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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

INTRODUÇÃO A CIÊNCIA GEOGRÁFICA

GUARULHOS – SP

1
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 4

2 GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA ............................................................................. 5

2.1 A gênese da ciência geográfica ......................................................................... 6

2.2 Elementos do pensamento científico geográfico ............................................... 9

3 O ESPAÇO GEOGRÁFICO COMO ELEMENTO FUNDANTE DA CIÊNCIA ..... 15

4 A GEOGRAFIA CLÁSSICA ................................................................................ 20

4.1 A geografia tradicional e os aspectos fundantes: natureza, homem e


economia ............................................................................................................... 21

5 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA NO BRASIL................................ 24

5.1 A história da geografia no Brasil ...................................................................... 25

6 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IBGE E A GEOGRAFIA BRASILEIRA ............. 30

7 A GEOGRAFIA COMO DISCIPLINA OBRIGATÓRIA NO ENSINO


FUNDAMENTAL E NO ENSINO MÉDIO .............................................................. 33

8 LEITURA DO ESPAÇO GEOGRÁFICO ATRAVÉS DAS CATEGORIAS: LUGAR,


PAISAGEM E TERRITÓRIO ................................................................................. 37

8.1 Categoria – Lugar ............................................................................................ 39

8.2 Categoria – Paisagem ..................................................................................... 41

8.3 Categoria – Território ....................................................................................... 43

9 GEOPOLÍTICA BRASILEIRA ............................................................................. 46

10 A GEOPOLÍTICA BRASILEIRA DURANTE A DITADURA MILITAR ................ 50

11 AS POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS PARA A AMAZÔNIA .................................. 57

11.1 Os rumos da geopolítica para o Atlântico Sul ................................................ 59

12 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL ............................................. 61

12.1 Crescimentos das cidades no contexto brasileiro .......................................... 62

2
13 ARRANJO ESPACIAL NO INTERIOR DAS CIDADES ................................. 68

14 FORMAÇÃO DAS CIDADES EMPRESARIAIS ............................................. 71

15 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 75

3
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as
perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão
respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA

Suportegeográfico.com.br

Atualmente a geografia é uma ciência consolidada. Ela pode ser definida


como o estudo das relações entre os seres humanos e o espaço onde vivem. Foi
no século XIX que a geografia passou a ser considerada uma ciência. Nas
universidades da Europa, ela ganhou importância e se tornou uma disciplina,
principalmente, devido aos estudos dos geógrafos alemães Alexander Von
Humboldt e Karl Ritter e dos geógrafos franceses Eliseé Reclus e Vidal de La
Blache. O principal objeto de estudo da geografia é o espaço geográfico (SAGAH,
2021).

5
2.1 A gênese da ciência geográfica

Origemgeografia.com.br

A geografia pode ser compreendida como uma ciência da Terra, ou seja, que
descreve a Terra. Além disso, a mesma se apresenta como um ramo do
conhecimento científico. A sua gênese ocorreu na Antiguidade Clássica. Assim, a
geografia nasceu com os gregos, que foram os primeiros a registrar a
sistematização do conhecimento dessa ciência. Desde a Antiguidade, os gregos
começaram a qualificar as informações da superfície terrestre. Contudo, o saber
geográfico é mais antigo ainda do que os filósofos da Grécia Antiga: as sociedades
primitivas já se preocupavam com o conhecimento da superfície terrestre. Nas
pinturas rupestres, havia uma compreensão da vida que levava em conta aspectos
geográficos (SAGAH, 2021).

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Moreira (2010) esclarece que a geografia é uma forma particular de
conhecimento. Estrabão (64 a.C.– 24 d.C.) foi um dos primeiros pensadores da
geografia e se dedicou a refletir sobre os ocupantes da Terra, os oceanos, a
vegetação e o homem que a cultiva. Para ele, o homem, a terra, a vida e a felicidade
se articulam na totalidade, no tempo e no espaço. Os estudos produzidos por
Estrabão foram fundantes e essenciais para o desenvolvimento do saber
geográfico.
É importante considerar ainda Immanuel Kant (1724–1804), que organiza o
seu pensamento a partir da filosofia grega. Assim, com Sócrates, a “unidade de
natureza” incorporava as atividades humanas no conhecimento de mundo. Já com
Xenófanes, as atividades econômicas foram essenciais, e com Platão as questões
políticas foram marcadas. Porém, para Kant, o auge do pensamento geográfico
ocorreu com os filósofos modernos, como Francis Bacon (1521–1626), René
Descartes (1596–1650) e Carolus Linnaeus (1707–1778). Esses filósofos fizeram
com que Kant desenvolvesse as suas ideias sobre o conhecimento geográfico, ou
a geografia física, precisamente pela perspectiva das ciências naturais (SALES,
2013).
Kant foi professor de geografia física na Universidade de Konigsberg, na
Prússia, atual Alemanha. Em 1770, ele já considerava o aspecto racional na questão
do método. Kant compreendia que a razão era dada pela razão pura e que o
conhecimento era dado pela experiência, pelos sentidos e sensações. A discussão
sobre o método em Kant influenciou o desenvolvimento da ciência. Assim, Kant
dividiu as ciências em empíricas e racionais (teóricas). Ele considerava a geografia
como uma ciência, de acordo com as distinções entre ela e ciências como a
antropologia, a história e a física.
Para Kant, a geografia física é a primeira parte do conhecimento do mundo,
ou seja, um conhecimento útil em todas as circunstâncias da vida. É importante
você considerar que “[...] o curso de geografia física dado por Kant influenciou, de
forma direta e indireta, diversos viajantes que catalogaram o novo mundo, entre eles
Humboldt” (SALES, 2013, p. 187).

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Pereira (1988) esclarece que, mesmo com o desenvolvimento da cartografia
durante as grandes descobertas dos séculos XV e XVI, até o século XVIII, os
trabalhos geográficos seguiam muitos dispersos, sem qualquer padronização ou
sistematização das ideias. A abundância de temas e a descontinuidade das
informações tornava impossível tratar a geografia como uma ciência, como um
saber autônomo. Somente no final do século XVIII chegou ao fim o longo período
inicial e preparatório da geografia e a sua pré-história. No século XIX, a geografia
buscou status científico, especialmente na Alemanha. Entretanto, só recentemente
ela encontrou elementos para o seu nascimento como ciência.

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2.2 Elementos do pensamento científico geográfico

Na Idade Moderna, com as mudanças econômicas, sociais e culturais, a


maneira de explicar as relações entre a natureza e a sociedade foi afetada. Logo,
também foi alterado o conceito de geografi a. Nesse período, eram buscadas
explicações mais profundas para as relações entre a Terra e os astros, entre as
condições naturais e as sociedades capitalistas (PEREIRA, 1988).
Antes, na Idade Média, a geografia era utilizada especialmente para
desenhar roteiros, direcionando a análise de astros, a cartografia e a astronomia.
Como você pode notar, havia confusão entre a geografia, a cartografia e a
astronomia. Além disso, quase não se traçavam relações com a sociedade. No
período contemporâneo, a geografia está ligada às explicações dos fenômenos
físicos e políticos na sociedade capitalista. Assim, houve uma evolução e hoje não
se consideram apenas as descrições, mas as explicações dos fenômenos e a sua
distribuição (PEREIRA, 1988).

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No final do século XIX e início do século XX, surgiram inúmeras publicações
produzidas por geógrafos. Com a institucionalização da geografia acadêmica nas
universidades europeias, houve uma evolução da ciência, que passou a estudar “a
distribuição, na superfície do globo, dos fenômenos físicos, biológicos e humanos,
[bem como] a causa dessas distribuições e as relações locais destes fenômenos”.
Não se tratava mais de apenas descrever, mas de explicar os fenômenos. Com
essas características, a geografia ficou conhecida como uma ciência de síntese.
Nesse sentido, trabalhava com os elementos das demais ciências (antropologia,
biologia, história, física), aprofundando o seu próprio desenvolvimento como
ciência. Atualmente, a geografia se define como o ramo do saber científico que se
dedica ao estudo das relações entre a sociedade e a natureza, ou ao estudo do
modo como a sociedade organiza o espaço terrestre (PEREIRA, 1988).
Segundo Mormul e Rocha (2013), no final do século XIX, a ciência geográfica
se originou na Alemanha, com Von Humboldt (1769–1859) e Karl Ritter (1779–
1859). A partir deles, se estabeleceu a base científica da geografia. Humboldt não
tinha formação em geografia; ele era botânico. Logo, a sua contribuição foi
importante para a consolidação da ciência. As disciplinas que hoje compõem a
geografia, como a biogeografia, a climatologia e geologia, foram criadas a partir de
Humboldt. Já Ritter, com formação em ciências humanas e história, procurou
explicar a evolução da humanidade relacionado os povos aos aspectos naturais.
Ele descrevia sobretudo a sociedade, mas já fazia certas relações com os aspectos
políticos e econômicos. Foi assim que a geografia passou a se consolidar como uma
ciência.

10
Ritter, um dos grandes nomes da ciência geográfica. Fonte: Marzolino/Shutterstock.com

Em meados do século XIX, a geografia estava ligada às explicações dos


fenômenos físicos e políticos, todavia centrada nas filiações das sociedades
geográficas e nas universidades. As filiações das sociedades geográficas foram
importantes e entre elas se destacam: a Sociedade Geográfica de Paris (1821), a
Sociedade Geográfica de Berlim (1928), a Real Sociedade de Geografia de Londres
(1830), a Sociedade Russa de São Petersburgo (1845), a Sociedade Americana de
Geografia de Nova Iorque (1852), a Sociedade Geográfica de Genebra (1858) e a
Sociedade Geográfica de Madri (1876).
A finalidade dessas sociedades estava relacionada com a entrada do
capitalismo em uma nova fase. Nesse contexto, havia a necessidade de conhecer
melhor os povos, territórios, recursos naturais e riquezas das nações. Para isso,
eram financiadas viagens com exploradores naturalistas, com o objetivo de realizar
e divulgar pesquisas. A divulgação ocorria por meio das revistas da época
(MOREIRA, 2010).
Na época, as sociedades geográficas eram encaradas como instituições de
utilidade pública e também como incentivadoras da ciência geográfica. A Sociedade
Geográfica de Paris foi a primeira a realizar expedições. A cartografia e a questão

11
militar foram aspectos que mobilizaram as viagens. Afinal, as informações trazidas
pelos exploradores e naturalistas poderiam ser usadas para campanhas políticas
francesas. Um dos maiores desejos dos franceses era criar um memorial
geográfico, sobretudo com informações sobre a África e a Ásia. Por trás disso,
estava a intenção de partilhar esses dois continentes para explorá-los (BIAGGI,
2013).

O desenvolvimento da geografia universitária coincide com o surgimento das


sociedades geográficas. Ambos contribuíram para os elementos fundantes do
pensamento geográfico e a consolidação da ciência. A geografia universitária
acompanha as sociedades geográficas em sua evolução e em seus caminhos.
Desse modo, em relação à geografia universitária, destacam-se: a geografia ou
escola alemã e a geografia ou escola francesa (MOREIRA, 2010).
Na geografia ou escola alemã foram importantes as contribuições de
Alexander Humboldt e de Karl Ritter. Além disso, se destaca a contribuição do
alemão Friedrich Ratzel (1844–1904). Ratzel ficou conhecido por dar enfoque maior
ao homem em seus estudos. O interesse pelos aspectos expansionistas da
Alemanha foi o que consolidou Ratzel na época. O alemão encarou a nova ciência
a partir de motivações de natureza política.
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Ratzel não era geógrafo de formação. Como zoólogo e etnógrafo, ele
introduziu o homem no campo geográfico. Ele considerava que o homem pouco
podia fazer diante das condições naturais, originando a teoria do determinismo
geográfico. Isso levou os geógrafos alemães a racionalizar uma geografia que
valorizava o determinismo geográfico juntamente ao pensamento filosófico e político
alemão. Deve-se ressaltar que nesse momento se realizava a unidade política das
várias Alemanhas em um império, sob o reino da Prússia (ANDRADE, 1987).
A geografia ou escola francesa deu maior importância aos estudos
geográficos após 1871, quando os franceses foram derrotados pelo exército
alemão. Antes disso, a geografia fazia parte da disciplina de história. Com uma
teoria própria, porém com muitas das características da escola alemã, os franceses
tiveram dois grandes geógrafos na época, Eliseé Reclus (1830–1905) e Vidal de La
Blache (1845–1918). No Brasil, o pensamento geográfico de ambos já era difundido.
Reclus tinha posições políticas anarquistas e compartilhava dos ideais propostos
na Comuna de Paris. Foi exiliado, porém contribuiu para a ciência geográfica
moderna. Ele trouxe um novo olhar para a geografia social. A partir dele, surgiram
novos temas e abordagens relativas à questão social, contribuindo para o campo
específico da ciência geográfica (ANDRADE, 1987).

Por sua vez, Vidal de La Blache realizou diversos estudos regionais, com
ênfase nos estudos de áreas pequenas e homogêneas. Foi o primeiro professor de
geografia da Universidade de Sorbonne, em Paris. Ele se dedicou a estudar a
relação entre o homem e o meio, construída historicamente de forma diferenciada.
Logo, procurou demostrar que o meio exercia influência sobre o homem, mas os
homens tinham capacidade de modificar o meio. Foi daí que surgiu a teoria do
possibilismo geográfico, em contradição ao determinismo geográfico (ANDRADE,
1987).
Segundo Andrade (1987), o possibilismo geográfico foi importante por
orientar a política de recursos naturais do espaço francês. Essa teoria tinha como
característica o fato de enfatizar a superioridade da raça branca em relação às raças
dos nativos da África e da Ásia. Mormul e Rocha (2013) esclarecem que tanto o
determinismo quanto o possibilismo geográfico, junto à ciência geográfica, foram

13
ideologicamente influenciados pelos interesses burgueses. O principal interesse, na
maior parte das vezes, era produzir elementos indispensáveis à expansão do
capitalismo e à formação de cidadãos adaptados às exigências do momento.
Segundo Suertegary (2003), no decorrer da história da geografia, diversos
autores refletiram sobre o determinismo e o possibilismo. No caso do determinismo
geográfico, a natureza é entendida como a causa da organização social. Já no caso
do possibilismo geográfico, o homem tem possibilidades de transformar a natureza.
Essa transformação é realizada por meio do desenvolvimento técnico, e a relação
entre a natureza e a sociedade é mediada pelo trabalho.
As últimas décadas do século XIX foram marcadas por dois processos
essenciais para a história do homem e da geografia. Um deles decorre do sistema
capitalista, que gera uma intensa concentração de capital, gerando os grandes
monopólios e a expansão territorial pelo imperialismo, que recebeu a contribuição
das sociedades geográficas da época. O outro é a fragmentação do saber universal,
ou seja, surgem novas disciplinas, entre elas a geografia. Os departamentos de
geografia são criados nas universidades da Europa e, décadas mais tarde, nos
Estados Unidos. Naturalmente, o primeiro processo não pode ser desvinculado do
segundo (ANDRADE, 1987).

14
3 O ESPAÇO GEOGRÁFICO COMO ELEMENTO FUNDANTE DA CIÊNCIA

Fonte: BrasilEscola.com.br

Como já mencionado, a geografia se tornou uma ciência no fim do século XIX


e no início do século XX. Primeiro, a geografia surgiu como disciplina nas
universidades da Europa e depois ocorreu a constituição das sociedades
geográficas, com os exploradores naturalistas que cooperaram com a ciência. O
espaço sempre teve uma participação importante nos estudos geográficos, porém
nem sempre as análises eram realizadas na sua totalidade. A dicotomia entre a
geografia física e ageografia humana são entraves desde o início da ciência, e a
relação entre sociedade e natureza jamais pode ser compreendida como algo
fragmentado (CORRÊA, 2003).
O espaço geográfico é uma porção específica da superfície da Terra
identificada pela natureza, mas o homem também deixa as suas marcas nele. O
homem transforma o espaço natural devido às suas necessidades. Assim, a
geografia como ciência social tem como objeto de estudo a sociedade, que se refere
à ação humana modelando a superfície terrestre. Além da categoria espaço, há

15
outras categorias em jogo, como: paisagem, região, lugar e território (CORRÊA,
2003). Veja o Quadro, a seguir.

As categorias de análise da ciência geográfica e as suas características


Fonte: Adaptado de Santos (2008).

16
O espaço e as correntes do pensamento geográfico são divididos em quatro
momentos: a geografia tradicional, a geografia teorético-quantitativa, a geografia
crítica e a geografia humanista/cultural. A seguir, você vai conhecer melhor cada
uma dessas corrrentes.
A geografia tradicional (1870–1950) antecede as mudanças das décadas
de 1950 e 1970. Ela substitui a geografia clássica descritiva. Nesse período, o
espaço não se constitui como um conceito-chave na geografia tradicional, por mais
que estivesse presente nas obras de Ratzel de modo implícito. Nessa vertente da
geografia, os conceitos de paisagem e região foram privilegiados e se estabeleceu
a discussão sobre o objeto de estudo da geografia e a sua identidade em relação
às demais ciências. Os conceitos de paisagem, região natural, região-paisagem e
paisagem cultural foram alvos de debates e estavam presentes na maioria dos
estudos da época. Ratzel utilizou dois conceitos geográficos: o de espaço vital e o
de território, também fundante em seus trabalhos e com fortes raízes na ecologia
(CORRÊA, 2003).
Não se pode deixar de mencionar a população e os recursos naturais
constituídos em determinado território. Portanto, “[...] o espaço transforma-se,
através da política, em território, em conceito-chave da geografia” (CORRÊA, 2003,
p. 18).

17
A vertente teorético-quantitativa é baseada no positivismo lógico e
promoveu profundas modificações na geografia em meados de 1950. A partir do
raciocínio hipotético-dedutivo, adotou-se uma visão de ciência pela perspectiva das
ciências da natureza. Assim, o “[...] espaço aparece, pela primeira vez na história
do pensamento geográfico, como o conceito-chave da disciplina, os outros
conceitos de lugar e território não são conceitos significativos na geografia teorético-
quantitativa” (CORRÊA, 2003, p. 20).
Nessa corrente geográfica, o espaço é considerado de duas formas não
excludentes: as planícies isotrópicas e a representação matricial. A planície
isotrópica se constitui na concepção de espaço derivada de um paradigma
racionalista e hipotético-dedutivo. Todavia, utiliza modelos matemáticos para
conhecer dados quantitativos como densidade demográfica, de renda e de padrão
cultural. A ideia é adotar uma racionalidade econômica fundada na minimização dos
custos e na maximização dos lucros ou da satisfação. Por sua vez, as
representações matriciais podem ser compreendidas em relação aos meios
operacionais que permitem extrair um conhecimento sobre localizações e fluxos,
hierarquias e especializações funcionais, por exemplo (CORRÊA, 2003).
A geografia crítica surge em 1970, fundamentada no materialismo histórico
e na dialética. Logo, essa vertente procura romper com a geografia tradicional e
com a geografia teorético-quantitativa. Nessa perspectiva, o espaço aparece como
conceito-chave da geografia. A teoria marxista era discutida e relacionada às
contradições dos países centrais e periféricos e às desigualdades entre esses
grupos de países. O sistema capitalista é o objeto de análise dessa vertente.
Por fim, a geografia humanista/cultural surge em meados de 1970. Essa
perspectiva retoma os aspectos culturais e da história. Essa vertente, semelhante à
geografia crítica, tem suas bases filosóficas especialmente na fenomenologia e no
existencialismo (CORRÊA, 2003).

18
4 A GEOGRAFIA CLÁSSICA

Educador.uol.com

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Ao longo do tempo, a geografia clássica foi criando características próprias
por meio de obras importantes como as dos alemães Carl Ritter e Alexander Von
Humboldt, que podem ser considerados precursores dessa corrente. Por meio de
suas bases fundamentadoras e de cunho determinista, esses autores possibilitaram
avanços na história do pensamento geográfico (SAGAH, 2021).
No século XVIII, época em que a geografia clássica se constituiu, o
Iluminismo contribuiu para a liberdade e para o desenvolvimento intelectual e
artístico, embasado pela filosofia de René Descartes. A evolução científica trouxe à
tona novas informações, promovendo uma forma inédita de produzir ciência no
Ocidente. A geografia não ficou de fora desse contexto. No começo, essa ciência
organizava o conhecimento pela descrição dos fenômenos na superfície terrestre,
considerando os elementos naturais. Contudo, após a geografia clássica, houve a
transição para a geografia tradicional, surgindo um novo paradigma científico.
(SAGAH, 2021)

4.1 A geografia tradicional e os aspectos fundantes: natureza, homem e


economia

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A geografia tradicional (1870–1950) se constituiu no período moderno, no
panorama científico da Alemanha e da França. Esse contexto pode ser
caracterizado pelo desenvolvimento do sistema capitalista (séculos XVIII e XIX).
A geografia tinha como objetos de estudo a paisagem e a região. Ela estava
relacionada ao determinismo e ao possibilismo geográfico, paradigmas que
marcaram a geografia clássica e a geografia tradicional (SAGAH, 2021).

Nesse período, os estudos se dedicavam às particularidades regionais. Os


alemães se preocuparam com a descrição e a análise da paisagem em suas
características naturais. Já entre os franceses a geografia da paisagem era
considerada uma ciência de síntese. Dava-se grande importância à visualização da
paisagem, tanto em seus aspectos físicos originais como nas marcas deixadas pelo
homem (SAGAH, 2021)
Segundo Côrrea (2000), nessa fase, o estudo da geografia incluiu debates
que envolviam os conceitos de paisagem, região natural, gênero de vida e a
diferenciação de áreas ou áreas regionais. Os geógrafos que seguiam os
paradigmas deterministas, possibilistas, culturais e regionais foram os responsáveis
por dar à geografia uma identidade que a diferenciava das demais ciências.
Santos (2004) explica que a origem da geografia como disciplina foi marcada
por características mais ideológicas do que filosóficas. A ideologia que estava em
jogo era a produzida pelo capitalismo, ou seja, havia a necessidade de expansão
da Europa para as Américas. Tal ideologia tinha como única proposição criar as
condições para a expansão do comércio mundial. O excesso de produção e as
crises sociais e econômicas que mexeram com os países interessados deveriam ter
uma solução rápida para que eles não deixassem de acumular capital. Os países
centrais deveriam garantir além-mar as matérias-primas necessárias à grande
indústria e as terras necessárias à produção de alimentos. Nessa fase, a DIT
estabelece o papel comercial de cada grande grupo de países.
Assim, havia a necessidade de as economias periféricas se adaptarem às
novas tarefas, assegurando a continuidade do projeto imperialista imposto pelos
países europeus. Os geógrafos da época se dividiram em dois pontos de vista
distintos. De um lado, estavam aqueles que lutavam por um mundo mais justo no
qual o espaço seria organizado com o fim de oferecer ao homem mais igualdade,
21
sem os entraves da divisão das classes sociais. Era o caso de Élisée Reclus (1830–
1905) e Camille Vallaux (1870–1945). De outro lado, havia aqueles que defendiam
o colonialismo e o império do capital e reivindicavam a construção de uma geografia
humana. Contudo, como a geografia foi considerada uma ciência tardiamente em
relação às outras ciências, teve dificuldades de se desligar dos grandes interesses.

Uma das grandes metas conceituais da geografia, na época, foi esconder o


papel do Estado, bem como os das classes sociais, na organização socioespacial
(SANTOS, 2004).
A geografia clássica foi sistematizada por Alexander Von Humboldt (1769–
1859) e Carl Rittter (1779–1859). A geografia tradicional positivista da era moderna,
que demarca o período de 1870 a 1950, foi desenvolvida principalmente por Alfred
Hettner (1859–1941), Friedrich Ratzel (1844–1904) e Vidal de La Blache (1845–
1918). Esses grandes pensadores atuaram no período em que a geografia se
institucionalizou como disciplina nas universidades europeias. Portanto, a geografia
tradicional positivista sofreu forte influência das obras de Humboldt e Carl Ritter.

22
5 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA NO BRASIL

BrasilEscola.com.br

Neste capítulo, você vai estudar a institucionalização da geografia no Brasil.


Essa história começa com a chegada dos portugueses, em 1500. Nesse período
inicial, foram produzidas obras de descrição do território da colônia. Contudo,
apesar desse início longínquo, a geografia brasileira obteve caráter científico
somente após 1930, com a criação das universidades no País. Também foi nesse
momento que surgiram a Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) e o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ainda nos anos 1930, o ensino gratuito se tornou obrigatório; posteriormente,
a própria geografia se consolidou como uma disciplina indispensável. Porém, em
2016, o Governo Federal apresentou a Lei nº 13.415, ainda em tramitação, que
determina que a geografia não seja mais obrigatória no ensino médio, tornando-se
optativa (SAGAH, 2021).

23
5.1 A história da geografia no Brasil

Brasilescola.com/Uol

A geografia entra em cena no Brasil logo com a chegada dos portugueses,


em 1500. Afinal, os europeus precisavam descrever a terra descoberta: era
essencial mapear o território para poder explorá-lo. Alguns séculos depois, a
geografia se introduz no Brasil como disciplina da educação básica.
Segundo Araújo (2012), a história da educação brasileira se inicia com a
chegada dos jesuítas, por volta de 1550. Como você sabe, a cultura europeia trazida
pelos jesuítas e o encontro com os nativos que já habitavam o Brasil resultou em
um choque de culturas. De um lado, estavam os jesuítas com o catolicismo; de
outro, os nativos com as suas peculiaridades culturais, que incluíam língua, rituais
e alimentos. A Companhia de Jesus foi a primeira organização a realizar ações de
cunho educacional no Brasil, em meados do século XVI. Para isso, os jesuítas
criaram instituições com um sistema escolar nas principais cidades da colônia.

24
Os jesuítas, contudo, não se limitaram ao ensino religioso, com os princípios
de evangelização. A partir do momento em que a elite local foi adquirindo costumes
aristocráticos de caráter europeu, a educação passou a incluir outros
conhecimentos. Assim, os colégios foram criados para atender a uma pequena
parcela da população. Ou seja, apenas os filhos da população pertencente às
camadas sociais mais altas frequentavam as escolas.
O primeiro plano de estudo criado pelos jesuítas foi elaborado pelo padre
Manuel da Nóbrega (1517–1570) e teve o ensino de português como precursor. Aos
poucos, outros saberes foram ganhando espaço, como a aula de gramática e os
estudos voltados para as viagens à Europa. Na época, a geografia era considerada
um saber pouco importante. Ela aparecia principalmente em textos literários que
tinham as diferentes paisagens como enfoque (ARAÚJO, 2012).
Segundo Oliveira (2011), em meados do século XVIII, no Brasil, a geografia
foi inserida no currículo escolar oficial, influenciado pelos princípios iluministas
vigentes na Europa, que valorizavam a nacionalidade. Assim, em 1837, com a
criação do Colégio Pedro II, a geografia foi realmente reconhecida como uma
disciplina autônoma. No Colégio Pedro II, os estudos foram divididos em dois ciclos.
O primeiro tinha a duração de quatro anos e todos os alunos eram obrigados a
frequentá-lo. Já o segundo ciclo tinha duração de três anos, era opcional e dava o
direito de ingressar em cursos técnicos. Nesse contexto, a geografia surge como
disciplina com o intuito de dar suporte para os alunos em relação à identidade
nacional, reforçando a ideia do nacionalismo patriótico e incentivando o amor pela
pátria.
Assim, a geografia se estabelece como um campo rico do saber para a
formação do cidadão e para a construção da identidade nacional. Na época, não
eram precisamente professores formados em geografia que lecionavam a disciplina.
Além disso, a grandeza do território brasileiro tinha importância fundamental, daí o
destaque dado às descrições desse território. A grandeza representava a qualidade
da nação, que futuramente iria prosperar, perspectiva que levava em conta o
modelo europeu de economia e política (OLIVEIRA, 2011).

25
Segundo Saviani (2005), os estudos eram fundamentados em um ensino
tradicional. Tal ensino ganhou força no Brasil a partir de 1759, quando começaram
a ser implementadas as reformas pombalinas da instrução pública. Essas reformas
se contrapõem ao predomínio das doutrinas religiosas e, com base nas ideias laicas
inspiradas no Iluminismo, instituem o privilégio do Estado em matéria de instrução.
Em 1808, começou a divulgação do método de ensino tradicional como oficial, a
pedagogia tradicional predominou no Brasil até meados de 1940.

No Brasil, no final do século XIX, a base econômica era a monocultura, com


o café em São Paulo e o leite em Minas Gerais. Logo, a economia do Brasil se
mantinha concentrada na região Sudeste. Além disso, havia uma elite agrária
detentora do poder econômico e político que também influenciava as tomadas de
decisão, inclusive as relacionadas aos conteúdos que a população poderia
aprender. A disciplina de geografia no Colégio Pedro II foi organizada com base
nessa configuração social e econômica. Assim, as principais caraterísticas da
pedagogia tradicional influenciaram as diversas áreas de conhecimento que já
estavam instituídas como disciplinas oficiais, inclusive a geografia.
No Quadro, a seguir, você pode ver as principais características da pedagogia
tradicional.

26
Fonte: Adaptado de Mizukami (1986).

27
A institucionalização da geografia científica se consolidou após a criação das
universidades brasileiras como a Universidade de São Paulo (USP), em 1920, e do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 1938. Pierre Deffontaines (1894–
1978) e Pierre Monbeig (1935–1946) foram os geógrafos franceses que
praticamente institucionalizaram a geografia no Brasil. Em 1934, Pierre Deffontaines
criou a Associação dos Geógrafos Brasileiros em São Paulo (AGB–SP). Essa
associação promoveu um dos mais avançados desenvolvimentos de pesquisa
geográfica do País (DANTAS, 2008).
A partir da criação da Universidade de São Paulo, com a sua Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ,
antiga Universidade do Brasil) e da Associação dos Geógrafos Brasileiros,
idealizada por Pierre Deffontaines, a geografia começou a se institucionalizar por
aqui (DANTAS, 2008). O ensino de geografia implementado em São Paulo e no Rio
de Janeiro foi influenciado pela tradição francesa, portanto se fundamentou na
história e na sociologia.
Pierre Monbeig e Pierre Deffontaines foram convidados pelo também francês
Emmanuel de Martonne para ajudar no processo de institucionalização da geografia
no Brasil. Ambos davam maior enfoque à geografia regional e à área humana.
Monbeig ensinou por cerca de 15 anos na Universidade de São Paulo e foi
substituído por Deffontaines, que atuou por cinco anos. O geógrafo francês Francis
Ruellan (1894–1974) e o geógrafo Josué de Castro (1908–1973), da área da
geografia humana, também faziam parte do corpo docente. A influência francesa na
geografia do Brasil se estenderia por mais de 20 anos, até cerca de 1950, sendo
mais acentuada aqui do que na própria França.
Segundo Andrade (1991), o geógrafo francês Delgado de Carvalho, autor do
livro O Brasil Meridional, é considerado outro dos grandes precursores dos estudos
da geografia científica no País. Ele também é considerado um dos primeiros
geógrafos que contribuíram para a história do pensamento geográfico e para a
institucionalização dessa disciplina, que passou a ser estudada em nível superior e
a ser aplicada à problemática nacional.

28
6 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IBGE E A GEOGRAFIA BRASILEIRA

Google.com.br

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é um dos mais


importantesórgãos de planejamento territorial do Estado brasileiro. O IBGE foi
criado pelo Decreto-Lei nº 218, de 1938, porém esse órgão já existia desde 1934
sob a denominação Instituto Nacional de Estatística, com o apoio do Conselho
Brasileiro de Geografia (CBG). Com a nova denominação, o IBGE foi
estruturado pelas seguintes áreas de conhecimento: geografia, geodésia e
cartografia (IBGE, 2017).
Almeida (2001) explica que a criação do IBGE no Brasil teve a participação
da União Geográfica Internacional (UGI) e do geógrafo francês Emmanuel de
Martonne. O contato entre a geografia brasileira e a UGI aconteceu em meados de
1931, na França, durante o Congresso da União. O delegado responsável por
representar a Academia Brasileira de Ciências (ABC) foi o professor Alberto José
de Sampaio (1881–1946), naturalista especializado em fitogeografia, pesquisador
do Museu Nacional e autor de várias obras sobre a vegetação brasileira. O professor
contribuiu de forma muito atuante, chamando a atenção de Martonne, diretor do
Instituto de Geografia da Universidade de Paris e presidente do Congresso Geral
da União de Geografia Internacional.
As articulações feitas no Congresso entre Sampaio e Martonne trouxeram o
francês ao Brasil em 1933. Martonne se deu conta da oportunidade de organizar
dois campos de estudos e de criar os institutos e as universidades no País. O

29
primeiro campo era a geografia física; Martonne percebeu o grande potencial da
geografia tropical brasileira. E o segundo estava relacionado com os aspectos
políticos e culturais. Com essas duas perspectivas, havia a necessidade de criar as
principais associações e institutos (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
Sociedade Brasileira de Geografia e Academia Brasileira de Ciências), que
deveriam juntar esforços para a adesão do Brasil à UGI.
O IBGE surgiu nesse contexto, como um órgão nacional que pertenceria ao
governo central. Assim, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística foi criado
com sede no Rio de Janeiro, em 1938. Ele foi idealizado sob a égide do presidente
Getúlio Vargas (1882–1954), durante a ditadura do Estado Novo e a partir do
Instituto Nacional Estatístico. Em meados de 1939, o IBGE começou a campanha
de levantamento intensivo da divisão territorial do País, que tinha como finalidade a
definição dos mapas dos municípios (IBGE, 2017).
Em relação às atividades geodésicas realizadas pelo IBGE em 1939, o Brasil
tinha de atualizar a sua carta geográfica. Na época, foram emitidas em torno de 602
coordenadas levantadas em cidades e vilas de todo o País, por exemplo. De 1944
até 1970, o IBGE estruturou o sistema geodésico brasileiro fundamentado no
método de posicionamento clássico (triangulação, métodos astronômicos e
poligonação geodésica), aplicado até meados dos anos 1990 com o recurso a
equipamentos como teodolitos. Outro ponto importante foi a divisão regional do
Brasil em Norte, Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul, proposta por Fábio
Macedo Soares Guimarães, em 1970 (IBGE, 2017).
Portanto, com o objetivo de promover e desenvolver o conhecimento
territorial por meio de uma política de coleta de dados estatísticos, o IBGE foi o
suporte da administração pública relacionada ao ordenamento territorial. Esse
órgão formulou e criou políticas públicas para a organização das cidades e do meio
ambiente, promovendo o desenvolvimento urbano e a sustentabilidade. A
Universidade Federal do Rio de Janeiro formou muitos geógrafos que trabalharam
no Instituto. Nesse sentido, o IBGE também recorria aos professores da UFRJ com
o objetivo de lecionar cursos de férias para os professores de outros estados. Os
mestres estrangeiros que por um bom período permaneceram no Brasil trabalhavam
na Universidade e no IBGE (DANTAS, 2008).
30
Como já foi mencionado, o IBGE foi estruturado pelas seguintes áreas de
conhecimento: geografia, geodésia e cartografia. O Decreto nº 327, de 1938,
estabeleceu as ações de normatização da área de geodésia do IBGE para suprir o
mapeamento do recenseamento geral de 1940 (IBGE, 2017). Nesse período, foram
iniciados os trabalhos de levantamento das coordenadas geográficas das cidades
brasileiras, prosseguindo com a estruturação das redes planimétrica, altimétrica e
gravimétrica,que estabeleceram as bases para o mapeamento sistemático do País,
realizado e organizado pela área de cartografia.
Essa área, além de coordenar o sistema cartográfico brasileiro, imprime
continuamente cartas e é também responsável pela elaboração cartográfica dos
altas do IBGE. Outro aspecto importante é a atuação dos técnicos que definem as
políticas cartográficas, os seus parâmetros metodológicos e as escalas de
representação dos trabalhos cartográficos. Além disso, o IBGE, junto às Forças
Armadas, determinou os tipos de cartas especiais de trabalho que servem de base
para as organizações militares.
A área cartográfica também define com precisão os limites entre as principais
unidades territoriais legalmente vigentes no País, tanto na escala municipal quanto
na estadual. Em caso de litígios entre essas unidades, cabe aos cartógrafos do
IBGE a determinação dos novos limites, que normalmente são arbitrados pelo Poder
Judiciário. É também atribuição da área dar apoio técnico às operações de
mapeamento das bases operacionais geográficas dos censos, principalmente
oferecendo suporte técnico às prefeituras que não possuem pessoal qualificado
para a confecção dos mapas (ALMEIDA, 2001).
Em síntese, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, criado em 1938
com sede no Rio de Janeiro, é um dos órgãos mais importantes do Brasil até hoje.
No começo, o IBGE teve um papel importante tanto para a formação de professores
e profissionais da geografia quanto para o levantamento estatístico do território do
País. Atualmente, ele é um dos órgãos estatísticos nacionais mais importantes,
realizando recenseamentos em todo o território brasileiro a cada 10 anos.

31
7 A GEOGRAFIA COMO DISCIPLINA OBRIGATÓRIA NO ENSINO
FUNDAMENTAL E NO ENSINO MÉDIO

NovaEscola.com

32
O projeto de educação do Brasil tem uma base que remete aos diferentes
contextos históricos do País, caracterizados pelas distintas situações políticas e
econômicas pelas quais a sociedade nacional passou. Além disso, as tendências
da educação brasileira sempre estiveram articuladas com o momento histórico e
econômico mundial.
No período anterior a 1930, não existia no Brasil um sistema formal e regular
de ensino garantido pelo poder público para toda a população no território brasileiro.
Entretanto, a geografia era considerada uma disciplina oficial desde 1837, quando
foi implantada no Colégio Pedro II, um colégio muito tradicional e modelo de ensino,
frequentado apenas pela elite da época.
O currículo escolar já era estabelecido no Brasil para algumas áreas de
conhecimento antes de 1930, desde a formação do sistema escolar de ordem
religiosa. Tal sistema foi criado pelo padre Manuel da Nóbrega em meados de 1500
e se estendeu até o final do século XVII. Contudo, com a revolução pombalina, foi
constituído um ensino de caráter laico, com os conteúdos baseados nas cartas
régias. Nesse contexto, o currículo aparece para garantir o ensino e a aprendizagem
do conteúdo que o sujeito deveria conhecer. Essa é a base principal para que todos
numa sociedade consigam ter um desenvolvimento social, cultural, político e
econômico pleno.
Segundo Rangel e Gouvea (2016), a geografia como disciplina escolar foi
constituída em 1837 no Colégio Pedro II, como você já viu. A principal finalidade de
instituir a disciplina era garantir a identidade da população, que deveria nutrir o amor
à pátria, adquirindo certo nacionalismo. Além disso, o objetivo era capacitar
politicamente a elite, para que ocupasse os principais e melhores cargos públicos
do País. Outro fator importante para a inclusão da geografia no Colégio Pedro II foi
o fato de que ela já era uma disciplina obrigatória no programa escolar francês.
De acordo com Araújo (2012), no século XIX, a obra precursora da geografia
brasileira foi Corografia Brasílica, do padre português Manuel Aires de Casal (1754–
1821). Essa obra apresentava as principais descrições da colônia com base no
interesse da Corte Portuguesa. Ela não tinha cunho didático escolar, logo, é
considerada um dos textos fundamentais da geografia do Brasil.

33
Falar sobre o currículo no ensino de geografia requer entender o que significa
currículo. Na verdade, a ideia de currículo é trabalhada por várias correntes do
pensamento educacional, como você pode ver no Quadro, que apresenta três
correntes importantes. A primeira é a que predominou no Brasil até meados de 1950
e as outras duas fazem parte do pensamento educacional atual.

Fonte: Adaptado de Rangel e Gouvea (2016).

No Brasil, a geografia se disseminou por meio das reformas educacionais.


Essa disciplina foi inserida no currículo escolar como disciplina obrigatória no ensino
fundamental e no ensino médio. No Brasil Império (1822–1899), ocorreu a primeira
tentativa de regulamentar o ensino básico, a Carta Constitucional de 1823 declara
a instrução gratuita para todas as cidades.
Em 1834, a primeira constituição brasileira foi reformulada. No campo
educacional, a principal medida de impacto foi o direito adquirido pelas unidades
políticas de legislar sobre o seu próprio sistema educacional. Os governos das
províncias adquiriram a responsabilidade total pelo ensino elementar e médio.
Assim, surgiram os primeiros liceus provinciais, situados nas capitais, como Rio
Grande do Norte, Bahia, Paraíba e Rio de Janeiro. Contudo, foi apenas o Rio de

34
Janeiro, cidade que abrigava a Corte, que apresentou a divisão entre os níveis de
estudo. Tal divisão foi feita no Colégio Pedro II (ARAÚJO, 2012).
Segundo Araújo (2012, p. 94), por mais de 300 anos de colônia, “[...] não
tivemos uma estrutura escolar para ser utilizada pelo povo: os jesuítas, durante esse
tempo, mantiveram 17 seminários de formação de clérigos. Com a expulsão dos
jesuítas, ficou a Colônia sem qualquer tipo de escola [...]”. Além disso, o Brasil criou
cursos superiores sem curso elementar e médio, dificultando a consolidação da
geografia como disciplina. Entre 1840 e 1889, “[...] as províncias criaram os liceus
(rapazes) e as escolas normais (moças) e iniciaram a criação do curso elementar
nas cidades e vilarejos (omissão total do poder central) somente por iniciativa
particular [...]” (ARAÚJO, 2012, p. 94).
Foi apenas em 1930, com a criação do Ministério da Educação (MEC), que
foi possível inserir a geografia como disciplina obrigatória no ensino seriado, ou seja,
no ensino fundamental e no ensino médio, para todos os sujeitos com idade de
adquirir conhecimento. O MEC passa a agir intensamente de 1930 a 1962 (reformas
Campos e Capanema), quando “[...] perde suas funções com a aprovação, pelo
Congresso Nacional, da Lei de Diretrizes e Bases. Os estados começam [então] a
ampliar a rede oficial de ensino Fundamental e Médio [...]” (ARAÚJO, 2012, p. 95).
Como você pode notar, a institucionalização da geografia é recente, apesar
de a necessidade de descrever e mapear o território nacional existir desde o Brasil
colonial. Inicialmente colocada em pauta pelos jesuítas, pois a educação era sua
incumbência, a geografia foi agregando aspectos mais generalistas. Com a criação
do Colégio Pedro II, essa disciplina adquiriu um caráter elitista.
Com as sucessivas reformas do ensino, a geografia foi paulatinamente
inserida nos currículos, especialmente devido à necessidade de patriotismo e
nacionalismo. Ela era vinculada à localização física e restrita de locais de
conhecimento e cidades. Posteriormente, a disciplina passou a agregar a política
humana e social. Isso ocorreu com a criação de órgãos estatísticos como o IBGE,
que passaram a considerar os aspectos sociais e humanos e instituíram a geografia
como ciência. Assim, ela foi incluída efetivamente nas academias. Como você viu,

35
a Universidade do Brasil, atual UFRJ, e a Universidade de São Paulo foram
essenciais no processo de institucionalização da geografia.

8 LEITURA DO ESPAÇO GEOGRÁFICO ATRAVÉS DAS CATEGORIAS:


LUGAR, PAISAGEM E TERRITÓRIO

Brasilescola.com/Uol

Buscar a compreensão da realidade não é uma tarefa somente da Geografia,


mas dos diversos ramos do saber científico. Surge assim uma questão: qual a
contribuição da Geografia para o entendimento do mundo (realidade) em que
vivemos? Como a Geografia, enquanto disciplina escolar, pode organizar seu corpo
de conhecimentos e torná-lo acessível ao aluno, para que ele seja capaz de realizar
uma leitura “correta” da realidade que o cerca? (BRASIL, 2000).
A Geografia defronta-se assim com a tarefa de analisar o espaço geográfico
como uma categoria para compreender a realidade. Com esta abordagem, o ensino
da Geografia direcionado para o Fundamental confere ênfase ao estudo do meio

36
como resultante da ação do sujeito social responsável pela construção do lugar, da
paisagem e do território (BRASIL, 2000).
Tais categorias devem ser consideradas em suas inter-relações e conexões,
dada à dinâmica do espaço geográfico o qual constitui uma categoria central da
Geografia e, ao longo da história desta ciência, foi concebido de diversas maneiras.
Porém, não é nosso escopo retomá-las (BRASIL, 2000).
O espaço geográfico como objeto de estudo vai além da dinâmica do espaço
físico e, hoje, o grande desafio que se coloca é compreender a inter-relação entre
sociedade e natureza. Esta categoria deve ser analisada, transformada, criada e
produzida pela sociedade à medida que o homem se apropria da natureza, que
guarda a especificidade de ser permanentemente (re)elaborada pelo fazer humano.
Assim, de acordo com o Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): “O espaço
geográfico é historicamente produzido pelo homem, enquanto organiza econômica
e socialmente sua sociedade” (BRASIL, 2000, p. 109). Nesta perspectiva, o espaço
geográfico deve ser entendido como uma totalidade dinâmica em que interagem
fatores naturais, socioeconômicos e políticos.
No conceito de espaço geográfico está implícita a ideia de articulação entre
natureza e sociedade. Na busca desta articulação, a Geografia tem que trabalhar,
de um lado, com os elementos e atributos naturais, procurando não só descrevê-
los, mas entender as interações existentes entre eles; e de outro, verificar a maneira
pela qual a sociedade está administrando e interferindo nos sistemas naturais. Para
perceber a ação da sociedade é necessário adentrar em sua estrutura social,
procurando apreender o seu modo de produção e as relações socioeconômicas
vigentes (BRASIL, 2000).
Os estudos geográficos, ao possibilitarem a compreensão das relações
sociedade-natureza, induzem à noção de cidadania, levando o aluno a analisar suas
ações como agente ativo e passivo do meio ambiente e, portanto, capaz de
transformar o espaço geográfico. Assim sendo, as práticas pedagógicas devem
estar voltadas aos problemas da comunidade na qual os alunos estão inseridos,
pois esta é a escala espacial local em que sua ação transformadora pode ser
imediata. No que diz respeito à AÇÃO, há necessidade tanto de conhecimentos e

37
habilidades, quanto de execução de um processo que mude a percepção e a
conduta, o qual passa pela sensibilização e afetividade (BRASIL, 2000).
É necessário também que os professores estejam preparados para
considerar no seu trabalho a própria dimensão individual dos seus alunos, pois “[...]
mudar valores requer o alto conhecimento do indivíduo-sujeito” (CARVALHO, 2004,
p. 42).

8.1 Categoria – Lugar

Uol.com.br

O conceito de LUGAR sempre esteve presente na análise geográfica,


sofrendo amplas considerações em diferentes épocas. Por muito tempo, a
Geografia tratou o lugar com uma expressão do espaço geográfico sob uma
dimensão pontual (localização espacial absoluta). Para ultrapassar esta ideia, a
discussão de lugar tem sido realizada sob duas acepções: lugar e experiência, e
lugar e singularidade (BRASIL, 2000).
O lugar como experiência caracteriza-se principalmente pela valorização das
relações de afetividade desenvolvidas pelos indivíduos em relação ao ambiente.
Nesta linha de raciocínio, o lugar é resultado de significados construídos pela

38
experiência, ou seja, trata-se de referenciais afetivos desenvolvidos ao longo de
nossas vidas.

[...] lugar significa muito mais que o sentido geográfico de localização. Não
se refere a objetos e atributos das localizações, mas a tipos de
experiências e envolvimento com o mundo, a necessidade de raízes e
segurança (RELPH, 1979, p. 156).

Sob esta interpretação, o lugar é diferente do espaço, posto que o primeiro é


fechado, íntimo e humanizado, ao passo que o segundo seria qualquer porção da
superfície terrestre, ampla e desconhecida. Assim, o lugar está contido no espaço.
A categoria lugar encerra espaços com os quais os indivíduos têm vínculos
afetivos, onde se encontram as referências pessoais e os sistemas de valores que
induzem a diferentes formas de perceber e construir a paisagem, e o espaço
geográfico.
Na perspectiva de lugar e singularidade, o lugar é resultante, de um lado, de
características históricas e culturais inerentes ao processo de formação, e de outro,
da expressão da globalidade. Para Carlos (1996, p. 16), “O lugar se apresentaria
como ponto de articulação entre a mundialidade em constituição e o local enquanto
especificidade concreta, enquanto momento”. A concepção de lugar, sob este ponto
de vista, possui uma dimensão histórica que está relacionada com a prática
cotidiana, sendo que o lugar surge do plano vivido. Ainda segundo a autora, pensar
o lugar:

[...] significa pensar a história particular (de cada lugar), sedesenvolvendo,


ou melhor, se realizando em função de uma cultura/tradição/língua/hábitos
que lhe são próprios, construídos ao longo da história e o que vem de fora,
isto é, que se vai construindo e se impondocomo conseqüência do processo
de constituição mundial. (CARLOS,1996, p. 20).

Diante do exposto, o lugar pode ter uma acepção a partir de visões subjetivas
vinculadas às percepções emotivas, a exemplo do sentimento topofílico aos quais
se refere Yu-Fu Tuan (1975, p. 1015), e outra, através do cotidiano compartilhado
com diversas pessoas e instituições que nos levam à noção de “espaço vivido”.
Pesquisas revelam que a categoria lugar é compreendida, pelos alunos das
primeiras séries do Ensino Fundamental, a partir de experiências e de relações

39
afetivas. Neste sentido, no ensino, o conceito do lugar pode ser formado e/ou
compreendido como espaço de vivência, onde estão inseridas suas necessidades
existenciais, suas interações com os objetos e as pessoas, suas histórias de vida.
Neste espaço vivido (lugar), onde os alunos têm contato e vislumbram
relações locais e globais, pode-se perceber nitidamente uma imbricação dos
conceitos paisagem e lugar, como nos mostra Cavalcanti (1998, p. 100):

[...] na formação do raciocínio geográfico, o conceito de paisagem aparece


no meu entendimento, no primeiro nível de análise do lugar, estando
estreitamente com este conceito. É pela paisagem, vista em seus
determinantes e em suas dimensões, que vivencia empiricamente um primeiro
nível de identificação com o lugar.

8.2 Categoria – Paisagem

Brasilescola.com/Uol

A paisagem constitui uma categoria com caráter específico para a Geografia


e distinto daquele utilizado pelo senso comum. Desde a sistematização do
conhecimento geográfico, foram vários os conceitos de paisagem. Uma grande
contribuição foi aquela dada por Paul Vidal de La Blache: paisagem é aquilo que
“[...] o olho abarca com o olhar”. Entretanto, o percurso mais dinâmico do
entendimento da paisagem reside na forma de interpretá-la, pois antes se
40
fundamentava apenas na descrição empírica dos seus elementos, e hoje, é
acrescida de relações e conjunções de elementos naturais e tecnificados,
socioeconômicos e culturais.
A paisagem como objeto de estudo, ao longo dos dois primeiros ciclos do
Ensino Fundamental, pode ser abordada a partir da paisagem local e, neste sentido,
os PCNs orientam os professores sobre os caminhos metodológicos, conforme o
texto abaixo:

O estudo da paisagem local não deve restringir à mera constatação e


descrição dos fenômenos que a constituem. Deve-se também buscar as
relações entre a sociedade e natureza que aí se encontram presentes
situando-as em diferentes escalas espaciais e temporais, comparando-as,
conferindo-lhes significados, compreendendo-as. Estudar a paisagem local
ao longo do primeiro e segundo ciclos é aprender a observar e a
reconhecer os fenômenos que a definem e suas características; descrever,
representar, comparar e construir explicações, mesmo que aproximadas e
subjetivas, das relações que aí se encontram impressas e expressas
(BRASIL, 2000, p. 116).

A paisagem conjuga o passado, o presente e nos aponta o futuro, em uma


convivência de diferentes temporalidades que faz de cada uma delas única.
Entendida como um produto social e histórico, ela retrata as sociedades que a
construíram e a constroem.
Paisagem é, portanto, visível e material, mas o processo de sua
transformação nos revela grandes conflitos socioambientais. Portanto, ela não é
estática, está em constante transformação.

A paisagem é um conjunto heterogêneo de formas naturais e artificiais; é


formada por frações de ambas, seja quanto ao tamanho, volume, cor,
utilidade, ou por qualquer outro critério. A paisagem é sempreheterogênea.
A vida em sociedade supõe uma multiplicidade de funções equanto maior
o número destas, maior a diversidade de formas e de atores.Quanto mais
complexa a vida social, tanto mais nos distanciamos de um mundo natural
e nos endereçamos a um mundo artificial. (SANTOS, 1996, p. 65).

As categorias paisagem e território possuem uma relação bastante estreita.


A paisagem, neste contexto, pode ser definida como uma unidade visível do
território. Dito de outro modo, no território tem-se um conjunto de paisagens contidas
nos limites político-administrativos, como por exemplo: cidade, estado e país.

41
8.3 Categoria – Território

PreparaEnem.com.br

Os estudos do território têm como base central as relações entre os agentes


sociais, políticos e econômicos interferindo na gestão do espaço. Isto porque a
delimitação do território está assentada nas relações de poder, domínio e
apropriação nele contidas.
O território configura-se como uma porção concreta do espaço geográfico,
onde se revelam as diferenças de condições ambientais e de vida da população.

Enfim, o território é fonte de recursos e só assim pode ser compreendido


quando enfocado em sua relação com a sociedade e suas relações de
produção, o que pode ser identificado pela indústria, pela agricultura,
pela mineração, pela circulação de mercadorias etc., ou seja, pelas
diferentes maneiras que a sociedade se utiliza para se apropriar e
transformar a natureza (SPOSITO, 2004, p. 112-113)

É o uso diferenciado do território que acaba conferindo-lhe enormes


complexidades. Estas acabam retratando as diversidades culturais que, embora
convivam mutuamente, buscam, na produção do território, o reconhecimento de
suas especificidades.
42
A análise do processo de produção dos diferentes territórios deve enfocar o
homem como sujeito produtor do espaço, contemplando o social, o cultural, o
econômico, o político e os seus valores (BRASIL, 2000).
No decorrer da história do pensamento geográfico, o território ganha
diferentes tipos de abordagens, desde a representação de uma parcela do espaço,
identificada pela posse e definida pela apropriação, até o importante papel dado à
dominação. Ou seja, o território é dominado por uma comunidade ou por um Estado.
A conotação política também ganha força nos estudos de Geopolítica (território =
espaço nacional), significando área controlada por um Estado Nacional. O conceito
de território se alarga permitindo explicar muitos fenômenos geográficos
relacionados à organização da sociedade e suas interações com as paisagens
(BRASIL, 2000).
Procurando contribuir com a construção do conceito de território, em uma
perspectiva geográfica, Sposito aponta dois caminhos possíveis; o primeiro, afirma
o autor:

[...] refere-se ao estabelecimento de redes de informação que, com o


rápido desenvolvimento tecnológico, permitem a disseminação de
informações em frações de tempo, tornando-se significativas por
romperem com a barreira da distância-elemento fundamental para a
apreensão do território em sua escala individual. Dessa maneira, os
territórios perdem fronteiras, mudam de tamanho dependendo do domínio
tecnológico de um grupo ou de uma nação, e mudam, conseqüentemente,
sua configuração geográfica. (SPOSITO, 2004, p. 114)

Complementando sua exposição, Sposito (2004, p. 115) acredita que:

O segundo caminho pode ser aquele do questionamento da volta ao


indivíduo e sua escala do cotidiano, como formas de apreensão das
dimensões territoriais e da capacidade de projetar a liberdade como meio
de satisfação das necessidades individuais. A casa, a rua, o ambiente de
trabalho, os grupos de pessoas circundantes e tudo aquilo que faz parte
do cotidiano torna-se elemento referencial para estudos dessa natureza.
Nessa dimensão, o indivíduo pode ganhar em termos de inventividade e
de solidariedades novas, tornando-a revolucionária porque é nesse nível
que a liberdade se projeta, que a desregulamentação passa pela decisão
da pessoa.

Em uma perspectiva de ensino-aprendizagem, a categoria de análise do


território não poderá ser entendida, discutida e interpretada se não antevermos sua
importância social, já que é suporte e condição para que as relações sociais
43
continuem a se desenvolver. Outro pressuposto para o entendimento do território é
considerá-lo como expressão da força política. Desse modo, trabalhar com esta
categoria nas séries iniciais do Ensino Fundamental não pode significar a
supervalorização do político em detrimento do social e, neste sentido, os PCNs nos
colocam a seguinte ideia:

[...] O território é uma categoria importante quando se estuda a sua


conceitualização ligada à formação econômica e social de uma nação.
Nesse sentido, é o trabalho social que qualifica o espaço, gerando o
território. Território não é apenas a configuração política de um Estado-
Nação, mas sim o espaço construído pela formação social. (BRASIL, 2000,
p. 111).

Um autor que contribui efetivamente para o avanço da construção do


conceito de território é Souza (1995, p. 111), quando traz a seguinte reflexão:

[...] assim como o poder não se circunscreve ao Estado nem se confunde


com a violência e a dominação (vale dizer, com a heteronomia), da mesma
forma o conceito de território deve abarcar infinitamente mais que o
território do Estado-Nação. Todo espaço definido e delimitado por ea partir
de relações de poder é um território, do quarteirão aterrorizado por uma
gangue de jovens até o bloco constituído pelos países–membros da OTAN.

Pelo exposto, observa-se que o território é uma categoria de análise que


permite entendermos as relações sociais tecidas no decorrer da história. Visto deste
modo, o território contempla uma dinâmica espacial em constante (re)organização.
Para Santos:

Seja qual for o país e o estágio do seu desenvolvimento, há sempre nele


uma configuração territorial formada pela constelação de recursos
naturais, lagos, rios, planícies, montanhas e florestas e também de
recursos criados: estradas de ferro e de rodagem, condutos de toda
ordem, barragens, açudes, cidades, o que for. É esse conjunto de todas as
coisas arranjadas em sistema que forma a configuração territorial cuja
realidade e extensão se confundem com o próprio território de um país.
Tipos de floresta, de solo, de clima, de escoamento, são interdependentes,
como também o são as coisas que o homem superpõe á natureza. Aliás,
a interdependência se complica e completa justamente porque ela se dá
entre as coisas que chamamos de naturais e as que chamamos de
artificiais (1996, p. 75-76)

Diante do exposto, a abordagem geográfica da realidade, ao ser efetuada


com base nas diferentes categorias espaciais, deve ser assinalada como um
processo de construção de conhecimento geográfico, ou seja, a partir da

44
compreensão de como essa realidade é construída, percebida e vivenciada, e não
como conteúdos em si mesmos, com explicações simplistas e reducionistas.

9 GEOPOLÍTICA BRASILEIRA

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Polarização, bipolaridade, unipolaridade, multipolaridade — palavras que,


apesar de atravessarem o cotidiano das pessoas hoje em dia, não são naturais da

formulação das teorias da geopolítica, mas são uma dedução teórica das relações
sociais que evoluíram bastante nos últimos séculos (FERNANDES, 2003).
Ainda que a ideia de geografia política já fosse discutida desde, pelo menos,
o século XVII, segundo Vesentini (2011), foi no transcorrer do século XIX, enquanto
o pensamento geográfico era organizado como ciência moderna autônoma, que
surgiram os primeiros escritos a cunharem o termo geopolítica, ao considerarem as
relações de poder como uma instância de atores na produção do espaço.
No texto Geografia Política, de 1897, Friedrich Ratzel descreve as relações
sociais supranacionais sob a lógica evolucionista darwiniana, atribuindo
naturalidade para as discrepâncias de poder entre as nações (FERNANDES, 2003).
45
A publicação de Ratzel ficaria mundialmente famosa também pela teoria do espaço
vital, elaborada sobre uma estrutura de pensamento positivista que coloca a força
do estado como totalmente dependente de três instâncias, todas elas consideradas
pelo autor como atributos naturais:

 do espaço: considerando sua forma, relevo, clima e disponibilidade de


recursos naturais;
 da posição geográfica: considerando as relações sociais
estabelecidas entre o Estado e o seu meio circulante, tanto no âmbito
do seu território como de territórios vizinhos;
 do espírito do seu povo: considerando que alguns povos seriam
naturalmente mais fortes e evoluídos do que outros.

A efervescência das discussões sobre as relações de poder e a organização


geográfica dos povos nas escolas de geografia da Europa começavam a pressionar
os franceses, que, por meio da publicação de 1898, por Paul Vidal de la Blache, do
volume La Géographie Politique: a propos des écrits de Frédéric Ratzel, colocam
um olhar possibilista sobre essas tensas relações. Em oposição às publicações de
autores alemães e ingleses sobre o tema, La Blache enxerga as relações sociais a
partir dos grupos sociais, desvinculando a ideia de geografia política de qualquer
naturalismo. Para o geógrafo francês, o espaço geográfico é objeto de uma nação,

estando contidos nele o tempo histórico ali vivenciado e as ações humanas que o
moldam, gerando, a partir daí, a necessidade de compreendê-lo com a
sistematização do pensamento de uma geografia regional e não generalista
(TEIXEIRA, 2020).
No contexto imperialista do século XIX, foi fundamental para os Estados
formar o seu entendimento sobre a geografia política, dando assim legitimidade à
ocupação do seu território. Ao observar os diferentes entendimentos entre alemães
e franceses, por exemplo, ficam mais claras as intencionalidades das decisões
políticas adotadas posteriormente, no século XX, quanto à conquista de territórios.
Em 1905 foi publicado o texto As Grandes Potências, de Rudolf Kjéllen,
publicação que ganhou grande importância por cunhar, pela primeira vez, o termo
46
geopolítica. O autor sueco destaca a diferença entre os termos geopolítica e
geografia política, apesar de o primeiro ser resultado de intensas discussões
teóricas sobre o entendimento do segundo. Para Rudolf, a noção de geografia
política estaria restrita às relações entre o território e o Estado, considerando a sua
posição geográfica, suas fronteiras, etc. Já a geopolítica daria conta de formular
teorias e estratégias políticas para obtenção e manutenção de poder sobre o
território.
Com a concepção de geopolítica proposta pelo autor sueco, não era mais o
poder bélico ou a imponência territorial o que definia a hegemonia global das
nações, mas sim a articulação de diferentes aspectos físicos, econômicos e sociais.
Assim, a teoria de Kjéllen propõe a elucidação do cenário internacional de poder
entre os países no início do século (TEIXEIRA, 2020).
Além do hegemon histórico (os países denominados hegemons são aqueles
que exercem a hegemonia em um ou mais setores globalmente) Reino Unido, pela
sua expansão imperialista e pelo pioneirismo sobre a Revolução Industrial, o
surgimento de outras potências passou a ser observado, como a nação habitante
do território considerado o coração do mundo pelo autor inglês Halford Mackinder,
em sua teoria geoestratégica denominada Heartland — a União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS). Os soviéticos ainda realizaram um grande feito no
início do século, a II Revolução Industrial, baseada em um modelo de sociedade
horizontalizado, de economia planificada e centralidade de poderes no Estado.
(TEIXEIRA, 2020). Assim, o país socialista se alçou à condição de potência global
e influencioua organização estatal de vários países no mundo.
Além desses países, a França — berço da revolução burguesa que mudou a
lógica estrutural de poder intranacional, gênese do sistema político que tomaria
grande parte do mundo ao longo dos séculos XIX e XX, a democracia representativa
— aparece como uma das grandes economias do mundo e postulante a hegemon
global por influenciar fortemente as sociedades ocidentais ao justificar a existência
do Estado vinculando-o ao lema iluminista: liberdade, fraternidade e fraternidade.
(TEIXEIRA, 2020).
A Alemanha, desde a Primeira Guerra Mundial, teve seus planos
expansionistas pautados nas teorias da geografia política de Ratzel e de seu
47
“espaço vital”; no entanto, após sua derrota na Primeira Guerra, Karl Haushofer,
general-geógrafo que teve importante papel nos ideais geopolíticos do país, passa
a estimular o instinto de fronteira perdido do povo alemão. De acordo com Martin
(1994, p. 42), “Interessado em criar um “lebensraum” (espaço vital) de dimensões
mundiais para a Alemanha, Haushofer radicalizará algumas das formulações de
Ratzel, sobretudo aquelas que concernem aos limites” (TEIXEIRA, 2020).
Em meio às intensas disputas pela hegemonia mundial, a primeira metade
do século XX foi marcada por grandes guerras protagonizadas pelas lideranças
europeias, asiáticas e os Estados Unidos da América (EUA). Ao final da Segunda
Grande Guerra, os EUA, economicamente fortalecidos, implementam o Plano
Marshall — como estratégia de financiar a reconstrução dos países europeus,
evitando a sua aproximação da URSS — e a Doutrina Truman — plano que
autorizava e estimulava o envio de tropas militares estadunidenses para qualquer
país do mundo que fosse considerado ameaçado pelos soviéticos. Essa corrida por
estreitar relações com outras nações entre o país capitalista e o país socialista foi a
tônica das décadas seguintes até o final do século XX (TEIXEIRA, 2020).
No período pós-guerra (anos 1945 a 1960), o mundo observava a corrida
pela hegemonia global entre EUA e URSS e a reconstrução do espaço europeu,
arrasado por anos de guerra. A tendência dessa reconstrução era uma nova lógica
de organização do espaço produtivo, descentralizando os polos científicos e
industriais, dando fluidez para o capital aplicado no território de maneira a chegar
em diferentes regiões dos países (TEIXEIRA, 2020).
No Brasil, as décadas pós-guerra seguiram essa tendência mundial, de certa
forma. Apesar de diferenças ideológicas, os governos dos presidentes eleitos Eurico
Gaspar Dutra e Getúlio Vargas — que se suicidou e deixou o poder para Juscelino
Kubitschek — acabaram assumindo uma postura comum de expansionismo
produtivo e uma certa descentralização das atividades. Adequar o cenário produtivo
nacional aos parâmetros da Revolução Industrial era necessário para se lançar ao
grupo de países hegemons, condição almejada pelo Brasil no período pós-guerra a
partir da relação com os EUA durante a Segunda Grande Guerra. Para executar
esse crescimento desconcentrado, foram lançados programas de desenvolvimento
regional pelo país, muitos deles liderados por empresas e bancos públicos criados
48
e/ou fortalecidos nesse período (TEIXEIRA, 2020).
Os anos de investimentos com dinheiro público e volumosos créditos
internacionais não eram vistos com simpatia pelo Fundo Monetário Internacional
(FMI) e pelo Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), braço
do Banco Mundial, que tinha como grande investidor e líder os EUA, que colocavam
em prática o Plano Marshall. A pressão desses órgãos internacionais era para que
o Brasil cortasse investimentos diretos em infraestrutura e no setor produtivo,
abrindo-se ao mercado internacional e a empresas estrangeiras. O período de
governo de Juscelino Kubitschek (1956–1961) teve turbulências quanto a esse
tema, levando o país a romper relações com o FMI em 1959 para que pudesse
seguir o seu plano desenvolvimentista (TEIXEIRA, 2020).

10 A GEOPOLÍTICA BRASILEIRA DURANTE A DITADURA MILITAR

Em 31 de março de 1964, utilizando como motivo a Guerra Fria travada por


capitalistas (EUA) e socialistas (URSS), as forças armadas brasileiras impediram
que João Goulart assumisse o poder como presidente da república e, com apoio de
agências financeiras internacionais, consumaram o golpe que impôs a ditadura
militar conservadora no Brasil até o ano de 1985, fechando completamente o país
para qualquer possibilidade de desenvolvimento autônomo ou em contato com os
países socialistas (FERNANDES, 2003).
Durante o golpe, o projeto de desenvolvimento regional arrojado, com
objetivo de descentralizar a produção e o capital, foi imediatamente substituído por
um modelo de desenvolvimento conservador e centralizador. Chamado de
modernização conservadora, o projeto foi baseado na ampliação da industrialização
de base de maneira massificada e na mecanização do campo para a produção de
monoculturas, produzindo um modelo de Brasil que priorizava a concentração de
capital e o abastecimento do mercado internacional. Nesse momento, os
investimentos do Estado seriam endereçados ao Norte e ao Nordeste do país para
produzir infraestrutura na tentativa de amenizar as dificuldades para a produção
(FERNANDES, 2003).
Logo no primeiro triênio sob comando militar, os brasileiros viram o salário
49
mínimo ter uma redução real de 25%, fruto de uma política de aceleração
inflacionária que tinha como justificativa o combate às desigualdades de
rendimentos, mas que acabou por achatar os ganhos dos trabalhadores e agravar
as desigualdades.
No cenário geopolítico, esse período foi de mudanças também no
entendimento de funcionalidade da fronteira. O projeto de implantar um modelo de
segurança nacional combatendo ideias não conservadoras impôs a necessidade de
entender a zona de fronteira como marco puramente de limitação de território, não
como um ambiente de integração entre nações. A criação da identidade brasileira
na ditadura militar limitava os cidadãos como brasileiros ou não brasileiros
(FERNANDES, 2003).
A Doutrina de Segurança Nacional (DNS), teoria política elaborada pelo
Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos ainda nos anos 1950, foi
disseminada pela América Latina, chegando ao Brasil por meio da instalação da
Escola Superior de Guerra (ESG). Ao serem adotadas as teorias desta corrente do
pensamento geopolítico — e somadas àquelas já existentes no país, fortemente
próximas às teorias de Kjéllen e Ratzel, tendo como signos de fortalecimento da
soberania o tamanho do território nacional e a sua capacidade de expansão —, a
geopolítica assumida pelo regime militar tinha como estratégia o distanciamento em
relação aos países tidos como adversários e a ampliação e o fortalecimento das
suas fronteiras. Assim como no Brasil, a DNS se espalhou pela América do Sul,
onde esses ideais se tornaram o pensamento dominante, resultando em golpes
militares também na Bolívia, no Chile, no Uruguai e na Argentina Em todos esses
casos, ressalta Fernandes (2009, p. 837), “[...] a DSN fundamentava-se na
necessidade da segurança nacional para a defesa dos valores cristãos e
democráticos do mundo ocidental, era a resposta ao ‘comunismo ateu’, tendo como
base um virulento anticomunismo [...]”.
No que diz respeito ao desenvolvimento econômico, a DNS se constituiu em:

[...] um instrumento utilizado pelos setores dominantes, associados ao


capital estrangeiro, para justificar e legitimar a perpetuaçãopor meios não
democráticos de um modelo altamente explorador de desenvolvimento
dependente [...] (ALVES, 2005 apud FERNANDES, 2009, p. 837).

50
É importante considerar que, para respaldar as teorias trazidas pela DNS por
meio da ESG, houve um esforço por parte dos militares, disseminado para a
sociedade, de flexibilização do conceito de comunismo, haja vista que é o
anticomunismo o mote das suas ideias de segurança para as fronteiras e seu
interior. De maneira geral, todos os grupos intelectuais, religiosos e organizações
políticas de oposição ao regime militar passaram a ser caracterizados como
comunistas, criando assim representantes deste “inimigo comum” se
desenvolvendo dentro do próprio território, não havendo a necessidade de contato
com a URSS ou qualquer outro país de regime socialista para justificar políticas de
segurança para o território. Além disso, a construção de uma identidade nacionalista
foi profundamente associada à popular seleção brasileira de futebol e trabalhada
por meio da vinculação dos símbolos nacionais ao movimento pró-regime militar; as
campanhas publicitárias bradavam palavras de ordem, colocando os opositores
como apatrióticos (FERNANDES, 2003).
De acordo com a teoria adotada pela ditadura militar no Brasil, elaborada pelo
conselho de segurança estadunidense, o grande risco para a hegemonia dos países
ocidentais e seus valores estaria ligada a uma possível expansão do comunismo,
que se manifestaria por três possíveis formas de guerra (FERNANDES, 2003):

 a guerra fria (formato travado entre EUA e URSS que consistia na


dominação ideológica de territórios, não utilizando de força militar
diretamente entre as nações combatentes);
 a guerra generalizada (que subentende o conflito como permanente,
sendo uma questão desobrevivência o combate ao comunismo);
 e a guerra revolucionária (movimentos reformistas ou de libertação
nacional insurgentes).

A lógica concebida pela DNS era de que o conflito com o “inimigo comunista”
era iminente, podendo variar conforme a forma de organização e os objetivos do
grupo opositor, mas sempre sendo identificado como uma “ameaça comunista”.
Nesse sentido, vários países da América Latina viveram períodos de ditaduras
militares que promoveram diversos conflitos políticos e populacionais na região.
51
Ditaduras militares na América Latina nos anos 1960 a 1970.

Fonte: Fundação GetúlioVargas (2016, documento on-line)

Assim, a estruturação da geopolítica das zonas de fronteira seguiu este


mesmo raciocínio (DNS), e, utilizando-se também das teorias de vivificação de
fronteiras de Teixeira Soares, inicia-se em 1964 a construção da usina hidrelétrica
de Itaipu, obra gigantesca na tríplice fronteira com Argentina e Paraguai, que tinha
objetivos claramente ofensivos na disputa hegemônica na América do Sul. Como
destaca Andersen (2008, p. 11):

Não se tratava de uma estratégia defensiva, mas ofensiva, já que dentre


seus múltiplos propósitos estavam (1) a disputa Brasil-Argentina pela
hegemonia do continente sul-americano; (2) a inibição da industrialização
no nordeste argentino pela redução do potencial hidrelétrico do rio Paraná
à jusante da represa e; (3) o bloqueio à navegação argentina nos rios
interiores da Bacia do Prata, com o inevitável impedimento do escoamento
de produtos paraguaios pelo porto de BuenosAires.
52
Essas profundas mudanças estruturais pautadas pelos interesses de
expansão de mercado dos estadunidenses ocorreram nas décadas de mais
acentuada liderança dos Estados Unidos na economia global, convergindo com
gigantescos investimentos capitalistas na reconstrução e na reorganização
produtiva dos países ao redor do mundo. A saturação do mercado interno dos EUA
levou as empresas a buscarem outros mercados para atuar. Para Arrighi (1996, p.
73), “[...] esse aspecto da hegemonia reflete a centralidade do investimento direto,
e não do comércio, na reconstrução da economia capitalista [...]”, o que concentrava
as funções administrativas e de planejamento estratégico sob poder do país norte-
americano.
A estratégia geopolítica de integração nacional procurou intensificar os
investimentos em infraestrutura e na industrialização das regiões Norte e Nordeste,
ligando-as ao Sudeste/Sul do país, por meio da primeira de duas etapas do Plano
Nacional de Desenvolvimento, o qual imputou ao país uma condição política
disfarçada de atributo natural, denominando-a “vocação”: dedicar-se às produções
agrícolas para exportação. A partir desta decisão se iniciou o movimento de
interiorização por meio dos “eixos naturais de penetração”, com a indução de
ocupação em determinadas áreas da Amazônia e do Centro-Oeste.
Foi também no II PND que os investimentos do Estado foram amplamente
concentrados para suprir a crise energética, haja vista a inexistência da complexa
rede de produção e distribuição de energia atuais naquela época, fortalecendo a
indústria nuclear, produção de álcool, de petróleo e a expansão da rede de
hidrelétricas. Esses investimentos realizados por meio de empresas estatais
acabaram se tornando ainda maiores, diretamente injetados na Petrobras, na
Eletrobras, na Embratel e na Siderbras.
Ao final dos 24 anos em que o país ficou sob comando dos militares, a
geopolítica brasileira tomou rumos bem diferentes daqueles que eram
encaminhados no período pós-guerra. Pautadas pela doutrina de segurança
nacional, pensamento concebido pelos Estados Unidos e praticado como uma

53
cartilha fundamental no Brasil, as relações intra e internacionais do país ficaram
completamente dependentes das determinações estadunidenses. Ao contrário do
que pregava o discurso militar nas propagandas e pronunciamentos à nação,
sempre com mensagens de exaltação ao nacionalismo, eram as estratégias norte-
americanas que acabavam por definir a política externa brasileira. Até mesmo a
organização interna do território nacional, em última análise, estava diretamente
vinculada às necessidades do mercado capitalista comandado pelos EUA, limitando
o Brasil à produção e à exportação de commodities. Essas decisões políticas
tiveram resultados econômicos que podem ser vistos ainda hoje, e um deles é o
endividamento do país (FERNANDES, 2003).
Em suma, o Brasil aderiu ao regime militar em 1964 com vistas a surfar na
onda de crescimento do capitalismo no mundo, assumindo posição contrária à
organização de uma sociedade socialista, vislumbrando figurar entre os hegemons
globais no tabuleiro da geopolítica do século XX. No entanto, a vinculação da
política interna e das relações internacionais com os interesses dos EUA acabou
por gerar um grande endividamento externo, aumentou as desigualdades com a
grande pressão demográfica nos centros urbanos, definiu e implantou a política
produtiva do país baseada na exportação de commodities e isolou as relações
diplomáticas do país em relação a países importantes no cenário internacional,
problemas que ficaram marcados no país para além de 1985, ano da reabertura
democrática no Brasil (FERNANDES, 2003).

54
11 AS POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS PARA A AMAZÔNIA

BBC.com

A Amazônia, um bioma rico em biodiversidade com recursos vegetais e


minerais de grande valor, se destaca no cenário internacional e se constitui em um
importante território geopolítico e estratégico para o Brasil. Diversas são as
questões que acirram um debate caloroso sobre o futuro da Amazônia — que é um
patrimônio ambiental que atravessa fronteiras, se estabelecendo em territórios de
vários países da América do Sul, provocando interesse não somente no contexto
regional e sim em todo o globo.
Becker (2005), ao se referir às diversas questões do espaço-tempo da
atualidade, aponta para a geopolítica contemporânea. Na visão da autora, as redes
que se desenvolvem nos países ricos com avanços tecnológicos e maior circulação
planetária possibilitam que estes escolham territórios para investimentos,
expandindo assim suas riquezas “[...] circulante, financeira e informacional [...]”
(BECKER, 2005, p. 71). De acordo com a autora, a socialização dessas redes gera
movimentos sociais importantes com tendência à transnacionalização. Para Becker
(2005, p. 72):

55
Há, hoje, portanto, dois movimentos internacionais: um em nível do sistema
financeiro, da informação, do domínio do poder efetivamente das
potências; e outro, uma tendência ao internacionalismo dosmovimentos
sociais. Todos os agentes sociais organizados, corporações, organizações
religiosas, movimento sociais etc., têm suas próprias territorialidades,
acima e abaixo da escala do Estado, suas próprias geopolíticas, e tendem
a se articular, configurando uma situação mundial bastante complexa.

Para Becker (2005), um exemplo da nova geopolítica que se configura a partir


de uma sociedade de redes é a Amazônia, pois ao analisar a geopolítica da
Amazônia é possível perceber todos os elementos dos dois movimentos
internacionais da atualidade. De acordo com a autora, O Brasil, a Amazônia e os
países da América Latina são periferias do sistema capitalista global, portanto as
questões de fronteira e a geopolítica desses territórios são desafios que devem ser
encarados no presente. Nas palavras da autora:

Hoje, o imperativo é modificar esse padrão de desenvolvimento que


alcançou o auge nas décadas de 1960 a 1980. É imperativo o uso não
predatório das fabulosas riquezas naturais que a Amazônia contém e
também do saber das suas populações tradicionais que possuem um
secular conhecimento acumulado para lidar com o trópico úmido
(BECKER, 2005, pg. 72).

Na década de 1980, o mundo, em uma perspectiva da globalização, passa a


procurar cada vez mais uma demanda internacional pelos recursos naturais,
fazendo, no cenário geopolítico, destacarem-se em nível internacional aquelas
regiões ou países que possuem riquezas naturais, vistas agora como recursos
naturais estratégicos. Sendo assim, aqueles países que exploraram
demasiadamente seus recursos e colonizaram e exploraram outros territórios
voltam o olhar para os países que possuem recursos naturais — que, de acordo
com a lógica que se coloca em questão, ainda podem e devem ser explorados.
Nesta realidade que desponta, a Amazônia, com riqueza em recursos
naturais estratégicos como água, minerais e uma grande biodiversidade, passa a
encarar uma nova realidade geopolítica, com a necessidade de uma presença mais
constante e efetiva do Estado para manter a soberania nacional, bem como
promover um desenvolvimento econômico de forma sustentável, mantendo os
recursos naturais para as gerações futuras. Amim (2015) chama a atenção para as
regiões do planeta que se apresentam como importantes espaços vitais; Ratzel

56
entendia o Estado como um organismo vivo que precisa da ocupação de novos
espaços vitais, como é o caso da Amazônia. Sobre a importância geopolítica da
Amazônia, Amim (2015, documento on-line) destaca que:

A importância geopolítica da Amazônia no cenário internacional tem sido


determinada por seu grande estoque de recursos estratégicos, que
despertam interesses expressos nas estratégias geopolíticas de países e
instituições internacionais, pela apropriação do que os grupos de
ecologistas e ambientalistas chamam hoje de “capital natural ou capital
intangível” (Becker, 2004; Schmidt e Santos, 2002). A Amazônia, como não
podia ser diferente, ganhou novas formas de ser identificada nos eventos
nacionais e internacionais: “Amazônia, maior floresta de capital natural”;
“Qual é o valor intangível da Amazônia?”. Essas e muitas outras
identidades surgiram ao longo do tempo como forma de qualificar o
patrimônio da maior floresta tropical do planeta.

Além do citado por Amin, há, ainda, a biodiversidade amazônica, que chama
a atenção de diversas nações ao redor do mundo, além de ONGs, empresas
farmacêuticas, entre outros. Um atrativo indiscutível da região Amazônica é a
disponibilidade de água e de recursos minerais, como ferro, manganês, nióbio, ouro,
níquel, diamante, etc., que a coloca no centro dos interesses geopolíticos e
econômicos globais. O extrativismo mineral e vegetal indiscriminado que acontece
na região põe em risco a manutenção de espécies, da fertilidade do solo e dos
recursos hídricos e chama a atenção para o descaso com as mudanças climáticas
em curso, bem como com a sobrevivência de comunidades tradicionais e
ribeirinhas, levantando um debate mundial sobre a importância da preservação
dessas áreas.

11.1 Os rumos da geopolítica para o Atlântico Sul

Sobre a geopolítica para o Atlântico Sul, é importante destacar


acontecimentos de ordem global que contribuíram para a elaboração de políticas
que beneficiassem os países da região. Durante a Guerra Fria, devido à atenção
das potências em sua disputa bipolar (EUA e URSS), cada qual querendo exercer
maior controle sobre a área, e para tentar estabelecer um tratado no modelo da
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), surge a chamada Zona de Paz
e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS).

57
O tratado se forma especificamente após a Guerra Fria e ao final da Guerra
das Malvinas, em 1982 (disputa entre Inglaterra e Argentina que mostra a inserção
de países europeus que ainda mantêm territórios na América do Sul), devido à
necessidade dos países que se estabelecem no território do Atlântico Sul de exercer
uma governança que os beneficie, que proteja seus recursos energéticos e que
afaste a ingerência externa.
Com relação à ZOPACAS, Carvalho e Nunes (2014, p. 86) afirmam que:

Ademais, a ZOPACAS foi criada no período em que a rivalidade e a


desconfiança entre Argentina e Brasil foram colocadas no passado.
Inaugurava-se uma etapa de cooperação entre os países da América do
Sul, principalmente quando perceberam as ameaças externas comuns, e
logo após iniciavam um processo de redemocratização. Assim, havia um
clima de otimismo para projetos de cooperação futuros.

Os países que compõem a ZOPACA na atualidade são: Argentina, Brasil,


Uruguai, África do Sul, Angola, Benin, Camarões, Cabo Verde, Congo, Costa do
Marfim, Guiné Equatorial, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné Bissau, Libéria,
Namíbia, Nigéria, República Democrática do Congo, São Tomé e Príncipe, Senegal,
Serra Leoa, Togo.
De acordo com Carvalho e Nunes (2014, p. 87): “O objetivo prioritário da
ZOPACAS era combater a militarização e nuclearização do Atlântico Sul por países
não pertencentes à região, visto que os ingleses possuíam — e ainda possuem —
predominância no cordão de ilhas desse oceano.”
De maneira geral, os rumos da geopolítica para o Atlântico Sul atualmente
apontam para diferentes cenários, dependendo da geografia política nacional de
cada país que se insere nesta área. O Brasil historicamente possui um importante
papel no cenário geopolítico da região, e na atualidade levanta grandes
questionamentos e incertezas na geopolítica internacional devido aos conflitos
políticos e ideológicos que fazem parte do projeto político do governo atual.

58
12 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL

TodaMatéria.com

A evolução da sociedade contemporânea sob o prisma do desenvolvimento


urbano, bem como dos meios de transporte, da tecnologia e da comunicação,
favoreceu sobretudo as empresas nas grandes cidades. No Brasil, essa
urbanização corporativa desencadeou em muitos casos problemas para a estrutura
urbana, meio ambiente e sociedade, embora a qualidade de vida tenha melhorado
para a população em geral que vive em áreas urbanas ao longo do tempo (SAGAH,
2021).

12.1 Crescimentos das cidades no contexto brasileiro

É chamado de urbanização o processo pelo qual cidades crescem em termos


populacionais e territoriais. O processo de urbanização se dá a partir da
industrialização, impulsionando a população a migrar para as cidades, para ocupar
postos de trabalho em fábricas e indústrias, acarretando êxodo rural.

59
TodaMatéria.com

No Brasil pós-descobrimento, o processo territorial de uso e ocupação dos


espaços geográficos se iniciou no litoral (para extrativismo e produção de açúcar),
depois se interiorizou (para pecuária, cultivo de café e mineração de ouro) e apenas
no século XX, sobretudo nas décadas de 1930, 1950 e 1960, com a mecanização
das atividades agropecuárias, ocorreu o processo de industrialização, com oferta e
procura por postos de trabalho nas cidades (fábricas e indústrias). Com a saída da
população do campo para as cidades, estabeleceu-se o marco do processo de
urbanização no Brasil, com a concentração da população nas cidades e a formação
de núcleos urbanos. “Depois de ser litorânea (antes e mesmo depois da
mecanização do território), a urbanização brasileira se tornou praticamente
generalizada a partir do terceiro terço do século XX, evolução quase contemporânea
da fase atual da macrourbanização e metropolização”. (SANTOS, 1993 p. 9).
As etapas constitutivas do processo de urbanização no país, segundo Souza

60
(2020), são: aumento populacional, industrialização das sociedades, ampliação da
divisão entre o campo e a cidade e êxodo rural. Assim, além de fatores como
industrialização e êxodo rural, o crescimento da população nas cidades brasileiras
também se deveu à evolução demográfica e a melhorias sanitárias.

O forte movimento de urbanização que se verifica a partir do fim da


Segunda Guerra Mundial é contemporâneo de um forte crescimento
demográfico, resultado de uma natalidade elevada e de uma mortalidade
em descenso, cuja causas essenciais são progressos, a melhoria relativa
nos padrões de vida e a própria urbanização (SANTOS, 1993, p. 31).

Posteriormente, a ampliação do fenômeno da urbanização brasileira esteve


associado à difusão e elevadas demandas por postos de trabalho intelectual, bem
como à ampliação do consumo de itens relacionados a saúde, educação, lazer,
eletroeletrônicos, entre outros.

Um dos elementos fundamentais de sua explicação é o fato de que


aumentou no Brasil, exponencialmente, a quantidade de trabalho
intelectual. Não se dirá, com isso, que a população brasileira se haja
tornando culta, mas ela se tornou mais letrada. O fato de que se haja
tornado mais letrada está em relação direta com a realidade que vivemos
neste período científico-técnico, onde a ciência e a técnica estão presentes
em todas as atividades humanas. Nessas condições, a quantidade de
trabalho intelectual solicitada é enorme, mesmo porque a produção
material diminui com benefício da produção não material (SANTOS, 1993,
p. 49).

A urbanização do Brasil provocou modificações na organização espacial do


país, levando ao aparecimento de novas cidades e ao crescimento de cidades já
existentes, muitas vezes de forma desordenada e sem planejamento. Isso
desencadeou problemas na estrutura urbana e no meio ambiente. Além disso, levou
à ampliação da desigualdade social, à precariedade nos serviços de saneamento
básico, à pobreza e gentrificação e à formação de favelas nos grandes centros
urbanos. Evidentemente, foram vistos também impactos positivos, como
desenvolvimento da infraestrutura urbana, ampliação das redes de transporte e
comunicação (visando interligar as regiões brasileiras) e ainda a consolidação de
cidades corporativas, como São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro (SILVA, 2020).
Santos (1993) destaca que a divisão territorial do trabalho, que se acentuou
nas cidades, e a migração de pessoas de outras regiões para centros urbanos
consolidados, que posteriormente formariam as regiões metropolitanas, estão
61
relacionados ao processo de urbanização. O autor usa como exemplo a cidade de
São Paulo, que, por apresentar a maior taxa de urbanização brasileira, é um polo
atrator de trabalhadores de todo o Brasil, principalmente vindos das regiões Norte
e Nordeste.
Outro destaque de Santos (1993) acerca do processo de urbanização
brasileiro são as diferenças regionais, uma vez que a urbanização não se tornou um
fenômeno generalizado sobre o espaço nacional, e sim localizado, com distinções
devido à diferença na oferta e promoção de infraestrutura, transporte e
comunicações nas cidades das regiões do país. As figuras a seguir representam de
forma cartográfica as diferenças territoriais do processo de urbanização ao longo
das regiões e estados do Brasil. Na Figura, é ilustrada a taxa de urbanização na
década de 2000, quando já se destacava a concentração do eixo de urbanização
no centro-sul do país.

62
Diferenças socioespaciais na taxa de urbanização no território brasileiro.

Fonte: Girardi(c2008, documento on-line).

Na figura a seguir, a respeito da urbanização no Brasil na década de 2010, o


destaque na taxa média brasileira de urbanização (por unidade da federação) vai
para São Paulo e Rio de Janeiro, com os índices mais elevados (SILVA, 2020).

63
Taxa média de urbanização brasileira por unidades da federação na década de 2010.
Fonte: Brasil em Mapas (2020a, documento on-line).

A próxima figura aborda as cidades brasileiras com elevados índices


populacionais no ano de 2020. Os destaques são novamente os municípios de São
Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ), seguidos de Brasília (DF), Salvador (BA),
Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG) e Manaus (AM). (SILVA, 2020).

64
Cidades brasileiros com elevados índices populacionais. Fonte: Brasil em Mapas (2020b,
documento on-line).

Quanto às diferenças nos índices e taxas de urbanização nas regiões, Santos


(1993) afirma que se devem às distinções decorrentes da divisão inter-regional do
trabalho e do espraiamento da industrialização e das técnicas ao longo do país.

A diferença entre as taxas de urbanização das várias regiões está


intimamente ligada à forma como, nelas, a divisão do trabalho
sucessivamente se deu, ou, em outras palavras, pela maneira diferente
como, a cada momento histórico, foram afetadas pela divisão inter-regional
do trabalho (SANTOS, 1993 p. 60).

65
Portanto, o reconhecimento do processo de urbanização no Brasil e do
crescimento das cidades no país se dá a partir da compreensão das modificações
técnicas mediante fenômenos espaciais e econômicos, como a industrialização e o
êxodo rural. Assim, é preciso compreender que a urbanização e a industrialização
no país se deram de forma desigual, com concentração na região Sudeste. Acima
de tudo, as cidades são produzidas histórica e espacialmente por diferentes atores
que agem de modo contraditório, pois têm objetivos e poder de atuação
diferenciados em termos de localização e de temporalidade (SILVA, 2020).

13 ARRANJO ESPACIAL NO INTERIOR DAS CIDADES

A organização interna das cidades se modifica a partir do modo de


urbanização corporativa, ou seja, a partir da atuação das empresas. Essa dinâmica
pode revelar problemas estruturais, que ampliam a desigualdade socioespacial nas
cidades brasileiras (SANTOS, 1993).
No que concerne sua estrutura, nas cidades brasileira predomina um modelo
específico de centro–periferia, com características como tamanho urbano, modelo
rodoviário, problemas de transportes, carências de infraestruturas, especulação
imobiliária e fundiária, periferização, pobreza, expansão de estruturas sociais sobre
estruturas naturais e disputa por espaços e localização (SANTOS, 1993). As figuras
ilustram problemas no transporte individual e coletivo de grandes cidades
brasileiras.

66
Representação de problemas estruturais e espaciais de grandes cidades brasileiras,
como elevado tráfego e lotação em transportes coletivos como o metrô.

Fonte: a) Congestionamento no Vale do Anhagabaú (2012, documento on-line); b)


São Paulo metro (2015, documento on-line).

67
Atualmente, segundo Sposito (2008), a estruturação do espaço regional e do
espaço intraurbano das cidades é dominada pelo deslocamento de informações,
energia, capital e mercadorias e pelas condições de transporte humano. Para o
autor, no espaço intraurbano a questão de onde os produtos são produzidos e
consumidos e o papel das novas tecnologias de informação e de telecomunicação
são fundamentais na dinâmica interna das cidades.
A relação centro–periferia, com vantagem do centro sobre os bairros e
regiões periféricas, se perpetua no território urbano, decorrente da ação capitalista
de especulação imobiliária e elevação de preços de terrenos em locais centrais. Em
geral, há vantagens de transporte e serviços que favorecem a região central em
detrimento de regiões periféricas. As figuras a seguir ilustram distinções geográficas
urbanas entre regiões centrais e periféricas. Uma das figuras retrata o centro
financeiro dacidade de São Paulo, na região da Avenida Paulista. Já a outra exibe
o bairro periférico de Heliópolis, onde localiza-se a maior área de vulnerabilidade
social da cidade.

68
Diferenças socioespaciais urbanas da dinâmica centro–periferia na cidade de São Paulo.
Fonte: a) Sesc Avenida Paulista (2018, documento on-line); b) Paiva (2020, documento on-line).

De acordo com Santos (1993), há um círculo vicioso nas cidades no que


tange a questão estrutural centro–periferia.

69
As cidades são grandes porque há especulação e vice-versa; há
especulação porque há vazios e vice-versa; porque há vazios as cidades
são grandes. O modelo rodoviário urbano é fator de crescimento disperso
e de espraiamento da cidade. Havendo especulação, há criação mercantil
da escassez e acentua-se o problema do acesso à terra e à habitação.
Mas o déficit de residências também leva à especulação, e os dois juntos
conduzem à periferização da população mais pobre e, de novo, ao
aumento do tamanho urbano. As carências em serviços alimentam a
especulação, pela valorização diferencial das diversas frações do território
urbano. A organização dos transportes obedece a essa lógica e torna ainda
mais pobre os que devem viver longe dos centros, não apenas porque
devem pagar caro seus deslocamentos como porque os serviços e bens
são mais dispendiosos nas periferias. E isso fortalece os centros em
detrimento das periferias, um verdadeiro círculo vicioso (SANTOS, 1993, p.
96).

A disputa por lugares e localização é um algo que merece destaque na


dinâmica das cidades, sobretudo as grandes, na atualidade.

Por isso, são as atividades mais dinâmicas que se instalam nessas áreas
privilegiadas; quanto aos lugares de residência, a lógica é a mesma, com
as pessoas de maiores recursos buscando alojar-se onde lhes pareça mais
conveniente, segundo os cânones de cada época, o quetambém inclui a
moda. É desse modo que as diversas parcelas da cidade ganham ou
perdem valor ao longo do tempo (SANTOS, 1993 p. 96).

Portanto, na urbanização contemporânea, em que prevalece o capitalismo


monopolista e a atuação de empresas, à medida que as cidades crescem em
extensão, população e atividades econômicas, desdobra-se um crescimento
sistêmico desses elementos de sua estrutura, que acentuam as desigualdades
socioespaciais.

14 FORMAÇÃO DAS CIDADES EMPRESARIAIS

Segundo Sposito (2008), quando a cidade surgiu ela apresentava


características do que chamamos de valor de uso. Porém, com a consolidação do
capitalismo tudo o que nela se constrói (edificações, infraestrutura, etc.) carrega
como consequência, além do valor de uso, o valor de troca e a indissociabilidade
entre essas duas dimensões de mercadorias.

70
Desse modo, nas últimas décadas a urbanização vem se reconfigurando em
termos de estrutura e organização, prevalecendo as dinâmicas capitalistas, em que
a cidade é gerida em sua maioria pelo interesse econômico das classes dominantes
e pelos agentes do mercado, numa dinâmica da cidade como unidade de negócio.
Trata-se de uma inversão de valores, em que o valor de troca dos espaços urbanos
sobrepuja o valor de uso de tais espaços pela sociedade. A figura ilustra o
predomínio espacial da estrutura urbana corporativa em algumas das grandes
cidades brasileiras, nesse caso localidade de São Paulo capital (SANTOS, 1993).

71
Estrutura urbana da cidade corporativa de São Paulo. Fonte: Ponte Estaiada Octávio
Frias de Oliveira (2016, documento on-line).

Por sua vez, Santos (1993) destaca o fenômeno da urbanização corporativa


como transformador das cidades brasileiras, em que o comando dos interesses das
grandes empresas prioriza investimentos econômicos particulares em detrimento
de gastos sociais para a população.

A unificação, agora fortalecida, do território e do mercado responde pelo


processo de concentração da economia, com a constituiçãode empresas
oligopolistas que ampliam, cada vez mais, seu raio de ação e seu poder de
mercado, integrando ainda mais esse mercado e o próprio território
(SANTOS, 1993, p. 102).

O favorecimento de investimentos para modernização direcionados a


empresas, sob a égide do capitalismo monopolista, consolida os moldes de uma
urbanização corporativa nos territórios dos espaços urbanos, sob o discurso de
direcionar o gasto do Estado em benefício de empresas para desenvolver o país.
No entanto, nota-se que as vantagens se restringem à escala das empresas e não
atingem, em sua maioria, a população, concentrando a geração das riquezas e
acarretando desigualdades.

72
Legitimada pela ideologia do crescimento, a prática da modernização cria
no território como um todo, em particular nas cidades, os equipamentos,
mas também as normas indispensáveis à operação racional vitoriosa
das grandes firmas em detrimento das empresasmenores e da população
como um todo (SANTOS, 1993, p. 104).

Assim, configura-se no país uma modernização dos espaços urbanos (e


também rurais) definida por Santos (1993) como conservadora e dolorosa. Esse
processo é promovido por intermédio Estado, que reformula os espaços e beneficia
sobretudo a grandes empresas.

Tal conjunto formado pelas novas condições materiais e pelas novas


relações sociais cria as condições de operações de grandes empresas,
nacionais e estrangeiras, que agem na esfera da produção, da circulação e
do consumo e cujo papel direto ou por intermédio do poder público, no
processo de urbanização e na reformulação das estruturas urbanas,
sobretudo das grandes cidades, permite falar de urbanização corporativa
e de cidades corporativas (SANTOS, 1993, p. 104).

Nessa configuração, estruturação e determinação dos espaços urbanos (e


rurais), destaca-se o poder econômico associado ao poder político. O que se vê é
o impacto das grandes empresas (do grande capital) nos processos políticos dos
espaços.

Desse modo, o território não é apenas o teatro do jogo econômico; ele se


torna fator determinante. Tal como ele se organiza paraa modernidade, o
território é a base comum de operação para todos os atores, mas é
sobretudo favorável às corporações. [...] Tomado como bloco, e tratado
como bloco, o território ainda mais se prestava aos interesses das
empresas maiores, as únicas capazes de utilizá-lo inteiramente (SANTOS,
1993, p. 107).

No que concerne a urbanização corporativa, as cidades com essas


características têm facilidades criadas para a operação das grandes empresas, em
termo de interesses exclusivos empresariais.

De um ponto de vista político, a atividades centrais, isto é,programadas


como condição de êxito para o projeto nacional, são as que interessam ao
próprio Estado e às corporações. [...] Essas atividades centrais se dispõem
em rede e sistema, interessando à totalidade dos núcleos urbanos, não
importa onde estejam localizados. É nesse sentido que podemos falar de
uma urbanização corporativa (SANTOS, 1993 p. 109)

Portanto, esse modelo de urbanização e de cidades sob a égide das grandes


corporações é contraditório, opondo parcelas municipais e frações da população.
73
Tal processo acarreta especulação imobiliária, empurra a maioria da
população para periferias (pois as empresas ocupam áreas centrais) e empobrece
ainda mais a população pobre, intensificando desigualdades sociais e espaciais nas
cidades.

74
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