso amor gelado
O coveiro a cantar magoada trova.
237
-· .......,_
- - -
- -
-
FERNANDO WEYNE
LOUCURAS
238
..
239
fronteiras, apareceu em 1925 gravada em disco pelo cantor
paulista Roque Ricciardi (Paraguassu), com vários versos
desfigurados e como de autoria dele, Paraguassu. O musicó
logo Almirante e depois Mário Linhares e Edigar de Alencar
protestaram contra o fato, que não envolvia plágio, mas sim,.,
plesmente furto . 46 Com a intervenção da família do poeta,,
foi afinal reconhecida a autoria verdadeira da modinha. En
tretanto, depois disso houve regravação, com os nomes dos
legítimos autores, mas ainda com os versos adulterados. E,
segundo Edigar de Alencar, em 1962, foi editado um álbum
de " 2 13 Sucessos Musicais Escolhidos", onde figura "a in
ditosa modinha cearense com o nome de Paraguassu como
seu autor" . 47 Trata-se de poema indiscutivelmente român
tico, sem um toque sequer de influência de outra corrente
estética; não podemos porém incluir Fernando Weyne entre
os românticos, por uma questão de cronologia : ao tempo em
que foram compostos os versos de "Loucuras", já o Realismo
dominava nossas letras, na prosa e na poesia, para não aludir
mos ao Simbolismo do início dos anos 9 0. Fernando Weyne�
juntamente com Bonfim Sobrinho e outros, deve figurar entre
os neo-românticos que versaram paralelamente às várias ten
dências de que ora tratamos.
•
QUINTINO CUNHA
24 0
•
•
•
COMUNHAO DA SERRA
:241
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242
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•
ENTRE
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NUVENS
NUBLADO
243
Quis ver a terra, mas a tarde veio,
Depois a noite, que o ocultou no meio
Dos seus escuros e tristonhos falhos.
SPES UNICA!
244 '
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Deus há de ser servido, minha amada,
Que tu mo"as primeiro/ . . •
245
-
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-
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..
fina .força e no -'Verso Falo por mim, tirando por Maria . Em
"Nublado", surge, como surgiram no '''Encontro das Aguas",
a locução sou direito, com o sentido de sou igual . Na maioria
dos poemas predominam a comparação; e como estes, muitos
outros poemas do Pelo Solimões . Por último, como não era
lícito desprezar a face mais conhecida de Quintino, transcre-
.
INVICTUS
2 46
Mas sempre forte e sempre poderoso,
Tu vais a todos eles suplantando,
E com o teu suave jugo, doce e brando,
Curva-se o mundo humilde e respeitoso.
•
CONTRASTE
NO ENTERRO DE UM ANJINHO
24'l
-
-
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...
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.
."
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•
EVA
•
..
248
CAMPESINA
O PALHAÇO
249
No entanto, a dor cruel mais se lhe aguça,
E, enquanto o lábio, trémulo, gargalha,
Dentro do peito o coração soluça.
•
CONFIDI:NCIA
A MORTE DO JANGADEIRO
250
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'
251
.
• •
•
...
EURICO FACó
252
•
vamente na imprensa, chegando a manter uma secção no jor
nal A República, intitulada " Zig-Zag" . Publicou: Poemetos
( 1 900) e Pingos d' Agua (1918), deixando inéditos vários ou
tro livros de poesia, entre os quais os Pingos de chumbo, versos
satiricos. Era filho do poeta romântico José Facó .
ENGANOS
A TUA VOZ
RÉSTIAS DE SOL
II
'
I
253
-
!tt
_-
III
IV
MIRAGENS
AMOR ETERNO
II
254
.
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III
IV
255
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•
SOARES BULCAO
PAR2MIAS
256
Mais vale o ·pouco seguro:. •
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VIUVEZ
•
- Só no céu me verás!"
" tu disseste na ·e xtrema
Hora em que de lá vinha o convite fatal . ·
Aureolava-te a fronte · um fúlgido .diadem.a · ·
25'1
•
•
Foi teu último adeus . Nessa angústia suprema ,
•
Vi a morte invadir o · teu corpo lirial,
E fiquei, mudo e só, no terrível dilema
De seguir-te ou fica·r : � fiquei, por meu mal .
•
•
Vai, minha filha, vai . Contigo seguirão
Os meus sonhoJ de moço . E todo o meu destino,
Que também era o teu, findou . No coração,
DOLENTES
.
(Fragmentos)
•
•
.
258
- - _-;,--
Coração que acaso amou
Sinceramente, uma vez,
•
• • •
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •
•
• • • • •
259
--
--
-�� •
cearense da penúltima trova, onde vexar- se . tem o sentido não
de envergonhar-se, passar um veJmme, mas . de . , apressar-se
I I ·
apenas oito, que julgamos dar �em uma idéia de. sua atmos-
fera elegíaca : Leonardo Mota, em seu Sertão Alegre ( 1928) ,
fala de uma variante da estrofe 3. a, que teria vi�t9 no livro
Cancioneiro de Trovas do B_rasil . Central, de Americano do
Brasil, publicado em 1925 ; e . conclui que a qu�dra deve ter-se
popularizado . Considera-a ele·· uma trova, e é, com efeito, como
todas as demais do poema, podendo ser tomada independen
temente, como poema autônomo . A propósito, relata ainda o
•
JOSÉ ALBANO
260
C eará, para fazer os preparatórios no Lice�, 9�d� seria pro ·
.
' "
•
•
ESPARSA I
.
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E as alegrias saindo .. •
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CANTIGAS •
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XIV
262
ODE A LINGUA PORTUGUESA
•
•
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E derrama e prepara
A música mais · tara e mais divina .
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E eu nãO te ·reconh�eço·,
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284
•
COMÉDIA ANGÉLICA
•
(fragmento)
(
RAFAEL
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Coro
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •
. '
' '
GABRIEL .
I
·
Anjos, ouvi a narração da iu{a
Contra a maldade e astúcia baixa e bruta
E o sublime triunfo nunca visto
PO/fa g�ória e louvqr · de JESUS. Cristo .
·
265
•
Depois de derrotado o arcanjo adverso,
Das armas e das tubas o ruido,
Saudando o vencedor nunca vencido,
E em toda parte celebrado seja
Miguel, invulnerável na peleja .
Já no terreno próprio e bem dispos to
Estão os combatentes rosto a rosto,
Quando ao som da trombeta que se espera,
Lúcifer salta qual veloz pantera
E, andando em roda, com a fina ponta
A Miguel ameaça que traz pronta
A espada e juntamente pronto o escudo
E sem mover-se em pé, severo e mudo,
Somente os olhos do adversári o fita,
Buscando ocasião que lhe permita
Dar um seguro passo mais avante,
Na mão direita o gládio rutilante .
Em vão Lúcifer tenta desarmá-lo .
Miguel do medo não conhece o abalo,
Mas antes em coragem vai crescendo, �
•
Coro
SONETOS
•
II
'
267
-
.
-
�
Não quero boa sorte nem sonhá-la,
Pois logo passa, apenas se revela,
Como uma dor que ·outra nenhuma iguala .
IV
. t
Mata-me, puro Amor, mas docemente,
Para que eu sinta as dores que sentiste
Naquele dia tenebroso e triste
De suplício impl(lcável e inclemente .
'
'
268'
•
Já claramente agora entendo e vejo
Que · não há quem de amor me dissuada .
•
TRIUNFO
•
'·
.
'
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'"7
�
••
i
I
'
2'10
ó meu sonho d'amor tu me acompanha
Por esta vida, às vezes tão escura,
Po·r esta vida, às vezes tão estranha .
•
.
• • • • • •
- - · . . . .. . .. . . . . . . . . ... . . .
.
27 1
I
•
•
.
'
272'
capa a qualquer classificação dentro dos quadros da poesia
brasileira de seu tempo . Nem O· misticismo de seus versos tem
relação com o Simbolismo, nem o acento clássico nos auto
riza a ver nele alguma coisa de' parnasiano ; ele versejava à
maneira clássica no declínio do neopamasianismo e do
Simbolismo . Para Antônio Sales, sua evolução artística teve
três fases : "a primeira de lirismo passional, a segunda de eru
dição clássica e a terceira de êxtase místico . " 52 A estas,
acrescenta Braga Montenegro uma quarta, "a de exaltação
pagã, na qual realizou o Triunfo, talve.z sua última composi
ção" . 53 Da primeira, constam certamente alguns sonetos
que não incluiu nas Rlimas ou na Antologia Poética, sem fa
larmos nos versos do tempo do Centro Literário . Da segunda,
de erudição clássica, reproduzimos a "Esparsa I" e algumas
"Cantigas" , bem como a Ode à Língua Portuguesa: naquelas ,
além da linguagem clássica, note-se a tristeza, que não é co
mum, de origem amorosa ou livresca, mas existencial, filosó
fica; é uma das constantes de sua poesia, não só na primeira
fase, mas em todas . Na Ode, est.adeia-se seu amor à língua pá
tria, mas, advil"ta-se, "naquela singeleza primitiva", que inten�
ta reviver n·o verso. Veja-se a diérese em saudade, à maneira ca
moniana, com 4 sílabas. Da fase de êxtase místico é Comédia
•
273
•
com a realidade, vJ sto Albano haver sabido transfigurar a in
fluência do Mestre . Mas, passando pelo " Soneto II'', belís
simo pela forma e pela profundidade filosófica do tema, de
paramos, no "Soneto IV", com o ápice talvez de seu êxtase
místico : o autor não somente revela acendrado amor ao Cristo,
mas procura identificar-se com Ele, a ponto de querer sof�"er
todas as agruras do Calvário . No "Soneto X", é exaltada a
vida eterna : se é tão doce o amor terreno, o que não ser á
a eternidade do amor de Deus? José Albano, com seus sonetos
místicos, não deixa de no·s lembrar alguns versos de Gre
gório de Matos, em seus quatorze dirigidos a Jesus. O Triunfo,
que vai constituir a quarta fase aventada por Braga Mon
tenegro, segue rigorosamente o esquema da terça rima, com
pondo-se de uma série de tercetos, cujos versos 1 .0 e 3.0 rimam
entre si e com o 2.0 do terceto anterior ; a derradeira es
trofe é um terceto a que se acrescentou mais um verso (que
rima com o 2.o) , formando assim um quarteto. Povoado de
11Qtas arcádicas, nesse poema desfila todo um enxame de fi
guras mitológicas (exaltação pagã) : como que o poeta se
sente isolado dos homens, que o não compreendem, e conso
la-se com as supostas palavras que lhe dirige Vênus, nas es
trofes d errad.eiras. José Albano, de cuj a poesia damos apenas
uma amostra, é sem dúvida um dos maiores poetas não só
do Ceará, mas. do Brasil .
· RAIMUNDO VARÃO
I
Residiu em Fortaleza, de 1 9 1 1 a 1915, aproximadamente .
Trabalhou na Fotografia Olsen, bem como no Jornal do Ceará.
Teria nascido no Piauí, segundo alguém informou a Dolor
Barreira ; entretanto, Otacílio de Azevedo, que com ele traba
lhou na citada fotografia, afirma haver o poeta nascido em
São Paulo . Escreveu porém no Ceará, chegando a marcar
época com a sua poesia de tons fortes . Além de versos es
parsos pelos jornais e revistas, deixou dois poeme tos, A Morte
da Aguia (1914) e Glatigny ( 1915) .
27 4
A CANÇÃO DOS ROMANTICOS
275
- ---- -- -
.....
. •
•
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-
··
'
UM SONETO D' AMOR
•
•
AL UCINADO
À VIOLANTE
276
•
FORTALEZA
277
derradeiras já se impregnam de notas simbolistas, notada
mente a última, onde o prestígio do novilúni o vai iluminar
uma boda na cóva (o que nos remete para o Decadentismo
que afinal revive o mtra-romantismo) ; nos sonetos seguintes,
patenteia-se, logo nos dois primeiros, a força de sua poesia
satânica : as antíteses dominam o início de " Um Soneto d'
Amor", em que, numa apóstrofe, vê o poeta sua amada si
multaneamente apresentando uma face angelical e outra de
moníaca : é um amor quase anormal, em que há desesperos
e carnes dilaceradas. Em "Alucinado", é evidente o Decaden
tismo, de extração baudelairiana, desde a alusão à pantera
"que ladra contra Deus", até ao inesperado final, deliberada
mente profano . Para o final deixamos um dos mais belos so
netos escritos em homenagem a Fortaleza : estampado pela
primeira vez, ao que saibamos, n' O Ceará, de Raimundo Girão
e Martins Filho (2.a edição, 1945) , teria sido composto quando
o poeta, ainda nas primeiras décadas do século, deixou o
Ceará, passando a residir no Rio de Janeiro ; note-se con1o
Raimundo Varão antropomorfiza a cidade onde produziu tal
vez o melhor de sua obra poética. Figura enigmática, da
qual, como vimos, não se sabe ao certo a origen1 nem o des
tino, era o poeta até mesmo fisicamente um homem estranho
(alto, pálido, com seis dedos em cada mão) , profundamente
original, consoante as reminiscências de Otacílio de Azevedo
no artigo "Raimund·o Varão", estampado na Revista da Aca -
•
Outros Nornes
278
18 97 ) , todos já vistos no Centro Literário bem como SABINO
'
279
É uma poesia que tem algo de romântico, mas que já se
distancia visivelmente da dicção da escola; entretanto, não
pode ser chamada de pamasiana, nem mesmo realista, embora
aspire a isso pelo tema . Aliás, Rodrigues de Carvalho, en1
artigo publicado em 1902, observa que o poeta conhece sua
arte, e que é dotado de inspiração e originalidade ; e conclui :
"Bomílcar é um romântico entre os decadistas . " Isso demons
tra precisamente a dificuldade que experimenta qualquer crí
t:co, ao tentar classificar a obra de alguns escritores desse
tempo .
280
•
281
Alma! sobe, desvenda, alcança outras planuras,
Quebra o grtlhão fatál, quebra a maldita algema
Que te prende no chão e voa nas alturas
Embora o sol desmaie, embora a nuvem trema .
·
Enquanto do navio a proa fina
,
282
•
283
A o sol pompeias, farfalhando os ramosj
Arvore-mãe, de pássaros cercada,
A sombra amiga às vezes a buscamos
Como um conforto em meio da jornada .
284
•
Oh! mulher di,vinal, meiga e formosa
Que me fazes lembrar a nívea rosa
Que as pétalas desata à luz do dia;
za e , é b r ia de a m or, a sc en d e
E sonha e go
a e fe li z , n a e m b ri a g a d o ra
Enlevad
m orn a , o n d e a n te , e n e rv a d o r a ,
Essência
co r p o já s p eo s e d e s pr en d e !
Que do teu •
285
--
�.,
--
.
i
286
•
PARNASIANISMO
'
vezes no Brasil houve Parnasianismo no puro sentido europeu
do termo. No Ceará, como já foi dito, houve prenúncios dessa
corrente no século XIX, mas quando o Simbolismo já era defi
nitivo, pelo menos nos dois poetas que estudamos, pertencentes
ambos à Padaria Espiritual. Depois das tentativas de Antônio
' Sales, e de poucos mais, tivemos, em 1903, o surgimento da
quele soneto "A Aranha", de Álvaro Martins, manifestação
verdadeiramente inaugural da arte marmórea entre nós e que,
por motivos já explicados, não figura aqui, mas noutro ca
pítulo já estudado. Virão depois autores que mais se aproxi
marão do Parnasianismo, como o mesmo Antônio Sales, já
neste século, não faltando mesmo notas do puro Parnasianis
mo francês, com os sonetos de Alf . Castro. Outros nomes,
como Cru.z Filho·, Mário Linhares, Júlio Maciel, Carlos Gon
dim, Otacílio de Azevedo e outros, enquadram-se apenas even
tualmente na corrente original; escolhemos quase sempre o
que de mais próximo à escola aprese�ntavam os poetas, pro
curando igualmente estudar as compos�ções na forma com
'
que apareceram ao tempo de pleno domínio da corrente .
ANTóNIO SALES
287
fale:cido em 1940 em Fortaleza, já o encontramos entre os
romancistas de nosso Realismo, com o romance regionalista
Aves de A1·1-ibação (1914) , bem como na Padaria Espiritual,
em 1892, da qual foi o idealizador e uma das figuras de maior
relevo, para não aludirmos à sua estréia ao tempo do Cluhe
Literário, na década de 80 . Também o vimos como histor�a
dor ·de nossa Literatura, com a História da Literatura Cea
rense (1939) . Agora será estudado como poeta, gênero em
que publicou: Versos Diversos (1890) , Trovas do Norte (1895)
Poesias (1902) , esta reunindo versos dos livros anteriores,
modificados, além de poemas novos, Minha Terra (1919) e
Poesia (1902) , esta reunindo versos dos livros anteriores,
na I Grande Guerra. Postumamente foram publicados Aguas
Passadas e Fábulas BraSileiras ( 1 944) , bem como sua Obra
Poética (1968) , adiante referida .
DE TARDE
288
PESCA DA PÉROLA
•
TERRA DE SOL
289
;..
.
. .:!..••
" •
•
NEREIDA
I
Pa1·ece que, ao marchar., nada no ambiente . . .
E sob a gaza diáfana, que a vela,
Tem rubores de concha a face dela,
E o seu colo é de espuma consistente.
OS BRACOS DE VÊNUS
.>
·r
290
I
'
A TAÇA DE MENELAU
I
291
•
292
Para ?tela jazer as libações a Apolo.
Recus jurou cumprir essa vontade régia,
E ao templo foi pedir a proteção egrégia
Da deusa que preside às artes. Quis Atena
Ser propícia e mostrou -lhe em seus sonhos Helena.
No outro dia, a vagar através do arvoredo
Da vivenda real, à sombra de um vinhedo
Encontra a dormitar de Menelau a esposa.
Recus, de puro assombro, um passo mais não ousa.
Junto dela se vê u,ma argêntea corbelha,
Contendo trocos de ouro e de seda vermelha.
Ela viera bordar. Que o diga o doce pletro
De Teócrito, a entoar em peregrino metro
O epitalâmio em honra às memoráveis bodas
De Helena e Menelau: digam-no as musas todas
Do arquipélago egino e do Peloponeso
Como essas belas mãos, tão frágeis para o peso
De um cetro, eram sutis em recobrir a trama
Do ostra e em marchetar de pérolas a lhama,
Quando não lhe aprazia a pentacórdia lira.
He lena adormecera; o manto lhe caíra
Aos pés; no alto do busto entreabrira-se a túnica,
E, através do rubor da mole seda púnica,
Claro, t1ímido, a arfar, com um ponto róseo ao meio,
Recus, trêmulo, viu o seu divino seio!
Viu turvou-se-lhe o olhar, e fugiu apressado . . .
A deusa ouvira a prece: o artista havia achado
O modelo feliz da prometida taça.
Consente Menelau que de Atena se faça
A graciosa vontade: Helena anui, corando.
•
293
�-
---
.,
•·'· •
Vem a Apolo render a piedosa homenagem
De seu justo fervor, pois o deus dadivoso
O colmara de dons cada qual mais precioso;
Do próprio Febo tinha a serena beleza,
A cabeleira /tlava, a mágica destreza
Em dedilhar a lira e disparar as setas.
Vênus lhe consagrara as ternuras secreta s
Da vaidade afagada em melindroso assomo,
Quando as rivais venceu, ganhando-lhes o pomo
Da beleza . Entretanto, outra fora a sentença
Caso Helena também pleiteasse a recompen sa . . .
Certo, naquele instante assim pensava Páris,
Vendo dessa mulher as graças singulares . . .
Bela como uma deusa, era mortal no entanto!
Um pensamento mau brotou naquele encanto . . .
E nisto o anfitrião encheu de vinho a taça
De Recus e ofertou-lha. É assim que se traça
A sentença fatal no .livro do destino!
Páris bebeu . . . bebeu . . . um êxtase divino,
Uma esquisita ebriez transtornou-lhe os sentidos . . �
294
..
295
--
- ----- .......
'
·
· A partir de Minha Terra (19 19) vai-se acentuando o Par
.
296
•
ALF. CASTRO
A MORTE DE PÃ
A ESTATUA DE SILENO
297
'
. -- -
-
•
•
Sileno, o velho deus, guardara a compostura
••
POMO DE ASFALTITE
298
-----
.•
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-.
,.
,
•
EM VILEGIATURA
CENA MARINHA
299
- -
-:-�
•,.
-·
.
E, na porfia, os dois, em disparada, às soltas,
Voam . Na flor do mar há fulgores de prata
E um continuo chofrar de águas e águas revoltas .
AS QUIMERAS
300
• I
•
•
e a
301
é ainda mais subjetivo, pois se trata da humanidade, mas do
próprio poeta, a remoer seus pensamentos e sentimentos, com
referência clara ao amor: note-se a nota regional na presen
ça das jangadas e destaque-se o trímetro (v . 7.0) . "Cena Ma
rinha", datado de 1910, retoma os temas mitológicos, mas de
certa forma transfigurando a supra-realidade mítica: uma
Sereia (geralmente tida como mulher-peixe, mas que nos au
tores antigos era uma mulher com corpo de pássaro, como as
'
302
•
CRUZ FILHO
303
•
SUGESTAO DE BEETHOVEN
•
A ILUSAO DO .SAPO
304
•
O PAVAO
305
Pára à borda do lago, onde estátuas douradas
Ao sol, entre frontões e colunas delgadas,
Olham sua nudez n' água que lhes sorri . . .
O JAGUAR
306
•
No en ta nt o, d o ja gu ar vo lv e tudo à m em ór ia :
- Os di as qu e lá vã o, so b um cé u to do an il,
Trechos solt os , ta lv ez , da su a po br e hi st ór ia , •
te rnu ra s d e co vi l . . .
'
307
E, à confusa expansão da secreta miragem,
Que ante ele recompõe o passado florido,
De novo julga ouvir, no queixume da aragem,
Da perdida Leonor o erótico vagido .
308
Reproduzimos os poemas de Cruz Filho tais como estã
o
n o livro de estréia, apesar de o autor os haver modificad é
o'
'
�ue uma edição atual não daria idéia da corrente em seu tem
po
de fastígio. Apenas do último reproduzimos a lição mais recen-
te , por se tratar de poema não muito antigo, e de ter sido pouco
alterado. Ao mesmo tempo em que Alf. Castro iniciava o Par
nasianismo cearense, Cruz Filho assinava sonetos no Album
Imperial, de S. Paulo, como "O Sonho de Teseu", de 1907,
cujos tercetos dizem: Da Grécia os esquadrões vão invadindo
a Elê1tsis . . . I Ressoa um trovejar de homéricas refregas; 1
Depois, um turbilhão de ensanguentados Deuses 1 Transpõe,
aprisionado, o extenso campo limpo . . . 1 E sob o matagal das
altas lanças gregas 1 Vem ressoando o tropel dos Imortais do
Olimpo . . . Se aos 20 e poucos anos ostentava tal segurança
(o que lhe propiciava figurar em revistas do Sul), iria com
o tempo ainda mais aprimorar-se, ao passo que somava al
gumas notas de Simbolismo ao seu estilo parnasiano. "Su
gestão de Beethoven" é uma página descritiva em que se re
vela o eruditismo da escola de Heredia, fazendo brotarem, em
•
solenes versos vazados no metro alexandrino, ao evocar da
arte do compositor germânico, figuras do teatro de Shakes
peare; mas o mistério de que se reveste o poema, com visões,
luares e mortalhas, avizinha-se sem dúvida da fluidez simbo
lista, ainda presentes nas reticências. Já "A Ilusão do Sapo",
tem mais visível intenção de flash, sem participação emocio
nal do autor: pode alguém ver nesse sapo e nessa lua, res
pectivamente, os sonhadores impenitentes e os ideais inatin-
gíveis; de nossa parte, preferimos ver simplesmente uma cena
captada de maneira realista, se bem que transfundida em
verdadeira poesia. No verso final, temos leve reminiscência
daquele já mencionado soneto de Heredia, "Le Récif de Corail",
através da enumeração: Courir un jrisson d'or, de nacre et
l d'émeraude. A última edição do soneto, deixada .pelo poeta
pouc o an te s de fa lec er , re pr od uz im o-la em pr im eira m ão em
"Cru z Fi lh o e Su a Po es ia" (R ev ist a da Ac ad em ia Ce ar en se de
Letras '
ano LX XVI , n. 36 , 19 75 , pp . ·83 -93
· .). "A Ca nç ão da
. -
309
chamar de Parnasianismo brasileiro (em oposição ao pura
mente francês), de Bilac e seus confrades : profundamente
sentido, com laivos de Romantismo, esse soneto guarda con
tudo, na perfeição formal, como na escolha d·a s rimas e do vo
cabulário, certa solenidade clássica; atualmente, são assim
os tercetos, após várias alterações : Consumi, nesta estólida
algazarra, 1 Chamando embalde uma perpétua ausente, 1 A
minha vida ociosa de cigarra! 1 Mas quanto ingênuos são o
canto e o anseio 1 Da cigarra que invoca inutilmente 1 A doce
companheira que não veio! "O Pavão" retoma as notas par
nasianas, para cantar uma c.ena de luxo, num requinte digno
de Francisca Júlia ; ne1m lhe falta a presença das estátuas,
que lhe conferem o tonus escultural. Afinal, "O Jaguar", que
transcrevemos de Toda a Musa ( 1965), compõe-se de vinte es
trofes cinzeladas em alexandrinos clássicos, com rimas em
ABAB (cruzadas ou alternadas), mas com o cuidado de alte
nar, nos versos finais de cad·a estância, rima agudas e graves,
num apuro próprio do artesão exigente. N.esse poema, em
que a lua desempenha papel destacado, o felídeo assume pro
porções humana� : aparecendo, a partir da sexta estrofe, sendo
as anteriores a preparação do ambiente onde ele vai atuar,
confere-lhe o poeta raciocínio, com o qual o animal interroga
a lua, que nada lhe diz. Só, desprezado dos deuses (se é qu.e
as feras os têm), rememora os momentos felizes e chega
mesmo a ouvir o rugido da companheira ausent.e, morta pelo
homem, " covarde e mau"; por fim, mirando na água, ao invés
de enfurecer-se, como fizera o pavão, do soneto transcrito, ele
vê, na sua imag.em, a figura da bem-amada, e põe-se a uivar
tristemente, sob o fascínio do luar. Esse poema de Cruz Filbo
é, a nosso ver, um dos mais belos e felizes instantes da poesia
cearense. É interessante comparar o poema "O Jaguar" com
o conto, também de Cruz Filho, " O Sertão, o Luar e a Fera",
constante de Histórias de Trancoso ( 197 1), pp . 98-102 .
JúLIO MACIEL
•
310
de 1967. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do
Rio de Janeiro, foi Promotor e Juiz no interior cearense, por
vários anos. Começou a versejar na primeira década do sé
culo, colaborando em jornais e revistas . Sua feição definitiva
é a de poeta parnasiano, com notas simbolistas, mas compôs
versos à moda futurista, sob o pseudônimo de Lúcio Várzea.
Publicou Terra Mártir (1918) , com uma carta-prefácio de
Emílio de Menezes (2.a edição de 1937) ; Poemas da Solidão
(1943) . São ainda de sua autoria Os Versos de Ouro de Pitá
goras (1925, com 2.a ed . em 1956) e o ABC do Padre Cícero
( 1944) . Era membro da Academia Cearense de Letras.
JUAZEIRO
31'1
Quanta vez trom de inúbia, entrechocar de clava
Não vibrou pelo azul que sobre mim se arqueia!
Praia! o tropel da tribo em correria brava
Quanta vez não sentiste a sacudir-te a areia!
•
AETERNUM VALE
OS GROUS
312
• Á
VILANCETE
VOLTAS
313
--
--
-- .
- ·- ..
. �
VERDE
A VOZ DO CORA·CÃO
�
•
...>
I
314 i.
•
)
I
315
-se a marcha dos alexandrinos pelas aliterações para efeito
onomatopaico (grupos consonantais em tr, tr, br, br, pr, tr,
tr, br, pela ordem de aparição) ; nos tercetos, volta a calma
anterior, como o lirismo do romance de Iracema. No verso
12, omissão do que (Parece-me inda escuto . . . ) . Emílio de
Menezes fez publicar, na revista Fon-Fon, do Rio de Janeiro,
um soneto de Júlio Maciel; trata-se de "Aeternum Vale", que
foi estampado com destaque, em página inteira, acompanhado
de um bilhete elogioso do consagrado parnasiano, que afirma
va, a respeito do jovem poeta cearense : "Júlio Maciel, dos
poetas novos, é, sem contestação, um dos melhores pela emo
ção, pelo contorno do verso e pela justa, sóbria e precisa feição
de sua vernaculidade." 58 Apadrinhado pelo famoso poeta, o
soneto é, não obstante sua emoção, um robusto exemplar da
escola, pela solenidade clássica e pela perfeição dos versos
trabalhados. "Os Grous", antes de incluído no livro de 1943 ,
sofreu inúmeras alterações : a lição que reproduzimos é d' A
Poesia Cearense no Centenário (1922) , organizada por Sales
Campos. Para os Poemas da Solidão, foram modificados os
seguintes versos, assim : I
316
•
'
MÁRIO LINHARES
'
317
Poetas Esquecidos ( 1938) , entre outros ; é ainda autor de uma
História Literária do Ceará ( 1 948) .
ANTtFONA
[escopro,
Talha, esculpe, lapida o busto da Poesia
E anima-o triunfalmente ao teu divino sopro .
A SECA
(Paisagem cearense )
318
•
FESTIM ROMANO
CULTO SELVAGEM
319
•
A alma das cousas vibra: o lírio fala ao turvo
Riacho e a luz do astro fala à voz do rouxinol . . .
'
,,
320
I
•
A JANGADA
(Paisagem cearense)
321
•
A JANGADA
(Paisagem cearense)
321
e observância da boa técnica e da boa linguagem'' . sg Dos
Florões, cujo título já é típico da escola, são os dois primeiros
poemas reproduzidos : a "Antífona" é como que uma profis
são de fé, através da invocação· da Musa, a quem o poeta roga
lhe modele o verso com toda a arte escultural exigida pelos
mestres parnasianos ; entretanto, não deseja a completa im
passibilidade, pois prefere ver quebrada a estátua, caso lhe fal
te o sopro de emoção . Pigmalião, aqui referido, segundo a
Mitologia, era um escultor que, apaixonando-se por uma está
tua feita por ele mesmo, conseguiu que Vênus lhe insuflasse
vida, chegando a desposá-la. O soneto seguinte, "A Seca", por
ventura o melhor poema de Mário Linhares, a nosso ver, con
cilia o rigor formal à atmosfera telúrica : as frases curtas da
1 . a estrofe nos sugerem o ambiente quase irrespirável da ca
nícula sertaneja, seguindo os versos, expressivamente, a dtl
reza da cena captada . Na 2. a estrofe, há presença de alitera
ção para efeito onomatopáico. Veja-se ainda como corre o 1.o
verso do 1.0 terceto, com sua sonoridade líquida : é que, em
bora falando da ausência da água, o poeta evoca a existência
do riacho que, pelo menos, deveria estar coleando pelo seio
amplo do bosque. As vogais das rimas são todas claras, com ex
ceção da rima em o, no 1.0 terceto. Do Evangelho Pagão trans
crevemos os três poemas que se seguem : o primeiro, "Festim
Romano", pelo descritivismo puro, como pelo apuro formal e,
ainda mais pelo tema, evocando uma cena da Antiguidade, é
talvez o mais parnasiano de todos os poemas de Mário Linha
res, chegando a lembrar "A Sesta de Nero", um dos pot1cos
poemas realmente parnasianos (no sentido francês) de Olavo
Bilac. Os mais exigentes talvez condenem essa rima sa1tgüineo
I triclínio . Lembre-se, porém, que mesmo em nosso Parna
sianismo, há inúmeras rimas ainda mai s irregulares, notada
mente em Luís Delfina . "Culto Selvagem", que a princípio
parece um hino pagão, na verdade é uma exaltação de Deus,
para quem o poeta cada cez mais se voltaria em seus poemas,
católico fervoroso que na verdade era. Note-se que, à maneira
de Cruz Filho n' "O Jaguar", alternou, no final das estrofes,
·
322
•
r
titui outra de suas paisagens cearenses, reproduzimo-lo d' A
Poesia .Cearense no Centenário, de Sales Campos : vazado em
versos decassílabos, esse poema não ostenta o timbre parna
siano dos anteriores, todos em alexandrinos; antes, chega a
lembrar alguns passos da poesia simples do Padre Antônio
'
Tomás . Em todo o caso, afastam-no do Romantismo o descri
tivismo e o requinte das rimas preciosas (há mesmo uma com
posta, suste-a 1 angústia) .
CARLOS GONDIM
CANTO DO PARIA
\ 323
E, assim, obedecendo ao fadário, caminho . . .
E hei de, como um fantasma, entre os homen s errar!
- Triste e dorido Jó, sem pão e sem carinho,
•
I
Que convulso pincel de um Goya alucinado,
Este suplício atroz, mais fero que o da cruz,
Criara, ao que sucumbe às trevas sepultado.,
Ansiando a liberdade e o ascenso para a Luz?
ORFE U
324
•
BAFFLESIA ARNOLD!
325
---=-- -
- --
AS ONDAS
NOT URNO
326
•
AS CIMB úLIAS -
327
triarca j udeu submetido às mais duras provações ; Orfeu . o in
ditoso poeta que será assunto de um soneto adiante ; o Infer
no de Dante, da Divina Comédia; Tântalo, condenado a fome
e sede eternas; afinal , Prometeu, o titã condenado por Júpiter
a ter o fígado devorado por um abutre, durante 30 . 000 anos .
Apesar do aparato cultural , o poema é profundamente sen
tido, e revela a angústia do poeta ante seu infortúnio (já en
tão devia estar no cárcere) . O soneto que se segue é de re
c.orte puramente parnasiano, como aliás a maioria dos aqui
transcritos : Orfeu, segundo a Mitologia, não conseguindo ti
rar sua Eurídice do Inferno, passou o resto dos dias a lamen
tar a grande perda, o que terminou por enfurecer as rivais de
sua bela amad·a , as quais o mataram e lançaram no rio He
bro ; Orfeu encantava as próprias feras com sua lira . ''Baffle
sia Arnoldi" revela um vezo muito em voga na corrente : a
descrição versificada de uma flor ou de um fruto (Emílio de.
Menezes celebrou "A Romã" em alexandrinos) . Em decassíla
bos, nem por :fsso é menos parnasiano o soneto "As Ondas",
onde se notam discretas aliterações . Imbuído de espírito clás
sico, vê o poeta nas ondas as filhas de Nereu, que vêm para
um sabá (assembléia demoníaca) ; veja-se , n o verso 4. o , a alu
•
328
onde a e�u1neração de pedras preciosas lembra o já tão citado
poema herediano "Le Récif de Corail" e, por extensão, o ver
so de Cruz Filh� no soneto "O Sapo" . Carlos Gondim, que
figura entre os Poetas Esquecidos de Mário Linhares (Rio,
1938) , merece ser conhecido e estudado pelas novas gerações,
pela alta qualidade de sua poesia, da qual demos apenas 11ma
idéia . •
BENI CARVAI.HO
MAGDA
m o r, v ora �, op rim e;
Perscruta o �o ra ção , que o A
ls çá() que
E, a cada p1.1la lh e o p e it o
.
c om p rim e,
tos ,
•
s sensuais , em pr a n a m o r te ce .
I
'
. ' ,. os ãelfro
329•
•
Em fogo o olhar, tremendo a voz, a mente em brasas,
Desnastrado o cabelo em ondas de veludos,
Demanda o Azul, assim, nessas formosas asas . . .
•
Enqu,anto, aos céus, contrita, a suplicar, exangue,
•
O FLAMBOYANT
I
Hoje, porém, descansa o flamboyant por terra,
Sangrenta a floração, circundando-o, morrendo,
À agonia mortal, que o seu martírio encerra:
DESCENDO O JAGUARIBE
330
•
I
•
[encanta!
II
331
'
ANTONIO FURTADO
332
'. . •
.
,..
_«.-
..-...
-- -
�
MARMORE PAGAO
333
•
I
��um golpe mais, Artista! Outro mais! Um ainda!"
E ei-la, Deusa e Mulher, em mármore mostrando
I
LOIROS . . .
A COLMEIA
•
'
334
•
,J
traço dominante da poesia de Antônio Furtado, onde sobres
sai o lavor escultural trabalhado com o vocabulário clássico,
muitas vezes bizarro . Com efeito, a presença da escola j á se
estadeia nos dois primeiros sonetos transcritos : ''A Cabeça de
São João", cujo tema, entre histórico e mitológico, foi várias
vezes explorado, e "Mármore Pagão", em que se j untam arte es.
cultórica, paganismo, e alusões à Grécia antiga, lembrando o
mito de Pigmalião . "Loiros . . . ", que Dolor Barreira reproduz
noutra versão, anterior (Op . cit, 3.0 vol. , p . 3 16) , tinha assim
o verso 3. o : Quem m' os dera a beber! Quem me dera sorvê-los.
Na edição transcrita aqui fjord, vocábulo nórdico, deve ser lido
como se tivesse uma sílaba apenas, razão por que não o gra
famos segundo o vocabulário oficial, ou seja, fiorde . O soneto
ostenta matizes decadentistas, notadamente nos versos fi
nais . "A Colmeia" figura nos Sonetos Cearenses, de Hugo Ví
tor ( 1938) , sob o título de "Poema das Abelhas", com a data
de 1912, tendo assim a primeira estrofe (assinalamos os vo-
c á b u lo s q u e so fr er a m a lt er a çã o ) :
, 335
Sob. a umbela e· o frescor de amplo bosque, olvidado
Num recanto de fraga, entre . lfquens e glastos, Mor
. •
ria um tronco ancião desnudo , abandonado Briareu,.
� no ar os tortos membros vastos .· •
IRINEU FILHO
CARAVANA
•
••
336 � .
•
'
337
)
- No alto do céu o sol fuzila! . . .
'
I
Desolação funda e tranqüila .
•
O SAARA
- "Ai! por que é que assim sou? Ai! por que, Natu- •
[reza,
338 I
I
Nem a copa, sequer, de uma árvore frondosa
Rumoreja em toda esta amplidão arenosa! . . .
Nunca poder gozar o minaz desvario
Tonitruante e brutal de um caudaloso rio
A percorrer-me todo, arrastando à passagem
O que encontra em caminho a lhe estorvar a viagem!
Nunca experimentar esse gozo superno
Que aos outros campos dão as carícias do Inverno!
Não conter dentro em mim muita seiva e raiz/
(Como sou infeliz! Como sou infeliz! . . . )
E não ter muito fruto e não ter muita flor!
(Mulher, que não sois mãe, compreendo a vossa dor!)
E jamais vi a Flora, a Primavera, e a Ceres,
Não conheço essas três tão faladas mulheres! . . ..
339
•
Como aéreo vulcão que, explodindo na Esfera,
Voltasse para mim a incendida cratera! . . .
E, por mais que declame e brade enfurecido,
Nem um som repercute o som do meu gemido!
E eu ardo ao Sol e clamo ao Céu, pedindo orvalho ! . . .
•
•
- Eu terra amaldiçoada! eu verdadeiro in -
•
[ferno! -
Hei de, eterno, existir sob esse fogo eterno?!
Hei de a muitos matar?! e nunca hei de mo"er?!
Hei de sempre me arder?! Hei de sempre me arckr?! "
•
I
O MANEZINHO
340
I
•
I . F.
f 341
caliza uma cena que se passa no deserto africano ; temos nar
ração, mas não se pode dizer haja aqui enredo : apenas,
sob o sol causticante, ·vem uma caravana, aproxima-se, e
passa, voltando a paisagem à mesma calma de antes, enquanto
continua a brilhar o sol do deserto. A planície africana está
aliás presente noutras composições do poeta, como "O Saara",
de emoção algo romântica, mas de forma parnasiana, mal
grado a eloqüência junqueiriana e as maiúsculas alegoriza
doras (Deserto, Infinito, Sol, Simum, etc.) , oriundas talvez
da poesia simbolista; vazado em sonoros alexandrinos clás
sicos, inicia-se com uma descrição realista para, logo em se
• guida, como o Continente Negro nas "Vozes d'Africa", de
Castro Alves, falar o próprio Deserto, através da prosopopéia
(razão das maiúsculas mencionadas) ; no dístico final, entra
em cena o próprio poeta, a fim de consolar o Saara, com a de
solação de sua própria alma. Os dois sonetos que se seguem
são uma pequena amostra da faceta mais interessante da arte
de Irineu Filho, sua veia satírica : o primeiro, constante do
livro MariGas & Maricões, publicado com o criptônimo de Gil
berto Flores, retrata figura bastante conhecida na Fortaleza
de seu tempo, M . C . Rocha, alcunhado "Manezinho do Bispo" ,
por ser porteiro do Palácio do Arcebispado; não é de admirar
a maneira cruel com que o poeta o zurziu, uma vez que, no
n1esmo livro, satirizou impiedosamente figuras do maior mé
rito, como Rod.olfo Teófilo, o Barão de Studart, Alf. Castro
e outros. No soneto "1 . F", que não é desse livro, para des
pistar, assinando-se Dr. Rábula, retrata-se a si próprio, como
já se retratara nos Maricas & Maricões, como "O Pigmeu".
OTACfLIO DE AZEVEDO
342
•
•
BEIJO NA TREVA
O SAPO
343
•
CARRO DE BOIS . .
RESSURREIÇAO
344 '
•
•
345
•
t,m,ag,na
.
ea l qu e
.
de um a pure m id nao
O CATA-VENTO .
..
346
•
347
•
--
- ---
--
-- -
•
'
quecidos ( 1938) , lembra no final o mito de Báucis e Filémon,
o casal que teve seu amor perpetuado aléin da morte, ao serem
os dois transformados por Júpiter em duas árvores que se
entrelaçavam; é desse poema onde se encontram simulta-
neamente a nota parnasiana, através da carpintaria do verso,
e a presença romântica, através da emoção transbordante,
traduzida às vezes pelas exclamações. "O Cata-vento", que só
apareceria em livro com Réstia de Sol ( 1942) , fê-lo o autor,
a princípio, em alexandrinos; destaca-se sobretudo pela ori
ginalidade do tema : assim como Alberto de Oliveira havia
personificado uma vidraça partida no soneto "Ironia" ,
o poeta cearense dá vida e sentimento a um cata-vento, com
pondo um de seus mais felizes poemas; vazado em versos de
aassílabos, não perde com isso, porém, nada de seu caráter
pamasiano. Otacílio de Azevedo, pela importância da obra li
terária que tem produzido, conseguiu ombrear-se com os gran
des poetas de sua geração, merecendo, por isso, um estudo
de mais de 70 páginas no volume quarto da monumental
História da Literatura Cearense, de Dolor Barreira ( 1962) .
CARLYLE MARTINS •
348 •
•
AS LÁGRIMAS DO ANGICO
A NINFA
349
----
Corre a Ninfa sutil no ermo do bosque
Através da intrincada ramaria,
Embora o mato às pernas se lhe enrosque,
BOIADA
TAPERA
350
Como se a alma da terra, após continua luta'
No siltncio dormisse um prolongado sono.
'
351
aguda (ou masculina, como· querem alguns tratadistas ) nos
quartetos, terminou o soneto igualmente com vocábulo oxí
tono, segundo as regras da versificação clássica. "A Ninfa'' ,
ainda do livro primeiro, retrata, erp versos decass ílabos , uma
cena d·a Mitologia greco-romana, bastante explorada por clás
sicos e parnasianos : a fuga da ninfa, perseguida pela sensua
1
EDUARDO GIRÃO
352
••
reito Civil na Faculdade de Direito do Ceará, como professor
catedrático. Como homem público, exerceu o mandato de depu
tado estadual de 1923 a 28, ano em que, na qualidade de
Presidente da Assembléia Legislativa, assumiu a presidência
do Estado, em virtud·e da renúncia do Presidente Moreira da.
Rocha . Obteve renome como jurista e também como pensa
dor, autor de máximas que enfeixou em livros e figuram em.
várias antologias. Publicou : Ao Léu dos Di·as ( 1950 2.a
ed., 1952) , Outras Frases Outros Pensamentos ( 1955) e!
Vida e Pensamento ( 1957) .
•
BANABUiú
dadivoso inverno.
Banabuiú r11moroso e barrento das primeiras cheias,.
em cujo dorso flutuam e se vão balouçando ao léu das águas
o.s balseiros enxurrados.
Banabuiú das enchentes transbordantes que os carões
anunciam das frondes marginais, repisando a mesma toada.
dolente, no encanto das noites;
Banabuiú bucólico, de branda correnteza, em cujo mur
murinho se misturam balidos de ovelhas e mugidos de bois;·
Banabuiú de águas remansadas, em que o dia espelha a.
alegria da claridade e as luzes da noite diluem a tristeza das.
sombras;
Banabuiú de aguadas criadores, viveiros fervilhant�s de·
·
peixes excelentes, alguns da cor nacarada das auroras, e re-·
cobertos outros de um primor de escamas, argentinas como�
os límpidos luares;
Banabuiú de coroas humosas, com os mofumbais sempre·
.
floridos e as grandes árvores sempre enfolhadas, avaras de
sol e pródigas de sombras;
Banabuiú de ribeiras populosas, onde há ricos e pobres,.
mas onde toda gente é humilde e fraterita, nivelada pelo�
convfvio e labor comum do pastoreio e das lavouras;
353�
...,.
'.. '
-
. .
'.
"
•
'
3.54 ·
• •
(
Banabuiú da minha terra, rio da minha infân cia , nunca
te es qu ec i, e não te esquecerei nu nc a; dent
ro de mim, porém;
estás e continuarás sempre a correr e a marulha
r, perene
mente cheio das lágrimas inexauríveis da minha saudade .
'
(Antologia Cearense, cit., pp. 121-2 .)
OTAVIO LóBO .
355
Médico, pela Faculdade de Medici11a do Rio de Janeiro, foi ca
tedrático de Medicina Pública na Faculdade de Direito do Cea
rá, da qual foi também Diretor . Exerceu os cargos de Diretor
da Saúde Pública e de Secretário do Interior e da Justiça, ten
do sido ainda deputado estadual e federal . Era professor da
Faculdade de Farmácia e Odontologia do Ceará bem como
fundador e Diretor do Sanatório de Messejana . Era membro
da Academia Cearense de Letras e Presidente do Instituto do
Nordeste . Sua bibliografia consta principalmente de obras
sobre Medicina e Educação. Sua obra estritamente literária
não foi reunida em livro, figurando porém em antologias e
·almanaques .
A OITICICA
356
•
l
*
* *
URUBUS
I
357
Quem, desgraçado mortal, ousa alcançá-las, objetivando·
11m sonho, sente o fastio do real � a decepção talvez de ver um
urubu . em marcha . . .
358 •
•
l
\
CARLOS CAVALCANTI
O PAU-D' ARCO
359
- -- ..,._
�----�----��- ·---
360
Quantos homens andam por aí como essa árvore inditosa r
Quantos homens, que se mostram sadios e venturosos, levam
a tuberculose no pulmão ou o inferno moral no peito, morren
do aos poucos, no estoicismo sobre-humano de esconder às mul
tidões a sua infelicidade !
361
I
•
•
OUTROS NOMES •
362
..
'
363
'
-
PRé-MODERNISMO
MáRIO DA SILVEIRA
OLH O S
365
•
C OR OA DE R O SA S E DE E S PINH O S
•
10.0
•
366
•
Para louvar-te,
Para dizer da tua Forma, eu deixo
Minhas antigas bárbaras roupagens
De grego jônico, e venho
Como um dórico,
Num metro novo,
Numa nova expressão de arte quase intangível,
Pla tonicamente serena
(Que é o sonho louco dos me diterr âneos)
Venho, repito,
Para e terno ciúme dos Deuses,
Anunciar a to dos os estetas
Que nem tudo se foi da Beleza- Perfeita;
Que tu chegaste, ó minha Palas-Atenas,
6 Suma-Revela dora,
6 Quase- Flui da! ó Leve! ó Subjetiva!
II
367·
•
..
III
•
ó Milagrosa, ó Trimagista,
•
IV
ó Incorruptível e única,
Faze que a terra enferma do meu corpo
To da se apague:
Faze que o ritmo estranho do meu verso
Seja a gran de Harmonia,
Em que, de esfera a esfera,
O Universo semelha uma nota per di da,
E o homem, o Imperativo eterno do Universo;
Faze que assim cheio de tua graça,
Cheio do teu respeito,
•
O joelho em te"a, a face aberta, o ombro pen di do,..
Olhos cerra dos, 6 Perfeita,
•
368 •
•
LAUS PURISSIMAE!
..
369:�
polimétrico, mas convém lembrar que alguns versos não se
guem esquemas rfgidos, sendo, portanto livres: Numa expre s
são de arte quase intangível, por exemplo, tem 10 sílabas, mas
falta-lhe a acentuação · dos decassil�bos regulares, sáficos ou
heróicos; a não ser que o consideremos um verso . provençal,
com ictos nas sílabas 4.a e 7.a; também não é regular o octassí
labo Platonicamente serena nem o verso Para o eterno ciúme
dos Deuses, que pode comportar várias medidas, dependendo
dos hiatos; tampouco este outro, de 11 sílabas: Que tu chegas
te, ó minha Palas-A�enas. Na 2.a estrofe há o�tro de 11 sílabas,
mas com acentuação diversa: Na sinfonia do meu plectro, o
epinício. Este, de 10 sílabas: Todos os desejos purificados. E
não citamos todos os versos irregulares do poema. Tudo isso
demonstra que o poeta já começava a libertar-se não somente
do metro regular, mas também do poema polimétrico, por mui •
.
·"Mário da Silveira e o Movimento Renovador da Poesia no
Ceará", O Povo, 18.11.72, p . 17), podem ser melhor com
.
370. }
• I
•
..
lN SOLITUDINE
•
Do s te us de do s le ví ss im os e brancos . ..
Di.
r- se -i a a ta rd e '
em tuas m ão s, morrendo!
'
t 371
.
.
-
'"
Ou que uma voz serena, em notas quérulasf
Subia da alma azul das tuas pérolas,
A contar, na doçura vespertina,
A sau da de da concha nacarina ...
Dir-se-ia a tar de em tu as m ão s, m or re n do . . .
. '
•
Levíssimo, dir-se-ia o teu perfume,
Ou a tar de a morrer em tuas maos . . .
,..
CAN TO DO PEREGRINO
"Para louvar- te
'
Em versos de arte •
A estreme beleza, .
372
Por onde., só, passei, deslumbra do a can.tar
•
373
-
-
�·��'
.
•
•
•
374
Em 1936, ano de centenário de nascimento de Juvenal
?
Gale o, inaugurou-se o Salão Nobre da instituição que, a
partir de então, passou a designar-se Casa de Juvenal Galeno ,
e que funciona na mesma casa onde viveu o poeta, aqui em
Fortaleza, na Rua G·eneral Sampaio, número 1128.
da Ca sa , e a qu em já no s referimos ao fa la r da Ac ad e
retora
re n se de L et ra s, da qu al fa z pa rt e; com A DE
mia Cea
V A SC O N C E LO S PI NT O , EV A N G E LIN A A C ió LI e
LOURDES
ST U·D A R T (esta au to ra de A P ri m ei ra P edra·-
HELONEIDA
N om e! ·1956 )', p ub lico u N ai p es . 19 53 ;
1955 e Dize-me Teu ·. .
375
- -
- --- -- --.
'
•
'
e, com OTíLIA F IN, NíVEA LEITE e ELIZABETH
BARB OSA MO NT EIRO, Tre vo de Qua tro Fol has 1955; Jú
I
376
em memoráveis sessões. Além de consagrar escritores, poetas,
e artistas, aquele cenáculo os lança e anima. 1: o grande salão
literário do Ceará, onde dignamente se apresentam à gente
culta do Estado os valores antigos e os valores novos do Brasil.
O nome da Casa de Juvenal Galeno já transpôs as fronteiras
locais e, graças ao seu Serviço de Intercâmbio Cultural, em
pleno funcionamento, se irradiou pelos meios intelectuais de
todo o Nordeste."
\' 377
verso de circunstância, cite-se
também o contista LAURO RUIZ
DE ANDRADE (Dunas e Penedos
1934) , que mais tarde se
d'edicaria à ficção científica, e o romancist CORDEI
a RO DE
ANDRADE, que publicaria no Rio suas obras (Cassacos -
193 4, Brejo 1937, Tônio Borja 1940 . )
O GRUPO CLA
i
reganhas iconoclastas nem das piadas demolidoras dos pri-
' meiros momentos. Diga-se ass�m, de passagem, que o Moder
nismo, em nosso Est�do, já surgiu algo amadurecido, mesmo
em suas mais remotas manifestações.
Mas se falamos em implantação definitiva é porque, de
pois dos tempos heróicos de Maracajá e de Cipó de Fogo, atra
vessaram as nossas atividades literárias uma fase incaracte
l
rística: cessado o impacto dos primeiros instantes, continua
ram uns versejando à nova maneira, mas outros vindos de
correntes anteriores. voltavam aos seus alexandrinos.
\
427
,
-
-
-
-
..
.
.'
-.
...
.
-
428
Convém acrescentar que o Clube de Literatura e Arte, que
nesse numero O da revis ta é mencionado não como Clã mas
,
'
429
-- -- --
•
•
-
430
•
nentes não haviam ainda tomado· conhecimento disso . Pelo
menos é o que depreendemos da leitura do livro Falam os Inte
lectuais do Ceará, no qual Abd.ias Lima entrevistou, de março
de 1944 a fevereiro de 1945, vârios escritores cearenses, entre
os quais quatro de Clã, e onde não se encontra a menor refe
rência ao grupo, muito menos à sigla .
JOAQUIM ALVES
43 1
J
sos colégios, bem como da Faculdade de ·Ciências Econômicas
do Ceará . Pertenceu à Academia Cearense de Letras e ao Ins
tituto do Ceará . Sua bibliografia reúne obras sobre Pedago
gia, Sociologia, História e Geografia, além da critica literária,
•
FRAN MARTINS
.
'
DOIS DE OUROS
432
se amasiara com Celestino, mata o rival e entra no bando de
Bom-Deveras, adotando a partir de então o nome de Dois de
Ouros . Após vários crimes (e mesmo depois de extinto o ban
do) , assassina um soldado no Crato e o cabo Firmino (com
quem se inimizara, mas a quem havia salvo quando menino)
persegue-o nas matas, ferindo-o a bala; mas recua, talvez para
deixá-lo escapar . O sargento Anacleto, que soubera, por Ar
minda, de um pacto entre os dois, desconfia do cabo e coman
da novo ataque ao cangaceiro . Não o encontram, mas as atro
cidades praticadas por Firmino no intuito de desmascarar os
supostos "coiteiros" (sabidamente inocentes) fazem-no crer
na honestidade do cabo . Por fim, desmoralizado por não ha
ver capturado o bandido, o sargento Anacleto bebe demasia
damente e assassina Arminda, em pleno cabaré . O corpo de
Dois de Ouros jaz na mata, longe do local onde o haviam pro
curado, levados pelo cabo Firmino . . .
E encetou a fuga pela mata . Não podendo ficar de pé,
pois nessa posição o ferimento sangrava muito, andava cur
vado, uma mão no peito, a sustentar o tampão com que pro
curava vedar a ferida . Mas não podia estugar o passo pois,
com a perda do sangue, já estava sem forças . Assi-m marcha
va curvado, lento, ofegante, mas de qualquer modo dispos
to a alcançar um abrigo onde pudesse repousar com seguran-
ça .
Não sentia os espinhos nos pés nem as unhas-de-gato ras
gando-lhe as carnes . Tinha o corpo habituado a esses sofri
mentos : três anos no meio das brenhas fizeram dele uma es
pécie de bicho. Um bicho que não dava atenção às picadas
dos insetos, aos arranhões pelos braços, aos espinhos nos pés .
Um bicho que agora só tinha um destino encontrar um I
433
su a pr ocur a o ba n do at ra ve ss av a a se rr a do A rari p e,
dava à
P erna m bu co , esc on di a- se nas pr ox im id ad e s de B o
entrava em
de N ov o E xu . N un ca se di sp us er a a fa ze r fren t e à
docó ou
policia não po r m ed o m as po rq ue sa bi a qu e di ss o não re..
sultariam vant ag en s pa ra os ho m en s, cu jo ob je ti vo er a be m
434
•
•
I
O ferimento doía e o sangue coalhava em seus dedos cris
pados sobre o peito . Mas debaixo daquele chumaço de pano
sentia que continuava a sair sangue fresco, quente, viscoso .
Quanto sangue já perdera? Não podia calcular . Sabia apenas
que, para sobreviver, teria que continuar a andar, a varar as
matas, a rasgar-se nas unhas-de-gato, a prender a respiração,
a rilhar os dentes, a manter as pernas firmes na direção em
que Ia .
•
435
•
ar ia po r al i. N as gr at as se se n ti ri a se gu ro
madrugadinha cheg
el es so ld ad os te ria co ra ge m de va ra r as uh a s-
• ---nenhum daqu
- . A qu il o er a lu ga r pa ra bi ch o s para
-de-gato para atacá lo
bichos e para os ca br as do gr up o de Bo m -D ev er as .
•
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •
436
maledicência do povo da cidade. Não podia negar que fora ami
go de infância de Dois de Ouros de Dois de Ouros não, de
Juvêncio de seu Zeferino, que era pessoa bem diferente do
bandido que tanta miséria praticava na serra do Araripe.
Mas é crime ter-se por companheiro de infância uma pessoa
que depois derrapa, vira cangaceiro, mostra crueldade em to
dos os seus atos, perversidade para com os próprios filhos de
sua terra? Quando menino Juvêncio era até muito calmo, não
tinha coragem de enfrentar os outros, sentia medo de tomar
parte n11ma briga.
-Lesma! não sei onde estou que ainda te aturo no nos
so batalhão, covarde!
Era assim que Creso, o chefe, o tratava, e nunca Juvên
cio sequer se revoltou com aquelas palavras. Firtnino foi
quem, vendo a marcação de Creso, findou tomando o partido
do mais fraco, defendendo-o das perseguições do chefe. Por
isso talvez andassem dizendo hoje que ele protegia o bandido,
ligados por 11m pacto qualquer, desses que são feitos na in
fância e perduram por toda a vida. Mas na verdade não havia
.
437'
---- --�----
438
--
..
.. .-.
.-
•
•
439
mas (1950) e 30 Poemas Para Ajudar (1968), de parceria com
Cláudio Martins e Otacilio Colares.
VIDA
morrendo afogado
gritei pros passantes
me acudam me acudam .
Mas isso é tão simples
.
POEMA DA DA
Vida liquefeita
num jarro de flor .
O botãozinho aguça a pele .
Um pirilampo salta!
Como o pirilampo é lindo
no jarro de flor .
O POETA
440
>
.
.--
.
•• ---
PO EMA
boca louca
fala falha
441
Podemos concluir, pelos poemas apresentados, que o poe
ta não se fixou numa determinada dicção, ao longo de sua
trajetória literária: o primeiro, "Vida", de fins da década de
trinta, trai evidente influência da chamada "fase heróica" do
Modernismo, a de 22, quando predominavam os poemas-piada;
no fundo, reflete uma grande tristeza, mas a forma como que
caricatura essa tristeza, por meio principalmente de termo s
bem populares, v . g . "pau", no sentido de maçante, tediosa,
referindo-se à vida, ou versos como acho isso tão besta. "Poe
ma Dadá", também do livro de estréia, segue o rtodoxamente a
estética de 22, lembrando certos micropoemas de Oswald de
Andrade; o toque descritivo é típico da mencionada fase. Em
"O Poeta", Antônio Girão Barroso abandona os metros cur
tos e pratica o puro verso livre, refletindo certa angústia em
face de sua própria condição de poeta: ao invés de sentir-se
realizado, lamenta o fato de os papéis não terem podido ficar
em branco; note-se que os dois versos iniciais repetem-se,
como um refrão, no final do poema. Simplesmente "Poema"
intitula-se o seguinte, onde, mais do que no anterior temos
um lírico a derramar-se em versos que, formalmente moder
nistas, revelam tJma cosmovisão mais ou menos romântica: o
poeta não consegue conter a onda lírica que a natureza faz
brotar de sua mente, se ê que não sucede o inverso, a sua tris
teza a encher de nuvens a paisagem. E, para demonstrar que
o poeta não pretende cristalizar-se, temos uma amostra de
seu Concretismo num minipoema composto de quatro vocá
bulos. Repetimos, a esta altura, que o poeta não se fixou nu
ma só dicção. Mas não é demais lembrar que em versos re
centes (que constituem sua participação nos 30 Poemas Para
Ajudar, e que não apresentamos aqui por ser todo um longo
poema fragmentado) novamente apela o autor para a poética
22, Versos com um vaga-lume 1
t
442
no tempo de voz I no tempo de eles 1 seu mano, a poes ia era
um fato I TINHA BILAC!
443
•
�
Por isso eu e os de minha classe teríamos de tomar ini
l
�444 \
Conduzido por um jumento e de costas dadas para o tra
jeto a percorrer, esse palhaço se dirigia à molecada que lhe
·
formava o coro, apregoando a função daquele dia .
445
bém um dos fortes do autor, como podemos constatar pela
transcrição deste breve trecho de um livro que não chegotl
ainda a ser ed'itado, e que deverá intitular-se Menoridade ,
obra em que o escritor narra suas reminiscências da infância
e da adolescência. Geralmente grave em seus estudos, Mar
tins Filho consegue aqui, já que se trata de lembranças ale
:gres (mesmo porque as notas desagradáveis vão-se colorindo
já com os tons suaves da saudade... ) , empregar uma lingua
gem leve, entremeada de expressões jocosas, como no caso de
ele lembrar que "o cipó cantava impavidamente " . Numa No
ta de redação, anteposta à transcrição do texto na revista
�Clã, observa-se que "ao lado da parte biográfica, este livro é
também um sério doct1mentário das condições de vida em nos-
.so hinterland, no primeiro quartel deste século". Com efei
to, somente no trecho reproduzido podemos ter uma perfeita
idéia de como se processava a educação das crianças nessa
época, no interior cearense, sobretudo com a interferência de
parentes de todos os graus, numa incômoda escala hierárqui
:ca. Por outro lado, o circo (não naturalmente o circo rico,
·mas o circo pobre, cujo palhaço andava pelas ruas poentas
·acompanhado da meninada, a fazer a propaganda do espetá
culo da noite) aqui está perfeitamente retratado, bem como
as clássicas disputas entre os partidos azul e encarnado, sob
·o riso simpático de suas respectivas rainhas ... Note-se ainda
·como o autor, a fim de não destorcer as que lhe fica
ram na memória, faz questão de reproduzir a linguagem do
palhaço e dos meninos tal como de fato as ouvha : assim, te
mos a grafia ispetaco, traduzindo exatamente a pronúncia
popular, bem como sin-ô, sugnificando não haver o fonema
palatal n h . Essa força de evocação, que faz com que quase
.cheguemos a "ver" o Crato daqueles tempos, é que vai confe
rir ao escritor as qualidades de um poderoso memorialista.
cuja linguagem excele pelo desatavio e pela concisão.
ALUtZIO MEDEIROS
446
•
em 3 de setembro de 1971 . Bacharel em Direito pela Faculda
de de Direito do Ceará, transferiu-se para o Rio de Janeiro,
onde exerceu o j ornalismo . Os problemas sociais e políticos
preocuparam-no sempre, com fundos reflexos em sua obra
poética . Publicou : Trág ico Amanhecer (1941) , Mundo Eva
nescente (1944) , Os Hóspedes, de parceria com Antônio Girão
Barroso, Artur Eduardo Benevides e Otacílio Colares (1946) ,
Os Objetos (1948) , Latifúndio Devorante (1949) , Lírica
(1954) , Poema é Comício (1956) e Setenta e Três Poemas
(1963) , além de dois volumes de Crítica (1954-56) .
CANTO DO SÉCULO
447
(ó melancolia da juventude !)
quando tu ch eg a st e,. m in h a a m ig a .
• •
Havia o livr o
•
e a lu a . T el ef on a va m !
Havia a súbita rebelião (ah os homen s !)
e o vento gelado de agosto
•
VIAGENS
A cavalo de galope
vejo ruínas de casas
sinto o lodo do passado
piso fo lhas amarelas
en veredo pelo tempo
me perco no .latifúndio
devorante do sofrer·
úmidos brejos visito
no labirinto das matas
odorantes como dantes
me embren ho e escâlante
percorro terras incultas
de léguas, léguas e léguas
mas sou demiúrgo então
crio um mundo que não esse
uma vida diferente
a cavalo de galope
nostalgia nostalgia •
448
•
em ruínas a cavalo
de galope devorante
latifúndio de sofrer
devorante de mil vidas
que não te chegaram a conhecer
volto atônito e aflito
os crimes os sofrimentos
destas extensões enormes
que são minhas são s ó min has
a cavalo de galope
dla e noite vou revendo
o passado deste sítio
e dos meus antepassados
latifúndio devorante
me perco nos teus caminhos
de crimes e opressões
volto atônito · e aflito
a cavalo de galope
com tristeza sofrime�to .
449
•
-
-
� -·- ..
450
•
451
Longino G ui lher me de M elo o Ver deixa Mo çoroen se (19 55) ,
o Fun ·ri» Público e o Estado (19 57 ) , Discursos de parce-
ria com Ed ua rd o Cam pos (1 95 7) , Na Ca sa de To m ás Po m peu
- de pa rceir a co m Jo ão Cl fm ac o Be ze rr a (1 95 9) , Ro lins, Ca r
�U LIMPO
•
Oh! mil vezes morrer a se ausentar de sua terra, daquele
pedaço de capoeira, regalo dos seus olhos! Como ia deixar o
452
terreiro de barro socado, ciscado pelos pintos, a sua casinha
de taipa levantada à custa de tanto sacrifício? Como era mes
mo? Arrumava tudo numa trouxa, velhas e fuxicadas roupas,
o chapéu da missa do� domingos, os sapatos de couro de be
zerro, meio comidos no arrastado dos sambas, não esquecer
nada, botar tudo, arrochar, arrochar, até não mais poder. Não,
não podia ser. A saudade que lhe ia no coração não cabia den
tro de uma trouxa de panos velhos. Não ia escondê-Ia ali, e,
num gesto derradeiro, passar a corda. apertando o matulão.
E então partir para muito longe, esquecido daquele chão todo
seu, da casinha de taipa, dos dias felizes que vivera na Pa
vuna . . . Era lá besta ! Não ia fazer isso . Não era destituído
de coração ; o dele era largo, vivedor, bom .
Tolice ! Mil vezes morrer, mil vezes sumir-se mesmo na
terra ingrata, a deixar para trás a capoeira, o roçado, o seu
lar de homem pobre. Mil vezes morrer . . . murmura baixo.
Puxou a fumaça do cachimbo sertanejo . Deu mais pas
sadas pelo interior da casa . Viu Francisca sentada em cima
da mala de couro ; a folhinha que marcava os dias. brinde do
boticário de Pacatuba, e como se atrasara o calendário !
Pregara-se no último Natal, dia esperado por ele e a família .
e. que transcorrera cheio de festas, dança na casa do compa
dre Luís, aluá, pé-de-moleque, cachaça para os mais velhos.
_servida recatadamente no oitão . . . Parece até que agora a
mulher e ele perderam as mãos e estão inanidos . Aquele vinte
e cinco tinha sid·o dia tão grande para eles, que lá ficara
ante o olhar da efígie da santa como lembrança perpetuada .
- Chica, nós vamo mêmo?
A mulher deixou escoar por entre os lábios um riso es
talado. Riso que dizia muitas coisas, uma por exemplo, que
preferia também morrer, acabar-se de fome, a deixar a sua
.casinha de taipa coberta de palhas de carnaúba .
Estirou os passos para o interior da casa. Feitiço, o cão
que dormitava na cozinha, levantou as orelhas sobre o corpo
tdescarnado como se aguardasse nova ordem :
453
- Vamo ficá, Feitiço . Num vamos mais não.
Mas aua.l ! Leôncio não sabia o que dizer. Sumira-lhe a
voz . A lfn2ua embrulhada, aquela coisa estranha embolando
dentro dele . Ntlm desafogo, para não chorar ou blasfem.ar.
curvou-se ráDido sobre o cão e lhe fez uma carícia .
•
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •
• •
454
capoeira assassinada . Vão perder a casinha , 0 pedacinh de
o
terra, a existência feliz que viveram juntos . Não irão mais
aos pés de samba, não rezarão mais na igrejinha de Pacatuba,
não ouvirão também, nunca mais, os violões passando pela
estrada, gemendo dores e saudades . . .
- Lanço!
- Que é?
- Tá sentindo?
.
455
Eduardo Campos a observação é de Braga Montenegro
---, conquanto haja experimentado notável amadurecimento
artesanal, desde sua estréia como contista, em 1943, "se tem
conservado o homem de suas aptidões telúricas e de sua ge
ração espiritual . 76 No conto aqui apresentado, estadeia-se
"
456
•
ARTUR EDUARDO BENEVIDES •
A MORTE
e em solidão.
De repente chega.
457
•
E já esta 'Da
há muito tempo em nós .
Mas surge caminhando
no mar que começa
sob o olhar de Deus.
Então nos erguemos. E colhemos
seu áspero fruto. E ela exige
o terrível tributo de viver.
Em silêncio a olharmos. Suá face
I
esplende mas é fria . E ela apanha
I
Ninguém
. a ama: só os santos
e os que em versos a confortam
de sua dor de ser tão fria e só .
•
..
-
.
Ela é triste . · · Um dià a encontrei
no rosto de meu irmão, quando menino.
Depois em minha mãe. Estava lívida.
E eu tinha cousas para dizer . E não podia .
Estava quieto, olhando silencioso.
E via
a morte em sua pálida ·
•
j·mobilidade. ·
·458
•
em nossa espera?
E a grande rosa cresce
e cobre •
o púcaro da vida.
S úBITA ELEGIA
O MORTO NA PRAIA
459.•
vinha lamber o sangue coagulado.
Ao fundo, estava o mar; no alto, a lua
que outrora brilhara sobre as naus
de valentes marujos todos mortos.
Bem próximo do corpo estava o porto
como sigla nos olhos mareantes. I
I
.
.:
.
. '·
.
.
IV
\
460 ,
•
\
Lírico por excelência, bem pode Artur Eduar Ben
do evides
ser c�amado de poeta .elegíaco; infenso a
os apelos da poesia
experimental, prefere ficar no terreno em q
ue adquiriu reno
me de mestre, da estirpe de um Augusto Freder
ico Schm\dt.
'
Podemos apontar duas constantes em sua poesia : a morte e
\
o mar (não raro grafado este com maiúscula) . E de tal ma
neira essas duas presenças povoam toda a sua obra, que não
nos preocupamos em reproduzir os poemas na ordem crono
lógica . A "indesejada das gentes" surge logo como tema único
e como título do primeiro poema : a morte, que leva a todos,
sem distinção, sejam homens, animais, coisas ou mesmo abs
trações; quando diz : SQmos 1 a canção que ela canta 1 o barco
I em que desce sozinha pelo ·. rio, talyez haja velada alusão
ao Aqueronte da Mitologia grega, o qual ia desembocar no
reino dos mortos ; ao lembrar a presença da morte no rosto de
sua mãe, vemos desencadear-se o máximo da carga lírica cJo
poema (E eu tinha cousas para dizer. E não podia) Em ''Sú
bita Elegia", temos o poeta a lamentar o não ter sido mari
nheiro, causa talvez de tanto aludir ao Oceano em toda a sua
I
·obra : em O Tempo, o Caçador, e as Cousas Longamente Pro
curadas ( 1965) , diz ele, numa página de prosa poemática : O
Mar nos chama. Não apenas o Mar líquido, o Mar das águas
escuras, búfalo imenso, ondas revoltas, navios apitando, ôôôô!
Mas o Mar interior, a fuga que eternamente nos resguarda o
imprevisto Mar, sem vento e sem esquadras.) Por sua vez "O
Morto na Praia'' traz-nos simultaneamente as duas constantes
referidas : a morte, com seu mistério inevitável tem como pano
de fundo a paisagem marinha : note-se o enriq.uecimento da
densidade emocional com a revelação da ignorância ou indi
ferença dos circunstantes; e como se não bastasse a presença
avassaladora do mar, através das ondas dos ventos dos uivos
das águas, ainda é uma imagem náutica o que ocorre ao
poeta, ao ver o morto "como um barco fendido" ; a predomi-
nância de decassílabos confere atmosfera clássica ao poema,
um dos mais bem realizados de toda a sua obra, a nosso ver.
Afinal, para não ficarmos só nos poemas livres, um soneto :
destituído quase de rimas (apenas duas consoantes nos quar-
461
tetos e uma toante nos te rc eto s) , e tendo co m o tem a a m orte
de uma amiga, é o fecho de uma elegia composta de quatro
s. i
soneto Fo Edig ar de Al en car qu em ob$ervou a re sp eit o do
poeta : "Mesmo quando parece hermético, é lfmpido nas suas
intenções e concepções." 7& Com efeito se podemos vislumbrar
em sua arte algumas notas daquele mistério que o Modernis-·
mo herdou do Simbolismo (e que, afinal está na poesia de
todos os tempos ) , o certo é que raramente podemos qualifi
car de herméticos os seus versos. Isso nos faz lembrar Manuel
Bandeira, que chegou a confessar : " . . . jamais fiz um poema
ou verso ininteligível para me fingir de profundo sob a es
peciosa capa de hermetismo". 79 Benevides é sem sombra de
dúvida uma das mais altas vozes da poesia cearense contem
porânea.
BRAGA MOTENEGRO
462
'
constantes na maior parte de prefácios, bem como de artigos
em j ornais de diversos Estados . Membro da Academia Cea
rense de Letras, do Instituto do Ceará e do Conselho Estadual
de Cultura .
AGONIA
463
•
I
464
draças, mal revelando o contorno dos móveis dentro da peça.
Agora o aposento se povoava de ruídos : trilhos chiados asso
bios, rangidos, pipilos, roncos e sopros . As ba;atas caí�m do
telhado, esvoaçantes, pegajosas, sobre o seu corpo; os grilos
saltavam, aos guinchos, arranhando-lhe a epiderme com os
esporões; as aranhas estendiam sobre a cama uma teia es
cura, embaraçando-lhe os movimentos : milhares de vaga-lu
mes piscavam em roda de sua cabeça; e os ratos roíam os ob
j etos, incansavelmente. Sentou-se na cama, atordoado. Abriu
os olhos e viu um rato enorme a espiá-lo de cima da 1nesa .
Apanhou uma das sandálias e atirou-a raivosamente sobre
o animal . Houve um rolar de garrafas, um tilintar de vidros
que se quebravam sobre o tijolo, soltando chispas, esparzindo
cacos ; mas, mal cessara o ruído e o rato lá estava no mesmo
lugar, a fitá-lo escarninho, os olhos brilhando como brasas
crepitantes . Num impulso, pôs-se de pé e, descalço, marchou
para o animal, rugindo de raiva, as mãos para a frente, os
dedos crispados como para estrangular . Mas o bicho fugia, •
465
•
466
r1� : acompanhando a narração,
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'
. .
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gro, em cuja obra de ficcionista assumem relevo especial os
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sonagens .
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467'
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O JOGRAL
BARCAROLA
468
•
'
partidas precipitadas
COTJn prantos a provocar
469
Para que em nós os dias ;á vividos.
não sendo interno a que nos condenemosJ
também não sejam cé'US imerecido3 . '
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ESTUDO EM ROSA
•
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\ ·• '·
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:
470
•
•
47 1
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JOSÉ ST�NIO LOPES
•
472
•
LONGA É A NOITE
5 DE JANEIRO
473
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-
•
di rei pa la vr as am áv ei s . C on ta r - lh e -e i h istó
de linda e eu lhe
rias simples , pa ssag en s da m in ha vi da , pe qu en in as co is as se m
•
importância e sem graça .
8 DE JANEIRO
. '
13 DE JANEIRO · ·
474
•
Eles devem freqüentar o· mesm
o café . Talvez falem de
mim, da minha partida quase-
fuga, sem despedidas . Arribei
pela madrugada e não vi ning
uém .
.
Meus pés ressoavam . pelas calça�as vazias . A zoada do
mar zum�ia nos rneus ouvidos . Na minha malota, a chapa de
radiografia . · E 11m abatimento de morte invadia o meu futu
ro . No corpo, nada . Nem dores nem cansaço . Apenas o medo
e uma inexplicável e revoltante vergonha de estar doente .
23 DE JANEIRO
. .
o
.. •
•
·
Meu esforço para alcançá-la foi inútil . As forças �ugi-
ram-me e, exaurido de cansaço� caí à sombra de uma velha
mangueira, junto à minha ca�a .
3 1 DE JANEIRO •
•
' .
• •
475
,.--
--
.
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horizo nt e . N ão é so m en te a ima ge m ba na l . El e ba ix a va ga
roso, envo lto no se u ric o m an to de co re s . Se m pr e go st ei da s
auroras, mas aqui na se rr a os cr ep ús cu lo s sã o m ai s bo ni to s.
a,
E agor se nt ad o na ca lç ad a, ex ta sio- m e co m o o po r do so l : o
primeiro que vejo e o pr im eir o qu e ten to de sc re ve r . A le m
brança de Al en ca r estr ag a o sent im en to de be le za qu e m e do-
mina .
7 DE FEVEREIRO
verdejante.
.
22 DE FEVEREIRO
•
• • • • • • • • • • • • •
• • • • • • • • • • • • •
• • • •
e e e e e e e e e e e e 8 e e e e I e e e e e e e e
476
13 DE MARÇO
I
Aproveitando o fato de a novela ser escrita em forma de
dlário, reproduzimos trechos salteados, buscando surpreender
o que nos pareceu mais interessante dentro do seu enredo . Aí
ten1os a ternura, que o protagonista chama de pieguice, nele
infundida pela paisagem dos campos; e, acima de tudo, a lem
brança, ou melhor, a espera de Margarida (5 de jan . ) . Depois�
entra em cena o médico, homem maduro, cuja cordialidade, já
amizade, no primeiro encontro, retrata sua ânsia de, como mé
dico do interior, travar relações com alguém de seu nível cul
tural . De grande densidade e força dramática é a afirmação
que flui da memória do enfermo, ao lembrar o dia da partida,
quando o angustiava não só o medo, mas "uma inexplicável
vergonha de estar doente" (13 de jan . ) . Margarida surge por
um momento, mas nem escuta os gritos do enfertno, no único
instante em que pôde revê-la (23 de jan . ) . Mais uma vez o li
terato revela medo de ser tachado de piegas, ao sentir o fas.cí-
nio do poente; anti-romântico, chega a dizer que "a lembran
ça de Alencar estraga o sentimento de beleza" que o domina;
477
•
MOREIRA CAMPOS
r
Nasceu· em Senador
Pompeu, no dia 6 de janeiro de 1914 . Passou a infância e par
te da adolescência em Lavras da Mangabeira, de onde se trans
feriu para Fortaleza, bacharelando-se em Direito pela Facul
dade de Direito do Ceará e licenciando-se em Letras pela Fa
culdade Católica de ·Filosofia do Ceará . Professor de Literatu
ra Portuguesa do Departamento de Letras Vernáculas do Cen
tro de Humanidades da· UFC, foi Decano do mesmo Centro e
exerce atualmente as funções de Pró-Reitor de Ensino e Gra
du8.,ção da UniverSidade Federal do Ceará . É membro da Aca
demia Cearense ·de Letras. Tem praticado ô ensaio e o poema,
destacando-se porém, acime de tudo, como contista, dos maio
res de nossa literatura . Publicou : Vidas Marginais ( 1949) ,
•
478 \
AS CORUJAS
479
•
indigentes, ativa, tilintando as chaves no bolso do hábito. Ela
mandará que Antero, o jardineiro, trepe ao sótão. Ele é moço
e divertido . Torcerá o pescoço das corujas, com os cabelos
cheios de teia de aranha, e as atirará ao pátio do alto da torre,
pilheriando com as enfermeiras. É preciso exterminar as mal
ditas, que rasgam mortalha na noite, enquanto o facho de
luz as procura na sombra densa das árvores :
- XAo, praga.I •
indefesos na noite .
480
Ao reunir num só volume contos de seus 4 livros, quis
Moreira Campos não só dar uma idéia de sua evolução no
genero, como definir o que entende por conto, modernamente ;
"
48 1
.
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..
.
•
MíLTON DIAS
�i82
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TR t:S IRMAS
torto. ·
483
Uma vez lhe perguntaram se Maria está gorda, ela res - I
484
os oculos, nem o colar de conta de vi
, •
485
•
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486
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e _ de outros Estados . A autora, po
rém, assinava suas produ
ço�s s o b o �se u dônimo de Sa
ndra Lacerda, e assim é que pu
b li c o u Destmos Cruzados, rom
ance, no j ornal O Povo, em 19 5 3 ,
e A Face Marcada, novel
a, no jo rnal O Estado, em 19 55 . En
tretanto, são dessa época alguns · co
ntos na revista Clã, assi
n ad os co m o nome real. Publicou ai
nda Nada de Novo Sob
o Sol ( 19 67 ) , sob pseudônimo,
e Janelas Entreabertas ( 1971 ) .
É a única mulher pertencente ao Grupo Clã .
•
A MAQUINA DE RETRATO
rantir . . .
Mas o rapaz fincou pé, disse que não. Fora sua senhora
quem comprara a máquina, �li estava o no� e dei� escrito,
pela sua própria mão. A assinatura dela, nao está vendo?
E dizendo isso estirara um papelzinho com seu nome es
crito, bem legível, a tinta. O marido olhou, olhou, sem co1n-
487
•
preender nada � Chegou bem perto do nariz para ter certeza,
e depois, perguntou :
Essa letra é sua . . . Você comprou mesmo essa máquina?
Não podia mentir . . . Era impossível . . . Abaixou a cabeça,
afirmativamente, e estremeceu ao ouvi-lo exclamar indig
nado :
- Marta, como pôde fazer uma loucúra dessas? Aonde
vamos arranjar dinheiro para comparar uma máquina desse
preço? Como poderemos pagar semelhante absurdo por uma
máquina? Quem j á viu uma coisa assim?
O homem, parado à porta, procurou intervir :
- Eu já disse à madame que era muito fácil. É só devol
ver a máquina e pronto, tudo fica resolvido.
..
488
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•
la� �restações. E acrescentara sem piedade : sentia muito, mas
o J eito era . <tevolver .
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490
de toda a angústia que · vai co
nstituir o ápice do enredo. Para
pagar a primeira prestação m
. ' ente ao marido , dizendo haver
SI do assaltada; mas nã
o poderia mentir indefinidamente : o
que inventar quando das próximas presta
ções? o resultado é
o que acabamos de '· ler : Ma·rta, ·dian
te. do esposo, nervosa,
quase apavorada, :· angustiando-se com suas perguntas e, mais
do que isso, com as intervençõ'es do cobrador; que inocente
mente procurava resolver o problema : "1: só devolver a má
quina e pronto , tudo fica.· resolvido. Note�se a presença do
discurso indireto livre, como no parâgrafo 4.o do · trecho apre
sentado : . "Mas o·- · rapaz .·: fincou pé, · · disse que não .. · ·. Fora sua
senhora quem comprara a máqúina;· ·.. ali estava o · nome dela
. . .
esc rito; 'pela · sua· · própria mão . A - ássinaturã dela, · :não estava
vendo ?", noutros trechos mais . Com isso, logra a autora dar
maior leveza à narração, evitando longos torneios· ou hiper
trofia de diálogos ;.. ::·Apesar ..· da · - extens-ão e - da rique'za do en
redo, o conto assume aspecto moderno de flash por não ex
o_
plicitar o fim da história : o · principal já foi dito, e o conto
termina no ápice do drama, com a personagem central re
volvendo gavetas inutilmente, : nt:l'in fecho admirável .
CLAUDIO MARTINS
. -
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•
Para Aj ud ar ( 19 69 ) , em co la bo ra çã o · :co m An tô ni o
Poemas
Girão Barro so e O ta cí lio Co la re s , ·e · . V iage m · . no· Ar co -t ri s ( 19 74 ) ,
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POEMETO D A M A LD A D E D IV �NA I
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POEMA· DO DESENCANTO ·
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o h ! palavras impensadas : . · • •
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(JLTIMA VONTADE I
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Quando eu morrer .· . . .
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ninguém · me dê . santo : · . . .. .
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nem choro nem veta. ·
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em ombros cansados
de gente bem simples
sem ter que fingir .
- Irmãos das almas!
- Irmãos das almas!
(Prece em voz alta é proibida :
e também contrição
mas a pinga é necessária)
- Amigos pra quê?
- Pra quê choro e vela?
só gente bem simples
sem ter que fingir.
Tesouros não tenho
não tenho virtudes
mas lego pecunta
, .
493
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em ombros cansados. ·
•
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• •
ASPIRAÇAO
• •
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494
lha maior) , visto que, por três vezes, foi partido o verso : que
se am�� I de mãos dadas 1I de mã�s que se apertam 1 ter
nas I última Vontade" e "Aspiraçao" traduzem ainda mo
mentos amargos no primeiro, surge de repente a idéia da
morte (como se o poeta a desejasse) , mas ele nada quer do
mundo, a não ser a simplicidade rústica dos homens do ser
tão ; quebrando um pouco a gravidade da cena, está presente
a lembrança do conhecido samb a de Noel Rosa (Nem choro
495
e brasileira ; é membro · do Instituto ·Brasileiro de Filosofia e
o
DURVAL AIRES
'
. -
CANTO
496
Mas sou um simples camponês
nascido nas terras imensamente
alegres e verdes do Vale do Cariri
e nada aprendi além de amar a terra
e nem sei quantas .cores possui o arco-íris.
No entanto
se pousasses tua cabeça no meu ombro
e me deixasse beber todo o lirismo
que há na quietude dos teus gestos
eu te contaria como é belo
um açude que eu conheço
e um rio que nasceu na minha infância.
Tu te banharias
nos poços mais profundos·
olhando minúsculos· peixes
.
ANALOGIA
o u p as sa ra
,
s s
-
en te B o a V is ta ch e g ou
Inevitavelm
, o t re m , a s c a sin h as
Tinha o rio
de t e l h a d o s v e r m e lh o s
e a faz e n d a lá lo n g e .
497
•
Olhar pousado
em ti jamais houvesse.
Impossível
mulher e desejada tanto.
E morto
é como se estivesse
teu beijo
agora ausente do meu canto.
E morto I
eu nunca mais pudesse
esquecer, sor1·ir, viver.
No entanto
eu tenho em mim o canto
que enternece
e não me prendem olhos,
promessa, pranto.
Paz e sono sobre as pétalas.
A despedida?
-· Façamo-la sem lua
e aliança prometida.
O que não era .
esvaiu-se na tarde azul-maçã .
Assassinaram ..
a bailarina da valsa proibida
Há vagalumes mortos estrela
498 •
polufda
Mas nascem
rosas no frio da manhã.
. . '
499
•
• • •
OUTRAS FIGURAS
'
RAIMUNDO GIRAO
500
•••
OUTRAS FIGURAS
'
RAIMUNDO GIRAO
500
literário De sua b.1 b- lIo
· grafi· a, vasta e importante destacare-
·
de Uma Genealogia (1937) , o
mos as seguintes obras: Esboço
Ceará, em colaboração com Antôn
io Martins Filho (1939 2 .a
ed. , 1945 , 3.a, 1966) , O Comendado
r Machado e Sua Des�en
d�cia (1942) , Cidade da Fortaleza (194
5) , História Econó
mtca do Ceará, (1947), Bandeirismo Baian
o e Povoamento do
Ceará (1949) Pequena História do Ceará (1953, 2 .a ed . , 1962,
3.a, 1971) A Abolição no Ceará (1956, 2.a ed . , 1969) , Geogra
.fia Estética de Fortaleza (1959) e História da Facu de
Direito do Ceará (1960 ) , e Palestina, uma Agulha e as Sauda
des (1972) , e�te de memórias; Famílias de Fortaleza (1975) e
A Academia de 1894 (1975 ) . Botdnica Cearense na Obra de
A lencar e Caminhos de Iracema (1976) .
•
5 01
naubais" e o troux er am pa ra ou tr o ce ná ri o to do di ve r so,
�
o da serr , em Ma ra ng ua pe , o ce ná ri o al to de um si tio al i, no
ços de meu pai a por as coisas em· febril apresto para a trans-
formação produtiva as laranjeiras carcomidas mudadas em
laranjais, pomosos, os velhos cafeeiros, agora, feitos cafezais
em flor, os roçados sáfaros estuando em bananais abundan
tes.
502
•
•
•
503
de seu livro Palestina, uma Agulha e as Saudades (1972 ) , al
gumas vezes abre parênteses para ·transpaginar trechos de
sua própria autoria, redigidos noutra época, mas que julga
oportuno reproduzir. É o caso da página presente, que, es
crita em 1955, figurou na Antologia Cearense ( 1957) , orga
nizada pela Academia Cearense de Letras. Trata-se de uma
comovida crônica, em que o escritor, ao ver diante de si o,
esquife de seu pai, sente de imediato o contraste chocante:
estão imóveis os braços de seu pai, aqueles braços que ele,.
filho, desde criança, se acostumara a ver constantemente em
incansável labuta. Essa lembrança vai desencadeando uma
série de reminiscências, onde surge o pai a trabalhar nos ser
tões natais, amanhando a terra, tratando das árvores na
serra ou afinal, em Fortaleza, a redigir os despach�s do cartó
rio . O "consulado" a que se refere o parágrafo antepenúl
timo é a casa do velho Girão, como ficamos sabendo a partir
deste trecho de outro capítulo do mesmo livro de Raimundo
Girão: "A nossa residência parecia um consulado de aflitos
e asilo de doentes, vindos de Morada Nova, de Maranguape,.
de muitas partes . " A rigor, o texto acima não se enquadra
no terreno da ficção; todavia, não obstante tratar de fatos
reais, em torno da vida e da morte do pai do escritor (Luís,
Carneiro de Sousa Girão, por muitos anos Escrivão do Crime,
Júri e Execuções Criminai s · de Fortaleza) , impregna-se de
uma linguagem puramente literária, dando-nos 11ma página
de forte densidade dramática, tendo como leitmotiv a afinna
ção: ''Os braços de meu pai não eram mais os braços de meu
pai.'' Estamos portanto diante da transfiguração de 11ma rea-
•
JOAO JACQUES
tendo sido, por muito �nos, redator d'O Povo. Exerceu as fun-
504
-
•
. . .
O DERRETIDO
. .
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •
• • • • • • • • • • • • • •
• • • • • • • • • • • • •
• • • • • •
.
n a ·m et a d· e d a la d ei ra , a ca si n h a d e
E n tr e as bananeiras,
a n ti g ô m o ra d or d o sí ti o , ·e r a o a lv o p r e
palh a d e S e b a st iã o ,
d a s b á te g a s ru g id o ra s. Z ef in h a , su a m u lh er , u e es p e �
d il e to
úl tim o s di as , a cor d o u o m a r id o , c o m o
rava d e s c a ns a r , j á n o s
.
t u m e. ·
d e cos
505
- Levanta, homem .
Gotej ava po r to dos· os re cá nt os . N as re di n h as de M an uel,
Maria e José os pi ngos ca ia m si ste m át ic os , se m re s peit o al
gum à po breza e à in oc ên ci a em pl en o so n o .
•
506
- - -
______.
aprumo de rainhas d
iante da morte. Paus-d'arcos anosos que
,
sempre floriam no esti
o, retiravam-se de campo, serra abaixo,
.
co mpelidos pela estratégi
a dos elementos em fúria. Laranji
nhas. camuzés, ingazeiras,
jatobás e abacateiros despenha
vam-se em pânico .
•
•
• • . . . . . . ... . . . . .. . .. . . .. . . . . . . . . . . . .. . . . . . . .
. . . . . . . ..
- .
5()7
- Deixe de abusão, velhinho, aconselhei, sorrindo da sua
ingenuidade.
- Quer ver? Escute. O capinzal gemia às virações, uivava
aos ventos.
•
'
tradicional, que nos envolve.. nos e:ri.reda. nos chama e nos sa-
tisfaz, embora fiquemos, comumenteJ imersos na dor." As his
tórias de João Jacques são, com efeito, contadas à velha moda.
seguindo uma cronologia, � com enredo . claro;
.
mas o impor- . . .. .
508
riscos que riscam os céus e os trovões que estrondam . O pa..
rágrafo que fala dos deslizamentos da terra é de uma nitidez
e de um movimento cinematográficos. Assim ocorre igual
mente com a avalancha que leva de roldão árvores inteiras
e pequenos arbustos; aos roncos dos elementos naturais unem
-se palidamente os gritos de Zefinha . No final. destaca-se,
através do velho lavrador, uma nota regional, de profunda
força poética: a presença do sobrenatural.
' I·
'
VI TROLA
509
As moças cercam o rapaz acadêmico de Medicina.
Chegado de' surpresa.
•
· Conversam em delfrto.
.
•
Todas.
Até a que perdeu o direito · à feli'cidade .
•
. . . . . . .
SONO E SONHO
510
>
---
.
..
.
��------�--��-- ------�--�·
•
es c on di da s na ·meia clari
dade.
Dei tar o me u r os to n os te us
ombr os perf uma dos '
e dor mir.
Te mp os se m c on ta s on harei contig
o,
doce a mor .
511
-
. '
. ..
-··:'"�..
..�
1
amada, infiltrad a na composiÇão· ·por: ·toda uma coleção de I
termos simbólicos. . ' .
• •
·
MARGARIDA . SABóiA DE CARVALHO
I
.
' •.
DES ESPERO I
I
512
� r �mata, num supremo esforço,
,,
sem conseguir articular
a primeira consoante: ''adela . . .
. A vizinha, que vem pedir um "pauzinho de fosf
o" ' diz à
Julita:
* * *
513
cardidos, foi posto na rede. Toinho dorme ainda meio rouco
de tanto chorar e Julita canta na cozinha, canta doces can
ções d·e amor.
. . . - . . � . . .. . . . . . . . .. .. . . .. . . .. .....
. . . . . . . .. . . . . . . . . . .. .
* * *
514
'
o dr. Paulo, que fo
i sempre tão bom para ela . . .
CÂNDIDA GALENO
pois curs o de T éc ni ca de Ed u �
aç ão no IN E P
:
no R io de J a
nal de Ju st iç a do C ea ra, , e
neiro. Ass is te nt e So cial do T ribu
ir et or a d a C as a d e Ju ve n al G al en o . F az p a rt e
atualmente D
re n se d e L et ra s e é n et a d e Ju ve n al G al en o.
d Academia Cea
515
-
-- -- -- �
•• •
..
516
t r i l h o s transforma . . . .
se d.1stende-o alegria
-
•
Ao ap ro xi m ar em -se nã o pa ra m , nã o se fa la m , ol ha m -se
qu e Sílvi a nã o de sd en ha da qu el a ad or a
apenas. E é po r is so
e su rp re en de no s ol ho s de le , é po r is so qu e nã o
çã o m ud a qu
fog e d a q u e le a m o r impossível!
ho m em lh e pe de tão po uc o, qu e ne ga r- lh e
É que aquele
·seria desumano. Aq u el e só o lh a r q u e el a lh e m a n �
d to d a s �
st an te p ar a al im en ta r a ch am a qu e m ce n de 1a
m an h ã s é 0 ba
su fi ci en te pa ra co lo ri r o so n h o qu e lh e embe-
.a al m a dele, é o
·a E a q u el a te m. u ra q u e a b ro lh a d os ol h os d a
Jeza a ex1·s tê n c1
·
517
•
•
518
•
•I
' ·t'
e.
,
em tr iste za s e lem br a n ça s m e m
de sal m eu c or p o se r e v es te . L írio s
desp eta lo em lág rim a s n o te u tú m u lo .
.
saudade-fel. D or d e m im m es m o e d e tt .
519
•
EU
O BEATO
Se há seca, se não há
mané-magro adivinhão
pousa aqui na minha mão:
balança a cabeça e espia
o céu de negro azulão
520
Mané-magro· disse - não · ·
·
• •
• •
•
•
.
·
. . .
contra as bo n in as q ue en tre as ca m s
521
Prefaciando os poemas completos do autor Cantos de
Lúcifer , observou Cassiano Ricardo que essa coletânea re
velava "a inquietação do poeta mÚltiplo e uno que é José Al
cides Pinto", o que o levou a afirmar adiante: "Discordando de
si mesmo em cada livro, e às vezes no mesmo livro, o poeta
reúne assim as suas discordâncias num só acordo . " É que na
verdade é o poeta um inconformado (talvez devêssemos dizer
um possesso, dada sua predileção pelo Demônio e seus mis
térios) . Mas uma nota parece dominar todas as facetas de sua
•
522
cia d� �migo do poeta Antônio Santos (pseudônim.o de Antô
.
mo G1rao Barroso, a quem aliás é dedicado o poema) .
FRANCISCO CARVALHO
•
•
SONETO À RENDEIRA . . .. .. .
. . .
.
. . .
I
o t
. ..
•
u c or po · jo� e m . .
Move-se a gênese em se ·
0 olha r m e d ita ; o s -ded os tec e m
E enquanto
g;stos de amor qu e . o s Zá b ie s n ã o c on he c em .
523
XXXIX I ' •
I
I
I
•
' '
I t 1
' • o
• •
.
• •
I
•
CADEIRA DE BALAN·ÇO
.
· .
. .•
. . ,
524
Cadeira na madrugada, . .
ao redor fantasmas muitos . •
.. . . .
•
•
•
.
.
· ·· HOMENAGEM
:
•
•
Na face amarrotada
.
.
de tudo q ue fenec e •
. . .
525
•
que só de desconsolas
•
o homem se abastece .
Amor que de tão . calmo
•
.
Amor qtte nos trespassa ·
.
.·
.
com os olhos da memória . .
vincada de suspiros
e esse rosto em desU3o
voltado para os · filhos .
•
•
.
. . .
..
. . .
.
526
t é t ic a desencadeada pe
la chamada Geração de 4 5 no sentid
o
'
verso l i v re s2 ( o que, pa
ra a nuop1a· de alguns ' pareceu um
retrocesso ' como se a mod · .
, . em 1dade de um poema residisse na .
toda a su a pa leo nt ol og ia : o av ô, a av ó, os m en in os , ou ai nd a os
de se jo s qu e em ba lo u ; ag or a, el a em ba la os de
destinos ou os
sm as , as re co rd aç õe s qu e de sp er ta , ou m el h or ,
funtos, os fanta
ou tr os te m p os ; à m an eira d as tr ov as d o p ov o,
a s saudades de
em A B C B , � ão se ve ri ca n d o p or ta n to ri m a
a s estrofes rimam .
n d o q u e em d u a s es tâ n ci as sã o to a n te s
d o verso 1. o com o a .o , se
(m u it o s / d e fu n to s e c a lm a sj fa n ta sm a s) . N o � e m a " H o m e na •
A zu is ( 19 7 1) , os ve rs os sa o h ex a ss il a b os ,
gem" ' d e o s M or to s .
f ig u r a e v o c a d a
,
e a d a m
-
a e , C U J
.
O a m o r su rg e � rta n d o
''
VI S-
e a
a ta n d o -se d e u m a m o r q u e de ta o ca lm o I flo -
go e t e rn u r a , , tr · ·
527
resce até na ausênci'a 1 para que o · ser amado . I não sofra da
presença, com· o que traduz· o poeta a quintessência do amor
materno, feito até de renúncias . O pouco que apresentamos
e dissemos ·da poesia de Francisco Carvalho é todavia sufici
ente para mostrar sua grandeza .
IRANILDO SAMPAIO
•
.•
•
ELEGIA DA BUSCA
. I
.
até que a tua face liquefeita se espedace em manhãs ..
I
ELEGIA
528
Mastigarei meu pasmo .
Mastigarei esses becos anónim
os onde nunca abracei
amadas inibidas,
e essas árvores cujos frutos apodrece
m em minhas
·
costas .
· Mastigarei a dura realidade do que sou ao despertar
do último clarim nos ouvidos do deus que me
absorve .
Mastigarei o abismo onde o luar e a hora me
amedrontam .
TEORIA DO TÉDIO
O tédio de estar so .
,
mistério de De
d o nao há c a m m h o s
.
a n
_
r · so .
.. ,
de esta
.
o tédio
amplo pesade!o _.
Frio abismo de um
529
•
POEMA DO REFOGIO •
• •
O momento é de eclipse .
o mundo entre duas soluções : o enorme espaço
e o seu vazio luminosa .
No entanto o �éu é tP,o pequeno e as estrelas •
aparentemen.te próximas . .
o olho limitado por todas as distâncias . ·
•
. Procuro colher. uma . rosa . e furo
.
.
o dedo nos espinhos
. .
. . . .
.
O cérebro é um esquema .
O. . w,eu, .no
. entanto, é um anelo entre o que
.. sou
. .
e a pàciência de De'!J,S
..
. •
.
. . .
. . •
.
Os costumes me intimidam· .
Penetram na minha cabeça e se sacodem como se
estivessem molhados . · ·
Desconh·eço-me . ·
. . "
...
· ·
.
. ·
• o • •
.
•
Continuo inalterado .
•
.
.
ha-
dos de 1ntenso hermetismo :
'
trar a �
esma dor profunda, a mesma angúst
a que é mais �
existencial do que eventual , sendo a presença de Deu um de
s a
suas constantes . O primeiro poema apresentado, anterior a
1 965 , mostra-nos o lírico amoroso ; mas o hermetismo apenas
esconde a causa de uma gránde dor . Esta já se vai manifes
tar em toda a sua plenitude através dos· poemas que se seguem,
todos do livro mais recente : "Ele·gia" surde-nos como o desa
bafo de um homem diante da "dura realidade" que o esmaga,
exprimindo ele sua revolta contra os que se acomodam den
tro da engrenàgem social e burocrática ; ele não será o que
espera ser, mas ainda assim não deixará de revoltar-se . Na
.
F ra n ci sc o · C ar va lh o, pr ef ac ia n do · A T eo ri a da s
tem sentido .
"T od a a su a p oe si a co m o qu e se ex te rior iz a
Coi sa s, escreveu :
o · co n fl it u a l, d e fu st ig a m en to d o h o m em
e m termos de colocaçã
se lh e · a p re � :n ta co m o u m d es a fi o " .
fa ce d a re a li d a d e, q u e �
em .
p lex id a de n u m a ' fo rm a d e sc o n c e r ta n te , o
Tr � d u z in d o su a p er
c o r ta o v e r s o in e s p er a d a m e n te : r o sa s
poeta c o n sta n te m e n te
v e n to sa c o d e ; o lua r e a h o ra m e 1 a m e d r O n ta m e s c o n -
que 0 1
1 persona�tidade , etc . V emos niss o pe rf ei ta ad eq ua çã o en
de a
tre fundo e fo rma '.
conc iliando -se esta co m uma po es ia qu e
podemos chamar de apocalíptica .
CARI,QS .D'ALGE
•
ministrou cursos de Literaturas Brasileira e Portuguesa na
Universidade de Colônia, Alemanha . Publicou : A Solidão
Maior ( 1960) , poemas, Aspectos da Nova Literatura Portugue
sa ( 1965) , Língua e Composição (em colaboração com Luiz
Tavares Júnior e José Alves Fernandes 1968) , Terra do Mar •
HECA TOMBE
O homem sorri-u
amargamente
apontava uma nuvem de ju,mo,
(ninguém sabia se era manhã ou noite)
atmosfera carregada de ódio
o rio transfor em pó
agua que desaparece no abismo
,
532
• • o • .. • •
-· . . . . . . . . .
•
'
desespero .
Longe muito lo.nge .
um gigantesco cogumelo
rompeu os ares
e foi beijar o sol .
(um beijo carregado de urdnio)
A ilha foi lançada ao espaço
emudeceu a floresta
nenhum corvo agitou a negra asa
não amanhecera
•
nem anoitecera .
Homens-máquina
de binóculos
e fardas coloridas •
marcham,
estações de radar
a postos .
No dia apocalíptico
a violência clamou aos ceus
,
a terra gemeu
convulsamente
Noite impassível
dia espuno .
, .
ca"eando a 'ITiorte
destruindo milhares de óvulos •
533
Os homens-relógio
continuavam a marchar •
em vez de olhos
ponteiros
•
em lugar de coração
detonadores .
Na hecatombe
que se ap-roxima
o sangue se confundirá
com a lágrima,
os homens não perceberão
o passara na arvore
, ,
o trigo no campo .
•
A semente da vida
se extinguirá
em lugar de olhos
regatos secos .
Os homens-detonadores
continuarão,
ante a loucura final .
.
'
. . .
..
•
EUSÉLIO OLIVEI�A
- . . . \
.. . •
. .. ..'
. \
•
•
•
535
'
voo·
,
COR •
••
SOL voo
SOLVO
NO
voo
•
CURVO
DO
•
CORVO
ave
ávida de vida
e distânci.a
na
ânsia do azul
tua sombra
. germina tardes imaturas
nas florestas carboníferas
salpicadas
de musgos e violinos
lembrança elétrica
de momentos que passaram
indecifrável
esfinge
•
flor enferma
samambaia solitária
de gestos
e mãos cheios de oca&o
536
sarça de ausência e saudade •
corpo sol/cremado
de pedras
virgem morta
no mês de agosto
o vento leva teus cabelos de vidro
e louca corres ·
537
•
OUTROS NOMES
538
•
Artur Eduardo Benevides) , DEUSDEDITH. DE SOUSA, poeta,
autor de Rosa Transcendente 1956 , JAIRO MARTINS BAS-
TOS (autor de Orph eo · 196 1) , JOSÉ MAIA, contista ainda
inédito em livro, SINVAL . SA, paraibano de nascimento, que . .
residiu vários anos no Ceatá, contista e romancista (Fuga -
19 60 e O Vinagre e a Sede 1965.) ; ABDIAS LIMA, com vá
rios livros de crítica literária · e gramática� · autor do romance
Cais Caos 1970, CIRO COLARES, cronista, autor de vários
•
•
•
OS NOVOS
.
•
.
. .
.
NONATO D·E BRITO
•
539
Artur Eduardo Benevides) , DEUSDEDITH. DE SOUSA, poeta,
autor de Rosa Transcendente 1956, JAIRO MARTINS BAS-
TOS (autor de Orpheo· 1961), JOSÉ MAIA, contista ainda
inédito em livro, SINVAL. SA, paraibano de nascimento, que . .
residiu vários anos no Ceatá, contista e romancista (Fuga-
1960 e O Vinagre e a Sede 1965.); ABDIAS LIMA, com vá
rios livros de crítica literária ·e gramática�· autor do romance
Cais Caos 1970, CIRO COLARES, cronista, autor de vários
•
.
TEVIR ALENCAR, ANTóNIQ DE OLIVEIRA RAMOS, VAS-
.
QUES FILHO, CORNÉLIO PI��·�'E�, REBOUÇAS MA
CAMBIRA (que se destaca também como excelente tradutor) ,
ANG·ÉLICA COELHO e outros .
. .
. . ' •. •
•
•
OS NOVOS
.
•
.
. .
.
NONATO D·E BRITO
•
539
CANÇAO DO HOMEM QUE VAI
•
•
· cheias de querer, ao vento,
vão ficar polpas de. a.urora-
fincadas no fim da tarde I
'
-·
�
j
.
.
os cobrirei de domingos
na mão do tempo colhidos.
540 '
-
541
vazio, e vendo nas nuvens c'clençóis de enfel'mos", adiante in
vertendo o lugar-comum do coração duro como· a pedra : aqui,
as pedras é que são duras e surdas 1 como um coração humano.
Entretanto, o final acena com a possibilidade de haver•
esp e -
CARVALHO.:. NOGUEIRA
•
SEMELHANÇA
•
o
o ..
·
542
�-=-r-- -_ -
�- -
CHORO D E FLAUTA
. .
•
•
• •
•
•
•
5·43.
tra. nscritos revelam-nos um poeta dotado de aguda sensibi
lidade e dono de estilo muito pessoal. I
CID CARVALHO
'
.
. '
•
-
• •
544
·-
Por que tanta ternura e tanto amor ·em ·mim
.
•
•
. .
·
Em sua estréia, Cid ·carvalho, muito joveni àinda, pra
ticava o poema social em versos livres· ·unicamente. Pelas
suas mais recentes produções talvez de seu último livro,
. · .
•
.
.
. .
.
•
•
• • •
• \ o • • • .
e 11.o. Retrata o soneto, em seu clima onírico, de remate
quase condoreiro, o êxtase produzido pela .�
· .. úsica . . .
. . .
•
.
BARROS ..
.O GOMES .
• •
. . o '
.
I •'
•
•
.
•
.
. . .
545
IMITA·ÇAO
O céu invej�o .
Nos campos os pirilampos.
O chão estrelado.
FACEIRICE
A treva pesada
se deita. A noite se. enfeita
de coifa dourada.
ARREBATAMENTO
-
AMANHECER
Do dia, lá fora,
A nuança: é o galo que lança
borrifos de aurora.
PRIMAVERA
ESPERANÇA
546
•
O BANCO DO JARDIM
O PROFESSOR •
o olhar profundo
•
a arquitetura bizarra
a falta de tato
- .
o coraçao vazzo
e o riso exagerado
o quase-herói
vive contando a história
da sua quase façanha
548
te o que se patenteia no primeiro poema transcrito, "fumaça",
que praticamente não pode ser lido em voz alta, e cuja dispo
sição dos vocábUlos (encurtando-se gradativamente) revela
claramente a mensagem, dispensa portanto maiores comentá
rios. Em "o banco do jardim" temos, a nosso ver, o mais alto
momento de poesia atingido pelo autor: note-se que a quase
extrema economia vocabular não chega, nem de longe, a pre
judicar a onda de lirismo que transborda do poema. N' "a
solução", de recorte aparentemente humorístico, temos na
verdade uma dolorosa (e para alguns talvez consoladora) ver
dade: a transitoriedade de nossos contratempos, grandes ou
pequenos, em face do evolver inevitável dos anos; isso dito da
maneira mais original e inusitada. Te . mos visto que o poeta
se realiza no micropoema; todavia, algumas vezes se estende
em composições menos concisas, como ocorre com "o profes
sor", cuja força reside na surpresa do derradeiro verso, reve-
•
LINHARES FILHO
549
As ore!has do cavalo
•
550
parecem reclamar a sutileza
de um cannho que o meu sono não esquece. . .
Teus pincéis dormem
com a resignação de pincéis .
Minha alma imperfeita, a despeito de teres sido
artista perfeita, pedé, todo dia,
os últimos retoques .
Santa e elmo,
no navio em que eu encontrar borrasca,
os teus olhos serão santelmo. . .
No silêncio noturno não se ouvem mais
: os passos cautelosos com que fechavas
a janela que dá para a rua,
no entanto percebo,
na l. ã escura da noite,
o abrigo do teu xale .
SONETO SUPLICANTE
elevar-me do pó do contingente
e aos cimos ir do subterr4neo andaime, •
•
551
Conquanto a apresentação de três poemas não baste para
que se conheça c�m se_gurança ·a mundividência e as virtuali
dades formais de um poeta, as presentes produções de Linha
res Filho nos dão pelo menos a certeza de estarmos diante de
um poeta· de ric_a. s�n�lbiliq�de e apurada técnica artesanal.
Na "elegia do cavalo da infância", vazada em redondilha
_
maior (o que nos evoca simultaneamen�e a regularidade do
galope do animal e um clima de cordel), temos uma idéia de
.
á ó ·
um roteiro segur · à' sua· ·trajet ria, uma iluriiinação, enfim ,
• •
,• •
• •
•
. BAAB . .
.
(Dai-me 1 andaime) .
.
. •
.. . . .
o.
'
.
. .
�•
• • • I
.
. .
. .
'
.., ••
.
• • ... o
• . . •
. .
BARROS PINHO
. . ' -
. . . '
·o � • •
r . aii a
Ci co . Enc t ão (1�75) .
· ·
.. . . .
.
..
.
552
•
•
•
•
A BOMBA
vamos escovar
os dentes
enquanto a bomba
nao vem
,_
vamos
ao piquenique
da espécie
enquanto a bomba •
nao vem
-
vamos brincar
com bambolê
enquanto a bomba
nao vem
-
não jaz
A CIDADE
o arco azul
sobre variantes
da beleza
o ventre do tédio
prenhe de suicídio
55:�
•
o transeunte sob
o ritmo dos ponteiros
estrelas burocratizadas
sábado inserido na ilusão
domingo contido na rotina
circo com palhaço em greve
homens sozinhos •
ROBERTO PONTES
554
•
CONTRACANTO
O alfabeto habito
-·
como me moram
muitas vezes muitas
meu . coraçao .
-
Teu beijo
o longo poe1na não escrito
o longo sono
sem espaço e sem medida
a pluma pura e doce
entre os meus dentes.
555
teu beijo
o sal de purificar o sonho
a chuva em temp o de verão
a rosa língua rosa
por minha língua rosa
'spetalada .
TEÇO DE PALAVRAS . . .
teço de palavras
a rubra nostalgia
terço na aurora
corações ressabiados
teço do silêncio
a contextura
terço na aurora
a intenção da vida
teço no desejo
as linhas sobre cores
terço contra a noite
para que venha
o dia
556
-·- I
·palavras apresentam", notou Pedro Lyra, prefaciador do li
vro. O último, sem título, trata do tema social a que nos re
ferimos, mas é patente a preocupação formal . Em Lições de
Espaço, em que os poemas se integram num todo difícil de fra
gmentar, quer o autor cantar "a miséria, o sonho e o triunfo
do homem": o homem 1 se enluva 1 em sua farda I recolhe
mostruário lá na lua 1 e volta 1 imantado de amplidão.
ROGÉRIO BESSA
ELEGIA DO COENTRO
PRAXISCóPIO
o impacto
do
cacto
intacto
557
ESSA COITA
558
vador galego do século XIII. Embora buscando a vanguarda,
sua poesia não foge de nossas raizes poéticas e lingüfsticas.
PEDRO LYRA •/
. . \
POÉTICA
na lavra
qtte lavra·
•
a linguagem
a palavra .
na linguagem
. •
tmagem
•
•
o tema
a mensagem
no tema
problema
o poeta
•
o poema
•
SOMBRAS
•
amor
luz '
•
•
mundo .'
•
•
mundo
•
' •
· ilusamor · ·
•
'
559
DORAMOR
(A Busca)
560
o lirismo amoroso derramar-se por vezes num clima de elo-
quencia romântica. Com os poucos poemas aqui reproduzi-
• •
A
O HOMEM O COMPUTADOR
E O NOVO ÉDIPO
O homem pensa
incomoda o enlatador
de salsichas .
Enquanto os computadores
se multiplicam
há o limite da natalidade
O homem é negado
ha;a mais máquinas
e menos homens
Na auto1'1UlÇ_ão se oculta
o fabricante da mot·te
o �stounro esface�
o cérebro do Homem que pensa
. ..
•
561
•
'
.'
.
.
.,
•
Os alquimistas da bomba
destruíram Hiroxima e Nagasáqui
para criarem
•
o mito do medo
.
quem tem medo da maquina?
,
o novo Édipo
o novo Homem
não teme a Esfinge
'
'
•
• •
•
I '
. .. • •
•
.
I :
'
562
nuvens brancas carregando •
Encolerizado às vezes
era louco redemoinho
de repente vento sereno
a brincar pelos caminhos
Súbito às vezes parava
•
Distanciado no tempo
tentei ouví-lo de· novo
563
mas a canção se perdera
nos longes da minha infância
•
não nascido
de cesariana
parturejado
sem técnica
nasci sem artifícios
humanizado
no insólito
me fiz homem '
•
.
nao nasct
-
para ser
devorado pela esfinge
permanecerei íntegro
sofrido e doído
I
-
de ser humano
que não aceita
,
ser um numero
564
•
•
566
Buick que o matou . Parecia de propósito . Fiquei pensando
besteiras, não posso ver o Buick preto e carcomido que não
sinta medo de morrer como ele. Fiquei com ele até o último
gemido, a Última palavra ininteligível. (Quem escutará meu
gemido final, além do médico indiferente?). O homem agora
ri pra mim do jeito que conheço bem. Aterrisam a cama, como
se tivessem descoberto as suas rodas. Deviam estar combina
dos, logologo o sósia do meu tio, usando o mesmo risozinho
moleque, e o outro homem empurraram a cama que arrancava
na maior velocidade .
• • • • • • • • • • • • • • ... .. . . . . . . . . ..
. ' . . . ..... .
. . . . .. .. .
. . . . . .. '
56.'7
por contar", mas como nas fábulas de La Fontaine ou de
Esopo, extrair "lições" sardônicas do comportamento "moral"
de cada personagem. " Efetivamente, o espirita critico do con
tista está prese�nte em diversas estórias, como na que dá tí
tulo ao livro, onde toda uma sociedade sofisticada condena
impiedosamente o motorista que, sem querer, matara A lain
Delon, cãozinho de estimação de um casal do high society.
No conto presente, "Operação coroada de êxito", do qual re
produzimos o início e trecho do final, as notas de quase surrea
lismo sugerem a cosmovisão do doente, fruto da própria en
fermidade ou do anestésico: os parágrafos quilométricos são
expressivos, ao retratar a enxurrada de pensamentos que lhe
assaltam o cérebro. Em tudo vemos notas de fantástico, ou •
MARLY VASCONCELOS
.
BALADA
•
.
..
. . '
568
Aí, realejo antigo,
voz doce de serenata
'
A casa-grande assombrada .
A VELHA VARANDA
569
ALAZÃO
O tempo é puro.
A rosa enfeite de santo.
Inesperado I
contra a noite
o cavalo tomba.
FRAGIL ECO
t
I
570
A partir do título de seu liv
ro, Marly Vasconcelos se
revela verdad'eira poetisa, saben
do aproveitar-se do sortilégio
das palavras. ''Balada'' (em redo
. ndilhas e hexassilabos ' com
rimas toantes), mostra-nos todo um belo passad presente
o,
no realejo, na serenata, no rosto clássic na própria casa
o,
-grande onde vive a moça, e reiterado pelo dístico;
a moça,
porem, envelhece, e o dístico se transmuda, tenninando o
,
OUTROS NOMES
571
Quisemos, todavia, documentar, tanto quanto possível,
o momento atual, o agora de nossa literatura.
Assim é que, aos nomes já apresentados, juntamos os de
SANZIO DE AZEVEDO (Cantos da Longa Ausência 1966) ,.
CÉSAR COELHO, cultor da trova e autor de um livro de crô-
nicas bastante originais (Strip Tease da Cidade 1968),
YEDA ESTERGILDA (Mais Um livro de Poemas 1970),
ODALIO CARDOSO DE ALENTCAR, romancista premiado
(Recordações da Comarca 1971), FARIA GUILHRME, ro
mancista inédito, os poetas JOSÉ HÉLDER DE SOUSA, HA
ROLDO FRANCO. ROGÉRIO FRANKLIN, IN:ms FIGUEIREDO
e LEDA MARIA; ainda LEAO JúNIOR, teatrólogo, e GILMAR
DE CARVALHO (autor de p,zuralia Tantum 1973), bem
como os contistas MARCONDES ROSA e TEOBERTO
LANDIM.
Nomes aos quais ainda acrescentamos os de JONAS LUZ,
RENATO SALDANHA, CARLOS ALBERTO BESSA, REM
BRANDT ESMERALDO ou CARNEIRO PORTELA, alguns dos
quais apenas se iniciam nas letras, para não falarmos, re
petimos, daqueles que surgirão mais tarde para reivindicar
seus lugares, não podendo ser ausências os nomes de JOSÉ
JACKSON COELHO SAMPAIO, CARLOS EMILIO CORREIA
LIMA. NILTON MACIEL e AIRTON MONTE, contistas, e MA
NUEL COELHO RAPOSO e JOSÉ MARIA MAPURUNGA FI
LHO, poetas, bem como LIVA RDO ARAúJO BARB OSA. AN
TóNIA CÉLIA FRANÇA MESQUITA, FRANCISCA DE FÁTI
MA SOUSA. ADRIANO ESPfNDOLA e MARCIA GURGEL,
poetas e ficcionistas.
Conta-se que, surpreendido ·pela enortne quantidade de
livros que, quase semanalmente, recebia do Ceará, o escritor
Valentim Magalhães, nome hoje esquecido, mas vulto expo
nencial da vida literária nacional nos fins do século passado,
chegou a dizer, na coluna que mantinha na Notícia, do Rio de
•
572
Olhando para trás, no cabo desta jornada empreendida
'
'
•
desde os tempos remotos dos Oiteiros, e acompanhando o
'
\
�
evolver de nossas atividades Iiterãrias até nossos dias, pode
mos bem, confiando no futuro da Literatura Cearense, repetir,
•
,
I
•
carioca.
5'13
•
r
NOTAS
575
11) São doze contos ao todo, dos quais merecem destaque
"Corda Sensível", "O Ar do Vento, Ave-Maria", "A Me
lhor Cartada" e "ódio" .
12) Péricles Eugênio da Silva Ramos. "A Renovação Parna
siana n·a p·oesia", in A Literatura no Brasil, cit. , p. 90.
13) Apud Dolor Barreira . Op. cit. , p . 308 .
.
I
15) Ismael Pordeus. "A Margem de D. Guidinha do Poço",
in Revista da Academia Cearense de Letras, ano LXV,
30, Fortaleza, 1961, pp. 13 a 156· .
16) Braga Montenegro. Correio Retardado. Fortaleza, Impren
sa Universitária do Ceará, 1966, p . 56 .
•
576
·-- --
577
-- "" 0::. o--•• ·--�-
- -- -.:__
L--
�- . .. . _:�
.... •:...:
_- :!!.:. - • �
•
578
Mas eu, que em .prol da luz, do pétreo, denso
Véu do Ser ou Não-Ser tento a escalada,
Qual morosa, tenaz, paciente lesma,
•
·
I
51) José Alb ano gra fou , nos livr os de 191 2, Ca nça m, Ca mo ens ,
coraçam, tam, sam, etc. Isto, porém, tanto pode ser tlm
significante característico · da dicção do poeta, como um
57.{)
recurso tipográfico, já que foram as obras editadas na
Espanha. Tendemos para a última hipótese pelo fato de,
na Antologia Poética de José Albano, publicada sob as
vistas do poeta, em 1918, já não figurar tal grafia. Lem
bre-se ainda, a propósito, que a forma Camoens é cas
telhana.
52) Antônio Sales. Prefácio não utilizado para as Rimas de
José Albano (ln Aspectos, Secretaria de Cultura do Ceará,
ano I, n9 1,1967, p. 150) .
53) Braga Montenegro. José Albano. Rio de Janeiro, Livra
ria Agir Editora, Coleção "Nossos Clássicos", n9 30,1958,
p. 12.
54) Exemplo da poesia de caráter científico, praticada pelo
poeta, é o soneto "As Dimensões do Espaço":
580
Que, estando em tua presença
'
Frase Errada
A Duas Amarras
Vi um médico tardado;
Que completo matador!
Quem escapar do soldado
Não escapa do doutor.
60) o poe ta dev eri a ter esc rito fra gas (es colhos, roc hed os),
e não fráguas (fornalhas). Lívio Barreto diversas vezes
fez o mesmo, o que nos levou a fazer um .comentário que
se ap lic a pe rfe ita me nt e a Carlos Go nd im : "Errou o Poe-
581
•
.
•
I •
•
582
64) Mário Linhares . Poetas Esquecidos. Rio de Janeiro, Pon
getti, 1938 , p. 263.
65) Agrippino Grieco. Evolução da Poesia Brasileira. Rio de
Janeiro, Ariel Editora Ltda., 1932, p. 259.
66) Artur Eduardo Benevides. "Apresentação de Filgueiras
Li ma." Poesias. Fortaleza, Editora Instituto do Ceará,
1966, p. 13. .
583
73) Moreira Ca,mpos. "Uma Excelente Novela", in Clã nQ 23�
janeiro de 1967, p. 134 (Otacílio Colares tratou do Doi3
de Ouros, em "Um Momento na Fic·ção do Ceará", in Clã
nQ 24, dezembro de 1968, pp. 92 a 98, em que estuda tam
bém o romance Nada · de Novo Sob o Sol, de Lúcia Fer
nandes Martins.)
584
•
'
585
•
BIBLIOGRAFIA SUMARIA
/
Clã, 1949.
587
--
�
- .r:.,---
--
•
•
Agir Editora, Ooleção Nossos Clássicos, 1959.
588
C A M POS, Sales . "O C
eará Literário" (de parceria com Antônio Sa
les), ln Almanaque do C
eará. Fortaleza, 1922.
Cancioneiro da Cidade de
Fortaleza (organizado por Artur Eduardo .
ed. , 1973.
CARVALHO, Rodrigues de
. "O Ceará Literário ((nestes últimos dez
anos)", ln Revista da Acadamia Cearense. Fortalez
a, t. IV,
1899.
589
------ "Um Livro que Declamei na Montanha", ln Aspecto.
n.0 2, da Secretaria de Cultura do CearA. Fortaleza, ano II,
1968. <Estudo sobre O Simas, de Pápl Júnior.)
-----
nior e outros.)
JUREM:A, Moacir. Retrospecto dos feitos da Padaria Espiritual, a
590
Poetas Esquecidos. Rio de Janeiro, Irmãos Pongetti -
Editores, 1938. (Estudos sobre Alva
ro Martins, Llvlo Barre
to, Rodrigues de Carvalho, Pe. Antônio To
más, Juvenal Ga·
leno, Alf . Castro, Carlos Gondlm, Otac111o
de Azevedo, Má
rio d a Silveira e outros.)
591
•
----- Correio Retardado II. Fortàl' eza, Publicação da Secre ·
-----
•
Evolução e Natureza do Conto Cearense. Fortaleza, Se- •
Cea�á� 1965." ·
•
·
l •
•
• •
• • • . •
o
..
.
NAVA, Pedro. Balão Cativo (memórias). . Rio de Janeiro, Livraria José
Olympio Editora, a.a ed.,. 1973. (Capítulo sobre Antônio Sales.)
•
• I
piritual.)
. .
592
•
SALES, Antônio. ��o Ceará Literário" Cde parceria com Sales Cam·
pos), in Almanaque do Ceará. Fortaleza, 1922.
----- ''História da Literatura Cearense", in GIRAO, Raimun
do e MARTINS FILHO, Antônio. O Ceará. Fortaleza, Edito
ra Fortaleza, 1939. (Figura nas outras edições, de 1945 e
1966, mas i-ncompleto.)
�� Prefácio" (não utilizado) para as Rimas de José Al
bano, in Aspectos n.0 1, da Secretaria de Cultura do Ceará.
Fortaleza, 1967.
593
-
• I
594
VALDIVINO, José. "A Comédia Angélica de José Albano" , ln Revista
da Aca demia Cearense de Letras. Fortaleza, ano LXV, n.o
30, 1961.
595
INDICE ALFABe:TICO E ANALITICO
. . . . . . 55-6
A minha 1rma - (p.t. ) . . . . . . . . . . . . � . . . . . . . . . 58-9
A minha Mãe habitante da morte (p.t. ) ... . 550-1
ABELARDO MONTENEGRO .. . ... . . . . . . . . . . 190
.A Academia Cearense ..................... 180-4
A Academia Cearense de Letras ............ 184-208
A Academia Francesa . .. . .. . . .
.
.
. . .. .. . . . . . . . 70-89
ADAUTO FERNANDES . . . · . . . . . . . . .. . . . . . . . . . 203
ADERBAL SALES . . . . .. . �· . . . . . . . . .
. . . . . . . . 190
Adeus ao Ceará (p.t.) ... . ... . . . . . . . . . . . . . 61-3
ADOLFO CAMINHA . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . .. . . . . . . . . . 113-9, 161'.
. ADONIAS LIMA .. . . ·. . . ...... .... . . . ...
. . . . . . .
200
Aeternum vale (s.t.) . . . .. . .. . . . . . . . . . . . . . . 312
Agonia (conto-trecho transe:) ............... 463
Aguaceiro (s.t. ) . . . . .. . . . .. . . . . . . . . . . . . . .. . .
95-6
.AI.F'REDO CASTRO . . ..
. . . . . . . .. . . . . . .. .. .• . ·. . . . 29 7-303
AIucinado (s.t. ) . . .
. . . . .. .
. . . . . . . .. . . . . . . .. . . . . . 276
ALUIZIO MEDEIROS . . ·. . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . 446-9
ÃLVARO BOMILCAR ..................... . 1 77-8
.ALVARO GURGEL DE ALENCAR" .. . ..
. . . .... . 181
ALVARO DIAS MARTINS ................. . 160, 174, 228-35�
. LVARO TEIXEffiA MENDES ..............
A 182
Amanhecer (haicai transe. ) • . . . .... . . . � . . . . . . 546
Amor eterno (p.t. ) . .. .. . . . .. . .. . . . . . . .. . . . . 254-5
AMORA MACI� . . .. .. . .
. .· . . . . . . . . . . . .. . . • . . 206
ANíBAL TEóF'ILO . . .. . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176
Ante o túmulo de minha irmã Gerei (p.t. ) .. 519-20
Antífona (s. t.) . .. . .. . .. . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . 318
.ANTONIO AUGUSTO DE VASCONCELOS ... 181
ANTONIO BEZERRA ..................... . 76-80, 1 62-3, 182'
.ANTONIO BRUNO BARBOSA .............. 178
.ANTONIO DRUMOND
•
..................... 200
ANTONIO DA CUNHA FON1'ENELE ........ 183
ANTONIO DE CASTRO VIDAL ............. 161
ANTONIO FIUZA DE PONTES .............. 177
ANTONIO F'URTADO .
. · . ·. . . ·. . . . . . . . . . . . . . . . 332-6
ANTONIO LUíS DR UMOND·DA'COSTA .... 181
ANTONIO MARTINS . . . . . . . . .
·. . ·. . . . . . . . . . . 83-9
ANTONIO SALES . . . .... . .
. . . . ·. . . . . . . . . . . . 133-40, 159, 287-96:
ANTONIO DE SAI.Eg CAMPOS . � . . . . . . . . . . . 205
.ANTONIO TABOSA BRAGA ............... . 202
ANTONIO TEDORICO DA· COSTA .. .... .. . . 183, 206
ANTONIO TOMAZ, (padre} ............... . 246-52
Ao aumenta da Vila de ·Fortale·za- (s.t. ) ... . 21-2
Ao 1uar (s.t. ) . . . . . . .. . .
. . . . .. . . . . . . . . . . . . . 218'
Aos heróis Lus'Anglos (fragmento) (ode
transe.) . .. ... .
. . . . ·. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24-5
.A Aranha (s.t. ) .. .. .. . . ..
. . . . . . . . . . . . . . . . . . 232-3
·- .
..
..
.
ARARIPE JúNIOR ... . · . . . . . . . . . . . . . . . . . . ·. · .
70-4
Arrebatamento (halcai transe.) ........... . 546
Artista (s,t,) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . · · · · · · · · · 399 -400
•
•
I'
Balada (p. t. ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . • 868-9
Balada do cearense (p. t. ) ·• • • • . . . . . . . . . . . . . • 412-3
Balada do vento canção (p.t.) .............. . 562-4
Banabuiú (prosa transe .) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 353-5
o banco do jardim (p. t. > . • • . • • . • • • . • • . • • • • 548
Barbarola (p.t.) ......................... . 468-70 •
BARR,OS PINHO . . . . . . . . . . . . . . . •- .. .
.
. . . . . . . . . 552-4
BARROSO GOMES ....................... . 545-7
O beato (p . t.) . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . ." . . . . . �20-1
Beijo na treva (s. t.) . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . 343
BENED I'DO FAÇANHA SIDOU . . . . . . . . . . . . . . 181
BE� �A���]E[O . . . . . . . . . . • . . • . . . . •
•
• • . • • • • 329-32
Bibliografia sumária • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 587-95
A Bomba (p. t.) · . . ... . ...... . . . . . . . . . . . . . . . 553
ROMFIM SOBRINliO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . • 175, 235-8
Borrasca (s.t. ) .. . . . . . . . . . . . . . .· . . . . . . . . . . . . 222
Os braços de meu Pai (prosa transe.) 501-3
,.
�
. . . . . .
�4
ns braços de Venus (s. t.) . . . . . . . . . . . . . . . • • . 290-1 ·-
-
.
.
.
• • • • • • • • • • • • • • •
359-62
CAEUL� GC>�� . . . . . • . . . . . � . • . . . . . . . . • • • .
�?3-9
CARLOS STUDART F'JI.HO . . . . . . . . ... . . . . . .
195
CARL YLE MARTINS . . . . . . . . . . . . . . . . : • • ·. . •
· 194, 348-62
Carro de bois (s. t.) · . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . 344
CARVALHO LIMA . . . . . .. . . . . . . . .
·
. . . . • . . • • • • • 202
Casa de Juvenal Galeno . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . .
374-7
Casa mal assombrada (s.t. > �. . . . . . . . . . . . . . . 230-2 •
I
•
. . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . ·. . 299�300
- I �� Ja..
. . . . 416-'8
Gaatão Justa . .. . . . . . . . .. . . . . . . .. . . . . . . . . .. .. . . .
204
GIRA. O BARROSO . . . • . • • • • • • • •
.
• •• • • •
. . o •
• • • • • 193, '439-�
� grous (s. t.) , . . . . . .. . .
..
. . ..
.. . . . .. . . . � .. ,. . . . . . . 312-3
O Grupo Clã . . . . • • • • • • • •• • • • •• • • • • •
. . . . . .. . . o
427-500
' •·
. . ·
. . . .. . · · · · ·� · • . . .. . . . . . . . 140-5
. HEITOR MARÇAL . . . . . . . ...··. .. . • ... .. •. . • • .
. . . . . . . . . . .
407-10
•
Hecatombe (p . t. ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . 532-4
HENRIQUE JORGE .... 8" •• • .• • ,
,
160 • • • • • • • • • • • • • •
•
.
145-50
O l1omem, o computador e o novo edipo (p.t.) 561-2
Homenagem (p. t. ) . . . .... . .. , . . .......... ... 525-6 .· .
HORACIO DIDIMO . . . . . . . . . . . . . . . ·. . . . . .
·
. 547-9
. .
.
HUGO CATUNDA . � � . . . � � .. . . .
. . . . .. . .. . . 197 . � � .
I .F. (s.t.) . . . . . . . .
. . .. . . . . . . ..
. . . . . 341
. . . . ·. · . .
Invictus (s. t. } . . . .. .. . . . . . . . .
. . . .. . 246-7 . . . . . ·. .
Jacarecanga ( s t ) . . . . . . . . 311-2
. . . . . . . . . . . . . . .
·
. . .
A Jangada (s.t. ) . . . . . . . . .
. 321
. � . . . . � . . . . . . . . . . .
A Jangada (q . t. ) . . . . . . .
40-1
. ·. . . . . . . . . . . . . . . . . .
JOAQUIM DE SOUSA . .
'54-70
. . . . . . . . . . . . . .... ·• . . .
O jogral (s . t. ) . . . . .. . . .. . . . .
468 . . . . . . . . . . . . . .
JOSÉ CARVALHO . . . . . . .
163
. . . . . . . . . • • • . • . . • •
.JOSÉ DE ALENCAR . . . . . .
43-54
. . . • . • . • • • • • • • • • • •
196-7
,.
JOVINO GUEDES .
15 9
. . . . . . . . . . . . . . • · · · · · · · · ·
.Jr11:lr�O IBJI:��I�� . .
201
. . . . . . . • . . � . . . . . . . • . . • . .
Lágrimas (s.t.) . . . . .
215 . . .. . . . . . . . . . . . . . . · · · · · ·
LINirARES F'II.HO . .
549-52 . . . . . . . . . . . . . . . . . • • . . . .
Loiros (s.t.) . ..
. . . . .334 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
MISAEL GOMES . . .
191-2
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . .
MODERNISMO . . • .
379-427
• . • • • • • . . • • • . . . • • • • . • • •
Modernismo (p.t. ) . . . .
380 . . . . . . . . . . . . . . . . . . .' .
MON1'E ARRAIS . . .
206• . • . • . . . . . . . . . . . . . . . . . .
•
•
'Notumo (s . t. ) . . . .
. . . . .
. . . . . . . . . .. . . . . .. . . . . . . 326-7
Os novos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. .. . . . 539-73
Nublado (s . t . ) . . . . . .
. . ... . . .. . . . . . . . . . .. .. . .. . H . .. . 243-44
Ode à 11ngua portuguesa (p. t.) .. . . . . . . . . . 263-5
Os Oiteiros . . .. . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19-26
A Oit1cica (prosa transe.) . . . .. . . . . . . . . . . . . . 356
Olhos (s t.) . .. . . . . . .
. . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . 365
OLIVEIRA PAIVA . . .. . . . . .. . . . . . . . .. . . . ... . 106-13
As ondas (s.t . ) .. . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . 326
Operação coroada de êxito (conto transe.) .. 565-7
Orfeu ( s t. ) . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 324-5
OTACtLIO DE AZEV!E!D O ..... . . . . . . . ... . .. . 194, 342-8
OTACfLIO COLARES . . . . .. . . . . . . . . . .... . . . . . 196, 467-71
ai'AVI. O LOBO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .... ... . . �55-9
Outros nomes . . . . . . . .. . . . . . . . ... . . . . ... . . . . 538-9
Outros nomes (Academia C. de Letras) ..... . 208
Outros nomes (Academia Francesa) ....... .
89
Outros nomes (Modernismo) ............... .
O Stmas (enredo) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.
. . . .
120-5
SIMBOLISMO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . 208
Só < p .. t. ). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57-8
SOARES BULCAO .. . . !' . . . • • • • • • • • • • • • • • • • •
177, 256-60
Sobre um prelúdio (p.t.) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 371-2
O solar dos heróis (p.t.) .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . 390
A solução (p.t. ) . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 548
Sombras (p.t.) . . . . .. .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 559
Soneto (transe. "Alegrai-vos.. . " ) .. . . . . . . . . . . 20
Soneto a realidade (trans.) . . . . . . . . . . . . . . . . 523
Soneto em tons menores <transe.) . . . . . . . . . . 469
Soneto póstumo ( S1 t.) . . .... . . • . . . . . . � . . ,. . . . . 400-1
Soneto suplicante (transe.) ! • • • • • • • • • • • • • • • 551
Soneto 1 : Poeta fui... (transe.) . . . . . . . . . . . . 267
Soneto 2: ·�Para o Chafariz.. . " (transe.) .. . . 20
Soneto II: Ditoso quem... (transe.) ... .. .. . 267-8
Soneto 8: Ao simento da vila de Fortaleza
(transe.) ............................. . 21
Soneto IV: Ma · ta-me puro... (transe.) ..... .
•
268
Soneto X: Se amar é... (transv.) ... . ... . . 268-9
O sono do coração (p.t.') . . .. . . . . . . . . . . . . . . 218-9
Sono e sonho (p.t.) . . . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . .
510-1
Spes única (p.t.) : . . . . . . . . . . . • . . . . . . . . . . . . . .
244
Suave encantamento (p.t.) ............. ... . . 389
Súbita elegia (p.t.) . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
459
Sugestão Beethoven . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
304
A Taça de Meneleu (p.t.) : . . " . . . . . . . . . . . . . . .
291-1
Talvez nunca pudesse ter sido (p.t.) . .. . . . . . . 548 •
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... 3.
.
:::.
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SUMÁRIO
Prefácio/13
NEOCI.ASSICISM0/19-26
Os Oiteiros/19-26
ROMANTISM0/27-89
R.EALISM0/90-208
O Clube Literário/90-3
A Padaria Espiritual/151-67
O Centro Literário/167-80
A Academia Cearense/180-4
SlMBOLISM0/208-21
VARIAS TEND�NCIAS/221-86
PARNASIANISM0/287-363
PRÉ-MODERNISM.0/365-73
MODERNISM0/379-427
O Grupo Clã/427-500
Outras Figuras/500-38
Os Novos/539-73
Notas/575-85
•
Bibliografia Sumária/587-95
tndice/597
•
597