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História da África Pré Colonização

Aula 5: Povos da curva do Níger: O caso do Mali e de Songhai

Apresentação
Nesta aula, você analisará a fundação dos impérios de Mali e Songhai, a organização sociopolítica e econômica desses
dois reinos e a história desses impérios com a expansão árabe no continente africano.

Objetivo
Analisar a fundação dos impérios de Mali e Songhai;

Examinar a organização sociopolítica e econômica desses dois reinos;

Relacionar a história desses impérios com a expansão árabe no continente africano.

O Mali

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O Mali foi um dos maiores e mais conhecidos impérios
africanos. Localizado no alto do rio Níger, região que
atualmente abriga partes dos países Senegal, Gâmbia,
Guiné Bissau e Mali, esse império foi fundado pelo povo
Africano Malinquê no século XIII e ficou mundialmente
conhecido por suas minas e pelas proezas realizadas por
seus imperadores.

Segundo a tradição oral, o império Mali foi fundado por


Sundiata no início do século XIII. Rapidamente, o exército de
Sundiata conseguiu dominar amplas regiões da África
Ocidental e subjugar os povos que nelas viviam.
Controlaram as terras do antigo reino de Gana e a parte
norte dos rios Níger, Gâmbia e Senegal.  Mapa de Mali

Assim como o governante de Gana recebia o título de gana ou caia-manga, o soberano do Mali recebia o título de mansa. Ao
mansa cabia chefiar o exército e controlar a arrecadação de impostos pagos pelo restante da população. Era do soberano a
palavra final nos assuntos administrativos e nas disputas jurídicas.

O mansa vivia com sua corte em um amplo palácio, onde além de mobílias e objetos de ouro, também era possível encontrar
tecidos fabricados na Europa e aves raras. Suas vestimentas eram tão ornamentadas quanto seu palácio: segundo um viajante
muçulmano que visitou o Mali em 1352, o mansa se vestia com uma túnica vermelha e felpuda, usava um solidéu de ouro na
cabeça, além de colares e pulseiras feitas do mesmo metal.

Para governar uma área tão extensa, o mansa contava com o auxílio de dois importantes grupos sociais. De um lado, cuidando
das questões administrativas do império, estava a linhagem real, uma espécie de nobreza do Mali, que controlava o pagamento
de impostos feito pelas aldeias que deviam obediência ao mansa.

Do outro, estava o poderoso exército do Mali, responsável principal pelas conquistas do império. O exército do Mali chegou a
ser formado por cerca de 10 mil homens que se dividiam entre a cavalaria do mansa e os milhares de arqueiros. Esses homens
usavam espadas, capacetes, cotas de malhas e cavalos, produtos importados do norte da África e da Europa. Essas armas,
junto com a experiência dos arqueiros, fizeram com que, durantes muitos anos, o exército do Mali parecesse indestrutível.
Além da nobreza e do exército, o Mali adotou uma tática de dominação parecida com a que o Império Romano
empregou durante suas conquistas. Ao invés de obrigar os povos dominados a viverem de acordo com seus
1 costumes, o mansa preferiu respeitar as diferentes culturas que compunham seu império, desde que essas
pessoas pagassem os impostos devidos. Essa estratégia diminuía o índice de revolta dos povos dominados e
garantia certa estabilidade para o império.

Assim como ocorreu em outras partes da África, o Mali também tinha homens livres que formavam castas de

2 profissionais como os ferreiros, os carpinteiros e artistas que trabalhavam com barro e metais. Esses homens e
mulheres costumavam morar em bairros isolados nas aldeias e cidades do Mali e casavam apenas entre si.

No entanto, a maior parte da população era composta por agricultores, pescadores e pastores. Esses homens e
mulheres que viviam do campo moravam em vilarejos e habitavam pequenas casas feitas do barro socado e
cobertas com palha. Cultivavam milhete, sorgo, arroz; criavam bois, cabras e camelos e pescavam nos rios
3 próximos ou no mar. Parte dessa produção era destinada à subsistência das famílias camponesas, uma parcela
preestabelecida era usada como forma de pagamento dos tributos que deviam ao mansa e o restante ia para os
mercados das cidades do Mali.

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Junto com os camponeses, havia um número significativo


de escravos que trabalhava na produção agrícola do Mali. A
maior parte desses escravos (que era obtida nas guerras
realizadas pelo exército) era empregada nas fazendas que
pertenciam ao mansa. Outra trabalhava nas minas de ouro
do império e um pequeno número deles era usado nas
casas dos nobres e no palácio do mansa.
Apesar de a grande maioria da população viver da
agricultura, da atividade pastoril e da pesca, o comércio do
ouro foi a maior atividade. Devido a seu extenso domínio na
região ocidental africana, o mansa controlava não só as
minas de ouro, mas também as redes de comércio que
levavam esse ouro até o deserto do Saara, de onde ele seria
levado para o norte da África e de lá para a Europa e Oriente
Médio.

As caravanas que levavam o ouro voltavam com sal, contas de vidros, tecidos e alimentos produzidos em outras regiões.
Embora o comércio transaariano abrangesse um número variado de mercadorias, apenas as pessoas mais ricas do império
tinham como comprar os produtos que atravessavam o Saara. Para o restante da população, principalmente os camponeses, a
única mercadoria acessível desse comércio era o sal.

Em geral, as aldeias camponesas do Mali preferiam realizar suas negociações com povos africanos que viviam mais a oeste e
com quem trocavam milhete e arroz por peixe seco produzido na região litorânea.

Embora as mercadorias do comércio transaariano não fossem consumidas por toda a população do império, as rotas
comerciais que ligavam o Mali com o norte da África deram riqueza e notoriedade ao império. Essas relações comerciais
ficaram ainda mais fortes depois que a nobreza e o mansa se converteram ao islamismo durante o século XIII.

Além do incremento das transações comerciais, a chegada do islamismo trouxe mudanças significativas para o Mali,
sobretudo para as principais cidades do império.
Mansa Musa foi o principal imperador islamizado do Mali. A
crença desse mansa em Alá era tão forte que, em 1324, o
imperador realizou uma peregrinação à Meca que tornou o
Mali mundialmente conhecido. Segundo os registros da
época, Mansa Musa saiu do Mali acompanhado de mais de
sessenta mil servos e quase duas toneladas de ouro. Para
mostrar a prosperidade de seu império, Mansa Musa
distribuiu seu ouro pelo Egito ficando sem recursos para
prosseguir a viagem. Graças ao empréstimo concedido por
um rico comerciante de Alexandria, Mansa Musa pode
terminar sua peregrinação.

Na volta de sua viagem, Mansa Musa trouxe consigo o poeta e arquiteto Abu Issak, que foi o responsável pela construção de
mesquitas e madrasas (escolas islâmicas onde se estudava religião e direito) nas cidades de Jenné e Tombuctu.

Essas duas cidades se transformaram em verdadeiros centros comerciais e culturais onde os costumes pregados pelo Islã
podiam ser observados nas técnicas utilizadas na construção das casas e prédios públicos (era a primeira vez que se usava
tijolo no Mali), nas roupas e turbantes que os muçulmanos vestiam e na cultura e educação que eram ensinadas nas
universidades árabes de Tombuctu.

Embora o islamismo tenha ganhado muito espaço no


império do Mali a partir do governo de Mansa Musa, é
importante lembrar que a grande parte da população
continuava a fazer o culto a seus antepassados e as
cerimônias religiosas para seus deuses e entidades divinas.

As aldeias do império também não conheceram as


inovações arquitetônicas e mantiveram as vestimentas que
usavam há muitos anos, que na maior parte das vezes
consistia em uma tanga de couro. Quando ocorriam crimes
ou problemas jurídicos, o mansa realizava o julgamento de
acordo com a crença da pessoa em questão, respeitando os
diferentes credos de seu império.

A expansão territorial realizada por Mansa Musa trouxe


problemas para seus sucessores. Embora o exército Mali
fosse bem treinado, não havia homens suficientes para
controlar as fronteiras do Império.

No final do século XIV, diversos povos começaram a realizar


saques em Tombuctu e outras importantes cidades do Mali.
No século XV, os antigos territórios controlados pelo Mali, já
enfraquecidos, foram passando para o comando do povo de
Gao.
Songhai

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 Songha

A história de Songhai começou cerca de mil anos antes da invasão ao império do Mali. Segundo a tradição oral desse povo, a
população Songhai habitava as margens de um dos afluentes do rio Níger e estava dividida em dois grandes grupos, os
pescadores (sorkos) e os caçadores (gous), que viviam sob o controle de um sacerdote tirânico chamado Faran Makan Bote.

Todavia, no ano 500 d.C, um berbere de nome Za Aliamen matou o sacerdote e fundou a dinastia Diá, que passou a governar os
songhais. Cerca de quinhentos anos depois, o rei da dinastia fundada por Za Aliamen converteu-se ao Islã (embora a maior
parte da população continuasse praticando sua antiga religião)e transferiu a capital do seu reino de Cuquia para Gao.

Graças às redes comerciais estabelecidas entre Songhai e outros grupos islamizados, rapidamente Gao transformou-se em um
importante entreposto comercial das rotas transaarianas, rivalizando inclusive com Cumbi, a capital do Mali. Em 1325, com o
comando do Mansa Musa, a cidade de Gao foi dominada pelo império Mali, ficando sob o domínio dos malinquês por doze
anos.

Contudo, a grande virada da história de Songhai se deu quando Soni Ali subiu ao poder em 1464. Graças à forte cavalaria que
compunha o exército e o controle de trechos estratégicos do rio Níger, durante o reinado de Soni Ali, Songhai conheceu sua
maior expansão territorial. Além de regiões agrícolas, o exército de Soni Ali conquistou Tombuctu em 1468 (que na época
estava sob o domínio dos tuaregues) e, depois de inúmeras tentativas, apoderou-se da cidade de Jenné em 1473. Em pouco
tempo, o império Songhai abarcava as principais cidades e regiões agrícolas próximas do Níger.
O grande poderio de Soni Ali era seu exército formado por
jovens cavaleiros e canoeiros hábeis que garantiam a
segurança interna e promovia guerras cujo objetivo principal
era a expansão do território songhai.

O comércio e a vida na cidade foram uma das principais características do Império Songhai. Sob o comando de Soni Ali,
diversas cidades que ficavam próximas ao rio Níger acabaram se tornando importantes entrepostos comerciais das rotas
muçulmanas que faziam a travessia do Saara.

O intenso contato com a cultura islâmica acabou desenvolvendo um grupo poderoso de sacerdotes muçulmanos (os ulamas)
que defendiam que o Estado deveria ser um braço dos princípios do Islã, ou seja, que Soni Ali devia obediência a eles.

Todavia, a figura do imperador Soni Ali era controversa devido às suas escolhas e práticas religiosas. Ao que tudo indica, ele
não abandonou as crenças tradicionais e recorria sempre que necessário aos cultos, cerimônias e deuses dos antigos
antepassados songhais; há, inclusive, algumas interpretações de que ele teria sido um imperador feiticeiro. Soni Ali não só se
recusou à obedecer aos ulamas como os exilou.

Os grupos islâmicos que compunham a nobreza do Império


Songhai fizeram com que a dinastia de Soni Ali fosse
substituída por uma genuinamente muçulmana. Após a
morte de Soni Ali, subiu ao poder o primeiro representante
da dinastia áskia: Muhamed Turê.

As investidas bélicas foram mantidas por Muhamed Turê


que conseguiu subjugar importantes grupos vizinhos como
os fulas, soninquês e, sobretudo, parte das grandes cidades-
estado dos hauçás: Kano e Gobir.

Embora um dos maiores e mais respeitados impérios da


África Ocidental, as disputas internas pelo poder fizeram
com que Songhai entrasse em decadência após a morte de
Muhamed Turê e, em 1591, o território songhai foi
conquistado por Marrocos.
Atividade
1 - Para governar, o mansa contava com a ajuda de dois grupos sociais. Você lembra-se quais são eles?

a) A linhagem real, responsável pela estratégias de guerra, e os escravos, que cuidavam do castelo.
b) Os escravos, responsáveis por cuidar dos filhos do Mansa, e os agricultores, pescadores e pastores, que cuidavam da alimentação de
todos no castelo.
c) A linhagem real, que cuidava da parte administrativa, e o exército, responsável pelas conquistas do império.
d) A nobreza do Mali, que era convertida ao cristianismo, e o restante da população islamizada.

Referências

M'BOKOLO, Elikia. África Negra: história e civilizações. Lisboa: Vulgata, 2003.

SILVA, Alberto da Costa e. A manilha e o libambo. A África e a escravidão de 1500 a 1700, Rio de Janeiro, Nova Fronteira:
Fundação Biblioteca Nacional, 2002.

SILVA,A.C. A enxada e a lança. A África antes dos portugueses. Nova Fronteira/EDUSP. São Paulo, 1992.

Próxima aula

A matriz mitológica que une a história das cidades de Ifé e do Benin;

As dinâmicas socioeconômicas de cada uma dessas cidades-estados;

Reconhecer como a religião foi determinante na conformação política dessas cidades.

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