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SEMINÁRIO MAIOR ARQUIDIOCESANO DE BRASÍLIA

NOSSA SENHORA DE FÁTIMA (SMAB)


CURSO DE TEOLOGIA

BRUNO SILAS SILVA GAUDENCIO

AS FESTAS JUDAICAS
LITURGIA

BRASÍLIA/DF
2019
AS FESTAS JUDAICAS

1. Shabbat

O Shabbat é a festa de maior destaque no calendário judaico. É o ápice das


festas. É o dia festivo mais importante para os judeus, é próprio desse dia o descanso e
a abertura a palavra de Javé. Sua origem tem sua raiz na época do exílio e alguns
discutem que tem origens mais antigas ainda. Em um tempo, marcado pela contagem
dos sete dias, e no shabbat, todos os cidadão eram obrigados a se absterem do
trabalho. É importante dizer que antes, para os judeus, o marcador do tempo não eram
os dias, mas o mês. Houve um processo de evolução que culminou no Shabbat
judaico (ADAM, 2019, p.4).
Em referência a primeira versão do decálogo, é clara a ideia de que o Shabbat
está ligado ao descanso de Deus, após os sete dias da criação. Em Dt 5, 14, vemos que
outras passagens do Antigo Testamento, alertam sobre a função social e econômica do
shabbat. Neste dia, também acontece a celebração da recordação da libertação da
escravidão do Egito e também como marca essencial da aliança(ADAM, 2019, p.4).
Essa data é de suma importância para o contexto judeu, e a não observância
desta pode gerar sérias sanções, Ex 31, 14. Porém, o shabbat judaico não é um dia
restrito ao descanso em referência ao descanso de Deus. É também um dia de
“reuniões santas”, “um dia de festa em honra do Senhor”( Lv 23,3). Mesmo sem
templo, durante o exílio, e também posteriormente no território de Jerusalém, as
comunidades judaicas se reuniam para a liturgia e leitura da palavra divina. Os lugares
de reunião eram as sinagogas que surgiram após o exílio(ADAM, 2019, p.5).
A vida diárias das família judaicas era e é marcada pelo shabbat, tanto que além
da participação na liturgia sinagogal havia uma bela liturgia familiar. O ritmo do
shabbat foi o responsável pela superação dos inúmeros sofrimentos a que foram
submetidos o povo judeu (ADAM, 2019, p.5).

2. As festas da peregrinação

As festas da peregrinação são festas judaicas do tempo de Jesus que eram


possibilidades de peregrinação ao templo de Jerusalém, uma vez que, todo judeu ao
completar doze anos deveria realizar esse trajeto em ao menos uma dessas ocasiões.
Essas celebrações eram de caráter agrário e pastoril, festas da primavera e do outono,
associadas, mais tarde, a acontecimentos da história salvífica de Israel (ADAM, 2019,
p.5).

2.1 Pesah e Mazzot

Embora essas duas festas tenham origens distintas, foram unidas no decorrer da
história em uma só festa, algo conveniente a ser feito levando em consideração o fato
de que ambas aconteciam na época da primeira lua cheia da primavera (ADAM, 2019,
p.6).
A festa da Pascoa faz memória a tradição das tribos nômades de oferecer um
animal macho, novo, do rebanho, para o sacrifício e passar o seu sangue nas tendas,
para afastar a influência de espíritos malignos, e por fim deveriam comer sua carne
assada em fogo aberto. A festa dos ázimos tem uma origem ao costume agrário de
consagrar os primeiros feixes de cevada à divindade, e de passar sete dias comendo
pão sem fermento, até se obter um “fermento novo” da farinha da nova colheita. Com
base no relato da saída do Egito, os ritos das duas festas foram unidos em um único
evento cultual, tornando-se sinal visível da libertação do povo da escravidão do Egito.
Portanto, essas duas festas foram associadas em uma única festa que deveria ser
celebrada todos os anos (ADAM, 2019, p.6).
Com o passar do tempo e principalmente depois do exílio essa refeição pascal
ritualizou-se em partes distintas, pela ordem (seder) dos quatro cálices. Segundo o
tratado Pesahim da Mishmá, tinham a seguinte forma, com a qual Jesus celebrou a
última Ceia pascal com seus discípulos.

No começo enchia-se de água e vinho o primeiro cálice. O presidente da mesa


pronunciava duas fórmulas de bênção sobre o cálice...Bebia-se, então, o primeiro
cálice. Em seguida serviam-se pães ázimos e verduras que o presidente da mesa
distribuía, depois de lavar as mãos, pronunciando uma ação de graças e provando
das comidas. Servia-se agora o cordeiro pascal assado. Misturava-se o segundo
cálice, explicando-se o sentido da refeição e o simbolismo dos ritos com referência
à saída do Egito, e se cantava a primeira parte do Hallel (Sl 113 e 114, 1-8). Bebia-
se então o segundo cálice, e depois de se lavar novamente as mãos e de uma oração
de louvor a Deus, comia-se o cordeiro pascal, com ervas amargas e pães ázimos,
que se mergulhavam no haroset (uma mistura de várias frutas)...Seguia-se, então, o
terceiro cálice, chamado o ‘cálice da beção’ (1Cor 10, 6), porque neste momento se
pronunciava uma terceira ação de graças sobre a ceia. No quarto cálice cantava-se a
segunda, parte do Hallel (Sl 115-118), na qual Israel exprimia a esperança da
restauração messiânica (ADAM, 2019, p.7).
Nesse sentido, os judeus entendem a celebração da Páscoa como uma
convocação a assumirem aquele atitude religiosa que marca os seus antepassados aos
saírem do Egito. Essa forma de compreender essa festa permanece viva até hoje nos
judeus.

2.2 Shavuot

Essa festa ocorre sete semanas depois da festa dos pães ázimos, é a festa de
ação de graças pela colheita do trigo. Depois, ficou conhecida também como
Pentecostes por ser o quinquagésimo dia, na antiguidade o primeiro e o último dia
eram contados como sendo um único dia. A festa das semanas era uma festa alegre,
com caráter de ação de graças, após um período de duro trabalho de colheita e era
celebrada no templo com diversos sacrifícios. Posteriormente, foi celebrada como
recordação da aliança no Sinais e da entrega do Decálogo a Moisés, na mesma
celebração, foi entendida como festa de comemoração da história da salvação de
Israel (ADAM, 2019, p.7).

2.3 Sukkot e Simbat Thora

A festa das tendas (Sukkot), terceira festa da pergrinação e agrári, conhecida


como festa da vindima. Começava na lua cheia do sétimo mês (Tishri) e acontecia por
sete dias (Lv 23,33-36). Era uma festa muito alegre em relação ao sua intenção de
ação de graças pela colheita(ADAM, 2019, p.8).
No decorrer dessa semana, os judeus deviam ficar em cabanas de folhagem
construida de modo rústico, como a tradição sacerdotal mostra essa festa agrária em
consonância com a história da salvação de Israel: “Todo homem genuíno de Israel
habitará em cabanas, para que saibam vossas gerações futuras que em cabanas eu fiz
habitar os filhos de Israel, quando os tirei do Egito” (Lv 23, 42s). Além disso, há um
segundo costume festivo, no qual, os participante formam procissões com uma cidra
na mão esquerda e um ramalhete festivo de ramos formado por diversos tipos de
árvores na direita (ADAM, 2019, p.8).
Durante o séculos VII e VIII, a alegria desta semana festiva tinha um novo
ápice chamado Festa da Conclusão ou Festa da Alegria da Torá (Simbat Thora), na
qual se concluia a leitura da Torá e recomeçava-se o livro do Gênesis. O leitor do
último versículo da Torá era declarado como noivo da Torá e ovacionado como
rei(ADAM, 2019, p.8).

2.4 A festa do Ano Novo

Com base no calendário mais antigo de Israel, o primeiro dia de Tishri, ou dia
da lua nova do primeiro mês do outono, era celebrado como Festa do Ano Novo. As
referências a essa festa estão em Lv 23,23-25 e Nm 29, 1-6, em escritos de época
tardia. “No sétimo mês, o primeiro dia do mês será para vós um dia de repouso,
comemoração anunciada ao som da trombeta, uma santa assembleia. Não fareis
nenhum trabalho servil, e oferecerei ao Senhor sacrifícios consumidos pelo fogo” (Lv
23,23-25) (ADAM, 2019, p.9).

2.5 A Festa da Reconciliação (Yom Kipur)

É celebrado na primeira lua de outono, embora seja um dos dias festivos mais
recentes do judaísmo anterior a Cristo, foi se tornando cada vez mais importante no
decorrer do tempo. Era tido como um dia de rigoroso descanso, de abstinência
penitencial e de reunião para a celebração do culto divino. Com base em Lv 16,
entendemos as peculiaridade da descrição do seu ritual sacrifical. O sumo sacerdote
podia, nesse dia, entrar no Santo dos Santos que estava por detrás da cortina. Em
seguida, ele oferecia um novilho em sacrifício pelos pecados da sua casa, e depois,
aspergia o sangue animal a cobertura da arca da aliança. Posteriormente, oferecia um
sacrifício de incenso ao Deus Altíssimo. Imolava um dos dois bodes escolhidos como
sacrifício de expiação pelo povo. O Sangue do animal era derramado atrás e na frente
da cortina. Em seguida, purificava-se o santuário, a tenda da reunião e o altar com o
sangue do novilho e do bode imolado. Depois, o sacerdote descarregava de forma
simbólica os pecados do povo sobre o segundo bode, o “bode para Azael”, através da
imposição das mãos, e levava-os para o deserto (ADAM, 2019, p.9).
Com a destruição do templo no ano 70 d.C, cessou-se o culto sacrifical, porém
o Yom Kipur continuou no calendário das festas judaicas como um dia de muita
importância. O período entre os dias 1º e o 10º de Tishri eram tidos como dias de
penitência. O dia da reconciliação era celebrado com jejuns rigorosos, longas leituras,
orações prolongadas e confissões dos pecados repetidas vezes (ADAM, 2019, p.9).
2.6 A festa da Dedicação do Templo (Hanukká)

Com base nos relatos do Livro dos Macabeus (Mc 4,59), no qual Judas e seu
exército, animados pelas vitórias contra seus inimigos, construíram novos altares dos
holocaustos com novos sacrifícios durante oito dias. Judas estabeleceu que houvesse a
celebração a dedicação do altar durante oito dias, a partir do dia vinte e cinco do mês
de Casleu (ADAM, 2019, p.10).
Depois disso, os judeus celebram essa festa com grande alegria. Um dos ritos
mais importante, é o de carregar diversos bastões ornamentados de ramagens, ao som
de cantos de louvor e a ação de graças, e o de ascender lâmpadas em todas as casas. A
cada semana de celebração ascende-se mais uma lâmpada. Para isso utliza-se o
candelabro de sete braços, conhecido como Hanukká. Encontramos em 1Mc 4,50 a
referência a origem do rito da luz, porém a tradiçãi judaica relaciona-o a um milagre
que aconteceu durante a purificação do templo por Judas Macabeu(ADAM, 2019,
p.10).
Essa festa sempre acontece no dia 25 de Casleu, na época do advento e é
celebrada com grande júbilo como festa das luzes, é compreendida também como
Natal judaico (ADAM, 2019, p.10).

2.7 Festa dos Purim

A origem dessa festa está associada a uma libertação extraordinária dos judeus
da diáspora persa. As referências a esse acontecimento estão no livro de Ester. O
adversário dos judeus, Amã, decidiu pela sorte (purim, plural do acádico pur = sorte),
o dia em que ele destruiria por completo o povo judeu. O nome da festa surgiu desse
fato. Um judeu chamado Mardoqueu, com grande influência na corte real, determinou
que todos os judeus do império persa deveriam celebra os dias 14 e 15 do mês de
Adar como dias de festa e regozijo, precedidos por um dia de jejum, o dia 13 de Adar.
Em Es 9,19;10,3k, vemos que essa festa era celebrada com muita alegria e
descontração. Essa foi festa foi assumindo o caráter de carnaval. Nos dias de festa, o
livro de Ester era lido publicamente e paralelamente eram lançadas maldições dos
presente contra Amã e os ímpios (ADAM, 2019, p.11).
Tirando as leituras e as esmolas, que davam um caráter religioso, era uma festa
puramente profana que se celebrava com diversões e refeições festivas.
Posteriormente, essa festa transformou-se em carnaval dos judeus (ADAM, 2019,
p.11).

2.8 Tesma Beab

Essa ocasião é conhecida como o dia de luto nacional dos judeus. A referência
para a sua datação é a do nono dia do mês de Ab, geralmente entre julho e agosto. Os
judeus recordam quatro catástrofes nacionais, celebradas com luto na data referida: a)
a destruição do primeiro templo em 586 a.C; b) destruição do segundo Templo em 70
d.C; c) esmagamento da revolta dos judeus contra Roma em 135 d.C; d) expulsão dos
judeus da Espanha em 1492. Além disso, faz-se memória a todas as catástrofes que o
povo judaico experimentou durante a sua história. É um dia de um jejum muito
rigoroso. O luto é expresso na liturgia com a leitura do livro das lamentações de
Jeremias na sinagoga(ADAM, 2019, p.11).

3. Festa da Independência de Israel

É a festa mais recente dos judeus, e faz memória a solene proclamação da


fundação do novo Estado de Israel em 14 de maio de 1948, pelo Conselho provisório
do Estado. É um dia muito festivo em Israel, com uma liturgia sinagogal especial
(ADAM, 2019, p.12).

4. Bar Mitzvah

Bar mitzvah, também pode ser escrita como bar mitzva ou mitzwa (hebraico:
“filho do mandamento”).É uma festa de passagem muito significativa para o povo
judeu, na qual acontece a transação do garoto à vida adulta, aos 13 anos. Ao passar
dessa idade, o garoto assume suas responsabilidade civis e religiosas. É o aniversário
de caráter mais significativo para os homens1.
Em preparação para esse evento, os garotos estudam a língua hebraica e a Torá.
Durante a celebração, ele realiza a sua primeira leitura pública da Torá, geralmente na

1
BAR MITZVAH. <https://www.britannica.com/topic/Bar-Mitzvah>. Acessado e:
14/02/2020.
sinagoga. O trecho a ser lido é uma das 54 porções semanais do Torá, chamadas de
Parashat2.
O garoto que se apresenta nessa festa, é considerado como responsável pela
realização de todos os mandamento e, lhe é concedida a oportunidade de usar
filactérios (símbolos religiosos usados na testa e no braço esquerdo) durante as
orações da manhã da semana e pode ser considerado adulto sempre que forem
necessários 10 homens adultos para formar um quorum (minyan) para orações
públicas3.
Esse celebração pode acontecer em qualquer dia,após o 13º aniversário, mas
geralmente ocorre no sábado. A liturgia do dia, portanto, permite que o menino leia o
texto semanal dos Profetas, chamado Haftarah. Isso às vezes é seguido por um
discurso exortativo. Após a cerimônia religiosa, geralmente ocorre um momento
festivo com um jantar social ou banquete em família no mesmo dia ou no dia
seguinte4.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

2
O QUE É UM BAR MIRTZVAH. <https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-um-
bar-mitzvah/>. Acessado em: 14/02/2020.
3
BAR MITZVAH. <https://www.britannica.com/topic/Bar-Mitzvah>. Acessado e:
14/02/2020.
4
Idem.
ADAM, Adolf. O ano Litúrgico: sua história e seu significado segundo a renovação
litúrgica. São Paulo: Edições Loyola, 2019.

BAR MITZVAH. <https://www.britannica.com/topic/Bar-Mitzvah>. Acessado e:


14/02/2020.

O QUE É UM BAR MIRTZVAH. <https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-


e-um-bar-mitzvah/>. Acessado em: 14/02/2020.

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