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Secretaria editorial
Martha Assis de Almeida
Chefe-de-arte
Mariza Ana Corazza
Produção gráfica
Paulo Sérgio Pires
Colaboradores
José Antonino de Andrade (copydesk)
Maria Aparecida Amaral (revisão)
J. S. Produções (revisão)
Natal B. Pepe (produção gráfica)
Ilustração da capa: Multidão, 1968, tinta acrílica sobre tela, de Claudio Tozzi.
CDD-378.81612
-303.48409816Ú
-320.98108
88-1223 -981.611 ~
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do qual o curso de filosofia escapava parcialmente, como vere-
mos, graças ao jeito pessoal de João Cruz Costa e à diversidade
-estilística de seu reduzido corpo docente (uma espécie de neotec-
nicismo faria carreira, mais tarde, no departamento, com os jo-
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IV
descontinuidade.
A melhor maneira, ao meu alcance, de evocar o seu perfil, e
o impacto que exerceu sobre seus alunos, será talvez reproduzir
duas páginas de um texto que escrevi para a revista Discurso
(n. o 6), por ocasião do falecimento de Lívio Teixeira. É o primeiro
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a considerar a abordagem Utecnológica" dos sistemas filosóficos
como uma forma de renúncia à filosofia - e a tarefa da crítica
não é justamente a de mostrar a falácia desse projeto?
lIO bom leitor não se equivoca e descobre já nas análises
propriamente técnicas das obras de Descartes e de Spinoza algo
que transcende imediatamente a pura tecnologia. O fascínio pelo
grande racionalismo não é aqui o efeito de uma simples opção
intelectualista. Arrisquemos uma fórmula - o que interessa a
Lívio Teixeira é aquele momento, tensão máxima, em que o ra-
cionalismo toca seu próprio limite, ou desmente sua imagem
corrente. O limite da razão não aparece como álibi de uma reve-
lação qualquer e a preocupação moral nada tem de moralismo
de qualquer modo, o que se busca são os signos do concreto
(no caso de Descartes, para além do rigor da metafísica da dis-
tinção entre as substâncias, o reconhecimento do fato da união
substancial e da promiscuidade entre o corpo e a alma) ou do
investimento histórico da razão (no caso de Spinoza, a vertente
política da reflexão metafísico-moral). A busca do sentido da
beatitude nas obras de Descartes e de Spinoza é particularmente
significativa sob a pena de antigo pastor. Quer na sua versão
estóica, quer na sua versão epicúrea, é a idéia de contentamento
que dá conteúdo à idéia de beatitude, depurada enfim de seu
horizonte místico ou teológico. Comparemos as últimas linhas
das duas teses. Uma termina por um texto do escólio final da
Ética, onde Spinoza diz: lO ignorante, além de ser de muitos
modos agitado pelas causas exteriores e de não possuir nunca o
verdadeiro contentamento interior, vive em quase completa in-
consciência de si mesmo, de Deus e das coisas, e cessando de
sofrer, cessa também de existir. O sábio, ao contrário, não co-
nhece perturbação interior, mas tendo consciência de si mesmo,
de Deus e das coisas, por uma certa necessidade intern~ não
cessa jamais de existir e de possuir o verdadeiro contentam'ento'.
A outra termina por uma fórmula breve que define o telos da
reflexão moral cartesiana: ~ vimos que o exercício da virtude
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Com Gilda de Mello e Souza, éramos expostos à influência
de outro modelo de reflexão. Diria, comprovando mais uma vez
minha tese, que era de um ensino diferente que nos beneficiá-
vamos. Nem faltou equívoco de minha parte, que me sentia final-
mente à l' aise, e acabei sendo restituído à disciplina da escola
com uma nota baixa em Estética. 'Íl
(*) Escrito em 1975, meu texto refere-se aqui, no estilo oblíquo da época, à firme
resistência oposta por Lívio Teixeira; como por João Cruz Costà, às pressões
que a Ditadura exerceu sobre a universidade depois do golpe de 1.0 de abril
de 1964.
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O período de 1956 a 1959, em que fui aluno na Maria Antônia,
correspondeu a uma espécie de intermezzo na história do curso
de Filosofia. Quando entrei na faculdade, Claude Lefort acabara
de retornar à França e só teríamos a volta dos professores fran-
ceses em 1960 (com a vinda de Michel Debrun e Gérard Lebrun).
Durante todo esse período, tivemos apenas algumas visitas de
Gilles-Gaston Grangér. Na realidade, só me tornaria discípulo re-
gular de Granger no ano letivo de 1961-62 em Rennes (onde assisti
a um curso sobre Wittgenstein, que começava assim a fazer sua
entrada na França). A essa lacuna soma-se outra: foi também
nesse período que eclodiu o célebre conflito entre Cruz Costa
e o eterno Jânio Quadros, então governador do Estado, que nos
privou por um ano da presença do professor. Foi ainda na mes-
ma ocasião que Giannotti viajou para a França (meados de 56),
só retornando dois anos depois., Circunstância adversa, que atin-
giu alguns cursos fundamentais como os de Lógica e Filosofia
Geral, só compensada, neste último caso, por alguns seminários
sobre a idéia de progresso em filosofia, dirigidos por Ruy Faus-
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