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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA HISTÓRIA

TERCEIRA GERAÇÃO DOS ANNALES

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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:

1. Compreender os desdobramentos da Terceira Geração da Escola dos Annales;

2. destacar os principais historiadores do movimento;

3. problematizar as principais mudanças ocorridas na história e na historiografia na terceira fase do movimento.

1 Terceira Geração dos Annales


Podemos pensar no surgimento da Terceira geração de Annales quando, em 1969, nomes como Jacques Revel e

André Burguière assumem a administração da escola, seguidos por Jacques Le Goff.

Embora as mudanças administrativas nesse período sejam bem claras, o campo intelectual é difícil de ser

descrito. Observamos, então, o rompimento com a metodologia utilizada por Braudel, fazendo com que a

História fosse estudada com grande auxílio de disciplinas como a Antropologia, a Literatura e até mesmo a

Psicologia.

Outro ponto importante é que podemos perceber que nessa geração não encontramos nenhuma forma de

liderança como observamos nas anteriores com Bloch, Febvre e Braudel.

Os historiadores da terceira geração foram bastante influenciados por ideias estrangeiras, principalmente

americanas. Muitos deles viveram nos Estados Unidos por algum tempo e até mesmo escreveram em inglês.

Os campos de pesquisa também se ampliaram, alguns historiadores voltaram a se dedicar ao estudo da história

política enquanto outros seguiam pela história quantitativa. Novas abordagens como nova história econômica,

psico-história, história da cultura popular, entre outras, também surgiram durante a terceira geração.

BURKE, Peter. A Escola dos Annales 1929 – 1989. A Revolução Francesa da Historiografia. São Paulo: Fundação

Editora da Unesp, 1997. p.80.

Essa renovação historiográfica possibilitou à história enxergar a vivência humana a partir de elementos que

antes não eram considerados, como o corpo, a infância e os sonhos.

Observamos também o espaço dado às mulheres, o que não aconteceu nas gerações anteriores. Historiadoras

como Christiane Klapisch, Arlette Farge, Michelle Perrot e Mona Ozouf, que estudaram temas como a família, a

mulher e o trabalho.

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Christiane Arbre des familles, L

Klapisch História das mulheres no ocidente, v.2

Zuber Idade média, A

Lugares para a História

A mais bela história da felicidade


Arlette Farge
O sabor do arquivo

Délinquance et criminalité : le vol d’aliments à Paris au XVIII

História dos quartos

Michelle Minha história das mulheres

Perrot As sombras da história. Crime e castigo

no século XIX

L'École, l'Église et la République 1871–1914

Mona Ozouf La Fête révolutionnaire 1789–1799

L'École de la France essai sur la Révolution, l'utopie et l'enseignement

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Os trabalhos oriundos da terceira geração ficaram caracterizados pelo estudo das mentalidades. A mentalidade é

filha direta da escola dos Annales e, desde o começo dos Annales, esteve na preocupação dos historiadores, como

diz Ronando Vainfas:

A preocupação com “os modos de sentir e pensar” ocupou a atenção dos annalistes desde os primórdios da

revista Annales, quando não antes, nos estudos de Marc Bloch e de Lucien Febvre produzidos na década de 1920.

Além do mais, é preciso lembrar que, apesar das várias mudanças por que passou a historiografia francesa nos

últimos 60 anos, os estudiosos das mentalidades sempre se reconheceram como herdeiros contemporâneos de

Bloch e de Febvre, por muitos chamados de “pais fundadores” da chamada Nova história produzida na França.

VAINFAS, Ronaldo. História das mentalidades e história cultural. In: CARDOSO, Ciro Framarion e VAINFAS,

Ronaldo. Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p.129.

Inicialmente o conceito de mentalidades era marcado pela indefinição e, segundo Le Goff, a indefinição era

importante para a fase de assimilação de um novo campo de investigação pelos historiadores.

Assim, “A historia das mentalidades (...) dirige a atenção exclusiva para o não conscientizado, o cotidiano, os

automatismos do comportamento, os aspectos extrapessoais da consciência individual, para aquilo que foi

comum a César e ao último soldado das suas legiões, a São Luís e ao camponês (...)

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Um dos primeiros a contestar a história quantitativa e se aventurar na história das mentalidades foi Philippe

Ariès. Seu trabalho era voltado para as relações entre natureza e cultura, como a cultura enxerga fenômenos

como a infância e a morte, por exemplo.

No caso da infância, Philippe trabalhou com a perspectiva de que o sentimento da infância não existia durante a

Idade Média, e que essa forma de observar as crianças passou a existir na França somente a partir do século XVII,

em seu livro L’enfant et la vie familiale sous L’ Ancien Regime – A criança e a vida familiar no Antigo Regime.

Ao tratar da morte, Philippe Ariès também utilizou a perspectiva da morte como fenômeno da natureza e como o

homem reage diante desse fenômeno.

O livro L’Homme devant la mort – o homem diante da morte - trabalha um período de quase mil anos abordando

as atitudes do homem diante da morte em diversos períodos da história.

BURKE, Peter. Op. cit. p.83.

Segundo Peter Burke:

“L’Homme devant la mort tem os mesmos méritos e defeitos do livro L’Enfant et la vie familiale sous

l’Ancien Regime. Nele se encontram a mesma audácia e a mesma originalidade, o mesmo uso de uma

ampla variedade de evidências, que incluiu literatura e arte, mas não a estatística, e a mesma

vontade de não tratar cartas regionais ou sociais de diferenças.”

BURKE, Peter. Op. cit. p.83

O livro de Ariès levou vários historiadores a darem mais atenção às “mentalidades”, dando início à aproximação

da história e literatura, mostrando que as fontes literárias podiam ser utilizadas no estudo da história.

Podemos destacar a figura de Alphonse Dupront, que elaborou sua tese de doutorado em torno do estudo das

Cruzadas como uma guerra santa para a conquista de lugares sagrados.

Outro importante historiador do período foi Robert Mandrou, o principal historiador a seguir pelo caminho de

Febvre no estudo da psicologia histórica. Madrou também trabalhou com história cultural.

Além desse trabalho, Le Roy Ladurie também escreveu sobre história climática e sobre história rural,

trabalhando com largos períodos de tempo, característica dos historiadores de Annales.

Embora a vasta gama de interesses, historiadores e diferentes métodos de estudo da história utilizada pela

terceira geração tenha sido benéfica para a historiografia, podemos observar que a história estudada através da

longa duração não é uma alternativa viável quando trabalhamos com a história moderna, devido à rapidez com

que novos acontecimentos aparecem.

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A tecnologia passou a influenciar a vida do homem transformando rapidamente o meio ambiente, não apenas

com o crescimento das cidades e diminuição das áreas rurais, mas também com o crescimento de uma nova

modalidade de moradia, as favelas.

As transformações da vida cotidiana influenciam a forma com que as experiências culturais são tratadas e assim,

determinadas aproximações e métodos da Escola de Annales não davam conta de trabalhar tais aspectos.

Embora as gerações da Escola dos Annales sejam diferentes entre si, a evolução do pensamento historiográfico é

vista como resultado do crescimento da disciplina história ao longo do tempo, sendo assim, cada geração de

Annales teve uma parcela importante nas contribuições do estudo da história. O movimento de Annales pode ser

considerado revolucionário e elevou o estudo da história a um novo nível.

Um dos importantes legados da terceira geração dos Annales foi o tipo de história que produziam. A reunião com

a antropologia, com a psicologia e uma nova narrativa histórica tornou esse tipo de história bastante popular na

França. Enquanto o clássico livro de Braudel – O mediterrâneo – lançado anos antes, não vendeu muitas cópias, o

livro de Montaillou ficou na lista dos mais vendidos durante semanas.

O que vem na próxima aula


•As críticas à terceira Geração dos Annales.

•François Dosse e a “História em Migalhas”.

•A permanência da terceira geração dos Annales.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• compreendeu a história da Terceira Geração da Escola dos Analles;
• analisou as principais características desse momento da história;
• apreendeu sobre os principais autores que compuseram a Terceira Geração dos Annales.

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