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DISCIPLINA: HISTORIOGRAFIA FRANCESA: DOS ANNALES À NOVA HISTÓRIA

NOME: João Batista Sabino Neto

BURKE, Peter. A Revolução Francesa da historiografia: a Escola dos Annales


(1929-1989). São Paulo: Ed. UNESP, 1991.

UM BALANÇO FINAL

1. Que precedentes e paralelos podem ser referidos, quando se considera que o


objetivo dos Annales era a construção de uma nova espécie de história?

Os precedentes da história, mais precisamente no século XIX, este século


em que havia um forte sentimento patriótico e de formação da unidade nacional, a
historiografia francesa aproxima-se da escola metódica, inspirada em Monod, e na
Alemanha, apresentava Ranke como principal historiador, usava de métodos
positivistas em busca de uma história cientifica, analisavam fontes primárias para
produzir uma história tal como ela ocorreu, de forma imparcial, priorizando assim, os
registros dos eventos, das origens e dos grandes homens.
Temos como paralelos o compartilhamento de muitos pesquisadores
durante um longo período; a tradição francesa, de Michelet e Fustel de Coulanges ao
Année Sociologique, Vidal de La Blanche e Henri Berr, é bastante conhecida.
Por volta de meados do século XVIII, certo número de intelectuais, na
Escócia, França, Itália, Alemanha e em outros países, começou a preocupar-se com o
que denominava a “história da sociedade”. Uma história que não se limitava a guerras
e à política, mas preocupava-se com leis e o comércio, a moral e os “costumes”,
temas que haviam sido o centro de atenção do famoso livro de Voltaire Essai sur Les
mouers.
As inovações associadas Fevbre, Bloch, Braudel e Labrousse têm
precedentes já supracitados, e também paralelos, dos métodos comparativo e
regressivo à preocupação com a colaboração interdisciplinar, com métodos
quantitativos, com mudanças na longa duração. Nos anos 30, por exemplo, Ernest
Labrousse e o historiador alemão Walter Abel entram em paralelo com trabalhos
independentes na história quantitativa dos ciclos agrícolas, tendências e crises (Esse
estudo foi descoberto pelos historiadores somente após a guerra), (Abel, 1935). Outro
exemplo, na década de 50, o ressurgimento da história regional na França tem um
paralelo no ressurgimento da história local na Inglaterra, vinculada à escola de W.G.
Hoskins, um discípulo de Tawney, cujos livros incluem um estudo da construção da
paisagem inglesa e uma história socioeconômica, na longa duração, quase
novecentos anos, de uma vila de Leicestershire, Wigston Magna (Hoskins, 1955,
1957).
2. Se forem considerados os precedentes e os paralelos, como explicar o sucesso dos
Annales, resultado que não foi encontrado por aqueles?

As contribuições que historiadores como Bloch, Braudel – O mediterrâneo,


por exemplo, naturalmente atraiu leitores de toda a Europa - Fevbre e seus seguidores
deram, foram mais longe do que as de qualquer outro pesquisador ou grupo de
pesquisadores na concretização dos seus objetivos comuns e lideraram um
movimento que se difunde mais extensamente e por mais tempo. Revolucionam a
historiografia a partir do momento que almejam à mudança, discutem os problemas
pertinentes e abandonam a história dos eventos, das origens e deixam à margem a
história política, não obstante, não jogue na lata do lixo. É possível que o historiador
do futuro tenha condições de oferecer explicações desse sucesso em termos de
estrutura e conjuntura, (Explicações estruturo-conjunturais são oferecidas por Coutau-
Bégarie, 1983), valorizando, por exemplo, o fato de sucessivos governos franceses
financiarem a pesquisa histórica. Em última análise, os Annales soube incorporar à
revista, métodos revolucionários como a interdisciplinaridade das ciências, novas
abordagens no Pós-Guerra, inclusão de métodos quantitativos, enfim, a preocupação
com abordar problemas da história.

3. Como entender a afirmativa de Peter Burke ao declarar que o movimento pode não
ter sido “tudo para todos”?

Essa declaração está atrelada a concentração dos Annales por alguns


períodos específicos da história, ou seja, foi profundamente desigual por se concentrar
à França sua atenção de maior parte. Da mesma forma que se concentram sobre a
França, os historiadores dos Annales voltaram sua atenção sobre um período, o
chamado “inicio da idade moderna”, de 1500 a 1800, mais especificamente o “Antigo
Regime” na França (1600-1789).

Contudo, o grupo Annales deu pouca importância ao ocorre no mundo


depois de 1789. Charles Morazé, Maurice Agulhon e Marc Ferro fizeram o possível
para preencher esta lacuna. A marginalização de historiadores políticos também
explica a avaliação de Burke.

4. Em termos de espaço e de tempo, que avaliação pode ser feita da produção


histórica dos Annales?
A busca pela “história total”, seguida pelos Annales, agrega estudos de
longa duração na idade moderna, nessa linha, a contribuição feita pelos Annales foi de
grande importância, não obstante, haja desigualdade quando se concentra na França
às suas contribuições, vemos o exemplo do Bloch, que demonstra seu interesse pela
história inglesa, mas não foi acompanhado pelos seus sucessores. Embora não
preencha todas as lacunas devido a predileção em se concentrar em determinada
espaço e tempo, a produção histórica dos Annales sempre se propôs a reivindicar em
suas obras um tempo total, ou melhor, a história total, em contraste as histórias mais
delimitadas, recortada, em migalhas.

Contudo, a contribuição do grupo à história das américas espanhola e


portuguesa foi também bastante significativa.

5. Analisando suas ideias predominantes, como avaliar o movimento dos Annales?

As ideias predominantes dos Annales é um ponto interessante para avalia-


los, pois eles estavam preocupados com a história das estruturas na longa duração
em busca de uma “história-total”, para isso, utilizavam métodos quantitativos e diziam-
se científicos e negavam a liberdade humana, posto isso, vemos também que havia
um conflito no grupo entre liberdade e determinismo que sempre os dividia.

O que distinguia Bloch e Febvre dos marxistas de seu tempo era


precisamente o fato de que não combinavam seu entusiasmo pela história social e
econômica com crença de que as forças sociais e econômicas tudo determinavam. Na
segunda geração o determinismo ganha força com Braudel no campo geográfico e
Labrousse, este simpático do marxismo, no campo econômico. Ambos acusados de
tirar o povo da história e concentrar sua atenção nas estruturas geográficas e nas
tendências econômicas. Na terceira geração, pós-segunda Guerra Mundial, com a
ascensão das histórias regionais - devido ao fracasso da Europa em não impedir
catástrofes já que, ate então, era “a mãe civilizadora”, ou o molde ideal para a
civilidade - os temas são diversos entre os historiadores como estratégias
matrimoniais ou hábitos de leitura, houve uma volta ao voluntarismo.

6. Que trabalhos da Escola dos Annales P. Burke avalia como “obras-primas”? Quais
as mais importantes contribuições da história dos Annales que foram suscitadas por
essas obras-primas?
As obras primas citadas por Burke são: Os Reis Taumaturgos e a
Sociedade Feudal de Bloch, O Problema da Incredulidade no Século XVI do L. Febvre,
O Mediterrâneo do Braudel, Os Camponeses de Languedoc do Le Roy Ladurie e
Civilização Material, economia e Capitalismo também do Braudel. Nomear as mais
importantes contribuições dos Annales significa, segundo Burke, escrever uma lista
por si só impressionante: história-problema, história comparativa, história psicológica,
geo-história da longa duração, história serial, antropologia histórica.

Esse leque de listas só foi possível graças às mudanças de analises


historiográficas feita pelos historiadores ao longo das três gerações, cada “obra-prima”
preenche uma lacuna importante, se utiliza de métodos inovadores.

7. Para P. Burke, qual foi a mais importante contribuição do grupo dos Annales,
incluindo-se as três gerações?

Segundo a perspectiva de Burke a mais importante contribuição dos


Annales, incluindo-se as três gerações, foi expandir o campo da história por diversas
áreas, essa interdisciplinaridade contribuiu para a importância da revista, que se
manteve por sessenta anos, um fenômeno sem precedentes na história das ciências
sociais.

Deixa à margem a história dos acontecimentos que outrora era bastante


comum entre os historiadores da escola metódica e promove uma revolução, acatando
as duras críticas feitas por membros de outras áreas como o Simiand e Lévi-Strauss,
os Annales contribuem de forma bastante significativa no campo historiográfico.

Ligaram-se aos estudos da humanidade, da geografia à linguística, da


economia à psicologia, exemplos: história quantitativa fortemente influenciada pela
demografia histórica, história das mentalidades atrelada a psicologia, a filologia, enfim,
essa união para Burke ocasionou uma grande revolução historiográfica.

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