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PESCA E BIOLOGIA de Penaeus


paulensis NA LAGOA DOS PATOS,
RS
Évellin Keith Da Collina

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ATLÂNTICA, Rio Grande, 13(1):159-169,1991. CDU 639. 28: 595. 384

PESCA E BIOLOGIA de Penaeus paulensis NA LAGOA DOS


PATOS, RS.

FERNANDO D'INCAO

Universidade do Rio Grande, Departamento de Oceanografia, Caixa Postal 474, 96200, Rio Grande, RS, Brasil.

RESUMO

Penaeus paulensis apresenta alguns criadouros importantes na região costeira do Rio Grande do Sul, porém, não são
conhecidas concentrações de adultos na plataforma continental. As pós-larvas que povoam anualmente o estuário da
Lagoa dos Patos são provenientes das zonas de reprodução localizadas no litoral de Santa Catarina. A abundância das
safras na Lagoa é determinada pela pluviosidade e pelos ventos do quadrante sul, que regulam a penetração de água
oceânica no estuário. Este fato é responsável pela grande variabilidade das capturas anuais. No interior do estuário as pós-
larvas distribuem-se por uma ampla área, com maiores concentrações nos sacos. Após uma fase de crescimento rápido,
migram para o oceano. Este movimento tem inicio nas idades de 5 meses para os machos e 4 meses para as fêmeas, o
que representa um comprimento total de 7,0 a 8,0 cm. Alguns indivíduos permanecem no estuário até a idade de 10 meses.
O inicio da pesca coincide com o da migração. A intensidade da pesca é muito elevada, praticamente impedindo a migração
para o oceano. Esta tendência é observada em outros estuários das Regiões Sudeste e Sul do Brasil, o que poderá
acarretar falhas no recrutamento do estoque adulto e na futura disponibilidade de pós-larvas.

ABSTRACT

Penaeus paulensis: Fishery and Biology in the Patos Lagoon, RS

Important populations of juvenile shrimps occur on the Rio Grande do Sul estuaries, but adult shrimp in offshore waters are
missing. The postlarvaes come from the reproduction areas off Santa Catarina State. The abundance of catches in the
lagoon are dependent of the rainfall and the occurrence of the south wind. These factors regulate the ocean water
penetration, which is responsible for the great variability of the shrimp recruitment. In the estuary the postlarvae are
concentrated in the shallow waters. During this stage the shrimps have a rapid growth. At the age of 5 months (males) and 4
months (females) the migration to the ocean starts. Some individuals remain in the estuary to the age of 10 months. Fishing
takes place simultaneously with the migration and could be so high as to prevent migration. This trend was observed in
several estuaries of the south and southeastern region of Brazil, thus affecting adult shrimp recruitment and the future
postlarvae availability.

Palavras chave: pesca, biologia pesqueira, Camarão, Penaeus.

Key words: Fishery, Biology, shrimp, Penaeus.

INTRODUÇÃO

A espécie explorada na Lagoa dos Patos é Penaeus paulensis Pérez Farfante, 1967. Descrições e sinonímias
podem ser encontradas em Pérez Farfante (1969), Burukovskii (1972) e D'Incao (1985). Sua pesca na Lagoa dos Patos é
uma atividade artesanal, desenvolvida sobre uma população de juvenis em fase de crescimento, que se caracteriza por
safras de verão e inicio de outono, com grandes flutuações anuais na captura. E a pescaria de maior importância social e
econômica do estuário.
Este trabalho apresenta uma sinopse dos conhecimentos sobre a população da Lagoa dos Patos e uma análise
critica da pescaria.

DISTRIBUIÇÃO DA ESPÉCIE

A área de distribuição de P. paulensis estende-se do sul de Cabo Frio (Rio de Janeiro) ao longo da plataforma
continental do Brasil e do Uruguai, até o nordeste da Argentina (Neiva, 1966; Pérez Farfante, 1969; Holthuis, 1980).
Na Lagoa dos Patos e na Laguna de Castillo (Uruguai), somente juvenis e pré-adultos de P. paulensis são
encontrados (Nion et al., 1974; D'Incao, 1978, 1983). Nos criadouros mais ao norte, a espécie está acompanhada de outras
espécies do gênero Penaeus.
Iwai (1973) registra a principal área de pesca compreendida entre Santos e Torres. Zenker e Agnes (1977)
determinaram duas zonas de maior concentração de P. paulensis uma em frente ao Estado de Santa Catarina e outra
menos importante, ao norte, entre Santos e a Ilha de São Sebastião. Segundo diversos autores (Barcellos, 1968a, 1968b,
1968c, 1969a, 1969b; Iwai, 1973; Zenker & Agnes, 1977; D'Incao 1983, 1985), na plataforma do Rio Grande do Sul e
Uruguai não existem concentrações de P. paulensis.
No estuário da Lagoa dos Patos, ocorre desde a barra de Rio Grande até uma linha imaginária que liga a Ponta
da Feitoria (31°41'S e 52'02'W) à Ponta dos Lençóis (31°48"S e 51°52"W). Em algumas ocasiões podem ocorrer pouco
mais ao norte. Os juvenis e pré-adultos concentram-se no interior dos sacos, principais áreas de criação da espécie, que
são: Saco da Mangueira, Saco do Arraial. Saco do Mendanha, Saco do Silveira e Saco do Rincão (Fig.1). Ocorrem no
estuário durante todo o ano, com abundâncias maiores entre dezembro e maio.

CICLO DE VIDA

O ciclo de vida de P. paulensis é semelhante ao de outros Penaeus do Golfo do México e da costa leste da
América do Norte. A desova ocorre no oceano, resultando ovos demersais dos quais eclodem larvas planctônicas em fase
de nauplius. Passam por diversos estágios larvais e aproximam-se dos estuários onde adquirem vida bentônica e
permanecem por alguns meses em fase de crescimento, migrando posteriormente para o oceano onde reiniciam o ciclo
(Neiva, 1966; Iwai, 1978).

FIGURA 1. Zona estuarina da Lagoa dos Patos.

Áreas de desova

Na plataforma continental do Rio Grande do Sul, além da espécie apresentar baixa abundância, não é conhecida
nenhuma área de reprodução. Barcellos (1968a) indicou a existência de fêmeas com ovários desenvolvidos, mas não
maturos. Zenker & Agnes (1977) trabalhando entre Araranguá-SC e Tramandaí-RS capturaram, no verão de 1974, uma
média de 0,3 kg/hora; todos indivíduos adultos e de grande porte, sendo 12% das fêmeas com ovários maturos.
Os grupos que permanecem na plataforma continental do Rio Grande do Sul durante a fase adulta,
provavelmente, contribuem muito pouco para a grande população de juvenis da Lagoa dos Patos (Iwai, 1973). As pesquisas
realizadas pelo Laboratório de Carcinologia da Universidade do Rio Grande, não apresentaram, até o momento, nenhum
resultado positivo quanto a captura de fêmeas maturas da espécie na plataforma continental do Estado. Esta ausência de
fêmeas maturas em áreas próximas a Rio Grande levou aos pesquisadores da área de maricultura a capturarem fêmeas
maturas em Santa Catarina e a desenvolverem técnicas sobre indução de maturação (Marchiori & Boff, 1983).
A espécie desova em águas mais frias e em fundos de lama, que são encontrados, geralmente, fora da isóbata
dos 50 metros (Zenker & Agnes, 1977). Estudos de laboratório mostraram que a temperatura mais baixa suportada pelas
pós-larvas da espécie são 8°C entretanto, 13°C é considerado um nível seguro para sua sobrevivência (Hoff & Marchiorí,
1984).
As fêmeas maturas encontram-se principalmente entre as profundidades de 46 e 60 metros (Zenker & Agnes,
1977). Iwai (1978) aponta a desova entre as profundidades de 38 e 100 metros. A espécie tem alta produção de ovos, de
250.000 a 570.000 ovos por fêmea (Iwai, 1978). O mesmo autor observou que, a temperatura de 24 a 26'C, os ovos
eclodem em 20 a 27 horas, originando larvas em estágio de nauplius. A espécie possui 6 sub-estágios de nauplius, 3 sub-
estágios de protozoea, 3 sub-estágios de mysis e 22 a 24 sub-estágios de pós-larvas. Este desenvolvimento larval à
temperatura citada, completa-se em 42 a 46 dias.

Origem e penetração das pós-larvas na Lagoa dos Patos

A penetração de pós-larvas na Lagoa dos Patos acontece a partir do sub-estágio 6 (lavai, 1978). Barcellos
(1968a) indicou a penetração de pós-larvas para fins do mês de setembro e notadamente em outubro-novembro. Calazans
(1978) mostrou que a penetração de pós-larvas tem inicio em agosto e possivelmente termine em janeiro. Os estudos de
crescimento da espécie (D'Incao, 1978. 1983, 1984), no entanto, sugerem que embora os picos de penetração de pós-
larvas correspondam as épocas indicadas, possivelmente ocorram penetrações durante quase todo o ano, o que
corresponderia as observações para regiões mais ao norte do Brasil, onde ocorrem o ano todo (Brisson,1977).
A origem das pós-larvas que povoam as lagoas costeiras do Rio Grande do Sul e do Uruguai, poderia ser
efetivamente o estoque de adultos do litoral de Santa Catarina. Observando os dados de direção e velocidade de correntes
para a região litorânea compreendida entre Florianópolis e a Laguna de Castillo no Uruguai (DHN, 1974), verifica-se que as
correntes têm direção Sul no período que vai de julho a março com velocidades variando de 0,7 a 1,5 milhas náuticas por
hora. Isso possibilitaria um tempo de transporte entre Florianópolis e Rio Grande variando entre 11 e 24 dias e entre
Florianópolis e a Laguna de Castillo de 16 a 34 dias (Tab. 1.). Iwai (1978) mostrou que a espécie, a uma temperatura de 24
a 26°C, necessita de 19,6 dias para atingir o estágio de pos-larva 6, que e o sub-estágio mais jovem capturado na Lagoa
dos Patos. Zenker & Agnes (1977) determinaram as temperaturas da água na zona de ocorrência dos estoques adultos,
entre 19 e 20°C., o que certamente levaria a um desenvolvimento larval mais lento que os de laboratório. Isto é confirmado
pelos trabalhos sobre efeitos da temperatura sobre o desenvolvimento larval da espécie (Boff & Marchiori, 1984).
Comparando os dados de tempo de transporte pelas correntes costeiras, com o tempo de desenvolvimento larval,
pode-se verificar que são compatíveis. Considerando o tempo de desenvolvimento obtido por Iwai (1978) as pós-larvas
chegariam a Laguna de Castillo ao redor do sub-estágio 12 de pós-larva. A aproximação das pós-larvas a costa estaria
dependente da circulação em superfície que na área é devida aos ventos (Luedemann, 1978). Durante todo a ano, o vento
mais freqüente é o Nordeste, com exceção dos meses de janeiro e fevereiro nos quais dominam os ventos de Leste (DHN,
1974). A concentração de adultos poderia ser considerada também a partir de Laguna (Santa Catarina). O tempo gasto
para as larvas serem transportadas até o Uruguai seria de 15 a 31 dias.
Calazans (1978) observou que a penetração de pós-larvas na Lagoa dos Patos parece não ter relação com a
salinidade e com a temperatura. Analisando com relação aos ventos, verificou que as maiores densidades penetram na
lagoa com ventos do quadrante Sul, seguido dos de Leste, concluindo por ser o vento um fator importante para o
povoamento do estuário da lagoa com pós-larvas. Demonstrou também que a densidade média aumenta durante os
momentos de maior incidência luminosa, caracterizando um tropismo negativo por serem concentrações em profundidade.
Esta observação, com relação a importância dos ventos, coincide com as análises de D'Incao (1978, 1983, 1984) que
atribuem a existência de vários grupos etários de camarões no interior da Lagoa dos Patos a penetração de pós-larvas em
épocas diferentes devido aos ventos nortearem as entradas de água de origem marinha no estuário. Castello & Moller
(1978) destacaram a importância da pluviosidade entre os meses de julho e novembro na bacia hidrográfica da Lagoa dos
Patos, concluindo que o fluxo de saída de água, por uma abertura estreita, seria um obstáculo a penetração de pós-larvas,
impedindo a entrada de água marinha nos anos de muita pluviosidade. Essa conclusão coincide com o que observou Pérez
Farfante (1969) quando analisou os declínios das safras de P. paulensis na Lagoa dos Patos em anos de muita chuva.

TABELA 1 - Dados referentes à velocidade e direção das correntes, direção do vento dominante, distância percorrida por
dia e tempo de transporte. Area considerada: Florianópolis (Estado de Santa Catarina, Brasil) e a Laguna de Castillo
(Uruguai). A = Florianópolis/Rio Grande - 522mn; B = Florianópolis/Castillo - 577mn; C = Laguna/Rio Grande - 352mn; D =
Laguna/Castillo - 407mn. (Fonte: DHN, 1974).

Meses Vento Dir.Corrente Vel. Corrente Dist./Dia Tempo de transporte (dias)


(nos) (mn) A B C D
JANEIRO Leste Sul 1,0 24,0 17 24 15 22
FEVEREIRO Leste Sul 1,5 36,0 11 16 10 15
MARÇO Nordeste Sul 0,7 16,8 24 34 21 31
ABRIL Nordeste Norte 0,5 12,0
MAIO Nordeste Norte 0,4 9,6
JUNHO Nordeste Norte 0,9 21,6
JULHO Nordeste Sul 1,0 24,0 17 24 15 22
AGOSTO Nordeste Sul 0,7 16,8 24 34 21 31
SETEMBRO Nordeste Sul 0,7 16,8 24 34 21 31
OUTUBRO Nordeste Sul 0,8 19,2 21 30 18 27
NOVEMBRO Nordeste Sul 0,8 19,2 21 30 18 27
DEZEMBRO Nordeste Sul 0,8 19,2 21 30 18 27

Os diversos estudos parecem indicar que a abundância das safras dependeria de ambos fatores, pluviosidade e
ventos, desde que a disponibilidade de pós-larvas na área oceânica próxima a barra de Rio Grande não sofra diminuições
sensíveis. Atualmente, este fato, não constituiria numa surpresa, devido a situação delicada em que se encontram os
estoques de camarão-rosa na Regido Sudeste/Sul (SUDEPE-PDP, 1987; Valentini et al., 1991).

Fase estuarial

No interior do estuário, os camarões distribuem-se amplamente, com as maiores concentrações ocorrendo nos
sacos, que são áreas de menor profundidade, mais protegidas das fortes correntezas, com fundos apresentando pradarias
de Ruppia maritima em vários pontos, desta forma assegurando boas condições ambientais para a fase de maior
crescimento da espécie. D’Incao (1982) observou que as maiores abundância de P. paulensis ocorrem em épocas em que
as temperaturas ambientais são mais elevadas, entre os meses de janeiro e abril, sugerindo que as distribuições de
abundância acompanham a curva de temperatura. O mesmo autor indica a ocorrência das maiores abundância em áreas
com salinidade inferiores a 10 o/oo, mas são observados em uma ampla faixa de salinidades, de perto de 0 o/oo a 31 o/oo.
Essas conclusões coincidem com o observado por outros autores (Pérez Farfante, 1969; Iwai, 1973). Marchiori (1983)
observou que a salinidade mais baixa suportada pela espécie foi de 3 o/oo. Estudos posteriores, não publicados,
demonstram que a salinidade da água contida no sedimento da lagoa é superior aquela da coluna d'água, quando as
salinidades do ambiente são baixas, o que explicaria a captura de camarões em águas com salinidades próximas a 0 o/oo.
Os camarões buscariam proteção enterrando-se no sedimento. Mais estudos devem ser feitos neste sentido.
Os camarões permanecem crescendo no estuário até o momento de migrarem para o oceano para fechar seu
ciclo de vida. A partir das idades de 5 meses nos machos e de 4 meses nas fêmeas, que correspondem a comprimentos
totais entre 7,0 e 8,0 cm, podem iniciar sua migração para o oceano (D’Incao, 1983, 1984). No entanto, alguns indivíduos
podem ficar no estuário até idades de cerca de 10 meses.

CRESCIMENTO

O crescimento da espécie na Lagoa dos Patos foi estudado por D'Incao (1978, 1983, 1984). As equações de
crescimento, segundo Bertalanffy (1938) e modificadas segundo Pereira dos Santos (1978) são as seguintes (comprimentos
em mm; peso em gramas; idades em dias):

Crescimento em comprimento de carapaça

LC = 42,04 [1 - exp (-0,00349.t)] (machos)


LC = 55,64 [1 - exp (-0.00287.t)] (fêmeas)

Crescimento em comprimento total

LT = 192,64 [1 - exp (-0.00349.t)) (machos)


LT = 248,30 [1 - exp (0,00287.t)] (fêmeas)

Crescimento em peso total


3,041
WT = 61,06 [1 - exp (-0.00349.t)] (machos)
3,165
WT = 124,02 [1 - exp (-0,00287.t) (fêmeas)

As equações de crescimento em peso foram obtidas pela utilização das relações entre comprimentos e peso
(D'Incao & Calazans, 1978).
As diferenças entre as taxas de crescimento dos machos e fêmeas foram significativas para um nível de
confiança de 95%. A taxa de crescimento (b do método de Allen, 1976) das fêmeas foi maior que a dos machos (59,28 e
39,83 respectivamente).
Os valores calculados pelas equações para a idade de 30 meses (51,58 mm para fêmeas e 40,28 ma para
machos), idade considerada como aproximadamente a máxima para peneídeos (Iwai, 1978), estão de acordo com os
tamanhos máximos registrados pela literatura para os comprimentos de carapaça (D'Incao, 1983, 1984).

MORTALIDADE E MIGRAÇÃO

D'Incao (1983) determinou que o decréscimo em número de indivíduos por classe etária em função do tempo é
devida a ação conjunta de três fatores: mortalidade natural, mortalidade por pesca e migração.
Os coeficientes de mortalidade natural foram calculados como média entre as estimativas obtidas pelos métodos
de Pauly (1980) e de Taylor (1959, 1960). Obtendo-se coeficientes de mortalidade natural (M) mensais de 0,13 para
machos e de 0,11 para fêmeas (D'Incao, 1983).
Devido a impossibilidade de separar-se os efeitos da mortalidade por pesca da migração para o oceano, foram
calculados coeficientes de perdas totais (Z') em número de indivíduos pelo método da curva de captura. Obtiveram-se
valores de 0,653 para machos e de 0,570 para as fêmeas. Deduzindo destes valores os coeficientes de mortalidade natural,
obtêm-se coeficientes de mortalidade por pesca e migração (LI'). Para machos 0,523 e para fêmeas 0,460.
Os efeitos da pesca artesanal sobre a população de Penaeus paulensis parece ter início coincidente com o
movimento migratório para o oceano, ocorrendo aos 5 meses para os machos e aos 4 meses para as fêmeas. O efeito da
pesca sobre a população é muito forte, chegando a um nível tal, que o número de indivíduos que atingem o oceano seria
pequeno ou nulo, havendo uma forte diminuição na abundância relativa da espécie conforme a proximidade do oceano.
Este fator poderia contribuir efetivamente para os baixos rendimentos dos arrastos realizados na plataforma continental do
Rio Grande do Sul e também significaria que a população de juvenis da Lagoa dos Patos praticamente não fecharia seu
ciclo de vida, ou seja, não recrutaria na área dos adultos.
As curvas de sobrevivência-permanência calculadas para a população foram (D'Incao, 1983):

N = 4,4 [exp (-0,653.t)] (machos)


N = 4,0 [exp (-0,570.t)] (fêmeas)

CAPTURA NA LAGOA DOS PATOS

A Tab.2 mostra a estatística de captura da espécie na Lagoa dos Patos, no período de 1945/1987, evidenciando-
se a grande variabilidade da captura, que é responsável por problemas econômicos e sociais junto a comunidade de
pescadores. Esta variabilidade é devida a fatores ambientais (Castello & Moller, 1978; Calazans, 1978; D'Incao, 1978). Na
Tab.3, são mostradas as capturas mensais para os anos de 1980 e 1981, podendo-se observar que os meses mais
importantes são março e abril.
A captura na Lagoa dos Patos representa uma importante fatia do total da pesca de camarão-rosa da Região
Sudeste/Sul do Brasil. Normalmente mantendo-se superiores as capturas da pesca industrial e da pesca artesanal de toda
a região (Valentini et al., 1991).

TABELA 2 - Desembarques anuais (t) de camarão- rosa (Penaeus paulensis) na Lagoa dos Patos, para o período de 1945
a 1987. (Fonte: Agência Rio Grande - SUDEPE).

Ano Captura Ano Captura Ano Captura


1945 2290 1960 2806 1975 1977
1946 1059 1961 2291 1976 1357
1947 909 1962 2342 1977 1625
1948 981 1963 4914 1978 3701
1949 1473 1964 1569 1979 7762
1950 1777 1965 5844 1980 2326
1951 1347 1966 648 1981 1062
1952 2002 1967 772 1982 3410
1953 687 1968 5531 1983 1011
1954 1594 1969 4807 1984 1053
1955 2333 1970 5012 1985 7748
1956 1118 1971 4891 1986 4918
1957 4522 1972 8823 1987 1085
1958 2428 1973 575
1959 443 1974 4903

TABELA 3 - Desembarques mensais (kg) de camarão-rosa (Penaeus paulensis) na Lagoa dos Patos. Anos de 1980 e 1981.
(Fonte: Agência de Rio Grande - SUDEPE).

Meses 1980 1981


JANEIRO 65.308 74.744
FEVEREIRO 297.367 146.829
MARÇO 672.762 297.216
ABRIL 891.031 354.16
MAIO 213.532 163.771
JUNHO 55.817 14.645
JULHO 3.535 2.138
MOSTO 1.372 1.947
SETEMBRO 4.108
OUTUBRO 210 4.248

NOVEMBRO 3.284 12.686


DEZEMBRO 26.231 28.124

REGULAMENTAÇÃO DA PESCA NA LAGOA DOS PATOS

A pesca do camarão-rosa na Lagoa dos Patos é regulamentada por duas portarias da SUDEPE. A Portaria
SUDEPE n° 04 de 14/01/1986 é a principal, estabelecendo:

- tamanho mínimo de captura para P. paulensis de 90 mm de comprimento total, medido da extremidade do rostro
a extremidade do telson, admitindo uma tolerância de 20% de camarões com comprimentos inferiores.
- abertura da temporada de pesca pela Coordenadoria Regional da SUDEPE, levando em consideração estudos
sobre o tamanho dos indivíduos.
a pesca somente é permitida com redes tipo saco e aviãozinho. todo e qualquer tipo de arrasto, motorizado ou
não, está proibido.
- cada pescador pode atuar com uma andaina (conjunto de sete redes), que será colocada em áreas
determinadas pela SUDEPE. - a tralha das redes não poderá ser maior do que 15 m e as malhas da região do saco deverão
ter 24 mm medidas entre nós opostos com malhas esticadas.
- determina um espaço de 10 m entre andainas de mesmo alinhamento e 300 m entre séries paralelas.

A Portaria SUDEPE n°15 de 20/03/1986 determina:


- proibição de pesca na Lagoa dos Patos para embarcações de convés fechado de qualquer tonelagem de
arqueação bruta.

PESQUISAS SOBRE AS NORMAS DE REGULAMENTAÇÃO

0 estabelecimento de uma tolerância de 20%. para camarões inferiores a 90 mm de comprimento total nas
capturas foi resultado do estudo da composição de tamanhos dos camarões em redes tipo comercial, que demonstraram
que o percentual de 10%., anteriormente exigido, era inatingível (Silva & D'Incao, in SUDEPE-PDP, 1985; Silva & D'Incao,
1987).
A seletividade das malhas foi estudada (Rahn, in SUDEPE-PDP, 1985), concluindo que a malha mais adequada
seria de 26 mm entre nós opostos, malha esticada. Esta malha apresentou um percentual de 18,1% de camarões com
tamanhos inferiores a 90 mm de comprimento total. Esta medida de malhas não foi implementada, por considerar-se
necessário mais estudos, em áreas diferentes (SUDEPE-PDP, 1985).

SITUAÇÃO DA PESCA

A pesca do camarão-rosa (P. paulensis e P. brasiliensis) na Região Sudeste/Sul do Brasil, vem apresentando
sinais evidentes de sobrepesca. O esforço de pesca aplicado pela frota industrial tem mantido-se acima do recomendado e
as capturas são inferiores a máxima sustentável (SUDEPE-PDP, 1987). A pesca da Lagoa dos Patos é parte importante
deste contexto, pois é o maior criadouro da Região Sudeste/Sul e provavelmente não contribua para o recrutamento do
estoque adulto devido a intensidade da pesca artesanal em seu estuário (D'Incao, 1983). Esta situação é resultado do
esforço pesqueiro elevado das artes permissionadas e pelo não cumprimento das disposições da Portaria SUDEPE n° 04
de 14/01/1985, devido a falta de concientização do pescador, pois é inexistente o serviço de extensão pesqueira, e a
fiscalização é ineficiente. Operam na Lagoa dos Patos pelo menos dois tipos de arrasto considerados proibidos, as redes
chamadas "cocas" e "arrasto de portas", que além de destruírem o habitat do camarão, atuam sobre o camarão pequeno. A
estas causas somam-se outras, como a abertura da safra acontecer sistematicamente antes do momento correto (inicio de
março) por pressões da comunidade de pescadores e de políticos da região; pela operação de pescadores não
permissionários; pelo aumento desmedido do número de pescadores na época da safra pela chegada de elementos
oriundos de Santa Catarina. Além disso, até o momento, os dados estatísticos disponíveis resumem-se a captura
desembarcada. Não existem dados de esforço.
Os estudos indicam que é extremamente importante que parte da população de juvenis possa chegar ao mar
para completar seu ciclo de vida. 0 aumento progressivo da atividade pesqueira nos criadouros é um dos fatores de maior
importância na situação difícil da pesca do camarão-rosa na Região Sudeste/Sul. A tendência em curso, de prejuízos ao
recrutamento do estoque adulto, é crescente. Isso poderá levar a uma diminuição da disponibilidade de pós-larvas para o
povoamento dos criadouros por queda no número de fêmeas desovantes.

RECOMENDAÇÕES

Além dos problemas pesqueiros apontados, chama a atenção a falta de apoio dos órgãos financiadores de
pesquisa para os trabalhos sobre os camarões da Região Sudeste/Sul. Vários estudos devem ser realizados sobre a
estratégia de abertura e fechamento de safra, seletividade de malhas, determinação do esforço de pesca, melhoria das
estatísticas de captura, bioecologia da espécie, variabilidade das safras anuais, repovoamento e determinação da situação
atual dos estoques de adultos nos oceanos.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALLEN, R.L. 1976. Method for comparing fish growth curves. New Zealand J. Mar. Freshwater Res., 10(4): 687-92.
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