Você está na página 1de 61

UNIDADE I: A EXPANSÃO ISLÂMICA EM ÁFRICA

1. A Arábia pré-islâmica

A Península Arábica é um planalto praticamente desértico. Somente na parte Sudoeste,


ligeiramente montanhosa, chove o suficiente para permitir culturas permanentes e vive
uma população densa, aglomeradas em grandes aldeias. Existem ainda algum oásis e o
resto é território nómada.

Medina e Meca, situadas em dois oásis, embora modestas no inicio do século VII d.C.,
vão conhecer um desenvolvimento espectacular. Medina no centro de uma pequena
região agrícola e Meca no cruzamento de rotas caravaneiras. Os habitantes de Meca
obtinham grandes lucros exportando para a Síria produtos exóticos provenientes da
Etiópia e do Extremo-Oriente e em troca recebiam cereais e produtos manufacturados
bizantinos.

A Arábia e os seus habitantes estavam em contato com outras civilizações, porque


viviam no Império Bizantino e no Império Romano de Ocidente. Também os judeus e
cristãos viviam em Medina.

Capital mercantil, Meca era também a capital religiosa dos árabes. Ainda pagãs, as
tribos árabes, bastantes divididas, cada cidade adorava os seus ídolos, embora tivessem
já a necessidade de se deslocar periodicamente a Meca, pois aí se realizavam grandes
feiras. Contudo, no inicio do século VII d.C. não havia na Arábia nem estado único nem
a religião única. Esta dupla unidade será realizada por Maomé no inicio do século VII
d.C.

A população da Arábia dividia-se entre nómadas e sedentários. Os nómadas ou


beduínos, agrupados em tribos, deslocavam-se com os seus rebanhos de caneiros, de
cabras, de camelos à procura de novas pastagens. Habituados à rude existência no
deserto, os nómadas eram também caçadores e guerreiros. Por outro lado, e porque a
Península Arábica era um local de passagem entre o Oriente e o Mundo Mediterrânico,
a arábia era também era uma terra de comércio. Foi este comércio que esteve na origem
do desenvolvimento das suas cidades mais importantes, a Meca e Medina.

As terras onde se podiam praticar a agricultura estavam na posse duma nobreza clánica,
enquanto às tribos nómadas faltava a terra, pois a criação de gado não era suficiente
para sustentar o crescimento dapopulação. Assim, no meio de toda esta diversidade de
interesses e de comunidades, começaram a trava-se guerras entre tribos. Foram-se
estabelecendo laços económicos e políticos entre algumas regiões da Arábia. Neste
movimento de unificação económica e política de todos os árabes, a religião islamica
tornou-se como que “ cimento ideológico”.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
2. A unificação religiosa e política
No inicio da sua predicação, Maomé, Maomé não teve nenhum sucesso. Os habitantes
de Meca, para quem o culto dos ídolos era uma fonte de receita, indignaram-se ao ouvi-
lo proclamar: “ há só um deus”. Maomé emigra então para Medina, em 622, onde
contou com o apoio dos judeus e cristão que aí viviam. Este migração é chamado de
Hégira, e é a partir dela que os muçulmanos contam os anos.

Em meados do século VII d.C. toda a Península arábia se encontra unificada religiosa e
politicamente. Contudo, a estabilidade económica não tinha sido conseguida. O
problema da falta e distribuição de terra continuava. Assim, aqueles que não tinham
lugar na arábia, fundamentalmente os nómadas, tornam-se guerreiros profissionais e as
suas actividades guerreiras dirigem-se contra os países vizinhos com a finalidade de
obterem lucros.

3. A expansão muçulmana
Seguindo o conselho de profeta, os árabes lacam-se a conquista e a conversão do mundo
ao islão. Partindo da arábia, embora sendo poucos, vão aumentar os efectivos dos seus
exércitos com guerreiros recrutados entre as populações recém-convertidas. Eram
animados pela ideia de que faziam a guerra santa.

O este, os árabes conquistam aos bizantinos a Palestina, a Síria, a Arménia; conquistam


a Pérsia e chegam a Turquistao Chines.

A Oeste, em África, conquistam o Egito, a Sirenaica, toda a África de Norte. Os


berberes vencidos depois de uma longa resistência, entram no exército e participam na
conquista de Península Ibérica sob as ordens de Tarik. O exército que invadiu a
Península Ibérica, em 711, contava com 12 mil berberes e 300 árabes. O próprio Tarik
era berbere.

Em cerca de 100 anos, os árabes conquistaram um grande império que estendia a Ásia, a
África e a Europa. A que se deve a este prodigioso sucesso? Em primeiro lugar, os
árabes souberamaproveitas ao máximo as fraquezas dos seus adversários: bizantinos e
persas, esgotados e divididos a uns séculos de guerra ente si, foram incapazes de se
unirem perante um inimigo comum. Sobrecarregados pelos impostos e por vezes
perseguidos pelas suas ideias religiosas, as populações acolheram os invasores árabes
como autênticos libertadores e, como já se disse, enchiam de voluntários os exércitos
muçulmanos.

Senhores das rotas comerciais fundamentais, como a rota da Seda, do mediterrâneo, do


Mar Vermelho e das rotas trans-saarianas. os muçulmanos vão desempenhar um papel
importante na economia mundial.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
4. A organizacao do império
Os soberanos que sucederam a Maomé tinham o título de califa, que significava,
representante do profeta. Os quatro primeiros Califas conservaram Medina como capital
mas a unidade mantida durante 30 anos (de 632 a661 d.C.) era cada vez mais frágil,
visto que, tinham problemas de como administras territórios tão diversos, com
populações tão diferentes.

Os governados da Síria tomou a iniciativa de romper com o Califa de Medina.


Proclamou-se Califa e fundou uma nova dinastia a que se chamou de Omíadas, a partir
do nome da sua família. A sua capital era Damasco, na Síria. Os omíadas organizaram
um exército poderoso e disciplinado e rodearam-se de uma administração eficaz e
centralizada. Contudo, a posição dos partidários de Ali, último Califa que teve a sua
capital em Meca, chamados chitas, fazem aparecer revoltas um pouco por todo o lado.
Passado um século os Omíadas são derrotados e substituídos pelos Abássidas, que eram
descendente de Abbas, o tio de Maomé. A nova capital era em Bagdad. A sua
administração, mais bem organizada do que a dos Omíadas, era dirigida por um
primeiro-ministro, o Vizir, e por juízes, os Cadis. Os Abássidas governaram durante
cinco séculos (750 a 1258 d.C.). O Império Abássida, bastante extenso e povoado por
populações muito diversas. Assim, começa a fragmentar-se em reinos independente e
muitas vezes rivais entre si, embora unidos por laços muito fortes como a língua e a
religião, as mesmas praticas governamentais e por laços económicos.

5. O islão na África do Norte


Depois da conquista do Marrocos em 710 d.C., o Califa de Bagdad encarregou o
governador da Ifriqiya de administrar toda a Berbéria.

Nas cidades de África do Norte, encontravam-se lado a lado muçulmanos, árabes e


berberes e, ainda, os judeus e cristão, que mediante um imposto podiam praticar a sua
religião. O Islao não admite conversões forçado, sobretudo quando se trata de cristão e
judeus. Por outro lado, os “pagãos” eram obrigados a converter-se. Quanto aos berberes,
que na altura não eram muçulmanos, mas eram na sua maioria monoteístas. O problema
era desde inicio mais político do que religioso e é o que explica exactamente a feroz
oposição armada dos berberes impostos a facilidade de conversão ao islamismo.

Mas os ocupantes árabes vão exigir dos berberes os impostos que os muçulmanos não
pagavam. Os impostos eram de capitação e imposto sobre terra. Os abusos cometidos
pelos governadores são frequentes. Começam a surgir conflitos entre árabes e berberes.

A doutrina Khardjita, nascida no sunismo e chismo a quando da primeira cisão no


mundo árabe, defendia que os califas deviam ser eleitos pela comunidade muçulmana e
que as distinções no seio dos muçulmanos dependiam somente da fé e não da família de
que se descendia ou da raça. Essa doutrina corresponde, assim, às aspirações dos

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
berberes, porque seriam considerados iguais em direitos e em deveres aos árabes. Após
vários conflitos, constituem na Berbéria alguns estados independentes. Os mais célebres
foram o Sidjilmassa e Tahert. Sidjlmassa rapidamente se tornou num próspero centro
comercial donde partiam e chegavam as caravanas do interior de África. Tahert, situado
numa região fértil e num ponto de cruzamento de várias rotas comerciais, tornou-se num
centro económico e religioso de grande importância.

A conquista do Egito tinha durado três anos e a da Berberia durara 63 anos. O Egito era
para os árabes um celeiro de onde, além dos impostos, extraiam o trigo.

6. A penetração árabe no interior de África


O Islão penetrou em África por duas vias, que eram da África do Norte e da África
Oriental. Para o nosso estudo, interessa a penetração por via África do Norte.

A partir da África do Norte, o Islão penetrou em África, no seu interior, graças aos
mercadores árabo-berberes. A partir do século VIII d.C., as rotas de Marrocos para o
Sudão conheceram uma grande atividade. Esta rota, conhecida por “ rota dos
noventadias”, ligava os portos deTamedelt do Norte e de Awdaghost no Sul. Uma outra
rota utilizada era chamada a rota dos Garamantes, entre a Fezania e Gao, no Sudao
Central. Também, utilizavam a rota de que ligava a Gadames ao Níger.

Na extremidade destas pistas meridionais e rotas transversais muito ativas, ligavam os


portos caravaneiros, como a deWatala para Tombuctu, Gao, Darfur, para os postos do
Mar vermelho e depois para Meca ou para Oceano Índico.

Juntamente com as trocas económicas, estabelecem-se ligações culturais entre Sudão e a


África do Norte. Foram os geógrafos árabes como El-Bekri, Ibn Batuta, IbnKhaldun que
transmitiram as primeiras informações sobre os reinos negros de África.

UNIDADE II: OS GRANDES REINOS E IMPÉRIOS


AFRICANOS ATÉ SÉCULO XVI

1. Fatores fundamentais que condicionaram o aparecimento de


grandes estados suanenses
Dois factores influenciaram decisivamente o aparecimento dos estados africanos na
região conhecida por “ Sudão Ocidental”, são: a metalurgia de ferro e o comércio
internacional de ouro ou comércio transariana.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
O ferro foi em todo mundoum material que revolucionou a forma de vida dos povos
quanto começou a ser utilizado no fabrico de instrumentos de trabalho, tornando
possível aparecimento de novas e mais complicadas sociedades. A partir do momento
da sua metalurgia (a maneira de moldar e utilizar), o ferro era um metal mais fácil de
obter do que bronze e cobre e era muito mais eficiente, dando aqueles que o possuíam a
possibilidade de dominar os que o não possuíam.

Em África as coisas passaram‐se deste modo. Os primeiros reinos do Sudão apareceram


com o resultado da superioridade dada a certos povos pelo uso de ferro/ Embora não
haja ainda conhecimentos certos, o mais provável éque este conhecimento tenha vindo
para o Sudão principalmente através das migrações de povos vindos nomeadamente de
Meroé, nas margens do Nilo.

Ao começar a ser utilizado, o ferro acelerou as conquistas e a centralização do poder,


abalando os fundamentos do sistema tribal e dando origem a novas formas de
organização social.

Outro fator que ajudou a fortalecer e enriquecer os novos estados do Sudão Ocidental
foi o comércio internacional, principalmente o comércio do ouro desses estados para o
Norte de Africa (depois para Europa) através do saara. Nem todos os estados do Sudão
Ocidental controlam as minas de ouro africano, visto que estes se encontram a Sul, nas
regiões de florestas, mas todos controlam pelo menos o trânsito desse ouro para Norte.

2. O Império de Gana, apogeu e declínio


O Império de Gana foi fundado, formalmente, no século IV d.C. pelos negros Soninké
da região de Ouagadu. Através de sucessivas conquistas, os imperadores (Tunka)
alargaram o seu domínio sobre todas as regiões situadas entre o rio Senegal e o médio
Níger apoderaram-se das minas de ouro de Bambuk. A Norte repeliram, no seculo VII
d.C., os conquistadores árabes e controlaram as minas de sal saarianas e as rotas
comerciais trans‐saarianas. No seculo X, o Tunka do Gana conquistou a rica metrópole
berbere de Awdaghost e tornou‐se o senhor de oeste sudanês.

O Império de Gana era muito rico e bastante extenso. Era constituído por províncias,
cujos reis pagavam tributos ao Tunka, forneciam-lhe guerreiros e enviavam os seus
filhos para se educarem na sua corte. O Imperador, que tinha o título de Tunka ou
KayaMaghan (senhor de ouro), vivia na capital, tendo a mais célebre, a KoumbiSaleh,
rodeado de uma corte faustosa.

A religião oficial era o animismo e os ganenses adoravam uma jiboia, divindade da


fecundidade, a quem ofereciam a cada ano uma jovem virgem. Os muçulmanos,
geralmente estrangeiros; viviam do comércio.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
O Império de Gana devia a sua prosperidade ao comércio trans‐saasiano , entre a Africa
do Norte e o Sudão interior. Os produtos manufacturados do Norte, o sal saariano, eram
trocados principalmente pelo ouro do Sudão e pelos escravos negros.

Esta grande prosperidade de Gana reduziu os Almorávidas, que conduziam então uma
grande seita no Sahel sudanês. Graças ao seu forte exército, Gana resistiu longos anos e
só sucumbiu em 1076 sob os golpes de Abu‐BakrIbn Omar.

O rei de Gana converteu‐se ao Islão e a sua capital tornou‐se um grande foco


muçulmano e um importante centro comercial.

O Império, libertado dos Almorávidas em 1087, estava já enfraquecido. As províncias


que permaneceram animistas tornaram‐se independentes, como as províncias de Diara,
Diafounu, Sossos, Mandé. Em 1203, SoumauroKanté, rei Sossos, apoderou‐se do Gana.
Por volta de 1240, foi a vez de SundiataKeita, imperador do Mali, anexar o Gana,
batendo os Sossos. A partir de então o Gana perdeu a sua independência económica em
proveito de watala, que captou o comércio trans‐saariano. Koumbi‐Seleh tornou-se uma
pequena cidade caravaneiro.

2.1. Causa da decadência do Gana


O acontecimento que consiste no nascimento, no seculo XI, em Marrocos, da maior
potênciamagrebina pode ser considerado como a causa extrema essencial, senão a única,
da decadência do Gana. Nesta região tinha surgido impérios, que depois, pouco a pouco,
estenderam‐se para Leste e o poderio e a sua cultura. Estes impérios, por outro lado,
tinham iniciado luta do Islão contra a cristandade. A luta contra os cristãos foi iniciada
na tribo dos Lemtounas. O apelo foi lançado por um grupo de notáveis que se juntaram
num convento militar, situado numa ilha próxima das costas da actual Mauritânia.

Podemos afirmar que Islão está na origem das causas externas da decadência e da
destruição do Gana pelos Almorávidas.

Por outro lado podemos dizer que declínio do Imperio de Gana se deve à falta de
unidade política, à luta interna entre os príncipes pela sucessão ao trono e à rivalidade
entre as numerosas tribos que compunham o império. Finalmente podemos dizer que o
declínio se deve ao desvio das rotas comerciais de Oeste para Leste/

3. O Império de Mali
A história do Império do Mali exige o conhecimento das fontes que fornecem as
informações necessárias sobre a evolução deste grande império. Entre elas temos as
fontes árabes, europeias, a cartografia, a arqueologia e também as fontes tradicionais.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
3.1. O Mandé antes de SundiataKeita
O Mandé situava‐se nos planaltos mandigas, no eixo Kita‐Bamako‐Kangaba. O Níger
ou Djoliba e o Befing irrigam esta região que é rica em culturas cerealíferas. O mais
importante é que possui as minas de ouro de Buré e alimentou o grande comércio tran‐
saariana durante a idade média africana. Os clãs mandingas vivam primeiramente sobre
os planaltos. Depois desceram para os vales onde formaram pequenos reinos dirigidos
pelos clãs dominantes: os Konaté, os Camará, os Traoré etc. Progressivamente, e pela
força da historia, os clãs dos Konaté emergiu do grupo e anexou os outros.
Sucessivamente vassalo do Gana e depois do Sosso, o Mali foi libertado por
SundiataKeita que fundou um Império.

3.2. SundiataKeita, fundador do Império (1231 a 1255)


A vida de SundiataKeita, tornada lendária, é o refrão de muitas músicas e cantos das
regiões mandingas. Paralisado das pernas até aos dez anos, SundiataKeita, filho de
NaréFamangan e de SogolonKediugu, voltou-se para a caça e tomou o título de
“simbon”, que significa o “ mestre caçador”. Teve a reputação de grande magico, de tal
forma que a sua influencia aumentou e tornou invejoso o seu irmão que, uma vez no
trono, exilou Sundiata.

SoumaroKanté, o grande rei feiticeiro do Sosso saqueou a região mandinga enquanto


Sndiata estava no êxodo e destronou o seu irmão, rei do Mali. Sundiata organizou então
o seu regresso, e conseguiu rapidamente a unidade dos reinos mandinga contra a feroz
dominação do inimigo comum, Soumaro Kanté. Chegado ao trono em 1230, Sundiata
conduziu uma longa e difícil guerra contra o rei dos Sossos. Osexércitos do Sundiata foi
várias vezes derrotado, mas retomou sempre o combate até à vitória final sobre
SoumaroKanté, que teve lutar na batalha de Kirina, ao Norte de Cangaba, em 1235.
Sundiata, o grande vencedor, consagrou-se à reorganização da grande região mandinga.

O reino do Sosso e todos os seus reinos vassalos foram confiscados por Sundiata,
Imperador do Mali. Os príncipes mandingas festejaram a vitória de Sundiata e deram-
lhe o título de “Mansa”, que quer dizer rei dos reis, e prometeram‐lhe solenemente
submeterem‐se aos seus descendentes.Todos os clãs mandingas prometeram obediência
a Sundiata.

Assim nasceu o Império do Mali. O seu exército bem organizado e conduzido por
generais corajosos alargaram as suas possessões territoriais do Mali através de
sucessivas conquistas. Em 1255, o Império do Mali estendeu‐se de Gana ao rio Gambia
e das Proximidade do Tekrur ao MédioNiger.

O Imperador do Mali incentivou a agricultura, encorajou e organizou o comércio,


assegurou a ordem em todo o Império. Era animista, mas permitiu à religião muçulmana

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
desenvolver‐se de uma forma livre. Sundiata morreu em 1255, depois de ter assumido
as responsabilidades dum Imperador preocupado com a segurança e a economia do seu
Imperio.

3.3. Sakouré, o escravo liberto (1285 a 1300)


A sucessão ao trono desencadeava a divisão e a anarquia na família imperial. Segundo
os costumes, a herança deve passar ao irmão e não ao filho mais velho do defunto
imperador. Os filhos de Sundiata sucederam-lhe no trono sem êxitos visíveis. Um deles,
com o nome de Califa, bastante cruel, foi assassinado. Os seu sucessor imediato
Aboubacar I que reinou pouco tempo.

Por ocasião duma nova crise de sucessão, o escravo imperial Sakouré, bom militar e
mestre na guerra, usurpou o poder do Imperio em 1285. Com as qualidades inerentes a
um bom chefe de guerra: coragem, piedade, humanismo, Sakouré manteve as
instituições do Império e respeitou a tradição. Retomou a politica das grandes
conquistas territoriais, anexou o Tekrur e engrandeceu o Império até ao atlântico,
ocupando o Delta Central no Níger, a cidade de Tonbuctu e mesmo o reino de Gao.

Em 130, Sakouré fez uma peregrinação a Meca, depois de ter conscientemente


assumido as suas responsabilidades de Imperador do Mali. Mas no regresso foi
assassinado. O príncipe legítimo do trono do Mali, Aboubar II, tomou o poder e
retomou o projecto de explorar o oceano Atlântico. Constitui uma importante frota,
composta de miotos barcos e começou esta exploração, de onde não regressaria

KankùMussá, a quem tinha confiado o governo imperial, tornou‐se pelas vias politica o
Mansa do Mali em 1312.

3.4. O Reinado de KankúMussá (1312 a 1337)


A história do Mali é dominada por três homens, cujas acções são da maior importância:
Sundiata Keita, Sakouré e Kankú Mussá, que é o mais conhecido na história económica
do país. A sua grande peregrinação a Meca tornou‐o célebre no oriente e mesmo na
Europa, onde o seu nome era representado sobre um mapa para indicar o Império do
Mali. Kankú Mussá, como outros historiadores preferem (de qualquer forma lembrando
que ele tem o nome da sua mãe, Kankú), recebeu uma educação mandinga islâmica
excelente. Era piedoso e imprimiu na corte imperial uma personalidade especial. Vestia‐
se sempre de uma maneira faustosa; o seu tempo dividia-se entre os problemas doestado
e a reflexão religiosa. Kankú Mussá lia e escrevia correctamente o árabe, o que o
encorajou a escrever um livro sobre a boa educação do seu povo. Não receava enfrentar
os maiores intelectuais do seu tempo e estava apto para discutir todos os assuntos
intelectuais, principalmente a teologia. Convidava os filósofos para se aproveitar os seus
conhecimentos e para se cultivar constantemente. Era um rei bom: todos os dias

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
conforme as tradições mandingas, libertava m escravo e distribuía esmola pelos pobres
dos bairros periféricos de Niani.

Voltemos à peregrinação de KankúMussá que teve lugar entre 1324 a 1325, e que é o
acontecimento mais importante da sua vida. Preparou esta viagem material e
financeiramente durante vários anos, para se purificar depois de morto acidentalmente a
sua mãe. Pediu ajuda de todos os seus vassalos, que gostavam dele que lhe deram uma
importante contribuição. Recebeu ofertas de toda a espécie.Produtos alimentares,
animais, couros, objectos preciosos, ouro, etc..

Iniciou a peregrinação em Maio de 1324. Era acompanhado por numerosos príncipes,


doutores, guias e também pela sua esposa, a imperatriz Naren. KankúMussá que não se
tinha esquecido do destino de Sakouré, decidiu ainda fazer‐se acompanhar por uma
grande escolta armada, avaliada em 15 ou mesmo 30 mil homens. Levou também
imensa fortuna, que fez baixar o valor do ouro no Egipto durante vários anos. No seu
itinerário de viagem, passou por walata, atravessou o Saara, atingiu a Líbia, depois o
Cairo, onde foi acolhido pelo Sultão do país. Deixou a população do Cairo estupefacto
pela sua fortuna e pela sua generosidade. Continuouo seu caminho e chegou a Meca e a
Medina, onde cumpriude forma excelente as suas obrigações religiosas. No regresso,
passou por Gao, cidade de novo conquistado pelo seu exército, e por Tombuctu, onde
construiu um palácio imponente. Construiu também em Tombuctu a mesquita de
Djingerber e reentrou em Niani no início de Janeiro de 1325.

Esta viagem, que durou oito meses, teve grande importância pela sua consequências
políticas, económicas, religiosas e culturais.

As relações entre o Império do Mali e os países árabes e europeus multiplicaram‐se de


imediato; a difusão do Islão foi rápida e atingiu a quase totalidade da população
sudanesa da época. Os modelos da construção civil árabe foram limitados, no Mali,
acontecendo o mesmo a certos modos de vida que Kankú Mussá observou durante a sua
viagem.

É sob reinado de Kanku Mussa que o Império do Mali atingiu o seu apogeu. Este grande
território imperial estendia-se então de Takkeda (no Níger) ao Tekrur (no Senegal), no
antro de saara à região florestal meridional. O grande império do Mali era próspero
graças às minas de cobre e sal de Tegazza e graças também ao comércio trans-saariano,
que favoreceu o desenvolvimento de grandes e ricas cidades como Djené, Niani, Walata
e Tombuctu, centros de grandes atividades de trocas de produtos de Sudão interior
(cerais, escravos, ouro, etc.) pelo sal saariano (salgema) e pelos produtos manufatrados
da África do Norte, vindos do Marrocos e do Egito. O Islão é favorecido pelo comércio,
difundindo pelas iniciativas do imperador e encorajado por todos os mansas doo
império. Espalha-se assim por todos os cantos do império. Foram criados grandes focos
culturais onde se discutiam ideias sobre todos os assuntos inteletuais daquele tempo;
estes focos eram sobretudo animados pelos árabo-berberes e a maior delas, era
Tombuctu. Foram construídas numerosas mesquitas e em todas as cidades importantes

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
existiam escolas corânicas abertas a todas as crianças do império, sem descriminações
de nascimento.

O Império tinha uma estrutura administrativa bem desenvolvida. Estava dividido em


províncias e cada uma delas era governado por um Farim (governador); os reinos
vassalos viviam em paz e em ordem. O exército estava bem organizado e era formado
por milhões de guerreiros; com ele, os mercadores trabalhavam com objetivo de alargar
o domínio e a cultura mandingas em todo o ocidente africano.

No exterior do Império, Kanku Mussa conduziu uma politica de paz e manteve


excelentes relações com grandes sultões de toda a África do Norte. Morreu em pleno
apogeu, no respeito e confiança de todo o seu povo, em 1337.

3.5. O reinado de Mansa Suleimane: 1341 – 1360


O imperador que imediatamente sucedeu a Kanku Mussa foi o seu filho Magen I. o
maior acontecimento no seu reinado foi a invasão da embocadura do Níger pelos
Mossis, que aproveitaram para saquear totalmente a cidade de Tombuctu.

É somente com mansa Suleimane, irmão de Kanku Mussa, que reaparece o brilho do
Império do Mali. Mansa Suleimane, foi um grande administrador, administrando o
tesouro do império com muita sabedoria e assegurou também a paz e a justiça em todo o
Império, após o período de perturbação do reinado de MagenI. Foi visitado em1353 por
grande viajante marroquino, Ibn Battuta, que nos deu muitas informações sobre Império
do Mali. Informações que foram completadas por vezes pelos navegadores portugueses.

Após Mansa Suleimane, o Império do Mali foi enfraquecido por numerosas crises de
sucessão. Os príncipes estavam desunidos e guerreavam-se constantemente. Os
inimigos exteriotes, Songhai, Mossi e Tuaregues, conquistaram varias províncias do
Mali. Outras tornaram-se independentes. No século XVI, o grande Império do Mali
estava reduzido às regiões mandingas e às províncias de Bambuk e do Oeste. Tornar-se-
á ainda mais pequeno no século XVIII, reduzindo-se à província de Kangaba, vassalo
dos Bambara de Ségou.

4. Império do Songhai
4.1. Origens de Gao

Ignora-se a origem precisa do povo songhai. Sabe-se que entre os séculos VI e XI,
vários povos estabelecidos desde há muito tempo no vale do Níger, no perímetro
Tillaberi-Dendi, norte de Dosmé, fundaram aldeias de onde nasceu o reino de
Kukya: são os Sorko (pescadores), os Gabili (agricultores) e berberes nómadas.
Kukya era então governada pela dinastia dos Dia. Tornou-se no século XI um

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
grande centro comercial entre Sudão interior e a África do Norte. Assistimos à
conversão ao Islão, em 1010, do rei Dia, Kossoy. Devido a esta conversão, a religião
muçulmana espalhou-se então na região.

Rapidamente, por razoes económicas, Kukya foi suplantada por Gao, que era o
destino de todas as caravanas que vinham do Norte. O rei muçulmano dedicou-se à
construção de importantes mesquitas e palácios. Conquistou todas as regiões
vizinhas, que deram o Gao uma tal importância estratégia que em breve se tornará o
maior mercado do Níger. Mas esta importância económica devido à situação de Gao
suscita o interesse dos “ mansas” do Mali, que a anexaram no início do século XIV.
O reino de Gao foi libertado por volta de 1337 pelo príncipe Ali Kolon, que esteve
na origem da dinastia dos Sonni ou Chi, mais ou menos vassalos do Mali. Os Sonni
foram os reis enérgicos e tomaram muitas iniciativas que deram progressivamente
ao reino uma vasta extensão territorial, lutando contra os seus vizinhos. Os mais
ilustres da dinastia dos Sonni foram Sonni Mandana, que saqueou o Império do
Mali, Suleimane Daman, o destruidor de Mesma e Sonni Ali Ber, chamado “ O
Grande”, fundador do Império.

4.2. Sonni Ali, o fundador do Império do Songhai: 1464 a 1492


Não era um bom muçulmano. Sonni Ali era sobretudo um africano ligado às
culturas ancestrais, às profundas tradições do seu povo, que considerava, graças à
sua inteligência, um génio (dali).

Realizou, pelas forças das armas, a unificação política de todas as regiões do vale do
médio Níger e fixou as bases do Estado e das Nação Songhai. Constituiu uma
grande frota sobre Níger, um exército formado duma cavalaria de elite, que estava
na frente das suas conquistas e uma infantaria, recrutada em quase todas as tribos.
Estava pessoalmente à frente do seu exército e condizia as expedições contra os
vizinhos; a Este lutou contra os Baribe de Dendi; a Norte recalcou os Tuaregues e
levou a colonização Songhai até ao Adrar; no Ocidente conquistou Djené, após uma
luta de sete anos e Tombuctu; dizimou os fulas de Macina; a Sul fez várias
expedições contra os Mossi e venceu em 1483 o rei Mossi, Nassare, que vinha de
Watala carregado com um rico espólio. Quando da morte de Sonni Ali em 1492, o
Império Songhai estendia-se de Dendi ao Macina.

Sonni Ali Ber era um grande homem de estado que dotou o Império Songhai duma
boa estrutura administrativa, dividindo o Império em três grandes províncias: o
Dendi, o Kourmina e o Hombori, que colocou sob direcção dos “farba” ou
governadores. Tentou consolidar as bases do seu Império, lutando contra as forças
de desintegração; os marabutos de Tumbuctu, amigos dos Tuaregues, os fulas
individualistas, o Islão militante e destruidor. Promoveu o desenvolvimento da
agricultura, construído diques e abrindo canais e por volta do fim do seu reinado,

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
encorajou o comercio trans-saariano, cuja prosperidade trará uma nova fase
económica ao Império.

4.3. Askia Mohamed, da dinastia dos Askia: 1493 a 1592


Campeão do islão, Mohamed, o Hombori Koi, usurpou o poder em detrimento do
filho de Sonni Ali, em 1493 e fundou a dinastia dos Askia. Era da origem Soninké,
do clã dos Turé. O seu nome de origem era Mohamed Lamine Turé. Bom
muçulmano, apresentava-se como o defensor do islão, religião cuja consolidação e
expressão favoreceu. Respeitava os marabuntos e cobria-os de atenções. Fez uma
peregrinação a Meca em 1496 – 1497 e regressou com o título de Califa do grande
Sudão.

Askia Mohamed criou o Estado de Songhi, que dividiu em várias províncias


confiadas a titular revogáveis, chamados farbas, governadores de grandes províncias
e Mondzo Koi, chefes de pequenos reinos e cidades.

No governo central, Askia Mohamed era rodeado por uma corte imperial – a suma,
que compreendia os eunucos, os marabuntos, os príncipes da família imperial e os
ministros responsáveis pelos diferentes serviços do estado: rio, agricultura, tesouro,
exercito, governadores do palácio imperial e justiça.

O reinado de Askia Mohamed foi marcado por um levantamento intelectual e


religioso. Tombuctu, Gao, Djené, tornaram-se grandes focos de cultura islâmica.
Askia Mohamed venerava os “Ulama” (sábios), presenteava-os e confiava-lhes a
direção de algumas cidades, como Tumbuctu. De tempos a tempos convidava sábios
estrangeiros a vierem instalar-se no seu império e mantinha relações Intelectuais
com todo o mundo muçulmano.

4.4. Os sucessores de Askia Mohamed


Os filhos de Askia Mohamed eram numerosos. Estavam desejosos de reinar também
e por isso estavam divididos. O mais célebre deles foi o Askia Daound, que reinará
de 1549 a 1583, no apogeu do Império Songhai. O seu reinado foi marcado pela paz
geral. A agricultura e o comércio eram prósperos, as cidades de Tombuctu, GAo e
Djené eram ricas e bastante povoadas. O Askia Daound encorajou o ensino das
letras e criou uma história imperial de excelente qualidade.

Após Askia Daound recomeçaram as querelas de sucessão e o Império enfraqueceu.


O Sultao de Marrocos, que invejava as minas de sal de Tegazza e o ouro, aproveitou
esta ocasião de fraqueza e de instabilidade para lançar um corpo expedicionário sob
direccao do Paxá Djouder. O Askia Isac II, imperador de Gao, foi derrotado em
Tombidi em1591 pelos exércitos marroquinos. Assim os marroquinos apoderaram-

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
se de toda a parte ocidental do império, de Gao e de Djené e estabeleceram a sua
capital em Tombuctu. Os Songhai foram recalcados para o Dendi, na fronteira do
atual Benim, onde fundaram um novo estado.

5. Os reinos mandingas
5.1. As origens dos reinos mandingas da Guiné
Por voltamde meados de século XIII, guerreiros malinké, conduzidos por Tiramakhan
Troaoré, general de Sundiata, Imprerador de Mali, vieram estabelecer-se em Gabú. O
Gabú torna-se assim uma província dirigida por um Farim (governador), escolhido entre
os membros dos Mané e Sané, descendentes de Tiramakham. É do Gabú que, mais
tarde, teriam partido os quelowar, os quais, com MNSA Wali, fundaram no Senegal os
reinos séréres do Sine e mais tarde do Salum.

O Gabú, que era o principal Provincia mandinga, não era contudo o único. No nordeste,
na margem direita do Geba, os mandingas fundaram os reinos de Oio e de Berço. Para
além do território da Guiné, havia também uma série de pequenos reinos mandingas
no Vale de Gambiia (Niumi ou Bara, Badibu, Niani, Wuli, Cantor, etc.), fundados,
segundo se diz a transição, por outros gwnwrais de Sundiata, por exemplo, Wuli
fundado por general Siré Birama Berete

Na época de apogeu do Mali, a autoridade do Mansa, residente em Niani, a capital do


Império, estendia-se sobre todo o litoral. Os farins eram os seus representantes que
governavam as províncias. Além das províncias mandingas, os territórios povoados de
outros grupos étnicos constituíam também províncias sob a sua autoridade. Contudo,
bem rapidamente, os governadores, nomeadamente o do Gabú, tornaram-se
independentes de fato e intitularam-se Mansa, mas o do Braço manteve o seu título de
Farim. Eles reconheciam a superioridade e a autoridade de Mansa de Niani, mas como
residia muito longe, não intervindo de forma alguma nas questões locais, perdeu
influência sobre as províncias. Com o enfraquecimento do Mali no século XVI, estas
províncias tornaram-se completamente independentes.

5.2. O apogeu do Gabú: do século XVI a XVIII


Após a passagem dos fulas, dirigidos por Koli Tenguella, que se instalaram no vale do
Senegal, o Gabu, que esteve momentaneamente ameaçado, reconquistou a sua
independência e tornou. Se o Estado mais poderoso da região.

A capital onde residia o Mansa era Kansala. A Império estava dividida em 6 províncias:
Pathiana, Djimara, Sama, Manna, Paquessi e Payinko. Cada província era dirigida por
um governador o qual recebia um boné de comandante dado pelo Mansa. O farim, por

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
seu lado, ordenava aos chefes de distritos e aos kanta Mansa (guardas imperiais) que se
estabelecessem nas fronteiras do reino, que eles tinham por missão proteger. Cada farim
ou Mansa subalterno era um pequeno rei no seu território. As suas funcoes eram
hereditárias, tinham também as suas cortes, o exercito, tambores reais. No entanto ele
devia obediência ao Mansa, de quem dependia.

O Mansa era escolhido sucessivamente entre os príncipes, dos clãs Mané e Sané das três
províncias de Pathiana, Djimara e Sama. A sucessão era matrilinear, porque era
transmitida segundo a linha feminina ou seja, segundo a mãe. Somente as filhas das
princesas chamadas Nantio, descendendo, pelos lados das mulheres, da primeira rainha,
podiam tornar-se rainhas. Os governadores, farins e Kanta Mansa eram nomeados entre
os descendentes dos reis, em linha masculina.

O Mansa era considerado uma personagem sagrada, portador de felicidade do reino,


devendo garantir boas colheitas e proteger o país das doenças e das guerras. No dia da
sua coroação, ele profetizava diante do povo reunido tudo o que se devia passar durante
o seu reinado. Ele governava com ajuda dos príncipes reais, que se tornavam
governadores e formavam a corte e dos escravos reais, que constituíam a sua guarda
permanente. Também se auxiliava de chefes das castas de artesoes (os bardos).

Em caso de guerra, o Mansa fazia apelo aos farins, aos quais vinham cada um com o seu
exército. Todos os homens livres eram então mobilizados, formando os nobres a
cavalaria.

As receitas do Império eram modestas. Provinham de impostos sobre as colheitas,


multas de justiça, presentes dos farins e sobretudo bens conquistados nas guerras.
Juntavam-se estas receitas, após a chegada dos portugueses, os “costumes”, direitos
pagos pelos comerciantes estrangeiros.

5.3. Economia e a sociedade

O Gabú e os outros reinos mandingas cobravam as suas receitas principalmente a partir


da agricultura extensiva, de longas rotações, como milho, arroz ou algodão. As
mulheres ocupavam-se dos terrenos inundados de cultura de arroz. Os fulas tornados
sedentários (fulacundas), instalados no meio dos mandingas, ocupavam-se da criacao de
bovinos e cordeiros. O tráfico com os postos comerciais portugueses (Ziguinchor,
Farim, Cacheu, Geba, etc.) permitiu aos reis e aos príncipes enriqueceram e adquirirem
escravos que revendiam aos europeus.

Os guerreiros mandingas (sebbe) eram reputados pela sua bravura. Cada capital de
província era protegida por um tata fortificado e numerosas fortalezas protegiam as
fronteiras.

Como no Sudão, a sociedade mandinga era fortemente hierarquizada: príncipes e


escravos reais constituíam a classe dominante. Mas a exploração de classe era

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
camuflada pela solidariedade e os deveres recíprocos entre as entre as diversas
categorias sociais e pelo carácter sagrado e patriarcal do poder real. O rei aparecia como
sendo o chefe supremo da família.

5.4. O fim do reino do Gabú e a conquista fula

É a formacao do Estado militar do Futa-Djalon, nos fins do século XVIII, que destrói a
potência do Gabú.

A riqueza do Gabú, devida aos seus contatos diretos com os postos europeus, aguçou o
apetite dos Almames do Futa-Djalon empreender a guerra santa. Na verdade, os
mandingas eram já muçulmanos no momento da chegada dos portugueses no século
XV. Mas a religião muçulmana era só praticada corretamente pelos reis e a sua corte e,
pouco a pouco, o rigor da prática desta religião tinha-se enfraquecido e misturava-se
com práticas feiticeiras. Por outro lado, as lutas entre os governadores tinham, desde há
muito tempo, enfraquecido o reino. O governador de Paquessi, convertido ao islamismo,
recusava-se reconhecer a autoridade do Mansa.

Durante primeira metade do século XIX, os almames do Futa-Djalon e os alfa mo Labé,


(chefes de provincias de Labé, próximo do Gabú), multiplicaram as expedições. Foram
mais de uma dezena dirigida a Gabu, em que conseguiam pilhar e capturas escravos,
mas sem conseguir destruir o império.

Em 1867, os fulas de Futa, dirigidos pelo Almame Umarú, estando em pessoa,


mobilizaram todas as suas forças com a ideia de o liquidar definitivamente. Cercaram a
Kansala e o Mansa Dianké Wali, consciente da inferioridade das suas forças, decidiu
antes morrer do que render. Ele fez explodir a sua reserva de pólvora, metendo fogo à
cidade e destruindo as principais forcas dos dois exércitos. O Gabu perdeu a sua
independência e passou para a dominação dos Alfa Mo Labé.

6. OS ESTADOS YORUBA E HAUSSA


6.1. Os estados Haussa

a) Formação dos Estados Haussa

Como a maior parte dos povos africanos, os haussa vieram provavelmente de Leste.
Terão emigrado de Air, entre os séculos VII e X em direção ao Norte de atual Nigéria.
Entre o Níger e o seu afluente Benué, os haussa fundaram varias cidades independentes.
Algumas destas cidades eram povoadas na sua maioria por haussas. Estas cidades eram
Daoura, Kano, Gousire, Ziria, Katsena, Biram, Rano. Em algumas outras cidades, entre

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
os quais Kebi, Nupé e Ilorim, os haussas detinham o poder mas não formavam a maioria
da população.

No século VIII, os comerciantes mandingas, os Wangara, infiltraram-se entre os haussa


e fundaram um pequeno reino muçulmano Gangera, que se tornou um grande centro
comercial e religioso. A explosão mandinga favoreceu a conversão ao Islao das cidades
haussa. Assim o rei de Katsena converteu-se por volta de 1320 e o de Kano por volta de
1370.

b) Os principais reinos Haussa

Cada uma das 14 cidades haussa constituía um reino. Alguns deles desempenharam um
papel importante na História da Idade Média Africana.

O reino de KAtsena era um centro comercial entre as ricas cidades do Sul e o Mali, o
Songhai, o Air e o Kanem-Bornu. Após a conversão do rei, o reino de Katsena tornou-
se um centro inteletual que os letrados de Tombuctu e do Magreb visitavam
constantemente. Este reino foi vassalo do Bornu no século XV, depois passou, no início
do século XVI, para a dominação do songhai, favoreceu o desenvolvimento do
comércio no reino.

O reino de kano era desde o século XIV um grande foco comercial e era terminal
natural das caravanoas Sahelianas. Os produtos do artesanato haussa eram de notável
originalidade: os tecidos de algodão muticolores, sapatos, entre outros. Os cereais, os
animais e sobretudo os escravos forneciaam a base principal das trocas.

Os haussa, seguindo o exemplo dos Djilas mandingas, tornaram-se hábeis comerciantes.


Por volta dos fins do século XV, sob reinado do rei Rinfa Kano tornou-se a primeira das
cidades haussa do ponto de vista comercial, da expansão do islão, etc. Rinfa construiu
mesquitas e reorganizou a administração do reino, que dividiu em províncias e distritos,
governados por altos funcionários.

Kano foi vassalo de Bornu e depois de Songhai, no século XVI. Após a luta incessante
contra as cidades vizinhas, o comércio enfraqueceu; numerosos habitantes foram ou
obrigados a emigrar ou reduzidos à escravatura.

O reino de Zaria, antes chamada Zak-Zak, deve a sua importância aos êxitos da rainha
Aminia, a grande conquistadora que se apoderou de todas as regiões do Sul durante a
segnda metade do século XV. Reinou durante 34 anos, construiu numerosas fortalezas e
desenvolveu o comércio. Após o seu reinado, o império enfraqueceu e desmembrou-se.

O Kebi, foi o único reino haussa que nunca foi vencido, permanecendo independente até
ao século XIX. Foi fundado por Kanta, que revoltado contra o soberano de Katsena, se
refugiou no Kebi, formou um poderoso exército através de recrutamento massivo e
obrigatório e se impôs depois a todos os seus vizinhos. As suas vitórias sobre o Askia

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
Mohamed em 1515 e depois sobre o Imperador do Bornu aumentaram o seu prestígio.
Após Kanta, o Kebi continuou independente, mas deixou de dominar os seus vizinhos.

A civilização Haussa é concretizada sobretudo por um hábil artesanato, uma forma de


vestir ampla e elegante e uma grande atividade comercial. A língua haussa possui ma
leitura escrita com o alfabeto árabe e obras de grande importância. A organização
político-administrativa é de tipo oligárquico.

6.2. As cidades Yoruba

As regiões Yoruba, situam-se na zona florestal entre Luemé e o Baixo Níger. Cobrem a
parte Ocidental do Sul do atual Nigéria e uma parte do Daomé Ocidental, atual Benim.
São regiões húmidas e férteis.

Os Yoruba vieram também de Lesta e ter-se-ão instalado nesta região em duas


migrações entre os séculos XI e XII. Por meio das suas atividades fundaram
rapidamente varias cidades cujas principais foram Ifé, Ilorin e Oyo. Estas cidades,
primeiramente sob o poder de um rei, tornaram. Se independentes e foram
administradas pelas grandes famílias locais. O Soberano ou “alafim” de Oyo, a mais
antiga das cidades, representava a mais alta autoridade nas regiões Yoruba.

A religião dirigida pelo “ Grande-Padre” (o Oni), mantinha a unidade religiosa ee


cultural dos yorubas. Os yorubas criaram no século XII o reino de Benin. Tratava-se de
yorubas que chegaram mais a Sul e que se misturaram com os autóctones, os Edos. O
primeiro rei deste reino foi Eveca, que criou um conselho de governo composto por sete
membros e tomou o título de “ Oba”. No século XIV, o “Oba” Evaué, homem instruído
na magia e na medicina, protetor das artes, atraiu os escultores yorubas e desenvolveu a
estatuária de bronze. Trazia jóias magníficas e estava rodeado duma brilhante corte de
senhores inteligentes e com bons conhecimentos de diplomacia.

A civilização do Yoruba-Benin é uma das mais brilhantes de África. Concentrou


fortemente a população nas cidades, desenvolveu numerosos atividades agrícola,
artesanais e comerciais. Estas cidades, verdadeiras pequenas repúblicas, compreendiam
a cidade e os seus arredores e eram na maioria parte protegidas por muralhas. Uma
destas muralhas históricas é ainda hoje visível em Kano. Fabricavam tecidos famosos,
que depois eram explorados para o Norte.

Os diferentes ofícios estavam organizados não em castas mas em confrarias com


patrões, operários e aprendizes. A confraria dos ferreiros era bastante poderosa.

Os yoruba acreditavam na vida do além. Tinham vários deuses: entre forças de natureza
e antepassados, contam-se mais de 600 deuses de yorubas. Cada família tinha o seu deus
protetor, muito venerado, um local de oferendas e de sacrifício e um padre. Para o culto
da cidade estava organizado um clero a nível nacional. Em Ifé, a cidade santa, residia o
“Grande-Padre”, o Oni, chefe supremo da religião, sem poder politico mas gozando de

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
grande autoridade entre o povo. A sua corte foi o centro da brilhante civilização artística
do Golfo de Benin.

A arte Yoruba-Benin com as suas estatuetas em terra cozida, em bronze, em latão, em


ferro ou em madeira, muitas vezes representação das coisas e dos seres, eram de uma
grande beleza. Floresceu sobretudo na Idade Média.

7. O REINO DO CONGO: SÉCULO XIV A XVI


7.1. Origens do reino

O Reino do Congo é um dos mais célebres estados bantu da África Central. A sua
poderosa centralização política e a sua abertura à Europa foram duas características
importantes. Por volta do século XIV um grupo de emigrantes bacongo, sob a
direcao do príncipe Wene ou Nimia LUkeni, estabeleceu-se sobre o planalto do
Congo e conquistou as aldeias vizinhas. Nimia Lukeni, tornado rei, apoderou-se das
principais províncias da região: Mpoumba, Nbamba, Soyo e mais tarde Mpangu e
Mbata. Os reis de Dembo, de Matamba e de Orango submeteram-se por sua vez ao
rei do Congo.

7.2. Organização do reino

O reino do Congo é um exemplo da organização política bantu. O reino fortemente


centralizado, é uma poderosa monarquia onde todo o poder se encontra na mão de
rei.

O rei eleito por um conselho eleitoral composto por doze grandes dignitários. Esta
eleição dava muitas vezes lugar a conflitos entre os diversos pretendentes ao título
real. Mas o rei, uma vez eleito, tinha o poder total e era absolutamente obedecido.
Por outro lado tinha o direito de nomear ou de revogar todos os funcionários ou
agentes do reino. Era considerado como um ser superior, o senhor do mundo. Devia
procurar a prosperidade para o seu reino e devia favorecer, pelas chuvas, a
fertilidade do solo. O rei permanecia num trono e possui um espectro de comando.
Estava permanentemente rodeado por príncipes, grandes dignitários e artesãos.
Governava o reino o país com ajuda de um conselho, constituído pelos governadores
de províncias ou “ mani” e por outros grandes dignitários da corte. O rei que era
eleito por um conselho, que devia obrigação de consultar, para tomar decisões mais
importantes e coerentes à vida politica do reino.

A administração provincial era assim constituída: fora da capital Mbanza, o São


Salvador, diretamente governada pelos agentes do reino. O reino do Congo era
dirigido por funcionários dependentes do rei, que podiam ser demitidos de cargos
em qualquer momento. Os mais importantes, os mani, governadores de seis
províncias principais, eram ao mesmo tempo membro de conselho real e deviam

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
periodicamente apresentar-se na corte, onde participam nas atividade
governamentais do reino. As províncias dirigidas pelos mani eram elas também
divididas em distritos e as suas comunidades dependiam dos chefes ciânicos locais
fundadores. A carreira administrativa não estava fechada ao povo e toda a gente
podia participar, segundo a sua qualidade, nos assuntos governamentais.

O rei do Congo era um soberano suficientemente rico para se impor e governar com
a sua dignidade, porque a riqueza era uma fonte de respeito e consideração. O rei
recebia, cada ano, os impostos colectados pelos governadores. Entre estes
encontravam-se tecidos de ráfia, marfim e escravos. O rei tinha também a
responsabilidade total de exploração dos cauris da Iha de Luanda; estes cauris
serviam de moeda em toda África Central. O rei, com a chegada dos europeus, os
portugueses, recebia direitos importantes. Com o seu comércio pessoal confiado a
agentes, o rei fez então explorar minas de prata e cobre que trouxeram grandes
benefícios para si mesmo e para o povo.

O exército do rei, com exceção da sua guarda pessoal composta sobretudo de


estrangeiro, era de tipo feudal, pois em caso de guerra recebia contingentes de
guerreiros de todas as províncias do reino.

7.3. Tentativa de europeização: séculos XV a XVI


a) Os primeiros contatos com Portugal

Em 1482, o navegador português Diogo Cão descobriu a embocadura do Congo, no


Zaire, na época do reinado de Nzinga Kuwu (1482 a 1485). Desde então o reino entrou
em contato com o reino de Portugal e os reis esforçaram-se para modernizar através da
introdução da civilização da Europa cristã. O comércio desenvolveu-se rapidamente
entre dois reinos. Os tecidos, armas, pacotilha da Europa em troca de madeira, do
marfim e sobretudo escravos do Congo eram objetos de torças. A Ilha de São Tomé
servia de escala entre os dois reinos.

O rei Nzinga Kuwu e alguns altos dignitários abjuraram a religião tradicional, o


animismo, para se converterem à religião cristã. A capital tomou o nome de São
Salvador, estabeleceram-se padres no reino e jovens congoleses foram enviados para
Lisboa para estudar.

b) Politica de europeização de Afonso I: 1506 a 1540

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
Afonso foi eleito rei em 1506, após vitória sobre os seus rivais. Foi educado na religião
católica e acreditava nos valores cristãos e europeus. Pensava que a modernização do
seu reino devia passar por uma europeização sistemática.

Fez chegar missionários para convertes o povo e enviou jovens congoleses a Portugal. O
seu filho, D. Henrique, reputado pela sua piedade, foi nomeado bispo do Congo, o que
era um título privilegiado naquela época.

Pediu a Portugal assistência técnica, no que se refere, aos professores, pedreiros,


carpinteiros, operários de todos os ofícios, para ensinarem o seu povo. Encorajou o
comércio marítimo e tentou em vão regulamentar o comércio esclavagista.

Esta politica, não teve os resultados esperados por causa da oposição dos africanos,
fortemente ligados às suas tradições, por causa de má qualidade dos assistentes
portugueses e do “ imperialismo” do rei de Portugal, desejoso de manter o seu
monopólio e a sua soberania sobre o Congo.

6.3. Declínio do reino do Congo: finais do século XVI

Após Afonso I e o seu sucessor Diogo I, os conflitos de sucessão enfraqueceram o


reino. O comércio atlântico periclitou e os navios portugueses abasteciam-se sobre a
costa de Angola.

Nos fins do século XVI, o reino foi invadido e saqueado pelos Jaga, guerreiros terríveis
que se lançaram sobre o centro do continente em meados do século XVI. O reino foi
salvo graças a intervenção dos portugueses em 1561, que a partir desta data puseram o
Congo sob a sua tutela e se apoderaram da costa atlântica de Angola.

7. A COSTA ORIENTAL DE ÁFRICA NA IDADE MÉDIA


7.1. A costa oriental de África

a) Evolução das cidades

Como outras regiões de África, a costa oriental, da Somália a Sofala, foi um centro de
uma brilhante civilização urbana.

A partir do século VII o Islão penetrou na região graças aos comerciantes árabes que se
estabeleceram progressivamente sobre a costa, onde fundaram feitorias. Dos séculos
VIII e século XII, um grande desenvolvimento comercial fez aparecer muitas cidades.

Dirigidas por dinastias muçulmanas, independentes uma das outras, estas cidades eram
cidadelas fortificadas, geralmente adornadas por mesquitas com cúpulas gigantescas e
jardins esplêndidos e por monumentos de todas as espécies. Todas estas cidadelas
estavam ligadas à grande civilização islâmica que se estendia da Arábia do Sul à Índia.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
Eram também mercados cosmopolitas, onde se encontravam mercadorias de todo o
mundo.

A mais importante era Quíloa, na ilha com o mesmo nome, na atual Tanzânia. Célebre
pela sua grande mesquita e pela sua cidadela, era o grande mercado de ouro, de marfim
e do cobre que vinha do monomotapa (na Rodésia, atual Zimbabwe), pelo porto de
Sofala. Realizava neste comércio com Mogadíscio (atual Somália), a maior cidade do
Norte, entreposto das mercadorias do Oceano Índico.

Mombaça (no atual Quénia), cidade povoada naquele tempo por quase vinte mil
habitantes, estava especializada no comércio de marfim e de escravo. Aproveitou-se o
declínio de Quiloa no século XV para tomar por si numerosos mercados. Outros centros
de comércio animavam a Ilha de Zanzibar, ao largo da atual Tanzânia, de Melinde e de
Paté.

b) Relações comerciais

Todas estas cidades da costa oriental eram geralmente entrepostos intermediários entre
o interior de África e os países do Oceano Indico. Graças as monções que eram grandes
ventos periódicos que sopram durante seis meses da Índia em direção a costa africana e
durante outros seis meses no sentido contrário, as relações comerciais eram
estabelecidas entre a costa oriental de África e os países asiáticos, sobretudo o sul
arábico, a Índia, a China e a Malásia. Assim trocavam-se nas cidades costeiras os
produtos africanos com os do Oriente, como os escravos negros (chamados Zendj, o
nome antigo de toda a África Oriental), ouro do Zimbabwe, marfim, especiarias, peles,
carapaças de tartarugas e outros, tecidos de seda, pérolas, especiarias de Índia, armas e
porcelanas de China.

A costa era então frequentada por mercadores não somente árabes mas também
indianos, chineses e malaios. Desde grande contato entre povos diversos e diversas
civilizações iria crescer uma língua mestiça, o Swahili, com o fundo bantu e escrita
árabe. Os escravos negros iam levar para o mundo muçulmano a raça e a cultura negro-
africana.

7.2. O reino Monomotapa: século XV ao século XVIII

A descoberta de gigantescas ruínas em pedra de Zimbabwe no centro da antiga Rodésia


suscitou discussões muito intensas sobre os autores destas construções.

Sabe-se hoje que o Zimbabwe era a capital de um grande reino bantu, chamado
Monomotapa, devido às deformações portuguesa do nome do rei Mwen Motapa, que
existiu entre os séculos XV aos séculos XVIII. Este reino era poderoso e rico graças à
exploração das minas de ouro, de cobre e de ferro, cujas ruínas são ainda imponentes.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
O reino tinha também uma superioridade militar sobre os seus vizinhos e mantinha um
importante comércio com a costa oriental pelo porto de Sofala. Os habitantes
construíram cidades gigantescas em pedra e eram igualmente hábeis na cerâmica e na
metalurgia.

UNIDADE III: A AMÉRICA E A ÁSIA NAS VÉSPERAS DA


EXPANSÃO EUROPEIA

Quando a América foi descoberta, os europeus deparam-se com povos índios, cujo nível
de desenvolvimento cultural e social variava consideravelmente.

Enquanto maioria desses povos, ainda em estado primitivo, viviam das atividades
primárias, isto é, caçando, recolhendo raízes e frutos comestíveis como zagaias armadas
de pontas líticas, pescando ou dedicando-se à agricultura e a criação de animais. Outros
tinham já atingido um alto nível de civilização, formando grandes impérios.

São os casos dos três grandes impérios que iremos estudar: o Asteca, o Maia e o Inca.

1. Os Astecas
Vindos do Norte, os Astecas eram uma tribo de pastores nómadas e de guerreiros, que
se estabeleceram no alto planalto mexicano, no fim do século XIII.

Em 1325 fundaram Tenochtitlan, capital do seu império, hoje a cidade do México,


situada na região do lago Texcoco.

Em 1426, os Astecas de Tenochtitlan formaram uma aliança com as tribos texcoco e


Tlacopan, derrubaram várias tribos vizinhas e acabaram por conseguir controlar todo o
vale Anáhuac.

Pouco depois, impõem a sua autoridade à maioria das tribos índias, submetendo assim
todo o México. Formaram desta forma uma confederação a que se chamavam “ Império
Asteca”

Exigiam às tribos conquistadas elevados tributos, ficando com grande parte das suas
terras e faziam inúmeros prisioneiros (estes eram sacrificados aos deuses astecas ou
tornados escravos, quer para trabalhos domésticos, quer para a construção civil ou
agricultura).

Por altura da chegada dos espanhóis no século XVI, estavam no seu apogeu.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
2. Os Maias
Mais ao Sul, na região do Lucatao e da Guatemala, desenvolveu-se a mais antiga
civilização que se conhece no continente americano.

Apareceram por volta do século III e atingiram o seu apogeu no século VII. Formara
grandes cidades-estado, como Chichen-Itzá, Uxmal, Mayapan e outras, entre as
quais se travavam guerras durante vários séculos.

3. Os Incas
O Império dos Incas localizava-se na América do Sul, no Andes, área do atual Peru.
Chefiados por Pachacutec, Tupac Yupanqui e Huanna Capac, subjugaram algumas
tribos dessas regiões e formaram um grande império, chefiado pelo Sapa Inca (único
Inca) e com capital em Cuzco que situava a 3400 metros de altitude.

Tal como os Astecas e dos Maias foram dominados pelos espanhóis no século XVI.

4. Estruturas económicas e sociais


Apesar de ignorarem algumas plantas já conhecidas no Velho Mundo e óptimas para
se desenvolverem no continente, estes povos já conheciam, seleccionaram e “
domesticaram” mais de quarenta espécies de plantas que depois difundiram para todo o
mundo e que constituíam uma boa parte da sua economia, como o milho, batata, tomate,
feijão, mandioca, ananás, algodão, tabaco, pimenta, cacau (de onde extraíam o
chocolate), a coca (produto que fazia desaparecer a fadiga), a borracha, etc.

Para além das aves de capoeira, do cão e das lamas dos Andes não souberam domesticar
mais nenhum animal, sendo que alguns animais como o carneiro, o boi, o porco e o
cavalo eram mesmo desconhecido. Desconheciam também o ferro, a roda e a tração
animal. Os Astecas, assim como os Incas, dedicavam-se à tecelagem e ao comércio de
tecidos, cordas, plumas, peles, sal, ouro, prata e pedras preciosas.

A sociedade Maia estava longe de ser uma sociedade Homogénea. A nobreza e os


sacerdotes constituíam as classes dominantes, havendo também uma classe especial de
comerciantes.

A nobreza, dona de plantação de cacau, colmeias e de depósitos de sal, possuía muitos


escravos, sendo a sua origem muito diversificada – pioneiros de guerra, criminosos,
devedores e até órfãos.

O povo era constituído pelos agricultores e trabalhadores das construções.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
Os Astecas viviam em clãs Dante com chefes eleitos. O principal comandante militar
era o supremo chefe da tribo e desempenhava importantes funções religiosas.

Mas podemos dizer que a sociedade se dividia em duas classes distintas: a classe alta
que era a elite, composta por nobres, sacerdotes, militares e comerciantes; e a classe
baixa, composta pela massa popular, isto é, lavradores, artesoes, soldados comuns e
escravos (prisioneiros de guerra).

Quanto aos Incas, encontramos o Inca ou Imperador, que por vezes era adorado como
um deus, nos nobres, os sacerdotes e no fim os servos e escravos.

5. O Império Mongol

No século XIII, a Europa e os Estados Latinos do Oriente vêem nascer um grande


perigo – a formação do Império Mongol, por Gengis Khan.

Os Mongóis eram um povo nómada da Ásia Central que, em constante deslocações


procuravam bons pastos para os rebanhos de carneiros e manadas de cavalos, bois e
camelos.

Óptimos cavaleiros, excelentes arqueiros e guerreiros, utilizavam nas suas conquistas


uma táctica guerreira eficaz. Primeiro geravam o pânico nas regiões a conquistar e
depois quando estas já se encontrarem indefesos e desorganizados é que começam a
conquista propriamente dita.

Os mongóis eram governados pelos Khans (chefes). Um destes Khans, Temudjin,


graças à formação de um forte e disciplinado exército conseguiu unificar a Mongólia,
impondo depois a sua autoridade em 1206. Passou então a designar-se por Tchinggiz-
Khans ou Gengis Khan, o que quer dizer “ Rei Universal” e empreendeu a conquista das
regiões vizinhas.

Cengis Khan e o seu exército lançaram-se sobre o Norte do Império chinês, apoderando-
se de Pequim em 1215 e sobre a Ásia Central, conquistando Turkestao, a Transoxiana, o
Afeganistão e o Irão e em 1222 avançaram até a Rússia Meridional. Gengis Khan morre
em 1227 com 77 anos.

O seu filho, Ogodai, continua a conquista da China do norte e da Coreia; em 1237


lança-se em expedições na Europa, tomando o Moscovo, Cracóvia e avança para Viena.
Com a morte de Ogodai esta conquista fica suspensa por algum tempo, mas vai
prosseguir com Koubilai, neto de Gengis Khan.

A China do sul é conquistada. Aí derrotaram a dinastia dos Song e fundam uma nova
dinastia, a dos Luan, fundada por Koubilai, que irá reinar na China durante um século,
com o fim da dinastia dos Yuan em 1368.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
A Oeste, ainda empreenderam algumas conquistas, por exemplo a Síria, mas devido ao
seu número muito reduzido são rápida e facilmente assimilados. Muitos deles
convertidos ao Islão, tornando-se progressivamente soberanos iranianos.

Contudo, os territórios sob dominação mongol permaneceram durante mais de um


século num ambiente de paz relativa.

Organizaram nos países conquistados, protegeram a agricultura, embelezaram as


cidades, restabeleceram a circulação de homens e mercadorias entre o Mediterrâneo e a
China e permitiram que a Europa cristã e o mundo islâmico estabelecessem relações
com o mundo asiático.

A dinastia de Gengis Khan afunda-se no século XIV e issi leva a um enfraquecimento


do império.

Na China, um revolta nacional, iniciada a sul, expulsa Yuan dando lugar à dinastia dos
Ming.

Entretanto, na Ásia Central, um príncipe Turcomano, muçulmano convertido, reinicia,


mas já sem o mesmo senso político, a obra de Gengis Khan. Depois, um homem muito
cruel, que deixou um rasto de ruína e muitos mortos, Timour-Lenk ou Tamerlão, funda
o segundo Império Mongol.

Em 1402, vence o sultão turco na sangrenta batalha de Ankara. Tenta reconquistar a


China, mas morre entretanto.

Com a capital do Império em Samarcanda, fez dela, uma capital imperial um grande
centro de comércio onde convergiam os produtos chineses e indianos.

Após a morte de Tamerlão esta grande atividade começa a desaparecer, assim como se
verifica a decomposição do Império.

6. A dinastia Ming na China

Como vimos, os mongóis alcançaram a China e ocuparam-no totalmente ao Norte no


século XIII; pouco depois a China do sul é invadida: Hang Tcheou, a capital, é ocupado
em 1276. A China perde a sua independência e é reunificada debaixo do jugo Mongol.
A dinastia Song é substituída pela dinastia Yuan, fundada por Koubilai.

A partir de 1352, uma vasta insurreição iniciada a Sul arruína o Império Mongol. A
dinastia Yuan é substituída pela Ming, fundada por um camponês, chefe dos revoltosos,
que reinará na China até ao século XVII e que domina Pequim, a Norte, como capital do
país. A China desenvolveu-se lentamente sob a dinastia Ming.

Os marinheiros Chineses aprenderam a navegar a navegar pelo mar alto e iniciaram as


suas expedições marítimas pelo Oceano Indico.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
Durante este período cresceram as indústrias caseiras camponesas, as indústrias e
manufaturas do Império. Fabricavam armas de fogo e apareceram os primeiros jornais.

No início do século XVI, o sistema de parcelas de terra atribuídas aos camponeses e


soldados, verificado logo após expulsão dos mongóis, começa a desintegrar-se.

Os novos proprietários de terras, grandes senhores feudais, ocuparam novas


propriedades, expulsaram os camponeses e depois contrataram-nos como arrendatários,
em péssimas condições. Durante esta dinastia registaram-se algumas revoltas, que
empreendidas pelas massas populares, quer por funcionários administrativos das
camadas mais baixas e médias, que resultara em fracassos.

Mas por volta de1630 o descontentamento já se tinha espalhado, havendo uma crescente
agitação entre os camponeses.

Os Ming são substituídos em 1667 pelo Manchu, que lideram até 1912.

7. A divisão política da Índia

Durante toda a Idade Média a divisão política da Índia em reinos independentes vai-se
manter, expto por certos períodos de tempo, muito curtos, em que se tenta a unidade e
se fundam impérios.

Esta situação de divisão interna permitiu que a Índia tivesse sido frequentemente
invadida e conquistada por outros povos.

Contudo, podemos dividir a Índia em duas regiões bem diferentes: a Índia do Norte e a
Índia do Sul.

Entre o século IV, decorre um dos curtos períodos de unidade territorial, o período do
reino Gupta.

Depois da queda iniciou-se o processo de generalização da Índia, tanto a Norte como ao


Sul.

Em meados do século VIII, o Estado Norte-Indiano, Vardhan, é substituído por alguns


principados governados por uma aristocracia de chefes militares, enquanto no Sul,
surgem vastos Estados, como os dos Pallavas ou dos Chanlukyas.

No século XI e XII tenta-se a unificação do Decão do Sul e do Centro, governados pela


dinastia Chaulya e dos principados do Norte governados pela dinastia Chola,
verificando-se assim uma consolidação do aparelho do Estado.

Durante todo este período da história da Índia, vamos encontrar uma característica
fundamental na sociedade, que á divisão da mesma em causa, segundo a categoria do
individuo. A medida que o tempo passa, esta divisão é cada vez maior, crescendo
também as diferenças entre as diferentes castas.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
As castas superiores eram os brahamaneses (sacerdotes), os chatrias (atos funcionários
do governo, chefes militares e grandes proprietários de terras), tentavam conservar os
seus privilégios e a sua condição de classe dominante e exploradora.

Entre as castas inferiores, registavam-se uma divisão por ofícios, quer dizer, cada ofício
artesanal comportava-se como uma casta em si – os vaisias (comerciantes, agricultores,
artesãos), os surdas (escravos) e os “ intocáveis” ou parias (uma grande parte da
população que não tinha casta e que se dedicava aos trabalhos mais repugnantes).

7.1. A penetração do Islão

A constante desunião do pais e as sua riquezas atraiam com frequência povos invasores
conquistadores, como é o caso dos muçulmanos. A penetração do Islão fez-se
pacificamente por mercadores árabes, a partir do século VIII, do lado da costa oeste da
península e pela conquista militar do século XII; os turcos ocuparam a Índia do Norte,
que ficou sob a sua dominação.

No inicio do século XIII, Iltutmish, um turco, organizou o primeiro grande estado


muçulmano da Índia: o Sultanato de Deli, entre 1206 a 1526. Alãud-Diu, sultão célebre,
que acaba por submeter os príncipes não muçulmanos do Norte não conseguindo
contudo, conquistar a zona de Decão

Aí se vão manter os Estados Hindus, sendo o mais importante o Império dos Chola.

8. O Império Otomano

Os Otomanos, aparentados com os Seljucids, eram uma pequena tribo originária das
estepes da Ásia Central, que se dedicavam à pastorícia e à pilhagem.

No inicio do século XIII, os mongóis com Gengis Khan a comanda-los, obrigaram-nos


abandonar a Ásia Central, dirigindo-se para oeste, para a Ásia Menor, ocupando o
nordeste da atual Turquia.

Os Otomanos vão buscar o seu nome a um dos seus primeiros chefes – Othman. Este,
criador dum principado, criado à volta da cidade Brousse, adotou e fez adotar os seus
súbditos à religião muçulmana.

Começou então a expansão d seu território que é continuada por sucessores: vão
expandindo progressivamente os seus poderes sobre a Ásia Menor e Balcãs

Sucedeu-lhe o seu filho Orkhan, que cria um exército regular composta por uma sólida
infantaria e uma cavalaria muito rígida.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
Em 1400, devido às lutas entre os mongóis (segundo Império Mongol com Tamerlão) e
turcos, originadas pelo desejo de conquista da Ásia Menor por parte dos mongóis, a
expansão do Império Otomano abranda um pouco.

Os turcos são derrotados, mas após a morte do Imperador Mongol, recomeçou a sua
conquista e em 1451, o poder Otomano estende-se novamente da Ásia Menor aos
Balcãs

1453, Mohamed IIconseque conquistar Constantinopla. Esta era a prestigiosa capital


dum grande império já em decadência – o Império Bizantino.

A cidade é rebaptizada com o nome de Istambul e torna-se a capital do Império


Otomano. Mohamed II e os seus sucessores continuaram as suas conquistas e a
expansão do seu império na Europa, na Ásia e em África.

Na Ásia Menor a sua dominação foi até à confluência dos rios Tigre e Eufrates; em
África, penetraram no Egito e estabeleceu protectorado Otomano na região de Argel.

A frota turca instalou-se nos portos tunisinos e argelinos, controlando assim o comércio
estabelecido no Mediterrâneo, enquanto em terra controlava as grandes rotas comerciais
que ligavam a Europa aos mundos árabe e asiáticos.

Os Otomanos constituíam assim, um império que atinge o seu apogeu com o sultão
Solimeu, o Magnifico, entre 1520 a 1566. O Império Otomano constituía na sua época
um grande império, muito poderoso e com uma sólida organização politico e militar.

O império era governado pelo sultão, senhor absoluto dos seus súbditos, possuidor do
título de califa. Era assistido por um conselho ou “divan” de quatro ministros ou
“vizires”, que ele próprio nomeava, assim como os governadores (os beys) das várias
províncias (sandjaks) do império.

Os funcionários eram considerados escravos promovidos ao “posto” de servidores


privilegiados. Estes eram recrutados entre as crianças dos povos submetidos,
essencialmente entre os cristãos, que depois eram educados sob a religião muçulmana.

Quanto ao exército, instrumento da conquista turca, era formado por cavaleiros, os “


sipahi” ou “sipahis”, pelos arqueiros, os “yaya” ou “azab” e pela famosa infantaria dos
janíçaros. Estes eram fornecidos pela “ devehirmed”, entregavam a criança como
pagamento do imposto de sangue, pagado em 5 em 5 anos, pelos povos balcânicos.

A sua frota era importante. As suas galeras, onde os remadores eram cristãos cativos; e
os seus numerosos canhões eram temidos em todo o mediterrâneo.

Os otomanos davam uma grande liberdade política aos povos submetidos. Muitas vezes,
os senhores e até os príncipes eram mantidos nos mesmos lugares que ocupavam antes
da conquista, com a condição de se manterem fies ao sultão.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
UNIDADE IV: A EUROPA E A DESAGREGAÇÃO DO
FEUDALISMO

1. O aparecimento das relações capitalistas


Estudamos no ano anterior o aparecimento do feudalismo. Vimos que no século XI o
feudalismo europeu atingiu o auge e nesse mesmo século começou a verificar-se uma
recuperação económica social e política. As estruturas feudais tradicionais evoluíram e
nos séculos XII e XIII encontravam-se caducas e começaram a dar lugar a novas
culturas.

O comércio dentro do sistema feudal era uma atividade bastante lucrativa; depois do
século XI cresceu ainda mais de importância. As cruzadas (expedições guerreiro-
religioso com o objetivo de libertar a Jerusalém, a cidade santa dos católicos, das mãos
dos infiéis, mas também com um objetivo económico), ampliaram o horizonte
económico europeu. As cidades europeias animaram-se. As feiras passaram de
encontros locais de mercadores a encontros internacionais. Os senhores feudais e os
reis, tal como os mercadores compreenderam a importância económica das feiras e,
embora por motivos diferentes, dão-lhes a sua proteção. Para o rei é uma forma de
desenvolvimento do país, para os senhores feudais é uma forma de arrecadar impostos
que recaem sobretudo sobre os mercadores e para estes, uma forma de desenvolver a
sua atividade e de ganhar dinheiro. As rotas internacionais têm uma grande importância:
as do Sudão, as do Oriente e as do Extremo-Oriente.

Os progressos da economia urbana implicam o aparecimento de novas atividades,


artesanais essencialmente, mas também bancárias e o aparecimento de novas relações
sociais.

Vimos no ano anterior que, no inicio do feudalismo a economia era fechada, isto é,
produzia-se para auto-consumo.

Verificou-se depois um ligeiro desenvolvimento das forças produtivas e algund


produtos eram já gastos no mercado. Na nova fase do sistema feudal verificou-se, como
não podia deixar de ser, um desenvolvimento dos ofícios, como a tecelagem, o fabrico
de onjetos de metal, etc. O artesão agora já não era artesão e agricultor ao esmo tempo;
ele era odono de meios de produção e produzia para o mercado.

A manufatura foi a primeira forma de produção não feudal. A produção era ainda
manual, mas baseava-se na divisão do trabalho. O artesão era um trabalhador que
executava uma só operação durante o fabrico de um objeto. Se fosse alfaiate, por
exemplo, cortava o tecido ou cosia depois o tecido ou pregava botões, isto é, um artesão
fazia uma coisa e outro fazia outra e assim sucessivamente até a conclusão do produto.
Esta forma de produção permitiu uma brusca subida de produtividade. Distinguem-se
dois tipos de manufaturas: a centralizada ou oficina manufatureira e a dispersa ou a
industria domiciliaria.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
A manufatura centralizada caracterizava-se pela concentração de um número bastante
elevado de operários numa mesma oficina. A manufatura dispersa englobava artesãos
que trabalhavam no seu domicílio, isto é, na sua própria casa, por conta de um burguês.

Verificamos assim que, além das novas relações sociais de tipo capitalista, a própria
estrutura social tornava-se mais complexa e além da nobreza tradicional e dos
camponeses, era composta por estas duas classes sociais: o proletariado e a burguesia.
Esta burguesia tinha efetivamente algumas semelhanças com a burguesia mediaval que
estudamos, quer a nível económico quer a nível político. O proletariado era constituído
por camponeses sem terras e por artesãos arruinados e foram estes que não tinham, além
da força do trabalho, que se venderam por um salário à burguesia.

No campo, onde a produção tinha aumentado depois do século XI e pelas razoes então
estudadas, os servos sempre que tinham a possibilidade, fugiam para as cidades, onde
ganhar a vida era mais fácil. O mesmo acontecia com os pequenos camponeses. Para
travar esta fuga, o senhor feudal teve que recorrer a algumas reformas: arredar as terras
aos servos ou aos camponeses livres, recebendo a renda não em produtos, mas em
dinheiro; acabaram com as corveias antes impostas aos camponeses e com outro tipo de
tributos.

2. A crise do século XIV

No inicio do século XV podemos afirmar que dois sistemas económicos coexistem:


o feudal e o capitalista, que começava a dar os primeiros passos.

A Europa neste século conhecia um período de graves crises causadas, quer por
razoes de ordem interna, a desagregação e a inadequação das estruturas feudais, quer
por motivos da ordem externa, como as pestes. Em 1348, caiu sobre a Europa um
flagelo terrível; a peste negra. Este fenómeno alastrou a toda a Europa. A população
sofreu um baixo alarmante causada pela mortalidade, devido à epidemia. Por outro
lado, os maus anos agrícolas, em consequência das alterações climáticas, as doenças
do gado e a falta de higiene levaram ao aparecimento da fome e consequentemente
as novas mortalidades. A guerra quer interna quer externa, foi outro fator que levou
a uma crise generalizada na Europa.

A população diminuiu, faltava braço para o trabalho, o comércio decaia, tal era o
quadro da Europa do século XIV. Tudo isso foi acompanhado por uma grave
recessão económica. Os impostos subiram, a moeda desvalorizou, os preços
aumentaram, o consumo diminuiu, arruinado os proprietários e os rendeiros das
terras e o ouro e a prata faltaram para a cunhagem da moeda.

As más condições económicas do século levaram à exacerbação da luta de classes,


às tensões sociais entre as camadas populares e as camadas senhorias e entre a
burguesia e os assalariados. Travavam-se lutas renhidas no campo e na cidade. No
campo foram os camponeses que se revoltaram contra os senhores, nas cidades

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
foram os assalariados que se revoltaram contra a burguesia urbana, verificavam-se
motins em quase todos os países europeus, como a França, Inglaterra e Portugal. Em
Portugal é a revolução de 1383, que começou por ser uma revolução popular, que
acaba por levar a burguesia ao poder. Em França a revolta mais conhecida e a
chamada Jacquerie; os camponeses revoltaram-se contra os nobres. S classes nobres
apelidavam pejorativamente os camponeses de Jacques Bonhommes, é daqui que
provem o nome da revolta: Jacquerie. Os populares atacaram os castelos e os
palácios dos senhores feudais, mataram, pilharam e incendiaram. Os senhores
acabaram por esmagar a revolta massacrando as massas camponesas.

Esta crise significou a libertação total do feudalismo e a passagem para uma nova
fase: a do capitalismo.

3. Do poder local ao poder nacional

O sistema político feudal caracterizava-se, já o dissemos, pela descentralização. O


rei reinava, mas não governava. Isto é, os senhores feudais eram por vezes mais
fortes do que o rei. O senhor feudal era a autoridade máxima dentro dos seus
domínios.

Mas, com o desenvolvimento comercial assistimos ao aparecimento de uma classe


importante, a burguesia. Os interesses da burguesia coincidiam de certa forma com
os interesses dos camponeses, visto que ambos queriam ver-se livres da teia dos
senhores feudais. Por outro lado, o rei tinha os mesmos interesses. Submeter à sua
vontade a burguesia. O rei iria dispor dos capitais da burguesia para centralizar o
poder; interessava a uns e outros a unificação política e económica de todo o pai; a
burguesia queria comercializar livremente em todo o pais sem ter que pagar
impostos aos nobres. A partir do século XI assistimos em toda a Europa ao processo
da centralização do poder real. Não foi um processo simples, mas pelo contrário
complexo e moroso. Somente no século XV este processo se considerou, em linhas
gerais, terminado. À descentralização segue-se o absolutismo monárquico, o rei era
o senhor absoluto. A autoridade real elevava-se agora acima das classes sociais e a
económica iria ser alvo de novo progresso. O rei favorecia e protegia os interesses
da burguesia.

Praticamente todos os estados europeus se unificaram neste período. Digamos que, à


medida que o sistema feudal ia enfraquecendo, a burguesia e o rei fortaleciam as
suas posições e os estados nacionais europeus unificavam-se. Portugal, Inglaterra e
França foram dos primeiros países a consolidarem o seu estado nacional. Por razoes
que iremos estudar, quer a Alemanha quer a Itália, não conseguiram realizar as suas
unidades nacionais.

Na Alemanha, até o século XV, o feudalismo fortaleceu-se, a servidão continuou e


os feudos continuaram a ser verdadeiros domínios, onde os senhores mandavam ao

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
seu belo prazer. Em finais do século XV o Sacro Império Germânico controlou, pelo
menos aparentemente, varias regiões e varias zonas na Europa Centra. Mas nessas
regiões o poder pertencia efetivamente aos nobres e aos príncipes e não ao
imperador. Estes príncipes não reconheciam nenhum poder acima deles. Assim e ao
contrario da Fraça, Inglaterra, Portugal e Espanha, na Alemanha não se estabeleceu
um poder central forte e por isso mesmo não se verificou a formação de um estado
único.

A Itália foi o primeiro estado onde começaram a desenvolver-se relações do tipo


capitalista. As cidades italianas dominaram durante muito tempo o comércio
mediterrânico, que e desenvolveu bastante depois das cruzadas. As famílias que
dominavam estas cidades italianas, como a Génova, Florença, pisam, Milão, etc.
Eram poderosas, devido aos lucros do comércio. Assim, embora existe uma forte
burguesia italiana, essa mesma burguesia não tinha grande necessidade em unificar
toda a península. Enquanto, nos países que se unificarem a burguesia precisava de
um rei forte para atingir aos seus abjetivos, em Itália a burguesia tinha-se
consolidado como a classe mais importante.

UNIDADE V: A EXPANSÃO EUROPEIA O MUNDO


1. Os rumos da Expansão portuguesa
Foi no reinado de D. João I (1385 - 1433) que os portugueses começaram a
exploração geográfica e económica de novas terras. As corajosas viagens do século
XV, que traduzem esforços de toda uma nação, foram possíveis graças a um longo
período de pesquisas científicas, como as das tábuas astronómicas de Afonso X, o
Sábio e dos judeus ibéricos; e do progresso da construção naval (o leme de cadaste;
caravela que foi construída em 1439 - 1440). Essas viagens podem explicar-se
devido numerosas causas, cuja importância variava segundo as épocas: o super-
povoamento em Portugal, a impossibilidade de praticar uma politica de expansão
continental em detrimento da poderosa Castela, a falta de trigo, a procura de peixe,
de couros, a procura de novas terras, boas para agricultura de cana-de-açúcar, a
procura de escravos para os moinhos de açúcar que surgiram no Algarve e a falta de
ouro que estava na base das trocas do Oriente.

As classes dirigentes, apesar de comprometidas em diferentes setor, estavam de


acordo no início. Os cavaleiros arruinados pela crise económica conquistaram o
porto marroquino de Ceuta em 1415; os burgueses organizaram a colonização dos
arquipélagos da Madeira, a partir de 1418, do Açores, a partir de 1432 e as
explorações geográficas da Costa Africana para atingir os pais do ouro. O cabo
Bodajor foi dobrado em 1434 e o Rio do Ouro em 1436. Aproveitando-se da
fraqueza de D. Duarte (1433 - 1438), a nobreza impõe guerra a Marrocos. A derrota
de Tanger em 1437 e a menoridade de D. Afonso V, o africano (1438 - 1481)

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
arrastaram para primeiro plano o Infante D. Pedro, Duque de Coimbra, ao qual as
cortes confiaram a regência em detrimento da sua cunhada, a rainha D. Leonor de
Aragão (1440). Foi ele quem fez a expansão pacífica, tão “ querida” pelos
burgueses. Primeiro os campos de trigo, depois a plantação de cana-de-açúcar,
cobrem a Madeira e os Açores; os exploradores passam a Costa saariana e chegam
ao Pais dos Negros, onde estabelecem relações comerciais mais cómodas: primeira
moeda portuguesa de ouro, o cruzado, foi feita em 1447. Mas o jovem rei,
empurrado pelos grandes senhores, provoca a revolta do regente, que foi morto em
Alfarrobeira em 1449 e cujas realizações são imediatamente atribuídas ao seu irmão
o Infante D. Henrique, chamado o “ Navegador”, que teve prudência de não intervir
nesta querela (na guerra empreendida contra os marroquinos, perdem Alcácer
Ceguer em 1458, Tanger e Arzila em 1471, Safim em 1508, Azamor e Mazagan).
Mas o comércio na Guiné era tão frutuoso, porque conseguiam ouro, escravos,
marfim, malagueta, borracha, que se manteve só pela iniciativa privada. Em 1469,
este tráfico foi tomado pelo Fernão Gomes contra entrega anual de 200 mil reis e a
obrigação de explorar geograficamente cada ano 100 milhas para lá da Serra Leoa;
em 1474 esta concessão passou para o príncipe D. João, herdeiro da Coroa.

A realeza visava agora um duplo objetivo: explorar as ilhas e as terras do oeste e


descobrir o caminho marítimo para a Índia pelo sul de África. A Ocidente, as Ilhas
de Cabo Verde, descobertas por volta de 1456 e os Açores, que servem de base para
as viagens que levam os portugueses para a Terra Nova e para Brasil, antes do
Cristóvão Colombo, o navegador que aproveitou da experiencia portuguesa, para
descobrir América.

Em África, a viagem de 1471 foi marcada pela descoberta de S. Tomé, de Ano Bom
e a passagem do Equador.

O rei D. Afonso V organizava metodicamente as viagens de exploração geográficas


e a valorização das regiões descobertas. Diogo D`Azambuja funda na costa da
Guiné, hoje Gana, o Forte de S. Jorge da Mina, construída em 1482, que serviu da
escala de expedições futuras. A partir de 1482, Diogo Cão, colocou padrões, marcos
que indicava a tomada da região pelos portugueses, no Zaire (Congo) e no Cabo de
Santa Maria, em Angola.

Ao mesmo tempo em que Pedro de Covilhã reconhecia a Índia e visitava a Etiópia,


Bartolomeu Dias passava o Cabo das Tormentas, hoje designado Cabo de Boa
Esperança, descobria o Oceano Indico em 1487. No Extremo Oriente e aproveitando
a superioridade dos seus navios e da sua artilharia, os portugueses dominavam os
sultãos locais, arruinavam o comercio muçulmano e tomavam conta, em poucos
anos, do comércio do Oceano Indico, ocupando as fortalezas dos estreitos. Vasco da
Gama bombardeava Calecut e, 1502; Francisco de Almeida, nomeado vice-rei em
Diu em 1508; Albuquerque entre 1507 e 1510, tomava Socotrá, Mascate, Goa,
Malaca e Ormuz. Nas Malucas, por volta de 1512, os portugueses fundavam uma
feitoria em Alboim.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
Apesar de passagem de estreito de Magalhães em 1521, os portugueses ocuparam o
arquipélago, as Malucas, após o Tratado de Saragoça, em 1529.

Os portugueses terminaram as descobertas dos Impérios e mercados asiáticos


desembarcando em Sião, no Camboja, no Daivet, na China (1514 ou 1517), na
região de Cantão, onde obtêm a concessão de Macau em 1557, e no Japão em 1542.

O soberano qu tinha o titulo de “ Rei de Portugal e dos Algarves, D`Aquém e


D`Além Mar”, em África “ Senhor da Giné e da conquista, navegação e comércio da
Etiópia, da Arábia e da Pérsia”e que era representado por um vice-rei em Goa,
reservava para si o beneficio destas descobertas. Confiou o controlo do comércio
longínquo à “ Costa da Guiné e Mina” em 1482- 1483 antes de ser englobado na “
Casa da Índia e da Guiné” em 1499. Agrupados em frotas, os barcos que deixaram
Lisboa durante a Páscoa e graças à moção atingiram Calicut, Cochim e Goa em
Setembro; desses portos, outros barcos atingiram Malaca ou Ternate, mercado de
especiarias que outros portugueses vão distribuir no Japão, na China e na Pérsia,
juntando-lhe as últimas invenções técnicas europeias, como o relógio, arcabuzes,
canhões, etc., e produtos da indústria metalúrgica de Lisboa.

A frota de regresso assegurou ao Rei de Portugal grandes territórios. Mas a atividade


dos portugueses não era unicamente mercantil, as empresas missionarias Jesuítas e
as tentativas de conversão forçadas fizeram nascer vários pequenos grupos de
cristãos em todo o Extremo-Oriente e prepararam a evangelização do Japão e da
China; a civilização europeia penetrava em meios tão diversos como o Reino do
Congo ou do Império do Japão.

2. Conflitos de interesses: o recuo das civilizações africanas e a reação dos


estados da Ásia

No decorrer do seculoXVII outros comerciantes europeus fizeram concorrência aos


portugueses em África; cada companhia de comércio esforçava-se para proteger as suas
instalações, construindo as suas fortalezas protegidas por canhões. A Costa Africana
Ocidental foi totalmente assinalada por postos fortificados pertencentes as companhias,
de comércio privilegiadas: há fortaleza francesa (sobre a Costa Senegalesa, onde foi
fundada Saint Louis em 1638, Assinia, na embocadura do volta, na Costa do Marfim e
no Daomé, em Madagáscar onde foi fundado Fort Dauphin em 1642 – chamado assim
em honra do futuro Luis XIV), ingleses (fundam Crhistian-Sborg, hoge Akra), alemães
e, sobretudo holandeses, as mais temíveis rivais. Estes últimos disputaram o comércio
da borracha, utilizada na altura para o aperfeiçoamento dos tecidos e na farmácia, que se
fez sobre a Costa Mauritaniana e no vale do Senegal; os ingleses e os franceses tiraram
os portugueses as melhores feitorias na Indonésia e instalaram-se na África do Sul, na
região de Cabo. Um bom clima permitiu aos colonos europeus viver no pais, enquanto
nas regiões tropicais a sua saúde estava sempre ameaçada pelas doenças que eles não
sabiam curar, como o paludismo, febre-amarela, etc.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
As rivalidades entre as companhias estrangeiras, no novo comércio e o tráfico negreiro,
vão influenciar negativamente os reinos costeiros. Nessa altura, os seus chefes só
vendiam como escravos os indivíduos de quem se desejavam desembarcar: condenados,
prisioneiros, maus súbditos, etc. Depois faziam também a guerra para procurar cativos,
mas estas guerras eram sempre dirigidas contra os vizinhos das imediações, finalmente
organizavam-se verdadeiras caças aos escravos no interior do pais, que originavam a
insegurança, o despovoamento, a regressão do artesanato, do comércio e da civilização
em África.

São por esta catástrofe comerciantes europeus e chefes africanos: os primeiros não
pensaram na consequência das suas ações (apesar da sua religião lhes dizer para verem
os outros homens como irmãos), os segundos não hesitaram em vender os seus
compatriotas para satisfazerem a sua fantasia, pois, é preciso reconhecer que sem a
vontade dos chefes africanos não se realizariam nem compras nem partidas de escravos.

O egoísmo feroz duns e de outros, transformaram em repressão o que podia ser trocas
pacíficas e proveitosas para a África e para o resto do mundo.

Os imperadores da China acolheram, de inicio, os europeus e as suas comitivas de


missionários favoravelmente, pois admiravam as suas ciências da matemática e da
astronomia. Depois fecharam os seus países aos europeus e muitos convertidos
retornaram as práticas ancestrais.

3. O EXPANSIONISMO ESPANHOL NA AMÉRICA

A dominação europeia da América exigiu duas formas de conquistas: as ocupações


progressivas de imensas zonas, muitas vezes hostis, mas sem dificuldades de maior
devido à falta de homens e a conquista de zonas de civilização forte, onde a natureza já
estava muito submetida ao homem e onde este parecia ser capaz de resistir. Estas zonas
de civilização foram, portanto, as primeiras submetidas porque os seus impérios
refletiam fabulosas riquezas e porque as suas terras pareciam oferecer o que antes se ia
procurar nas índias Orientais.

As rivalidades internacionais iniciadas foram regulamentadas por Roma: o Papa


Alexandre VI determinou, em 1493, o limite entre as terras portuguesas e espanholas no
Meridiano situado a 100 milhas a Oeste das Ilhas de Cabo Verde.

O Tratado de Tordesilhas de 7 de Junho de 1494, alargou-o até às 370 milhas. A


ignorância da existência de terras ainda por descobrir iria custar o Brasil aos espanhóis,
Pedro Álvares Cabral em 1500; Álvares Correia, 1509, perto da Baia; João Ramalho,
perto de São Paulo; Cristóvão Jacques, em 1523, em Pernambuco, todos laça, em 25
anos, as bases deste Brasil. Contudo, ainda durante muito tempo vão-se limitar a uma
ocupação pontual da margem.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
A Espanha compreendia, finalmente, que as Índias descobertas por Cristóvão Colombo
esta bem longe daquelas que eles tinham visado, mas compreendiam também que para
lá das Antilhas por eles ocupadas, o continente novo tinha riqueza. Após algumas
hesitações (1517 - 1519), não precisariam mais de dois anos (1519 - 1521) para o
conquistador Hernâni Cortez submeter o Império Asteca de Mectezuma II, depois o de
Caunhtemoc; assim, em seis anos, terminava a conquista do México Central e
Meridional (1512 - 1527). Só o lucatão maia permanecia muito tempo “rebelde”.

Foram precisos 12 anos para submetes efetivamente o Império Inca (1531 - 1543), e não
foi a sua resistência a única causa; é preciso considerar as violentas lutas que opuseram
os conquistadores entre si, principalmente Francisco Pizarro e Diego d`Almagro. A
ocupação da América Espanhola foi rápida a partir de bases mexicanas e indianas, desde
o Rio da Prata onde Pedro Mendonça fundou a primeira Buenos Aires.

De maneira geral, a colonização branca foi destruidora das populações indígenas e


paralelamente, deu lugar a um novo povoamento, não indígena no seu todo ou sequer
em parte, que se desenvolveu em diversas condições.

A América Espanhola viu desenvolver-se uma população crioula de brancos fixados


além-mar, que constituía uma aristocracia local de 1,5 a 2 milhões de indivíduos no fim
do século XVIII; seriam alguns 150 mil espanhóis, detentor das chaves do poder
político, administrativo e religioso; os Gachupines, detestados pelos crioulos. Mas o
fenómeno mais original foi a mestiçagem de populações de origem índia, espanhola e
negra que esteve na origem do importante grupo dos mestiços, quase tão numerosos
como índios puros e formando uma categoria social intermédia entre os índios puros e
crioulos.

As coisas passavam-se de maneira idêntica no Brasil contudo, a população índia foi


desde sempre consideravelmente mais reduzida que a população negra. Podemos dizer
que aqui a fusão de raças foi mais frequente e que o desenvolvimento dos “civilizados”
foi mais espetacular (50 mil em 1580), 175 mil em 1640, 750 mil em 170, 3 milhões em
1800, entre os quais 50% de negros) face a uma população índia “ selvagem” estagnada
de cerca de 300 mil indivíduos.

A fisionomia da América anglo-saxónica foi muito diferente, aqui não houve nenhuma
mestiçagem de populações. Os indígenas foram desde a origem, repelidos e isolados,
quase destruídos, o seu pequeno número inicial não deixou de decrescer. Quando aos
negros, sabe-se até hoje, como foi feita a segregação.

4. O expansionismo Inglês e Holandês


Pela riqueza material, habilidade e excelência dos marinheiros, os países da Europa
de Nordeste iriam desviar, em seu proveito, o comércio das especiarias de Lisboa.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
a) Os holandeses: os principais beneficiários desta substituição foram os
holandeses. Muitos trabalhadores, notáveis agricultores, hábeis artesões e
comerciantes, excelentes marinheiros; a sua riqueza fez o seu poderio, pois a
República das Províncias Unidas era na realidade dirigida pelos mais ricos
mercadores da Holanda. Em 1602 os holandeses criaram uma companhia de
comércio, “ a Companhia das Índias Orientais” que tinha monopólio de
comércio com os países do Oriente. Era uma verdadeira instituição de estado,
pois ela dispunha navios armados com decisão sobre a paz ou a guerra com as
companhias estrangeiras concorrentes e contava com o apoio da república, cujos
dirigentes eram os principais acionistas. Esta companhia atingia tais lucros, que
distribuía pelos seus acionistas dividindo que, certos anos, atingiam os 75 %.
Dispondo de uma marinha mais poderosa e melhor armada, os holandeses
tiraram aos portugueses a maioria das suas feitorias do Extremo-Oriente; após se
terem instalado nos portos da China (nas Ilhas Formosas em 1636) e da Índia (na
Ilha de Ceilão), expulsaram os portugueses de Malaca em 1641, em 1680
terminaram a conquista da Ilha de Java (Indonésia) onde criaram metodicamente
plantações e onde construíram uma capital: Batávia. Estes sucessos causaram
imitadores e concorrentes nos vizinhos europeus.

b) A fixação inlgesa na América do Norte


A dominação europeia sobre o resto do continente americano foi mais tardia e
progressiva. Foi sobretudo obra dos ingleses e dos franceses. Os ingleses estabeleceram-
se sobre a costa oriental da América do Norte por grupos distintos. Na maioria das
vezes, tratava-se mais de emigrantes fugidos às vicissitudes da vida politica e religiosa
britânica, do que conquistadores às ordens da monarquia; após a derrota de Sir Walter
Raleigh na Virgínia (1587), eram os dissidentes fugidos de o Jacques I que aí fundaram
Jamestown, em 1607 e introduziam a partir de 1619, escravos negros. Cento e dois
outros presbiterados, já refugiados na Holanda, chegavam em 1602 a bordo do navio “
My flower”, à Nova Inglaterra. Outras pequenas repúblicas instalavam-se à volta. Os
Quakers de Willian Penn, sucediam a alguns suecos sobre o Delaware. Católicos
ingleses fundavam o Merylan. Totalmente à parte desenvolveu-se e New Amesterdan
Holandesa sobre o estuário de Hudson. Mas os ingleses adquiriram-na, em 1667 e aí
fundaram New York. Ao sul da Virgínia organizavam-se as Carolinas. As “ treze
colónias”permaneceram isoladas sobre o seu território, limitado pelo Ohio e os
Apaches, até ao século XVIII, deixando os franceses do Canada expandirem-se para trás
do seu país.

UNIDADE VI: O TRÁFICO NEGREIRO E AS SUAS


CONSEQUÊNCIAS

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
Chama-se tráfico negreiro ao comércio de negros, vendidos como escravos e enviados
sobretudo para a América a partir dos finais do século XV. Este comércio praticado pela
maior parte das nações europeias, tendo por vezes como cúmplices os chefes africanos,
durou até ao século XIX e influenciou de uma forma decisiva a história de África.

A escravatura existia nas sociedades africanas, tal como existia ou tinha existido noutras
sociedades, antes da chegada dos europeus. Estes escravos eram pouco numerosos e a
maior parte, servia como domésticos e gozavam de alguns direitos.

A conquista da América está na origem do tráfico negreiro. Com efeito, os europeus


exploravam na América minas de ouro, prata e cobre, plantações de cana-de-açúcar,
café e algodão. Tinham portanto necessidades de uma mão-de-obra abundante que os
Índios, exterminados pela guerra de conquista w pelo trabalho duro das minas, não
podiam fornecer.

Assim, as relações de igualdade, inicialmente estabelecidas entre europeus e africanos,


depressa se deterioraram. Em vez de produtos inicialmente procurados pelos europeus, a
partir do século XVI, o que mais lhes interessava em África eram os escravos.

Os navegadores e comerciantes europeus aproveitaram-se da superioridade técnica de


que dispunham, como um robusto veleiro (caravela) bem equipado e armado. Depois, as
armas de fogo foram também um meio de grande importância para a realização dos seus
objetivos.

1. A evolução do tráfico

O tráfico de escravos vigorou do século XVI ao século XIX. Praticamente todos os


países europeus participaram neste negócio. De início, o monopólio português e
espanhol, depois holandês e inglês francês e outros, disputavam os seus “ privilégios”.
O contrato para o fornecimento de escravos às colónias espanholas da América passou
dos portugueses para os franceses e finalmente para os ingleses.

O comércio fez progredir a Europa e de alguma forma a América. Era considerado um


ato normal. Mas, a partir do século XVIII, filósofos como Montesquieu e Diderot, a
Igreja Católica, bem como outras instituições levantaram a voz para condenar o tráfico
negreiro. Em 1815, a Inglaterra obteve de alguns países europeus uma declaração sobre
a abolição de escravatura. Mas na realidade, a abolição de tráfico dependia da situação
económica da Europa em geral e de cada pais em particular.

A abolição de tráfico de escravos, em 1833 pela Inglaterra e em 1848 pela Françao ,


explica-se sobretudo por razões económicas. Não interessava aos países industrializados
a mão-de-obra escrava. Já não eram necessários nem na Europa, onde as máquinas a
pouco e pouco substituíram o trabalho humano e eram preciso em menos quantidade na
América, já que a beterraba açucareira e braços nas plantações de cana. Os africanos

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
eram agora mais importantes no seu continente onde produziam matérias-primas,
indispensáveis, à indústria europeia e consumiam produtos fabricados pelos europeus.

2. Organização e áreas abrangidas pelo tráfico

O tráfico negreiro originou um circuito comercial a que chamamos comércio triangular.


Os navios partiam dos portos europeus, por exemplo, de Lisboa, Nantes, Amesterdão,
Liverpool, carregados de produtos. Tecidos, armas de fogo, pólvora, espelhos e
quinquilharias que trocavam na costa africana por ouro, peles, marfim e sobretudo
escravos. Estes últimos eram conduzidos para América e vendidos aos colonos. Com o
produto da venda, os negreiros compravam outros produtos, como açúcar, algodão, café,
que eram muito procurados na Europa.

Todas as regiões do continente negro foram afetadas pelo tráfico de escravos. Mas nem
todas foram tocadas da mesma maneira: houve regiões que sofreram uma sangria maior
do que outras. As regiões costeiras foram as mas afetada; toda a Costa Ocidental de
África, desde as Ilhas de Cabo Verde até ao Sul de Angola. O comércio de escravos foi
principalmente intenso na Costa da Guiné (situada no Golfo da Guiné); na Costa
Oriental as zonas mais afetadas foram as de Quíloa e Zenzibar até Sofala. A troca fazia-
se nas feitorias. Era aqui que os escravos esperavam os barcos negreiros que depois os
conduziam à América. Para prevenir as revoltas. Bastante frequentes, havia sempre
guarnições militares nas feitorias. Das feitorias mais importantes situadas na África
Ocidental podemos citar Goreia, pequena ilha próxima de Dakar, Ziguinchor, Cacheu,
Elmina e Luanda.

3. Consequências do tráfico de escravos

Não se conhece ao certo o número exato de homens que saíram de África durante o
período de tráfico negreiro. Alguns historiadores falam em 50 milhões. Outros falam em
mais de 100 milhões. De qualquer modo a este números, há sempre que juntar o número
daqueles que morreriam na travessia do Atlântico e mesmo daqueles que desapareceram
nas feitorias enquanto aguardavam o barco que os transportava. Há que realçar que eram
levados, eram os mais validos, os mais produtivos. A idade dos escravos estava quase
sempre compreendida entre os 15 e aos 30 anos.

Os africanos nunca aceitaram pacificamente a escravatura. As revoltas, mesmo nos


navios em alto mar, eram frequentes. Na América, os escravos organizavam fugas
comuns e barricavam-se em aldeias fortificadas chamadas quilombos. Foram muitas as
insurreições armadas na América, no Haiti, entre 1522 3 1804, registaram-se sete
revoltas. Em São Domingos registaram-se revoltas em 1523, 1537 e 1548. Seis revoltas
nos Estados Unidos da América entre 1663 e 1700; durante o século XVIII contaram-se
neste mesmo pais cinquenta motins. Mais as mais célebres são, sem dúvida, as do Haiti
que acabaram por conduzir o pais à independência.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
a) Para Europa

O tráfico negreiro foi para Europa uma fonte de prosperidade geral. O tráfico
enriqueceu a burguesia esclavagista. Os lucros chegaram a atingir mais de 500%. Duma
forma geral, pode dizer-se que o tráfico permitiu à Europa acumular enormes riquezas
que iriam levar ao arranque industrial.

b) Para América

Na América o tráfico teve profundas recuperações nos domínios económicos, político e


cultural. As colónias da América tinham uma economia baseaa essencialmente na
agricultura e na extração de metais preciosos. Foi graça ao trabalho escravo que grandes
plantações de açúcar, algodão, café, tabaco, etc. Foram criadas. Assim, o trabalho
escravo contribuiu para o desenvolvimento económico da América.

As consequências do tráfico de escravos na América aparecem igualmente no domínio


político. Os escravos negros desempenharam um papel de grande importância nos
movimentos de independência da América Latina. Na Ilha de São Domingos, o
levantamento de Tousseint Couverture conduziu à criação da República do Haiti, em
1804, o primeiro estado negro independente na América.

Por fim, os escravos levaram para a América as suas tradições, as suas religiões e os
seus deuses os seus cantos e as suas danças. A música africana, em contato com as
novas realidades da América, produziu o Jazz e os ritmos das canções das Antilhas bem
como do Samba brasileiro.

c) Para África

Se a Europa e a América tiveram lucros com o tráfico de escravos, foi em detrimento da


África que viu os seus homens e as suas mulheres mais validos serem levados, a sua
vida económica, social e política desorganizada.

Ao reparamos no quadro que mostra a evolução da população africana entre 1650 a


1850, verificamos que, na maioria das hipótese, a população estagnou. Só a partir de
1850 se começou a verificar um novo surto demográfico. As guerras organizadas para
se procurarem escravos faziam muitos mortos, os que eram obrigados a partir como
escravo e a reaçao das populações a esse comércio. Pode dizer-se que o tráfico negreiro
explica, em parte, e ainda hoje, o fraco povoamento de África.

O tráfico desorganizou também a vida economia africana. Numerosas atividades foram


abandonadas para dar lugar ao comércio de escravos que se tornou a ocupação mais
rentável. O comércio de escravos paralisou o desenvolvimento das forças produtivas
africanas, pela enorme perda de forças de trabalho e pelas transformações económicas e
politicas resultantes.

Finalmente, devido também à destabilização provocada pelas constantes guerras


esclavagistas que levaram as populações a deslocarem constantemente para escapar à

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
escravatura. Os estados mais fracos foram eliminados e deram lugar a reinos que
enriqueceram à custa dos homens vendidos aos negreiros.

Em suma, o tráfico de escravos preparou a via para a conquista de África pela Europa
no século XIX.

UNIDADE VII: EUROPA OCIDENTAL NOS SÉCULOS


XVI A XVII
1. A deslocação dos centros de atividade
a) Decadência do Mediterrâneo

Em finais do século XV, as grandes descobertas reduziram, consideravelmente, o papel


comercial do Mediterrâneo em proveito do Atlântico e dos mares anexos, como a Mar
de Mancha e do Mar do Norte.

Os principais centros de trocas foram Sevilha, Cádis, Lisboa, Londres e, sobretudo,


Anvers até cerca de 1575. Entretanto, as Repúblicas italianas conservaram ainda uma
grande prosperidade graças às industriais de produtos de luxo e aos bancos de Veneza,
Milão, Génova, Florença, ao mesmo tempo que o renascimento lhes confere a
supremacia inteletual.

No século XVII efetivam-se profundas mudanças anunciadas desde 1580 e após 1620, a
economia italiana entram em decadência. Os grandes centros produtivos transferem-se
para as províncias Unidas Inglaterra e Suécia. O Mar do Norte é mais importante do que
o Mediterrâneo.

b) Ascensão das Províncias Unidas

Embora pouco povoadas e pouco extensas superficialmente (2 milhões de habitantes, 30


mil quilómetros quadrados), as Províncias Unidas são durante ¾ de século a maior
potência económica da Europa. A sua supremacia, particularmente notada no grande
comércio marítimo, explica-se, em primeiro lugar, pelas circunstâncias históricas
favoráveis. a revoltados Países Baixos espanhóis conduziu à proclamação, em 1581, da
independência das setes províncias do Norte e à fundação da República das Províncias
Unidas. Desde o século XV, que os habitantes de duas destas províncias, a Zelândia e a
Holanda, se consagram ao comércio marítimo. Levam para Anvers as especiarias de
Cádis e de Lisboa. A ruptura com Espanha, que então dominava Portugal, incita-os a
dirigirem-se às Índias Orientais. A expedição de Cornelis Van Outman a Java (1595 a
1597) marca o fim do monopólio dos portugueses sobre o comércio das especiarias.

Em 1602, se por um lado se funda, em Amesterdão, a companhia das Índias Orientais,


por outro lado, a ruína de Anvers, pilhada e incendiada pelos soldados espanhóis
amotinados em 1576, favorece a ascensão da capital holandesa. Também a instalação de
numerosos refugiados nas Províncias Unidas, fugindo dos Países Baixos espanhóis ou

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
da França devastada pelas guerras de religião, contribuíram para a criação de novas
indústrias. Os holandeses exploraram, assim, com grande habilidade estas favoráveis
circunstancias. De futuro, basearão a sua riqueza no comércio marítimo.

Durante muito temo os seus recursos foram a pastorícia, que lhes fornecia a manteiga e
o queijo, vendidos no estrangeiro e a pesca da baleia e do bacalhau, na Islândia e do
arranque, sobretudo no Mar do Norte. De futuro basearão a sua riqueza no comércio
marítimo.

2. Causas da supremacia das Províncias Unidas


a) Uma marinha mercante de qualidade

Desde 1604, só as províncias Zelândia e da Holanda têm tantos navios como a


Inglaterra, a Escócia, a França e a Espanha reunidas. Esta supremacia deve-se também à
qualidade da sua frota e os construtores neerlandeses ultrapassam todos os concorrentes
europeus. A partir de 1600, quintuplicam a tonelagem dos seus navios. Os seus
estaleiros, bem organizados e bem apetrechados, constroem navios robustos, cujo preço
é inferior a 25 ou 50 % do preço dos navios franceses e inglese. Fabricam diferentes
tipos de navios, de forma a adopta-los à natureza do tráfico ou da rota marítima; barcos
concebidos para o transporte de madeira de Noruega, outros para o comércio nos mares
da Ásia. Esta especialização de navios permite ainda reduzir o número de marinheiros.
Embora com a mesma tonelagem, um barco holandês nave com metade ou mesmo um
terço de equipagem dos navios ingleses ou franceses. Enfim, o salário dos marinheiros
holandeses é 2/3 do salário dum marinheiro francês.

b) Excelente organização comercial

Os holandeses mantêm, nos principais portos estrangeiros, agentes encarregados de


vender as mercadorias que desembarcam e de organizarem a carga de regresso. Assim,
os navios têm sempre mercadorias para transportar e, por isso, ficam o menor tempo
possível nos portos, aumentando o número de viagens por ano. Por fim, as grandes
companhias de seguro de Roterdão e Amesterdão asseguram aos armadores os riscos
financeiros de navegação.

Tudo isso, explica o quase monopólio do transporte marítimo exercido pelos holandeses
até cerca de 1670. Nesta época, asseguram ainda ¾ das trocas exteriores da França. São
verdadeiramente, os “ roladores dos mares”.

c) O poderio económico das Províncias Unidas explica-se igualmente pela


perfeição da sua organização bancária. Fundado em 1609, o Banco de
Amesterdão ficou com o monopólio das trocas: recebia depósitos dos
negociantes, assegurava os seus pagamentos por transferência gratuitas duma
conta a outra, emprestava dinheiro às cidades, às companhias de comércio e
também aos particulares. Estas moedas inspiravam uma confiança tão grande
que, em numerosos países, os comerciantes de todas as necessidades se muniam
da moeda holandesa. Graças ao seu banco. Amesterdão é, em 1650, o que

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
Anvers fora no século antes: a maior praça financeira da Europa. Um banco
análogo funda-se em Roterdão, em 1635, e de imediato conhece o mesmo.

3. O comércio marítimo, riquezas das Províncias Unidas


a) O comércio holandês na Europa

São os holandeses que garantem as trocas da Europa Setentrional e da Europa Oriental e


Mediterrânica. Desde 1615, que 2/5 dos navios que frequentam os portos de Báltico têm
bandeira neerlandesa. Aos países do Báltico e da Rússia, os holandeses levam azeite,
vinho, aguardente, sal, artigo de luxo e tecidos de seda de Itália, Espanha e França.
Desses países trazem cereais, peles, cobre e chumbo. No Mediterrâneo, a partir de 1611,
os holandeses obtêm o direito de comercializar com os portos Otomanos. Abrem, então,
consulados em Argel, Tunis e Alega, na Ilha de Chipre.

b) O comércio holandês fora da Europa

Na primeira metade do século XVII, os holandeses estabeleceram-se na Ásia e na


América. Na Ásia, compram especiarias, chá, sedas e porcelanas da China. Na América
dedicam-se ao comércio de escravos e a um frutuoso contrabando com o Império
espanhol a partir das suas possessões de Caracão e da Guiana.

c) Industria ligada ao comércio

A indústria depende do grande comércio marítimo, porque o pais não tem matérias-
primas. A mais importante das indústrias era, nesta altura, a construção naval e seus
anexos: fabrico de cordoara, de velas e de instrumento de navegação. Os maiores
estaleiros navais eram os de Roterdão, Zaadem e Amesterdão. Trabalham igualmente
para os países estrangeiros, como a França. As indústrias alimentares constituíam um
grupo ativo e diversificado: conservas de arenque salgado é metido nos barris, produção
de óleo de baleia, refinarias de açúcar de cana, lagares de azeite, destilarias, onde se
fabricam as aguardentes e licores, preparação de cacau e fábricas de cerveja, são disso,
o exemplo. Nos têxteis fabricam-se veludos, que fazem a riqueza de Utrecht, e os
tecidos de lã. As célebres saboarias de Amesterdão são uma criação dos refugiados de
Anvers. As papelarias fornecem um papel de qualidade e são a mais importante
indústria da Europa, no seu ramo. A indústria neerlandesa beneficia de vantagens
consideráveis, entre elas, a existência de uma energia barata fornecida pelos moinhos de
vento. Estes acionam as serão, as mós de moer grão, de azeite e de papel. Graças a
centenas de moinhos, a região de Zaadem , perto de Leyde, é o maior complexo
industrial das Províncias Unidas.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
4. O progresso do comércio e da indústria britânica

A Grã-Bretanha é o segundo centro de atividade mais importante da Europa seiscentista.


Como nas Províncias Unidas, o comércio marítimo é a fonte da sua riqueza e este
comércio duplica entre 1610 e 1640. Para arruinar o comércio holandês, o Ato de
Navegação de 1651 atribui aos marinheiros ingleses o direito de importar mercadorias
provenientes da Europa, ou seja, só podem ser importadas pelos barcos ingleses ou
pelos barcos do pais produtor. Mas é necessário esperar pelo fim do século para que a
Inglaterra suplante as Províncias Unidas. O Banco de Inglaterra, fundado segundo o
modelo do Banco de Amesterdão, datada somente de 1694.

A indústria progride igualmente mas a originalidade da Grã-Bretanha encontra-se no


desenvolvimento das indústrias, que irão ter grande importância no futuro,
nomeadamente a indústria da hulha e da indústria do ferro (siderurgia). A produção de
hulha duplica entre 1610 a 1635. Torna-se, progressivamente, no combustível para o
uso doméstico e industrial e, por volta de 1700, é exportada para o continente europeu,
até aos portos mediterrânicos. Para que se evacuem as minas e se retire a água, Savery e
Newcomen inventam as primeiras “ bombas de fogo”, antepassadas da máquina a vapor
(1698 - 1705). Favorecida pela coexistência de mineral de ferro, a siderurgia faz grande
progresso. No fim do século, contudo, o seu desenvolvimento é comprometido pela falta
de carvão de madeira, uma consequência da fraca superfície florestal de Inglaterra.

As tentativas feitas para substituir o carvão de madeira pela hulha nos altos-fornos não
tiveram, de início, sucesso. Assim, no início do século XVIII, a Inglaterra é obrigada a
importar o ferro da Suécia e da Rússia.

5. A ascensão da Inglaterra
a) Unificação política da Grã-Bretanha

No inicio do século XVIII, a Grã-Bretanha estava dividida em dois reinos: o reino da


Escócia e o reino da Inglaterra. Em 1603, devido a morte da rainha Elizabeth de
Inglaterra, a coroa passa para o seu primo, rei da Escócia, Jacques Stuart. Escócia e a
Inglaterra têm agora o mesmo soberano, mas têm, no entanto, dois estados distintos. A
unificação política da ilha termina somente em 1707, através do Ato de União. Da fusão
entre os dois reinos nasce o Reino Unido da Grã-Bretanha, povoado por cerca de 7
milhões de pessoas.

b) A crise interior da primeira metade do século

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
A ascensão económica iniciada durante o trinado de Elizabeth prossegue com os dois
primeiros Stuarts, Jacques (1603 - 16) e Carlos I (1625 - 1649). Portanto, os industriais,
os comerciantes e os artesãos formulam numerosas críticas contra a política real.

Criticas aos privilégios das grandes companhias comerciais, que detinham o


monopólio do comércio com algumas regiões, como a Rússia, África, Oriente e Índias
Orientais. Mas, este monopólio só é vantajoso para alguns, poucos, comerciantes
ligados a Corte. Os outros reclamam a liberdade de comércio, que segundo eles, é a “
alma de negócio”.

Criticas aos monopólios industriais: para favorecer a criação de novas industrias, o rei
concedia monopólios de fabrico e os cortesãos usavam a sua influência para atribuírem,
mediante pagamento, estes monopólios a pequenos grupos de fabricantes.

Criticas a regulamentação e ao controle sistemático da produção: com o pretexto de


garantir a qualidade dos produtos, os Stuarts reforçam os regulamentos de fabrico e
multiplicam o controlo, o que lhes permitem infligir avultadas multas.

Criticas à política externa dos Stuarts: mercadores e industriais acusam os Stuarts de


negligência na defesa dos interesses do comércio britânico. Por volta de 1640,
convencem-se que o rei não se preocupa com a abertura do mercado da América
espanhola aos seus tecidos. Com efeito, a Espanha esgota-se na Guerra do Trinta Anos,
sem que a Inglaterra se aproveite do seu declínio.

Criticas ao absolutismo real: muito autoritários, os Stuarts detestam o Parlamento.


Durante onze anos (1629 - 1640), Carlos I governa sem parlamento, como soberano
absoluto (os onze anos de tirania).

Criticas a política religiosa: Carlos I é o chefe da Igreja Anglicana. É casado com uma
princesa católica, Henriqueta de França, filha de Henrique IV, e recusa-se a aplicar as
leis de exceção contra os católicos. Ora, se um lado, os ingleses são, na sua grande
maioria, adversários encarniçados dos católicos, por outro, muito deles são igualmente
adversários da Igreja Anglicana. A estes dá-se-lhes o nome de “puritanos”. Mas este
termo, enbobre opiniões religiosas muito diferentes. Alguns desejam somente diminuir
a autoridade dos Bispos e simplificar o culto: não admitem a intervenção do soberano
nos assuntos religiosos e a existência dos bispos. Outros, os “ independentes”, não
aceitam a autoridade de nenhuma igreja, nem anglicana nem presbiteriana: cada grupo
de fiéis, numa cidade ou uma aldeia, é independente dos outros grupos.

6. A primeira revolução inglesa

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
a) a execução de Carlos I

Em 1640, Land pretendia impor a liturgia anglicana à Inglaterra. Mas, para lutar contra
os insurretos, o rei necessitava de dinheiro e convocou o Parlamento. Juntaram-se todas
as queixas acumuladas contra a monarquia e os deputados, maioritariamente puritanos,
impõem ao rei a prisão e a execução de um dos seus ministros, em 1641. Enquanto
Carlos I tenta, em vão, pprender cinco deputados, a burguesia londrina insurge-se e a
guerra civil começa em1642. Aos simpatizantes do rei chamam-se “cavaleiros” porque
combatem a cavalo. “Cabeca redondas” é o nome dado aos simpatizantes do parlamento
porque, alguns deles, usavam cabelos curtos. Os cavaleiros englobavam os católicos, os
anglicanos do norte e do oeste, uma parte dos Lordes e até mesmos os puritanos
moderados. Os Cabeças redondas agrupam todos os industriais, comerciantes, a maioria
dos puritanos, a qual pertence maioritariamente à pequena nobreza rural. Os Cabeças
redondas vencem graças a superioridade do seu exército, organizado e comandadoo por
Oliver Cromwell (1599 - 1658), um fidalgo rural. Carlos I é condenado à morte e
executado a 6 de Fevereiro de 1649.

b) A República Inglesa

A República proclamada, a Câmara dos Lordes suprimida e o governo é exercido por


um Conselho de Estado com 41 membros, nomeados pela Câmara dos Comuns. A
liberdade económica é instaurada. Os monopólios industriais e comerciais, a
regulamentação e o controle são abolidos, o Ato de Navegação é votado. Mas o novo
regime, que defende os interesses da pequena burguesia.

c) A ditadura de Cromwell (1653 - 1658)

A ditadura de Cromwell afasta a ameaça dos democratas. Durante 5 anos, Cromwell


governa como chefe todo-poderoso com o título de “ Lorde protector da República da
Inglaterra, da Escócia e da Irlanda”. Graças a ele, a Inglaterra retoma o seu papel de
grande potência. Força os holandeses a aceitar o ato de navegação, depois de uma
guerra de dois anos (1652 - 1654). A sua intervenção na guerra franco-espanhola dá a
Inglaterra a Jamaica e Dunquerque.

Aquando da morte de Cromwell, é o seu filho Ricardo quem fora o sucessor, depois de
alguns meses, os chefes de exército obrigam-no a abdicar. O período de anarquia que se
segue, depois da abdicação, inspira em todos os inglese o desejo de paz civil. Partidários
e adversários da Revolução põem fim a crise através de um compromisso: restabelecer a
monarquia, favorecendo p filho de Carlos I, Carlos II, mas com a condição de que o rei
reconheça, solenemente, o direito ao Parlamento de fazer as leis, de criar novos
impostos e de proclamar uma amnistia. Carlos II aceita estas condições e entra
triunfante no seu reino em 1660.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
7. A segunda revolução inglesa
a) O fracasso da restauração dos Stuarts (1660 - 1688)

A Câmara dos Lordes foi restabelecida e é eleita uma nova Câmara de Comuns. Mas, a
restauração não conduz a Inglaterra à situação de 1640. O novo Parlamento mantém, no
seu conjunto, as leis da República que dizem respeito ao comércio e à indústria.
Entretanto, a vitória da burguesia capitalista não é definitiva. Os capitalistas põem-se de
novo ao rei em três questões: a questão religiosa, os direitos do rei e a política externa.

. a questão religiosa: Carlos II, que se inclinava para o catolicismo, queria suspender as
leis de exceção contra os católicos. O Parlamento defendia que o rei não tem direito de
suspender a aplicação da leis e votam uma lei que proíbe aos católicos o exercício de
funções públicas, civis e militares e excluindo-os mesmo do Parlamento. O irmão d rei,
o duque de York, que é católico deve, assim, demitir-se do seu cargo de almirante.
Como é herdeiro legítimo do seu irmão Carlos II, os deputados pretendem exclui-lo da
sucessão ao trono. Acontece, então, um pacto importante na história inglesa e são
constituídos dois partidos políticos, tendo em vista as eleições: o Partido “Whig”
(liberal) e o Partido dos “Tories” (consevadores). O primeiro era composto pela
burguesia e tornou-se o campeão dos direitos do Parlamento. O segundo, que reagrupa
os eclesiásticos da Igreja Anglicana e a maioria dos proprietários latifundiários, torna-se
o campeão dos direitos do rei. Os “ Whig”os “ Tories” nas eleições.

- o Habeas Corpus: para proteger os ingleses contra as prisões arbitrárias, os deputados


votam a célebre lei de “ Habeas Corpus” (sê dono do seu corpo), que garantia a
liberdade individual. Qualquer pessoa presa. Mesmo por ordem do rei, deve ser
apresentada, de imediato, a um juiz. Este podia deixa-la em liberdade provisória e a
libertação era obrigatória quando a pessoa pagava uma caução, a lei fixava igualmente
um prazo para o julgamento. O Habeas Corpus explica o prestígio da Grã-Bretanha
entre os europeus hostis à monarquia absoluta.

- A política externa: a oposição condena a política de subordinação de D. Carlos II em


relação à França. O rei aceita o dinheiro de Luís XIV. Pode assim prescindir do
Parlamento nos últimos anos do seu reinado (1681 - 1685).

b) A fuga de Jacques II

Com a morte de Carlos II em 1685, o duque de York, seu irmão, que o sucede, com
o nome de Jacques II. A Inglaterra tem, então, um rei católico. Uma parte dos Tories
une-se aos Whigs para preparar a substituição de Jacques II pela sua filha Maria,
uma protestante, esposa do príncipe neerlandês Guilherme de Orange. Em 1688,
Guilherme de Orange desembarca com um pequeno exército em Inglaterra onde não
encontra resistência. Jacques II refugia-se em França.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
c) Declaração de direitos: “ Bill of Rights de 1689

A Camara de Comuns, eleita em Janeiro de 1689, tem uma forte maioria Whigs.
Publica a Declaração dos Direitos (“ Bill of Rights), que define, uma vez mais, os
direitos do parlamento e que relembra que o seu poder é superior ao do rei. a
declaração é lida a Guilherme III e a Maria, que juram respeitá-la. São então, em
nome da Nação, proclamados rei e rainha da Inglaterra, respetivamente. Doze anos
mais tarde, o Parlamento tem supremacia sobre a coroa, pela segunda vez. Por um
decreto do Parlamento de 1701, fica decidido que o trono inglês poderá ser ocupado
por um rei católico. Ao Guilherme III deve suceder o príncipe alemão Jorge de
Hanôver.

A vitória do parlamento é a vitória da burguesia. Os comerciantes e os industriais


podem, agora, dirigir livremente a economia.

8. O aparecimento do maquinismo na indústria têxtil

No século XVIII, acontece em Inglaterra, invenções muito importantes, que


provocaram transformações tão profundas na produção, de que podemos falar de
uma revolução industrial. A grande indústria aparece e a Inglaterra torna-se, durante
mais de um século, a primeira potência económica do mundo.

a) O antigo modo de produção têxtil

A indústria têxtil compreende duas operações fundamentais: afiação, que transforma


a matéria-prima (a lã, o algodão e o linho) e a tecelagem, que entrelaça os fios para
fazer um tecido. O que fia, utiliza uma roda de fiar, o tecelão utiliza um tear; estes
instrumentos são acionados pelo pé e pelas mãos. Como o operário fornecedor de
força motriz e o trabalho é feito sobretudo em casa, em ambiente familiar, quer na
cidade quer no campo. Na cidade, fiação e tecelagem constituem uma atividade
única. No campo, é uma atividade complementar do trabalho agrícola. Os
camponeses fiam a seda, depois de terminados os trabalhos de campo. A maior parte
de tecelões e dos fiadores trabalham por conta dos negociantes mercadores-
manufactores, que lhes fornecem matérias-primas, que lhes pertence.

Na segunda metade do século XVIII, as invenções modificaram profundamente a


produção têxtil.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
b) A invenção de maquina de fiar

Em 1768, Richard Arkwright inventa uma máquina de fiar que funcionou graças à
força motriz hidráulica, donde provem o seu nome “ water-fram”, tear hidráulico. O
tear hidráulico revoluciona a produção porque é incompatível com o trabalho feito
em casa. Necessita de importantes capitais +ara o seu fabrico em série e para que
possa ser utilizada é necessário construir um edifício perto dum curso de água.
Aparece então a fábrica, que tem numeroso tear hidráulico, por que a roda hidráulica
é uma poderosa força motriz. As primeiras fábricas empregam entre 100 a 600
empregados.

c) A invenção de uma máquina de tear.

Durante uma trinta anos, a tecelagem era uma indústria doméstica porque os
tecelões utilizava um tear manual. Por volta de 1800, Cartwright inventa,
finalmente, um tear acionado por uma roda hidráulica ou por uma máquina a vapor:
tear mecânico. Toda a produção têxtil se modifica. Fia-se e tece-se mais
rapidamente e a um custo mais barato.

d) O desenvolvimento da indústria algodoeira

Até meados do século XVIII, a indústria algodoeira estava pouco desenvolvida na


Europa e os europeus importavam sobretudo tecido das Índias. Ao mesmo tempo,
compravam algodão em bruto que era fiado e tecido em Grã-Bretanha e na França.
O desenvolvimento desta indústria está ligado ao maquinismo, uma vez que o tear
mecânico é concebido especialmente para fiar o algodão. Este desenvolvimento vai
ter consequência sobre a economia mundial. Como a cultura de algodão na era
possível na Europa devido ao clima este vai desenvolver-se na Índia, no Egito e,
sobretudo, nos Estados Unidos e vai alimentar um importante trafico marítimo.

9. A descoberta do coque
a) A solução do problema do combustível

Por volta de 1735, Abraham Darby, um industrial inglês cujo pai foi o inventor do
coque, constatou que este pode substituir o carvão de madeira. É a descoberta de
importância capital porque a Grã-Bretanha é rica em hulha e ao mesmo tempo em
mineral de ferro. A indústria do ferro desenvolve-se rapidamente, devido a um
conjunto de razões excepcionais: em vários locais carboníferos, encontram-se varias
camadas de mineral de ferro intercaladas com camadas de hulha.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
b) A invenção da máquina a vapor

Em 1781, James Watt, inventa a máquina a vapor. A máquina a vapor de James


Watt deriva da bomba de vapor de New-homem.

Utilizada inicialmente em 1785, numa fábrica de algodão e depois num moinho, a


máquina de Watt rapidamente substitui a roda hidráulica como força motriz. Os
industriais abandonam o campo e as vales dos rios para se aproximarem das cidades,
dos portos ou dos locais hulhíferos, fornecedores de combustível. Por outro lado, a
maquina a apor contribuiu para o desenvolvimento da metalurgia, visto que q sua
construção necessita de muito metal.

c) O desenvolvimento da indústria carbonífera

As necessidades de combustível dos altos-fornos e da máquina a vapor provocam


consideráveis progressos na extracção do carvão; este torna-se no “pão da
indústria”. Para evitar longos e caros transportes, as fábricas estabeleceram-se onde
existe hulha. Á velha Inglaterra do sudeste, agrícola e pastoral, opõem-se agora a
Inglaterra central e do norte, a região da hulha, das fábricas e do céu enevoado pelo
fumo, a que se chama “ região negra”.

10. A revolução agrícola

Produzem-se também grandes mudanças nas sociedades rurais e na agricultura


britânica.

Os grandes proprietários latifundiários, representados na Câmara dos Comuns,


obtêm o voto de lei que favorecem a concentração das terras, em seu proveito. Uma
aldeia que tinha 30 quintas em 1780 teve duas em 1795. Muitos pequenos
agricultores emigram, então, para as cidades, onde a indústria necessita de uma
abundante mão-de-obra. A pastorícia é a mais importante do que a cultura de trigo.
A antiga agricultura baseava-se no cultivo do trigo e no pousio, traduzindo as
plantas forraginosas (trevo, luzerva) e as plantas como os nabos, que permitem
alimentar mais animais; estes produzem estrume que é aproveitado na adubação das
terrs. Os agricultores britânicos aprendem a selecionar os animais e a utilizar
métodos para aumentar o peso d carne. A pastorícia, que requer menos mão-de-obra
e que contribui com mais benefícios do que a cultura do trigo é agora mais
importante do que esta. A partir de 1770, a Inglaterra, até aqui grande exportadora
de trigo, torna-se importadora deste cereal.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
11. Consequência da República Industrial
a) Transformação da sociedade

Uma nova categoria social, a das indústrias, a que também chamamos capitalistas,
aparece no seio da burguesia. Pessoas de origem modesta tornam-se ricas e
poderosas devido a Revolução Industrial. Paralelamente, constitui-se a classe
operária que reagrupa os pequenos agricultores expulsos das suas terras pela
Revolução Agrícola, os trabalhadores ao domicílio e os artesãos vitimas do
maquinismo.

b) Desenvolvimento das cidades

Cria-se novas cidades nos centros hulhíferos. As cidades antigas desenvolvem-se


também, Birmingham, cidade metalúrgica, conta 25 mil habitantes em 1740, 30 mil
em 1760 e 73 mil em 1800.

UNIDADE VIII: AS REVOLUÇÕES BURGUESAS


O antigo regime, fundamento politicamente no absolutismo monárquico e
socialmente na separação e desigualdade entre as classes com privilégios e sem eles,
começa a desmoronar-se na segunda metade do século XIII.

Dois grandes movimentos revolucionários vão abalá-lo – a Revolução Americana (a


tomada de posição das colónias inglesas na América do Norte, que rebelando-se
contra o sistema colonialista imposto pela metrópole, conseguem tornar-se
independentes e formam uma nação – Estados Unidos da América) e a Revolução
francesa.

I. A independência dos Estados Unidos da América


1. As origens do conflito entre as colónias e a metrópole

A Inglaterra possuía 13 colónias na América do Norte, distribuídas pela costa


atlântica.

Tinham sido fundadas em épocas diferentes e circunstâncias diversas. Formadas a


partir dos finais do século XVI (em 1584, o inglês Walter Releigh ocupou uma área
da América a que chamou Virgínia, ocorrendo assim a primeira tentativa de
colonização, mas é somente no século XVII que a colonização começa
definitivamente), pelas populações fugidas da metrópole, devido a perseguição
religiosa e políticas.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
Portanto, o povoamento das colónias não foi uma iniciativa do governo, mas uma
decisão de grupos minoritários que deixaram Inglaterra e emigram para as colónias
em busca de tranquilidades, segurança e liberdade, longe do controle e das ameaças
dos governos absolutistas ingleses.

Não havia verdadeiras relações entre as 13 colónias, no entanto, em harmonia com a


sua situação, população e recursos, podiam agrupar-se em colónias do norte
(Massachuesetts, New Hampshire, Rhode Island, Connecticut), colónias do Centro
(Pensilvânia, Virgínia, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia – esta só foi
fundada em 1732).

As colónias de norte, chamadas Nova Inglaterra, eram povoadas, principalmente,


por puritanos ingleses, população que se dedicava à agricultura, pecuária, pesca,
comércio e que tinha grandes aspirações de igualdade e liberdade e que iriam liderar
as lutas pela independência.

As colónias do centro eram povoados por holandeses, escoceses, alemães, irlandeses


e muitos escravos negros; dedicavam-se à agricultura e ao comércio, exportando
madeiras, peles, peixes e cereais e importavam açúcar, tecidos e melaço.

Grandes plantações de tabaco, arroz e algodão, pertencem aos ricos proprietários de


terras (grandes aristocratas), eram cultivadas por escravos negros oriundos de
África.

A maior parte dos produtos das colónias só podiam ser exportada para Inglaterra e
em navios britânicos. Da mesma maneira, só os produtos manufaturados por
ingleses podiam entrar nas colónias. Era proibido aos colonos dedicarem-se a certas
industrias, de que tinham necessidade e para as quais possuíam matérias-primas.

A influência das ideias do Iluminismo da Europa e a decisão da metrópole, em


aplicar, com rigidez, os princípios da política colonialista são os primeiros
antecedentes do processo de emancipação das 13 colónias.

Mas a causa imediata do conflito entre as colónias e a metrópole foi o problema do


Imposto de Chá de 1763, decretado pelo governo inglês para cobrir os enormes
gastos na “ Guerra dos Sete Anos” (1756 - 1763).

Os colonos americanos insatisfeitos com este imposto (e com outros, tais como o do
açúcar, do selo, etc.) atacaram, no porto de Boston, alguns barcos ingleses
carregados de chá que lançaram ao mar. (“Festa do Chá de Boston”).

Este incidente conduziu à ruptura. O Parlamento inglês votou leis que os colonos
consideraram intoleráveis e pelas quais o porto de Boston era fechado a todo o
comércio, enquanto não fosse pagos os valores das mercadorias perdidas;
julgamento dos responsáveis em Inglaterra; presença permanente de tropas inglesas
em Boston; concessão de poderes especiais ao governador de Massachusetts para
reprimir a revolta.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
A política imposta pela metrópole é agora medidas intoleráveis, agudizaram ainda
mais as divergências.

Em 1774, os delegados de todas as colónias, reunidos num Congresso em Filadélfia,


decidiram que não importava nem consumir produtos ingleses, nem exportar para
Inglaterra as matérias-primas. No Congresso elaborou-se a “ Declaração dos
Direitos”, teoria constitucional dos americanos. O essencial dessa declaração era que
“ a base da liberdade inglesa e de todo o governo é o direito que tem o povo de
tomar parte na elaboração das leis”.

2. A guerra da independência

Formaram-se milícias locais para combater e expulsar as tropas ingleses. Em 1775,


após conflitos em Lexington e Concord, entre tropas ingleses e colonos, realizou-se
o segundo congresso continental de Filadélfia, onde os representantes das 13
colónias decidiram formar um exército, comandado por George Washington da
Virgínia, aprovaram a Declaração da Independência e declararam a independência
como objetivo fundamental a luta.

O início oficial da Guerra de Independência acontece em 1775, com a tomada do


Forte de Ticonderoga. Depois de alguns fracassos, o exército americano conseguiu
uma brilhante vitoria sobre os ingleses em Saratoga em 1777, que provocou uma
boa impressão no Velho Mundo e contribuiu para fortalecer a causa americana.

Receberam, então, apoio de Espanha, Holanda e, essencialmente, de França, todas


elas interessadas em abalar a supremacia naval e comercial da Inglaterra.

De França, grande rival da Inglaterra, receberam não só munições, armas, dinheiro e


vestuário como até homens para os ajudarem na guerra. Primeiro, recebem ajuda de
pequenos contingentes de voluntários, como o general La Fayette, e mais tard, de
um exército e de uma armada.

As tropas de Washington, assim reforçadas, conseguem obrigar o exercito inglês a


capitular-se em Yortown em 1781 e é esta a vitória que decidiu a independência dos
Estados Unidos da América.

3. A independência

A Inglaterra vê-se obrigada a aceitar o fato de perder as suas 13 colónias e, em 1783,


com a assinatura do Tratado de Versalhes, reconhece a independência dos Estados
Unidos da América do Norte. Através deste tratado, a França recebe da Inglaterra o
Senegal e algumas ilhas das Antilhas e a Espanha, a região da Florida e a ilha de
Minorca.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
O resultado imediato mais importante da guerra foi o aparecimento de um novo e
original estado – os Estados Unidos - , que se organizaram como República Federal
e se constituíram como o primeiro Estado livre do colonialismo no mundo.

A Declaração da Independência, redigida por Thomas Jeferson, traduzia um novo


humanismo, baseado na igualdade de direitos e na liberdade.

Em 1787, aprovaram a Constituição, que ordenava a formação da República dos


Estados Unidos, uma federação (com autonomia dos estados), só um regime
republicano presidencialista, com a divisão dos três poderes:

- Poder executivo, exercido pelo presidente eleito por quatro anos (primeiro
presidente George Washington, eleito em 1789);

- Poder legislativo, entregue a Câmara dos representantes e ao Senado;

- Poder judicial, exercido por juízes independentes, cujo órgão máximo, o Supremo
Tribunal, tem poderes para julgar os atos dos dois poderes anteriores.

4. Repercussões de independência

A independência dos Estados Unidos da América teve uma grande repercussão na


Europa e até na própria América.

Na Europa, graças ao exemplo da Revolução Americana, as revoluções liberais


também vão ocorrer, como exemplo, a Revolução Francesa.

Na América, vão-se registaram também revoluções liberais, que vão dar início à
emancipação das colónias europeias.

II. A Revolução Francesa


1. A crise da monarquia absoluta em França

Ao longo do século XVIII, crescia de dia para dia e, com maior intensidade, a
oposição da burguesia francesa ao “ Antigo Regime”. Essa oposição foi, sem dúvida, a
causa principal da Revolução, e manifestou-se não só através dos protestos dos
indivíduos e grupos, como também pela ampla aceitação das ideias “ Iluministas. Estas,
assim designadas por pretenderem “ Iluminar” os homens de então, alertado-os contra
certos aspetos básicos da sociedade em que viviam, partiram de filósofos, cientistas e
escritores, como Voltaire, Montesquieu, Dederot, D`Alembert, Lessing (alemão), Hume
(inglês).

Há quem salientar ainda, a grande importância que teve a Independência dos E.U.A.
para esta revolução e as crises agrária económico-financeira com que a França se
debateu desde meados do século.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
A monarquia absolutista enfrentava-se com sérios problemas. Eram não só as crises,
como também uma aguda luta de classe – constantes rebeliões camponesas e urbanas,
conspirações da burguesia contra o regime existente e a atitude reaccionária da nobreza
fundiária.

2. Situação das classes sociais

A sociedade francesa estava dividida em três ordens diferentes ou estratos sociais: O


clero, a nobreza e o 3o estrato (ou povo)

O clero, ordem influente pela dignidade das suas funções e pela sua riqueza material,
dispunha de um tribunal privativo e contribuía, em matéria de imposto, com um
subsídio votado por uma Assembleia própria. Tinha o direito à dízima (imposto sobre as
colheitas), possuía grandes propriedades feudais (10%), pelas quais recebia rendas e o
rei concedia-lhes pensões.

A nobreza era a classe social que desfrutava de todos os privilégios no seio da sociedade
feudal. Não tinha que pagar impostos e era ela que ocupava quase exclusivamente todos
os cargos dirigentes do exército, da administração pública e da igreja. Muitos nobres
eram sacerdotes e formavam a chamada nobreza eclesiástica ou alto clero, que
constituía um grupo dentro da classe feudal e que ocupava os mais altos cargos dentro
da igreja francesa.

O 3o estado ou povo era formado por dois grupos distintos: a burguesia e o povo
propriamente dito (o camponês e a classe proletária).

A burguesia, dividida em alta, media, burguesia, era a classe mais rica da França.

A alta burguesia era constituída fundamentalmente por banqueiros, financeiros e


traficantes de escravos. Enriqueceu bastante graças aos empréstimos que fazia às
monarquias e à política mercantilista.

A média burguesia era composta, essencialmente, pelos burgueses que se dedicavam ao


comércio externo e pelos proprietários de manufacturas. Ainda com uma riqueza
considerável, eram grandes opositores do sistema feudal, que através da regulamentação
da produção industrial, da falta de mercado interno e dos impostos regionais que
encareciam o comércio, lhes dificultava o desenvolvimento dos seus negócios.

Por isso aspiravam partilhar o poder político com a nobreza, para poderem realizar as
reformas que lhes permitiriam aumentar as suas atividades e benefícios económicos.

A pequena burguesia, menos rica, era composta na sua maioria, pelos donos de fabricas
artesanais, pequenos comerciantes e pequenos proprietários rurais. Também ela via
impedido e limitado o seu desenvolvimento comercial devido ao sistema feudal. Além
de aspirar a enriquecer e a converter-se em alta burguesia, era uma grande opositora da
monarquia absolutista (o que não sucedia cm os outros dois grupos de burgueses)

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
O campesinato constituía a grande maioria de população e era a classe mais exploradora
da sociedade feudal. Devido à forte exploração a que era submetida, era o grande
inimigo do regime feudal e especialmente da nobreza, seu explorador direto.

A classe operária era formada pela população das cidades que se dedicava às mais
diversas atividades. Sem profissão fixa, quase sempre desempregados, formavam o
grosso dos vendedores e músicos ambulante e mendigos. Precedentes de famílias muito
pobres das cidades e de camponeses arruinados, que abandonavam o campo em busca
de trabalho, vendiam a sua força de trabalho por um mísero ordenado. Trabalhavam 16
horas por dia, em locais escuros, húmidos insalubres (as habitações tinham as mesmas
características, além de que, um pequeno quarto, albergava pais e filhos).

Como o salário que recebia não davam para o sustento da família, mulheres e crianças
eram também obrigadas a trabalhar. Estas, consideradas pouco rentáveis, quer devido ao
sexo, quer devido a idade, recebiam muito menos, mas trabalhavam as mesma horas do
que os homens.

3. A crise agrária

Na segunda metade do século XVIII, a exploração da terra era ainda a grande fonte de
riqueza de França.

Desigualmente dividida, pela nobreza, clero, burguesia e povo, a propriedade era tratada
através de processo tradicionais que não permitiam grande rendimento e que resultava
um grande atraso em relação à agricultura praticada em Inglaterra.

Praticavam ainda o sistema de folhamento trienal, que deixava improdutiva a metade da


terra, durante parte do ano. Os instrumentos agrícolas eram rudimentares (usava-se com
frequência o antigo arado de madeira que não escavava o terreno com a profundidade
necessária) e as culturas principais continuavam a ser os cereais, o vinho e a sericultura.

A existência de terras comunais, onde todos podiam alimentar o gado e cortar a


madeira, aumentava a extensão de áreas desaproveitadas para a agricultura.

A miséria em que o camponês vivia, os anos de má colheitas, com invernos rigorosos e


agravarem ainda mais a situação (é o exemplo do ano de 1788), o aumento dos impostos
e tributos a pagar pelo campesinato, a manutenção de uma técnica agrícola muito
atrasada e a saída de muitos camponeses para as cidades teve como consequência um
decréscimo progressivo de produtividade agrícola. Este decréscimo agudizou cada vez
mais ( a terra também produzia cada vez menos) e deu origem a uma crise permanente
na agricultura, que se repercutia desfavoravelmente na produção.

Os camponeses que emigraram para as cidades, devido à falta de matérias-primas para


as indústrias, acabaram desempregados. Os que possuíam a sua pequena parcela de

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
terra, produziam o necessário para viver e forma-se, assim, uma economia de auto-
subsistência, o que impossibilitava a criação de um amplo mercado interno.

Da mesma forma, a existência de barreiras alfandegárias interiores também impediam o


desenvolvimento do comércio interno. As várias regiões de França comportavam-se, em
relação uma às outras, como países estrangeiros (em muitas delas os sistemas de pesos e
medidas diferiram, assim como a moeda, o que dificultava a atividade mercantil, em
geral). E este fato, obrigava a uma economia fechada.

Quanto ao comércio externo, alcançou um grande desenvolvimento, pois os produtos


franceses eram muito solicitados na Europa e na América (por parte da grande
aristocracia colonial) devido à sua qualidade e luxo, sedas, vinhos, tapetes, jóias,
quadros, móveis, etc.

Com base no comércio externo, nas grandes manufacturas e nas atividades coloniais
(por exemplo, a pirataria), foi-se desenvolvendo uma poderosa classe burguesa que foi
enriquecendo progressivamente.

4. A crise financeira

O absolutismo na Europa Oriental tinha-se firmado e consolidado como a politica das


monarquias distintas, graças às alianças da realeza com a rica burguesia, que lhes dava
todo o apoio financeiro.

Na França, o absolutismo atinge o seu apogeu durante o século XVII. O rei goza de um
poder absoluto e os Estados Gerais não são convocados desde 1614. O rei fazia chegar a
sua autoridade às regiões mais distantes do pais por intermédio dos seus funcionários,
que faziam executar a sua vontade e que se encarregavam de garantir a cobrança e o
pagamento dos impostos estatais.

Apesar desta centralização política, a economia francesa carecia de uma organização


uniforme, pois cada província mantinha o seu próprio regime administrativo e regional,
os seus próprios impostos, a sua própria moeda e o seu próprio sistema de peso e
medidas. Ou seja, a França não tinha uma verdadeira unidade económica, o que impedia
o crescimento da sua economia mercantil.

Durante o século XVI, a França já se tinha envolvido numa série de guerras, que devido
às elevadíssimas despesas, acabaram por desequilibrar as suas finanças.

Os excessivo gastos militares, a participação na guerra de Independência dos Estados


Unidos, o aumento das despesas públicas, luxo em que a nobreza vivia, assim como o
seu sustento através de pensões reais, vão agravar seriamente as finanças do Estado
francês.

Para remediar o problema intensificaram os impostos, que eram aplicados sem um


critério uniforme e que insidiam, principalmente, sobre o 3o estado.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
Os diversos ministros de Luís XVI, (Turgot, Necker, Callone) tentam resolver a crise
propondo várias medidas, entre as quais, a reforma do sistema fiscal existente, é
proposto o lançamento de um imposto geral, pago por todas as classes.

Esta reforma não é bem aceite nem pelo rei nem pela nobreza. Foi convocada a
Assembleia dos Notáveis, formada por representantes das ordens privilegiadas, que é
dissolvida.

O problema sõ pode ser resolvido pelos Estados Gerais, que são convocados, após 175
anos (1614 -1789).

5. Ideologia revolucionária

Esta situação de crise repercutiu na forma de pensar dos homens da época. Suguem
novas ideais devido ao avanço científico, sobre a concepção da vida e da sociedade.
Surge, assim, um verdadeiro movimento filosófico que chegou a constituir uma
verdadeira revolução no pensamento e que ficou conhecido como Iluminismo. Este
considerava que o homem podia, através da sua atividade, dominar as forças da
natureza, o que constitui a base fundamental do desenvolvimento da sociedade humana.

6. O processo revolucionário

A 5 de Maio de 1789, reúnem-se os Estados Gerais e os deputados tomam


conhecimento da situação caótica do pais. Perante a recusa dos deputados do clero e da
nobreza em aceitarem o sistema de votação “ per capita”, isto é, por individuo. (o
sistema anterior era por ordem), os representantes do 3o Estado (este era constituído por
cerca de 96 % da população), que estavam em maioria, decidiram constituir-se em
Assembleia Nacional Constituinte e decretaram que nenhum imposto podia ser lançado
sem o seu conhecimento.

A Revolução tinha começado e com ele o desmoronamento da monarquia absoluta. A


20 de Junho reúnem-se na sala onde se realiza o jogo da pela e comprometeram-se a
“jamais se separar e reunir-se em qualquer parte onde as circunstancia o exigissem, até
que a Constituição do reino fosse estabelecida”.

O rei tenta dissolver a Assembleia, o que leva o povo de Paris, incitados pelos
burgueses mais revolucionários, a pegar em armas e assaltar a velha fortaleza – prisão
de Bastilha – e a libertar os presos.

O dia da tomada da Bastilha, símbolo das arbitrariedades e da opressão da monarquia


absoluta, a 14 de Julho de 1789, passou a ser, desde então, celebrado como dia de Festa
Nacional de França.

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
Devido às desordens populares nas províncias (essencialmente, assaltos as propriedades
feudais da nobreza), a Assembleia Nacional decide suprimir os privilégios feudais,
ainda existentes, e a dia 26 do mesmo mês é proclamada a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, para qual muito contribuiu o Marquês de La Fayette, herói da
Guerra de Independência dos E.U.A.

Esta declaração, nitidamente iluminista, é, em vários aspeto, semelhante à Declaração


de Independência dos E.U.A. defendia a liberdade e igualdade de direitos, o respeito
pela propriedade e tinha como conclusão fundamental o princípio de que “ toda a
soberania residia essencialmente na Nação”.

Era, assim, abolido o antigo regime. Entretanto, a Declaração dos Direitos do Homem
era de inspiração burguesa, por isso, os direitos políticos não foram
igualmentedistribuidos. Somente teriam direito a voto os “ os cidadãos ativos”, isto é os
que possuíam propriedade, os que pagavam empostos. O poder político da nobreza
firmado no sangue e na tradição, era substituído pelo poder político baseado na riqueza
adquirida.

Em 1790, foi promulgada a Constituição Civil de Clero, pelo qual os sacerdotes


passavam a serconsiderados, funcionários públicos, eleitos pelo povo e sustentados pelo
Estado e em 1791 foi aprovada a a Constituição.

A Contituição estabelecia uma Assembleia Legislativa e a separação dos poderes:

 O poder executivo cabia ao rei;


 O poder legislativo cabia à Assembleia, de deputados eleitos (estes eram os
cidadãos com um determinado padrão de riqueza);

A França tornava-se, assim, uma monasquia constitucional.

Esta vai acabar um ano depois, assim como a 1 a Assembleia Legislativa, com a tentativa
de fuga de Luís XVI e a sua família (rainha Maria Antonieta e filhos). O rei é preso.
Termina, assim, a monarquia e implantada a República em França.

É criada uma Convenção Nacional com a missão de redigir uma nova Constituição e
implantava-se a República em França. A Convençao estava dividida em dois partidos
políticos: Girondinos (moderados, representando a alta burguesia) e os Jacobinos (mais
radicais, também denomonados montanhences, que representavam a pequena burguesia
e média burguesia).

A implantação da República em França coincide coma tomada do poder pelos Jacobinos


(1792 -1794) e inagura uma nova etapa na Revolução Francesa: a Convenção.

Luís XVI é condenado à morte e executado a 21 de Janeiro de 1793 fato que leva à
união de quase toda Europa contra a França.

Perante a ameaça externa e as inssureicoes internas (devido ás medidas revolucionarias


dos Jacobinos). Danton, Marat e Robespierre (chefes jacobinos) declaram a “ pátria em

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
perigo”: criaram a Comité de Salvacao Pública e instauraram um regime do Terror – a
fase mais vioelenta da Revolução francesa, durante a qual morreram milhares de
franceses entre os quais a rainha, cientistas e poetas, todos eles considerados opositores
ao regime. Os próprios chefes jacobinos acabam por ser vítimas do regime que eles
criaram - Marat foi assassinado, Danton e Robes+ierre guilhotinados.

7. Papel desempenhado

Obra da burguesia, a Revolução consagrou o domínio desta classe na sociedade


francesa. A tradicional distinção em “ordens” (clero, nobreza e o povo) foi subatituida
pela igualdade juridica, uma vez que todos, não por previlegios de nascimento mas por
riqueza ou mérito pessoal, podiam ascender aos mais altos cargos públicos. A sociedade
de ordens deu lugar à sociedade e classes.

Este fato gerou um novo equilíbrio social. Adquirindo grande parte de bens do clero e
da nobreza, a burguesia converteu-se na nova classe dirigente, vivendo nos velhos
castelos nobres (restqaurados) e rodeado de luxo como eles. Passou, portanto, a domi
nar o poder político e o poder eeconomico.

A Declaracao dos Direitos do Homem e do Cidadão, uma apreciável conquista,


estabeleceu uma sociedade nova, igualitária (todos os homens são iguais perante a lei ),
sem previlégios de classes, sem distinções sociais, com liberdade individuail, igualdade
de tributos e direito à propriedade.

Os direitos feudais das ordens privilegiadas do Antigo Regime (nobreza e clero) foram
abolidos. O clero foi reorganizado e os seus bens nacxionalizados.

As grandes propriedades dos nobres emigrados foram divididas em pequenas parcelas e


vendidas aos camponeses com facilidade de pagamentos. Foi eliminado o feudalismo do
campo e estabecido o direito à livre propriedade da terra.

Após a queda da Convenção, os Girordinos estabeleceram um novo sistema de governo:


o Directório. A Fraça continuava a ser uma república, mas o poder executivo estava
agora nas mãos de três “ directores”, e o poder legislativo estava confiado a duas
assembleias: a dos Quinhentos, que elaborava as leis e a dos Anciões, que as aceitava

professor Agostinho António Ialá Júnior


1
professor Agostinho António Ialá Júnior
1

Você também pode gostar