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Guia de leitura

ANNE
DE GREEN GABLES

FEMINILIDADE BÍBLICA
A PARTIR DA LITERATURA
01
Quem foi
Lucy Maud Montgomery?

Lucy Maud Montgomery, conhecida apenas como Maud entre seus familiares, nasceu
em Cli on, na província da Ilha do Príncipe Eduardo, no Canadá, em novembro de 1874.
Sua mãe, Clara, morreu de tuberculose antes de a menina completar dois anos. O pai,
Hugh, casou-se novamente e a pequena Lucy foi criada pelos avós maternos , de
sobrenome MacNeills, em uma fazenda próxima a Cavendish, também situada na
província da Ilha do Príncipe Eduardo (foi em Cavendish que Lucy se inspirou para criar
a ficcional Avonlea, de Anne de Green Gables).

Quando criança, Lucy gostava bastante de ler, ela teve uma infância muito solitária e por
isso procurava conforto na imaginação. No contexto em que a autora vivia os romances
eram considerados inapropriados para crianças e Maud não tinha livre acesso a eles,
mas teve, em compensação, irrestrito acesso à poesia, o que contribuiu bastante para
que seus escritos fossem, posteriormente, tão apreciados. Em ar go in tulado “A
história da minha carreira”, Montgomery disse que os únicos romances de que se
lembrava como fazendo parte da biblioteca de seus avós eram Rob Roy, de Sir Walter
Sco , As Aventuras do Senhor Pickwick de Charles Dickens (quem leu Mulherzinhas vai
se lembrar da influência deste romance na vida das March) e Zanoni de Edward Buwer-
Ly on. Ela leu todos mais de uma vez, mas se disse verdadeiramente influenciada pela
poesia de Milton e Lord Byron. Certamente, a imersão precoce de nossa e scritora no
mundo da poesia influenciou seu es lo literário, tão poé co e descri vo; influenciou
também os gostos de sua personagem mais famosa, Anne Shirley, que era puro lirismo.

Também neste ar go, Lucy conta que escreveu seu primeiro poema aos 11 anos e,
entusiasmada, leu-o para seu pai em um dia em que ele apareceu de surpresa para
visitá-la. A frustração foi grande quando ele disse, sem nenhum entusiasmo ou
acolhimento, que aquelas linhas sem rimas nada se pareciam com um poema. A
pequena, no entanto, não se deixou abater pela severa crí ca e perseverou na escrita -
até publicar, tempos depois, quando contava 15 anos, seu primeiro poema em um jornal
local.

A par r de 1893, Lucy estudou no Prince of Wales College em Charlo etown (capital
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da Província da Ilha do Príncipe Eduardo), lá ela obteve o tulo de professora licenciada,


finalizando o programa de 2 anos em apenas 1 (assim como Anne). Depois de dar aulas
por um ano, estudou na Dalhousie University em Halifax, Nova Escócia, um feito raro
para mulheres de sua época. Ao fim de seus estudos, embora não vesse paixão por
lecionar, Lucy Maud trabalhou como professora em diversas escolas da Província da Ilha
do Príncipe Eduardo, ela fazia isso para se sustentar, como moça solteira que era, e
também pelo fato de, por meio deste o cio, conseguir tempo livre para se dedicar àquilo
que mais amava: escrever. Entre 1897 e 1907 ela publicou, entre contos e poemas, mais
de 100 histórias em jornais e revistas.

Durante os anos em que lecionou, Montgomery teve inúmeros pretendentes – já que


era uma moça bonita, inteligente e muito bem apresentável (Lucy interessava-se muito
por moda e estava sempre elegantemente ves da ) – mas rejeitou a todos. Ela só veio a
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se casar aos 37 anos, quando finalmente aceitou o pedido do reverendo presbiteriano
Ewan Macdonald, um escocês sério e pouco interessado em literatura. Isso se deu em
1911, ano em que a avó materna de Lucy faleceu e 3 anos depois da publicação de Anne
de Green Gables, o livro que leremos e que fez com que Montgomery se tornasse, ainda
em vida, a escritora mais conhecida do Canadá.

Após o casamento, os Macdonald mudaram-se para Leaskdale, província de Ontário,


onde tiveram seus três filhos, Chester, Hugh (morto ao nascer) e Stuart. Tanto Lucy
quanto Ewan veram surtos depressivos por diferentes mo vos ao longo da vida e
parece que ambos ressen am-se pela escolha matrimonial, o que os afastou e os fez
sofrer muito, contudo a agora senhora Macdonald decidiu que era um dever cristão
fazer seu casamento funcionar e viveu em companhia do marido até o fim da vida.

Durante esse tempo, Lucy nunca deixou de escrever e publicar romances, contos e
poesias, deixando um enorme legado para a literatura canadense. A família Macdonald
viveu também em Norval, Ontário, onde Ewan foi pastor por alguns anos. Após sua
aposentadoria, o casal mudou-se para os arredores de Toronto, onde compraram uma
casa que Lucy nomeou como Journey´s End (Fim da Jornada). Foi lá que ela morreu em
1942, tendo conhecido o sucesso como escritora e também a primeira adaptação
cinematográfica da série Anne de Green Gables, que muito lhe desagradou.

Montgomery foi ví ma de infarto devido a uma trombose coronária, porém, em 2008


uma de suas netas foi a público dizer que sua avó nunca havia se curado da depressão e
que possivelmente tenha se matado, mas tais informações não passam de especulação.
Lucy Maud Montgomery Macdonald foi enterrada em Cavendish, local onde sempre
esteve seu coração.

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03
Por que
Anne de Green Gables?

O Entre Sapatos e Livros entra em seu terceiro ano com o tema FILHA. Em 2020
debruçamo-nos sobre o papel da esposa na vida da mulher; em 2021 foi a vez de
pensarmos sobre o nosso papel como mães; para 2022, seguindo a esteira das relações
familiares, chegou a vez de nos analisarmos como filhas. Usamos, para isso, a literatura
como recurso principal, ela nos auxilia com exemplos (ou an -exemplos) reais (embora
ficcionais) de alguém que exerce o papel sobre o qual nos debruçamos e, de quebra,
amplia imensamente o nosso imaginário, fazendo-nos cul var mente e espírito com
inteligência e grandes virtudes.

Ao pensar sobre alguma “filha” da literatura que houvesse me marcado, logo trouxe à
memória a pequena Anne Shirley. É curioso pensar que ela começa o livro como órfã,
mas o finaliza como um grande exemplo de como devemos nos portar com nossos pais,
independentemente de nossa idade atual. Pode ser que você esteja neste momento
pensando: “mas então este livro não é para mim, pois já perdi meus pais há muito (ou
pouco) tempo e desde então não exerço mais este papel na minha vida”. Sinto muito
por sua perda, mas quero te dizer que um clássico, como é o caso deste livro, não precisa
de temá cas para ser lido, e ainda que você não exerça mais o papel de filha, ele pode
te ajudar e ensinar como mãe, como esposa, como amiga e, principalmente, como cristã.

Anne de Green Gables é um livro infanto-juvenil, mas este também não é um impedi vo
de leitura, adultos não só podem como devem lê-lo, além de ser fácil e fluido, ele nos
leva a treinar a imaginação com belas (e ao mesmo tempo simples) descrições de um
cenário incrível, permeado pelas estações do ano e pelo amor de Anne pela natureza ;
as referências bíblicas e literárias trazidas pelos personagens são preciosas e cheias de
significado, os temperamentos bem desenhados de cada homem, mulher e criança que
aparecem na trama ensinam-nos sobremaneira; e a cosmovisão cristã da autora brilha
intensamente em cada página, falando-nos sobre o Evangelho de maneira simples e
quase impercep vel. Não foi à toa que Anne de Green Gables entrou para a seleta galeria
dos clássicos.
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Como vimos na pequena biografia da autora logo acima, Lucy Maud Montgomery foi
uma escritora que alcançou reconhecimento ainda em vida (o que não é a realidade de
boa parte dos grandes autores) e seus escritos chegaram até mesmo no Japão, onde
Anne é até hoje muito amada e aclamada, contudo, a obra da canadense demorou para
“engatar” em nosso país. O livro Anne de Green Gables, de 1908, só chegou ao Brasil em
1939 (com o nome Anne Shirley) e as sequências (mais 8 volumes que são uma
con nuação do primeiro, sobre os quais falaremos posteriormente) apenas em 2018,
quando os direitos autorais sobre a obra já estavam ex ntos e após o estrondoso
sucesso da série da Ne lix Anne with an E, baseado no texto de Montgomery.

Embora a série tenha feito distorções inaceitáveis à cosmovisão de Lucy, especialmente


na segunda e terceira temporadas, vale a pena assis r à primeira (se você ainda não viu,
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sugiro que o faça depois de ler o livro). A fotografia é belíssima e o elenco surpreende
pela perfeita caracterização dos personagens, é uma pena que tenham feito tantas
mudanças desnecessárias, trazendo propaganda progressista a uma história que tem
valores opostos a estes e que fala por si só.

Quanto ao livro, é lindo ver como Anne desenhou um mecanismo autodidata para não
ser tragada por suas dores, aquelas que a acometeram sem piedade desde a mais tenra
infância, tal mecanismo é – ainda que não inédito – fascinante e totalmente didá co. A
menina nos ensina como a imaginação é capaz de abrandar padecimentos sem fim,
despertar amores e amizades e fazer brotar perdão e apreço de onde, em geral, só
poderia vir rancor e amargura. Anne foi salva pelos livros e por seu apreço à natureza,
que a ensinaram a criar. Apesar de um certo roman smo exacerbado, que ela alimentou
durante sua infância e adolescência, a menina soube viver de forma poé ca,
mergulhando intensamente na imaginação para esconder-se da dureza que a realidade
material lhe impôs.

A garo nha de cabelos vermelhos foi presenteada com mãe e pai ado vos e foi capaz
de amolecê-los por meio de sua sagacidade humilde, simplicidade, amor abnegado e
muita gra dão. Marilla e Ma hew (os irmãos solteiros que adotaram Anne ) raram o
“órfã” de sua história e a fizeram FILHA, vamos aprender com ela a sermos gratas por
aqueles que nos deram (ou man veram) a vida.

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05
O Gênero Narrativo

Os gêneros literários mais comumente conhecidos são três: lírico, épico e dramá co.
Resumidamente podemos dizer que o primeiro refere-se à poesia e o terceiro ao teatro.
Narra vas escritas em forma de versos e que geralmente contam um fato grandioso
sobre a história de um povo formam o gênero épico. Hoje dificilmente novas epopeias
são escritas e sua variante, o gênero narra vo ou prosaico, tornou -se o mais comum na
literatura mundial.

Dependendo da estrutura, da forma e da extensão, as principais manifestações


narra vas são o romance, a novela e o conto. Em quaisquer dessas modalidades temos
representações da vida comum, de um mundo individualizado e par cularizado, ao
contrário da universalidade das grandiosas narra vas épicas.

Anne de Green Gables enquadra-se no gênero narra vo e, por sua forma e extensão,
deve ser chamado de romance. Ao contrário do que muitos imaginam, um romance não
é necessariamente uma história de amor que tem como protagonistas um casal
apaixonado, essa confusão acontece devido à Escola Literária denominada Roman smo
(que foi muito mais que apenas uma Escola Literária, mas um período importan ssimo
da história mundial) em que se idealizava todas as relações humanas a par r das
sensações que elas provocavam, inclusive as paixões avassaladoras entre homens e
mulheres. Um romance é, na verdade, a narração de um fato imaginário, mas
verossímel, que representa quaisquer aspectos da vida familiar e social do homem. Há
personagens e situações densas e complexas e a passagem do tempo é, normalmente,
lenta e bem descrita.

Uma narra va normalmente representa o mundo obje vo e a ação do homem


considerada nas suas relações com a realidade externa, ela representa, nas palavras de
Hegel, “uma esfera da vida real, com os aspectos, as direções, os acontecimentos, os
deveres, etc., que ela comporta”. Por se estruturar a par r da dissolução da epopeia
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clássica e do declínio das novelas pastoris, galantes e de cavalaria da Idade Média, o


romance emerge sem regras fixas ou modelos a serem o bedecidos. Por isso, por não ter
um passado a guardar, ele se tornou a mais aberta de todas as formas literárias.

No romance, os grandes heróis são os homens comuns, gente que vive dramas
corriqueiros, cujas ações não lhes proporcionam fama e poder, mas giram em torno de
fatos rela vamente insignificantes como complicações sen mentais, sociais e
financeiras, comuns à maioria das pessoas e, por isso, o leitor se iden fica tanto. No
romance, a sondagem interior ou análise psicológica é sempre muito presen te e os
conflitos internos estão sempre lá. Disse Hegel, com muita propriedade, a respeito desta
forma literária: “O romance é a epopeia de um mundo sem deuses”, isto é, o romance
é a epopeia do co diano.

06
O Romance de Formação

O Romance de Formação é um sub po do romance e retrata não só os dramas de um


indivíduo em certa altura da vida, mas os situa por um longo espaço de tempo, passando
por várias fases, desde a infância ou juventude até à maturidade. Nele são expostos o
processo de desenvolvimento sico, moral, psicológico e esté co de um ou mais
personagens, de forma quase didá ca.

A série escrita por Lucy Maud Montgomery que começa com Anne de Green Gables
entra nesse sub po e é um romance de formação completo. São 9 livros e em todos
Anne está presente, contudo, nos 3 úl mos, ela atua muito mais como coadjuvante do
que como protagonista. Por meio destes livros, os leitores acompanham a menina desde
seus 11 anos, quando chegou a Green Gables, até os 75. Eles foram publicados ao longo
de algumas décadas, entre 1908 e 1942, e não foram escritos em uma ordem
cronológica. O úl mo deles, que Montgomery escreveu pouco antes de morrer, não foi
publicado à época por recusa do editor. Uma versão resumida deste livro foi lançada em
1974, mas os fãs de Montgomery só puderam conhecer o original em 2009, quando a
Editora Viking Canada conseguiu publicá-lo, 67 anos depois de ter sido escrito.

Segue a lista dos livros que formam a série Anne:

Anne de Greengables (Anne of Green Gables) – Escrito em 1908, retrata a vida de Anne
dos 11 aos 15 anos
Anne of Avonlea (Anne de Avonlea) – Escrito em 1909, retrata a vida de Anne dos 16 aos
18 anos
Anne of the Island (Anne da Ilha) – Escrito em 1915, retrata a vida de Anne dos 18 aos
22 anos
Anne of Windy Poplars (Anne de Windy Poplars) – Escrito em 1936, retrata a vida de
Anne dos 22 aos 25 anos
Anne’s House of Dreams (Anne e a Casa dos Sonhos) – Escrito em 1917, retrata a vida de
Anne dos 25 aos 27 anos
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Anne of Ingleside (Anne de Ingleside) – Escrito em 1939, retrata a vida de Anne dos 34
aos 40 anos
Rainbow Valley (Vale do Arco-Iris) – Escrito em 1919, retrata a vida de Anne dos 41 aos
43 anos
Rilla de Ingleside (Rilla de Ingleside) – Escrito em 1921, retrata a vida de Anne dos 49 aos
53 anos
The Blythes are Quoted (Os Contos dos Blythes) – Escrito em 1942, retrata parte da vida
de Anne dos 40 aos 75 anos. Na edição em português, este livro foi dividido em 3 (Os
Contos dos Blythes Volume 1, Os contos dos Blythes Volume 2 e Os Poemas dos Blythes)

Há ainda outros dois livros in tulados Chronicals of Avonlea (Crônicas de Avonlea) - 1912
e Further Chronicals of Avonlea (Mais Crônicas de Avonlea) – 1920, que não tratam
necessariamente da vida de Anne.

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A história da garota ruiva de Avonlea já recebeu inúmeras adaptações para o cinema e
a televisão, seja em formato de filmes ou séries. Basta pesquisar para encontrá -las.

Quanto a nós, por enquanto acompanharemos apenas a primeira parte da história, o


primeiro livro, aquele deu origem a todos os outros. Acredito que para muitas de vocês
será o pontapé inicial para um novo interesse e para a leitura de toda a série.

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Temas importantes a
serem observados

Imaginação (Anne) x Sobriedade (Marilla): Enquanto Anne u liza o recurso imagina vo


para “melhorar seu mundo”, Marilla (a mãe ado va) é incapaz de se entregar à fantasia
e confunde bondade e decoro com comportamento sensível. Ela adere firmemente ao
código social que guia as ações de senhoras e senhoritas bem comportadas e Anne acha
di cil entender porque Marilla tem tanta dificuldade em usar sua imaginação.

Fato é que a velha senhora não é naturalmente inclinada ao uso desta faculdade da
mente (além de não ter sido treinada nela, por ter recebido uma educação rígida e
pouco sensível), somado a isso, há nela um receio de que Anne experimente dolorosas
decepções quando a realidade não fizer jus às suas expecta vas.

Anne quer agradar Marilla sendo obediente e deferente, mas encontra prazer irresis vel
em suas fantasias indômitas. No entanto, à medida que amadurece, a menina encontra
equilíbrio entre imaginação e respeitabilidade, justamente porque Marilla a auxilia no
caminho do amadurecimento, ao mesmo tempo em que entende a importância do uso
da imaginação saudável para o desenvolvimento completo.

Roman smo Exacerbado: Quando criança, Anne não consegue dis nguir entre emoção
verdadeira e mero sen mentalismo , muitas vezes se permi ndo falsas emoções por
simplesmente achar român co. Isso colore suas estórias, que apresentam melodrama,
paixões avassaladoras, devoção eterna e perdas trágicas. Ela e suas amigas de sfrutam
de exibições histriônicas de emoção, como quando choram pela par da de um professor
de quem sequer gostavam, ou quando Anne e Diana se aterrorizam imaginando a
floresta assombrada.

As leituras que faziam também contribuíam para o sen mentalismo em que Anne e suas
colegas (por ela influenciadas) mergulhavam. A história se passa no final do século XIX,
período de declínio do roman smo como escola literária e movimento histórico, mas
ainda assim muito influenciado por ele. O movimento român co ficou conhecido
justamente pela valoração do sen mentalismo exacerbado , pela idealização do amor e
e pelo tom depressivo pico de diversos autores do movimento, que muitas vezes
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exaltavam a fuga da realidade, fosse pela morte, fosse pelo sonho ou ainda pela própria
arte. O movimento român co era picamente egóico e antropocêntrico, detestava
ordens e regras e adorava rela vizar leis e valores universais. Anne só não foi totalmente
engolida por tais ideais porque, como foi dito no tópico anterior, Marilla - embora
totalmente desprovida de imaginação, mesmo aquela que é saudável – soube trazê-la
(juntamente com a Sra. Allan e a Srta. Stacy) a um caminho de fé e maturidade (Vemos,
no uso constante deste tema, a influência que Lucy Maud Montgomery recebeu de
autores como Lord Byron e Edward Bulwer-Ly on).

Em parte, o apego de Anne ao sen mentalismo fornece um refúgio para as emoções


reais de medo e perda que ela experimentou quando mais nova. A morte de seu s pais a
deixou à mercê dos outros e ela nunca foi tratada com o amor e a atenção que a maioria
das crianças recebe, mas com crueldade e descuido. Por conhecer a dor da emoção real

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é que o mundo das brincadeiras e do sen mentalismo lhe é tão reconfortante , pois
quando ela imagina histórias e jogos sen mentais, julga-se capaz de controlar as
situações, o que não poderia fazer no mundo real.

Moda: Embora Anne se interesse por roupas bonitas porque quer parecer mais bela,
seu maior fascínio por estar na moda existe principalmente porque ela acredita que ser
boa seria mais fácil se es vesse bem ves da e apresentável. Ela também acredita que
estar adequadamente ves da seria um bom meio para se encaixar em seu grupo de
amigas e apesar de, a princípio, se resignar por não poder ter ves dos como os delas,
sua transformação de humilde órfã para colegial estudiosa, passa por suas roupas.

À medida que Anne cresce, suas roupas tornam-se cada vez mais elegantes (graças,
primeiramente a Ma hew e depois à conformação de Marilla a isso). Quando chega a
Green Gables ela usa roupas feias e escassas, vindas do orfanato; elas representam sua
solidão e a negligência que sofreu. Já morando com os Cuthbert, Marilla acha
inapropriado que a menina vista roupas chama vas ou cheias de babados e faz para ela
ves dos sem graça, sem detalhes ou cores, sendo gen l com Anne, mas não vendo
mo vo algum para sa sfazer seus desejos de se ves r melhor.

Quando Ma hew atreve-se a presentear a garota com um ves do de mangas bufantes,


o coração de Marilla começa a ser amolecido e ela passa a ves -la da forma mais
elegante possível. A mudança gradual na maneira de ves r da menina demonstra a
mudança gradual de sen mentos que Ma hew e, especialmente, Marilla, têm para com
ela: eles passam a vê-la como filha e entendem a importância de ves -la tão bem quanto
se ves am as outras meninas.

O cabelo ruivo de Anne era também uma grande preocupação na infância, mas
transformou-se em aceitação (e por fim apreciação) à medida que ela foi crescendo. Sua
aversão pelo cabelo revela sua an pa a por si mesma; quando percebe-se amada, Anne
aprende a amar-se também e os cabelos vermelhos deixam de ser um problema.

Lucy Maud Montgomery interessava-se muito por moda e era conhecida por sua
elegância, certamente este fascínio fez com que ela quisesse inserir o tema na trama.

Amor pela Natureza: A imaginação poderosa de Anne se revela durante seu primeiro
passeio até Green Gables, quando ela fala roman camente sobre as belas árvores e
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vistas naturais de Avonlea. A natureza não só agrada os olhos de Anne , mas lhe dá
companhia confiável. Como até então ela não nha amigos humanos, encontra
companhia nas plantas e nos riachos.

Em momentos de tristeza, Anne se conforta com a ideia de que pode subir nos braços
de uma árvore e neles dormir, sendo acolhida. Para ela, Avonlea com suas árvores
saudáveis representa um paraíso pastoral, que contrasta com as árvores doentes e a
frieza de seus dias no orfanato. Em Green Gables, ela mostra seu respeito pela natureza
dando aos lagos e estradinhas nomes floreados e dramá cos.

À medida que amadurece, Anne continua amando a natureza e a vê como uma metáfora
de seu futuro: cheio de beleza, promessas e mistério.

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Fiquem atentas

O livro nos traz excelentes exemplos de como exercer bem nossos papeis não só de
filhas, mas também de esposas, mães, e donas de casa cristãs com humildade, amor e
aceitação das circunstâncias nas quais estamos instaladas. Fique atenta e não leia por
ler, procure aprender com todas as personagens e tente exercitar na lida di ária um
pouco do aprendizado que cada página lhe trouxer. Lembre -se de que nosso intuito aqui
é adquirir cultura em sua forma mais arcaica: cul var o espírito para que como uma
terra bem tratada, ele dê muitos e preciosos frutos. O trabalho do agricultor é árido e
pesado e o nosso também deve ser, para trazer alimento de qualidade à alma dos
nossos, o labor deve ser constante e humilde. Que aprendamos com Anne de Green
Gables e que estejamos totalmente dispostas a aprender umas com as outras.

Deus nos abençoe.

Com carinho.

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Cronograma de Leitura

10/01 – O Guia de Leitura será disponibilizado

12/01 – Aula sobre os 7 primeiros capítulos (De A senhora Rachel Lynde é surpreendida
até Anne faz suas orações)

15/01 – Aula sobre os capítulos 8 a 14 (De Começa a educação de Anne até A confissão
de Anne)

19/01 – Aula sobre os capítulos 15 a 20 (De Uma tempestade no copo d’água da escola
até Uma boa imaginação mal-aventurada)

22/01 – Aula sobre os capítulos 21 a 26 (De Um novo desvio em aroma zantes até O
Clube dos Contos se forma)

26/01 – Aula sobre os capítulos 27 a 32 (De Vaidade e vexação de espírito até Sai a lista
de aprovados)

29/01 – Aula sobre os capítulos 33 a 38 (De O concerto do hotel até A curva na estrada)

31/01 – Bate-papo online sobre o livro (As par cipantes serão selecionadas via sorteio)

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