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Aspectos das políƟcas indigenistas no Brasil

Aspects of indigenist policies in Brazil


Aspects des poliƟques indigénistes au Brésil
Aspectos de las políƟcas indigenistas en Brasil
Antonio Cavalcante Almeida1
Recebido em 27/09/2017; revisado e aprovado em 29/11/2017; aceito em 29/11/2017
DOI: hƩp://dx.doi.org/10.20435/inter.v19i3.1721

Resumo: O presente arƟgo invesƟgou alguns documentos jurídicos do período colonial, do sistema imperial
até o sistema republicano como: Cartas Régias, Decretos, Alvarás, ConsƟtuições e as principais declarações
e convenções dos organismos internacionais de defesa dos direitos humanos. O objeƟvo é analisar como os
Este é um arƟgo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença CreaƟve Commons AƩribuƟon, que permite

povos indígenas foram tratados pelas legislações vigentes durante o processo de construção da sociedade
uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que o trabalho original seja corretamente citado.

e do Estado brasileiro. Assim, a pesquisa evidenciou que os povos indígenas conquistaram disposiƟvos
consƟtucionais importantes a seu favor, principalmente nas úlƟmas décadas do século XX.
Palavras-chave: ConsƟtuição; povos indígenas; leis.
Abstract: The present arƟcle invesƟgated some legal documents from the colonial period, from the imperial
system to the republican system such as: Royal LeƩers, Decrees, Permits, ConsƟtuƟons and the major
declaraƟons and convenƟons of internaƟonal organizaƟons that defend human rights. The objecƟve is to
analyze how indigenous peoples were treated by the laws during the process of society formaƟon and the
Brazilian State. Thus, the research showed that indigenous peoples conquered important consƟtuƟonal
devices in their favor, especially in the last decades of the twenƟeth century.
Keywords: ConsƟtuƟon; indigenous peoples; laws.
Résumé: Le présent arƟcle a étudié certains documents juridiques de la période coloniale, du système
impérial au système républicain tels que: LeƩres Royales, Décrets, Permis, ConsƟtuƟons et les principales
déclaraƟons et convenƟons des organisaƟons internaƟonales de défense des droits de l’homme. L’objecƟf est
d’analyser comment les peuples autochtones ont été traités par les lois en vigueur au cours de la construcƟon
de la société et de l’Etat brésilien. Ainsi, la recherche a montré que les peuples autochtones ont conquis des
disposiƟfs consƟtuƟonnels importants en leur faveur, surtout dans les dernières décennies du vingƟème siècle.
Mots-clés: ConsƟtuƟon; peuples indigènes; lois.
Resumen: El presente arơculo invesƟgó algunos documentos jurídicos del período colonial, del sistema
imperial hasta el sistema republicano como: Cartas Regias, Decretos, Alvarás, ConsƟtuciones y las principales
declaraciones y convenciones de los organismos internacionales de defensa de los derechos humanos. El
objeƟvo es analizar cómo los pueblos indígenas fueron tratados por las legislaciones vigentes durante el
proceso de construcción de la sociedad y del Estado brasileño. Así, la invesƟgación evidenció que los pueblos
indígenas conquistaron disposiƟvos consƟtucionales importantes a su favor, principalmente en las úlƟmas
décadas del siglo XX.
Palabras clave: ConsƟtución; pueblos indígenas; leyes.

1 INTRODUÇÃO

Ao longo de quase dois séculos de história de independência do país, as ConsƟtuições


brasileiras foram representaƟvas não dos anseios dos diversos segmentos sociais historicamente
excluídos da sociedade nacional (indígenas, negros, mulheres, pobres e outros), mas dos inte-
resses das classes dominantes. A exclusão social e a negação de direitos sociais básicos sempre
foi o tom da elite políƟca vigente, uma vez que o projeto de poder estava pautado numa visão
fundamentalmente discriminatória e de negação dos direitos socioculturais dos povos originários.

1
InsƟtuto Federal Catarinense, Campus Luzerna, Santa Catarina, Brasil.

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Portanto toda a história de enfrentamento entre colonizador e ameríndio tem sido uma tragédia
do ponto de vista sociocultural, econômico e políƟco para as culturas locais.
A visão eurocêntrica presente na condução da vida políƟca, econômica, religiosa e cultu-
ral do Brasil, desde o início da colonização, no século XV, teve, nos sucessivos textos jurídicos
adotados, o seu equivalente etnocêntrico e racial. Isto é, não se contentando apenas com a dis-
seminação da ideologia do eurocentrismo, a sociedade brasileira haveria de ser essencialmente
“branca”, “católica” e ocidentalizada se quisesse dar certo como nação.
Assim, quase todas as consƟtuições nacionais, desde o ano 1891, tratam do processo de
integração e assimilação do “silvícola”, “habitante da selva” à sociedade nacional. Portanto, a
consecução do projeto de homogeneidade racial e cultural como herança colonial foi, sob o
ponto de vista políƟco, indispensável para a construção da nova Nação brasileira que apenas
seria viável caso lograsse aƟngir uma pretensa unidade nacional.
A legislação imposta aos povos indígenas foi, durante muito tempo, assinalada pela visão
conservadora, homogeneizadora e defendeu os interesses dos colonizadores, em detrimento
das populações indígenas que habitavam as terras brasileiras há muitos séculos. Assim, qual era
o lugar do índio dentro da sociedade e no ordenamento jurídico desde a colonização? Em que
medida a evolução das legislações indigenistas respeitavam a questão dos direitos territoriais e
ancestrais dos indígenas?
Em virtude dessas e de outras questões provocadoras, este arƟgo aborda fundamental-
mente a aplicação de algumas leis indigenistas alicerçadas em alguns documentos jurídicos
relevantes no período colonial e, igualmente, analisa alguns aspectos significaƟvos da fase im-
perial e as contribuições recentes da ConsƟtuição Federal de 1988 (CF/88) no tocante à questão
indígena. Além do mais, foram apresentados alguns documentos internacionais importantes
endossados pelo estado brasileiro em relação às populações tradicionais e indígenas. Assim, são
eles a Convenção 169/1989 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), e da Declaração das
Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas (ONU, 2008).

2 POLÍTICA E ASPECTOS DA LEGISLAÇÃO INDIGENISTA NO BRASIL

2.1 Aplicação das leis portuguesas, no Brasil, no período colonial

Antes de tudo, essa história, já contada e recontada, é importante relembrar que Portugal,
país com localização geográfica privilegiada para o Oceano AtlânƟco, funcionava como entre-
posto comercial maríƟmo desde o século XIII e, durante o século XV, transformou-se em grande
centro de pesquisa naval na Europa. Assim, passou a explorar o oceano na busca de expansão
ultramarina, com o fim de ampliar seus lucros por meio da conquista de novos territórios além-
-mar (SOUZA FILHO, 2010).
De acordo com Perrone-Moisés (1992), não exisƟu uma legislação indígena especificamente
brasileira, independente do ordenamento jurídico português. Contudo, na ausência de tal direito
colonial, o Brasil era regido pelas leis da metrópole portuguesa. Conforme a autora:
Não exisƟu um direito colonial brasileiro independente do direito português. O Brasil era
regido basicamente pelas leis que a metrópole (compiladas nas Ordenações Manuelinas e, a
parƟr de 1603, nas Ordenações Filipinas), acrescidas de legislação específica para questões
locais. Na colônia, o principal documento eram os Regimentos dos governadores-gerais.
O rei os assinava, assim como às Cartas Régias, Leis, Alvarás em formas de lei e Provisões

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Régias, auxiliado por corpos consulƟvos dedicados a questões coloniais. O primeiro desses
conselhos foi a Mesa de Consciência e Ordens, criado em 1552. Seguiram-se o Conselho da
Índia (1603) e seu sucessor, o Conselho Ultramarino (1643). Estes emiƟam pareceres que
podiam, e costumavam ser, sancionados pelo rei, passando a ter valor legal. Na colônia, os
governadores-gerais emiƟam Decretos, Alvarás e Bandos, aplicando a legislação emiƟda
pela Coroa. Para o exame de questões específicas que exigiam conhecimentos locais de que
a metrópole não dispunha, o rei ordenava a formação de Juntas (compostas de autoridade
coloniais e religiosas), entre as quais a mais importante era a Junta das Missões, cujas de-
cisões deviam ser-lhe enviadas para apreciação e eventual aprovação. O que mais chama
atenção nos documentos legais relaƟvos à questão indígena é o fato de disposições ema-
nadas diretamente da Coroa referirem-se em muitos casos a questões bastante específicas
e locais tanto quanto os atos administraƟvos coloniais. (PERRONE-MOISÉS, 1992, p. 116-7).

No que tange à questão da legislação colonial lusitana, Perrone-Moisés afirma que ela era
contraditória, oscilante, hipócrita, visto que era pouco discuƟda e consequentemente menos
elaborada do que nas colônias espanholas a exemplo das Leis das Índias.
No tocante a essa contradição, Souza Filho (2010, p. 54) afirma que: “a repeƟção com que
se dá a proibição da escravidão dos índios, e as exceções que as acompanham, revelam a práƟca
constante da ilegalidade”. De fato, os documentos historiográficos mostram a dificuldade que
sempre Ɵveram os portugueses de impor um regime de trabalho às populações locais a ponto
de importar escravos de outras regiões. Conforme Carneiro da Cunha (1992), a escravidão dos
índios foi exƟnta diversas vezes, em parƟcular no século XVII e no século XVIII.
De acordo com Thomas (1982), os primeiros esforços do governador Tomé de Sousa, em
relação à liberdade dos índios durante seu governo, podem ser observados nas seguintes dire-
trizes do Regimento de 1549:
(1) Estabelecer a segurança e a paz da terra, mediante a vitória e a sujeição completa sobre
as tribos índias revoltadas ou inimigas e sobre os seus aliados, os franceses; (2) Intensificar
os esforços para proteção dos indígenas aliados dos portugueses, contra a espoliação e
escravização e, em especial, acelerar a civilização e crisƟanização dos índios, mediante a
fundação sistemáƟca de aldeias; (3) Estabelecer um contato estreito e amistoso com os
jesuítas, como pioneiros da políƟca indigenista real, e sustentar as suas obras com apoio
material. (THOMAS, 1982, p. 74).

A políƟca indigenista adotada era de “proteção” para os aliados e de “guerra aberta” aos
índios arredios ao método de colonização. Entretanto, com base nesse princípio, a escravidão
indígena era permiƟda e jusƟficada nas condições de “guerra justa” contra os grupos revoltosos
até meados do século XIX. As expedições colonizadoras no século XIX, na província do Paraná,
foram fundamentalmente baseadas no princípio da exploração dos territórios “inóspitos” (havia o
discurso por parte das autoridades de vazio demográfico regional) e na políƟca de concentração
de pessoas num único lugar, visto que o autóctone era considerado um ser humano (com capaci-
dade de salvação da alma) pela igreja e haveria de ser aldeado para integrar a sociedade religiosa.
No período colonial, a legislação não garanƟa efeƟvamente os direitos dos povos naƟvos,
aliás, não houve interesse por parte da Coroa lusitana em resguardar o direito à liberdade e à
igualdade de todos os índios, apenas àqueles em comunhão com o rei. É bom dizer que, nos
primeiros séculos da colonização portuguesa, o direito português predominante, sobretudo nas
colônias, era baseado nas Ordenações Manuelinas (1514) e, posteriormente, nas Leis Filipinas
(1603), como já dito anteriormente. Entretanto, não havendo um direito genuinamente portu-

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guês para o indigenato na colônia, o rei procurava fazer adaptações dos pressupostos jurídicos
do direito espanhol, sobretudo do documento Leis das Índias (CARNEIRO DA CUNHA, 1992).
Apenas no século XVII, Portugal editou um documento específico para os povos autóctones
do Brasil. Assim, o Diretório dos Índios, documento formulado no período pombalino, em 1755,
foi o principal documento que tratava de políƟcas para a Região Amazônica, notadamente, para
as províncias do Grão-Pará e Maranhão. Mais tarde, essa legislação indigenista foi pragmáƟca e
se aplicava para todo o território nacional, assim deixando profundas marcas de morƟcínio no
coração das culturas tradicionais originárias.
O Diretório dos Índios, em 1755, não alcançou toda a extensão da Colônia. A políƟca indi-
genista colonial ficou delimitada a uma parte da população autóctone localizada na Região Norte
do Brasil; para os demais, a condição era de omissão e de invisibilidade dos indígenas por parte
da metrópole lusitana. Portanto, não havendo qualquer proteção oficial, a ação políƟca contra os
povos ficava à mercê dos interesses e da ação dos aventureiros que capturavam e escravizavam
naƟvos para colocar à disposição do sistema colonial (CARVALHO E MELLO, 1997).
Como se pode observar, na época, o índio era visto como um “silvícola”, um “habitante da
selva”, “bárbaro”, ele não respeitava as leis da sociedade porque não conhecia a civilização. Tal
condição era moƟvo de reprovação geral por parte dos colonizadores. O pensamento colonial
acreditava na integração do autóctone como um ser totalmente “submisso”, de maneira que
receberia, por meio da éƟca religiosa e do trabalho, os valores da civilização ocidental. Dessa
forma, o processo de adaptação do indígena ao modelo civilizatório levaria, principalmente a
uma falsa integração nacional, já que o naƟvo era visto como um elemento “perigoso”, “arredio”,
“hosƟl” e avesso às formas de poder e disciplina.
O Diretório dos Índios, conhecido como Diretório Pombalino (Lei de 1755), assinado por
Dom José, Rei de Portugal, foi uma políƟca indigenista de Estado com poder de organização social
e pressão políƟca sobre a vida dos ameríndios na Região Norte do Brasil. No que tange à questão
das diretrizes do documento colonial, observa-se que o objeƟvo era aplicar fundamentalmente
uma éƟca disciplinadora e moralizadora do naƟvo por meio da construção dos aldeamentos co-
leƟvos e do trabalho persistente na agricultura como forma de catequizá-los e civilizá-los. Assim,
SebasƟão Joseph de Carvalho Mello, mais conhecido como Marquês de Pombal, afirmava que:
Não podendo negar, que os índios deste Estado se conservaram até agora na mesma bar-
baridade, como se vivessem nos incultos sertões em que nasceram, praƟcando os péssimos
e abomináveis costumes do paganismo, não só privados do verdadeiro conhecimento dos
adoráveis mistérios da nossa sagrada religião, mas até das mesmas conveniências temporais
que só se podem conseguir pelos meios da civilidade, da cultura, e do comércio: E sendo
evidente, que as paternais providências de nosso Augusto Soberano, se dirigem unicamente
a crisƟanizar e civilizar estes infelizes e miseráveis povos, para que saindo da ignorância e
rusƟcidade a que se acham reduzidos possam ser úteis a si, aos moradores e ao Estado.
(CARVALHO MELLO, 1997, p. 1).

O Diretório foi um grande projeto “civilizatório” que procurava exƟnguir o trabalho missio-
nário nos aldeamentos, elevando-se a políƟca de concentração de autóctones em vilas e aldeias,
sobretudo na Região Sul do Brasil. A políƟca colonial baseou-se nesse documento oficial apesar
de ter sido elaborado em 1755, porém, apenas se tornou público em 1757. O texto normaƟvo
expressou importantes aspectos da políƟca indígena do período da história de Portugal e do
Brasil inƟtulado pombalino.

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A legislação do período colonial foi ineficaz do ponto de vista da organização políƟca e ge-
ográfica, já que era aplicada de forma muito localizada e atribuía aos diretores todas as funções
possíveis de arregimentação de naƟvos para os aldeamentos, e estes deveriam produzir riquezas
e pagar tributos com o fruto de seu trabalho à Coroa. No documento inƟtulado Diretório dos
Índios, observa-se a seguinte referência aos naƟvos da região do Grão-Pará e do Maranhão:
Sendo também indubitável, que para a incivilidade, e abaƟmento dos índios, tem concor-
rido muito a indecência, com que se tratam em suas casas, assisƟndo diversas famílias em
uma só, na qual vivem como brutos; faltando àquelas leis da honesƟdade, que se deve à
diversidade dos sexos; do que necessariamente há de resultar maior relaxação nos vícios;
sendo talvez o exercício deles, especialmente o da torpeza, os primeiros elementos com
que os pais de famílias educam a seus filhos: cuidarão muito os diretores em desterrar das
povoações este prejudicialíssimo abuso, persuadindo aos índios que fabriquem as suas casas
a imitação dos brancos; fazendo nelas diversos reparƟmentos, onde vivendo as famílias com
separação, possam guardar, como racionais, as leis da honesƟdade, e polícia. (CARVALHO
MELLO, 1997, p. 3).

O Diretório foi exƟnto por Carta Régia, em 14 de setembro de 1798, ou seja, teve vigência de
43 anos de políƟca opressora sobre os grupos originários. A validade desse documento jurídico-
-políƟco, no período colonial, foi marcada pela ideologia da “guerra justa”, “guerra humanitária”,
“aldeamentos”, “intrusamento”, ideologia de aproximação de transformação dos “silvícolas” em
“índios aliados”, “índios amigos”, sobretudo desencadeada pelo estado colonial contra milhões
de pessoas indefesas e inocentes em várias províncias no Brasil.
Com a exƟnção do Diretório dos Índios, veio a fase de indefinição políƟca no tocante
à questão indigenista por parte do governo português, por isso, foram implantados modelos
emergenciais de acordo com as necessidades locais dos aldeamentos e para os índios não esta-
belecidos em povoações restavam as perseguições e a “guerra justa”. De fato, a políƟca ausente
e ambígua do estado lusitano foi registrada pelos conflitos seguintes em relação às disputas pelas
terras dos naƟvos em muitas regiões do país.
A conƟnuidade da políƟca colonial no trato com a questão dos povos autóctones no Império
era previsível, sobretudo pela caracterísƟca políƟca do Estado Português de tratar desse tema
específico com ambiguidade e prepotência. O fato é que não houve mudança na orientação do
monarca, a não ser mais pressão social sobre os povos indígenas com a introdução de muitos
decretos, alvarás e cartas régias executadas em todas as províncias durante os séculos seguintes
de colonização.

2.2 Enfoques da legislação indigenista no Império

No que diz respeito à exƟnção do Diretório, como já dito, observou-se um vácuo legal
em relação à legislação indígena que perdurou ao longo da primeira metade do século XIX.
Entretanto, por falta de diretrizes que subsƟtuíssem o documento pombalino, este ficou valen-
do oficialmente nas províncias, por desconhecimento de muitos governadores provinciais do
ato de anulação, até que entrasse em vigor o novo documento, inƟtulado de Regulamento das
Missões, em 1845.
Carneiro da Cunha (1992) afirma que o Regulamento das Missões, proclamado em 1845,
é o único documento indigenista geral do Império. Ela ainda lembra que tal documento era
detalhado ao extremo, sendo mais um documento administraƟvo localizado do que um plano

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políƟco geral. A questão era fundamentalmente a conƟnuidade do sistema de aldeamento e a


assimilação completa dos índios.
Assim, cinco anos após a implantação do Regulamento das Missões, surgiu outro texto
jurídico, chamado de Lei das Terras (Lei 601, de 18/09/1850), que reafirmava a conveniência de
se assentarem “hordas selvagens”, termo uƟlizado na época para denominar coleƟvos indígenas.
Logo, esse documento que tratava do regulamento das terras naturalmente:
[…] inaugura uma políƟca agressiva em relação às terras das aldeias: um mês após sua pro-
mulgação, uma decisão do Império manda incorporar aos Próprios Nacionais as terras de
aldeias de índios que vivem dispersos e confundidos na massa da população civilizada. Ou
seja, após ter durante um século favorecido o estabelecimento de estranhos junto ou mesmo
dentro das terras das aldeias, o governo usa o duplo critério da existência de população não
indígena e de uma aparente assimilação para despojar as aldeias de suas terras. (CARNEIRO
DA CUNHA, 1992, p. 145).

Ainda em relação à Lei de Terras, 1850, pode-se observar uma políƟca agressiva no tocante
às terras das aldeias, ou seja, diz-se que um mês após a sua promulgação, uma determinação
do Império estabeleceu uma políƟca de anexação dos territórios indígenas, onde a população
local foi considerada como “misturados”, “intrusados”, “apoderados”, sobretudo dispersos em
meio à população de origem europeia e/ou luso-brasileira. Carneiro da Cunha (1992) adverte
que a políƟca oficial, desde a época do Diretório dos Índios, fixava estranhos nos contornos das
áreas indígenas com o objeƟvo de integrar İsica e socialmente os naƟvos ao resto da população
nacional, sobretudo prevendo incorporar os autóctones à sociedade nacional que estava para
nascer dessas matrizes socioculturais. Além disso, havia, por parte de setores conservadores da
burguesia nascente, a ideia de formação de um Ɵpo ideal de povo brasileiro, principal substrato
de uma nação viável com forte inclinação para os valores da civilização ocidental.
A primeira ConsƟtuição do Império do Brasil, outorgada pelo Imperador D. Pedro I, em 24
de março de 1824, foi omissa sobre o tratamento a ser dispensado à população indígena; apenas
veio a tratar do assunto após a adoção do Ato Adicional de 1834, que, entre as competências
legislaƟvas das Províncias, não passava da tarefa de dispor sobre a “catequese e civilização dos
indígenas”, algo profundamente conservador e autoritário (LACERDA, 2008, p. 13).
De fato, a Carta de 1824, assim como as que a sucederam, não contou com nenhum Ɵpo
de parƟcipação social na sua elaboração, deixando para o futuro a responsabilidade com a
questão indígena. O documento foi preparado pela nobreza togada e imposto pelo Imperador
Dom Pedro I sem que fosse feita qualquer referência aos povos originários, razão maior para
colocar os povos originários numa situação de invisibilidade sociocultural e políƟca em relação
à sociedade nacional.
Souza Filho (2010) afirma que o Estado Brasileiro, oriundo da ConsƟtuição de 1824, não
alterou a postura políƟca de integração do índio à sociedade nacional. Em razão disso, em 1845, o
Imperador Dom Pedro II editou uma lei regulamentando especificamente a relação índios-Estado,
isto é, o Decreto 426, de 24/07/1845, que, segundo o autor, criava uma estrutura administraƟva
para cuidar das questões indígenas, sobretudo com “[…] a designação de funcionários e compe-
tências de proteção e aldeamento dos povos encontrados, o Estado entregava à Igreja grande
parte da responsabilidade de atendimento a estes povos” (SOUZA FILHO, 2010, p. 88).
Ainda no tocante à questão dos atos administraƟvos do imperador, não tardou muito, em
1850, segundo Souza Filho, surgiu a preocupação com as áreas pertencentes aos indígenas. Para

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o autor, a Lei 601, de 18/09/1850, inovou na questão da legislação sobre a ocupação territorial
brasileira, especialmente revogando definiƟvamente o ordenamento jurídico português antes
uƟlizado no Brasil. Tal medida abriu espaço para elaboração de conceitos e termos jurídicos que
servem e se uƟlizam, até hoje em dia, como: “[…] terras devolutas, registro de imóveis e reservas
indígenas.” Ademais, sem abandonar a visão integracionista conservadora do período imperial,
o autor ainda afirma que “[…] a legislação brasileira avançava no senƟdo de garanƟr aos índios
´restantes´ alguns direitos sobre as terras que ocupavam. A práƟca do Estado, porém, conƟnuava
a trabalhar contra” (SOUZA FILHO, 2010, p. 88).
Durhan (1983, p. 14) considera que, mesmo após a independência de Portugal, as elites e
o Estado brasileiro culƟvavam uma imagem negaƟva do naƟvo, consideravam o índio como “[…]
a negação do progresso e do desenvolvimento”, isto é, um sinal de atraso para a Nação. Como
tal, torná-lo invisível e sem leis específicas de proteção o conduziria depressa à categoria de
camponês e de pequeno agricultor. A combinação políƟca desses fatores levaria gradualmente
os autóctones a se integrarem a sociedade nacional.

2.3 A políƟca integracionista do período republicano


A Proclamação da República em nada alterou a realidade dos povos indígenas já integrados
à sociedade nacional. Eles conƟnuaram sendo massacrados, e os seus territórios, devastados
pelo avanço dos valores da civilização industrial. Comenta-se que, na construção da estrada
de ferro Noroeste do Brasil, no Estado de São Paulo, no início do século, quase foi levado ao
extermínio o grupo Kaingang da região, segundo alguns estudos antropológicos. Nessa direção
de análise, Coelho dos Santos (1989, p. 14) afirma que: “A violência foi tal que um relato da
época noƟciava que o diverƟmento dos trabalhadores da estrada [de ferro] aos domingos era
passarinhar índio”.
Mais tarde, com a vinda da ConsƟtuição Republicana de 1891, esperavam-se mudanças na
cultura políƟca nacional, sobretudo na questão das leis indígenas. Entretanto a Carta de 1891 não
avançou nas questões dos direitos das populações originárias a ponto de omiƟr qualquer linha
escrita nos textos consƟtucionais sobre a dívida histórica com os povos naƟvos. Ela reproduziu,
mais uma vez, o conservadorismo das elites dominantes brasileiras herdado do colonialismo
lusitano. Como tal, a ConsƟtuição em vigor não contou com nenhuma parƟcipação popular nas
discussões que levaram à sua elaboração final, moƟvo pelo qual omiƟu mais uma vez a questão
da inserção dos direitos indígenas na ordem nacional. Desse modo, de acordo com Lacerda
(2008), as contribuições sobre,
[…] o tratamento a ser dado aos povos indígenas conƟnuava a sair de restritos círculos das
elites, como a proposta do Apostolado PosiƟvista. Este propunha dividir o status jurídico
dos índios entre “Estados Ocidentais Brasileiros”, compostos por grupos miscigenados, e
“Estados Americanos Brasileiros”, compostos por “hordas feƟchistas”. Mas a primeira Carta
consƟtucional da República, a exemplo da do Império, também sequer mencionou a exis-
tência de indígenas em território brasileiro. (LACERDA, 2008, p. 13).

Como se pode notar, os posiƟvistas Ɵnham uma proposta consƟtucional no senƟdo de


garanƟr os direitos específicos aos povos indígenas, em 1891, porém, foi totalmente contestada
pelos grupos conservadores ligados ao processo de expansão e colonização. Afinal, o programa
nem chegou a ser posto em votação devido à resistência políƟca dos setores dominantes. O
Apostolado PosiƟvista do Brasil defendia um plano que procurava trazer o naƟvo à sociedade

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nacional de maneira gradual, incorporando o indígena ao processo de modernização, o qual


perpassava todos os setores da sociedade brasileira.
No período republicano, prosperaram as ideias de uma sociedade industrial fundamentada
numa matriz racial branca de origem europeia. Passada essa fase inicial da república brasileira,
muito pouco se avançou no que diz respeito às questões sociais e políƟcas referentes aos ín-
dios. O Estado brasileiro prolongava a cultura da indiferença, da “invisibilidade” em relação às
populações étnicas.
Aliado a essa questão da negação dos direitos dos índios na aplicação jurídica, Carneiro
da Cunha (2008, p. 155), analisando a tradição do sistema jurídico brasileiro diz que: “[…]
ConsƟtuições brasileiras, desde 1934, 1937, em 1946, em 1967 e em 1969, todas elas têm um
arƟgo, um ou mais arƟgos até, sobre os Direitos Territoriais Indígenas. As terras ocupadas pelos
índios são de sua posse permanente, é o texto atual do art. 198. São, portanto, direitos históricos”.
Posta a questão, é de se dizer que, entre a ConsƟtuição de 1891 e a Carta de 1934, foram
aproximadamente quarenta e três anos sem tocar na questão dos direitos dos povos indígenas
por parte da República brasileira. Como se não bastasse, o ideal de branqueamento da população
nacional, essencial ao posiƟvismo cienƟficista que tanto marcou os círculos militares republicanos
da época, não admiƟa o reconhecimento de qualquer Ɵpo de diversidade que fizesse quesƟonar
o conceito de unidade nacional então perseguido (LACERDA, 2008).
Depois de quase quatro séculos de colonialismo português, o Estado brasileiro, temendo o
avanço da organização do movimento indígena, buscou atrelar a políƟca indígena ao Serviço de
Proteção ao Índio e Localização de Trabalhadores Nacionais (SPILTN), criado pelo Decreto 8.072,
de 20 junho de 1910, pretendendo novamente enquadrar o indígena na cultura europeia, ago-
ra sob a nova óƟca: índio trabalhador nacional. Em razão disso, aquele órgão foi transformado
posteriormente, em 1918, no Serviço de Proteção ao Índio (SPI), que deu conƟnuidade à políƟca
assimilacionista e integracionista do indígena à sociedade nacional. Assim, conforme alguns
estudiosos, em meio às acusações de corrupção, o órgão foi exƟnto, em 1966, e subsƟtuído
pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Essas organizações nortearam a políƟca indigenista no
século XX numa única direção: integrar o índio à comunidade nacional (COELHO DOS SANTOS,
1989; CARNEIRO DA CUNHA, 1992; SOUZA LIMA, 1992; LACERDA, 2008; SOUZA FILHO, 2010;
RODRIGUES, 2011; SANTOS FILHO, 2012).
Assim, a ConsƟtuição de 1934, conhecida e cortejada como sendo a mais democráƟca
até aquela etapa políƟca, não conseguiu espelhar os interesses amplos da sociedade em seus
diversos setores, sobretudo no tocante aos direitos efeƟvos das populações autóctones. Como
se não bastasse, ela foi elaborada e passou a vigorar sem que houvesse parƟcipação popular na
sua preparação, assim refleƟndo os acordos políƟcos das oligarquias regionais estabelecidas nas
demais regiões do país (CARNEIRO DA CUNHA, 2008).
Não obstante o processo de preparação e composição da carta jurídica, pode-se dizer
que foi na ConsƟtuição de 1934 que surgiu a primeira menção à existência de índios no país
e à questão das terras dos povos originários. A referência acanhada aos povos autóctones, na
Carta de 1934, não trouxe nada de relevante, aliás, reproduziu os velhos esquemas das oligar-
quias dominantes do País. Por isso, o esboço do documento fazia alusão aos indígenas como
indivíduos portadores de idenƟdades próprias a serem respeitadas, antes, porém, deveriam
ser submeƟdos a uma condição passageira de “silvícola”, “habitante da selva”, que haveriam
de ser conduzidos pelas mãos do Estado ao seio da “comunhão nacional”, logo, ao espectro

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Aspectos das polí cas indigenistas no Brasil 619

da civilização. Em virtude disso, a ConsƟtuição Federal de 1934 difundia visivelmente a políƟca


integracionista no:
Art. 5.º: Compete privaƟvamente à União:
[…]
XIX – Legislar sobre:
m) Incorporação dos silvícolas à comunhão nacional.

A políƟca integracionista era algo irreversível e admiƟdo por todos os setores como uma
condição para se aƟngir um projeto políƟco de construção de Estado-nação. Para completar tal
promessa, restava apenas incorporar os autóctones à sociedade nacional, algo que o Apostolado
PosiƟvista já propagava antes mesmo da ConsƟtuição de 1891. Com a mudança dos processos
políƟcos no Brasil e no mundo ocidental, o fascismo se propagou nacionalmente, e a ConsƟtuição
de 1934 logo foi revogada e subsƟtuída pelo documento autoritário de 1937. Este, de natureza
políƟca repressiva, chegou a flertar com o nazi-fascismo, razão pela qual nem tocava no assunto
dos direitos dos índios.
Assim, a políƟca indigenista brasileira oscilava constantemente, porém, mais uma vez,
manifestava contradição e hipocrisia, resultado do modelo colonial português de flutuações
jurídicas no tocante à questão nacional dos grupos étnicos. Por isso, mesmo o único arƟgo que
se referia aos povos ameríndios foi ignorado devido aos rumos políƟcos que o país adotava em
relação à nação. Lacerda (2008, p. 14) assinala que:
À época o mundo estava à beira da II Grande Guerra. Setores influentes do Estado Novo não
conseguiam esconder uma forte simpaƟa pelos senƟmentos de intolerância que marcavam
o nazismo na Alemanha e o fascismo na Itália. Em relação à questão indígena, embora
conƟvesse um disposiƟvo prevendo o tratamento a ser dispensando às terras indígenas, a
[consƟtuição] de 1937 omiƟu-se quanto ao lugar dos povos indígenas na sua relação com
o Estado brasileiro e sua sociedade. Com tal omissão, não previu a incorporação dos índios
à comunhão nacional, mas também não cuidou do reconhecimento de suas idenƟdades
próprias.

Como se pode observar, passado o período ditatorial de Getúlio Vargas, veio a ConsƟtuição
de 1946, com um texto considerado avançado, entretanto, em sua origem, não espelhava a
parƟcipação da sociedade civil, sobretudo das camadas populares e das minorias étnicas. No
que se refere à questão dos direitos dos autóctones, cuja parƟcipação sempre fora excluída dos
regimentos, declarações e escritos jurídicos anteriores, a Carta de 1946 seguiu a mesma regra
dos diplomas precedentes. Esta apenas reproduziu o arƟgo do texto consƟtucional de 1934,
que pregava a legislação sobre a incorporação dos “silvícolas” à comunhão nacional. Convém
notar, outrossim, que a tese da assimilação e integração dos originários à sociedade branca con-
Ɵnuava circulando nos meios jurídico-políƟcos como uma tendência aceitável e culturalmente
unidirecional.
De acordo com Carneiro da Cunha (2008), a proposta integracionista adotada pela
ConsƟtuição de 1967 sintonizava com a perspecƟva integracionista predominante no plano in-
ternacional no que tange aos povos autóctones. Ou seja, ela flertava com a tendência mundial
de buscar os valores e os costumes da civilização europeia para impulsionar o desenvolvimento
e progresso à custa do padecimento dos grupos étnicos. Nesse senƟdo, a Emenda ConsƟtucional
n. 1 de 1969 novamente corroborava com as prerrogaƟvas assimilacionistas dos documentos
jurídicos oficiais de 1934 e 1946.

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620 Antonio Cavalcante Almeida

A nova ConsƟtuição, publicada oficialmente em 24 de fevereiro de 1967, sintonizou, então,


com a perspecƟva também integracionista predominante no plano internacional em relação
aos povos indígenas. Conforme Santos Filho (2012), na vigência desse documento, foi editada
a Lei 5.371, de 05 de dezembro de 1967, que tratou da exƟnção do SPI (Serviço de Proteção
ao Índio), totalmente desgastado do ponto de vista políƟco-administraƟvo pela inoperância em
relação à questão dos povos originários. Em razão da exƟnção do SPI, o governo concebeu outro
órgão federal que tratasse da questão indígena nos moldes disciplinadores da anƟga enƟdade
rondoniana. Assim, com base no argumento de proteção à vida do autóctone, foi apresentada a
Funai, órgão do governo brasileiro, que tem por fim até hoje: “[…] Aplicar a políƟca em prol do
índio no território nacional; zelar pelo patrimônio indígena; fomentar estudos sobre populações
indígenas que vivem em território brasileiro e garanƟr sua proteção; demarcar e proteger as
terras tradicionalmente ocupadas pelos índio” (SOUZA FILHO, 2010, p. 43). Vale ressaltar que
a realidade brasileira estava mergulhada no autoritarismo políƟco, de sorte que haveria pouco
espaço para as culturas locais se não se aceitassem as imposições do progresso econômico im-
posto pelo modelo de desenvolvimento rumo ao interior do Brasil.
Pouco tempo depois, em consonância com a Emenda ConsƟtucional n. 1/69, a Lei n.
6.001, de 19 de dezembro de 1973, criava o “Estatuto do Índio”, cujo propósito era cuidar e
tutelar o indígena sob o comando direƟvo da insƟtuição Funai. Com base nesse regulamento
jurídico, a enƟdade federal de assistência ao índio veio atuar sobre os povos autóctones do
País. O Estatuto do Índio é um marco jurídico disciplinador dos povos originários no que diz
respeito à vida dos índios nos territórios tradicionais (COELHO DOS SANTOS, 1989; CARNEIRO
DA CUNHA, 1992; SOUZA LIMA, 1992; SOUZA FILHO, 2010; RODRIGUES, 2011; SANTOS FILHO,
2012).
É bem verdade que, historicamente, não houve nenhum instrumento tão regulador, com
igual poder de força, que cuidasse da assistência e “proteção” dos indígenas de maneira tão uni-
forme no Brasil. Sabe-se que nem mesmo o famigerado e contraditório Diretório dos Índios foi
tão poderoso a ponto de alcançar quase todas as regiões em 1755, assim como o Regulamento
das Missões, em 1845. Convém notar que esses dois instrumentos disciplinadores, introduzidos
ainda sob o domínio português, foram excessivamente oscilatórios e segmentados, uma vez que
o impacto não tocava, muitas vezes, todas as regiões.
De acordo com Souza Filho (2004, p. 77),
O exemplo mais claro da dificuldade de serem regulamentados os direitos coleƟvos estabe-
lecidos na ConsƟtuição é a história da lei geral sobre os povos indígenas no Brasil. O anƟgo
Estatuto do Índio, de 1973, ainda em vigor, tem um níƟdo corte individualista, integracionista
e juridicamente civilista, por isso mesmo atribui às insƟtuições jurídicas de proteção um ca-
ráter provisório, isto é, até que os índios individualmente passem à categoria de integrados
à comunhão nacional, como cidadãos sem qualquer outra qualificação ou diferenciação
étnica, isto é, deixem de ser índios.

Assim, para Durhan (1983, p. 14), a legislação protetora deve ser interpretada:
No caso dos índios, […] como um recurso retórico indispensável para legiƟmar o caráter
nacional do Estado integrando o índio como súdito sob a ficção da proteção tutelar. A contradição
que isso cria em relação aos interesses econômicos efeƟvamente representados no Estado tem
sido resolvida, na práƟca, através do subterfúgio de reconhecer direitos formais e permiƟr seu
desrespeito sistemáƟco; ideologicamente, através da elaboração de uma teoria de crisƟanização,

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Aspectos das polí cas indigenistas no Brasil 621

civilização ou integração que, defendendo a preservação İsica dos índios, jusƟfica sua destruição,
enquanto sociedade e enquanto cultura, em nome do progresso.
No que tange à repressão por parte do Estado em relação aos movimentos sociais e
políƟcos no Brasil, durante os anos de 1970, ela não impossibilitou que o movimento indígena
buscasse a organização e a arƟculação com outros setores da sociedade não-indígena apesar de
as lideranças estarem sob constante vigilância e disciplinamento políƟco.

3 O PROTAGONISMO INDÍGENA

Neves (2004) afirma que, nos anos de 1970, o movimento indígena estava no período
das grandes assembleias indígenas, isto é, nas descobertas mútuas e trocas de experiências e
informações sobre os contextos interétnicos enfrentados por cada povo. Era a época em que
os grupos indígenas passavam a se conhecer poliƟcamente melhor dentro do contexto socio-
cultural brasileiro, porque sofriam, até então, com o isolamento social e políƟco imposto pelo
estado nacional.
Como se pode notar, Neves (2004) destaca o florescimento da organização indígena nos
anos de 1970, com muita troca de informações importantes no que tange à organização social e
à realidade enfrentada por cada povo em seus diferentes contextos étnicos. O primeiro momento
pautou-se pelo conhecimento e permutas de práƟcas organizaƟvas, moƟvo pelo qual levou o
autor afirmar que: “[…] É nesta fase que a troca de experiência e problemas vividos dá origem a
um senso de solidariedade indígena [unidade] nunca antes vivenciado, consƟtuindo um espírito
de corporação, que é a marca desta fase e que passou a ser a base de todas as mobilizações
indígenas” (NEVES, 2004, p. 89).
Ortolan-Matos (2006), referindo-se àquele momento, inƟtulou-o de configuração “pan-
-indígena” ou “supraétnica” porque havia o entendimento de que a causa indígena era uniforme
e ampla de sorte que aƟngiria todos os grupos igualmente, porém, mais tarde, essa concepção
foi revista, e o termo foi modificado. Para ela, foi uma ocasião importanơssima que consisƟu na
organização dos grupos indígenas a parƟr de uma idenƟdade chamada supraétnica. Por isso,
a parƟcipação dos índios foi acontecendo via assembleias organizadas, sobretudo por agentes
externos como enƟdades de defesa dos direitos indígenas e organizações religiosas. O Conselho
Indigenista Missionário (Cimi) teve um papel fundamental no processo de arƟculação dos dife-
rentes povos em todo território nacional. É importante salientar que a atuação e a parceria dessa
insƟtuição evangelizadora foram importanơssimas na organização e conscienƟzação políƟca das
lideranças indígenas nos diferentes territórios. Além disso, o processo de trocas de experiên-
cias resultou, num primeiro plano, na arƟculação do movimento e, num segundo momento, na
criação, em 1980, da União das Nações Indígenas (UNI), organização de defesa dos direitos dos
povos originários de expressão nacional.
No tocante às assembleias interétnicas, ficou evidente a necessidade de uma arƟculação
permanente e de caráter nacional. De fato, os índios sozinhos eram fracos; mas, juntos, os indí-
genas seriam fortes e poderiam ser ouvidos pelas autoridades governamentais, já que viviam sob
o regime de tutela por parte da enƟdade indigenista Funai. Se o índio, para sair de seu espaço a
fim de tratar de qualquer assunto pessoal na cidade, deveria ter autorização prévia do chefe do
posto da Funai, imagine-se se a jusƟficaƟva fosse para parƟcipar de eventos de natureza políƟca
organizacional do movimento indígena. De qualquer maneira, os relatos sobre perseguições e

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622 Antonio Cavalcante Almeida

prisões arbitrárias de lideranças são inúmeros, apesar de as ameaças e inƟmidações não desen-
corajarem as expectaƟvas de muitos defensores indígenas, a exemplo do líder indígena Marçal
Guarani e do ex-cacique Kaingang Ângelo Cretã, entre outros (PREZIA, 2006; HELM, 1982).
Convém notar que o panorama dos anos 1980 na políƟca do Brasil era marcado por inú-
meras mobilizações que exigia o fim da ditadura e a volta ao Estado democráƟco de Direito. As
manifestações e as lutas políƟcas pela redemocraƟzação desencadearam profundas mudanças
no contexto nacional; estenderam-se ao movimento indígena, resultando alterações na corre-
lação de forças entre os atores sociais envolvidos no trato da questão indígena, sobretudo na
preparação e organização dos povos indígenas na pré-consƟtuinte.
Ainda em relação aos anos de 1980, Neves (2004) afirma que o movimento indígena
transformou-se e/ou deslocou-se da concepção antes defendida de pan-indigenismo (genera-
lização) para o de atomização das lutas em diversos segmentos (Ongs, associações, enƟdades
de defesas dos direitos humanos). O autor assinala que essa fase de atomização experienciou a
mulƟplicação das organizações e a afirmação das alianças estratégicas diferentemente do que
vinha acontecendo no contexto laƟno-americano.
Dessa maneira, a fase dos anos de 1980 foi de grande importância para a afirmação da
causa indígena, visto que as mobilizações étnicas possibilitaram que as próprias lideranças se
fizessem representar por si próprias em questões políƟcas e jurídicas perante o Estado e à so-
ciedade brasileira. É um passo importante para os líderes atuarem efeƟvamente na elaboração
do desejado Capítulo VIII, “Dos Índios”, da CF/88, em que trata de dois ArƟgos importanơssimos
para os coleƟvos indígenas, por exemplo, no ArƟgo 231. “São reconhecidos os índios sua orga-
nização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre suas terras
que tradicionalmente ocupam, compeƟndo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar os
seus bens” (CF, 1988, 143).
Ademais, no ArƟgo 232 da CF (1988, p. 144) afirma que: “Os índios, suas comunidades e
organizações são partes legíƟmas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses,
intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo”.
Até então, tratados pela legislação como “relaƟvamente incapazes” e subordinados à tutela
do Estado, aos povos indígenas era reservado o conformismo e a alienação, sendo representa-
dos por órgãos públicos através de porta-vozes de seus anseios e reivindicações. As enƟdades
indigenistas eram normalmente os legíƟmos intermediários dos autóctones nas esferas públicas.
Como se não bastasse, o Estado não abdicava da questão da assimilação e integração, devido
a isso e às organizações sociais de base, surgiram os porta-vozes dos movimentos indígenas que
falavam em causa própria, contrariando o poder de tutela que sempre foi assegurado ao Estado
brasileiro. Antes da ConsƟtuição Federal de 1988, o movimento indígena sobrevivia a parƟr de
uma “ilegalidade tácita”; após 1988, com a promulgação da nova Carta Magna, as organizações
indígenas adquirem status de organizações sociais, legalmente aceitas e legíƟmas representantes
dos povos originários. Então, pela primeira vez, no Brasil, os índios podem exercer sua voz aƟva
e defender eles mesmos os seus interesses (NEVES, 2004).
Ademais, pela primeira vez na história do país, os povos autóctones são construtores dos
processos e estão organizados como grupo de pressão social e políƟca na pré-consƟtuinte de
1987/88. Nesse período, foi criado uma subcomissão especial com a parƟcipação apenas de
representantes das nações para ler e sugerir modificações no texto consƟtucional. Vale ressaltar
a conquista (barganha políƟca) dos inúmeros grupos parƟcipantes, ou seja, não aceitaram ser

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Aspectos das polí cas indigenistas no Brasil 623

representados por parƟdos políƟcos nem por intermediários nas subcomissões que tratavam
dos assuntos relacionados aos seus direitos políƟcos e sociais.

3.1 A conquista dos direitos e a adoção de acordos internacionais

A ConsƟtuição Federal2 de 1988 tem sido um grande referencial na luta indígena, pois nela
estão as diretrizes principais para a implementação da políƟca indigenista brasileira. Pode-se
observar, no Capítulo VIII - “Dos Índios”, conquistas importantes a saber: primeiro, o direito de
permanecer indígena, culƟvar sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições;
segundo, a possibilidade dos grupos serem parte legíƟma na defesa de seus direitos. Isto é, as
comunidades podem ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o
Ministério Público em todos os atos do processo.
Esses dois disposiƟvos consƟtucionais vêm romper com a lógica integracionista e de tu-
tela indígena ao longo dos quinhentos anos de dominação. Ou seja, os povos indígenas podem
parƟcipar, discuƟr e organizar-se poliƟcamente sem precisar pedir autorização ao Estado. Além
disso, é importante destacar que a políƟca indigenista, sob hipótese alguma, constrangerá o índio
a deixar a sua tradição e cultura para integrar-se ao Estado-nação como no passado.
Aliado a essa visão jurídica acerca da garanƟa e proteção da integridade do sistema cul-
tural dos povos indígenas, Souza Filho (2010, p. 104) assinala que essa concepção normaƟva
é nova, importante e juridicamente revolucionária, porque vem romper com a repeƟda visão
integracionista de toda a história políƟca de extermínio do indígena no Brasil. Dessa maneira,
como bem assinala o autor, a parƟr de 5 de outubro de 1988 é que: “[…] o índio, no Brasil, tem
o direito de ser índio”.
De acordo com Santos Filho (2012, p. 45), a ConsƟtuição de 1988 reconhece o índio como
‘diferente’, sem que essa diferença possa ser confundida com ‘incapacidade’; reconhece a ‘capa-
cidade’ do índio para ingressar em juízo na defesa de seus direitos, sem depender da “interme-
diação – alterou substancialmente a natureza do regime tutelar indígena: primeiro, esse regime
passou a ter natureza ‘proteƟva’; segundo, passou a ter estatura consƟtucional.” Portanto, para
o autor, a proteção ‘consƟtucional’ impede ataques pela via do processo legislaƟvo ordinário.
O avanço do debate sobre os marcos regulatórios dos direito indígenas na CF/88 abriu
espaço para a políƟca de adoção de alguns documentos internacionais; é o caso da Convenção
nº 169 da Organização Mundial do Trabalho (OIT), sobre Povos Indígenas e Tribais, adotada em
Genebra, em 27 de junho de 1989, considerando que o governo brasileiro depositou o instrumento
de raƟficação junto ao Diretor ExecuƟvo da OIT em 25 de julho de 2002. Além desse documento
regulatório e de importância ímpar para os povos autóctones, o Brasil adotou e raƟficou, em
2008, outro texto importante das Nações Unidas (ONU), a Declaração das Nações Unidas sobre
os Direitos dos Povos Indígenas.
Os dois documentos supracitados trataram da questão dos povos originários e tradicionais
de maneira respeitosa e denunciaram que quaisquer doutrinas, políƟcas e práƟcas baseadas na
superioridade de determinados povos e/ou indivíduos, ou que a defendam alegando razões de
origem nacional ou diferenças raciais, religiosas, étnicas ou culturais, são racistas, cienƟficamente
falsas, juridamente inválidas, moralmente condenáveis e socialmente injustas (CONVENÇÃO 169/
OIT, 2011; DECLARAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2008).
2
Foi promulgada a oitava ConsƟtuição do Brasil, chamada ConsƟtuição Cidadã, no dia 5 de outubro de 1988.

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624 Antonio Cavalcante Almeida

Interessante notar que no texto da Declaração das Nações Unidas, aprovada pela ONU,
em 2007, fica explícito, nos primeiros arƟgos, a possibilidade dos povos originários viverem
conforme suas tradições e costumes ancestrais, além do mais, eles são autônomos para reforçar
suas próprias insƟtuições sociais e políƟcas de acordo com seus desejos. Assim, a Declaração
estabelece no:
ArƟgo III – Os povos indígenas têm direito à autodeterminação. Em virtude desse direito
determinam livremente sua condição políƟca e buscam livremente seu desenvolvimento
econômico.
ArƟgo IV – Os povos indígenas, no exercício de seu direito à autodeterminação, têm direito
a autonomia ou ao autogoverno nas questões relacionadas a seus assuntos internos e locais,
assim como a disporem dos meios para financiar suas funções autônomas.
ArƟgo V – Os povos indígenas têm o direito de conservar e reforçar suas próprias insƟtuições
políƟcas, jurídicas, econômicas, sociais e culturais, mantendo ao mesmo tempo seu direito
de parƟcipar plenamente, caso o desejem, da vida políƟca, econômica, social e cultural do
Estado.
ArƟgo X – Os povos não serão removidos à força de suas terras ou territórios. Nenhum
translado se realizará sem o consenƟmento livre, prévio e informado dos povos indígenas
interessados e sem um acordo prévio sobre uma indenização justa e equitaƟva e, sempre
que possível, com a opção do regresso. (ONU, 2008, p. 7-9)

É de se observar que as diretrizes desses documentos são instrumentos importanơssimos


atualmente nos discursos dos líderes indígenas, pois muitos deles são sabedores e parƟcipantes
da elaboração desses instrumentos. O arƟgo X traz um disposiƟvo relevante que é a consulta
livre, prévia e informada que se torna arma importante uƟlizada pelo movimento indígena para
se contrapor a invasão de seus territórios, para explorar minérios, implementação da agricultura
e do agronegócio, construções de barragens e de usinas hidrelétricas em suas terras tradicionais.
De fato, apenas a parƟr da CF/88, podemos visualizar uma discussão jurídica em torno
dos direitos das populações indígenas e tradicionais consagrados, sobretudo pelas pressões do
movimento indígena que já atuavam há décadas no senƟdo da construção e afirmação dos seus
direitos na nova ConsƟtuição. A organização da sociedade civil foi fundamental para o acesso
a espaços dentro da pré-consƟtuinte, no senƟdo de colocar os temas históricos na agenda de
discussão e, posteriormente, nos eventos internacionais.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os diversos documentos apenas refleƟam o pensamento do colonizador a respeito dos


povos originários, assim, as leis portuguesas se estendiam para a colônia brasileira, ou seja, as
mesmas determinações jurídicas se aplicavam aqui sem pensar na realidade local. Ademais, ou-
tros instrumentos importantes como Cartas Régias, Alvarás, Decretos e Estatutos foram aplicados
implacavelmente aos povos autóctones.
Durante o processo de construção da sociedade e do Estado nacional, os povos indígenas
foram totalmente excluídos das principais legislações e documentos jurídicos brasileiros. Assim,
os naƟvos considerados silvícolas deveriam ser catequizados, disciplinados e incorporados pau-
laƟnamente à civilização nacional.
No tocante à questão da legislação indigenista, ainda é preciso lembrar que o discurso do
Estado brasileiro é de incorporação dos povos naƟvos à sociedade nacional. Ademais, mesmo
interditado pela CF/1988, ainda conƟnua desrespeitando as conquistas jurídico-políƟco das po-

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Aspectos das polí cas indigenistas no Brasil 625

pulações naƟvas a ponto de não respeitar os próprios documentos dos quais é signatário, por
exemplo, Convenção 169/OIT e a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos
Indígenas da ONU.
Além disso, não diferentemente do passado colonial em que a legislação era oscilatória,
contraditória, hoje o Estado conƟnua agindo de maneira indiferente para com as demandas in-
dígenas, sobretudo em relação à demarcação de suas terras. E ainda mais, não vem respeitando
os acordos e as deliberações nacionais e internacionais como o direito à consulta livre, prévia e
informada e o direito à autodeterminação dos povos indígenas.

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Sobre o autor:
Antonio Cavalcante Almeida: Doutor em Ciências Sociais pela PonƟİcia Universidade Católica de
São Paulo (PUC-SP). Mestre em Sociologia PolíƟca pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professor de
Sociologia do Ensino Médio Técnico em Automação Industrial, InsƟtuto Federal Catarinense. E-mail:
antoniocavalcant@hotmail.com

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