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Elias José

Cantigas de
adolescer
Ilustrações: Evandro Luiz da Silva

Manual do
ProFessor
Cantigas de adolescer 2

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1a edição
2018

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

José, Elias
Cantigas de adolescer / Elias José ; ilustrações
Evandro Luiz da Silva. — 1. ed. — São Paulo :
Anglo, 2018

1. Literatura infantojuvenil I. Silva, Evandro


Luiz da. II. Título.

18-17098 CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático:


2. Literatura infantojuvenil 028.5
1. Literatura juvenil 028.5
Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964
ISBN 978-85-468-1671-2 (aluno)
ISBN 978-85-468-0105-3 (professor)

Elias José
Cantigas de
adolescer
Ilustrações: Evandro Luiz da Silva

Manual do
ProFessor
Cantigas de adolescer 1
Introdução
A cada dia que passa, vê-se menos sentido em se falar em atividades exclusiva-
mente femininas ou masculinas. O ser humano tem se reinventado de maneira tão
criativa que suas habilidades pessoais no cotidiano doméstico e social não se pren-
dem mais a limites e fronteiras. Entretanto, questões biológicas e comportamentais
do ser feminino ou do masculino sempre existirão.
Elias José escreve com tal sensibilidade suas Cantigas de adolescer, o livro que será
objeto de estudo neste Manual, que, quando o professor apresenta aos alunos essa obra,
assiste a uma imediata identificação dos jovens leitores com os poemas. Quando o
autor escreve as Cantigas de Maria e as Cantigas de João, com suas características
peculiares, está, a priori, fazendo um “registro histórico” da humanidade de cada ser.
É a literatura colocando-se à disposição da perpetuação da vida e de seu direito de se
transformar. O leitor, antes de ser introduzido num mundo de constantes e intensos
movimentos, precisa ser orientado a reconhecer o próprio eu para, só então, poder
exercer seu protagonismo de fato e de direito – para isso é necessário o:

ensino [que] favorece uma ampliação das perspectivas e, portanto, de


variáveis, tanto do ponto de vista espacial quanto temporal. Isso permi-
te aos alunos identificar, comparar e conhecer o mundo, os espaços e as
paisagens com mais detalhes, complexidade e espírito crítico, criando
condições adequadas para o conhecimento de outros lugares, socieda-
des e temporalidades históricas.
(BNCC, 2017, p. 354)

Cabe a você, professor, tomar consciência de seu papel como mediador para iniciar
jovens na leitura de modo que se preservem a liberdade e o prazer intrínsecos à fruição
de textos literários e o caráter individual e reflexivo dessa atividade. Lajolo acrescenta:

[...] a literatura é importante no currículo escolar: o cidadão, para exer-


cer plenamente sua cidadania, precisa apossar-se da linguagem literária,
alfabetizar-se nela, tornar-se seu usuário competente, mesmo que nunca
vá escrever um livro: mas porque precisa ler muitos.
(LAJOLO, 2010, p. 106)

Assim, a obra Cantigas de adolescer e este Manual do Professor estão em perfeita


adequação para que o professor leve os alunos/leitores a:

Interpretar e expressar sentimentos, crenças e dúvidas com relação a si


mesmo, aos outros e às diferentes culturas, com base nos instrumentos
de investigação das Ciências Humanas, promovendo o acolhimento e a
valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus sabe-
res, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qual-
quer natureza.
(BNCC, 2017, p. 355)

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Antes da leitura

Contextualização do autor, do ilustrador e da obra


Elias José nasceu em 1936, em Guaranésia (MG), e faleceu em 2008, em Santos
(SP). Além de escritor, foi professor, tendo convivido boa parte da vida com adoles-
centes de todas as idades. Sobre Cantigas de adolescer, o próprio Elias José declarou:

Comecei a escrever pensando em como as minhas filhas agiam naquela


idade. A Iara já tinha passado da adolescência, era uma jovem. A Lívia
estava em plena adolescência, enfrentando dificuldades para adaptar-
-se àquele mundo de quem já não é mais criança e ainda não é adulto.
O Érico era criança e ainda não havia entrado no jogo de ser cobaia do
pai-poeta.
(p. 68)

Portanto, Elias José não só escreveu a obra baseando-se na vida de seus jovens
alunos, mas também na dos jovens que tinha dentro de casa. Além disso, fez muitos
cursos sobre psicologia da adolescência para retratar com coerência o adolescente
daquela época (início da década de 1990).
Sobre a construção de Cantigas de adolescer, diz o autor:

[...] acabei criando dois personagens, Maria e João, duas vozes poéticas
que retratam o feminino e o masculino. Os problemas por eles vividos
ligam-se aos medos, sonhos, descobertas, inseguranças, desajustes no
relacionamento com os adultos, com os amigos, com o seu próprio eu.
Ligam-se às mudanças no corpo e às descobertas do amor. Mesmo co-
locando tragédia onde não há, busquei o humor e os sentimentos (não
o sentimentalismo) para expressar o que queria. Mesmo buscando ins-
piração nas cantigas medievais de amigo e de amor, valorizei as formas
modernas e livres de cantar.
(p. 69)

O ilustrador de Cantigas de adolescer, Evandro Luiz da Silva, mora em Belo Ho-


rizonte (MG), é ilustrador, artista plástico, cartunista e caricaturista. Atuou como
ilustrador do jornal Diário da Tarde, de Belo Horizonte, já trabalhou para jornais e
agências de propaganda, participou de salões de arte e humor, além de ter ilustrado
inúmeros livros.

Motivação para leitura/escuta


É interessante que você proponha aos alunos algumas hipóteses acerca do
livro em questão. Você pode começar apresentando o livro e sondando as expec-
tativas da turma com relação à história que será lida. Procure preparar o imagi-
nário do jovem para a leitura prazerosa que está por vir. Antes de tudo, faça um
comentário sobre a importância dos livros na vida dos indivíduos como uma rica
fonte de aprendizado. Então, dê início ao trabalho de motivação para a leitura.
Veja, a seguir, algumas sugestões:

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1. Pergunte aos alunos o que o título “Cantigas de adolescer” sugere a respeito do enre-
do. Com base no que eles responderem, combine que, após a leitura da obra, eles po-
derão fazer, todos juntos, uma comparação do que foi imaginado e do que realmente
o enredo trata.
2. Deixe que os alunos, livremente, tomem contato direto com o livro, folheando-o, manu-
seando-o, ganhando, assim, maior familiaridade com ele. Peça-lhes que observem a capa,
as ilustrações e o retrato do autor. Não se esqueça de orientá-los quanto aos cuidados na
conservação do livro, pois ele poderá ser reaproveitado por outros alunos.
3. Para instigar a curiosidade dos alunos, leia com eles o texto de quarta capa. Ao longo da
leitura, abra espaço para que façam comentários, e faça-os você também.
4. Em seguida, leia com os alunos a motivação para a leitura (p. 3) e converse com eles sobre
esse texto. No dicionário, a palavra “adolescente” é sempre descrita como a limitação de
uma fase, de uma etapa determinada da vida, de um espaço de tempo que contempla al-
guns anos. Mas, para quem vive essa etapa, “adolescente” é muito mais amplo do que isso: é
um jeito de estar no mundo. Tendo como fundamento essa reflexão, pergunte aos alunos:
“E, para vocês, o que quer dizer ‘ser adolescente’?” Deixe que eles comentem livremente as
próprias sensações e sentimentos em relação ao que pensam sobre a adolescência.
5. Leia também para a turma o texto biográfico do autor e a entrevista que ele deu. Procure
pesquisar, antes do encontro com os alunos, um pouco mais sobre a vida e a obra de Elias
José. Sua familiaridade com o autor facilitará o trabalho de condução dos educandos ao
universo da obra. Além disso, leia com a turma as informações biográficas do ilustrador da
obra, contidas neste Manual.
6. Peça aos alunos que pesquisem um pouco mais sobre o autor em sites confiáveis. É im-
portante que eles não se esqueçam do nome Elias José para que possam reconhecê-lo em
outras leituras que venham a fazer de obras dele.

Adequação temática, categoria e gênero literário


Cantigas de adolescer é um livro de poemas, com eu lírico ora feminino, ora
masculino. Ou seja, a obra é integrante desse gênero literário lírico, em que a ex-
pressão da subjetividade se sobrepõe à objetividade.
Nesta obra, direcionada a alunos de 6o e 7o anos do Ensino Fundamental – Anos
Finais, as situações vividas por Maria e João enquadram-se no tema Autoconhe-
cimento, sentimentos e emoções – visto que as duas vozes poéticas chamam a
atenção para as mudanças físicas, para a construção de sua identidade, para a
transição infância-adolescência e para a descoberta do amor, com seus anseios e
suas desilusões, alegrias e dores –, além do tema Família, amigos e escola, uma vez
que Maria e João tratam em seus poemas assuntos como: construção de amizades,
conflitos familiares, inseguranças, solidão e aprendizagens advindas da interação
com o outro.
Assim, Cantigas de adolescer convida à ref lexão sobre o universo juvenil,
incentivando o jovem leitor a criar também os próprios poemas.

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Depois da leitura
O texto e o contexto: interpretação do texto
Agora que a obra já foi lida, contextualize-a, isto é, esclareça todas as dúvidas
dos alunos, confirmando ou não as hipóteses levantadas por eles antes da leitura do
livro. Peça a todos que manifestem sua opinião acerca do texto. Lembre-se de que
algumas turmas podem ter um caráter mais tímido e que, por isso, precisam de um
estímulo maior para que consigam dar início às considerações a que chegaram. Não
deixe que um clima de apatia diante da obra que leram perdure por muito tempo.
Portanto, instigue os alunos ao máximo, provoque, pergunte, compare, chame a aten-
ção para determinado ponto que possa atraí-los e movê-los ao debate. Em relação ao
debate, veja algumas sugestões:
1. Pergunte aos alunos o que eles acharam da obra, deixando-os livres para as considerações
a respeito dela.
2 . Questione-os se eles se identificaram com Maria ou com João. Peça-lhes que comentem
sobre as semelhanças e as diferenças que eles próprios apresentam em relação aos perso-
nagens da obra.
3. Um dos sonhos de Maria era ganhar na loteria para poder comprar várias linhas telefônicas,
como ela diz no poema “Sonhos” (p. 16). Por essa informação, verifica-se que o enredo da
obra se passa em outra época, uma vez que, hoje em dia, o comum é o celular, a internet, etc.
Pergunte aos alunos quanto tempo eles costumam ficar diante do computador ou ao celular
e o que pensam sobre isso.
4. A poesia lírica torna-se, por vezes, um desabafo do poeta. Pergunte aos alunos se algum
deles tem por hábito escrever poesias ou diários pessoais como forma de extravasar as
emoções, angústias, dores e anseios.
5. Leia com a turma o poema “Conversa séria” (p. 35) e depois abra um debate a respeito do
tema autoestima. Pergunte aos alunos: “Será que uma simples espinha nascida no rosto de
uma menina é motivo para que ela queira acabar com a própria vida?”.
Professor, aproveite esse poema para aprofundar a discussão sobre a questão das di-
ferenças físicas quando se trata de beleza. Proponha aos alunos que discutam sobre
como essa visão tem se transformado, como homens e mulheres estão começando a
se aceitar mais e cada vez mais têm deixado de seguir padrões. Se houver uma sala de
informática e/ou um acervo de jornais e revistas na escola, pesquisem como a figura
de modelos tem mudado nos últimos tempos. Estimule os alunos a procurar publi-
cidades que apresentavam, em sua maioria, modelos brancas, altas, muito magras e
com cabelos lisos. Compare com propagandas mais recentes, que trazem pessoas mais
“reais”, isto é, baixinhas e altas, gordas e magras, brancas, negras e mestiças, com todos
os tipos de cabelo, etc. Ressalte a importância de cada um valorizar a própria beleza
e de reconhecer e respeitar a beleza dos outros.
Ainda com relação à autoestima, converse com os alunos sobre a diferença entre a nossa
vida, isto é, a real, e aquela que se vê nos filmes e nas novelas, por exemplo. Provoque-os
a debater sobre o quanto a felicidade estampada em fotos e vídeos nas redes sociais pode
esconder uma realidade completamente diferente. Com essa conversa, é importante que
os alunos entendam que ninguém é feliz e bonito o tempo todo. Adolescentes passam

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por grandes mudanças físicas, como o nascimento de espinhas, o aumento do nariz, etc.
Estimule os alunos a entender que isso é normal e que não há motivos para acabar com a
própria vida ou praticar bullying com alguém por causa disso.
6. Maria não se deixa vencer. Olha para os meninos como quem olha para um igual; quer
mostrar que, em matéria de sentimento, não há diferenças entre masculino e feminino.
Leia com os alunos o poema “Quem tem razão?” (p. 41) e dê início a uma conversa sobre
o empoderamento feminino, verificando o quanto os alunos sabem sobre o assunto, que
será aprofundado mais adiante, na seção Bate-papo e pesquisa.
7. Leia com os alunos os poemas “Só vontade” (p. 54) e “Medos” (p. 66) e aproveite para de-
bater com eles sobre as diferenças de personalidade, já que cada um tem a própria maneira
de manifestar ternura, carinho, afeto, medo, etc.
8. Por fim, leia com a turma o poema “Sensações” (p. 56) e comente a respeito da importân-
cia da sensibilidade para as artes na vida. Veja algumas sugestões de músicas relacionadas
aos temas tratados na obra: “Rosas” (Ana Carolina); “Masculino e feminino” (Pepeu Go-
mes); “Mulher (sexo frágil)” (Erasmo Carlos); “Mulheres de Atenas” (Chico Buarque). Depois
de escutá-las, converse com os alunos sobre as letras de cada uma delas.

Linguagem
1 . Elias José, ao dividir a obra em duas partes, criando duas vozes poéticas, uma feminina
e outra masculina, inspirou-se nas cantigas líricas do Trovadorismo português (1189-1418).
As cantigas trovadorescas eram composições poéticas musicadas, instrumentadas e can-
tadas. Essas cantigas eram divididas em cantigas líricas e cantigas satíricas. As líricas (sen-
timentais) dividiam-se em cantigas de amor e cantigas de amigo. As satíricas (debochadas)
dividiam-se em cantigas de escárnio e cantigas de maldizer. Nas cantigas de amor, o eu
lírico é masculino, apaixonado por uma mulher inacessível pertencente a uma classe social
superior, deixando evidente o platonismo-amoroso típico dessas cantigas. Já nas cantigas
de amigo, o poeta se passava por uma mulher, isto é, o eu lírico é uma mulher que sofre
pela ausência de seu amigo – que na época representava um namorado geralmente em
guerra, o qual, por isso, não comparecia ao encontro marcado. Algumas dessas cantigas es-
tão disponíveis em: <http://www.dominiopublico.gov.br> (acesso em: 10 jun. 2018). Basta,
nos campos de busca, selecionar “Texto” e, em Título, digitar “cantiga”.
A linguagem adotada pelos autores do Trovadorismo português era a coloquial, compa-
tível com a dos jovens do livro aqui analisado, Maria e João. Peça aos alunos que deem
exemplos desse tipo de linguagem citando trechos dos poemas de Cantigas de adolescer.
Algumas possibilidades de respostas são: “Já viu que sou chegadinha numas de mística, / de
cabala, olhar sorte, mapa astral e numerologia” (p. 9) / “Na passagem do ano / olhei muito,
muito pro céu” (p. 59).
2. Percebe-se em Cantigas de adolescer o uso frequente da intertextualidade, isto é, a utili-
zação ou a referência de um texto literário em outro.
–– No poema “Exilada”, Maria diz: “Meu quarto é meu país / de exílio, / sem sabiás nem
palmeiras” (p. 10). Primeiramente, verifique se os alunos reconhecem que o texto é
uma referência à “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias (1823-1864), um dos poemas

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mais populares e mais parodiados e parafraseados da literatura brasileira. Em seguida,
peça aos alunos que procurem no dicionário o significado dos termos “paráfrase” e “pa-
ródia”. Depois, converse com eles sobre esses conceitos e pergunte-lhes qual correspon-
de ao reaproveitamento que o autor fez de expressões do poema de Gonçalves Dias.
É esperado que os alunos respondam que se trata de uma paráfrase, já que termos como
“exílio”, “sabiás” e “palmeiras” são usados com sentido próximo do original, dando ao
poema um tom de lamento, uma vez que paródias são imitações cômicas de um texto
literário, o que não se verifica na poesia de Maria. Se achar interessante, complemente a
atividade pedindo aos alunos que pesquisem e comparem outras versões da “Canção do
exílio”. Existem as de Casimiro de Abreu, Cacaso, Carlos Drummond de Andrade, Murilo
Mendes, Oswald de Andrade, Chico Buarque e Tom Jobim e tantos outros.
–– No poema “O cartão” (p. 13), mais uma vez Maria trabalha com a intertextualidade.
Leia-o em voz alta e pergunte aos alunos a qual obra ele se refere. É esperado que
reconheçam a intertextualidade com Iracema, de José de Alencar (1829-1877), um
dos mais poéticos romances da literatura brasileira. Se achar interessante, converse
com os alunos sobre essa obra e leia para eles uma ou mais passagens desse romance,
de modo que fique clara a intertextualidade. Por exemplo:

A jandaia pousada no olho da palmeira repetia tristemente:


— Iracema!
Desde então os guerreiros pitiguaras, que passavam perto da cabana
abandonada e ouviam ressoar a voz plangente da ave amiga, afas-
tavam-se, com a alma cheia de tristeza, do coqueiro onde cantava
a jandaia.
E foi assim que um dia veio a chamar-se Ceará o rio onde crescia o
coqueiro, e os campos onde serpeja o rio.
ALENCAR, José de. Iracema. Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/bn000014.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2018.

–– Após a leitura, verifique se os alunos notaram a intertextualidade entre os dois textos.


Espera-se que eles percebam que em ambos há menção a palmeiras, à índia Iracema
e a uma certa tristeza.
–– João também lança mão da intertextualidade em algumas de suas cantigas. Leia
para os alunos os poemas “Motivo”, de Cecília Meireles (1901-1964), e “Mundo
grande”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Em seguida, peça-lhes que
identifiquem em quais poemas de João há intertextualidade com esses poemas.
É esperado que eles encontrem o recurso nos poemas “Autoapresentação”, em que
João diz: “Sou alegre e sou triste. / Sou poeta em projeto” (p. 45), e “As dores do mun-
do” (p. 50). Explique que este último, por sua vez, dialogava com a “Lira II”, de Tomás
Antônio Gonzaga (1744-1810).

3. Em Cantigas de adolescer também há a presença de algumas figuras de linguagem que


enriquecem ainda mais o texto poético. Converse com os alunos sobre o conceito de cada
uma dessas figuras, listadas a seguir, e peça-lhes que encontrem nos poemas versos que as
exemplifiquem.
–– Paradoxo: jogo de palavras ou ideias contrárias, criando um absurdo, uma contradição.
Espera-se que os alunos localizem alguns destes versos: “Se eu ganhasse na loteria, /

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compraria dez linhas / de telefone / e me desligaria do mundo...” (p. 16); “É um ser
que bota fogo no gelo / e espera um incêndio amazônico” (p. 45); “Passou o tempo
de caçar briga, / chamar pro braço ou xingar a mãe / e a raça toda do amigo-inimigo”
(p. 47).
–– Antítese: jogo de palavras ou ideias contrárias. Espera-se que os alunos reconheçam
essa figura de linguagem em alguns destes versos: “E sentindo uma vontade de fugir,
/ uma vontade de sorrir e de chorar” (p. 26); “Que raiva! / Por que não sei pôr / o SIM
e o NÃO / no lugar e no tempo certos?” (p. 27).
–– Sinestesia: mistura de sensações. É esperado que os alunos a encontrem em: “Não
consegui o doce calor / e a magia do fato” (p. 29).
–– Metáfora: comparação imaginária. Espera-se que os alunos apontem que neste trecho
tem-se a metáfora para a primeira menstruação de Maria: “Tentei tanto falar / da
espera e da primeira vez / que o líquido quente e vermelho / brotou do meu corpo, /
mas vulgarizei a marca maior / do nascimento da fêmea” (p. 29).
–– Aliteração: repetição de consoantes. É esperado que os alunos encontrem esse re-
cursos em: “Carlos chega / e fala cara a cara: / – Cara Cora, / não vou com sua cara, /
Mora?” (p. 41).
–– Hipérbole: exagero, enfatizando uma ideia. Os alunos podem identificá-la nos seguin-
tes versos: “Escrevi e reescrevi, / mil vezes busquei palavras” (p. 52); “Acordei e foi
aquela vontade / de pegar no sono, / de dormir um século” (p. 61).
–– Trocadilho: jogo de palavras com sons semelhantes ou iguais, mas com significados
diferentes, dando margem à duplicidade e/ou ao equívoco. É esperado que os alunos
o encontrem em: “Afundei feio outra vez / nas desumanas exatas” (p. 57).
–– Onomatopeia: imitação de sons e/ou ruídos da natureza. Esta figura de linguagem
pode ser localizada neste trecho: “[...] o tique-taque incessante do despertador”
(p. 63).

Bate-papo e pesquisa
1. Peça aos alunos que façam uma pesquisa a respeito do empoderamento feminino –
o debate sobre esse tema já foi iniciado, neste Manual, no item 6 da seção Depois da leitura.
Com a ajuda do professor de História, peça que pesquisem sobre as lutas das mulheres por
direitos igualitários.
2. Em seguida, sugira-lhes que pesquisem sobre mulheres importantes para a História, como
Frida Kahlo, Patrícia Galvão (Pagu), Tarsila do Amaral, Clarice Lispector, a jovem Malala
Yousafzai, Irmã Dulce, Dra. Zilda Arns, Madre Teresa de Calcutá, Marta (jogadora de futebol).
Divida a turma em grupos, orientando-os a não repetir a pessoa que será pesquisada.
3. Depois, peça a cada grupo que compartilhe com toda a turma o que pesquisou.
4. Para finalizar, peça aos grupos que construam cartazes apresentando não só o resultado
das pesquisas, mas também o que foi discutido durante a apresentação para a turma, de
modo que possam compartilhar com toda a comunidade escolar a importância do empo-
deramento feminino.

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Produção de texto
Incentive cada vez mais os alunos a produzir textos. Se ler é um exercício
mental, escrever também é. Este é outro grande desafio com que o aluno se depa-
rará. Entretanto escrever não deve ser visto como um problema; pelo contrário,
o hábito da escrita fará com que eles passem, gradativamente, a escrever com
facilidade e prazer.
Professor, sugira um passo a passo para a produção de um texto. Quando finali-
zarem, divida os alunos em duplas para que troquem o texto com o colega e façam
uma revisão compartilhada. Eis algumas sugestões para a elaboração do texto:
–– Imaginar um encontro entre João e Maria. Descrever esse encontro em forma de poe-
sia. Fazer como o escritor do livro analisado, Elias José, dando preferência aos versos
livres, isto é, aqueles que não dependem de rimas, de regularidade métrica, etc.
–– Escrever um pequeno conto ou uma crônica. Talvez Maria e João apaixonados um
pelo outro? Ou amigos, sendo um confidente do outro? Ou tendo um encontro
inusitado, em um shopping, uma festa ou quem sabe num estádio de futebol, como
torcedores de times rivais? Deixe claro para a turma que o conto é maior que a
crônica em extensão. O conto apresenta apenas um conflito que se desencadeia
rapidamente para seu final. Já a crônica é um flagrante do cotidiano transformado
em ficção. A crônica pode apresentar certa ironia e uma boa dose de humor.

Para saber mais


»» Hoje eu quero voltar sozinho. Direção de Daniel Ribeiro (Brasil, 2014). 96
min. Classificação indicativa: 12 anos.
Este filme aborda a história de Leonardo e os sentimentos do início da
adolescência, até mesmo o inesperado desejo do protagonista por um
colega de escola.

Fazendo arte
Professor, que tal transformar um dos poemas da obra Cantigas de adolescer em
outras manifestações artísticas? Convide um professor de Arte da escola para traba-
lhar com você e seus alunos nesta atividade.
1. Agora os alunos serão os atores! Que tal as meninas escolherem alguns poemas de Maria
para montar pequenos monólogos, como se fossem esquetes de, no máximo, cinco minutos?
Peça aos meninos que façam o mesmo com os poemas de João.
2. Peça aos alunos que entrevistem pessoas mais velhas (filmando-as) a respeito de como elas
conheceram o namorado/a namorada ou o cônjuge. Se os entrevistados tiverem alguma
história curiosa sobre o primeiro encontro, tanto melhor!

Pesquisa sobre intertextualidade


Leia com os alunos o poema “Exilada”, na página 10 do livro, e comente mais
uma vez com eles a questão do exílio e da sensação de distanciamento da terra natal.

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Questione-os sobre se, no poema de Elias José, esse exílio é real ou metafórico. Peça
ajuda ao professor de História e, se possível, trabalhem juntos o tema do exílio em
sala de aula.
É sabido que Gonçalves Dias, autor da “Canção do exílio”, escrita em 1843, nunca
foi exilado. Ele, aos 20 anos de idade, era um estudante de Direito na Universidade de
Coimbra, em Portugal. Entretanto, a saudade que tinha do Brasil era tão grande que
ele se sentia como se estivesse no exílio. Convide o colega de História para comentar
com a turma sobre o Brasil dos tempos da ditadura militar e das perseguições sofridas
por aqueles que foram torturados e exilados do país. Peça ao professor de História que
cite nomes importantes de nossas artes que viveram isso.

Leia também
»» Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carrol. São Paulo: Usborne, 2016.
Este clássico da literatura universal jamais deixará de ser uma referência
na reflexão acerca do crescimento e do amadurecimento humano.
»» Tudo o que mais queria, de Tânia Alexandre Martinelli. São Paulo: Editora
do Brasil, 2010.
Em vez de Maria e João, este livro mostra os dilemas de Luana e Carlos
Eduardo. O encontro das histórias deles é na praia, diante de um imenso
mar de desejos e descobertas, diante do mar que tanto amam.

Referências bibliográficas
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília,
DF, 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br>. Acesso em: 25
maio 2018.
DOMÍNIO PÚBLICO. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/
PesquisaObraForm.jsp>. Acesso em: 12 jun. 2018.
LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 6. ed. São Paulo:
Ática, 2010. (Educação em Ação).

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