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do Professor
ENSINO MÉDIO
Elaborado por
José De Nicola
Lucas De Nicola
CC BY NC 4.0 International
Organização:
Mário de Andrade José De Nicola
Lucas De Nicola
PAULICEIA
DESVAIRADA Material disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International).
Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.
Lira Paulistana
1a edição – Rio de Janeiro/RJ – 2021
Editora Arlecchino
Rua São Cristovão, 489, sala 303
São Cristovão - Rio de Janeiro/RJ
CEP: 20940-001
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Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.
Sumário
Proposta de atividades I
Ampliando horizontes.............................................................................. 18
Proposta de atividades II
Aprofundamento
Referências complementares
Bibliografia comentada
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Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros. 3
Carta ao professor
Caro professor(a),
Pauliceia desvairada é uma leitura fundamental não só para se co-
nhecer a obra poética de Mário de Andrade, um dos maiores escritores
e intelectuais brasileiros, como para se entender o início da trajetó-
ria do modernismo brasileiro, cujas propostas estéticas e temáticas
se fizeram sentir ao longo do século XX e estão presentes ainda hoje.
Nesse sentido, através das impressões de um eu lírico que se entende
como “um tupi tangendo um alaúde”, o livro, partindo do contexto de
São Paulo do início da década de 1920, é uma efetiva reflexão sobre
o que é a cultura brasileira. A trajetória da obra, desde a sua primeira
redação até a publicação em forma de livro, evidencia um momento
de transformação da literatura e das artes brasileiras. Enquanto tex-
to de ruptura, Pauliceia desvairada foi um verdadeiro acontecimento,
uma realização que possui diversos elementos e camadas de sentido,
o que inclui a sua capa de losangos coloridos, sua provocativa dedi-
catória e seu irônico e inquieto “Prefácio interessantíssimo”, no qual
o autor apresenta algumas de suas reflexões sobre arte e literatura.
Esse é um dos elementos mais interessantes do livro: a leitura permite
compreender a forma como se dá a criação literária e os diversos fato-
res nela envolvidos. Além disso, Pauliceia desvairada possibilita uma
profunda reflexão crítica acerca do que é viver em uma grande cidade,
sobretudo uma cidade que passava por um intenso e acelerado pro-
cesso de crescimento econômico e populacional. Os poemas do livro
tratam de um ambiente diverso e conflituoso – “arlequinal”, segundo a
imagem elaborada por Mário de Andrade –, composto por pessoas dos
mais variados estratos sociais, origens nacionais e grupos étnicos.
Compreender como o autor transformou tudo isso em poesia é uma
forma de compreender algo de nossa própria vida cotidiana, de nos-
sas experiências e de nossa realidade – vivamos ou não em grandes
cidades.
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Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.
Mais do que obras, Mário de Andrade, deixou um verdadeiro legado
para a literatura e a cultura brasileira, sendo um de seus maiores cria-
dores e intérpretes.
Boa leitura!
QUADRO RESUMO
Gênero Tema
Diálogos com a sociologia e
Poema antropologia
A obra de Mário de Andrade, Mário de Andrade, ao apresentar
organizada por Lucas e José a cidade de São Paulo ao
De Nicola, reúne poemas para leitor, apresenta também seus
apresentar a cidade de São Paulo meandros, seus modos de vida e
ao leitor. seus personagens.
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Na ponta da língua
Proposta de atividades I
DE OLHO NA BNCC
As atividades sugeridas nesta subseção contemplam as seguintes habilidades pro-
postas pela BNCC:
(EM13LGG103) Analisar o funcionamento das linguagens, para interpretar e produzir
criticamente discursos em textos de diversas semioses (visuais, verbais, sonoras, ges-
tuais).
(EM13LGG303) Debater questões polêmicas de relevância social, analisando diferen-
tes argumentos e opiniões, para formular, negociar e sustentar posições, frente à aná-
lise de perspectivas distintas.
(EM13LGG401) Analisar criticamente textos de modo a compreender e caracterizar as
línguas como fenômeno (geo)político, histórico, social, cultural, variável, heterogêneo
e sensível aos contextos de uso.
(EM13LGG602) Fruir e apreciar esteticamente diversas manifestações artísticas e cul-
turais, das locais às mundiais, assim como delas participar, de modo a aguçar conti-
nuamente a sensibilidade, a imaginação e a criatividade.
(EM13LGG604) Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida so-
cial, cultural, política e econômica e identificar o processo de construção histórica des-
sas práticas.
(EM13LP02) Estabelecer relações entre as partes do texto, tanto na produção como
na leitura/escuta, considerando a construção composicional e o estilo do gênero,
usando/reconhecendo adequadamente elementos e recursos coesivos diversos que
contribuam para a coerência, a continuidade do texto e sua progressão temática, e or-
ganizando informações, tendo em vista as condições de produção e as relações lógico-
-discursivas envolvidas (causa/efeito ou consequência; tese/argumentos; problema/
solução; definição/exemplos etc.).
(EM13LP06) Analisar efeitos de sentido decorrentes de usos expressivos da lingua-
gem, da escolha de determinadas palavras ou expressões e da ordenação, combinação
e contraposição de palavras, dentre outros, para ampliar as possibilidades de constru-
ção de sentidos e de uso crítico da língua.
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Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.
(EM13LP07) Analisar, em textos de diferentes gêneros, marcas que expressam a posi-
ção do enunciador frente àquilo que é dito: uso de diferentes modalidades (epistêmica,
deôntica e apreciativa) e de diferentes recursos gramaticais que operam como modali-
zadores (verbos modais, tempos e modos verbais, expressões modais, adjetivos, locu-
ções ou orações adjetivas, advérbios, locuções ou orações adverbiais, entonação etc.),
uso de estratégias de impessoalização (uso de terceira pessoa e de voz passiva etc.),
com vistas ao incremento da compreensão e da criticidade e ao manejo adequado des-
ses elementos nos textos produzidos, considerando os contextos de produção.
(EM13LP08) Analisar elementos e aspectos da sintaxe do português, como a ordem
dos constituintes da sentença (e os efeito que causam sua inversão), a estrutura dos
sintagmas, as categorias sintáticas, os processos de coordenação e subordinação (e
os efeitos de seus usos) e a sintaxe de concordância e de regência, de modo a poten-
cializar os processos de compreensão e produção de textos e a possibilitar escolhas
adequadas à situação comunicativa.
(EM13LP13) Analisar, a partir de referências contextuais, estéticas e culturais, efeitos
de sentido decorrentes de escolhas de elementos sonoros (volume, timbre, intensida-
de, pausas, ritmo, efeitos sonoros, sincronização etc.) e de suas relações com o verbal,
levando-os em conta na produção de áudios, para ampliar as possibilidades de cons-
trução de sentidos e de apreciação.
(EM13LP31) Compreender criticamente textos de divulgação científica orais, escritos
e multissemióticos de diferentes áreas do conhecimento, identificando sua organiza-
ção tópica e a hierarquização das informações, identificando e descartando fontes não
confiáveis e problematizando enfoques tendenciosos ou superficiais.
(EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários,
percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas
de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva
crítica.
(EM13LP47) Participar de eventos (saraus, competições orais, audições, mostras, fes-
tivais, feiras culturais e literárias, rodas e clubes de leitura, cooperativas culturais, jo-
grais, repentes, slams etc.), inclusive para socializar obras da própria autoria (poemas,
contos e suas variedades, roteiros e microrroteiros, videominutos, playlists comenta-
das de música etc.) e/ou interpretar obras de outros, inserindo-se nas diferentes práti-
cas culturais de seu tempo.
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Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros. 7
(EM13LP48) Identificar assimilações, rupturas e permanências no processo de consti-
tuição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise
de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para
perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos.
(EM13LP49) Perceber as peculiaridades estruturais e estilísticas de diferentes gêneros
literários (a apreensão pessoal do cotidiano nas crônicas, a manifestação livre e subje-
tiva do eu lírico diante do mundo nos poemas, a múltipla perspectiva da vida humana e
social dos romances, a dimensão política e social de textos da literatura marginal e da
periferia etc.) para experimentar os diferentes ângulos de apreensão do indivíduo e do
mundo pela literatura.
(EM13LP50) Analisar relações intertextuais e interdiscursivas entre obras de diferen-
tes autores e gêneros literários de um mesmo momento histórico e de momentos his-
tóricos diversos, explorando os modos como a literatura e as artes em geral se consti-
tuem, dialogam e se retroalimentam.
(EM13LP52) Analisar obras significativas das literaturas brasileiras e de outros países
e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-americana, com
base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspectos dis-
cursivos) ou outros critérios relacionados a diferentes matrizes culturais, consideran-
do o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções
em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como dialogam com o presente.
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Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.
A escrita literária, por sua vez, ainda que não seja o foco central
do componente de Língua Portuguesa, também se mostra rica em
possibilidades expressivas. Já exercitada no Ensino Fundamental, pode
ser ampliada e aprofundada no Ensino Médio, aproveitando o interesse
de muitos jovens por manifestações esteticamente organizadas comuns
às culturas juvenis.
O que está em questão nesse tipo de escrita não é informar, ensinar
ou simplesmente comunicar. O exercício literário inclui também a função
de produzir certos níveis de reconhecimento, empatia e solidariedade e
envolve reinventar, questionar e descobrir-se. Sendo assim, ele é uma
função importante em termos de elaboração da subjetividade e das
inter-relações pessoais. Nesse sentido, o desenvolvimento de textos
construídos esteticamente – no âmbito dos mais diferentes gêneros –
pode propiciar a exploração de emoções, sentimentos e ideias que não
encontram lugar em outros gêneros não literários (e que, por isso, devem
ser explorados).
(BNCC – versão completa. p. 503-4)
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Ga / li / cis / mo a / be / rrar / nos / de / ser / tos / da A / mé [rica!
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Artista
O meu desejo é ser pintor – Lionardo,
cujo ideal em piedades se acrisola;
fazendo abrir-se ao mundo a ampla corola
do sonho ilustre que em meu peito guardo...
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irei morar onde as Desgraças moram;
e viverei de colorir sorrisos
nos lábios dos que imprecam ou que choram!
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A segunda estrofe aborda outra distração domingueira: o jogo de
futebol, no elitizado bairro do Jardim américa. A terceira estrofe trata
do ritual do fim da tarde de domingo: o corso, geralmente feito na tam-
bém elitizada avenida Paulista. Na quarta estrofe, fechando o domin-
go, a sessão de cinema no luxuoso cine Central, com filmes de caubói
e dramas amorosos que despertam desejos nas moças virgens.
Fechando todas as estrofes, o refrão que associa esses rituais às
futilidades da dita civilização, no caso, da cidade que se urbaniza ace-
leradamente: “Futilidade, civilização”.
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Ode ao burguês
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi!
Padaria Suíça! Morte viva ao Adriano!
“– Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
– Um colar... – Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!”
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Ódio aos relógios musculares! Morte e infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante!
*******************
Moça linda bem tratada,
Três séculos de família,
Burra como uma porta:
Um amor.
Grã-fino do despudor,
Esporte, ignorância e sexo,
Burro como uma porta:
Um coió.
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Sobre “Ode ao burguês”, comentar os poemas do livro Pauliceia
desvairada foram escritos entre 1920 e 1921 (o livro foi publicado
em 1922, depois da realização da Semana de Arte Moderna), em um
momento de ruptura de paradigmas e marcante influência dos movi-
mentos de vanguarda do início do século XX. “Ode ao burguês” pode,
inclusive, ser considerado o poema do livro que mais se aproxima da
estética futurista, com a valorização dos substantivos em detrimento
dos adjetivos e advérbios; comentar os casos em que Mário de Andra-
de empregou substantivos como adjetivos, sendo que, em algumas
imagens, empregou substantivos compostos, com o segundo ele-
mento sendo um substantivo funcionando como adjetivo. Destacar os
seguintes exemplos: Barões lampiões, condes Joões, duques zurros,
ódio fundamento; Burguês-níquel, burguês-cinema, burguês-tílburi,
homem-curva, homem-nádegas. Na reiteração burguês-burguês é
possível entender o segundo elemento como substantivo ou como ad-
jetivo.
Comentar que ode é uma poesia entusiástica, de exaltação, mas,
no decorrer do poema, Mário de Andrade faz a “brincadeira” passando
a insultar o burguês e as aristocracias cautelosas, com a palavra ode
transformando-se em ódio.
Comentar que em dois momentos da ode o poeta caracteriza as
“filhas”: primeiro, as filhas da aristocracia; depois, as da burguesia. A
filha da aristocracia é educada para o casamento (a moça prendada
toca piano, fala francês); a filha da burguesia está preocupada com a
ostentação (escolhe o colar pelo preço).
Espera-se que os estudantes percebam que, nas várias referên-
cias feitas ao burguês, predomina a preocupação dele com o mundo
dos negócios e com o mundo das aparências, com o dinheiro. O verso
“Fora os que algarismam os amanhãs!” sintetiza essa ideia, já que al-
garismar seria transformar tudo em algarismos, números, cifras, valo-
res. Esse verso seria uma crítica à excessiva preocupação da burgue-
sia em acumular capital.
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Essas discussões pretendem levar os estudantes a perceber parte
do intenso e moderno trabalho que Mário de Andrade realiza com a lin-
guagem. Comente que algarismam é a forma verbal da terceira pessoa
do plural do presente do indicativo do verbo algarismar, derivado do
substantivo algarismo. Esse verbo não está dicionarizado; trata-se de
um neologismo criado pelo poeta.
Sobre “Moça linda bem tratada”, espera-se que os estudantes per-
cebam que cada estrofe refere-se a um membro da pequena família.
Primeira estrofe: a filha de uma família tradicional, bonitinha, mas bur-
ra. Segunda estrofe: o filho preocupado com esporte e sexo, também
burro. Terceira estrofe: a mãe, gorda, rica e, também, burra. Quarta es-
trofe: o pai, homem rico que vive de explorar os pobres.
O plutocrata (de pluto = “riqueza” + cracia = “poder, domínio, gover-
no”), “pessoa influente e preponderante pelo seu dinheiro” não é nada
burro (destacar o terceiro verso de cada estrofe). Nas três primeiras
estrofes, “porta” aparece como termo de comparação: burro como uma
porta, surdo como uma porta etc., significa excessivamente burro, sur-
do etc. Na última estrofe, “porta” está empregada em sentido denotati-
vo: o plutocrata arromba a porta do pobre.
Finalmente, no trabalho de intertextualidade, espera-se que os es-
tudantes percebam que são dois poemas de vertente social, com críti-
cas à burguesia paulistana que, com a industrialização, com o comér-
cio, com os serviços exigidos por uma cidade grande, assumia cada
vez mais uma posição de destaque na sociedade. Em relação ao estilo
dos dois poemas, percebe-se como se alterou a postura de Mário de
Andrade dos anos revolucionários do início da década de 1920 para
o homem maduro e um tanto desiludido do início dos anos de 1940.
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Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.
Sapateiro — Quantas missas eu ouvi,
não me hão elas de prestar?
Diabo — Ouvir missa, então roubar,
é caminho para aqui.
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Ampliando horizontes
Proposta de atividades II
DE OLHO NA BNCC
As atividades sugeridas nesta subseção contemplam as seguintes habilidades pro-
postas pela BNCC:
(EM13LGG103) Analisar o funcionamento das linguagens, para interpretar e produzir
criticamente discursos em textos de diversas semioses (visuais, verbais, sonoras, ges-
tuais).
(EM13LGG202) Analisar interesses, relações de poder e perspectivas de mundo nos
discursos das diversas práticas de linguagem (artísticas, corporais e verbais), com-
preendendo criticamente o modo como circulam, constituem-se e (re)produzem signi-
ficação e ideologias.
(EM13LGG203) Analisar os diálogos e os processos de disputa por legitimidade nas
práticas de linguagem e em suas produções (artísticas, corporais e verbais).
(EM13LGG303) Debater questões polêmicas de relevância social, analisando diferen-
tes argumentos e opiniões, para formular, negociar e sustentar posições, frente à aná-
lise de perspectivas distintas.
(EM13LGG401) Analisar criticamente textos de modo a compreender e caracterizar as
línguas como fenômeno (geo)político, histórico, social, cultural, variável, heterogêneo
e sensível aos contextos de uso.
(EM13LGG602) Fruir e apreciar esteticamente diversas manifestações artísticas e cul-
turais, das locais às mundiais, assim como delas participar, de modo a aguçar conti-
nuamente a sensibilidade, a imaginação e a criatividade.
(EM13LP01) Relacionar o texto, tanto na produção como na leitura/ escuta, com suas
condições de produção e seu contexto sócio-histórico de circulação (leitor/audiência
previstos, objetivos, pontos de vista e perspectivas, papel social do autor, época, gêne-
ro do discurso etc.), de forma a ampliar as possibilidades de construção de sentidos e
de análise crítica e produzir textos adequados a diferentes situações.
(EM13LP01) Relacionar o texto, tanto na produção como na leitura/ escuta, com suas
condições de produção e seu contexto sócio-histórico de circulação (leitor/audiência
18 Material disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International).
Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.
previstos, objetivos, pontos de vista e perspectivas, papel social do autor, época, gêne-
ro do discurso etc.), de forma a ampliar as possibilidades de construção de sentidos e
de análise crítica e produzir textos adequados a diferentes situações.
(EM13LP02) Estabelecer relações entre as partes do texto, tanto na produção como
na leitura/escuta, considerando a construção composicional e o estilo do gênero,
usando/reconhecendo adequadamente elementos e recursos coesivos diversos que
contribuam para a coerência, a continuidade do texto e sua progressão temática, e or-
ganizando informações, tendo em vista as condições de produção e as relações lógico-
-discursivas envolvidas (causa/efeito ou consequência; tese/argumentos; problema/
solução; definição/exemplos etc.).
(EM13LP03) Analisar relações de intertextualidade e interdiscursividade que permi-
tam a explicitação de relações dialógicas, a identificação de posicionamentos ou de
perspectivas, a compreensão de paráfrases, paródias e estilizações, entre outras pos-
sibilidades.
(EM13LP04) Estabelecer relações de interdiscursividade e intertextualidade para ex-
plicitar, sustentar e conferir consistência a posicionamentos e para construir e corrobo-
rar explicações e relatos, fazendo uso de citações e paráfrases devidamente marcadas.
(EM13LP05) Analisar, em textos argumentativos, os posicionamentos assumidos, os
movimentos argumentativos (sustentação, refutação/ contra-argumentação e nego-
ciação) e os argumentos utilizados para sustentá-los, para avaliar sua força e eficácia,
e posicionar-se criticamente diante da questão discutida e/ou dos argumentos utiliza-
dos, recorrendo aos mecanismos linguísticos necessários.
(EM13LP06) Analisar efeitos de sentido decorrentes de usos expressivos da lingua-
gem, da escolha de determinadas palavras ou expressões e da ordenação, combinação
e contraposição de palavras, dentre outros, para ampliar as possibilidades de constru-
ção de sentidos e de uso crítico da língua.
(EM13LP07) Analisar, em textos de diferentes gêneros, marcas que expressam a posi-
ção do enunciador frente àquilo que é dito: uso de diferentes modalidades (epistêmica,
deôntica e apreciativa) e de diferentes recursos gramaticais que operam como modali-
zadores (verbos modais, tempos e modos verbais, expressões modais, adjetivos, locu-
ções ou orações adjetivas, advérbios, locuções ou orações adverbiais, entonação etc.),
uso de estratégias de impessoalização (uso de terceira pessoa e de voz passiva etc.),
com vistas ao incremento da compreensão e da criticidade e ao manejo adequado des-
ses elementos nos textos produzidos, considerando os contextos de produção.
Material disponibilizado em licença aberta do tipo Creative Commons – Atribuição não comercial (CC BY NC – 4.0 International).
Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros. 19
(EM13LP08) Analisar elementos e aspectos da sintaxe do português, como a ordem
dos constituintes da sentença (e os efeito que causam sua inversão), a estrutura dos
sintagmas, as categorias sintáticas, os processos de coordenação e subordinação (e
os efeitos de seus usos) e a sintaxe de concordância e de regência, de modo a poten-
cializar os processos de compreensão e produção de textos e a possibilitar escolhas
adequadas à situação comunicativa.
(EM13LP11) Fazer curadoria de informação, tendo em vista diferentes propósitos e
projetos discursivos.
(EM13LP13) Analisar, a partir de referências contextuais, estéticas e culturais, efeitos
de sentido decorrentes de escolhas de elementos sonoros (volume, timbre, intensida-
de, pausas, ritmo, efeitos sonoros, sincronização etc.) e de suas relações com o verbal,
levando-os em conta na produção de áudios, para ampliar as possibilidades de cons-
trução de sentidos e de apreciação.
(EM13LP48) Identificar assimilações, rupturas e permanências no processo de consti-
tuição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da leitura e análise
de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para
perceber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos.
(EM13LP49) Perceber as peculiaridades estruturais e estilísticas de diferentes gêneros
literários (a apreensão pessoal do cotidiano nas crônicas, a manifestação livre e subje-
tiva do eu lírico diante do mundo nos poemas, a múltipla perspectiva da vida humana e
social dos romances, a dimensão política e social de textos da literatura marginal e da
periferia etc.) para experimentar os diferentes ângulos de apreensão do indivíduo e do
mundo pela literatura.
(EM13LP50) Analisar relações intertextuais e interdiscursivas entre obras de diferen-
tes autores e gêneros literários de um mesmo momento histórico e de momentos his-
tóricos diversos, explorando os modos como a literatura e as artes em geral se consti-
tuem, dialogam e se retroalimentam.
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Permitida a criação de obra derivada com fins não comerciais, desde que seja atribuído crédito autoral e as criações sejam licenciadas sob os mesmos parâmetros.
6. No oratório profano “As enfibraturas do Ipiranga”, temos quatro
vozes coletivas, cada uma representando um segmento da socieda-
de, e uma voz individual – Minha Loucura. As vozes coletivas têm as
seguintes representações: as Juvenilidades Auriverdes (“todos os ra-
pazes da Semana de Arte Moderna”), Os Orientalismos Convencionais
(poetas que produzem obras no então estilo dominante, que os “rapa-
zes” da Semana de Arte Moderna criticavam); As Senectudes Tremuli-
nas (milionários e burgueses); Os Sandapilários Indiferentes (opera-
riado, gente pobre).
Pedir para os alunos pesquisarem qual era o estilo poético domi-
nante no início do século XX e qual era a proposta dos jovens moder-
nistas. Espera-se que os alunos identifiquem o estilo dominante como
o Parnasianismo, estilo poético que marcou a elite literária brasileira
do final do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX (entre
os fundadores da Academia Brasileira de Letras, em 1897, a maioria
absoluta dos poetas se filiava ao Parnasianismo, de nítida influência
francesa). Entre as principais características da poesia parnasiana é
possível citar:
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Entre os poetas parnasianos, o destaque ficava para Olavo Bilac,
Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.
Os jovens modernistas combatiam essa poesia preocupada com a
objetividade e com o rigor formal. O evento marcante do início do mo-
dernismo brasileiro foi a realização da Semana de Arte Moderna, em
fevereiro de 1922, no Theatro Municipal de São Paulo, um centro de
entretenimento da elite cafeeira. O período de 1922 a 1930 é o mais
radical do movimento modernista, justamente em consequência da
necessidade de definições e do rompimento com todas as estruturas
do passado. Daí o caráter anárquico dessa primeira fase e seu forte
sentido destruidor, assim definido por Mário de Andrade: "se alastrou
pelo Brasil o espírito destruidor do movimento modernista. Isto é, o
seu sentido verdadeiramente específico. Porque, embora lançando
inúmeros processos e ideias novas, o movimento modernista foi es-
sencialmente destruidor. [...]".
Ao mesmo tempo que se buscava o moderno, o original e o polê-
mico, o nacionalismo se manifestava em suas múltiplas facetas: volta
às origens, pesquisa de fontes quinhentistas, procura de uma “língua
brasileira” (a língua falada pelo povo nas ruas), paródias – numa ten-
tativa de repensar a história e a literatura brasileiras – e valorização do
índio verdadeiramente brasileiro.
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Em nítida oposição, os Orientalismos Convencionais defendem
que “os alicerces não devem cair mais!”, amam “as chatezas horizon-
tais”, odeiam “as matinadas arlequinais” e defendem o ritmo e as ri-
mas que se repetem à exaustão: “Temos nossos coros só no tom de
dó!” e “Glória aos Iguais”. Formalmente, as falas dos Orientalismos
Convencionais são estrofes regulares, com versos metrificados e uma
mesma rima se repetindo em toda a estrofe, o que produz um eco que
se torne desagradável.
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Mergulhando na obra
Aprofundamento
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• o aumento da complexidade dos textos lidos e produzidos em termos
de temática, estruturação sintática, vocabulário, recursos estilísticos,
orquestração de vozes e semioses;
• o foco maior nas habilidades envolvidas na reflexão sobre textos
e práticas (análise, avaliação, apreciação ética, estética e política,
valoração, validação crítica, demonstração etc.), já que as habilidades
requeridas por processos de recuperação de informação (identificação,
reconhecimento, organização) e por processos de compreensão
(comparação, distinção, estabelecimento de relações e inferência) já
foram desenvolvidas no Ensino Fundamental.
(BNCC – versão completa. p. 499)
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nista de São Paulo; duas figuras de personalidades opostas, mas com-
plementares. No mês seguinte, outro acontecimento fundamental: era
inaugurada a exposição de arte moderna da jovem pintora Anita Mal-
fatti; as telas de tendência expressionista encantaram os jovens que
buscavam novas orientações artísticas e formou-se um grupo com
Mário, Oswald, Di Cavalcanti, Guilherme de Almeida, entre outros. Nos
anos que se seguiram os jovens modernistas intensificaram suas crí-
ticas ao parnasianismo, que, nas primeiras décadas do século XX, era
o estilo dominante na poética brasileira.
Em dezembro de 1920, Mário de Andrade inicia a escrita dos poe-
mas que formariam Pauliceia desvairada e os declama para um pe-
queno grupo de amigos. Em maio de 1921, Oswald de Andrade, ainda
atuando na imprensa, publica um artigo com o título “O meu poeta fu-
turista” e fala, sem citar o nome, de um jovem poeta, professor do Con-
servatório, que escrevia poemas na linha futurista de Marinetti; foi um
escândalo. Mário de Andrade responde, assinando com pseudônimo,
que o jovem poeta citado não era “futurista”. Mas, meses depois, Mário
de Andrade publica uma série de artigos com o título de “Mestres do
passado”, em que critica os principais poetas do parnasianismo, entre
eles, o consagrado Olavo Bilac.
Ao findar o ano de 1921, o clima já estava criado para explodir no
evento que foi a Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922, con-
siderado o marco inicial do modernismo brasileiro, sempre tendo Mário
e Oswald como principais representantes. No meio do ano, Mário lança
Pauliceia desvairada, com seus poemas revolucionários e um prefácio
que era um verdadeiro manifesto modernista. Ainda em 1922, é lança-
da em São Paulo a revista Klaxon.
As ideias sobre a estética modernista, já manifestadas nos artigos
sobre os mestres do passado e em sua fala durante a Semana de Arte
Moderna, aparecem sistematizadas em 1925 no livro de ensaios A es-
crava que não é Isaura. Sua produção literária intensifica-se com a publi-
cação de livros de poesia, de contos e os romances Amar, verbo intran-
sitivo, em 1927, e Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, em 1928.
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Ao lado de sua produção literária, Mário de Andrade se dedicou à
pesquisa da música e do folclore brasileiros, foi diretor do Departa-
mento de Cultura da Prefeitura de São Paulo e participou da organi-
zação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Em sua
estada no Rio de Janeiro, lecionou estética na Universidade do Distrito
Federal.
Lira paulistana foi sua última obra, sendo publicada postumamente.
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De fato, a cidade era constituída de tipos muito diversos; nem mes-
mo o operariado formava um grupo completamente homogêneo. A São
Paulo do início do século XX era uma cidade multifacetada, fruto da in-
dustrialização, da eletricidade, da modernidade e da imigração. Assim,
poderíamos encontrar pela cidade, andando na mesma calçada do
bairro dos Campos Elíseos, um “barão do café”, um operário anarquis-
ta, um padre, um burguês, um nordestino, um professor, um negro, um
comerciante, um advogado, um militar... realmente, uma “pauliceia
desvairada”, palco ideal para a realização de um evento que mostras-
se uma arte inovadora, rompendo com velhas estruturas.
Se em Pauliceia desvairada a relação do poeta com a sua cidade é
mais neurótica, nervosa, por vezes agressiva, em Lira paulistana, com
o distanciamento de vinte anos de uma obra para outra, o eu lírico tem
uma identificação maior com a sua cidade, em uma relação mais afe-
tuosa, embora às vezes com tons melancólicos.
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Por isso, reafirmamos uma ideia básica: não podemos confundir
o enunciador de um poema (o eu poético, ser ficcional) com o próprio
poeta (o autor, ser empírico). Há casos evidentes em que a voz do
enunciador não mantém ponto de contato com o poeta, como ocor-
re, por exemplo, na tradição lusitana das cantigas de amigo em que
a autoria é masculina mas o eu lírico é feminino (no caso da MPB, por
exemplo, há várias canções de Chico Buarque que seguem o modelo
das cantigas de amigo, como “Tatuagem”, “Atrás da porta”, “Com açú-
car e com afeto”).
Na poética de Mário de Andrade, no entanto, o eu lírico é, na maior
parte de seus poemas, uma projeção do poeta, com o emprego exces-
sivo da primeira pessoa, seja nas formas verbais, seja nos pronomes
possessivos, eliminando o distanciamento entre o objeto poético e o
enunciador
A intertextualidade
O círculo que envolve a interação pela linguagem se constrói apoia-
do no já dito, no já lido e no já conhecido, podendo reiterá-los, reafir-
má-los, reformulá-los, refutá-los.
É muito difícil pensar na produção de um texto totalmente inédito,
criado a partir do nada. É como se todo texto fosse um hipertexto que
possui links explícitos ou implícitos com outros. O termo intertextua-
lidade foi cunhado, na década de 1960, no âmbito da teoria literária
por Julia Kristeva e, nessa concepção, trata do universo dos textos
literários e do diálogo entre esses textos ao longo da história da lite-
ratura. Quando a intertextualidade se dá entre dois textos literários
efetivamente escritos e se manifesta de forma direta, clara, explícita,
podemos dizer que se trata de intertextualidade em sentido mais res-
trito. Na literatura brasileira temos um exemplo significativo. O poeta
romântico Gonçalves Dias escreveu, em meados do século XIX, a fa-
mosa Canção do exílio; desde então, vários outros poetas produziram
intertextos, ou por simples imitação, ou para repensá-la.
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O conhecimento das relações entre os textos – e dos textos utiliza-
dos como intertexto – é um poderoso recurso de produção e apreen-
são de significados. Quando um determinado autor recorre a vários
textos para compor os próprios, certamente tem um motivo muito cla-
ro – por exemplo fazer uma crítica, uma reflexão ou uma releitura des-
ses textos. Percorrer o caminho inverso, ou seja, buscar esse motivo e
reconstruir o processo de produção leva a desvendar os significados
específicos do texto produzido, já que os textos se completam, lançam
luz uns sobre os outros.
Esse conhecimento, porém, não se dá por acaso nem por obra da
intuição, mas por meio de um trabalho bastante específico: o exercí-
cio da leitura. Quanto mais experiente for o leitor (entenda-se como
leitor experiente aquele que leu muito e bem) mais possibilidades
terá de compreender os caminhos percorridos (e os textos visita-
dos) por um outro autor em sua produção e de percorrer o próprio
caminho em suas criações.
Portanto, nossos processos de leitura podem ser mais proveitosos
quanto mais caminhos de leitura tivermos percorrido. Nossas produ-
ções podem aprimorar-se na medida em que incorporamos essas lei-
turas a nossos textos. E não é exagero dizer que esses procedimentos
ampliam-se de tal forma que atingem uma outra área, bem mais ampla
– a que diz respeito à própria leitura do mundo.
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Novos caminhos
Referências complementares
FONSECA, Maria Augusta. Por que ler Mário de Andrade. São Paulo:
Globo, 2011.
• A autora comenta a vida e obra de Mário de Andrade, revelando
suas múltiplas facetas e sua participação no movimento moder-
nista brasileiro, ao longo das décadas de 1910 a 1940.
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Macunaíma. Roteiro e direção de Joaquim Pedro de Andrade, 108 min,
1969.
• Adaptação para a linguagem cinematográfica de Macunaíma, o
herói sem nenhum caráter, romance fundamental do modernis-
mo brasileiro, publicado em 1928. No elenco, Grande Otelo, Paulo
José, Dina Sfat e Jardel Filho.
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Organizando a estante
Bibliografia comentada
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ANDRADE, Mário de. Poesias completas. 2 volumes. Edição organizada
por Telê Porto Ancona Lopez e Tatiana Longo Figueiredo. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2013.
• Reunião das poesias completas de Mário de Andrade, feita a partir
do cuidadoso trabalho de duas pesquisadoras especializadas na
obra do autor.
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GUASTINI, Mário. A hora futurista que passou e outros escritos.
Organização, apresentação e notas de Nelson Schapochnik. São Paulo:
Boitempo Editorial, 2006.
• Coletânea de artigos feita pelo jornalista e diretor do Jornal do Co-
mércio Mário Guastini. Apesar de ser um grande amigo de Oswald
de Andrade e abrir as portas do jornal para publicações de autores
modernistas, seria um dos grandes opositores das inovações pro-
postas por aqueles a quem tratava por “futuristas”.
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SOBRAL, Mário (Mário de Andrade). Há uma gota de sangue em cada
poema. São Paulo: Pocai & Companhia, 1917.
• Primeiro livro publicado por Mário de Andrade, sob o pseudônimo de
Mário Sobral, é um documento importante para se conhecer o iní-
cio da produção poética do autor, assim como as mudanças pelas
quais ele passaria até a realização de Pauliceia desvairada.
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