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Filosofia 10ºAno A ação humana — análise e compreensão do agir.

O problema do livre-arbítrio
agir

Ficha de Trabalho nº4


No final das atividades o aluno deve ser capaz de:
• Analisar situações onde ocorram duas crenças comuns: a ideia de que a vontade é livre e a
ideia de que tudo o que acontece tem uma causa.
• Explicar os conceitos de determinismo e livre- -arbítrio.
• Formular o problema do livre-arbítrio.
• Justificar a relevância filosófica do problema do livre- -arbítrio.
• Relacionar os conceitos de livre-arbítrio e responsabilidade moral.
• Distinguir o incompatibilismo do compatibilismo.
• Explicar as teses e os principais argumentos do determinismo radical, do libertismo e do
determinismo moderado.
• Discutir objeções às três perspetivas estudadas.
• Comparar o determinismo radical, o libertismo e o determinismo moderado.
• Aplicar formas de inferência válida estudadas para explicitar argumentos e objeções
relativos às três perspetivas.
• Avaliar criticamente o problema do livre-arbítrio, relacionando-o com diferentes áreas do
saber, propondo formas de o resolver e defendendo uma posição pessoal.

1. Atente na imagem e respetiva legenda.

Num mar de braços erguidos numa saudação ao regime nazi, a única figura com os braços
cruzados é a de August Landmesser. Foi em 1936 e a imagem retrata o momento em que a
multidão assistia, junto ao porto de Hamburgo, ao batismo de mar de um navio-escola da
Marinha alemã. August Landmesser – um trabalhador dos estaleiros de Hamburgo – tinha
razões pessoais para se querer distanciar do regime nazi. Mesmo tendo pertencido ao partido de
Hitler, entre 1931 e 1935, foi dele expulso, depois de ter decidido casar-se com a judia Irma
Eckler.

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Filosofia 10ºAno A ação humana — análise e compreensão do agir. O problema do livre-arbítrio
agir

As ações podem ser positivas (o facto de se mover) ou negativas (o facto de não se mover não obstante
as solicitações exteriores). (…) O agir pode coincidir com o nada fazer.

Stéphane Ferret (2007). Aprender com as coisas. Asa, p. 84.

Considerando a imagem, respetiva legenda e o conteúdo do texto, justifique as seguintes afirmações:

1.1. August Landmesser realiza uma ação, não obstante nada fazer.

1.2. O agente não age por agir, ele age por ou em vista de qualquer coisa.

1.3. O mesmo movimento tanto pode ser como não ser uma ação.

1.4. A ação implica decisão, mas decisão e ação não são sinónimos.

1.5. A ação pressupõe os motivos que a explicam.

Cenários de resposta
1.1. Uma ação é um gesto (ou conjunto de gestos) que implica intencionalidade. Uma vez que existe intencionalidade,
August Landmesser age ao manter-se imóvel: decide não realizar a saudação nazi. São seus a intenção e os motivos.
Dispunha de cursos alternativos (realizar ou não realizar o gesto) e seguir qualquer um deles dependia unicamente de
si.
1.2. Uma ação tem sempre em vista uma finalidade, visa um resultado. O gesto (que, neste caso, se traduz na
ausência de gesto ou de movimento) tem um sentido, isto é, uma direção e um significado.
1.3. Aquilo que permite distinguir uma ação de um qualquer outro gesto reside na intencionalidade e no facto de esta
poder ser imputável a um agente. Assim, o mesmo gesto, como cruzar os braços, por exemplo, pode não ser uma
ação, caso o seu autor o realize de forma não consciente (sem se aperceber) e/ou involuntária (sem querer), ou ser
uma ação, caso o agente o realize sabendo que o está a fazer e querendo fazê-lo.
1.4. A decisão é um processo de pensamento que antecede o movimento ou conjunto de movimentos voluntários. A
decisão faz parte da ação, mas não deve ser confundida com ela, uma vez que agir é algo mais do que simplesmente
deliberar (ponderar alternativas) e decidir (optar por uma das alternativas ao dispor do agente).
1.5. Quando identificamos um comportamento como sendo uma ação, indicamos habitualmente um porquê, uma
razão (ou várias razões possíveis) dessa ação, isto é, o motivo ou motivos. Os motivos são as razões que levam o
agente a optar por uma das alternativas e a excluir as restantes. As razões de August Landmesser para se distanciar
do regime nazi permitem-nos identificar como ação o seu comportamento, compreendê-lo e explicá-lo. Para conhecer
os motivos do agente precisamos muitas vezes de recorrer ao seu comportamento anterior e posterior, como
acontece neste exemplo.

2. Leia, atentamente, o texto.

Todos pensamos que temos livre-arbítrio. Como poderíamos não o pensar? Renunciar à liberdade
significaria deixar de fazer planos para o futuro, pois de que adianta fazer planos se não temos a
liberdade para mudar o que acontecerá? Significaria renunciar à moralidade, pois só quem age
livremente merece censura ou castigo. Sem liberdade, percorremos caminhos predeterminados,
incapazes de controlar os nossos destinos. Uma vida assim não vale a pena.

Earl Conee e Theodore Sider (2010). Enigmas da existência.

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Filosofia 10ºAno A ação humana — análise e compreensão do agir. O problema do livre-arbítrio
agir
Uma visita guiada à metafísica. Bizâncio, pp. 145-146.

Na resposta a cada um dos itens 2.1. e 2.3., selecione a opção que permite obter a única afirmação
adequada ao sentido do texto.

2.1. De acordo com o conteúdo do texto, renunciar à liberdade:


(A) Implica renunciar à moralidade.
(B) É compatível com a ideia de moralidade.
(C) É incompatível com o determinismo.
(D) Implica poder controlar os nossos destinos.

2.2. Os autores do texto consideram problemática a:


(A) Crença na moralidade.
(B) Crença no livre-arbítrio.
(C) Rejeição do determinismo.
(D) Rejeição do livre-arbítrio.

2.3. Segundo os autores do texto, sem livre-arbítrio:


(A) A vida é mais tranquila.
(B) A vida encontra-se predeterminada.
(C) As escolhas são mais fáceis de fazer.
(D) Podemos planear o rumo das nossas vidas.

3. Partindo do texto, exponha o problema do livre-arbítrio.

Cenários de resposta
2.1. (A); 2.2. (D); 2.3. (B).
3. Por um lado, todos nós acreditamos que temos livre-arbítrio e que somos moralmente responsáveis por aquilo que
livremente fazemos, ou seja, que controlamos, pelo menos em parte, o nosso comportamento. Como poderíamos não
o pensar? Por outro lado, há fortes razões para acreditarmos que tudo no universo (incluindo as nossas próprias
ações) é determinado por acontecimentos anteriores que escapam ao nosso controlo. Aceitar como sendo verdadeira
uma destas crenças parece implicar a rejeição da outra. Nisto consiste o problema do livre-arbítrio.

4. Identifique as afirmações falsas. Justifique as suas opções.

A. O problema do livre-arbítrio expõe um conflito entre ciência e liberdade.

B. De acordo com o determinismo, não há acontecimentos sem causa.

C. O determinismo aceita exceções ao princípio universal da causalidade.

D. A nossa crença no determinismo é razoável, porque fundada na ciência.

E. O determinismo parece sugerir que pessoas como Hitler não agiram livremente.

F. O determinismo radical aceita que controlamos parte do nosso comportamento.

G. O determinismo radical é uma teoria compatibilista.

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H. O libertismo rejeita o determinismo do comportamento humano.

I. O libertismo defende que os seres humanos são especiais.

J. O libertismo afirma ser possível prever o comportamento humano.

K. Para o determinismo moderado, liberdade e causalidade são compatíveis.

L. O determinismo moderado afirma que o significado de livre é incausado.

M. O determinismo moderado rejeita que existam comportamentos constrangidos.

N. O determinismo moderado considera a possibilidade de responsabilidade moral.

Cenários de resposta
4. (C) O determinismo defende que todos os acontecimentos do universo, sem exceção, são efeitos causados por
acontecimentos anteriores. Não há acontecimentos sem causa. A lei da causalidade não admite exceções. Esta tese
tem no seu núcleo a convicção de que tudo o que acontece foi inteiramente fixado pelo que ocorreu antes.
F. Para o determinismo radical, nada do que faço está sob o meu controlo. Se todo o meu comportamento presente é
fixado por acontecimentos precedentes e pelas leis da natureza, então a ideia de que exerço algum controlo sobre as
minhas próprias ações radica numa ilusão.
G. O determinismo radical é uma teoria incompatibilista (ou não compatibilista), porque considera que não é possível
aceitar simultaneamente o determinismo e o livre-arbítrio, rejeitando este último.
J. Uma vez que para o libertismo o nosso comportamento não está sujeito a causas necessitantes, então não será
possível prevê-lo, pelo menos não na perspetiva em que o determinismo o defende. L. O determinismo moderado não
rejeita a causalidade universal. Afirma que todos os acontecimentos do universo são causados, incluindo aquilo que
fazemos livremente. Ser livre não significa ser incausado, mas apenas não ser constrangido.
M. O determinismo moderado considera que existem comportamentos constrangidos (não livres) quando, por
exemplo, o meu comportamento é resultado de uma compulsão. Sendo assim, alguns comportamentos são
constrangidos, outros não.

5. Escreva a letra que identifica a teoria que pode ser corretamente associada ao texto de seguida
apresentado.

Podemos ficar com o bolo e comê-lo ao mesmo tempo; podemos manter simultaneamente a liberdade e
o determinismo. Desse modo podemos preservar ao mesmo tempo a ciência e a nossa humanidade. (…)
O alegado conflito é uma ilusão, baseada numa incompreensão do conceito de livre-arbítrio. As nossas
ações (…) são na verdade causadas por acontecimentos anteriores ao nosso nascimento. Mas são muitas
vezes livres apesar disso.

Earl Conee e Theodore Sider (2010). Enigmas da existência.

Uma visita guiada à metafísica. Bizâncio, pp. 161-162.

(A) Determinismo radical


(B) Determinismo moderado
(C) Libertismo
(D) Libertismo radical

Cenário de resposta

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Filosofia 10ºAno A ação humana — análise e compreensão do agir. O problema do livre-arbítrio
agir
5. (B).

6. Complete as lacunas do texto com as palavras sugeridas.


• coação • real • deterministas moderados • valiação moral • incompatível • ilusória
• causalmente determinada • deterministas radicais • determinismo • livre-arbítrio

Toda a noção de que agimos livremente parece estar ameaçada pelo determinismo, e a par dela o nosso
estatuto de seres morais. É uma matéria com profundo significado que tem suscitado uma ampla
variedade de respostas filosóficas. Entre elas podem distinguir-se as seguintes correntes principais:

Os ________________________ (1) sustentam que o determinismo é verdadeiro e incompatível com o


________________________ (2). As nossas ações são causalmente determinadas e a ideia de que
somos livres, no sentido em que poderíamos ter agido de um modo diferente, é
________________________ (3).

A censura e o elogio moral, tal como normalmente são concebidos, são inapropriados. Os
________________________ (4) aceitam que o determinismo é verdadeiro, mas negam que seja
incompatível com o livre-arbítrio. O facto de termos podido agir de um modo diferente se o tivéssemos
escolhido oferece uma noção satisfatória e suficiente da liberdade da ação. É irrelevante que uma
escolha seja ________________________ (5); o importante é que ela não resulte de
________________________ (6) nem seja contrária aos nossos desejos. Uma ação que seja livre nesse
sentido está sujeita à ________________________ (7) normal.

Os libertistas concordam que o determinismo é ________________________ (8) com o livre-arbítrio e,


por conseguinte, rejeitam o ________________________ (9) (…). O libertista sustenta assim que o
livre-arbítrio humano é ________________________ (10) e que as nossas ações não são determinadas.

Ben Dupré (2011). 50 ideias. Filosofia. D. Quixote, p. 170 (adaptado)

Cenários de resposta
6. (1) deterministas radicais; (2) livre-arbítrio; (3) ilusória; (4) deterministas moderados; (5) determinada; (6)
coação; (7) avaliação moral; (8) incompatível; (9) determinismo; (10) real.

7. Comece por ler o texto.

Ainda assim, aceitar o determinismo radical é quase impensável. Tão pouco é claro que pudéssemos
deixar de acreditar no livre-arbítrio, ainda que quiséssemos fazê-lo. Se o leitor encontrar alguém que
afirma acreditar no determinismo radical, eis uma pequena experiência a ensaiar. Dê-lhe um murro na
cara, com muita força. Depois tente convencê-lo a não o culpar. Afinal, segundo ele, o leitor não teve
escolha senão esmurrá-lo! Prevejo que terá muita dificuldade em convencê-lo a praticar o que prega.
Earl Conee e Theodore Sider (2010). Enigmas da existência.
Uma visita guiada à metafísica. Bizâncio, pp. 152-153.

7.1. Partindo das afirmações contidas no texto, analise criticamente as teses, argumentos e
consequências do determinismo radical.
Cenário de resposta
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Filosofia 10ºAno A ação humana — análise e compreensão do agir. O problema do livre-arbítrio
agir
7.1. O determinismo é a teoria segundo a qual tudo o que acontece tem uma causa. Se isto é verdade para todos os
acontecimentos, é verdade para as ações: as minhas ações e escolhas são determinadas por acontecimentos ou
estados precedentes e pelas leis da natureza. Na perspetiva do determinismo radical, esta tese exclui a liberdade da
vontade. O livre-arbítrio é uma ilusão, diria o determinismo radical. Se o determinismo radical for verdadeiro, teremos
de abandonar a crença no livre-arbítrio e na responsabilidade moral. Acontece que não é claro que o possamos fazer,
ainda que o quiséssemos.

8. Atente no conteúdo do texto seguinte.

O que torna os seres humanos tão especiais? Alguns libertistas respondem que temos almas, fontes não-
físicas da consciência e da escolha que não são controladas por leis da natureza. Outros afirmam que os
seres humanos são na verdade sistemas puramente físicos, mas que não estão sujeitos às leis naturais
que regem outros sistemas físicos. De uma ou de outra maneira, as leis da natureza não determinam
completamente o comportamento humano.
Earl Conee e Theodore Sider (2010). Enigmas da existência.
Uma visita guiada à metafísica. Bizâncio, p. 153.

8.1. Considerando as afirmações contidas no texto, analise criticamente a resposta libertista ao


problema do livre-arbítrio.

Cenário de resposta
8.1. Segundo o libertismo, os seres humanos são especiais: as suas ações são livres, uma vez que não são
causalmente determinadas pelas leis da natureza. O libertismo coloca o ser humano completamente fora da esfera da
natureza. A posição libertista entra em contradição com grande parte do que nos ensina o bom senso e a ciência. Ao
excluir a relação entre o nosso comportamento e o funcionamento neurofisiológico do corpo e do cérebro, o libertismo
tende a ser uma teoria pouco plausível.

9. Estabeleça a correspondência entre a coluna A (noções) e a coluna B (descrição).

COLUNA A COLUNA B

1. Fim ou finalidade A. Razão de agir que justifica a ação. Por exemplo,


a convicção de que é meu dever lutar pelos
melhores resultados possíveis na escola e o meu
2. Algo que nos acontece desejo de ser bem-sucedido.

B. Projeto que identifica e causa a ação. Por

3. Algo que fazemos exemplo, o propósito de concluir o 10.º ano com o

inconscientemente melhor aproveitamento possível.

C. Acontecimento intencional. Por exemplo, comer


um bolo cheio de creme porque assim o
4. Algo que fazemos
desejamos, mesmo sabendo que existem
consciente, mas
alimentos mais saudáveis.
involuntariamente
D. Autor e responsável pela ação. São seus os
motivos e as intenções, bem como a

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5. Ação responsabilidade pelas consequências da ação.

E. Objetivo último da ação.

6. Intenção F. Os tiques nervosos são um bom exemplo deste


tipo de realizações.

G. Opção por uma das alternativas possíveis.


7. Motivo
Determina o curso da ação.

H. Evento que nos afeta, sem que a sua


8. Deliberação ocorrência dependa de uma realização nossa. Por
exemplo, um dia frio de chuva.

9. Deliberação I. Enquanto dormimos, sonhamos, rebolamos na


cama, falamos ou até andamos.

J. Momento de avaliação e de ponderação que


10. Agente
antecede e prepara a decisão racional.

Cenário de resposta
9. 1 → E; 2 → H; 3 → I; 4 → F; 5 → C; 6 → B; 7 → A; 8 → J; 9 → G; 10 → D.

10. Faça corresponder a cada uma das afirmações a(s) letra(s) da doutrina que lhe está subjacente.

DR – Determinismo radical L – Libertismo DM – Determinismo moderado

1. As leis da causalidade governam em absoluto todo o universo. Não há lugar para o exercício de
uma faculdade que se determine a si mesma.

2. Somos tão livres como um computador. Nada em nós é aleatório e sem causa.

3. A afirmação de que agimos livremente resulta de uma ilusão e traduz apenas o nosso
desconhecimento dos fatores causalmente relevantes que nos conduziram a fazer algo.

4. Seria um erro lógico negar a causalidade que rege os acontecimentos do universo. No entanto, esta
hipótese não elimina a liberdade da vontade.

5. Tal como as órbitas dos planetas e as marés, somos determinados por acontecimentos precedentes.
Porém, ao contrário daqueles, podemos frequentemente escolher e dizer “quero!” ou “não quero!”.

6. Não há causas antecedentes ou simultâneas nas ações humanas. O comportamento humano não é
predizível.

7. A possibilidade de controlarmos o nosso comportamento por intermédio da vontade não traduz uma
liberdade radical. A liberdade está, agora e sempre, condicionada por fatores e circunstâncias que lhe
fixam as fronteiras.

8. Conhecidas que sejam todas as circunstâncias atuais de um ser humano, é possível predizer sem
erro o decurso unívoco da sua conduta.
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9. Se tudo aquilo que fazemos se inscreve, como acreditamos, numa rede causal, então o presente
resulta necessariamente do passado e não somos responsáveis por coisa alguma que façamos.

10. A vontade opta sem que nenhuma circunstância interna ou externa a anule ou limite.

Cenários de resposta
10. 1 → DR; 2 → DR; 3 → DR; 4 → DM; 5 → DM; 6 → L; 7 → DM; 8 → DR; 9 → DR; 10 → L.

11. Considere o texto.

Na opinião da maior parte dos filósofos de hoje, o compatibilismo tem as melhores hipóteses de salvar o
livre-arbítrio e de proteger a noção de responsabilidade moral do ataque do determinismo. Contudo, o
compatibilismo tem um problema grave. O compatibilismo afirma que somos livres se as ações decorrem
do nosso caráter e dos nossos desejos não manipulados. O problema é que, em última análise, o nosso
caráter e os nossos desejos são causados por forças que não controlamos.
James Rachels (2009). Elementos da filosofia moral. Gradiva. pp. 195-196.

11.1. Esclareça o sentido das afirmações do texto.

Cenário de resposta
11.1. O texto expõe uma objeção importante ao compatibilismo. Tudo o que aconteceu livremente, diz um
compatibilista, foi causado pelo nosso caráter e pelos nossos desejos não manipulados, e estes são, por sua vez,
causados por acontecimentos que não dependem de nós, como sejam o património genético e a cultura. Ou seja,
tudo o que aconteceu foi efetivamente determinado por certos tipos de causas que não controlamos. Este facto é
suficiente para criar algum desconforto e pôr em dúvida a liberdade de escolha.

12. Filosoficamente, o termo ação deve ser reservado para:

(A) Exemplos como a ação do vento, das marés ou das cegonhas.


(B) Exemplos de acontecimentos intencionais, como escrever.
(C) Exemplos de comportamento, como o das térmitas-soldado.
(D) Exemplos de comportamentos humanos involuntários.

Cenário de resposta
12. (B).

13. Os motivos da ação:

(A) Respondem à pergunta «quem faz?».


(B) Respondem à pergunta «que faz?».
(C) Respondem à pergunta «para que faz?».
(D) Respondem à pergunta «por que razão faz?».

Cenário de resposta
13. (D).

14. No exemplo João pretende trabalhar nas férias de Natal porque deseja comprar novos jogos de

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agir
computador:
(A) João é o agente e trabalhar nas férias de Natal o motivo da ação.
(B) O jogo de computador é o agente e o desejo de trabalhar é a intenção.
(C) Trabalhar é a intenção e o desejo de comprar os jogos é o motivo.
(D) As férias de Natal são o motivo e a intenção é o desejo de ter novos jogos.

Cenário de resposta
14. (C).
15. De acordo com o determinismo radical, a liberdade:

(A) Existe, embora limitada a algumas escolhas.


(B) É apenas uma característica dos humanos.
(C) É uma ilusão que deve ser abandonada.
(D) É uma característica de todos os seres vivos.

Cenário de resposta
15. (C).

16. O determinismo é uma hipótese forte porque:


(A) É consistente com aquilo que a ciência nos diz sobre o universo.
(B) É consistente com a ideia que temos de nós mesmos como agentes.
(C) Nos retira a crença de que controlamos e inventamos a nossa vida.
(D) Pode ser provada e demonstrada em relação a todo o universo.

Cenário de resposta
16. (A).

17. As nossas ações são causalmente determinadas, mas esta hipótese não elimina a liberdade da
vontade. Esta afirmação só poderia ter origem na corrente:

(A) Libertista.
(B) Determinista radical.
(C) Determinista moderada.
(D) Determinista universal.

Cenário de resposta
17. (C).

18. As ações humanas não são causalmente determinadas nem aleatórias. Esta afirmação só poderia ter
origem na corrente:
(A) Libertista.
(B) Determinista radical.
(C) Determinista moderada.
(D) Compatibilista.

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agir
Cenário de resposta
18. (A).

19. Falar em ação é falar em motivos. Caracterize este conceito.

Cenário de resposta
19. Os motivos explicam a ação e remetem para o espaço mental do agente. São as razões da ação. Incluem crenças
e desejos. Respondem à questão “porquê?”.

20. O determinismo é uma das doutrinas mais persistentes na história do pensamento ocidental.
Exponha as teses nucleares do determinismo radical.

Cenário de resposta
20. As teses centrais da teoria determinista radical podem ser expostas nos termos que se seguem: não existem
acontecimentos sem causa; tudo no universo é constrangido e predizível; dadas as mesmas condições, as mesmas
causas produzem inevitavelmente os mesmos efeitos, existindo, portanto, uma ligação necessária e indestrutível
entre os efeitos e os acontecimentos que os precederam; não existe no universo espaço para a liberdade da vontade.

21. O determinismo é simultaneamente uma hipótese forte e assustadora. Justifique a afirmação.

Cenário de resposta
21. O determinismo é uma hipótese forte, já que parece consistente com a maneira como o mundo funciona
realmente: os cientistas podem mostrar-nos que todos os fenómenos que conhecemos do universo, até ao momento,
têm uma explicação, uma causa. Acontece, porém, que, muito embora o determinismo seja uma hipótese forte, é
simultaneamente uma hipótese que nos assusta. Porquê? Porque, se o determinismo for verdadeiro, teremos de
abandonar a nossa crença na liberdade da vontade e esta é uma crença que não desejamos perder.

22. A teoria libertista é uma doutrina incompatibilista. Porquê?

Cenário de resposta
22. Os libertistas são incompatibilistas porque, à semelhança dos deterministas radicais, afirmam a impossibilidade
de conciliar determinismo e livre-arbítrio. Porém, enquanto os deterministas recusam o livre-arbítrio, os libertistas
rejeitam o determinismo: o ser humano é livre e o determinismo é falso.

23. Os defensores do compatibilismo admitem a possibilidade do livre-arbítrio. Mostre o que se entende


por liberdade, na perspetiva compatibilista.

Cenário de resposta
23. Para o compatibilismo, ou determinismo moderado, somos livres quando as nossas ações são determinadas
(causadas) mas não constrangidas (forçadas). Somos livres quando as nossas ações se baseiam nos nossos próprios
desejos, sem que sejamos forçados, interna ou externamente, a realizá-las.

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24. Considere o texto.

Por grande que seja a nossa programação biológica ou cultural, nós, seres humanos, podemos acabar
por optar por algo que não está no programa (pelo menos que lá não está totalmente). Podemos dizer
«sim» ou «não», «quero» ou «não quero». Por muito apertados que nos vejamos pelas circunstâncias,
nunca temos um só caminho a seguir, mas sempre vários. Quando te falo de liberdade é a isto que me
refiro. Ao que nos diferencia das térmitas e das marés, de tudo o que se move de modo necessário e
irremediável. É verdade que não podemos fazer tudo o que quisermos, mas também é certo que não
estamos obrigados a querer uma coisa só.

Fernando Savater (2005). Ética para um jovem. D. Quixote. pp. 29-30.

24.1. Partindo do texto, diga qual a posição defendida pelo autor em relação ao debate determinismo
versus liberdade.

24.2. «É verdade que não podemos fazer tudo o que quisermos, mas também é certo que não estamos
obrigados a querer uma coisa só.» Apresente as posições a que se opõe a afirmação de Fernando
Savater.

Cenários de resposta
24.1. O excerto permite-nos concluir que Savater defende uma posição compatibilista, uma vez que afirma a
possibilidade de sermos livres, apesar da «programação» biológica e cultural.
24.2. A posição defendida por Savater opõe-se simultaneamente ao determinismo radical («não estamos obrigados a
querer uma coisa só», temos ao nosso dispor alternativas de ação) e à ideia de uma liberdade completa, absoluta,
indeterminada («não podemos fazer tudo o que queremos», estando à partida limitados).

25. Leia, atentamente, o excerto seguinte.

Uma ação é um gesto no sentido de um movimento ou de uma deslocação do corpo ou de uma parte
dele. Este gesto pode ser fixado, e então falamos duma posição. O homem-estátua age por imobilidade.
A imobilidade pode ser ação, é isso que nos mostram os cálculos mentais, as jogadas de xadrez ou as
reflexões metafísicas. A concentração é ação.

Stéphane Ferret (2007). Aprender com as coisas. Asa, p. 84.

25.1. A primeira frase do texto define de forma completa “ação”? Fundamente.

25.2. «A concentração é ação». Justifique a afirmação.

Cenários de resposta
25.1. Não. A ação é um gesto, ou conjunto de gestos, que implica intencionalidade. Toda a ação é um gesto, mas
nem todos os gestos são ações.
25.2. A concentração implica intencionalidade, é dirigida para uma finalidade e imputável a um agente.

26. Leia, atentamente, o texto seguinte.

O mesmo mergulho aparente pode ser deliberado (o ator mergulha, deliciado, na água azul) como não
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agir
deliberado (o ator escorrega infelizmente no rebordo da piscina ou da falésia). Na maior parte dos casos,
podemos observar uma diferença fenoménica: o mergulho e a queda são duas posturas típicas muito
diferentes uma da outra. Um corpo tenso e afusado é a marca tradicional do mergulho no momento de
entrar na água. Um corpo agitado e desequilibrado é aquilo que se espera no momento da queda.

Stéphane Ferret (2007). Aprender com as coisas. Asa, pp. 86-87.

26.1. Indique um exemplo de ação retirado do texto.

26.2. A partir do texto, distingua movimento voluntário de movimento involuntário.

Cenários de resposta
26.1. O mergulho deliciado na água azul.
26.2. Um movimento voluntário e algo que fazemos sabendo e querendo fazê-lo (por exemplo, mergulhar
intencionalmente). Já um movimento involuntário é algo que nos acontece, que fazemos sem querer (por exemplo,
escorregar no rebordo da piscina).

27. Leia, atentamente, o texto que se segue.

Imagina-te a descer por uma rua, metido na tua própria vida, quando és subitamente confrontado por
um assaltante. Sem consideração pelos teus desejos ou sentimentos na questão, ele deita-te ao chão,
tira-te a carteira e afasta-se calmamente enquanto tu ficas a tratar das tuas feridas. Se existe tal coisa
como uma ação livre, esta foi uma.

Roger Scruton (2007). Guia de filosofia para pessoas inteligentes. Guerra e Paz. p. 122.

27.1. Partindo do texto, articule as noções de deliberação e decisão racional.

Cenário de resposta
27.1. Ao pensamento que considera e avalia razões práticas chamamos deliberação. O ladrão age deliberadamente
em função de razões que servem, neste caso, apenas o seu interesse próprio. Uma decisão é racional se resulta de
um processo de deliberação cuidadoso.

28. Se o Sérgio dá uma bofetada ao Alberto quando visava a cara do Raul, esta bofetada:

(A) Trata-se de uma não-ação porque o objetivo foi falhado.


(B) É uma verdadeira ação porque o objetivo foi atingido.
(C) Trata-se de uma não-ação porque ocorreu um erro.
(D) É uma verdadeira ação, ainda que uma ação falhada.

Cenário de resposta
28. (D).
29. Uma não-ação é algo que:
(A) Nos acontece.
(B) Fazemos deliberadamente.
(C) Fazemos intencionalmente.
(D) Fazemos voluntariamente.

Cenário de resposta

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Filosofia 10ºAno A ação humana — análise e compreensão do agir. O problema do livre-arbítrio
agir
29. (A).

30. Quando Aristóteles aperta as sandálias antes de sair, os seus motivos são:
(A) Os processos neurofisiológicos que dão origem a este movimento.
(B) As razões que explicam o movimento: desejar arranjar-se para sair.
(C) As finalidades ou propósitos que visa atingir com o seu ato.
(D) Os meios que utiliza para realizar corretamente este ato.

Cenário de resposta
30. (B).

31. O determinismo radical sustenta que o determinismo é:


(A) Incompatível com o livre-arbítrio e rejeita a causalidade universal.
(B) Verdadeiro e incompatível com o livre-arbítrio.
(C) Verdadeiro, mas nega que ele seja incompatível com o livre-arbítrio.
(D) Compatível com a censura e o elogio moral.

Cenário de resposta
31. (B).

32. O libertismo sustenta que:


(A) Não somos moralmente responsáveis pelo que quer que façamos.
(B) Todo o evento tem uma causa anterior, incluindo as ações.
(C) As nossas ações são causalmente determinadas.
(D) O livre-arbítrio é real e as nossas escolhas não são determinadas.

Cenário de resposta
32. (D).

33. Leia, atentamente, o texto seguinte.

Provavelmente vemos o edifício em que vivemos como um sistema determinista. Se as luzes se apagam,
pensamos que isso tem de ter uma causa. Supomos que, logo que a causa ocorreu, o efeito tinha de se
seguir. Se o eletricista nos dissesse que «isso pura e simplesmente aconteceu», sem qualquer razão,
essa afirmação violaria a nossa conceção do funcionamento das coisas. Com a ascensão da ciência
moderna, tornou-se comum conceber o universo inteiro como um grande sistema determinista. (…) O
universo inclui-nos. Fazemos parte da natureza e tudo aquilo que acontece dentro da nossa pele está
sujeito às mesmas leis físicas que tudo o resto.

James Rachels (2009). Problemas da filosofia. Gradiva. p. 160.

33.1. Exponha, justificadamente o problema que o texto introduz.

33.2. Desenvolva, a partir do texto, o que se entende por relação causal (ou de causalidade).

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Filosofia 10ºAno A ação humana — análise e compreensão do agir. O problema do livre-arbítrio
agir
Cenários de resposta
33.1. O problema do livre-arbítrio versus determinismo surge devido a uma aparente contradição entre duas ideias
igualmente plausíveis. A primeira é a ideia de que os seres humanos têm liberdade para fazer ou não fazer o que
querem. A segunda é a ideia de que tudo o que acontece no universo é causado, ou determinado, por acontecimentos
ou circunstâncias anteriores.
33.2. A relação causal, ou de causalidade, define-se como uma relação na qual um determinado fenómeno ou estado
de coisas (o efeito: por exemplo, uma luz que se apaga) é consequência de outro (a causa: por exemplo, alguém ter
carregado no interruptor). Segundo o texto, o nosso comportamento, tal como tudo no universo, é resultado de
relações causais.

34. Leia, atentamente, o texto seguinte.

O problema em torno da liberdade da vontade não se põe a propósito da existência ou não existência de
razões psicológicas internas que nos levam a fazer coisas, ou também de existência de causas físicas
externas e de compulsões internas. Põe-se antes a propósito de se ou não as causas da nossa conduta,
sejam elas quais forem, são suficientes para determinar a conduta de maneira que as coisas têm de
acontecer da maneira como acontecem.

John Searle (1984). Mente, cérebro e ciência. Edições 70.

34.1. Problematize a resposta do determinismo radical ao problema do livre-arbítrio. Na sua resposta


deve integrar, pela ordem que entender, os seguintes conceitos: determinismo, livre-arbítrio e
causalidade.

Cenário de resposta
34.1. O determinismo radical sustenta que o determinismo é verdadeiro e incompatível com o livre-arbítrio. Para o
determinismo radical, as nossas ações, tal como tudo no universo, são causalmente determinadas. O determinismo
radical sustenta que as causas (internas e externas) que determinam a nossa conduta são suficientes para explicá-la,
deixando em aberto um único futuro possível. Sendo assim, todo o nosso comportamento é constrangido e predizível
e a liberdade é uma ilusão. O determinismo radical, ao defender a inexistência do livre-arbítrio, nega,
consequentemente, a possibilidade de atribuir responsabilidade moral a quem praticou a ação.

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