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As Cruzadas

Por Antonio Gasparetto Junior

Mestrado em História (UFJF, 2013)


Graduação em História (UFJF, 2010)

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As Cruzadas foram movimentos militares cristãos em sentido à Terra Santa com a


finalidade de ocupá-la e mantê-la sob domínio cristão.

No século VII surgiu no Oriente Médio uma religião também monoteísta que
conquistaria muitos adeptos com o passar do século. O Islamismo foi difundido
através do profeta Maomé e o seu crescimento criaria grandes embates com o
cristianismo. No final do século XI, a religião já havia se tornado grande o suficiente
para clamar por seus lugares sagrados, que, no entanto, eram coincidentes com os
lugares sagrados dos cristãos. A cidade de Jerusalém é o principal local sagrado para
essas duas religiões monoteístas e também para o judaísmo. A ocupação da cidade e
das regiões próximas que compõem a chamada Terra Santa foi motivo de muitos
conflitos entre essas religiões na Idade Média e ainda é uma das causas da
instabilidade no Oriente Médio.

O termo Cruzada não era conhecido na época


em que ocorreram. Só foi assim nomeado
porque seus participantes se consideravam
soldados de Cristo e se distinguiam pela cruz
em suas roupas. Na época em que ocorreram,
eram chamadas de peregrinação ou de guerra
santa pelos europeus. No Oriente Médio,
contudo, eram chamadas de invasões francas,
em função da maioria dos cruzados serem
provenientes do Império Carolíngio e de se
autodenominarem francos.

O entorno do ano 1000 viu o significativo


crescimento das peregrinações de cristãos a
Jerusalém, pois eles acreditavam que o fim do
mundo estava próximo e, por isso, faziam
sacrifícios e buscavam as terras sagradas para
evitar a eternidade no inferno. O mundo não
acabou e os muçulmanos ocuparam cada vez
mais a Terra Santa, criando grandes
impedimentos para o trânsito de cristãos. A
situação se agravou no decorrer do século XI e
irritou os cristãos, que se reuniram para a
primeira expedição militar que os levaria à
Terra Santa para tentar expulsar os
muçulmanos da região e devolvê-la aos Ilustração: bazzier / Shutterstock.com
cristãos. Entre os anos 1096 e 1270, muitas
expedições foram organizadas para tentar
reconquistar Jerusalém, porém os muçulmanos se mantiveram firme na região após
vários conflitos.
Antes da primeira Cruzada organizada por nobres europeus, houve um movimento
extra-oficial que ficou conhecido como Cruzada dos Mendigos ou Cruzada Popular. O
monge Pedro reuniu uma multidão que incluía mulheres, velhos e crianças para atuar
como guerreiros. A expedição até chegou ao Oriente, mas foi facilmente massacrada.
A Primeira Cruzada oficial foi convocada pelo Papa Urbano II, que reuniu a nobreza
europeia em 1095 para combater os infiéis que ocupavam a Terra Santa. No ano
seguinte, os cruzados partiram para Jerusalém e tiveram sucesso, conquistando a
Terra Santa, o principado de Antioquia e os condados de Trípoli e Edessa.

Algumas décadas depois, os muçulmanos conseguiram reconquistar a cidade de


Edessa, o que motivou uma nova expedição, a segunda Cruzada, entre os anos 1147
e 1149. No entanto, não causou a mesma comoção da primeira e resultou em uma
grave derrota, o que deixou profundo ressentimento no Ocidente. Mais décadas se
passaram e, em 1187, o sultão Saladino obteve uma vitória esmagadora sobre os
cristãos em Jerusalém, reconquistando a cidade para os muçulmanos. Em resposta, o
Papa Gregório VIII convocou uma nova Cruzada, que ficou famosa pela participação
de três importantes reis da Europa: Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra;
Frederico Barbarossa, do Sacro Império Romano Germânico; e Felipe Augusto, da
França. A Terceira Cruzada, que ocorreu entre os anos 1189 e 1192, mais uma vez,
não resultou em vitória para os cristãos, mas o rei Ricardo Coração de Leão conseguiu
assinar um acordo de paz com Saladino permitindo a peregrinação dos cristãos com
segurança até Jerusalém.

No início do século seguinte, nova Cruzada foi convocada para atacar Constantinopla.
A expedição ocorrida entre 1202 e 1204 tinha fins políticos que não receberam a
aprovação do Papa Inocêncio III. A Quarta Cruzada deixou notáveis consequências
política e religiosas porque enfraqueceu o Império Oriental e agravou o ódio entre a
cristandade grega e latina. Poucos anos depois, em 1208, o mesmo papa convocou
uma Cruzada contra os cátaros no Lanquedoc. O catarismo, doutrina que acreditava
no dualismo, ou seja, na existência de um Deus bom e outro mal, era considerado
uma heresia e seu crescimento incomodava muito a Igreja Católica. Séculos mais
tarde, seus seguidores seriam perseguidos também pela Inquisição.
Um dos eventos mais curiosos envolvendo as Cruzadas certamente foi o de 1212. Na
ocasião, crianças e adolescentes que acreditavam estarem possuídas do poder divino
para reconquistar Jerusalém partiram em direção aos portos para embarcarem rumo à
Palestina. A expedição que ficou conhecida como Cruzada das Crianças vitimou
vários dos jovens ainda durante a viagem e os sobreviventes foram vendidos como
escravos aos muçulmanos quando atracaram no porto de Alexandria. Calcula-se que
50 mil crianças tenham sido colocadas nos barcos da mais desastrosa das expedições
cristãs.

Nova Cruzada oficial ocorreria entre os anos 1217 e 1221. Porém o fracasso não seria
novidade. A quinta expedição não conseguiu nem mesmo superar as enchentes do Rio
Nilo e acabou desistindo de seus objetivos de tomar uma fortaleza muçulmana no
Egito. Poucos anos depois, a Sexta Cruzada, ocorrida entre 1228 e 1229, finalmente
alcançou sucesso através da liderança de Frederico II. Este conseguiu obter a posse
de Jerusalém, de Belém e de Nazaré para os cristãos por dez anos. No entanto, em
1244 os cristãos perderam o domínio dessas localidades novamente para os
muçulmanos.

Entre 1248 e 1254, a Sétima Cruzada foi liderada pelo rei francês Luís IX que
desembarcou para combate no Egito e recebeu a oferta de posse de Jerusalém, a qual
recusou. Na continuidade dos conflitos, o rei foi aprisionado e seu resgate custou 500
mil moedas de ouro. Mas foi o mesmo rei que comandou a Oitava Cruzada em 1270.
Só que ele faleceu devido à peste logo após desembarcar em Túnis, o que encerrou
mais uma expedição. Uma Nona Cruzada ainda é descrita por alguns, embora muitos
argumentem que tenha sido parte integrante da Oitava Cruzada. Após a morte do rei
Luís IX, o príncipe Eduardo da Inglaterra teria comandado seus seguidores até o Acre
(cidade em Israel) para combater os adversários nos dois anos seguintes. Mas,
preparando-se para atacar Jerusalém, recebeu a notícia do falecimento de seu pai e
decidiu retornar à Inglaterra para herdar seu trono de direito, encerrando a expedição
e o turbulento século XIII.

As Cruzadas foram um fracasso em seu objetivo de conquistar a Terra Santa para os


cristãos. Custaram muito caro para a nobreza europeia e resultaram em milhares de
mortes. No entanto, essas expedições influenciaram grandes transformações no
mundo medieval. Elas causaram o enfraquecimento da aristocracia feudal,
fortaleceram o poder real e possibilitaram a expansão do mercado. A civilização
oriental contribuiu muito para o enriquecimento cultural europeu, promovendo
desenvolvimento intelectual. Nunca mais Jerusalém foi dominada pelos cristãos, mas
as movimentações ocorridas no trajeto para a Terra Santa expandiram os
relacionamentos com o mundo conhecido na época.

Fontes:
http://www.youtube.com/watch?v=kBol2p_S1F4
MAALOUF, Amin. As Cruzadas vistas pelos árabes. São Paulo: Brasiliense, 2001.
WILLIAMS, Paul. O guia completo das cruzadas. São Paulo: Madras, 2007.

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