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UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR

BACHARELADO EM TEOLOGIA
ROSA MARIA CORRÊA CARVALHO

APRESENTAÇÃO TRABALHO CONCLUSÃO DE CURSO

O ITINERÁRIO MISTAGÓGICO NO PROCESSO DE INICIAÇÃO CRISTÃ COMO


INSPIRAÇÃO PARA A FORMAÇÃO DO FIEL LEIGO

DESENVOLVIMENTO

PILAR DA PALAVRA-INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ E ANIMAÇÃO BÍBLICA


DA VIDA E DA PASTORAL

Na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini o Santo Padre Bento XVI


afirma que, a partir do pontificado do Papa Leão XIII, houve intervenções visando
maior consciência da importância da Palavra de Deus na vida da Igreja, mas que
teve o seu ponto culminante no Concílio Vaticano II, com a promulgação da
Constituição dogmática sobre a Revelação Divina Dei Verbum, representando o
marco miliário na vida da Igreja, pois a Igreja funda-se sobre a Palavra de Deus,
nasce e vive dela. “Sem a Palavra de Deus é como se a Igreja quisesse evangelizar
silenciando o próprio Jesus” (CNBB, 2021, Doc.114, n. 3).
O Sínodo convidou a um esforço pastoral particular para que a Palavra de Deus
apareça em lugar central na vida da Igreja, recomendando que «se incremente a
“pastoral bíblica”, não em justaposição com outras formas da pastoral mas como
“Animação Bíblica da Pastoral inteira[...] não se trata simplesmente de acrescentar
qualquer encontro na paróquia ou diocese, mas de verificar que, nas atividades
habituais das comunidades cristãs, nas paróquias, nas associações e nos
movimentos, se tenha realmente a peito o encontro pessoal com Cristo que Se
comunica a nós pela Palavra (VD, n.73).
Em sua missão evangelizadora, a Igreja se alimenta da Palavra de Deus (Ez 3, 1). A
Igreja nunca se distanciou da Palavra de Deus, os modos de realizar esse contato
se diferenciaram bastante. Em nossos dias, torna-se indispensável estabelecer e
fortalecer, em pessoas e comunidades, o vínculo entre a Palavra de Deus e a vida,
tornando a ação pastoral cada vez mais alicerçada no contato fecundo com a
Escritura Sagrada. É o encontro com o Senhor Ressuscitado que, na força do
Espírito, conduz à Igreja, comunidade dos discípulos e discípulas, e torna essa
grande comunidade sempre mais missionária na vivência e no anúncio da Palavra
de Deus.
As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora apontam um aspecto importante na
formação das primeiras comunidades cristã, destaca que os “Atos dos apóstolos,
relatam que a comunidade cristã se concentrava nas casas como lugar
característico de reunião, ajuda mútua e fortalecimento da vivência missionária”
(DGAE 2019-2023, n. 88). Portanto a Igreja cristã foi estabelecida em seu início em
pequenos grupos e pequenas comunidades, chamadas Igrejas domésticas, nascida
através da relação comunitária "Somos uma Igreja em caminho, atravessando a
história, aproximando-se de cada pessoa, foi esse percurso que Jesus fez
exatamente quando estava com os seus. É possível vê-lo em constante movimento
de saída e de busca, [...]. A Palavra fala da Palavra” (CNBB, 2021, Doc 114, n.1).
Sendo assim, neste itinerário de encontro com a Palavra, quem toma a liberdade “no
caminho da experiência de fé, é Deus quem da mesma forma toma a iniciativa de
comunicar seu desígnio salvífico de amor, cabendo ao ser humano, acolher e
responder ao dom de Deus. Essa resposta implica conversão de vida, configuração
a Cristo e torna discípulo missionário” (DGAE 2019-2023, n. 88). Neste sentido, as
DGAE lembra que na Verbum Domini (VD, n. 65), é sucinto em dizer que “todo esse
processo de iniciação à vida cristã supõe um encontro pessoal e comunitário com
Jesus Cristo, e este encontro se dá de forma privilegiada pela celebração da Palavra
de Deus e a leitura orante”. (DGAE, 2019-2023, n. 88).
Jesus viveu neste movimento de saída e de busca, continuamente, e o Doc 114
descreve algumas passagens bíblicas que evidenciam esse movimento de Jesus,
como, por exemplo: O chamado dos discípulos, (Mt 4,18), Jesus caminhava no mar
da Galiléia, o encontro com o centurião de Cafarnaum (Mt 8,5), o paralítico (Mt 9,
1-2), a ordem que foi dada a seus discípulos ‘Ide, pois, e fazei discípulos todos os
povos’ (Mt 28, 19)” (CNBB, Doc 114, 2021, n. 2). Diante do exposto, “hoje não é
outra a missão da Igreja, ‘Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria
da Igreja, a sua mais profunda identidade’. Ainda citando o Doc 114 observa-se
‘como seu Senhor, a ela incumbe proclamar infatigavelmente o Reino de Deus’ (EN,
n. 11-14)” (CNBB, 2021, Doc 114, n. 2). Jesus nos fala através de parábolas para
explicar verdades complexas de uma forma simples, para responder a perguntas e
tirar dúvidas. Em suas parábolas, Ele usava figuras que seus ouvintes entendiam,
essas histórias simples explicavam realidades difíceis de entender como, a salvação
e o Reino de Deus, Ele tornou o caminho da salvação acessível a todos. O
Documento de estudos da CNBB destaca a parábola do semeador, a imagem da
semeadura ilustra que Deus, reconstrói sua aliança com seu povo, “enquanto houver
a Palavra, Deus não está silencioso e a Igreja, no movimento de semear a Palavra
mantém vivos e ativos na história os tempos de esperança” (CNBB, 2021, Doc 114,
n. 12).
"O Senhor quer a Palavra semeada em toda parte, de modo a fazê-la chegar a
todos os ambientes, até nos espaços e contextos mais distintos e distantes” (CNBB,
2021, Doc 114, n.13). Esta é a missão dada por Jesus a todos os discípulos, ensinar
o povo de Deus a ouvir a Palavra e a ela responder, a Parábola do Semeador
mostra que a frutificação é uma marca de verdadeiro cristão. Todavia, o grau da
frutificação não é igual para todos, uns produzem “cem por cento; outros sessenta; e
outros trinta” (Mt 13, 23).
A Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina falou de uma sinfonia da
Palavra de Deus de uma Palavra única que se exprime de diversos modos, ‘um
cântico a diversas vozes’ (VD, n. 7). Desde então, pode-se falar da Palavra de Deus
comunicada na obra da criação. Também pode-se dizer que Deus se revelou nos
acontecimentos da história da salvação, no testemunho dos Apóstolos, na Tradição
viva da Igreja” (CNBB, 2021, Doc 114, n. 19). Essa é a verdade, Deus é autor da
Sagrada Escritura, “verdade divinamente revelada, que os livros da Sagrada
Escritura contém e apresentam, foi registrada neles sob a inspiração do Espírito
Santo (DV, n. 11).
O Documento de Aparecida (DAp, n. 247) fala da importância da educação do povo
de Deus, na leitura e meditação da Palavra, para que se converta em alimento e
alma, é o fundamento para caminhada missionária e para nossa vida. “Se faltar a
fonte, a água não jorra, a vida desfalece” (CNBB, 2021, Doc 114, n. 21). É
necessário, “reconhecer que se quiser evangelizar com alma e paixão, se deseja
que a fonte da Palavra sempre jorre para seu povo, não há caminho mais efetivo do
que deixar-se mover pela força da Palavra em todas suas ações e todos seus
projetos” (CNBB, 2021, Doc 114, n.34). ….“quando não se formam os fiéis num
conhecimento da Bíblia conforme a fé da Igreja no sulco da sua Tradição viva,
deixa-se um vazio pastoral” (VD, n. 73).
Portanto, o que se pretende com a Animação Bíblica da Pastoral ? Não se
trata aqui de enunciar novos formatos, novos esquemas e organismos, novas
sistematização organizacionais de paróquias ou dioceses. Mas do que tudo, e antes
de qualquer iniciativa, por animação bíblica se pretende dizer que todos os agentes
e evangelizadores, sejam eles bispos, padres, religiosos (as), catequistas,
ministros(as), extraordinários(as), coordenadores (as), administradores (as), de
quaisquer instituições eclesiásticas, que todos tenham o Ânimo, a seiva interior
originada do encontro com o Senhor mediante a Palavra. E quem o encontra se
alegra, passa a compreender e a interpretar a realidade com critérios de sua
palavra. É o caminho da conversão pastoral” (CNBB, 2021, Doc 114, n. 32).
Neste contexto, é de suma importância, o destaque para as Diretrizes Gerais
da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE, 2019-2023), que têm por
objetivo “Evangelizar no Brasil cada vez urbano pelo anúncio da Palavra de Deus,
formando discípulos de Jesus Cristo, em comunidades eclesiais missionárias, à luz
da evangélica opção preferencial pelos pobres, cuidando da Casa Comum e
testemunhando Reino de Deus rumo à plenitude". É contundente, “a centralidade da
Palavra reconduz nossas comunidades às fontes verdadeiras da vida eclesial. Elas
se renovam na medida que a voz da Escritura for presença, inspiração e influência”
(CNBB, 2021, Doc 114, n. 34)
Assim sendo, o Papa Bento XVI faz uma reflexão sobre os caminhos da
evangelização, citado pelo Doc 114 que diz: Muitas pessoas carecem da experiência
da bondade de Deus...Somos chamados a buscar novos caminhos da
evangelização...Um desses caminhos poderiam ser as pequenas comunidades,
guiado pela Palavra, o povo de Deus encontra formas muito singulares e familiares
de se reconhecer em sua vocação e missão, em comunhão e solidariedade, [..Outro
caminho, é a Iniciação à Vida Cristã, [...] assim como a Leitura Orante, individual
e/ou comunitária (CNBB 2021, Doc 114, n. 37). Desta mesma forma, mediante
tantos caminhos da ação evangelizadora, “o Papa Francisco, exorta, (EG, n. 167), 'É
preciso ter coragem de encontrar os novos sinais, os novos símbolos, uma nova
carne para transmissão da Palavra’ (CNBB, 2021, Doc 114, n. 37). O Documento
114 aponta que na Iniciação à Vida Cristã tanto o chamado Pilar da Palavra quanto
do Pão, encontram expressões e tradições muito vivências da fé, após o encontro
pessoal com a Palavra, há uma transformação, uma mudança de vida, por isso a
importância, “no querigma, na purificação-iluminação e na mistagogia, [...], por estes
passos assegura-se o primado de Jesus Cristo e da vida eclesial” (CNBB, 2021, Doc
114, n. 33).
São tantos os caminhos para ação evangelizadora, mas encontramos
desafios em meio do caminho, são diversos os desafios a semeadura, a
Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina fala da necessidade dos fiéis a
terem acesso à Palavra de Deus, “é preciso que os fiéis tenham acesso à Sagrada
Escritura” (DV, n. 22). A Sagrada Escritura é a "alma da Sagrada Teologia”(DV, n.
24), não pode estar somente nas mãos de um grupo fechado, Ela deve permear
todo terreno, Ela é a “seiva” é o alimento para toda vida.
. Portanto, vale ressaltar toda ação que a Palavra de Deus deve permear:
A Palavra de Deus, não pode estar somente nas mãos dos
especialistas. Deve estar nas mãos de todo o povo. Brota, então, a
necessidade de uma linguagem popular, afetiva e espiritual,
utilizando muitos exemplos e comparações para compreensão. A
Palavra de Deus não pode estar somente nas celebrações litúrgicas,
nos cursos Teologia ou nos grupos eclesiais de reflexão. Ela deve
permear as realidades do mundo, impregnar a cultura e a
comunicação, a economia e a política. Deve tornar-se fonte de
santificação da vida cotidiana (CNBB, 2021, Doc 114, n. 41).

Há uma variedade de traduções e edições da Bíblia, “a comparação dos


textos das edições pode ajudar a perceber melhor o sentido, [...], toda tradução é
importante, mas toda edição é incompleta, cada uma responde a certos objetivos,
mas não consegue abarcar outros”(CNBB, 2021, Doc 114, n. 46), por isso, é
importante ter atenção ao fazer uso de algumas versões protestantes, “embora
sendo Bíblia Sagrada, por motivo teológicos, litúrgicos e pastorais, é sempre
importante recordar que lhe faltam sete livros e alguns trechos de outros dois, aceito
em nosso cânon”(CNBB, 2021, Doc 114, n. 47).
Por conseguinte, o Doc 114 lembra o Papa Francisco, que vem rejuvenescer
o método ver-julgar-agir impulsionando o compromisso evangélico diante de muitas
situações em especial os mais sofridos, Ele apresenta, “os verbos ‘contemplar’,
‘discernir’, e ‘agir’, que faz conexão com a leitura orante” (CNBB, 2021, Doc 114, n.
235), são passos indispensáveis para acolhimento da Palavra de Deus “Ele nos
convida a: 1) ver (contemplar) a realidade; 2) buscar na Palavra de Deus a
iluminação para julgar (avaliar), discernir) a realidade; e 3) agir (propor) trilhando os
caminhos necessários para transformar essa realidade, [...], é o caminho do
discipulado missionário.( CNBB, 2021, Doc 114, n .234)
Por isso, não devemos compreender a leitura orante e o método ver-julgar-agir como
opostos entre si. Ambos são caminhos importantes para o acolhimento da Palavra
de Deus. Por isso, a autêntica animação bíblica da vida e da pastoral pede a
capacidade de integrar e articular os diferentes caminhos de contato com a Palavra
de Deus, para que ela ilumine toda a realidade: pessoal, comunitária e
socioambiental.

PILAR DO PÃO-LITURGIA E ESPIRITUALIDADE.

A liturgia não somente se serve constantemente da Sagrada Escritura, mas


não pode prescindir dela, porque é a Palavra de Deus que prepara e explica a ação
litúrgica no seu sentido e no seu valor eminentemente salvífico, o que é anunciado
pela Palavra é levado a termo no ato sacramental, Ela deixa de ser uma “palavra
escrita” (DV, n.10), para assumir sempre mais função de anúncio-proclamação de
um acontecimento salvífico. O pilar do pão, vem destacar e chamar atenção para
importância da Eucaristia e da Palavra, esses elementos se fortalecem no ato
litúrgico, na prática litúrgica que se sucedem ao longo do ano objetivam permitir-nos
compreender e viver sempre em mais plenitude o mistério de Cristo, atualizado
pelos sacramentos.
Portanto, relatando como os primeiros cristãos se expressavam em
comunhão podemos dizer que ‘Eles eram perseverantes (...) na fração do pão e nas
orações (At 2, 42)’ (DGAE 2019-2023, n. 92), a princípio os Apóstolos reunidos no
cenáculo aceitaram o convite de Jesus Cristo ‘Tomai, comei [...]. Bebei dele todos’
(Mt 26, 26-27), pela primeira vez os discípulos tiveram a Eucaristia em comunhão
sacramental e através dela a Igreja é edificada ‘Fazei isto em minha memória ]...],
Todas as vezes que beberdes, fazei-o em minha memória’ (1Cor 11,24-25; cf. Lc
22,19) (EE, n. 21).
Entre os primeiros cristãos, a comunhão se expressava
principalmente na celebração da Eucaristia. [...], os membros da
Igreja, nas casas, eram instruídos a assimilar que a celebração
comum da ‘ceia do Senhor’ demandava a comunhão de todos com o
corpo de Cristo. A celebração eucarística, memória do sacrifício do
Senhor, alimentava a esperança do mundo que há de vir (1Cr
11,17-32). Essa realidade implicava em trilhar um caminho pascal,
para viver no mundo sem ser do mundo (Jo 17, 14-16) (DGAE
20219-2023, n. 93)
Portanto, depois deste encontro com Cristo Eucarístico, Pão da vida, o povo
se une a Cristo, não se fechando em si mesmo, mas tornando-se ‘sacramento’ para
toda a humanidade, sinal e instrumento da salvação realizada por Cristo, luz do
mundo e sal da terra (Mt 5,13-16) para redenção de todos” (EE,n. 22)
A Eucaristia é o sustento, para nossa vida como cristãos, como o corpo precisa de
alimento para sobreviver, a alma precisa do alimento sagrado, podemos dizer que é
um Pilar, conforme nos diz o Catecismo da Igreja Católica: a “Santíssima Eucaristia
contém todo o bem espiritual da Igreja, a saber, o próprio Cristo, nossa Páscoa"
(CIgC, n. 1324).
Acima de tudo principalmente, “na santíssima Eucaristia, está contido todo o
tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que
dá aos homens a vida mediante sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito
Santo” (EE, n.1). Logo pois, “‘do Mistério Pascal nasce a Igreja’, por isso mesmo a
Eucaristia, que é o sacramento por excelência do mistério Pascal, está colocada no
centro da vida eclesial” (EE, n. 3), para nossa salvação e redenção, a resposta direta
nos dá a LG, quando diz: “sempre que no altar é celebrado o sacrifício da cruz, no
qual Cristo, nossa páscoa, foi imolado (1Cr 5,7), atua-se a obra da nossa redenção
(LG, n. 3).
De modo que, a Eucaristia e a Palavra são elementos insubstituíveis para fé
cristã, somente através deles que a comunidade eclesial pode nutrir-se e
fortalecer-se para ser uma casa acolhedora e serem sustentadas para missão, a
liturgia é o centro da espiritualidade cristã de toda comunidade, é o mover de toda
ação missionária (DGAE 2019-2023, n.161). Logo, a "Eucaristia apresenta-se como
fonte e simultaneamente vértice de toda a evangelização” (EE, n. 22) Contudo, toda
comunidade deve priorizar o domingo, como dia consagrado, Dia do Senhor, “a
Igreja vive da Eucaristia” (EE, n. 1).
Enfim, “o domingo ‘dia do Senhor’ é o dia principal da celebração da
Eucaristia, por ser o dia da ressurreição. É o dia da assembleia litúrgica, [...], o dia
da família cristã, dia da alegria e do descanso do trabalho. É o fundamento e o
núcleo do ano litúrgico” (CIgC, n.1193), a comunidade dos fiéis missionários precisa
constantemente manter sua vida de oração em plenitude “tendo em Jesus Cristo, o
orante por excelência e na Oração do Senhor o paradigma de toda oração” (DGAE
2019-2023, n. 95).
A Constituição Sacrosanctum Concilium(SC) nos adverte que a vida do
cristão deve estar alicerçada na Eucaristia, Liturgia e a oração pessoal,
São muitos os santos e mártires que viveram a santidade testemunhada
através dos seus atos e ações, “a Liturgia também leva os fiéis a serem ‘unânimes
na piedade’, depois de participarem dos ‘sacramentos pascais’, para que ‘na vida
conservem o que receberam na fé’, [...], fazendo-os arder de amor por Cristo” (SC,
n.10).
A piedade popular é um terreno fecundo para encontrar Jesus Cristo, há
várias maneiras de se expressar a fé, podemos citar alguns exemplos como festejos
do padroeiro, via sacra, novenas, rosários e procissões, são inúmeras expressões
de espiritualidade “é uma maneira legítima de viver a fé, um modo de se sentir parte
da Igreja é uma forma de ser missionário”(DAp, n. 264-265). Diante de tantas lutas,
buscam sinais visíveis de Deus para alimentar sua fé, encontram também em Maria
aquela que “expressa em sua face a ternura de Deus, Maria é a grande missionária
continuadora da missão do seu filho e formadora de missionários” (DAp, n. 269).
Neste caminho de espiritualidade, a comunidade como casa da comunhão,
vivendo da liturgia que se celebra, vivendo que ela se faz viver, celebrando o perdão,
a escuta da Palavra, a ação de graça elevada, a Eucaristia recebida como
comunhão, a liturgia nos ensina a vivenciar e viver.
Cristo se faz presente em todos os momentos da Liturgia, através dos
Ministros ordenados, em que se celebra os sacramentos, é Cristo que age através
do sacerdote, das espécies eucarísticas do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor
Jesus Cristo, está presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade Eucarística, na
proclamação da Palavra, é o próprio Cristo quem está falando, também a presença
de Cristo se torna real nos salmos, nos cânticos, na oração do povo de Deus, na
oração comum da Igreja, onde as pessoas se reúnem para louvar e engrandecer o
santo nome do Senhor (SC, n. 7).
A Liturgia da Igreja antecipa aquilo que se vai viver no céu, é estar em
comunhão com os anjos e com os santos que já celebram um grande louvor de
Deus, portanto, todos os não batizados, é necessário que se peça o sacramento do
batismo para terem acesso a todos os outros sacramentos da Liturgia da Igreja, e
serem unidos a multidão de anjos.
Por isso, a importância da Iniciação à vida cristã, pela água do batismo são
introduzidos a todos os sacramentos, para que sejam conduzidos para uma
espiritualidade de imitação de Cristo, sendo seguidores e testemunhas da
Ressurreição “o selo batismal capacita e compromete os cristãos a servirem a Deus
em uma participação viva na sagrada liturgia da Igreja e a exercerem o seu
sacerdócio batismal pelo testemunho de uma vida santa e de uma caridade eficaz “
(CIgC, n. 1273). Esse é o vínculo indelével que nos é dado pelo batismo, que nos
fez cristão, que caracteriza nossa espiritualidade “Jesus quer evangelizadores que
anunciem a Boa Nova, não são com palavras, mas sobretudo com uma vida
transfigurada pela presença de Cristo” (EG, n. 259).
A liturgia é feita de sinais, símbolos, gestos e palavras, objetos, movimentos,
luzes, sons, silêncio e emoções, transmitindo mensagens repletas de sentido, mas
usando uma linguagem própria, compreensível que envolve a pessoa na totalidade
do seu ser, ou seja:
Os sinais sacramentais celebrados na liturgia nos possibilitam
alcançar as realidades de nossa fé, [...], passamos dos sacramentos
aos mistérios, ou seja, partimos do visível para o invisível, do sinal
sacramental: água, luz, pão e vinho… para o mistério da salvação.

Costa (2015) traz como referência as catequeses Mistagógicas de Cirilo,


vivida no século III e IV, nestas experiências “ encontra-se uma fonte fecunda da
Igreja que pode ser o paradigmática para o processo de evangelização hoje,
especialmente para Iniciação Cristã” (COSTA, 2015, p.13), sob o mesmo ponto de
vista, “na Igreja do século III e IV, a Iniciação Cristã foi compreendida como caminho,
um processo, uma trajetória: de introdução, abertura e diálogo com o Mistério de
Deus, [...] que se revela na história (COSTA, 2015, p. 15), foi desenvolvido pelos
Padres da época, uma integração no processo de formação entre a vida pessoal, a
espiritualidade, os ritos litúrgicos.
O Concílio Vaticano II já acenava para a necessidade de formar cristãos
amadurecidos na fé, para facilitar esse processo, em alguns dos seus documentos,
o Concílio solicitou a restauração do catecumenato, citamos a constituição sobre a
liturgia, Sacrosanctum Concilium que enfatiza “restaura-se o catecumenato dos
adultos, em diversos níveis, de acordo com a autoridade local. As etapas podem ser
santificadas por diversos ritos, aptos a manifestar seu espírito" (SC, n. 64). Desta
maneira, “essas etapas são marcadas por três ritos litúrgicos: a primeira, pelo rito de
instituição dos catecúmenos; a segunda pela eleição, e a terceira, pela celebração
dos sacramentos (RICA, 2001, n.6).
Acrescenta-se, “com o RICA a mistagogia fica consagrada como essencial no
processo de Iniciação Cristã” Neste sentido, ‘iniciar’ é um processo muito mais
profundo e existencial do que ‘ensinar’(CNBB, 2017, n. 122), por conseguinte o DAp
nos fala da importância do processo da iniciação na vida cristã:
Sentimos a urgência de desenvolver em nossas comunidades um
processo de iniciação na vida cristã que comece pelo querigma e
que, guiado pela Palavra de Deus, conduza a um encontro pessoal,
cada vez maior, com Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito homem,
experimentado como plenitude da humanidade e que leve a
conversão, ao seguimento em uma comunidade eclesial e a um
amadurecimento de fé na prática dos sacramentos, do serviço e da
missão ( DAp, n. 289).

Por consequência, “ fazer da Igreja ‘casa de Iniciação à Vida Cristã’ é um


caminho necessário para evangelização no contexto social” (CNBB, 2017, Doc 107,
n. 61), a Igreja não pode, sob pena de trair a própria missão de Jesus, separar a
salvação da justiça e da libertação, ou, ainda, não podemos separar evangelização
da ação caritativa, ou seja, é impossível separar a Palavra do Pão da Eucaristia e
ambos da vida de doação e caridade, o cristão que se orienta pela Palavra do
Senhor, é fortalecido pelos Sacramentos e pela Espiritualidade, em princípio, está
capacitado a viver a caridade sinônimo de amor e este é outro pilar que mantém a
Igreja de Cristo, o amor é maior mandamento dos cristãos.

PILAR DA CARIDADE-SERVIÇO A VIDA PLENA; PILAR DA AÇÃO


MISSIONÁRIA- ESTADO PERMANENTE DE MISSÃO.

O pilar da Caridade é constituído para impulsionar o serviço aos que mais


sofrem, a promoção e defesa da vida em todas as situações, a dimensão profética e
samaritana da fé cristã. Nesse sentido, afirma o Papa Francisco: “deriva da nossa fé
em Cristo, que Se fez pobre e sempre se aproximou dos pobres e marginalizados, a
preocupação pelo desenvolvimento integral dos mais abandonados da sociedade
(EG, n. 186), portanto, “a natureza íntima da Igreja exprime-se num dever tríplice:
anúncio da Palavra de Deus (Kerygma-martyria), celebração dos sacramentos
(liturgia), serviço da caridade (diakonia)” (DCE, n. 25)
As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil destacam as
características indispensável para seguimento do Senhor Jesus, como discípulos
missionários:
Na fé cristã a espiritualidade está centrada na capacidade de amar a
Deus e ao próximo. Rezar e servir, amar e contemplar. [...] sem
oração não existe vida cristã autêntica. [...] Quando se contempla
Deus, percebe-se a beleza do pequeno e do simples, e se educa o
olhar para ver as necessidades do outro. Somente contemplando o
mundo com os olhos de Deus, é possível perceber e acolher o grito
que emerge das várias faces da pobreza e da agonia da criação (LS,
n. 53) (DGAE 2019-2023, n. 102).

As nossa Igrejas e comunidades têm que está inseridas neste contexto social
em defesa da vida, ter uma postura de doação humanitária, mantendo um diálogo,
defendendo os direitos dos excluídos e marginalizados, a Igreja tem que abraçar a
causa daqueles que choram “trata-se de chorar ‘com os que choram’(Rm 12,15),
‘saber chorar com os outros: isso é santidade’(GeE, n. 76), são questões sociais,
ecológicas que têm ser enfrentados para o bem comum (DGAE 2019-2023, n. 104).
Por conseguinte, “sejamos uma Igreja que não chora diante dos dramas dos
seus filhos. Nós queremos chorar para que a sociedade seja maternal para que, em
vez de matar, aprenda a dar a luz, para que seja promessa de vida’ (ChV, n. 75)
(DGAE 2019-2023, n. 104).
Somos convidados a dar assistência aos mais necessitados, o desemprego é a
causa de grandes tragédias na sociedade, a prática de solidariedade ajuda muitas
pessoas a mudança de mentalidade, é um esforço comunitária para transformação
de um mundo mais igualitário, ou seja, caridade é característica da comunidade
eclesial “ a caridade não é uma espécie de atividade de assistência social que se
poderia mesmo deixar a outros, mas pertence à natureza, é expressão irrenunciável
da sua própria essência" (DCE, n. 25)
Contudo, remete às palavras do Papa Francisco na Exortação Apostólica
Evangelii Gaudium, “No coração de Deus, ocupam lugar preferencial os pobres”
(EG, n. 197), contemplar a pessoa de Jesus Cristo na pessoa do pobre, significa
comprometer-se com todos os que sofrem, neste contexto estão os refugiados e
imigrantes que saem em procura de melhor qualidade de vida, e são impactados
com o sistema capitalista, muitas pessoas acabam morando nas ruas em situações
desumanas, sem moradias dignas. O cuidado de Deus pelos pobres perdura ao
longo de todo o tempo, “ na missão da Igreja, na Palavra e nos Sacramentos, nos
homens de boa vontade, nas atividades de assistência que as comunidades
promovem, [...] mostrando assim o verdadeiro rosto de Deus e o seu amor” (VD, n.
106).
As DGAE trazem como referências alguns documentos dos Papas para
demonstrar a preferência da Igreja pelos excluídos, pobres:
O Papa Francisco insiste em dizer que deseja uma ‘Igreja pobre para
os pobres’ (EG, n.198). Trata-se de superar as ambições, o
consumismo e a insensibilidade diante do sofrimento. Afirmou Bento
XVI: ‘A opção preferencial pelos pobres está implícita na fé
cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para enriquecer
com a sua pobreza’(DAp, n.3). Todo cristão deve buscar uma vida
simples, austera, livre do consumismo e solidária, capaz da partilha
de bens ‘ser pobre no coração: isso é santidade’ (GeE, n.70).
Somente assim, a Igreja será ‘casa dos pobres’ como proclamou São
João Paulo II (NIM, n. 50), porque hoje e sempre ‘os pobres são
destinatários privilegiados do Evangelho’ (DGAE, 2019-2023, n.108).

O amor é o dom do sacrifício de nós mesmos pelo outro, a comunidade


eclesial é convidada a testemunhar o amor de Cristo através de suas ações e mais
ainda incentivar a “cumprir e inspirar gestos que possam a contribuir para construir
sociedades fundadas no princípio da sacralidade da vida humana e no respeito pela
dignidade de cada pessoa, na caridade, na fraternidade e na solidariedade (DGAE
2019-2023, n. 112).
No mundo em que vivemos temos medo da violência, desemprego,
intolerância, vimos uma sociedade de incerteza que milhões de pessoas à margem
da sociedade na miséria ‘é missão da comunidade cristã a promoção da cultura da
vida (DGAE 2015-2019), n. 64)’ (DGAE 2019-2023, n.109), são desafios que ela se
impõe:
A questão da violência e sua s diversas faces; a falta de moradia
digna; as condições que levam e mantêm populações em situação de
rua e encarcerado; ‘a complexa realidades das migrações humanas’,
o abandono e exploração das crianças e dos idosos, a falta de
perspectivas para a juventude e a crise familiar; o complexo mundo
do trabalho; , da educação, da saúde, do transporte; as provocações
do ambiente acadêmico universitário; , da ciência e da tecnologia; às
problemáticas que envolvem o meios de comunicação social e as
novas mídias e as questões concernente ao incentivo de uma
ecologia integral (LS, n. 137), “contemplar o Cristo sofredor na
pessoa dos pobres significa comprometer-se com todos os que
sofrem, buscando compreender as causas dos seus flagelos,
especialmente que os jogam na exclusão (DGAE 2019-2023, n.
109-110).

Há uma preocupação que vai além das fronteiras “os nossos esforços a favor
das pessoas migrantes que chegam, podem resumir em quatro verbos:
acolher, proteger, promover, e integrar (FT, n. 119), ou seja, toda comunidade cristã
tem que mostrar o rosto de Deus através das suas ações e palavras na prática da
solidariedade “uma comunidade de portas abertas, [...], pois seus membros devem
reconhecer que a acolhida ao ‘estrangeiro’ é expressão concreta do amor que salva
(Mt 25) (DGAE 2019-2023, n. 111).

A obra missionária é tarefa permanente da Igreja, é urgente em nosso país,


nos cinco continentes, em todos cantos do mundo, dessa maneira:
A Igreja peregrina é missionária por natureza, porque tem sua origem
na missão do Filho e do Espírito Santo, segundo o desígnio do Pai.
Por isso, o impulso missionário é fruto necessário à vida que a
Trindade comunica aos discípulos (DAp n. 347).

Desta maneira, o DAp fala da alegria de ser discípulos missionários de Jesus


Cristo, um bom discípulo não desperdiçar nenhuma chance de anunciar o amor de
Deus e age, coerentemente, como um filho redimido por Jesus, o Senhor nos enviou
como:
Tesouro do Evangelho (DAp, n. 28). Ser cristão não é uma carga,
mas um dom: de Deus Pai nos abençoou em Jesus Cristo seu Filho,
Salvador do mundo, [...], alegria do discípulo é antídoto frente a um
mundo atemorizado pelo futuro e oprimido pela violência e pelo ódio,
[...] conhecer a Jesus Cristo é o melhor presente que qualquer
pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em
nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é
nossa alegria (DAp, n. 28-29).

Por conseguinte, a comunidade eclesial para ser missionária, precisa se


inserir ativamente nos novos areópagos, que nos engloba as redes sociais, são
novos meios de evangelizar, torna-se acessível a muitos, mas temos que ter atenção
e discernimento ‘o próprio consumo de informação superficial e a forma de
comunicação rápida e virtual podem ser um fator de estonteamento que ocupa todo
o nosso tempo e nos afasta da carne sofredora dos irmãos’ (GeE, n. 108),
Ainda assim, “as circunstâncias do momento convidam-nos a prestar atenção
muito especial aos jovens, o a [...], a Igreja põe grandes esperanças na sua
generosa contribuição” (EN, n. 72), portanto:
A Igreja pode ouvir a voz de Deus também por meio dos jovens, que
constituem um dos lugares teológicos onde o Senhor está presente,
Conclui-se então que, “não haverá nunca evangelização verdadeira se o
Nome, a doutrina, a vida, as promessas, o reino, o mistério de Jesus de Nazaré,
Filho de Deus, não forem anunciados” (EN, n. 22), consequentemente, “é esta
presença e este testemunho que o mundo espera das comunidades cristãs, o desejo
de ‘cheiro de ovelhas' deve permear toda missão é preparar o caminho para o
anúncio explícito de Jesus Cristo” (DGAE 2019-2023, n. 188), além do mais ‘a Igreja
é mãe de coração aberto, casa aberta do Pai (EG, n. 46-47)’, que ‘conclama a todos
para reunirem-se na fraternidade, acolher a Palavra, celebrar os sacramentos e sair
em missão no testemunho na solidariedade e no claro anúncio da pessoa e da
mensagem de Jesus Cristo’ (DGAE 2015-2019, n.14) (DGAE 2019-2023, n.120). A
Comunidade eclesial reúne um povo peregrino a caminho do Reino definitivo, o
Reino de Deus, a pátria da Trindade.

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