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RESUMO

Os sacramentais são como sinais sagrados criados no modelo de sacramentos. A finalidade dos
sacramentais é especialmente de caráter espiritual por intercesão da Igreja. É de instituição
eclesiástica, portanto, a autoridade da Igreja pode suprimir, criar, e legislar sobre os
sacramentais. Neste sentido, diferencia-se dos sacramentos que são de instituição divina. Sendo
assim, a Igreja não tem poder de suprimir, modificar nem criar mais sacramento. A Igreja pode
legislar sobre a forma da celebração dos sacramentos. O Concilio Vaticano II situa os
sacramentais em torno do Mistério Pascal de Cristo, distingue o sentido ontológico e
eclesiológico e sugere que alguns podem ser administrados por leigos.

INTRODUÇÃO

Os Sacramentais se assemelham aos sacramentos como sinais sagrados que manifestam valores
espirituais e concedem beneficios aos fieis. Eles diferem dos sacramentos por não serem sinais
da graça e por não produzirem benefícios espirituais diretamente e sim pela mediação da Igreja.

"A Igreja desempenha seu múnus de santificar especialmente por meio da Sagrada Liturgia, que
é tida como o exercício do sacerdócio de Jesus Cristo, na qual, por meio de sinais sensíveis, é
significada (...) é realizada a santificação dos homens" (cân. 834§1). A Igreja é unida a Cristo e é
santificada por Ele, e mediante por Ele e nele torna-se também santificante, por isso, toda a
atividade da Igreja tem como finalidade a santificação dos homens em Cristo, de maineira
particular por meio dos Sacramentos. E entre as ações litúrgicas, os sacramentos ocupam um
lugar de destaque.

Os Sacramentos pertencem à Revelação Divina por instituição de Nosso Senhor Jesus Cristo,
todos os Sacramentos, e com a morte do último Apóstolo, a Igreja cesa a sua Revelação, ela é
quem tutela os Sacramentos em nome do seu Fundador. A Igreja na sua história e na sua
codificação, ela distingue os Sacramentos e Sacramentais, também ela é detentora do Mistério de
Pedro, ou seja, ligar e desligar, é ela que diz quais são os cânones da Sagrada Escritura que
devem ser codificados, canonizados na estrutura jurídica. A Igreja detém como depósito a
Revelação (cf. cân. 841) organizando o que é interpretação midraxe ou uma participação de um
teólogo dos Padres da Igreja; mas a composição da Sagrada Escritura, a Igreja já sancionou, isto
é, a última Revelação se fechou em Jesus Cristo, Filho de Deus único.

Assim também a Igreja faz com os Sacramentais. O Legislador regula na parte II do Livro IV do
Código de Direito Canônico de 1983 o excercício de outra forma de atos litúrgicos, de culto e de
santificação. Os sacramentais são de instituição eclesiastica, a imitação de certo modo dos
sacramentos instituídos pelo Nosso Senhor Jesus Cristo, e através dos quais os cristãos se
dispõem a receber o efeito principal dos sacramentos, e se santificam de diversas circunstâncias
na vida.
Os sacramentais são classificados em três no sentido estrito: as bênçãos, que por sua vez são
invocativos e constitutivos. O primeiro são ceremonias com as quais se pedi o auxílio divino para
quem usa a coisa benzida; o segundo são cerimonias por meio das quais uma coisa profana se
converte de alguma maneira em sagrada.

Duranteo o desenvolvimento do texto, estaremos apresentando, além do dito acima, e seguindo o


Código da Igreja Latina, o conceito de bênção, da eficácia, da frutuocidade da bênção para os
católicos. Depois veremos como o Legislador abrange para os catecúmenos (câns. 1169§§2-3;
1170), e apresenta as consagrações, que são ceremonias com as que alguma coisa se converte de
profana em sagrada administrando à coisa os santos óleos (cf. cân. 1169§1); assim também
veremos os exorcismos, que são uma forma de admoestação que se fazem em nome de Cristo ao
demônio para que se afaste de uma pessoa ou coisa (cf. cân. 1172).

Também apresentaremos o conteúdo dos cânones referentes aos sacramentais, em primeiro lugar
define a sua natureza (cf. cân.1166), os tipos ou classes e quem pode confeccionar validamente
(cf. câns. 1169-1171), assim também observaremos como o Legislador pode dar normas sobre
quem podem administrar ou confeccionar determinados sacramentais (cf. câns. 1168; 1169;
1172), e a autoridade competente para criar novos, e suprimir ou modificar alguns dos existentes
e interpretar autenticamente (cf. cân. 1167). Em todos esses cânones estão contidas a doutrina do
Sacrosanctum Concilium (cf. SC, n.60).

Diferença entre Sacramentos e Sacramentais

Sacramentos

A atividade santificadora e cultual que se vivencia na Igreja, e por meio dela, tem nos
sacramentos o seu maior expressividade e eficácia, dos quais, a Eucaristia é o centro, o ápice e
fonte de todo o culto, o Povo de Deus experimenta e oferece ao Pai por mediação do Filho e pelo
impulso do Espírito Santo.
"Os demais Sacramentos, como aliás todos os ministérios eclesiásticos e tarefas apostólicas, se
ligam à Sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Pois a Santíssima Eucaristia contém todo o bem
espiritual da Igreja, a saber, o próprio Cristo, nossa Páscoa e pão vivo, dando vida aos homens,
através de Sua Carne vivificada e vivificante pelo Espírito Santo" (PO, 5).

A manifestação central da liturgia é a celebração do Mistério da Morte e Ressurreição de Jesus


Cristo e a prestação de culto a Deus. Porém, a Liturgia não esgota toda a atividade da Igreja, nem
a atividade litúrgica-sacramental constitui o único modo de prestar culto a Deus e de ter a
santificação, ou seja, a função (munus) de santificar da Igreja não se esgota nos sacramentos (cf.
cân. 840) e nos outros atos lítúrgicos como os sacramentais (cf. cân. 1166).

Natureza dos Sacramentos

Para entender melhor a natureza dos Sacramentos, vamos recorrer ao Código de Direito
Canônico de 1983 que dá a definição no cânon 840, tendo como base a compreensão do Concílio
Vaticano II:

"Os sacramentos do Novo Testamento, instituídos pelo Cristo Senhor e confiados à Igreja, como
ações de Cristo e da Igreja, constituem sinais e meios pelos quais se exprime e se robustece a fé, se
presta culto a Deus e se realiza a santificação dos homens; por isso, muito concorrem para criar,
fortalecer e manifestar a comunhão eclesial; em vista disso, os ministros sagrados e os outros fiéis,
em sua celebração, devem usar de suma veneração e devida diligência" (cân. 840).

Em primeiro lugar, os Sacramentos são de instituição Divina, ou seja, quem nos deu o
Sacramento foi o próprio Cristo, o próprio Cristo é Sacramento do Pai por excelencia, porque dá
a Graça, o efeito da Graça é invisível; o Cristo não é outra coisa que o Sacramento da
vissibilidade do Pai, o rosto plausível humano no Mistério da Encarnação.

Os sacramentos foram instituídos pelo próprio Cristo, como já indicamos acima, e nessa
instituição por Cristo encontra-se o embasamento no ordenamento jurídico que chamamos direito
divino, isto é, os elementos inalteráveis, irreformáveis por nenhum poder humano na legislação
sacramental da Igreja, ora, lembremos que embora a instituição dos sacramentos seja divina, a
sua formulação legal é sempre humana, e por isso mesmo pode ser reformável, mas não na sua
essência divina. Todos os sacramentos foram confiados à Igreja para ser administrados por ela
em favor aos fiéis.

Em segundo lugar, os sacramentos são ações de Cristo e da Igreja, nessa ação sacramental, Cristo
é o autor da Graça, Ele encontra-se presente e atuante, é o autor principal dos sacramentos. A
Igreja, seguindo o mandato do seu Fundador -sendo obediente a Ele- e depositária da missão que
lhe foi confiada, continua agindo em todos os sacramentos através dos ministros sagrados
legitimamente ordenados, eles agem in persona Christi. Por isso, a ação sacramental nunca pode
ser considerada como mera ação individual, porque é natureza da ação de Cristo e da Igreja.

Enfim, os sacramentos são sinais e meios pelos quais se exprime e se robustece a fé. O Concílio
Vaticano II diz na Constituição Dogmática Lumen Gentium:

"...a Igreja é em Cristo como que o sacramento ou o sinal e instrumento da íntima união com Deus
e da unidade de todo o genero humano, ela deseja oferecer a seus fiéis e a todo o mundo um
ensinamento mais preciso sobre sua natureza e sua missão universal..." (LG, n.1).

Os Padres Conciliaes tiveram o zelo de dar mais ênfase à importância dos Sacramentos, por isso
afirmaram que são sinais com a finalidade santificadora dos homens:

"Os sacramentos destinam-se à santificação dos homens, à edificação do Corpo de Cristo e ainda
ao culto a ser prestado a Deus. Sendo sinais, destinam-se também à instrução. Não só supõem a fé,
mas por palavras e coisas também a alimentam, a fortalecem e a exprimem. Por esta razão são
chamados sacramentos da fé" (SC, n.59).

Sendo assim, a Igreja dedica na sua organização jurídica, no seu munus jurídico do Código de
Direito Canônico, a prerrogativa para também exercer a sua função pedagógica de santificar
através dos atos de cultos, que é objeto do nosso estudo: os sacramentais.

Sacramentais

Natureza dos Sacramentais

A definição dos sacramentais está contida no cânon 1166 do Códido de 1983, o embasamento
deste cânon está no número 60 da Constituição Sacrosanctum Concilium, do Concílio Vaticano
II.

No Código de 1917, afirma RINCÓN-PÉREZ (2001) descrevia os sacramentais como coisas ou


ações, nas quais a Igreja se serve, suplicando para atingir efeitos espirituais. As coisas materiais,
por exemplo, a água, que tem inúmeras significação. Assim também a àgua pode consistir em
ações através de benção ou unção, dessa maneira tem efeito espiritual pela súplica da Igreja.

No Código atual, o Legislador define assim os Sacramentais: "Os sacramentais são sinais
sagrados, mediante os quais, imitando de certo modo os sacramentos, são significados
principalmente efeitos espirituais que se alcançam por súplica da Igreja" (cân. 1166).

O Legislador expressa no cân. 1166 o entendimento trazido pelo Concílio Vaticano II como
sinais sagrados, faz alução direta à natureza ontológica dos sacramentais, nesse sentido podemos
afirmar que supera a legislação anterior.

No cânon 1166, o Legislador distingue bem dos sacramentos acentuando duas palavras, sinais
sagrados, por meio dos quais se obtem por intercesão da Igreja os efeitos principalmente
espirituais. Enquanto sinais sagrados se asemelham aos sacramentos, porque são sinais sensíveis,
que muitas vezes com matéria e forma. Também são meios públicos de santificação que tem
como finalidade produzir efeitos principalmente espirituais. É uma distinção muito importante
porque remete ao cânon 834 quando apresenta a função de santificar da Igreja. Aqui deve ser
entendido com o binômio, ou seja, ação divina e ação eclesial. Isto é, ação divina que se torna
numa ação eclesial.

Pois,

"Esta semejanza que guarda los sacramentales con los sacramentos queda indicada también en el
canon con el término «imitación»: «los sacramentales son signos sagrados (...) a imitación en
cierto modo de los sacramentos. El alcance de esa imitación es -con reserva del carácter
ontológico- efectivamente amplio" (MARTÍN DEL MAR, 2002, p.450).

Os sacramentais, como indicamos mais acima, são meios públicos, isto vem da personalidade
jurídica da Igreja que é pública, e consequentemente a sacramentalidade dos sacramentais se
torna pública, oferecida pela Igreja para a santificação dos fiéis, inclusive também dos que ainda
não os são, como por exemplo os catecumenos.

A semelhança que se refere MARTIM DEL MAR (2002) é enquanto que produzem uns efeitos
principalmente espirituais. Em alguns casos, esses efeitos podem ser materiais, como por
exemplo, a cura de uma doença ou uma abundante colheita, sempre e quando que sejam
conformes à vontade de Deus, e sempre ao benefício da salvação e santificação das almas. Sendo
assim, os efeitos espirituais são os próprios dos sacramentais. Neste sentido, são graças
especialmente em ordem de virtudes teologais derramadas da fé, esperança e caridade, a perdoar
os pecados veniais, à preparação para os sacramentos, proteção contra os demônios mediante
exorcismos ou também por meio de bênção.

E por fim, a eficácia dos sacramentais provém da Paixão, Morte e Ressurreição do Nosso Senhor
Jesus Cristo. É importante a distinção da graça cristológica e a graça eclesiológica. Por exemplo,
os sacramentos significam o efeito do direito das ações da Igreja; o sacramento é a graça eficácia
cristológica; e os sacramentais detento espirituais do sacramento da graça eclesiais, ou seja, o ato
sacramentais possui a eficácia cristológica e o efeito sacramentais possui a eficácia eclesiológica.
"A diferença com os sacramentos está em que estes agem ex opere operato, enquanto os
sacramentais obtêm sua eficácia ex opere operantis Ecclesiae" (LELIS LARA, 2017, p.236);
dito de outra forma, "os sacramentais não conferem a graça do Espírito Santo à maneira dos
sacramentos, mas, pela oração da Igreja, preparam para receber a graça e dispõem à cooperação
com ela" (Cat.Igr.Cat. n. 1670).

Enfim, podemos afirmar que a Igreja é continuadora no tempo e no espaço do Mistério da


Salvação, ela possui na sua natureza a graça salvífica. E os sacramentais fazem parte desse
Mistério Salvífico que possuem a graça eclesiológica. A seguir, trataremos de alguns
sacramentais que fazem parte o patrimônio eclesial dos sacramentais.

As Bênçãos (câns. 1169§§2-3; 1170)

As bênçãos, por exelência é um sacramental. Bênção significa bem de Deus, portanto, vem de
Deus mediado através dos sacramentais. Segundo RINCÓN-PÉREZ (2001), no Código antigo se
distinguia claramente entre: bênção constitutiva e bênção invocativa. A primeira é uma cerimônia
por meio da qual uma coisa profana se converte, em algum grau, em sagrada, porém sem
empregar um óleo sagrado. A segunda, uma fórma de pedir o auxílio divino para aquele que usa
a coisa benta ou que recebe a bênção. A legislação atual não menciona explícitamente esta dupla
classe de bênção, mas entende-se de coisa sagrada aquela destinada a culto por meio de
dedicação ou benção.

A bênção é um modo de viver o batismo como cristão fiel a dimensão sacramental, porque o
primeiro sacramento é o batismo, e ao receber a bênção através dos sacramentais, o fiel possa ser
coerente com o sacramento que recebeu.

Nos §§ 2 e 3 do cânon 1169, o Legislador dá o preceito sobre quem são os ministros das bênçãos.
Os presbíteros podem dar toda classe de bênçãos -a não ser que está reservadas ao Romano
Pontífice ou ao Bispo- inclusive bênçãos constitutivas, aquela que converte uma coisa em
sagrada, se o Bispo não estiver presente. E os diáconos não podem realizar as bençãos de
consagrações nem dedicações, a não ser aquelas que são permitidas pelo direito.

O Legislador também trata da eficácia das bênçãos no cânon 1170. A eficácia eclesiológica dos
sacramentos. Como já indicamos anteriormente, os sacramentais não possuem a graça em si
mesmo como possui o sacramento, por exemplo, a Eucaristia, é o próprio Cristo. Ora, quem usa
escapulário ou outros objetos benzidos, sempre está na dinâmica pedagógica em relação ao
primeiro sacramento, o batismo. A vida da pessoa deve estar coerente do bem dizer, bem de
Deus.

Os sacramentais nos remetem sempre às bênçãos de Deus. O sacramento não nos remete a Deus,
porque é a propria ação de Deus em nós para a nossa salvação. Não existe um intermediário nos
sacramentos entre Deus e homem. Ora, nos sacramentais sim, há um intermediário entre Deus e
homem, e a finalidade da bênção é o homem vivo e as coisas criadas por Deus.

Também no mesmo cânon 1170, o Legislador vai colocar uma tríplice distinção em relação às
pessoas que podem receber as bênçãos, e são as seguintes: católicos, catecúmenos e não
católicos.

"Son los católicos a quienes en primer lugar se han de impartir las bendiciones; esto es lógico pues
son precisamente ellos, los incorporados a Cristo por el bautismo e integrados en el Pueblo de
Dios (c. 204), los primeros que pueden beneficiarle de los bienes espirituales que administra la
Iglesia" (MARTÍN DEL MAR, 2002, p.460).

E depois,

"En segundo lugar, indica el canon que también pueden recibir bendiciones los catecúmenos; no se
impone ninguna condición, así que se debe entender en general y según dispongan las normas que
afectan a los catecúmenos. Se entiende por catecúmenos aquellas personas que, movidas por el
Espíritu Santo, solicitan explícitamente ser incorporados a la Iglesia (c. 206). Por este deseo están
unidas a ésta, aunque aún no sean miembros -fieles- del Pueblo de Dios; y la Iglesia los acoge ya
como suyos. La Iglesia debe prestar especial atención a los catecúmenos: los inicia en la
celebración de ritos sagrados y les concede algunas prerrogativas propias de los cristianos" (c. 206
§2) (MARTÍN DEL MAR, 2002, p.460).

E por último, o Legislador contempla também os não católicos. Porque são pessoas que podem
ter a boa vontade salvífica de Deus igual os batizados, são membros, em potência do Corpo
Místico de Cristo. A bênção que propõe tem algumas condições que convém ser levados em
consideração na regulamentação da communicatio in sacris, em todo caso para evitar o perigo de
erro do indiferentismo (cf. cân. 844§2).

As Consagrações e dedicações (câns. 1169 § 1; 1171)

O cânon 1169§1 estabelece quem são os ministros que podem realizar validamente, ad
valeditatem, as consagrações e dedicações e bênçãos. Este cânon está em sintonia com o cânon
1168 que outorga a devida potestade exigida aos clérigos para ser ministros dos três tipos de
sacramentais que contempla o cânon.
O Legislador diz claramente, quem goza de caráter de episcopos pode consagrar e dedicar, assim
também o Legislador vai além ao colocar àqueles que são presbíteros para a consagração e
dedicação. RINCOM-PÉREZ (2001) afirma que a consagração é um sacramental pelo que, em
princípio, se destina a Deus de um modo permanente as pessoas. O Código coloca, porém, o
tempo quando se refere a coisas, por exemplo, aos óleos que se usam em alguns sacramentos;
desta maneira o cânon 847§1 manda que os oleos sejam consagrados e bênzidos recentemente.

A dedicaçõ, também é um sacramental por meio do qual se destinam a culto divino de modo
estável determinadas coisas e lugares (cf. cân. 1171). Aqui se trata da dedicação do Templo,
como aquele espaço físico e arquitectónico. Deus quis nos salvar no tempo e no espaço
específico. Por isso, a Igreja decide para expressar a santificação, a consagração e dedicação de
um Templo. E quando a Igreja decide aquele espaço geográfico e litúrgico, ela decide três
dimenções: a santificação, o tempo e o templo.

O espaço geográfico se torna também um espaço de culto, espaço litúrgico onde a Igreja reunida
com seu Povo está celebrando no espaço geográfico, o tempo litúgico do Mistério da Salvação.
Então, aquilo que era profano se torna lugar sagrado, específico para a realização do culto a
Deus. Esse espaço sagrado, o livro litúrgico prescreve a consagração do Templo.

Exorcismos (cân. 1172)

Ghirlanda dá uma definição do exorcismo da seguinte forma: "O exorcismo é um rito mediante o
qual o nome de Deus é invocado para afastar o demônio de uma pessoa, animal ou lugar"
(Ghirlanda, 2003, p. 437). Segundo MARTIN DEL MAR (2002), esta definição é criticada por
recentes estudos porque esta definição não contem o caráter propriamente sacramental do
exorcismo; a colocação sistemática feita no Código aparece como um ato de culto divino para a
santificação.

O cânon 1172 não dá uma definição de exorcismo, no entanto, aparecem dois dados importantes
e claros, o Legislador considera que é um sacramental e somente se fala de exorcismo sobre os
possessos, isto é, sobre pessoas.

A regulamentação canônica, no entanto, não esgota a realidade eclesial sobre o exorcismo


sacramental, pois, o exorcismo é apenas uma parte integrante dos sacramentais, portanto, a
definição dado por Ghirlanda não se exclui completamente da doutrina canônica.

O Código também regula com a prerrogativa proibitiva de quem pode fazer exorcismo, e diz:
"Ningém pode legitimamente fazer exorcismos em possessos, a não ser que tenha obtido licença
peculiar e expressa do Ordinário local" (cân. 1172§1). E "a licença deve ser dada somente a
sacerdotes dotados de piedade, ciência, prudência e integridade de vida" (GHIRLANDA, 2003,
p. 437).

O Legislador, também estabelece para a eficácia do exorcismo a plena comunhão e harmonia


com a Igreja. É isto se dá àquele que possui o mandato do Bispo: é a dimensão jurídica, é nessa
que se encontra a comunhão, a obediência.

A autoridade competente e os ministros dos sacramentais (câns. 1167; 1168ss.)

Os sacramentais são organizados pelo Legislador na sua vida de sacramentalidade, no Mistério


Salvífico e também nos seus atos. Ele define os sacramentais, como já vimos, como ato
eclesiológico que pertence à função de santificar da Igreja.

O cânon 1167 tem como dever em sancionar, regulamentar quem pode instituir, suprimir,
acrescentar outros sacramentais, não sacramentos. Portanto, a Igreja não pode acrescentar outro
sacramento, como afirmamos anteriormente: os Sacramentos pertencem à Revelação Divina por
instituição de Nosso Senhor Jesus Cristo, todos os Sacramentos, e com a morte do último
Apóstolo, a Igreja cesa a sua Revelação. Como os sacramentos e sacramentais são atos públicos
da Igreja, então ela pode criar, suprimir e regulamentar toda a sua forma de ação.

Competência da Sé Apostólica

O cânon 1167 apresenta o orgão competente para regulamentar os Sacramentais. Importante


ressaltar aqui, somente a Santa Sé no seu Dicastério, a Congregação para o Culto Divino e a
Disciplina dos Sacramentos, é o Ordo Regulator dos Sacramentais e do Livro Litúrgico.

A Santa Sé pode regulamentar ouvindo as Conferências Episcopais, ouvindo as Tradições


Litúrgicas pertencente a toda a Igreja universal, seja Oriente e no Ocidente, na sua diversidade a
Igreja; ela faz sua, ela se apropria da cultura local. Isto é uma forma de santificação de toda
cultura local porque Deus salvou-os através do Mistério da Encarnação e santifica toda a cultura,
sendo assim, Deus se aproxima a toda cultura humana, e o ápice da verdadeira cultura é a cultura
divina.

Por isso, diz o Legislador:

"Compete à Sé Apostólica ordenar a sagrada liturgia na Igreja universal, editar os livros litúrgicos,
revisar suas traduções para as línguas vernáculas e velar a fim de que em toda a parte se observem
fielmente as determinações litúrgicas" (cân. 838§2).

Sendo assim, a Igreja se depara com a diversidade de forma de cultuar a Deus. A Igreja acolhe a
pluralidade dos dons, a pluralidade da forma cultural. E, para que haja uniformidade dentro dessa
dinâmica, na inculturação é necessária respeitar a individualidade, que por sua vez respeita a
colegialidade.

Por isso, a Igreja nos chama à homogeneidade da fórmula, ela não esmaga a individualidade dos
povos nem das nações. A uniformidade referido aqui se chama: livro litúrgico, essa é também
uma forma de homogeneidade no sentido literal do texto. No entanto, a Igreja vai além duma
homogeneidade e de uma uniformidade, porque toda se expressa no conceito teológico-
eclesiológico que é a comunhao, ela é a expressão máxima da unidade respeitando a pluralidade
e diversidade dos dons e carismas como diz a teologia paulina.

Ministros dos sacramentais (cans. 1168, 1169)

O cânon 1168 apresenta que os ministros sacramentais são o clérigo dotado do devido poder.
Este cânon tem como fonte o Sacrosanctum Concilium, na qual afirma os Padres Conciliares,
referindo-se também de quem pode ser ministro dos sacramentais não clérigo, sempre e quando
que haja necessidade: "Providencie-se que alguns Sacramentais, ao menos em circunstâncias
especiais e com o parecer do Ordinário, possam ser administrados por leigos dotados de
convenientes qualidades" (SC, n.79c).

Tendo em consideração a palavra poder que aparece no cânon 1168, Ghirlanda chama a atenção
sobre ela referindo-se aos leigos, porque não está especificado de que poder se trata, além disso o
Concílio afirma quando há necessidade pode ser administrados alguns sacramentais por leigos,
por isso:

"Devemos dizer que se trata mais de uma participação do poder de santificação de Cristo por
determinação da Igreja, voltada para a atuação de um ministro em que é exercido o munus de
santificar, recebido sacramentalmente pelos diáconos, os presbíteros e os bispos mediante o poder
de santificação não sacramental de ordem. Assim, os leigos, homens ou mulheres (pais, acólitos,
leitores, catequistas, religiosos e religiosas), recebem uma missão da Igreja pela cual participam
em certo grau do poder sagrado de Cristo e em virtude do qual desenvolvem uma atividade
ministerial em que excercem o munus de santificar recebido no batismo, mediante o poder de
santificação não sacramental" (GHIRLANDA, 2003, p. 436).

No cânon 1169, o Legislador estabelece quem são os ministros que podem realizar ad
valeditatem as consagrações, dedicações e bênçãos. Consequentemente, este cânon outorga a
devida potestade exigida aos clérigos conforme o cânon 1168 para ser ministros dos três tipos de
sacramentais. Esse outorgamento da devida potestade o realiza a norma tendo em consideração o
grau da ordem recebido e cada um dos sacramentais expressos no cânon.

O mesmo cânon referido acima no §1 dispõe que a confecção válida de consagrações e


dedicações corresponde aos que tem o caráter episcopal, mas também pode administrar os
presbíteros que estejam habilitados ou facultados pelo Direito ou pela legítima conceção da
autoridade competente.

E por último, os §§ 2 e 3 do cânon preceptua quem são os ministros das bênçãos. Os presbíteros,
exceto para aquelas bênçãos reservadas ao Romano Pontífice e aos Bispos; e aos diáconos
somente aquelas bênçãos que lhe são expressamente pelo direito.

Considerações Finais

A Igreja através do seu munus de santificar recebe a missão para continuar o ensinamento do
Nosso Senhor Jesus Cristo, Ele está presente no tempo e no espaço, no hoje e no então na
história da salvação. A comunidade dos fiéis vivem esse Mistério Pascal por meio da celebração
litúrgica, fazendo memória liturgica pedagógica do único evento salvífico que é a Pascoa e
Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Sendo assim, a Igreja procura ajudar aos fiéis a se aproximar mais desse Mistério Salvífico.
Nesse sentido, os sacramentais servem para que os fiéis pudessem saborear a comunidade dos
crentes, daqueles que creêm e estão em comunhão com a comunidade dos salvos, redimidos, a
Igreja Triunfante.

Sacramentais são ações ecesiológicas, é uma instituição eclesiástica, e tem essa dimensão que
ajuda aos fiéis a se aproximar mais do Mistério da vida da Igreja. E os Sacramentos são da
instituição divina e servem para garantir o meio ordinário da salvação do Povo de Deus. Nesse
sentido, Cristo é o Legislador do Pai, por isso, quem pode dispensar a fórmula ordinária dos
sacramentos é o próprio Cristo, porque a lei divina e natural, a Igreja não tem poder para
dispensá-las. Ora, Cristo ao confiar a forma ordinária à Igreja, a função dela é tutelar.

No Mistério Pascal, Cristo salva a humanidade, ninguém fica fora da salvação. A salvação é para
todos. Cristo Senhor ao confiar os Sacramentos à Igreja, ela no tempo e no espaço é a
distribuidora da graça divina (cf. SC. n.7).

E como os sacramentos e sacramentais são atos públicos da Igreja, então ela (a Igreja por meio
da autoridade competente) pode criar, suprimir e regulamentar toda a sua forma de ação.

Os ministros dos sacramentais, em primeiro lugar são os ordenados, a não ser que o Ordinário do
Lugar o concede por necessidade. A conceção é o ato jurídico para a eficácia dos sacramentais e
para mostrar a unidade com a Igreja, a comunhao e a obediência à autoridade da Igreja.

REFERÊNCIAS

RINCÓN-PÉREZ, Tomás. La liturgia y los sacramentos en el Derecho de la Iglesia. 2ªed.


Pamplona, EUNSA, 392p.

GHIRLANDA, Gianfranco. O Direito na Igreja: Mistério de Comunhão. Compendio de Direito


Eclesial. 2ªed. Aparecida-SP, Editora Santuário, 2003, 808p.

Código de Direito Canônico, promulgado por João Paulo II, Papa. Tradução: Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil. São Paulo: Loyola, 2017.

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