O bastião de André Ventura no Alentejo Alimentos, brinquedos e cuidados de beleza

REPORTAGEM NA TERRA ONDE GUIA PARA SER O MELHOR AMIGO

COMUNISTAS VOTAM NO CHEGA DOS SEUS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO

+
www.sabado.pt N.º 865 – SEMANAL – 25 DE NOVEMBRO A 1 DE DEZEMBRO DE 2020 – €3,50 (CONT.)

CRISTINA
GUERRAS
PODER E
A QUEDA
MEGALÓMANA: quis fazer
programa em direto do Dubai
SUPERSTICIOSA: usa pulseiras e
colares para afastar o mau-olhado
IMAGEM: sorri sempre em público,
mas grita e insulta colaboradores
COMISSÕES PUBLICITÁRIAS:
SIC pagou-lhe 650 mil euros
só em ano e meio
AUDIÊNCIAS: está aflita porque
tem falhado nas escolhas de
programas e de apresentadores na TVI

FOMOS À SAUNA ONDE ENTRAM HOMENS, NO HOSPITAL DE S. JOÃO COM SEIS

MULHERES E CASAIS (SIM, AO MESMO TEMPO) PROFISSIONAIS DA EQUIPA COVID
 Sumário

16
DENÚNCIA CONTRA
FUNDAÇÃO INATEL
Grupo anónimo escreve
carta “Salvem o Inatel”
a criticar a compra de
iPhone e de outros gastos
em nome da instituição
28
A SOBRINHA-NETA
DO Nº 2 DE HITLER
Bettina só em 2004 é que
descobriu que o tio-avô,
Hermann Göring, autori-
zou o extermínio total dos
judeus. Ela fala à SÁBADO

64
QUEM SÃO OS PRO-
FISSIONAIS DE SAÚDE
QUE TRATAM DOS
DOENTES NOS CUI-
DADOS INTENSIVOS?
A MÉDICA ANA
AFONSO É UM DELES
BRUNO COLAÇO

4
 25 NOVEMBRO 2020
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Portugal A Semana
18 PCP Os números do Comité Central

Destaque
34 A queda As guerras, os fracassos
e as superstições de Cristina Ferreira

Portugal
48 Malheiro O raio-X da oposição mostra
casos curiosos
54 O senhor Bisky Rui Tavares fingiu des-
conhecê-lo? A questão deu uma tempesta-
de no Twitter. Esclarecemos tudo

50 Mundo
58 Reino Unido O poder de Carrie
Symonds, a noiva de Boris Johnson
OS EANES, ANOS 70: ANTÓNIO E
Dinheiro
MANUELA NAS REVISTAS COR-DE-ROSA 62 Empresas Como minorar os efeitos
da pandemia nos trabalhadores
O primeiro Presidente da República inaugurou uma forma de aparecer mais moderna:
deixou fotografar a família (aqui, na Nova Gente). Em Portugal, ainda era novidade Sociedade
70 Entrevista Ricardo Batista Leite quer
curar o sistema nacional de saúde
Portugal GPS 72 Reportagem Entrámos na sauna mista
que abriu em plena pandemia
PET-FRIENDLY 74 Realeza Quem sobrevive ao teste
da Rainha Isabel II em Balmoral
DICAS PARA ADOTAR, 76 Moda Chegou a hora dos modelos
PRODUTOS, SERVIÇOS plus size masculinos
E HOTÉIS PARA IR DE
Desporto
FÉRIAS COM O MELHOR 78 Pandemia Clubes perdem milhões
AMIGO
GPS
96 Vinhos Quinta da Plansel: inovação,
ciência e aromas em Montemor-o-Novo
98 Séries Schitt’s Creek chega ao TVCine
100 Música Baixista dos King Gizzard &
The Lizard Wizard fala do novo disco
ANTÓNIO COTRIM/LUSA

102 Teatro Paródia com Rei Lear em

Almada e Ricardo III com Diogo Infante

44
104 Livros Novidades: de Ferrante a Rushdie

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O CHEGA NO ALENTEJO
Há terras onde o Chega cresce e outras em que Social
há aproximação ao PSD para as autárquicas Príncipe Carlos furioso
com The Crown
Herdeiro do trono de Inglaterra
Opinião mostrado como frio e egoísta

Portugal
Leia o fact-checking
As verdades e as mentiras da

32
JOSÉ
60
NUNO
82
JOÃO
114
JOÃO
entrevista de Sousa Tavares
a André Ventura

PACHECO ROGEIRO PEDRO PEREIRA

PEREIRA GEORGE COUTINHO

10 Editorial 43 António José Vilela 77 Pedro Marta Santos Seja preguiçoso,

12 Bastidores 56 Carlos Rodrigues Lima 94 Ângela Marques salve vidas
17 Octávio Ribeiro

5
CERTIFICAÇÃO MASTER CHRONOMETER
Por detrás da elegância de cada
Master Chronometer está um extremo grau
de exigência: 8 testes ao longo de 10 dias,
para garantir uma precisão e resistência
anti-magnética superiores.

BOUTIQUE OMEGA
Av. da Liberdade, 192A • Lisboa
 Do diretor
EDITORIAL
Lucília Gago aplica uma
mordaça sobre a autonomia
individual de cada magis-
trado. Com esta diretiva,
a hierarquia do MP, desde o
diretor do DCIAP à própria
PGR, passa a ter o poder
de autorizar ou não buscas,
interrogatórios, perícias
ou outro tipo de diligências
E livro que acaba de publicar. Memó-
Diretor
Eduardo Dâmaso
10
E te autocrítico, sempre elegante a ma-
A mordaça
da senhora
procuradora
J
osé Narciso Cunha Rodrigues es-
teve 16 anos à frente do Ministé-
rio Público. Entre 1984 e 2000 a
sua liderança desta magistratura teve
um papel determinante na constru-
ção institucional e judiciária do Mi-
nistério Público. Com inteligência e
visão estratégica, deu visibilidade so-
cial e judicial ao Ministério Público,
consolidou-o entre os poderes (polí-
tico e judicial) que materializam a
arquitetura do Estado, ao mesmo
tempo que foi o maior guardião da
separação destes. Também o dotou
dos instrumentos necessários para
sair da letargia dos primeiros anos,
até se tornar uma instituição essen-
cial à democracia, tanto na frente da
investigação criminal como no qua-
dro dos seus outros e muito impor-
tantes poderes, como os da tutela de
interesses difusos, em particular no
ambiente, e na área do trabalho ou da
família e menores.
A criação dos Departamentos de In-
vestigação e Ação Penal, tanto ao ní-
vel local como central, a par do Nú-
cleo de Assessoria Técnica, sempre a
lutar contra a escassa vontade do po-
der político, desenharam o figurino
da investigação criminal por muitos
anos. Os resultados são evidentes. O
Ministério Público entrou no século
XXI com uma claríssima capacidade
de afirmar, na parte que lhe diz res-
peito, a igualdade de todos os portu-
gueses perante a lei. Tanto investiga o
famoso Zé, que os políticos em cam-
panha adoram invocar para dizer que
é ele, zé-povinho, a sua referência in-
contornável, como se mostra capaz
de acusar políticos muito poderosos,
entre os quais um ex-primeiro-mi-
nistro, ou as empresas do regime.
Passados 20 anos da sua saída do
cargo de procurador-geral da Repú-
blica, Cunha Rodrigues escreveu um
rias Improváveis, é como lhe chama.
Contido na narrativa, frequentemen-
nejar a palavra, Cunha Rodrigues ex-
plica bem a natureza da sua relação
com o poder político, os momentos
de tensão, os jogos que tentaram en-
redá-lo numa teia de autonomia li-
mitada, as acusações oportunistas de
gestão política dos processos, as con-
tradições e a memória seletiva que,
ainda hoje, caracterizam alguns dos
protagonistas daqueles anos, desde o i
governo do Bloco Central e as maio- A atual procu-
radora-geral
rias de Cavaco Silva até ao executivo da República,
de António Guterres. No fim, entre a Lucília Gago,
riqueza da prosa, das ideias e dos fac- está a deitar
tos, apanha-se uma das maiores sa- fora o legado
de Cunha Ro-
tisfações pessoais de Cunha Rodri- drigues – lide-
gues ao longo dos 16 anos: “Nunca rança, cultura
desrespeitei a autonomia dos magis- organizativa e
trados.” O que não significa que não diálogo demo-
crático para
tenha exercido a sua autoridade pró- dentro e para
pria enquanto procurador-geral da fora do MP
República e magistrado de larga ex-
periência. Autoridade é uma palavra
que nunca foi estranha a Cunha Ro-
drigues. Sempre soube exercê-la
dentro do quadro legal vigente, em
diálogo ou em decisão solitária, ja-
mais abdicando de procurar a melhor
e mais científica solução, desde logo
pela sua imensa paixão pelo direito
comparado. Mas nunca precisou de
se esconder em diretivas, regulamen-
tos ou pareceres administrativos. So-
bretudo, nunca consentiu que certo
tipo de casuística perturbasse a pro-
cura da solução geral e abstrata.
Pois é tudo isto, todo este legado de
liderança, cultura organizativa e diá-
logo democrático para dentro e para
fora do MP, que a atual procuradora-
-geral da República, Lucília Gago,
está a deitar fora, com a diretiva
4/2020, que afunila na hierarquia a
domesticação da competência de
cada magistrado que conduza uma
investigação. Lucília Gago aplica uma
mordaça sobre a autonomia indivi-
dual de cada magistrado.
Com esta diretiva, a hierarquia do
MP, desde o diretor do DCIAP à pró-
pria PGR, passa a ter o poder de auto-
MARILINE ALVES

rizar ou não buscas, interrogatórios,
perícias ou outro tipo de diligências.
Ao arrepio do próprio Estatuto do MP,
que preserva a autonomia técnica
dos magistrados e não permite que o
superior hierárquico do titular do in-
quérito impeça, por exemplo, a cons-
tituição de arguidos, inquirição de
testemunhas, realização de buscas ou
interceções telefónicas. Aceitar isto,
sem a imposição da obrigatoriedade
de avocar o processo e distribui-lo a
outro magistrado, significa funciona-
lizar o Ministério Público mas, essen-
cialmente, escancarar a porta à poli-
tização da investigação criminal. E
isso é inaceitável num quadro de se-
paração de poderes. Sobretudo tendo
em conta que tudo isto nasceu com o
processo de Tancos e a propósito da
magna questão de saber se os procu-
radores responsáveis pela investiga-
ção poderiam, ou não, ouvir o Presi-
dente da República ou o primeiro-
-ministro. Nasceu, portanto, de uma
matriz técnica que acabou inquinada
pelo interesse político. E que, agora,
ao conhecer o depoimento de Mar-
celo no julgamento, bem se entende
a pertinência da questão colocada
pelos magistrados. De resto, a incon-
veniência política evidente está bem
traduzida na argumentação encon-
trada pelo diretor do DCIAP, Albano
Pinto, para se opor à realização da di-
25 NOVEMBRO 2020
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ligência. Num despacho de 30 pági-
nas, que cita abundante jurisprudên-
cia, incluindo os Códigos de Processo
Civil de 1931 e de 1939, Albano Pinto
justifica a sua posição com a tese da
“dignidade dos cargos” de Presidente
da República e primeiro-ministro.
Sem rebuço, vai beber a doutrina a
José Alberto dos Reis, um prestigiado
jurista que nasceu em 1875 e cuja in-
fluência no Direito Civil e na política
atravessa toda a primeira metade do
século XX. Foi fundador da loja ma-
çónica Manuel Fernandes Tomás, na
Figueira da Foz, mas a sua grande
amizade com Salazar, que foi seu
aluno na Faculdade de Direito de
Coimbra, empurrou-o para o Centro
Católico Português e para cargos de
grande importância no Estado Novo,
como o de presidente da Assembleia
Nacional ao longo de três legislaturas,
e membro vitalício do Conselho de
Estado. Era um homem do seu tem-
po, não deste século XXI. O que po-
deria ser mais político e menos de-
mocrático do que isto? Para lá de
mais pantanoso e tão pouco higiéni-
co quando se quer travar as pulsões
populistas e extremistas que apo-
quentam os próceres da República?!
E
A ciência de usar e deitar fora
O Governo retomou as sessões de
aconselhamento técnico com os mé-
dicos e cientistas a propósito do com-
bate à pandemia. Retoma as já céle-
bres “reuniões do Infarmed” quando
remonta a agressividade da doença.
Não deixa de ser espantoso o oportu-
nismo político. Na primeira fase da
pandemia, a decisão política procu-
rou – e bem – o conforto da opinião
técnica. Depois, com o verão a chegar
e os números a baixarem, dispensou-
-a como quem corre com um treina-
dor que promete muito mas não ar-
risca. Por fim, sem saber que cami-
nhos escolher e em situação de evi-
dente necessidade, volta a recorrer à
almofada da ciência. Este registo de
usar e deitar fora tem o embrulho do
óbvio oportunismo político. Não dei-
xa de ser espantoso o atrevimento. W
11
 Opinião
BASTIDORES B j
Cristina
Nesta edição revelamos-
-lhe os bastidores do dia
a dia de Cristina Ferreira
na TVI, fomos ao bastião
em tensão
P
do Chega no Alentejo e ara já, o regresso de Cristina Fer-
explicamos o que custa reira à TVI está longe de ser uma
tratar um doente com história de sucesso. A promessa
Covid-19 internado nos de uma nova era na televisão ainda não
cuidados intensivos se concretizou e os primeiros meses na
estação de Queluz, apesar de vitórias
esporádicas, parecem ter sido marcados
por fracassos, conflitos, flops de audiên-
cias e um clima de tensão permanente
com o diretor-geral, Nuno Santos – de
quem é hierarquicamente dependente,
embora seja acionista e administradora
da empresa. Para perceberem o que se
está a passar com Cristina Ferreira, as
jornalistas Raquel Lito, Sónia Bento e
Lucília Galha contactaram 61 pessoas ao
longo de 20 dias e contam nesta edição
VITOR MOTA
g como é o dia a dia da apresentadora e as
As jornalistas diferenças entre a imagem pública e o
Raquel Lito,
Sónia Bento e que se passa nos bastidores.
Lucília Galha
contam como B no outro praticamente sufocam e po-
foi o regresso
de Cristina O bastião alentejano do Chega
Ferreira à TVI À hora do almoço, na rua da Cruz, em
Póvoa de São Miguel, Moura, a única
pessoa que se avista é José Camarão. O
decano dos ciganos da aldeia tinha
acabado de almoçar uma sopa de pei-
xe à porta de casa quando avistou os
repórteres da SÁBADO. “Cheguem-se
para cá”, disse-lhes. “Também somos
de carne e osso e sangue, não tenham
medo que aqui ninguém tem queixa da
gente.” Quando o repórter Paulo Barri-
B denúncias para
ga lhe disse que estava à procura da ex-
Chefe de Redação plicação para o Chega ter tido 15,43%
Nuno Tiago Pinto dos votos na freguesia nas últimas le-
12
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Um doente
infetado pelo
novo coronavírus
internado nos
cuidados intensi-
vos necessita de
atenção perma-
nente de profis-
sionais, como a
médica Ana
Afonso
BRUNO COLACO
gislativas (percentualmente a mais alta
votação ao nível nacional) Camarão
mandou um assobio. “Deixe-me lá
chamar os meus moços que já falamos
sobre esse Ventura.” A rua, então de-
serta, encheu-se de familiares. Apenas
duas casas não pertencem aos ciganos.
Sobre Ventura? “É um racista que pre-
cisava de ser queimado vivo”, disse um
dos filhos. O pai acalmou-o: “As coisas
não são para ser feitas assim como tu
queres, o que a gente precisa é da pala-
vra de Deus e de arranjar trabalho.”
Uma reportagem para ler na pág. 44.
B
Tratar um doente Covid
Quando começou a preparar o traba-
lho sobre a quantidade de recursos ne-
cessários para tratar um doente inter-
nado nos cuidados intensivos devido
ao novo coronavírus, a jornalista Lucília
Galha percebeu rapidamente que o nú-
mero de profissionais de saúde aloca-
dos ao serviço é baixo para a quantida-
de de trabalho que tem. É que os doen-
tes Covid-19 são muito instáveis. Po-
dem estar a falar bem num momento e
dem morrer logo se não tiverem assis-
tência imediata – é nesses casos que é
necessário estar um enfermeiro à ca-
beceira da cama. Os médicos, enfer- !
meiros e auxiliares com quem falou as- k
sumiram a exaustão e que esta segunda
vaga está a ser muito pior que a primei- SÁBADO
investigação
ra. Uma carga de trabalho a que se
soma o fator emocional: durante a en- Faça a sua
parte.
trevista, uma das enfermeiras contou Nós tratamos
como, no dia anterior, três filhos tinham do resto
ido ao hospital despedir-se do pai. Envie as suas
Motivos mais que suficientes para o nosso email:
um apelo: proteja-se, a si e aos outros. investigacao@saba-
Boa semana. W do.cofina.pt
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A semana

AS IMAGENS
Pelo fim da
hipocrisia
A imagem foi projetada
no Museu do Louvre, em
Paris, pela Amnistia Inter-
nacional. A propósito da
cimeira virtual do G20,
esta é uma crítica às rela-
ções entre Emmanuel
Macron e o príncipe
Mohammad bin Salman
(Arábia Saudita) e de como
os interesses económicos
fazem esquecer as ques-
tões dos direitos humanos.
FOTO THOMAS COEX/ AFP

13
Fique em casa, nós levamos a animação
A Palestina vive um segundo confinamento por causa da Covid-19. Com
as crianças em casa, os pais agradecem a iniciativa de alguns palhaços,
que andam pelas ruas de Gaza a entreter os miúdos, seja com bolas de
sabão, a oferecer bonecos feitos com balões ou a fazer... palhaçadas.
FOTO MAHMOUD ISSA/ SOPA IMAGES/ LIGHTROCKET VIA GETTY IMAGES
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 A semana

E
nquanto os trabalhadores INATEL. DIRIGENTES CRITICADOS POR GASTOS EXCESSIVOS
A DENÚNCIA
Contrato
da Fundação Inatel têm
protestado ao longo deste
ano, em frente à sede, a
exigir os aumentos salariais e o

e empresa
pagamento de subsídios de turno,
os cargos dirigentes têm sido acu-
sados internamente de gastos ex-
cessivos. Um grupo de trabalhado-
res e sócios “preocupados com o

à medida
que se está a passar” denuncia o
que considera práticas abusivas,
desde um diretor de serviço com-
prar um iPhone XS, capa de prote-
ção e seguro em nome da funda-
ção, até um contrato firmado com
uma empresa com quatro meses Primeiro gastaram-se 61 mil euros em brindes.
de existência para fornecimento Depois, autorizou-se. E um iPhone por 1.500
de brindes para um festival orga-
nizado pela autarquia de Sines – e euros? Compra-se e põe-se nas despesas.
cuja compra não foi previamente “É normal”, defende a fundação.
aprovada pelo conselho de admi-
Por Alexandre R. Malhado
nistração da Inatel.
No texto a que a SÁBADO teve
acesso, intitulado “Salvem o Ina-
tel”, cita-se uma informação de
serviço, em que se enuncia: “No
passado mês de agosto de 2018,
de forma faseada e continuada
e num prazo máximo de 15 dias,
ocorreu a entrega de bens (mer-
chandising) na Fundação Inatel,
pela empresa Brindextil Print So-
lutions, sem a respetiva formaliza-
ção procedimental.” Esta informa-
ção foi escrita em janeiro de 2019
pelo então diretor de Serviços
Gestão e Projetos da fundação,
Nelso Ventura. “Toda esta atuação
gerou a situação de existência de
uma despesa que foi realizada
sem que tenha havido a respetiva
autorização atempada do procedi-
mento e de dispêndio daquela
quantia, pelo órgão com compe-
tência para a decisão de contratar
– o Conselho de Administração”,
concluiu, pedindo ao presidente
do CA, Francisco Madelino, que
“autorize o pagamento”. A despesa
foi autorizada posteriormente,
a 23 de janeiro.
A Brindextil Print Solutions foi
escolhida pela Fundação Inatel
quatro meses depois de ser criada,
em abril de 2018, num contrato
por consulta prévia no valor de
61.120 euros para fornecer brindes,
como óculos de sol, porta-chaves,

16

q euros na Fnac do Saldanha com
j A confusão
Em janeiro de A despesa tida com estes brindes
2019, Francisco foi feita à revelia do Conselho de
Madelino
Administração da Inatel. Fonte da
autorizou o fundação justifica à SÁBADO com
pagamento dos
brindes, um “equívocos entre serviços”
contrato já de
agosto de 2018
pulseiras, toalhitas, headphones,
lenços, entre outros. “Cerca de
70% foram direcionados para o
Festival Músicas do Mundo, da au-
tarquia de Sines”, esclarece à SÁ-
BADO o dono da empresa, Lou-
renço Rosa, que garante não ter
criado a empresa para este propó-
sito. Todavia, a nova empresa é
uma forma de contornar a lei, de
modo a que o empresário mante-
nha laços com a Fundação Inatel:
“Já tínhamos relação com eles há
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Sobe&Desce
q
O iPhone topo de gama
No dia 6 de fevereiro de 2019, o
diretor de serviços Nelso Ventura
comprou na Fnac um iPhone XS,
capa, protetor de ecrã e seguro e Octávio Ribeiro
meteu nas despesas da Inatel Jornalista
q g
Os brindes Joe Biden
Uma empresa com poucos meses Presidente eleito dos EUA
forneceu mais de 60 mil euros A recontagem
em brindes para a Inatel: óculos
de sol, lenços, sprays de água da Geórgia confir-
e até lenços mou a vitória
e afunda mais
Trump no mar de
anos, entregávamos brindes com a fantasmas com
Enerre. O problema é que, por lei, que quer assom-
ao fim de três anos, a entidade pú- brar a América. É já certa a
blica não podia manter a relação sua tomada de posse em ja-
laboral com a mesma empresa. O neiro. Ninguém melhor do
que é uma pena: se uma autarquia que Biden para desarmadi-
ou instituição tem uma boa rela- lhar Trump. Terá tempo?
ção connosco, e sabem que temos
qualidade, fica impedida por im- g
posições.” Fonte oficial da Inatel Fernando Santos
acrescenta que “não há qualquer Selecionador de futebol
incompatibilidade legal” na esco- Que nunca aca-
lha da empresa. bem estes tem-
pos em que não
Um iPhone nas despesas aceitamos derro-
O grupo “Salvem o Inatel” refere tas com os Cam-
ainda gastos de diretores da fun- peões do Mundo.
dação. Apesar de a Inatel ter um Santos montou
contrato com a NOS, que disponi- uma dinâmica que nos per-
biliza telemóveis aos seus funcio- mite sonhar. O que não deve
nários, Nelso Ventura gastou 1.585 é condenar Diogo Jota ao
banco. Voltaram os lugares
um iPhone XS, a respetiva capa cativos?
protetora, película e seguro, e co-
locou-o nas despesas da funda-
i
ção, de acordo com faturas a que a
SÁBADO teve acesso. A fundação Mário Ferreira
responde que os telemóveis dis- Empresário de cruzeiros
ponibilizados pela NOS são de Com desassom-
gama “média-baixa” e “são adqui- bro, a CMVM de-
ridos com as características neces- cidiu pela existên-
sárias às funções” de cada um. “É cia de conluio
normal os funcionários compra- entre o ousado
rem bens ou serviços, pagando do dono de barcos e
seu bolso, mas destinados à Fun- uma Prisa à deri-
dação, sendo depois reembolsa- va. A derrota legal, por atro-
dos”, salienta a mesma fonte ofi- pelo aos valores de mercado
cial, acrescentando que é prática e transparência, só não seria
da empresa, “seja nos restauran- óbvia em países mal fre-
tes, seja em material pontual ne- quentados.
cessário” e que “foi o caso” com
este telemóvel. W
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ORETRATO
PCP. O QUE ACONTECEU AO COMITÉ CENTRAL DESDE 2004?

Tudo na mesma
Ou quase: o mesmo líder, muitas caras repetidas e até a média de idades próxima. Só o número
de membros e de Marias e José variaram. Apesar da pandemia, congresso começa dia 27.
Por Sara Capelo

E
m 2004, quando Jerónimo de centagem de funcionários do partido
Sousa se tornou secretário-ge- (sempre próximo de 50% do total) ou
ral do PCP, havia 20 Marias e a média de idades ligeiramente abai-
23 Josés no Comité Central. Estes no- xo dos 50. Em 2004, o novo líder ti-
mes entraram, desde então, em de- nha 57 anos – o que o colocava já
clínio nesse órgão: no último con- fora da média etária, mas ainda lon-
gresso (de 2016), elas eram 10 (em 36 ge do lugar de um dos anciãos do
mulheres) e eles, oito (em 108). Maria Comité Central, que aos 73 anos
Odete Santos ou o sindicalista José ocupa. Dia 27, arranca a quinta reu-
Ernesto Cartaxo contabilizam-se en- nião magna dos comunistas com Je-
tre os nomes históricos que tinham rónimo ao comando – e em terra
entretanto saído. Só outro dado vermelha: Loures, município presidi-
variou tanto no órgão coletivo do PC: do por Bernardino Soares, que há 16
o total de membros tem diminuído. anos já estava no CC. Tinha 33 anos
Em tudo o resto, a estatística man- (e o mais novo, o estudante e mem-
tém-se quase intocável: igual per- bro da JC Paulo Marques tinha 20). W

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RITA BERTRAND

OBITUÁRIO
Philip Voss (1936-2020)
A dicção impecável fez dele uma
estrela dos palcos londrinos.
Grande intérprete de Shakespea-
re, entrou num James Bond e em
Quatro Casamentos e um Funeral
filho mais velho de um farmacêutico
e de uma dona de casa, que se mu-
daram com a família para uma viló-
ria perto de Nottingham, onde ele se
juntou a um grupo de teatro amador
enquanto terminava o liceu.
EM 2017, com os melhores diretores de teatro
PERDEU O radiofónico, onde chegou a fazer O
COMPANHEI- Senhor dos Anéis, antes de se estrear
RO, O GUIO- no cinema, em 1980, com um papel
NISTA JOHN muito secundário em O Espião Mais
PEACOCK, Perigoso do Mundo, com Walter
COM QUEM Matthau, a que se seguiram 007 –

À
frente das câmaras, nunca foi
o artista principal. Para o ci-
nema ou para a televisão, era
apenas convidado para pequenos
papéis, às vezes com duas linhas de
texto, mas adorava cada minuto.
“Sou um ator de teatro, preciso da
plateia ao vivo, mas é uma maravi-
lha variar”, dizia. Em 2015, quase no
fim da carreira iniciada profissional-
mente em 1962, confessava-se “deli-
ciado” com os bastidores de Vicious,
a sitcom britânica sobre um velho
casal de gays em que interpretava
o irmão mordaz de um deles.
Sempre discreto em relação à vida
pessoal, foi precisamente a propósi-
to dessa série que se assumiu publi-
camente, numa entrevista à revista
inglesa Comedy: “Sou um produto
dos anos 50, um tempo terrível.
Nessa altura, estávamos simples-
mente sozinhos.” Na verdade, esta-
va prestes a perder o seu compa-
nheiro de vida, como ele aficionado
da jardinagem e de música: o guio-
nista John Peacock, que morreu
em 2017, ao fim de mais de quatro
décadas de união.
Nascido a 20 de agosto de 1936 na
cidade de Leicester, a 159 quilóme-
tros de Londres, Philip Voss era o
Aplauso unânime VIVEU MAIS Operação Tentáculo (1983), com
A paixão já germinava, mas teve DE 40 ANOS Roger Moore, Lady Jane, de Trevor
ainda de cumprir o serviço militar Nunn (1986), As Montanhas da Lua,
antes de se inscrever na Royal Aca- de Bob Rafelson (1990) e Quatro
demy of Dramatic Art, onde se Casamentos e Um Funeral (1994).
destacou como talentoso Foi no teatro, porém, que se tor-
ator de reportório clássico, nou uma estrela, com o aplauso
graças à projeção vocal unânime da crítica – ainda jo-
notável e à dicção irre- vem, em peças de Tchékhov
preensível, muito trei- ou Marivaux, e já cinquentão,
nada desde miúdo: a na Royal Shakespeare Com-
mãe sempre o pres- pany, onde tanto foi um
sionou a evitar os so- Shylock “brilhante” em três
taques da Inglaterra versões de O Mercador de
menos erudita onde Veneza como um “subtil”
morava. Menénio de Coriolano, um
Henrique V foi o seu “divertido” Malvólio de
primeiro sucesso Noite de Reis ou “o mais
shakespeariano, ainda perfeito” Próspero de
na década de 60, em A Tempestade.
que fez pequenos pa- Com um estilo direto, que
péis em séries de fazia brilhar cada palavra
televisão como que proferia, representou
Doctor Who, outros autores clássicos,
ficção científi- como Ben Jonson, mas tam-
ca com via- bém modernos, como Antony
gens no tem- Sher ou Alexi Kaye Campbell.
po, em que era Retirado desde 2016, era
um vilão con- doente oncológico e recente-
temporâneo de mente contraiu Covid-19, de
Marco Polo. que morreu na sexta feira, 13
Nos anos 70, trabalhou de novembro, aos 84 anos. W
LUIS GRAÑENA

Jonas Mello Nos anos 80, já nos entrava pela
(1937-2020) casa dentro, em Baila Comigo,
onde fazia de Álvaro França.
Não sendo um galã, teve uma Também foi o guarda-costas
profícua carreira na televisão Francisco na versão de 2004 de
brasileira. Flor do Caribe, Escrava Isaura e, em 2012, o Is-
atualmente a dar em Portugal mael de Salve Jorge, só para citar
no canal Globo, foi o seu últi- alguns dos seus trabalhos que
mo trabalho. Morreu na quar- passaram em Portugal. Porém,
ta-feira, dia 18, aos 83 anos interpretou mais de 50 papéis em
produções televisivas do Brasil.
Ator versátil, que se estreou em
1969 com A Cabana do Pai To-
más, foi também muito requisita-
do para dobrar animação e en-
trou em 10 filmes. Solteiro, sem
filhos, tinha feito 83 anos a 20 de
outubro e vivia sozinho em São
Paulo. Na quarta feira à tarde,
sentiu-se mal e ligou a um primo,
que ao chegar à sua casa, o
encontrou morto na cama. W

20
 A semana

AS FRASES F
Bárbara Taborda, influencer, Nova Gente
“Nem imaginam como fica o cérebro
com os estímulos de um telemóvel...
não há cérebro que aguente”

F F F
Rui Rio Jerónimo de Sousa Lionel Messi
“Nunca na vida um governo “Faremos o congresso do PCP. “Estou farto de ser o culpado
liderado por mim se colocará As liberdades nunca podem ser de tudo no Barcelona”
nas mãos do Chega, o Chega a juguladas” Futebolista, Marca
exigir tudo o que quer e pode, Secretário-geral do PCP, aos jornalistas
como está a fazer o PCP ao PS” F
Líder do PSD, TVI F Barack Obama
Fernando Santos “Trump fez muito mal
F “Temos de ser muito aos Estados Unidos e ao
Mariana Mortágua
melhores. Estes jogos resto do mundo. Se se
“É um erro deixar o Banco de
Portugal governar no Terreiro não se ganham só ignora a ciência, se se
do Paço” bonitinho, só bonitinho ignoram os dados, a
Deputada do BE, em referência a Mário
Centeno, Twitter
ninguém ganha pandemia agravar-se-á.
a ninguém” Se se recebe ditadores
Selecionador Nacional, conferência
F de imprensa de braços abertos, então
Valdis Dombrovskis o compromisso com
“Entre os países altamente a democracia ficará
endividados, Portugal não tem o diminuído
défice orçamental mais elevado, Ex-Presidente dos EUA, El País
mas existem preocupações a
longo prazo sobre a [sua] F
estabilidade orçamental. As Judite Sousa
previsões estimam uma dívida “Tenho saudades do período das
pública alta e isso é algo que tem 18h às 20h, em que toda a gente
de ser acautelado” corre de um lado para o outro
Vice-presidente da Comissão Europeia, a ultimar o jornal das oito”
Lusa Jornalista, Caras

F
F Joana Amaral Dias
George Clooney “Ter uma foto com um biquíni
“Eu corto o meu próprio mais cavado não diz nada sobre
cabelo e corto o cabelo mim. Nos anos 90 usava biquínis
bem piores”
aos meus filhos. Estou Psicóloga, Caras
a limpar, a aspirar
e a lavar roupa e louça
todos os dias”
Ator, GQ
FOTOS GETTYIMAGES

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 25 NOVEMBRO 2020
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F
Emma Corrin, atriz, que interpreta
Diana de Gales na série The Crown, Variety

“Toda a gente
tem uma
história sobre
Diana. Acho
que devo
começar a
colecioná-las”

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SÓNIA BENTO

INSÓLITO
!

Pai Natal no mar Morto

Um homem vestido de Pai Natal foi para o mar
Morto e, numa prancha de paddle, andou alguns
metros da costa até parar num local onde o sal se
acumulou. Em seguida, espetou ali uma árvore de
Natal e meteu-se na água. Esta iniciativa faz parte
de uma campanha do Ministério do Turismo israe-
lita para lembrar a quadra festiva que se aproxima
numa altura em que a pandemia afastou os pere-
REUTERS

grinos da Terra Santa.

! ! !
O pão coronavírus Operada ao nariz fica A LEGO VAI LANÇAR UM NOVO PRODUTO,
Uma fotografia de um sem parte da orelha QUE SERÁ O DE MAIOR NÚMERO DE PEÇAS
pão em forma de coro- Depois de se submeter a uma ci-
navírus tornou-se vi- rurgia ao nariz, num hospital de
ATÉ HOJE. O KIT DO MODELO DO COLISEU DE
ral no Twitter, ao ser Chengdu, na China, uma mulher ROMA TEM 9.036 PEÇAS, QUASE 1.500 A MAIS
publicada por um uti- de 31 anos ficou chocada ao ver QUE O DA FAMOSA NAVE
lizador que escreveu: que um bocado da cartilagem da DE STAR WARS, COM 7.541
“A única coisa boa des- sua orelha fora removida. O hos-
ta pandemia.” O pão é pital defende que é o procedimen-
PEÇAS. ESTE FOI ESTUDA-
feito numa padaria, na to normal e que ela assinou um DO PARA QUE CADA DE-
Cidade do México, que acordo que mencionava que se- TALHE FOSSE FIEL AO
o rebatizou como “pão ria usada “cartilagem para rino- MONUMENTO.
coronavírus”. plastia”. Ela exige indemnização.

€21 mil !
Multa por alimentar esquilos
!
Atirar filhos como
Um casal da Carolina do Sul, Uma mulher foi multada em 120 li- bolas de basquete
nos EUA, mudou-se para bras (€134), em Lampton Park, Lon- 1. A porta do colégio
uma casa nova e encontrou dres, por alimentar esquilos com Trillades, na cidade fran-
46 moedas de ouro e prata do nozes, classificadas como “lixo”. cesa de Avignon, não
século XIX, no valor de 25 mil tolera atrasos e a partir
dólares (€21 mil), escondidas das 8h30 já ninguém
num armário. Devolveram- ! entra.
! -nas ao anterior inquilino, Pavor de ser mãe 2. Os pais, que não
Famoso por dar que há uns meses tinha guar- Uma argentina de 22 anos, que la- querem que os filhos
comida a guaxinins dado as moedas em duas cai- queou as trompas de Falópio por não percam as aulas, atiram-
James Blackwood, um xas com meias para as salva- querer ter filhos “nem agora nem nun- -nos pela vedação, com
escocês reformado, tem guardar nas mudanças – só ca”, tornou-se o assunto mais polémi- quase dois metros,
alimentado dezenas de que nunca mais se lembrou. co nas redes sociais naquele país. como se estivessem
guaxinins todas as noites, a jogar basquetebol.
há mais de 20 anos. O 3. A escola foi obrigada
ex-polícia e os seus ami- ! a colocar cartazes, aler-
gos tornaram-se assunto O barco em forma de puxador de fecho-éclair tando os pais do perigo
nas redes sociais, por O designer japonês Yasuhiro Suzuki criou um barco, em que é atirar os filhos.
causa de um vídeo divul- forma de puxador de fecho-éclair, que parece rasgar a “Não lances as crianças
gado em que ele aparece água enquanto navega. Chama-se Zipper Fastener Ship, pela vedação. Quando
a dar uvas e cachorros mede nove metros, é cromado e, visto de cima, é um chegares tarde, volta
quentes aos animais. autêntico fecho-éclair. às 10h ou às 15h”, lê-se.

24
Deseja residir e trabalhar
no Reino Unido a partir
de 1 de janeiro de 2021?
As regras para os cidadãos
da UE irão mudar

Terá de satisfazer Verifique se é elegível e

determinados requisitos solicite online um visto antes
no âmbito do novo de entrar no Reino Unido.
sistema de imigração
com base em pontos Os cidadãos da UE elegíveis para o
do Reino Unido. estatuto ao abrigo do EU Settlement
Scheme não são afetados.

Verifique se é elegível no site:

GOV.UK/MudarseparaoReinoUnido
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INDISCRETOS A questão do “preto”

em Sousa Tavares

JOÃO MIGUEL RODRIGUES

! passagens já eram “pretos”. Há
O DILEMA
Miguel Sousa Tavares prefere
preto ou negro? Depende. Na en-
trevista a André Ventura na TVI,
preferiu “preto” (“Tem algum
amigo preto?”, perguntou-lhe).
No seu bestseller passado em São
Tomé e Príncipe, Equador (2003),
varia. Por 81 vezes aparecem
“negros” na história. Mas em 29
ainda nove “pretas” e 11 “negras”.
Quanto a André Ventura, respon-
deu que sim, que tinha amigos
“pretos”, assim como em Equa-
dor a inglesa Ann tinha também
um amigo “preto”, o Gabriel. Tão
amigos eram que Luís Bernardo
(o herói) os apanhou na cama –
custou-lhe tanto que se matou
com um tiro.
!
No meu tempo
de capa e batina
A revista Capa e Batina pediu a 33
ex-presidentes da Associação
Académica de Coimbra (de Alber-
to Martins, Correia de Campos,
Emídio Guerreiro ao administra-
dor do porto de Lisboa Ricardo
Roque) para recordarem o que foi,
no seu mandato, o equivalente à
primeira Tomada da Bastilha –
quando, há 100 anos, um grupo
de estudantes invadiu o elitista
Clube dos Lentes para triplicarem
o espaço da sua sede. Os primei-
ros estiveram contra o Estado
Novo, os segundos contra os au-
mentos dos preços nas cantinas
universitárias, até com o roubo
simbólico da caixa registadora.

!
Contra a Covid,
! perfumar
Denúncia em estudo próprio Coimbra publicou o contrato de
uma das mais originais medidas
André Ventura foi multa- ginal na comunidade. Ora, de combate ao vírus: a câmara di-
do pela Comissão para a o dito gráfico é retirado rigida pelo socialista Manuel Ma-
Igualdade e Contra a (página 189) de um estu- chado gastou 54.198,72 euros (já
Discriminação Racial do, de 2014, patrocinado... com IVA) em floreiras que servirão
(CICDR) em 438 euros, pelo próprio ACM. E o con- de divisórias, uma medida “ex-
após uma denúncia texto? Bem, o contexto traordinária no âmbito da Covid-
do Alto Comissa- é a “inserção no -19”. O processo, segundo se lê no
riado para as Mi- mercado de traba- portal Base, teve consulta prévia.
grações (ACM). A lho” e está lá esta
razão: discrimi- frase: “Cerca de
nação contra a 34,8% dos inqui-
comunidade ridos indicam
cigana, tendo que a sua prin-
Ventura “reti- cipal fonte de
rado do con- rendimento é o
texto” um grá- RSI, enquanto
fico que indica aproximada-
RICARDO ALMEIDA

que o trabalho mente 9,5% re-

é uma fonte de velam que é o
D.R.

rendimento mar- trabalho.”

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O CARTOON
Por Vasco Gargalo

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 A semana

ENTREVISTA
É sobrinha-neta de Hermann Göring, número dois de Hitler, um dos
poucos que foi julgado há 75 anos, em Nuremberga. Esterilizou-se
ainda jovem e fala do impacto do passado nazi na Alemanha.
Por Miriam Assor

BETTINA GÖRING

“A minha avó era

uma verdadeira
nazi. A nossa relação
era muito estranha”

O
avô paterno era irmão do
assassino que autorizou a
solução final. Bettina não
é culpada por ter carni-
ceiros na família. Nem ela, nem nin-
guém. Nasceu em 1956, na cidade
alemã de Wiesbaden, saiu de casa
muito nova, zangada com o pai. Aos
19 anos, viajou para a América Cen-
tral. Voltou, mas por pouco tempo;
precisava de estar longe das memó-
rias. Viveu na Índia e em Inglaterra,
e nos Estados Unidos, e agora numa
ilha tailandesa. Seguindo o único
irmão, decidiu esterilizar-se, talvez
como forma de afogar os genes.
Amiga de uma artista judia filha de
sobreviventes do Holocausto, for-
mada em Medicina Chinesa, não
vira a cara a entrevistas, escreveu
um livro sobre os seus fantasmas, e
muito embora no passaporte o seu
apelido seja o de casada, quando
o assunto se relaciona com a Se-
gunda Guerra Mundial, usa o nome
do meio: Göring. Nesta entrevista,
curiosamente, cada vez que falava
do tio-avô, tratou-o apenas por
Hermann.
Como lida com o nome Göring?
Na Alemanha, é um nome comum.
Não é como o de Hitler. Quando me
casei, mudei para o apelido do meu
Göring marido; queria um novo começo de
Veterano da vida. Numa reunião familiar, na
I Guerra Mundial Baviera, um dos meus primos disse-
e membro do par- -me que queria mudar de nome
tido nazi desde o
e eu fiz-lhe ver que com tantos
início. Fundou a
Gestapo e foi co- Göring (que não são do ramo fami-
mandante-chefe liar do Hermann) não era preciso
da Luftwaffe. Con- mudar nome nenhum.
denado à morte
em Nuremberga, Que repercussões teve na sua vida
suicidou-se com o facto de Hermann Göring ser da
cianeto sua família?
Na Alemanha, ninguém nos fez pas-
sar tempos difíceis, contudo, havia
um sentimento de culpa, uma culpa
F sem nexo, que já não tenho. Na mi-
“Havia um nha geração, não era só eu que ti-
sentimento nha esse sentimento. Quando des-
de culpa, que cobrimos o que realmente aconte-
já não tenho. ceu éramos adolescentes, e como
Na minha os nossos pais não queriam falar so-
geração, não bre o tema, aliás ninguém queria fa-
era só eu que lar, era normal acusá-los.
tinha esse
sentimento” Qual é a sensação de ser descen-

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j dente de um nazi?
Com 64 anos, É uma pergunta complicada. O
Bettina Göring
vive na Tailândia, meu irmão diria que não tinha
mas sente-se mais nada com isso. Para mim, o que
alemã que nunca. me incomodava mais era a relação
Conta que na sua
família já não há que eu tinha com a minha avó, a
nazis e quando mãe do meu pai. Ela era uma ver-
descobriu o dadeira nazi. Tínhamos uma rela-
passado do tio
ficou chocada ção muito estranha.

Refere-se à avó que trabalhava

na Cruz Vermelha e participou
no embelezamento do campo
de Theresienstadt para que não
se suspeitasse de que era um
campo atroz?
Sim, é verdade, esta minha avó ti-
nha um alto cargo na Cruz Verme-
lha. Eu era criança quando ela, por
razões de saúde, passou a morar
F no nosso apartamento. Foi um dra-
“Quando ma. Ela era a nazi da família e era
vimos um muito difícil lidar com ela. Antes e
documentário durante a guerra, foi o Hermann
sobre que cuidou dela.
Auschwitz,
descobri o Como é que eram os seus pais?
que os nazis Eles conheceram-se depois de o
tinham feito” meu pai ter voltado de um campo de
prisioneiros de guerra russo, em
1952. Eram completamente diferen-
tes. O meu pai era do lado nazi e a
minha mãe era do lado oposto. A fa-
mília do meu pai morreu na guerra, à
parte daquela avó nazi, e de uma tia-
-avó, irmã do Hermann, a Olga.

O que provocou a saída de casa

Hitler´s de uma miúda de 14 anos?
children Foi após uma grande luta que tive
com o meu pai. Até então, ele nunca
me batera. Nesse dia, bateu-me na
cara com o anel da família, o brasão
feriu-me e fez sangue. Bati-lhe de
volta e ele caiu no chão. E eu fui-me
As Crianças embora. Estive seis meses sem ir a
de Hitler casa, e só voltei, muito depois, para
O documentário lá viver apenas por dois meses.
de Chanoch Ze’evi
reúne descenden- Como é que sobreviveu?
tes de criminosos
Fui viver com uma amiga de 14 anos,
nazis, como Betti-
na. “Tenho bom
trabalhei em limpeza, roubámos co-
contacto com Nik- mida. Nunca deixei de estudar. A mi-
las Frank (filho de nha mãe disse-me que se eu conse-
Hans Frank, gover- guisse acabar o liceu, me pagava
nador-geral da uma viagem. E acabei. Viajei para
Polónia ocupada)” a Cidade do México. Q

29

A semana
Q Viajar faz parte da sua vida.
Sim. Morei na Índia, no fim dos anos
70 e 80, também em Inglaterra e, de-
pois de 1983, nos Estados Unidos. Há
seis anos que nós – eu e o meu mari-
do – vivemos na Tailândia.
Como foi viver na comuna de
Osho, na Índia?
Havia muitos alemães, judeus e ja-
poneses lá. Eram os anos 70 e era
como se as crianças da Segunda
Guerra Mundial se unissem de uma
forma amigável. Saí de lá porque o
meu pai estava a morrer. Voltei para
a minha cidade. Nessa altura encon-
trei nas caixas dele fotos antigas
onde estavam Hitler e outros nazis,
e o Hermann, muito jovem e magro.
Dei por mim a olhar para o espelho
e a ver que eu me pareço com ele
quando ele era magro.
A sua decisão de se esterilizar
baseou-se em quê?
Tinha cerca de 30 anos quando fiz
isso. Estava a morar na comuna em
Osho, em Pune, Índia, e muitas pes-
soas naquela comuna esterilizaram-
-se. Achei que havia muitas crianças
no mundo, então, não teria nenhu-
ma. O meu irmão também fez isso.
Li que tinha sido especificamente
para cortar os genes Göring.
Não. No entanto, quando o meu ir-
mão fez isso, ele disse-me: “Cortei a
linhagem.” Ele é um pouco dramáti-
co. Mas quando me disse isso, ficou
claro para mim que essa frase talvez
me tenha influenciado.
De que maneira descobriu que
Göring foi um criminoso nazi?
Quando era pequena, sabia que ele
tinha sido importante, que tinha sido
chefe da Luftwaffe. Mas não tinha
ideia do que acontecera na guerra.
Com 11, 12 anos, mudámos de apar-
tamento, onde já tínhamos televisão,
e foi quando vimos um documentá-
rio sobre Auschwitz. Nesse dia, des-
cobri o que os nazis tinham feito.
Como é que reagiu?
Ficámos horrorizados. O meu irmão
e eu. A minha avó nazi estava
demente, e mesmo assim continua-
va a dizer: “São só mentiras”. O meu
30
g irmão atirou-lhe com um sapato
Hitler colocou para cima. Mesmo assim, ainda não
Göring como o
seu ministro de entendíamos como é que Hermann
guerra. Caso o estava diretamente envolvido em
Führer morresse, tantas atrocidades. Levei muito
ele é que seria
o seu sucessor tempo para entender a sua conexão
direta com o Holocausto.
Quanto tempo?
Só quando fiz o documentário com a
Ruth Rich [artista, filha de sobrevi-
ventes do Holocausto], em 2004. Ela
era muito confrontacional. Antes de
nos encontrarmos na Austrália, ela
escreveu-me um email e perguntou-
-me o que é que eu tinha a dizer so-
bre aquilo; aquilo era um documento
onde Hermann assina a solução
final. Fiquei em choque.
Só em 2004? Porquê? Bastava
uma breve pesquisa no Google
para encontrar essa informação.
Sabia que ele era o número dois do
regime nazi, mas outra coisa é ver o
nome dele explícito na solução final.
Não estava virada para fazer pesqui-
Sobreviver sas no Google. Estava a estudar Acu-
Bettina é amiga de puntura e a tratar de pessoas.
Ruth Rich, nascida
na Alemanha em Qual era o objetivo do documen-
1947, que é filha de tário, de Cynthia Connop?
pais polacos Conciliar os traumas nas Bloodlines
sobreviventes
[linhas de sangue] – exatamente
dos campos de
concentração. O como o nome do documentário.
irmão Heinish
e os avós foram Qual foi o campo de concentração
mortos nazi que visitou?
25 NOVEMBRO 2020
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Buchenwald [Leste da Alemanha].
Estive com a sobrevivente do Holo-
causto Eva Mozes Kor, uma senhora
incrível. Estivemos juntas numa via-
gem organizada por uma associa-
ção que promove o perdão da cura.
Ela foi a oradora principal e eu fui
convidada a falar.
Estar longe da Alemanha ajudou-
-a no que diz respeito a ter um
familiar nazi?
Tenho a certeza. Vivendo noutra
cultura, encaramos a nossa e pode-
mos vê-la através dos olhos de ou-
tros. Sinto-me mais alemã do que
nunca. Por exemplo, na comida.
Como combate os revisionistas
que negam o Holocausto?
É difícil. Conheço esse tipo de pes-
soas, chamo-lhes hippies fascistas
com teorias de conspirações. Já lhes
perguntei se querem falar com so-
breviventes do Holocausto e res-
pondem que isso é uma estupidez.
Em que circunstâncias falou com
a única filha de Hermann Göring ?
Quando estava a escrever o meu
livro [Der gute Onkel: Mein ver-
dammtes deutsches Erbe – O bom
tio: o meu maldito legado alemão],
a coautora queria que eu falasse
com Edna (que também não teve fi-
lhos), com quem eu nunca havia fa-
lado. Contactei-a e achei-a simpáti-
ca. Perguntei se ela queria dizer al-
guma coisa sobre o pai. Edna recu-
sou: disse que não tinha nada para
desabafar.
Ninguém pode mudar o passado.
O que é que se pôde e pode fazer?
Muito. A Alemanha, em comparação
com outros países, fez muito. Muito
se aprendeu de forma intelectual e a
falar sobre o Holocausto. Na Alema-
nha, a constelação familiar, que é
uma terapia para lidar com traumas,
é muito usada. Para mim, foi como
entrar nas minhas emoções. Não é
fácil. E é muito doloroso. Temos de
ser como testemunhas. Todos nós
sabemos que o Holocausto existiu,
mas precisamos de aceitar que exis-
tiu num nível mais elevado: sentir.
Assim que isso funcionar, devemos
seguir em frente. W
 Opinião
A LAGARTIXA O O
E O JACARÉ A obsessão
O dualismo esquerda- posicional
-direita sobrevive num
mundo que não só não e o empobre-
consegue interpretar, como
não consegue descrever. cimento
Isto significa que como
“tradição” pode ser
enunciado sem errar, mas
da política
não pode ser actualizado Há anos que combato o dualismo es-
querda-direita e os estragos que faz
na vida política contemporânea, mas
não vale a pena. É cómodo, não pre-
cisa de esforço de análise, e ajuda ao
conforto da classificação fácil. É
igualmente um anacronismo, vindo
de tempos passados onde as coisas
eram mais simples, para um mundo
muito mais complexo e com novos
elementos que não estavam presen-
tes na génese da classificação. O dua-
lismo esquerda-direita sobrevive
num mundo que não só não conse-
gue interpretar, como não consegue
descrever. Isto significa que como
“tradição” pode ser enunciado sem
errar, mas não pode ser actualizado.
Os efeitos perversos em política
desta dualidade revelam-se ao gerar
uma dinâmica redutora da realidade
e encurralar pessoas e partidos num
cantinho em que, se estão contentes
de lá estar ajudam à perversão, se
não estão confortáveis têm de passar
o tempo todo a explicar que aquele
não é o seu lugar. O exemplo que
dou habitualmente para explicar
porque razão o dualismo esquerda-
-direita é pouco útil para perceber a
actualidade é a questão das drogas e
da sua legalização. Há grupos de di-
reita muito favoráveis à sua legaliza-
ção e grupos à esquerda hostis. Em
praticamente todas as questões cha-
madas “fracturantes” esta distinção
esquerda-direita falha, mas mesmo
no plano cultural, social, económico,
já não é o que era. W
O
Professor
José Pacheco Pereira
32
Alguém
percebe
o caso de
Tancos?
Presumo que ninguém. Foi um roubo
seguido de um encobrimento ao mais
alto nível dos ladrões? Duvido, é de-
masiado complicado para ser verda-
de. Há mais coisas aqui. Eu não sou
de conspirações, muito menos em
Portugal onde ninguém guarda um
segredo mais de 15 dias sem o contar
a alguém, para mostrar que “sabe”.
Mas neste caso, onde todos estão a
mentir, há qualquer coisa que nos fa-
lha e que explica que pessoas sem
aparente ganho de causa pessoal, a
começar pelo dinheiro, tivessem co-
metido graves ilegalidades. W
O
O golpe
de Estado
em curso
nos EUA (1)
O golpe desenrola-se em público. O
Presidente, que perdeu as eleições, e
os seus aliados, desenvolvem uma
campanha de opinião pública sobre
como os resultados foram falsifica-
dos por uma conspiração dos demo-
cratas por todo o país, usando má-
quinas e software criado pelo defun-
to Chávez da Venezuela para mani-
pular os resultados; actuam no senti-
do de pressionar directamente res-
ponsáveis eleitorais republicanos nos
estados para mudarem as contagens
favoráveis a Biden, eliminando votos
a seu favor, de modo a garantir maio-
rias para Trump, com telefonemas e
contactos pessoais directos, de sena-

dores e do próprio Presidente a pes-
soas envolvidas nas contagens; apre-
sentam queixas judiciais, umas a se-
guir às outras, recusadas sistematica-
mente pelos tribunais por falta de
fundamento e provas; pedem conta-
gens e recontagens de modo a atrasar
o acto de certificação dos resultados;
insultam e demitem todos os que
contrariam este processo; organizam
manifestações e grupos de extrema-
-direita para manter a pressão nas
ruas, tudo no sentido de “roubar” a
vitória a Biden e proclamar, como diz
Trump no Twitter, uma “vitória es-
magadora” ao homem do cabelo
amarelo-laranja. Nunca fazem nada
disto em estados ganhos por Trump,
nem contestam os resultados nos es-
tado de maioria Biden dos senadores
republicanos, com o mesmo eleitora-
do, as mesmas máquinas, a mesma
composição de votos presenciais e
SUSANA VILLAR
25 NOVEMBRO 2020
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pelo correio. O passo seguinte é ainda
mais grave: escolher delegados ao
colégio eleitoral que votem Trump
em vez do candidato escolhido no
seu estado se for Biden, como é a
prática na democracia americana.
Dizem os “trumpistas” que se trata
apenas de usar expedientes legais,
mesmo que admitam que a litigância
é de má-fé. No no seu conjunto é, de
facto, um golpe de Estado. W
O
O golpe
de Estado
em curso
nos EUA (2)
As ilegalidades não se ficam por aqui.
Trump recusa-se a conceder os re-
sultados e está a fazer duas coisas
igualmente graves: está a bloquear o
acesso do Presidente eleito às infor-
mações e aos meios a que tem direito
e está a tomar decisões em matérias
sensíveis, muitas das quais perigosas
para a segurança dos EUA, para con-
dicionar o seu sucessor.
Em privado admite que o faz por
vingança deslegitimando o novo Pre-
sidente, como acha que lhe fizeram
com a questão russa. Este homem é o
que é. Nem sequer me consola que
ele vá para o Inferno jogar golfe. W
O golpe
de Estado
em curso
nos EUA (3)
Tudo isto devia dar prisão. W
Texto escrito segundo
o anterior acordo ortográfico
33
 Destaque

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 25 NOVEMBRO 2020
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COMO É
CRISTINA FERREIRA. NA TVI CHAMAM-LHE A “GENERALA”

REALMENTE
A MULHER
MAIS
PODEROSA
DA TELEVISÃO
Teme o mau olhado, é megalómana e já
tentou interferir em tudo na TVI – quase
sempre com mau resultado. Nos bastidores
mostra uma cara diferente da que transmite
para o público. Grita e insulta colaboradores,
mas está cada vez mais fragilizada.
As audiências e a batalha judicial com a SIC
são guerras que não pode perder.
Por Raquel Lito, Sónia Bento e Lucília Galha

35
 Destaque
C
hega de calças e ca-
saco, sem produções
– se precisar, tem
várias mudas de
roupa no trabalho.
Às 8h, desmaquilha-
da, poucos dão pela
chegada de Cristina Ferreira à esta-
ção de Queluz de Baixo. A diretora
de Entretenimento e Ficção com ple-
nos poderes – na TVI chamam-na
de “generala”, “patroa”, ou “ dona
disto tudo” –, sobe as escadas até ao
primeiro andar. O espaço teve obras
de remodelação em agosto, para a
receber: onde antes havia salas de
formação, existe agora uma zona de
D.R.
gabinetes. O dela fica ao fundo. Ao
lado, ficam os escritórios dos amigos
Lurdes Guerreiro (diretora de produ-
ção de Entretenimento e Ficção),
João Patrício (diretor executivo de
Entretenimento e Ficção) e André
Manso (diretor de produção de En-
tretenimento e Ficção).
Nenhum deles tinha experiência
em programação televisiva antes de
Cristina, de 43 anos, os levar para a
TVI. Nos dias em que não estão em
teletrabalho, andam os quatro pela
estação. Almoçam juntos, mas não
são vistos na cantina ou no bar: co-
mem numa sala de reuniões, pedin-
do takeaway de restaurantes parcei-
ros das ações de marketing de Cristi-
na, como a Casa do Marquês ou o
JNcQuoi. Outras vezes, a apresenta-
dora almoça fora no K.O.B. by Oli-
vier, em Lisboa, e anuncia o espaço
no seu Instagram. Sendo embaixa-
dora dos restaurantes do chef, tem
regalias confidenciais (presume-se
que sejam refeições gratuitas).
Na semana passada, Nuno Santos,
diretor-geral, mudou-se para aquela
área renovada. Os dois começam a
aproximar-se pela sobrevivência da
estação, embora até muito recente-
mente fossem apontados como ini-
migos. Ela é acionista, mas está abai-
xo dele hierarquicamente. Ele não a
contraria, nem quando Cristina o de-
safiou de várias formas: recuperou
Teresa Guilherme para o Big Brother
e afastou Cláudio Ramos (aposta de
Nuno Santos); reuniu-se com os ato-
res na produtora de novelas Plural,
afeta à TVI, em Bucelas (sem a pre-
sença do diretor-geral); mexeu no
36
agora acalmou”, dizem à SÁBADO.
Outras fontes da estação admitem:
“A direção está em sofrimento com
os resultados, a administração tam-
bém não está contente. Estamos a
perder todos os dias.” Os detratores
diagnosticam “uma egomania que
prejudica a performance”.
Além das audiências, a estrela tem
mais uma batalha pela frente: a judi-
cial com a SIC, com quem quebrou
unilateralmente o contrato a 17 de
julho passado. Terá até dia 18 de de-
zembro para apresentar a contesta-
ção ao pedido de indemnização de
€20.287.084,54.
Apesar das insistentes tentativas
via email e telefone junto dos asses-
g painel de apresentadores do Somos sores (tanto Inês Mendes da Silva,
No regresso à Portugal (escolhidos por ele); criou o como o Departamento Comunicação
TVI, Cristina Fer-
reira mostrou-se formato incerto Dia de Cristina; da TVI e a editora Contraponto), a
confiante com os recuperou o amigo Ruben Rua (cujo própria não quis fazer qualquer
adjuntos: João contrato tinha terminado); e convi- comentário para este artigo.
Patrício (à esq.ª)
e André Manso dou a blogger Helena Coelho para
fazerem dupla no VivaVida. FLOPS SUCESSIVOS
Ao contrário do que ela esperava, h No dia a dia, Cristina Ferreira gos-
nada disto resultou. A queda de au- ta que os adjuntos lhe prestem con-
diências fê-la recuar em algumas tas de cinco em cinco minutos –
medidas e deixou de ignorar o dire- nem que seja por telemóvel, quando
tor. Intercalam reuniões presenciais está fora das instalações. Nos basti-
com outras por videochamada. dores, é comum ouvi-la gritar por
10
anos
Num primeiro momento, a admi-
nistradora não executiva da Media
Capital – oficializou a compra de
eles: “Ó Manso! Ó Patrício!” Às vezes
os decibéis disparam a ponto de ser
ouvida nos corredores. Tal aconte-
“Posso ficar aqui 2.112.830 ações (2,5% do capital so- ceu num dos primeiros Dia de Cristi-
mais 10 anos, cial), por 1,2 milhões de euros, a 2 de na, em finais de setembro, ao perder
sem ganhar novembro – teve necessidade de nas audiências das tardes para a
uma única vez, afirmação, segundo fontes próximas concorrente da SIC, Júlia Pinheiro.
que eu não me da direção de programas. Exemplo “Ela esteve aos gritos com a equipa,
vou arrepen- flagrante: falar de si e do seu regres- ouvia-se fora da sala. Às tantas, hou-
der”, disse à Rá- so à TVI como a Era Cristina. “Tinha ve alguém que lhe disse: ‘Desculpa,
dio Comercial a ideia de dom providencial. Mas mas tu é que escolheste os convida-
dos’”, relata fonte da TVI.
Terminado o isolamento profilático
de 14 dias, devido à entrevista com
a cantora Bárbara Bandeira, infetada
com Covid-19, Cristina regressou ao
trabalho a 5 de novembro. Na esta-
ção, o Dia de Cristina é considerado
ENTROU A por várias fontes como um “fracasso
DESAFIAR AS para os custos que teve” (€300 mil,
DECISÕES embora parte já pagos) e tem os dias
DO DIRE- contados. “É o que ela sempre fez,
TOR-GERAL, quando prometia coisas novas.” O
NUNO SAN- g estúdio parece uma “galáxia”, acres-
TOS. MAS AS Jipe de luxo centam. Sem paralelo com os resul-
SUAS APOS- À saída da firma de advogados Vieira de tados de O Programa da Cristina, na
TAS FRACAS- Almeida, em setembro (surpreendida SIC, que fechou com 528 mil espeta-
pelo Correio da Manhã). O Range Rover
SARAM Sport custa, em média, €135.000 dores, o semanal instável “falha na

Cristina além do óbvio
O perito Alexandre Monteiro
faz a leitura subliminar
Discurso
Egocentrismo
As declarações “eu é que man-
do”, “eu é que escolhi”, podem
indicar precisamente o contrá-
rio: “Tem necessidade de o
transmitir para compensar”
Gritos
Chamada de atenção
“É o que fazemos com os nos-
sos filhos quando queremos
que eles nos oiçam”
Companhias
Mais jovens
Pode querer sentir-se mais jovial
ou por uma questão de poder
fidelização” do público que procura
alternativas, explicam fontes da TVI.
Para os entendidos, trata-se de um
princípio elementar; mas Cristina
tentou ser diferente. Acreditava que
ao aparecer, as audiências subiriam
independentemente da data.
Feito em Bucelas, na produtora
Plural, Dia de Cristina nasceu torto –
a 23 de setembro, vencido pelo Pre-
ço Certo da RTP1 e novelas da tarde
da SIC – e morrerá cedo, ao fim de
três meses (ver caixa com a grelha
para 2021). Pelo meio, sofreu percal-
ços. A 8 de outubro houve um pro-
blema na instalação elétrica e Cristi-
na mudou-se à pressa, com cerca de
70 pessoas, para os estúdios do Você
na TV! para não comprometer o di-
reto. No mês seguinte, o seu núcleo
duro foi para casa. André Manso tes-
tou positivo à Covid 19 e regressou
há dias; João Patrício esteve em qua-
rentena profilática até dia 16; e Lur-
des Guerreiro até dia 20.
São cada vez menos os convidados
25 NOVEMBRO 2020
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“AO PRINCÍ- ilustres. Cristina recorre à prata da
PIO, ELA TI- casa, apresentadores e ex-concor-
NHA REU- rentes do Big Brother. Mas quando
NIÕES E IN- surgem nomes como Jorge Jesus,
TERFERIA treinador do Benfica, na estreia a 23
EM TUDO. de setembro, tende a comparar-se
AGORA ESTÁ com o entrevistado: “Temos muitas
AFLITA”, DI- semelhanças na vida e no nosso per-
ZEM FONTES curso. Aliás, fomos apresentados os
DA TVI dois no mesmo dia [17 de julho] nes-
ta mudança de percurso. No meu
caso de estação, no teu de clube.”
“Agora está aflita”
Aparentemente inabalável, a con-
15.861
exemplares
fiança de Cristina desce com as au-
diências. Porque a SIC leva vanta-
gem: terminou outubro com 18,7%
Venda em ban- de share, enquanto a TVI teve 16,5%,
ca da revista segundo dados da empresa de estu-
Cristina, no pri- dos de mercado GfK. Ainda assim,
meiro semestre ela teve um vislumbre de vitória no
de 2020 (dados dia de regresso à antena, 10 de no-
da APCT). Em vembro, ao liderar com 19% de sha-
2015, vendia re. Na quinta-feira (19), o Dia de
70.412 Cristina ganhou a manhã e a tarde;
e destacou-se o especial sobre a
programação para 2021, o Futuro.
Mas a TVI não venceu o dia.
As certezas absolutas desapare-
cem. “Ao princípio, ela tinha reu-
niões e interferia em tudo o que era
área. Agora está aflita”, explicam à
SÁBADO fontes de diversos departa-
mentos da TVI. Terá desabafado
com um núcleo da sua confiança
que os resultados têm de aparecer
Instagram até ao fim do ano.
A 8 de novem- Para isso, fez mexidas na grelha e
bro, a TVI per- nos apresentadores. Fátima Lopes
guntou na sua perde protagonismo, já que A Tarde
conta da rede É Sua (superada por Júlia Pinheiro,
social quem ti- no mesmo horário da SIC) chega ao
nha saudades fim no final do ano. Passa a conduzir
do Dia de Cristi- um formato ao fim de semana.
na. Houve
quem respon- Reuniões com Moniz
desse negativa- Cristina tem sido acusada por fontes
mente internas de falta de humildade. Con-
tudo, algumas dizem à SÁBADO que,
perante os sucessivos flops, ela tende
a recuar. Significa ouvir os mais
experientes, nomeadamente quem a
j
Com o diretor-
levou para o Você na TV! em 2004 e
-geral Nuno San- apostou nela: José Eduardo Moniz,
tos, dia 19 de no- consultor da TVI para a Ficção e En-
vembro, na emis- tretenimento com contrato até 2022.
são O Futuro so-
bre a programa- “Eles têm várias reuniões e a Cristina
ção para 2021 leva em consideração o que ele Q
37
 Destaque
D.R.
Q diz”, dizem elementos próximos
de Moniz. “Cristina acha que faz tudo
sozinha, mas a televisão é um traba-
lho de equipa.”
Outro recuo: a mudança no Big
Brother (BB) com reforço de Cláudio
Ramos em 2021, seguindo a aposta
inicial de Nuno Santos, mas não
dando completamente o braço a
torcer. Teresa Guilherme continua-
rá por insistência de Cristina, ape-
sar dos resultados. Nas sete primei-
ras galas (de 13 de setembro a 25
de outubro) teve uma média de
663.600 telespetadores; enquanto
Cláudio Ramos conquistou nas suas
primeiras sete (de 10 de maio a 21
de junho) 901.200.
Quando o apresentador foi infor-
mado pouco antes da final do BB de
que na edição seguinte seria substi-
tuído por Teresa Guilherme, os críti-
cos de Cristina Ferreira viram nisso
uma vingança. Uma retaliação ao
aviso do ex-vizinho na SIC, em cima
da hora, de que ia sair das manhãs
para apresentar o reality show da
TVI. Cláudio Ramos garante à SÁBA-
DO: “Não houve nem gritos nem dis-
cussão.” Porque, quando se zanga a
sério, Cristina fala baixo, acrescen-
tam fontes próximas dela.
Questionado sobre o afastamento,
o apresentador relativiza: “A forma
como me foi comunicado, numa
reunião tranquila, não me abalou.
Não saí de lá chateado. Saí pronto
para apresentar a última gala do
BB2020, ir de férias e voltar a traba-
lhar quando ambos entendêssemos.”
Às vezes, Cristina altera a sequên-
cia dos conteúdos dos programas –
e em cima da hora. “Na SIC, ela mu-
dava os alinhamentos e as equipas
tinham de estar à altura. A trabalhar
era um bocadinho histérica”, conta
uma fonte próxima. Noutro formato
produzido pela Coral para a SIC,
Prémio de Sonho, exigiu reeditar o
programa de estreia em agosto de
2019. Foi em cima da hora que
38
haveria alterações. “Disse-lhe que ti-
nha feito julho, tinha pena porque a
recetividade do público era favorá-
vel ao meu regresso. Desejei-lhe feli-
LILIANA PINHEIRO
cidades.” Não obteve resposta e in-
terpreta: “Li algures que ela tratava a
1 2 equipa de novos apresentadores por
‘meus meninos’. Logicamente, não
1 poderia ser um desses meninos. Pela
Numa espécie de
tréguas com Pra Cima de Puta minha idade, só poderei ser pai da
Cláudio Ramos; Cristina. Pensei que tinha sido afas-
É o título do livro sobre as
recuperou-o para tado por falta de capacidades, mas
ser coapresenta- agressões de que diz ser alvo
não. Era uma questão de idade.”
dor do Big
Brother (BB) Lançado no último dia 20, Ruben Rua é um dos seus protegi-
Cristina Ferreira revela “a malda- dos. Tem 33 anos, menos 10 que a
2 de grassa” e o “fel” que é destila- amiga. Passeiam-se num iate e ela
A aposta na mãe
dos reality shows, do nos comentários que lhe diri- publica vídeos e fotos no seu Insta-
Teresa Guilher- gem nas redes sociais – no Ins- gram, dando a entender a “cumplici-
me, não tem tagram tem mais de 1,4 milhões dade” entre ambos. Foi filmado
resultado no BB
de seguidores. Convencida, numa dança sensual, exibindo os ab-
3 vergonhosa, traidora, mani- dominais tonificados. E quando fala
Com Manuel Luís puladora, falsa, exibicionista e dela publicamente, mostra-se embe-
Goucha, Júlia Pi-
nheiro e Fátima gananciosa são os sete capítu- vecido. “Cultivam imenso a história
Lopes numa gala los em que o livro está dividido. de um namoro para alimentar a im-
da TVI em 2010 prensa, mas não namoram. O grande
4 amor da vida dela é o pai do filho
Comparou-se a [empresário António Casinhas, de
Jorge Jesus, na acrescentou as imagens do assisten- quem está separada desde 2011]. A
entrevista que
lhe fez durante a te Ben (Ruben Vieira) a fazer flexões. Cristina é uma mulher solitária, ape-
estreia de Dia da Recentemente, houve um stresse sar de ter muita gente à volta”, revela
Cristina (23 de idêntico. A 6 de setembro, quase a ir
setembro)
para o ar o Somos Portugal, em que
estreou o camião do Ben, Cristina
mexeu na estrutura. A emissão foi
em Viana do Castelo e ela fez 400
Confiança km para assegurar que nada falhava.
“Se o Benfica Quem acompanhou o episódio, rela-
for campeão é ta: “Movimentou-se pelos bastidores
porque estives- e uma hora antes de o programa ir
te neste sofá”, para o ar alterou o alinhamento
disse para todo, deixando a equipa de produ-
Jorge Jesus, ção e os apresentadores em pânico.”
convidado na Apesar do controlo de Cristina, So-
estreia de Dia mos Portugal – formato que a pró-
de Cristina pria fundou há mais de uma década
– tem sido ultrapassado pelo Do-
mingão da SIC. Carlos Ribeiro la-
menta o afastamento do programa.
Recorda à SÁBADO que foi convida-
MUDOU UM do por Nuno Santos para reforçar a
ALINHA- equipa de apresentadores e fez sete
MENTO DO emissões (de 19 de julho a 30 de
SOMOS agosto). A 4 de setembro, dois dias
PORTUGAL antes do direto, ligou à produtora a
EM CIMA DA pedir o guião: “Fui informado que
HORA. A não estava no programa.” A 10 de
EQUIPA setembro, a diretora escreveu-lhe
RUI VALIDO
FICOU EM uma mensagem: tinha sido informa-
PÂNICO da que ele só faria o mês de agosto e

uma fonte. Poucos conhecem a na-
tureza exata da relação entre ambos,
embora uma outra fonte próxima de
Cristina reforce a tese do namoro –
e que já leva três anos.
Após ter sido dispensado por Nuno
Santos, Ruben Rua foi relançado por
Cristina. Arranjou-lhe o formato Vi-
vaVida ao lado de Helena Coelho.
VÍTOR MOTA
Um dos melhores editores de ima-
gem da informação chegou a ser re-
crutado para o programa, mas pe-
rante a insatisfação dos colegas vol-
tou à redação 20 dias depois. As dú-
vidas sobre o magazine foram-se
acumulando. Mesmo quando Ruben
Rua ficou em isolamento profilático,
a colega manteve-se no ar e foi criti-
cada pelo público porque fala rápido
e não tem experiência.
Inexperiente na ficção
Outra incerteza, esta bem mais dis-
pendiosa, é a ficção. Apesar de es-
forçada, Cristina pouco sabe do
tema. “Reuniu com os atores e auto-
res de novelas e todos ficaram em
pânico porque ela não percebe nada
daquilo”, contam próximos dos res-
ponsáveis pela área na Plural. Exige
tempo e dedicação, acrescenta outra
fonte da produtora de novelas:
“Pode ter algum know-how em ter-
mos de temas, porque tem muita ex-
periência no day time da televisão e
sabe o que as pessoas querem ver.
Agora, na ficção, não. É preciso ler
muitos guiões e ver todos os episó-
dios e ela não consegue ter tempo
para tudo.”
A 24 de julho, começou a visitar
os estúdios em Bucelas. Continua a
reunir-se com autores e atores. José
Eduardo Moniz ajuda-a na escolha
dos elencos. Isto para que a nova
novela, que começa a ser gravada
em janeiro e vai substituir Amar De-
mais, não seja mais um flop: Bem
4 linha têm leite de burra – tais como
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me Quer não agarrou na estreia
de 26 de outubro, perdendo para
Nazaré, da SIC.
CAPRICHOS
E SUPERSTIÇÕES
h “Um bom sapato” e o “cabelo ar-
ranjado” são a espinha dorsal, de-
fende: “Fazem uma mulher.” E é vê-
-la equilibrada nuns saltos altíssi-
mos, recorrendo à ajuda de amigos
(em especial de Ruben Rua) para
conduzirem o seu jipe de luxo. Sobre
1,8%
Taxa
a coleção de calçado, não faltam re-
ferências nas redes sociais e queixas
da própria sobre o tempo que
de engagement aguenta nos saltos. Comentários es-
na conta de Ins- cusados, lamentam à SÁBADO os
tagram (comen- mais experientes da TVI: “Parece
tários ou parti- aquelas pessoas que ficam ricas e se
lhas de seguido- esquecem dos parentes pobres.”
res). Há influen- É raro aparecer em público desma-
ciadoras digitais quilhada. Inês Franco é quem lhe
com mais: Cata- trata da imagem há 12 anos, revela a
rina Gouveia especialista à SÁBADO: “No cabelo
(5,7%) e Kelly ela gosta de irreverência.” Agora tem
Bailey (4,9%) um tom mais acobreado, mas prefe-
re ver-se loira: “Estamos a preparar
outra mudança.” Tendo olhos pe-
quenos, nunca dispensa eyeliner
para os aumentar. Os cremes da sua
os célebres banhos de Cleópatra, a
última rainha do Egito.
Desinfeção a fundo é outras das
Dissidente preocupações. Foi manifesta a partir
A advogada Su- de abril, no início da pandemia,
zana Garcia, co- quando retomou o Programa da
mentadora no Cristina na SIC após alguns dias de
Você na TV, saiu isolamento. Desde então, foi vista
com o regresso nos bastidores do formato da Coral
de Cristina. “A ao lado de uma empregada que lim-
ambição não é pava tudo antes de ela entrar em
ganância”, disse qualquer sítio. Exigência da apresen-
tadora, mesmo com as regras da Di-
reção-Geral da Saúde a serem cum-
pridas no espaço.
Foto em tamanho real
POUCO PER- De perna cruzada, com uns Loubou-
CEBE DE FIC- tin pretos, a apresentadora fixa a câ-
ÇÃO. “É PRE- mara com sensualidade. A imagem
CISO LER em tamanho real – feita para a capa
MUITOS da SÁBADO, de 12 de fevereiro de
GUIÕES E 2015 – decora a parede de entrada
ELA NÃO para a sua sala, em Vale de Bois,
TEM TEM- Mafra. A sessão decorreu no estúdio
PO”, DIZEM de Rui Valido, fotógrafo oficial da
NO MEIO apresentadora desde 2014. “Fui eu Q
39
 Destaque
Q que escolhi a fotografia entre mi-
lhares, porque é linda. Toda a deco-
ração está elegante e supersofisti-
cada”, descreve à SÁBADO Dino
Gonçalves, que decorou a casa da
estrela em 2017.
Poucos conhecem o refúgio da
apresentadora, perto da Malveira
(onde foi criada). Mas a própria espi-
caçou a curiosidade dos fãs, em en-
trevista na estreia de VivaVida (26 de
setembro): “O sonho de miúda era
ter uma casa com piscina e quando
consegui foi do género, pronto con-
segui. Gosto muito quando os amigos
do meu filho [Tiago, 12 anos] lá vão,
e houve uma vez que entrou lá um e
ficou muito ‘coiso’ e depois disse que
ele tinha uma casa à Cristiano Ronal-
do. E eu fartei-me de rir.”
Além da piscina, a mansão tem um
ginásio. “Ajudei na montagem quan-
do ela construiu a casa”, diz à SÁBA-
DO o personal trainer Nuno Neves,
marido da maquilhadora Inês Fran-
co. Acompanha-a há cerca de uma
década, agora à distância por causa
da crise sanitária. “Através da minha
plataforma, dou-lhe orientações à
distância, diariamente, até uma hora
de treino. Trabalha abdominais, per-
nas, glúteos e braços. O objetivo é
sentir-se em forma, ter resistência
e aliviar o stress”, conta o PT à SÁ-
BADO. Além do exercício, desde
2013 que recorre à nutricionista
Iara Rodrigues e faz caminhadas
diárias pela Ericeira.
Exibindo boa forma física, a apre-
sentadora escolheu um vestido cur-
to no aniversário. A 9 de setembro,
quarta-feira, passou o dia na TVI e
almoçou no restaurante Yakuza by
Olivier. Dois dias depois, comemo-
rou com aparato. Através de uma
parceria com a Casa do Marquês –
pagou uma parte, a restante foi atra-
vés de publicidade nas suas contas
das redes sociais –, Cristina apagou
novamente as velas. Desta vez num
terraço da Estufa Fria, Lisboa, com
uma decoração romântica e ementa
impressa com marca de água de
motivos tigresa. Vieiras tostadas
para começar, seguidas de camarão
com batata-doce, robalo com amêi-
joas, bife Wellington com puré de
favas, blossom de limão com gela-
do “exclusivo” Cristina Ferreira.
40
va na SIC, distribuía pelos cantos do
estúdio vários copos com água e sal
para absorver as más energias. Mas
persistem, deu a entender ao amigo
Manuel Luís Goucha: “Há por aí mui-
ta gente a tentar que isto expluda
[sobre o problema elétrico no estú-
dio de Dia de Cristina]. Mas a gente
já mandou embora. As bruxas pega-
ram, todas, na vassourinha, e aí vão
elas. Estão a caminho não sei de
onde, acho que apanharam a A5.”
O esoterismo é seguido pela famí-
lia, de modo discreto. Os pais de
Cristina, que nunca aparecem em
1 público – Maria Filomena Jorge e
A bordo de um António Jorge Ferreira – consultam
iate, em finais de
agosto, na com- uma especialista na Malveira, apurou
panhia do amigo a SÁBADO. Só vão eles.
e protegido
Ruben Rua
JOGOS DE
2 APARÊNCIAS
Com as suas h O que aparenta na montra do Ins-
apostas para a
apresentação do tagram – sorrisos e vida despreocu-
magazine VivaVi- pada financeiramente – contradiz o
da: Helena Coe- 2
que se passa nos bastidores. Na rea-
D.R.
lho e Ruben Rua
lidade, dezenas de fontes, incluindo
3 A acompanhar o bolo de aniversário da TVI, contactadas pela SÁBADO (e
Na sua casa tem foi servido espumante. A festa para que pedem anonimato por temerem
ginásio. Fica per-
to do estúdio da 20 pessoas terminou à 1h. represálias) descrevem a tensão que
Venda do Pinhei- se vive na estação. Dizem nos corre-
ro, onde nasceu No dia a dia é supersticiosa dores: “O ambiente está de cortar à
o Big Brother
Considera o 13 um número de sorte, faca.” Em público, acrescentam,
a par do sete. Foi a 7 de janeiro, por Cristina disfarça a desolação com as
exemplo, que estreou O Programa derrotas e não baixa a guarda quan-
de Cristina na SIC. Para ficar protegi- do se cruza com alguém: “As fúrias
da do mau olhado, usa um colar, são à porta fechada, fora dali.”
€2.910
Preço da roupa
“olho turco” (oferta do stylist amigo
Gonçalo Melo), e uma pulseira com o
mesmo símbolo. Ainda quando esta-
O desespero pode não ser visível e
Cristina Ferreira ter justificações para
tudo, mas as comunicações internas
de Cristina para
a emissão espe- 3
cial O Futuro.
Só as luvas
custam €220,
segundo a
revista VIP
PARA FICAR
PROTEGIDA
DO MAU
OLHADO,
USA UM CO-
LAR E UMA
DAVID CABRAL SANTOS
PULSEIRA
COM O SÍM-
BOLO “OLHO
TURCO”

RUI VALIDO
4
mostram o contrário. No dia 18,
quarta-feira, quando ela surgiu con-
fiante num post ao lado de Ruben
Rua (legenda: “3,2,1… vamos gravar.
O futuro está a chegar”), os trabalha-
dores receberam um email da admi-
nistração. Leram com surpresa o pe-
dido do administrador Manuel Alves
Monteiro: “Lanço o desafio a todos
os colaboradores do grupo Media
Capital para a apresentação de
ideias originais para a programação
audiovisual […] Desta forma, estarão
a partilhar a vossa visão e criativida-
de e, quem sabe, a descobrirem
competências próprias.”
Competências que os amigos de
Cristina não se cansam de repetir:
ela tem ideias, muitas, é imparável.
Mas falta-lhe critério e é imediatista,
apontam-lhe os críticos. Se há de-
partamento que não tem mãos a
medir para dar resposta aos pedi-
dos dela é o de promoções dos con-
teúdos. Quando chega, pede priori-
dade em relação a trabalhos em
curso (anúncios de programas, de
reportagens, etc.).
UMA GUERRA
MILIONÁRIA
h Muito antes de bater com a porta,
Cristina sentia-se aprisionada às ma-
nhãs da SIC. Não lhe bastavam os
500 m2 de estúdio no Parque Holan-
da, Carnaxide, onde tinha quase total
autonomia para fazer O Programa
da Cristina. Mas tudo o que quisesse
fazer fora daquele espaço, dependia
da autorização do diretor-geral de
entretenimento e de programas, Da-
niel Oliveira. Um exemplo: para assi-
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Mexidas na TVI
Na emissão de dia 19,
Cristina lançou as mudanças
1
O Dia de Cristina tem os
dias contados. Para o ano, apre-
sentará o formato diurno Cristi-
na coMvida (que propôs à TVI
em 2014).
2
Manuel Luís Goucha dei-
xa de acordar às 6h30, depois
de 16 anos a apresentar Você
na TV! (onde Cristina foi coa-
presentadora até 2018). A partir
de 2021, assegura as tardes
para fazer frente a Júlia Pinhei-
ro, concorrente na SIC.
3
Cláudio Ramos surge em
duplas: nas manhãs com Maria
Botelho Moniz; nas galas sema-
nais do Big Brother com Teresa
Guilherme.
nalar o primeiro aniversário do for-
mato, a 7 de janeiro de 2020, a apre-
sentadora propôs fazer a emissão
em direto a partir do Dubai, nos
Emirados Árabes Unidos. Sabia-se
4 na produtora do formato, a Coral, a
Esta foto, em ta- sua vontade de levar 20 pessoas da
manho real, está
numa parede da equipa para a emissão no estrangei-
casa da apresen- ro que custaria 50 mil euros. Daniel
tadora. Foi feita Oliveira, que também não quis falar
por Rui Valido
para a capa da à SÁBADO, recusou.
SÁBADO de 12 de Apesar de, aparentemente, Cristi-
fevereiro de 2015 na Ferreira e Daniel Oliveira man-
terem uma boa relação, a tensão
entre ambos era latente. A então
consultora executiva de entreteni-
NO PRIMEI- mento queria intervir na grelha. O
RO ANIVER- diretor de programas recusava. Em
SÁRIO DO alternativa propôs-lhe seis projetos,
SEU FORMA- tanto no day time como no horário
TO NA SIC, nobre. De acordo com a informação
PROPÔS disponível na queixa apresentada
FAZER UMA pela SIC, que a SÁBADO consultou
EMISSÃO no Tribunal Judicial de Lisboa, Cris-
ESPECIAL tina recusou todos, alegando des-
NO DUBAI gaste de imagem ou falta de inte- Q
41

Destaque
Outras batalhas
Quem a contratou enfrenta
agora a CMVM e a ERC
Cristina recebeu um voto
de confiança de Mário Ferreira
para dirigir a TVI. O acionista
(30,22%) contesta a leitura da Co-
missão do Mercado de Valores
Mobiliários (CMVM) de que teria
exercido influência conjunta com
a Prisa sobre a Media Capital. Ar-
risca ainda uma coima aplicada
pela Entidade Reguladora para
a Comunicação Social (ERC).
Q resse. Aceitou conduzir o concur-
so Prémio de Sonho, entre 5 de
agosto e 11 de outubro de 2019, pelo
qual recebeu 60 mil euros (um extra
ao contratualizado).
Cartas registadas
Além do contrato principal de pres-
tação de serviços e de outro sobre o
regime de comissão de serviço (de
consultora executiva de entretimen-
to), Cristina recebia também comis-
sões publicitárias. De acordo com a
queixa da SIC, entre 1 de abril (data
da segunda adenda ao contrato) e
30 de junho de 2020, foram feitas
2.347.398 chamadas de valor acres-
centado para O Programa de Cristi-
na e 1.487.070 para os especiais que
ela apresentou. Pelo êxito com pa-
trocínios e microespaços publicitá-
rios, a SIC pagou-lhe €652.500
42
LILIANA PEREIRA
A 26 de junho, Daniel Oliveira pro-
pôs-lhe a renovação antecipada do
contrato (até 31 de dezembro de
2025). O salário passaria para €90
mil por mês. A apresentadora terá
mostrado abertura. À época, além do
ordenado base (€80 mil por mês),
recebia os subsídios de função como
consultora (€7.232) e de isenção de
horário (€1.339). Fora os extras pelas
comissões publicitárias.
Em setembro de 2019 houve outra
guerra de bastidores. Nas vésperas
dos Globos de Ouro, Cristina quis in-
cluir nos guiões as suas piadas e re-
ferências à Malveira, mas Daniel não
deixou. O formato era cronometrado
e não podia estar centrado nela. Ain-
da assim, a estrela da SIC escolheu
os vestidos – cinco – e pôde discur-
sar em modo de autoelogio.
Ainda assim, as notícias sobre o seu
descontentamento sucediam-se.
Mas dentro da estrutura dava a en-
tender que estava tudo bem. Em
25 NOVEMBRO 2020
www.sabado.pt
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j maio passado, mês em que Mário
Com Francisco Ferreira se tornava acionista da Mé-
Pinto Balsemão,
nos Globos de dia Capital, terá iniciado as negocia-
Ouro, em setem- ções com o empresário para regres-
-bro de 2019. Em sar à TVI com verdadeiro poder e a
setembro de
2020, a SIC ganhar €1,4 milhões por ano (só na
processou-a parte fixa do ordenado, sem contar
com a variável). Os contactos decor-
reram em absoluto segredo, alguns
em casas particulares. Apenas 10
Acionistas pessoas sabiam o que se passava:
Mário Ferreira Cristina, a sua agente, quatro pessoas
permitiu-lhe con- da TVI e os advogados envolvidos.
-vidar famosos A rutura deu-se a 17 de julho e
para acionistas desde então as comunicações entre
minoritários da Cristina e a SIC fazem-se através de
TVI, como Pedro cartas registadas. Cristina procurou
Abrunhosa, Tony os melhores advogados. Tentou pri-
Carreira e Louren- meiro a firma Vieira de Almeida, que
ço Ortigão terá negado por alegado conflito de
interesses – tinha trabalhado com a
SIC, aquando da emissão obrigacio-
ENTRE 1 DE nista de 30 milhões, em junho de
ABRIL E 30 2019. Depois de brevemente repre-
DE JUNHO sentada pela sociedade Telles (que
DE 2020, FO- também representa Mário Ferreira)
RAM FEITAS passou a ser defendida pela advoga-
2.347.398 da Sofia Louro na queixa em que a
CHAMADAS SIC a acusa de incumprimento de
DE VALOR contrato e prejuízos decorrentes das
ACRESCEN- perdas publicitárias.
TADO PARA Além dos comentários que desti-
O PROGRA- lam ódio na sua conta do Instagram
MA DA CRIS- e deram origem ao livro Pra cima de
TINA (SIC) Puta, há um número crescente de in-
dignados com a forma como ela mu-
dou de estação. Na estreia de Dia de
i
Com Francisco Cristina, a 23 de setembro na TVI, o
Pedro Balsemão serviço de atendimento da SIC rece-
(CEO da Impresa) beu cerca de 10 alertas de telespeta-
e Daniel Oliveira
(diretor-geral de dores a darem conta de que Cristina
Entretenimento e admitia em direto – e de forma ine-
Programas, SIC) quívoca – que aconselhara o apre-
sentador Ruben Rua a ir buscar a
blogger Helena Coelho para um pro-
grama quando ainda trabalhava na
SIC. Por sua vez, Ruben Rua desven-
dava que ela tinha combinado, por
SMS, uma reunião de trabalho na
primeira semana de julho. Dez dias
antes, a retornada à TVI tinha honras
de entrevista no Jornal das 8. Depois
de dizer que estava de consciência
tranquila, acrescentou ao pivô Pedro
Pinto: “Há lugar a uma indemniza-
ção. Uma indemnização que estava
PEDRO CATARINO
estipulada no meu contrato e a qual
sei que vou pagar.” O juiz decidirá
quem tem razão. W
 Opinião 25 NOVEMBRO 2020
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INSTANTÂNEOS
(OU QUASE)
c c
Bailinho Estranho
Um português que A multa aplicada ao
viaje para a Madeira líder do Chega pela
tem de fazer um teste Comissão para a
à Covid até 72 horas Igualdade e Contra a
antes. Um aluno que Discriminação Racial
estude no continente parece-me muito
tem de fazer isto e mais estranha. Não pelo
outro teste entre o 5.º valor (cerca de 438
e o 7.º dia. E nesse euros), mas a multa em
período ficar isolado. si. Não conheço a
Um absurdo. A Madeira fundamentação, mas
ainda é Portugal? sei o que disse Ventura.
c
Tradição
Estou no jornalismo
há quase 30 anos. E
nesse tempo já li
inúmeras auditorias
do Tribunal de Contas
aos trabalhos a mais
em empreitadas
pagas por entidades
públicas, sobretudo
autarquias. Agora, são
mais 106 milhões. É só
falta de previsão?

c c c
Lucidez Brilhantismo Decisões
O que Sérgio Sousa Se um partido pode vir a Um sindicato anunciou
Pinto, o deputado do aliar-se ao teu opositor, que o SNS perdeu
PS, tem escrito e dito toca a defender a sua cerca de 370 médicos
nos últimos meses é ilegalização. É a ideia desde o início da
tão, tão certeiro, que de Sr. Medina para lidar pandemia. A ministra
só não vê quem não com o Chega. De um veio logo dizer que
quer ver. Estranho é aspirante a mandar no PS agora os hospitais já
que haja muitos, da esperam-se ideias que podem contratar quem
esquerda à direita, que não sejam só estas... ou quiserem e por tempo
insistam em não ver. pistas para bicicletas. indeterminado. Agora?

c c c
Boladas Capitalismo Tem dias
Confesso que cada vez Já se anuncia que há Sabem como se vê a
mais me chateiam os grandes empresas instrumentalização da
misters da bola que que vão avançar para transparência? Quando o
colocam nos jornais despedimentos Governo divulga os dados
que precisam de mais coletivos. Até que lhe dá jeito (como fez
este e aquele defesa, algumas que nos negócios do hidro-
outro médio e sei lá distribuíram génio) e não o faz quando
quem mais. Quando já dividendos um jornalista pede acesso
estoiraram muitos milionários. às atas das reuniões com as
milhões de euros. empresas concorrentes.

O
Diretor-adjunto
António José Vilela

43
 Portugal

44
 25 NOVEMBRO 2020
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REPORTAGEM. PARTIDO TEVE 15,4% NESTA LOCALIDADE DE MOURA

PÓVOA, O BASTIÃO
DO CHEGA
NO ALENTEJO
Conquistar a freguesia é o objetivo. Ventura foi
lá aclamado pelos que criticam os ciganos
(e a posição antitouradas de PAN e BE). Até o líder
distrital do PSD aceita uma coligação. Por Paulo Barriga

j j
O decano da co- Ventura com
munidade cigana, apoiantes no café
José Camarão: da aldeia. “O Che-
“Ninguém tem ga virá à Póvoa
queixa da gente”. de São Miguel
O filho diz que para ganhar”, diz
Ventura é racista líder da distrital,
Pedro Pinto

P
óvoa de São Miguel. O
nome desta pequena fre-
guesia do concelho de
Moura, no distrito de Beja,
pouco ou nada dirá à grande maio-
ria dos portugueses. Mas foi ali, nos
confins do Alentejo profundo, que o
Chega obteve a sua maior votação
nas legislativas de 2019: 15,4%. E é
também ali que o partido de André
JOÃO MIGUEL RODRIGUES
mas autárquicas. Enquanto nos
Açores houve acordo pós-eleitoral
PSD-Chega para permitir ao pri-
meiro governar em coligação com o
CDS e o PPM – com a discussão a
tornar-se nacional – ali a questão é
local, mas mesmo antes das elei-
ções parece já mais clara.
“O Chega virá à Póvoa de São Mi-
guel para ganhar”, acredita Pedro
do Chega em coligação com o PSD
na Assembleia de Freguesia. Mas os
adeptos locais, como é o caso de
André Batista, asseguram que o
partido “está em condições de ven-
OS ADEPTOS cer sozinho, por dois motivos. Pri-
LOCAIS DO meiro, porque somos contra a sub-
CHEGA ASSE- sidiodependência. E, depois, porque
GURAM QUE os outros partidos, em especial o
O PARTIDO PAN e o Bloco de Esquerda, que de-

Ventura está determinado a con-
quistar a sua primeira autarquia. Há
ciganos na terra e uma tradição de
touradas: dois elementos que o par-
tido espera que o ajudem nas próxi-
Pinto, líder da distrital de Beja da- “ESTÁ EM viam ser eliminados da Assembleia
quele partido. Uma extrapolação CONDIÇÕES da República, atacam de uma for-
direta dos resultados das últimas le- DE VENCER ma geral o mundo rural, nomeada-
gislativas para as próximas autár- SOZINHO”, mente a tauromaquia e não só”.
quicas daria uma maioria absoluta SEM O PSD Não deixa de ser curioso que Q

45
 Portugal
Q André Batista, que trabalha no
comércio de animais, tenha sido
apoiante da última lista que a CDU
apresentou à Junta de Freguesia da
Póvoa de São Miguel. “O que conta
são as pessoas e as suas ideias”, re-
fere, “hoje sou a favor da ideologia
do Chega e do que ela pode trazer
de bom para a nossa terra”. José
Maria Pós-de-Mina, presidente da
Câmara Municipal de Moura entre
1998 e 2013 e membro do Comité
Central do PCP, não estranha a
transição direta de votos entre os
dois polos. “A verdade é que a
CDU”, afirma, “não tem uma base
política muito firme naquela zona.
A matriz política essencial na Póvoa
de São Miguel até pode ser do PS,
mas o facto de a população ser
constituída à base de agricultores
sem uma forte base ideológica faz
com que o voto ali seja muito volá-
til. E o Chega parece estar a saber
capitalizar essa situação.”
Ventura foi à Póvoa
Uma opinião que é partilhada pelo
atual presidente da junta. António
Montezo, independente eleito pelo
PS e que apenas não se candidatou
pela CDU porque “o convite veio
em segundo lugar”, reconhece que
o Chega “está a saber tirar partido
de algum descontentamento que
existe contra a comunidade
cigana da freguesia”.
Não é por acaso que André Ven-
tura dedicou parte da sua visita ao
distrito de Beja, a 4 e 5 de julho últi-
FOTOS JOÃO MIGUEL RODRIGUES
46
Ciganos em números
População cigana cresceu 74%
no distrito de Beja em oito anos
Continente. O último estudo
é de 2017. Prudêncio Canhoto,
que preside à Associação de Me-
diadores Ciganos (AMEC), estima
que residam cerca de 50 mil in-
divíduos da etnia (0,5% da popu-
lação portuguesa).
Beja. Segundo dados mais re-
centes da AMEC e da Rede Euro-
peia Antipobreza, no distrito exis-
tirão 3.674 cidadãos de etnia ci-
gana – 2,4% da população total.
Moura. A percentagem sobe
para 6,48% no concelho e para
perto de 30% na freguesia de
Póvoa de São Miguel.
mo, à Póvoa de São Miguel. Apesar
de não ter feito qualquer discurso
oficial, o líder do Chega foi aclama-
do à chegada, antes de se reunir
com apoiantes no café da aldeia.
Dado curioso: entre eles estavam
o antigo presidente da junta eleito
pelo PSD, Rui Almeida, e o último
candidato social-democrata derro-
tado, André Neves.
O que pronuncia, caso venha a
mostrar-se necessária, uma coliga-
ção entre os dois partidos nas au-
tárquicas de 2021. Uma possibilida-
3
1
2
de que não é negada pelo próprio
211
mil
líder da distrital de Beja do PSD.
Gonçalo Valente diz que “há pontos
de convergência com o Chega, que
Beneficiários do não considero um partido tóxico
RSI em outubro, embora não me reveja em algumas
diz o Instituto das suas políticas, e qualquer um
da Segurança destes partidos pode liderar com
Social. Apenas o apoio do outro”. Os “pontos de
3% a 6%, cerca convergência” encaixam que nem
de 13 mil, são de uma luva no clima político e social
etnia cigana da Póvoa de São Miguel: “Reduzir
a subsidiodependência e defender
o mundo rural.”
O tempo dos ciganos
Nesta comunidade rural ultraperi-
férica, cerca de 30% da população
é de etnia cigana. “Não, não temos
nem nunca tivemos aqui problemas
graves com os ciganos”, reconhece
o presidente da junta de freguesia,
É UMA ZONA António Montezo, “o descontenta-
DE AGRICUL- mento das pessoas tem mais a ver
TORES SEM com o seu modo de vida. É muito
“UMA FORTE difícil lidar com este clima de per-
BASE IDEO- manente desconfiança. Quanto me-
LÓGICA” E nor é a terra, já se sabe, mais visí-
“O CHEGA veis se tornam os preconceitos.”
PARECE “Preconceitos?”, questiona Rui
CAPITALIZAR Santana, que é gerente do único
A SITUAÇÃO” stand de automóveis da Póvoa de

São Miguel. “O que nós aqui temos
é racismo da parte dos ciganos que
não querem nem se conseguem in-
tegrar na nossa sociedade.”
Apoiante do Chega, Rui Santana
assume que “nunca houve proble-
mas de maior com eles”. Para logo
de seguida afirmar que “os ciganos
só pensam em fazer mal, em rou-
bar, e em receber o subsídio” –
uma referência ao Rendimento
Social de Inserção.
“Cheguem-se para cá que também
somos de carne e osso e sangue, não
tenham medo que aqui ninguém
tem queixa da gente.” José Camarão,
o decano dos ciganos da Póvoa de
São Miguel, está sozinho, mesa posta
à soleira da porta. Acabou de almo-
çar “umas belas sopas de peixe”.
A rua das Cruzes, que por ali leva o
nome de rua dos ciganos, está de-
serta. Ou melhor, estava. Num re-
pente, ao chamamento do velho,
as portas dos casebres abrem-se de
par em par, formando-se uma assi-
nalável multidão. “O que ei?”, per-
gunta um dos nove filhos de José Ca-
marão. Quando se apercebe de que
era para falar do avanço do Chega
na aldeia, não se contém. “Esse Ven-
tura é um racista que precisava de
ser queimado vivo.”
O apertar do cerco político à etnia
cigana da Póvoa de São Miguel está,
por seu lado, a fazer cerrar fileiras
entre esta comunidade de 150 ele-
mentos. Apesar da sua média etária
ser “bastante baixa”, como reco-
nhece Gerson Lebre, “o voto dos ci-
ganos será sempre muito importan-
te daqui para a frente”. Para o me-
diador cigano do concelho de Mou-
ra é “incompreensível que os aldea-
nos [que é o termo que os ciganos
empregam para se referirem à res-
tante população] digam mal da
gente e não nos queiram cá. Os ci-
ganos daqui não são maldosos.”
Talvez não seja tanto a “qualida-
de”, mas antes a “quantidade” que
está em causa. A sugestão é da pro-
fessora do segundo ano da Escola
Básica do Primeiro Ciclo da Póvoa
de São Miguel. Há três anos a lecio-
nar na aldeia, Mariana Amaral ex-
plica que nunca teve nenhum con-
flito assinalável nas suas turmas:
“Os meninos são bem-comporta-
dos, humildes, acatam as regras. A
família valoriza a escola e os pais
são muito educados connosco. Na
verdade, não sei dizer de onde
pode vir essa incompatibilidade.”
Na escola e na igreja
Mas que ela existe, não restam dú-
vidas. Emília Martins, professora de
Educação Especial, constata que os
meninos ciganos raramente brin-
cam com os outros no recreio. “E
há uma coisa que mostra bem esse
4 sim com a intolerância e o desco-
CORREIO DA MANHÃ
25 NOVEMBRO 2020
www.sabado.pt
www.sabado.pt
1 afastamento”, revela: “As mães dos
A professora Ma- meninos não ciganos deixaram de
riana Amaral não
compreende de enviar os bolos para a escola no
onde vem a in- dia de anos dos filhos.”
compatibilidade Dos 40 alunos inscritos na escola
dos “aldeanos”
com os ciganos local, 32 são de etnia cigana. “Se
não fossem os ciganitos, se calhar
2 nem escola já cá havia”, sustenta
O presidente da
junta, António José Manuel, que no último verão
Montezo, diz que foi “encartado” pastor da Igreja
o Chega “está a Evangélica Filadélfia de Portugal.
tirar partido de
algum descon- Apesar de ter completado apenas o
tentamento con- terceiro ano de escolaridade, José
tra a comunida- Manuel tem um discurso claro e es-
de cigana”
truturado. “É pena que ainda haja
3 tanta gente que pensa que o cigano
Gerson Lebre é coisa do outro mundo”, lamenta,
prevê que o voto
dos ciganos “e, depois, como parece estar a
“será muito im- acontecer agora aqui na Póvoa,
portante daqui aparecem pessoas como as do Che-
para a frente”
ga que se aproveitam dos ódios de
4 cada um para tomarem o poder”.
As críticas do A ascensão do Chega entre a co-
líder do Chega,
André Ventura, munidade local é tema recorrente
são repetidas por nas cerimónias que José Manuel
parte da popula- preside na improvisada igreja evan-
ção da Póvoa
gélica da Póvoa de São Miguel. “A
grande questão”, diz o pastor, não
tem que ver com o mal que os ciga-
nos possam fazer aos outros, mas
nhecimento: “Pelo contrário, aqui
na igreja aprendemos a deixar a má
vida, os maus caminhos e o vício da
bebida e da droga, a respeitar toda
a gente. Mas, mesmo assim, parece
que não somos portugueses. Nin-
guém dá emprego a um cigano, en-
xotam-nos como fazem aos cães.”
E o confronto entre as duas comu-
nidades nesta localidade, que não
terá hoje mais de 500 residentes,
segundo estima o presidente da
junta, foi quando em agosto último,
em plena crise sanitária, a GNR se
viu obrigada a dispersar um casa-
mento campal com cerca de três
centenas de convidados. A festa,
GONÇALO que decorria em terrenos cedidos
VALENTE, pela autarquia, foi amplamente
LÍDER DA censurada pelos apoiantes do Che-
DISTRITAL ga. Rui Santana foi um dos denun-
DO PSD, NÃO ciantes do evento e não esconde
RECUSA as críticas ao atual Executivo que,
COLIGAÇÃO diz, “está a entregar a aldeia aos
COM O CHE- ciganos”. Já José Camarão lamenta
GA: “HÁ PON- apenas “toda a comida que se des-
TOS DE CON- perdiçou sem proveito nenhum,
VERGÊNCIA” nem de ninguém”. W
47
 Portugal
COVID-19. AJUSTES DIRETOS SOB SUSPEITA DA OPOSIÇÃO
NEGÓCIOS E
COINCIDÊNCIAS
EM OVAR
Durante a cerca sanitária, o staff da autarquia procurou quem
fornecesse material de proteção – como a empresa de gelados
de um dirigente da Ordem dos Enfermeiros. Por Alexandre R. Malhado
E
logios rasgados às medidas
municipais no combate à
Covid-19 como “Ovar é o
verdadeiro exemplo do su-
cesso da cooperação”. Foi assim que
o presidente do Conselho Diretivo da
Secção Regional da Ordem dos En-
fermeiros, Ricardo Correia de Matos,
começou a sua visita ao hospital de
campanha, a 3 de junho. “Perante
um desafio inesperado, a comunida-
de ovarense conseguiu unir-se em
torno da proteção da vida e mostrou
a Portugal que não há impossíveis.”
E aplaudiu o autarca Salvador Ma-
lheiro pela “capacidade de liderar
para o resultado”.
Detalhe: cerca de um mês antes
desta visita, o líder local da Ordem
dos Enfermeiros tinha firmado o últi-
mo de três contratos com a mesma
autarquia que agora elogiava para o
fornecimento de fatos descartáveis,
eletrocardiógrafos e milhares de
máscaras por 24.200 euros (com
IVA) em vários ajustes diretos simpli-
ficados – tudo isto com duas empre-
sas suas: uma de gelados (mas inscri-
ta nas Finanças também como co-
mercializadora de mobiliário e equi-
pamento) e outra de contabilidade.
Os contratos não estão publicados
no portal Base, mas constam de uma
48
h auditoria feita pela oposição socialis-
Salvador Malhei- ta aos contratos da câmara de Ovar
ro defende que
“todas as regras durante a pandemia, a que a SÁBA-
de contratação DO teve acesso. De acordo com a
pública foram análise feita pelos vereadores do PS
cumpridas”
Artur Duarte e Fátima Bento, entre
março e maio de 2020 (altura em que
Ovar se encontrava com uma cerca
sanitária) quase 50% dos equipamen-
tos de proteção individual (EPI) foram
120
mil euros
fornecidos por sete empresas de
Águeda, num bolo total de ajustes di-
retos simplificados de 121.167 euros. E
para erguer o apesar de serem empresas diferentes,
hospital de cam- algumas têm sócios em comum: no
panha de Ovar, dia 15 de abril, a Amicini, empresa de
que recebeu for- gelados de Ricardo Matos, vendeu
necimentos das 4.800 máscaras KN 95 por 19.250 eu-
empresas de ros; no mesmo dia, a firma de conta-
Ricardo Matos bilidade Accountis, de que Ricardo
Matos é sócio-gerente, vendeu um
eletrocardiógrafo ECG Contec por
1.500 euros. Dois dias depois, a Ac-
DE ÁGUEDA countis vendeu 200 fatos descartá-
CHEGARAM veis por 3.500 euros. Em três dias, fir-
50% DOS EPI. maram-se três ajustes diretos simpli-
HOUVE CON- ficados separados com empresas da
TRATOS COM mesma pessoa. Se fosse um só con-
EMPRESAS trato, os 24.200 euros (com IVA) des-
DOS MESMOS tes negócios desrespeitariam o limite
SÓCIOS máximo de 20 mil euros imposto
ASSINADOS pelo regime excecional do Código
NUM SÓ DIA dos Contratos Públicos para ajustes
diretos simplificados durante a pan-
demia. Desta forma, dizem os verea-
dores na auditoria, “configura-se ser
possível estarmos na presença de
uma ação de cartel concertado,
visando contornar a lei”.
À SÁBADO, o presidente da Câma-
ra de Ovar, Salvador Malheiro, ga-
rante que “todas as regras da contra-
tação pública foram cumpridas es-
crupulosamente” e que a autarquia
recorreu àquelas empresas “num
momento de pânico”. “Quando foi
decretada a cerca sanitária, sentimo-
-nos muito sós e em grande aflição.
Nessa altura, nós tínhamos no muni-
cípio de Ovar a GNR, a PSP, o hospi-
tal, algumas IPSS e bombeiros sem
EPI. Com o Governo e instituições de
saúde sem a capacidade de forneci-
mento, tínhamos de resolver por nós
próprios”, começa por explicar.
Para encontrar fornecedores, Sal-
vador Malheiro diz que “foi dada a
ordem para que todos os membros
do nosso gabinete de crise e staff da
câmara tentassem arranjar, pelas

suas próprias vias, fornecedores com
capacidade de entrega em tempo
útil”, acrescenta. Foi nesse contexto,
garante Malheiro, que “foi encontra-
do o contacto do enfermeiro” Ricar-
do Matos e que terá sido ele “a dire-
cionar para as suas empresas”.
Ricardo Correia de Matos explica à
SÁBADO que o primeiro contacto foi
feito pelo fotógrafo da autarquia,
Alexandre Rodrigues, que o vereador
socialista Artur Duarte suspeita ser
“o responsável pelas compras Covid-
RICARDO MEIRELES
-19”: “Depois [do contacto de Rodri-
gues], os contactos começaram a ser
feitos pelo departamento de com-
pras à luz da contratação pública”,
acrescentou Matos. Já Malheiro nega
que ele seja apenas fotógrafo da au-
tarquia, mas sim “assistente técnico”,
i e acrescenta que não tem compe-
Ricardo Matos
é líder da Ordem tência de compras – que cabem ao
dos Enfermeiros serviço municipal competente. “Essa
no Centro e pre- conotação dada pelos vereadores do
sidente da Cruz
Vermelha em PS não corresponde à verdade. Ele
Águeda faz parte do staff municipal e nós
pedimos a todos os funcionários
para ajudarem a arranjar fornecedo-
res”, frisa o autarca social-democra-
ta. Fonte do jornal online local Ovar
News (onde Rodrigues tem várias fo-
tografias oficiais do município) expli-
ca que “sempre que há algo da au-
tarquia, é ele que está a tirar fotos”.
Ricardo Correia Matos diz que foi
escolhido pela autarquia porque foi
“o único que conseguiu encontrar
fornecedor com entrega imediata do
material e equipamento solicitado”.
E dá como exemplo 15 de abril, um
D.R.
25 NOVEMBRO 2020
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Os gastos do hospital
O hospital de campanha de
Ovar recebeu 23 doentes
A autarquia gastou 24.230
euros em camas e equipamen-
to para o hospital de campanha
de Ovar, que recebeu 23 doen-
tes durante 3 meses. “Nenhum
dos equipamentos adquiridos
foi inutilizado”, diz Malheiro,
acrescentando que muitos es-
tão agora em IPSS e hospitais,
como o Hospital de São Sebas-
tião, em Santa Maria da Feira.
dia após a inauguração do hospital
de campanha de Ovar: “Num con-
texto onde a entrega efetiva de mas-
caras KN95 era extraordinariamente
difícil, para não dizer exclusiva no
SNS, a empresa conseguiu fazê-lo
com entrega imediata.” E como con-
seguiu o dirigente da Ordem dos En-
fermeiros, contabilista na Accountis
e sócio-gerente de uma empresa de
gelados, arranjar tal material? “O
acesso aos EPI resulta de várias em-
presas que importavam e que esta-
vam sensibilizadas para a situação
em Ovar” – não acrescenta detalhes.
Ovar a estrear empresas
Em maio, outro sócio da Amicini, Fi-
lipe Martins, firmou um novo contra-
to com a autarquia de Ovar – e com
outra empresa sua: a Staysafe (em-
presa de desinfeção e limpezas),
constituída a 24 de abril de 2020,
forneceu a Ovar cinco mil máscaras
por 19.250 euros a 7 de maio – ape-
nas 10 dias depois de ser criada.
Porque escolheu a empresa recém-
-criada? Sem comentar casos con-
cretos, Malheiro diz ser “descabida
e desprovida de qualquer sentido a
menção de intenção de contornar o
estipulado na lei” pela autarquia. “[A
escolha das empresas] nada teve a
ver com a titularidade ou localização
das empresas fornecedoras ou com
qualquer intuito de divisão de despe-
sa, mas resultaram da aplicação do
regime legal vigente, sempre com a
preocupação (…) de diversificação das
entidades e o preço mais baixo.” W
49
 Portugal

E
anes em família, a brincar gh
com os filhos, a segurar o Páginas da Nova
Gente. A vida da
mais velho num escorre- família Eanes foi
ga, a mulher, Manuela, a amplamente do-
mudar a fralda ao mais novo, que cumentada pe-
las revistas do
de resto foi batizado na capela do social da época
Palácio de Belém com direito a
foto na imprensa: e tudo isto em
páginas de revista. Os Eanes, a
primeira família a viver em Belém
em democracia e a única, até
hoje, com filhos pequenos, mos-
travam uma abertura que mais “HAVIA MUI-
de 40 anos depois não só parece TAS SOLICI-
moderna como contrasta com a TAÇÕES E
imagem séria, quase rígida, que a NÓS NÃO
história registou do general prota- ÉRAMOS DIS-
gonista do 25 de Novembro de TANTES NEM
1975 – que faz hoje 45 anos – e DE GRANDES
primeiro Presidente da República PROTOCO-
da democracia. LOS”, CONTA
E se as fotos da época mostram MANUELA
EANES

MEMÓRIA. UMA PRESIDÊNCIA MUITO ABERTA

UMA FAMÍLIA EM BEL

O batizado, o escorrega, até uma muda de fralda: a vida privada dos Eanes exposta nos media nos
50

uma família normal, é, assegura
Manuela Eanes à SÁBADO, por-
que o eram: “As pessoas às vezes
podem pensar, ‘ai, coitadinhas
das crianças, tão pequenas, num
palácio, que infância aborrecida’.
Nada disso! Na altura havia mui-
tos funcionários com casa de fun-
ção em Belém, e havia ali pessoas
com filhos da idade dos nossos.
Andavam de bicicleta, brincavam
pelos jardins, corriam. O nosso
mediador de seguros ainda hoje
é um desses meninos.”
A decisão de, por um lado, abrir
o próprio palácio ao público, ao
terceiro domingo de cada mês,
e, por outro, a vida da família aos
media, foi-lhes natural: “Havia
muitas solicitações e nós não
éramos distantes nem de grandes
protocolos.”
LÉM E NAS REVISTAS
anos 70 desmentia a imagem rígida do general. Miguel e Manuel ajudaram. Por Maria Henrique Espada
25 NOVEMBRO 25 NOVEMBRO 2020
www.sabado.pt
www.sabado.pt
www.sabado.pt
O ex-jornalista e depois porta-
-voz de Belém, Joaquim Letria,
por quem passavam os contactos
com a comunicação social, era g
adepto da abertura: “Aquilo cá era Miguel, o mais velho,
foi o primeiro a ir
novo, mas lá fora já se fazia. Eu ti- para Belém. Manuel
nha vivido em Inglaterra e perce- já nasceu lá, em 1977
bia como esse lado era importan-
te na monarquia, tinha visto como
se fazia.” E mostrar a família era
parte de uma ideia de “normali-
zação” da imagem do casal presi- ji
dencial. “Havia muito aquela Eanes chegou a ter ma-
terial de campanha com
ideia distorcida de que o general estas fotos em família
Eanes não se ria, e era o contrá-
rio, era, e é, um tipo divertido.
Além disso, ele tinha estado, quer
na Guiné, quer cá, na RTP, ligado
à área da comunicação, e perce-
bia perfeitamente a importância
do que estava em causa.” E de
mostrar esse “lado mais moderno
e normal”. Não deixa de admitir:
“Os miúdos ajudaram bastante.”
Apesar da abertura, o casal estava
longe de aceitar tudo o que lhes
era proposto: “Por vezes era pre-
ciso algum trabalho para os con-
vencer.” Mas no fim compensava:
“Eles eram simpáticos, o que ob-
viamente ajudava, criava um am-
biente que levava a que o resulta-
do final ficasse bem.” Tanto as-
sim, que Manuela Eanes criou Q
51
 Portugal
Q até uma relação de alguma
proximidade, ou mesmo amiza-
de, com alguns jornalistas da área
mais social.
A ida para Belém
Morar em Belém não foi a primei-
ra opção, mas em tempos mais
revolucionários colocou-se a
questão da segurança. A família
morava no bairro da Madre de
Deus, porta direta para rua, e era
frequente haver gente a rondar a
casa. E não só. “Tive ameaças de
rapto do mais velho”, recorda
Manuela Eanes. A gota de água foi
uma vez em que uma mulher
com ar perturbado se postou à
porta desde as 7h da manhã, com
uma criança de 10 anos, a quem
Manuela Eanes acabou por dar o
pequeno-almoço, e que acabou
por se “ajoelhar, a dizer que a ti-
nham obrigado a fazer aquilo,
mas que gostava muito de nós”. O
estranho incidente ditou a saída.
Mas Belém não era um luxo por
essa altura. O sofá da residência
estava rasgado, faltavam móveis,
52
A mesma exposição...
...mas com menos sucesso
eleitoral
Soares Carneiro foi o
candidato apoiado pela AD em
1980. Também o general fez
capa da Nova Gente com a fa-
mília. A comunicação política
interiorizara já que esse era
um elemento importante.
Soares Carneiro perderia as
presidenciais, três dias depois
da morte do primeiro-ministro
Francisco Sá Carneiro.
nem quadros havia. Manuela Ea-
nes andou a recolher, de emprés-
timo, alguns quadros de armazéns
de museus portugueses, lá man-
dou arranjar o sofá roto, vieram
móveis de outros lados, para tor-
nar a casa habitável. E, como pri-
meira-dama – um termo de que
nunca gostou –, teve um gabinete
de trabalho: outro inédito no palá-
cio, recorda Joaquim Aguiar, ex-
25 NOVEMBRO 25 NOVEMBRO 2020
www.sabado.pt
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j
Ramalho Eanes
em modo pai, a
segurar os filhos
no escorrega, e
já perto da data
para as presiden-
ciais de 7 de de-
zembro de 1980,
em que seria
reeleito
-assessor político da presidência,
decidido porque Manuela “já tinha
uma carreira profissional anterior
[na segurança social]”. Mas se a
primeira presidência determinou
o modelo para as seguintes este e
outros formalismos – a Casa Civil,
as designações dos assessores, até
a rotina do encontro semanal com
o primeiro ministro, foram criadas
por Eanes, recorda Aguiar – não
voltou a haver crianças a viver na
residência oficial.
Mas já houve crianças Eanes
a regressar a Belém. Manuela
acompanhava por vezes as visitas
de estudo que eram feitas por es-
colas, às vezes com o filho mais
MOSTRAR A novo ao colo. Em tempos mais
FAMÍLIA recentes, foram já os netos a fazer
FAZIA PARTE essa mesma visita, com a respeti-
DA “NORMA- va escola, e a ouvir as explicações
LIZAÇÃO” DA sobre os Presidentes da Repúbli-
IMAGEM DO ca. Um deles, que teve de fazer
CASAL PRE- a composição da praxe sobre os
SIDENCIAL, Presidentes, encaixou uma im-
DIZ JOAQUIM portante informação atualizada
LETRIA, EX- sobre o avô, a terminar o texto:
-PORTA-VOZ “E ainda não morreu!” W
DE EANES
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O COLEGA INCONVENIENTE
O suposto desconhecimento de um informador da Stasi criou uma tempestade no Twitter, até porque Rui
Tavares esteve na mesma bancada em Bruxelas. Mas só não se lembrava do nome. Por Maria Henrique Espada
A
pergunta e a não resposta
dura menos de meio mi-
nuto, tempo ideal
para um excerto de vídeo a
circular nas redes sociais.
“Como é que se chamava
o senhor, Rui?”, perguntou
Sérgio Sousa Pinto a Rui
Tavares, no debate É ou
não é, na RTP sobre o
acordo PSD-Chega nos
Açores. Rui Tavares, di-
rigente do Livre, respon-
deu: “Não me lembro do
Sousa Pinto
nome.” O socialista expli-
cava que à esquerda tam-
bém há simpatias por regi-
mes e figuras não recomen-
dáveis e questionava-o sobre
Lothar Bisky – disse o nome logo
em seguida, a pergunta pareceu
por isso retórica –, o alemão
que liderou o grupo GUE/NGL
(Esquerda Unitária Europeia)
no Parlamento Europeu em
2009 e 2010, que Tava-
res integrou como indepen-
dente eleito pelo BE. E
Lothar, sabia-se desde 1995,
fora informador da polícia
política da ex-RDA.
Julia Roberts e Sorrah
Que Tavares não conheces-
se Bisky era uma impossibili-
dade. Foram colegas no mes-
mo grupo e até na mesma comis-
são (de Educação), onde o GUE/NGL
tinha uma posição conjunta; co-as-
sinaram várias dezenas (pelo me-
nos) de propostas de emenda a re-
soluções, subscreveram ainda, com
uma assinatura atrás da outra, pro-
postas de resolução sobre vários te-
mas, da liberdade e informação em
Itália ao Acordo Comercial de Com-
bate à Contrafação; há imagens de
Tavares e Bisky na mesma mesa
de uma conferência de imprensa
do grupo, apenas com Marisa Matias
de permeio; coincidiram na conven-
54
DEBATE. O CASO DA SEMANA NAS REDES SOCIAIS
“Como é que
chamava o se se
Rui? Chama nhor,
va
Lothar Bisk -se
Lothar Bisky
ção do BE em Portugal em 2009,
onde Lothar foi orador convidado,
e estiveram ambos com a “Semana
de protesto e Solidariedade” orga-
nizada pela Alternativa Socialista
Internacional, em 2010.
A aparente contradição deu para
que durante dois dias o historiador
fosse alvo da ira do Twitter. Mas,
quando “uma jornalista ligou” (foi a
SÁBADO), na sexta-feira, o próprio
desconhecia a dimensão do caso.
Depois de a confirmar, escreveu um
25 NOVEMBRO 2020
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www.sabado.pt
longo thread a clarificar com humor
a situação. “Vim ver. Havia centenas
de tweets, pelo menos” com uma
“teoria da conspiração de que eu es-
y” taria ardilosamente a tentar… nem se
percebe bem o quê”. Tudo isto em
32 posts desencadeados pelo tele-
fonema da SÁBADO, a quem já ex-
plicara: “É simples, não me lembra-
va do nome, fazer supor com isso
que estava a fingir que não o co-
nhecia... De resto, no mesmo
debate também me esqueci do
nome do ministro-presidente
da Turíngia, Bodo Ramelow.
Aliás, só alguém muito
burro diria, ‘ah, não
sei quem é...’”
E recorda que
entrou no
GUE/NGL através
do BE e que, ha-
vendo escolha,
teria preferido Os
Rui Tavares
Verdes (para onde
foi quando saiu do
BE), precisamente
porque os primeiros ti-
“Não me nham “um historial de di-
bro do n em-l
o m e ” reitos humanos que não era
mas isso –
consistente”. Mas não em-
o mesm não é
o que barca em críticas: “Não sou
fingir n
ão o nem fui amigo, mas não vou
conhec
er bater num morto”, que recor-
da como trágico (perdeu um
filho e morreu cedo em circuns-
tâncias pouco claras) e que nunca
lhe “pareceu má pessoa”. E dá um
exemplo nacional: “Já entrevistei,
em tempos, o Adriano Moreira para
o Diário de Notícias. Foi ministro
AO VERIFI- de Salazar. Alguém o considera
CAR A DI- infrequentável?”
MENSÃO DO No thread, colocou uma imagem
CASO APÓS de Julia Roberts a olhar para uma
UM TELEFO- equação com cara de incompreen-
NEMA DA SÁ- são – a mesma em que foi “apa-
BADO, TAVA- nhado”. Foi corrigido: era a brasilei-
RES EXPLI- ra Renata Sorrah. Tavares assumiu:
COU-SE EM “Enganei-me no nome. O que esta-
32 TWEETS rei a esconder com mais esta?” W
SteakmasterA verdadeira inovação
O primeiro e único forno criada para si
concebido para cozinhar o bife
perfeito em casa.

Este inverno não tenha saudades de um bom churrasco. Com o novo

Steakmaster desfrute de uma verdadeira carne na grelha, mas confecionada
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última geração, este modelo incorpora 20 programas automáticos e um guia
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ferro fundido, possibilita obter resultados dignos de restaurante. Cozinhar um
bife como um chef nunca foi tão fácil.

Teka, uma receita para a vida. teka.com

 Crónica
VÁ LÁ
À SUA VIDA
Isaltino Morais contou que uma
procuradora costumava passar lá na
câmara a meter cunhas, porque queria
ser diretora-geral. E até o juiz Rui
Rangel chegou a escrever um artigo
sobre a mediocridade e a meritocracia.
Confinar é o melhor remédio...
C discursos moralistas e catequizadores
“Flagrante
delito de
cunha”
A EXPRESSÃO QUE DÁ CORPO AO
TÍTULO DESTE ARTIGO FOI gentil-
mente copiada ao advogado José An-
tónio Barreiros, que em 2010 descre-
veu daquela forma o comportamento
criminal – tal como era imputado
pelo Ministério Público – do seu
cliente, Abel Pinheiro, antigo dirigen-
te do CDS/PP. Onde a acusação viu
uma teia de tráfico de influências, o
advogado via apenas um “flagrante
delito de cunha”, tese que acabou por
vencer em tribunal.
Se o espólio de Oliveira Salazar,
revelado em parte na passada
edição da SÁBADO, fosse hoje
apreendido pelo Ministério
Público, a estatística dos
crimes de tráfico de
influência estaria ao
nível da curva da
Covid-19, sendo
praticamente
impossível o
seu achata-
mento. Pedidos
de emprego, di-
nheiro, coloca-
ção de filhos
em determina-
das escolas, de
C tudo um pouco o
Subdiretor ditador recebeu, ten-
Carlos do dado encaminhamen-
Rodrigues to a alguns. A curva só não cres-
Lima ceria mais um pontinho, porque,
56
como é óbvio, o Ministério Público não
iria (nem foi) investigar todo o processo
de nomeação do procurador nacional
europeu, onde a primeira classificada
acabou por ficar em segundo lugar.
Como, sibilinamente, referiu o manga
de alpaca da PGR, o secretário-geral
Carlos Adérito, não vale a pena “com-
plicar aquilo que não poderá ser outra
coisa que não simples”, portanto não
há nada a investigar, nem favoreci-
mento, nem o que quer que seja.
Não deixa de ser paradoxal que a
magistratura que, publicamente e em
tribunal, normalmente enverga por
da sociedade tenha, dentro de si pró-
pria, exemplos claros que lhe retiram
qualquer autoridade moral junto dos
cidadãos. Aliás, no livro A Minha Pri-
são, uma espécie de “memórias do
cárcere”, Isaltino Morais recorda a
procuradora Leonor Furtado, uma das
que teve o seu processo nas mãos,
contando que a magistrada, com
quem teve “uma relação muito próxi-
ma”, o visitava “regularmente na Câ-
mara de Oeiras e com frequência me
instava a falar com o primeiro-minis-
tro à época, Cavaco Silva, no sentido
25 NOVEMBRO 2020
www.sabado.pt
www.sabado.pt
de lhe conseguir um cargo de diretora-
-geral na administração pública”. Leo-
nor Furtado esteve anos à frente da
Inspeção-Geral das Atividades em
Saúde e, hoje, é procuradora no Su-
premo Tribunal Administrativo. Como
é óbvio, sem cunhas.
A cunha, como bem descreve João
Ribeiro na tese de doutoramento A
Cunha, Acções do Favorecimento, As
Figuras que as Pessoas Fazem, entre-
tanto publicada pela Guerra&Paz com
o título Anatomia da Cunha Portu-
guesa, não é um fenómeno exclusiva-
mente português. Recuperando um
dossiê da Revista Capital, o investiga-
dor traçou um paralelo entre a cunha
portuguesa e o piston francês: “A bus-
ca do passe-droit parece de facto tor-
nar-se um desporto nacional, à medi-
da que a crise raciona tudo: as vagas
nas creches, as camas nos hospitais,
alojamento em habitação social e, so-
bretudo, os empregos. Para encontrar
um bom trabalho, a maioria dos fran-
ceses dizem ter mais confiança no
piston do que no diploma.”
Não há nada de original neste fenó-
meno de meter cunhas, nem o imbecil
do presidente do conselho terá sido
pioneiro. Agora, o regime de Salazar
terá, isso sim, dado um enorme contri-
buto para que a cunha tenha sido e
ainda hoje seja o “sangue que corre
nas veias” dos dois regimes, na ex-
pressão feliz (desconhecendo-se, po-
rém, o verdadeiro autor do texto) do
juiz Rui Rangel, numa crónica de 2010
no Correio da Manhã.
“A cunha serve para quase
tudo: é a cunha no mercado
de trabalho; na saúde, para
arranjar um bom médico,
uma consulta, ou uma inter-
venção cirúrgica mais rápi-
da; na educação, para os
filhos frequentarem
uma escola de refe-
rência; na justiça
para os processos
andarem mais de-
pressa ou para fica-
rem a marinar (...).”
Autopremonitório.
Portanto, o melhor é,
sempre que ouvir um magistrado
com grandes teorias sobre compor-
tamentos éticos ou nem por isso, co-
loque-lhe um espelho à frente. W
 Mundo

PERFIL. A INFLUÊNCIA DE CARRIE SYMONDS SOBRE BORIS JOHNSON

A “PRIMEIRA-
-NAMORADA”
TOMOU O PODER
Para já, ganhou uma batalha ao conseguir que dois influentes assessores
deixassem Downing Street. Mas a alcunha ficou: é a Princess Nut Nuts pelas 25
mensagens que, dizem, envia por hora ao chefe do governo britânico. Por Sara Capelo

, ,
Carrie Symonds Boris Johnson
Aos 32 anos, está noiva de Tem 56 anos. Pouco depois
Boris desde fevereiro. Têm de se separar da mãe de
um filho em comum. Como quatro dos seus seis filhos,
antiga diretora de comunica- anunciou o namoro com
ção dos conservadores, tem Carrie. É inegável para os
uma relação próxima com os media britânicos que
jornalistas políticos britânicos procura os seus conselhos

58

A
djetivos de grandeza à par-
te, Carrie Symonds leva à
letra o ditado de que atrás
de um grande homem está
uma grande mulher. Não pertencer ao
gabinete de trabalho do primeiro-mi-
nistro britânico não tem impedido a
noiva de Boris Johnson de ser uma
conselheira próxima. Por hora, conta-
bilizaram as más-línguas, chega a en-
viar-lhe 25 mensagens ou a telefonar-
-lhe 20 vezes, exigindo-lhe que pare
reuniões para lhe ligar de volta.
Pouco se sabe sobre a substância,
mas o volume tornou-se motivo de
chacota entre as tais más-línguas, os
conselheiros nomeados por Johnson:
o influente Dominic Cummings e o
assessor de imprensa, Lee Cain, que
lhe terão até dado a alcunha de Prin-
cess Nut Nuts – a princesa louquinha
de todo, numa tradução livre. Em al-
gumas mensagens, usavam emojis
para referir o petit nom. Ao The
Guardian, contudo, uma fonte anó-
nima assumiu que este termo circu-
lava, mas que nenhum deles o usava.
Em resumo, escreveu o Daily Mail,
esta é uma “amarga luta de poder no
topo da equipa de Johnson”. Os me-
dia britânicos dão como certo que
Carrie Symonds, uma antiga conse-
lheira de comunicação do Partido
Conservador e de membros do go-
verno, tem tentado influenciar o pai
do seu filho, nascido há apenas sete
meses. E tem manifestado preocu-
pação pela “linguagem mafiosa” de
Cummings e Cain: “Bullying e intimi-
dação eram a norma”, descreveu ao
The Sun um ex-conselheiro, Neil
Tweedie, entretanto despedido com
acusações de vazar informação. A
última tentativa de Carrie ocorreu
já em novembro, quando Boris lhe
confidenciou que Lee Cain, de 38
anos, seria o seu próximo chefe de
gabinete. Ela não só disse ser contra
como alertou o noivo para a sua
alcunha como Princess Nut Nuts.
A partir daí, tudo se precipitou para
a saída “dramática”, escreveu o The
Guardian, de Lee Cain e do próprio
Dominic Cummings da equipa do
primeiro-ministro. E foi a queixa de
Symonds o motivo? A resposta de-
pende da “fação em contenda” (sim,
como numa guerra), escreveu este
diário. Segundo o The Sunday Times,
Ovelhas ronhosas?
Os dois momentos negros
dos ex-assessores de BoJo
A fuga de Cummings para o
campo com a família, quando
devia ter ficado em recolhimento
devido à Covid-19, trouxe-lhe mui-
tas críticas nos últimos meses. E
não há perfil de Cain que esque-
ça o dia em que, como jornalista
do The Mirror, se vestiu de gali-
nha para incomodar David Ca-
meron e outros conservadores
na campanha eleitoral de 2010.
foi o próprio Cummings a decidir
“sair mais cedo” depois de um en-
contro “caloroso e com muitos risos”.
Por sua vez, o Financial Times
noticiou que o primeiro-ministro
apressou a saída deste seu conse-
lheiro (que estava prevista para o fi-
nal do ano com a conclusão do pro-
cesso do Brexit, de que ele fora o es-
tratega em 2016). Num encontro de
45 minutos, houve “trocas tensas” de
palavras: “Saiam e nunca mais vol-
tem”, ter-lhes-á dito Johnson, segun-
do o relato deste jornal económico.
Ambos saíram logo nesse dia, sexta-
-feira, 13 de novembro, do número
10 de Downing Street.
O mimado e a princesa
Entre os apoiantes do estilo corrosivo
de Cummings e Cain, há quem de
modo anónimo ao The Sun leia no
comportamento de Carrie o de uma
nova princesa Diana, que “em vez do
lugar de poder atrás do trono, se quer
sentar nele”. Na outra fação, defen-
de-se que ela é “das poucas pessoas
que rodeiam o primeiro-ministro que
entende o partido conservador”. Isto
porque esteve lá vários anos.
A ligação à política e à comunica-
ção vem de berço: o avô, o barão de
Ardwick, era um deputado pelos tra-
balhadores e editor de jornais; o pai,
Matthew, foi um dos fundadores do
jornal The Independent e foi nessa
área que Carrie Symonds, 32 anos,
começou a trabalhar, em 2010,
como diretora de campanha de um
deputado conservador. Dois anos
25 NOVEMBRO 2020
www.sabado.pt
www.sabado.pt
CARRIE TEM depois, colaborou diretamente com
SIDO A Johnson na sua reeleição para mayor
DEFENSORA de Londres e depois continuou liga-
DOS FUN- da aos tories como conselheira de
CIONÁRIOS imprensa e a “mais jovem” diretora
CONTRA A de comunicação do partido. Deixou
LINGUAGEM o cargo em 2018 – o ano em que
MAFIOSA DE começou a namorar com Boris. O
CUMMINGS anúncio do relacionamento surgiu
E CAIN pouco depois do divórcio dele, ao
fim de 25 anos de casamento. Nessa
data, Carrie integrou a comunicação
de uma organização que tenta pre-
servar os oceanos. No Twitter, defi-
ne-se aliás como uma “conservacio-
nista”. Também tem advogado con-
tra a mutilação genital feminina.
Apenas um ano depois, entrava em
Downing Street com Boris Johnson
eleito primeiro-ministro. E como re-
cordou o jornal fundado pelo pai
Indiscreto dela: Carrie tornou-se na “primeira-
Cummings fez -namorada”, num trocadilho com o
questão de cargo de “primeira-dama”. E um
abandonar aparente exemplo de moda: o vesti-
Downing Street do rosa que usou na tomada de pos-
a 13 de novem- se, no valor de 120 libras (cerca de
bro pela porta 134 euros), esgotou em poucas horas.
da frente com São, portanto, o primeiro casal a
um caixote ocupar a residência oficial sem esta-
rem casados. Mas têm essa intenção:
o anúncio do noivado chegou já em
2020, em conjunto com a chegada
de Wilfred, o primeiro filho comum e
Inédito que nasceu a 29 de abril, pouco de-
Se o enlace se pois de Johnson ter saído do interna-
concretizar, mento nos cuidados intensivos devi-
Johnson será do à Covid-19.
o primeiro chefe A relação teve o pior momento pú-
de governo do blico numa madrugada de junho de
Reino Unido, 2019, quando Johnson era já o can-
em 250 anos, didato preferido para substituir The-
a casar-se resa May. Depois de ouvirem uma
enquanto está discussão violenta e estrondos do
no cargo que pareciam pratos, os vizinhos do
apartamento londrino que ambos
partilhavam à época chamaram a
polícia. Segundo o relato de um de-
É A NOVA les ao The Guardian, Carrie Symonds
PRINCESA gritou para que Johnson “saísse” de
DIANA, DIZ casa e acusou-o de estragar o sofá
UM CRÍTICO: com vinho: “Não te preocupas com
“EM VEZ nada porque és um mimado. Não te
DO PODER preocupas com dinheiro, nem com
ATRÁS nada.” Os agentes concluíram que
DO TRONO, “os residentes estavam seguros e
QUER bem”. Não tinha havido agressões.
SENTAR-SE Um ano e meio depois, agitam a
NELE” residência de Downing Street. W
59
 Opinião

RELATÓRIO O políticas sem visão nem competên-

MINORITÁRIO Reapertem cia, mal pensadas e pior executadas.

Do caos, da balbúrdia sanguinolenta,

Não é só por causa da

magreza e da penúria
os cintos do triunfo dos mais fortes (ou dos
mais armados) sobre os outros. Do
incumprimento das promessas repu-
evidentes. É também como blicanas, da justiça social ao desen-

O
segurança, porque a vida ito curtos anos depois do sur-
política portuguesa irá to da pandemia que dizimou
sofrer mudanças, Portugal – a gripe espanhola,
acelerações e momentos apesar de a origem não ser essa –,
dramáticos. Mesmo com veio o Movimento das Espadas e o 28
brandos costumes de Maio de 1926.
Os nossos compatriotas estavam
longe de imaginar o Estado Novo, o
corporativismo e Salazar. Mas apoia-
ram o 28 de Maio porque sabiam o
que não queriam. E conheciam ainda
melhor aquilo de que estavam fartos.
Estavam cansados da mesquinhez,
do sectarismo, do egoísmo, da vio-
lência, da vacuidade e da cegueira
dos partidos políticos. De pequenos e
grandes barões e baronetes, dema-
gogos treinados e profissionais. De
volvimento, do fim dos privilégios à
disciplina e transparência das contas
públicas.
A História não se repete, apesar de
continuar. Mas as mesmas causas po-
dem produzir as mesmas conse-
quências.
Um povo pacífico, avesso às solu-
ções de força, mas cansado de sofrer
e de esperar, e temeroso ante o des-
conhecido e a falta de soluções mo-
bilizadoras, pode sempre ser tentado
a apoiar remédios drásticos, aparen-
temente milagrosos.
A verdade é que há poucos motivos
para sorrir. Os arquitetos (não remu-
nerados) da “estratégia nacional de
recuperação” esfumaram-se. O Go-
verno navega à vista. “Ainda assim, é
melhor do que andar cego”, disse-me
alguém implicado. Q

O j
O superpoder
regional
Luanda enviou dois dos seus 13 caças
Su-30SM (armados), um avião de
transporte Antonov AN-72 e um heli-
cóptero médico para Kinshasa, pou-
cos dias depois de o Presidente da
RDC ter ido a Luanda pedir ajuda e
solidariedade.
Quem assistiu à audiência com João
Lourenço, e às subsequentes com os
chefes da segurança presidencial e
dos serviços secretos externos (SIE),
sabe que o tom da solicitação de
Tshisekedi era desesperado.
A RDC vive uma crise política que a
aproxima da rutura nos partidos do
poder, e sofre uma ameaça terrorista
por parte do mesmo bando que amea-
AMPE ROGÉRIO/LUSA

ça Cabo Delgado, o Daesh EIPAC.

O
Politólogo Angola é o único superpoder regio-
Nuno Rogeiro nal da SADC com capacidade expe-
nrogeiro@gmail.com dicionária moderna. E assume-se. W

60

MÁRIO CRUZ
Q Com uma fronteira única com
um dos maiores infetados da Europa
– de cuja economia precisamos, mas
condicionalmente – é como sermos
um cantinho à “beira-mal-plantado”.
No desespero de uma esquerda que
ou traiu os seus princípios ou não
sabe o que fazer com os que restam, e
de uma direita reumatizada e confor-
mista, usa-se o Chega como álibi.
Não há mais política para além disso,
e o golpe só resulta porque do partido
zurzido continuam a provir, junta-
mente com ideias razoáveis, muitas
imbecilidades.
Começam a multiplicar-se casos de
O h
O que é preciso
Joe Biden tem todo o direito de for-
mar, com ponderação, uma equipa
de governo eficaz e digna.
Donald Trump tem todo o direito de
recorrer aos tribunais, para sanar ale-
gadas irregularidades no apuramento
dos votos presidenciais.
O que é preciso é não preparar um
executivo de remendos, nas mãos de
D.R.
lobbies e de franjas, capaz de enten-
der que os EUA necessitam de viver
no mundo, com o mundo e para o
mundo (para além de si mesmos).
O que é preciso é não confundir irre-
gularidades, erros e fraude. Aqueles
podem ser deslizes técnicos. Esta pres-
supõe um mecanismo propositado de
engano. Que tem de ser provado.
O que é preciso é não perder tem-
CJ GUNTHER/EPA
po, nem empatar com inexatidões.
O que é preciso é ser preciso. W
violência extrema. Uns dirão logo
que a miséria leva ao desespero, e
este ao crime.
Enquanto ignoramos como serão os
órgãos de soberania futuros, pergun-
ta-se se, na decisão política sobre es-
tados de exceção, são ouvidos sem-
pre todos: autarcas, empresas, sindi-
catos, escolas, “forças vivas”.
Tem de haver algo mais na manga
do Estado do que uma espera pelas
vacinas. Até porque não sabemos
quão seguras serão as anunciadas,
como poderão ser garantidas, ou
quando serão distribuídas.
Daí que o estado de emergência
deva ter, como disse, geometria va-
riável, e não avariada. Não se pode
apenas dizer “a seguir à exceção,
mais exceção”.
Muitos reclamam mais meios para
os serviços de emergência. Veja-se a
miséria remuneratória da enferma-
gem. Vejam-se as polícias, tantas ve-
zes obrigadas a suportar nos ombros
todos os vexames sociais que a políti-
ca devia ter resolvido.
Claro que a sociedade não morre,
j namento. Está tudo online, o que alia
25 NOVEMBRO 2020
www.sabado.pt
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e organiza-se. Promovem-se os
bairros e o comércio próximo, e
os produtos nacionais nas grandes
superfícies.
Falta promover, da parte do Estado
que está, os cidadãos nacionais com
prioridade total. Se não formos nós a
tratar de quem aqui vive, quem tratará?
P.S. – Quinze anos depois, Angela
Merkel, a “menina de Kohl”, continua
à frente da Alemanha. Tanta água
passou debaixo das pontes. A Europa
ergueu-se, caiu e voltou à estrada. O
antigo Reich passou por crises, dúvi-
das, desunião federal, perplexidades
e novos arranjos. A própria chanceler
adaptou o seu discurso, o seu pensa-
mento, a sua orientação, a sua “dou-
trina”, às cruas realidades. Cedeu
aqui, impôs ali, abriu portas acolá,
mas passou de Bruxa Má do Leste
(lembram-se das acusações domés-
ticas, quando da troika?) a estadista
respeitada e conciliadora, espécie de
Pitonisa de Delfos, a quem todos pe-
dem uma palavra de bom senso e fu-
turo. Não é pouco. W
O
Indigo e
companhia
Indigo Quintet: sopros modernos e ar-
caicos, bateria e contrabaixo, guitar-
ras e violoncelo, a vogar entre o jazz, a
“música do mundo”, a Idade Média, o
Barroco e a tradição popular, sem
medo da experimentação eletrónica.
Publicaram em 2019 o CD Indigo Ses-
sion, e o concerto deste ano no mag-
nífico Mosteiro de Tibães, já em confi-
a generosidade da partilha ao talento
e ao espírito aventureiro. Que estão
na criação de Portugal.
Sugiro ainda a música ambiental de
Francis Mann (Xutos e Pontapés), em
Into the Void. Processos simples, mas
eficazes.
Por fim, arrepiante série de Álex de la
Iglesia na HBO Portugal: 30 Monedas,
sobre a herança maléfica de Judas. W
61
 Dinheiro
COVID-19. O QUE AS EMPRESAS FIZERAM PARA MINORAR OS EFEITOS DA PANDEMIA E DO TELETRABALHO
OS MIMOS E AJUDAS PA
Linhas de apoio psicológico, apps de bem-estar, vídeos caseiros, dinheiro extra para despesas
N
o dia 3 abril, quando Portu-
gal entrava no seu segundo
estado de emergência,
muitos dos 300 colabora-
dores da imobiliária JLL estavam em
direto no grupo de Facebook da em-
presa (JLL Portugal Staff) a assistir às
11 horas da manhã a uma das colegas
a fazer um cheesecake de framboesa
e morangos em direto da sua cozinha.
“A empresa tem uma cultura muito
leve, tem um ambiente único. Que-
ríamos colmatar o isolamento sentin-
do o mesmo ambiente que temos
quando estamos juntos”, diz à SÁBA-
DO Ângela Pinto, autora da receita.
As receitas ao vivo foram algumas
das iniciativas da imobiliária para
minorar os efeitos da pandemia.
Houve quem fizesse vídeos a dançar,
quem desse sugestões de leitura ou
enfiasse a cara num prato de farinha
e partilhasse a fotografia. Alguns em-
pregados mais atletas deram aulas
de preparação física e algumas equi-
pas recriaram séries e filmes, como A
Casa de Papel, ou o 007. Ainda hou-
ve aulas de mindfulness e de ioga.
Num nível mais sério, o CEO da
empresa e os Recursos Humanos
enviavam diariamente um email
com “o ponto de situação do negócio
e também dos casos positivos – tive-
mos alguns no início, e era tudo um
pouco desconhecido na altura”, diz
Alice Matos, diretora de Recursos
Humanos. Uma vez por semana, o
CEO falava também em videoconfe-
rência para todos. A nível internacio-
nal, a empresa, que tem 90.000 tra-
balhadores, fez várias conferências
sobre o novo mundo que estavam
todos a viver. Os temas iam da nutri-
ção em casa e problemas do sono
até aulas de música e estratégias fi-
nanceiras em tempos de incerteza.
Na Aon, consultora de seguros, uma
62
das medidas foi lançar em g
maio uma app, a Well One, para Pedro Oliveira
os trabalhadores medirem os seus mostra a app de
bem-estar que a
níveis emocionais, físicos e financei- sua empresa, a
ros. Pedro Oliveira explica à SÁBADO Aon, disponibili-
como funciona: “É quase como o zou. Diz que re-
sultou consigo
WhatsApp. Interajo com a app e ela
responde. Por exemplo, se definir vai-me dizer que tenho de consumir
como objetivo a nível físico aumentar menos x calorias por dia.”
o consumo de água, a app, de x em x “VOLTEI A A app também monitoriza as horas
tempo, vai avisar-me de que tenho CORRER 3 de sono (através da sincronização
de beber água. Se for reduzir peso, VEZES POR com o smartwatch que está no pul-
SEMANA E so) e também pergunta como é que
ISSO TAMBÉM a pessoa se está a sentir, se está com
Bónus de teletrabalho ME AJUDOU energia, se se sente motivado, se
Empresa portuguesa dá €650
A LIDAR ME- está a fazer poupanças, se tem o
para quem está em casa
LHOR COM
O STRESS”
A Blip (software de apostas
desportivas) vai dar €650 aos
330 empregados que estão em
teletrabalho. No início, a empre-
sa tinha dado €250 para mate-
rial de escritório. Somou agora
mais €400 para despesas de luz
h
e gás. Segundo informou o Eco, A Aubay contra-
a empresa tem linhas de apoio tou Joana Bárba-
psicológico e 30 dias de férias ra Silva (empresa
Sou Toda Ouvi-
de acordo com antiguidade. dos) para ouvir
os desabafos dos
empregados

ARA OS EMPREGADOS
domésticas e aulas e lives de tudo e mais alguma coisa. Por Marco Alves
orçamento familiar detalhado, etc.
Disto tudo sai um resultado (Health 30 horas
Score) que pode ser comparado com A americana
outros colegas. Pedro Oliveira garan- Fidelity In-
te que esta app, que vê como uma vestments pro-
espécie de coach virtual, não foi mais pôs aos empre-
um fator adicional de stress e que fi- gados um regi-
cou a conhecer coisas sobre os cole- me de 30 horas
gas que desconhecia. “Temos um co- semanais, ainda
lega que é quase um maratonista, to- que com um
dos os dias corre uns 10 km, começa- pequeno corte
mos a descobrir interesses que as salarial
pessoas tinham e desconhecíamos.”
Pedro Oliveira, gestor de clientes
de 40 anos, também garante que
quando um colega está com o Health i
Ana Marques
Score mais baixo, os outros tentam aproveitou qua-
perceber em que podem ajudar e se todas as aulas
que tudo isto diminui o isolamento. de mindfulness
que a Zurich ofe-
E mais: “Como o Health Score é di- receu aos traba-
nâmico, sempre que diminuo a mi- lhadores
nha atividade física perco pontos.
Por outro lado, se participar em de-
safios com os meus colegas ganho
pontos, e isso ajuda-me. Voltei a
correr três vezes por semana, e isso
também me ajudou a lidar melhor
com situações de maior stress.”
Zumba e linhas telefónicas
Pelo menos duas empresas deram
aos trabalhadores alguém com quem
falar. Foi o caso da Aubay, consultora
de tecnologia e integração de siste-
mas de informação. “A cultura das
empresas sofreu um murro no estô-
mago”, diz à SÁBADO João Rodri-
gues, diretor de Recursos Humanos. “É UM CANAL
No pacote de mimos aos funcioná- DE DESABA-
rios (que incluíam torneios de FIFA, FOS. PODEM
um espetáculo de comédia online LIGAR
com Guilherme Duarte, aulas de ioga, E ALGUÉM
línguas, zumba ou meditação), a em- DO OUTRO
presa tinha o Sou Toda Ouvidos, “um LADO ESTÁ
canal de desabafos: os colaboradores DISPONÍVEL
podem ligar e alguém do outro lado PARA OS
está disponível para os ouvir. Falam OUVIR.”
dos sentimentos que têm e traçam
um caminho. É uma mistura de psi-
cologia com coaching.”
Joana Bárbara Silva, a que é toda
ouvidos, não é psicóloga, mas diz que
faz bem as pessoas terem alguém
com quem falar. E que é boa a ouvir.
Por causa da pandemia, as sessões
(que rondam uma hora) deixaram de
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j
Ângela Pinto, da
JLL, a fazer uma
receita em casa
em direto no Fa-
cebook para os
seus colegas
ser presenciais, e durante o estado de
emergência foram gratuitas.
Outra empresa com um serviço se-
melhante foi a Leroy Merlin: “Criá-
mos um canal de escuta para cola-
boradores (LM Escuta), sempre dis-
ponível, em que as pessoas podem
esclarecer dúvidas de forma anóni-
ma sobre um tema ligado à pande-
mia. É uma área que ainda está ati-
va”, diz Ana Herrero. A empresa dis-
ponibilizou ainda duas linhas de
atendimento, uma com psicólogos
e outra com enfermeiros.
Internacionalmente, há notícias de
empresas com iniciativas semelhan-
tes. A Dell implementou vários gru-
pos de entreajuda entre os 1.500 tra-
balhadores (um dos principais estava
relacionado com lidar com as crian-
ças em casa). Outra empresa ameri-
cana, a consultora de comunicação
Geben, começou a dar folgas para
os trabalhadores desconectarem. Em
todos os artigos perpassa uma ideia
que parece cada vez mais assente:
o teletrabalho veio para ficar. W
Com Raquel Lito
63
 Sociedade

SAÚDE. QUAIS OS RECURSOS NECESSÁRIOS PARA TRATAR UM DOENTE COM COVID-19

OS ROSTOS
DE QUEM ESTÁ
NA FRENTE
DE COMBATE
Para virar um doente são precisos cinco profissionais de saúde,
quatro enfermeiros e um médico. Para mudar uma fralda, dois.
E para entubar e ligar ao ventilador outros dois. Ao longo de um
dia, cada doente internado nos cuidados intensivos com o novo
coronavírus é tratado por 48 pessoas, de várias áreas. Saiba
quem são e o que fazem. Por Lucília Galha (textos) e Bruno Colaço (fotos)

N
ão é por acaso que Nuno
Príncipe costuma dizer aos
seus doentes que, para fi-
carem bem, têm de correr
uma maratona. “Os Cuidados Inten-
sivos são importantes, mas são só os
primeiros quilómetros. Depois, há
todos os outros para correr fora da-
qui”, diz o coordenador de Medicina
Intensiva 8, do Hospital de São João.
Que o diga Joaquim (nome fictício),
61 anos, um homem forte e saudável,
sem doenças antes da Covid-19.
Teve alta no dia 3, mas continua in-
ternado num programa de reabilita-
ção intensiva. Ainda precisa de ajuda
para andar e para tomar banho.
Reformado, não faz ideia como se
infetou. Costumava dizer: “Tive logo
de ser eu.” Mas o vírus não escolhe. A
14 de outubro foi ao Centro Hospita-
lar de Médio Ave com sintomas de
Covid: febre, tosse seca, dores mus-
culares e falta de ar. Fez o teste, deu
Piso 8 positivo, mas foi para casa. Regres-
Naquela Unida- sou três dias depois porque o estado
de de Cuidados se agravou. Foi logo entubado e ven-
Intensivos, há tilado – já tinha uma pneumonia que
16 camas de ní- lhe afetava os dois pulmões.
vel III (com ven- Foi transferido para o Hospital de
tilador) e, em São João a 17 de outubro e entrou nos
princípio, vão Cuidados Intensivos no dia seguinte,
existir mais seis às 4h47. Estava mal e a equipa che-
gou a pensar o pior. “A verdade é que
alguns morrem aqui”, admite Nuno
Príncipe. Joaquim não foi um deles, é
A CADA 24H uma história de sucesso. Não teve a
PASSAM ver com sorte, mas com o trabalho de
PELA UNIDA- dezenas de profissionais de saúde. A
DE 10 MÉDI- cada 24h passam pela unidade 10
COS, 30 EN- médicos, 30 enfermeiros e oito assis-
FERMEIROS tentes operacionais. Joaquim esteve
E OITO internado 17 dias. A SÁBADO dá-lhe
ASSISTENTES a conhecer seis profissionais que cui-
OPERACIO- daram dele – sempre por perto, não
NAIS dá para ser de outra maneira.

64

Nuno Príncipe 41 anos
COORDENADOR DA UNIDADE
DE CUIDADOS INTENSIVOS DO PISO 8
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h Há uma razão para os doentes
estarem praticamente nus, só de
fralda, nos Cuidados Intensivos:
para se prestar atenção ao corpo
deles. “É preciso ver se a pele tem
alguma alteração, se o tórax ex-
pande de forma simétrica, se há
zonas com indícios de infeção, se
tem inchaços ou assimetrias nos
membros, se a barriga está mole
ou dura”, descreve, exaustivamen-
te, Nuno Príncipe. Na verdade, essa
é apenas uma das tarefas que fa-
zem parte da observação médica –
que chega a demorar 1h30 num
doente estável (e os pacientes Co-
vid são, por regra, instáveis). O pro-
fissional tem um método: primeiro,
vê os resultados das análises, de-
pois, já junto do doente, faz os
ajustes necessários nas máquinas
que substituem os órgãos que não
funcionam (como o ventilador), as-
sim como nas bombas de perfusão
(acessos através dos quais se rece-
be a sedação, a medicação e a ali-
mentação). “Os doentes em Cuida-
dos Intensivos podem ter mais de
10 bombas de perfusão”, explica.
Quando termina, tem de fazer o re-
gisto do que viu e a proposta de
tratamento – antes de passar para
outra cama, há um médico para
cada três doentes.
No melhor cenário, uma pessoa
fica ali em média quatro a oito
dias. Se tiver de ser entubada e
não houver grandes complicações,
três semanas, mas depois há aque-
les casos mais graves. “Esta unida-
de abriu há cerca de um mês [é só
dedicada à Covid] e temos doentes
que estão desde o início e ainda
não vão sair do ventilador”, des-
creve. Joaquim esteve no cenário
intermédio. Foi um desafio grande,
tinha uma insuficiência respirató-
ria grave e, no tempo em que este-
ve internado, ainda desenvolveu
uma pneumonia associada à venti-
lação (que decorre do equipamen-
to). Mas houve um aspeto determi-
nante: só os pulmões entraram em
falência, os outros órgãos não.
Porque é que a história dele é im-
portante? “Acho que é bom as pes-
soas saberem que as coisas nem
sempre correm mal. A maioria dos
nossos doentes sobrevive.” Q
65
 Sociedade
Filipa Gonçalves 38 anos
ENFERMEIRA MÉDICO-CIRÚRGICA
h Se há um sítio onde a expres-
são “enfermeiro de cabeceira” faz
sentido, é nos Cuidados Intensivos
– ali, há no máximo dois doentes
por enfermeiro. Razão: nos doen-
tes com Covid-19, a deterioração
é muito rápida. “Estão a falar con-
nosco e, logo a seguir, ficam com
dificuldades em respirar e é preci-
so entubá-los”, explica a profissio-
nal. Além de atenção constante, o
trabalho requer esforço físico. Um
dos exemplos mais visíveis é a
chamada prone position (a posi-
ção de barriga para baixo) – que
ajuda estes doentes a respirarem
melhor. O procedimento exige cin-
co profissionais de saúde: dois
enfermeiros de cada lado e um
médico à cabeceira. É uma mano-
bra de risco, porque é preciso as-
segurar que nada se desconecta,
e chega a demorar 10 minutos. O
doente só pode ficar até 16 horas
nesta posição e há casos em que
é preciso virá-lo constantemente –
como Joaquim, lembra a enfermei-
ra. Apesar de ser fundamental
para a recuperação, a manobra
provoca alguns problemas. “Quan-
do viramos novamente estes
doentes, estão cheios de feridas
no abdómen, tórax e cara”, des-
creve. Não é por falta de cuidados:
66
Raquel Anjos 44 anos
ASSISTENTE OPERACIONAL
h Quando entra na unidade diz dos lixos e das roupas exige um
sempre “Bom Dia” – mesmo que ritual apertado. “Fecha-se tudo
os 16 doentes ali internados (o em duplo saco”, explica. Já a
serviço está lotado) não estejam limpeza é feita com lixívia em
“acordados” para a ouvir. A Co- pastilhas, que são misturadas
vid-19 veio tornar o trabalho ain- em água. O cheiro não é um pro-
da mais exigente: “Sentimos que blema: “Com as máscaras nem
estamos ali presos e, se falha sentimos. Temos as P2, que são
alguma coisa, é preciso pedir a duríssimas, deixam-nos os nari-
quem está fora, no chamado cir- zes vermelhos, e outra cirúrgica
cuito limpo”, diz Raquel Anjos. por fora”, diz.
Mais: quando termina, não está Dentro da unidade, na chama-
só cansada. Tem a roupa colada da zona suja, só está um assis-
ao corpo, revés dos equipamen- tente e há outros dois cá fora, a
tos de proteção individual, que dar apoio e a fazer recados. Não
são quentes e desconfortáveis. existe uma barreira física, as
Os turnos de sete horas (10 ho- zonas estão delimitadas por li-
ras à noite) não têm momentos nhas. Se for preciso material,
mortos. É preciso limpar de toda agulhas, seringas, pensos, com-
a unidade – camas, mesas, tudo pressas, sondas ou até fraldas,
o que sejam superfícies e chão a colega de fora é que entrega.
–, retirar os lixos e a roupa suja, “Põe em cima de uma mesa e
de duas em duas horas, mudam- assim como levar a alimentação eu pego, ou entrega-me, mas
-lhes a cabeça de posição e mas- (e dar apoio à equipa de enfer- sem tocarmos uma na outra”,
sajam-lhes a pele com um creme magem nas refeições, se for pre- explica Raquel Anjos. Têm o
hidratante. ciso). Por causa da pandemia, trabalho mais invisível, “mas
A família de Joaquim passou por tudo é descartável, até os tabu- sem nós aquilo também não
um aperto. “Houve vários dias em leiros da comida, e a retirada funcionava”.
que ele não nos dava motivos
para acreditarmos que as coisas
iam correr bem”, diz Filipa Gon-
çalves. Mas acabou por dar a vol-
ta. Uma das melhores recorda-
ções é a de o ver, sentado no ca-
deirão, a pedir para comer sozi-
nho. “Inicialmente, éramos nós
que lhe dávamos porque ele não
tinha força para levantar o braço.
Mas, a certa altura, disse-me: ‘En-
fermeira, sou muito novo para al-
guém me dar comida à boca’”,
conta. Chegava a demorar 1h para
terminar a sopa, mas quando
conseguiu, foi uma vitória.
São histórias como a dele que
dão alento à enfermeira. Sobretu-
do nesta segunda vaga – em que
os doentes chegam pior. “Nunca
tive tanta gente a pedir-me para
não ser ligada ao ventilador, ou
para prometer que os volto a
acordar”, diz. “Só fiz isso uma vez
a uma doente Covid, disse-lhe
que ia correr tudo bem, e não
correu. Lembro-me disso cons-
tantemente.”
 25 NOVEMBRO 25 NOVEMBRO 2020
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Ana Afonso 35 anos h Não tem dúvidas ao afirmar que

MÉDICA ESPECIALISTA o mais desafiante neste momento é
EM MEDICINA INTERNA manter a sanidade física e mental.
“Estamos todos muito cansados e
temos noção disso”, admite. Não é
só o trabalho, que é “pesado, árduo
e contínuo”, a fragilidade dos
doentes Covid-19 também exige
um esforço extra. “Estes doentes
têm de ser entubados o mais rapi-
damente possível, porque de um
momento para o outro ficam sem
pulmão. Agora imagine fazer isto
com três pares de luvas e dois pa-
res de batas. É destrutivo a nível fí-
sico”, descreve. A entubação é um
momento de stress para os médi-
cos e precisa de dois especialistas
para ser feita: o mais experiente
faz o procedimento, o outro fica
de backup.
Não há doente que não faça a
equipa “tremer um pouco”, admite.
Joaquim não foi exceção. Além de,
durante o período de internamen-
to, ter tido uma outra pneumonia,
também foi difícil retirar-lhe a ven-
tilação. “Quando acordou, estava
muito agitado, o delírio nos Cuida-
dos Intensivos é bastante frequen-
te, efeito do tempo de sedação”,
explica a especialista. Acabou por
correr bem: quando recuperou a
consciência, já acenava com a ca-
beça, cumpria ordens, apertava a
mão aos médicos. “Víamos que es-
tava connosco e orientado”, diz. O
acordar terá sido o momento mais
marcante, mas vê-lo a sair da uni-
dade, ainda que sem ser pelo pró-
prio pé, foi ainda melhor. “É a me-
lhor prenda que pode dar aos pro-
fissionais de saúde que cuidaram
dele”, diz, emocionada. Q

67

Sociedade
Alberto Pereira 48 anos
ENFERMEIRO DE REABILITAÇÃO
h A reabilitação em Cuidados
Intensivos deve começar o mais
cedo possível – de forma a redu-
zir as sequelas, que existem
sempre. Começa-se pela cine-
sioterapia respiratória, em que
se fazem movimentos no tórax
do doente para reduzir a dificul-
dade respiratória e ajudar a
drenar as secreções. Também se
mobilizam os membros, enquan-
to ainda está sedado (para for-
talecer os músculos). “Regra ge-
ral, estes doentes perdem muita
massa muscular, acordam sem
força e mais magros”, explica
Alberto Pereira.
Depois de extubado, Joaquim
teve de reaprender a respirar.
“Usamos aquela técnica de
cheirar uma flor, para inspirar
pelo nariz, e soprar uma vela,
para expirar pela boca”, descre-
ve. “Estes doentes sentem algu-
68
ma ansiedade e têm tendência
a respirar muito rapidamente”,
explica. Também foi preciso fa-
zer exercícios para fortalecer os
músculos. “Usamos um bastão
para o doente segurar e levantar
e recorremos a pesos e faixas
elásticas”, detalha. No início,
Joaquim não comia sozinho,
mas quando saiu já o fazia. Tam-
bém já se levantava, mas teve
alta ainda sem andar. O traba-
lho de um enfermeiro de reabili-
tação é sobretudo manual e, por
isso, torna-se extenuante. “No
turno da manhã, chego a fazer
os 10 mil passos que o telemó-
vel deteta”, diz à SÁBADO. O
ideal seria passar pelo menos
1h por dia com cada doente, na
prática só consegue 15 minu-
tos. Neste momento, há 16 in-
ternados e não há outro espe-
cialista com esta valência.
Rosa Moreira 46 anos
ENFERMEIRA-CHEFE DOS CUIDADOS INTENSIVOS DO PISO 8
h A higiene de um doente em
cuidados intensivos não é sim-
ples. Por exemplo, para mudar
uma fralda são precisos pelo
menos dois enfermeiros: um
para segurar o doente e asse-
gurar que o tubo do ventilador
não sai, outro para limpar a re-
gião genital e trocá-lo. Com a
agravante de que estes doentes
são geralmente obesos. “É um
dos fatores de risco da Covid”,
explica Rosa Moreira. Não é o
único procedimento que requer
atenção redobrada: a higiene
oral, que é feita uma vez por
turno, a cada doente, também.
“Temos umas esponjinhas para
lavar a boca e usamos um co-
lutório [elixir], que é preciso as-
pirar. Às vezes, além do tubo
endotraqueal, o doente tem
uma sonda nasogástrica e um
termómetro, três coisas na
boca”, descreve a enfermeira.
A higiene que é feita de ma-
nhã muitas vezes repete-se ao
longo do dia – seja quando os
doentes têm febre, e ficam
suados, ou quando fazem ne-
cessidades. A equipa de enfer-
magem usa uma bacia com
água e um antibacteriano (clo-
rexidina) e limpa os doentes
com uns toalhetes – que são
guardados numa pequena es-
tufa, a uma temperatura ade-
25 NOVEMBRO 2020
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quada para o corpo. Quando
é preciso, aparam-lhes a barba
e o cabelo e cortam-lhes as
unhas. Também há as refei-
ções e os levantes para o ca-
deirão (dos doentes que já es-
tão despertos), as saídas para
exames – que exigem que vá
pelo menos um elemento para
chamar o elevador e abrir as
portas – e as gasimetrias, um
exame de sangue colhido de
uma artéria para perceber os
níveis de oxigénio e dióxido
de carbono no sangue (che-
gam a fazer-se seis por dia
em cada doente).
Rosa Moreira não tem muito
contacto com os doentes, por-
que está na coordenação dos
enfermeiros e dos assistentes
operacionais e “é preciso ga-
rantir que nada falhe”. Mas fica
de manhã à noite no serviço e
também vai aos fins de sema-
na. Diz que não chega comprar
mais máquinas e ventiladores,
o que falta mesmo são pessoas
– com formação em Intensivos.
Recorda-se bem do dia em que
Joaquim teve alta daquele ser-
viço, da felicidade que tinha es-
tampada no rosto. “Saiu daqui
a convidar-nos a todos para ir
à sua piscina”, lembra. E só la-
menta: “Infelizmente, não vai
ser tão cedo.” W
 Sociedade

Entrevista
RICARDO BAPTISTA LEITE
g
É médico, deputado e ministro-sombra do PSD ugue, id tempus
para a Saúde. Lança agora um livro com as suas ideias dolor. Etiam orci
magna, euismod
para reformar (sem revolucionar) o setor. eget tempus sed,
Por Marco Alves congue id mau-
ris. Nunc gravida

“A pobreza
é o principal
causador
de doença”

JOÃO MIGUEL RODRIGUES

D
epois de “uma década de
análise de sistemas de saú-
de internacionais”, Ricardo
Baptista Leite faz uma ava-
liação preocupante do setor em Por-
tugal, apesar de não ser catastrofista.
Três diagnósticos: o sistema é pouco
descentralizado; está orientado para
a quantidade (número de cirurgias,
por exemplo), em vez da qualidade;
e é puramente reativo (só lida com
doentes) em vez de ser ativo (evitar
que as pessoas fiquem doentes e
com isso poupar recursos).
Como médico, como vê a aliança
do PSD nos Açores com um par-
tido que defende o fim do SNS?
Não me identifico com a linha de
pensamento desse partido e de
outros que entendem que o SNS
contribui negativamente para o
sistema de Saúde – pelo contrário.
O PSD não mexeu uma vírgula no
que são as suas posições de base.
O livro diz que a reforma do SNS
é um imperativo, mas também
cita um estudo em que o SNS
está entre os mais eficientes do
mundo. Ao mesmo tempo, num
estudo da sua universidade, a
Católica, cerca de 75% dos portu-
g gueses estão muito satisfeitos
Baptista Leite com o SNS. Como é que se muda
defende as taxas
moderadoras uma coisa que é boa e de que as
diferenciadas pessoas gostam?
em função dos O SNS é um dos mais eficientes
rendimentos
pelo lado do custo. Gastamos muito
pouco per capita para os resultados
que temos e por isso, como é uma
divisão, um rácio, subimos no
ranking. Não quer dizer que os nos-
F sos resultados em saúde estejam
[Médicos e entre os melhores, mas que para o
enfermeiros] dinheiro que gastamos consegui-
“Devia existir mos resultados muito interessantes.
um sistema Mas o que nos trouxe até aqui não
de remune- nos vai garantir resultados no futu-
ração que ro. Por outro lado, há a questão que
fosse mais levanta: a perceção pública. A pedra
orientado por basilar que tem garantido o funcio-
resultados” namento do SNS têm sido os profis-
sionais, que vão ultrapassando as
dificuldades funcionais.
F Diz que há uma crescente falta
“Porque é que de confiança no SNS e associa
optam por isso ao facto de 40% dos portu-
gastar esse gueses terem seguro de saúde
dinheiro privado ou ADSE. Não bate certo
[seguros de com os indicadores de satisfação
saúde]? dos utentes.
Porque não Uma coisa é confiança nos profis-
têm confiança sionais e nos serviços que nos es-
no SNS” tão a ser prestados, outra é a con-
fiança no contexto em que está a
citar [seguros]. Quando se recorre
a um seguro privado, ou se prefere
tirar 3,5% do ordenado para ter
ADSE, é dinheiro que se poderia ter
em caixa. Então porque é que os
portugueses optam por gastar esse
dinheiro? Porque não têm confian-
ça que o sistema lhes vá garantir os
cuidados de saúde que precisam,
quando precisam, de forma atem-
pada. Se eu tiver um cancro eu não
quero ficar numa lista de espera.
Quero poder garantir que tenho
aqui uma opção que possa ter uma
resposta. É um plano b, se quiser.
Acha que os médicos e enfermei-
ros ganham mal?
Acho que deviam ser mais bem re-
munerados e devia existir um siste-
ma de remuneração que fosse mais
orientado por resultados. É uma ló-
gica diferente da visão industriali-
zada. Vou dar um exemplo: um
doente com cancro da próstata.
Hoje em Portugal é operado e tem
uma taxa de sobrevida acima de
90%, ou seja, o que medimos é se
morreu ou viveu. Porém, ninguém
pergunta se ficou com disfunção
erétil, ou com incontinência uriná-
ria. Viver é mais do que sobreviver,

70
 25 NOVEMBRO 2020
www.sabado.pt
www.sabado.pt

é ter qualidade de vida. Devíamos
estar a medir o que é importante
para o doente e aí podemos passar
a analisar quem são os profissionais
que têm os melhores resultados,
que instituições, como podemos
criar novos modelos de financia-
mento em função desses resultados.
Podemos criar um suplemento re-
muneratório para as equipas que
passarem de 30% para 80% a per-
centagem de doentes que ficaram
sem disfunção erétil após a cirurgia
à próstata. Hoje, os indicadores es-
tão orientados para a doença.
Nesse exemplo, os efeitos secun-
dários dependem de como a
operação é feita?
Vou dar o exemplo de uma clínica
universitária em Hamburgo, a Marti-
ni-Klinik. São especialistas em can-
cro da próstata e assumiram esses
dois indicadores como prioritários.
Mudaram todo o procedimento des-
de a entrada do cliente até um ano
após a cirurgia. Fazem uma análise
muito mais detalhada do doente,
do Trabalho e não haver uma apos-
Livro ta na prevenção leva a que as pes-
Um Caminho soas estejam cada vez mais doentes
para a Cura e o orçamento seja cada vez maior.
Sabemos que a pobreza é o princi-
Autor pal causador de doença, assim
Ricardo Baptista como as desigualdades. Se a saúde
Leite apenas lida com as consequências
Editora do mau trabalho [do Ministério] da
Dom Quixote Solidariedade leva a que estejam to-
dos a competir por recursos. O Mi-
nistério da Solidariedade e do Tra-
balho passaria a ter apenas o que é
trabalho, pensões e reformas.
Um exemplo prático.
Diabetes. Hoje, criamos incentivos
para controlar os diabéticos, só li-
damos com as pessoas já doentes.
O que pretendemos é criar métri-
cas para reduzir os novos casos. A
mesma coisa com a doença onco-
lógica, ou a demencial.
Essa prevenção já não é feita?
A prevenção da doença representa
menos de 1% do orçamento da
Saúde. As Administrações Regio-
nais de Saúde deveriam acabar,
são colossos burocráticos, e orga-
nizar o território em unidades mais
pequenas, as Unidades Locais de
Saúde, que já existem na lei, que
podem abranger um ou mais mu-
nicípios. Os gestores destas ULS
são também responsáveis pela ges-
tão da saúde e do bem-estar da-
quele território. Com autonomia
para fazer parcerias – no caso da
diabetes, para reduzir a obesidade,
para promover alimentação mais
saudável e para políticas de pro-
moção da atividade física. Se redu-
zirmos a carga da doença liberta-
mos recursos financeiros que hoje
são consumidos por doentes que
não deviam estar doentes para
poder tratar melhor os que ficam
doentes independentemente do
que a saúde pública faça. W
PUB

fazem um estudo sobre os tipos de

tratamento que têm mais probabili-
dade de sucesso naquele doente,
fazem investimentos em tipos de ci-
rurgias que num primeiro momento
podem até ser mais caros. Daí que
tenham subido de 30% para 80%.
Uma das medidas que propõe é o
Ministério da Saúde ser também
do Bem-Estar. Como é que na
prática é prejudicial neste F
momento estarem separados? “Estamos a
O SNS português sofre do mesmo gastar cada
mal que muitos SNS do mundo oci- vez mais
dental. Com a industrialização, con- dinheiro e as
verteu-se para um modelo de pro- pessoas estão
dução, ou seja, quanto mais se pro- cada vez mais
duz (cirurgias, terapêuticas, consul- doentes (no-
tas), mais saudáveis as pessoas são. meadamente
Mas não é isso que acontece. Esta- crónicos)”
mos a gastar cada vez mais dinheiro
e as pessoas estão cada vez mais
doentes (nomeadamente com doen- F
ças crónicas). Porque temos um mo- “O Ministério
delo que gera incentivos que esti- da Solida-
mulam a doença. Não há incentivos riedade e do
para reduzir a carga da doença. O Trabalho
que proponho é uma mudança de passaria a ter
estratégia, que passa por perceber apenas o que
que a saúde é o resultado também é trabalho,
de determinantes sociais. A compo- pensões e
nente social estar hoje no Ministério reformas”

71
 Sociedade
RUI RICARDO

D
ois homens, de toalha à REPORTAGEM. A DELIGHT U TEM LOTAÇÃO PARA 30 PESSOAS

SEXO, CASAIS
cintura e máscara na cara,
acotovelam-se para es-
preitar pela fechadura de
um quarto onde um casal acabara de
entrar. Passa pouco das 3h da tarde

E NEGÓCIOS
de sexta-feira, talvez o dia mais con-
corrido da Delight U, uma nova sau-
na liberal inaugurada há um mês, em
plena pandemia. As regras de segu-
rança e higienização estão expostas

DE TOALHA
em todas as paredes do espaço, com
dispensadores de álcool-gel e avisos
ao distanciamento social. Mas o que
se passa para lá da porta dos quartos
não entra nas contas da pandemia:
são apenas gemidos e conversas
mais ou menos sussurradas. Há um mês foi inaugurada em Lisboa uma sauna liberal.
“É a primeira vez que vem aqui?”,
pergunta na receção Alex, brasileiro Uma espécie de spa para homens, mulheres e casais.
e proprietário do espaço, situado na A SÁBADO visitou o espaço sempre de máscara. Por André Rito
zona da Ajuda, em Lisboa. “É preciso

72

fazer marcação porque temos de
controlar o número de pessoas”, ex-
plica. Parte deste controlo está rela-
cionado com a atual crise sanitária e
a necessidade de afastamento social
– a capacidade é de 120 pessoas,
neste momento limitada a 30 pes-
soas. Mas num espaço onde o con-
tacto físico é inevitável, as marca-
ções têm também como objetivo
equilibrar o ambiente. A ideia é que
o número de singles – homens e
mulheres – seja adequado à quanti-
dade de casais.
“Ao longo do dia de hoje vamos
receber três singles femininas, oito
casais e 10 homens”, verifica Alex na
lista das marcações, muitas delas fei-
tas por WhatsApp ou através da pá-
gina de Facebook da Delight U. Lan-
çada num tempo de enormes desa-
fios para a saúde, de medo do con-
tacto físico, sobretudo com estra-
nhos, todos estes receios parecem
ficar para trás assim que os clientes
cruzam o cortinado de veludo ver-
melho que dá acesso às zonas co-
muns. Ou seja, aos quartos, banhei-
ras de hidromassagem, banho turco,
sauna, sala de cinema pornográfico
e à red zone. Lá iremos.
“Temos tido a casa bem frequenta-
da. Terça, por exemplo, foi um dia
tranquilo, tivemos apenas oito pes-
soas. Mas na quarta recebemos 18,
quatro singles e sete casais”, conta o
empresário à SÁBADO, que ao longo
do dia vai fazendo rondas pelo espa-
ço para verificar se as normas de se-
gurança e higiene são cumpridas. “As
pessoas têm de andar de máscara e
isso é possível controlar. Mas dentro
dos quartos não tenho forma de sa-
ber...”, afirma enquanto nos dá alguns
últimos conselhos. “Não me leve a
mal, tal como no swing não se deve
‘perseguir’ ninguém, nem bater na
porta dos quartos que estão fecha-
das. Relaxe, divirta-se, deixa aconte-
cer. Tenha cuidado a entrar no jacúzi,
é um pouco mais profundo.”
Sexo e teletrabalho
É um corredor em forma de “L” que
surge ao abrirem-se as cortinas. De
um lado há portas para os quartos,
por agora todas abertas, e alguns ho-
mens circulam de toalha à cintura e
chinelos azuis descartáveis, ofereci-
Fechar negócio
Há quem trabalhe enquanto
está na sauna
É um pequeno espaço fora
da zona liberal onde existe uma
máquina de café, alguns sofás e
uma televisão. Não há SportTV,
para tristeza de clientes que que-
riam ver os treinos de MotoGP.
Outros estão ocupados a traba-
lhar. “Já lhe mando os PDF com
modelos e os preços”, diz ao tele-
fone um cliente, enquanto tira no-
tas. Depois levantou-se, tirou uma
barrinha energética da máquina
e desapareceu no cortinado.
25 NOVEMBRO 2020
www.sabado.pt
www.sabado.pt
j dos à entrada. Ao fundo, um outro
No jacúzi não se cortinado dá acesso a uma pequena
pode fazer sexo,
mas pode-se tirar sala de cinema monotemática: por-
a máscara nografia hard em emissão contínua.
Dois casais falam lá dentro, aparen-
temente indiferentes ao que se passa
no ecrã. Conversam sobre trivialida-
des do trabalho e do confinamento.
Na zona húmida – o único local
onde é permitido tirar a máscara –,
À entrada onde somos conduzidos pelo corre-
os clientes dor, as portas de vidro estão emba-
recebem uma ciadas pelo vapor das duas banhei-
chave com o ras de hidromassagem, de uma sau-
número do ca- na e do banho turco. O ambiente,
cifo, presa a um azulado, é controlado pelas luzes do
porta-moedas jacúzi, onde uma mulher sozinha, de
de borracha cabelo apanhado, vai lançando olha-
com dois pre- res de relance a quem espreita atra-
servativos no vés das portas de vidro. Dois homens
interior juntam-se, já se conhecem, e lançam
provocações sem grandes subtilezas.
Não interessa o assunto, todas as
conversas vão dar ao sexo. “Se pu-
desse vivia assim, isto é qualidade
de vida”, diz um deles.
35
euros
Na sauna – atualmente limitada
a quatro pessoas – um outro casal
abre espaço para uma mulher entrar.
é o preço dos Muitos dos clientes deste tipo de es-
singles masculi- paço são frequentadores de clubes
nos, casais pa- de swing, e as combinações possí-
gam €20 e sin- veis têm as mesmas variáveis: casais
gles femininos com mulheres ou homens, casais
pagam €5. A com casais, mulheres com um ou
sauna está mais homens. “Muitas vezes venho
aberta todos os cá só mesmo para relaxar. Não tem
dias das 11h às de acontecer sempre alguma coisa”,
22h. Devido à diz uma mulher single, enquanto au-
pandemia, aos menta a potência da hidromassagem
fins de semana com espaço para quatro pessoas.
está encerrada É proibido ter sexo no jacúzi. As
cenas mais íntimas estão reservadas
aos quartos e à red zone: uma nova
cortina de veludo leva a um corre-
dor estreito, praticamente às escu-
ras, desenhado como um labirinto.
Numa das várias divisões, há uma
cruz em forma de “xis” almofadado
“MUITAS VE- do tamanho de uma pessoa, com
ZES VENHO coleiras nas extremidades e vários
CÁ SÓ MES- acessórios à disposição, pendurados
MO PARA na parede. Preso por correntes ao
RELAXAR. teto, há um baloiço de cabedal e até
NÃO TEM DE uma espécie de cadeira de gineco-
ACONTECER logista, numa sala escura envolta
SEMPRE em grades de ferro. A escuridão é
ALGUMA tal que o único problema é mesmo
COISA” encontrar a saída. W
73
 Sociedade

SOCIAL. OS CONVIDADOS DO CASTELO ESCOCÊS DE BALMORAL SÃO AVALIADOS PELA REALEZA

COMO PASSAR NO TES

Conheça as provas secretas, criadas pela família real, para pertencer ao círculo íntimo da monarquia

ANDAR DE CA

P
RRO
“
urgatório.” Foi desta forma
COM que Margaret Thatcher des-
A RA creveu Balmoral. Todos os
IN primeiros-ministros ingleses
HA
A visitam o castelo escocês, mas nem
CO todos passam no teste. A Dama de
N Ferro chumbou. Assim como Boris
SAB Johnson e a mulher de Tony Blair,
DU
ER
QU S Cherie Blair. Até Wallis Simpson, a
EM ZI
mulher por quem o Rei Eduardo VIII
R
SAB
AB

ER SE abdicou do trono, foi uma das que

ER

EM chumbou em Balmoral. A Rainha-

QU
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AÇA, DE PESC -mãe não gostou nada dos seus mo-

DE

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TIP

DE AE dos e não terá caído bem aos Windsor

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quando ela disse que aquelas “carpe-

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G tes de xadrez” tinham de desaparecer.

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IR A BARB
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Já a princesa Diana ficou na histó-

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ria como a que teve a pontuação

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mais elevada atribuída pelo círculo

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mais fechado da família, e que, à

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época (anos 80), incluía Isabel II,

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príncipe Filipe, Rainha-mãe, prince-

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TOCAR E ONDE S
PRÍNCIPE FIL

sa Margaret e princesa Ana. Até mes-

PRIMEIRO

A PARA CADA O
A INTERIO

mo o marido de Isabel II, antes de os

RE

dois se casarem, passou umas férias

S

na residência comprada pela Rainha

NOB

R Vitória e príncipe Alberto em 1852.

VE Passou com distinção nas provas de
O

LHA
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caçada e nas regras de protocolo.

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EE
AL

Nos 200 km² de Balmoral, com mais

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JO
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S
O

GA
R CHARADA NO de 50 empregados, temos o cenário
P

A
EN

OD

perfeito para a prova mais apertada

SIÃ

A
da realeza. Mas afinal o que é preciso
E

LA
O
S

MA para passar no teste de Balmoral,

EN

TA que apareceu retratado na série de

R
The Crown, da Netflix?
“Chamam-lhe o teste de Balmoral
da Rainha, podemos até defini-lo
como uma iniciação na realeza”, ex-
plica o editor de monarquia da revis-
ta Harper’s Bazaar, Omid Scobie.
Andrew Morton, biógrafo da prince-
sa Diana, acrescenta que “aqueles
que conseguem orientar-se no cam-
po de minas sociais, conhecido
como teste de Balmoral, são aceites
pela família real. Os que falham, de-
saparecem tão rapidamente como
o nevoeiro das Highland.”

74
 25 NOVEMBRO 2020
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ESTE DE ISABEL II
a britânica. Tem de gostar de caçar, de acordar cedo e saber a quem se faz a vénia. Por Vanda Marques

Caçadas, lama e campo Cuecas novas umas tradições esquisitas e obscuras

h Quem não gosta de caçar, pescar
e aproveitar as caminhadas nas ter-
ras escocesas é malvisto pela Coroa.
Tanto Isabel II como o príncipe Fili-
pe são fãs do ar livre. Umas férias em
Balmoral implicam acordar às 5h da
manhã para uma caçada ao veado
ou às aves, como a tetraz. Estamos
na Escócia, por isso andar à chuva dá
resistência. Lama? Também faz par-
te. Logo, os sapatos são tudo. Fica-
ram conhecidos os episódios – que
vemos na série mas aconteceram na
realidade – de Margaret Thatcher a
pedir botas emprestadas. As mudas
de roupa, ou melhor, o tipo de roupa
que os convidados levam é determi-
nante. Tanto há jantares formais de
black tie como lanches menos for-
mais. São cerca de cinco mudanças
de roupa por dia. Outro rito de pas-
sagem é ser conduzido pela Rainha
no seu Land Rover – poucos têm
esse privilégio. Mas cuidado com
as conversas. São outra prova.
Kate h Um teste de fogo são as malas.
também teve de Quem as desfaz são os empregados
passar no teste – que chegam a ser 100 durante as
em 2009, dois férias. Alguma peça bizarra, dema-
anos antes do siado irreverente, ou velha, será cer-
noivado com tamente apontada. Quem o diz é
William. Foi um Pimlott, o biógrafo da Rainha, ao The
sucesso e até a Guardian. “Há convidados que que-
deixaram fazer rem tanto impressionar e estão tão
algo proibido: preocupados com os julgamentos de
fotografar a Balmoral que compram pijamas e
propriedade cuecas novas, para que a criada não
tenha nada a reportar à Rainha.”
Móveis ou ratoeiras
“ELES TÊM h Uma das cenas mais snobes da
UMAS nova temporada de The Crown é
TRADIÇÕES quando Thatcher está sentada a tra-
ESQUISITAS balhar e a irmã da Rainha lhe grita:
ACUMULA- “Não pode sentar-se aí.” O aí é a ca-
DAS AO deira da Rainha Vitória que está in-
LONGO DE tocável desde que morreu. Será ver-
ANOS QUE dade? Quem relata o episódio com
PODEM os móveis é Diana na biografia escri-
INTIMIDAR” ta por Andrew Morton. “Eles têm
acumuladas ao longo de anos que
podem intimidar os recém-chega-
dos.” E vai mais longe. “Eles gritam:
‘Não te sentes aí’ se algum convida-
do tolo o suficiente se sentar na ca-
deira que foi da Rainha Vitória.”
Charadas e vénias
h É neste castelo que a família real
fica mais relaxada – além de barbe-
cues feitos pelo príncipe Filipe, até a
Rainha lava a loiça nesses eventos. É
ainda essencial alinhar em todos os
jogos de charadas e de palavras que
gostam de fazer. Outra regra é saber
a quem se faz a vénia primeiro. Tem
a ver com a ordem de importância
no acesso ao trono. Mas há rasteiras.
Por exemplo, as “princesas de san-
gue” como Beatriz, filha de André,
têm prioridade em relação às que o
são por casamento, como Camila.
Exceção. Se Camila estiver com Car-
los, fica com o status do marido, logo
é prioritária. Cherie Blair chumbou. W

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Sociedade
MODA. EM PORTUGAL AINDA NÃO HÁ PROCURA
CHEGOU A
VEZ DOS
HOMENS
GORDINHOS
Depois das mulheres plus size, os modelos
masculinos com barriguinha também já têm
um lugar na moda. Por José Pessoa Couceiro
(editado por Vanda Marques)
C
om 1,87 m de altura, cabelo
ruivo e olhos castanhos pare-
ce ser apenas mais um mode-
lo. Mas o que distingue Austin
Sparkman é a sua cintura de 111,76
cm e o facto de ser um tamanho XL
– ou 44, se falarmos de fatos. Austin
defende que os homens querem ser
mais bem representados na moda e
é para isso que trabalha. “As mulhe-
res com curvas encontraram o seu
lugar na moda. Agora os homens
maiores normalmente não se assu-
mem assim, mas sei que eles querem
ver-se representados nos media, na
publicidade e na moda. Eles mere-
cem”, disse Austin à revista InStyle
durante a semana da moda de Nova
Iorque, em fevereiro de 2020.
Da ascensão da modelo plus size
Ashley Graham, à capa da revista
Vogue com a cantora americana Liz-
zo, a indústria da moda tem vindo a
dar espaço à diversidade nos mode-
los femininos. Já os masculinos não
têm a mesma visibilidade.
Foi preciso Rihanna – a cantora
mais rica do mundo, segundo a For-
bes com um património de 511 mi-
lhões de euros, entre hits de música,
linhas de cosméticos e de lingerie –
para mudar isso. Foi justamente na
sua marca de roupa interior, Savage
x Fenty, que a cantora chamou a
atenção para a diversidade. Tudo
porque incluiu um modelo masculi-
no plus size. Steve G, tamanho 52,
apareceu sem camisa. Resultado:
76
25 NOVEMBRO 2020
www.sabado.pt
www.sabado.pt
h
O modelo Austin
Sparkman na se-
mana da moda
de Nova Iorque
A FACE diz respeito aos modelos masculinos,
MODELS TEM A mais famosa apenas a Face Models tem um agen-
UM MODELO ciado. É Mauro Marna, de 17 anos,
Ashley Graham inspirou
MASCULINO basquetebolista no Vit. Guimarães
uma Barbie à sua semelhança
PLUS SIZE, com 1,87 metros e 100 quilos.
MAS AINDA Já foi capa da Vogue, Elle e
NÃO FEZ Harper’s Bazaar e desfilou para Poucos pedidos em Portugal
NENHUMA Dolce & Gabbana e Michael Kors. Apesar de o jovem ainda não ter fei-
CAMPANHA Ashley Graham, de 33 anos, de- to nenhuma campanha, Pedro Al-
fine-se como modelo curvy e é ves, diretor da Face Models, defende
das mais bem pagas do mundo a aposta neste mercado. “Iniciámos
– em 2019 chegou aos 8 milhões com um departamento feminino,
de euros. Ashley ficou conhecida em 2018, que tem vindo a crescer.”
por ter sido a primeira plus size a E acrescenta que abriram o departa-
aparecer na capa da mento masculino nem há um mês e
150
mil milhões
revista Sports
Illustrated, no fa-
moso Swimsuit
mostra-se confiante. “Acreditamos
que em breve serão muito mais, já
que o mercado começa a requisitar
é quanto vale o Issue. os serviços de modelos plus size.”
mercado mun- Beatriz Alves, coordenadora do
dial de moda Departamento de Comunicação e
plus size femini- as peças esgotaram Digital da agência Central Models,
na. Já o masculi- num ápice. tem outra posição e conta que che-
no, segundo a Em Portugal, o mercado é pratica- garam a ter modelos plus size mas
Research and mente inexistente, apesar de em desistiram. “Em Portugal os pedidos
Markets, é de 2019 ter acontecido a primeira edi- só começaram a surgir há pouco
mil milhões ção do Plus Fashion. Aliás, no que tempo e com pouca frequência.” W
 Crónica www.sabado.pt
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SANTOS E...
Atravessámos uma semana de esperança com o anúncio da iminente segunda vacina. Mas
é razoável lembrar que, no próximo meio ano, 80% dessas vacinas servirão apenas
O MORALISTA 14% da população mundial – já se sabe, há humanos mais humanos do que outros.
Os países ricos têm outra “força negocial”, e recursos superiores no difícil transporte
Para a quinzena que decorrerá entre 21 e armazenamento a frio. Com duas tomas para assegurar a eficácia, serão ne-
de Dezembro e 4 de Janeiro, o Governo cessários 9 mil milhões de doses para vacinar 60% da população – como é
decidiu decretar: durante a Consoada, impossível assegurar depressa este volume, poderá demorar-se dois
proibição de deslocação entre a cozinha anos a vacinar menos de 2/3 dos utentes. Também se desconhe-
e a sala de jantar de primos em segundo ce o potencial de contágio de um vacinado, e ninguém
grau com mais de 1,3 g de álcool no sangue sabe quanto dura o período de imunidade. Prepa-
rem-se para renovar o stock de másca-
ras e álcool-gel.

C com mais de 1,3 g de álcool no sangue, as filhós podem ser inaladas por zara-

A todos um de vizinhos que aparecem só para

provar o bolo-rei e vão ficando até ar-
gatoa); aconselha-se servir os maiores
de 70 anos com postas do fiel amigo

bom telenatal rumarem com a garrafa de amargui-

NA SEQUÊNCIA da reunião do Con-
selho de Ministros desta segunda-fei-
ra, que terminou às 23h porque o se-
cretário de Estado João Galamba gosta
de apanhar hidrogénio pela manhãzi-
nha, foram divulgados em conferência
de imprensa os conteúdos do decreto
de execução do estado de emergência
para os fins de semana prolongados
do Natal e do Fim de Ano, aprovados
após promulgação do Presidente da
República entre dois shows de
bodybuilding na inoculação da 29ª
vacina da gripe deste Outono. Assim,
para a quinzena que decorrerá entre
21 de Dezembro e 4 de Janeiro, o Go-
verno decidiu decretar:
– durante a Consoada, proibição de
deslocação entre a cozinha e a sala de
jantar de primos em segundo grau
nha e de enteados com um potencial
de perdigoto 65% superior ao de Mira
Amaral, em apartamentos T0 a T2 e na
marquise de Cavaco Silva;
– para baixar a circulação na via pú-
blica de seres humanos, de João Pa-
checo de Amorim e de concorrentes
do Big Brother entre 31 Dezembro e 3
Janeiro, distribuir bicicletas e trotinetes
pelos manifestantes em prol do salva-
mento da restauração e da cultura e
lançá-los para os corredores de velocí-
pedes abertos por Fernando Medina
em Lisboa, garantindo via rápida ao
seu atropelamento indolor (e dimi-
nuindo a pressão sobre o SNS; sempre
são menos dois ou três mil queixinhas);
– no fim de semana prolongado de
24 a 27 Dezembro, obrigatoriedade do
uso de máscara durante a ingestão de
bacalhau, rabanadas e broa castelar
(como medida de excepção, a aletria e
bem recheadas de espinhas – de acor-
do com as últimas estimativas da DGS
(que poderão mudar daqui a 40 se-
gundos), é preferível falecer com uma
espinha de bacalhau encravada no
gargalo que de Covid;
– outras medidas de diminuição do
contágio familiar: estabelecimento de
cordões sanitários entre sogras e gen-
ros em todo o perímetro da mesa de
Consoada; separação física entre os
convivas e o seu sentido de humor
(como estímulo para rápida berraria
com viseiras e jantares interrompidos
ao fim de 20 minutos); distribuição de
prendas com recurso ao teletrabalho;
colocação de sobrinhos negacionistas
ao lado de tios hipocondríacos; os res-
taurantes e as bocas reacionárias dos
avós terão de fechar às 22 horas. W
Texto escrito segundo
o anterior acordo ortográfico

No Congresso do PCP
deste fim de semana, devidamente blin-
dado pela Constituição, pelo carinho oferecido ao
PS no Orçamento e pelo lendário sentido de responsabili-
dade dos comunistas, Jerónimo de Sousa prepara-se para o
17.º ano como secretário-geral. Serão apenas 600 delegados – é um
comício num táxi para o PCP – no Pavilhão Paz e Amizade em Loures, e a
pacífica atmosfera convida ao planeamento de uma transição suavíssima para
João Ferreira. O futuro timoneiro tem apenas 42 anos e uma carinha laroca de
Maiakovski do Jardim Botânico, mas cuidado com as aparências: o eurodeputado que
desconfia da União Europeia, ex-membro do Sector Intelectual (sic) da direcção regional
do partido, é um ortodoxo feroz. À beira dele, Jerónimo parece o gatinho de Bakunin.
C

...PECADORES
Jornalista
Pedro Marta
Santos

77
 Desporto

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78
ÕES
 25 NOVEMBRO 2020
www.sabado.pt
www.sabado.pt

N
a Taça de Portugal, os clu-
bes pequenos sonham com
o Euromilhões. Isso acon-
A ausên tece quando lhes calha de-
cia de a frontar Benfica, FC Porto ou Sporting,
deptos o que permite encher o estádio e fa-
nos est
ádios c zer uma boa receita. Esta época, os
ausa prejuíz sortudos foram Paredes, Fabril do
os Barreiro e Sacavenense. Só que, como
cada vez mais sócios a não pode haver público, isso “é como
deixar de pagar quotas
, quebras de 70% ganhar o Euromilhões e ver o dinhei-
em ro a voar pela janela”, lamenta o pre-
pub sidente do Fabril, que calcula em 200
lici mil euros o prejuízo por não ter adep-
dad tos nas bancadas frente ao FC Porto.
ee
pat “Essa receita garantia-nos o orça-
roc mento das próximas duas épocas”, diz
ínio à SÁBADO Faustino Mestre, que avisa:
se
cam rec “Não estamos mal, porque somos ama-
ada eita dores, temos um plantel só com tra-
s jov s de balhadores e estudantes. Mas há equi-
ens. mil pas no Campeonato de Portugal com
“Ser har
á qu es d orçamentos a rondar 1 milhão de eu-

FUTE
e va ee ros. Agora, sem adeptos, publicidade
i ha uro ou televisão, não vão sobreviver.”
ver s
fute Afinal, quem sofre mais com a pan-
bol demia: os clubes das ligas profissio-

BOL
em
202 nais ou do Campeonato de Portugal
1?” P e das distritais? “Nós não temos re-
or
Car ceitas, mas eles na I e II Liga rece-
los T
o rres bem milhões da televisão”, responde
Luís Torres, presidente do Olhanense.
“No Campeonato de Portugal só se
gasta dinheiro. Organizar um jogo em
casa dá uma despesa de 1.200 euros”,
aponta Luís Neves, vice-presidente do
Real Massamá. “Antes ainda recebía-
mos uns 400 ou 500 euros de bilhe-
teira. Agora, o prejuízo é completo.”
Em Portugal, a ausência de público
afeta, sobretudo, os três grandes. Para
os outros “isso não é um problema”,
revela à SÁBADO o dirigente de um
clube da II Liga, que preferiu não se
identificar. “Aqueles que tinham 2 mil
adeptos na bancada, como Moreiren-
se ou Tondela, não são muito prejudi-
cados. Em muitos casos, o dinheiro da
TV garante-lhes 80% do orçamento.”
Pedro Alves, diretor desportivo do
Estoril, aponta uma redução de 90%
nas receitas dos direitos televisivos
com a descida à II Liga. “Hoje, os clu-
bes só sobrevivem com a venda de
jogadores”, referiu ao jornal Record.
A 15 de Outubro, na TVI, Pinto da
Costa falava em perdas de €29 mi-
lhões por não ter público no estádio
do Dragão. O presidente do FC Q

79

Desporto
RAFAEL MARCHANTE
Q Porto, até pelas dificuldades finan-
ceiras do clube (€116 milhões de pre-
juízo), tem sido dos mais críticos da
postura do Governo, que “vai ficar liga-
do à falência do futebol e do desporto”.
FC Porto, Benfica, Sporting e Sp.
Braga devem sofrer, esta época, uma
quebra de mais de €60 milhões em
receitas de bilheteira. Segundo o jornal
O Jogo, que consultou os relatórios
dos clubes, em 2018/19 o Benfica
somou 27,4 milhões em receitas de
bilheteira (sendo 10,7 milhões nos
camarotes e 7,7 nos lugares anuais), o
Sporting obteve 15 milhões, o Sp. Bra-
ga 2 milhões e o FC Porto 10 (nos dra-
gões não estavam contabilizados os
camarotes e lugares de empresa, que
em 2017 renderam 8,3 milhões, pelo
que o total terá sido de 18,3 milhões).
Se as competições parassem, a si-
tuação seria mais grave. A 30 de mar-
ço, com os campeonatos suspensos,
Alfredo Silva, especialista em gestão
desportiva, afirmava à agência Lusa
que Benfica, FC Porto e Sporting po-
diam perder €27 milhões por mês.
Prejuízos na Europa
Ninguém escapa: Real Madrid
e Barcelona baixam salários
Em setembro, a Associação
Europeia de Clubes apontava
para quebras de €4 mil milhões
nas receitas das 10 principais
ligas europeias. Em Espanha,
o Barcelona, que teve €97 mi-
lhões de prejuízos, reduziu a
massa salarial dos jogadores em
€274 milhões (no Real Madrid
baixou €173 milhões). Em Itália, há
rumores de que a Juventus (pre-
juízos de €90 milhões) poderá
vender Ronaldo (ganha €31 mi-
lhões/ano), para enfrentar a crise.
80
E especificava: €4,3 milhões a me-
nos em bilheteira, €17 milhões pelas
transmissões televisivas e mais €6 mi-
lhões com publicidade e patrocínios.
Já o dinheiro movimentado pelos
clubes europeus nas transferências
baixou 40%: €6,5 mil milhões em
2019 e agora apenas €3,9 mil milhões.
Nos clubes semiprofissionais, a cri-
se, à sua escala, é devastadora. As
receitas de publicidade e patrocínios
caíram a pique – no Beira-Mar regis-
ta-se uma redução de 50%, no Olha-
nense de 60% e no Caldas de 70%.
O mesmo se passa com as quotas
pagas pelos sócios. Hugo Coelho, pre-
sidente do Beira-Mar, diz à SÁBADO
que num ano normal esse valor seria
de €80 mil, um terço do orçamento
da equipa de futebol (€250 mil). “Na
última época, com a paragem, caiu
para 67 mil. E agora apenas temos 25
mil, quando o normal seriam 45 mil.”
A ajuda das autarquias
Um rombo que, no Beira-Mar, au-
menta com a quebra das verbas pagas
pelos jovens dos escalões de forma-
ção (sem competições, caiu 70%). Em
2019/20 havia 154.811 atletas inscritos
nas 22 associações regionais (futebol
e futsal) e agora são apenas 33.702 –
menos 78%. Atendendo a que muitos
miúdos, em especial dos 4 aos 14
anos, pagam mensalidades de 40
ou 50 euros, são muitos milhares que
não entram nos cofres dos clubes.
Faustino Mestre admite que, no Fa-
bril, a perda será de 12 a 15 mil euros.
Há outro problema com a suspen-
são dos campeonatos de formação,
nota Luís Torres. “Os juniores são a
máquina que alimenta os seniores, e
é preciso ter atenção que 90% dos jo-
gadores portugueses não ‘nasceram’
no Benfica, FC Porto ou Sporting”.
Foi por isso que o Real Massamá
decidiu inscrever uma equipa B na
3ª distrital de Lisboa. “Era importante
25 NOVEMBRO 2020
www.sabado.pt
www.sabado.pt
j que os juniores se mantivessem a
Na Champions, a competir. Somos um clube que so-
UEFA não se opôs
a 10% de adeptos, brevive graças à formação”, diz Luís
mas a DGS Neves, dando os exemplos de sucesso
proibiu público no com as saídas de Vinicius, Nani, Jorge
FC Porto-Marselha
Andrade ou Vaz Tê. A venda de Vini-
cius (primeiro ao Nápoles, depois
UM TERÇO com 20% na ida para o Benfica) ren-
DO ORÇA- deu 7,4 milhões, o que permite en-
MENTO DO frentar a pandemia tranquilamente.
BEIRA-MAR A ajuda dos municípios (que sempre
VEM DAS existiu) é hoje essencial. As autarquias
QUOTAS DOS não dão dinheiro diretamente aos clu-
SÓCIOS – bes, mas fazem-no através de proto-
MAS METADE colos – e apoios para as infraestrutu-
DEIXOU ras. O Caldas, que recebe 93 mil eu-
DE PAGAR ros por época da câmara das Caldas
da Rainha, está a melhorar a ilumina-
ção e os balneários. “A exploração de
um posto de combustível também
nos tem dado alguma folga”, explica
o presidente, Jorge Reis, que admite
que a construção de dois novos cam-
pos de futebol vai ser adiada. Em
Aveiro, a autarquia disponibiliza ao
O líder Beira-Mar 78.500 euros por ano (a
do FC Porto cri- distribuir pelas 14 modalidades) e mais
tica a ausência 5 mil para renovar infraestruturas.
de público nos Em Setúbal, a situação é mais com-
estádios: “Não plicada. Com uma dívida de €50 mi-
faz sentido, e lhões, o Vitória foi relegado para o
vai levar os clu- Campeonato de Portugal, de nada
bes à falência” valendo a ajuda da câmara (tem 40%
do capital social da SAD), que ofere-
i ceu ao clube 65 lotes de terrenos na
Vinicius rendeu zona das Praias do Sado, num valor
ao Real Massamá
€7,4 milhões (4 de 800 mil euros. O município tam-
na venda ao Ná- bém comprou o direito de superfície
poles e 3,4 na ida dos terrenos do estádio do Bonfim
para o Benfica)
(por 1,5 milhões), para que o Vitória
não ficasse sem campo para jogar.
Para Hugo Coelho, o Governo devia
dar a mão aos clubes pequenos, ape-
sar de admitir que há áreas mais afe-
tadas, como restauração e hotelaria.
“Poderiam canalizar parte das verbas
do jogo e das apostas para os que
estivessem com mais dificuldades.”
Faustino Mestre mostra-se preocu-
pado com o futuro: “Há muitos clubes
que vão ter de desistir, porque não
têm dinheiro. Esta época, já houve 28
que não se inscreveram nas provas,
sendo três no Campeonato de Por-
tugal (Armacenenses, Ginásio
Figueirense e Chaves B) e os res-
tantes nas distritais. Em 2021, se a
JOSÉ REIS
pandemia não ficar controlada até ao
verão, será que vai haver futebol?” W
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 Opinião
CORAÇÃO,
CABEÇA E
ESTÔMAGO
JRS vale-se do seu cargo
numa empresa paga por
todos nós , e do trabalho
dos seus companheiros,
muitos dos quais numa
posição hierárquica inferior
à sua, para divulgar (de
borla!) os livros que publica
na editora Gradiva
O pendiosa –, e do trabalho dos seus
Escritor e sociólogo
João Pedro George
82
O sua, para divulgar (de borla!) os livros
Eu! Eu! Eu!
COMO DISSE NÃO SEI QUEM, só
há duas coisas certas na vida: a morte
e as reportagens da RTP sobre os li-
vros de José Rodrigues dos Santos
(JRS). Todos os anos, quase sempre
em Outubro, os jornalistas da televi-
são pública fazem o frete de promo-
ver os negócios particulares de JRS, o
rosto de cimento do Telejornal da
RTP, casa onde já foi por duas vezes
director de Informação.
Há muito tempo que a RTP serve de
suporte e de conteúdo para JRS in-
crementar as vendas dos seus ro-
mances (cuja leitura não recomendo,
pois além de maus são demasiado
longos e a vida é demasiado curta).
Os exemplos não faltam. Aí vão al-
guns: a 26 de Setembro último, o Te-
lejornal passou uma reportagem a
propósito de O Mágico de Auschwitz,
um tema (o Holocausto) que “não tem
sido abordado pelos escritores portu-
gueses” (JRS). Em seguida, a 8 de Ou-
tubro do mesmo ano, JRS foi um dos
convidados de A Nossa Tarde, pro-
grama apresentado por Tânia Ribas
de Oliveira, onde conversaram sobre
o novo livro do jornalista que pisca o
olho no fim do telejornal das 20h. Se-
manas depois, a 13 de Novembro, o
Telejornal transmitiu uma peça sobre
O Manuscrito de Birkenau.
Na semana passada, a 18 de No-
vembro, JRS foi o convidado da
Grande Entrevista, com Vítor Gon-
çalves, para falar durante meia hora
daqueles dois livros. Por certo, era a
terceira vez que JRS pisava o estúdio
da RTP3 para ser entrevistado por
Gonçalves: em 27 de Novembro de
2013, para difundir O Milionário de
Lisboa, e a 30 de Outubro de 2014,
para falar de A Chave de Salomão.
Como vêem, JRS aproveita-se im-
pudicamente dos recursos públicos
da RTP para estimular (rendibilizar)
os seus interesses particulares, dila-
tando os proventos dos direitos de
autor. Dito de forma mais crua, JRS
vale-se do seu cargo numa empresa
paga por todos nós – estatal e dis-
companheiros, muitos dos quais
numa posição hierárquica inferior à
que publica na editora Gradiva.
Querem mais exemplos? Ei-los,
sem demasiada preocupação de or-
dem: o Telejornal de 26 de Outubro
de 2019 noticiou a publicação de
Imortal, mais um romance escrito
(para nosso deleite) pelo “escritor fa-
vorito dos portugueses, no apogeu do
seu imenso talento”, e protagonizado
pelo “grande herói das modernas le-
tras portuguesas” (Tomás Noronha).
A 4 de Julho do mesmo ano, foi en-
trevistado pelo jornalista Carlos Da-
niel, tendo discorrido, durante 45 mi-
nutos, sobre os seus processos de
produção maciça de livros (e respec-
tivas estratégias de embrutecimento
metódico dos leitores). No dia 5 de
Outubro de 2020, o Jornal da Tarde
anunciou o lançamento da edição
francesa de Imortal, e a 27 de Outu-
bro de 2018, o Telejornal informava-
-nos que tinha acabado de sair A
Amante do Governador, e no dia se-
guinte, no Jornal da Manhã, o fenó-
meno repetiu-se (a repetição é a arte
das indústrias culturais). Pouco de-
pois, a 4 de Dezembro, JRS esteve no
programa matinal Praça da Alegria a
vender o seu peixe (e a imagem alu-
cinante de si próprio).
A 17 de Setembro de 2017, no pro-
grama vespertino Agora Nós, JRS foi
entrevistado por Tânia Ribas de Oli-
veira e José Pedro Vasconcelos, sob o
fastidioso pretexto do lançamento de
O Reino do Meio, livro que o confir-
mava como “o mestre dos grandes
temas contemporâneos”.
No dia 8 de Outubro de 2016, ainda
o romance Vaticanum mal tinha
acabado de sair do forno — livro em
que JRS mostrava “uma vez mais por
que razão é considerado o mestre do
mistério real” —, já o Telejornal se
transformava num instrumento de
tortura e entrava na casa de milhões
de portugueses para lhes impingir os
produtos do génio da Avenida Mare-
chal Gomes da Costa.
A 25 de Outubro de 2015, a mesma
coisa, mas agora com Flor de Lótus,
livro “de um género inexistente em

Portugal, mas cá estou eu, nem que
seja para inovar” (JRS). Em 2012, uma
das emissões do programa Portugal
Aqui Tão Perto foi dedicada, durante
55 minutos, ao livro A Mão do Diabo
e ao percurso de vida de JRS. Em
2016, por causa de Vaticanum, foi
o convidado principal do progra-
ma Cinco para a Meia-Noite, com
Filomena Cautela.
No dia 25 de Outubro de 2014, o
Jornal da Tarde pôs no ar uma peça
sobre A Chave de Salomão, um livro
modestíssimo que nos desvenda (o
sonho é livre, sonhemos) as “espan-
tosas ligações entre a mente, a maté-
ria e o enigma da existência”.
A 3 de Março de 2008, a presença
dos livros de JRS fez-se notar, duran-
te mais de meia hora, no programa
Sexta à Noite (RTP1), conduzido por
José Carlos Malato. Meses depois, a
MISS INÊS
25 de Outubro, as antenas da RTP
transmitiram a notícia do lançamen-
to de A Vida num Sopro, a obra de
JRS que trouxe “o grande romance de
volta às letras portuguesas”.
Em 2010, a jornalista Cecília Carmo
cavaqueou (aviso de aliteração) com
JRS, na RTP2, sobre a obra Conversas
de Escritores, compilação das entre-
vistas realizadas para a RTPN (“a
grande entrevista literária está de
volta”, garante-nos a Gradiva).
Em 21 de Outubro de 2011, o Tele-
jornal fazia eco de O Último Segredo,
o livro em que JRS voltava “a afir-
mar-se como o grande mestre do
mistério” (e ele a dar-lhe, aqui tudo
é “grande” ou vai ficar “maior”). Por
incrível que pareça, poderia acumu-
lar mais exemplos, mas seria abusivo
25 NOVEMBRO 2020
www.sabado.pt
www.sabado.pt
estender muito mais a lista…
Será que a RTP oferece aos outros
escritores as mesmas oportunidades
de divulgação? Quantos escritores
conseguiram ir três vezes – quanto
mais uma! – ao programa Grande
Entrevista?
Convenhamos: com o tufão de pu-
blicidade que rodeia JRS, é fácil com-
preender o êxito destes livros. Se à
apresentação das notícias em horário
nobre juntarmos a exposição mediá-
tica que a RTP, permanente e siste-
maticamente, faz das suas obras, le-
vando-as ao colo, percebe-se que os
tijolos de JRS vendam aos milhares.
Numa época em que as coisas se
dividem entre quem está muito cota-
do e quem está pouco ou nada cota-
do no mercado de valores mediáti-
cos, entre quem aparece muito e
quem aparece pouco nos ecrãs de te-
levisão, escusado é dizer que o afã de
JRS para se impor aos leitores e se
autopromover (à boleia da RTP) tem
dado excelentes resultados.
O que terá o provedor da RTP a di-
zer sobre esta utilização descarada
dos serviços da televisão pública por
parte de um dos seus funcionários
mais conhecidos (e um dos seus
quadros mais bem pagos)? Estatuto
esse que só acentua as responsabili-
dades que impendem sobre um jor-
nalista que tanto se gaba de ter tra-
balhado na BBC…
JRS devia ser um dos primeiros, na
RTP, a dar o exemplo. Ou não consta
do Código de Ética e Conduta da RTP
— que JRS deveria conhecer a fundo
— uma norma que considera “inad-
missível a manutenção de situações
irregulares ou de favor”?
Na verdade, JRS ignora uma lei es-
sencial da física literária: os livros não
precisam, para serem bons, que o seu
autor ande sempre em bicos de pés, a
procurar promoção, a dar ordens aos
colegas de redacção ou a pedinchar-
-lhes favores (que comprometem
quem os faz e envergonham quem os
aceita). Resumindo, que a quantidade
não produz, por pura acumulação,
qualidade.
A triste figura a que desce uma pes-
soa só para dizer: Eu! Eu! Eu! W
Texto escrito segundo
o anterior acordo ortográfico
83
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