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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
DA EDUCAÇÃO BÁSICA – PARFOR

ENSINO DE GEOGRAFIA E HISTÓRIA

PARTE I

EPISTEMOLOGIA E GENEALOGIA DA GEOGRAFIA E DA HISTÓRIA

Prof. Mrs. Ledervan V. Cazé


EMENTA BÁSICA
Conhecer nos Parâmetros Curriculares Nacionais, BNCC e as competências necessárias à
aprendizagem e ao ensino da Geografia e da História como campos do conhecimento científico. A
história do pensamento geográfico. A geografia e a história como ciências e as tendências atuais de
estudos e pesquisas. A geografia e a questão ambiental. Espaço geográfico e funcionamento da
natureza em suas múltiplas relações e paisagens. Concepções e pluralidades nas abordagens da
Geografia e da História. Formação sócio histórica e espacial. Epistemologia da ciência histórica e suas
abordagens teóricas. Escolas do pensamento histórico. O tempo natural e o tempo histórico, memória e
temporalidades. Saber geográfico escolar e saber histórico escolar e os objetivos educacionais.

Bibliografia Básica:

COSTA, Fábio Rodrigues da; ROCHA, Márcio Mendes. Geografia: Conceitos e paradigmas –
apontamentos preliminares. Revista Geomae. V.1 N. 2, p 25-56, Jun-dez, 2010.

MALATIAN, Teresa. Um percurso historiográfico do conhecimento histórico.


Departamento de História da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. /Franca: UNESP,
2012.

1. GEOGRAFIA: CONTEÚDOS E METÓDOS

A Geografia é uma ciência corológica, ou seja, estuda as configurações e características


do espaço geográfico como um todo. Nesse sentido, faz uso de observação e reflexão acerca
das formas, funções, estruturas e processos que compõem a formulação e a gênese daquele
respectivo objeto. Assim, propõe uma leitura heterogênica sobre conceituações múltiplas de
determinado espaço; pontuando ainda este como paisagem, lugar, território, etc.
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Não obstante e a luz dos demais campos de saber, teve seu início na Grécia Antiga e
era chamada de História Natural ou Filosofia Natural. O ocidente era dominado por gregos
interessados em descobrir novos territórios, por isso a necessidade do conhecimento do
ambiente físico e até de fenômenos da natureza se fazia necessário. O Pai da Geografia, em
sua especulação sobre o formato da Terra, acabou escrevendo um obra de 17 volumes,
“Geographicae”. Nessa obra, Strabo descrevia suas próprias experiências no mundo e, apesar
de muitos equívocos registrados em seus estudos, ele se tornou o pai da Geografia.
Os grandes herdeiros da Geografia grega foram os árabes e isso resultou em muitos
trabalhos traduzidos do grego para o árabe. Os mouros recuperam e aprofundaram o estudo
da geografia e, já no século XII, Al-Idrisi apresentaria um sofisticado sistema de classificação
climática.
Em viagens à África e à Ásia, outro explorador árabe, Ibn Battuta, encontrou a evidência
concreta de que, ao contrário do que afirmara Aristóteles, as regiões quentes do mundo eram
perfeitamente habitáveis. E por fim, a confirmação do formato global da Terra veio quinze anos
mais tarde, em uma viagem de circunavegação realizada pelo navegador português Fernando
Magalhães, permitindo mais precisão das medidas e observações.
No século XIX, cientistas como Alexander Von Humboldt (1769-1859), Karl Ritter (1779-
1859) e Friedrich Ratzel (1844-1904) elaboraram trabalhos sobre os princípios metodológicos
da Geografia. Isso a tornou uma ciência explicativa e não mais apenas reduzida à tarefa da
descrição. Ratzel, no final do século XIX, considerou a influência exercida pelas condições
naturais na vida do ser humano como objeto de estudo da Geografia. A partir daí, originou-se o
“Determinismo Geográfico” que foi influenciado pelas teorias de Lamarck e de Darwin.
Através de sua obra “Antropogeografia”, Ratzel defende que as leis regedoras da
história humana são as mesmas que regem as espécies vegetais e animais. Conforme esse
autor, o homem é produto do meio geográfico em que vive e o meio natural exerce uma ação
dominadora sobre o homem, o qual deve se submeter àquele meio.
Indiretamente, o pensamento determinista geográfico acabou responsável por partes das
teorias de superioridade racial (eugenia) surgidas nos séculos XIX e XX e, também, serviu de
base para a expansão do capitalismo neocolonial nos séculos XVIII e XIX.
No século XX, a geografia passou a lidar com novos conceitos e métodos. No começo, a
geomorfologia foi o campo geográfico de maior atração, onde predominavam as teorias do
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americano William Morris Davis – que desenvolveu o conceito de ciclo de erosão e constituiu
uma nova geração de profissionais da Geografia.
O advento da fotografia aérea demonstrou ser um útil instrumento de trabalho, mas
ainda mais eficiente foi à tecnologia advinda do sensoriamento remoto, que resultou em novas
formas de análises. Podemos citar entre essas, a geografia da percepção, que admite que
qualquer indivíduo tenha sua própria visão sobre o meio em que vive e é mensurada através de
mudanças na economia, na sociedade, cultura e nas pessoas; a geografia radical, que tem
foco na observação analítica dos processos ocorridos na sociedade como a desigualdade,
o subdesenvolvimento e a pobreza; e a geografia de gênero, que foi criada na década de
80 no Reino Unido e nos Estados Unidos e tem uma pequena ligação com o movimento
feminista, analisando as relações entre homens e mulheres em cada área geográfica e a
função da mulher na sociedade. As metodologias de trabalho da Geografia tiveram evolução
rápida nas recentes décadas graças aos avanços da computação e ao uso de sistemas de
análise remota da superfície da Terra.

1.1 PARADIGMAS DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA

1.1.1 Determinismo Ambiental


Foi o primeiro paradigma a caracterizar a geografia que emerge no final do século XIX,
na Alemanha. Principal representante: Friedrich Ratzel. Concepções defendidas: As condições
naturais determinam o comportamento do homem, interferindo na sua capacidade de progredir.
Ratzel cria conceitos como: espaço vital, região natural, fator geográfico e condição geográfica.

1.1.2 Possibilismo

Surge ao fim do século XIX, na França. Principal representante: Paul Vidal de La Blache.
Concepções defendidas: Procurou abolir qualquer forma de determinação, adotando a ideia de
que a ação humana é marcada pela contingência. A natureza é considerada como fornecedora
de possibilidades para que o homem a modificasse.

1.1.3 Método Regional


Vem contrário ao Possibilismo e ao Determinismo. Nele, a diferenciação de áreas é vista
através da integração de fenômenos heterogêneos em uma dada porção da superfície da
Terra. Focalizando assim o estudo de áreas e atribuindo à diferenciação como objeto de
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geografia. A partir dos anos 40 essa corrente ganha importância com raízes em Alfred Hettner
e Hartshorne.

1.1.4 Nova geografia

Surge após a 2.a Guerra Mundial com o objetivo de justificar a expansão capitalista,
assim como dar esperanças aos “deserdados da terra”. Concepções defendidas: utilização do
método positivista lógico (Neopositivismo), utilizando-se para isso de técnicas estatísticas.

1.1.5 Geografia Crítica

Surge após a década de 1970 em oposição ás correntes anteriores, com intenção de


participar de um processo de transformação da sociedade. Esse paradigma repensa a questão
da organização espacial, herdada basicamente da nova geografia. Trata-se, no caso, de ir
além da descrição de padrões espaciais, procurando-se ver as relações dialéticas entre formas
espaciais e os processos históricos que modelam os grupos sociais.

2. HISTÓRIA: CONTEÚDOS E MÉTODOS.

Como tal, a História é uma experiência viva dos homens no tempo. É a própria
existência que é tecida nas relações que os seres humanos propõem entre si ou entre eles e a
natureza. Como campo de pesquisa, a História é a ferramenta de trabalho do historiador que
desnaturaliza o tempo e propõe uma sistematização possível das distintas temporalidades
experimentadas.

Diversas maneiras de conceber a História e o seu ensino sucederam-se e


conviveram desde a Antiguidade, quando Heródoto, célebre viajante grego
do século V a.C., lançou as bases desse conhecimento ao procurar separar
mitos de fatos “reais” nas narrativas sobre o passado, embora admitisse que
a atuação dos homens estivesse sujeita à interferência dos deuses e do
destino (MALATIAN, 2012, p. 01)

Inspirada no Positivismo comtiano, a História irrompe o século XIX tentando desvendar


princípios gerais que produziram as transformações sociais daquele momento e, tal qual “[...] à
nascente Sociologia, cabia à História procurar resgatar a verdade objetiva, imparcial e neutra
sobre o passado, utilizando para isso as provas documentais deixadas pelos nossos
antecessores [...]” (MALATIAN, 2012, p. 02).
Nos seus momentos iniciais e preocupada em entender as leis do presente a partir dos
acontecimentos do passado, a História (historiografia científica) pautou sua metodologia na
análise de registros documentais, sobretudo aqueles oficiais, como arquivos de uma memória
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incontestável. Destarte e uma vez aprovadas em matéria de confiabilidade, as chamadas


fontes históricas eram estudadas pelo historiador no sentido do resgate de informações sobre o
passado “[...] como realmente aconteceu [...]” (Leopold von Ranke).

2.1 A ESCOLA METÓDICA (Positivo Frances)

“Nosso século é século da história” (Gabriel Monod; 1844-1912)

De forma geral, a metodologia aplicada a essa escola produziu um longo paradigma


científico para a ciência histórica e consistia no comprometimento do historiador com uma
narrativa singular e supostamente neutra, onde se reuniriam os eventos estudados (sem
repetição) em linearidade, alinhados cronologicamente e protagonizados por indivíduos de
destaque, como heróis e “grandes homens” reconhecidamente destacados. A frase que
definiria este tipo de História poderia ser: “[...] o indivíduo em ação no tempo que passa
rapidamente [...]”.
Para se estabelecer como tradição cientificista a História Metódica estabeleceu:
[...] um método baseado na concepção da História como ciência positiva,
conhecimento fundamentado em documentos a serem criticamente
analisados para que, do crivo da crítica, surgisse a verdade sob a forma de
fato histórico. A história metódica permaneceu ocupada com o relato do
único, singular, particular, baseado na crítica das fontes e na erudição
amparada pelo método crítico das fontes (MALATIAN, 2012, p.03).

Assim, essa escola de pensamento histórico perdurou por bastante tempo,


sistematizando seu campo de estudo (Introdução aos estudos históricos – 1898; Charles Victor
Langlois e Charles Seignobos) e figurando como uma historiografia respeitada e aceita por boa
parte da comunidade cientifica de então.
Todavia e no mesmo recorte temporal, a História vai ganhar notoriedade a partir de karl
Marx que traz para essa ciência uma perspectiva materialista, processual e dialética;
percebendo as transformações sociais como impulsos históricos da luta de classe. Nesse
momento e ainda que de forma incipiente, rompe-se com uma história unilateral e
marcadamente elitizada. O desenvolvimento histórico passa a ser analisado a partir das
contradições das lutas de classe e das relações de produção que despontavam da revolução
industrial.
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2.2 HISTÓRIA CRÍTICA (Marxismo alemão):

Orientados pelos estudos sociológicos de então e vinculados a um ruptura filosófica de


sua epistemologia, o então método derivado da teoria histórica conduz a análise para uma
leitura da sociedade em termos dos modos de produção, com o objetivo de alcançar uma
interpretação ampliada (aspectos econômico, social, político, cultural e ideológico) dos eventos
históricos.
Nesse momento, o paradigma histórico passou a questionar a verdade de então e
atribui-la a partir de subjetividade e relativismo. O que também sérvio de ponte para repensar o
papel cientifico do historiador. Sobre a questão Marrou (1975, p. 197) chegou a conceituar a
História como “[...] a aventura espiritual na qual a personalidade do historiador se engaja por
inteiro [...]”. Em outros termos, a ciência historiográfica já não gozava de tanta neutralidade.
De forma ampla, admitia-se que a história era produzida por homens e também era lida
e interpretada por eles a partir das suas mais distintas singularidades. Contudo e sem abrir
mão da análise documental (credibilidade científica), o trabalho do historiador passou a
perceber a importância da explicação histórica (Marc Bloch). Dito de outra forma, a História
passou a analisar um conjunto macro de eventos (temporalidades de longa duração) e não
apenas as ações individuais isoladamente (temporalidades de curta duração), mas a partir de
cadeias de fenômenos semelhantes estudados a partir das muitas categorias de análise que
poderiam aferir condicionamento a esse movimento. A historiografia cientifica passou a analisar
o Fato Social (o tempo entendido a partir de um paradigma societário) e do sujeito coletivo
(classes e grupos sociais).
A História abriu-se, então, para um tempo social no qual novas categorias,
tomadas de empréstimo à linguística, antropologia, economia, demografia,
sociologia e geografia, passaram a ser utilizadas permitindo a compreensão,
na dimensão temporal, dos conceitos de estrutura, tendência, ciclo,
crescimento, crise etc. (MALATIAN, 2012, p. 05).

Prosseguindo e nesse momento de sua genealogia, a ciência histórica passou a se


apoderar das relações de sociabilidade que pairavam desapercebidas no cotidiano das
pessoas comuns e ensejavam crenças, comportamentos, cultura e todo um arsenal de novas
possibilidades científicas. Em suma, sede-se lugar a historiografia cultural e a Escola de
Annales.

2.3 HISTÓRIA NOVA (Escola de Annales)


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Essa abordagem histórica incorpora elementos da Antropologia e da Sociologia que se


ocupam das representações do mundo social como componentes da realidade da busca de um
entendimento acerca dos “bens culturais”. Nessa perspectiva, cabe ao historiador identificar
como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída,
pensada, e gera uma dada leitura do mundo.
Dito de forma simples, a História passou a analisar os eventos do tempo a partir dos
muitos campos de representação em que envolviam as coletividades que participavam dessas
temporalidades. Nesse sentido, a História passou a ocupa-se das práticas sociais entendidas
como comportamentos transmitidos historicamente e que configuram modos de viver.
QUADRO 02: RESUMO DAS CORRENTES HISTORIOGRÁFICAS

POSITIVISMO Explica a história através dos fatos, datas e


personagens históricos considerados importantes.
Funciona a partir de narrativas e baseia-se na suposta
neutralidade do Historiador.

MARXISMO Explica a história através dos processos materiais do


embate nunca efêmero entre as classes sociais e os
modos de produção.

ESCOLA DE ANNALES Explica a história através de uma análise do cotidiano,


das relações menores que são produzidas pelo povo.

Fonte: elaboração pessoal, com base na bibliografia.

2.4 CONCEPÇOES DE TEMPO.


2.4.1 Tempo Natural: “tempo da natureza”

2.4.2 Tempo Histórico: “Conjunto das características sociais de uma coletividade em um


determinado período”.

2.4.3 Tempo Cronológico: “Contagem do tempo em períodos (sistematização)”.

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