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Universidade Estadual da Paraíba

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Mestrado Interdisciplinar em Ciências da Sociedade

Disciplina: História e Memória

Prof Josemir Camilo Neto

Aluno: José Sanches Vallejo Neto

HISTÓRIA E MEMÓRIA

Seminário sobre ANTROPOLOGIA HISTÓRICA em Le Goff, Jacques. A história


nova. Martins Fontes. São Paulo, 1993

O estudo da História, especialmente através da Escola dos Annales, assumiu posturas


e abordagens distintas no decorrer do tempo, geralmente influenciado pelo momento

Nosso seminário baseia-se no texto A Antropologia Histórica de André Burguière in


A História Nova de Jacques Le Goff.

O estudo da história, a partir do fim do século XVII, dedicou-se principalmente a


história “oficial”, estudando documentos de arquivos públicos. Naquele momento tratava-se
de combater a história essencialmente política e diplomática, calcada exclusivamente nos
acontecimentos e voltada para reis, presidentes e guerras. Mas tratava-se também de caminhar
em um sentido multidisciplinar, nutrindo-se e nutrindo outras disciplinas, como a
antropologia, a sociologia, a geografia e a psicologia. Dois grandes historiadores (Marc Bloch
e Lucien Febvre) lançaram também as bases do que, num primeiro momento, chamou-se de
psico-história e, mais tarde, de historia das mentalidades.

Já a partir do século XVIII o estudo assume um olhar etnológico sobre as sociedades


históricas, tendo Legrand d´Aussi como um dos estudiosos que seguem essa linha de estudo.
A França vinha até o século XIX acostumada a duas escolas históricas: uma mais
narrativa e ligada às elites e outra mais analítica e descritiva dos costumes e comportamentos
sociais.

A Escola dos Annales

Constituída contra a concepção da redução do campo histórico ao domínio da vida


pública a escola dos Annales incentivou os historiadores a saírem dos gabinetes ministeriais
para irem observar “ao vivo” e em profundidade os grupos sociais e as estruturas econômicas.

Para os fundadores dos Annales, a história da vida cotidiana era apenas uma maneira
de abordar a história econômica e social.

Se o estudo do habitual implica a análise dos grandes equilíbrios econômicos e sociais


que formam a base das decisões ou dos conflitos políticos, ele nada mais é do que a história
econômica e social.

O antropólogo está familiarizado, desde há muito, com esse princípio de opacidade


que caracteriza toda realidade social. Ele sabe que é sempre preciso contornar o que uma
sociedade declara de si mesma para compreendê-la. Os historiadores, ao contrário, têm maior
dificuldade para se afastarem da mitologia oficial, por terem muitas vezes contribuído para
construí-la e transmiti-la.

O PROCEDIMENTO DA ANTROPOLOGIA HISTÓRICA

A antropologia histórica tem Fernand Braudel como maior expoente. Ele mostrou
como os grandes equilíbrios econômicos e os circuitos de trocas teciam e transformavam a
trama da vida biológica e social; como os comportamentos integravam ao gosto, aos gestos
repetidos, determinado produto novo no mercado e transforma essa inovação em costume.

Para rejuvenescer a denominação de “história dos costumes”, poderíamos definir a


antropologia histórica como uma “história dos hábitos”.

A antropologia histórica talvez corresponda muito mais a um momento do que a um


setor da pesquisa histórica.

Por um período a Escola dos Annales estudou a alimentação como fenômeno sócio-
cultural e econômico e as inovações que tornam-se hábitos sociais. Na evolução dos
comportamentos alimentares cruzam-se a história econômica, a história social e a história dos
sistemas culturais. A antropologia histórica tem por tarefa precisa expor esses cruzamentos.

Até recentemente a antropologia relacionava-se ao estudo das características físicas


das diferentes populações e de sua evolução.

Vários trabalhos mais recentes abordaram as questões relativas a história das doenças
e das epidemias e das crises sócio-econômicas, tendo em Emmanuel Le Roy.

Norbert Elias propôs uma hipótese sobre a evolução dos modelos de comportamentos.

Outra análise foi a dos comportamentos sexuais, especialmente a partir de Michel


Foucault e a análise da família como célula familiar e das estruturas do parentesco, com Marc
Bloch.

Não se pode negar a importância de Claude Lévi-Strauss como um dos maiores


antropólogos da França. Na década de 50, sob a liderança de Fernand Braudel e
profundamente confrontada com o estruturalismo da antropologia de Claude Lévi-Straus, essa
corrente histórica caminha para um relativo abandono dos tempos históricos tão caros a seus
fundadores, em proveito da chamada "longa duração”, um conceito criado por Braudel, que
privilegiava as permanências, mais que as mudanças. Para ele havia uma diferenciação de
tempos: um tempo de longa duração (ou “tempo geográfico”), referente aos grandes espaços
que foram marcados por civilizações; um tempo conjuntural (ou “tempo social”),
correspondente à história econômica e social; e um tempo curto (ou “tempo individual”), o
dos acontecimentos, com a dimensão da vida do homem e na linha da história tradicional.

PERSPECTIVAS DA ANTROPOLOGIA HISTÓRICA

É no campo da mentalidade que a antropologia histórica mais tem se debruçado


atualmente. O conceito de mentalidade foi introduzido por Lucien Febvre.

A antropologia conquistou a história por baixo, pelas expressões menos formuladas.

As pesquisas pioneiras de Jacques LeGoff sobre as representações do tempo, do


trabalho e sobre o folclore religioso, numa tentativa de análise estrutural. Situava ele a
mentalidade ao nível do quotidiano e do automático, da irracionalidade e dos arcaísmos, da
afetividade e do inconsciente, daquilo que um determinado homem tem em comum com
outros de sua época, aquilo que unia o rei francês São Luís e o camponês de seus domínios.
Contra esse conceito falou-se de “mentalidade interclassista” com a perspectiva de que esses
atos mais irrefletidos e automáticos sempre seriam diferenciados conforme a classe social.

A antropologia exerce, hoje, tal influência sobre os historiadores das sociedades


européias, e eles são propensos a recusar qualquer concepção linear do desenvolvimento
histórico.

LeGoff considera a antropologia histórica como um mal passageiro.

Com a terceira geração dos Annales, na década de 70, esta tendência à abolição do
tempo histórico se acentua, a história, de “quase imóvel”, passa a ser “imóvel”, ocupando-se
mais daquilo que se repete. Ao mesmo tempo o homem, sujeito da história para Febvre e
Bloch, perde o seu lugar central, promovendo-se uma história “fria”, de onde desaparece a
subjetividade do sujeito. Já não há a preocupação com a História, mas com histórias (“em
migalhas”, como diz F. Dosse). Surge também o que é chamado de “história serial”, ou seja,
o estudo de séries de documentos do mesmo tipo num tempo de longa duração para mapear,
através do quantitativo, mudanças de atitudes. Com o advento do computador o historiador
almeja agora a objetividade científica.

Mas é nesse período que a popularidade dos Annales se espalha por diversos países e
junto ao público, e ao mesmo tempo, até entre seus críticos, alarga-se muito o leque dos
objetos passíveis de uma abordagem histórica. Entre estes novos objetos, a família, a
sexualidade, o casamento, a mulher e a criança.

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