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Tema 3: A África na História Mundial, antes do tráfico (principais Estados

pré-coloniais: Gana, Mali, Songhai, Haussá).

Introdução
A partir do fim do século Xl até ao fim do século XVI, considerados períodos de
grandes seculos da Africa Negra, o continente vai conhecer um desenvolvimento
simultâneo de todas as suas regiões, do ponto de vista económico, político e cultural.
Estes quatro séculos foram, na a grande época da Africa Negra. O período precedente
viveu a fundação da maior parte dos grandes impérios africanos, como veremos já a
seguir.
Foi na savana sudanesa que se desenvolveram os mais antigos Estados da África
Ocidental Apos a progressiva secagem do Saara, a região do Sahel (limite do deserto)
toma-se uma zona agrícola de refúgio com grande densidade de povoamento favorável,
pela sua situação estratégica, pelo desenvolvimento das trocas comerciais entre a
África e o Magrebe.
O comércio do ouro parece ter sido o elemento decisivo na consolidação dos
primeiros estados nesta região desenvolveram-se as cidades em contacto entre o Mundo
saariano e o Mundo sudanês, no ponto onde as caravanas de camelos deixaram de poder
avançar mais e onde chegavam o ouro, a cola e, mais tarde, escravos.
No século XV a presença dos portugueses no litoral provocou o desvio das vias
comerciais transarianas. Os pequenos estados costeiros tornaram-se o centro do novo
comércio internacional, em que o ouro africano era trocado por mercadoria europeia.
Assim, os impérios sudaneses declinaram, tendo perdido o controlo das
trocas comorações mais importantes

As civilizações do Sudão Ocidental

O Gana
É o primeiro estado da África Ocidental conhecido na história. Os autores árabes
do século VIII chamavam-lhe o Pais do Ouro. E, com eleito, o comércio do ouro,
organizado pelas caravanas transarianas com os países islamizados do Magrebe, que
explica a formação e desenvolvimento deste primeiro estado.
Situação geográfica
O reino da Cana ocupava regula entre os rios Senegal e Niger. Na sua origem era
apenas uma confederação de tribos pertencendo ao grupo étnico dos Sarakolé. Essas
tribos dividiam-se num certo número de clãs, que por vezes tinham funções
especializadas, correspondente a divisão do trabalho. Assim, os Kande eram ferreiros, os
Cissé eram o clã real, etc.

Organização social
No clã, cada grande família vivia independente sob a autoridade de um patriarcas.
Alguns destes patriarcas podiam exercer funções especializadas:

• Chefe da terra (encarregado de repartir as terras);


• Chefe responsável pelas cerimónias religiosas (para garantir os bons resultados
da cultura);
• Chefe da guerra.

O chefe de clã dos Cissé era chefe da guerra,” chefe do ouro”, assumindo funções de
destaque como:

• Responsável pelas cerimónias religiosas que os males;


• Cobrador do imposto sobre o ouro em pó.

Controlando esta riqueza, o chefe de clã dos Cissé tornou-se, em consequência, rei
dos Sarakole, unificando o território sob seu poder. A este território de Uagadu e à capital
Kumbi-Saleh foi dado, pelos árabes, o nome de Gana.

O comércio
Os comerciantes traziam a Kumbi o ouro em pó. Aí o vinham procurar os
comerciantes árabes da África do Norte trazendo em troca o sal de Taghaza, cobre, trigo
e tecidos. O rei recebia igualmente direitos sobre o comércio.
A capital subdividia-se em duas cidades distintas: uma cidade comercial, onde
habitavam os comerciantes árabes e berberes vindos do Norte e uma cidade real, onde
se encontravam o palácio do rei, os túmulos reais e a floresta sagrada.

O Estado
O núcleo central deste reino era a casa real com os seus principais dignitários e a
guarda real que constituía a classe dominante, incluindo o exército.
A classe dominada ou explorada era constituída pela maioria da população e
escravos, vivendo em comunidades aldeãs, sujeitas ao pagamento de um tributo em
género (em percentagem da colheita).
Podemos caracterizar o Estado do Gana como politicamente centralizado

Os Almorávidas no Gana
Esta unidade política não resistiu ao avanço almorávida no século XI.
O Gana caiu em seu poder em 1077; apesar de recuperar a liberdade poucos anos
depois, a sua grandeza passada não foi recuperada. A seu lado, nos próprios locais
auríferos habitados pelos Malinké, desenvolvia-se, entretanto, um novo Estado: o Mali.

O Império do Mali
Um pequeno reino da região mandinga ente o rio Níger e o Buré, até então
dependente do Gana, passou a fornecer aos comerciantes árabes o ouro do
Buré e escravos.
No séc. XIII, Sundiata Keita, que na tradição dos Bardos refere como fundador do
império Mandinga ou do Mali, conquista e anexa outros reinos próximos. Com esta
expansão, o novo império ficou senhor das minas de ouro, cobre e sal,
controlando todo comércio.

O Comércio
Niani, a capital, tornou-se um pólo comercial onde residiam os comerciantes do
Norte de África, que asseguravam o escoamento do ouro e escravos para o
Mundo mediterrâneo.

Organização social
Segundo a tradição, Sundiata Keita teria organizado toda a população Malinké
em trinta clãs:

• Dezasseis clãs de homens livres.


• Cinco clãs de marabus;
• Cinco de artesãos
• Quatro de bardos
A classe dominante era constituída pelos chefes religiosos (marabus), chefes de clãs
e funcionários reais.
O Estado
Ao longo dos secs. XIII e XIV, o império do Mali estendeu a sua autoridade a todo
o vale superior do Níger, uma parte do Saara ao Bambuk e a toda a região costeira
compreendida entre o Senegal e o rio Geba.
Este grande império, tinha uma administração, descentralizada. A região
habitada pelos Malinké (Mandinga) estava submetida a administração directa do rei e
subdividia-se em províncias chefiadas por um Farba que tinha funções administrativas e
judiciárias.
Ao nível das aldeias, a autoridade era exercida por um chefe político e pelo chefe
de terras, religioso.

O Islão
Sob a influência dos comerciantes árabes, os imperadores tinham-se convertido
à religião islâmica.
A população rural continuava fiel à sua religião tradicional, que considerava a
autoridade religiosa o fundamento do poder do rei. Existia uma contradição: por um lado
o imperador muçulmano, por outro, a maior parte dos súbditos, que mantinha o credo
anterior e continuava a atribuir ao imperador a chefia religiosa.

A decadência
Na segunda metade do séc. XIV o Mali entrou em declínio. O poder enfraqueceu
devido ao conflito no seio da família real. Ao mesmo tempo, as províncias iam sendo
pilhadas pelos Tuaregues e pelos Songhai.
No séc. XVI o Mali estava reduzido à região Mandinga.

O Reino de Songhai
Situação geográfica e origem
Desde o século VIII existia nas margens do Níger o Reino de Songhai, com
capital em Kukia, mais tarde, a capital deslocou-se para Gao.
No início do século XIV, este reino foi conquistado pelo Mali a quem passou a
pagar tributo. No final do século, aproveitando a fragilidade do poder político no Mali,
os Songhai expulsaram os chefes Mandigas de Tombuctu e Djené, cortando assim o
acesso do Mali Africa do Norte e aos benefícios do comércio do ouro.
O verdadeiro fundador do império for Askia Mohamed que, em fins do século
XV aumentou as conquistas dos seus predecessores, estendendo a sua autoridade do
Atlântico a Bornu e Kanu, até Taghaza.

O comércio
A prosperidade da região nigeriana estava ligada à existência de uma economia
mista baseada:

• Na agricultura;
• Na pecuária e na pesca;
• No comércio do ouro que alimentava as trocas com a África do Norte.

O Estado
O império Songhai estava dividido em províncias administradas por
governadores nomeados pelo imperador.
As fontes de rendimentos do imperador eram, tal como para o Gana e o Mali, as
taxas, os tributos, o saque.

O declínio do Império
Este grande conjunto era demasiado vasto e a sua manutenção difícil. As
populações submetidas reagiam à dominação. As lutas internas enfraqueciam o poder.
Em 1585, os Marroquinos apoderaram-se das salinas de Taghaza privando assim
o Songhai da sua principal moeda de troca para obter o ouro do sul.
Em 1591, os marroquinos conquistaram o Songhai.
A presença de portugueses no litoral desviara para o mar as rotas do ouro
e dos escravos.

O Reino do Benin
Situação geográfica e condições naturais
Em meio florestal, de comunicação difícil, com uma agricultura de fraco
rendimento e limitada possibilidade de criação de gado. formou-se a partir do século
XIII, em tomo do baixo Níger, o reino do Benin, um Estado que ia atingir grande dimensão
territorial, apresentando, no entanto, uma estrutura política complexa e manifestações
culturais extremamente elaboradas.
A influência árabe não atingiu esta região.
Organização económica
Numa economia predominantemente agrícola de que vivia a maioria da
população cultivava-se o inhame e a banana e exploravam-se as palmeiras de óleo.
O artesanato estava muito desenvolvido. Trabalhavam o bronze o ferro e o couro,
tecelagem, madeira e marfim. Uma grande parte dos habitantes da capital estava ao
serviço do palácio real.

Organização social
Segundo as tradições reais, o reino do Benin teria sido fundado no século XII por
emigrantes Yoruba vindos do Ifé e que na região do Delta do Níger se fundiram com os
Edo.
O rei (Oba) exercia uma autoridade religiosa e política absoluta sobre os seus
súbditos, mas, na prática, era um conselho real que se ocupava das funções
administrativas.
As aldeias, pequenas aglomerações dispersas através da floresta, eram por
funcionários que recolhiam e encaminhavam para o rei os pesados tributos pagos pela
aldeia.
O Oba monopolizava os principais produtos de exportação (escravos,
marfim, óleo de palma).

Os estados do Sudão Central (Os estados Haussás)

As cidades-estado haussás, situadas entre o Níger e o Chade. Constituíram-se por


volta do século XII, em redor das vias comerciais que ligavam Tripoli e o Egipto à floresta
tropical, por um lado, e por outro lado, o Níger, no alto vale do Nilo pelo Darfur.
Bawa ou Bagoda, e os seus seis filhos tornar-se-iam os fundadores das sete
cidades-estados haussá (haussás Bokoi), que são: Cano, Doura, Gobir, Katsina, Zaria,
Biram e Rano. Daura era considerada a cidade-mãe
As cidades haussás foram as primeiras fortalezas nestas vastas extensões do
Sudão Central.
A cidade protegida tornou-se naturalmente o mercado em que os camponeses
podiam trocar os seus produtos.
O primeiro rei, ou Sarki, foi Bagoda (999-1063). Mas a partir de século XVII sente-
se que se manifestavam cobiças externas, o que impõe a necessidade de uma defesa. O
rei Yusa Sarkin (1136-1194) termina um primeiro muro em volta de Cano.
O Islão
Foi no século XIV no reinado de Yaji (1349-1385), que o Islão foi introduzido em
Cano por malianos, que levaram ao mesmo tempo a arte de escrever.

A organização dos estados Haussás


As guerras intestinas entre cidades haussás impediram-nas de desempenhar um
papel político dominante. Tratavam-se em primeiro lugar, de comunidades rurais. No
século XIX, notavam-se espaços livres no interior das muralhas de Cano. Mas as cidades
dedicavam-se ao comércio e ao artesanato.
Os estados haussás realizaram excecionalmente, entre as coletividades da África
Negra, um tipo de economia complexa, em que a agricultura e o comercio eram
judiciosamente combinadas com atividades do tipo pré-industrial, em verdadeiras
manufaturas de tecelagem, de calcado de artigos de metal, etc.
O rei era eleito por notáveis e era responsável perante eles, característica que se
afasta dos sistemas políticos negro-africanos, a comparar com o desenvolvimento
económico e social. Deixava com frequência a prática do poder a um primeiro-ministro,
o “galadima” que trabalhava em colaboração com os chefes do exército, os
administradores, o astrónomo especialista do ciclo lunar, o chefe de protocolo, os
guardas das portas (cargo particularmente importante, etc.).

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