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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO Á DISTÂNCIA

DEPARTAMENTO DECIENCIAS DE EDUCACAO

CURSO DE LICENCIATURA EMENSINO DE GEOGRAFIA

Tema: O PROCESSO DA CONSTRUÇÃO DA GEOGRAFIA COMO


CIÊNCIA, DESDE A ANTIGUIDADE ATÉ À SUA
SISTEMATIZAÇÃO

Gemusi Sebastião Cipriano-81210300

Nampula, Agosto de 2021


INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

DEPARTAMENTO DE CIENCIAS DE EDUCACAO

CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE GEOGRAFIA

Tema: O PROCESSO DA CONSTRUÇÃO DA GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA, DESDE


A ANTIGUIDADE ATÉ À SUA SISTEMATIZAÇÃO

Trabalho de campo a ser submetido na


coordenação de curso de licenciatura de ensino de
Geografia do ISCED
Tutor:

Gemusi Sebastião Cipriano-81210300

Nampula, Agosto de 2021


Índice
1.INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 4
2.A PRÉ-HISTORIA DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA GEOGRAFIA .................................................. 5
2.1A ORGANIZAÇÃO DA GEOGRAFIA E SEUS PARADIGMAS ................................................ 6
2.2A SISTEMATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO ................................................. 9
2.3A SISTEMATIZAÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA COM HUMBOLDT E RITTER .................................. 10
2.4A GEOGRAFIA GLOBAL NO MUNDO ACTUAL ................................................................... 11
3.CONSIDERAÇÕES FINAIS. .......................................................................................................... 13
4.REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICA ............................................................................................... 14
1.INTRODUÇÃO

O presente artigo com o título "O processo da construção da Geografia como ciência, desde a
antiguidade até à sua sistematização" tem como por objectivo trazer a fundamentação
geográfica no seu período pré-histórico e a sua actualidade, porem a geografia bem antes de se
tornar ciência vem de muito longe, desde a antiguidade o homem vem se preocupando em
estudar o espaço em que vive entre os povos primitivos, aqueles que viveram na pré-história
mesmo sem conhecimentos da escrita já tinham ideias geográficas. Transmitiam os
conhecimentos através da oralidade e dos manuscritos em rochas, demonstrando ter uma
concepção do mundo.
Andrade (1992) considerava que o homem através das suas experiências, desenvolviam
ideologias de ordem geográfica e lançavam as sementes que no futuro seriam desenvolvidas com
carácter científico. Desde então o espaço vem sendo alvo de estudo por parte do homem pelo
facto de viver no espaço e se sentir parte dele, indagações, na medida em que a humanidade ia
adquirindo experiências, foram desenvolvidas. Saber os motivos e o porquê dos fenómenos
tornou-se necessário. Com o desenvolvimento da ciência, no século XIX, a concepção filosófica
inserida tinham suas bases no Positivismo no qual a Geografia Clássica estava inserida. Neste
período as máximas geográficas começavam a ser levantadas e discutidas, porém sem a inserção
do homem como indivíduo. É no século XIX é que ocorre a sistematização da ciência geográfica
tendo seu inicio com o desenvolvimento do capitalismo e suas relações com diversas partes do
mundo no qual a ciência geográfica contribui de forma gratificante para este processo.
Desta forma o presente trabalho tem com objectivo geral descrever o processo da construção da
geografia desde o período contemporâneo ate a actualidade, e, tem como objectivos específico
compreender a evolução e desenvolvimento da geografia e relacionar a pré-historia e a
sistematização da geografia como ciência.
Será usada a Pesquisa Bibliográfica como metodologia que De acordo com Gil (2001) o
desenvolvimento da pesquisa bibliográfica ocorre a partir de material já elaborado, constituído,
principalmente, de livros e artigos científicos, e que tem por finalidade fornecer, ao investigador,
uma visão completa sobre o assunto a ser pesquisado.

Face ao exposto, e para a concretização deste estudo, recorreu-se primeiramente aos livros,
artigos, e conteúdos da Internet.
2.A PRÉ-HISTORIA DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA GEOGRAFIA

Desde os tempos mais remotos, no período da Antiguidade, os povos viviam em grupos os quais
se deslocavam em busca de meios de subsistência e assim conheciam o espaço em que viviam.
Tinham conhecimento do mecanismo das estações do ano e, através dessas migrações, novos
caminhos eram percorridos. A partir daí, os primeiros esboços com representações da superfície
terrestre eram construídos, surgindo os primeiros mapas. O mapa mais antigo já registrado foi
encontrado na cidade de Ga Sur, na Babilónia, datado de 2500 a.C. Neste mapa havia
representações do vale de um rio que possivelmente representava o rio Eufrates acompanhado de
montanhas, assinalando os pontos cardeais. As civilizações do Egipto e Mesopotâmia
desenvolviam a agricultura, e por isso, dependiam das irrigações, servindo de grande importância
para o estudo hidrológico da região.
Ainda na Antiguidade com a expansão política, comercial e marítima no Mediterrâneo,
aconteceu a construção de mapas marítimos contendo a descrição de lugares e de seus habitantes.
Segundo Andrade (1992), deve-se ressaltar a importante contribuição de Aristóteles para o
desenvolvimento do conhecimento geográfico. Este filósofo admitiu a esfericidade da Terra, mas
não apenas tratou deste tema, fez também relações aos aspectos físicos e humanos, como a
variação do clima com a latitude e a relação entre as raças humanas. Os gregos na costa do
Mediterrâneo instauraram colónias em que desenvolviam o comércio e o conhecimento dos
lugares. Entre os romanos pode-se destacar a expansão do Cristianismo, religião oficial de Roma
no século IV. Neste período, estudiosos afirmavam que os princípios religiosos sobrepunham às
ideias científicas já estabelecidas pelos gregos, como por exemplo, a negação aos estudos feitos
sobre a esfericidade da Terra, dificultando assim o avanço do conhecimento científico.
Ferreira e Simões (1994) relatam que na Idade Média a reorganização do espaço vem com a
queda do Império Romano no Ocidente, já que mudanças territoriais foram ocorrendo, pois por
meio das invasões bárbaras, guerras foram acontecendo e novas fronteiras foram sendo
consolidadas. O pensamento geográfico passa a não ser formalizado em termos científicos.
“Neste ambiente, a Igreja torna-se o maior poder, já que é o único poder central europeu. As
respostas às questões colocadas passam a ser dadas a partir de interpretações bíblicas.”
(FERREIRA E SIMÕES, 1994). O sistema feudal desencadeado a partir da crise romana é
instaurado. Este sistema dominou a vida dos reinos europeus do século X ao século XIII, quando
o comércio havia se tornado uma actividade de muito pouca importância. No final da Idade
Média temos importantes relatos de viagens como as Cruzadas, tendo como consequência a
dinamização das relações comerciais entre Ocidente e Oriente.
Segundo Ferreira e Simões (1994), com o ressurgimento das curiosidades pelo mundo
desconhecido, há o renascimento do comércio entre a Europa e o Oriente e as peregrinações aos
lugares santos. Sendo assim, torna-se necessário o desenvolvimento dos instrumentos de
navegação, com a utilização de uma Cartografia denominada realista e não mais uma Cartografia
religiosa como no início da Idade Média quando a busca por respostas se encontrava numa
ordem religiosa a cartografia foi reformulada, passando a ser produzidos os chamados
portulanos, que para Ferreira e Simões (1994) “O nome portulano vem provavelmente da
designação mapas de piloto (do italiano portolano) ”, que são os mapas que tinham a capacidade
de descrever com detalhes as rotas marítimas. Descrições de viagens entre o Ocidente e o Oriente
eram feitas, trazendo importantes informações das regiões desconhecidas. Ao mesmo tempo em
que o conhecimento do espaço geográfico vinha sendo ampliado, o relacionamento entre
sociedade e natureza era estabelecido

2.1A ORGANIZAÇÃO DA GEOGRAFIA E SEUS PARADIGMAS

Milton Santos (1986) nos ensina que se queremos encontrar os fundamentos filosóficos da
geografia no momento da sua construção como ciência entre o final do século XIX e inicio do
XX, temos que buscá-los em Descartes (1596 - 1650), Kant
(1724 – 1804), Darwin (1809 – 1882), Comte (1789 – 1857), Hegel (1770 – 1831) e
Marx (1818 – 1883).
Os pensamentos dos referidos autores contribuíram de forma diferente, peculiar e ideológica,
para a construção dos paradigmas da geografia. O filósofo francês René Descartes é considerado
o pai da filosofia moderna, tendo como principal contribuição o racionalismo. O filósofo alemão
Immanuel Kant analisou o espaço e o tempo. O naturalista britânico Charles Darwin, na obra “A
origem das Espécies” apresenta a selecção natural, que impactou profundamente as ciências
naturais. O filósofo francês August Comte elaborou o positivismo. O filósofo alemão Georg
Hegel o idealismo, e o filósofo, economista e revolucionário alemão Karl Marx o materialismo
histórico dialéctico esses conhecimentos teóricos ofereceram suporte para o desenvolvimento dos
paradigmas da geografia.
No entendimento de António Christofoletti (1985), a organização da geografia como ciência
parte decisivamente das obras do geólogo, botânico e naturalista alemão Alexander von
Humboldt, e do filósofo e historiador também alemão Karl Ritter. Esses pesquisadores
construíram os alicerces necessários para a edificação de uma geografia científica.
Para Camargo e Reis Júnior (2007): somente nos meados do século XIX, na Alemanha, com A.
von Humboldt, K. Ritter e F. Ratzel, que ela passou a ter status de ciência, sendo, a partir dessa
época, ensinada e praticada nas universidades. Formou-se então uma corrente de pensamento no
seio da geografia que ficou conhecida como “escola alemã”, cuja característica central era o fato
de ser iminentemente determinista e naturalista (CAMARGO; REIS JÚNIOR, 2007).
Foi na Alemanha que se encontraram as condições teóricas para a organização da geografia
como ciência. Horacio Capel aponta Humboldt como um dos principais responsáveis pelo
desenvolvimento da geografia moderna. Quase todos os estudiosos da história da geografia
concordam em considerar Alexander von Humboldt como o pai da moderna ciência geográfica.
Sua obra, sem dúvida, foi decisiva para a configuração de muitas das ideias geográficas,
particularmente no campo da geografia física (CAPEL, 2004).
Humboldt realizou inúmeras viagens ao redor do mundo entre o final do século XVIII e inicio do
XIX, o que contribuiu decisivamente para a formulação de suas principais ideias. Em suas
viagens teve a preocupação em entender as diferenças e similaridades entre as paisagens da
superfície terrestre, usando para isso o método comparativo. Conforme relata Capel em relação
ao método comparativo usado por Humboldt, cabe destacar somente que o usou de forma
abundante e que alguns consideram que é precisamente este uso de comparações universais sua
contribuição mais importante. Humboldt comparava, de fato, sistematicamente as paisagens do
sector que estudava com outras partes da Terra. Assim, por exemplo, comparava as planícies do
Orenoco com os Pampas, os desertos do velho continente e os da América, o altiplano do México
e o da Península Ibérica, as montanhas da Europa e as do Novo Mundo (CAPEL, 2004).
Humboldt buscou reconhecer as relações gerais e as causas genéticas comuns entre áreas
similares em diversas partes da superfície terrestre. A comparação foi sua principal contribuição.
O estudo da distribuição espacial de diferentes fenómenos físicos também está entre as suas
importantes investigações. Também foi o primeiro a unir, através de linhas, os pontos que
possuíam a mesma temperatura média anual isotermas foi o primeiro a fazer referência às
paisagens naturais com relação a áreas de características homogéneas.
Para Andrade (1987), as ideias de Humboldt foram influenciadas pelo racionalismo francês,
idealismo alemão e pelo positivismo. Disso resulta sua preocupação em estabelecer leis gerais
que explicassem o mundo em que vivia.
No entendimento de Vitte (2007), a partir da herança humboldtiana, a geografia física tem como
objecto de estudo a superfície da Terra, mais precisamente sua epiderme, visando entender a
lógica dos fenómenos físicos e humanos em uma perspectiva sintética. Assim, teríamos a
constituição das paisagens naturais, nas quais a diferenciação na superfície terrestre seria o
resultado da dialéctica entre as forças endogénicas e exogenéticas. Isso permitiria o vozeamento
dos fenómenos da natureza na face da Terra.
Karl Ritter também apresentou importante contribuição para o desenvolvimento da geografia.
Segundo Capel (2004), ele foi catedrático na Universidade de Berlim e em sua obra propõe de
forma directa o estudo das relações entre a superfície terrestre e a actividade humana. Em seu
trabalho o estudo das relações era central e as mesmas se estabeleciam entre fatos físicos e
humanos. A superfície terrestre é considerada o palco onde se desenvolviam as actividades
praticadas pelo homem. Para Ritter o princípio essencial da geografia estava na relação dos
fenómenos e formas da natureza com a espécie humana.
Capel (2004), explica como o geógrafo alemão entendia a geografia citando um trecho da obra
“Erdkunde”
A expressão geografia, utilizada no sentido de descrição da Terra, é infeliz e tem confundido as
pessoas; parece-nos que com isso simplesmente refere-se aos elementos, cujos factores são a
verdadeira ciência da geografia. Esta ciência tenta possuir a mais completa e cósmica imagem da
Terra; resumir e organizar em uma bela unidade de tudo o que conhecemos do globo geografia é
a parte da ciência que estuda o planeta em todas suas características, fenómenos e relações, como
uma unidade interdependente, e mostra a conexão deste conjunto unificado com o homem e com
o Criador do homem (RITTER IN: CAPEL, 2004).
Ritter buscava entender as relações dos fenómenos e formas da natureza com o homem. Por isso
tinha um profundo interesse na história, entendendo que a mesma estava bastante próxima da
geografia. Compreendia que as relações espaciais não podem prescindir de uma relação
temporal. Assim, o estudo da geografia não pode ser desvinculado ou separado do estudo da
história.
2.2A SISTEMATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO

A palavra geógrafo a (descrever a Terra) foi criada pelos gregos, povos que originalmente vão se
preocupar com a sistematização desse conhecimento.
O primeiro mapa grego de que se tem notícia foi elaborado por Anaximandro de Mileto
(650-615 a.C.), que viajou e escreveu relatos das suas viagens. Discípulo de Tales de Mileto, é
provável que Anaximandro de Mileto tenha sido o inventor do gnómon, instrumento que serve
para medir a altura do Sol.
O segundo mapa da Antiguidade foi elaborado por Hecateu de Mileto (560-480 a.C.) viajou por
toda parte do mundo conhecido, escreveu a Descrição da Terra, obra ilustrada por um mapa onde
a Terra é representada por um disco com água em sua volta.
Outros documentos importantes dessa época são os poemas épicos Ilíada e Odisseia, de Homero,
conhecidos e apreciados por seu valor literário e pelas informações geográficas contidas na
descrição dos lugares distantes e das longas viagens marítimas.
Os dois pontos de vista da Geografia estão relacionado com a física terrestre formam, dimensão,
posição sideral a outra, com a descrição das diferenças da constituição da superfície terrestre e
com as diversas culturas que nela se instalam. Essas duas dimensões dão origem a dois pontos de
vistas: o da Geografia Geral e o da Geografia Regional.
Eratóstenes (276-194 a.C.) – Além de demonstrar a existência da curvatura da Terra
e calcular suas dimensões com notável precisão, também localizou mares, terras, montanhas, rios
e cidades no primeiro sistema de coordenadas geográficas, no qual estavam presentes as latitudes
e as longitudes. Estudou, ainda, questões relativas à hidrografia e à climatologia, às zonas
climáticas e às cheias dos rios, notadamente aquelas relativas ao Nilo. Contudo, os níveis de
generalização traziam consigo margens de erros consideráveis, fortalecendo a abordagem
regional.
Heródoto (484-425 a.C.) – Filósofo e historiador, considerado o pai da História e da Geografia,
inseriu a história dos povos no contexto geográfico. Suas crónicas registram a génese da
Geografia Regional e retratam os mais diferentes e distantes países. São conhecidas suas viagens
à Fenícia, ao Egipto e à Babilónia. Ao estudar as cheias do rio Nilo, Heródoto associou a sua
desembocadura à letra grega delta, razão pela qual é encontrada até os dias actuais a foz em delta
nos livros escolares
Estrabão (64 a.C. – 20 d.C.) – Grande enciclopedista destaca o carácter filosófico e
transdisciplinar da Geografia. Em sua obra, afirmava que o amplo conhecimento, necessário ao
empreendimento de qualquer trabalho geográfico, deve estar relacionado tanto com as coisas
humanas como divinas, conhecimento que constitui a Filosofia.
Ao contrário dos gregos, interessava-se por uma abordagem mais humana, cujos ensinamentos
destinavam-se às acções de governo. Além do mais, ensinava que os geógrafos não deviam
preocupar-se com o que estava fora do mundo habitado. Assim como Heródoto, Estrabão foi um
grande viajante, tendo descrito no seu livro várias partes do mundo daquela época. Por tal feito,
é, ainda hoje, considerado um dos mais importantes geógrafos da Antiguidade. Estrabão tinha
como metodologia geográfica a localização e delimitação dos aspectos físicos de uma região
seguidas da descrição da população, com suas lendas, costumes e actividades económicas.
Ptolomeu (90 – 168 d.C.) – É o último grande geógrafo da antiguidade, foi também astrónomo e
matemático. Interessou-se pelas técnicas de projecção cartográfica e elaboração de mapas. Em
sua obra Geographia, de 8 volumes, traz os princípios de construção de globos e projecções de
mapas, indica os princípios da Geografia, Matemática e da cartografia, além de organizar um
grande vocabulário com todos os nomes de 8000 lugares que conhecia, localizando-os por meio
da latitude e da longitude

2.3A SISTEMATIZAÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA COM HUMBOLDT E RITTER

No século XVIII o mundo passava por uma revolução científica, uma delas, o renascimento
cultural na qual estava presente o senso crítico, permitindo ao homem observar mais atentamente
os fenómenos naturais. Segundo Gomes (2007), esta revolução científica do século XVIII tinha
uma busca epistemológica, substituindo uma visão metafísica. Nela continha o uso do método e
uma organização lógica do saber, sendo assim, duas tendências são discutidas: o humanismo e o
racionalismo.
A Geografia passa a ser interpretada através das relações entre o homem e a natureza,
relacionando os aspectos sociais ao meio ambiente. Segundo historiadores e pensadores,
Alexander Von Humboldt e Karl Ritter são os fundadores da ciência geográfica moderna. A
Alemanha é o berço das primeiras metodologias e correntes do pensamento geográfico a partir
do início do século XIX temos a sistematização do conhecimento geográfico o território alemão
até meados do século XIX não era unificado, e com isso, a Geografia surge para atender a duas
necessidades, sendo estas: a unificação territorial e a sua expansão de domínio. A Alemanha só
vem unificar-se em 1870, considerada uma unificação tardia.
Segundo Moraes (1992), devido a esta falta de constituição de um Estado Nacional neste
território, fez-se necessário uma discussão geográfica no século XIX, fazendo com que a
Geografia percorresse novos rumos.
Para Moraes (1992) temas como domínio e organização do espaço, apropriação do território,
variação regional, entre outros, estarão na ordem do dia e na prática da sociedade alemã. É, sem
dúvida, deles que se alimentará a sistematização geográfica.
É nesta temática que irão surgir dois pensadores alemães membros da aristocracia prussiana e
estudiosos da época. Humboldt e Ritter, sendo o primeiro, naturalista e o segundo, filosófico e
historiador.

2.4A GEOGRAFIA GLOBAL NO MUNDO ACTUAL

No século XXI, a tecnologia passa cada vez mais a fazer parte da vida e também das
necessidades dos seres humanos. O computador e a internet não são mais artigos de luxo ou de
uso restrito. Estão presentes nas casas, nos carros, nas ruas, no comércio, no trabalho, etc. A
geografia também se encontra inserida nessa realidade, pois o espaço, seu objecto de estudo,
também se torna espaço virtual.
o geógrafo argentino Gustavo Buzai (2004), procura apresentar um panorama geral referente às
relações entre geografia e tecnologia. Atenta para os seguintes temas: paradigma geotecnológico,
geografia global, ciberespaço e cibergeografia. As discussões são sobre a apropriação das novas
tecnologias digitais pela geografia, aplicações, perspectivas e possibilidades.
Buzai (2004) apresenta uma breve retomada histórica dos principais paradigmas que nortearam o
pensamento geográfico desde sua sistematização como ciência no final do século XIX. Explica
que os movimentos renovadores podem se apresentar em ondas curtas (20-25 anos), ondas
médias (50 anos) e ondas largas (100 anos). Com relação às ondas curtas teríamos no século XX:
paradigma regional (década de 10), racional
(década de 30), quantitativo (década de 50) radical crítico e humanista (década de 70) e ecologia
da paisagem, geografia Pós-moderna e geografia automatizada (década de 90).
Os ciclos de ondas médias representariam em finais do século XX, o paradigma geotecnológico,
ou seja, o positivismo ligado à informática. E os movimentos de ondas longas, representado
actualmente pela geografia global, pelo qual a geografia apresenta uma “visão espacial” a partir
da incorporação em seus conceitos e métodos dos sistemas computacionais amplamente
difundidos.
A geografia global e seus conceitos incluídos no interior das geotecnologias propiciam uma nova
visão do mundo. Não como um paradigma de geografia e sim como um paradigma geográfico,
onde a geografia oferece as outras disciplinas uma imensa possibilidade de acções e aplicações
(BUZAI, 2004).
O autor entende ciberespaço como uma matriz electrónica de interconexão entre bases de dados
digitais através dos sistemas computacionais conectados em rede. É um novo espaço que se
sobrepõe ao espaço real. A partir deste ponto de referência explica o que significa cibergeografia,
que é o estudo da natureza espacial das actuais redes de comunicação. A ciber-cartografia, para o
autor, é um dos pontos mais atraentes da cibergeografia, pois permite a representação
cartográfica do ciberespaço.
Buzai (2004) toca em um ponto de fundamental importância que é o mito de uma rede mundial
sem centro. Assim como os romanos dominaram os caminhos terrestres, os ingleses as rotas
marítimas e os estadunidenses as rotas aéreas e espaciais, existe uma luta para controlar o
ciberespaço. Isso ocorre em razão do grande interesse das potências mundiais em controlar este
importante viés no século XXI. Como exemplo cita o sistema ECHELON, controlado pelos
Estados Unidos, que intercepta as comunicações.
3.CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Ao findar a este trabalho que aborda a trajectória da Geografia foi possível constatar que a
ciência geográfica tem suas características construídas ao longo de diversos períodos históricos.
Superando diversos paradigmas, foi conquistando espaço diante as demais ciências. Uma ciência
que busca a renovação quanto ao modo de observar, interpretar e agir diante das questões sociais.
No desenvolvimento da pesquisa buscamos base teórica em autores que condizem com a
perspectiva histórica crítica, bem como demais pensadores da epistemologia geográfica.

Tendo como referência essas questões, buscamos apresentar a Geografia com suas características
históricas, conceitos que ao longo dos períodos impulsionaram a ciência geográfica no campo do
ensino bem como nos demais ramos. Sabemos muito bem da importância da tecnologia e os
avanços que ela proporciona mas, a tecnologia, assim como o espaço virtual, devem estar
inseridos em um projecto social mais amplo que auxilie na transformação de uma sociedade
altamente desigual para uma sociedade onde o bem-estar social seja o objectivo a ser alcançado.
Como podemos perceber ao longo das discussões apresentadas são diversos os paradigmas e
conceitos. Eles contribuíram para o enriquecimento e dinamismo da Geografia ao longo do seu
desenvolvimento histórico como ciência. Cabe a cada Geógrafo conhecer os paradigmas, avaliar
os pontos negativos e os pontos positivos que cada um apresenta, efectuar a crítica e,
conscientemente, escolher o seu caminho.
É como apontam Camargo e Reis Júnior (2007), “É preciso, portanto, que os geógrafos da
actualidade tenham presente o fato de na geografia existir uma variedade de enfoques e correntes
alternativas detalhe que os obriga a repensar, constantemente, sua natureza”. Aqui apresentamos,
de forma geral, os pontos que julgamos básicos e introdutórios para as discussões sobre a
temática proposta. Para o aprofundamento das discussões e das reflexões sugerimos a leitura das
referências citadas.
4.REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICA

ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia, ciência da sociedade: uma introdução à análise do
pensamento geográfico. São Paulo: Atlas, 1987.
BUZAI, Gustavo D. Geografia y tecnologias digitales del siglo XXI: uma aproximación a las
nuevas visiones del mundo y sus impacto
CAMARGO, José Carlos Godoy; REIS JÚNIOR, Dante Flávio da Costa. A filosofia positivista e
a Geografia Quantitativa. In: VITTE, António Carlos (org.). Contribuições à História e à
Epistemologia da Geografia. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2007.
CAPEL, Horacio. Filosofia e ciência na geografia contemporânea: uma introdução à
geografia. Maringá: Massoni, 2004.
CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar: mundialização e fragmentação. In: SANTOS,
Milton et. al. (Org.) O novo mapa do mundo: fim de século e globalização. São Paulo:
Hucitec, 1997.

FERREIRA, Conceição; SIMÕES, Natércia. A evolução do pensamento geográfico. 8.ed.


Lisboa: Gradiva, 1994.
GEORGE, Pierre; GUGLIELMO, Raymond; LACOSTE, Yves; KAYSE, Bernard. A Geografia
Ativa. Trad. Gil Toledo; Manuel Seabra; Nelson de la Corte, Vincenzo Bochicchio.4.ed. São
Paulo: DIFEL, 1975.
GOMES, Paulo César da Costa. Geografia e Modernidade. 6.ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2007.
MORAES, António Carlos Robert. Geografia Pequena História Crítica. 11.ed.São Paulo:
Hucitec, 1992.
MOREIRA, Ruy. Para onde vai o pensamento geográfico? Por uma epistemologia crítica. São
Paulo: Contexto, 2006

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