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Resenha – O Morro dos Ventos Uivantes

O Morro dos Ventos Uivantes foi o primeiro e único romance da escritora Emily Brontë,
lançado originalmente em 1847 pela editora Thomas Cautley Newby e é até hoje considerado
um dos maiores clássicos literatura inglesa possuindo diversas adaptações cinematográficas.
A edição que será citada nesta resenha é a edição bilíngue português-inglês da editora
Landmark, a primeira coisa que fica evidente nesta versão para aqueles que possuem fluência
em ambos os idiomas é que a parte em inglês é de fato escrita com a gramática da época em
que foi lançado, com a parte em inglês acontece o mesmo e apesar de se tratar de uma
experiência interessante acaba se tornando um tanto maçante para as gerações mais novas.
O livro é citado na obra de Stephenie Meyer como o livro que a protagonista Bella Swan está
lendo durante a trama e foi assim que tomei conhecimento de sua existência, mas como
citado no parágrafo acima, acredito que O Morro dos Ventos Uivantes não se trata de uma
obra para gerações muito novas, pois exige um pouco mais da capacidade de interpretação
por conta da gramatica antiga.
Cronologicamente, a história começa quando o patriarca da família Earnshaw volta de
viagem trazendo consigo um menino órfão para O Morro dos Ventos Uivantes, propriedaden
onde moram. Inicialmente, seus filhos ficam com ciúmes da atenção dedicada ao garoto (e até
mesmo o destratam de alguma forma), mas logo sua filha, Catherine, cria um forte vínculo
com o menino Heathcliff. Seu primogênito, Hindley, no entanto nunca deixou de repudiar o
menino e uma vez que se torna o administrador da herança da família com a morte de seus
pais, passa a humilhar e subjugar Heathcliff à condição de um empregado na propriedade.
Mas ao abrir o livro a narração segue a seguinte cronologia: Um novo inquilino chega à
fazenda Morro dos ventos uivantes com o propósito de alugar a propriedade vizinha, Granja
dos Tordos, para se afastar do tumulto da cidade e ao ser obrigado a ficar algumas horas na
propriedade por conta da neve começa a descobrir diversas coisas sobre a família que vive
isolada entre essas fazendas em algum lugar ao norte no interior da Inglaterra. O inquilino, já
acordado com o proprietário dos dois domínios, o Sr. Heathcliff, e instalado em sua nova
morada, ao conhecer essas pessoas arrogantes se interessa pela história da propriedade e pelo
passado da família, pedindo para a governanta que lhe conte o máximo de histórias e
detalhes.
De modo semelhante a Grande sertão: veredas, guardadas devidas proporções, nesta obra
também há um narrador-personagem responsável por conduzir-nos às turbulentas relações
passadas daquelas pessoas. A governanta da Granja dos Tordos, Ellen Dean, reconta todos os
pormenores de uma história que se revela cada vez mais, conforme imergimos, moral e
emocionalmente degradante. A narração é feita por um narrador personagem e essa estrutura
narrativa condiciona o leitor à mesma ignorância do inquilino que quer ser ouvinte, deixando
o público cheio de dúvidas, uma vez que o próprio personagem não sabe todas as
informações de forma correta e completa.
Aqui se antecipa a relação turbulenta de Heathcliff e Catherine que servirá como um impulso
para toda a confusão que se segue em função de sentimentos destrutivos do ser humano,
como o ódio de Hindley que só cresceu com o tempo e foi um dos percussores para afastar o
casal e fazer com que Catherine se case com Edgar Linton, por conta disso Heathcliff clama
por vingança uma vez que Linton roubou sua amada, mas o mesmo tem um filho com outra
mulher o que enche a trama de hipocrisias e tensão essa, aliás, muito bem trabalhada pela
autora.
Apesar de ser vendido como uma história de amor interrompida, a obra não se abate e vai
além; problematiza as relações tóxicas e hostis com as quais nos deparamos ao longo da vida,
concluindo a respeito da natureza humana em conflito com as eventualidades de relações
abusivas. Se trata de um clássico que se vale a pena reler.

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