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Instituto Superior Politécnico Metropolitano de Angola

DTEC-Departamento de Ciências Tecnológicas e Engenharias

Notas de Aulas de
Álgebra Linear e Geometria Analítica

Dionísio Miguel Adão


Tiago Campos

14 de março de 2023
Conteúdo

1 Generalização sobre noções de matrizes 3


1.1 Conceitos fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.1.1 Representação genérica de uma matriz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.1.2 Matrizes com designação própria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2 Operações com matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2.1 Álgebras das matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2.2 Propriedades das matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.2.3 Potências de matriz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.2.4 Expressões polinomiais envolvendo matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.3 Matrizes inversíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.3.1 Transformações ou operações elementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.3.2 Transformação de uma matriz na matriz identidade . . . . . . . . . . . . . . 18
1.3.3 Inversão de uma matriz por meio de operações elementares . . . . . . . . . . 18

Bibliograa 27

1
2 CONTEÚDO
Capítulo 1

Generalização sobre noções de matrizes

1.1 Conceitos fundamentais

Colecções rectangulares de números reais aparecem em muitos contextos. Por exemplo, a


seguinte colecção rectangular de três linhas e sete colunas pode descrever o número de horas que
um estudante gastou estudando três matérias numa certa semana.

2a 3a 4a 5a 6a Sábado Domingo
Matemática 2 3 2 4 1 4 2
História 0 3 1 4 3 2 2
Português 4 1 3 1 0 0 2

Tabela 1.1: Horário de estudo

Suprimindo os títulos, camos com a seguinte colecção rectangular de números com três linhas
e sete colunas, denominada matriz, isto é,
 
2 3 2 4 1 4 2
 
0 3 1 4 3 2 2 .
 
 
4 1 3 1 0 0 2

3
4 CAPÍTULO 1. GENERALIZAÇÃO SOBRE NOÇÕES DE MATRIZES

Denição 1.1 (Matriz). Sejam m, n ∈ N. Chama-se matriz do tipo m × n com coecientes em


um corpo (R ou C) a todo quadro com m linhas e n colunas e com m × n elementos (números ou
expressões).

Em outras palavras, uma matriz é uma tabela rectangular (quadro) de números, ou outo tipo
de objectos matemáticos, dispostos em m linhas (las horizontais) e n colunas (las verticais).
Neste caso dizemos que a matriz é do tipo m × n (lê-se: m por n) ou do tamanho m × n. Entende-
se aqui por tamanho da matriz a descrição do número de linhas e colunas que ela tem.

Usaremos parênteses curvos ( ) ou rectos [ ] para representar uma matriz.

Exemplo 1.1. Considere os seguintes matrizes:


 
1 −1 0 2 5
 
(i) 3 (é uma matriz do tipo 3 × 5, pois tem três linhas e cinco colunas).
 
1 0 0 1
 
0 4 1 −2 3

 
1 2 3
(ii)   (é uma matriz do tipo 2 × 3, pois tem duas linhas e três colunas).
2 1 3

1.1.1 Representação genérica de uma matriz

Uma matriz A do tipo m × n , é indicada por A = (aij )m×n ou A = [aij ]m×n , ou simplesmente
A = (aij ), onde
m indica o número de linhas,
n indica o número de colunas,
i indica o índice da linha, com i ∈ {1, 2, . . . , m},
j indica o índice da linha, com j ∈ {1, 2, . . . , n},
aij indica os coecientes ou elementos da matriz, ou seja aij é o elemento da linha i e da coluna j
da matriz A.
Genericamente , ela pode ser representada da seguinte forma:
1.1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 5

 
a a12 · · · a1n
 11 
· · · a2n 
 
 a21 a22
A=
 .. .. . . . .. 
.
 . . . 
 
am1 am2 · · · amn

Nota 1.1. Designaremos por M atm×n (R) para indicar o conjunto de todas as matrizes do tipo
m × n com coecientes em R.

Exemplo 1.2. Construir a matriz que satisfaz a seguinte condição: A = (aij )m×n , m = 2, n = 3
e aij = i + j
Solução: A matriz A é do tipo 2 × 3 e os seus coecientes são obtidos pela fórmula dada acima,
isto é, somando os índices da linha e da coluna. Genericamente a matriz A pode ser escrita na
forma      
a11 a12 a13 1+1 1+2 1+3 2 3 4
A= = = .
a21 a22 a23 2+1 2+2 2+3 3 4 5

1.1.2 Matrizes com designação própria

Para uma matriz A do tipo m × n com coecientes aij , denimos:

1. Matriz linha: é toda matriz que possui uma única linha, isto é, m = 1.

Exemplo 1.3.
 
A= 1 2 3 0 .

2. Matriz coluna: é toda matriz que possui uma única coluna, isto é, n = 1.

Exemplo 1.4.  
1
 
A =  4 .
 
 
−5

3. Matriz rectangular: é toda matriz em que o número de linhas é diferente do número de


colunas, isto é, m 6= n.
6 CAPÍTULO 1. GENERALIZAÇÃO SOBRE NOÇÕES DE MATRIZES

Exemplo 1.5.  
2 3 4
A= .
3 0 5

4. Matriz quadrada: é toda matriz em que o número de linhas é igual ao número de colunas,
isto é, m = n.

Exemplo 1.6.  
2 −1
A= .
3 0
Nota 1.2. A ordem da matriz quadrada é n × n ou, simplesmente, n.

5. Matriz nula: é toda matriz em que todos os seus elementos são iguais a zero, isto é,
aij = 0, ∀i, j . A matriz nula indicaremos por Om×n .

Exemplo 1.7.  
0 0
A= .
0 0
Denição 1.2 (Diagonal principlal e secundária). Seja A = (aij ) uma matriz quadrada de
ordem n. Os elementos aij , em que o índice da linha é igual ao índice da coluna, isto é,
i = j , constituem os elementos da diagonal principal. Os elementos aij em que a soma
dos índices é igual a soma da ordem e uma unidade, ou seja, i + j = n + 1, constituem a
diagonal secundária.
 
a11 a12 a13
 
Exemplo 1.8. Considere a seguinte a matriz: A = 
a21 a22 a23  .

 
a31 a32 a33
Os elementos a11 , a22 , a33 constituem a diagonal principal, ao passo que os elementos a13 , a22 , a31
formam a diagonal secundária.

Denição 1.3 (Traço). Seja A = (aij ) uma matriz quadrada de ordem n. Denomina-
se traço da matriz A, a soma dos elementos da diagonal principal da matriz A, o qual
indicaremos por tr(A), ou seja,

tr(A) = a11 + a22 + · · · + ann .


1.1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 7

Exemplo 1.9. Se  
2 3 4
 
A =  3 0 5 ,
 
 
−4 1 6

então o traço da matriz A é dada por tr(A) = 2 + 0 + 6 = 8.

6. Matriz diagonal: a matriz quadrada A = (aij ) de ordem n tal que os elementos aij = 0,
quando i 6= j , é chamada matriz diagonal, ou seja, é toda a matriz quadrada em que os
elementos que não pertencem a diagonal principal são todos iguais a zero.

Exemplo 1.10.  
2 0 0
 
A = 0 5 0 .
 
 
0 0 6

7. Matriz identidade ou unidade: a matriz diagonal em que todos os elementos da diagonal


principal são iguais a um (1), é chamada matriz identidade ou unidade. Indicaremos uma
matriz identidade de ordem n por In , ou simplesmente por I .

Exemplo 1.11. Exemplos de matrizes identidades:


 
(a) I1 = 1 (matriz identidade de ordem 1);

 
1 0
(b) I2 =   (matriz identidade de ordem 2);
0 1
 
1 0 0
 
(c) I3 = 0 1 0 (matriz identidade de ordem 3), etc.
 
 
0 0 1

8. Matriz triangular superior: é a matriz quadrada em que são nulos todos os elementos
abaixo da diagonal principal, ou seja, aij = 0, para i > j .
8 CAPÍTULO 1. GENERALIZAÇÃO SOBRE NOÇÕES DE MATRIZES

Exemplo 1.12.  √ 
2 −3 5
 
A = 0 1 .
 
5
 
0 0 6

9. Matriz triangular inferior: é a matriz quadrada em que são nulos todos os elementos
acima da diagonal principal, ou seja, aij = 0, para i < j .

Exemplo 1.13.  
2 0 0
 
A = 1 5 0 .
 
 
4 7 1

10. Matriz transposta: a matriz transporta de A é a matriz que se obtem de A trocando-se


ordenamente, suas linhas por colunas (ou, suas colunas por linhas). A matriz transposta de
A indicada por AT . Assim, se A = (aij )m×n , então AT = (aji )n×m .
 
  2 1
2 0 0  
Exemplo 1.14. (a) Se A =   , então A = 0 5.
T  
1 5 0  
0 0
   
cos a b cos a a
(b) Se A =  , então AT =  .
a sen b b sen b

11. Matriz simétrica: uma matriz quadrada é simétrica se for igual a sua transposta, ou seja,
A = AT .
   
2 1 2 1
Exemplo 1.15. A matriz A =   é simétrica, visto que AT =   = A.
1 5 1 5

12. Matriz anti-simétrica: uma matriz quadrada é anti-simétrica se AT = −A.


 
0 a
Exemplo 1.16. A matriz A =   é anti-simétrica, visto que se cumpre a igualdade
−a 0
AT = −A.
1.2. OPERAÇÕES COM MATRIZES 9

1.2 Operações com matrizes

1.2.1 Álgebras das matrizes

1 Igualdade de matrizes
Duas matrizes A e B são iguais se e somente se, são do mesmo tipo e os elementos corres-
pondentes são iguais.
Assim, se A = (aij )m×n e B = (bkl )p×q , então A = B se e só se (m = p, n = q e aij = bkl ).
   
1
1 0, 5 1
Exemplo 1.17. As matrizes A =   e B =  √2  são iguais, já que têm a
0 2 1 4
mesma ordem e os seus elementos correspondentes são iguais.

2 Adição de matrizes
A adição de duas matrizes A e B do mesmo tipo m × n, é a matriz designada por A + B , do
mesmo tipo, em que cada elemento é a soma dos dois elementos correspondentes em A e B .
Assim, se A = (aij )m×n e B = (bij )m×n , então A + B = (aij + bij )m×n .
   
1 0 −2 2 5 0
Exemplo 1.18. Se A =  eB= , então
3 2 4 1 3 −1
    
1 0 −2 2 5 0 3 5 −2
A+B = + = .
3 2 4 1 3 −1 4 5 3

3 Multiplicação de uma matriz por um escalar


A multiplicação de uma matriz A por um número real K (não nulo) é a matriz designada
por kA em que cada elemento é o produto dos elementos correspondentes em A, pelo número
k . Isto signica multiplicar cada elemento de A pelo escalar k ..
Desta forma, se A = (aij )m×n e k ∈ R, k 6= 0, então kA = (k · aij )m×n .

Exemplo 1.19. Considere os seguintes exemplos:


     
1 4 1 4 2 8
     
(a) Se A =  0 2, então 2A =  0 2 =  0 4  .
     
     
−3 5 −3 5 −6 10
10 CAPÍTULO 1. GENERALIZAÇÃO SOBRE NOÇÕES DE MATRIZES



−1 −4
 
(b) −A = (−1)A =  0 −2 .
 
 
3 −5

Nota 1.3 (Diferença de matrizes). A diferença entre duas matrizes A e B denotaremos por
A − B , e deniremos como se segue: A − B = A + (−B).
Assim, se A = (aij )m×n e B = (bij )m×n , então A − B = (aij − bij )m×n .
   
4 1 2 3
Exemplo 1.20. Se A =  eB= , então
3 −2 1 3
     
4 1 2 3 2 −2
A−B = − = .
3 −2 1 3 2 −5

4 Multiplicação de matrizes
Dadas duas matrizes A = (aij )m×n e B = (bik )n×p . Chama-se matriz produto de A por B ,
denotada por A · B , a matriz C = (cik )m×p , cujos elementos são obtidos pela fórmula:
n
X
cik = ai1 · b1k + ai2 · b2k + · · · + ain · bnk = aij · bjk ,
j=1

pata todo i ∈ {1, 2, . . . , m} e j ∈ {1, 2, . . . , p}.

• A denição dada garante a existência do produto A · B se, e somente se, o número de


colunas de A for igual ao número de linhas de B ;
• O produto é uma matriz que tem o número de linhas de A e o número de colunas de
B ., ou seja, Am×n · Bn×p = Cm×p .
 
  2 3
4 1 2  
Exemplo 1.21. Considere as matrizes A =   e B = 1 3 . Então, o
 
3 −2 1  
0 −1
produto de A por B é dada por:
 
  2 3    
4 1 2    4·2+1·1+2·0 4 · 3 + 1 · 3 + 2 · (−1) 9 13
A·B =  ·1 3  = = .
3 −2 1   3 · 2 + (−2) · 1 + 1 · 0 3 · 3 + (−2) · 3 + 1 · (−1) 4 2
0 −1
1.2. OPERAÇÕES COM MATRIZES 11

1.2.2 Propriedades das matrizes

1 Propriedades da soma de matrizes


Sendo A, B e C matrizes do mesmo tipo, valem as seguintes propriedades:

(a) A + B = B + A (Comutativa).

(b) (A + B) + C = A + (B + C) = A + B + C , (Associativa).

(c) A + O = O + A = A (Existência do elemento neutro).

(d) A + (−A) = (−A) + A = O (Existência do elemento oposto ou simétrico).

2 Propriedades do produto de matrizes por um escalar


Sejam A e B matrizes do mesmo tipo, a e b escalares. Valem as seguintes propriedades:

(a) a(b A) = (ab) A.

(b) a(A + B) = aA + bB .

(c) (a + b)A = aA + bA.

(d) 1 · A = A.
   
4 1 2 3
Exemplo 1.22. Considere as seguintes matrizes: A =   e B = . Achar
3 −2 1 3
X = 2A + 3B. Temos:
         
4 1 2 3 8 2 6 9 14 11
X = 2A + 3B = 2   + 3 = + = .
3 −2 1 3 6 −4 3 9 9 5

3 Propriedades de produto de matrizes


Sendo A, B e C matrizes (cujos tamanhos são tais que se podem fazer as operações indicadas),
valem as seguintes propriedades:

(a) A · O = O · A = O.

(b) (A · B) · C = A · (B · C), (Associativa).

(c) A(B + C) = AB + AC e (A + B)C = AC + BC , (Distributiva a esquerda e a direita).


12 CAPÍTULO 1. GENERALIZAÇÃO SOBRE NOÇÕES DE MATRIZES

(d) A · I = I · A = A (Elemento neutro).

(e) (kA) · B = k(A · B) = A · (kB).

Nota 1.4. É preciso observarmos o seguinte:

• Em geral, o produto de matrizes não é comutativo, isto é, A · B 6= B · A.

• A · B = O sem que necessariamente se verique A = O ou B = O (i.e., o produto de duas


matrizes é nula não signica que pelo menos uma dela é nula).

Denição 1.4. As equações que envolvem matrizes ou cujas incógnitas são matrizes denominam-se
equações matriciais.
   
−3 1 0 3
Exemplo 1.23. Considere as seguintes matrizes: A =   e B = . Resolva a
0 −2 1 2
seguinte equação matricial: 4X + 3B = −A + 2X .
Solução: Agrupando as matrizes semelhantes, temos:

4X − 2X = −A − 3B

2X = −A − 3B
1
X = (−A − 3B)
2    
1 −3 1 0 9
= −  − 
2 0 −2 3 6
   
3
1 3 −10 −5
=  = 2 .
2 −3 −4 − 32 −2

Denição 1.5. Sejam A e B duas matrizes quadradas de ordem n. Diz-se que A e B são matrizes
permutáveis se e só se A · B = B · A. Nestas condições dizemos que A e B comutam.
   
a b d −b
Exemplo 1.24. As matrizes A =   e A =   são permutáveis (ou comutam),
c d −c a
porque  
ad − bc 0
A·B =B·A= .
0 ad − bc
1.2. OPERAÇÕES COM MATRIZES 13

1.2.3 Potências de matriz

Denição 1.6. Seja A uma matriz quadrada de ordem n e seja m ∈ N. Denimos



 I se m = 0,
Am =
 Am−1 · A se m ≥ 1.

A partir da denição, temos: A1 = A, A2 = A·A, A3 = A2 ·A = A·A·A, e assim sucessivamente.

Exemplo 1.25. Se  
0 −1
A= ,
1 0
então      
0 −1 0 −1 −1 0
A2 = A · A =  · = .
1 0 1 0 0 −1

4 Propriedades da transpostas
Sendo A e B matrizes (cujos tamanhos são tais que se podem fazer as operações indicadas),
valem as seguintes propriedades:
T
(a) AT = A.

(b) (A ± B)T = AT ± B T .

(c) (kA)T = kAT , com k ∈ R.


m
(d) AT = (Am )T , onde m é um número inteiro não negativo.

(e) (A · B)T = B T · AT .

5 Propriedades da potência
Sejam A e B matrizes quadradas de mesma ordem, temos:

(i) (Am )n = Amn , ∀m, n ∈ N.

(ii) Am · An = Am+n , ∀m, n ∈ N..


n  
n
(iii) Se A e B são permutáveis, então (A · B) = A · B e (A + B) = An−k · B k ,
X
n n n n

k=0
k
 
n n!
onde = , ∀ k, n ∈ N, 0 ≤ k ≤ n.
k k!(n − k)!
14 CAPÍTULO 1. GENERALIZAÇÃO SOBRE NOÇÕES DE MATRIZES

Exemplo 1.26. Se A e B são matrizes permutáveis, então


(A + B)2 = A2 + 2A · B + B 2 e (A + B) · (A − B) = A2 − B 2 .

1.2.4 Expressões polinomiais envolvendo matrizes

Se A é uma matriz quadrada de ordem n, e se

p(x) = am xm + · · · + a1 x + a0 (1.1)

é um polinómio qualquer de grau m, então denimos

p(A) = am Am + · · · + a1 A + a0 I

ONDE I é a matriz identidade de ordem n. Em outras palavras, p(A) é a matriz de ordem n que
se obtem de (1.1) pela substituição de x por A e a0 por a0 I .
 
−1 2
Exemplo 1.27 (Polinómio matricial). Se p(x) = 2x2 − 3x + 4 e A =   então
0 3

p(A) = 2x2 − 3x + 4 = 2A2 − 3A + 4I


 2    
−1 2 −1 2 1 0
= 2  − 3  + 4 
0 3 0 3 0 1
       
2 8 −3 6 4 0 9 2
=  − + = .
0 18 0 9 0 4 0 13

1.3 Matrizes inversíveis

Denição 1.7. Dada uma matriz quadrada A, de ordem n. Diz-se que A inversível se existir
uma matriz quadrada B , de mesma ordem, que satisfaça a condição: A · B = B · A = I.

A matriz B que satisfaz a condição acima é denominada matriz inversa de A e é representada


por A−1 . Desta forma, tem-se A · A−1 = A−1 · A = I.

• Se a matriz A não é inversível, dizemos que A é uma matriz singular;

• Se uma matriz quadrada A tem inversa, diz-se A é inversível.


1.3. MATRIZES INVERSÍVEIS 15
   
8 5 −11 7
Exemplo 1.28. Sejam A =  eB= . Então A é inversa de B ou (B é inversa
11 7 −5 8
de A). De facto, temos: A · B = B · A = I.

Teorema 1.1. Se A é uma matriz inversível, então a sua inversa é única.

Exemplo 1.29. Ache a inversa da seguinte matriz


 
1 2
A= .
0 1

Solução: Devemos encontrar uma matriz B tal que: A · B = B · A = I.


Consideremos a matriz  
x y
B= .
z t
Temos:
        
1 2 x y 1 0 x + 2z y + 2t 1 0
A · B = I ⇐⇒  · =  ⇐⇒  = .
0 1 z t 0 1 z t 0 1

Desta igualdade, vem


x + 2z = 1, y + 2t = 0, z = 0, t = 1,

donde obtemos x = 1 e y = −2.


Logo 

1 −2
A−1 =B= .
0 1

Teorema 1.2 (Propriedades da matriz inversa). Se A e B são matrizes inversíveis de ordem


n, então:

1. (A−1 )−1 = A.
−1
2. (A−1 )T = AT .
1 −1
3. (kA)−1 = A , com k ∈ R, k 6= 0.
k
4. (A−1 )m = (Am )−1 , onde m é um número inteiro não negativo.
16 CAPÍTULO 1. GENERALIZAÇÃO SOBRE NOÇÕES DE MATRIZES

5. (A · B)−1 = B −1 · A−1 .

6. A matriz identidade é a sua própria inversa, isto é, I −1 = I.

Denição 1.8. Se A é uma matriz inversível e m é um inteiro não negativo, então A−m se dene
por
A−m = (A−1 )m = (Am )−1

Exemplo 1.30. Resolva a seguinte equação matricial (suponha que as matrizes envolvidas são
tais que todas as operações indicadas estejam denidas): AT X −1 = B 2 .
Solução: Existem muitas formas de procedimento aqui. Uma delas é a seguinte:
−1 T −1 −1
AT X −1 = B 2 =⇒ AT · A X = AT · B2
 −1 T  −1
=⇒ AT · A · X −1 = AT · B2 (Prop. 3 b))
−1
=⇒ I · X −1 = AT · B2 (pela denição de inversa)
−1
=⇒ X −1 = AT · B2 (Prop. 3 d) )
h i−1
−1 −1 T −1 2
 
=⇒ X = A ·B
2 −1
h  i−1
T −1
(Teorema (1.2) a) e e) )

=⇒ X= B · A

=⇒ X = B −2 · AT . (Denição (1.8) e Teorema (1.2) a) )

1.3.1 Transformações ou operações elementares

Denição 1.9. Denominam-se operações elementares de uma matriz as seguintes operações:

1. Permutação de duas linhas (ou colunas);

2. Adicionar à uma linha (ou coluna) a outra multiplicada com um número não nulo.

Se A é uma matriz do tipo m × n, cujas as linhas são L1 , L2 , . . . , Lm respectivamente, indica-


remos as operações acima com os seguintes símbolos:

1. Lr ↔ Ls (a linha r foi permutada com a linha s);

2. Lr → k Lr (a linha r foi substituída por ela própria multiplicada pela constante não nula k );
1.3. MATRIZES INVERSÍVEIS 17

3. Lr → Lr + k Ls (a linha r foi adicionada pela linha s previamente multiplicada por uma


constante não nula k ).

Denição 1.10. Uma matriz de ordem n diz-se matriz elementar se pode ser obtida a partir da
matriz identidade In por meio de uma única operação elementar sobre linhas. Denotaremos uma
matriz elementar por E .

Exemplo 1.31. Considere os seguintes exemplos de matrizes elementares:


 
0 1 0
 
1. E = 1 0 0 (Permute a 1a linha de I3 pela 2a linha),
 
 
0 0 1
 
4 0
2. E =   (Multiplique a 1a linha de I2 por 4).
0 1

Denição 1.11. Dada uma matriz A. Diz-se que uma matriz B , da mesma ordem, é equivalente
à matriz A, e se representa por B ∼ A, se for possível transformar A em B por meio de uma
sucessão nita de operações elementares.

Exemplo 1.32. Considere os seguintes exemplos:


   
1 3 5 1 3 5
   
1. A = 0 0 2  (L2 ↔ L3 ) ∼ A1 = 0 4 12.
   
   
0 4 12 0 0 2
   
1 3 5 1 3 5
   
2. A1 = 0 4 12 (L2 → 41 L2 ) ∼ A2 = 0 1 3.
   
   
0 0 2 0 0 2
   
1 3 5 1 3 5
   
3. A2 = 0 4 12 (L3 → L3 + 2L1 ) ∼ A3 = 0 1 3 .
   
   
0 0 2 2 6 12
18 CAPÍTULO 1. GENERALIZAÇÃO SOBRE NOÇÕES DE MATRIZES

1.3.2 Transformação de uma matriz na matriz identidade

Qualquer matriz quadrada A, de ordem n, não singular, pode ser transformada na matriz
equivalente In , por meio de uma sucessão nita de operações elementares.

Exemplo 1.33. Aplique as operações elementares na matriz


 
2 1 3
 
A = 4 2 2
 
 
2 5 3

de modo a transformá-la na matriz identidade.


   
2 1 3 2 0 3
   
1. A = 4 2 2 (L2 − 2L1 , L3 − L1 ) 4. A = 0 1 0 (L1 − 3L3 )
   
   
2 5 3 0 0 1
   
2 1 3 2 0 0
   
2. A = 0 0 −4 (− 41 L2 , 14 L3 ) 5. A = 0 1 0 ( 12 L1 )
   
   
0 4 0 0 0 1
   
2 1 3 1 0 0
   
3. A = 0 0 1 (L2 ↔ L3 ) 6. A = 0 1 0 .
   
   
0 1 0 0 0 1

Como se vê, a matriz A, por meio de uma sucessão nita de operações elementares, foi trans-
formada na matriz equivalente I .

Teorema 1.3. Se A é uma matriz inversível, então existe uma sequência nita de operações
elementares que torna a matriz A igual a matriz identidade I. Estas mesmas operações aplicadas
ao mesmo tempo em A e I transforma I em A−1 .

1.3.3 Inversão de uma matriz por meio de operações elementares

As operações elementares (sucessões nitas) que permitem transformar qualquer matriz qua-
drada à uma matriz identidade, servem de base na determinação da inversa de qualquer matriz da
1.3. MATRIZES INVERSÍVEIS 19

mesma ordem. Este processo de cálculo da inversa chama-se método de condensação. Procedemos
da seguinte forma (no caso de uma matriz A):

(i) Coloca-se, ao lado da matriz A, uma matriz I , separada por um traço vertical;

(ii) Transforma-se, por meio de operações elementares, a matriz A numa matriz I , aplicando-se
simultaneamente, à matriz I , colocada ao lado de A, as mesmas operações elementares.

Simbolicamente, temos:

(A | I) → operações elementares → (I | A0 ),

de modo que,
A−1 = A0 .

Exemplo 1.34. Seja a matriz  


1 2 3
 
A = 2 5 3 .
 
 
1 0 8
Determine a sua inversa aplicando operações elementares.
Solução:
   
1 2 3 | 1 0 0 1 2 3 | 1 0 0
  −−−−−−−−−−−−−−−−−→   −−−−−−−−−−−−−−−−→
2 5 3 | 0 1 0 (−2L1 + L2 , −L1 + L3 ) 0 −3 | −2 1 0 (2L2 + L3 , −2L2 + L1 )
   
1
   
1 0 8 | 0 0 1 0 −2 5 | −1 0 1
   
1 0 9 | 5 −2 0 1 0 9 | 5 −2 0
  −−−→   −−−−−−−−−−−−−−−−→
0 1 −3 | −2 1 0 (−L3 ) 1 −3 | −2 0  (3L3 + L2 , −9L3 + L1 )
   
0 1
   
0 0 −1 | −5 2 1 0 0 1 | 5 −2 −1
 
1 0 0 | −40 16 9
 
0 1 0 | 13 −5 −3 .
 
 
0 0 1 | 5 −2 −1
De modo que  
−40 16 9
 
A−1 =  13 −5 −3 .
 
 
5 −2 −1
20 CAPÍTULO 1. GENERALIZAÇÃO SOBRE NOÇÕES DE MATRIZES

LISTA DE EXERCÍCIOS PROPOSTOS

1 Para controlar a alimentação, uma pessoa faz uma pesquisa sobre a quantidade de energia
e de proteínas presentes em 100 gramas de alguns tipos de carne. Constatou que 100 g de
lé de frango grelhado tem 159 kcal de energia e 32 g de proteínas; a sardinha assada tem
164 kcal de energia e 32, 2 g de proteínas; e o contralé grelhado tem 278 kcal de energia e
32, 4 g de proteínas.

(a) Organize esses dados em uma tabela;

(b) Escreva uma matriz correspondente a essa tabela. Qual é o tipo dessa matriz?

2 Represente explicitamente cada uma das matrizes:

(a) A = (aij )m×n , m = 2, n = 3, aij = i + 2j.

(b) B = (bij )m×n , m = 3, n = 2, aij = j i .



 1 se i = j,
(c) C = (cij )m×n , m = n = 3, aij =
 i + j se i 6= j.
 
πj
(d) D = (dij )m×n , m = 2, n = 3, dij = i + sen .
2
(e) A = (aij )m×n , m = n = 4, aij = (i − 1)j .

 2 se |i − j| ≤ 1,
(f) E = (eij )m×n , m = n = 4, eij =
 0 se |i − j| > 1.

 1 se 6 ≤ i + j ≤ 8,
(g) E = (eij )m×n , m = n = 6, eij =
 0 se caso contrário.

3 Determine as incógnitas de modo que se cumpram as seguintes igualdades:


   
2
x x −5 6 11
(a)  = .
0 x 0 4
 
x2 − 15 0
(b)   = I2 .
0 x−3
1.3. MATRIZES INVERSÍVEIS 21
     
x y x 6 4 x+y
(c) 3  = + .
z w −1 2w z+w 3
     
5 3 a b 2 −2
(d) 2  − = .
−1 1 c d 0 1
 T
  x2 − 5 5
2 4 3  
(e)  = x + 6 2 .

5 2 1  
3 1

4 Dadas as matrizes:
     
1 4 −3 2 4 3 −2 0 7
A= , B =  , C =  .
4 2 0 5 2 1 5 6 1

Calcule:

(a) A + 2B − 3C. (c) 2B T − AT + 3C T . 1


(e) (A + 2B) − 3C.
3
1 2
(d)
T
(b) −A + 2B + 4C. A + B − C. (f) (B − 2C)T − 3C T .

2 3

5 Considere as matrizes:
     
1 2 −3 3 −1 2 4 1 2
     
A = 5 0 3  , B = 4 2 5 , C = 0 3 2 .
     
     
1 −1 1 2 0 3 1 −2 3

Calcule:

(a) X = 5B + 3A − C. (c) Z = ABC − BC.

(b) Y = A(B + C). (d) W = (A − B)(A − C)(B − C).


 
0 1 2
 
6 (a) Determine os valores de x, y e z de modo que a matriz M = x 3 y  seja simétrica.
 
 
z 4 5
 
a−1 2
(b) Calcule a, b e c de modo que a matriz   seja anti-simétrica.
b c−1
22 CAPÍTULO 1. GENERALIZAÇÃO SOBRE NOÇÕES DE MATRIZES

  
−2 x 1 −1
(c) Determine o valor de x para que o produto das matrizes A =  eB = 
3 1 0 1
seja uma matriz simétrica.

7 Considere as matrizes:
     
2 1 2 3 2 5
A= , B =  , C =  .
5 2 0 −2 1 −3

Resolva as seguintes equações matriciais (ache a matriz incógnita X ):

(a) A + X T = B T + C. (d) −X + 3(A + X) − B = C.


T
(b) (A − 3X)T = 2C 2 − 4BI. (e) −2B + A + 2X T = 3X − C T .
T
(c) 2X + A = 2B − 3X + C. (f) AT − 3X = −5X T + B.

8 Dadas as matrizes:
   
   −2 1 0  
1 2 3 2 4 3       1 0
A= , B =   3  , D = 2 −1 , E = 3 −1 , F = 
, C =  .
  
2 1 −1 5 2 1     0 1
1 1 2

Calcule, quando possível:

(a) −5A + 2B. (d) C · A. (g) C T · E − 3D.

(b) B + F. (e) E T + (−A). (h) E · F + AT − B T .

(c) A · C. (f) C · D + 2E − AT . (i) B · E.

9 Considere as matrizes:
     
1 2     1 5 2 6 1 3
  4 −1 1 4 2    
A = 2 , B = , C = , D = −1 0 1 , E = −1 1 2 .
     
1    
  0 2 3 1 5    
3 0 3 2 4 4 1 3

Calcule, quando possível:


1.3. MATRIZES INVERSÍVEIS 23

(a) −(D + 2E).


T
(d) BAT − 2C .

(b) B T CC T − AAT . (e) tr 4E T + D .


 

(c) C T AT + 2E T . (f) 4(B)C + 2B.

10 Considere as matrizes:
     
2 −3 −5 −1 3 5 2 −2 −4
     
A = −1 4 , B = 1 −3 −5 , C = −1 3 4 .
     
5    
     
1 −3 −4 −1 3 5 1 −2 −3
Mostre que:

(a) AB = BA = O, AC = A e CA = C.
(b) Use os resultados de (a) para mostrar que:

i. ACB = CBA. iii. (A ± B)2 = A2 + B 2 .


ii. A2 − B 2 = (A − B)(A + B).

11 Ache as matrizes X e Y tais que:


   
0 1 2 −7
X +Y =  e X −Y = .
−6 4 4 6

12 Determine p(A) nos seguintes casos:


 
−1 2
(a) p(x) = x2 − 4x − 1 e A =  .
0 3
 
1 2
(b) p(x) = x2 − x + 1 e A =  .
2 1
 
1 2
(c) p(x) = x3 − 4 e A =  .
−2 4
 
1 3 2
 
(d) p(x) = x − x − 1 e A = 0 1 −2.
2  
 
0 0 1
24 CAPÍTULO 1. GENERALIZAÇÃO SOBRE NOÇÕES DE MATRIZES

 
2 1 3
 
13 Dada a matriz A = 1 −1 2. Mostre que A3 − 2A2 − 9A = 0.
 
 
1 2 1

14 Resolva os sistemas matriciais, determinando matrizes X e Y :


   
 1 1 −2 0
 2X + 3Y = A,    
(a) sabendo que A = 3 2 e B =  5 2  .
   
 −X − Y = B,    
0 2 4 −1
    
 3X + −Y = 2A, 1 −2 −2 0
(b) sabendo que A =  eB= .
 X − 4Y = −B, 2 4 3 1
    
 −X + 4Y = AT , 1 1 2 0
(c) sabendo que A =  eB= .
 −2X − Y = 3B, −3 2 0 2

15 Encontre a inversa das seguintes matrizes:


   
2 0 2 1 2 6
   
(a) A = 0 1. (c) C = 0 1 5.
   
1
   
1 3 0 2 3 7
   
1 1 0 1 2 −4
   
(b) B = 0 1. (d) D = −1 −1 5 .
   
1
   
1 0 2 2 7 −3

16 Sejam A, B, C e D matrizes quadradas inversíveis de ordem n. Resiolva, caso seja possível,


as seguintes equações matriciais (em ordem a X ):

(a) (B + X)A = C. (d) (X − A)2 = B + (X − A)X.


(b) B(CA + 3X) = DX.
−1
(e) (BX)T + CD

= I.
(c) (BC)−1 CBX = I.
1.3. MATRIZES INVERSÍVEIS 25

17 Use a informação dada para encontrar a matriz A:


     
2 −1 −3 2 −1 2
(a) A−1 = . (b) (5A)−1 = . (c) (I +2A)−1 =  .
3 5 1 −2 4 5
 
2 4
18 Dada a matriz A =   . Calcule:
0 1
(a) A−3 . (b) A2 + A−2 . (c) A2 − 2A − I.
 
0 1
19 Dada a matriz A =   . Calcule:
−1 1

(a) A2 , A3 , . . . , A7 .

(b) Qual é a matriz A2023 ? Porquê?

20 Encontre uma fórmula para An (n ∈ N) nos seguintes casos:


   
1 1 0 1 0
(a) A =  .  
(c) A = 0 0 1 .
 
0 1
   
1 2 1 0 0
(b) A =  .
0 1
26 CAPÍTULO 1. GENERALIZAÇÃO SOBRE NOÇÕES DE MATRIZES
Referências Bibliográcas

[1] B. David Poole (2011). Álgbra lineal, Una introducción moderna. 3a ed, Cengage Learning
Editors, México.

[2] Howard Anton (2001). Álgebra linear com aplicações. 8a ed, Porto Alegre: Bookman.

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