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LEONARDO SILVA SILVEIRA

RA: 8106594

DIREITO CANÔNICO II
PORTFÓLIO – CICLO DE APRENDIZAGEM 2

CURITIBA – PR
2023
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PORTFÓLIO DO CICLO DE APRENDIZAGEM 2

Nesse momento do curso, temos refletido sobre os Sacramentos do ponto de


vista do Direito Canônico. O texto a seguir, portanto, busca responder a algumas
questões levantadas sobre os sacramentos em geral e, mais especificamente, sobre as
noções jurídicas acerca do sacramento do Batismo e foi estruturado segundo as
orientações da proposta desse portfólio.

Sacramentos segundo o Código de Direito Canônico


A liturgia da Igreja, entendida “como o exercício do múnus sacerdotal de Jesus
Cristo” (CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO, 2022, n. 834), é constituída de sinais
sensíveis que, ao mesmo tempo, significam e operam a santificação dos homens, além
de prestar o culto público a Deus. Esses sinais estão contidos especialmente nos
sacramentos instituídos por Jesus Cristo e celebrados por Sua Igreja como continuação
de Sua ação salvífica na história (CONCÍLIO VATICANO II, 1963, n. 7). Em síntese,
os sacramentos “constituem sinais e meios com que se exprime e fortalece a fé, se presta
culto a Deus e se opera a santificação dos homens” (CÓDIGO DE DIREITO
CANÔNICO, 2022, n. 840). O Catecismo da Igreja Católica (1999, n. 1131) esclarece
que os Sacramentos têm em Cristo sua instituição e à Igreja se confiou a sua
distribuição. Há de se destacar, portanto, que a legitimidade dos sacramentos enquanto
culto da Igreja prestado a Deus está ligada à três condições explicitadas no § 2 do cânon
n. 834 do Código de Direito Canônico (2022), e que se compreendem mais plenamente
à luz do Catecismo, a saber: devem ser exercidos “em nome da Igreja, por pessoas
legitimamente escolhidas e por meio de ações aprovadas pela autoridade eclesial”. Tudo
isso nos leva à compreensão da estreita ligação que há entre os Sacramentos e a Igreja,
primeiro por aqueles a constroem juridicamente (RIBEIRO, 2014, p. 58) e, segundo,
porque cabe a essa regular os critérios de liceidade e validade das celebrações litúrgicas
(CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO, 2022, n. 841).
Dessa reflexão, deriva o elenco dos elementos essenciais para a administração
dos sacramentos. O primeiro deles é o sinal sacramental, união de “matéria (coisas ou
ações) e forma (palavras) mediante a qual se determina o significado do sinal”
(RIBEIRO, 2014, p. 16). Há também a realidade significada e causa pelo sinal, isto é, a
“graça santificante concedida por Deus a quem o recebe [o sacramento]” (RIBEIRO,
2014, p. 16). Por fim, são elementos essenciais o ministro do sacramento, que age na
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pessoa de Cristo e em nome da Igreja, o sujeito do sacramento, em favor de quem ele é


celebrado, e a comunidade de fé, que celebra o rito pela comunhão eclesial (RIBEIRO,
2014, pp. 16-17).

Eficácia jurídica dos sacramentos


Retomando um pensamento anterior, podemos afirmar que os sacramentos, além
de seu efeito último que é comunicar a graça ao sujeito que o recebe (RIBEIRO, 2014,
p. 16), possui efeitos diversos que não são ignoráveis, como, por exemplo, a construção
da comunhão eclesial: “a Igreja faz os sacramentos e os sacramentos fazem a Igreja
(RIBEIRO, 2014, p. 20). Essa afirmação deve ser compreendida em sentido
eclesiológico amplo, isto é, vendo a Igreja como realidade, ao mesmo tempo visível e
espiritual, hierárquica e mística, terrestre e celeste (CATECISMO DA IGREJA
CATÓLICA, 1999, n. 771), o que implica na conclusão de que os sacramentos têm,
além de toda a eficácia espiritual, uma validade jurídica, na medida em que influenciam
o ordenamento da Igreja, geram a igualdade e a diversidade funcional entre os fiéis,
como no caso dos Sacramentos do Batismo e da Ordem, respectivamente, e produzem
vínculo jurídico (RIBEIRO, 2014, p. 58). Como exemplo, vejamos a síntese de Ribeiro
(2014, p. 59):

Pelo batismo o homem se incorpora à Igreja e nela se constitui pessoa,


com os deveres e direitos que são próprios dos cristãos (cân. 96). No
batismo, fundamenta-se a origem do vínculo jurídico de incorporação
à Igreja e do estatuto jurídico de fiel, com os deveres e direitos que o
integram. Assim, pelo sacramento da ordem, o fiel incorpora-se à
ordem dos clérigos, dando origem a um estatuto jurídico próprio, com
um conjunto de obrigações e direitos que afetam diretamente sua vida
e ministério. Quanto ao matrimônio, além de uma série de efeitos
jurídicos que derivam do pacto conjugal, há um importante efeito que
deriva do sacramento: o vínculo conjugal. Tal vínculo adquire com a
consumação do matrimônio uma especial firmeza a ponto de não
poder ser dissolvido por ninguém (cân. 1141).

Em resumo, sendo a Igreja uma realidade também juridicamente estruturada, a


administração e recepção dos sacramentos têm impacto direto sobre essa estrutura
gerando vínculos jurídicos e alterando o status pessoal do sujeito a quem se destina.

Sacramento do Batismo
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O sacramento do Batismo é a “porta dos sacramentos, necessário de fato ou ao


menos em desejo para a salvação” (CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO, 2022, n.
849). Isso significa, primeiro, que todo sacramento deve ser administrado apenas aos
fiéis batizados (CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO, 2022, n. 842) e que, segundo, o
Batismo “é o sinal e o instrumento do amor de Deus que liberta do pecado e comunica a
participação à vida divina” (RIBEIRO, 2014, p. 90), operando, portanto, a salvação.
Dito isso, podemos apresentar a disciplina jurídica da Igreja acerca do Batismo,
destacando as questões fundamentais acerca do sujeito, do ministro, da necessidade e
dos efeitos deste sacramento.
“Tem capacidade para receber o Batismo todo e só o ser humano ainda não
batizado” (CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO, 2022, n. 864). Com isso, a Igreja
estabelece que o sujeito do Batismo é aquele a quem ele ainda não tenha sido conferido,
uma vez que este sacramento implica em caráter indelével (CÓDIGO DE DIREITO
CANÔNICO, 2022, n. 849) e, portanto, é irrepetível. Há, é uma verdade, uma
diversidade de ritos e de preparações para eles no caso do Batismo de crianças e de
adultos (RIBEIRO, 2014), mas em todos os casos, a condição para se ser sujeito deste
sacramento é a mesma.
“O ministro ordinário do Batismo é o Bispo, o presbítero e o diácono”
(CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO, 2022, n. 861). Fora do caso de necessidade,
esses ministros têm a missão de batizar tanto crianças quanto adultos, ainda que neste
último caso aconselha-se que se reserve ao Bispo o direito de fazê-lo (CÓDIGO DE
DIREITO CANÔNICO, 2022, n. 863). De maneira supletiva ou em caso de
necessidade, no entanto, prevê-se como ministros extraordinários os catequistas, pessoas
delegadas pelo Ordinário local e qualquer pessoa movida por reta intenção (RIBEIRO,
2014, p. 88).
“O Batismo é necessário, para a salvação, para aqueles aos quais o Evangelho
foi anunciado e que tiveram a possibilidade de pedir este sacramento” (CATECISMO
DA IGREJA CATÓLICA, 1999, n. 1257). Com essa frase, fica claro que, sim, o
Batismo é o meio ordinário conhecido pela Igreja pelo qual os seres humanos podem
participar da salvação prometida e operada por Deus. Contudo, há de se reconhecer que
a realidade nem sempre permite a todos os seres humanos a oportunidade de aproximar-
se da pia batismal e, por isso, considera-se também a possibilidade de que pessoas que
passaram por outra forma de batismo alcancem igualmente a salvação.
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Costuma-se distinguir três espécies de batismo: de água, que é o batismo que


conhecemos e praticamos; de desejo, que seria o caso daqueles que
morreram, desejando ardentemente o batismo, mas não chegam a recebê-lo;
de sangue, que é o caso daqueles que foram martirizados antes da recepção
do batismo. (RIBEIRO, 2014, p. 83)
Note-se que, além dessa tríplice possibilidade de experiência do batismo e da
afirmação inabalável da necessidade dele para a salvação, o próprio Catecismo da Igreja
Católica (1999, n. 1257) reconhece que Deus pode salvar mesmo sem o Batismo,
afirmando que “Deus vinculou a salvação ao sacramento do Batismo, mas ele mesmo
não está vinculado a seus sacramentos” e que, portanto, ainda que a Igreja, em vista de
sua missão, não possa contar com isso, o poder redentor de Deus não diminui em face
da instituição do Sacramento do Batismo.
“Os dois efeitos principais [do Batismo] são, pois, a purificação dos pecados e o
novo nascimento no Espírito Santo” (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 1999, n.
1262). Trata-se aqui de um resumo dos efeitos deste sacramento, pelo qual, por
exemplo, o ser humano alcança a libertação do pecado original e dos pecados pessoais,
se adulto, incorpora-se à Igreja, participa da missão de Cristo sacerdote-profeta-rei e
tem impresso em si o caráter indelével desta nova vida (RIBEIRO, 2014, p. 82).
Juridicamente, é verdade também, que o Batismo traz um efeito eclesiológico e
universal, pois dá forma ao Povo de Deus, gerando a unidade da Igreja e a igualdade de
dignidade de cada fiel participante desse sacerdócio comum (RIBEIRO, 2014).
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BIBLIOGRAFIA

Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.


Catecismo da Igreja Católica. Petrópolis: Vozes, 1999.
Código de Direito Canônico. Brasília: Edições CNBB, 2022.
CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada
Liturgia. Vaticano, 1963. In: Compêndio do Vaticano II. 31ª ed. Petrópolis: Vozes,
2015.
RIBEIRO, V. J. Direito Canônico II. Batatais: Claretiano, 2014.

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