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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.

078
1º semestre de 2023
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA Professor Júlio Bastos

Plano de Ensino
1. Oferta Agregada
1.1. Curvas de oferta agregada
1.2. Curva de Phillips e a análise sobre as expectativas
1.3. Choques de oferta
1.4. Determinação do produto e da inflação
2. Introdução aos ciclos econômicos
2.1. A visão keynesiana
2.2. Novas teorias clássicas e o ciclo real de negócios
2.3. Os novos-keynesianos e a rigidez de preços
2.4. Política econômica
3. Consumo e escolha intertemporal
3.1. Função consumo keynesiana
3.2. Consumo e escolha intertemporal
3.3. Modelo do ciclo de vida
3.4. Consumo e renda permanente
4. Investimento
4.1. Conceitos básicos
4.2. Decisão de investir
4.3. Teoria q
4.4. Investimento e expectativas de lucros
5. O governo (opcional)
5.1. Conceitos de déficit e dívida pública
5.2. Fontes de receita

Bibliografia
Lopes, L. M. e Vasconcellos, M. A. (org.) (2009). Manual de Macroeconomia. SP, Atlas.
Blanchard, O. (2007). Macroeconomia: teoria e política econômica. Rio de Janeiro, Campus.
Dornbusch, R. e Fischer, S. (1991). Macroeconomia. Rio de Janeiro, McGraw-Hill, 5a. edição.
Mankiw, N. G. (1998). Macroeconomia. Rio de Janeiro, LTC.
Simonsen, M. H. e Cysne, R. P. (2009). Macroeconomia. São Paulo, Atlas, 4a. edição.

Bibliografia complementar
Romer, D. (2019). Advanced Macroeconomics. 3ª. ed. McGraw-Hill Irwin.
Snowdon, B. and Vane, H. R. (2005). Modern Macroeconomics Its Origins, Development and
Current State. Edward Elgar.
Mankiw, N. G. (2016). Macroeconomics, 9th Edition. Worth Publishers.

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1. Oferta Agregada
Ref.: Manual de Macro, pp. 285-287
Dornbusch e Fischer, pp. 258-260

YP

(a) no longo prazo, a oferta agregada tende a ser vertical, situando-se no nível de
produto de pleno emprego (YP). Neste caso, com os preços perfeitamente
flexíveis, os estoques de fatores de produção ditam o nível de produto, enquanto
a demanda agregada afeta apenas o nível de preços;
(b) no curto prazo, com preços e salários rígidos, a demanda agregada passa a
determinar o produto (até o ponto YP – daí por diante, as firmas racionarão as
vendas dos seus bens) e, por conseguinte, as flutuações que a economia apresenta
(críticas – keynesianos clássicos: TQM, Lei de Say, Equilíbrio do Mercado de
Trabalho – W/P);
(c) em uma situação intermediária, em que nem a oferta agregada seja fixa em
um nível de preços, nem seja fixa no nível de pleno emprego, tem-se uma oferta
agregada positivamente inclinada. A existência desse tipo de oferta agregada
coloca um trade-off de crescimento versus inflação na análise de política
econômica.

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O modelo neoclássico não-friccional do mercado de trabalho


Ref.: Dornbusch e Fischer, pp. 548-551.
Blanchard, pp. 106-107.

Determinação dos salários:


. Os funcionários normalmente recebem um salário que excede seu salário
reserva – o salário que poderia torná-los indiferentes entre trabalhar ou
permanecer desempregados. Em outras palavras, a maioria dos trabalhadores
recebe um salário suficientemente alto que os faz preferir estar empregados a
estar desempregados.
. Os salários normalmente dependem das condições do mercado de trabalho.
Quanto menor a taxa de desemprego, maiores são os salários.
Negociação
O tamanho do poder de negociação de um funcionário depende de dois fatores. O
primeiro é quanto custaria para a empresa substituí-lo se ele deixasse a empresa.
O segundo é a dificuldade que ele teria para encontrar outro emprego se deixasse
a empresa. Quanto maior o custo da empresa para substituí-lo e quanto mais fácil
para ele encontrar outro emprego, maior poder de negociação ele terá. Isso tem
duas implicações:
(i) O tamanho do poder de negociação de um funcionário depende, em primeiro
lugar, da natureza de seu trabalho. Substituir um trabalhador do McDonalds não
tem um custo muito elevado. A qualificação exigida pode ser ensinada com
rapidez, e normalmente há um grande número de candidatos dispostos a trabalhar
que já preencheram as fichas. Nessa situação, o funcionário provavelmente não
tem muito poder de negociação. Se ele pedir um salário maior, a empresa poderá
suspender seu contrato de trabalho e encontrar um substituto a um custo mínimo.
Por outro lado, pode ser bem difícil e de alto custo a substituição de um
funcionário altamente qualificado que conhece em detalhes como a empresa
funciona. Isso lhe dá um maior poder de negociação. Se ele pedir um salário
maior, a empresa poderá decidir que é melhor dar esse aumento a ele.
(ii) O tamanho do poder de negociação de um funcionário depende também das
condições do mercado de trabalho. Se a taxa de desemprego for baixa, a empresa
terá maior dificuldade para encontrar substitutos à altura. Ao mesmo tempo, será
mais fácil para o trabalhador encontrar outros empregos. Nessas condições, o
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trabalhador estará em uma posição com maior poder de negociação e poderá


obter um salário maior. Simetricamente, quando a taxa de desemprego for alta,
encontrar bons substitutos será mais fácil para as empresas, enquanto encontrar
um outro emprego será mais difícil para o funcionário. Por se encontrar em uma
posição de negociação mais fraca, o funcionário pode não ter escolha a não ser
aceitar um salário mais baixo.
Salários-eficiência
Independentemente do poder de negociação dos funcionários, as empresas
podem desejar pagar mais do que o salário reserva. Elas podem querer que seus
funcionários sejam produtivos, e um salário mais alto pode ajudá-las a atingir
esse objetivo. Se, por exemplo, leva algum tempo para que os funcionários
aprendam como realizar um trabalho corretamente, as empresas desejarão que
eles permaneçam por algum tempo. Porém, se os funcionários recebessem apenas
seu salário reserva, ficariam indiferentes entre permanecer ou sair. Nesse caso,
muitos deles pediriam demissão voluntária, e a rotatividade seria elevada. O
pagamento de um salário maior do que o salário reserva torna a permanência dos
funcionários financeiramente atraente. Isso diminui a rotatividade e aumenta a
produtividade.

Gráfico Demanda e Oferta de Trabalho em W/P e L.

W/P
LS

W0/P0

LD
L
*
L

Se (MS/P0) => r e Y => P0 para P1 (P1>P0) => W0 para W1 (W1>W0), de
modo que W1/P1 = W0/P0.

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E porque W0 aumenta?
Gráfico Demanda Oferta de Trabalho em W e L.

W L1S
L0S

W1

W0
L1D
L0D
L
*
L
Com P0 aumentando para P1 => o salário real diminui, e então LD desloca para
frente e LS desloca para trás. Com isso W0 aumenta para W1, fazendo com que o
salário real volte ao valor inicial antes do choque de oferta.

Hipótese de ajuste lento nos salários nominais

A hipótese de ajuste lento dos salários nominais frente a deslocamentos na


demanda agregada é essencial para a derivação de uma curva de oferta agregada
que produz um ajuste gradual em vez de instantâneo da economia.

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The orthodox monetarist school


Ref.: Snowdon and Vane, pp. 163-197.
Durante a década de 1950 e pelo menos até meados da década de 1960, a
economia keynesiana, que veio a ser sintetizada pelo modelo Hicks-Hansen IS-
LM, foi a força dominante no desenvolvimento da macroeconomia em termos de
teorização e prescrições políticas. Como admitiu um importante crítico da
economia keynesiana, no final da década de 1960, o modelo keynesiano “parecia
ser o único jogo em termos de macroeconomia” (Barro, 1984).
Um tema central da Teoria Geral de Keynes é a afirmação de que as economias
de mercado capitalistas são inerentemente instáveis e podem ficar em equilíbrio
abaixo do pleno emprego por períodos prolongados de tempo. Essa instabilidade
era, na visão de Keynes, predominantemente resultado de flutuações na demanda
agregada. Em meados da década de 1940 e na década de 1950, a ortodoxia
keynesiana, então predominante, enfatizou as perturbações reais (principalmente
as flutuações no investimento e no consumo autônomo) como a principal causa
das flutuações da moeda ou da renda nominal, predominantemente na forma de
mudanças na renda real. Para os primeiros keynesianos, a Grande Depressão
resultou de uma queda acentuada no nível de investimento com o desemprego
grave associado, refletindo um estado de demanda agregada deficiente. Isso
contrastava com a tradição anterior da teoria quantitativa da moeda (TQM), que
via as mudanças no estoque monetário como o fator predominante, embora não o
único, que explicava as mudanças na renda monetária.
Durante as décadas de 1950 e 1960, Milton Friedman, mais do que qualquer
outro economista, foi responsável por reviver a teoria quantitativa da moeda. Em
1968, Karl Brunner deu o famoso rótulo de “monetarismo” às ideias daqueles
economistas, particularmente Friedman, que aderiram à teoria quantitativa da
moeda. A teoria quantitativa da moeda é a base central do monetarismo e essa
ideia é, de acordo com Mark Blaug, “a mais antiga teoria sobrevivente da
economia” (Blaug et al., 1995). De uma forma razoavelmente coerente, a teoria
quantitativa da moeda remonta pelo menos a 300 anos até “Some Considerations
of the Consequences of the Lowering of Interest and Raising the Value of
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Money”, de John Locke, publicado em 1692 (Eltis, 1995). No entanto, o ensaio


clássico de David Hume, “Of Money”, publicado em 1752, é amplamente
reconhecido como talvez a declaração inicial mais sofisticada da teoria
quantitativa da moeda. Segundo Mayer (1980), a maioria das proposições
fundamentais do monetarismo remonta a este ensaio. A partir de então, a teoria
quantitativa da moeda foi aceita e desenvolvida ao longo do século XIX e início
do século XX por muitos economistas notáveis, incluindo David Ricardo, Alfred
Marshall, Irving Fisher e, pelo menos até 1930, o próprio Keynes. Como observa
Blaug, “Keynes começou por amá-la, mas acabou por odiá-la” (Blaug et al.,
1995).

O primeiro estágio no desenvolvimento do monetarismo ortodoxo pode ser


rastreado desde meados da década de 1950 até meados da década de 1960, e
envolveu uma tentativa de restabelecer a abordagem da teoria quantitativa da
moeda para a análise macroeconômica, que havia sido usurpada pela revolução
keynesiana. Dentro da abordagem da teoria quantitativa da moeda, as mudanças
no estoque de moeda são consideradas o fator predominante, embora não o
único, que explica as mudanças na moeda ou na renda nominal (Laidler, 1991).
Foi contra esse pano de fundo keynesiano ortodoxo que Milton Friedman
procurou manter e restabelecer a teoria quantitativa da abordagem da moeda à
análise. Embora a teoria quantitativa tradicional seja um corpo de doutrina
preocupado com a relação entre a oferta monetária e o nível geral de preços,
Friedman (1956) inicialmente apresentou sua reformulação da teoria quantitativa

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da moeda como uma teoria da demanda por moeda, em vez de uma teoria do
nível geral de preços ou renda monetária.
Uma versão simplificada da função de demanda de Friedman para saldos
monetários reais pode ser escrita da seguinte forma:

Neste ponto, seria útil resumir os princípios centrais que os proponentes da


abordagem da teoria quantitativa da moeda, à análise macroeconômica,
geralmente aderiram em meados da década de 1960 (Mayer, 1978; Vane e
Thompson , 1979; Purvis, 1980; Laidler, 1981). As crenças distintivas centrais
naquela época poderiam ser listadas da seguinte forma:
1. As mudanças no estoque monetário são o fator predominante que explica as
mudanças na renda monetária;
2. Diante de uma demanda estável por moeda, a maior parte da instabilidade
observada na economia pode ser atribuída a flutuações na oferta de moeda
induzidas pelas autoridades monetárias;
3. As autoridades podem controlar a oferta monetária se assim o desejarem e,
quando esse controle for exercido, a trajetória da renda monetária será diferente
de uma situação em que a oferta monetária é endógena;
4. A defasagem entre as mudanças no estoque de moeda e as mudanças na renda
monetária é longa e variável, de modo que as tentativas de usar a política
monetária discricionária para ajustar a economia podem se tornar
desestabilizadoras;
5. A massa monetária deve poder crescer a uma taxa fixa em linha com o
crescimento subjacente da produção para garantir a estabilidade de preços no
longo prazo.

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A segunda etapa do desenvolvimento do monetarismo ortodoxo veio com uma


análise mais precisa da forma como os efeitos das mudanças na taxa de expansão
monetária são divididos entre magnitudes real e nominal. Esta análise envolveu
as contribuições independentes feitas por Friedman (1968a) e Phelps (1967,
1968) para a literatura da curva de Phillips.
A noção de uma relação estável entre inflação e desemprego foi contestada por
Friedman e Phelps, que negaram a existência de um trade-off permanente (de
longo prazo) entre inflação e desemprego (a análise de Phelps originou-se de
uma perspectiva não monetarista; Cross, 1995). O problema com a especificação
original da curva de Phillips é que a taxa de variação dos salários monetários é
determinada independentemente da taxa de inflação. Isso, por sua vez, implica
que os trabalhadores são irracionais e sofrem de completa ilusão monetária, na
medida em que baseiam suas decisões de oferta de trabalho no nível dos salários
monetários, independentemente do que está acontecendo com os preços.
A visão keynesiana predominante da curva de Phillips foi derrubada por novas
ideias eclodidas durante a década de 1960 e eventos na década de 1970 (Mankiw,
1990). Um componente central do novo pensamento envolveu a crítica de
Friedman à interpretação do trade-off da curva de Phillips. Isso foi fornecido pela
primeira vez por Friedman (1966) em seu debate com Solow (1966) sobre
indicadores de salários e preços, e, até mesmo, foi delineado muito antes em uma
conversa com Richard Lipsey em 1960 (Leeson, 1997a). No entanto, o
argumento foi desenvolvido de forma mais completa em seu famoso discurso
presidencial de 1967. De acordo com Friedman, a curva de Phillips original, que
relacionava a taxa de variação dos salários monetários com o desemprego, foi
especificada incorretamente. Embora os salários monetários sejam definidos nas
negociações, tanto os empregadores quanto os funcionários estão interessados em
salários reais, não em dinheiro. Como as barganhas salariais são negociadas por
períodos de tempo discretos, o que afeta o salário real antecipado é a taxa de
inflação esperada ao longo do período do contrato. Friedman argumentou que a
curva de Phillips deveria ser em termos da taxa de variação dos salários reais.
Ele, portanto, aumentou a curva de Phillips básica com a taxa de inflação
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antecipada ou esperada como uma variável adicional determinando a taxa de


variação dos salários monetários. A curva de Phillips aumentada de expectativas
pode ser expressa matematicamente pela equação:

A terceira etapa no desenvolvimento do monetarismo ortodoxo ocorreu na


década de 1970, com a incorporação da abordagem monetária à teoria do balanço
de pagamentos e à determinação da taxa de câmbio na análise monetarista. Até o
colapso do sistema de taxas de câmbio fixas de Bretton Woods em relação ao
dólar dos Estados Unidos em 1971, a economia dos EUA poderia ser tratada
como uma aproximação razoável de uma economia fechada. A abordagem
monetária foi particularmente importante na medida em que tornou a análise
monetarista, desenvolvida implicitamente neste contexto de economia fechada,
relevante para economias abertas como o Reino Unido.
Durante a década de 1970, um grande número de diferentes modelos monetários
de balanço de pagamentos apareceu na literatura. No entanto, comum a todos os
modelos monetários, é a visão de que o balanço de pagamentos é essencialmente
um fenômeno monetário. A abordagem concentra-se principalmente no mercado
monetário, em que a relação entre a demanda por ações e a oferta de moeda é
considerada o principal determinante dos fluxos do balanço de pagamentos.
Além disso, apesar das diferentes especificações, na maioria dos modelos
monetários do balanço de pagamentos, geralmente são feitas quatro premissas-
chave:
. Primeiro, a demanda por moeda é uma função estável de um número limitado de variáveis.
. Segundo lugar, no longo prazo, a produção e o emprego tendem a atingir seu pleno
emprego ou níveis naturais.
. Terceiro, as autoridades não podem esterilizar ou neutralizar o impacto monetário dos
déficits/excedentes do balanço de pagamentos sobre a oferta monetária doméstica no longo
prazo.
. Quarto, após a devida dedução de tarifas e custos de transporte, a arbitragem garantirá que
os preços de bens similares comercializados tenderão a se igualar no longo prazo.

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As contribuições mais influentes para o desenvolvimento da abordagem


monetária à teoria do balanço de pagamentos foram feitas por Johnson (1972a) e
Frenkel e Johnson (1976). Seguindo Johnson (1972a), agora consideramos um
modelo monetário simples do balanço de pagamentos para uma pequena
economia aberta. Dentro deste modelo assume-se que: (i) a renda real é fixada
em seu pleno emprego ou nível natural; (ii) a lei de um preço vale tanto nos
mercados de commodities quanto nos mercados financeiros, e (iii) tanto o nível
de preços domésticos quanto a taxa de juros estão atrelados aos níveis mundiais.
Podemos reunir as discussões anteriores e procurar resumir as crenças distintivas
centrais dentro da escola de pensamento monetarista ortodoxa (ver também
Brunner, 1970; Friedman, 1970c; Mayer, 1978; Vane e Thompson, 1979; Purvis,
1980; Laidler, 1981, 1982; Chrystal, 1990). Essas crenças podem ser listadas da
seguinte forma:
1. As mudanças no estoque monetário são o fator predominante, embora não o único,
que explica as mudanças na renda monetária;
2. A economia é inerentemente estável, a menos que seja perturbada por um
crescimento monetário errático e, quando submetida a alguma perturbação, retornará
rapidamente à vizinhança do equilíbrio de longo prazo à taxa natural de desemprego;
3. Não há trade-off entre desemprego e inflação no longo prazo; ou seja, a curva de
Phillips de longo prazo é vertical à taxa natural de desemprego;
4. A inflação e o balanço de pagamentos são fenômenos essencialmente monetários;
5. Na condução da política econômica, as autoridades devem seguir alguma regra para
que os agregados monetários assegurem a estabilidade de preços no longo prazo, com
a política fiscal atribuída aos seus papéis tradicionais de influenciar a distribuição de
renda e riqueza e a alocação de recursos. No primeiro caso, Laidler (1993, p. 187)
argumentou que as autoridades devem estar preparadas para adaptar o comportamento
da oferta de qualquer agregado monetário que decidam controlar (isto é, em resposta a
mudanças na demanda por moeda resultantes de, por exemplo, mudança institucional)
em vez de seguir uma regra de crescimento rígida (legislada) para um agregado
monetário escolhido como sugerido por Friedman.

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Taxa natural de desemprego, desemprego friccional, desemprego voluntário

=> A taxa de desemprego que surge das fricções do mercado de trabalho é a


Taxa natural de desemprego (𝜇𝑁 ), que existe quando o mercado de trabalho está
equilibrado. Segundo os preceitos da economia neoclássica, o desemprego
natural é a taxa para a qual uma economia tende no longo prazo, sendo
compatível com o estado de equilíbrio de pleno emprego e com a ausência
de inflação. Nessa situação, há um número de trabalhadores sem emprego, mas
a oferta e a demanda por emprego estão em equilíbrio. Para Milton Friedman,
nessa taxa só se incluiriam os desempregos friccional e voluntário, sendo, nesse
caso, inexistente, ou não relevante, os desempregos conhecidos como estrutural e
conjuntural1.
(i) Desemprego friccional é o desemprego que existe como resultado do
deslocamento dos indivíduos entre empregos e a procura por novos empregos.
Por exemplo, muitos trabalhadores tornam-se desempregados porque seus
trabalhos não são permanentes. Outro exemplo é o de que muitas profissões vão
deixando de existir e leva um tempo para muitos dos trabalhadores dessas
profissões se especializarem em novas profissões (A theory of the natural
unemployment rate and the duration of employment, Robert E. Hall, 1979).
(ii) Desemprego voluntário ocorre pela recusa ou incapacidade de determinada
unidade de mão-de-obra em aceitar uma remuneração equivalente à sua
produtividade marginal, em decorrência da legislação ou dos costumes sociais,
etc.

1
O desemprego estrutural é uma forma de desemprego natural. Neste caso, existe um desequilíbrio permanente entre a oferta e a procura (de
trabalhadores) que não é eliminado pela variação dos salários. Resulta das mudanças da estrutura da economia. Estas provocam
desajustamentos no emprego da mão de obra, assim como alterações na composição da economia associada ao desenvolvimento. A teoria
econômica apresenta duas causas para este tipo de desemprego: insuficiência da procura de bens e de serviços e insuficiência de investimento
em torno da combinação de fatores produtivos desfavoráveis.
O desemprego cíclico ou conjuntural é transitório, ocorre durante alguns períodos. Pode ser calculado da seguinte forma: Desemprego cíclico =
Taxa de desemprego observada  taxa de desemprego natural. O desemprego cíclico está associado às flutuações da atividade econômica, ou
seja, do produto interno bruto. Esse relacionamento é inversamente proporcional, como demonstrado na Lei de Okun, que demonstra a relação
inversa entre a taxa de desemprego e os ciclos económicos (output gap). A taxa de desemprego diminui em períodos de expansão e aumenta em
períodos de recessão.

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The new classical school


Ref.: Snowdon and Vane, pp. 219-271.

Durante o início da década de 1970, houve um renascimento significativo da


crença de que uma economia de mercado é capaz de alcançar a estabilidade
macroeconômica, desde que a mão visível do governo seja impedida de conduzir
políticas fiscais e monetárias discricionárias equivocadas. Em particular, a
“Grande Inflação” da década de 1970 proporcionou crescente credibilidade e
influência aos economistas que haviam alertado que o ativismo keynesiano era
ambicioso demais e, ao mesmo tempo, mais importante, baseado em teorias que
eram fundamentalmente falhas. Para os críticos keynesianos, os eventos da
Grande Depressão, juntamente com a contribuição teórica de Keynes,
erroneamente deixaram o mundo “profundamente cético em relação aos sistemas
de mercado auto-organizados” (Sachs, 1999). A insistência keynesiana ortodoxa
de que níveis relativamente baixos de desemprego podem ser alcançados por
meio do uso de políticas expansionistas de demanda agregada foi vigorosamente
contestada por Milton Friedman, que lançou uma "contra-revolução" monetarista
contra o ativismo político durante as décadas de 1950 e 1960. Durante a década
de 1970, outro grupo de economistas fez uma crítica muito mais danosa à
economia keynesiana. Seu principal argumento contra Keynes e os keynesianos
era que eles falharam em explorar todas as implicações das expectativas
formadas endogenamente sobre o comportamento dos agentes econômicos. Além
disso, esses críticos insistiam que a única maneira aceitável de incorporar
expectativas em modelos macroeconômicos era adotar alguma variante da
“hipótese das expectativas racionais” de John Muth (1961). Seguindo a
contribuição de Thomas Sargent (1979), os “expectacionistas” racionais, que
também aderiram ao princípio da teorização do equilíbrio, ficaram conhecidos,
coletivamente, como a nova escola clássica. Como o rótulo infere, a nova escola
clássica procurou restaurar os modos clássicos de análise de equilíbrio,
assumindo uma compensação contínua do mercado dentro de uma estrutura de
mercados competitivos.

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A suposição de compensação de mercado, que implica preços perfeitamente e


instantaneamente flexíveis, representa o aspecto mais controverso da nova
teorização clássica. De acordo com Hoover (1992), a incorporação desse
pressuposto representa o elemento clássico em seu pensamento, ou seja, uma
firme convicção “de que a economia deve ser modelada como um equilíbrio
econômico”. Assim, para os novos teóricos clássicos, “a macroeconomia final é
uma microeconomia de equilíbrio geral totalmente especificada”.

A nova escola clássica surgiu como um grupo distinto durante a década de 1970
e a figura-chave nesse desenvolvimento foi Robert E. Lucas Jr. No entanto, as
raízes da nova tradição de pesquisa clássica são diversas. Por exemplo, a ênfase
nos primeiros novos modelos clássicos em informações e expectativas fornece
uma ligação com a tradição austríaca melhor representada pelo trabalho de
Hayek. A distinção feita por Lucas entre mecanismos de impulso (choques) e de
propagação, ao analisar os ciclos econômicos, tem origem na pesquisa pioneira
de Frisch (1933). O importante papel dado aos distúrbios monetários na geração
de instabilidade agregada está solidamente nas tradições monetaristas clássicas e
friedminianas; de fato, Tobin (1981) refere-se às primeiras contribuições
clássicas como um “Marco Monetarismo II”. O trabalho de Phelps et al. (1970)
sobre os Microfundamentos da Teoria do Emprego e da Inflação inspirou Lucas a
utilizar os insights colhidos do uso de Phelps da “parábola da ilha” e da teoria da
busca para analisar a dinâmica do mercado de trabalho. Finalmente, a abordagem
metodológica de Lucas é fortemente influenciada pela tradição de equilíbrio
geral de Walras, Hicks, Arrow e Debreu (Zijp, 1993; Beaud e Dostaler, 1997).

A nova abordagem clássica, conforme evoluiu no início dos anos 1970, exibiu
várias características importantes:

1. uma forte ênfase em fundamentar a teorização macroeconômica com


microfundamentos neoclássicos da teoria da escolha dentro de uma estrutura de
equilíbrio geral walrasiana;

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2. a adoção do pressuposto neoclássico chave de que todos os agentes


econômicos são racionais; ou seja, os agentes são otimizadores contínuos sujeitos
às restrições que enfrentam, as empresas maximizam os lucros e o trabalho e as
famílias maximizam a utilidade;
3. os agentes não sofrem de ilusão monetária e, portanto, apenas reais magnitudes
(preços relativos) são importantes para otimizar decisões;
4. A flexibilidade completa e contínua de salários e preços garante que os
mercados sejam continuamente limpos (market clearing) à medida que os
agentes esgotem todos os ganhos mutuamente benéficos do comércio, não
deixando oportunidades lucrativas inexploradas.

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Modelos de Oferta Agregada com Imperfeições de Mercado – Rigidez Nominal

Os efeitos de aumento na demanda com preços rígidos negligencia uma questão


importante: por que as firmas ofertam o produto adicional? Embora por
suposição elas não tenham a opção de aumentar os preços, elas poderiam apenas
deixar seu nível de produção não alterado por escolher não atender a demanda
adicional.
Há um importante caso onde isto é exatamente o que eles fazem. Suponha que os
mercados de bens e trabalho sejam perfeitamente competitivos e estão
inicialmente em equilíbrio. Então, salário dos trabalhadores é igual a sua
desutilidades marginal de ofertar trabalho, e os preços das firmas são iguais ao
custo marginal dela. Os trabalhadores não estão dispostos a ofertar mais trabalho
a não ser que o salário aumente. Mas o produto marginal do trabalho declina
como o trabalho aumenta, e, então, o custo marginal aumenta. Por conta disso, as
firmas não desejaram empregar mais trabalho a não ser que o salário caia. O
resultado é que o nível de emprego e produto não muda quando a oferta de
moeda aumenta. O aumento da demanda não leva a um aumento do produto, mas
ao racionamento no mercado de bens.

Essa discussão nos diz que para a expansão monetária ter efeitos reais, rigidez
nominal não é o bastante; deve haver algum desvio da competição perfeita ou no
mercado de produção ou no mercado de trabalho.

Importante:
Macroeconomia é a aplicação da teoria econômica ao estudo do crescimento, do
ciclo e da determinação do nível de preços da economia. Ela procura levar em
conta os fatos estilizados observados no mundo real e construir arcabouços
teóricos que sejam capazes de explicá-los. Nestes arcabouços existem, em geral,
dois tipos de mecanismos: impulso e propagação. Os mecanismos de impulso são
as causas das mudanças nas variáveis do modelo. Os mecanismos de propagação,
como o próprio nome indica, transmitem os impulsos, ao longo do tempo, e são
responsáveis pela dinâmica do modelo.
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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
1º semestre de 2023
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1.1. Curvas de oferta agregada

Curva de Oferta Agregada: Modelo de Keynes (Modelo de rigidez salarial)


Ref.: Romer, pp. 242-244.
Simonsen e Cisne, pp. 291-296.

̅
Suposição: Salário nominal rígido > 𝑊

O produto da economia é obtido em um mercado concorrencial (preços


flexíveis). Trabalho, L, é o único fator de produção que é variável no curto prazo,
e está sujeito a retornos decrescentes: Y = F(L), Y’(L) > 0 e Y’’(L) < 0.

Uma vez que firmas são competitivas, elas contratam trabalho até o ponto em
𝑊
que o custo marginal do trabalho seja igual ao salário real: Y’(L) = .
𝑃

Observe que conforme Y’(L) diminui, Y aumenta2. Portanto, 𝑌 = 𝑓(𝑌(−)(𝐿)), e,
então, 𝑌 = 𝑓(𝑊/𝑃)
(−)
, para um W fixo. Assim, 𝑌 = 𝑓(𝑃/𝑊)
(+)
.
𝑊
Por exemplo, suponha que Y = cLα com (c > 0 e 0 < α < 1), então = 𝛼𝑐𝐿𝛼−1 ∴
𝑃
1 𝛼
1
𝑃 1−𝛼 𝑃 1−𝛼
𝐿 = (𝛼𝑐 ) . Inserindo L na função Y = cLα, temos, 𝑌 = 𝑐 1−𝛼 (𝛼 ) . Desta
𝑊 𝑊
forma temos uma relação positiva entre Y e P para um W fixo.

2
LT = RT – CT => LT = p.Y(L) – w.L => dLT/dL = p.Y’(L) – w = 0 => Y’(L) = w/p
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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Resumo: se os salários estão fixos, um aumento da inflação implica em uma


queda do salário real (W/P). As firmas responderão aumentando o emprego, o
qual aumenta o produto. Então, flutuações na demanda agregada levam a
movimentos de emprego e salário real.

DA =>  => (W/P) => LD => OA


Essa visão implica que salários reais são contracíclicos em resposta a choques de
demanda agregada. Porém, achados não suportam tal visão: salários reais são
moderadamente pró-cíclicos.

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Curva de oferta agregada com base em preços passados


Ref.: Manual de Macro, pp. 287-292.
Dornbusch e Fischer, pp. 563-570.
Mankiw, pp. 239-242.

Ponto de partida => mercado de trabalho

𝑊 𝑊
𝐿𝑑 = 𝐿𝑑 (𝑌 𝑒 , ) = 𝐿𝑑 (𝑌, 𝑌𝑝 , ),
𝑃 𝑃
onde,
𝐿𝑑 = demanda de mão de obra por parte das empresas;
𝑌 𝑒 = produto esperado;
𝑌 = produto corrente;
𝑌𝑝 = produto de pleno emprego;
𝑊
= salário real.
𝑃

Considere que a taxa de crescimento do salário nominal tenha uma relação com o
mercado de trabalho: o salário nominal diminui quando a taxa de desemprego
excede a taxa natural; e o salário nominal aumenta quando a taxa de desemprego
está abaixo da taxa natural (situação chamada de superemprego).

𝑔𝑊 = −𝛿(𝜇 − 𝜇𝑁 ),

onde,

𝑔𝑊 = taxa de crescimento do salário nominal (taxa de inflação dos salários);


𝛿 = parâmetro que mede a sensibilidade do salário nominal em relação ao
desemprego;
𝜇 = taxa de desemprego;
𝜇𝑁 = taxa de desemprego natural.

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Observações:
𝑊−𝑊−1
(𝑖) 𝑔𝑊 = , onde W = salário nominal do período corrente;
𝑊−1

𝑁𝑇 −𝑁
(𝑖𝑖) 𝜇 = => taxa de desemprego, onde
𝑁𝑇
𝑁𝑇 = total de trabalhadores dispostos e capazes de trabalhar (população
economicamente ativa);
𝑁 = número de trabalhadores efetivamente trabalhando.

𝑁𝑇 −𝑁𝑃
(𝑖𝑖𝑖) 𝜇𝑁 = => taxa de desemprego natural: é a taxa de desemprego que
𝑁𝑇
existe em uma situação de equilíbrio de longo prazo. Pressupõe-se que, mesmo
em uma situação de pleno emprego, exista algum desemprego (friccional).
onde,
𝑁𝑃 = número de trabalhadores que efetivamente trabalham em uma situação de
pleno emprego (NP = NT – friccional).

𝑊−𝑊−1
Substituindo 𝑔𝑊 =
𝑊−1
𝑊−𝑊−1
em = −𝛿(𝜇 − 𝜇𝑁 )
𝑊−1

𝑔𝑊 = −𝛿(𝜇 − 𝜇𝑁 ) 𝑊 − 𝑊−1 = 𝑊−1 . (−𝛿(𝜇 − 𝜇𝑁 ))

𝑊= 𝑊−1 + 𝑊−1 . (−𝛿(𝜇 − 𝜇𝑁 ))


temos,

(1) 𝑊 = 𝑊−1 [1 − 𝛿 (𝜇 − 𝜇𝑁 )]

𝑁𝑃 −𝑁
Note que, substituindo (ii) e (iii) em (1), temos 𝑊 = 𝑊−1 [1 − 𝛿 ( )]
𝑁𝑇
Se a taxa de desemprego for a natural, ou seja, existir pleno emprego (a renda
então é YP), tem-se que N = NP =>  = N => W = W-1.

O salário real, portanto, estará dentro da lógica do mercado de trabalho


neoclássico quando em seu nível de equilíbrio.

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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Lei de Okun – estabelece uma relação entre produto e desemprego. Essa lei
mostra que o hiato do produto é proporcional à diferença entre a taxa de
desemprego e a taxa natural.

(2) (  N) =  (Y  YP)

Onde  é um parâmetro que mede a sensibilidade do desemprego em relação ao


hiato do produto ( > 0).

Se o produto efetivo for inferior ao potencial, a taxa de desemprego será superior


à taxa natural, e vice-versa.

(Y – YP) < 0 => (  N) > 0

Substituindo (2) em (1), temos

(3) 𝑊 = 𝑊−1 [1 + 𝛿(𝑌 − 𝑌𝑃 )]

Considerando uma regra de mark-up, i.e., aplicando uma margem multiplicativa


sobre os custos diretos, dos quais o principal componente são os salários
nominais, temos P = .W, onde  > 1 é a margem multiplicativa ( = 1 + mark-
up), para o caso em que o mark-up seja maior do que o custo marginal do
𝑃
trabalho, então, 𝑊 = .

Substituindo W e W-1 na equação (3), temos a curva de oferta agregada com base
em preços passados:

(4) 𝑃 = 𝑃−1 [1 + 𝛿(𝑌 − 𝑌𝑃 )] ou 𝑃 = 𝑃−1 [1 − 𝛿(𝑌𝑃 − 𝑌)]

Lembrando que:
 => é a sensibilidade do W em relação ao desemprego;
 => é a sensibilidade do desemprego em relação ao produto (veja que  impacta
, ou seja, o W é sensível ao desemprego, e como o desemprego é sensível ao
produto, então W é sensível também ao produto).

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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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. A curva de OA foi traçada considerando-se um dado nível de W. A curva de


oferta com base em preços passados é uma extensão do caso da curva de oferta
de Keynes, introduzindo-se imperfeições de mercado via mark-up.
. Também estão sendo considerados que o mark-up está fixo com γ > 1, e que a
produção é proporcional ao emprego.
. Elevações no salário nominal farão que toda a curva de oferta agregada se
desloque, pois, para qualquer nível de produto dado, a elevação de custos fará
com que as empresas exijam um nível de preços mais elevado (lembrar que
estamos considerando o preço como um múltiplo do salário nominal, segundo
uma regra de mark-up). Assim, uma elevação de W desloca a curva de OA para a
esquerda, e uma redução em W deslocará para a direita.
. A curva de oferta agregada é mais inclinada quanto maior for o impacto das
variações do emprego e da produção sobre os salários nominais, ou seja, quanto
maior for 𝛿 em (4);
. A posição da curva de oferta agregada depende do nível passado dos preços. A
curva corta o nível de pleno emprego da produção (YP) em P = P-1.

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Em P1, desemprego => W => OACP2 => P2, ainda desemprego => W =>
OACP3.
Leitura complementar obrigatória: Dornbusch e Fischer, 13.5 a 13.7, pp. 570-578.

Se (MS/Po) => r e Y, com isso os estoques => Po para P’ (P’>Po)
Com superemprego, o salário nominal vai aumentando, deslocando a curva de
oferta agregada para a esquerda, até o ponto E’’’.
A curva de oferta agregada de curto prazo fica oscilando constantemente em
resposta às condições de mercado (superemprego, desemprego, equilíbrio).
Na curva de oferta agregada de longo prazo o produto tende para seu nível
potencial, independentemente do nível de preços.

Casos:
Y – Yp < 0 Y < Yp ↓W desemprego u > uN u – uN > 0
Y – Yp > 0 Y > Yp ↑W superemprego u < uN u – uN < 0
Y – Yp = 0 Y = Yp 𝑊̅ pleno emprego u = uN u – uN = 0
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Observações sobre o uso do mark-up no modelo


. Em Dornbusch e Fischer, p.565, além do mark-up, a margem multiplicativa
1+𝑚𝑎𝑟𝑘−𝑢𝑝
considera também a produtividade do trabalho. Neste caso, γ(L) = .
𝑌′(𝐿)

. Conforme Romer (2006), p. 249, considere a margem multiplicativa do mark-up


como apenas o nome de mark-up. Temos que P = mark-up.W/Y’(L), onde
W/Y’(L) é o custo unitário do trabalho, então W/P = Y’(L)/mark-up, e, sem
qualquer restrição para mark-up, não se pode dizer como W/P varia com L.

Vejamos:
P = γ(L) . W
Segundo Dornbusch e Fischer,
1+𝑚𝑎𝑟𝑘−𝑢𝑝
γ(L) =
𝑌′(𝐿)

1+𝑚𝑎𝑟𝑘−𝑢𝑝
P= .W
𝑌′(𝐿)

𝑃 1 + 𝑚𝑎𝑟𝑘 − 𝑢𝑝
=
𝑊 𝑌′(𝐿)
Invertendo, temos
𝑊 𝑌′(𝐿)
=
𝑃 1 + 𝑚𝑎𝑟𝑘 − 𝑢𝑝
Lembrando, Romer considera 1 + 𝑚𝑎𝑟𝑘 − 𝑢𝑝 = 𝑚𝑎𝑟𝑘 − 𝑢𝑝, então
𝑊 𝑌′(𝐿)
=
𝑃 𝑚𝑎𝑟𝑘 − 𝑢𝑝
Vimos, da curva de oferta agregada com base em rigidez dos salários, que Y’(L)
é contracíclico em relação à Y.

Ou seja, se Y = Y’(L)
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Casos:
1º se mark-up é constante, temos
𝑌 ′ (𝐿 ) 𝑊
Se Y => =  , curva de oferta agregada positivamente inclinada.
𝑚𝑎𝑟𝑘−𝑢𝑝 𝑃
𝑊
Para  , P > W, ou mantendo-se W fixo P;
𝑃

2º Para mark-up tão contracíclico como Y’(L), se Y e mark-up = Y’(L),


𝑊
temos constante, ou seja, se W constante, P é constante => caso Keynesiano
𝑃
=> curva de oferta agregada horizontal;

3º Para mark-up mais contracíclico do que Y’(L), se Y e mark-up > Y’(L),


𝑌 ′ (𝐿 ) 𝑊
temos ( ) , então , ou seja, W > P, e se W é constante, P =>
𝑚𝑎𝑟𝑘−𝑢𝑝 𝑃
uma curva de oferta agregada negativamente inclinada.

Resumo:

. Se mark-up é constante, o salário real é contracíclico (uma vez que Y’(L) é


contracíclico). Neste caso, a curva de OA é positivamente inclinada;
. Se mark-up é suficiente contracíclico, ou seja, sua variação é igual ou superior a
variação de Y’(L), o salário real pode ser acíclico ou pró-cíclico. Um caso
especial ocorre quando mark-up é exatamente contracíclico como Y’(L). Neste
caso, o salário real não é afetado por mudanças em L, e, desta forma, a curva de
oferta agregada é horizontal; se mark-up é mais contracíclico que Y’(L), então a
inflação deve ser menor quando L é maior, e a curva de OA é negativamente
inclinada (L=>Y=>Y’(L) < mark-up=>W/P=>(P < W).

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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Modelo de preços rígidos


Ref.: Mankiw, pp. 243-244.

Suponha que há dois tipos de firmas. Algumas têm preços flexíveis e outras têm
preços rígidos.
 As firmas que têm preços flexíveis formam seus preços conforme:
p = P + α(Y – YP)
onde,
p = preço desejado por uma determinada empresa
P = nível de preços geral
Y – YP = hiato do produto
α = mede quanto o preço desejado da empresa reage ao nível do produto (α > 0).
 As firmas com preços rígidos fixam seus preços de acordo com:

𝑝 = 𝑃𝑒 + 𝛼(𝑌 𝑒 – 𝑌𝑃𝑒 )

Para simplificar, considere que 𝑌 𝑒 – 𝑌𝑃𝑒 = 0. Então,


𝑝 = 𝑃𝑒

Ou seja, as firmas com preços rígidos fixam seus preços com base no que elas
esperam que as outras empresas cobrem.
Agora, se s é a fração de empresas com preços rígidos e (1 – s) é a fração com
preços flexíveis, então o nível geral de preço é dado pela média ponderada entre
os preços dos dois tipos de firma:

𝑃 = 𝑠𝑃𝑒 + (1 − 𝑠)[𝑃 + 𝛼(𝑌 − 𝑌𝑃 )]


Subtraindo (1 – s)P dos dois lados da equação, temos

𝑠𝑃 = 𝑠𝑃𝑒 + (1 − 𝑠)[𝛼 (𝑌 − 𝑌𝑃 )]

𝑒
(1 − 𝑠)𝛼
𝑃 =𝑃 +[ ](𝑌 − 𝑌𝑃 )
𝑠

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Modelo de Oferta Agregada Micro Fundamentada com Ajuste Nominal Incompleto

Curva de oferta de Lucas


Ref.: Manual de Macro, pp. 292-294.
Dornbusch e Fischer, pp. 281-286.
Mankiw, pp. 242-243.
Romer, D. Advanced Macroeconomics, Fourth Edition, pp. 293-298.
Introdução
Um dos princípios centrais subjacentes à nova macroeconomia clássica é a
hipótese das expectativas racionais (REH) associada ao trabalho de John Muth
(1961) inicialmente no contexto da microeconomia. É, no entanto, interessante
notar que Keuzenkamp (1991) sugeriu que Tinbergen foi um precursor de Muth,
tendo apresentado um modelo de expectativas racionais quase 30 anos antes.
Devemos também notar que foi Alan Walters (1971) quem primeiro aplicou a
ideia do que ele chamou de “expectativas consistentes” à macroeconomia. No
entanto, foi o artigo seminal de John Muth (1961) que provou ser mais influente
na pesquisa dos jovens turcos novos clássicos durante o início dos anos 1970. Em
seu artigo seminal, Muth sugeriu “que as expectativas, uma vez que são
previsões informadas de eventos futuros, são essencialmente as mesmas que as
previsões da teoria econômica relevante”.
A versão forte da hipótese das expectativas racionais é capturada na citação
acima, retirada do artigo de Muth (1961), e é a versão muthiana que foi adotada
pelos principais expoentes da nova escola clássica e incorporada em seus
modelos macroeconômicos. Na versão “forte” de Muth, as expectativas
subjetivas dos agentes econômicos sobre as variáveis econômicas coincidirão
com as expectativas condicionais matemáticas verdadeiras ou objetivas dessas
variáveis. Usando o exemplo das expectativas de inflação dos agentes
econômicos (𝑃𝑡̇ 𝑒 ), a hipótese das expectativas racionais pode ser expressa
algebricamente da seguinte forma:

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Onde 𝑃𝑡̇ é a taxa de inflação atual; 𝐸(𝑃𝑡̇ |𝜑𝑡−1 ) é a expectativa racional da taxa
de inflação sujeita à informação disponível em período prévio(𝜑𝑡−1 ).
Assim como a hipótese das expectativas racionais, várias explicações para a
hipótese da oferta agregada podem ser encontradas na literatura. Dito isso, duas
abordagens principais para a oferta agregada podem ser identificadas.
Subjacentes a essas abordagens estão dois pressupostos microeconômicos
ortodoxos: (i) as decisões racionais tomadas por trabalhadores e empresas
refletem um comportamento otimizador de sua parte; e (ii) a oferta de
trabalho/produção por trabalhadores/empresas depende dos preços relativos.

A primeira nova abordagem clássica da oferta agregada concentra-se na oferta de


trabalho e deriva do trabalho de Lucas e Rapping (1969). A segunda nova
abordagem clássica da oferta agregada deriva do trabalho altamente influente de
Lucas (1972a, 1973). Dado o limitado conjunto de informações dos agentes no
curto prazo, estes confundiriam aumento geral de preços com mudanças de
preços relativos. As empresas enfrentam o que é chamado de problema de
“extração de sinal” (veja Simonsen e Cysne, p. 669), na medida em que precisam
distinguir entre mudanças de preços relativos e absolutos.

Modelo: a oferta de trabalho/produção por trabalhadores/empresas depende


dos preços relativos.
Fundamentação microeconômica
Considere uma economia com muitos diferentes tipos de bens. Considere um
produtor representativo de um certo tipo de bem, i, que recebe o preço Pi que o
mercado determinar. A função de produção individual é dada por Qi = Li, onde Li
é o é montante que o indivíduo trabalha e Qi é o montante que ele produz. O
consumo do indivíduo, Ci, é igual a sua renda real, isto é, sua renda, PiQi,
dividida pelo nível de preços de mercado, P.
A utilidade depende positivamente do consumo e negativamente do montante de
1 𝛾
trabalho. Por simplicidade, 𝑈𝑖 = 𝐶𝑖 − 𝐿𝑖 , 𝛾 > 1.
𝛾

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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Substituindo Ci = PiQi/P e Qi = Li, temos:


𝑃𝑖 𝐿𝑖 1 𝛾
𝑈𝑖 = − 𝐿𝑖
𝑃 𝛾

Os mercados são assumidos serem competitivos, então a escolha individual Li


para maximizar a utilidade tomando Pi e P como dados (concorrência perfeita), é
a condição de primeira ordem
𝑃𝑖 𝛾−1
− 𝐿𝑖 = 0
𝑃
Ou
1⁄
𝑃𝑖 (𝛾−1)
𝐿𝑖 = ( )
𝑃
Colocando em termos de logaritmo natural, usando letras pequenas para tal,
temos:
1
𝑙𝑖 = (𝑝𝑖 − 𝑝).
𝛾−1

A oferta de trabalho individual e, então, a produção individual, estão aumentando


conforme o preço relativo do seu produto. O indivíduo toma as suas decisões de
produção após conhecer pi. Se o indivíduo conhece os preços da economia (nível
geral de preços – p), ele tem informação perfeita, e só irá aumentar a produção se
o preço relativo (𝑝𝑖 − 𝑝 ) do seu produto aumentar.
Como ele tem informação perfeita dos preços, ele sabe 100% se o aumento no
preço (que é dado – concorrência perfeita) do seu bem foi um aumento no nível
geral de preços. Por exemplo, se o preço do seu bem aumenta 10% e os preços da
economia também aumentam 10%, não há mudança nos preços relativos, e o
indivíduo não aumenta a produção.
Agora, se o indivíduo não tem informação perfeita sobre os preços da economia,
ou seja, ele tem informação imperfeita, a equação toma a forma:
1
𝑙𝑖 = (𝑝𝑖 − 𝐸[𝑝|𝑝𝑖 ]),
𝛾−1
Onde,
𝐸[𝑝|𝑝𝑖 ] é o nível esperado dos preços da economia dado 𝑝𝑖 .
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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Como o indivíduo não tem informação perfeita do nível geral de preços, ele
atribui um peso para o aumento do preço do seu bem e um peso para o aumento
dos preços da economia, ou seja, ele aumenta a produção em um determinado
nível (pi e 𝐸[𝑝] são diferentes).
Neste modelo, os preços variam de uma empresa para outra por causa das
imperfeições do sistema de informações, as quais separam as empresas em
diferentes ilhas – Modelo de Ilhas.

Ao contrário do modelo de preços passados, este modelo pressupõe que os


mercados se equilibram – ou seja, todos os salários e preços estão livres para se
ajustarem ao equilíbrio entre oferta e demanda. Neste modelo, as curvas de oferta
agregada de curto e longo prazo diferem por causa da informação imperfeita.
Considera-se que os agentes econômicos formam expectativas em relação ao
preço que vigorará no próximo período (𝐸[𝑝]), de acordo com suas expectativas
sobre o comportamento da demanda agregada. A partir daí, determina-se o
salário nominal compatível com o nível de preços esperado, de modo a se
garantir o pleno emprego. O nível de oferta corrente desviará do produto
potencial de acordo com os desvios do nível de preços efetivo em relação ao
nível de preços esperados.
O argumento é que os salários e preços são ajustados de forma incompleta no
curto prazo como resultado de problemas de informação: salários e preços,
enquanto totalmente flexíveis, ajustam-se somente parcialmente porque as
famílias têm informação somente parcial. Simplesmente leva tempo para que as
famílias e as empresas saibam exatamente o que está acontecendo em seu
ambiente econômico e reconheçam que os salários e os preços devam mudar.
Mas assim que as famílias e as empresas tomam conhecimento dos fatos, elas
ajustam-se totalmente ao novo ambiente. Esta última abordagem, que se tornou
conhecida como equilíbrio com expectativas racionais, tem implicações
poderosas sobre o papel da moeda na economia.

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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Modelo: as decisões racionais tomadas por trabalhadores e empresas


refletem um comportamento otimizador de sua parte.

Curva de Oferta de Lucas – Visão a partir do mercado de trabalho


A hipótese é a de que algumas pessoas não conhecem o nível agregado de preços,
mas conhecem apenas o preço absoluto (Real) do que elas podem comprar e
vender. Desde que seja o salário real, e não o salário nominal, que determina
quantas horas ele quer trabalhar, o empregado tem que, de alguma forma, estimar
o nível de preços agregados (Pe).
Com estas hipóteses torna-se possível explicar por que as variações no estoque
monetário afetam a produção real. Suponha que a oferta de trabalho dependa do
salário real, w. Se tanto as empresas como os trabalhadores tiverem uma
informação completa, o salário real se ajustará ao nível w*, no qual há o pleno
emprego de trabalho no nível N*; e a produção estará no nível de pleno emprego
Y*. Então, chamamos w* o salário real de pleno emprego, depois que os
trabalhadores e as empresas têm a mesma informação sobre o nível agregado de
preços real no período em que decidem quanto trabalho será oferecido. Suponha
que, de antemão, tanto as empresas quanto os trabalhadores esperem que o nível
de preços seja Pe. A curva de oferta de trabalho NS* corresponde à curva de
oferta quanto os trabalhadores pensam que o nível de preços é Pe. A curva de
demanda por trabalho ND* mostra a curva de demanda por trabalho quando as
empresas também acreditam que o nível real de preços é Pe. Se cada curva estiver
correta, o nível de emprego será N*, na taxa salarial nominal W*, correspondente
ao salário real de equilíbrio w*.
Suponha agora que em determinado momento as empresas conhecem o
verdadeiro nível real de preços P, enquanto que os trabalhadores não estão
totalmente informados sobre ele e acreditam que seja Pe. Suponha
especificamente que P > Pe, ceteris paribus. Então, w* vai diminuir.
Neste caso, a curva de demanda por trabalho ND*desloca para direita (para cima)
para ND’. Mais importante, o nível de emprego aumenta momentaneamente de
N* para N’. Portanto, como resultado da informação imperfeita dos
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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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trabalhadores, um aumento no nível de preços leva a um aumento no nível de


emprego e, portanto, da produção. Com isso, o salário nominal deveria aumentar
de W* para W '.

Resumo:

𝑃
A curva de oferta de Lucas pode ser vista como: 𝑌 = 𝛼
𝑃𝑒
Em termos de log, temos y = α(p – pe).

Importante: uma política monetária expansionista de surpresa faz com que


(Ms/P), e leva a um aumento da DA. Os estoques caem e, devido a maior
demanda, os preços sobem. Com isso, os salários reais diminuem, aumentando a
oferta de trabalho e a produção.

A visão do equilíbrio com expectativas racionais sustenta que as variações na


moeda afetam a atividade econômica de acordo e somente quando não são
esperadas. Ou seja, somente a moeda não esperada tem importância.

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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Observação:
Modelo de Lucas como um problema de extração de sinal (Simonsen e Cysne,
pp. 669-672).
1 1
Considerando 𝑙𝑖 como yi, temos 𝑦𝑖 = (𝑝𝑖 − 𝐸[𝑝|𝑝𝑖 ]). Vamos chamar de
𝛾−1 𝛾−1
b. Então, 𝑦𝑖 = 𝑏(𝑝𝑖 − 𝐸[𝑝|𝑝𝑖 ]). Conforme Simonsen e Cysne (2009), podemos
reescrever essa última equação de forma agregada como 3:
𝑏𝜎 2
𝑦= 2 (𝑝 − 𝐸[𝑝])
𝜎 + 𝑠2
Onde, 𝜎 2 é a variância dos preços relativos e 𝑠 2 é a variância da taxa de inflação.
Lucas implicitamente supõe que a variância dos preços relativos independe da
variância da taxa de inflação. A primeira reflete, presumivelmente, as mudanças
reais na economia; a segunda, a instabilidade monetária. Posto isso, chega-se a
duas conclusões:
(i) a resposta dos agentes econômicos aos estímulos de preços é tanto menor
quanto mais instável for a taxa de inflação;
(ii) a inclinação da curva não é um parâmetro estrutural da economia, mas uma
variável dependente da política monetária. Quanto maior a imprevisibilidade da
taxa de inflação, menor o efeito de um ponto percentual de inflação imprevista
sobre o produto real. Isso faz com que a política de estabilizar o emprego à custa
de instabilidade monetária se torne autodestrutiva. Com efeito, quanto mais se
usa essa política, mais aumenta a variância percebida do ruído, o que cada vez
mais aproxima da vertical a curva no curto prazo.

A equação acima indica que o sinal estimado a partir de (𝑝 − 𝐸[𝑝]) é uma fração
igual à relação entre as variâncias de y e de (𝑝 − 𝐸[𝑝]); essa fração é tanto maior
quanto menor a relação s2/σ2 entre as variâncias do ruído e do sinal.

3
y é uma variável aleatória não observável e (p – E[p]) é uma variável aleatória observável.
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Uma forma mais convencional de ver a curva de oferta agregada conhecida como
oferta de Lucas, é a seguinte:
𝑌 − 𝑌𝑃 = 𝛼 (𝑃 − 𝑃𝑒 )

𝑌 = 𝑌𝑃 + 𝛼 (𝑃 − 𝑃𝑒 ),

𝑐𝑜𝑚 𝛼 > 0

Onde:
YP = Produto potencial à taxa natural de desemprego;
P = Nível corrente de preço;
Pe = Preço esperado.
𝑏𝜎 2
α= , que é a sensibilidade de resposta do produto a mudanças inesperadas
𝜎 2 +𝑠2
de preços.

O produtor forma sua expectativa de preços para o período t. Conforme ocorre o


nível de preços no período t, o produto decide a oferta para o período t. Dessa
forma, se o nível de preços correntes superar o nível de preços esperados, o
produto superará o produto potencial; e se for inferior, o produto será inferior ao
potencial. Caso as expectativas dos agentes se confirmem com o nível de preços
igualando o esperado, o produto corrente será igual o potencial.

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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
1º semestre de 2023
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Para o caso de informação imperfeita, no equilíbrio inicial, P = P1e. Com


(MS/P) ou G de surpresa => DA2 => P1 > P1e => Y. Os ofertantes não
sabem se o aumento de preços foi geral ou específico para seu produto. Eles
atribuem um percentual que eles acham que seja para seu produto específico e
aumentam a produção. Quando eles percebem que o aumento foi geral (não
houve aumento nos preços relativos), eles vão diminuindo a produção ao longo
da nova curva de demanda DA2 deslocando a curva de oferta agregada até o
equilíbrio do YP, com P2 = P2e.

Mudanças nas expectativas de preços deslocam a curva de oferta agregada de


Lucas. Pe, ceteris paribus, desloca OA para trás (esquerda), Pe, ceteris
paribus, descloca OA para frente (direita).
P = Pe + 1/(Y – YP)
P = Pe – 1/YP + 1/Y

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1.2. Curva de Phillips e a análise sobre as expectativas


Ref.: Manual de Macro, pp. 294-304.
https://www.youtube.com/watch?v=xaBgYyV28dI&list=PLJZlW3ik4xixAhVnY0aaTrz72XCZsygEA&index=9

Introdução
=> contexto: discussão sobre se políticas econômicas que afetam a demanda
agregada são ou não desejáveis, uma vez que o efeito sobre o desemprego seria
apenas no curto prazo, uma vez que no longo prazo, a economia voltaria para sua
taxa natural de desemprego.

Os modelos de curva de oferta agregada: Keynes, preços passados e de preços


rígidos de Mankiw – Modelos de Rigidez Nominal – são modelos em que
salários nominais ou preços nominais não respondem a choques correntes. Em
adição, se o nível aos quais salários e preços são fixados é determinado por
períodos prévios de salários e preços, esses modelos implicam em um
permanente tradeoff entre inflação e produto. Até então, trabalhamos com nível
de preços e não inflação em si. Para trabalharmos com inflação, considere o
modelo de OA de Keynes. Suponha que a rigidez do salário nominal é
proporcional ao nível de preços do período anterior:

Wt = APt-1, com A > 0.


Yt = F(Lt), com F’(L) > 0 e F’’(L) < 0.
𝑊𝑡
𝐹 ′ (𝐿) =
𝑃𝑡

Substituindo a primeira equação na terceira, temos


𝐴𝑃𝑡−1
𝐹′(𝐿) =
𝑃𝑡
𝐴
𝐹′(𝐿) = => Observe que conforme F’(L) diminui, Y aumenta.
1+𝜋𝑡

Ou seja, uma relação positiva entre produto e inflação. Considerando a Lei de


Okun, uma relação negativa entre desemprego e inflação.

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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Em 1958, A.W. Phillips, então professor na London School of Economics,


publicou um estudo abrangente do comportamento dos salários no Reino Unido
para os anos de 1861-1957.

O principal achado é sumarizado na figura 8.2. A curva de Phillips é uma relação


inversa entre desemprego e taxa de variação dos salários monetários. Em outras
palavras, há um tradeoff entre inflação dos salários e desemprego.
Para muitos, esse achado sugeriu a possibilidade da existência de um estável
relacionamento negativo de longo prazo entre inflação dos salários e
desemprego.

Em outro estudo, de 1948-1957, Phillips achou a seguinte equação:

W =  0.9 + 9.638(U)1.394

Em 1960, Paul Samuelson e Roberto Solow repetiram o exercício de Phillips


para os EUA, com dados de 1900 a 1960, usando o índice de preços ao
consumidor dos EUA como medida de inflação. Exceto para a década de 1930,
período de acentuado desemprego, aparece também uma relação negativa entre
inflação e desemprego. Essa relação, que Samuelson e Solow batizaram de curva
de Phillips, rapidamente se tornou fundamental para o pensamento
macroeconômico e para a política macroeconômica.
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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Curva de Phillips Teórica Original


A primeira tentativa do prover robustez teórica para a curva de Phillips foi feita
por Lipsey (1960), por meio da combinação de dois relacionamentos: (i) um
relacionamento linear positivo entre a taxa de aumento dos salários nominais e o
excesso de demanda por trabalho (XL); e (ii) um relacionamento não linear entre
excesso de demanda e desemprego.

𝐷𝐿 − 𝑆𝐿
𝑊̇ = 𝛼 (𝑋𝐿 ) = 𝛼 ( )
𝑆𝐿

𝑋𝐿 = 𝛽(𝑈)

Se houver um excesso de demanda por trabalho (DL), 𝑊̇ será maior. Ou seja, uma
maior DL significa menor desemprego. Então há uma relação negativa entre
variação dos salários nominais (inflação dos salários) e desemprego.

Isso permite deduzir, generalizando para inflação em geral, a seguinte relação


teórica para a curva de Phillips original:

𝑊̇ = 𝑓(𝜇)

𝑊̇ = −𝛿(𝜇)

Essa curva estabelece o tradeoff entre inflação dos salários e desemprego, e traz
uma importante mensagem: o combate à inflação (ampliando o pensamento de
inflação dos salários para inflação geral) exige ampliação do desemprego
(redução do produto), então, impõe-se uma taxa de sacrifício para a sociedade.

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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Observe que: se Y = YP => P = P-1 =>  = N => π = 0.

O caso para esse tradeoff foi questionado no final dos anos 60 e início dos anos
70. No lado teórico, o ataque tomou a forma da hipótese da taxa natural de
Friedman (1968) e Phelps (1968). Friedman e Phelps argumentaram que a ideia
de que variáveis nominais tais como oferta de moeda ou inflação, poderiam
permanentemente afetar variáveis reais, tais como produto e desemprego, não
eram razoáveis; no longo prazo, eles argumentaram, o comportamento das
variáveis reais é determinado por forças reais.

No caso específico do tradeoff entre produto-inflação ou desemprego-inflação, o


argumento de Friedman e Phelps era que uma mudança pelos policymakers em
uma permanente política expansionista levaria, mais cedo ou mais tarde, a uma
mudança no modo como preços e salários são fixados.

Em resumo, a hipótese da taxa natural estabelece que há alguma “normal” ou


“natural” taxa de desemprego, e que política monetária não pode manter
desemprego abaixo desse nível indefinidamente.

Na década de 1970, a relação da curva de Phillips original fracassou. Nos EUA,


assim como na maioria dos países da OCDE, havia inflação alta e desemprego
alto, o que contradizia claramente a curva de Phillips original.

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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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A queda empírica do estabelecimento de um tradeoff entre inflação e desemprego


é ilustrada na figura 5.17.

Uma fonte da falha empírica para a curva de Phillips original pode ser devida a
choques de oferta, como o choque do petróleo nos anos 1970. Uma outra fonte
seria a hipótese da taxa natural de Friedman e Phelps. Assim, altas taxas de
inflação dos anos 1970 mudaram como preços e salários eram fixados.

Como veremos, a curva de Phillips reapareceu, mas sob a forma de uma relação
entre a taxa de desemprego e a variação da taxa de inflação.

Curva de Phillips modificada

A visão prevalecente keynesiana da curva de Phillips com a possibilidade de um


tradeoff permanente entre inflação desemprego foi derrubada por ideias que
eclodiram na década de 1960 e eventos dos anos 1970. O componente central do
novo pensamento envolve a crítica de Friedman. Para Friedman, a curva de
Phillips original seria expressa por:

𝑊̇ = 𝑓(𝑈) + 𝑃̇𝑒
Onde 𝑃̇𝑒 é a inflação esperada, e f(U) considera a diferença entre desemprego
observado e desemprego na taxa natural.

Esta é uma curva de Phillips aumentada, no caso pelas expectativas de inflação.


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Introduzir a taxa de inflação esperada como uma variável adicional ao excesso de


demanda que determina a taxa de variação dos salários monetários implica que,
em vez de uma única curva de Phillips, haverá uma família de curvas de Phillips,
cada uma associada a uma taxa de inflação esperada diferente.
A partir do estado estacionário no ponto A da figura logo abaixo, imagine um
choque positivo de DA (reduzindo Un para U1), com preços de commodities
subindo mais rápido do que salários nominais.

𝑊
DA1=>DA2=>(𝑊̇ = 0)=>[𝑊̇1 |(𝑃̇𝑒 = 0)] =>𝑃̇𝑒 =>SRPC1=>SRPC2=>𝑊̇1 |𝑃̇𝑒 => =>U até o ponto C.
𝑃

Substituindo variação dos salários nominais por variação de preços, temos:


𝑊̇ = 𝑓(𝑈) + 𝑃̇𝑒

𝑃̇ = 𝑓(𝑈) + 𝑃̇𝑒

𝑓(𝑈)
𝑃̇ =
1−𝛽

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Por conta disso, uma típica formulação moderna da curva de oferta agregada
keynesiana de curto prazo não micro fundamentada difere dos modelos
apresentados anteriormente.

𝜋𝑡 = 𝜋𝑡∗ + 𝛿 (𝑙𝑛𝑌𝑡 − 𝑙𝑛𝑌̅𝑡 ) + 𝜀𝑡𝑠 , >0

Essa formulação não toma qualquer posição se preços nominais ou salários


nominais, ou uma combinação dos dois, são as fontes de ajustes incompletos.

A diferença chave é o termo 𝜋𝑡∗ . Tautologicamente, 𝜋𝑡∗ é a inflação que deveria


ser se o produto fosse igual ao produto de pleno emprego sem choques de oferta.
𝜋𝑡∗ é conhecido como o núcleo da inflação.

Por outro lado, pode-se também deduzir uma versão modificada da curva de
Phillips com base na oferta agregada de Lucas.

𝑌 = 𝑌𝑃 + 𝛼 (𝑃 − 𝑃𝑒 ) => curva de Lucas

(  N) = – (Y – YP) => estabelecido pela Lei de Okun

A curva de Lucas pode ser reescrita como

1
𝑃 = 𝑃𝑒 + (𝑌 − 𝑌𝑃 )
𝛼
Juntando com a curva estabelecida pela Lei de Okun, temos

𝑃 = 𝑃𝑒 − 𝜑(𝜇 − 𝜇𝑁 )

Onde φ = 1/α mede a sensibilidade dos preços à taxa de desemprego.


  sensibilidade do produto em relação ao desemprego;
α – sensibilidade do nível de preços em relação ao produto.

Transformando os níveis de preços efetivos e esperados em termos de variação


em relação ao período anterior, temos

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𝑃 − 𝑃−1 = 𝑃𝑒 − 𝑃−1 − 𝜑(𝜇 − 𝜇𝑁 )

𝜋 = 𝜋 𝑒 − 𝜑(𝜇 − 𝜇𝑁 ) => curva de Phillips modificada

Obs: lnP – lnP-1 ~ π

Com base na equação anterior, temos duas causas para a inflação:


(a) a inflação existe porque as pessoas acreditam que haverá inflação;
(b) porque o desemprego situa-se abaixo do nível natural, ou seja, o produto
corrente supera o produto potencial, levando a elevação de preços,
correspondendo a chamada inflação de demanda.

Um aspecto importante ao longo da curva de Phillips: para que  => as firmas


devem contratar mais => para isso, devemos ter (W/P). Ou seja, mesmo com
salários nominais aumentando devido ao menor desemprego, esse aumento deve
ser inferior ao aumento do nível de preços, de modo que o salário real diminua e
aumente o emprego.

Completando a análise da curva de Phillips, temos

𝜋 = 𝜋 𝑒 − 𝜑(𝜇 − 𝜇𝑁 ) + 

 = choques de oferta

Obs.: alterações nas expectativas inflacionárias e/ou nos choques de oferta


deslocam a curva de Phillips.
Obs.: Para o caso da curva de Phillips a partir da OA de Lucas, as expectativas
são racionais.

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Curva de Phillips Aumentada – questão da formação de expectativas

Duas hipóteses:
(i) expectativas adaptativas;
(ii) expectativas racionais.

Curva de Phillips com expectativas adaptativas. Versão aceleracionista

Hipótese das expectativas adaptativas => indivíduos corrigem suas expectativas


em relação ao valor esperado de uma variável de acordo com os erros que
cometeram no passado.
𝜋𝑡𝑒 = 𝜋𝑡−1
𝑒 𝑒
+ 𝛽(𝜋𝑡−1 − 𝜋𝑡−1 )

𝜋𝑡𝑒 => inflação esperada para o período t;


𝑒
𝜋𝑡−1 => inflação esperada para o período t – 1;
𝜋𝑡−1 => inflação que realmente ocorreu no período t – 1.
β => velocidade de correção das expectativas.

Se β =1, temos que => 𝜋𝑡𝑒 = 𝜋𝑡−1

Nesse caso, quando os indivíduos olham para o passado como melhor previsor do
futuro, mesmo que não haja choques de oferta ou o desemprego se encontre em
sua taxa natural, a inflação tende a se perpetuar no nível previamente atingido,
gerando a chamada inércia inflacionária.

Considerando que 𝜋 𝑒 = 𝜋𝑡−1 , da curva de Phillips modificada, temos:

𝜋 − 𝜋𝑡−1 = −𝜑(𝜇 − 𝜇𝑁 ) + 

Ou seja, a taxa de desemprego não afeta a taxa de inflação, mas a variação da


taxa de inflação. O desemprego elevado leva a uma taxa de variação da inflação
decrescente; o desemprego baixo leva a uma taxa de variação da inflação
crescente. Com essa formulação há um tradeoff entre produto e a variação da
inflação, mas não um permanente tradeoff entre produto e inflação.
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Obs.: Em Blanchard, p. 154, para os Novos Keynesianos, a N é a taxa que


mantém a inflação constante, ou seja, π = πt1. É por isso que a taxa natural é
também chamada de taxa de desemprego não aceleradora da inflação (NAIRU -
nonaccelerating inflation rate of unemployment).
Para que a inflação se reduza, neste caso, ou será necessária a ocorrência de um
choque deflacionário, ou a taxa de desemprego deverá situar-se
momentaneamente acima da taxa natural – taxa de sacrifício, forçando os agentes
a reverem suas expectativas.

A taxa de sacrifício para expectativas adaptativas [𝜋 − 𝜋𝑡−1 = −𝜑(𝜇 − 𝜇𝑁 )] é


dada por:
𝜋 − 𝜋𝑡−1
|𝜑| =
(𝜇 − 𝜇𝑁 )
Exemplo: Se a taxa de sacrifício for igual a 1 e a taxa natural de desemprego for
igual a 6%, para reduzir uma taxa de inflação de 12% para zero será necessário
que a taxa de desemprego chegue a 18%.
A análise anterior traz uma importante consequência: suponhamos que em dado
momento a inflação seja zero e a taxa de desemprego esteja em sua taxa natural.
Vamos supor adicionalmente que o governo decida fazer uma política para
reduzir o desemprego, por exemplo, ampliando a oferta de moeda. Esta política
levará em um primeiro momento a uma menor taxa de desemprego e a uma
maior taxa de inflação, como sinalizado pelo ponto 1 da Figura 7.8. Se esse ponto
fosse sustentável no longo prazo, seria bastante atraente para o governo aceitar
um pouco mais de inflação para conseguir um menor desemprego.

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A questão que se coloca é se é possível manter indefinidamente a menor taxa de


desemprego com o mesmo patamar inflacionário. Como veremos na sequência, a
resposta é não. O aumento da inflação faz com que os agentes ampliem suas
expectativas inflacionárias, deslocando a curva de Phillips para a direita e para
cima. Mantida nos períodos seguintes a mesma taxa de expansão monetária, a
taxa de inflação se estabilizará em π1, mas o desemprego voltará a sua taxa
natural (ponto 2 da Figura 7.8). Se o governo pretender manter indefinidamente o
desemprego abaixo da taxa natural, isso irá requerer taxas crescentes de expansão
monetária e de inflação.

Dada essa aceleração inflacionária, o tradeoff inflação-desemprego só vale no


curto prazo (neste caso, inflação acima da inflação esperada). No longo prazo, o
governo não conseguirá manter indefinidamente a inflação acima da inflação
esperada, uma vez que os agentes aprenderam com os erros do passado. Essa
possibilidade é chamada de hipótese aceleracionista.

Percebemos, portanto, que a curva de Phillips de longo prazo é vertical, ou seja,


no longo prazo a economia situar-se-á na taxa natural de desemprego e qualquer
tentativa de reduzi-la apenas gerará inflação. Esse é o mesmo resultado a que
chegamos na curva de oferta agregada: no longo prazo, o produto situa-se em seu
nível potencial, e apenas os preços variam.
A introdução das expectativas na curva de Phillips permite-nos analisar o
fenômeno marcante da década de 70, a estagflação, que corresponde à presença
simultânea de inflação e desemprego. No arcabouço da curva de Phillips
tradicional, sem expectativas, este fenômeno não poderia ocorrer. Ao se
introduzir as expectativas, podemos explicá-los conforme a Figura 7.8. Mesmo
que estejamos convivendo com desemprego, mas as expectativas inflacionárias
sejam elevadas, poderemos ter inflação com desemprego.

Combate à inflação com expectativas adaptativas: Conforme mostra a curva de


Phillips, este tipo de regra traz uma importante consequência em termos de
sacrifício envolvido no combate inflacionário. Se os indivíduos estão sempre
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jogando a inflação do passado para o futuro, a única forma de combatê-la é fazer


com que o desemprego se situe acima da taxa natural, de modo que os
trabalhadores passem a aceitar menores reajustes salariais, fazendo com que a
inflação vá declinando e as expectativas se revertendo no futuro: com a queda da
inflação efetiva, período a período, devido ao desemprego, as expectativas
entram em trajetória declinante.
A perda de produto decorrente do combate à inflação reflete a chamada taxa de
sacrifício.

Curva de Phillips com Expectativas racionais


https://www.youtube.com/watch?v=1pxcEWlOA-o&list=PLJZlW3ik4xixAhVnY0aaTrz72XCZsygEA&index=10

De acordo com a hipótese de expectativas racionais, os agentes levam em


consideração todas as informações disponíveis, maximizando sua utilização na
formação das expectativas, inclusive aquelas relacionadas ao comportamento da
política econômica.

A existência de expectativas racionais pressupõe que os agentes econômicos não


apenas utilizam, da melhor forma possível, todas as informações disponíveis,
mas também as processam por intermédio de um paradigma de funcionamento da
economia, que é por todos partilhado. Tal paradigma é empregado para formar
ou atualizar as expectativas (CYSNE; SIMONSEN, 1995).
Em sua versão simples ou versão fraca, a hipótese de expectativas racionais pode
ser definida como os agentes fazendo o melhor uso possível das informações de
que dispõem. Neste caso, os erros do passado deixam de influir nas expectativas
do presente, uma vez que estas últimas são formadas com base no conjunto de
informações disponíveis hoje. Com isso, os agentes não incorrem em erros
sistemáticos, ou seja, os erros de diferentes períodos não são
autocorrelacionados.

No ambiente das expectativas racionais, não existiria o tradeoff entre taxa de


inflação e taxa de desemprego postulado pela Curva de Phillips, eliminando-se,
assim, o espaço de manobra para as políticas de gerenciamento da demanda, uma
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vez que a elevação de preços é imediatamente antecipada pelos agentes


econômicos. Em outras palavras, as referidas políticas só poderiam ser efetivas se
os agentes econômicos incorressem em erros sistemáticos de previsão, o que
conflitaria frontalmente com a existência de expectativas racionais.

Na versão forte da hipótese das expectativas racionais, assume-se que os agentes,


em suas expectativas, sempre acertam na média o valor efetivo da variável.
Assim, a hipótese das expectativas racionais implica:

𝐸 (𝜋 𝑒 ) = 𝜋
𝐶𝑜𝑣 𝜀𝑡 , 𝜀𝑡−1 = 0

Assim como no caso da curva de oferta agregada de Lucas, para a análise da


curva de Phillips com expectativas racionais, a política monetária não teria
qualquer impacto sobre o produto, apenas sobre os preços. Isso também valeria
para a política fiscal e para os demais modelos. Portanto, considerando
expectativas racionais, qualquer choque perfeitamente antecipado não teria
qualquer efeito sobre o produto, a curva de oferta agregada de curto prazo
também seria vertical. Apenas choques não antecipados poderiam ter algum
efeito. Ou seja, no caso da curva de Phillips considerando expectativas racionais,
eliminar-se-ia o tradeoff entre inflação e desemprego no curto prazo e esta
tornar-se-ia vertical. Se os agentes possuírem previsão perfeita, isto é, se o valor
efetivo da variável for exatamente igual ao valor esperado, no caso da curva de
Phillips, o desemprego estará sempre em sua taxa natural; no caso da oferta
agregada, o produto não se desviará do potencial. Os desvios só poderão ocorrer
devido à ocorrência de choques. Assim, se:

𝜋 = 𝜋 𝑒 − 𝜑(𝜇 − 𝜇𝑁 ) + 
e
𝜋 = 𝜋𝑒

Então, com choques aleatórios iguais a zero, 𝜇 = 𝜇𝑁 .

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Essa situação será válida mesmo que o governo tenha por objetivo alterá-la.
Qualquer política de redução de desemprego antecipada pelos agentes
transformar-se-ia em inflação.

Combate à inflação com expectativas racionais: No que diz respeito ao combate à


inflação, também há uma consequência importante. Com expectativas racionais,
pode-se eliminar a necessidade de recessão para combater a inflação, ou seja,
deixaria de existir a chamada taxa de sacrifício. Para reduzir a inflação, basta o
governo apresentar um plano consistente de combate à inflação, como por
exemplo, anunciar que estancará a emissão monetária. Caso o governo tenha
credibilidade e os agentes confiem nas medidas anunciadas e as considerem
adequadas aos fins propostos, estes reveem suas expectativas, e a inflação pode
declinar sem qualquer perda de produto.

Obs.: mesmo que vários economistas, de diferentes escolas, utilizem a hipótese


das expectativas racionais, principalmente em sua versão fraca, muitos não fazem
parte da chamada escola das expectativas racionais. De acordo com esta, além da
hipótese sobre a regra de formação das expectativas pelos agentes, considera-se
que os mercados sempre se equilibram (isto é, os preços são flexíveis) e que os
agentes formam seus preços de modo a atingir a situação de pleno emprego (com
maximização de lucros e bem-estar, ou seja, de modo a atingir uma situação de
eficiência paretiana).

Dadas estas hipóteses, a economia sempre se encontrará a pleno emprego, sem a


existência de desemprego involuntário. As flutuações que ocorrem no produto
decorrem exclusivamente da percepção equivocada ou informação imperfeita dos
agentes (trabalhadores e empresários), que confundem os sinais emitidos por uma
variação de preços.
Nessa concepção, a política monetária só poderia influir no produto se fosse um
fator surpresa, ou seja, se não fosse antecipada. Corno os agentes não incorrem
em erros sistemáticos, as surpresas não podem ser reeditadas com frequência,
assim a política monetária não pode afetar sistematicamente o nível de produto.
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Observações sobre expectativas racionais

Os fatores que afetam as expectativas são um dos temas mais discutidos em


macroeconomia. O reconhecimento de que as expectativas são essenciais para a
economia levou acadêmicos, formuladores de políticas e economistas a se
esforçarem para entender como elas são formadas. Ao longo das últimas décadas,
modelos que consideram a rigidez da informação surgiram como boas
representações da formação de expectativas, dada a sua capacidade de explicar
atributos importantes das previsões observadas.
A literatura sobre rigidez informacional propõe modelos nos quais os agentes,
embora formem expectativas racionais, estão sujeitos a alguma fonte de rigidez
informacional. Existem duas classes principais de teorias nesta literatura: (i)
modelos de informação aderente, desenvolvidos por Mankiw & Reis (2002) e
Reis (2006a, 2006b), nos quais os agentes atualizam seu conjunto de informações
com pouca frequência devido aos custos de coleta e processamento de dados; e
(ii) modelos de informação ruidosos, propostos por Woodford (2001) e Sims
(2003), nos quais os agentes atualizam continuamente seu conjunto de
informações, mas apenas observam sinais ruidosos sobre o verdadeiro estado da
economia.

As duas teorias - e outras hipóteses explicativas da formação de expectativas -


foram analisadas sob várias perspectivas. Alguns exemplos são a investigação
teórica sobre os fatores que afetam o grau de rigidez informacional, como os
custos incorridos na aquisição e processamento da informação, a instabilidade do
ambiente econômico e o grau de aversão ao risco dos agentes econômicos (Reis,
2006a, 2006b); a avaliação de como diferentes teorias aderem ao comportamento
observado das variáveis macroeconômicas e suas previsões (Coibion &
Gorodnichenko, 2011, 2012, 2015; Andrade & Le Bihan, 2013; Dupor et al.,
2010; Kitamura & Tanaka, 2019, entre outros ); e a estimação dos parâmetros
estruturais que caracterizam diferentes modelos de rigidez informacional (Khan
& Zhu, 2006; Döpke et al., 2008; Dräger & Lamla, 2012; Andrade & Le Bihan,
2013; Coibion & Gorodnichenko, 2015; Dovern et al., 2015, entre outros).
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Exemplo econométrico para a curva de Phillips


Ref.: Greene, W.H.. Econometric Analysis, 5a ed., pp. 251-252.

∆𝑝𝑡 − 𝐸 [∆𝑝𝑡 |𝜓𝑡−1 ] = 𝛽 [𝜇𝑡 − 𝜇 ∗ ] + 𝜀𝑡

Onde 𝜓𝑡−1 é um termo de informações disponíveis.


Com expectativas adaptativas, temos

∆𝑝𝑡 − ∆𝑝𝑡−1 = 𝛽 [𝜇𝑡 − 𝜇 ∗ ] + 𝜀𝑡

Considerando que 𝛽 [𝜇𝑡 − 𝜇 ∗ ] = 𝛽𝜇𝑡 − 𝛽𝜇 ∗ , e que 𝛽1 = −𝛽𝜇 ∗ , 𝛽2 = 𝛽, temos

∆𝑝𝑡 − ∆𝑝𝑡−1 = 𝛽1 + 𝛽2 𝜇𝑡 + 𝜀𝑡
Tomando dados para inflação (IPCA) obtidos no Bacen e do desemprego obtidos
no IPEADATA, de 2000-01 a 2019-01, temos a seguinte estimação via MQO.

∆𝑝𝑡 − ∆𝑝𝑡−1 = 0.0565 − 0.0038𝑢𝑡 + 𝑒𝑡


Como na taxa natural de desemprego a variação da inflação é zero e
considerando que o choque de oferta também é zero, temos:

0 = 0.0565 − 0.0038𝑢∗

Ou, como 𝛽1 = −𝛽𝜇 ∗ e 𝛽2 = 𝛽, então, a taxa natural de desemprego é 0.0565=


𝛽1 0.0565
(0.0038𝜇 ∗ ), portanto, 𝑢∗ = = = 14.86%.
−𝛽2 0.0038

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1.3. Choques de oferta


Ref.: Manual de Macro, pp. 304-306.

 Choque de oferta é um distúrbio para a economia cujo primeiro impacto é


deslocar a curva de oferta agregada.
 Incorporando os preços das matérias-primas na análise, temos:

P = W + ϴPM

Onde PM é o preço das matérias-primas


Lembrando que o salário nominal aumenta conforme a produção, a equação
anterior, então, é um relacionamento positivo entre preço e produção. Portanto,
um amento em PM desloca a curva de oferta agregada para a esquerda (para
cima).

Suponhamos uma curva de Phillips com expectativas adaptativas. Considerando-


se uma situação inicial em que a expectativa de inflação seja zero, e não haja
choques de oferta, com a taxa de desemprego igual à taxa natural, a taxa de
inflação será zero.

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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Quando ocorre o choque de oferta, a curva de Phillips desloca-se para cima (para
CP1), o que geraria uma taxa de inflação maior que zero ao nível da taxa natural
de desemprego igual a , conforme a Figura 7.11. Mas, como visto, o choque de
oferta desloca a curva de AO para trás, com P > P-1, ou seja, gerando inflação π1,
e com Y < YP, faz com que  > N (ponto A). A curva de Phillips deslocou de
CPo para CP1 por conta do choque de oferta e aumento nas expectativas de
inflação (de π0 para π1).

Notemos, porém, que se o governo não fizer nada, mantendo uma taxa de
expansão monetária igual a zero, a inflação será inferior ao que seria em N (),
com desemprego no ponto A na Figura 7.11, uma vez que Y < YP. No momento
seguinte, a expectativa inflacionária será π1, e na ausência de novos choques, e
com desemprego, a curva de Phillips desloca para uma posição intermediária
(para CP2), uma vez que mantido o desemprego (tendência é W), a taxa de
inflação será menor que a esperada, podendo inclusive ser zero (ponto B). Isso
leva as pessoas a reverem novamente suas expectativas deslocando novamente
para baixo a curva de Phillips (para CP3), que, em nosso exemplo, voltaria à
posição original. Note-se que, como ainda há desemprego, no ponto C haverá
deflação. O estoque real de moeda começa a voltar a seu nível inicial (lembrar
que ele foi corroído pela inflação) e a economia volta à posição original: taxa de
desemprego natural e inflação zero.
Já, se o governo for tentar acomodar o choque, de modo a evitar o desemprego,
terá que ampliar a taxa de emissão monetária, para fazer o desemprego ficar igual
a taxa natural, gerando uma inflação no primeiro momento igual ao choque de
oferta (). Ao ser incorporada nas expectativas, essa taxa de inflação, para manter
a economia na taxa natural de desemprego, o governo deverá manter uma taxa de
expansão monetária maior, perpetuando a inflação no novo patamar.
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1.4. Determinação do produto e da inflação


Ref.: Mankiw, pp. 439-474. Macroeconomics, 9th Edition. Worth Publishers (2016)

A Demanda Agregada Dinâmica


Lembre da Macro II que
Y=C+I+G
Y = Co +c1Y + Io – 𝑎r + Go
Y = A + c1Y – 𝑎r, (1)
onde

A => gastos autônomos => A = Co + Io + Go


𝑎 => sensibilidade do investimento à taxa de juros
c1=> propensão marginal a consumir
Resolvendo para Y
𝑌 = 𝐴 + 𝑐1𝑌 − 𝑎(𝑟)
𝑌 − 𝑐1𝑌 = 𝐴 − 𝑎(𝑟)
𝑌(1 − 𝑐1) = 𝐴 − 𝑎(𝑟)
𝐴 𝑎1
𝑌= − (𝑟)
1 − 𝑐1 1 − 𝑐1
Vamos considerar:
𝐴
= 𝜀 -> choque de demanda por bens e serviços.
1−𝑐1

𝑎1
= 𝛼 -> sensibilidade de demanda por bens e serviços a taxa de juros.
1−𝑐1

Além disso, vamos considerar o produto potencial da economia (𝑌̅) e a taxa


natural de juros na equação (𝜌). Então, temos:
𝑌𝑡 = 𝑌̅𝑡 − 𝛼 (𝑟𝑡 − 𝜌) + 𝜀𝑡 (2)
Comentários:
.  -> taxa natural de juros; se 𝜀𝑡 = 0, 𝑟𝑡 = 𝜌, e 𝑌𝑡 = 𝑌̅𝑡 .
. A política monetária atua sobre 𝑟𝑡 , e a política fiscal atua alterando a demanda para
qualquer taxa de juros. Como resultado, a variável 𝜀𝑡 captura as mudanças na política fiscal.

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Para eliminar a variável endógena 𝑟𝑡 na equação (2), a taxa real de juros, vamos
usar a Equação de Fischer,
𝑟𝑡 = 𝑖𝑡 − 𝐸𝑡 𝜋𝑡+1
Então, podemos reescrever a equação (2) como
𝑌𝑡 = 𝑌̅𝑡 − 𝛼 (𝑖𝑡 − 𝐸𝑡 𝜋𝑡+1 − 𝜌) + 𝜀𝑡 (3)
Para eliminar outra variável endógena, a taxa nominal de juros 𝑖𝑡 , na equação (3),
vamos utilizar uma equação de política monetária, como segue:
𝑖𝑡 = 𝜋𝑡 + 𝜌 + 𝜃𝜋 (𝜋𝑡 − 𝜋𝑡∗ ) + 𝜃𝑌 (𝑌𝑡 − 𝑌̅𝑡 )
Nesta equação, 𝜋𝑡∗ é a meta de inflação. Dois parâmetros-chave de política são𝜃𝜋
e 𝜃𝑌 , ambos considerados maiores que zero. Eles indicam o quanto o banco
central permite que a meta da taxa de juros responda às flutuações da inflação e
do produto. Quanto maior o valor de 𝜃𝜋 , mais responsivo é o banco central ao
desvio da inflação de sua meta; quanto maior o valor de 𝜃𝑌 , mais responsivo é o
banco central ao desvio do produto de seu nível natural.
Por que não usamos a oferta de moeda como instrument de política monetária
aqui em nosso modelo? Supõe-se que o banco central estabeleça uma meta para a
taxa de juros nominal. Em seguida, ajusta a oferta monetária para qualquer nível
necessário para garantir que a taxa de juros de equilíbrio (que equilibra a oferta e
a demanda monetária) atinja a meta.
A principal vantagem de usar a taxa de juros, em vez da oferta de moeda, como
instrumento de política no modelo AD-AS dinâmico é que ela é mais realista.
Substituindo a taxa nominal de juros na equação (3), temos
𝑌𝑡 = 𝑌̅𝑡 − 𝛼 (𝜋𝑡 + 𝜌 + 𝜃𝜋 (𝜋𝑡 − 𝜋𝑡∗ ) + 𝜃𝑌 (𝑌𝑡 − 𝑌̅𝑡 ) − 𝐸𝑡 𝜋𝑡+1 − 𝜌) + 𝜀𝑡 (4)

Por fim, para eliminarmos a variável endógena 𝐸𝑡 𝜋𝑡+1 , e de forma a manter o


modelo simples, vamos considerar o caso de expectativas adaptativas, então
𝐸𝑡 𝜋𝑡+1 = 𝜋𝑡
A suposição de expectativas adaptativas simplifica muito a exposição da teoria
sem perder muitos dos insights do modelo.
Substituindo 𝐸𝑡 𝜋𝑡+1 em (4), temos
𝑌𝑡 = 𝑌̅𝑡 − 𝛼 (𝜋𝑡 + 𝜌 + 𝜃𝜋 (𝜋𝑡 − 𝜋𝑡∗ ) + 𝜃𝑌 (𝑌𝑡 − 𝑌̅𝑡 ) − 𝜋𝑡 − 𝜌) + 𝜀𝑡 (5)
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Podemos simplificar a equação (5), cortando 𝜋𝑡 e 𝜌.


𝑌𝑡 = 𝑌̅𝑡 − 𝛼[𝜃𝜋 (𝜋𝑡 − 𝜋𝑡∗ ) + 𝜃𝑌 (𝑌𝑡 − 𝑌̅𝑡 )]+𝜀𝑡 (6)
Colocando a equação (6) em termos de 𝑌𝑡 , temos
𝛼𝜃 1
𝑌𝑡 = 𝑌̅𝑡 − [(1+𝛼𝜃𝜋 )] (𝜋𝑡 − 𝜋𝑡∗ ) + [(1+𝛼𝜃 )] 𝜀𝑡 (7)
𝑌 𝑌

Agora, o modelo tem apenas duas variáveis endógenas, 𝑌𝑡 e 𝜋𝑡 , para os valores


dados de três variáveis exógenas (𝑌̅𝑡 , 𝜋𝑡∗ , e 𝜀𝑡 ).
A equação (7) é nossa equação de demanda agregada dinâmica.
De (7), o produto é igual ao nível natural do produto quando a inflação está na
meta (𝜋𝑡 = 𝜋𝑡∗ ) e não há choque de demanda (𝜀𝑡 = 0). A produção sobe acima de
seu nível natural se a inflação estiver abaixo da meta (𝜋𝑡 < 𝜋𝑡∗ ) ou se o choque
de demanda for positivo (𝜀𝑡 > 0). A produção cai abaixo de seu nível natural se a
inflação estiver acima da meta (𝜋𝑡 > 𝜋𝑡∗ ) ou se o choque de demanda for
negativo (𝜀𝑡 < 0).
Observação: de (6) para (7)
𝑌𝑡 = 𝑌̅𝑡 − 𝛼[𝜃𝜋 (𝜋𝑡 − 𝜋𝑡∗ ) + 𝜃𝑌 (𝑌𝑡 − 𝑌̅𝑡 )]+𝜀𝑡
𝑌𝑡 + 𝛼𝜃𝑌 𝑌𝑡 = 𝑌̅𝑡 − 𝛼𝜃𝜋 (𝜋𝑡 − 𝜋𝑡∗ ) + 𝛼𝜃𝑌 𝑌̅𝑡 ]+𝜀𝑡
𝑌𝑡 (1 + 𝛼𝜃𝑌 ) = 𝑌̅𝑡 (1 + 𝛼𝜃𝑌 ) − 𝛼𝜃𝜋 (𝜋𝑡 − 𝜋𝑡∗ ) + 𝜀𝑡
𝛼𝜃𝜋 1
𝑌𝑡 = 𝑌̅𝑡 − [ ] (𝜋𝑡 − 𝜋𝑡∗ ) + [ ]𝜀
(1 + 𝛼𝜃𝑌 ) (1 + 𝛼𝜃𝑌 ) 𝑡

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A curva de demanda agregada dinâmica se inclina para baixo devido ao seguinte


mecanismo: quando a inflação sobe, o banco central responde seguindo sua regra
e aumentando a taxa nominal de juros. Como a regra especifica que o banco
central aumenta a taxa de juros nominal mais do que o aumento da inflação, a
taxa de juros real também aumenta. O aumento da taxa de juros real reduz a
quantidade demandada de bens e serviços. Essa associação negativa entre
inflação e quantidade demandada, atuando por meio da política do banco central,
faz com que a curva dinâmica de demanda agregada se incline para baixo.

A curva de demanda agregada dinâmica muda em resposta a mudanças na


política fiscal e monetária. Como observamos anteriormente, a variável de
choque reflete mudanças nos gastos e impostos do governo (entre outras coisas).
Qualquer mudança na política fiscal que aumente a demanda por bens e serviços
significa um valor positivo de e um deslocamento da curva DAD para a direita.
Qualquer mudança na política fiscal que diminua a demanda por bens e serviços
significa um valor negativo de 𝜀𝑡 e um deslocamento da curva DAD para a
esquerda.

A política monetária entra na curva de demanda agregada dinâmica por meio da


meta de taxa de inflação (𝜋𝑡∗ ). A equação DAD mostra que, tudo o mais
constante, um aumento de 𝜋𝑡∗ aumenta a quantidade demandada de produto.
(Existem dois sinais negativos antes de 𝜋𝑡∗ , então o efeito é positivo.) Aqui está o
mecanismo que está por trás desse resultado matemático: quando o banco central
aumenta sua meta de inflação, ele segue uma política monetária mais
expansionista reduzindo a taxa de juros nominal, conforme ditada pela regra de
política monetária. Para qualquer taxa de inflação dada, a taxa de juros nominal
mais baixa, por sua vez, significa uma taxa de juros real mais baixa, e uma taxa
de juros real mais baixa estimula o gasto com bens e serviços. Assim, a produção
é maior para qualquer taxa de inflação dada, de modo que a curva de demanda
agregada dinâmica se desloca para a direita. Por outro lado, quando o banco
central reduz sua meta de inflação, ele aumenta as taxas de juros nominais e
reais, reduzindo a demanda por bens e serviços e deslocando a curva de demanda
agregada dinâmica para a esquerda.

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A Oferta Agregada Dinâmica


Curva de Phillips
𝜋𝑡 = 𝜋𝑡−1 + 𝜑(𝑌𝑡 − 𝑌̅𝑡 ) + 𝑣𝑡 (8)
Neste caso, por questões de simplicidade do modelo, estamos considerando
expectativas adaptativas.|
A equação (8) é nossa equação de oferta agregada dinâmica.

A curva DAS é desenhada para valores dados de inflação passada 𝜋𝑡−1 , o nível
natural de produção 𝑌̅𝑡 , e o choque de oferta 𝑣𝑡 . Se qualquer uma dessas três
variáveis mudar, a curva DAS muda.

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Equilíbrio de Curto Prazo

O equilíbrio de curto prazo da economia é determinado pela interseção da curva


de demanda agregada dinâmica e a curva de oferta agregada dinâmica. A
economia pode ser representada algebricamente usando as duas equações que
acabamos de derivar:

𝛼𝜃 1
𝑌𝑡 = 𝑌̅𝑡 − [(1+𝛼𝜃𝜋 )] (𝜋𝑡 − 𝜋𝑡∗ ) + [(1+𝛼𝜃 )] 𝜀𝑡 (7) – DAD
𝑌 𝑌

𝜋𝑡 = 𝜋𝑡−1 + 𝜑(𝑌𝑡 − 𝑌̅𝑡 ) + 𝑣𝑡 (8) – DAS

Em qualquer período t, essas equações juntas determinam duas variáveis


endógenas: a inflação 𝜋𝑡 e o produto 𝑌𝑡 . A solução depende de outras cinco
variáveis que são exógenas (ou pelo menos determinadas antes do período t).
Essas variáveis exógenas (e predeterminadas) são o nível natural de produção 𝑌̅𝑡 ,
a meta de inflação do banco central 𝜋𝑡∗ , o choque na demanda 𝜀𝑡 , o choque na
oferta 𝑣𝑡 , e a taxa de inflação do período anterior 𝜋𝑡−1 .

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Equilíbrio de Longo Prazo


Vamos agora usar o modelo AD-AS dinâmico para analisar como a economia
responde a mudanças nas variáveis exógenas. As quatro variáveis exógenas do
modelo são o nível natural de produção 𝑌̅𝑡 , o choque de oferta 𝑣𝑡 , o choque de
demanda 𝜀𝑡 , e a meta de inflação do banco central 𝜋𝑡∗ . Para simplificar,
assumimos que a economia sempre começa em equilíbrio de longo prazo e está
sujeita a uma mudança em uma das variáveis exógenas. Também assumimos que
as outras variáveis exógenas são mantidas constantes.

1 – Crescimento no Longo-prazo

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2 – Choque de oferta

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3 – Choque de demanda agregada

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4 – Mudança na política monetária

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2. Introdução aos ciclos econômicos


https://www.youtube.com/watch?v=f1JhzPYzVyw

Entender as causas das flutuações econômicas é um objetivo central da


macroeconomia.

Segundo Romer (Advanced Macroeconomics, 3ª. edition): um primeiro fator


importante é que flutuações não exibem qualquer padrão regular ou cíclico; um
segundo fator é o de que as flutuações são distribuídas muito desigualmente
sobre os componentes do produto; e um terceiro conjunto de fatores envolve a
assimetria nos movimentos do produto.

2.1. A visão keynesiana


Ref.: Manual de Macro, pp. 321-324
Macroeconomia, Simonsen e Cysne, pp. 646-648.
A macroeconomia está preocupada com as flutuações econômicas. Isso porque os
principais objetivos de políticas macroeconômicas são a busca de: (i)
crescimento do produto; (ii) redução do desemprego; (iii) estabilidade de preços;
e (iv) melhor distribuição de renda.
Keynes colocou as variações do investimento decorrentes das mudanças de
expectativas dos empresários em relação ao futuro na chamada Eficiência
Marginal do Capital, como principal causa das alterações na demanda agregada
e, por conseguinte da renda, e com a hipótese de salários rígidos, as variações da
demanda passavam a afetar o produto e não apenas os preços.
 Comportamento cíclico da economia por meio do chamado Ciclo dos
Estoques (desenvolvido por Lloyd Metzler na década de 1950).
Um aumento inesperado da demanda agregada leva ao aumento da produção e a
uma redução dos estoques, o inverso ocorrendo em caso de uma contração da
demanda; no instante seguinte, as empresas deverão produzir para atender à
maior demanda e para reporem os estoques. Esse comportamento fará, em
determinado momento, a produção situar-se inclusive acima do novo produto de
equilíbrio e em outros abaixo, ou seja, a passagem de uma situação de equilíbrio
para outra é feita de forma cíclica e não direta, conforme no modelo do
multiplicador simples.
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Quando introduzimos a questão dos estoques, consideramos que as firmas têm


por objetivo manterem uma parcela fixa do produto na forma de estoques.

Variações inesperadas da demanda agregada provocam inicialmente tanto


variações na produção quanto no nível de estoques.

As alterações no nível de estoques afetam as decisões de produção das firmas,


que agora devem produzir tanto para atender os níveis existentes de demanda
quanto as necessidades impostas pela política de manutenção de estoques da
firma.

(1) Yt = Ct + It + ∆estoquest-1

• O investimento (I) depende das expectativas (animal spirits);

Assumindo que os empresários esperam que o consumo (C) no período t seja


igual ao consumo no período anterior (t-1), temos:

Ct = Ct-1= C1Yt-1

• A variação de estoques em certo período é dada pela seguinte expressão:

(2) ∆estoquest-1 = C1Yt-1 – C1Yt-2

• Se o consumo no perído anterior for igual ao consumo no período atual, a


variação de estoques será zero.

• No caso de uma variação inesperada no nível de renda (Y) e no consumo (C), as


empresas que desejam manter certo nível de estoques irão produzir tanto para
atender a demanda como para repor estoques.

(3) Y = C + I + ∆estoques

Yt = C1Yt-1+ (C1Yt-1 – C1Yt-2) + It

Yt = 2C1Yt-1 – C1Yt-2+ It

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• Com base em igualdade (2), percebe-se que a economia só estará em equilíbrio


quando Yt-1 = Yt-2, de modo que a variação de estoques seja zero, ou seja, quando
não há variação na demanda (se Yt-1 = Yt-2, temos que Yt = C1Yt-1 + It , ou seja,
como C1Yt-1 = Ct e ∆estoquest-1 = 0, essa igualdade é a mesma em (1).

Como uma variação inesperada da demanda leva à mudança no nível de


estoques, isso determina um caráter cíclico de aproximação à nova renda (Y) de
equilíbrio.

• O enfoque keynesiano sobre as flutuações econômicas centrou-se


principalmente nas oscilações do investimento em decorrência das alterações no
comportamento dos empresários (animal spirits) - Investimento autônomo.

Flutuações decorrem de variações nos gastos autônomos.

Essa foi uma das explicações para a crise dos anos 30. Outra forma de ver aquela
flutuação era uma queda do consumo autônomo, em decorrência de uma
desvalorização da riqueza, provocada pela queda da Bolsa em 1929.

Importante destacar que as flutuações decorrem de perturbações que afetam os


gastos autônomos. Keynes propõe que o Estado atue como regulador da demanda
agregada, utilizando-se de políticas econômicas.

A principal crítica, de Friedman, considera a política econômica como a principal


fonte de instabilidade.

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Supondo DA = C + I e C = 100 + 0.8Y e I = 140. Com I aumentando em 60,


temos: DA = 100 + 0,8Y + 200. Considere estoque desejado igual 10% da DA.

Arquivo Excel: ciclo dos estoques.xlsx


 Modelo multiplicador-acelerador
Neste modelo, o investimento é determinado de acordo com a variação da
produção ocorrida no período anterior.
I = I0 + dY-1
I = I0 + d(Y-1 – Y-2)
Onde 0 < d < 1.
Considerando o consumo igual a C = C1Y-1 e Y = C + I, temos:
Y = C1Y-1 + I0 + d(Y-1 – Y-2)
Se em dado momento ampliamos o investimento autônomo, teremos um
crescimento do produto em relação ao nível anterior. Isso, por sua vez, levará a
crescimentos adicionais do investimento, cujos impactos adicionais só irão
diminuindo conforme for diminuindo a variação da renda – lembre: o
multiplicador (d) é menor do que 1.
O equilíbrio só será atingido quando Y-1 = Y-2. Novamente, explica-se o caráter
cíclico do ajustamento entre as duas situações de equilíbrio.
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2.2. Novas teorias clássicas e o ciclo real de negócios


Ref.: Manual de Macro, pp. 324-329.

Percepção equivocada e flutuações econômicas

Nós vimos que a escola monetarista e a escola novo clássica criticam políticas de
estabilização. Pela escola monetarista, a questão da existência de uma taxa
natural de desemprego (produto potencial) e pela escola novo clássica,
implicações das expectativas racionais: variações previstas na oferta de moeda
não afetam a produção; apenas as mudanças imprevistas o fariam. Lucas
formalizou a ideia de Friedman – considera a política econômica como a
principal fonte de instabilidade. Tal pensamento era fundado na ideia de que
choques na demanda agregada eram a principal fonte de instabilidade.

A principal fonte de instabilidade econômica são os choques de política


econômica, ou seja, o governo mais instabiliza do que estabiliza a economia.
(veja a dinâmica de equilíbrio no gráfico da página 45 – uma hora o produto está
acima do potencial, outra hora está abaixo).

Ao invés de choques de demanda agregada para tentar alcançar metas de nível de


emprego, Friedman e Lucas defendiam a ideia do uso da oferta agregada para
alcançar tais metas.

Os teóricos do ciclo econômico real foram muito mais longe em sua análise do
lado da oferta. Kydland e Prescott (1982) iniciou um “marco II” da
macroeconomia novo clássica.

Hartley et al. (1998) apontam a existência de um censo comum de que booms são
bons enquanto que quedas são ruins. Com base nesse pensamento, em períodos
de queda, a política de estabilização se faz necessária. Teóricos do ciclo real dos
negócios rejeitam essa visão de falha de mercado. Enquanto recessões não são
desejáveis, elas representam o produto agregado de resposta a inevitáveis
mudanças nas restrições que os agentes encaram. Dadas essas restrições, os
agentes reagem de maneira otimizada e os resultados do mercado exibindo
flutuações agregadas são eficientes. Não há necessidade de os economistas
recorrerem à análise de desequilíbrio, falha de coordenação, rigidez de preços,
choques monetários e financeiros e noções como incerteza fundamental para
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explicar a instabilidade agregada. Em vez disso, os teóricos podem fazer uso do


modelo de crescimento neoclássico básico para entender o ciclo de negócios,
uma vez que se permite a aleatoriedade na taxa de progresso tecnológico. Nesse
cenário, o ciclo de negócios surge como o resultado agregado da maximização
das decisões tomadas por todos os agentes que povoam uma economia.

A Nova Macroeconomia – Passeio Aleatório do PIB


Os estudos de séries do PIB motivaram novas tentativas de explicação conjunta
para os fenômenos de crescimento e de flutuações (desvios da tendência). O
resultado foi deslocar as explicações que vinham do lado dos choques de
demanda para o lado dos determinantes da oferta (Lucas, 1972 e 1975; Kydland e
Prescott, 1982). Essa visão beneficiou-se de novas técnicas econométricas e de
modelos de simulação.

Lógica do modelo: A questão central é: as flutuações do produto são, na sua


maioria, transitórias ou permanentes? Se forem permanentes, a demanda
agregada (o cerne da teoria Keynesiana) não pode ser muito importante. Por quê?
Porque segundo o modelo OA-DA, o efeito de choques de demanda desaparece
no médio prazo, e, portanto, se os choques deixam efeitos permanentes, eles não
são choques de demanda, mas choques de oferta.

. Nelson e Plosser (1982)  sua pesquisa com dados dos EUA mostra que não se
pode rejeitar a hipótese que o PIB segue um random walk. A visão de que
flutuações cíclicas reversíveis podem explicar a maioria dos movimentos de
curto prazo do PIB real pode ser representado pela equação:
Yt = at + bYt-1 + et
A visão de flutuações cíclicas reversíveis trabalha com a hipótese de que 0 < b < 1.
Neste caso o produto é dito “trend-reverting” ou “trend-stationary”.
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Em contraste ao trend-stationary, Nelson e Plosser argumentam que a maioria


das mudanças no PIB que observamos é permanente, na medida em que não há
propensão de o produto reverter à sua tendência anterior após um choque. Neste
caso, diz-se que o PIB evolui como um processo estatístico conhecido como
passeio aleatório, representado pela equação de um random walk com drift:
Yt = at + Yt-1 + et
Veja arquivo: gráfico random walk pib - nelson e plosser.xlsx

Se os choques no crescimento da produtividade devido a mudanças tecnológicas


forem frequentes e aleatórios, então o caminho do produto seguindo um passeio
aleatório apresentará características que se assemelham a um ciclo de negócios.
Neste caso, no entanto, as flutuações observadas no PIB são flutuações na taxa
natural (tendência) do produto, não desvios do produto de uma tendência
determinística suave. O que parece ser o produto flutuando em torno de uma
tendência suave são, na verdade, flutuações na taxa natural do produto induzidas
por uma série de choques permanentes, com cada choque permanente de
produtividade determinando uma nova trajetória de crescimento.

Ofereceram um desafio, sugerindo que a tendência não é tão suave, mas está
sujeita a choques grandes e frequentes que têm um efeito permanente no nível do
PIB. Se a visão de Nelson e Plosser estiver correta, choques de demanda
agregados - que são transitórios - são menos importantes que choques de oferta
agregados - que podem ser permanentes.

Uma visão alternativa da evidência é que existem episódios ocasionais de


grandes choques permanentes na oferta agregada, mas que entre esses episódios
predominam choques na demanda agregada.

. Tais estudos ainda inspiraram a teoria do RBC (Ciclos Econômicos Reais).

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Ciclos reais de negócios

Essa teoria busca explicar os ciclos dos negócios com base no referencial
clássico. Considera-se em primeiro lugar que os choques tecnológicos são os
principais distúrbios a que estão sujeitas as economias, e que estes choques
propagam-se em mercados concorrenciais, com o que a economia encontra-se
sempre no nível de pleno emprego, isto é, os preços são perfeitamente flexíveis,
garantindo o equilíbrio econômico.

Choque tecnológico => amplia a produtividade do trabalho, levando a um


aumento na demanda por mão-de-obra.

Choque Tecnológico=> produtividade marginal do capital=> I=>estoque de


capital=> com a alteração da dotação de fatores da economia, desloca-se a
tendência em torno da qual passa a oscilar o produto.

Do lado da oferta, podemos imaginar uma variedade de choques que podem


resultar em mudanças significativas na produtividade:

1. Desenvolvimentos desfavoráveis do ambiente físico que afetam negativamente


a produção agrícola. Este tipo de choque inclui desastres naturais como
terremotos, secas e inundações;
2. Mudanças significativas no preço da energia, como as "altas" do preço do
petróleo em 1973 e 1979 e a subsequente redução em 1986. James Hamilton
(1983, 1996) argumentou que a maioria das recessões nos EUA desde 1945
foram precedidas por um aumento no preço da energia;
3. Guerra, agitação política ou agitação laboral que perturba o desempenho e
estrutura da economia, como a ruptura vivida na ex-Iugoslávia e União Soviética,
e mais recentemente no Iraque, ou as greves e distúrbios trabalhistas no Reino
Unido durante os anos 1970 e 1984;
4. Regulamentações governamentais como cotas de importações, que prejudicam
os incentivos e desviam o talento empresarial para atividades rentistas;
5. Choques de produtividade gerados por mudanças na qualidade dos insumos de
capital e trabalho, novas práticas de gestão, desenvolvimento de novos produtos e
introdução de novas técnicas de produção. É possível vislumbrar a ampliação do
produto potencial decorrente do choque tecnológico, mas torna-se necessário
explicar como ocorre a queda. Para tal, os autores que defendem esta teoria
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consideram a existência de choques tecnológicos negativos que reduzem a


produtividade dos fatores, diminuindo o produto potencial. Entre os chamados
choques negativos, poderíamos citar, por exemplo, a legislação ambiental,
problemas climáticos, etc. Com a introdução dos choques negativos, explica-se
tanto a expansão quanto a contração econômica.

Oferta de mão-de-obra (Lucas e Rapping, 1969) => substituição intertemporal na


oferta de mão-de-obra, isto é, os trabalhadores escolhem o melhor momento para
exercerem a oferta de trabalho.

Um choque tecnológico que aumente a produtividade leva a (W/P), motivada


pelo aumento na demanda por mão-de-obra => aumenta oferta de trabalho =>
Y.
A taxa de juros também afeta a quantidade ofertada de mão-de-obra (obs.: então,
a política fiscal, que acaba alterando a taxa de juros, por afetar o nível do
produto).

O trabalhador, ao decidir quando deve ofertar de trabalho, deve comparar o


salário em diferentes momentos de tempo. Considere inflação igual a zero.

Preço relativo intertemporal = [(1 + r)W1]/W2

. quando a relação é maior do que 1 => é preferível oferecer trabalho hoje;


. quando a relação é menor do que 1 => é melhor oferecer trabalho no futuro.

Desta forma, são três as possibilidades para se ampliar a oferta de trabalho no


presente (considerando inflação igual a zero, sem perda de generalidade): um
aumento da taxa de juros; um aumento do salário no período 1; ou uma queda do
salário no período 2.

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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Observações:

. No caso dos choques tecnológicos, desloca-se tanto a curva de oferta agregada


devido à maior produtividade, quanto a demanda agregada, pelo crescimento do
investimento em resposta ao choque. Deve-se apenas notar neste caso o seguinte:
o nível de preços pode ter qualquer comportamento: aumentar, caso o
deslocamento da demanda seja maior do que o da oferta; permanecer estagnado,
caso os dois deslocamentos sejam equivalentes, e reduzir caso o deslocamento da
oferta seja maior;

. A ampliação do produto aumenta a demanda por moeda, mantida a mesma


oferta monetária; como estamos considerando também a variação da demanda
agregada, o nível de preços pode não se reduzir significativamente, ou até mesmo
subir (neste caso, reduzindo a oferta real de moeda). Como a renda subiu, a taxa
de juros terá que se elevar para equilibrar o mercado monetário. Neste caso,
amplia-se a oferta de trabalho, o que contribui, junto com a maior produtividade,
para explicar o crescimento do produto.

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2.3. Os novos-keynesianos e a rigidez de preços


Ref.: Manual de Macro, pp. 329-330.
Snowdon and Vane, pp. 363-411
Embora o termo “novo keynesiano” tenha sido usado pela primeira vez por
Parkin e Bade em 1982 em seu livro sobre macroeconomia moderna (1982b),
fica claro que essa linha de pensamento foi concebida na década de 1970, durante
a primeira fase da nova revolução clássica. A florescente nova literatura
keynesiana, desde então, tem se preocupado principalmente com a “busca de
modelos rigorosos e convincentes de rigidez de salários e/ou preços baseados na
maximização do comportamento e expectativas racionais” (Gordon, 1990). A
nova economia keynesiana se desenvolveu em resposta à crise teórica percebida
dentro da economia keynesiana que havia sido exposta por Lucas durante a
década de 1970. A tarefa primordial dos teóricos keynesianos é remediar as
falhas e inconsistências teóricas do antigo modelo keynesiano. Portanto, os novos
teóricos keynesianos pretendem construir uma teoria coerente da oferta agregada
onde a rigidez dos salários e dos preços possa ser racionalizada.
Mankiw e Romer (1991) definem a nova economia keynesiana com referência a
responder uma teoria particular, dado o seguinte par de perguntas:
Questão 1 A teoria viola a dicotomia clássica? Ou seja, é dinheiro não neutro?
Questão 2 A teoria assume que as imperfeições reais do mercado na economia
são cruciais para a compreensão das flutuações econômicas?
Das escolas regulares, apenas os novos keynesianos respondem afirmativamente
a ambas as questões. As não-neutralidades surgem de preços rígidos, e as
imperfeições do mercado explicam esse comportamento dos preços. Assim, de
acordo com Mankiw e Romer, é a “interação de imperfeições nominais e reais”
que distingue a nova economia keynesiana dos outros programas de pesquisa em
macroeconomia. Em contraste, os primeiros modelos de ciclos de negócios reais
deram uma resposta negativa a ambas as questões.
A maioria dos novos modelos keynesianos assume que as expectativas são
formadas racionalmente. Esta é claramente uma área em que a nova revolução
clássica da década de 1970 teve um efeito profundo sobre os macroeconomistas
em geral. No entanto, alguns keynesianos proeminentes (Blinder, 1987b; Phelps,
1992), bem como alguns economistas da escola monetarista ortodoxa (Laidler,
1992b) permanecem críticos dos fundamentos teóricos e questionam o suporte
empírico para a hipótese das expectativas racionais. Assim, embora a
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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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incorporação de expectativas racionais em novos modelos keynesianos seja a


norma, isso nem sempre precisa ser o caso.
Os novos keynesianos aceitam que a fonte dos choques que geram distúrbios
agregados pode surgir do lado da oferta ou do lado da demanda. No entanto, os
novos keynesianos argumentam que existem atritos e imperfeições dentro da
economia que amplificarão esses choques, resultando em grandes flutuações na
produção real e no emprego. A questão importante para os novos keynesianos
não é tanto a fonte dos choques, mas como a economia responde a eles.
Como dito, o referencial novo keynesiano incorpora imperfeições de mercado e
rigidez que podem ser nominais e reais. Vejamos, então, as questões referentes à
rigidez nominal e rigidez real.

Rigidez Nominal
Tanto a abordagem ortodoxa keynesiana, quanto a nova keynesiana, assumem
que os preços se ajustam lentamente após uma perturbação. Mas, ao contrário das
abordagens da cruz keynesiana, ou IS-LM, que assumem arbitrariamente salários
e preços nominais fixos, a nova abordagem keynesiana busca fornecer uma base
microeconômica para o lento ajuste de salários e preços. Em linha com a
estrutura teórica de escolha da nova análise clássica, a nova abordagem
keynesiana assume que trabalhadores e empresas fazem uso da utilidade racional
e são maximizadoras de lucro, respectivamente. Porém, os novos clássicos
adotam o modelo de leilão de preço flexível e o aplicam à análise de transações
realizadas em todos os mercados, inclusive no mercado de trabalho. Em
contraste, os novos keynesianos argumentam que é importante usar a distinção
hicksiana (1974) entre mercados que são essencialmente de preço fixo,
predominantemente o mercado de trabalho e uma grande parte do mercado de
bens, e mercados que são de preço flexível, predominantemente financeiro e
mercados de commodities. Nos mercados de preço fixo, a fixação de preços é a
norma, sendo a inércia de preços e salários uma realidade. Para gerar não-
neutralidade monetária (efeitos reais), os modelos keynesianos baseiam-se na
incapacidade dos salários e preços nominais de se ajustarem prontamente aos
seus novos níveis de equilíbrio de mercado após uma perturbação da demanda
agregada. Os keynesianos têm tradicionalmente concentrado sua atenção sobre o
mercado de trabalho e a rigidez dos salários nominais para explicar a evolução do
mercado para o equilíbrio de pleno emprego.
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No entanto, é importante notar que, para qualquer trajetória da demanda agregada


nominal, é o preço, não o salário, a rigidez necessária para gerar flutuações no
produto real. Desde que os lucros sejam bastante flexíveis, os preços nominais
podem se ajustar para imitar exatamente as mudanças na demanda agregada
nominal, deixando o produto real inalterado (ver Gordon, 1990). Não obstante, a
primeira onda da nova reação keynesiana à nova crítica clássica concentrou-se na
rigidez nominal dos salários.

Rigidez nominal dos salários


As primeiras tentativas keynesianas de fortalecer sua estrutura teórica
concentraram-se na rigidez nominal dos salários, e os modelos desenvolvidos por
Fischer (1977) e Taylor (1980) introduziram a inércia nominal na forma de
contratos salariais de longo prazo. Nas economias desenvolvidas, os salários não
são determinados em mercados à vista, mas tendem a ser fixados por um período
acordado na forma de um contrato explícito (ou implícito). A existência desses
contratos de longo prazo pode gerar rigidez nominal dos salários nominais
suficiente para que a política monetária recupere sua eficácia. Deve-se notar, no
entanto, que nem Fischer, nem Phelps e Taylor4, pretendem ter uma
microfundamentação rigorosa para suas premissas de fixação de preços e
salários. Em vez disso, eles assumem como certo que há uma “preferência
revelada” por contratos salariais de longo prazo refletindo as desvantagens
percebidas que acompanham ajustes muito frequentes em salários e preços (para
uma tentativa inovadora de explicar a inflexibilidade nominal dos salários, ver
Laing, 1993).
Análise de Fischer

4
Fischer (1977) e Phelps e Taylor (1977) mostraram que as perturbações nominais eram capazes de produzir efeitos reais em
modelos que incorporam expectativas racionais, desde que a suposição de um “market clearing” fosse descartada (ver também
Buiter, 1980).
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The economy is initially operating at point A.


Suppose in the current period an unexpected
nominal demand shock occurs (such as a fall in
velocity) which shifts the aggregate demand curve
from AD0 to AD1. If prices are flexible but
nominal wages are temporarily rigid (and set =
W0) as the result of contracts negotiated in the
previous period and which extend beyond
the current period, the economy will move to point
B, with real output falling from YN to Y1. With
flexible wages and prices the short-run aggregate
supply curve would shift down to the right from
SRAS (W0) to SRAS (W1), to reestablish the
natural rate level of output at point C. However,
the existence of long-term nominal wage contracts
prevents this and provides the monetary authorities
with an opportunity to expand the money supply
which, even if anticipated, shifts the AD curve to
the right and re-establishes equilibrium at point A.

• Sindicatos → Negociam a favor de seus membros e não da classe trabalhadora


como um todo, e resistem às quedas de salário (↓W);

• Contratos Implícitos → Em economia, contratos implícitos referem-se a


acordos de longo prazo. Impedem ajustes rápidos de salário (W), desequilibrando
o mercado de trabalho.

De acordo com Phelps (1985, 1990) existem vantagens privadas tanto para as
empresas como para os trabalhadores ao celebrarem contratos salariais de longo
prazo:

1. As negociações salariais custam caro tanto para os trabalhadores quanto para


as empresas. A pesquisa deve ser realizada com respeito à estrutura das
relatividades salariais tanto dentro como fora da organização negociadora. Além
disso, são necessárias previsões em relação às prováveis trajetórias futuras de
variáveis-chave, como produtividade, inflação, demanda, lucros e preços. Quanto
mais longo for o período do contrato, menor será a frequência com que esses
custos de transação são incorridos e, em qualquer caso, a administração sempre
tenderá a preferir um cronograma pré-estabelecido para lidar com as questões
complexas associadas às negociações salariais.

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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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2. Sempre existe a possibilidade de tais negociações fracassarem, com os


trabalhadores sentindo que podem precisar recorrer à greve para fortalecer sua
posição de barganha. Essa ruptura é cara tanto para as empresas quanto para os
trabalhadores.

3. Não será uma estratégia ótima para uma empresa 'saltar' seus salários para o
novo equilíbrio 'último' após um choque de demanda negativo, porque se outras
empresas não fizerem o mesmo, a empresa terá reduzido seu salário relativo, o
que provavelmente aumentará a rotatividade de mão de obra, o que é caro para a
empresa.

Rigidez nominal de preços

Os modelos keynesianos baseados na contratação nominal de salários logo foram


alvo de críticas consideráveis (ver Barro, 1977b). Os críticos apontaram que a
existência de tais contratos não é explicada a partir de sólidos princípios
microeconômicos. Outro problema diz respeito à trajetória anticíclica do salário
real em modelos com contratos de salários nominais. No modelo de Fischer, uma
expansão monetária aumenta o emprego ao diminuir o salário real. No entanto,
como vimos, os fatos estilizados do ciclo de negócios não fornecem um forte
suporte para essa implicação, uma vez que os salários reais parecem ser
levemente pró-cíclicos (ver Mankiw, 1990). De fato, foi essa questão que
convenceu Mankiw (1991) de que modelos rígidos de salários nominais faziam
pouco sentido. Uma combinação de firmas tomadoras de preços, tecnologia de
produção neoclássica e salários nominais rígidos implica que as contrações da
demanda agregada estarão associadas a um aumento do salário real, ou seja, os
salários reais se movem de forma anticíclica. Como observa Mankiw, se esse
fosse o caso, as recessões seriam “bastante populares”. Enquanto muitas pessoas
serão demitidas, a maioria das pessoas que permanecerem empregadas desfrutará
de um salário real mais alto! “Se os altos salários reais acompanhassem o baixo
emprego, como a Teoria Geral e meus professores me ensinaram, então a maioria
das famílias gostaria de desacelerar a economia”. Então, “foi pensar no quebra-
cabeça do salário real que originalmente me interessou em pensar sobre as
imperfeições nos mercados de bens e, eventualmente, sobre empresas
monopolisticamente competitivas que enfrentam custos de menu” (Mankiw,
1991, pp. 129-30).

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Como resultado dessas e de outras críticas, alguns economistas, simpatizantes da


visão keynesiana de que os ciclos econômicos podem ser causados por flutuações
da demanda agregada, voltaram sua atenção para a rigidez nominal do mercado
de bens, em vez de continuar com a pesquisa sobre a inércia nominal dos salários
(Andersen, 1994). De fato, o termo “novo keynesiano” surgiu em meados da
década de 1980 como uma descrição dessas novas teorias que tentaram fornecer
microfundamentos mais sólidos para o fenômeno da rigidez nominal dos preços
(ver Rotemberg, 1987). Deste ponto de vista, a “nova ideia fundamental por trás
dos novos modelos keynesianos é a da competição imperfeita” (Ibid.). Isto é a
inovação crucial que diferencia novos keynesianos de keynes, keynesianos
ortodoxos, monetaristas e novos clássicos.

Quando as empresas operam em mercados imperfeitamente competitivos, os


lucros de uma empresa variam diferencialmente com as mudanças em seu
próprio preço porque suas vendas não cairão para zero se ela aumentar
marginalmente o preço. As reduções de preços por essa empresa aumentarão as
vendas, mas também resultarão em menos receita por unidade vendida. Em tais
circunstâncias, qualquer divergência de preço em relação ao ótimo produzirá
apenas reduções de lucros de “segunda ordem”. Portanto, mesmo a presença de
pequenos custos para o ajuste de preços pode gerar uma considerável rigidez dos
preços nominais agregados. Esta observação, devido a Akerlof e Yellen (1985a),
Mankiw (1985) e Parkin (1986), é referida por Rotemberg (1987) como o
“PAYM insight”.

Um ingrediente-chave do PAYM insight é a presença de atritos ou barreiras ao


ajuste de preços, conhecidos como “custos de menu”. Esses custos de menu
incluem os custos físicos de reajuste de preços, como a impressão de novas listas
de preços e catálogos, bem como custos de homem tempo de gestão utilizado na
supervisão e renegociação de contratos de compra e venda com fornecedores e
clientes. Para ilustrar como os pequenos custos de menu podem produzir grandes
flutuações macroeconômicas, revisaremos os argumentos apresentados por
Mankiw e por Akerlof e Yellen.

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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Following the decline in demand, the firm
suffers a significant reduction in its
profits. Before the reduction in demand,
profits are indicated in Figure 7.2 by the
area SP0YX. If the firm does not initially
reduce its price following the decline in
demand, profits fall to the area indicated
by SP0JT. Because this firm is a ‘price
maker’ it must decide whether or not to
reduce price to the new profit-maximizing
point indicated by W on the new demand
curve D1. The new profit-maximizing
level of output is determined where MR1 =
MC0. With a level of output of Q1, the
firm would make profits of SP1 WV. If
there were no adjustment costs associated
with changing price, a profit-maximizing
firm would reduce its price from P0 to P1.
However, if a firm faces non-trivial ‘menu
costs’ of z, the firm may decide to leave
price at P0; that is, the firm moves from
point Y to point J in Figure 7.2.
Rigidez real

Obs.:
(i) A rigidez nominal é dada na forma de custos de ajustamento de preços e a
rigidez real é inserida na forma de custos convexos5 de ajustar capital e/ou
emprego;
(ii) Rigidez real (Ball e Mankiw, 1994: 19) -> rigidez de preços relativos.

Uma crítica importante à literatura de custo de cardápio, observada por Ball et al.
(1988), é que modelos com atritos nominais podem, em teoria, produzir grandes
rigidezes nominais, mas “fazem isso para valores de parâmetros implausíveis”.
No entanto, Ball e Romer (1990) demonstraram que rigidez nominal substancial
pode resultar de uma combinação de rigidez real e pequenos atritos para ajuste
nominal. De fato, Mankiw e Romer (1991) identificam a interação entre
imperfeições nominais e reais como “uma característica distintiva das novas
economias keynesianas”.6

5 As estruturas teóricas para custos de ajustamento do emprego encontradas na literatura podem ser agrupadas em custos
convexos (que incluem a popular função quadrática) e não-convexos (como custos fixos).
6
Embora Akerlof e Yellen (1985), Mankiw (1985), Blanchard e Kiyotaki (1987) e Ball e Romer (1989) tenham mostrado que
flutuações econômicas podem originar-se de pequenos custos de menu, esse resultado favorável é válido “apenas para valores
extremos dos parâmetros” (Ball e Mankiw, 1994: 18-19). Para explicá-las, portanto, torna-se necessário recorrer à rigidez real
(Ball e Mankiw, 1994: 19), ou seja, à rigidez de preços relativos, que “amplia a rigidez nominal gerada por custos de menu” (Ball
e Romer, 1989), pois “reduz o custo privado da rigidez nominal” (Ball e Mankiw, 1994: 19; veja-se, também, Snowdon e Vane,
1995: 462).
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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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onde P é o preço da firma e η é a elasticidade preço da demanda7. A


maximização do lucro requer, portanto, que:

Desde que o custo marginal é o salário nominal (W) dividido pelo produto
marginal do trabalho (MPL), finalmente obtém-se a equação8:

O termo entre parênteses representa o mark-up, cujo tamanho varia inversamente


com a elasticidade da demanda (lembre-se que η é negativo). A Equação acima
indica que P não cairá quando MC declina se o mark-up aumentar o suficiente
para compensar esse declínio (ver Stiglitz, 1984). Se a elasticidade da demanda
não diminuir, então a equação também indica que o incentivo para mudar o preço
será pequeno na presença de custos de menu se o MPL não aumentar fortemente
à medida que o insumo de trabalho for reduzido (ver Hall, 1991) 9. Rotemberg e
Woodford (1991) sugerem que as margens desejadas sobre o custo marginal
caem durante um boom porque se torna cada vez mais difícil manter o conluio
oligopolista; ou seja, as indústrias tornam-se mais competitivas em períodos de
alta atividade econômica. Durante as recessões, o conluio implícito aumenta,
levando a um mark-up anticíclico que atua como uma rigidez real, ampliando o
impacto sobre a rigidez nominal de custos de menu relativamente pequenos (D.
Romer, 2001)

7
R = P(Q).Q => dR/dQ = (dQ/dQ)P+(dP/dQ)Q => P + Q(dP/dQ) => P + Q(dP/dQ)(P/P) => P + P[(Q/P)(dP/dQ)] => P + P(1/n)
8
(P-MC)/P = -1/n é chamado de índice de Lerner.
9
Com elasticidade preço-demanda fixa, se MPL aumenta tanto quanto W cai, a relação W/MPL não vai alterar.
83
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Outras fontes de rigidez real


Extensas externalidades de mercado
No mundo real, compradores e vendedores não são reunidos sem incorrer em
custos de busca. Os consumidores devem gastar tempo procurando no mercado
os bens que desejam e as empresas anunciam para atrair clientes. Trabalhadores e
empregadores também devem gastar tempo e recursos pesquisando o mercado.
Quando os mercados estão cheios durante os períodos de alta atividade
econômica, parece plausível que os custos de busca sejam menores do que no
caso de um mercado magro caracterizado por um baixo nível de atividade
comercial (ver Diamond, 1982). Também pode ser o caso de as pessoas estarem
muito mais dispostas a participar de mercados densos, onde há muito comércio e
isso leva à complementaridade estratégica; ou seja, o nível ótimo de atividade de
uma empresa depende da atividade de outras empresas. Se essas externalidades
de mercado espessas ajudarem a deslocar a curva de custo marginal para cima em
recessões e para baixo em booms, isso contribuirá para a rigidez real dos preços.
Mercados de clientes
A distinção entre leilões e mercados de clientes foi desenvolvida por Okun
(1975, 1981). A característica crucial de um mercado de clientes é uma baixa
frequência de busca em relação à frequência de compra (McDonald, 1992). A
maioria dos produtos é vendida por meio de um processo de compras e, desde
que os custos de busca no mercado não sejam triviais, o comprador sempre terá
informações imperfeitas (limitadas) sobre o menor preço do mercado. Devido aos
custos de busca associados ao processo de compra, os vendedores têm algum
poder de monopólio, embora possa haver um grande número de empresas no
mercado, cada uma vendendo um produto similar. Uma vez que um grande
número de clientes faz compras repetitivas, é do interesse de qualquer empresa
desencorajar seus clientes a procurar o mercado para encontrar um melhor
negócio. As empresas são, portanto, desencorajadas a alterar seus preços com
frequência, uma prática que incentivará os clientes a procurarem outros lugares.
Enquanto um aumento no preço será percebido imediatamente pelos clientes,
uma diminuição no preço produzirá uma resposta inicial muito menor, pois leva
tempo para que essas novas informações cheguem aos compradores de outras
empresas. Essa diferença nas taxas de resposta dos clientes a aumentos e
diminuições de preços e o desejo de uma empresa de manter seus clientes
regulares tenderão a produzir uma relativa rigidez de preços (ver Phelps, 1985,
para uma excelente discussão sobre mercados de clientes).
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Rigidez de preços e a tabela de entrada-saída


Gordon (1981, 1990) chamou a atenção para a complexidade da tomada de
decisões em um mundo onde, normalmente, milhares de empresas compram
milhares de componentes contendo milhares de ingredientes de inúmeras outras
empresas, muitas das quais podem residir no exterior. “Uma vez que a
descentralização e a multiplicidade das relações fornecedor-produtor são
reconhecidas, nenhuma empresa isolada pode realizar uma ação que eliminaria o
ciclo de negócios agregado” (Gordon, 1981, p. 525).
Como uma empresa está ligada a milhares de outras empresas por meio de uma
complexa tabela de entradas e saídas, é impossível para ela conhecer a identidade
de todos os outros agentes ligados entre si na teia de relações fornecedor-
produtor. Devido a essa complexidade, não há certeza de que a receita marginal e
o custo marginal se moverão em conjunto após um choque de demanda agregada.
Não há certeza para uma empresa individual de que, após um declínio na
demanda agregada, seu custo marginal se moverá na proporção do declínio na
demanda por seus produtos.

Muitos de seus fornecedores podem ser empresas de outros países que enfrentam
diferentes condições de demanda agregada. Reduzir o preço nessas
circunstâncias é mais provável que produza a falência de uma determinada
empresa do que contribua para a eliminação do ciclo de negócios, porque uma
empresa típica estará sujeita a choques de demanda local e agregada, bem como a
choques de custo local e agregado. Como Gordon (1990) argumenta, em tal
mundo nenhuma empresa provavelmente correria o risco de indexação do PIB
nominal que inibiria sua liberdade e flexibilidade de ação para responder à ampla
variedade de choques que podem influenciar a posição de suas curvas de receita e
custo marginal. Como a indexação é indesejável quando há independência
substancial do custo marginal e da demanda agregada, a teoria insumo-produto
de Gordon não apenas fornece uma explicação da rigidez real dos preços, mas
também se traduz em uma teoria da rigidez nominal. A razão fundamental para o
ajuste gradual dos preços é que isso representa o curso de ação mais seguro para
as empresas que operam em um mundo incerto, onde a informação é
inevitavelmente imperfeita.

Claramente, os requisitos de informação necessários para um comportamento


racional de preços em cada período são enormes para as firmas de fixação de
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preços. Eles não apenas precisam conhecer a posição e o formato de suas curvas
de demanda e custo; eles também precisam prever o comportamento de preços de
todas as outras empresas na tabela de insumo-produto. Como as curvas de
demanda e custo da empresa são influenciadas pela demanda agregada, também é
necessário que as empresas prevejam o valor de todas as variáveis macro
relevantes que influenciam a demanda agregada. Em suma, os tomadores de
decisão dentro de empresas monopolisticamente competitivas precisam ser
teóricos de equilíbrio geral de primeira classe com informações perfeitas! Dadas
essas complicações, a tendência das empresas de seguir regras simples de preços
de mark-up pode estar próxima do ótimo. O incentivo para seguir tais regras é
reforçado se outras firmas fizerem o mesmo, pois isso garante que uma firma
manterá seu preço relativo, o que tenderá a minimizar suas perdas (ver Naish,
1993). Outra regra simples que uma empresa pode seguir em um mundo
complexo de insumos-produtos é esperar até que outras empresas aumentem ou
diminuam seus preços antes de iniciar uma mudança. Isso produz um
escalonamento na fixação de preços, o que implica que o nível de preços levará
mais tempo para se ajustar a um choque de demanda agregada.
Imperfeições do mercado de capitais
Um obstáculo importante para as empresas que buscam financiamento externo é
o problema da informação assimétrica entre tomadores e credores; ou seja, os
mutuários estão muito mais bem informados sobre a viabilidade e a qualidade de
seus projetos de investimento do que os credores. Uma consequência disso será
que o financiamento externo será mais caro para uma empresa do que o
financiamento interno. Durante os booms, quando as empresas estão lucrando
mais, há mais fundos internos para financiar vários projetos. Assim, durante as
recessões, o custo das finanças aumenta como resultado de uma maior
dependência de fontes externas. Se o custo de capital for contracíclico, isso
também tenderá a fazer com que os custos de uma empresa subam durante uma
recessão (ver Bernanke e Gertler, 1989; D. Romer, 1993).
Julgando a qualidade pelo preço
Stiglitz (1987) enfatizou outra razão pela qual as empresas podem relutar em
reduzir o preço quando confrontadas com um declínio na demanda. Em mercados
onde os clientes têm informações imperfeitas sobre as características dos
produtos que desejam comprar, o preço pode ser usado como um sinal de
qualidade. Ao baixar o preço, uma empresa corre o risco de seus clientes (ou

86
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clientes potenciais) interpretarem essa ação como um sinal de deterioração da


qualidade.

Rigidez real do salário


Modelos de contrato implícitos
Os modelos originais de contrato implícito (não sindicalizado) foram fornecidos
por Bailey (1974), D.F. Gordon (1974) e Azariadis (1975). Seguindo o
desenvolvimento da hipótese da taxa natural (Friedman, 1968a; Phelps, 1968), os
economistas dedicaram mais atenção à modelagem do comportamento do
mercado de trabalho como resultado do comportamento maximizador. A
principal contribuição da “nova” literatura de microeconomia (Phelps et al.,
1970) foi explicar por que a taxa natural de desemprego era positiva. No entanto,
parece haver muito menos rotatividade no mercado de trabalho do que a teoria da
busca sugere. Além disso, os salários frequentemente divergem das
produtividades marginais. A teoria do contrato implícito procura entender o que é
que forma a “cola econômica” que mantém trabalhadores e empresas juntos em
relacionamentos de longo prazo, uma vez que tais arranjos, em vez do leiloeiro
walrasiano, dominam o mercado de trabalho. Como as empresas procuram
manter a lealdade de sua força de trabalho, elas acham necessário entrar em
entendimentos não escritos (implícitos) com seus trabalhadores. Este "aperto de
mão invisível" oferece a cada trabalhador garantias sobre os termos da relação de
trabalho em uma variedade de circunstâncias de trabalho.
Modelos salariais de eficiência
Qualquer relato aceitável de desemprego involuntário deve explicar por que os
trabalhadores desempregados são incapazes de reduzir os salários a um nível que
gere pleno emprego. As teorias do salário de eficiência sugerem que não é do
interesse de uma empresa reduzir os salários reais porque a produtividade
(esforço ou eficiência) dos trabalhadores não é independente do salário, mas sim
que os salários reais e o esforço do trabalhador são interdependentes, pelo menos
em algum intervalo significativo.
• Salários Eficiência → Rigidez dos salários (W) devido à dificuldade em avaliar
o esforço e a produtividade individual. Pagando mais ao funcionário (W >
Wmercado) este se sentirá menos tentado a enganar a empresa, quanto maior o
salário (W), maior o risco que o trabalhador corre se for mandado embora (custo
de oportunidade).
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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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As modernas teorias do salário de eficiência que têm sido apresentadas


relacionam-se em geral com as questões de seleção e incentivos e quatro
categorias de teoria do salário de eficiência podem ser identificadas: (i) o modelo
de seleção adversa (por exemplo, Weiss, 1980); (ii) o modelo de rotatividade de
mão de obra (por exemplo, Salop, 1979); (iii) o modelo de esquiva (por exemplo,
Shapiro e Stiglitz, 1984); e (iv) o modelo de justiça (por exemplo, Akerlof,
1982). Examinaremos cada um deles por sua vez. O leitor deve notar que os
artigos mencionados acima (i–iv) são todos coletados em Akerlof e Yellen
(1986).
Modelos insider-outsider
Por que os trabalhadores desempregados não se oferecem para trabalhar por
salários mais baixos do que os atualmente pagos aos trabalhadores empregados?
Se o fizessem, os salários seriam reduzidos e o emprego aumentaria. Parece
haver um décimo primeiro mandamento não escrito: ‘Não permitirás que roubem
o emprego por sublicitar e roubar os empregos de seus camaradas.” A teoria do
insider-outsider também tenta explicar por que a rigidez salarial persiste em face
do desemprego involuntário (ver Ball, 1990, e Sanfey, 1995 para revisões).
A abordagem insider-outsider à rigidez do salário real foi desenvolvida durante a
década de 1980 em uma série de contribuições de Lindbeck e Snower (1985,
1986, 1988a, 1988b). Neste modelo, os insiders são os empregados titulares e os
outsiders são os trabalhadores desempregados. Enquanto nos modelos de salários
de eficiência são as empresas que decidem pagar um salário maior do que o
salário de equilíbrio de mercado, na abordagem insider-outsider o foco muda
para o poder dos insiders que determinam, pelo menos parcialmente, as decisões
salariais e de emprego. Não são assumidos efeitos diretos dos salários sobre a
produtividade.
Teoria Novo Keynesiana do Ciclo de Negócios
Os novos economistas keynesianos aceitam que a fonte dos choques que geram
distúrbios agregados pode surgir do lado da oferta ou do lado da demanda. No
entanto, os novos keynesianos argumentam que existem atritos e imperfeições
dentro da economia que amplificarão esses choques, resultando em grandes
flutuações na produção real e no emprego. A questão importante para os novos
keynesianos não é tanto a fonte dos choques, mas como a economia responde a
eles.

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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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2.4. Política econômica


Ref.: Manual de Macro, pp. 330-335.

- Defasagem Interna → Intervalo de tempo entre a ocorrência de um choque e a


ação do governo. Se a perturbação for temporária, a economia se ajusta, e a
melhor alternativa poder ser não fazer nada. Se a perturbação for permanente,
pode ser mais adequado uma intervenção do governo;

- Defasagem Externa → Intervalo de tempo entre a implementação da política e a


repercussão na econômica;

O maior problema das defasagens é que, uma vez identificado o choque, decidido
intervir sobre o mesmo, identificado o instrumento econômico adequado, e
finalmente quando a política econômica começa a surtir efeito, as condições
econômicas podem já estar completamente alteradas, tendo um efeito
desestabilizador ao invés de estabilizador.

Em geral, a política fiscal possui uma defasagem interna maior, pois necessita ser
aprovada pelo Congresso. Enquanto que a política monetária uma defasagem
externa maior.

Uma forma de se evitar as defasagens é a utilização dos chamados


estabilizadores automáticos, cuja atuação começa tão logo ocorra o choque,
independente da identificação e da tomada de decisão por parte do governo.
Neste sentido, podemos destacar as alíquotas progressivas de imposto, cuja
arrecadação se expande quando a economia está aquecida, funcionando como um
freio natural, e cuja arrecadação se reduz quando a economia se desaquece. Outro
exemplo corresponde aos gastos assistenciais, como o seguro-desemprego, que
tendem a se ampliar nas recessões e contrair nas expansões. Consegue-se com
estes instrumentos reduzir-se as defasagens das políticas econômicas.

Considerando a existência de defasagens, a eficácia da política econômica passa


a depender da capacidade dos gestores conseguirem antecipar de forma
relativamente condições econômicas futuras, de modo a poderem atuar sobre os
ciclos, antes mesmo destes ocorrerem.

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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Os principais instrumentos utilizados para tentar prever o futuro são os chamados


indicadores antecedentes e a formulação de cenários econômicos.

- Indicadores Antecedentes → Variáveis precisam estar disponíveis em tempo


hábil para permitir antecipar o comportamento da variável objetivo (bolsa de
valores, consulta SPC, consumo de energia, cimento, papelão, inclinação da
curva de rendimentos (o spread) que pode servir como um indicador antecedente
de crescimento econômico ou recessões (Nsafoah e Serletis, 2020; Yang, 2020;
Vides, Golpe e Iglesias, 2021, etc);

- Elaborações de Cenários Econômicos → Construção de um modelo econômico


que explicite as variáveis endógenas a serem determinadas, as variáveis exógenas
que interferem no comportamento das endógenas, e a relação entre as variáveis,
isto é, a estimação de parâmetros que relacionam as variáveis.

Quanto à reação dos agentes em relação às políticas do governo, podemos


formular uma crítica adicional à utilização de política econômica, a chamada
crítica de Lucas. Como vimos anteriormente, as expectativas desempenham um
papel fundamental, afetando o comportamento das variáveis econômicas.
O problema que se coloca é que as próprias políticas afetam as expectativas dos
agentes econômicos. Assim, as estimativas dos efeitos de uma alteração na
política econômica devem levar em consideração como as expectativas reagirão a
essa política. Como isto em geral não é feito pelos formuladores das políticas
econômicas, estas podem levar a resultados opostos ao desejado. Novamente,
pode parecer mais aconselhável o governo não fazer nada.

Uma segunda questão em relação à política econômica é como esta deve ser
conduzida. A pergunta é se o governo deve seguir um conjunto de regras ou agir
de forma discricionária, conforme diagnóstico da situação. Essa discussão muitas
vezes foi confundida com a discussão sobre se a política econômica deve ou não
atuar sobre os ciclos, ou seja, se ela deve ser ativa ou passiva frente às condições
econômicas.

Condução por Regras – Quando se diz que uma política deve seguir regras,
refere-se ao fato de que os formuladores devem anunciar antecipadamente qual
será a resposta da política econômica em cada caso, tendo como objetivo não
provocar surpresas nos agentes econômicos.
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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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A transparência de ações e procedimentos se torna fundamental, uma vez que


apresenta nexo importante com a reputação. Na medida em que a reputação
exerce forte influência direta sobre a credibilidade, o planejamento cuidadoso de
cada faceta da transparência (p.ex., para política monetária – forward guidance)
assume papel estratégico de enorme relevância para os bancos centrais (VIEIRA,
2005). A reputação (ou imagem) institucional representa as impressões e
opiniões acerca de uma organização, sintetizando um conjunto de significados
complexos que influencia comportamento e tomada de decisão. Os registros
repetidos da reputação positiva concorrem na construção da credibilidade.

Reputação  curto prazo

Credibilidade  longo prazo

- Regra Passiva → Independente da situação econômica, o Banco Central deveria


manter a taxa de expansão monetária (↑Ms) constante;

- Regra Ativa → Considere, por exemplo, que o Banco Central fixe a expansão
monetária (Ms) em 5% e adiciona uma parte que oscile conforme a taxa de
desemprego se afasta da taxa natural (u – un). Suponha que a taxa natural de
desemprego (un) seja de 4% e que para cada desvio a variação do estoque
monetário (M) responde em dobro. A quantidade de moeda (M) se expande
quando a taxa de desemprego (u) é maior e vice-versa.

∆M/M = 5% + 2(u – 4%)

Provavelmente, a regra de taxa de juros mais famosa é a proposta por Taylor. Sua
regra tem dois elementos. O primeiro é que a taxa de juros nominal suba mais de
um para um com a inflação, de modo que a taxa real aumente quando a inflação
aumentar. O segundo é que a taxa de juros aumente quando o produto estiver
acima do normal e caia quando o produto estiver abaixo do normal.

∗ ∗)
𝑌𝑡 − 𝑌𝑡∗
𝑖𝑡 = 𝑟 + 𝜋𝑡 + 𝛼 (𝜋𝑡 − 𝜋 + 𝛽 (100 ∙ )
𝑌𝑡∗
ou
𝑖𝑡 = 𝑟 ∗ + 𝜋𝑡 + 𝛼 (𝜋𝑡 − 𝜋 ∗ ) + 𝛽(𝑙𝑛𝑌𝑡 − 𝑙𝑛𝑌𝑡∗ )

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No caso, r* é a taxa de juros real “natural”, correspondendo a taxa de juros


real que teríamos se a economia estivesse em equilíbrio na taxa natural de
desemprego ou, deforma equivalente, no PIB potencial, Yt*. π* é a meta de taxa
de inflação. Se α e β forem grandes, então a regra de política monetária dita
respostas agressivas ao excesso de inflação e as expansões econômicas. Se α é
grande em relação a β, então a autoridade monetária responderá muito mais
agressivamente a inflação do que responderia ao nível de atividade econômica. O
caso em que β = 0 corresponde a meta de inflação pura. Note que a medida de
atividade econômica é o hiato do produto. Essa regra tem o banco central
manipulando as taxas de juros para estabilizar o produto em torno do potencial, e
não simplesmente para aumentá-lo.

Taylor argumenta que uma regra com α = 1,5 e  = 0,5 e r* = 2%, fornece uma
boa descrição da política monetária dos EUA no período após o Federal Reserve
ter mudado para uma política clara de tentar ajustar as taxas de juros para manter
a inflação baixa e a economia razoavelmente estável. Especificamente, a taxa de
juros prevista pela regra acompanha bem a taxa de juros real começando por
volta de 1985 e terminando quando a taxa de juros nominal de curto prazo
atingiu zero no final de 2008. Ele também argumenta que essa regra com esses
valores de parâmetro provavelmente levará a bons resultados macroeconômicos.

Condução Discricionária – Governo decide o comportamento a ser adotado


conforme cada situação atual no ambiente macroeconômico.

De acordo com Fatás e Mihov (2003), em teoria, é útil pensar a política fiscal
como consistindo em três componentes: (1) estabilizadores automáticos, (2)
política fiscal discricionária que reage ao estado da economia e (3) política fiscal
discricionária que é implementada por outros motivos que não as condições
macroeconômicas apresentadas no momento da implementação.

Várias críticas são levantadas contra a discricionariedade da política econômica:

 Incompetência → O processo político é aleatório, não é possível separar


sugestões corretas das incorretas;

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 Oportunismo → Os responsáveis pela política econômica (policymakers)


podem ter interesses que entram em choque com o bem estar social. Ex:
fins eleitoreiros, Banco Central sujeito política monetária aos interesses dos
bancos, ciclo econômico político (eleitoral);
 Inconsistência das Políticas Econômicas (Kydland e Prescott, 1977 e Calvo,
1978) → Incentivo do governo em manter políticas anunciadas. Assuma
um anúncio de controle monetário e de gastos públicos; se os agentes
acreditarem (↓πe), a inflação tende a ceder (↓π). Contudo, uma vez que o
governo tenha atingido o objetivo, mesmo sem efetivar as medidas, porque
tomá-las e arcar com o ônus público da recessão? Ou seja, há um incentivo
para o governo descumprir o que foi anunciado. E se esse comportamento
for sistemático, os indivíduos passam a desconfiar da política econômica,
havendo um efeito desestabilizador, pois as expectativas irão no sentido
contrário.

Argumentos teóricos para BC independentes

Independência do BC  capaz de afetar importantes variáveis como inflação e


déficit.

 significado  termo independência  capacidade do BC não ceder às forças


políticas para monetizar déficit orçamentário => independência institucional
em relação ao executivo e legislativo.
Exemplo 1
Governo  Aspira queda do desemprego  Manifestação do viés inflacionário –
BC subserviente  política discricionária  Uso político da política monetária.
Justificativa para adoção de um BC independente
BC subserviente pode gerar:
(i) viés inflacionário de política discricionária
 análise padrão sobre política monetária considera que existe incentivo para
BC diminuir desemprego via políticas inflacionárias.
 Adição de regras => resultado preferível => importância do mecanismo
institucional para evitar ações discricionárias via agências independentes.
(ii) uso da política monetária (derivada da análise sobre domínio fiscal e ciclo
político eleitoral). Considera que a autoridade fiscal “domina” a monetária
(Sargent e Wallace, 1981).
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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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 se o público não estiver disposto a absorver um déficit adicional  governo


financia déficit via aumento de MS. No caso da autoridade monetária sendo
“dominante” => autoridade fiscal deve reduzir déficit.
 quanto ao ciclo político eleitoral – os governos em períodos próximos às
eleições tendem a preferir maior nível de emprego à menor inflação, pois
esperam que assim irão se reeleger ou favorecer a eleição de candidatos do seu
partido político.
(iii) validade da taxa natural de desemprego e neutralidade da moeda =>
política monetária deve ser utilizada para obter uma meta de inflação baixa e
estabilidade Y  YP (validade da dicotomia clássica).

Os vários resultados que podem surgir no jogo entre as autoridades monetárias e


os negociadores salariais foram nitidamente capturados por Taylor (1985). A
Figura 5.5, adaptada de Taylor (1985), mostra os quatro resultados possíveis em
um jogo não cooperativo entre agentes privados e o banco central. O resultado
consistente no tempo é mostrado por C, enquanto o resultado ótimo de baixa
inflação com desemprego na taxa natural é mostrado por O. A tentação de um
governo estimular a economia devido à inconsistência temporal é indicada pelo
resultado A, enquanto a decisão não validar uma alta taxa de inflação esperada e
altos aumentos salariais produzirá uma recessão e é indicado pelo resultado B.
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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Modelo de Inconsistência Temporal


Ref.: Mankiw, Macroeconomia, pp. 276-277.
Curva de Phillips: u = un  (π – πe)
Função de Perda do Banco Central: L(u , π) = u + γπ2
Regra => p.ex., π = πe = 0  u = un
Discrição => L(u , π) = un  (π – πe) + γπ2
Minimizando a função perda, temos dL/dπ =   + 2γπ
π = /(2γ) = πe, com u = un. Resultado pior do que com Regra.

Exercício – arquivo: regras versus discrição - MIT.pdf

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3. Consumo e escolha intertemporal


3.1. Função consumo keynesiana
Ref.: Manual de Macro, pp. 340-343.

Considera a noção simples de que o comportamento do consumo das famílias,


em um dado período, está relacionado com sua renda nesse mesmo período.

Ct = Co + C1.Yt , Co > 0 e 0 < C1 < 1.

(Mankiw, pp. 297-298) Keynes conjecturou que a propensão marginal a


consumir (C1) advém da “lei psicológica fundamental, na qual ... os homens
estão dispostos, como regra geral e em média, a aumentar seu consumo à medida
que a renda aumenta, mas não tanto quanto o aumento da renda”.

Na função consumo keynesiana, a riqueza não está declarada de forma explícita:


ela está contida no intercepto C0.

Então, com 0 < C1 < 1, temos o multiplicador de gastos autônomos.


Exemplo: Considere

Y=C+I+G
C = Co + C1.Y

Diferenciando Y em relação a G, temos

dY = [1/(1 – C1)]. dG

onde 1/(1 – C1) > 0.


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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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O fato de 0 < C1 < 1 resulta em um maior poder da política fiscal sobre a renda.
Keynes pressupôs que a razão entre o consumo e a renda, chamada de propensão
média a consumir (PMC), cai à medida que a renda aumenta.
𝐶 𝐶𝑜+𝐶1𝑌
= = 𝑌 −1 (𝐶𝑜 + 𝐶1𝑌) = 𝑌 −1 𝐶𝑜 + 𝐶1 => função decrescente
𝑌 𝑌

𝐶
𝑑(𝑌) 1
= (− ) 𝐶𝑜 => atinge um ponto de mínimo
𝑑𝑌 𝑌2

Arquivo Excel: consumo médio keynes.xlsx

Isso significa que as famílias de renda mais alta tendem a poupar mais do que as
de baixa renda.

Além disso, Keynes pensava na renda como o determinante primário, e que a


taxa de juros não tem um papel importante.

Postulados Keynes: 1) propensão marginal a consumir (PmgC); 2) a PMC cai à


medida que a renda sobe e 3) a taxa de juros não tem um papel importante (mais
importante é a renda).

Estimativas da função consumo padrão usando dados anuais para o período


1929-1941 (Dornbusch e Fischer, pp.306-307).

C = 47,6 + 0,73Yd
97
Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Embora a função consumo keynesiana tenha alcançado sucessos iniciais, duas


anomalias logo se destacaram.

1ª anomalia – com base na função consumo keynesiana, durante a segunda guerra


mundial, economistas pensavam que no decorrer do tempo, as famílias
consumiriam uma fração cada vez menor de suas rendas. Os economistas
receavam que poderia não haver uma quantidade suficiente de projetos de
investimento lucrativos para absorver toda essa poupança. O baixo consumo
levaria a uma depressão, depois que cessasse a demanda do governo em tempo
de guerra. Ou seja, os economistas achavam que a economia experimentaria o
que chamaram de estagnação secular – uma longa depressão com duração
indefinida – a menos que a política fiscal fosse usada para expandir a demanda
agregada. Mas, ao final da segunda guerra, os EUA não foram lançados em outra
depressão. Embora as rendas fossem muito maiores depois da guerra do que
antes, essas rendas superiores não causaram grandes aumentos da taxa de
poupança. A conjectura de Keynes, de que a propensão média a consumir cairia à
medida que a renda subisse, parecia não se sustentar.

2ª anomalia – Simon Kuznets, National Income, A summary of Fidings, NY,


National bureau of Economic Research, 1946 – com base em uma série temporal
entre 1869 e 1938, usando médias de dados durante longos períodos, verificou
uma proporcionalidade entre a renda e consumo, rejeitando a hipótese da
propensão média a consumir ser decrescente em relação à renda. Essa evidência
sugeria que, no longo prazo, a função consumo se comportaria diferentemente da
análise keynesiana. Para Kuznets a proporção de renda e consumo era
extraordinariamente estável de uma década para outra. Isso leva a negação da
hipótese de Keynes de que o aumento da renda levava à queda da PMC. Para
Kuznets, a PMC é bastante estável por longos períodos.

Achados de Kuznets
1869-1898 1884-1913 1904-1933
Propensão média a consumir 0.867 0.867 0.879

98
Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Outro Estudo (Dornbusch e Fischer, p. 303)

No longo prazo, a função consumo se comportaria diferentemente da análise


keynesiana, teríamos assim duas funções consumo, uma de curto e outra de longo
prazo.

 Temos aqui um enigma do consumo

Uma provável explicação para essa diferença pode residir no fato de que a função
consumo de curto prazo deve ser considerada em dado ano, com base nas classes
de renda (dados em cross-section), chamada de função consumo a partir de
orçamentos familiares, enquanto a longo prazo, tem-se uma função consumo a
partir de séries de tempo.

Com base no estudo utilizado para figura 11-1, a figura 8-2 mostra a propensão
média a consumir observada, C/Yd, em cada ano, comparada com a média de
99
Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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0,917 obtida pelo resultado da regressão. A propensão a consumir oscila muito e,


às vezes, fica acima ou abaixo da razão média histórica de 0,917 por alguns anos
seguidos, por exemplo, de 1970 a 1976. As diferenças não são todas
insignificantes. Erros deste tamanho sugerem fortemente que a função consumo
mais simples pode ser melhorada.

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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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3.2. Consumo e escolha intertemporal


Ref.: Manual de Macro, pp. 343-347.

Na abordagem intertemporal, cujo pioneiro foi Irving Fisher, as famílias decidem


quanto consumir e poupar hoje, levando em conta o futuro. Quanto mais
consumo as famílias desfrutam hoje, menos poderão desfrutar amanhã. Assim, as
decisões quanto ao consumo, os agentes enfrentam uma restrição conhecida
como restrição intertemporal.
Considere dois períodos. A poupança no período 1 (S1) é dada por

S1 = Y1 – C1

No segundo período, o consumo é dado por

C2 = (1 + r).S1 + Y2

Substituindo S1, temos C2 = (1 + r).(Y1 – C1) + Y2

Isolando C1 e C2 e dividindo ambos os lados por (1 + r), temos

C1 + C2/(1 + r) = Y1 + Y2/(1 + r)

Obs.: valor presente da renda = Y1 + Y2/(1 + r)


valor presente do consumo = C1 + C2/(1 + r)

Essa conclusão é muito diferente daquela a que Keynes chegou. Keynes propôs
que o consumo corrente de uma pessoa depende em grande parte da sua renda
corrente. O modelo de Fischer diz que, em vez disso, o consumo baseia-se nos
recursos que o consumidor espera ter ao longo da sua vida.

101
Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Restrição intertemporal do consumidor.

poupança

empréstimo

C2 = Y1(1+r)+Y2 – (1+r)C1

No ponto A, temos que C1=Y1 e C2= Y2, ou seja, não há poupança nem
empréstimo.

A inclinação da reta de restrição orçamentária intertemporal do consumidor é


igual a “– (1 + r)” e todos os pontos sobre a reta representação possíveis
combinações de consumo para o consumidor.
Consideremos o ponto A. Nesse ponto, o consumidor consome exatamente sua
renda no período 1. Como não poupa, o consumo no período 2 também é igual à
renda nesse período. No ponto B, o consumidor poupa no primeiro período, o
que lhe permite consumir mais do que sua renda no segundo período. No ponto
C, ele consome mais do que sua renda no período 1. Isso só é possível dada a
possibilidade que o consumidor tem de levantar empréstimos. Tais empréstimos,
evidentemente, deverão ser pagos no período 2.

A Figura 9.6 apresenta duas curvas de indiferença. Cada uma delas representa
combinações intertemporais de consumo nos períodos 1 e 2, que proporcionam o
mesmo nível de utilidade. Curvas de indiferença mais altas são preferíveis.
102
Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Assim, o consumidor é indiferente entre as combinações de consumo dos pontos


A e B e todos os pontos da curva U2 são preferíveis aos pontos da curva U 1. A
inclinação da curva de indiferença é dada pela taxa marginal de substituição entre
o consumo nos períodos 1 e 2 e representa o quanto o consumidor está disposto a
abrir mão do consumo no primeiro período para poder consumir mais no
segundo.
A decisão do consumidor pode ser facilmente obtida, combinando-se as curvas
de indiferença com a restrição orçamentária intertemporal (R) (Figura 9.7).

O equilíbrio dá-se no ponto E, onde a curva de indiferença (utilidade


intertemporal) tangencia a restrição orçamentária intertemporal. Nesse ponto, a
taxa marginal de substituição (TMS) é igual à inclinação da restrição
orçamentária, igual a |TMS| = (1 + r).

103
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Y2

Y1

A reta orçamentária gira em torno do ponto (Y1,Y2), pois nesse ponto C1=Y1 e
C2=Y2, ou seja, não há impacto da taxa de juros neste ponto.
O efeito da alteração da taxa de juros sobre o consumo em ambos os períodos
não é direto como no caso anterior. Tal efeito pode ser decomposto em dois:
efeito renda e efeito substituição. O efeito renda é a mudança do consumo que
resulta do movimento para uma curva de indiferença mais alta. Se o consumidor
é um poupador, uma elevação na taxa de juros melhora sua situação,
proporcionando maior consumo no período 2. Trata-se do efeito renda. A
elevação dos juros torna, portanto, mais barato o consumo no período 2 em
relação ao período 1. Nessa situação, o consumidor tenderá substituir o consumo
no período 1 pelo consumo no período 2 (o efeito substituição). O efeito
substituição é a mudança do consumo que resulta da mudança no preço relativo
do consumo nos dois períodos. O efeito total é dado pela soma dos dois efeitos.
No caso do poupador, podemos afirmar com certeza que o consumo no período 2
aumenta com o aumento na taxa de juros. Com relação ao período l, no entanto,
nada podemos afirmar, já que o efeito renda pode atuar a favor do consumo nos
dois períodos.

104
Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Tópico Especial: Taxa de juros e crescimento do consumo


Ref.: Advanced Macroeconomics, D. Romer, 3ª. Ed., pp. 362-365.
Assume that the instantaneous utility function
takes the constant-relative-risk-aversion form,
where θ is the coefficient of relative risk aversion
(the inverse of the elasticity of substitution
between consumption at different dates), and ρ is
the discount rate.

Uma vez que a utilidade marginal do consumo (primeira derivada da função


utilidade em relação ao consumo) não deve mudar ao longo do tempo, temos
que:

This analysis implies that once we allow


for the possibility that the real interest rate
and the discount rate are not equal,
consumption need not be a random walk:
consumption is rising over time if r
exceeds ρ and falling if r is less than ρ.

No painel (a) o ponto inicial é (Y1,Y2), i.e., poup


inicial = 0. Um aumento em r não tem efeito renda –
a cesta de consumo inicial ainda está sobre a nova
restrição orçamentária. Então o consumo no 1º
período cai e poup. Aumenta.

No painel (b) C1 está inicialmente menor do que Y1, e,


então, poup é positiva. Neste caso, o aumento em r tem um
efeito renda positivo. O efeito renda diminui a poup (linha
roxa em relação à linha verde) e o efeito substituição age
aumentando-a (tirando o efeito renda – linha vermelha,
como as curvas de indiferença não podem ser cruzar, com
certeza, o ponto de tangência é acima do ponto original, ou
seja, aumenta a poupança, pois diminui Y1). O efeito total
é ambíguo. No caso da figura, poup não muda.

No painel (c) o indivíduo está inicialmente tomando


emprestado. Um aumento em r, neste caso, leva a
ambos os efeitos renda e substituição a reduzirem o
consumo no primeiro período e, então, a poup
necessariamente aumenta.

105
Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Restrições à tomada de empréstimo

Gráfico A Gráfico B

C2 C2

E D

Y1 C1 Y1 C1

No gráfico A, o consumidor escolhe que o consumo no primeiro período será


inferior à renda do primeiro período; assim, a restrição de empréstimo não é
compulsória e não afeta o consumo em qualquer período.

No gráfico B, a restrição de empréstimo é compulsória. O consumidor gostaria


de tomar emprestado e escolher o ponto de tangência da curva de indiferença
com a linha tracejada da restrição intertemporal do consumidor (ponto D). Mas,
como o empréstimo não é permitido, a melhor opção disponível é o ponto E.

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3.3. Modelo do ciclo de vida


Ref.: Manual de Macro, p. 348.
Dornbusch e Fischer, pp. 305-318.

Outra importante contribuição sobre o consumo baseada na escolha intertemporal


de Fisher deve-se a Franco Modigliani, também nos anos 50, conhecida como
modelo do ciclo de vida do consumo e poupança.
Segundo esse modelo, as pessoas decidem o quanto poupar e o quanto consumir
de acordo com as expectativas sobre a renda durante todo seu período de vida. A
ideia baseia-se no fato de que, ao longo da vida, a renda dos consumidores tende
a sofrer variações significativas. Quando jovem, a pessoa experimenta uma renda
menor. Com o passar dos anos, a consolidação de sua vida profissional
proporciona uma renda maior. Ao atingir a velhice, a renda das pessoas tende a
sofrer uma queda significativa, geralmente pela impossibilidade de continuar
trabalhando.
Assim, quando jovens, as pessoas tendem a despoupar ou tomar empréstimos, já
que esperam uma renda maior no futuro. No auge de sua vida profissional,
pagam os empréstimos e ainda poupam para poder continuar com o mesmo
padrão de vida quando velhas. Essa transferência de poupança dos jovens para os
velhos pode ser espontânea ou compulsória. A poupança espontânea dá-se
quando o consumidor se programa ao longo de sua vida. O consumidor também
pode recorrer, por comodidade, a planos de previdência privada. Por outro lado, a
poupança compulsória dá-se por imposição do governo, que se encarrega, via
sistema de previdência pública, de transferir poupança entre as gerações. Talvez
os motivos dessa preocupação se justifiquem pelo fato de o governo entender que
os jovens não se preocupam adequadamente com a velhice.

A função consumo é dada por C = αWR + C1Yd , onde WR é a riqueza real,  é


a propensão marginal a consumir da riqueza, Yd é a renda disponível do trabalho
e C1 é a propensão marginal a consumir da renda disponível do trabalho.

Neste momento, desconsideremos a riqueza real. Considere uma pessoa que a


partir do momento em que começa a trabalhar espere viver por NL anos,
trabalhar e ganhar renda por WL anos e se aposentar por NL – WL anos. O ano 1
do indivíduo é o primeiro ano de trabalho.

107
Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Hipóteses: não há incertezas quanto à esperança de vida e quanto à extensão do


tempo de serviço e nenhum juro é ganho em poupanças.
Com essas hipóteses, podemos abordar a decisão de consumo ou poupança com
duas questões: 1º - quais são as possibilidades de consumo de toda a vida do
indivíduo? 2º - como o indivíduo fará para distribuir seu consumo ao longo da
sua vida?

O consumo de toda a vida é igual à renda de toda a vida. Essa hipótese implica
que o consumo é gerado não pela renda corrente (zero durante a aposentadoria),
mas sim pela renda de toda a vida.

C x NL = Yd x WL
então,
C = WL/NL x Yd

Obs.:

 considerando-se a riqueza real WR, teríamos C = WR/NL + (WL/NL)Y.

 No caso da poupança, temos:

S = Yd – C = Yd (1 – WL/NL)

O fator de proporcionalidade é WL/NL, a fração dos gastos de toda a vida de


trabalho. É uma relação entre o total de anos trabalhados e o total de anos de vida
economicamente ativa.

Exemplo numérico: suponha que uma pessoa comece a trabalhar aos 20 anos de
idade, planeje trabalhar até os 65 anos e morrer aos 80.

A vida de trabalho, WL = 65 – 20 = 45.


O número de anos de vida economicamente ativo, NL = 80 – 20 = 60.
Considere a renda do trabalho, YL = $ 30.000,00/ano.
Renda da vida = YL x WL = $ 1.350.000,00.

C = WL/NL x YL = 45/60 x 30.000,00 = $ 22.500,00.

108
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Neste exemplo, 0,75 (WL/NL) da renda do trabalho é consumido a cada ano que
a pessoa trabalha. Ou seja, durante 45 anos de trabalho, o indivíduo consome
75% da sua renda, após, 15 anos de aposentadoria são sustentados pela poupança
que se fez durante os anos de trabalho.
. Durante a vida de trabalho => 75% de $ 1.350.000,00 = $ 1.012.500,00, que
divididos por 45 (anos de trabalho), é igual a $ 22.500,00.
. Durante a aposentadoria => 25% de $ 1.350.000,00 = $ 337.500,00, que
divididos por 15 anos (anos de aposentadoria), é igual a $ 22.500,00.

Neste exemplo, a renda Riqueza


líquida é constante.

Agora, considere a consumo como C = αWR + C1Yd.

Observe que o intercepto da função consumo do ciclo de vida,


diferentemente da função consumo padrão de Keynes, depende do nível de
riqueza. Esse modelo de ciclo de vida do comportamento do consumidor
pode resolver o enigma do consumo. Segunda a função consumo do ciclo de
vida, a propensão média a consumir é

C/Y = WR/Y + C1

109
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Como a riqueza não varia proporcionalmente à renda de pessoa para pessoa


de ano para ano, devemos constatar que a renda elevada corresponde a uma
baixa propensão média a consumir, quando verificamos os dados entre
indivíduos ou períodos curtos (em períodos curtos, podemos considerar a
riqueza constante). Nos períodos mais longos, no entanto, a riqueza e a
renda crescem juntas, resultando em uma razão constante WR/Y e, com isso,
em uma propensão média a consumir constante.

A função consumo do ciclo de vida parece com a função consumo keynesiana.


Mas isso só é válido para o curto prazo quando a riqueza é constante. No longo
prazo, à medida que a riqueza aumenta, a função consumo desloca-se para cima.
Esse deslocamento ascendente impede com que a propensão média a consumir
caia à medida que a renda aumente. Desta maneira, Modigliani resolveu o
enigma do consumo.

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3.4. Consumo e renda permanente


Ref.: Manual de Macro, pp. 347-348.
Mankiw, pp. 309-311.

Vídeo Renda Permanente: https://www.youtube.com/watch?v=tFM_Oewi_v0

A principal contribuição da teoria do consumo baseada na escolha intertemporal


é que as famílias, em suas decisões quanto ao consumo, levam em conta não
apenas a renda presente, mas também a renda futura e a renda transitória. Tal
ideia foi aperfeiçoada por Milton Friedman na década de 50, a partir da hipótese
da renda permanente.

Para Friedman, as pessoas tendem a manter um padrão de consumo estável ao


longo do tempo. Esse padrão de consumo depende do que Friedman chamou de
renda permanente, ou seja, aquela renda que as famílias esperam receber ao
longo de suas vidas. Alterações no consumo, segundo essa teoria, são mais
devidas a alterações na renda permanente.

A hipótese de renda permanente enfatiza que as pessoas experimentam variações


aleatórias e temporárias em suas rendas de ano para ano. Friedman sugeriu que
devemos considerar a renda Y como a soma de dois componentes, renda
permanente (Yperm) e renda transitória (Ytransit). Assim, Y = Yperm + Ytransit.
A renda permanente é a parte da renda que as pessoas esperam que persista no
futuro. A renda transitória é a parte da renda que as pessoas não esperam que
persista. Então, renda permanente é a renda média da renda ao longo da vida, e
renda transitória é o desvio aleatório da renda média.
𝑇
𝑝𝑒𝑟𝑚
1
𝑌 = ∑ 𝑌𝜏
𝑇
𝜏=1

Formalização:

Consumo sob certeza

111
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A utilidade do consumo é constante. Uma vez que o nível de consumo


unicamente determina sua utilidade marginal, isso significa que o consumo deve
ser constante ao longo do tempo. Então C1 = C2 = ... = CT.

Segue que
𝑇
1
𝑌 𝑝𝑒𝑟𝑚 = (𝐴0 + ∑ 𝑌𝑡 )
𝑇
𝑡=1
𝑇
1
𝑌 𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑖𝑡 = 𝑌𝑡 − [ (𝐴0 + ∑ 𝑌𝑡 )]
𝑇
𝑡=1

Implicações: Função Consumo

C = Yperm

Y = Yperm + Ytransit

Três exemplos:

. Uma pessoa se forma em economia, e passa a ganhar mais do que outra que não
se formou. Essa nova renda é uma renda permanente, e será gasta em consumo;
. Uma pessoa é plantadora de laranjas e, em um determinado ano, ganhou menos
do que o habitual por conta de uma geada. Essa queda de renda é transitória, não
alterando o consumo de forma significativa;
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. Uma pessoa ganha na loteria (acontecimento esporádico). Isso só afetará


significativamente o consumo presente se afetar significativamente o rendimento
permanente, isto é, se o prêmio da loteria for tão grande que permita aumentar
significativamente o rendimento permanente (aplicando o prêmio em títulos,
p.ex.).
Friedman raciocinou que o consumo deve depender principalmente da renda
permanente, porque as pessoas usam a poupança e o empréstimo para estabilizar
o consumo em reação a mudanças transitórias da renda.

Poupança
S t = Y t – Ct
𝑇
1
𝑆𝑡 = 𝑌𝑡 − [ (𝐴0 + ∑ 𝑌𝑡 )]
𝑇
𝑡=1
Então, St = Yt – Y perm
=> St = Ytransit.

A hipótese de renda permanente soluciona o enigma do consumo ao sugerir que a


função consumo keynesiana padrão utiliza as variáveis erradas. Segundo a
hipótese da renda permanente, o consumo depende da renda permanente, e não
da renda corrente.
A renda transitória reflete desvios da renda corrente da renda permanente, e,
considerando muitas amostras, ela tem média zero e é fortemente não
correlacionada com a renda permanente.
Ct =  + bYt + et.
Em uma regressão univariada, temos que,
𝐶𝑜𝑣(𝑌, 𝐶)
𝑏̂ =
𝑉𝑎𝑟(𝑌)

𝐶𝑜𝑣(𝑌 𝑝𝑒𝑟𝑚 + 𝑌 𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑖𝑡 , 𝑌 𝑝𝑒𝑟𝑚 )


=
𝑉𝑎𝑟(𝑌 𝑝𝑒𝑟𝑚 + 𝑌𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑖𝑡 )
𝑉𝑎𝑟(𝑌 𝑝𝑒𝑟𝑚
)
𝑏̂ = 𝑉𝑎𝑟 (𝑌𝑝𝑒𝑟𝑚 )+𝑉𝑎𝑟(𝑌 𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑖𝑡 ) (1)
A última linha considera a suposição de que a renda permanente e a renda
transitória não são correlacionadas.
113
Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Ainda,
𝛼̂ = 𝐶̅ − 𝑏̂𝑌̅
= 𝑌̅ 𝑝𝑒𝑟𝑚 − 𝑏̂(𝑌̅ 𝑝𝑒𝑟𝑚 + 𝑌̅ 𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑖𝑡 )
𝛼̂ = (1 − 𝑏̂)𝑌̅ 𝑝𝑒𝑟𝑚 .

Dada a suposição de que a média da renda transitória é igual a zero.

Então, de (1), a hipótese de renda permanente diz que o determinante chave da


inclinação de uma função consumo estimada (𝑏̂) é a variação relativa na renda
permanente e renda transitória. Intuitivamente, um aumento na renda corrente
está associado com um aumento no consumo somente na extensão que se reflete
no aumento da renda permanente. Quando a variação na renda permanente é
muito maior do que a variação na renda transitória, quase todas as diferenças na
renda corrente refletem diferenças na renda permanente; então eleva o consumo
em uma relação de um por um com a renda corrente. Mas quando a variação na
renda permanente é pequena em relação a variação na renda transitória, pouco da
variação da renda corrente vem da variação na renda permanente, e então o
consumo aumenta pouco com a renda corrente.

Com 𝑏̂ igual a 1 (sem variação na renda transitória – see equação (1)), temos que
𝛼̂ é igual a zero.

A hipótese de Friedman acarreta, então:

Função consumo da forma: C = bYP => PmgC = b

Propensão Média a Consumir = C/Y = bYP/Y => PMC = b, se não houver renda
transitória => C/Y = bYP/Y = bYP/(YP+Ytrans). Se não há renda transitória, Ytrans
= 0, e C/Y = b.

Ou seja, na teoria da renda permanente, sem renda transitória, PmgC = PMC.

Obs.: considerando a riqueza, temos C = bYP + W e C/Y = bYP + W/Y

Assim, segundo a hipótese de renda permanente, a propensão média a consumir


depende da razão entre a renda permanente e a renda corrente. Quando a renda
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corrente aumenta temporariamente acima da renda permanente, a propensão


média a consumir cai temporariamente; quando a renda corrente cai
temporariamente abaixo da renda permanente, a propensão média a consumir
aumenta temporariamente.

Considerando os estudos de dados das famílias => famílias com renda


permanente maiores têm proporcionalmente um consumo maior e, aumentos na
renda transitória (curto prazo), levam a uma propensão média a consumir menor.

Renda Permanente sob certeza => Caso seja válida a hipótese da “renda
permanente” e caso as expectativas sejam “racionais”, somente mudanças
inesperadas na política econômica poderão influenciar o consumo.

Renda Permanente sob incerteza => Quando variações de uma variável são
imprevisíveis, diz-se que é um passeio aleatório (um martingale): segundo
Robert Hall, a combinação da hipótese da renda permanente com as expectativas
racionais sob incerteza, indica que o consumo segue um passeio aleatório. Hall
demonstrou que, sob certas condições, a estimativa da renda permanente do ano
corrente deve dar a melhor ideia de qual vai ser a sua renda permanente no
próximo ano. Isso significa que o consumo do próximo ano deve ser igual ao
consumo do ano corrente mais um montante aleatório resultante dos choques
inesperados que vão afetar, no próximo ano, a estimativa familiar da renda
permanente. The rational-expectations approach to
consumption has implications not only for

Ct+1 =  + bYt + et
forecasting but also for the analysis of
economic policies. If consumers obey the
Ct+1 = bCt + et permanent-income hypothesis and have
rational expectations, then only unexpected
Com b = 1, temos policy changes influence consumption.
C = et These policy changes take effect when they
change expectations.

Ou seja, somente choques alteram o consumo.

David Laibson: importância dos efeitos psicológicos. Forte desejo de gratificação


imediata gera comportamento inconsistente no tempo, poupando menos do que
gostariam.

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Resumo Renda Permanente

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4. Investimento
4.1. Conceitos básicos
Ref.: Mankiw, pp. 316-329.
Dornbusch e Fischer, pp. 347-392.

Gastos de investimento é um tópico central em macroeconomia por duas


razões: (i) flutuações em investimento tem muito peso no movimento do PIB
no ciclo dos negócios; (ii) gastos de investimento determinam a taxa à qual a
economia adiciona seu estoque de capital fixo, e então nos ajuda a
determinar o crescimento de longo prazo da economia e comportamento da
produtividade.

Definições de investimento bruto (IB) e investimento líquido (IL):


. Investimento Bruto → Investimento incluindo a reposição do estoque de
capital necessário para cobrir a depreciação;
. Investimento Líquido → Investimento excluindo a depreciação;
. Depreciação → O desgaste natural sofrido pelo estoque de capital.
IB= IL+ d . K
Onde d→ Coeficiente de depreciação.

Nas decisões de investimento, os agentes tomam suas decisões olhando para


o futuro (forward-looking), já que só faz sentido aumentar o estoque de
capital se esse aumento proporcionar um retorno futuro em termos de
rendimento.
Como, em última instância, as firmas são propriedade das famílias, a decisão
de investir é resultado da decisão das famílias sobre alocar os consumos (C)
presente e futuro.

Há três tipos de gastos com investimento. O investimento em capital fixo


privado inclui os equipamentos e as estruturas que as empresas compram
para usar na produção. O investimento em residências inclui os imóveis
novos que as pessoas comprar para morar ou para alugar. O investimento
em estoques inclui os bens que as empresas guardam em armazenagem,
inclusive matéria prima e suprimentos, trabalho em processo e produtos
acabados.

117
Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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Investimento em capital fixo privado

A maior parcela de gasto com investimento, representado certa de três


quartos do total, é o investimento em capital fixo privado (formação bruta
de capital fixo – FBKF). O modelo básico de investimento em capital fixo
privado é chamado de modelo neoclássico de investimento.

Investimento em estoques

Os estoques consistem em matérias-primas, bens no processo de produção e


bens completos que as empresas detêm na antecipação da venda do
produto.
Os estoques são mantidos por inúmeras razões que se inter-relacionam:

. os vendedores detêm estoques para suprirem a demanda futura por bens;


. os estoques são também mantidos porque é menos custoso para a empresa
comprar bens menos frequentemente em grandes quantidades do que
comprar pequenas quantidades muitas vezes;
. os produtores podem deter estoques como meio de regularizar sua
produção. É custoso sustentar uma variação do nível de produção;
entretanto, pode-se manter uma taxa relativamente estável mesmo quando
a demanda flutua, formando estoques quando a demanda é baixa e
diminuindo-os quando a demanda for alta;
. alguns estoques são mantidos como parte inevitável do processo produtivo;
existe.

Investimento antecipado e não antecipado em estoques

O investimento antecipado é o investimento desejado, enquanto o


investimento não antecipado é o investimento indesejado.
O investimento não antecipado e estoque é resultado da inesperada
demanda agregada baixa. Por outro lado, o investimento planejado em
estoque pode ser uma resposta a uma recente demanda agregada alta
inesperada; isto é, a rápida acumulação de estoques pode estar associada ao
rápido declínio da demanda agregada como ao rápido aumento da demanda
agregada.
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O papel dos estoques, no ciclo de negócios, é resultado de uma combinação


da variação no estoque antecipado e não antecipado.
Exemplo
Um comerciante vende 30 carros por mês sempre. Então, ele encomenda na
fábrica, 30 carros por mês. Suponha que as venda caiam para 25 carros por mês e
o comerciante leve dois meses para responder à mudança. Durante esse período,
os estoques se elevaram a 40 carros. No futuro, o comerciante irá querer um
estoque de 25 carros. Portanto, inicialmente o comerciante, respondendo a queda
da demanda, cortará o pedido de 30 para 10 carros no terceiro mês, para alinhar
o estoque às novas vendas. Vemos, neste caso extremo, como a queda de 5 carros
na demanda, ao invés de levar a uma simples queda na produção por mês, causa
uma queda de 20 carros na produção em um mês, seguida de uma queda de longo
prazo de 5 carros por mês.

tempo pedido estoque demanda


0 0 0 0
1 30 "=0+30-0 = 30 0
2 30 "=30+30-30 = 30 30
3 30 "=30+30-25 = 35 25
4 30 "=35+30-25 = 40 25
5 10 "=40+10-25 = 25 25
6 25 "=25+25-25 = 25 25

Se os estoques pudessem ser mantidos quase alinhados às vendas, ou à


demanda agregada, as flutuações no investimento em estoques seriam
reduzidas.

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4.2. Decisão de investir


Ref.: Mankiw, pp. 317-320.

O modelo padrão de investimento em capital fixo privado é chamado de modelo


neoclássico de investimento.
Para desenvolver o modelo, considere que há dois tipos de empresas na
economia: empresas de produção que produzem bens e serviços usando capital
alugado; e empresas de locação que efetuam todos os investimentos na
economia, compram capital e alugam para as empresas de produção.

A empresa de produção aluga o capital a um custo de aluguel R e vende sua


produção a um preço P; o custo real de uma unidade de capital para a empresa de
produção é R/P. O benefício real de uma unidade de capital é o produto marginal
do capital (PMgK), que é a produção extra que se obtém com mais uma unidade
de capital. Para maximizar o lucro, a empresa aluga capital até que o produto
marginal do capital em termos de preço diminua e se torne igual ao preço real de
aluguel.

Dado Y = AKL1-, temos que PMgK = A(L/K)1-, com PMgK decrescendo à


medida que K cresce.

Então, R/P = A(L/K)1-.

. quanto mais baixo o capital instalado (K), mais alto o preço real de aluguel;
. quanto maior o trabalho empregado (L), mais alto o preço real de aluguel;
. quanto melhor a tecnologia (A), maior o preço real do aluguel do capital.

Custo do Capital

A empresa de locação recebe o preço real de aluguel do capital R/P para cada
unidade de capital que possui e aluga.

O custo de se possuir capital é mais complexo. Para cada período durante o qual
a empresa aluga uma unidade de capital, a empresa de locação arca com três
custos:

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1. iPK => custo de empréstimo, ou custo de oportunidade, para a empresa


comprar uma unidade de capital para locação;
2. PK => se PK, seu ativo diminui de valor, e isso reduz o ganho de aluguel
para a empresa locadora, representando, assim, um custo, e vice-versa;
3. PK => custo da depreciação.

Custo do Capital = iPK  PK + PK

Custo do Capital = PK(i  PK/PK + ).

O custo do capital depende do preço do capital, da taxa de juros, da taxa à qual os


preços do capital variam, e a taxa de depreciação.

Suponha que o preço de bens de capital aumenta com os preços de outros bens.
Neste caso, PK/PK = π. Como i – π = r, temos

Custo de Capital = PK(r + ).


Considerando o custo de capital relativo a outros bens da economia, temos

Custo real de capital = (PK/P)(r + ).

Determinantes do investimento

Considere a decisão de uma empresa de locação em aumentar ou diminuir seu


capital instalado.

Taxa de Lucro = receita – custo.

Taxa de Lucro = R/P  (PK/P)(r + ).

Como em equilíbrio, R/P = PMgK, temos

Taxa de Lucro = PMgK  (PK/P)(r + ).

Investimento Líquido: se o produto marginal do capital supera o custo do capital


[PMgK > (PK/P)(r+)], as empresas consideram lucrativo aumentar o capital
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instalado. Se o produto marginal do capital fica menor do que o custo do capital,


elas deixam o capital instalado diminuir.

K = In[PMgK – (PK/P)( r + )], onde In é a função que mostra quanto o


investimento líquido reage ao incentivo para investir. Então,

I = K + K

I = In[PMgK – (PK/P)( r + )] + K, onde I é o gasto total em investimento de


capital fixo privado, ou seja, a soma do investimento líquido com a substituição
do capital depreciado.

4.3. Teoria q
Ref.: Mankiw, pp. 320-321.

Muitos economistas consideram que há uma ligação entre as oscilações do


investimento e as oscilações do mercado de ações.
O economista James Tobin propôs que as empresas baseassem suas decisões de
investimento na seguinte proporção, que hoje é chamada e q de Tobin:

𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑑𝑜 𝑐𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝑖𝑛𝑠𝑡𝑎𝑙𝑎𝑑𝑜


𝑞=
𝑐𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑠𝑢𝑏𝑠𝑡𝑖𝑡𝑢𝑖çã𝑜 𝑑𝑜 𝑐𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝑖𝑛𝑠𝑡𝑎𝑙𝑎𝑑𝑜

O numerador do q de Tobin é o valor do capital instalado avaliado pelo mercado


de ações. O denominador é o custo de reposição do capital instalado.

. q > 1 => o mercado de ações avalia o capital instalado em mais do que seu
custo de substituição. Nesse caso, os empresários podem aumentar o valor de
mercado das ações da empresa comprando mais capital;

. q < 1 => o mercado de ações avalia o capital em menos do que seu custo de
substituição. Nesse caso, os empresários não substituirão o capital à medida que
ele se desgasta.

A teoria do investimento de Tobin é semelhante à teoria neoclássica. O q de


Tobin depende dos lucros esperados do capital instalado, no presente e no futuro
(valor das ações). Se o produto marginal do capital supera o custo do capital, as
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Teoria Macroeconômica III – SEN 00.078
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empresas têm lucro sobre o capital instalado. Esses lucros fazem com que seja
desejável possuir empresas de locação, pois aumenta o valor de mercado das
ações, indicando um alto valor de q, e vice-versa.

A vantagem do q de Tobin como medida do incentivo ao investimento é o fato de


que ele reflete a lucratividade futura esperada do capital, assim como a
lucratividade corrente. Se o governo decidir reduzir o IRPJ para o próximo ano,
as ações das empresas aumentam hoje, aumentando o q de Tobin, e com isso
estimulando o investimento hoje.

Um dos canais de transmissão da política monetária refere-se ao canal de preço


dos ativos. Ao contrário da visão keynesiana na qual o efeito da política
monetária sobre a economia concentra-se de forma exclusiva no preço de um
ativo (a taxa de juros), monetaristas procuram analisar como a política monetária
afeta o preço dos ativos relativos e a riqueza real. Os dois canais que são
utilizados frequentemente na visão monetarista sobre transmissão monetária
envolvem dois componentes: i) a teoria de investimento q de Tobin; e ii) o efeito
da riqueza sobre o consumo.
O q de Tobin é definido como o valor de mercado das ações das firmas dividido
pelo custo de reposição do capital. Esta razão permite mensurar o hiato entre o
capital real e o capital planejado constituindo-se um bom mecanismo para avaliar
o retorno de um novo investimento.
Quando o q é maior que 1 (preço de mercado das firmas é maior que o custo de
reposição do capital), isto significa que a aquisição de novos bens de capital é
barata se comparada ao valor de mercado das firmas. Dessa forma, com uma
pequena emissão de ações as firmas podem obter recursos suficientes para
adquirir uma grande quantidade de novos bens de investimento. Em
contrapartida, um q menor que 1 não induz as firmas a acréscimos de capital.
A conexão entre a política monetária e o preço das ações pode ser compreendida
pelos efeitos provenientes de uma contração monetária. Com o decréscimo na
oferta de moeda, os agentes possuem menos numerário o que leva à redução no
dispêndio. Assim, em razão do menor volume de recursos o mercado de ações
também sofre impacto negativo quanto à absorção de haveres. De forma análoga
ao caso keynesiano, a contração monetária eleva a taxa de juros tornando os
títulos mais atraentes do que as ações, o que por conseguinte, acarreta queda no
preço das ações (PA ↓).

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Portanto, ocorre uma queda no q (q ↓) que leva a um menor nível de


investimento na economia e consequente diminuição no produto. De forma
esquemática o mecanismo de transmissão da política monetária corresponde a

M ↓ ⇒ i ↑ ⇒ PA ↓ ⇒ q ↓ ⇒ I ↓ ⇒ Y ↓.

4.4. Investimento e expectativas de lucros


Ref.: Blanchard, pp. 308-313.

Valor presente dos lucros esperados – V(e)


1 1 𝑒
𝑉 (Π𝑡𝑒 ) = 𝑒
Π𝑡+1 + (1+𝑟 )(1+𝑟𝑒 (1 − 𝛿 )Π𝑡+2 +⋯
(1+𝑟𝑡 ) 𝑡 𝑡+1 )

Decisão de investir
It = I[𝑉 (Π𝑡𝑒 )]
(+)
Caso especial
𝑒 𝑒 𝑒 𝑒
Se Π𝑡+1 = Π𝑡+2 = ⋯ = Π𝑡 , e 𝑟𝑡+1 = 𝑟𝑡+2 = ⋯ = 𝑟𝑡 , temos o que se chama de
expectativas estáticas, então:

Π𝑡
𝑉 (Π𝑡𝑒 ) =
𝑟𝑡 + 𝛿
e,
Π𝑡
𝐼𝑡 = 𝐼 [ ]
𝑟𝑡 + 𝛿

Demonstração

1 1
𝑉 (Π𝑡𝑒 ) = Π𝑡 + (1 − 𝛿 )Π𝑡 + ⋯
(1 + 𝑟𝑡 ) (1 + 𝑟𝑡 )2

1
Fatorando o termo Π𝑡 , temos:
(1+𝑟𝑡 )

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1 1−𝛿
𝑉 (Π𝑡𝑒 ) = Π𝑡 [1 + + ⋯ ] (1)
(1+𝑟𝑡 ) 1+𝑟𝑡

O termo entre colchetes é uma P.G. do tipo 1 + x + x2 + ...


1
Assim, temos que (1 + x + x2 + ...) =
1−𝑥

1−𝛿
Aqui, x é igual a , logo,
1+𝑟𝑡

1−𝛿 1−𝛿 2 1 1 + 𝑟𝑡
[1 + +[ ] + ⋯] = =
1 + 𝑟𝑡 1 + 𝑟𝑡 1 − 𝛿 𝑟𝑡 + 𝛿
1−
1 + 𝑟𝑡

Substituindo em 1, temos:

1 1 + 𝑟𝑡
𝑉 (Π𝑡𝑒 ) = Π
(1 + 𝑟𝑡 ) 𝑟𝑡 + 𝛿 𝑡

Simplificando,

Π𝑡
𝑉 (Π𝑡𝑒 ) = .
(𝑟𝑡 + 𝛿)

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5. O governo
5.1. Conceitos de déficit e dívida pública

Déficit e Dívida Pública


Ref.: Giambiagi e Além, pp. 245-257.

A evolução da dívida pública ao longo do tempo, em função de diferentes níveis


de superávit ou déficit primário, pode ser melhor compreendida com ajuda de
algumas equações:

(1) 𝐷𝑡 = 𝐷𝑡−1 + 𝐽𝑡 − 𝑆𝑃𝑡 − 𝑆𝑡


D = dívida do setor público
J = despesa de juros nominais
SP = superávit primário
S = coleta de senhoriagem

Considerando que,

(2) 𝐽𝑡 = 𝐷𝑡−1 ∙ 𝑖𝑡

i = taxa nominal média ponderada de juros incidente sobre a dívida pública


Substituindo (2) em (1), temos

𝐷𝑡 = 𝐷𝑡−1 + 𝐷𝑡−1 ∙ 𝑖𝑡 − 𝑆𝑃𝑡 − 𝑆𝑡

(3) 𝐷𝑡 = 𝐷𝑡−1 ∙ (1 + 𝑖𝑡 ) − 𝑆𝑃𝑡 − 𝑆𝑡

Para capturar o efeito do crescimento do produto sobre a dívida, os termos da


equação (3) devem ser expressos em relação ao PIB. Então,

𝐷𝑡 𝐷𝑡−1 ∙ (1 + 𝑖) 𝑆𝑃𝑡 𝑆𝑡
(4) = − −
𝑌𝑡 𝑌𝑡 𝑌𝑡 𝑌𝑡

Y = é o PIB nominal

Multiplicando e dividindo o primeiro termo do lado direito de (4) por Yt-1, temos

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𝐷𝑡 𝑌𝑡−1 𝐷𝑡−1 ∙ (1 + 𝑖) 𝑆𝑃𝑡 𝑆𝑡


(5) = − −
𝑌𝑡 𝑌𝑡 𝑌𝑡−1 𝑌𝑡 𝑌𝑡

Então, na equação (6), dt, spt e st são, respectivamente, a dívida/PIB, o superávit


primário/PIB, e a senhoriagem/PIB. Ainda, denotando yt como a taxa de
𝑌
crescimento nominal do PIB, o termo 𝑡−1 pode ser reescrito como (1 + yt).
𝑌𝑡

𝑑𝑡−1 ∙ (1 + 𝑖𝑡 )
(6) 𝑑𝑡 = − 𝑠𝑝𝑡 − 𝑠𝑡
(1 + 𝑦𝑡 )

Dado que (1+yt) = (1+gt)  (1+πt) e que (1+it) = (1+rt)  (1+πt), em que gt
corresponde a taxa de crescimento do produto real, rt corresponde a taxa real de
juros, e πt corresponde a taxa de inflação, a equação (6) pode ser reescrita como,
(1+𝑟𝑡 )∙(1+𝜋𝑡 )
𝑑𝑡 = 𝑑𝑡−1 − 𝑠𝑝𝑡 − 𝑠𝑡 , e, portanto,
(1+𝑔𝑡 )∙(1+𝜋𝑡 )

(1 + 𝑟𝑡 )
(7) 𝑑𝑡 = 𝑑𝑡−1 − 𝑠𝑝𝑡 − 𝑠𝑡
(1 + 𝑔𝑡 )

Subtraindo dt-1 em ambos os lados da equação (7), temos

𝑑𝑡−1 + 𝑑𝑡−1 𝑟𝑡
𝑑𝑡 = − 𝑠𝑝𝑡 − 𝑠𝑡
(1 + 𝑔𝑡 )

𝑑𝑡−1 + 𝑑𝑡−1 𝑟𝑡
𝑑𝑡 − 𝑑𝑡−1 = − 𝑑𝑡−1 − 𝑠𝑝𝑡 − 𝑠𝑡
(1 + 𝑔𝑡 )

𝑑𝑡−1 + 𝑑𝑡−1 𝑟𝑡 − 𝑑𝑡−1 − 𝑑𝑡−1 𝑔𝑡


∆𝑑𝑡 = − 𝑠𝑝𝑡 − 𝑠𝑡
(1 + 𝑔𝑡 )

(𝑟𝑡 − 𝑔𝑡 )
(8) ∆𝑑𝑡 = 𝑑𝑡−1 − 𝑠𝑝𝑡 − 𝑠𝑡
(1 + 𝑔𝑡 )
Obs.: a equação permite ver que adiar o ajustamento tende a torná-lo cada vez
mais difícil, pois a postergação das medidas destinadas a obter esse ajuste
implica a persistência de déficits, que por usa vez geram um aumento da dívida
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pública, que tende a realimentar por meio dos juros os déficits em períodos
subsequentes, tornando o ajustamento progressivamente maior.

5.2. Fontes de receita


Ref.: Walsh, Monetary Theory and Policy, Third Edition., pp. 135-141.

Identidade fiscal do governo


𝑇 𝑇 )
(1) 𝐺𝑡 + 𝑖𝑡−1 ∙ 𝐵𝑡−1 = 𝑇𝑡 + (𝐵𝑡𝑇 − 𝐵𝑡−1 + 𝑅𝐵𝐶𝑡

Onde todas as variáveis estão em termos nominais.

𝐺𝑡 = gastos do governo em bens, serviços e transferências;


𝑇
𝑖𝑡−1 ∙ 𝐵𝑡−1 = pagamento de juros sobre o débito pendente (T denota dívida total
do tesouro);
𝑇𝑡 = receita de impostos;
𝑇
𝐵𝑡𝑇 − 𝐵𝑡−1 = novas emissões de dívida remunerada;
𝑅𝐵𝐶𝑡 = recebimentos diretos do banco central (p.ex., o Federal Reserve transfere
para o Tesouro quase todas as receitas de juros de sua carteira de dívida pública).

Identidade orçamentária da autoridade monetária


𝑀 ) 𝑀
(2) (𝐵𝑡𝑀 − 𝐵𝑡−1 + 𝑅𝐵𝐶𝑡 = 𝑖𝑡−1 ∙ 𝐵𝑡−1 + (𝐻𝑡 − 𝐻𝑡−1 )

Onde todas as variáveis estão em termos nominais


𝑀
𝐵𝑡𝑀 − 𝐵𝑡−1 = compra de dívida pública pelo Banco Central;
𝑀
𝑖𝑡−1 ∙ 𝐵𝑡−1 = receita do pagamento de juros pelo Tesouro;
𝐻𝑡 − 𝐻𝑡−1 = mudança do passivo do Banco Central. Esse passivo é chamado de
high-powered money.

Identidade orçamentária do setor público consolidado


(3) 𝐺𝑡 + 𝑖𝑡−1 ∙ 𝐵𝑡−1 = 𝑇𝑡 + (𝐵𝑡 − 𝐵𝑡−1 ) + (𝐻𝑡 − 𝐻𝑡−1 )

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