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MÁTllESIS 5 1996 247·264
INTRODUÇÃO
'Este estudo tem por base o trabalho de síntese elaborado no âmbito da História
da Língua Portuguesa para as Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica,
subordinado ao tema "Foral e Foros da Guarda. Edição e estudo linguístico do
manuscrito português", apresentado à Universidade Católica Portuguesa, em Julho de
1992. O trabalho foi realizado sob a orientação do Prof. Azevedo Ferreira cuja memória
me é extremamente grata.
1 ensembra]: Juntamente.
2 pobradores]: Moradores.
3 27] e não a 26, como vários documentos referem (Veja-se, a título de exemplo,
António Carvalho da Costa na sua Corografia Portugueza, p. 332). É curioso que o
próprio feriado municipal da Guarda, que comemora a concessão do Foral por D.
Sancho I, é a 26 de Novembro. No entanto, no fólio 42 v Is. 17-18 do manuscrito
diz-se: "Feyta foy esta carta en Coinbra .v". dias ante as calendas de dezembro. É esta
a data que consta também nas duas versões do ms. latino (Forais Antigos, maço 12, nOs.
3 e 4).
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Ferreira tendo publicado a versão portuguesa designada por Tempos dos Preitos da
"Summa de los Nueve tiempos de los pleitos" (foI. 67v a 7Or), e a versão portuguesa do
Fuero Real (foI. 70v a 150r). Sobre estas e outras publicações pode consultar-se
Ferreira, J .A., (1987), Afonso X: "Foro Real". Vol. I, Edição e Estudo Linguístico, pp.
17-19 (notas 19 a 27).
5 M. Caetano (1985), História do Direito Português, p. 235.
FORAL DA GUARDA: CARACTERIZAÇÃO DO DOCUMENTO 249
LXXVI.
S A. Herculano (1981), História de Portugal, p. 96.
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mais pobres. Os cavaleiros vilãos, mais ricos, possuiam cavalo, apto para a guerra, e
armas, de modo a prestarem serviço, por convocação do rei ou seu delegado durante
FORAL DA GUARDA: CARACfERIZAÇÃO DO DOCUMENTO 251
CARACTERIZAÇÃO DO DOCUMENTO
certo periodo do ano. Por vezes eram equiparados aos infanções ou nobres de mais baixo
grau.
13 Op. cito p. 223.
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Procurarei de seguida dar conta dos dados que recolhi a partir da leitura
e da observação de algumas marcas que me parecem particularmente
informativas para a caracterização do Foral da Guarda conforme explicitei
de a) a i) 14.
Para melhor esclarecer alguns aspectos do Foral que é objecto deste
estudo, utilizarei também exemplos colhidos dos Foros sempre que achar
conveniente para melhor realçar as características daquele.
[4 Nas transcrições que apresentar neste trabalho serei o mais possível fiel ao
poderes para, em nome do monarca, proceder à cobrança das taxas dos impostos e
administrar a justiça.
17 Marcello Caetano Copo cit. p. 234) refere que "é frequente o monarca, no texto
outorgamos a uósque non dedes ... senõ CCC soldos... e destes ... dedes
<a> Vir ao paaço (41r, 7-9);
La terça parte de uosso concellofaçafossado1 9 e as outras duas partes
sten en uossa cidade (41r, 11-12);
E nõ façades fossado senõ com uosso senor ... se nõ for per uosso
plazer (41r, 14-15);
se alguu antre uós (41r,19-20);
per foro de uossa cidade (41r, 27);
Damos a uós por foro (41v, 2);
en cõçello uosso (41v, 13-14);
omees de uossos termyos que seuere en uossas herdades ou en uossos
solares (41v, 26-27);
Damos a uós ainda porforo que nõ ayades outro senhor senõ nós, reys,
e nossos filhos (42r, 20-21);
outorgamos a uós que nõ aiades deuesa (42v, 7);
Todas estas entenções iu[lJge os alcaydes de uossa uilha per sua carta
(42v, 14-15).
4. Nem sempre o Foral faz referência aos limites do concelho e isso tem
causado sérios embaraços aos historiadores e a outros estudiosos que
sentem dificuldades quanto às demarcações de certas áreas territoriais. No
Foral da Guarda os limites do concelho são estabelecidos:
Estes son os termeos os quaes Rey don Sancho outorgou à cidade da
Guarda. (42v, 23-28 a 43r, 1_9).20
18 Estas são as únicas formas de 2" pessoa do plural documentadas no Foral (nos
Foros não ocorre qualquer forma verbal de 2a pessoa do plural), e, para a história da
língua portuguesa é interessante verificar que o "d" da terminação se mantém em todas
elas.
19 fossado]: Guerra ofensiva.
20 No trabalho que referi em nota no início deste estudo apresento um mapa do terri-
tório que, com ligeiras rectificações, terá constituído o concelho da Guarda medieval.
Não foi fácil a determinação dos limites. Topónimos desaparecidos e a omissão
dos "termeos" em forais de concelhos limítrofes foram algumas das dificuldades com
que me vi confrontada. Felizmente pude contar com algumas pistas fornecidas pelo
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Prof. João I. Vaz e, principalment pelo Eng. J. Patrício Curado que constituiram uma
ajuda preciosa.
21 Marcello Caetano, pp. 237-238.
alcaIdes e ainda noutros o nome genérico de juízes. [... ] A par destes juízes municipais
funcionava um magistrado, o alcaide, que representava o poder do rei e, além das
atribuições jurisdicionais, tinha outras administrativas e militares ... "
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Hos alcaides iuflJgue o que iaz na carta e aquelho que nõ iaz na carta
iu[IJgue dereyto a seu saber. (53v, 19-20).
Quen mouro ou moura achar conforto dê-o a iusti[çJar aos alcaides.
(54r, 9-10).
Não explorarei mais este aspecto uma vez que é o Foral e não os Foros
o objecto do estudo de momento.
25 preguado]: Reunido.
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27 jugada]: Era um direito real que os reis ordenaram lhes fosse pago nas terras que
reservaram para si quando deram os forais a essas terras e consistia em trigo, milho, linho
e vinho. Segundo o Dicionário de Hist6ria de Portugal, "Estava este tributo relacionado
com o jugo ou o singel de bois com que o lavrador agricultava a terra e, regra geral, a
quantia a pagar era um moio (medida) de cereais [... ] por cada junta de bois com que
lavrasse. [...] De vinho e de linho pagar-se-ia o oitavo, excepto nas terras onde o foral
determinasse de modo diferente."
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Quanto aos direitos, é fácil constatar que o Foral é pródigo nas regalias
que concede aos seus munícipes. Vejamos alguns desses direitos que
poderemos considerar colectivos:
Era direito dos moradores da Guarda terem como seu único senhor o
rei:Damos a uós ainda porforo que nõ ayades outro senhor senõ nós, reys,
e nossos filhos, e quê' o concelho quiser (42r, 20-21).
Note-se, porém, que a palavra "senhor" podia ser utilizada
com vários sentidos. A propósito desta disposição do Foral, A. Hercu-
lano esclarece33 : "O privilégio de não ter senhor, sénior (dominus),
ofensiva.
29 fossadura]: Multa aplicada aos indivíduos que não cumpriram a sua obrigação
de acudir ao fossado.
30 apressadura]: Coima.
no fornecimento de víveres para a mesa do rei e seu séquito quando aquele passava pelas
povoações.
32 Veja-se J. Mattoso (1993), n Vol. , p. 240.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS