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História da África Pré Colonização

Aula 8: As sociedades da África Oriental

Apresentação
Nesta aula, você analisará a autoridade que a figura real exerceu na conformação do Império Monomotapa, inclusive nas
técnicas construtivas dessa sociedade, assim como a importância que a mineração aurífera exerceu no Império e como
ela foi fundamental para sua relação com as cidades-Estado do Índico. Além disso, estudará as dinâmicas econômicas
das cidades do Índico, percebendo que elas foram importantes entrepostos comerciais para a porção oriental do
continente africano.

Objetivo
Examinar a estrutura de poder do Império Monomotapa;

Estudar a correlação entre o poder político, as práticas econômicas e as construções arquitetônicas desse império;

Analisar a importância do comércio e do islamismo para as cidades banhadas pelo oceano Índico.

Introdução
Na costa Índica do continente africano outras sociedades desenvolveram-se e, graças às articulações estabelecidas entre elas,
via transações comerciais, estabeleceram interessante intercâmbio não só na parcela do continente africano banhada pelo
oceano Índico, como também com outros continentes, principalmente o Asiático. Dessa feita, muito antes do contato com os
europeus, diversos povos da África faziam parte daquele que foi o comércio mais lucrativo até meados do século XVII: o
comércio do Índico, que povoou o imaginário dos europeus medievais.

O Império Monomotapa
O Império Monomotapa foi fundado pelo povo xona por volta do século XIII, ao sul do rio Zambeze, ocupando parte do planalto
do Zimbábue e chegando até o rio Limpopo (atual país do Zimbábue).
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Diferentemente do restante da As origens do Império O fator religioso também foi de


região, o planalto do Zimbábue Monomotapa ainda não estão fundamental importância para a
possuía terras férteis e não era totalmente definidas, mas supremacia dos xonas sobreos
afetado pela mosca tsé-tsé arqueólogos e outros estudiosos demais povos da região. De
(também conhecida como apontam que, desde o século XI, acordo com alguns estudos, os
mosca do sono e que é mortal o planalto era ocupado por xonas acreditavam em um deus
para animais como boi e vilarejos. Graças à boa qualidade supremo chamado Muári.
carneiros), o que permitiu que os do solo e à abundância dos rios, Contudo, os homens só podiam
xonas conseguissem ocupar os xonas conseguiram entrar em contato com esse deus
aquelas terras. desenvolver a agricultura e a por meio dos espíritos dos
criação de gado, tornando-se, mortos (vadzimu e umondoros),
assim, os grandes senhores da que eram cultuados do alto da
região. colina. É provável que os outros
povos da região, amedrontados e
encantados com as vozes que
ecoavam do alto da colina,
tenham criado um respeito
religioso pelos xonas. Em razão
disso, esses povos passaram a
pagar tributos aos xonas em
troca de proteção.
O Grande Zimbábue

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O tamanho de cada zimbábue estava relacionado com as


pessoas que o habitavam. O Grande Zimbábue, por
exemplo, era habitado pelo chefe dos xonas e por sua corte.

As aldeias e vilas dos xonas tinham uma organização muito


particular. Tais vilarejos eram murados com grandes blocos
de pedras que serviam como proteção para as casas
construídas de dagas (uma mistura feita com argila,
cascalho e esterco) e sapé. Essas muralhas de pedra com
formato cilíndrico ficaram conhecidas como zimbábues
(que na língua xona significa “casa de pedra” ou “casa do
chefe”). Dentro de cada zimbábue era possível encontrar de
cinco a oito famílias.

Os demais zimábues eram habitados por famílias


camponesas, pastoris e artesãs, pois, além das casas, as
muralhas de pedra também tinham espaços reservados
para a produção agrícola, a criação de animais e a
confecção artesanal de produtos como tecidos, vasos de
cerâmica e objetos de ferro e cobre.

A imagem acima apresenta uma Foto aérea de um dos zimbábues


construção que ficou conhecida que compunham o império
como “Grande Zimbábue”. monomotapa.
O Ouro e o Comércio do Índico
A descoberta das minas de ouro perto do planalto incrementou ainda mais a economia dos xonas. A criação do gado já havia
dado origem às principais redes de troca, todavia, o ouro incrementou ainda mais as negociações feitas nessa região. O ouro
do Grande Zimbábue passou a ser negociado com as grandes cidades-Estado do litoral Índico do continente, como Quiloa e
Sofala. Esse comércio permitiu que o Grande Zimbábue comprasse porcelana chinesa, vidros feitos pelos sírios e contas dos
mais diversos lugares.

O crescimento comercial também resultou na ampliação dos zimbábues que ficaram maiores e mais complexos. O Grande
Zimbábue (o maior complexo criado pelos xonas) chegou a abrigar quase duzentas pessoas e era um verdadeiro labirinto de
muralhas de pedra.

Embora a população total do Zimbábue tenha chegado a aproximadamente 18 mil pessoas, essa sociedade entrou em
decadência durante o século XV. O crescimento não controlado da população, a seca de alguns rios próximos e o aparecimento
da mosca tsé-tsé foram algumas das razões dessa decadência. Por isso, o grande chefe que governava a região, Niatsimba
Mutota, resolveu migrar para o norte em busca de novas terras férteis, tendo sido acompanhado por parte da população.

Essa nova sociedade herdeira do Grande Zimbábue ficou conhecida como Império Monomotapa, pois era governada pelo
monomotapa, que significava “senhor dos cativos” ou “senhor de tudo”. Tal sociedade era formada por diferentes aldeias, cujos
habitantes produziam diversos tipos de cereais e criavam gado.

 Objeto de Ouro confeccionado no império Monomotapa.

A figura central do reino Monomotapa era o “rei” que tinha poderes divinos, pois como foi pontuado anteriormente, ele fazia
contato direto com os ancestrais. O rei aparecia em público poucas vezes e, quando o fazia, estava vestido com roupas
simples, produzidas em suas próprias terras, mas, cabia ao soberano o controle das minas auríferas que fizeram com que seu
império ficasse conhecido em boa parte da porção oriental da África.
Ao que tudo indica, o ouro que havia conferido prestígio e poder para o
Império Monomotapa também foi seu algoz. No século XV, a escassez da
mina causou uma grave crise econômica no Império que acabou
fragmentando-se em unidades políticas menores. Essa crise política foi
agravada pela chegada dos europeus, causando assim a decadência total do
império.

O monomotapa era assessorado por um conselho, formado por nove esposas, que controlava a cobrança de impostos e
cuidava das terras. Todavia, ao contrário do próprio monomotapa, os membros de sua corte usavam roupas de seda bordadas
com ouro, além de inúmeros braceletes e colares. Os homens usavam cabelos compridos e os penteavam em forma de chifre.
O restante da população usava tangas feitas de pele de animal ou de cascas de árvores. A corte Monomotapa frequentemente
mudava o local de sua morada.

As Cidades do Índico
Conforme mencionado, um dos fatores do desenvolvimento
econômico do Império Monomotapa foi a rede comercial
estabelecida com as cidades-Estado do litoral Índico. Tais
cidades eram formadas por grupos suaílis, palavra que
deriva de sahel e significa “costa”.

Os suaílis dominavam técnicas agrícolas, a atividade


pesqueira, o manejo do ferro e a construção de
embarcações, atividade muito lucrativa. Entre os séculos XIII
e XVII, as cidades Índicas mais conhecidas foram: Sofala,
Quiloa, Mogadíscio e Socotorá.

Com a chegada expressiva dos muçulmanos durante o


século XIII, essas cidades se transformaram em verdadeiros
empórios do comércio que era feito com outras localidades
do Índico. Marfim, ouro e barras de ferro eram negociados
por sedas, prata e até mesmo porcelana chinesa. Segundo
os viajantes muçulmanos que visitaram tais cidades, além
 Foto: Localização das cidades africanas no litoral índico. Fonte:
da localização estratégica, a população local era muito civilizacoesafricanas.blogspot.com.br

cosmopolita, e acolhia bem todos os estrangeiros que lá


chegavam.

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As monções do Oceano Índico muitas vezes obrigavam
comerciantes muçulmanos a passarem meses nessas
cidades esperando o momento certo para retornar para a
Ásia com seus navios repletos de mercadoria africana.
Essas esperas constantes acabaram resultando na
significativa miscigenação desses negociantes islâmicos
com a população local, criando assim muitos mestiços.

Embora a atividade mercantil fosse a mais lucrativa, grande


parte dessas cidades, sobretudo aquelas cuja maior parte
da população era de origem banta - ou seja, os grupos não
islamizados – era formada por agricultores, pescadores,
criadores de gado e ferreiros. A manutenção da agricultura e
do pastoreio permitiu que tais cidades sobrevivessem aos
períodos de crise que atacou praticamente todas as grandes
cidades-Estado do Índico, até o início do século XV.

Como ocorreu com outras sociedades africanas, o contato


com os europeus trouxe mudanças significativas na
dinâmica sociopolítica dessas cidades do Índico. Contudo, a
maior transformação ocorreu a partir do século XVII,
quando um número significativo dos habitantes dessas  Foto: Plano da cidade de quiloa – século XVI. Fonte: abogond.flies.wordpress.com
localidades passou a ser escravizado e vendido para a
América (principalmente para o Brasil), por meio do tráfico
transatlântico.

Atividade
1. “E seria já na segunda viagem de Vasco da Gama (1502) que se iriam verificar profundas e decisivas alterações no comércio
internacional europeu, visto que as casas comerciais, entre elas as alemãs, vão reagir de imediato a estas novas promissoras.
Com efeito, as notícias sobre a cidade de Sofala constituem, para os mercadores alemães, um verdadeiro íman de interesse;
para além das tão procuradas especiarias, os nautas tinham trazido, nas suas naus, ouro de Sofala, que tornava o caminho
marítimo para Índia um negócio ainda mais rentável. As fabulosas riquezas da África oriental chegariam assim ao
conhecimento de Konrad Peutinger, o secretário do Imperador Maximiliano que logo verte para o alemão uma carta de um dos
viajantes italianos, testemunho claro do seu grande interesse por esta empresa marítima.”

Fonte: //civilizacoesafricanas.blogspot.com.br

Após o estudo do reino Monomotapa e das cidades índicas, EXPLIQUE por que o comércio com essa região trouxe mudanças
tão significativas nas transações comerciais estabelecidas pelos europeus até então.

Referências

M'BOKOLO, Elikia. África Negra: história e civilizações. Lisboa: Vulgata, 2003.

SILVA, Alberto da Costa e. A manilha e o libambo. A África e a escravidão de 1500 a 1700, Rio de Janeiro, Nova Fronteira:
Fundação Biblioteca Nacional, 2002.

SILVA,A.C. A enxada e a lança. A África antes dos portugueses. Nova Fronteira/EDUSP. São Paulo, 1992.

Próxima aula
As razões que levaram os europeus a entrarem em contato com a África Subsaariana;

Analisar parte das transformações que a chegada dos europeus trouxe para a África;

Examinar a conformação do comércio transatlântico de escravos.

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