Uma História Dos Povos Árabes - Albert Hourani (Aula 6)

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HOURANI, Albert. Uma história dos povos árabes.

São Paulo: Companhia


das Letras, 2006, p. 21-56 (Um novo poder num velho mundo/A formação de
um Império)

Um novo poder num velho mundo


“[...] as ligações estabelecidas entre países da bacia do Mediterrâneo e do
oceano Índico criaram um sistema de comércio único, trazendo mudanças na
agricultura e nos ofícios, proporcionando a base para o surgimento de grandes
cidades, com uma civilização urbana expressa em edificações de um
característico estilo islâmico.” (p. 21)
Império Romano na Bacia do Mediterrâneo:
- Zona rural colonizada produtora de grãos, vinho, frutas e azeite;
- Comércio efetuado por rotas marítimas;
- Experiência cultural grega e latina
No século IV, o centro de poder imperial se altera para o leste, em
Constantinopla, que teve como zona de influência o sul da Itália, a Sicília, o
norte da costa africana, o Egito, a Síria, a Anatólia e a Grécia – divisão
horizontal.

 Conversão em diversos níveis da população para o cristianismo, que


proporcionou uma nova dimensão de lealdade ao imperador e uma nova
unidade cultural aos súditos.
A natureza de Cristo era principal diferença entre as doutrinas, o Concílio de
Calcedônia em 451 definiu o filho como divino e humano, posição aceita pela
Igreja Oriental e Ocidental, defendida pelo Império. Depois, a Igreja Ortodoxa
Oriental passou a ter os patriarcas como chefes do sacerdócio enquanto a
Ortodoxa Oriental aceitava a autoridade papal em Roma. Além delas, a
doutrina monofisista afirmava que Jesus tinha uma única natureza que também
era dupla – Igreja Armênia na Anatólia, cristãos egípcios (coptas) e cristãos
nativos da Síria (jacobitas) – e outra, no Iraque (nestorianos), destaca Jesus
apenas como humano.
Leste do Império Bizantino havia os sassânidas (atual Irã/Iraque), região
habitada por povos de grande cultura e diferentes grupos étnicos que em
certos tempos eram dominados por uma dinastia forte – a última foi o Império
Sassânida, capital sediada em Ctesifonte, originários ao sul do Irã, um Estado
familiar que reviveu a antiga religião projetada pelo mestre Zoroastro.
“Para essa religião, o universo era um campo de batalha, abaixo do Deus
supremo, entre bons e maus espíritos; o bem venceria, mas os homens e
mulheres de virtude e pureza ritual podiam apressar a vitória.” (p. 25)

O domínio de Alexandre no Irã em 334-33 a.C. fez com que se criassem mais
relações com o Mediterrâneo Oriental, enquanto Mani, um mestre iraniano,
tentou incorporar profetas e mestres em um sistema religioso, o maniqueísmo.
Mais tarde, sob os sassânidas, ganha uma camada filosófica, uma classe de
sacerdotes e um culto formal, definindo o soberano como um agente do bem –
portanto, seus adversários seriam do mal.
Região de alta carga linguística: pálavi (forma escrita da língua persa),
aramaico (língua semita ligada ao hebraico e árabe) sob a forma de siríaco.
Ao sul, dos dois lados do Mar Vermelho, existiam a Etiópia com o cristianismo
copta como religião oficial, e o Iêmen no sudoeste da Arábia como ponto de
trânsito oficial.
“No século VI, um núcleo de cristianismo fora destruído por um rei atraído para
o judaísmo, mas invasões originárias da Etiópia haviam restaurado certa
influência cristã; tanto os bizantinos como os sassânidas envolveram-se nesses
acontecimentos.” (p. 26)

“A maior parte da península Arábica era estepe ou deserto, com oásis isolados
contendo água suficiente para cultivo regular.” (p. 26)
Os habitantes falavam dialetos do árabe, alguns eram nômades criadores de
camelos, carneiros ou cabras – conhecidos como beduínos – enquanto outros
eram agricultores sedentários com safras ou palmeiras em oásis, alguns eram
comerciantes e artesãos em vilas que tinham feiras estabelecidas criando
postos comerciais.
 Apesar de ser um grupo minoritário, os nômades dominavam os
lavradores e artesãos
Estrutura Social: tribal (grupos de famílias unificados em torno de uma
ancestralidade comum com um chefe, podendo ser matrilinear ou, nesse caso,
patrilinear), se identificando pelo ethos árabe – coragem, hospitalidade,
lealdade à família e orgulho dos ancestrais. O poder do chefe era estabelecido
pela quantidade de oásis presentes em seu território e mantendo laços com os
mercadores.
Apesar disso, pastores e agricultores não tinham uma religião clara, não
necessariamente pagãos, mas sendo mais animalista que as outras.
Haram: local ou aldeia sagrada isolada dos conflitos entre tribos que
funcionava como centro de peregrinação, sacrifício e arbitragem
supervisionado por uma família protegida por uma tribo. As famílias podiam
obter essa posição agindo como árbitros em disputas e pela força comercial.
 Processo de declínio do Império Sassânida e Bizantino no sec. VI e VII
“[...] por muitos anos os pastores árabes nômades do norte e do centro da
península vinham-se mudando para o campo da área hoje chamada de Cres
cente Fértil [...] (e) trouxeram consigo seu ethos cultural.” (p. 27)
“Por via desses estados, do Iêmen, e também dos mercadores que
trafegavam pelas rotas comerciais, começou a entrar na Arábia um certo
conhecimento do mundo externo e de sua cultura, além de alguns colonos de
lá procedentes.” (p. 27)
Dialeto árabe como unidade cultural – surgiu a partir, talvez, de uma união
de diferentes dialetos ou pelo desenvolvimento de sua estrutura, altamente
formal e dotada de poesia. A religiosidade com o uso desses dialetos era
entoada, cantada ou professa com poesia – podia ser escrita mas normalmente
não, as mais antigas escritas em aramaico.
“[...] Mu'al-lagat, ou “poemas suspensos”, um nome de origem e sentido
obscuros; os poetas que os escreveram — Laid, Zuhayr, ImnTl-Qays e meia
dúzia de outros eram tidos como os grandes mestres da arte.” (p. 31)
Diwan: expressão da memória coletiva dos poetas, com marcas da
personalidade de cada um.

Maomé e o surgimento do Islã


Século VII: unificação de um mundo assentado e outro em contato com
vizinhos setentrionais. Criação de uma ordem política – abrangendo a
Península Arábica, terras sassânidas e províncias sírias e egípcias bizantinas –
unificada pela revelação de Allah a Maomé que completava revelações antigas
a outros profetas.
Maomé ‘O Selo dos Profetas’ – possuía biografia distinta com a primeira
sendo escrita um século após sua morte, o descrevendo como peregrino
religioso que buscando a iluminação passou por várias religiões da Península
até a Etiópia.
Início: nascido em Meca +- em 570, pertencente a uma fraca linhagem
coraixita, onde – dizem os biógrafos – tinha relação com a Caaba, local de
guarda de imagens de deuses locais.
Noite do Poder (ou destino): enquanto era um errante solitário, com cerca de
40 anos, um anjo o convocou a recitar em nome de Allah.
“Nesse ponto, deu-se um fato conhecido na vida de outros pretendentes a
poderes sobrenaturais: a pretensão é aceita por outros que a ouvem, e esse
reconhecimento a confirma na mente daquele que a fez.” (p.33)
Os que se submetessem a Allah seriam conhecidos como muçulmanos (Islã
deriva do mesmo radical árabe) e seriam julgados com misericórdia quando o
mundo acabasse. Primeiros convertidos foram jovens coraixitas, clientes de
outras tribos, artesãos e escravos e membros de famílias menores. Os
coraixitas não aceitaram a pretensão de ser um mensageiro de um deus, e a
situação piorou quando Khadija – esposa – e Abu Taliba – tio – morreram.

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