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GEOGRAFIA
APRESENTAÇÃO
Professora Esp. Karitta da Silva Lopes
Ampla experiência como docente na rede pública de Ensino Básico do Estado do Paraná,
atuando em instituições como o Colégio Estadual João de Faria Pioli, Colégio Estadual
Silvio Magalhães Barros, Instituto de Educação Estadual de Maringá, Colégio Estadual
Antônio Francisco Lisboa e Colégio Estadual Jardim Independência, estes dois últimos,
localizados no município de Sarandi-PR.
APRESENTAÇÃO DA APOSTILA
Olá, seja muito bem vinda(o) à disciplina “Categorias e conceitos da Geografia”!
CONCEITOS DA GEOGRAFIA
Professora Esp. Karitta da Silva Lopes
Plano de Estudo:
Objetivos de Aprendizagem:
Bons estudos!
1 A GEOGRAFIA AO LONGO DA HISTÓRIA
https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/homo-vitruviano-vitruvian-man-
leonardos-detailed-602705321
Desta forma, foi a partir do século XIX que a ciência geográfica inicia os primeiros
passos na sistematização de um método por meio dos estudos dos intelectuais alemães
Carl Ritter (1779 - 1859) e Alexander Von Humboldt (1759 - 1859), que no mesmo
período histórico, dedicaram-se a estudar as interações entre o homem e a natureza.
Portanto, podemos afirmar que Humboldt e Ritter, são os percursores da geografia
sistematizada e de metodologias para se pensar tal ciência.
Por outro lado, Alexander von Humboldt buscou formular teorias sobre a Terra a
partir do empirismo racionado e do método intuitivo, isto é, a compreensão dos
conhecimentos relativos a terra se dará a partir da observação como suporte para a prática
e assimilação direta da realidade para além da razão.
Durante suas expedições, o autor observou que as características da flora e da
fauna de uma região estão estreitamente relacionadas com as condições climáticas,
latitudes e tipo de relevo existentes nesse ambiente. A partir dessa elaboração analítica,
Humboldt desenvolveu o conceito de “meio ambiente geográfico”, sendo reconhecido
como percursor da Geografia Física.
As respostas encontradas por Ritter e Humboldt para os impasses de sua época
e suas formas de pensar a Geografia podem não ser adequadas às nossas pretensões
atuais, mas entendê-los é fundamental para que possamos revisar nosso passado
encontrando elementos que possam auxiliar as respostas que buscamos dar em nosso
próprio tempo.
Ao longo do presente tópico, buscamos apresentar os primeiros passos da
sistematização da ciência geográfica como uma importante ferramenta de compreensão
da realidade, cuja formulação e desenvolvimento teórico-metodológico vem a contribuir
para que a humanidade possa entender a natureza e sua relação com ela, que pode vir a
ser, tanto saudável e respeitosa, quanto nefasta e destrutiva.
2 AS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO
Prezada (o) Aluna (o), estudamos no tópico anterior que as contribuições de Carl
Ritter e Alexandre Von Humboldt, asseguraram caminhos abertos para as discussões
teóricas acerca do pensamento geográfico, formulada por levantamentos experimentais
e contagens esgotantes sobre distintos lugares da Terra. Vimos, também, a importância
dos processos de sistematização do saber geográfico, de forma particular e autônoma,
para que o mesmo fosse considerado uma ciência específica e com métodos próprios.
Tendo em vista o conteúdo trabalhado anteriormente, neste tópico iremos dar
continuidade aos estudos referentes a Geografia enquanto ciência e campo investigativo,
focando nas correntes teóricas em que o pensamento geográfico foi construído,
metodizado e elaborado cientificamente, pois para compreendermos as epistemologias
da Geografia, precisamos conhecer o desenvolvimento das principais correntes que
surgiram após a sua legitimação enquanto ciência sistematizada.
Os primeiros princípios teóricos desenvolvidos para nortear as análises
geográficas, presente em estudos até os dias atuais, foram realizados nos processos de
sistematização metodológica que estudamos no tópico passado. Como afirma Antonio
Carlos Robert Moraes (1994), fazem parte desse repertório o conhecimento acerca da
extensão do planeta, o levantamento de informações a respeito da superfície terrestre,
o desenvolvimento de técnicas cartográficas e o surgimento das teorias raciais do
evolucionismo.
Tais princípios, foram os primeiros passos rumo a consolidação da ciência
geográfica, influenciando diretamente o surgimento de correntes teóricas cujo o objetivo
é o de pensar a ciência em destaque e de servir como aporte teórico para investigações
a respeito das problemáticas que envolvem a Geografia. Logo, as correntes do
pensamento geográfico, com suas especificidades analíticas, semelhanças e cisões,
podem ser identificadas em dois grandes grupos: a Tradicional, entendendo o
agrupamento das correntes que não dialogam com as questões sociais, mas estudam a
relação entre a humanidade e a natureza amparada na percepção da Geografia como
ciência descritiva e de observação dos fenômenos naturais, ou seja, positivista; e a
Moderna, que questiona o tradicionalismo e o positivismo amparando a Geografia como
ciência atenta às questões sociais e complexidades humanas.
Teoria formulada no século XIX pelo geógrafo alemão Friedrich Ratzel, que aponta
as influências que as condições naturais exercem sobre os seres humanos, a escola
determinista sustenta a ideia de que o meio natural determina o homem, nesse sentido,
os homens procurariam organizar o espaço para garantir a manutenção da vida.
Segundo Moraes (1994), para Ratzel “A perda de território seria a maior prova de
decadência de uma sociedade. Por outro lado, o progresso implicaria a necessidade de
aumentar o território, logo, de conquistar novas áreas (p. 19)”.
As análises de Ratzel estavam ligadas fortemente ao momento histórico que se
encontrava inserido, compreendendo o período de unificação da Alemanha no século
XIX. O expansionismo do império alemão, arquitetado pelo primeiro-ministro da Prússia
Otto Von Bismarck (1815-1898), foi legitimado pelas duas principais correntes do
pensamento Ratzeliano, o determinismo geográfico - que explicaria a superioridade de
algumas raças, nesse caso a alemã, que naturalmente se desenvolveriam mais do que
outras - e o espaço vital, que justificaria a conquista de novos territórios de formas
violentas para suprir a maior demanda de recursos para seu desenvolvimento, ou seja,
o expansionismo.
A escola possibilista teve origem na França com Paul Vidal De La Blache, teórico
que estava inserido no pensamento político dominante da sociedade francesa em um
momento em que a nação tornou-se uma grande soberania.
Por volta da década de 1950, com o fim da II Guerra Mundial (1939 e 1945) e a
expansão do sistema capitalista, as correntes do pensamento geográfico tradicional
foram questionadas, trazendo para as novas análises a defesa de fazer da Geografia
uma ciência humana e social. Sobre a estruturação de novas formas e sentidos para
pensar a disciplina nos anos seguintes, podemos apontar que
Nas ideias de Yves Lacoste (1988), o Estado possui uma visão estruturada do
espaço, pois tem o poder de agir sobre todos os lugares, exercendo mais uma ferramenta
de dominação. Logo, faz-se necessário construir uma visão integrada do espaço e da
sociedade a partir de interpretações que socializem este saber, pois possuem estratégias
fundamentais para momentos de disputas políticas e para uma organização social que
pense o espaço de forma justa com as necessidades humanas de sobrevivência, não
com ganâncias de consumo e esgotamento de terras, matérias-primas e recursos
naturais.
Cara (o) Aluna (o), nos tópicos anteriores estudamos os paradigmas que
marcaram a evolução do pensamento geográfico e a estruturação dos métodos que
fundamentaram cientificamente a Geografia ao longo dos séculos. Faz-se necessário
historicizar o processo de evolução do pensamento geográfico a fim de analisarmos e
entendermos os pressupostos da Geografia como ciência e sua relação com outras
áreas do conhecimento através do contexto histórico de sua produção.
No presente tópico, temos por objetivo dar continuidade aos estudos acerca da
Geografia como ciência de referência ao nos debruçarmos pelas tendências da
Geografia mundial e, em específico, da brasileira. Corroboramos que o processo de
desenvolvimento do pensamento geográfico, ocorrido desde a Grécia Antiga, possibilitou
o surgimento de vertentes teóricas das quais são imprescindíveis para compreendermos
a ciência geográfica atualmente. Logo, a História torna-se importante para pensarmos
nossos objetivos de estudo, pois nos auxilia a confluir passado e presente para que
possamos almejar direcionamentos à respeito da Geografia no futuro.
Há um consenso entre a comunidade científica que, atualmente, a Geografia é
considerada uma ciência interativa e sistêmica. Interativa pois proporciona uma relação
com diversos elementos presentes nos fenômenos estudados a partir de um caráter
multidisciplinar, dialogando com outros saberes científicos e áreas do conhecimento, à
exemplo da História (como já vimos anteriormente). Sistêmica devido à premissas
teóricas que definem o objeto de pesquisa ao conjugar métodos necessários para sua
formulação e identificar conexões complexas presentes no mundo globalizado.
Nas últimas décadas, a Geografia distanciou-se da preocupação em descrever
fenômenos e repassar informações decoradas e repetitivas, como exemplo, as capitais
dos países e estados, a quantidade populacional de um determinado lugar, a extensão
dos rios e etc. Por conseguinte, os estudos geográficos se fortaleceram por meio de
novas metodologias de análise, priorizando uma investigação sistêmica dos processos
demográficos, econômicos, urbanos, sociais que dêem ênfase ao desenvolvimento das
pesquisas a partir das necessidades da nova ordem mundial.
Desta forma, apesar de não ser um fenômeno atual, ou seja, um fenômeno que
tem uma longevidade histórica, as migrações humanas ganharam novos sentidos e
significados devido à globalização. É necessário pensarmos nos motivos que levam uma
quantidade significativa de pessoas a migrar do seu local de origem para uma análise
geográfica precisa, sem preconceitos ou reducionismos das populações migrantes, e que
interconecte as categorias de uma sociedade global.
Já no Brasil, as tendências da Geografia perpassam as preocupações acerca da
nossa realidade histórica e social, como por exemplo análises capazes de responder
questões referentes à estrutura fundiária e o agronegócio, à pobreza e desigualdade, à
segurança política e defesa, à ameaças globais e transnacionais, à matriz energética e
meio ambiente, ao minério e indústria extrativa, à riqueza genética e biodiversidade, à
população e diversidade social, étnica-racial e de gênero, entre outras. Tais temáticas
tornam-se relacionadas à posição do Brasil frente ao mundo globalizado, apresentando-
se como novas linhas e tendências analíticas na pesquisa geográfica.
De acordo com Armen Mamigonian (1999), as tendências atuais da Geografia
aspiram dar resposta à crise da sociedade, da civilização e da própria disciplina. O autor
nos aponta que o desenvolvimento do modo de produção capitalista levou o Brasil a
mundialização da economia, fato que forçou uma redefinição dos espaços nacionais,
regionais e locais, seus papéis na divisão territorial e social do trabalho, intervenções
mais incisivas do Estado e novas tendências à concorrência internacional que
provocaram assimetrias na distribuição geográfica do nosso território.
Estimada (o) Aluna (o), no presente tópico temos por objetivo conhecer conceitos
fundamentais para a compreensão do espaço. A priori, devemos ter em vista que o
conceito de espaço se apresenta como uma das mais importantes categorias analíticas
para o estudo da Geografia. Tal estrutura conceitual é o início de inúmeras produções
científicas de autores que dedicaram seus estudos à conceituação de espaço geográfico
como uma categoria abrangente e democrática para as pesquisas referentes à ciência
geográfica.
Iniciaremos nossas análises acerca da categoria de espaço por meio da obra A
natureza do espaço (1996) do geógrafo brasileiro Milton Santos, onde propõe que o
espaço é “formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de
sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o
quadro único no qual a história se dá” (p. 63). Para o autor, a natureza é o início, ela
provê a matéria-prima as quais são transformadas em objetos pela ação humana através
da técnica, isto é, “a principal forma de relação entre o homem e a natureza”, definida
como “um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua
vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço” (1996, p. 29).
Desta forma, para a ciência geográfica, o espaço pode ser conceituado como a
parte da superfície da Terra onde ocorrem as interações entre o ser humano e o ambiente
natural, ou seja, o espaço geográfico é interpretado e dinamizado a partir de ações e
práticas humanas, que por sua vez, são impulsionadas pela natureza, se dando em uma
relação recíproca de influências.
Milton Santos (1996) nos oferece argumentos críticos para compreendermos que
apesar de recíproca, essa relação se dá, muitas vezes, por meio de extremas assimetrias
e desigualdades ao elaborar que
No princípio, tudo eram coisas, enquanto hoje tudo tende a ser objeto, já
que as próprias coisas, dádivas da natureza, quando utilizadas pelos
homens a partir de um conjunto de intenções sociais, passam, também,
a ser objetos (SANTOS, 1996, p. 65).
SAIBA MAIS
Você sabia que o Geógrafo Brasileiro Milton Santos, é um dos intelectuais mais
premiados da América Latina? Recebeu em 1994 o Prêmio Internacional Vautrin Lud,
correspondente ao Nobel da Geografia. Pela primeira vez na história desse prêmio, ele
era outorgado a um geógrafo que não era nem francês nem norte-americano. Para mais
informações a respeito do professor Milton Santos, consulte o site oficial do mesmo,
administrado por sua família.
REFLITA
‘’O geógrafo é, antes de tudo, um filósofo, e os filósofos são otimistas, porque diante
deles está a infinidade’’. Milton Santos.
Prezada (o) Aluna (o) Vimos no Tópico 1 que as contribuições de Carl Ritter e
Alexandre Von Humboldt, asseguraram caminhos abertos para as discussões teóricas
acerca do pensamento geográfico, formulada por levantamentos experimentais e
contagens esgotantes sobre distintos lugares da Terra. Vimos, também, a importância
dos processos de sistematização do saber geográfico, de forma particular e autônoma,
para que o mesmo fosse considerado uma ciência específica e com métodos próprios.
Buscamos apresentar os primeiros passos da sistematização da ciência geográfica como
uma importante ferramenta de compreensão da realidade, cuja formulação e
desenvolvimento teórico-metodológico vem a contribuir para que a humanidade possa
entender a natureza e sua relação com ela, que pode vir a ser, tanto saudável e
respeitosa, quanto nefasta e destrutiva.
No tópico 2 demos continuidade aos estudos referentes a Geografia enquanto
ciência e campo investigativo, focando nas correntes teóricas em que o pensamento
geográfico foi construído, metodizado e elaborado cientificamente, pois para
compreendermos as epistemologias da Geografia, conhecemos o desenvolvimento das
principais correntes que surgiram após a sua legitimação enquanto ciência
sistematizada. Vimos que o pensamento crítico na Geografia significou principalmente
uma aproximação com os movimentos sociais, na busca da ampliação dos direitos civis
e humanos, expressa pelo acesso à educação gratuita e de qualidade, à moradia, à terra,
combate à pobreza e à violência ambiental, como o desmatamento, poluição, extinção
de organismos vivos pertencentes a fauna e a flora, entre outras temáticas.
Em seguida no Tópico 3 seguimos refletindo acerca da Geografia como ciência
de referência ao nos debruçarmos pelas tendências da Geografia mundial e, em
específico, da brasileira. Entendemos que o processo de desenvolvimento do
pensamento geográfico, ocorrido desde a Grécia Antiga, possibilitou o surgimento de
vertentes teóricas das quais são imprescindíveis para compreendermos a ciência
geográfica atualmente. Logo, a História tornou-se importante para pensarmos nos
nossos objetivos de estudo, pois nos auxilia a confluir passado e presente para que
possamos almejar direcionamentos à respeito da Geografia no futuro.
E por fim no tópico 4 conhecemos os conceitos fundamentais para a compreensão
do espaço, tendo em vista que o conceito de espaço se apresenta como uma das mais
importantes categorias analíticas para o estudo da Geografia. Tal estrutura conceitual é
o início de inúmeras produções científicas de autores que dedicaram seus estudos à
conceituação de espaço geográfico como uma categoria abrangente e democrática para
as pesquisas referentes à ciência geográfica. Compreendemos que as correntes do
pensamento geográfico representam conceitos e categorias antagônicas que, apesar de
convergirem ou se completarem em alguns aspectos teórico-metodológicos, tiveram sua
emergência em um determinado espaço e tempo a partir de uma elaboração sócio-
histórica específica.
Desejo que o estudo dessa unidade seja de grande valia para sua jornada nessa
disciplina.
Bons estudos!
LEITURA COMPLEMENTAR
SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula. (Orgs.) Epistemologias do Sul. São
Paulo; Editora Cortez. 2010. 637 páginas.
O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos vem desde o início dos anos
noventa produzindo trabalhos significativos de análise sobre a estrutura e construção do
conhecimento moderno. Podemos afirmar que inventariando as diversas raízes que
organizaram e ainda sustentam as bases do conhecimento ocidental como culturalmente
homogêneo, vem instigando a comunidade científica a debater sobre a eficácia da
ciência na construção da realidade imediata das pessoas normais. O livro em questão,
“Epistemologias do Sul” é um desdobramento desta jornada intelectual e uma busca de
novas referências epistêmicas das ciências humanas.
LIVRO
• Título: Por uma Geografia Nova- Da Crítica da Geografia a uma Geografia Crítica
• Autor: Milton Santos
• Editora: Edusp
• Sinopse: Há cerca de vinte anos, quando foi publicada a primeira edição de Por Uma
Geografia Nova, a geografia vivia uma crise interna no mundo todo, impondo à ciência
a necessidade de discussões de ordem metodológica, conceitual e epistemológica. A
publicação deste livro contribuiu para a renovação crítica da geografia: A verdade,
porém, é que tudo está sujeito à lei do movimento e da renovação, inclusive as
ciências. O novo não se inventa, descobre-se , propõe o autor na introdução deste que
se tornou um livro clássico desde então. Milton Santos contribuiu com esta obra para a
superação dos impasses que se apresentavam, propondo uma análise acurada do
objeto da ciência: o espaço, mostrando a necessidade de torná-lo verdadeiramente
humano, relacionando-o com outras disciplinas afins.
FILME/VÍDEO
CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do mundo. São Paulo: FFLCH, 2007.
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e Organização Espacial. São Paulo: Editora Ática,
2003. 7ª ed. Série Princípios.
LACOSTE, Yves. A geografia – isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra.
Campinas: Papirus, 1988.
MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. 20. ed. São
Paulo: Anablume, 1994. Disponível em:
http://files.geografia19.webnode.com/200000003-
02b9b04359/Antonio_Carlos_Robert_Moraes_-_Geografia_-
_Pequena_Histori%20a_Critica_TEXTO_1_DE_FTP_GEOG_3%C2%BA_ANO_MARCI
ANA_(3).pdf. Acesso em: 21/02/2021.
Plano de Estudo:
Objetivos de Aprendizagem:
Bons estudos!
A partir de então a natureza tem sido cada vez mais transformada de suas
condições naturais, pois através de suas ações humanas é que florestas são derrubadas
para plantar lavouras, morros deslocados para abrir túneis e enseadas niveladas para
construir cidades.
A ação humana nesse processo, exige cada vez mais conhecimentos sobre os
elementos que compõem a natureza e suas dinâmicas de funcionamento, nutrindo a
ideia de domínio do homem sobre a natureza. Atualmente esse ponto de vista é
legitimado por grande parte da humanidade, pois prevalece em nós a ideia de que
homem e natureza são opostos um do outro, onde o homem detentor de inteligência,
domina a natureza para retirar dela tudo o que necessita para sobrevivência, e a
natureza, por sua vez, é reduzida como despretensiosa e inesgotável fonte de recursos
naturais.
De acordo com Igor Moreira (2004), podemos definir o conceito de recursos
naturais como:
[...] todos os bens oferecidos ao homem pela natureza. Eles podem ser
dois tipos: renováveis e não renováveis. Os recursos naturais não
renováveis são aqueles que se esgotam depois de aproveitados pelo
homem, como o carvão, o petróleo, o ferro e os demais minerais. Os
recursos naturais renováveis são aqueles que se multiplicam ou não se
esgotam facilmente, como a água, o ar e o solo, chamados pela sua
importância de recursos básicos (MOREIRA, 2004, p. 11).
FOTO
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/hydroelectric-power-plant-on-river-
475746370
O Rio Doce, que nós os Krenak, chamamos de Watu, nosso avô, é uma
pessoa, não um recurso, como dizem os economistas. Ele não é algo de
que alguém possa se apropriar; é uma parte da nossa construção como
coletivo que habita um lugar específico (KRENAK, 2020, p. 40).
2.1 Mineração
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/mariana-oct-30th-2016-aerial-bento-519258250
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/mineral-tailings-mud-after-dam-rupture-1564968175
2.2 Desflorestamento
1
Fonte: https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/04/25/brasil-liderou-desmatamento-de-florestas-
primarias-no-mundo-em-2018-mostra-relatorio.ghtml.
soja), extrativismo vegetal e mineral (principalmente a extração de madeira), processo
de urbanização massiva, densidade populacional e atividades ilegais que envolvem
queimadas criminosas e exploração de áreas de preservação ambiental para fins
pessoais e comerciais, como para a especulação fundiária.
Os biomas brasileiros mais atingidos pelo desflorestamento em curso são a
Amazônia, a Mata Atlântica e o Cerrado.
2.2.1 A Amazônia
Figura 6: a Mata Atlântica é o bioma que mais perdeu floresta no país até hoje
2
Fonte: https://www.sosma.org.br/politicas/lei-da-mata-atlantica/
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/aerial-view-deforestation-rainforest-being-removed-
1274894119
2.2.3 O Cerrado
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/cerrado-area-eucalyptus-plantes-forests-burned-
1859854453
3
Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2020/09/15/avanco-do-desmatamento-cerrado-tem-mais-de-21-
mil-focos-de-queimadas
http://cerrado.obt.inpe.br/
3. IMPACTO DA NATUREZA SOBRE A SOCIEDADE
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/guaruja-sp-brazil-march-3-2020-1664766649
FOTO
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/sao-paulo-brazil-august-24-2016-473335363
Você sabia que atualmente existem no Brasil cerca de 695 parques eólicos que
contribuem para a redução da emissão de 22.900.000 de toneladas de Co2 por ano? Em
referência à relatórios da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) 4, o total
de emissões de Co2 evitadas no Brasil no ano de 2019, corresponde a emissão anual
de cerca de 21,7 milhões de automóveis.
O Co2, conhecido popularmente como gás carbônico, é resultado da queima de
combustíveis fósseis. O gás é um dos principais responsáveis pela ocorrência do efeito
estufa, fenômeno que resulta no aumento do buraco na camada de ozônio, filtro que
bloqueia a entrada direta de raios solares na atmosfera terrestre e que se configura como
uma das causas do aquecimento global.
A energia produzida pelos ventos é renovável, ou seja, ela não polui, possui baixo
impacto ambiental e contribui para que o Brasil cumpra com seus objetivos no acordo de
Paris, última convenção internacional sobre o clima Global, realizada pela Organização
das Nações Unidas sobre mudanças climáticas (COP21), composta por 196 nações e
que determinou diretrizes para o combate das alterações climáticas e do aquecimento
terrestre.
De acordo com dados da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica)5, em
2019 a fonte eólica correspondeu a 9,1% da matriz energética nacional, ficando atrás
apenas da principal matriz energética utilizada no Brasil, isto é, a fonte de energia
hidrelétrica.
Logo, a energia eólica torna-se um importante instrumento para a modernização
do setor elétrico ao aproveitar os bons ventos do Brasil e transformá-los em energia,
contribuindo assim, para o desenvolvimento nacional que objetive uma relação
sustentável do Estado e da sociedade com o meio ambiente.
#SAIBA MAIS#
4
Fonte: http://abeeolica.org.br/wp-content/uploads/2020/06/PT_Boletim-Anual-de-
Gera%C3%A7%C3%A3o-2019.pdf.
5
Fonte: https://www.aneel.gov.br/sustentabilidade.
REFLITA
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. 2ª edição. São Paulo: Companhia
das Letras, 2020.
MOREIRA, Igor. O Espaço Geográfico: geografia geral e do Brasil. 47ª edição. São
Paulo: Editora Ática, 2004.
SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova: Da Crítica da Geografia a uma Geografia
Crítica. São Paulo: Hucitec/Edusp, 1978.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço – Técnica e tempo. Razão e emoção. São
Paulo: Hucitec, 1996.
SOUSA, Victor Pereira de. Geografia e Meio Ambiente: reflexões acerca das práticas
socioculturais na concepção de sustentabilidade. Diversidade e Gestão. 1(2): 178-
188. 2017. Disponível em: http://www.itr.ufrrj.br/diversidadeegestao/wp-
content/uploads/2016/12/13.pdf. Acesso: 10/03/2021.
UNIDADE III
Plano de Estudo:
• Divisões da Geografia.
• Geografia e Interdisciplinaridade
• Geografia Crítica.
• Ramos da Geografia.
Objetivos de Aprendizagem:
Bons estudos!
1 DIVISÕES DA GEOGRAFIA
Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/young-male-geography-
teacher-front-whiteboard-1706174938.
Como vimos na unidade anterior, a partir dos anos 70, a comunidade científica se
reuniu na conferência de Estocolmo com o intuito de discutir os graves problemas
ambientais resultantes da apropriação desenfreada dos elementos naturais
intensificados de forma predatória pelo sistema de produção capitalista. Diante dos
problemas ambientais como o aquecimento global, agravado pela destruição da camada
de ozônio, assim como a poluição dos solo, ar, rios e oceanos, os teóricos da Geografia
Física começaram reconhecer a necessidade, cada vez mais emergente, de interpretar
o modo de produção capitalista e sua organização social para compreender seus
impactos na natureza.
Vemos aí o que pode ser o início de um melhor caminho a ser percorrido pela
ciência geográfica, trazendo análises complexas de como a sociedade se relaciona com
a natureza a partir da compreensão da dinâmica interna e específica de seus elementos.
Podemos afirmar também que a dicotomia Geografia Humana x Geografia Física
enfraquece o campo de trabalho dos geógrafos, pois ao negar qualquer uma delas, os
profissionais da Geografia acabam por limitar seu campo de trabalho, deixando de
ocupar lugares em uma sociedade que apresenta um mercado de trabalho cada vez mais
voltado à competitividade, pois debilita a possibilidade mais importante dessa ciência, a
de fazer análises sintéticas e globalizadas da realidade, não alcançada por cientistas de
outras áreas, como indica Sergio Henrique Pinto Silva (2007):
Segundo Milton Santos em Por uma Geografia Nova (2012) a Geografia pode
auxiliar no desenvolvimento de conceitos e fenômenos estudados por outras disciplinas
e vice e versa, o autor trata do exemplo da economia neoclássica, que estuda a relação
entre humanidade e meio geográfico e, com isso, bebe da fonte dos estudos acerca da
Geografia.
Outro exemplo citado pelo autor, é o do famoso historiador francês Marc Bloch,
que defendeu a interdisciplinaridade ao compreender que o sociólogo Émile Durkheim e
o geógrafo Vidal de La Blache “[...] deixaram sobre os estudos históricos do princípio do
século XX uma marca incomparavelmente mais profunda que a de qualquer outro
historiador” (BLOCH, 1974, p. 166 apud. SANTOS, 2012, p. 130).
Desta forma, Milton Santos (2012), um dos mais significativos expoentes da
geografia brasileira, afirma que a premissa da interdisciplinaridade não se restringe
somente à ciência geográfica, tornando-se assim, geral à outras ciências também, ou
seja, “[...] toda ciência se desenvolve nas fronteiras de outras disciplinas e com elas se
integra em uma filosofia. A geografia, a sociologia, a economia, são interpretações
complementares da realidade humana” (BOUDEVILLE, 1945, p. 75 apud SANTOS,
2012, p. 131).
A partir dos pensamentos trazidos à luz, podemos compreender que a
interdisciplinaridade se encontra no horizonte de todas as disciplinas, pois contribui para
a ampliação e aprimoramento de interpretações de múltiplos fenômenos, se constituindo
como:
Cara (o) aluna (o), vimos nos tópicos anteriores as divisões presentes no interior
da Geografia, que evidenciaram a grande dicotomia entre a Geografia Humana e a
Geografia Física, como também, os conhecimentos interdisciplinares que atravessam a
construção do conhecimento geográfico. Estudaremos agora, a formação da abordagem
crítica da Geografia, que se desenvolveu especialmente no Brasil com uma notável
importância para a produção teórica na atualidade.
A abordagem crítica pode ser entendida como um movimento de renovação
teórica e metodológica do pensamento geográfico, colocando-se como “[...] uma
revolução que procura romper, de um lado, com a geografia tradicional e, de outro, com
a geografia teorético-quantitativa” (CORRÊA, 2001, p. 23). A sua base epistemológica
está fundamentada pelo materialismo histórico dialético, proposto por Karl Marx, pois
busca refletir sobre as constantes transformações na organização espacial, influenciadas
diretamente pela acentuada urbanização, industrialização e avanço do capitalismo, que
não encontrava respostas nas outras correntes do pensamento geográfico como o
método regionalista, possibilista e determinista.
Grande parte dos autores da Geografia Crítica assumem uma postura
comprometida com as transformações sociais, utilizando o conhecimento para a
formação de uma sociedade mais justa e que sirva como ferramenta de libertação da
humanidade, assumindo um conteúdo fortemente político e militante e avaliando as
contradições intrínsecas ao sistema capitalista de produção.
Geomorfologia:
Estuda as origens e a evolução da estrutura e formas de relevos da Terra por meio
da natureza das rochas, pelo clima e por fatores endógenos e exógenos a fim de
identificar a formação dos elementos que compõem a superfície terrestre.
Tal ramificação é utilizada, também, para os estudos à respeito dos processos
morfogenéticos atuais com o objetivo de compreender os problemas ambientais em
vigência, oferecer subsídios técnicos para orientar a ocupação humana e auxiliar na
resolução dos danos provocados pelos desequilíbrios geoecológicos causados pela
ação humana.
Climatologia:
Pesquisa os climas, suas distribuições entre as diversas regiões terrestres e suas
variações, entre elas podemos citar: a chuva, o vento, a temperatura e outros elementos
climáticos mais raros, como o granizo, a neve e as geadas.
Pedologia:
É a ciência que estuda o solo em seus diversos aspectos morfológicos, de
formação (gênese) e de classificação, buscando identificar e mapear os solos
característicos de determinada região. Os estudos pedagógicos configuram-se como um
ramo de pesquisa desafiador, pois trata da constituição e distribuição espacial dos solos
na paisagem, com suas respectivas implicações sociais e ambientais.
O solo é um recurso natural de grande importância para a sobrevivência humana,
resultado de uma interação complexa de fatores, como o clima, a topografia e
organismos nele existentes. É o solo que permite o sustento das florestas, ruas e
construções, que filtra e armazena parte da água que bebemos, e que dá vida aos
alimentos de origem vegetal que se alimentamos e às plantas que purificam o ar,
produzindo parte do oxigênio que respiramos.
Desta forma, a pedologia é uma ciência primordial para corrigir a fertilidade natural
do solo, alterada pelo agronegócio, a pecuária e a mineração desenfreadas, neutralizar
sua acidez, observar teores de matéria orgânica, preservar contra a erosão e identificar
solos apropriados para cada cultura e/ou região,
Biogeografia:
Ramo da Geografia que estuda as paisagens biológicas e as formas de
distribuição geográfica dos seres vivos (animais e plantas) em diferentes contextos
históricos.
Hidrografia:
Fragmentação da Geografia que estuda os fenômenos relacionados aos recursos
hídricos existentes no planeta Terra, à exemplo dos rios, bacias hidrográficas, mares,
oceanos, lagos, entre outros, buscando compreender as origens e as formações da água
em diferentes regiões terrestres.
“A água da superfície terrestre deve ser concebida como um grande sistema de
circulação, que se considera sob diferentes pontos de vista, sob o da ordenação espacial,
da formação topográfica, do balanço hídrico, das relações físicas e químicas”
(HETTNER, 2012, p. 145). Logo, é a partir dos estudos hidrográficos que as relações
topográficas das águas, suas ordenações e o balanço hídrico de uma região são
compreendidas de forma sistemática.
Cartografia:
A cartografia é o ramo da Geografia que estuda e elabora a representação gráfica
da superfície terrestre, tendo como produto final desse processo investigativo, o mapa,
isto é, configura-se como a ciência responsável pela criação, estudo, difusão e utilização
dos mapas.
Devido à diversidade temática dos mapas, a cartografia é fundamental para o
ensino de Geografia nas escolas e instituições educacionais, tanto para a compreensão
do cotidiano quanto para o entendimento das regiões do planeta Terra.
De acordo com os nossos estudos durante esta unidade, podemos afirmar que a
Geografia é uma Ciência Humana, pois seu objeto de pesquisa é o espaço geográfico
produzido pela ação do ser humano, logo, é resultante das imbricações entre natureza e
sociedade. Por consequência, métodos integradores no interior da ciência geográfica,
que analisam fenômenos que contemplam os aspectos físicos e humanos, entendidos
como problemáticas do espaço geográfico, tornam-se caras para os estudos e o
pensamento geográfico.
Geografia da População:
É composta por investigações a respeito do crescimento/quantidade, composição,
migração e distribuição da população humana em relação às características espaço-
geográficas e aos contextos históricos, ou seja, estuda de que maneira e sob quais
condições o homem se transforma em população ao longo dos séculos e períodos
históricos.
[...] aos aspectos biológicos agregam-se a organização cultural, política,
econômica e territorial da sociedade, que repercutem, por exemplo, no
número de pessoas empregadas (população economicamente ativa), no
número de pessoas que se desloca de um lugar para o outro e nas razões
e consequências dessa mobilidade (migração), no número de pessoas
que nascem e morrem em um local (crescimento populacional) e no
número de pessoas que vivem em uma localidade e na forma como
ocupam esse espaço (distribuição populacional). A busca pela
compreensão dos fenômenos que geram essas diferenças, suas causas
e consequências conduz a análise da dinâmica populacional que, na
perspectiva da Geografia da População, é investigada a partir da
espacialização da organização populacional (DANTAS; MORAIS;
FERNANDES, 2011, p. 13).
Geografia Social:
Ramos da Geografia Humana que pesquisa os fenômenos sociais dos grupos
humanos e suas relações no interior do espaço geográfico. Ao encontrar-se intimamente
relacionada com a sociologia e teorias sociais diversas, a Geografia Social busca
compreender a relação do fenômeno social com as características e fatores espaciais
que o constituem.
Neste sentido, os principais objetos de estudo da Geografia Social são: a origem
dos povos, as religiões, os conflitos, os índices de evasão escolar e desenvolvimento
humano e social, as relações internacionais, as dinâmicas do mercado de trabalho e a
governança da população sobre o território.
Geografia Econômica:
Campo geográfico que estuda os modos de produção e a utilização e distribuição
de recursos, considerando as características do ordenamento, localização e organização
espacial das atividades econômicas e trabalhistas disponíveis em nosso corpo social.
A paisagem, o lugar e o território geográfico influenciam diretamente as atividades
econômicas e as demandas de mercado de determinada região e/ou país, logo, a
Geografia Econômica prioriza em suas produções a localização de indústrias e
empresas, as rotas comerciais e de transporte, o mapeamento de atividades comerciais
locais, nacionais e internacionais (tanto no atacado quanto no varejo) e as variações de
valor de mercados que tratam intimamente do espaço geográfico, à exemplo do mercado
imobiliário.
Geopolítica:
A Geopolítica é responsável por estudar e analisar a organização e distribuição
espacial dos fenômenos políticos, realizando interpretações históricas de
acontecimentos e episódios da atualidade em acordo com o desenvolvimento político
das nações e suas respectivas formações sociais e geográficas.
Você sabia que após o golpe militar de 1964, o professor e geógrafo Milton Santos
foi perseguido por sua produção intelectual, levando a ser exilado do Brasil por 13 anos?
Durante esse período, Milton Santos viveu grande parte da cidade de Paris, na França,
percorrendo outros países como: Tanzânia na África, Canadá e Estados Unidos na
América do Norte e Venezuela e Peru na América do Sul. A volta do exílio apresentou
um Milton Santos já amadurecido, que trouxe na bagagem a experiência de acompanhar
a formação da universidade de Dar-el-Salaam na Tanzânia e também da vivência norte-
americana, com universidades típicas do mundo anglo-saxão e, finalmente, com a
observação de problemas e fatos da América Latina de colonização espanhola, vivências
que expandiram seu conhecimento em Geografia de forma crítica e enriquecedora.
REFLITA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer da presente unidade compreendemos que o desenvolvimento da
ciência geográfica passou por diversos períodos históricos, sendo modificada e
transformada de acordo com as influências de cada época. Vimos que na Modernidade,
a Geografia se consolidou como a ciência empenhada em entender o espaço onde a
humanidade desenvolve e cria suas atividades produtivas e também onde a mesma
desenvolve relações sociais. Com isso, compreendemos que um dos grandes atributos
da ciência geográfica é a capacidade de estabelecer uma interpretação global e sintética
da realidade intermediando as relações entre as ciências sociais e as ciências naturais.
Estudamos no tópico 1 que é a partir da divisão temática e metodológica entre
Geografia Humana e Geografia Física que a ciência geográfica é operacionalizada e
dinamizada frente aos processos de investigações acerca dos seus objetos de estudos
e análises. Compreendemos então, que a divisão entre Geografia Física e Geografia
Humana pode contribuir para melhor delimitar metodologicamente os objetos de estudo
e os fenômenos investigados, contudo, devemos lembrar, que a relação e imbricação
teórica e epistemológica entre ambas, combatendo possíveis hierarquizações, torna-se
fundamental para análises e interpretações mais completas da realidade pesquisada.
No tópico 2, buscamos compreender que o conhecimento construído de forma
fragmentada pela ciência geográfica passou a permitir uma interdisciplinaridade teórica-
metodológica devido aos dilemas existentes com o seu objeto de estudo primordial, o
espaço geográfico. Logo, a interdisciplinaridade garante à Geografia uma integração com
outras disciplinas, que ao estabelecer relações entre um mesmo objetivo de estudo, sem
pretensões totalizantes, busca compreender os diversos aspectos e variáveis de um
mesmo objeto de pesquisa.
A partir disso, no tópico 3 analisamos a formação da abordagem crítica da
Geografia, que se desenvolveu especialmente no Brasil com uma notável importância
para a produção teórica na atualidade. Concluímos então que a corrente crítica,
encaminhou e segue conduzindo contribuições essenciais à ciência geográfica. No
período de sua ascensão o mundo vivia a ebulição de um momento de profundas
contestações e mudanças históricas, condição social que possibilitou seu surgimento,
caracterizando-a a partir de leituras, análises e investigações extremamente críticas ao
funcionamento desigual dos processos de formação do espaço geográfico.
Por fim, vimos no tópico 4 que o desmembramento entre Geografia Física e
Geografia Humana se configurou como a principal divisão dentro da ciência geográfica.
Pudemos assim compreender as diferentes ramificações operacionais presentes nas
preocupações e elementos de estudo da Geografia Física, voltados ao relevo,
vegetação, clima, rios, entre outros agentes naturais, e da Geografia Humana, centrados
na interação humana com os diversos elementos do meio ambiente.
Desejo que os conteúdos trabalhados nesta unidade contribuam para seu
desenvolvimento na compreensão dessa disciplina.
LEITURA COMPLEMENTAR
DANTAS, Eugênia Maria; MORAIS, Ione Rodrigues Diniz; FERNANDES, Maria José da
Costas. Geografia da População. 2. ed. Natal: EDUFRN, 2011. Disponível em:
http://bibliotecadigital.sedis.ufrn.br/pdf/geografia/geo_pop_Livro_Iva_WEB.pdf. Acesso
em: 29/03/2021.
MOURA, Rosa; OLIVEIRA, Deuseles de; LISBOA, Helena dos Santos; FONTOURA,
Leandro Martins, GERALDI, Juliano. Geografia Crítica: legado histórico ou abordagem
recorrente?. Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de
Barcelona, Vol. XIII, nº 786, 5 de junio de 2008. Disponível em:
http://www.ub.es/geocrit/b3w-786.htm. Acesso em: 02/04/2021.
SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova: Da Crítica da Geografia a uma Geografia
Crítica. 6. ed., 2. reimp. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo (Edusp), 2012.
SILVA, Sérgio Henrique Pinto. Geografia Física e Geografia Humana: uma dicotomia a
ser superada? Revista Outros Tempos, v. 4, n. 4, p. 40-49, 2007. Disponível em:
https://uema.openjournalsolutions.com.br/outrostempos/index.php/outros_tempos_uem
a/article/view/411/346. Acesso em: 28/03/2021.
SUERTEGARAY, Dirce Maria Antunes. Geografia e interdisciplinaridade. Espaço
geográfico: interface natureza e sociedade. Geosul, Florianópolis, v. 18, n. 35, p. 43-53,
2003. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/view/13601.
Acesso em: 27/03/2021.
UNIDADE IV
CATEGORIAS GEOGRÁFICAS
Professora Esp. Karitta da Silva Lopes
Plano de Estudo:
Objetivos de Aprendizagem:
Bons estudos!
1 LEITURA DO ESPAÇO GEOGRÁFICO ATRAVÉS DAS CATEGORIAS
Prezada (o) aluna (o), vimos no tópico anterior que as conceitos de paisagem e
território possuem uma proximidade relacional e analítica, visto que a paisagem pode ser
entendida como uma categoria geográfica visível e material que se encontra no interior
do território. Neste tópico, buscamos evidenciar e especificar as características que
formam a categoria de território, qualificando-a como imprescindível para as pesquisas
em Geografia.
A produção acerca do conceito de território tem como pilar as conexões entre
fatores econômicos, políticos e sociais que influenciam o gerenciamento do espaço.
Posto isso, podemos compreender que a demarcação de um território está atrelada a
junção de poder e o exercício de controle em um determinado espaço. O território,
apresenta-se assim, como uma parte consistente do espaço geográfico, no qual são
ressaltadas as divergências de conjunturas ambientais e de existências das populações.
Para analisar o território, não podemos deixar de nos ater, portanto, a sua
dinâmica social, visto que se configura como um dos alicerces geopolíticos que sustenta
a continuidade das relações humanas. Outra premissa que integra os estudos do
território é o fato de examiná-lo enquanto uma manifestação da ação política, porém,
sem hierarquizar a sua dimensão política em detrimento da sua dinâmica social.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia,
documento oficial elaborado para orientar os profissionais da Educação por meio da
normatização de alguns conceitos e aspectos referentes à disciplina de Geografia no
Ensino Básico, a conceituação de território está ligada à formação econômica e social
de uma nação. “Nesse sentido, é o trabalho social que qualifica o espaço, gerando o
território. Território não é apenas a configuração política de um Estado-Nação, mas sim
o espaço construído pela formação social (BRASIL, 2000, p. 111).
Estimada (o) aluna (o), vimos do decorrer dos tópicos anteriores categorias
geográficas de grande relevância para os nossos estudos e para o processo de produção
científica da Geografia, isto é, os conceitos e definições de lugar, paisagem e território.
No presente tópico, iremos tratar, especificamente, da categoria central dessa ciência,
ou seja, o espaço geográfico, objeto de pesquisa que protagoniza as investigações em
Geografia.
De acordo com o geógrafo brasileiro Milton Santos (1996), o espaço é constituído
por “um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos
e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual
a história se dá” (p. 63). Para o autor, a natureza é o início, ela provê a matéria-prima as
quais são transformadas em objetos pela ação humana através da técnica, isto é, “a
principal forma de relação entre o homem e a natureza”, definida como “um conjunto de
meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz e, ao
mesmo tempo, cria espaço” (SANTOS, 1996, p. 29).
À vista disto, para a ciência geográfica, o espaço pode ser entendido como a parte
da superfície da Terra onde ocorrem as interações entre o ser humano e o ambiente
natural, podendo ser interpretado e dinamizado a partir de ações e práticas humanas,
que por sua vez, são impulsionadas pela natureza, se dando em uma relação circular de
influências mútuas.
Milton Santos (1996) pontua que apesar de recíproca, as relação entre sociedade
e natureza são marcadas, muitas vezes, por extremas assimetrias, desigualdades e
violências, pois
No princípio, tudo eram coisas, enquanto hoje tudo tende a ser objeto, já
que as próprias coisas, dádivas da natureza, quando utilizadas pelos
homens a partir de um conjunto de intenções sociais, passam, também,
a ser objetos (SANTOS, 1996, p. 65).
Desta forma, o espaço geográfico torna-se resultado da ação humana sobre o
próprio espaço, intermediados por tais objetos, que podem ser caracterizados tanto
naturalmente quanto artificialmente. Os objetos naturais e artificiais, apresentados por
Milton Santos, são estabelecidos pela configuração espacial, expressa pelo arranjo do
território em acordo com elementos utilizados socialmente. Como aponta o autor, tais
elementos podem ser exemplificados por meio de
Com isso, o espaço geográfico pode ser compreendido como um conjunto prático
de atividades que correlacionam fatores socioeconômicos, políticos, culturais, históricos
e naturais.
Logo, estudar a ciência geográfica e suas categorias, nos possibilitam criar uma
consciência específica para compreender as ações e intervenções humanas como
transformadores ativos do meio ambiente, capazes de modificar constantemente o
espaço geográfico.
Diante do explanado até o momento, a compreensão da realidade por meio da
abordagem geográfica, estruturada de acordo com as variadas categorias analíticas,
deve ser indicada como um contínuo processo de elaboração de como essa realidade é
vivenciada e percebida, tornando esse conhecimento complexo e inesgotável fonte de
conhecimento para a compreensão da realidade que estamos inseridos.
4 REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO
Você sabia que durante o período da ditadura militar, que se estabeleceu no Brasil de
1964 a 1985, as disciplinas de Geografia e História foram excluídas da matriz curricular
e transformadas em uma única disciplina?
Visando eliminar o pensamento crítico da matriz curricular nacional, e formar indivíduos
controlados pela nova ordem social, as disciplinas de História e Geografia foram
transformadas em Educação Moral e Cívica. Essa ação foi um reflexo da censura
imposta aos professores da época e uma das estratégias do regime para manter o
domínio em todas as esferas da vida social, econômica, política, cultural e educacional,
contribuindo para a manutenção do regime por mais de 20 anos.
REFLITA
A partir da citação de Milton Santos, reflita acerca das práticas docentes que você segue
ou quer seguir? Elas são constantemente renovadas de acordo com o tempo histórico
ou são apenas para cumprir uma agenda formatada?
#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS
• Título: Documentário: Encontro com Milton Santos - O mundo global visto do lado de
cá
• Ano: 2006
• Sinopse: O documentário “Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do
Lado de Cá” procura analisar as contradições e os paradoxos deste modelo econômico
e cultural chamado globalização. A linha geral do documentário é a entrevista com
geógrafo baiano Milton Santos que se debruça sobre questões como: globalização,
sociedade de consumo, território, as desigualdades da globalização e crises que esta
promove, as barreiras físicas e simbólicas impostas pelo capitalismo como efeito da
globalização e o papel da grande mídia como intermediária desta relação.
Ao longo do documentário são apresentados diversos episódios em que a os efeitos da
globalização são evidenciados com maior clareza como, por exemplo, a tentativa de
privatização da água potável em Cochabamba, Bolívia, em 2000, que gerou uma forte
onda de protestos. Trata-se de um ótimo documentário para se refletir não só sobre
questões relativas à globalização, mas, também, para refletir sobre conceitos como
capitalismo, território, sociedade de consumo, etc.
• Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=ifZ7PNTazgY.
REFERÊNCIAS
CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do Mundo. São Paulo: HUCITEC, 1996.
GIOMETTI, Analúcia Bueno dos Reis; PITTON, Sandra Elisa Contri; ORTIGOZA, Silvia
Aparecida Guarnieri. Leitura do espaço geográfico através das categorias: lugar,
paisagem e território. Conteúdos e didática de Geografia, vol. 9, Unesp, Bauru-SP,
2012. Disponível em:
https://acervodigital.unesp.br/handle/123456789/47175?locale=pt_BR. Acesso em:
12/04/2021.
Prezada(o) Aluna(o),