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Henry James
RESUMO E ANÁLISE
A OUTRA VOLTA DO PARAFUSO
VISÃO GERAL
Henry James publicou sua novela The Turn of the Screw (A Outra Volta do
Parafuso) em 1898. Embora o próprio James tenha chamado sua história de
fantasmas de potboiler (ou seja, uma obra de pouca qualidade feita às pressas apenas
para ganhar dinheiro), os críticos literários argumentam que ela é um estudo
complexo da psicologia do narrador.
RESUMO DO ENREDO
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Certa tarde, enquanto estava sentada à beira do lago com Flora, a governanta viu a
aparição de uma mulher de preto e concluiu imediatamente que se tratava da Srta.
Jessel. Além disso, como Flora ignorou a aparição, a governanta se convence de que
as crianças estão se comunicando clandestinamente com os fantasmas. Após concluir
que Quint e a Srta. Jessel voltaram dos mortos para continuar a corromper as
crianças, a governanta decide proteger seus pupilos e salvar suas almas inocentes da
possessão dos demônios.
Ela confidencia tudo à Sra. Grose, e a caseira, atônita, promete apoiar a batalha da
governanta contra o mal.
Determinada a ter sucesso com Miles onde havia fracassado com Flora, a governanta
acredita que pode salvar a alma dele ao obter uma confissão sobre suas transgressões
na escola. Ela pergunta diretamente a ele sobre o assunto, mas antes que ele possa
responder, o rosto de Quint aparece novamente na janela. Virando Miles
rapidamente para ela, a governanta o pressiona para obter uma resposta até que ele
finalmente confessa que havia dito "coisas" aos colegas de classe. Ela fica feliz com
essa demonstração de lealdade a ela, considerando-a um repúdio a Quint, e abraça o
garoto, mas descobre que seu coração havia parado.
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RESUMO DO PRÓLOGO
A novela começa em uma véspera de Natal na última década do século XIX, cerca de
50 anos após os eventos da história principal. Em uma casa antiga, um grupo se
reuniu junto à lareira para contar histórias de fantasmas. Entre os participantes está
o narrador do prólogo, cuja identidade permanece desconhecida. A história de um
garoto assombrado por espíritos acaba de terminar e alguém comenta que essas
histórias raramente apresentam crianças. Isso faz com que um homem chamado
Douglas diga: "Se a criança dá ao fenômeno outra volta no parafuso, o que me diriam
de duas crianças?”. Na sala ecoam pedidos para ouvir a história. Embora Douglas
inicialmente tenha se recusado, dizendo: "É horrível demais", ele finalmente cede.
No entanto, ele não pode aliviar imediatamente o suspense de seu público, pois
precisa primeiro mandar buscar o manuscrito da história, que está em sua casa na
cidade.
O manuscrito, existente "em tinta velha e desbotada", foi escrito por uma mulher que
Douglas conheceu quando era estudante universitário, durante um feriado em casa.
Ela era a governanta de sua irmã e dez anos mais velha que Douglas, mas eles se
afeiçoaram um ao outro e passaram horas juntos, caminhando e conversando. Ela
acabou confidenciando a ele uma história sobre seu primeiro cargo como governanta,
que assumiu aos 20 anos de idade, depois de deixar o vilarejo onde cresceu como
filha de um pastor. Ao chegar a Londres, ela respondeu a um anúncio de emprego.
Quando se encontrou com seu possível empregador, descobriu que ele era um belo
cavalheiro, "uma figura que nunca havia aparecido diante dela, exceto em um
sonho". Ele estava procurando uma senhora para educar sua sobrinha e seu sobrinho
órfãos, que moravam em sua casa de campo, Bly. A governanta anterior morreu, e a
caseira, Sra. Grose, estava cuidando deles enquanto isso. Se ela aceitasse o cargo de
governanta, teria "autoridade suprema" sobre as crianças, mas "jamais deveria
incomodá-lo" ou contatá-lo sobre qualquer assunto. Embora ela tenha sentido algo
inquietante na proposta, o cavalheiro expressou tanta gratidão por ela e seus
encantos a seduziram tanto que ela aceitou, contra seu bom senso.
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RESUMO DO CAPÍTULO 1
A governanta fica ansiosa ao viajar de carruagem pelo campo para assumir seu papel
em Bly, mas suas dúvidas são aliviadas quando ela vê a extensa propriedade. De
dentro de grandes janelas voltadas para a estrada, criadas curiosas observam a nova
governanta descer da carruagem. A caseira, Sra. Grose (uma mulher mais velha), fica
na porta com uma das crianças que serão cuidadas pela governanta, uma linda
menina chamada Flora. Embora a governanta houvesse temido que ela e a caseira
não se dariam bem, a caseira pareceu tão feliz em vê-la que a governanta concluiu
que elas seriam boas amigas. Além disso, a beleza sobrenatural de Flora dissipa suas
dúvidas sobre sua própria capacidade de cuidar de crianças pequenas. Ela comenta
que "não poderia haver desconforto em relação a algo tão belo quanto a imagem
radiante da minha menininha". O irmão mais velho de Flora, Miles, de 10 anos,
estava naquele momento em um colégio interno, mas voltaria em dois dias para as
férias de verão. Depois que a Sra. Grose garante à governanta que Miles também é
tão angelical que ela ficará deslumbrada por ele, a governanta admite que havia sido
deslumbrada em Londres pelo tio do menino.
RESUMO DO CAPÍTULO 2
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Na manhã seguinte, dúvidas incômodas sobre a governanta anterior das crianças - e
as circunstâncias de sua morte - obrigam a governanta a procurar a Sra. Grose
novamente. A caseira compara a governanta com sua antecessora, dizendo que ela é
igualmente jovem e bonita e observando que "era assim que ele gostava que fossem
todas". Essas últimas palavras deixam a governanta perplexa, pois parecem se referir
não ao tio das crianças, mas a outro homem desconhecido. No entanto, ela ignora
esse comentário estranho, pois está ansiosa para saber sobre a morte de sua
antecessora. De acordo com a Sra. Grose, a antiga governanta deixou Bly para passar
umas férias curtas em casa, depois de um ano de serviço. Embora a Sra. Grose
esperasse que ela retornasse a Bly, ela nunca o fez. O tio das crianças acabou dando a
notícia da morte da jovem, mas não os detalhes.
RESUMO DO CAPÍTULO 3
Quando a governanta chega à parada da carruagem para buscar Miles, ele está
esperando por ela. Sua incrível beleza extingue qualquer dúvida sobre sua bondade, e
a governanta declara: "Eu o vi na hora, por fora e por dentro, com o grande brilho de
frescor, a mesma fragrância positiva de pureza, na qual eu tinha visto sua irmãzinha
desde o primeiro momento". Quando chegam novamente a Bly, a governanta já está
indignada com as acusações claramente falsas que se escondem por trás da carta do
diretor. Ela decide ignorar completamente a carta e não discutir seu conteúdo com
ninguém, inclusive Miles.
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ANÁLISE DO PRÓLOGO-CAPÍTULO 3
Quando A Outra Volta do Parafuso foi publicada pela primeira vez em 1898, e por
várias décadas depois, os resenhistas e críticos dispensaram qualquer consideração
sobre o Prólogo da novela, concentrando sua atenção na história da governanta,
conforme ela a conta. Críticos posteriores reconheceram que, além do valor dos
"fatos" que ele fornece, o Prólogo é rico em pistas sobre como os leitores devem
interpretar a história que se segue. Alguns críticos argumentaram que, desde seu
ambiente aconchegante até seu jogo exagerado de suspense, o Prólogo parodia as
convenções da narrativa e da ficção, sinalizando, assim, que o conto que está por vir
foi criado para cativar e emocionar sem levar em conta a realidade. Embora a novela
apresente elementos clássicos de histórias de fantasmas, ela também se envolve com
outras tradições narrativas. As convenções do romance gótico já estavam bem
estabelecidas no final do século XIX e, invariavelmente, incluíam uma velha mansão
em um local isolado no campo e uma atmosfera de pavor agourento. A governanta se
encontra em um cenário como esse em Bly. Imediatamente após ver o homem na
torre, a governanta se pergunta: "Haveria algum segredo em Bly - um mistério de
Udolpho ou um parente louco [...] mantido em um confinamento insuspeito?".
Assim, ela se imagina envolvida em um romance gótico, como Os Mistérios de
Udolpho (1794), de Ann Radcliffe, ou Jane Eyre (1847), de Charlotte Brontë.
Se alguns críticos argumentam que o Prólogo prepara o palco para o puro artifício e
entretenimento da "história de fantasmas" propriamente dita, outros afirmam que
ele funciona para desestabilizar a compreensão da história como sendo apenas uma
história de fantasmas ou apenas entretenimento. Esses críticos afirmam que a
narrativa principal não é confiável, tanto porque a incerteza assombra o relato da
governanta quanto porque vários deslocamentos narrativos afastam o leitor dos
eventos originais da história. A governanta não conta sua história no momento em
que ela acontece. Ela a registra como um livro de memórias anos, possivelmente
décadas, depois. Embora esse longo intervalo possa levantar dúvidas sobre a
exatidão de suas memórias, a governanta interrompe repetidamente sua narrativa
para sugerir que, com o benefício da retrospecção, ela agora entende sua experiência
mais claramente do que na época. No entanto, ao reconhecer formas alternativas de
perceber os eventos originais da história, a governanta pode obscurecer a verdade
mais do que esclarecê-la.
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as omissões, evasões, repressões e distorções que podem confundir o texto. A novela
de James pode ser o que parece - uma fantástica história de fantasmas - ou pode ser
a manifestação de agendas e desejos ocultos.
Essas três primeiras seções também sugerem uma discrepância entre as aparências
inocentes e a realidade em relação a Miles, de 10 anos. Os ideais cristãos informam a
descrição que a governanta faz das duas crianças, refletindo sua educação como filha
de um pastor. Ela fica maravilhada com a "beleza angelical" de Flora, decidindo que
"não poderia haver desconforto em uma conexão com algo tão belo quanto a imagem
radiante" da garotinha. Da mesma forma, a governanta fica maravilhada com a
incrível beleza de Miles e afirma que ele tem "a mesma fragrância positiva de pureza,
na qual eu tinha visto sua irmãzinha desde o primeiro momento". Associando pura
inocência a essa beleza, a jovem governanta desacredita as insinuações do
mestre-escola sobre a maldade de Miles, mas seu “eu” mais velho - o narrador da
história - adverte que "era uma armadilha". A ambiguidade e a dúvida logo
confundirão as suposições fáceis sobre beleza, inocência, infância e corrupção.
RESUMO DO CAPÍTULO 4
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RESUMO DO CAPÍTULO 5
Incapaz de esconder seu alarme, a governanta agora conta à Sra. Grose sobre o
intruso. Ela descreve o homem como "um horror", mas, a pedido da Sra. Grose,
fornece uma imagem mais detalhada: "Ele tem cabelos vermelhos, muito vermelhos,
bem encaracolados, e um rosto pálido, [...] e bigodes bastante estranhos que são tão
vermelhos quanto seus cabelos". Ao ouvir essa descrição, a Sra. Grose fica ruborizada
e diz que ela se encaixa em Peter Quint, que serviu como empregado pessoal do tio
das crianças quando este residia em Bly. Depois que o tio se mudou para Londres,
Quint permaneceu e ficou "no comando". A governanta pergunta o que aconteceu
com Quint, e a Sra. Grose declara: "O Sr. Quint morreu".
RESUMO DO CAPÍTULO 6
Em uma tarde, a governanta e Flora vão até ao lago sem Miles. Enquanto Flora
brinca perto da água, a governanta volta sua atenção para seu trabalho de bordado,
mas logo percebe que alguém as está observando do outro lado do lago. A governanta
olha fixamente para seu trabalho, com medo de levantar os olhos, mas finalmente
consegue olhar para Flora. A garota está construindo um barco de costas para o lago.
Por alguns instantes, a governanta fixa os olhos em Flora enquanto ela reúne
coragem, depois direciona seu olhar para o outro lado do lago.
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RESUMO DO CAPÍTULO 7
Depois disso, a governanta procura a Sra. Grose para compartilhar seu desespero e
sua recém-descoberta compreensão de um horror ainda maior: Flora está bem ciente
da aparição horripilante e não quer que a governanta saiba disso. A governanta
explica que outro fantasma apareceu para elas no lago, mas dessa vez "uma mulher
de preto, pálida e terrível". O fantasma fixou seu olhar terrível em Flora, sinalizando
claramente seu desejo de "tomá-la". O fato de Flora conhecer e aceitar as intenções
da mulher fantasmagórica é, como diz a governanta, "monstruoso demais".
A governanta não havia chegado a conhecer sua antecessora, a Srta. Jessel, mas tem
certeza de que o espírito no lago era o da antiga governanta. A Sra. Grose admite que
a Srta. Jessel ficou mal-afamada por sua ligação com Peter Quint. Embora fosse uma
dama, ela permitiu que Quint a rebaixasse com sua depravação, e eles "faziam o que
[...] desejavam" um com o outro. Quando a governanta sugere que a devassidão da
Srta. Jessel pode ter ocasionado sua partida - e até mesmo sua morte -, a Sra. Grose
permanece evasiva, mas concorda que a situação era terrível. A governanta é
dominada por um sentimento de derrota e chora ao dizer que não pode "salvar ou
proteger" as crianças, pois elas já estão corrompidas.
RESUMO DO CAPÍTULO 8
Mais tarde naquela noite, a governanta e a Sra. Grose se reúnem na sala de aula para
conversar sobre os acontecimentos do dia. A governanta reafirma sua convicção de
que Flora percebeu a presença da Srta. Jessel no lago, estava em "comunhão" com o
diabólico e havia feito disso um hábito. Embora a Sra. Grose não mostrasse sinais de
duvidar de seu relato, a governanta ressalta que, se ela tivesse fabricado todo o caso,
não poderia ter produzido descrições que correspondessem às de Peter Quint e da
Srta. Jessel.
A análise minuciosa da governanta sobre sua experiência no lago a prepara para fazer
à caseira uma pergunta que a assombra: "O que você tinha em mente quando, [...]
antes de Miles voltar, [...] me disse não poder afirmar que ele jamais fizera algo de
mal?". A Sra. Grose revela que, quando Quint estava em Bly, Miles era seu
companheiro constante por vários meses. Mesmo depois que a caseira repreendeu o
garoto por se relacionar com um reles empregado, ele continuou a desaparecer com
Quint por horas e depois mentiu sobre isso. Além disso, Miles despudoradamente
disse à Sra. Grose que, se Quint era um reles empregado, ela também o era. A Srta.
Jessel, por sua vez, não fez nada para impedir as farras de Miles com Quint, pois isso
permitiu que ela ficasse sozinha com Flora.
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ANÁLISE DOS CAPÍTULOS 4 A 8
Esse grupo de capítulos demonstra a confusão que a governanta faz entre beleza e
inocência, introduzindo a influência corruptora da sexualidade. Mais uma vez, o
relato da governanta soa com tons cristãos. Se as crianças de Bly se parecem com
Adão e Eva como inocentes no Jardim do Éden, então Quint é o ator de má-fé que
polui a pureza delas ao revelar um inominável conhecimento carnal. Os estudiosos de
James observaram que a aparência de Quint o codifica como maligno, especialmente
seu cabelo vermelho, que é uma característica comumente associada a Satanás. A
governanta abraça corajosamente seu papel de guardiã da inocência. Chamada para
"salvar" as crianças do pecado, ela se compromete com um autossacrifício
semelhante ao do Messias "aceitando, convidando" o mal sobre si mesma e "servindo
como uma vítima expiatória". No capítulo 7, entretanto, a governanta se desespera
com o fato de Flora estar perdida, condenada. Como seu protótipo bíblico (Eva),
Flora é uma participante voluntária de sua própria corrupção, aceitando as atenções
dos demônios mal-intencionados.
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estava. Foi o que fiz; encostei meu rosto na vidraça e olhei, como ele havia olhado,
para dentro da sala". Quando a Sra. Grose entra no quarto e fica vermelha de medo, a
governanta assume efetivamente o papel de Peter Quint e se torna o que ela teme.
Por meio dessa duplicação, a narrativa identifica a governanta com os fantasmas,
sugerindo que eles podem ser projeções de suas apreensões sexuais subconscientes.
Entretanto, logo após essa segunda aparição de Quint, a governanta se distancia das
aparições e de seus propósitos. Ela diz à Sra. Grose que Quint "estava procurando
pelo pequeno Miles. [...] Era isso que ele estava procurando". Ela não consegue
explicar como chegou a essa conclusão, deixando em aberto a possibilidade de estar
deslocando seus próprios desejos sexuais reprimidos para os fantasmas e as crianças.
RESUMO DO CAPÍTULO 9
A governanta aceita que seu único curso de ação é observar as crianças em busca de
sinais reveladores e esperar pelo próximo incidente. Ela se preocupa com a
possibilidade de as crianças perceberem uma mudança nela, mesmo quando o
próprio comportamento encantador delas se torna visivelmente exagerado. Mais
ansiosos do que nunca para agradá-la e entretê-la, eles ficam continuamente
"contando histórias, encenando charadas, vestindo disfarces, [...] e, acima de tudo,
surpreendendo-a" com sua esperteza. A governanta permite que a doçura deles
acalme seus medos, sabendo muito bem que seu alívio do pavor não durará muito.
Ao longo da história, a governanta destaca seu papel de narradora, como faz agora
quando admite: "Descobri que realmente me retraio; mas preciso dar meu mergulho
horrível" e continuar "o registro do que foi horrível em Bly". Assim, ela revisita a
noite em que, enquanto lia à luz de velas enquanto o resto de Bly dormia, sucumbiu a
um impulso irresistível de sair de seu quarto. Com a vela na mão, ela passa pela cama
de Flora, posicionada perto da sua, sai do quarto e se aproxima da grande janela
perto da escada. Assim que a vela se apaga, ela percebe uma figura subindo as
escadas. Ela sabe que é Quint, mas não sente terror e o encara com uma ousadia
inesperada. Por longos momentos, eles se olham em silêncio e, em seguida, como se
o próprio silêncio fosse "um atestado da força [... da governanta]", o espectro de
Quint desce a escada e desaparece.
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RESUMO DO CAPÍTULO 10
Quando a governanta finalmente retorna ao seu quarto, ela se detém ao ver a cama
vazia de Flora. No entanto, seu alarme diminui rapidamente quando Flora sai de trás
da cortina e repreende a governanta por deixá-la sozinha à noite. Incapaz de se
explicar, a governanta pergunta se Flora viu alguém enquanto olhava pela janela. A
menina nega, mas a Governanta tem certeza de que ela está mentindo.
Depois de mais de uma semana de vigílias noturnas, a governanta cede ao sono, mas
acorda à uma hora da manhã. Flora está novamente na janela e, convencida de que a
garota está se comunicando com alguém no gramado, a governanta sai do quarto sem
ser notada. Um cálculo rápido lhe garante que uma janela na torre proporcionará a
mesma vista que a janela de seu próprio quarto. Ela se dirige à câmara e abre as
cortinas. À luz da lua, ela vê uma pequena figura e fica desalentada ao perceber que é
Miles. Ele está olhando atentamente em direção à governanta, mas acima dela, não
deixando dúvidas de que "havia uma pessoa na torre".
RESUMO DO CAPÍTULO 11
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RESUMO DO CAPÍTULO 12
Como a Sra. Grose responde à sua narrativa com menos consternação do que ela
pareceria merecer, a governanta acrescenta mais um detalhe que, segundo ela,
"realmente resolve a questão". Pouco antes de sair de seu quarto, Miles lhe disse:
"Pense, você sabe, o que eu poderia fazer!". Essas palavras aludiram às transgressões
do garoto na escola e, antes disso, com Peter Quint. Olhando para Miles e Flora no
gramado, a governanta declara que, embora pareçam estar lendo um livro juntos, na
verdade estão falando sobre Quint e a Srta. Jessel. As crianças parecem
anormalmente belas e boas, mas isso é uma farsa fantástica que esconde sua
verdadeira lealdade à dupla depravada que as ensinou a praticar a maldade. Quando
a governanta conclui que Quint e a Srta. Jessel "querem pegá-las", a caseira,
perplexa, pergunta: "Mas para quê?". A governanta tem uma resposta pronta: "Por
amor a todo o mal que, naqueles dias terríveis, a dupla colocou neles. E para
continuar a alimentá-los com esse mal, para manter o trabalho dos demônios".
RESUMO DO CAPÍTULO 13
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Nesse momento, as crianças de repente enchem a governanta de beijos e começam a
falar sobre o tio.
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as crianças, mas evitam detalhar as transgressões às quais fazem alusão. Quanto às
aparições de Quint e da Srta. Jessel, elas oscilam entre a presença e a ausência - entre
a realidade e a ilusão -, principalmente depois que a governanta aparentemente
perde seu poder de clarividência para vê-las. Embora ela diga que a estranha
sensação de quietude no ambiente agora a avisa quando os demônios estão
presentes, essa afirmação é muito tênue para não levantar dúvidas.
RESUMO DO CAPÍTULO 14
Os membros da mansão Bly estão caminhando para a igreja em uma manhã fresca de
domingo. A Sra. Grose segura a mão de Flora e, um pouco atrás deles, a governanta
caminha com Miles. Sem aviso prévio, Miles lhe diz: "Olhe aqui, minha querida, [...]
quando vou voltar para a escola, por favor?". Há muito tempo a governanta teme
essa pergunta, e ela a faz parar. Antes que a governanta possa responder, Miles
observa que um sujeito como ele precisa da companhia de seu próprio sexo. Ele
então a desafia a dizer que ele não tem sido bom, o que ela faz, lembrando-o da noite
no gramado. Encarando essa indiscrição, Miles diz que foi apenas para mostrar que
ele pode ser ruim, mas, garante a ela, ele é capaz de coisas muito piores. Com essa
ameaça pairando entre eles, Miles pergunta novamente quando ele voltará para a
escola. A governanta hesita, oferecendo respostas evasivas, até que Miles pergunta se
o tio sabe que ele não está na escola. Quando ela murmura que o tio realmente não se
importa, Miles diz que ele mesmo fará uma petição ao seu tutor e entra na igreja.
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RESUMO DO CAPÍTULO 15
RESUMO DO CAPÍTULO 16
RESUMO DO CAPÍTULO 17
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então observa a estranheza de ele nunca ter falado sobre seus dias de escola. Como
ele nunca havia mencionado a escola, ela supôs que ele estava satisfeito em
permanecer em Bly.
RESUMO DO CAPÍTULO 18
Na manhã seguinte, a governanta acena com a cabeça quando a Sra. Grose pergunta
se ela escreveu para o tio das crianças, mas ela não admite que não enviou a carta. As
crianças a surpreendem com seu brilhantismo durante as aulas da manhã e, depois
do almoço, Miles a convida para ouvir enquanto ele toca piano na sala de aula. A
música é tão envolvente que a governanta imagina ter adormecido, mas depois se
levanta com um sobressalto. Ela se esqueceu de Flora e não faz ideia de onde a garota
está. Deixando para trás Miles, que começou a cantar, a governanta corre para o
quarto da Sra. Grose, certa de que a garota está com ela. Mas ela não está. Depois de
constatar que Flora não está em nenhum lugar da casa, a governanta tem certeza de
que ela está com a Srta. Jessel. Ela diz à caseira que Miles a distraiu deliberadamente
para permitir que sua irmã saísse sem ser notada. Ao sair correndo pela porta, a
governanta deixa sua carta sobre a mesa, para ser postada. A Sra. Grose fica na porta,
relutante em se aventurar no tempo cinzento, mas depois segue a governanta para
procurar Flora.
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poder devido ao seu "sexo e situação", a governanta não tem, pelos mesmos motivos.
Como uma mulher inglesa na era vitoriana, seu direito à independência já havia sido
restringido; mas como filha de um pároco pobre, a governanta não pode reivindicar
independência ou autoridade verdadeira. Assim, ela se atrapalha quando Miles faz
valer sua vontade, admitindo que "se sentiu impotente". O garoto declara seu desejo
de voltar à escola e mantém o comando da conversa que se segue, deixando a
governanta derrotada sentada em uma lápide.
Imediatamente após seu confronto com Miles, a governanta decide deixar seu cargo
em Bly. Esse é um desvio significativo de sua decisão anterior de proteger as crianças
e merece alguma atenção. Os críticos argumentam que a governanta se apega
excessivamente às crianças, principalmente a Miles. Sua ânsia de derrotar Quint,
portanto, deriva menos de um desejo de libertá-lo da influência de Quint do que de
um desejo de possuir o menino. Se a governanta havia se convencido de que Miles
estava satisfeito em passar seus dias com ela, ele desmente essa ideia fora da igreja
ao insinuar que a companhia dela é insatisfatória. Além disso, se a governanta se
imaginou como a heroína de um romance gótico - e substituiu Miles por seu tio no
papel do herói arrojado -, Miles, ao afirmar sua autoridade, efetivamente se apodera
da função de autoria dela. Com sua fantasia gótica interrompida, a governanta decide
deixar Bly. Antes de partir, ela se vê sentada na escada de uma maneira notavelmente
semelhante à do espectro da Srta. Jessel e, em seguida, descobre a mulher fantasma
sentada em sua própria mesa. Em ambos os casos, a governanta se vê em sua
predecessora, portanto, quando ela se dirige à Srta. Jessel como "sua pobre mulher
miserável", provavelmente está falando de si mesma.
Disciplinada por sua religião e pela cultura vitoriana a ver a sexualidade como
pecaminosa e o desejo sexual feminino, em particular, como antinatural, a
governanta não consegue falar diretamente sobre o assunto. Ela se agrada ao
imaginar a admiração de seu patrão, mas sentir desejo por ele a deixaria horrorizada,
obrigando-a a reprimir tais sentimentos. Independentemente de o espírito da Srta.
Jessel ser real, a desonra que a governanta atribui à sua antecessora pode refletir sua
própria culpa pelos sentimentos que nutre pelo patrão e, possivelmente, por Miles.
Como a governanta não consegue reconhecer a sexualidade, mesmo quando registra
suas experiências décadas depois, ela assombra sua narrativa como uma ansiedade
ambígua, até mesmo um pavor. Assim, quando Miles diz do lado de fora da igreja:
"Você sabe, minha querida, que para um sujeito estar sempre com uma dama", a
governanta "[tenta] rir" da insinuação dele, mas consegue apenas um efeito "feio e
estranho". Mais tarde, ela é atraída para a cabeceira da cama dele durante a noite. O
que se segue é uma conversa em que a enormidade do que permanecia não dito é tão
grande que leva a governanta a finalmente perguntar a Miles o que aconteceu na
escola. A resposta dele é impedida por forças paranormais ou pela própria psique da
governanta, que se defende de verdades inadmissíveis e indizíveis lançando "um
sopro e um frio extraordinários, uma rajada de ar congelado e um tremor no quarto".
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RESUMO DO CAPÍTULO 19
Certa de que Flora desejou voltar ao local onde a Srta. Jessel apareceu, a governanta
se dirige diretamente ao lago. Não há sinal de Flora, além do local vago onde o
barquinho deveria estar ancorado. Concluindo que Flora atravessou a água a remo, a
governanta se dirige ao longo do perímetro coberto de vegetação do lago, com a Sra.
Grose em seu encalço. Elas descobrem o barco amarrado a uma cerca velha e passam
pelo portão no momento em que Flora emerge de uma moita. Ela permanece imóvel,
sorrindo, enquanto as mulheres se aproximam silenciosamente dela. Sem dizer uma
palavra, a Sra. Grose abraça a criança e pega sua mão enquanto a governanta a
observa. Flora finalmente fala, perguntando onde Miles está. A governanta reage a
essas palavras "como o brilho de uma lâmina desembainhada" e responde
impulsivamente: "Eu lhe direi se você me disser - [...] onde está a Srta. Jessel, meu
amor?".
RESUMO DO CAPÍTULO 20
Quando a governanta pronuncia o nome que sempre permaneceu sem ser dito, a Sra.
Grose grita e o rosto de Flora se contrai em um olhar fixo. A governanta, então,
suspira e aponta para o outro lado do lago, onde a aparição da Srta. Jessel se
materializou. Ela se volta para Flora triunfante, aliviada com essa prova visível de
suas alegações, mas a menina apenas a olha com desânimo. Determinada a obter o
reconhecimento de Flora, a governanta grita para ela: "Ela está lá, sua infeliz - lá, lá,
lá, e você sabe disso tão bem quanto sabe de mim!". Flora olha friamente para a
governanta, que, em seguida, pede a confirmação da Sra. Grose. Quando a caseira
olha fixamente para a margem oposta, indicando que não vê nada de importante, a
governanta se dá conta de sua própria situação desesperadora.
Mesmo quando a aparição continua "tão grande quanto um fogo ardente" aos olhos
da governanta, a Sra. Grose assegura a Flora que "é tudo um mero engano, uma
preocupação e uma piada". Flora, que de repente parece "quase feia", chama a
governanta de cruel e implora à Sra. Grose que a leve embora. Balançando a cabeça,
a governanta supõe que perdeu Flora porque ela tentou interferir nos desígnios do
demônio sobre a menina. Ela diz a elas para irem embora e, quando elas
desaparecem, ela afunda no chão em desespero. A noite está caindo quando a
governanta finalmente se levanta e volta para Bly. Ela se isola na sala de aula até as
oito horas, quando Miles aparece. Ele se senta com ela em silêncio pelas duas horas
seguintes.
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RESUMO DO CAPÍTULO 21
A Sra. Grose acorda a governanta antes do nascer do sol. Flora passou a noite com a
caseira e, depois de horas de sonhos agitados, a garota agora está febril. Ao saber que
Flora deseja nunca mais vê-la, a governanta diz à Sra. Grose para levar Flora para a
casa do tio. A governanta tem "uma nova esperança" após a companhia silenciosa de
seu pupilo mais velho na noite anterior. Ela acredita que Miles quer lhe contar tudo -
e esteve perto de fazê-lo na noite passada - mas precisa de mais tempo. Ela diz à Sra.
Grose que dois dias a sós com Miles devem ser suficientes, e "ele estará do meu lado".
Sra. Grose concorda com o plano da governanta e admite que Flora falou mal da
governanta durante toda a noite, usando linguagem chula, incompatível com “uma
dama". Como Flora só poderia ter aprendido essas palavras horríveis com os
próprios demônios, a caseira acredita plenamente que forças malignas estão
atacando as crianças. Momentaneamente aliviada por ter um aliado, a governanta
então se lembra com desgosto da carta que enviou a Londres. A Sra. Grose lhe diz
que a carta desapareceu e suspeita que Miles a tenha roubado. Essa notícia só reforça
a determinação da governanta de ficar a sós com Miles, e ela pede à Sra. Grose que
parta rapidamente com Flora.
RESUMO DO CAPÍTULO 22
Depois que a Sra. Grose parte com Flora, a governanta passa por um momento de
ansiedade, com medo de enfrentar sua situação sozinha. Miles deixou de fingir que é
seu aluno e havia saído de casa "para dar um passeio" logo após tomar café da manhã
com a irmã e a Sra. Grose. Ele não retorna até o anoitecer, quando se junta à
governanta na sala de jantar, já que ela havia decidido dispensar a prática de comer
na sala de aula. Suas primeiras palavras são sobre Flora e sua aparente saúde
debilitada. Depois que a governanta comenta que a doença da menina não é grave,
mas "poderia ter se tornado grave se ela tivesse ficado", os dois terminam a refeição
em silêncio.
RESUMO DO CAPÍTULO 23
Quando a mesa estava limpa e os criados saíram da sala de jantar, Miles se levanta
para espiar pela janela - a mesma janela pela qual a governanta viu Peter Quint
espiando. Miles parece procurar por algo que não consegue ver, e a governanta
percebe "com uma pontada de esperança" que ele perdeu o poder de perceber "os
outros", ou seja, as aparições. Voltando à governanta, Miles diz que gostou de sua
longa caminhada, mas se preocupa com a possibilidade de a governanta ter se
sentido solitária. Ela garante a Miles que permanece em Bly para ajudá-lo no que for
possível. Abandonando a cautela, ela diz que ele também pode ajudá-la,
contando-lhe tudo. Quando Miles reage com uma expressão dolorosa, a governanta
sente "um horror perverso pelo que [ela] estava fazendo [...], pois em que consistia
25
aquilo senão na intrusão da ideia de grosseria e culpa em uma pequena criatura
indefesa [...]?". Miles concorda em revelar tudo mais tarde. No entanto, antes de sair
da sala de jantar, a governanta pergunta se ele roubou a carta dela.
RESUMO DO CAPÍTULO 24
Enquanto a pergunta da governanta ainda paira no ar, o rosto de Peter Quint aparece
na janela. A governanta dá um pulo e segura Miles em seus braços para evitar que ele
se vire e veja aquele "rosto de danação". Com uma voz distante, Miles admite que
pegou a carta. Radiante com o fato de o menino ter confiado a ela essa confissão, a
governanta o segura com mais força e olha desafiadoramente para a aparição do lado
de fora da janela. Ela tem certeza de que Miles não pode mais ver ou se comunicar
com Quint, embora ele soubesse que ele estava em presença mas não sabia de quê, e
muito menos sabia que a governanta sabia. Ela sente uma onda de triunfo quando o
rosto de Quint desaparece.
Encorajada por seu sucesso, a governanta pergunta se Miles foi expulso da escola por
roubo. O garoto expressa surpresa e, em seguida, diz que a escola o expulsou por
coisas que ele disse a vários outros garotos. Depois que ele admite que essas coisas
eram "ruins demais" para o diretor da escola escrever em sua carta, a governanta
grita: "O que foram essas coisas?". Sua exigência aparentemente invoca o espectro
infernal de Quint, cujo rosto reaparece na janela. A governanta puxa Miles para si
novamente e grita "Não mais!" para o fantasma, revelando assim a presença do
demônio. Perplexo, Miles se pergunta se "é ele" e então, branco de raiva, exclama:
"Peter Quint - seu demônio!". Quando a governanta garante a Miles que ele está livre
da influência de Quint para sempre, o garoto solta um grito horrível. A figura
espectral desaparece, deixando a governanta sozinha com Miles, cujo "pequeno
coração, despojado, havia parado".
26
ANÁLISE DOS CAPÍTULOS 19 A 24
A novela termina sem resolver a questão da existência dos fantasmas. Eles são reais,
e a governanta está competindo com espíritos malignos para salvar a alma das
crianças? Ou a governanta está tendo alucinações e os fantasmas são projeções de
seus próprios desejos sexuais reprimidos? Ambas as interpretações explicam
igualmente bem os eventos dos capítulos finais. Quando Flora desaparece, a
governanta acredita que ela foi ao lago para se comunicar novamente com a Srta.
Jessel e, de fato, elas encontram a garota lá. Nem Flora nem a Sra. Grose veem a
figura da ex-governanta aparecendo do outro lado do lago, mas talvez a caseira não
tenha os poderes de clarividência necessários e talvez a garota, realmente
corrompida, esteja mentindo. Como alternativa, Flora e Sra. Grose podem não ver a
aparição porque ela não está lá. A governanta está sofrendo de delírios psicossexuais
desencadeados por desejos que ela não consegue aceitar. Se a aparição for um reflexo
dos desejos subconscientes da governanta, o lago, com sua superfície reflexiva, pode
simbolizar um espelho no qual a governanta vislumbra sua própria culpa e pavor.
Tanto como uma jovem mulher quanto como uma mulher mais velha escrevendo um
livro de memórias, a governanta se esforça para criar uma identidade para si mesma.
Sua falta de um nome que não seja "a governanta" registra o pouco valor dado à sua
individualidade como mulher pobre na Inglaterra vitoriana. O cargo que ela assume
em Bly lhe oferece a oportunidade de criar algo de si mesma, mesmo que apenas em
sua imaginação. A mansão em si lembra "um castelo de romance", e o "mestre" - ou o
tio das crianças - investiu-a de autoridade total sobre os acontecimentos nesse
pequeno reino. Embora a governanta admita que "foi levada a Londres" pelos
encantos do mestre, Miles logo substitui o tio como objeto de sua afeição e até
mesmo obsessão. Ela se preocupa em ter Miles só para si, como se ele e ela fossem o
27
senhor e a senhora de Bly. De fato, depois que a Sra. Grose e Flora partem, a
governanta manda servir o jantar com Miles não na sala de aula, como de costume,
mas na sala de jantar, onde ela os imagina "como um jovem casal que, em sua viagem
de núpcias, [...] se sente tímido na presença do garçom". Se a governanta ousou
imaginar um futuro para si mesma como uma personagem importante em Bly, seu
triunfo sobre Quint no capítulo final parece garantir seu sonho. No entanto, quando
ela abraça Miles, dizendo: "Você agora é meu", ele morre, extinguindo assim a
identidade que a governanta imaginou para si mesma. Anos mais tarde, ela recupera
uma identidade nobre ao escrever uma narrativa que a apresenta como a heroína que
enfrenta corajosamente o mal para salvar as almas (se não as vidas) das crianças.
A GOVERNANTA
De acordo com Douglas, a governanta era "a mais jovem de várias filhas de um
pastor pobre do interior". Devido aos infortúnios financeiros de sua família, ela foi
para Londres aos 20 anos de idade e foi entrevistada por um cavalheiro "na Harley
Street", que precisava de uma governanta para seu sobrinho e sobrinha órfãos. A
governanta sentiu uma atração desconhecida por esse cavalheiro. Como Douglas
explica, ele era "um solteirão no auge da vida, uma figura que nunca havia surgido,
exceto em um sonho ou em um romance antigo, diante de uma garota ansiosa e
esvoaçante de um vicariato de Hampshire". Para essa "moça ansiosa" e inexperiente,
o cargo que o cavalheiro procura ocupar parece assustador: As crianças moram em
sua isolada casa de campo, Bly, e "a jovem que se tornasse governanta teria
autoridade suprema", com a ajuda apenas de uma caseira e de algumas outras
pessoas, e "ela nunca deveria incomodá-lo" sobre qualquer assunto. Apesar de suas
reservas, a governanta aceita o cargo, principalmente porque deseja agradar o
cavalheiro.
A narrativa da governanta, que ela escreve anos depois, começa quando ela chega a
Bly. Ela está nervosa e cheia de dúvidas, mas a elegância da propriedade a
impressiona, fazendo-a sentir-se "um pouco orgulhosa". A extraordinária beleza das
crianças aumenta ainda mais sua confiança. Embora a perspectiva de supervisionar
as crianças a tenha preocupado, a governanta conclui que "não poderia haver
28
desconforto em uma conexão com algo tão belo quanto a imagem radiante" de seus
jovens pupilos. Os encantos de suas circunstâncias, juntamente com um
recém-descoberto senso de autoridade, incentivam a governanta a imaginar que
tinha tido grande sorte. Ela também fantasia com seu empregador, ansiando pelo
reconhecimento de seus méritos.
Olhando para trás depois de muitos anos, a governanta escreve: "Oh, foi uma
armadilha - [...] para minha imaginação, para minha delicadeza, talvez para minha
vaidade; para o que quer que fosse mais excitável em mim". Independentemente do
motivo pelo qual ela foi inicialmente tão seduzida, a governanta logo percebe forças
malignas em Bly. Como explicar essa percepção depende de sua própria pergunta
sobre "o que havia de mais excitável" nela. Alguns leitores vêem a piedade da
governanta como o que mais governa sua reação à situação. O fato de ela conseguir
ver as aparições malignas enquanto outros não conseguem é um testemunho de sua
pureza e virtude. O mal que persegue as crianças é real, e a cruzada da governanta
para salvar suas almas demonstra seu crescimento de uma garota ansiosa para uma
mulher corajosa. Outros leitores argumentam que o que é mais excitante na
governanta é sua sexualidade emergente, que primeiro é associada ao seu
empregador e, mais tarde, a Miles. Devido à sua formação cultural e religiosa, ela
reage aos seus desejos com horror e, para resolver esse conflito psíquico, reprime
seus sentimentos. No entanto, o horror e a culpa continuam à espreita em seu
subconsciente, manifestando-se nas alucinações das aparições sexualmente
desviantes. A governanta é, portanto, psicologicamente instável, e sua perspectiva
narrativa não é confiável.
A SRA. GROSE
29
orientar seus pensamentos na direção certa. Talvez por sua sensibilidade ser menos
refinada, a Sra. Grose nunca vê as aparições que a governanta vê, mas também nunca
duvida das afirmações da governanta sobre elas. Mesmo depois de não conseguir ver
a figura da Srta. Jessel do outro lado do lago, a caseira confia no julgamento da
governanta e, seguindo seu conselho, leva Flora embora.
MILES
Miles, de dez anos de idade, e sua irmã Flora são órfãos, pois perderam seus pais em
circunstâncias não reveladas na Índia. Eles moram em Bly, uma propriedade rural
em Essex que pertence ao seu tio e tutor, que mora em Londres. Como o tutor é "um
solteirão no auge da vida", ele não tem experiência ou interesse em cuidar de
crianças e contrata a filha de um jovem pastor para ser a governanta. Ao ver seus
pequenos pupilos, a governanta fica maravilhada com a beleza requintada deles, que
ela compara à dos "santos bebês de Rafael".
30
dele. À medida que a governanta se torna mais vigilante e protetora das crianças,
Miles encena pequenos atos de rebeldia contra sua vigilância, inclusive um passeio à
meia-noite, mas ela atribui isso à influência maligna do fantasma. A governanta
finalmente salva a alma inocente de Miles das tentações perversas de Quint, mas,
uma vez despojado do demônio, "seu pequeno coração" pára.
Do ponto de vista da governanta, Miles é "tão inteligente, belo e perfeito [...] só pode
ser isso" - que sua perfeição está sendo atacada por vilões sobrenaturais. Uma
explicação mais natural para a insubordinação emergente de Miles é o fato de ele ser
um garoto de 10 anos. À beira da puberdade, ele está tomando consciência da
sexualidade, dos papéis de gênero e "dos direitos de seu sexo e situação". Ele está
ansioso por independência e se ressente da autoridade da governanta, que ele
considera cada vez mais inferior, em virtude de seu "sexo e situação". Quanto mais
fortes se tornam os esforços dela para "cercar e absolutamente salvar" as crianças,
mais Miles desafia o controle dela, para provar que é capaz. Ele aspira a ser um
homem do mundo, como seu tio, livre do jardim da infância e da domesticidade.
Assim, da mesma forma que seu tio instrui a governanta a "nunca incomodá-lo [...] e
deixá-lo em paz", Miles, recusando as expressões de preocupação da governanta com
ele, diz a ela: "deixe-me em paz". Sem levar em conta os desejos de Miles, a
governanta finalmente o isola em Bly com ela e, no momento em que o toma como
seu, ele morre.
FLORA
Flora, de oito anos de idade, e seu irmão Miles são órfãos e a responsabilidade foi
atribuída a seu tio. "Um solteirão no auge da vida", o tio desfruta de sua vida
indulgente em Londres e não tem interesse nas crianças. Ele as envia para sua
propriedade rural, Bly, onde são cuidadas por uma nova governanta, após a morte da
anterior.
31
Embora a governanta veja as duas crianças como vítimas da influência perversa das
aparições, ela aparentemente considera Flora mais suscetível às tentações do mal do
que Miles. Durante o confronto final com o fantasma da Srta. Jessel, Flora se recusa
a reconhecer a horrível visão, levando a governanta a acusá-la de mentir e a observar
que a menina "havia se tornado comum e quase feia". Compare isso com a cena final
da história, na qual a governanta se alegra com a cegueira de Miles para Quint,
considerando-a um sinal de sua lealdade a ela e à inocência. Se os fantasmas são
produtos do conflito psíquico da governanta em relação à sexualidade, como muitos
leitores argumentam, então ela pode transferir seus medos subconscientes de sua
própria degeneração para Flora, que representa a garota inocente que ela já foi.
PETER QUINT
Peter Quint serviu como criado do tio das crianças quando ambos moravam em Bly,
no ano anterior à chegada da governanta. De acordo com a Sra. Grose, Quint era um
malandro degenerado que era "muito livre com todo mundo". Ela nunca detalha essa
alusão, mas a governanta aparentemente infere que Quint tomava liberdades sexuais
com a antiga governanta e com as crianças. Depois que a ex-governanta deixou Bly
por motivos desconhecidos, Quint ficou encarregado de tudo, até mesmo das
crianças. Ele passava horas sozinho com Miles, em particular. Essa situação
escandalosa durou vários meses, até que Quint caiu no gelo depois de sair de um bar
e morreu congelado.
Embora a governanta nunca encontre Quint, o homem, ela vê uma figura com
"cabelos ruivos, muito ruivos, bem encaracolados" e um olhar despudorado, que a
caseira identifica como o criado morto. A governanta continua a ver o fantasma de
Quint e tem certeza de que ele voltou dos mortos para corromper ainda mais as
crianças e tentar suas almas para a condenação. Sua determinação em "salvar" as
crianças alimenta suas ações durante o restante da história. Alguns leitores
argumentam, entretanto, que a perspectiva da governanta não é confiável e que os
fantasmas são, na verdade, alucinações da parte dela. Quint não é um demônio
sobrenatural, mas uma projeção do horror subconsciente que a governanta
experimenta em associação com seus desejos sexuais reprimidos. Como filha de um
pastor, a governanta conhece as associações bíblicas de cabelos ruivos com o mal,
portanto, não é de surpreender que seus medos sexuais reprimidos se manifestem
em visões de um homem insolente de cabelos ruivos.
SRTA. JESSEL
A Srta. Jessel foi a governanta em Bly durante o ano anterior aos eventos da história.
Ela deixou o cargo sob o pretexto de visitar a família, mas morreu antes de retornar.
Embora a Sra. Grose descreva a Srta. Jessel como "bonita" e "uma dama", ela
também revela que a ex-governanta permitiu que Peter Quint a rebaixasse. A Sra.
Grose deixa em aberto a natureza dessa "humilhação", mas dá a entender que é
32
sexual e que as atividades promíscuas do casal incluíam as crianças. Enquanto estava
no lago com Flora, a governanta vê a aparição de "uma mulher vestida de preto,
pálida e terrível"e imediatamente conclui que a figura é a Srta Jessel. Ela percebe,
horrorizada, que a ex-governanta quer "se apoderar" de Flora para continuar a
corrompê-la, e que Flora sabe disso. Confiando na Sra. Grose, a governanta expressa
seu medo de que Flora receba a atenção da Srta. Jessel e que a menina, juntamente
com seu irmão, possa estar perdida. Quando a figura da Srta. Jessel aparece
novamente no lago, a governanta exige que Flora reconheça a visão sinistra. A garota
se recusa, confirmando assim sua cumplicidade com os desígnios malignos da
aparição.
DOUGLAS
33
prólogo, que deduz, com base nas observações de Douglas, que a mulher "estava
apaixonada". Douglas concorda, mas se recusa a dizer com quem ou se ele estava
apaixonado por ela. O manuscrito chega, e Douglas o lê em voz alta para todos. Anos
depois, antes de Douglas morrer, ele entrega o manuscrito ao narrador
desconhecido.
O NARRADOR DO PRÓLOGO
O narrador do Prólogo está entre aqueles que se reuniram em uma antiga casa para
compartilhar histórias de fantasmas. O narrador, cujo nome nunca é revelado, tem
um interesse especial por Douglas, outro membro do grupo, e observa que Douglas
"não estava acompanhando" as histórias com muito interesse. Douglas anuncia que
conhece uma história que supera todas as outras, mas se recusa a dizer muito mais
até conseguir o manuscrito, que está trancado em sua casa em Londres. Embora o
grupo o repreenda por despertar a curiosidade deles sem satisfazê-la, o narrador
reflete: "foram justamente os escrúpulos dele que me encantaram". Se Douglas
encanta o narrador, o narrador também intriga Douglas. Enquanto explica como
conheceu a mulher que escreveu o manuscrito, Douglas fixa seus olhos no narrador,
que adivinha em voz alta que a mulher nunca confidenciou sua história a ninguém
além de Douglas porque "ela estava apaixonada". Douglas concorda, mas adverte que
"a história não contará" com quem. Anos mais tarde, e pouco antes de morrer,
Douglas dá o manuscrito ao narrador, sugerindo a persistência de um vínculo mútuo
entre eles. O narrador observa que a narrativa do manuscrito, que segue
imediatamente o prólogo, é "uma transcrição exata da minha própria que fiz muito
mais tarde". Embora os estudiosos da literatura tenham debatido se o narrador é um
homem ou uma mulher, a visão tradicional é que ele é do sexo masculino.
O TIO
Depois que seus pais morreram, o tio tornou-se o guardião de Miles e Flora, cujo pai
falecido era irmão do tio. Solteiro bonito, o tio mora em Londres, onde se dedica a
"hábitos caros" e exerce seu "charme com as mulheres". Sua vida na "Harley Street"
não comporta crianças, então ele envia Miles e Flora para morar em sua propriedade
rural, Bly. Após a morte misteriosa da primeira governanta das crianças, o tio
contrata uma nova governanta - a "jovem, inexperiente e ansiosa" filha de um pároco
do interior. A nova governanta não teria aceitado o cargo, com suas
responsabilidades assustadoras, se o tio não a tivesse encantado, fazendo-a acreditar
que estava lhe fazendo um grande favor. Ela foi tão "arrebatada" por ele que também
consentiu com sua principal estipulação, especificamente, "que ela nunca o
incomodasse". Quando segredos obscuros passam a perturbar a vida em Bly, a
governanta decide não entrar em contato com o tio e imagina como ele admiraria sua
competência. No entanto, é improvável que o tio realmente se importe com o que
acontece em Bly. Em um determinado momento, ele por exemplo não hesita em
deixar as crianças nas mãos de seu criado, um homem que a caseira chama de
34
"depravado". O tio não se preocupa com as crianças ou com a governanta delas; ele
está totalmente preocupado com a busca ininterrupta de seu próprio prazer.
TEMAS
35
comprometida em algum grau. Enquanto os textos realistas empregam um narrador
onisciente e endossam estruturas sociais e morais tradicionais, as obras modernistas
favorecem um filtro narrativo não confiável e se concentram nos pensamentos,
percepções e motivações interiores do indivíduo. Há muitas explicações para a
mudança paradigmática do realismo para o modernismo por volta da virada do
século XX - incluindo uma crescente desilusão com a religião e a retidão moral,
especialmente após a Primeira Guerra Mundial - mas, para entender melhor A Outra
Volta do Parafuso, é útil considerar como a psicologia freudiana minou as noções de
certeza do século XIX.
36
sua pureza. Quando a governanta descobre que espíritos malignos estão atacando as
almas das crianças, ela se encarrega de preservá-las da corrupção, lutando contra os
demônios até que, finalmente, o "pequeno coração de Miles [...] é despojado". O
próprio James se referiu à sua novela como um potboiler (ou seja, uma obra de
pouca qualidade feita às pressas apenas para ganhar dinheiro), incentivando assim a
compreensão dela como uma disputa de suspense entre o bem e o mal. Nessa
interpretação, a governanta é um modelo de virtude ideal e, por fim, prevalece sobre
a iniquidade.
37
os indivíduos a negar seus próprios desejos. O ensaio The Beast in the Closet (A Fera
no Armário), de Eve Sedgwick, de 1990, abriu uma linha produtiva de estudos queer
sobre James que, embora reserve conclusões sobre a própria sexualidade de James,
identifica os silêncios e as ambiguidades em sua obra como locais de conteúdo
homossexual reprimido. Essa escola de interpretação observa que, pouco antes de
James publicar A Outra Volta do Parafuso, o escritor Oscar Wilde enfrentou
acusações de "indecência" entre pessoas do mesmo sexo e passou por um julgamento
que chamou a atenção do público. O tribunal britânico decidiu de forma decisiva
sobre a criminalidade da homossexualidade, condenando Wilde e sentenciando-o a
dois anos de trabalhos forçados. James acompanhou o julgamento de perto,
conforme revelado em suas cartas, e expressou desaprovação pela humilhação
pública de Wilde. Escrito após o julgamento de Wilde, A Outra Volta do Parafuso
pode registrar, por meio de seu discurso evasivo e elíptico, o imperativo cultural de
silenciar certas sexualidades. Na medida em que o texto coloca em primeiro plano
seus próprios silêncios e os tematiza como sexualidade reprimida, os leitores podem
interpretar as trágicas consequências dessa supressão como uma crítica à
intolerância da sociedade.
A ausência evidente do nome da governanta sugere que sua identidade, fora de sua
posição doméstica, é incerta. Ela é filha de um pastor e, como tal, seria considerada
de classe média e "uma dama" na Inglaterra vitoriana. No entanto, como os
infortúnios financeiros de sua família a forçaram a procurar trabalho, sua identidade
socioeconômica é ambígua, oscilando entre a de uma senhora respeitável e a de uma
mulher da classe trabalhadora. Para complicar a situação, as categorias sociais
britânicas do século XIX não acomodam facilmente o papel de uma governanta: Ela
não é uma empregada doméstica e não é uma mãe; em vez disso, é paga para agir
como uma mãe de classe alta, transmitindo boas maneiras e sabedoria aos seus
protegidos. Embora o status social liminar da governanta marginalize
exclusivamente sua identidade, a cultura em que ela vive circunscreve as identidades
e a autonomia de todas as mulheres, independentemente da classe. A governanta
reconhece isso ao contemplar a independência de Miles, "os direitos de seu sexo e
situação" - direitos aos quais o sexo feminino não tem direito.
Apesar das restrições que seu gênero e classe impõem à sua identidade, a governanta
resiste a desaparecer em seu papel de governanta. Talvez o primeiro indício de sua
própria autonomia surja depois que ela chega a Bly e entra em seu luxuoso quarto -
"o melhor da casa" - e se coloca diante dos grandes espelhos com os quais, pela
primeira vez, [ela] podia se ver da cabeça aos pés". A governanta se imagina a
senhora da mansão, refletindo: "Eu poderia dar uma volta pelo terreno e apreciar,
quase com um senso de propriedade que me divertia e me lisonjeava, a beleza e a
dignidade do lugar". Se a elegância de Bly - juntamente com a "autoridade suprema"
que ela exerce ali - eleva o senso de si mesma da governanta, as armadilhas góticas
38
da propriedade também a incentivam a imaginar que ela é uma heroína gótica, um
modelo de identidade feminina que ela conhece como leitora de "romances antigos".
Assim, ela se considera não apenas uma governanta, mas também "uma jovem
notável" que empreende um "voo de heroísmo" para proteger Bly do mal.
Para validar sua identidade heróica, a governanta deseja que os outros a reconheçam
como tal. Assim, ela pensa: "[Haveria] uma grandeza em deixar que se visse que eu
poderia ter sucesso onde muitas outras garotas poderiam ter falhado". Ela assim
esperava que ela seria notada por alguma testemunha de sensibilidade refinada que
apreciaria sua extraordinária virtude e coragem, e essa testemunha seria seu próprio
empregador. Mas seu empregador nunca mais a vê depois da entrevista em Londres.
Em vez disso, Peter Quint fica olhando para a governanta da torre e, por alguns
momentos, ela escreve, "nunca tirou os olhos de mim". Ele "não é um cavalheiro",
portanto, seu olhar insolente, longe de confirmar a identidade honrosa dela, a
degrada. Seu olhar a reduz à governanta que ela é. Quando a figura da Srta. Jessel
aparece diante da governanta, ela se reconhece na aparição "desonrada e trágica",
sugerindo que o senso exaltado que a governanta tem de si mesma é instável.
SÍMBOLOS E MOTIVOS
O GÓTICO
39
mulheres britânicas de classe média do século XIX. Exemplificados por Jane Eyre,
de Brontë, os romances góticos vitorianos apresentam um conjunto de elementos
padrão: uma mulher jovem e inocente presa em uma mansão isolada, semelhante a
um castelo; uma atmosfera de terror sombrio, muitas vezes sobrenatural; a
descoberta de um segredo ou mistério sombrio; e um cavalheiro enigmático e bonito.
OS FANTASMAS
Os fantasmas de Peter Quint e da Srta. Jessel funcionam como símbolos, mas o que
eles representam varia dependendo de como os leitores interpretam a história. Se,
como afirma uma interpretação predominante, a inocência das crianças estiver em
40
perigo e a virtuosa governanta estiver lutando para salvar suas almas das forças do
mal, então os fantasmas simbolizam essas forças. Mais especificamente, eles
simbolizam o mal que tenta os inocentes a pecar, uma forma cristã arquetípica do
mal que a Bíblia apresenta como a serpente no Éden. Quint e a Srta. Jessel são
condenados pelos pecados que cometeram, cuja natureza provavelmente é sexual,
embora isso nunca seja totalmente revelado. Enquanto viviam em Bly, Quint e a Srta.
Jessel atraíram as crianças para o caminho do pecado, e a dupla demoníaca, que
retornou do inferno, deseja "brincar com eles com esse mal ainda", para tentar suas
almas à condenação. A governanta diz à Sra. Grose: "O sucesso dos tentadores é
apenas uma questão de tempo" e, como o valor simbólico dos tentadores - Quint e
Srta. Jessel - transcende a história, as palavras da governanta também ressoam além
de seu contexto, alertando os leitores de que ninguém pode escapar do pecado.
JANELAS E MOLDURAS
Das quatro vezes em que a governanta vê a aparição de Peter Quint, três são por
meio de uma moldura real ou imaginada. Na primeira vez, ela o vê olhando para ela
da torre e pensa: "O homem que me olhava por cima das ameias era tão definido
quanto um quadro em uma moldura". Em seguida, ele aparece para ela pela janela da
sala de jantar, como faz no último encontro. Na única vez em que a governanta não
vê Quint através de uma moldura, ela observa que ele está perto de uma na escada:
"A aparição havia chegado ao patamar na metade da subida e, portanto, estava no
ponto mais próximo da janela". Toda vez que a governanta vê a figura de Quint, há
uma moldura, ou limiar, entre eles.
41
termos que se aplicam igualmente bem ao conteúdo indescritível de seu próprio
subconsciente: "O que é ele? Ele é um horror. [...] Ele é - Deus me ajude se eu souber
o que ele é". Quint nunca cruza os limiares que o enquadram, de modo que os
horrores do subconsciente da governanta nunca penetram totalmente em sua mente
consciente. Ela os encara apenas para empurrá-los de volta para baixo, assim como
encara a figura de Quint subindo as escadas e, mantendo-se firme, manda-a "direto
escada abaixo e para a escuridão".
O LAGO
DUPLICAÇÃO
42
sentada em sua mesa como "desonrada e trágica" e grita: "Sua terrível miserável
mulher!", mas a governanta pode muito bem estar se referindo a si mesma.
CITAÇÕES IMPORTANTES
1.
“The story had held us, round the fire, sufficiently breathless, but except the obvious
remark that it was gruesome, as on Christmas Eve in an old house a strange tale
should essentially be, I remember no comment uttered till somebody happened to
note it as the only case he had met in which such a visitation had fallen on a child.”
(Prólogo)
Esta é a primeira frase da novela, e estabelece a atmosfera gótica tanto do Prólogo
como da narrativa da governanta. A frase também fundamenta a narração da
narrativa da governanta num cenário clássico de narração de histórias: é um dos
numerosos strange tales compartilhados numa reunião "à volta da lareira". O
próprio James descreveu a sua novela como um "potboiler desavergonhado", e esta
frase inicial parece confirmar que A Outra Volta do Parafuso é simplesmente uma
história de fantasmas e não, como algumas interpretações o fazem, um estudo de
conflitos psicossexuais.
2.
“‘The story won’t tell,’ said Douglas; ‘not in any literal vulgar way.’”
(Prólogo)
Douglas corrige o narrador do Prólogo, que se aventura a dizer que a história da
governanta contará por quem ela estava apaixonada. Na sua narrativa, a governanta
confessa que "foi arrebatada" pelo patrão, mas dá pistas que sugerem que também
foi arrebatada por Miles e que era demasiado possessiva em relação a ele. Ao
esquivar-se a perguntas sobre a sua relação com a governanta, Douglas também
encoraja a especulação de que ela estava apaixonada por ele. Esta incerteza quanto
ao interesse amoroso da governanta contribui para a ambiguidade generalizada que
assombra a novela, tornando-a numa "história que não conta".
3.
“Let me say here distinctly, to have done with it, that this narrative, from an exact
transcript of my own made much later, is what I shall presently give.”
(Prólogo)
Essas são as palavras do narrador do Prólogo, que aqui se dirige diretamente ao
leitor. A declaração começa como uma confissão, como se o narrador se sentisse
obrigado a reconhecer que a narrativa é uma cópia, mas termina com uma garantia
de que a cópia é precisa. No entanto, o esforço do narrador para dissipar as dúvidas
sobre a autenticidade da história apenas destaca o quanto o leitor está distante dos
43
eventos originais, que a governanta registrou décadas depois de terem ocorrido.
Posteriormente, ela compartilhou a história com Douglas, que depois a compartilhou
com o narrador desconhecido. Ao sinalizar o distanciamento da narrativa em relação
às suas origens, o texto de James coloca os leitores em posição de questionar o
quanto ela é "exata" e verdadeira.
4.
“This […] prospective patron proved himself a gentleman, a bachelor in the prime of
life, such a figure as had never risen, save in a dream or an old novel, before a
fluttered anxious girl out of a Hampshire vicarage.”
(Prólogo)
Com sua descrição da governanta como uma "garota ansiosa" e de seu patrão como
um solteirão no auge da carreira, Douglas lança a semente para a interpretação
freudiana da novela de James. Popularizada pela primeira vez na década de 1930
pelo crítico literário Edmund Wilson, essa interpretação usa as teorias psicológicas
de Sigmund Freud para argumentar que a governanta é neurótica. Ela fica
horrorizada com os desejos sexuais desconhecidos por seu patrão e os reprime, mas
eles assombram seu subconsciente. Os fantasmas são manifestações delirantes de
seu pavor subconsciente e, portanto, não são fantasmas de fato.
5.
“The large impressive room, one of the best in the house, the great state bed, as I
almost felt it, the figured full draperies, the long glasses in which, for the first time,
I could see myself from head to foot, all struck me […] as so many things thrown
in.”
(Capítulo 1)
Por muitas razões, tanto pessoais quanto sociais, a governanta luta para definir sua
identidade. Embora a elegância de Bly envergonhe sua "própria casa escassa", seu pai
é um pároco e o status social de sua família seria respeitável. Ela é, por direito, uma
dama, mas como os infortúnios financeiros a obrigam a se juntar à classe
trabalhadora, sua identidade é indeterminada. Entretanto, seu quarto "grande e
impressionante" em Bly a incentiva a se ver "da cabeça aos pés" como mais do que
uma governanta e a reivindicar sua identidade como uma dama - e uma dama de
algum valor.
6.
“Are you afraid he’ll corrupt you?”
(Capítulo 2)
Sra. Grose faz essa pergunta à governanta, que, tendo recebido uma carta da escola
de Miles anunciando sua expulsão, se pergunta se o garoto era uma influência
corruptora ali. A questão de quem corrompe quem é o mistério central da novela, que
44
se baseia na questão do que constitui corrompimento. Do ponto de vista da
governanta, Peter Quint e a Srta. Jessel poluíram a alma das crianças ao
apresentá-las ao mal, cuja natureza ambígua é provavelmente sexual. No entanto, o
texto permite outra perspectiva, que vê a governanta como vítima de ansiedades
culturais sobre a sexualidade, especialmente a sexualidade feminina. Seu medo
internalizado da sexualidade desestabiliza sua psique, fazendo com que ela se
atormente e corrompa as crianças com alucinações de um mal inexistente.
7.
“What I then and there took him to my heart for was something divine that I have
never found to the same degree in any child—his incredible little air of knowing
nothing in the world but love.”
(Capítulo 3)
A governanta se encanta com a beleza de Miles ainda mais do que com a de Flora,
interpretando-a como um sinal de sua pureza e divindade. Se a infância simboliza a
inocência porque as crianças ainda não adquiriram o conhecimento proibido, então
Miles, que não conhece nada "além do amor", é nada menos do que divino, como
indica sua beleza angelical. Ironicamente, a governanta logo passará a cogitar que as
crianças estão aprendendo conhecimentos proibidos e que sua beleza excepcional -
um ardil criado para enganar - prova isso.
8.
“I dare say I fancied myself in short a remarkable young woman and took comfort
in the faith that this would more publicly appear.”
(Capítulo 3)
Depois que as crianças vão para a cama, a governanta costuma passear pelo jardim,
imaginando que a propriedade é sua e que ela, no comando total do pequeno mundo
de Bly, administra os assuntos com habilidade e propriedade. Agrada-lhe pensar na
admiração de seu patrão, caso ele testemunhe suas capacidades. Seu desejo de ser
vista pelo empregador trai sua preocupação constante com ele e também revela seus
esforços para definir sua identidade. Embora as circunstâncias permitam que ela se
considere uma "jovem notável", ela deseja que o reconhecimento dos outros a
confirme como tal. Não conseguindo obter esse reconhecimento enquanto estava em
Bly, a governanta mais tarde escreve uma narrativa que transmite seus méritos
notáveis, fazendo com que eles "apareçam mais publicamente".
45
9.
“Was there a ‘secret’ at Bly—a mystery of Udolpho or an insane, an unmentionable
relative kept in unsuspected confinement?”
(Capítulo 4)
Quando a governanta vê um homem estranho empoleirado em uma das torres de Bly,
a visão chocante evoca pensamentos de dois romances góticos populares do século
XIX: Os Mistérios de Udolpho, de Ann Radcliffe, e Jane Eyre, de Charlotte Brontë.
Essas referências estabelecem a familiaridade da governanta com as convenções
literárias góticas e sugerem que ela está predisposta a mapear os motivos favoritos do
gênero, incluindo segredos obscuros e horrores insuspeitados, em suas próprias
experiências. Embora o tom dessa alusão intertextual aponte para a paródia, o
suspense dramático que ela evoca pode ser outro exemplo da propensão da
governanta para o prenúncio exagerado.
10.
“‘Quint!’ she cried.”
(Capítulo 5)
Embora a novela de James ofereça amplo apoio ao argumento de que a governanta
psicologicamente perturbada alucina a respeito dos fantasmas, os leitores que
afirmam que os fantasmas são reais apontam para esse momento como prova. A
governanta nunca conheceu Peter Quint e não sabia de sua existência, portanto não
poderia estar familiarizada com sua aparência. No entanto, depois que ela fornece
uma descrição detalhada da figura que viu, a caseira imediatamente o identifica
como o antigo criado do mestre e grita "Quint!".
11.
“I had an absolute certainty that I should see again what I had already seen, but
something within me said that by offering myself bravely as the sole subject of such
experience, by excepting, by inviting, by surmounting it all, I should serve as an
expiatory victim and guard the tranquility of the rest of the household.”
(Capítulo 6)
A retórica da governanta alude a um comportamento messiânico, pois ela visualiza o
sacrifício de si mesma aos desígnios demoníacos de Quint para salvar a inocência de
seus protegidos. Embora a "Sra. Grose tenha se mantido distante" e nunca tenha
especificado as transgressões de Quint, a governanta leu em suas palavras que elas
eram sexuais. A autoproclamada "alegria" com que a governanta antecipa o fato de
servir como vítima de Quint permite, portanto, duas interpretações: Como uma cristã
devota, ela se alegra com a oportunidade de servir de modelo para o sacrifício de
Cristo; alternativamente, como uma mulher sexualmente reprimida, ela é
subconscientemente seduzida pela infame promiscuidade de Quint.
46
12.
“It was a pity I should have to quaver out again the reasons for my not having, in
my delusion, so much as questioned that the little girl saw our visitant even as I
actually saw Mrs. Grose herself, and that she wanted, by just so much as she did
thus see, to make me suppose she didn’t, and at the same time, without showing
anything, arrive at a guess as to whether I myself did!”
(Capítulo 8)
Depois de ter visto a aparição da Srta. Jessel enquanto estava no lago com Flora, a
governanta diz à Sra. Grose que sabe que Flora também viu o fantasma, justamente
porque a menina não demonstrou nenhum sinal de tê-lo visto. Perplexa com essa
lógica, a caseira pressiona a governanta para que explique sua certeza de que Flora
está ligada ao espírito da Srta Jessel. Notavelmente, a governanta não expõe suas
razões, mas repete o que já havia dito à Sra. Grose. Com suas muitas cláusulas que se
equivocam entre quem viu e quem não viu, essa frase produz mais confusão do que
clareza e tipifica o estilo narrativo evasivo e ambíguo da governanta.
13.
“They’re seen only across, as it were, and beyond—in strange places and on high
places, the top of towers, the roof of houses, the outside of windows, the further
edge of pools, but there’s a deep design, on either side, to shorten the distance and
overcome the obstacle: so the success of the tempters is only a question of time.”
(Capítulo 12)
Essas são as palavras da governanta para a Sra. Grose, ostensivamente avisando que
as aparições de Quint e da Srta. Jessel estão conspirando para se aproximar das
crianças, para tentá-las a entregar suas almas à condenação. No entanto, se
submetida à análise freudiana, essa declaração registra os temores da governanta em
relação aos seus próprios demônios subconscientes. Ela reprimiu seus pensamentos
e sentimentos sexuais perturbadores e, até o momento, eles só a assombram na
"borda mais distante" da consciência. Eles inevitavelmente "ultrapassarão" as
barreiras de sua mente - assim como as crianças inevitavelmente perdem a inocência
- e ela será vítima das tentações que a intrigam e a horrorizam.
14.
“I call it relief though it was only the relief that a snap brings to a strain or the burst
of a thunderstorm to a day of suffocation. It was at least change, and it came with a
rush.”
(Capítulo 13)
Essas duas frases encerram o Capítulo 13 e demonstram o uso de prenúncio pela
governanta, no qual ela se baseia ao longo de sua narrativa. Como um dispositivo
literário, o prenúncio produz suspense, um efeito desejável se, como James
observou, ele pretendia que sua novela fosse simplesmente um potboiler. Entretanto,
47
de acordo com a própria premissa estrutural da novela, a governanta escreveu a
narrativa principal. Suas alusões a romances góticos indicam que ela está
familiarizada com as convenções do gênero, que incluem presságios de terror. Como
a governanta anseia por "ser vista" como notável e heróica, é possível que ela escreva
sua narrativa no estilo gótico para se lançar - e criar sua identidade - como uma
heroína gótica.
15.
“Turned out for Sunday by his uncle’s tailor, […] Miles’s whole title to independence,
the rights of his sex and situation, were so stamped upon him that if he had
suddenly struck for freedom I should have had nothing to say.”
(Capítulo 14)
Enquanto caminhava para a igreja com Miles, a governanta observou que o garoto,
vestido à moda de seu tio, transmitia um ar de independência e autoridade a que os
homens de sua classe social têm direito. Como mulher e empregada, ela não tem
direito a esses privilégios e reconhece isso ao pensar que só poderia permanecer em
silêncio caso ele exigisse liberdade. Essa é a situação da governanta: sua inerente
falta de autoridade alimenta seu desejo de "ser vista" exercendo autoridade para
proteger seus protegidos, mas seus protegidos - especialmente Miles - têm
autoridade para expor seu poder como ilusório.
16.
“My fear was having to deal with the intolerable question of the grounds of his
dismissal from school, since that was really but the question of the horrors gathered
behind.”
(Capítulo 15)
Desde seu segundo dia em Bly, a governanta tem evitado falar sobre a expulsão de
Miles da escola. Ela agora acredita que a influência maligna de Quint está por trás da
má conduta de Miles e, a partir desse momento, pressiona o garoto para que explique
a expulsão. Do seu ponto de vista, ela pode salvar Miles de Quint - e da condenação -
ao conseguir uma confissão de seu pecado. De outra perspectiva, "os horrores
reunidos por trás" da expulsão de Miles são, na verdade, os horrores subconscientes
da própria governanta em relação à sexualidade, que ela projeta na vaga carta do
diretor da escola. Por meio de suas alucinações a respeito de Quint, ela transforma
esse horror interior em um mal externo contra o qual precisa lutar para salvar os
inocentes.
48
17.
“Dark as midnight in her black dress, […] she had looked at me long enough to
appear to say that her right to sit at my table was as good as mine to sit at hers.”
(Capítulo 15)
Depois de decidir deixar Bly, a governanta vai até a sala de aula para pegar suas
coisas e vê a aparição da antiga governanta sentada à sua mesa. A Srta. Jessel parece
"desonrada e trágica", mas a governanta se identifica momentaneamente com ela,
não se considerando melhor do que sua antecessora. Talvez a governanta sinta
vergonha por não ter conseguido atender às expectativas de seu empregador. Como
alternativa, a figura desonrada da Srta. Jessel pode ser uma projeção da própria
mente da governanta. A miséria e a aversão a si mesma que ela vê na Srta. Jessel são,
na verdade, seus próprios sentimentos, provocados por seus desejos sexuais
inaceitáveis.
18.
“‘To let me alone,’ he replied.”
(Capítulo 17)
A governanta chega à cabeceira de Miles no meio da noite e o encontra acordado.
Preocupada com o que teria acontecido em sua escola, ela sugere que há algo que ele
quer lhe contar, e a resposta dele ecoa as palavras do tio, que orientou a governanta a
nunca incomodá-lo, a "deixá-lo em paz". Desta forma, Miles se torna um análogo de
seu tio. A governanta fica cada vez mais atenta a Miles, e ele se rebela, alegando sua
necessidade de independência. Embora esse seja um comportamento natural para
um garoto de 10 anos, a governanta o vê como uma consequência da influência
demoníaca de Quint.
19.
“Much as I had made of the fact that this name had never once, between us, been
sounded, the quick smitten glare with which the child’s face now received it fairly
likened my breach of the silence to the smash of a pane of glass.”
(Capítulo 20)
Os silêncios e as lacunas proliferam na narrativa da governanta, servindo como
marcadores para os assuntos que ela percebe serem tão terríveis que são
indescritíveis. Ela "deu muita importância ao fato" de as crianças nunca falarem de
sua antiga governanta e interpreta o silêncio delas como prova de sua comunicação
clandestina com o espírito perverso da falecida. Notavelmente, a governanta quebra
esse silêncio ao dizer o nome da Srta. Jessel, mas Flora apenas olha sem falar. Mais
uma vez, a governanta interpreta o silêncio da garota como um sinal de que ela é
culpada de participar de horrores indescritíveis.
49
20.
“Flora continued to fix me with her small mask of disaffection, and even at that
moment I prayed God forgive me for seeming to see that, as she stood there holding
tight to our friend’s dress, her incomparable childish beauty had suddenly failed,
had quite vanished.”
(Capítulo 20)
Quando a governanta exige que Flora testemunhe a aparição da Srta. Jessel pairando
sobre o lago, a menina permanece em silêncio, e a governanta conclui que perdeu
Flora para os demônios infernais. Ao mesmo tempo, a governanta percebe que a
beleza da garota está desaparecendo. Sua incerteza sobre o que vê encoraja a suspeita
de que, na verdade, foi a percepção da governanta sobre Flora que mudou. Enquanto
antes ela atribuía à garota uma "beleza infantil", a governanta agora vê Flora como
"quase feia" devido à sua suposta perda da inocência infantil.
21.
“So I put it before her, but she continued for a little so lost in other reasons that I
came again to her aid.”
(Capítulo 21)
Embora a governanta se refira à Sra. Grose como sua amiga e companheira, ela se
considera superior à caseira, tanto social quanto intelectualmente. A governanta
repetidamente "apresenta" à sua companheira novas idéias sobre Quint, a Srta.
Jessel e as crianças, mas sua linha de raciocínio frequentemente deixa a caseira
perdida, como acontece aqui. Ao representar a Sra. Grose como uma pessoa de
raciocínio lento, a governanta faz dela o contraponto perfeito para suas próprias
afirmações, muitas vezes intrigantes. Assim, como a Sra. Grose é simplória, ela não
consegue entender a lógica paradoxal da governanta, que geralmente se baseia em
suposições questionáveis; e como a Sra. Grose não consegue entender, a governanta
precisa "ajudá-la", em grande parte tirando conclusões para ela - conclusões
baseadas nas mesmas suposições.
22.
“How on the other hand could I make a new reference without a new plunge into the
hideous obscure?”
(Capítulo 22)
A Sra. Grose e Flora foram embora, e a governanta pensa em como arrancar de Miles
uma confissão de suas transgressões. Ela está relutante em abordar o assunto com
ele por medo de confrontar "o obscuro hediondo", uma admissão de sua parte que
explica a evasividade de sua própria narrativa e a ambiguidade generalizada da
novela. "O obscuro hediondo" se esconde sob o texto de James, assim como o
subconsciente sob a mente consciente. Como o subconsciente do texto, ele é
50
hediondo demais para ser colocado em palavras, mas age por meio de silêncios e
incertezas para desestabilizar o significado do texto.
23.
“We continued silent while the maid was with us—as silent, it whimsically occurred
to me, as some young couple who, on their wedding journey, at the inn, feel shy in
the presence of the waiter.”
(Capítulo 22)
Embora a governanta tenha convencido a Sra. Grose a partir com Flora para que ela
tivesse tempo de conversar com Miles e conseguir a confissão dele, seu pensamento
"caprichoso" enquanto janta com Miles sugere outros motivos, talvez inconscientes.
Antes desse momento, ela já se imaginava a dama da casa, mas agora assume o papel
com mais seriedade, informando aos empregados que ela e Miles comerão na sala de
jantar, não na sala da aula. De fato, ao dispensar "a ficção" de que Miles é seu aluno e
dizer a ele que é sua "amiga", a governanta ignora as diferenças de idade e classe
entre eles, o que lhe permite vê-los como um casal.
24.
“The frames and squares of the great window were a kind of image, for him, of a
kind of failure.”
(Capítulo 23)
Depois que a governanta e Miles terminam de jantar, Miles olha pela janela da sala.
A governanta tem a impressão de que, embora Miles procure Quint, sua clarividência
falha pela primeira vez. O impedimento da comunicação do menino com o demônio é
simbolizado pela moldura da janela. Miles pode muito bem se sentir “impedido”, mas
não necessariamente por não mais poder se comunicar com os mortos. Apesar de
desejo expresso do menino de deixar Bly, "para ver mais da vida", a governanta
restringiu o mundo dele a apenas os dois, prendendo-o como se em uma armadilha.
25.
“It was for the instant confounding and bottomless, for if he were innocent what
then on earth was I?”
(Capítulo 24)
Miles finalmente revela o que aconteceu na escola: Ele "disse coisas" a alguns outros
garotos. Essa ofensa é tão mais branda do que a governanta imaginava que ela se
sente "flutuar não para a claridade, mas para uma obscuridade mais sombria". Ela
vislumbra momentaneamente a possibilidade de Miles não ter sido corrompido por
Quint, o que, por sua vez, a força a enfrentar "um obscuro mais sombrio", talvez os
horrores reprimidos em seu subconsciente. Como a possibilidade da inocência de
Miles é aterrorizante demais, a governanta logo supõe que ele deve ter dito coisas
abomináveis e o exorta a confessar isso.
51
PARA REFLETIR
1.
O conteúdo do Prólogo aumenta ou diminui sua confiança na governanta como uma
narradora confiável? Por quê?
2.
Levando em conta o gênero e a classe social da governanta, explique por que o nome
dela nunca é revelado.
3.
No prólogo, Douglas diz que a governanta estava apaixonada, mas sua narrativa não
diz por quem, "não de uma forma literalmente vulgar". Quem ela amava? O tio?
Miles? Outra pessoa? De que forma o amor dela é uma parte central de sua história,
como sugere Douglas?
4.
Há um debate de longa data entre os leitores sobre se os fantasmas da novela são
reais. Como a carta da escola de Miles entra nesse debate? A existência da carta dá
mais credibilidade a um dos lados do debate? Por quê?
5.
Na primeira vez em que a governanta vê a aparição de Quint, ela nota "a intensa
quietude em que os sons da noite caíam". No parágrafo final de sua narrativa, ela se
refere ao "dia calmo" duas vezes. Que outros momentos de silêncio ocorrem? O que o
silêncio significa na novela?
6.
Observe atentamente as passagens em que a governanta se concentra em Flora.
Como a impressão que ela tem de Flora muda ao longo da narrativa? A governanta se
vê refletida na menina? Em caso afirmativo, como isso explica a mudança de suas
percepções sobre Flora?
7.
A governanta vê a Sra. Grose como uma "mulher simples, limpa e saudável", mas sua
narrativa permite que os leitores especulem que a caseira é uma personagem
complexa que, na verdade, está manipulando a governanta por seus próprios
motivos. Levando em conta as duas posições, decida qual delas é mais convincente e
explique por quê.
8.
No final do Capítulo 17, a governanta grita: "Porque a vela se apagou?” e Miles
responde: "Fui eu que a apaguei”. Por que Miles apaga a vela? O que a vela pode
52
representar para a governanta e, separadamente, para Miles? Como o ato de Miles de
apagar a vela se relaciona simbolicamente com os temas do romance?
9.
Embora não haja referências textuais explícitas à sexualidade, quando a Sra. Grose
afirma que "Quint era muito livre", há boas razões para suspeitar que ela quer dizer
muito livre sexualmente. Qual é o ponto de vista geral da novela com relação à
sexualidade? Ela condena a sexualidade como algo ruim? Ou critica as proibições
sociais que controlam a sexualidade? Explique sua resposta.
10.
No final da novela, pouco antes da morte de Miles, a governanta exclama para ele:
"Que importância tem ele agora, meu querido? Você agora é meu, [...] mas ele perdeu
você para sempre!". Há pelo menos duas maneiras de entender sua declaração: Ela
salvou Miles de Quint ou acredita que, finalmente, está de posse do próprio Miles.
Com qual interpretação você concorda e por quê?
53
Sobre o que "A Outra Volta do Parafuso" se trata afinal?
Jonathan Dean
Algo terrível aconteceu em Bly, e algo horrível acontece com os personagens; mas o
que foi? Alguém por favor nos diga o que está acontecendo!
Mas "A Outra Volta do Parafuso" não é um mistério, é uma história de fantasmas.
Não apenas "A Outra Volta do Parafuso" falha em responder a qualquer uma dessas
perguntas, sua falta de clareza é talvez o ponto.
Como o poeta Brad Leithauser escreveu sobre a obra-prima de James na revista The
New Yorker, "O livro se torna um modesto monumento à busca ousada da
ambiguidade. Ele é rigorosamente comprometido com a falta de compromisso".
Porque esta obra de arte é completamente aberta, ela funciona como um teste de
Rorschach. As pessoas têm uma tendência a encontrar nela quaisquer questões que
tragam consigo.
A visão freudiana:
Ou será que o caso entre Quint e Jessel não era um problema até que a nova
governanta das crianças o tornou um? A psicanálise do início do século XX
54
frequentemente diagnosticava uma condição conhecida como "histeria sexual", ou
seja, problemas psicológicos graves decorrentes da repressão sexual exigida das
mulheres bem-educadas naquela época. (Até mesmo a palavra "histérica" é misógina.
Etimologicamente, deriva do grego antigo "histera", ou útero, equiparando assim "a
condição de ter um útero" com "uma vida emocional excessiva e caótica".) Na ópera,
a governanta vê seu primeiro fantasma quando está sozinha no parque, fantasiando
sobre uma visita imaginária do tio das crianças, por quem ela parece ter uma queda.
Isso significa que os fantasmas são manifestações de seu próprio desejo reprimido?
Ou são suas visões pesadelos do que Flora e Miles se tornarão se ela falhar em
proteger a inocência deles (ou a sua própria)?
55
fantasmas; ou está tudo na mente da mulher. Então não há nada que possamos
fazer.' Como sociedade, todos somos culpados pela falta de envolvimento e empatia."
Uma lição que todos podemos tirar de A Volta do Parafuso: se você vê algo, diga algo.
Para a governanta, a primeira indicação de que algo não está bem é a carta da escola
de Miles, expulsando o menino. Sua resposta é a pior escolha possível:
Ao contrário da Sra. Grose, não vamos aplaudir essa decisão. Evitar confronto com as
pessoas em sua vida geralmente não é a resposta. Se não aprendermos mais nada
com A Outra Volta do Parafuso, que pelo menos encoraje aqueles que falam assim
que percebem um problema.
56
Ainda mais assustador: Sobre "A Outra Volta do Parafuso"
Brad Leithauser
Em "A Outra Volta do Parafuso", publicado em 1898, a narradora sem nome é uma
jovem mulher, filha de um pastor, que é contratada como governanta de duas
crianças angelicais em Bly, uma remota casa de campo inglesa. O que inicialmente
parece um idílio pastoral logo se torna aterrorizante, à medida que ela se convence de
que as crianças estão se associando a dois espíritos malévolos. Esses são os
fantasmas de antigos funcionários de Bly: um criado e uma governanta anterior. Em
vida, escandalosamente, os dois foram demitidos como amantes ilícitos, e suas
visitações espectrais às crianças sugerem satanismo e possíveis abusos sexuais.
Claramente, Miles, de dez anos, e Flora, de oito anos, precisam ser protegidos. No
entanto, a governanta, em sua tentativa de proteger suas pupilas de perigos
possivelmente imateriais, acaba traumatizando a menina e matando o menino.
O leitor, de fato, se torna um júri único. Ele deve determinar a culpa ou inocência da
governanta. Qualquer julgamento que formos, o livro cumpre abundantemente sua
promessa, estabelecida nas primeiras páginas, de que nada pode se comparar em
termos de pura "terrível - temerosidade". É uma história de fantasmas sombria e
rica. A linguagem é extremamente densa - James tardio em todo o seu requinte
retórico rococó - e, embora o livro tenha apenas algumas centenas de páginas, ele
cria um encanto não apenas sombrio, mas extenso: parece mais longo do que é.
Histórias de fantasmas geralmente têm sucesso em dez ou quinze páginas
compactas, habilmente projetadas para culminar em um momento em que todos os
medos menos plausíveis são realizados. No entanto, James, trabalhando em uma
escala muito mais ampla, consegue manter a tensão aumentando. Sua história se
torna cada vez mais sombria, cada vez mais assustadora. Mesmo assim, apesar de
todas as inovações de enredo, a questão central da história pode ser expressa de
forma direta: A governanta está louca?
Se os fantasmas são reais, então ela está sã, e seus esforços desesperados para
proteger suas queridas crianças, embora condenados no final, são nobres e de
abnegação. Se os fantasmas são meras ilusões, então ela está sofrendo um surto de
insanidade, no qual suas "revelações" sobre as comunicações sobrenaturais das
crianças e sua percepção delas como aliadas ao mal indizível devem refletir suas
agressões e hostilidades profundamente reprimidas.
57
Todas essas tentativas de "resolver" o livro, por mais admiráveis que sejam,
inadvertidamente contribuem para sua diminuição. Sim, se optarmos por aceitar a
realidade dos fantasmas, "A Outra Volta do Parafuso" apresenta um relato
estimulante de terror desenfreado. (Foi assim que o li pela primeira vez, na minha
adolescência.) E se aceitarmos a loucura da governanta, temos uma visão fascinante
de uma dissolução mental avassaladora. (Foi assim que o li em seguida, sob a
instrução de um professor na faculdade.) Mas "A Outra Volta do Parafuso" é maior
do que qualquer uma dessas interpretações. Seu prazer mais profundo reside na
forma cuidadosamente elaborada em que James se recusa a tomar partido. Em seus
vinte e quatro breves capítulos, o livro se torna um modesto monumento à audaciosa
busca pela ambiguidade. Ele é rigorosamente comprometido com a falta de
compromisso. Em cada releitura, você tem que se maravilhar novamente com a
habilidade e meticulosidade com que James joga dos dois lados.
No entanto, a maior proeza do livro, seu paradoxo mais agudo, é que o efeito final é
precisamente o oposto da abertura. "A Outra Volta do Parafuso" pode ser o livro mais
claustrofóbico que já li. Sim, você é livre para alternar constantemente de uma
interpretação para a próxima, e no entanto, à medida que você avança mais
profundamente na história, cada interpretação começa a parecer mais terrível que a
outra. À medida que o horror se acumula, a bela casa de campo efetivamente
desaparece, como a carne que se retira do crânio de um cadáver, e somos depositados
em uma paisagem infernal, sem plantas, baixa de ossos e pedras: muitos lugares para
correr, mas nenhum lugar para se esconder.
58
implicações necessárias se os fantasmas forem reais. Ele conclui, sem rodeios, que o
mal que ameaça as crianças "é canalizado e comunicado pela governanta", que nos
apresenta "uma imagem inesquecível de projeção psicológica - os medos internos da
governanta transfigurados pela imaginação em uma ameaça palpável." Ele
efetivamente nos oferece uma história de fantasmas sem fantasmas.
59