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GUARULHOS – SP
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 4
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13 ARRANJO ESPACIAL NO INTERIOR DAS CIDADES ................................. 68
15 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 75
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA
Suportegeográfico.com.br
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2.1 A gênese da ciência geográfica
Origemgeografia.com.br
A geografia pode ser compreendida como uma ciência da Terra, ou seja, que
descreve a Terra. Além disso, a mesma se apresenta como um ramo do
conhecimento científico. A sua gênese ocorreu na Antiguidade Clássica. Assim, a
geografia nasceu com os gregos, que foram os primeiros a registrar a
sistematização do conhecimento dessa ciência. Desde a Antiguidade, os gregos
começaram a qualificar as informações da superfície terrestre. Contudo, o saber
geográfico é mais antigo ainda do que os filósofos da Grécia Antiga: as sociedades
primitivas já se preocupavam com o conhecimento da superfície terrestre. Nas
pinturas rupestres, havia uma compreensão da vida que levava em conta aspectos
geográficos (SAGAH, 2021).
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Moreira (2010) esclarece que a geografia é uma forma particular de
conhecimento. Estrabão (64 a.C.– 24 d.C.) foi um dos primeiros pensadores da
geografia e se dedicou a refletir sobre os ocupantes da Terra, os oceanos, a
vegetação e o homem que a cultiva. Para ele, o homem, a terra, a vida e a felicidade
se articulam na totalidade, no tempo e no espaço. Os estudos produzidos por
Estrabão foram fundantes e essenciais para o desenvolvimento do saber
geográfico.
É importante considerar ainda Immanuel Kant (1724–1804), que organiza o
seu pensamento a partir da filosofia grega. Assim, com Sócrates, a “unidade de
natureza” incorporava as atividades humanas no conhecimento de mundo. Já com
Xenófanes, as atividades econômicas foram essenciais, e com Platão as questões
políticas foram marcadas. Porém, para Kant, o auge do pensamento geográfico
ocorreu com os filósofos modernos, como Francis Bacon (1521–1626), René
Descartes (1596–1650) e Carolus Linnaeus (1707–1778). Esses filósofos fizeram
com que Kant desenvolvesse as suas ideias sobre o conhecimento geográfico, ou
a geografia física, precisamente pela perspectiva das ciências naturais (SALES,
2013).
Kant foi professor de geografia física na Universidade de Konigsberg, na
Prússia, atual Alemanha. Em 1770, ele já considerava o aspecto racional na questão
do método. Kant compreendia que a razão era dada pela razão pura e que o
conhecimento era dado pela experiência, pelos sentidos e sensações. A discussão
sobre o método em Kant influenciou o desenvolvimento da ciência. Assim, Kant
dividiu as ciências em empíricas e racionais (teóricas). Ele considerava a geografia
como uma ciência, de acordo com as distinções entre ela e ciências como a
antropologia, a história e a física.
Para Kant, a geografia física é a primeira parte do conhecimento do mundo,
ou seja, um conhecimento útil em todas as circunstâncias da vida. É importante
você considerar que “[...] o curso de geografia física dado por Kant influenciou, de
forma direta e indireta, diversos viajantes que catalogaram o novo mundo, entre eles
Humboldt” (SALES, 2013, p. 187).
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Pereira (1988) esclarece que, mesmo com o desenvolvimento da cartografia
durante as grandes descobertas dos séculos XV e XVI, até o século XVIII, os
trabalhos geográficos seguiam muitos dispersos, sem qualquer padronização ou
sistematização das ideias. A abundância de temas e a descontinuidade das
informações tornava impossível tratar a geografia como uma ciência, como um
saber autônomo. Somente no final do século XVIII chegou ao fim o longo período
inicial e preparatório da geografia e a sua pré-história. No século XIX, a geografia
buscou status científico, especialmente na Alemanha. Entretanto, só recentemente
ela encontrou elementos para o seu nascimento como ciência.
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2.2 Elementos do pensamento científico geográfico
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No final do século XIX e início do século XX, surgiram inúmeras publicações
produzidas por geógrafos. Com a institucionalização da geografia acadêmica nas
universidades europeias, houve uma evolução da ciência, que passou a estudar “a
distribuição, na superfície do globo, dos fenômenos físicos, biológicos e humanos,
[bem como] a causa dessas distribuições e as relações locais destes fenômenos”.
Não se tratava mais de apenas descrever, mas de explicar os fenômenos. Com
essas características, a geografia ficou conhecida como uma ciência de síntese.
Nesse sentido, trabalhava com os elementos das demais ciências (antropologia,
biologia, história, física), aprofundando o seu próprio desenvolvimento como
ciência. Atualmente, a geografia se define como o ramo do saber científico que se
dedica ao estudo das relações entre a sociedade e a natureza, ou ao estudo do
modo como a sociedade organiza o espaço terrestre (PEREIRA, 1988).
Segundo Mormul e Rocha (2013), no final do século XIX, a ciência geográfica
se originou na Alemanha, com Von Humboldt (1769–1859) e Karl Ritter (1779–
1859). A partir deles, se estabeleceu a base científica da geografia. Humboldt não
tinha formação em geografia; ele era botânico. Logo, a sua contribuição foi
importante para a consolidação da ciência. As disciplinas que hoje compõem a
geografia, como a biogeografia, a climatologia e geologia, foram criadas a partir de
Humboldt. Já Ritter, com formação em ciências humanas e história, procurou
explicar a evolução da humanidade relacionado os povos aos aspectos naturais.
Ele descrevia sobretudo a sociedade, mas já fazia certas relações com os aspectos
políticos e econômicos. Foi assim que a geografia passou a se consolidar como uma
ciência.
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Ritter, um dos grandes nomes da ciência geográfica. Fonte: Marzolino/Shutterstock.com
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militar foram aspectos que mobilizaram as viagens. Afinal, as informações trazidas
pelos exploradores e naturalistas poderiam ser usadas para campanhas políticas
francesas. Um dos maiores desejos dos franceses era criar um memorial
geográfico, sobretudo com informações sobre a África e a Ásia. Por trás disso,
estava a intenção de partilhar esses dois continentes para explorá-los (BIAGGI,
2013).
Por sua vez, Vidal de La Blache realizou diversos estudos regionais, com
ênfase nos estudos de áreas pequenas e homogêneas. Foi o primeiro professor de
geografia da Universidade de Sorbonne, em Paris. Ele se dedicou a estudar a
relação entre o homem e o meio, construída historicamente de forma diferenciada.
Logo, procurou demostrar que o meio exercia influência sobre o homem, mas os
homens tinham capacidade de modificar o meio. Foi daí que surgiu a teoria do
possibilismo geográfico, em contradição ao determinismo geográfico (ANDRADE,
1987).
Segundo Andrade (1987), o possibilismo geográfico foi importante por
orientar a política de recursos naturais do espaço francês. Essa teoria tinha como
característica o fato de enfatizar a superioridade da raça branca em relação às raças
dos nativos da África e da Ásia. Mormul e Rocha (2013) esclarecem que tanto o
determinismo quanto o possibilismo geográfico, junto à ciência geográfica, foram
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ideologicamente influenciados pelos interesses burgueses. O principal interesse, na
maior parte das vezes, era produzir elementos indispensáveis à expansão do
capitalismo e à formação de cidadãos adaptados às exigências do momento.
Segundo Suertegary (2003), no decorrer da história da geografia, diversos
autores refletiram sobre o determinismo e o possibilismo. No caso do determinismo
geográfico, a natureza é entendida como a causa da organização social. Já no caso
do possibilismo geográfico, o homem tem possibilidades de transformar a natureza.
Essa transformação é realizada por meio do desenvolvimento técnico, e a relação
entre a natureza e a sociedade é mediada pelo trabalho.
As últimas décadas do século XIX foram marcadas por dois processos
essenciais para a história do homem e da geografia. Um deles decorre do sistema
capitalista, que gera uma intensa concentração de capital, gerando os grandes
monopólios e a expansão territorial pelo imperialismo, que recebeu a contribuição
das sociedades geográficas da época. O outro é a fragmentação do saber universal,
ou seja, surgem novas disciplinas, entre elas a geografia. Os departamentos de
geografia são criados nas universidades da Europa e, décadas mais tarde, nos
Estados Unidos. Naturalmente, o primeiro processo não pode ser desvinculado do
segundo (ANDRADE, 1987).
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3 O ESPAÇO GEOGRÁFICO COMO ELEMENTO FUNDANTE DA CIÊNCIA
Fonte: BrasilEscola.com.br
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outras categorias em jogo, como: paisagem, região, lugar e território (CORRÊA,
2003). Veja o Quadro, a seguir.
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O espaço e as correntes do pensamento geográfico são divididos em quatro
momentos: a geografia tradicional, a geografia teorético-quantitativa, a geografia
crítica e a geografia humanista/cultural. A seguir, você vai conhecer melhor cada
uma dessas corrrentes.
A geografia tradicional (1870–1950) antecede as mudanças das décadas
de 1950 e 1970. Ela substitui a geografia clássica descritiva. Nesse período, o
espaço não se constitui como um conceito-chave na geografia tradicional, por mais
que estivesse presente nas obras de Ratzel de modo implícito. Nessa vertente da
geografia, os conceitos de paisagem e região foram privilegiados e se estabeleceu
a discussão sobre o objeto de estudo da geografia e a sua identidade em relação
às demais ciências. Os conceitos de paisagem, região natural, região-paisagem e
paisagem cultural foram alvos de debates e estavam presentes na maioria dos
estudos da época. Ratzel utilizou dois conceitos geográficos: o de espaço vital e o
de território, também fundante em seus trabalhos e com fortes raízes na ecologia
(CORRÊA, 2003).
Não se pode deixar de mencionar a população e os recursos naturais
constituídos em determinado território. Portanto, “[...] o espaço transforma-se,
através da política, em território, em conceito-chave da geografia” (CORRÊA, 2003,
p. 18).
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A vertente teorético-quantitativa é baseada no positivismo lógico e
promoveu profundas modificações na geografia em meados de 1950. A partir do
raciocínio hipotético-dedutivo, adotou-se uma visão de ciência pela perspectiva das
ciências da natureza. Assim, o “[...] espaço aparece, pela primeira vez na história
do pensamento geográfico, como o conceito-chave da disciplina, os outros
conceitos de lugar e território não são conceitos significativos na geografia teorético-
quantitativa” (CORRÊA, 2003, p. 20).
Nessa corrente geográfica, o espaço é considerado de duas formas não
excludentes: as planícies isotrópicas e a representação matricial. A planície
isotrópica se constitui na concepção de espaço derivada de um paradigma
racionalista e hipotético-dedutivo. Todavia, utiliza modelos matemáticos para
conhecer dados quantitativos como densidade demográfica, de renda e de padrão
cultural. A ideia é adotar uma racionalidade econômica fundada na minimização dos
custos e na maximização dos lucros ou da satisfação. Por sua vez, as
representações matriciais podem ser compreendidas em relação aos meios
operacionais que permitem extrair um conhecimento sobre localizações e fluxos,
hierarquias e especializações funcionais, por exemplo (CORRÊA, 2003).
A geografia crítica surge em 1970, fundamentada no materialismo histórico
e na dialética. Logo, essa vertente procura romper com a geografia tradicional e
com a geografia teorético-quantitativa. Nessa perspectiva, o espaço aparece como
conceito-chave da geografia. A teoria marxista era discutida e relacionada às
contradições dos países centrais e periféricos e às desigualdades entre esses
grupos de países. O sistema capitalista é o objeto de análise dessa vertente.
Por fim, a geografia humanista/cultural surge em meados de 1970. Essa
perspectiva retoma os aspectos culturais e da história. Essa vertente, semelhante à
geografia crítica, tem suas bases filosóficas especialmente na fenomenologia e no
existencialismo (CORRÊA, 2003).
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4 A GEOGRAFIA CLÁSSICA
Educador.uol.com
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Ao longo do tempo, a geografia clássica foi criando características próprias
por meio de obras importantes como as dos alemães Carl Ritter e Alexander Von
Humboldt, que podem ser considerados precursores dessa corrente. Por meio de
suas bases fundamentadoras e de cunho determinista, esses autores possibilitaram
avanços na história do pensamento geográfico (SAGAH, 2021).
No século XVIII, época em que a geografia clássica se constituiu, o
Iluminismo contribuiu para a liberdade e para o desenvolvimento intelectual e
artístico, embasado pela filosofia de René Descartes. A evolução científica trouxe à
tona novas informações, promovendo uma forma inédita de produzir ciência no
Ocidente. A geografia não ficou de fora desse contexto. No começo, essa ciência
organizava o conhecimento pela descrição dos fenômenos na superfície terrestre,
considerando os elementos naturais. Contudo, após a geografia clássica, houve a
transição para a geografia tradicional, surgindo um novo paradigma científico.
(SAGAH, 2021)
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A geografia tradicional (1870–1950) se constituiu no período moderno, no
panorama científico da Alemanha e da França. Esse contexto pode ser
caracterizado pelo desenvolvimento do sistema capitalista (séculos XVIII e XIX).
A geografia tinha como objetos de estudo a paisagem e a região. Ela estava
relacionada ao determinismo e ao possibilismo geográfico, paradigmas que
marcaram a geografia clássica e a geografia tradicional (SAGAH, 2021).
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5 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA NO BRASIL
BrasilEscola.com.br
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5.1 A história da geografia no Brasil
Brasilescola.com/Uol
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Os jesuítas, contudo, não se limitaram ao ensino religioso, com os princípios
de evangelização. A partir do momento em que a elite local foi adquirindo costumes
aristocráticos de caráter europeu, a educação passou a incluir outros
conhecimentos. Assim, os colégios foram criados para atender a uma pequena
parcela da população. Ou seja, apenas os filhos da população pertencente às
camadas sociais mais altas frequentavam as escolas.
O primeiro plano de estudo criado pelos jesuítas foi elaborado pelo padre
Manuel da Nóbrega (1517–1570) e teve o ensino de português como precursor. Aos
poucos, outros saberes foram ganhando espaço, como a aula de gramática e os
estudos voltados para as viagens à Europa. Na época, a geografia era considerada
um saber pouco importante. Ela aparecia principalmente em textos literários que
tinham as diferentes paisagens como enfoque (ARAÚJO, 2012).
Segundo Oliveira (2011), em meados do século XVIII, no Brasil, a geografia
foi inserida no currículo escolar oficial, influenciado pelos princípios iluministas
vigentes na Europa, que valorizavam a nacionalidade. Assim, em 1837, com a
criação do Colégio Pedro II, a geografia foi realmente reconhecida como uma
disciplina autônoma. No Colégio Pedro II, os estudos foram divididos em dois ciclos.
O primeiro tinha a duração de quatro anos e todos os alunos eram obrigados a
frequentá-lo. Já o segundo ciclo tinha duração de três anos, era opcional e dava o
direito de ingressar em cursos técnicos. Nesse contexto, a geografia surge como
disciplina com o intuito de dar suporte para os alunos em relação à identidade
nacional, reforçando a ideia do nacionalismo patriótico e incentivando o amor pela
pátria.
Assim, a geografia se estabelece como um campo rico do saber para a
formação do cidadão e para a construção da identidade nacional. Na época, não
eram precisamente professores formados em geografia que lecionavam a disciplina.
Além disso, a grandeza do território brasileiro tinha importância fundamental, daí o
destaque dado às descrições desse território. A grandeza representava a qualidade
da nação, que futuramente iria prosperar, perspectiva que levava em conta o
modelo europeu de economia e política (OLIVEIRA, 2011).
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Segundo Saviani (2005), os estudos eram fundamentados em um ensino
tradicional. Tal ensino ganhou força no Brasil a partir de 1759, quando começaram
a ser implementadas as reformas pombalinas da instrução pública. Essas reformas
se contrapõem ao predomínio das doutrinas religiosas e, com base nas ideias laicas
inspiradas no Iluminismo, instituem o privilégio do Estado em matéria de instrução.
Em 1808, começou a divulgação do método de ensino tradicional como oficial, a
pedagogia tradicional predominou no Brasil até meados de 1940.
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Fonte: Adaptado de Mizukami (1986).
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A institucionalização da geografia científica se consolidou após a criação das
universidades brasileiras como a Universidade de São Paulo (USP), em 1920, e do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 1938. Pierre Deffontaines (1894–
1978) e Pierre Monbeig (1935–1946) foram os geógrafos franceses que
praticamente institucionalizaram a geografia no Brasil. Em 1934, Pierre Deffontaines
criou a Associação dos Geógrafos Brasileiros em São Paulo (AGB–SP). Essa
associação promoveu um dos mais avançados desenvolvimentos de pesquisa
geográfica do País (DANTAS, 2008).
A partir da criação da Universidade de São Paulo, com a sua Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ,
antiga Universidade do Brasil) e da Associação dos Geógrafos Brasileiros,
idealizada por Pierre Deffontaines, a geografia começou a se institucionalizar por
aqui (DANTAS, 2008). O ensino de geografia implementado em São Paulo e no Rio
de Janeiro foi influenciado pela tradição francesa, portanto se fundamentou na
história e na sociologia.
Pierre Monbeig e Pierre Deffontaines foram convidados pelo também francês
Emmanuel de Martonne para ajudar no processo de institucionalização da geografia
no Brasil. Ambos davam maior enfoque à geografia regional e à área humana.
Monbeig ensinou por cerca de 15 anos na Universidade de São Paulo e foi
substituído por Deffontaines, que atuou por cinco anos. O geógrafo francês Francis
Ruellan (1894–1974) e o geógrafo Josué de Castro (1908–1973), da área da
geografia humana, também faziam parte do corpo docente. A influência francesa na
geografia do Brasil se estenderia por mais de 20 anos, até cerca de 1950, sendo
mais acentuada aqui do que na própria França.
Segundo Andrade (1991), o geógrafo francês Delgado de Carvalho, autor do
livro O Brasil Meridional, é considerado outro dos grandes precursores dos estudos
da geografia científica no País. Ele também é considerado um dos primeiros
geógrafos que contribuíram para a história do pensamento geográfico e para a
institucionalização dessa disciplina, que passou a ser estudada em nível superior e
a ser aplicada à problemática nacional.
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6 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IBGE E A GEOGRAFIA BRASILEIRA
Google.com.br
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primeiro campo era a geografia física; Martonne percebeu o grande potencial da
geografia tropical brasileira. E o segundo estava relacionado com os aspectos
políticos e culturais. Com essas duas perspectivas, havia a necessidade de criar as
principais associações e institutos (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
Sociedade Brasileira de Geografia e Academia Brasileira de Ciências), que
deveriam juntar esforços para a adesão do Brasil à UGI.
O IBGE surgiu nesse contexto, como um órgão nacional que pertenceria ao
governo central. Assim, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística foi criado
com sede no Rio de Janeiro, em 1938. Ele foi idealizado sob a égide do presidente
Getúlio Vargas (1882–1954), durante a ditadura do Estado Novo e a partir do
Instituto Nacional Estatístico. Em meados de 1939, o IBGE começou a campanha
de levantamento intensivo da divisão territorial do País, que tinha como finalidade a
definição dos mapas dos municípios (IBGE, 2017).
Em relação às atividades geodésicas realizadas pelo IBGE em 1939, o Brasil
tinha de atualizar a sua carta geográfica. Na época, foram emitidas em torno de 602
coordenadas levantadas em cidades e vilas de todo o País, por exemplo. De 1944
até 1970, o IBGE estruturou o sistema geodésico brasileiro fundamentado no
método de posicionamento clássico (triangulação, métodos astronômicos e
poligonação geodésica), aplicado até meados dos anos 1990 com o recurso a
equipamentos como teodolitos. Outro ponto importante foi a divisão regional do
Brasil em Norte, Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul, proposta por Fábio
Macedo Soares Guimarães, em 1970 (IBGE, 2017).
Portanto, com o objetivo de promover e desenvolver o conhecimento
territorial por meio de uma política de coleta de dados estatísticos, o IBGE foi o
suporte da administração pública relacionada ao ordenamento territorial. Esse
órgão formulou e criou políticas públicas para a organização das cidades e do meio
ambiente, promovendo o desenvolvimento urbano e a sustentabilidade. A
Universidade Federal do Rio de Janeiro formou muitos geógrafos que trabalharam
no Instituto. Nesse sentido, o IBGE também recorria aos professores da UFRJ com
o objetivo de lecionar cursos de férias para os professores de outros estados. Os
mestres estrangeiros que por um bom período permaneceram no Brasil trabalhavam
na Universidade e no IBGE (DANTAS, 2008).
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Como já foi mencionado, o IBGE foi estruturado pelas seguintes áreas de
conhecimento: geografia, geodésia e cartografia. O Decreto nº 327, de 1938,
estabeleceu as ações de normatização da área de geodésia do IBGE para suprir o
mapeamento do recenseamento geral de 1940 (IBGE, 2017). Nesse período, foram
iniciados os trabalhos de levantamento das coordenadas geográficas das cidades
brasileiras, prosseguindo com a estruturação das redes planimétrica, altimétrica e
gravimétrica,que estabeleceram as bases para o mapeamento sistemático do País,
realizado e organizado pela área de cartografia.
Essa área, além de coordenar o sistema cartográfico brasileiro, imprime
continuamente cartas e é também responsável pela elaboração cartográfica dos
altas do IBGE. Outro aspecto importante é a atuação dos técnicos que definem as
políticas cartográficas, os seus parâmetros metodológicos e as escalas de
representação dos trabalhos cartográficos. Além disso, o IBGE, junto às Forças
Armadas, determinou os tipos de cartas especiais de trabalho que servem de base
para as organizações militares.
A área cartográfica também define com precisão os limites entre as principais
unidades territoriais legalmente vigentes no País, tanto na escala municipal quanto
na estadual. Em caso de litígios entre essas unidades, cabe aos cartógrafos do
IBGE a determinação dos novos limites, que normalmente são arbitrados pelo Poder
Judiciário. É também atribuição da área dar apoio técnico às operações de
mapeamento das bases operacionais geográficas dos censos, principalmente
oferecendo suporte técnico às prefeituras que não possuem pessoal qualificado
para a confecção dos mapas (ALMEIDA, 2001).
Em síntese, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, criado em 1938
com sede no Rio de Janeiro, é um dos órgãos mais importantes do Brasil até hoje.
No começo, o IBGE teve um papel importante tanto para a formação de professores
e profissionais da geografia quanto para o levantamento estatístico do território do
País. Atualmente, ele é um dos órgãos estatísticos nacionais mais importantes,
realizando recenseamentos em todo o território brasileiro a cada 10 anos.
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7 A GEOGRAFIA COMO DISCIPLINA OBRIGATÓRIA NO ENSINO
FUNDAMENTAL E NO ENSINO MÉDIO
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O projeto de educação do Brasil tem uma base que remete aos diferentes
contextos históricos do País, caracterizados pelas distintas situações políticas e
econômicas pelas quais a sociedade nacional passou. Além disso, as tendências
da educação brasileira sempre estiveram articuladas com o momento histórico e
econômico mundial.
No período anterior a 1930, não existia no Brasil um sistema formal e regular
de ensino garantido pelo poder público para toda a população no território brasileiro.
Entretanto, a geografia era considerada uma disciplina oficial desde 1837, quando
foi implantada no Colégio Pedro II, um colégio muito tradicional e modelo de ensino,
frequentado apenas pela elite da época.
O currículo escolar já era estabelecido no Brasil para algumas áreas de
conhecimento antes de 1930, desde a formação do sistema escolar de ordem
religiosa. Tal sistema foi criado pelo padre Manuel da Nóbrega em meados de 1500
e se estendeu até o final do século XVII. Contudo, com a revolução pombalina, foi
constituído um ensino de caráter laico, com os conteúdos baseados nas cartas
régias. Nesse contexto, o currículo aparece para garantir o ensino e a aprendizagem
do conteúdo que o sujeito deveria conhecer. Essa é a base principal para que todos
numa sociedade consigam ter um desenvolvimento social, cultural, político e
econômico pleno.
Segundo Rangel e Gouvea (2016), a geografia como disciplina escolar foi
constituída em 1837 no Colégio Pedro II, como você já viu. A principal finalidade de
instituir a disciplina era garantir a identidade da população, que deveria nutrir o amor
à pátria, adquirindo certo nacionalismo. Além disso, o objetivo era capacitar
politicamente a elite, para que ocupasse os principais e melhores cargos públicos
do País. Outro fator importante para a inclusão da geografia no Colégio Pedro II foi
o fato de que ela já era uma disciplina obrigatória no programa escolar francês.
De acordo com Araújo (2012), no século XIX, a obra precursora da geografia
brasileira foi Corografia Brasílica, do padre português Manuel Aires de Casal (1754–
1821). Essa obra apresentava as principais descrições da colônia com base no
interesse da Corte Portuguesa. Ela não tinha cunho didático escolar, logo, é
considerada um dos textos fundamentais da geografia do Brasil.
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Falar sobre o currículo no ensino de geografia requer entender o que significa
currículo. Na verdade, a ideia de currículo é trabalhada por várias correntes do
pensamento educacional, como você pode ver no Quadro, que apresenta três
correntes importantes. A primeira é a que predominou no Brasil até meados de 1950
e as outras duas fazem parte do pensamento educacional atual.
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Janeiro, cidade que abrigava a Corte, que apresentou a divisão entre os níveis de
estudo. Tal divisão foi feita no Colégio Pedro II (ARAÚJO, 2012).
Segundo Araújo (2012, p. 94), por mais de 300 anos de colônia, “[...] não
tivemos uma estrutura escolar para ser utilizada pelo povo: os jesuítas, durante esse
tempo, mantiveram 17 seminários de formação de clérigos. Com a expulsão dos
jesuítas, ficou a Colônia sem qualquer tipo de escola [...]”. Além disso, o Brasil criou
cursos superiores sem curso elementar e médio, dificultando a consolidação da
geografia como disciplina. Entre 1840 e 1889, “[...] as províncias criaram os liceus
(rapazes) e as escolas normais (moças) e iniciaram a criação do curso elementar
nas cidades e vilarejos (omissão total do poder central) somente por iniciativa
particular [...]” (ARAÚJO, 2012, p. 94).
Foi apenas em 1930, com a criação do Ministério da Educação (MEC), que
foi possível inserir a geografia como disciplina obrigatória no ensino seriado, ou seja,
no ensino fundamental e no ensino médio, para todos os sujeitos com idade de
adquirir conhecimento. O MEC passa a agir intensamente de 1930 a 1962 (reformas
Campos e Capanema), quando “[...] perde suas funções com a aprovação, pelo
Congresso Nacional, da Lei de Diretrizes e Bases. Os estados começam [então] a
ampliar a rede oficial de ensino Fundamental e Médio [...]” (ARAÚJO, 2012, p. 95).
Como você pode notar, a institucionalização da geografia é recente, apesar
de a necessidade de descrever e mapear o território nacional existir desde o Brasil
colonial. Inicialmente colocada em pauta pelos jesuítas, pois a educação era sua
incumbência, a geografia foi agregando aspectos mais generalistas. Com a criação
do Colégio Pedro II, essa disciplina adquiriu um caráter elitista.
Com as sucessivas reformas do ensino, a geografia foi paulatinamente
inserida nos currículos, especialmente devido à necessidade de patriotismo e
nacionalismo. Ela era vinculada à localização física e restrita de locais de
conhecimento e cidades. Posteriormente, a disciplina passou a agregar a política
humana e social. Isso ocorreu com a criação de órgãos estatísticos como o IBGE,
que passaram a considerar os aspectos sociais e humanos e instituíram a geografia
como ciência. Assim, ela foi incluída efetivamente nas academias. Como você viu,
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a Universidade do Brasil, atual UFRJ, e a Universidade de São Paulo foram
essenciais no processo de institucionalização da geografia.
Brasilescola.com/Uol
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como resultante da ação do sujeito social responsável pela construção do lugar, da
paisagem e do território (BRASIL, 2000).
Tais categorias devem ser consideradas em suas inter-relações e conexões,
dada à dinâmica do espaço geográfico o qual constitui uma categoria central da
Geografia e, ao longo da história desta ciência, foi concebido de diversas maneiras.
Porém, não é nosso escopo retomá-las (BRASIL, 2000).
O espaço geográfico como objeto de estudo vai além da dinâmica do espaço
físico e, hoje, o grande desafio que se coloca é compreender a inter-relação entre
sociedade e natureza. Esta categoria deve ser analisada, transformada, criada e
produzida pela sociedade à medida que o homem se apropria da natureza, que
guarda a especificidade de ser permanentemente (re)elaborada pelo fazer humano.
Assim, de acordo com o Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): “O espaço
geográfico é historicamente produzido pelo homem, enquanto organiza econômica
e socialmente sua sociedade” (BRASIL, 2000, p. 109). Nesta perspectiva, o espaço
geográfico deve ser entendido como uma totalidade dinâmica em que interagem
fatores naturais, socioeconômicos e políticos.
No conceito de espaço geográfico está implícita a ideia de articulação entre
natureza e sociedade. Na busca desta articulação, a Geografia tem que trabalhar,
de um lado, com os elementos e atributos naturais, procurando não só descrevê-
los, mas entender as interações existentes entre eles; e de outro, verificar a maneira
pela qual a sociedade está administrando e interferindo nos sistemas naturais. Para
perceber a ação da sociedade é necessário adentrar em sua estrutura social,
procurando apreender o seu modo de produção e as relações socioeconômicas
vigentes (BRASIL, 2000).
Os estudos geográficos, ao possibilitarem a compreensão das relações
sociedade-natureza, induzem à noção de cidadania, levando o aluno a analisar suas
ações como agente ativo e passivo do meio ambiente e, portanto, capaz de
transformar o espaço geográfico. Assim sendo, as práticas pedagógicas devem
estar voltadas aos problemas da comunidade na qual os alunos estão inseridos,
pois esta é a escala espacial local em que sua ação transformadora pode ser
imediata. No que diz respeito à AÇÃO, há necessidade tanto de conhecimentos e
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habilidades, quanto de execução de um processo que mude a percepção e a
conduta, o qual passa pela sensibilização e afetividade (BRASIL, 2000).
É necessário também que os professores estejam preparados para
considerar no seu trabalho a própria dimensão individual dos seus alunos, pois “[...]
mudar valores requer o alto conhecimento do indivíduo-sujeito” (CARVALHO, 2004,
p. 42).
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38
experiência, ou seja, trata-se de referenciais afetivos desenvolvidos ao longo de
nossas vidas.
[...] lugar significa muito mais que o sentido geográfico de localização. Não
se refere a objetos e atributos das localizações, mas a tipos de
experiências e envolvimento com o mundo, a necessidade de raízes e
segurança (RELPH, 1979, p. 156).
Diante do exposto, o lugar pode ter uma acepção a partir de visões subjetivas
vinculadas às percepções emotivas, a exemplo do sentimento topofílico aos quais
se refere Yu-Fu Tuan (1975, p. 1015), e outra, através do cotidiano compartilhado
com diversas pessoas e instituições que nos levam à noção de “espaço vivido”.
Pesquisas revelam que a categoria lugar é compreendida, pelos alunos das
primeiras séries do Ensino Fundamental, a partir de experiências e de relações
39
afetivas. Neste sentido, no ensino, o conceito do lugar pode ser formado e/ou
compreendido como espaço de vivência, onde estão inseridas suas necessidades
existenciais, suas interações com os objetos e as pessoas, suas histórias de vida.
Neste espaço vivido (lugar), onde os alunos têm contato e vislumbram
relações locais e globais, pode-se perceber nitidamente uma imbricação dos
conceitos paisagem e lugar, como nos mostra Cavalcanti (1998, p. 100):
Brasilescola.com/Uol
41
8.3 Categoria – Território
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44
compreensão de como essa realidade é construída, percebida e vivenciada, e não
como conteúdos em si mesmos, com explicações simplistas e reducionistas.
9 GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
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formulação das teorias da geopolítica, mas são uma dedução teórica das relações
sociais que evoluíram bastante nos últimos séculos (FERNANDES, 2003).
Ainda que a ideia de geografia política já fosse discutida desde, pelo menos,
o século XVII, segundo Vesentini (2011), foi no transcorrer do século XIX, enquanto
o pensamento geográfico era organizado como ciência moderna autônoma, que
surgiram os primeiros escritos a cunharem o termo geopolítica, ao considerarem as
relações de poder como uma instância de atores na produção do espaço.
No texto Geografia Política, de 1897, Friedrich Ratzel descreve as relações
sociais supranacionais sob a lógica evolucionista darwiniana, atribuindo
naturalidade para as discrepâncias de poder entre as nações (FERNANDES, 2003).
45
A publicação de Ratzel ficaria mundialmente famosa também pela teoria do espaço
vital, elaborada sobre uma estrutura de pensamento positivista que coloca a força
do estado como totalmente dependente de três instâncias, todas elas consideradas
pelo autor como atributos naturais:
estando contidos nele o tempo histórico ali vivenciado e as ações humanas que o
moldam, gerando, a partir daí, a necessidade de compreendê-lo com a
sistematização do pensamento de uma geografia regional e não generalista
(TEIXEIRA, 2020).
No contexto imperialista do século XIX, foi fundamental para os Estados
formar o seu entendimento sobre a geografia política, dando assim legitimidade à
ocupação do seu território. Ao observar os diferentes entendimentos entre alemães
e franceses, por exemplo, ficam mais claras as intencionalidades das decisões
políticas adotadas posteriormente, no século XX, quanto à conquista de territórios.
Em 1905 foi publicado o texto As Grandes Potências, de Rudolf Kjéllen,
publicação que ganhou grande importância por cunhar, pela primeira vez, o termo
46
geopolítica. O autor sueco destaca a diferença entre os termos geopolítica e
geografia política, apesar de o primeiro ser resultado de intensas discussões
teóricas sobre o entendimento do segundo. Para Rudolf, a noção de geografia
política estaria restrita às relações entre o território e o Estado, considerando a sua
posição geográfica, suas fronteiras, etc. Já a geopolítica daria conta de formular
teorias e estratégias políticas para obtenção e manutenção de poder sobre o
território.
Com a concepção de geopolítica proposta pelo autor sueco, não era mais o
poder bélico ou a imponência territorial o que definia a hegemonia global das
nações, mas sim a articulação de diferentes aspectos físicos, econômicos e sociais.
Assim, a teoria de Kjéllen propõe a elucidação do cenário internacional de poder
entre os países no início do século (TEIXEIRA, 2020).
Além do hegemon histórico (os países denominados hegemons são aqueles
que exercem a hegemonia em um ou mais setores globalmente) Reino Unido, pela
sua expansão imperialista e pelo pioneirismo sobre a Revolução Industrial, o
surgimento de outras potências passou a ser observado, como a nação habitante
do território considerado o coração do mundo pelo autor inglês Halford Mackinder,
em sua teoria geoestratégica denominada Heartland — a União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS). Os soviéticos ainda realizaram um grande feito no
início do século, a II Revolução Industrial, baseada em um modelo de sociedade
horizontalizado, de economia planificada e centralidade de poderes no Estado.
(TEIXEIRA, 2020). Assim, o país socialista se alçou à condição de potência global
e influencioua organização estatal de vários países no mundo.
Além desses países, a França — berço da revolução burguesa que mudou a
lógica estrutural de poder intranacional, gênese do sistema político que tomaria
grande parte do mundo ao longo dos séculos XIX e XX, a democracia representativa
— aparece como uma das grandes economias do mundo e postulante a hegemon
global por influenciar fortemente as sociedades ocidentais ao justificar a existência
do Estado vinculando-o ao lema iluminista: liberdade, fraternidade e fraternidade.
(TEIXEIRA, 2020).
A Alemanha, desde a Primeira Guerra Mundial, teve seus planos
expansionistas pautados nas teorias da geografia política de Ratzel e de seu
47
“espaço vital”; no entanto, após sua derrota na Primeira Guerra, Karl Haushofer,
general-geógrafo que teve importante papel nos ideais geopolíticos do país, passa
a estimular o instinto de fronteira perdido do povo alemão. De acordo com Martin
(1994, p. 42), “Interessado em criar um “lebensraum” (espaço vital) de dimensões
mundiais para a Alemanha, Haushofer radicalizará algumas das formulações de
Ratzel, sobretudo aquelas que concernem aos limites” (TEIXEIRA, 2020).
Em meio às intensas disputas pela hegemonia mundial, a primeira metade
do século XX foi marcada por grandes guerras protagonizadas pelas lideranças
europeias, asiáticas e os Estados Unidos da América (EUA). Ao final da Segunda
Grande Guerra, os EUA, economicamente fortalecidos, implementam o Plano
Marshall — como estratégia de financiar a reconstrução dos países europeus,
evitando a sua aproximação da URSS — e a Doutrina Truman — plano que
autorizava e estimulava o envio de tropas militares estadunidenses para qualquer
país do mundo que fosse considerado ameaçado pelos soviéticos. Essa corrida por
estreitar relações com outras nações entre o país capitalista e o país socialista foi a
tônica das décadas seguintes até o final do século XX (TEIXEIRA, 2020).
No período pós-guerra (anos 1945 a 1960), o mundo observava a corrida
pela hegemonia global entre EUA e URSS e a reconstrução do espaço europeu,
arrasado por anos de guerra. A tendência dessa reconstrução era uma nova lógica
de organização do espaço produtivo, descentralizando os polos científicos e
industriais, dando fluidez para o capital aplicado no território de maneira a chegar
em diferentes regiões dos países (TEIXEIRA, 2020).
No Brasil, as décadas pós-guerra seguiram essa tendência mundial, de certa
forma. Apesar de diferenças ideológicas, os governos dos presidentes eleitos Eurico
Gaspar Dutra e Getúlio Vargas — que se suicidou e deixou o poder para Juscelino
Kubitschek — acabaram assumindo uma postura comum de expansionismo
produtivo e uma certa descentralização das atividades. Adequar o cenário produtivo
nacional aos parâmetros da Revolução Industrial era necessário para se lançar ao
grupo de países hegemons, condição almejada pelo Brasil no período pós-guerra a
partir da relação com os EUA durante a Segunda Grande Guerra. Para executar
esse crescimento desconcentrado, foram lançados programas de desenvolvimento
regional pelo país, muitos deles liderados por empresas e bancos públicos criados
48
e/ou fortalecidos nesse período (TEIXEIRA, 2020).
Os anos de investimentos com dinheiro público e volumosos créditos
internacionais não eram vistos com simpatia pelo Fundo Monetário Internacional
(FMI) e pelo Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), braço
do Banco Mundial, que tinha como grande investidor e líder os EUA, que colocavam
em prática o Plano Marshall. A pressão desses órgãos internacionais era para que
o Brasil cortasse investimentos diretos em infraestrutura e no setor produtivo,
abrindo-se ao mercado internacional e a empresas estrangeiras. O período de
governo de Juscelino Kubitschek (1956–1961) teve turbulências quanto a esse
tema, levando o país a romper relações com o FMI em 1959 para que pudesse
seguir o seu plano desenvolvimentista (TEIXEIRA, 2020).
50
É importante considerar que, para respaldar as teorias trazidas pela DNS por
meio da ESG, houve um esforço por parte dos militares, disseminado para a
sociedade, de flexibilização do conceito de comunismo, haja vista que é o
anticomunismo o mote das suas ideias de segurança para as fronteiras e seu
interior. De maneira geral, todos os grupos intelectuais, religiosos e organizações
políticas de oposição ao regime militar passaram a ser caracterizados como
comunistas, criando assim representantes deste “inimigo comum” se
desenvolvendo dentro do próprio território, não havendo a necessidade de contato
com a URSS ou qualquer outro país de regime socialista para justificar políticas de
segurança para o território. Além disso, a construção de uma identidade nacionalista
foi profundamente associada à popular seleção brasileira de futebol e trabalhada
por meio da vinculação dos símbolos nacionais ao movimento pró-regime militar; as
campanhas publicitárias bradavam palavras de ordem, colocando os opositores
como apatrióticos (FERNANDES, 2003).
De acordo com a teoria adotada pela ditadura militar no Brasil, elaborada pelo
conselho de segurança estadunidense, o grande risco para a hegemonia dos países
ocidentais e seus valores estaria ligada a uma possível expansão do comunismo,
que se manifestaria por três possíveis formas de guerra (FERNANDES, 2003):
A lógica concebida pela DNS era de que o conflito com o “inimigo comunista”
era iminente, podendo variar conforme a forma de organização e os objetivos do
grupo opositor, mas sempre sendo identificado como uma “ameaça comunista”.
Nesse sentido, vários países da América Latina viveram períodos de ditaduras
militares que promoveram diversos conflitos políticos e populacionais na região.
51
Ditaduras militares na América Latina nos anos 1960 a 1970.
53
cartilha fundamental no Brasil, as relações intra e internacionais do país ficaram
completamente dependentes das determinações estadunidenses. Ao contrário do
que pregava o discurso militar nas propagandas e pronunciamentos à nação,
sempre com mensagens de exaltação ao nacionalismo, eram as estratégias norte-
americanas que acabavam por definir a política externa brasileira. Até mesmo a
organização interna do território nacional, em última análise, estava diretamente
vinculada às necessidades do mercado capitalista comandado pelos EUA, limitando
o Brasil à produção e à exportação de commodities. Essas decisões políticas
tiveram resultados econômicos que podem ser vistos ainda hoje, e um deles é o
endividamento do país (FERNANDES, 2003).
Em suma, o Brasil aderiu ao regime militar em 1964 com vistas a surfar na
onda de crescimento do capitalismo no mundo, assumindo posição contrária à
organização de uma sociedade socialista, vislumbrando figurar entre os hegemons
globais no tabuleiro da geopolítica do século XX. No entanto, a vinculação da
política interna e das relações internacionais com os interesses dos EUA acabou
por gerar um grande endividamento externo, aumentou as desigualdades com a
grande pressão demográfica nos centros urbanos, definiu e implantou a política
produtiva do país baseada na exportação de commodities e isolou as relações
diplomáticas do país em relação a países importantes no cenário internacional,
problemas que ficaram marcados no país para além de 1985, ano da reabertura
democrática no Brasil (FERNANDES, 2003).
54
11 AS POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS PARA A AMAZÔNIA
BBC.com
55
Há, hoje, portanto, dois movimentos internacionais: um em nível do sistema
financeiro, da informação, do domínio do poder efetivamente das
potências; e outro, uma tendência ao internacionalismo dosmovimentos
sociais. Todos os agentes sociais organizados, corporações, organizações
religiosas, movimento sociais etc., têm suas próprias territorialidades,
acima e abaixo da escala do Estado, suas próprias geopolíticas, e tendem
a se articular, configurando uma situação mundial bastante complexa.
56
entendia o Estado como um organismo vivo que precisa da ocupação de novos
espaços vitais, como é o caso da Amazônia. Sobre a importância geopolítica da
Amazônia, Amim (2015, documento on-line) destaca que:
Além do citado por Amin, há, ainda, a biodiversidade amazônica, que chama
a atenção de diversas nações ao redor do mundo, além de ONGs, empresas
farmacêuticas, entre outros. Um atrativo indiscutível da região Amazônica é a
disponibilidade de água e de recursos minerais, como ferro, manganês, nióbio, ouro,
níquel, diamante, etc., que a coloca no centro dos interesses geopolíticos e
econômicos globais. O extrativismo mineral e vegetal indiscriminado que acontece
na região põe em risco a manutenção de espécies, da fertilidade do solo e dos
recursos hídricos e chama a atenção para o descaso com as mudanças climáticas
em curso, bem como com a sobrevivência de comunidades tradicionais e
ribeirinhas, levantando um debate mundial sobre a importância da preservação
dessas áreas.
57
O tratado se forma especificamente após a Guerra Fria e ao final da Guerra
das Malvinas, em 1982 (disputa entre Inglaterra e Argentina que mostra a inserção
de países europeus que ainda mantêm territórios na América do Sul), devido à
necessidade dos países que se estabelecem no território do Atlântico Sul de exercer
uma governança que os beneficie, que proteja seus recursos energéticos e que
afaste a ingerência externa.
Com relação à ZOPACAS, Carvalho e Nunes (2014, p. 86) afirmam que:
58
12 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL
TodaMatéria.com
59
TodaMatéria.com
60
(2020), são: aumento populacional, industrialização das sociedades, ampliação da
divisão entre o campo e a cidade e êxodo rural. Assim, além de fatores como
industrialização e êxodo rural, o crescimento da população nas cidades brasileiras
também se deveu à evolução demográfica e a melhorias sanitárias.
62
Diferenças socioespaciais na taxa de urbanização no território brasileiro.
63
Taxa média de urbanização brasileira por unidades da federação na década de 2010.
Fonte: Brasil em Mapas (2020a, documento on-line).
64
Cidades brasileiros com elevados índices populacionais. Fonte: Brasil em Mapas (2020b,
documento on-line).
65
Portanto, o reconhecimento do processo de urbanização no Brasil e do
crescimento das cidades no país se dá a partir da compreensão das modificações
técnicas mediante fenômenos espaciais e econômicos, como a industrialização e o
êxodo rural. Assim, é preciso compreender que a urbanização e a industrialização
no país se deram de forma desigual, com concentração na região Sudeste. Acima
de tudo, as cidades são produzidas histórica e espacialmente por diferentes atores
que agem de modo contraditório, pois têm objetivos e poder de atuação
diferenciados em termos de localização e de temporalidade (SILVA, 2020).
66
Representação de problemas estruturais e espaciais de grandes cidades brasileiras,
como elevado tráfego e lotação em transportes coletivos como o metrô.
67
Atualmente, segundo Sposito (2008), a estruturação do espaço regional e do
espaço intraurbano das cidades é dominada pelo deslocamento de informações,
energia, capital e mercadorias e pelas condições de transporte humano. Para o
autor, no espaço intraurbano a questão de onde os produtos são produzidos e
consumidos e o papel das novas tecnologias de informação e de telecomunicação
são fundamentais na dinâmica interna das cidades.
A relação centro–periferia, com vantagem do centro sobre os bairros e
regiões periféricas, se perpetua no território urbano, decorrente da ação capitalista
de especulação imobiliária e elevação de preços de terrenos em locais centrais. Em
geral, há vantagens de transporte e serviços que favorecem a região central em
detrimento de regiões periféricas. As figuras a seguir ilustram distinções geográficas
urbanas entre regiões centrais e periféricas. Uma das figuras retrata o centro
financeiro dacidade de São Paulo, na região da Avenida Paulista. Já a outra exibe
o bairro periférico de Heliópolis, onde localiza-se a maior área de vulnerabilidade
social da cidade.
68
Diferenças socioespaciais urbanas da dinâmica centro–periferia na cidade de São Paulo.
Fonte: a) Sesc Avenida Paulista (2018, documento on-line); b) Paiva (2020, documento on-line).
69
As cidades são grandes porque há especulação e vice-versa; há
especulação porque há vazios e vice-versa; porque há vazios as cidades
são grandes. O modelo rodoviário urbano é fator de crescimento disperso
e de espraiamento da cidade. Havendo especulação, há criação mercantil
da escassez e acentua-se o problema do acesso à terra e à habitação.
Mas o déficit de residências também leva à especulação, e os dois juntos
conduzem à periferização da população mais pobre e, de novo, ao
aumento do tamanho urbano. As carências em serviços alimentam a
especulação, pela valorização diferencial das diversas frações do território
urbano. A organização dos transportes obedece a essa lógica e torna ainda
mais pobre os que devem viver longe dos centros, não apenas porque
devem pagar caro seus deslocamentos como porque os serviços e bens
são mais dispendiosos nas periferias. E isso fortalece os centros em
detrimento das periferias, um verdadeiro círculo vicioso (SANTOS, 1993, p.
96).
Por isso, são as atividades mais dinâmicas que se instalam nessas áreas
privilegiadas; quanto aos lugares de residência, a lógica é a mesma, com
as pessoas de maiores recursos buscando alojar-se onde lhes pareça mais
conveniente, segundo os cânones de cada época, o quetambém inclui a
moda. É desse modo que as diversas parcelas da cidade ganham ou
perdem valor ao longo do tempo (SANTOS, 1993 p. 96).
70
Desse modo, nas últimas décadas a urbanização vem se reconfigurando em
termos de estrutura e organização, prevalecendo as dinâmicas capitalistas, em que
a cidade é gerida em sua maioria pelo interesse econômico das classes dominantes
e pelos agentes do mercado, numa dinâmica da cidade como unidade de negócio.
Trata-se de uma inversão de valores, em que o valor de troca dos espaços urbanos
sobrepuja o valor de uso de tais espaços pela sociedade. A figura ilustra o
predomínio espacial da estrutura urbana corporativa em algumas das grandes
cidades brasileiras, nesse caso localidade de São Paulo capital (SANTOS, 1993).
71
Estrutura urbana da cidade corporativa de São Paulo. Fonte: Ponte Estaiada Octávio
Frias de Oliveira (2016, documento on-line).
72
Legitimada pela ideologia do crescimento, a prática da modernização cria
no território como um todo, em particular nas cidades, os equipamentos,
mas também as normas indispensáveis à operação racional vitoriosa
das grandes firmas em detrimento das empresasmenores e da população
como um todo (SANTOS, 1993, p. 104).
74
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