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A RELAÇÃO ENTRE INVESTIMENTO EM CAPITAL HUMANO

E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO BRASIL

SÃO BERNARDO DO CAMPO


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 3
TEORIZAÇÃO - MODELO DE SOLOW 4
DESENVOLVIMENTO 7
Contextualização do artigo de Chaves et al. (2019) e Lúcio et al. (2019) 7
Análise, metodologia e discussão de resultados do artigo de Chaves et al (2019) 9
Análise, metodologia e discussão de resultados do artigo de Lúcio et al. (2019) 12
CONCLUSÃO 14
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 14

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1. INTRODUÇÃO

Para compreender o conceito de Capital Humano, é necessário entender que a base


dessa ideia é o crescimento econômico, que permite a expansão do produto e maior riqueza
para a sociedade. De acordo com Charles Irving Jones, em sua obra “Introdução à Teoria do
Crescimento Econômico”, a discussão do crescimento econômico destaca a complexidade da
economia, uma vez que existem diversos países em situações extremamente distintas, no que
tange aspectos culturais, sociais e econômicos, como o modo de produção. Assim, mesmo que
a economia geral seja composta por extremos – podemos pensar em países extremamente
ricos e extremamente pobres -, devem existir maneiras de explicar esse comportamento e
aplicar teorias que ajudem na análise e entendimento da sociedade.
Ao resgatar as argumentações de Aristóteles, a economia perfeita seria a
administração do lar, no qual o único fim seria o bem viver, ou seja, satisfazer suas
necessidades pessoais. O filósofo entendia que os indivíduos eram posteriores à sociedade,
assim, a união de famílias teria como fim alcançar a posse daquilo que necessitavam para
suprir suas vontades. Entretanto, a economia que buscava o lucro, ou seja, um crescimento e
desenvolvimento que permitisse o enriquecimento para indivíduos, era vista como indevida.
Podemos considerar que à medida em que a sociedade tornou-se complexa, a visão de
Aristóteles foi esquecida, junto com a inserção dos ideais capitalistas que preveem o
crescimento econômico para alimentar sua necessidade de lucro.
Com a finalidade de compreender a sociedade e o crescimento econômico, o modelo
de Solow é composto por duas principais equações fundamentos econômicos: a função de
produção e a equação de acumulação de capital. A função de produção coloca o produto (Y)
em função do capital (K) e trabalho (L), conceitos essenciais para compreender a dinâmica da
sociedade moderna. Já a equação de acumulação de capital é dada pela variação do estoque de
capital (Kº) igual ao montante de investimento bruto (sY – sendo “s” poupança), menos o
montante da depreciação do capital (dK – sendo “d” depreciação física do capital). Logo,
essas equações nos auxiliam na compreensão do cenário macroeconômico de um determinado
país, de maneira a determinar seu crescimento econômico a partir do relacionamento entre
poupança, investimento e depreciação do capital.
Com essas informações, é possível teorizar e aplicar diferentes conjecturas para
analisar o comportamento de vários países no que tange sua capacidade de crescimento
econômico, considerando características como sua capacidade de poupança e, portanto de
investimento, e sua taxa de depreciação física do capital. Neste trabalho, apresentaremos os

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conceitos relacionados ao capital humano para analisar como a economia do Brasil pode ser
influenciada por tal fundamento.

2. TEORIZAÇÃO - MODELO DE SOLOW

O estudo do crescimento econômico é de extrema importância quando pensamos nas


relações sociais, pois a explicação desse fenômeno afeta a vida de todos os indivíduos, ainda
mais quando refletimos que o local em que estão inseridos é bastante responsável pelas
colunas que possibilitam o crescimento. O renomado economista Robert Solow, conhecido
pelas suas contribuições à economia do desenvolvimento, elaborou o Modelo de Solow, que
auxilia a compreender porque existem países ricos e pobres. Esse modelo tem como principais
equações a função de produção e a acumulação do capital, fundamentais para compreender o
crescimento econômico.
Quando analisamos a função de produção, temos a equação de Cobb Douglas, no
qual Y (produto), K (capital), (L) trabalhador, e α (número entre 0 e 1). Tal equação permite
encontrarmos o valor do produto por trabalhador (y) e do capital por trabalhador (k), sendo
elas, respectivamente:
Y = F(K,L) = Kα L1-α

A equação que mostra a acumulação do capital adiciona a poupança/investimento (s)


e a depreciação (d) para explicar esse fenômeno econômico, além de demonstrar o conceito da
variação do estoque de capital (Ḱ) - sendo o ponto acima de “K” uma demonstração que é
relacionado com o tempo -, certificado pela diferença entre o montante de investimento e a
depreciação do capital, sendo:
(Ḱ) = sY – dK
Assim, a fórmula acima nos mostra um pensamento importante considerado pelo
economista, no qual a população possui a preocupação de guardar uma quantia de sua renda,
visto que existe a depreciação do capital. Solow insere a taxa do crescimento populacional (n)
para auxiliar na compreensão da força do trabalho (Ĺ/L). Temos a noção de que o
investimento e a taxa de depreciação física do capital é um ponto especialmente importante na
medida em que os fatos estilizados de crescimento econômico estabelecem que a
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convergência de renda entre países só pode ser observada na medida em que esses países
apresentem condições similares de estado estacionário - momento em o estoque de capital
aumenta de acordo com o crescimento populacional, logo, o capital por trabalhador é
constante -, quais sejam, o nível de poupança e a taxa de depreciação. Nesse contexto, o
enriquecimento da economia de um país pode ser dado pelo aumento na taxa de investimento.
Dada uma conjuntura em que o país se encontra em estado estacionário e há um acréscimo no
investimento, há o investimento por trabalhador superior ao necessário para suprir a
constância do capital do trabalhador, assim, há um aprofundamento do capital para atingir o
novo estado estacionário em níveis superiores (economia mais rica).
No entanto, para além da poupança e da depreciação, Solow insere a variável de
tecnologia (A) através do Modelo de Solow com Progresso Técnico, a partir da noção de que
o progresso tecnológico possibilita que o modelo incorpore, ainda de maneira exógena, ou
seja, determinada fora do modelo, o fato estilizado do crescimento econômico sustentado ao
longo do tempo, dada pela seguinte função:
Y = F(K,AL) = KαAL1-α
O modelo estabelece que o capital e o produto por trabalhador crescerão à taxa de
progresso tecnológico, de forma que uma possível influência sobre a determinação do
progresso tecnológico torna-se especialmente interessante para os países, na medida em que
através dela os países poderiam provocar e priorizar um nível conveniente de crescimento
econômico. Ou seja, quando a tecnologia aumenta ao decorrer do tempo, uma unidade de
trabalho é mais produtiva por essa elevação (JONES, 2000). O parâmetro “g” é usado para
representar a taxa de crescimento da tecnologia:

Destarte, nesse modelo, o estado estacionário de um país depende da capacidade de


poupança por trabalhador efetivo, isto é, parcela da renda por trabalhador efetivo que é
poupada, e da necessidade de reposição do capital por trabalhador efetivo, que depende das
taxas de depreciação física do capital, de crescimento populacional e de progresso técnico.
Torna-se fundamental compreender que o crescimento sustentado é possível a partir do
progresso tecnológico, isso porque a tecnologia é um recurso fundamental à economia, visto
que traz mais recursos para serem trabalhados.
É nesse sentido de evolução contínua que o capital humano é inserido no modelo de
crescimento econômico, principal objeto de análise deste trabalho. A melhoria atribuída é o
entendimento que a distinção das riquezas entre os países pode ser analisada a partir dos
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diferentes níveis de escolarização e qualificação profissional entre os agentes. A equação do
Modelo de Solow com o capital humano (H) é dada por:
Y = Kα(AH)1-α
A intuição do modelo revela o objetivo de aumentar a produtividade dos
trabalhadores através do estímulo à qualificação profissional da população, tendo em vista a
percepção de que o investimento em educação, ou seja, em mão-de-obra qualificada
determina a posição que os países ocupam nas Cadeias Globais de Valor (CGV). Portanto, as
pessoas nessa economia dispendem tempo aprendendo novas habilidades, ou seja,
acumulando capital humano. Essa nova variável é inserida na análise de Solow para ser mais
um item capaz de explicar as especificidades dos agentes econômicos e, em nível
macroeconômico, dos países, capaz de auxiliar na compreensão do crescimento econômico.
No Modelo de Solow com Capital Humano, as pessoas investem seu tempo em
estudar e qualificar-se para posteriormente ingressarem no mercado de trabalho. A noção de
tempo gasta pelas pessoas para ampliar suas qualidades é dada pelo termo “u”. Portanto,
devemos pensar que o trabalhador não qualificado gasta o tempo “u” para que seu trabalho
represente H. Assim, esse investimento na qualificação dos profissionais é extremamente
importante quando pensamos em uma economia como o Brasil, o qual existe com um alto
nível de empregos informais com baixo nível técnico, investir em qualidade de educação aos
profissionais garante em um futuro a maior produtividade dos trabalhadores. Nesse modelo,
parte do capital físico também possui uma fração de investimento, ou seja, não é todo gasto. A
alteração no modelo adicionando o capital humano é mais um passo para compreender a
divergência entre as riquezas dos países:
Alguns países são ricos porque têm altas taxas de investimento em capital físico,
despendem uma parcela considerável de tempo acumulando habilidades, baixas
taxas de crescimento populacional e altos níveis de tecnologia. Mais ainda, no estado
estacionário, o produto per capita cresce à taxa do progresso tecnológico, g, tal como
no modelo de Solow original. (JONES, 2000, p.47)

Desse modo, a inserção da variável do Capital Humano no Modelo de Solow nos


auxilia a entender de maneira mais assertiva os níveis de desenvolvimento das economias,
porque mostra o quanto cada economia está investindo em maiores habilidades dos seus
trabalhadores a partir da escolaridade e qualificação profissional. Quando pensamos em países
- como o Brasil, foco da análise deste trabalho -, podemos examinar detalhadamente o PIB e
compreender efetivamente como esse investimento impacta a produtividade e o crescimento
econômico. A maior atenção à escolaridade e qualificação profissional diferencia os países

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porque permite que exista um maior crescimento do progresso econômico, este que é variável
fundamental para crescimento da economia.

3. DESENVOLVIMENTO

Diante da introdução do modelo de crescimento econômico de Solow com capital


humano, podemos refletir sobre as possíveis relações no desempenho e crescimento
econômico do Brasil relacionados à formação de capital humano, especialmente vinculados
com o potencial que a educação teria de fomentar e impactar o processo de desenvolvimento
econômico. À luz desse aporte teórico, o grupo optou por analisar dois artigos que abordam o
fomento ao capital humano especialmente vinculados a variáveis vinculadas à educação
(básica e superior) e seus possíveis (ou não) impactos no desenvolvimento econômico dos
Estados brasileiros. Cada um deles apresentará uma abordagem e proxies diferentes atrelados
ao capital humano abordado.
No artigo de CHAVES (2019) - “A relação da formação de capital humano com o
desempenho econômico Brasileiro” - a proxy adotada está vinculada ao número de formandos
no ensino superior brasileiro (coletados pelo INEP entre 1980 e 2015), enquanto o artigo de
Lúcio et al. (2019) - “Educação básica, capital humano e crescimento econômico: uma
análise para os estados brasileiros” - apresentará uma análise baseada no modelo de Mankiw,
Romer e Weil (1992) arqueada sobre dados acerca da educação básica brasileira e proxies
vinculados tanto a aspectos quantitativos como qualitativos para compor a proxy de capital
humano denotada (a saber, quantidade de anos da população economicamente ativa PEA
multiplicado pelo índice Ideb de qualidade da educação, por estado).

3.1. Contextualização do artigo de Chaves et al. (2019) e Lúcio et al. (2019)


No artigo “A relação da formação de capital humano com o desempenho econômico
brasileiro” de Chaves et al (2019), os autores buscam investigar se no país há uma relação de
correlação entre investimento de longo prazo em educação para formação de capital humano e
crescimento econômico, a partir da percepção de que o Brasil vem aumentando a intensidade
de investimentos na formação de profissionais capacitados através do fomento ao ensino
superior na últimas quatro décadas. Em primeiro lugar, os pesquisadores definem o
investimento em capital humano como a “aplicação de recursos de tempo, financeiro, entre
outros esforços, para conseguir um aumento da produtividade” (CHAVES et al, p. 51, 2019).

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Já no artigo “Educação básica, capital humano e crescimento econômico: uma
análise para os estados brasileiros”de Lúcio et al. (2019), os autores - diferentemente do artigo
anterior - buscam estabelecer pontos de contato, através do modelo de crescimento de
Mankiw, Romer e Weil (1992), via análise do investimento em capital humano entendido
como os investimentos na educação básica brasileira e tendo como principais proxies desta
variável os “anos de estudo da população economicamente ativa (PEA)” (de cunho
quantitativo) multiplicado pelo “Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – Ideb” (de
cunho qualitativo). Os autores clarificam que esta escolha traz um benefício ao estudo pois:
“analisa o impacto do capital humano agregando qualidade na educação básica, no
crescimento econômico dos estados brasileiros durante o período de 2005 a 2014” (Lúcio et
al., p.203, 2019).
De acordo com o aporte teórico dos artigos, na busca da compreensão da associação
entre capital humano e crescimento econômico, temos como base o modelo de Solow (1956),
que. conforme explicitado no capítulo inicial, apresenta uma relação plausível acerca da
possível convergência de renda per capita entre os países, por associar uma função de
produção do tipo Cobb-Douglas a algumas hipóteses simplificadoras (Lúcio et al., p. 205,
2019). Entretanto o modelo de Solow (1956) tanto quanto modelos de crescimento
desdobrados deste, como o de Koopmans (1965), não foram capazes de esclarecer a alta
distorção de crescimento econômico das economias por volta das décadas de 1960 e 1970.
Deste modo, modelos de crescimento foram sendo elaborados na busca por explicar esta
situação através do progresso técnico e humano como fator endógeno da economia, recebendo
destaque na construção deste conceito.
A princípio, Mincer (1958) foi crucial na definição de capital humano que utilizamos
até os dias atuais, inserindo-o na análise da economia para maior compreensão dos padrões da
distribuição de renda partindo de indivíduos racionais maximizadores. A contribuição da
teoria de capital humano de Becker (1962) também mostrou-se essencial para a constituição
de tal conceito ao considerar que os indivíduos investiam na obtenção de educação e
treinamento e através deste estoque acumulado de capital humano, buscando entender a
dinâmica de distribuição de renda e como este impactava o processo de rendimento dos
trabalhadores. Outro autor que marcou a gênese desta teoria foi Schultz (1961), o qual viu a
inserção do capital humano nos modelos de crescimento endógenos como imprescindíveis
para uma análise econômica de longo prazo realista, tomando como base a qualificação e o
aperfeiçoamento dos indivíduos por meio da educação como uma forma de aumentar a
produtividade e o lucro dos capitalistas.
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Por fim, três autores, pós-década de 1980 que, arqueando-se nos modelos teóricos
desenvolvidos, irão elaborar modelos de crescimento endógenos são: Lucas (1988), Barro
(1991) e Mankiw, Romer e Weil (1992). Mankiw, Romer e Weil buscaram manter as
funcionalidades do modelo de Solow (tendência de convergência de renda per capita entre as
nações) incluindo o capital humano como um dos fatores explicativos do crescimento. Já
Lucas e Barro contribuem apresentando um papel importante ao capital humano no
desenvolvimento econômico. Lucas atribui ao capital humano protagonismo no crescimento
sustentável (além de apresentar tipos diferenciados de capital humano com impactos
diferentes, como o educativo e o learning-by-doing). Barro apresenta um papel importante do
capital humano nos modelos de crescimento endógeno, tornando-o um insumo fundamental
no setor de pesquisas, o qual geraria ideias que contribuem para o progresso tecnológico que,
por sua vez, impactaria positivamente no crescimento econômico (Lúcio et al., p. 205-206,
2019).

3.2. Análise, metodologia e discussão de resultados do artigo de Chaves et al


(2019)
Como descrito, Chaves et al (2019) buscará investigar se o investimento em capital
humano, representado em seu estudo pelo investimento no nível educacional superior de 1980
a 2015, possui impactos no PIB per capita brasileiro no mesmo período, buscando denotar se
estes impactos são significativos e se explicam ou, ao menos, ajudariam a explicar, as
mudanças no desenvolvimento econômico do país. A metodologia utilizada em sua
consideração foi desenvolvida por intermédio de análise da dinâmica de séries de tempo, a
partir de modelos VAR (vetorial auto regressivo) ou de correção de erros VEC (vetor de
correção de erros). Foram escolhidos três variáveis principais, uma variável controle
relacionada aos níveis de gastos público per capita (“Gedu”) em educação, e duas variáveis
que serão proxies do crescimento/desenvolvimento econômico e do nível de capital humano,
respectivamente o PIB per capita (“PIBper”) e o número de concluintes no ensino superior
(“Grad”).

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fonte: CHAVES et al (2019)

A análise VAR e suas estimativas denotaram algumas relações pertinentes à


investigação do estudo. Observou-se que no curto prazo, tanto os gastos público na educação

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como o crescimento econômico/PIB per capita é uma variável que não depende de
desempenhos passados destas próprias variáveis (ou seja do desempenho passado de gastos
públicos e crescimento econômico), bem como não dependem também dos níveis de gastos
públicos ou sofrem influência do número passado de alunos concluintes no ensino superior.
Já a variável referente a alunos concluintes no ensino superior, apesar de não ser impactado
pela performance passada de alunos concluintes no ensino superior, são impactados pelos
níveis de crescimento econômico e gastos em educação, de acordo com o estudo.

fonte: CHAVES et al (2019)

Outro resultado pertinente se deu na decomposição da variância do logaritmo natural


da variável PIB per capita, ao qual ao longo de uma projeção de dez anos, o crescimento
econômico vem tendo sua variância explicada em maior medida pelo próprio crescimento do
PIB per capita, com 97% de significância. Ou seja, ele compõe boa parte do crescimento
econômico registrado no período, de acordo com este indicador. Já os níveis de gastos
públicos em educação e dos impactos dos números de concluintes em formação superior
registraram baixa capacidade de composição deste PIB per capita, possuindo respectivamente,
em média, menos de 3% e 0,05% do total da variância do indicador, ao longo dos dez anos
projetados.
A conclusão que os autores chegam com os resultados dos experimentos é que não
há uma correlação entre a acumulação de capital humano implicando no crescimento
econômico brasileiro, corroborando para a posição de que o capital humano seja no longo,
seja no curto prazo, não possui impactos significativos no crescimento econômico do país.
Esta conclusão está arqueada especialmente no fato de a formação superior registrar uma
significância média muito pequena (0,05%) na composição da variância do PIB per capita
para os próximos dez anos (ou seja em longo prazo), bem como na inexistência de relação de
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dependência entre a variável crescimento econômico/PIB per capita e os desempenhos
passados tanto do número concluintes de cursos superiores, como dos níveis de gastos
públicos em educação, refutando tanto os modelos preconizados por Becker (1962) e Schultz
(1961).
Outro ponto é que mesmo que com o incrível aumento do número de concluintes no
ensino superior do período analisado (1980-2015) num patamar de 407,93% - este aumento
representou uma parcela muito pequena de significância na variância do crescimento
econômico brasileira para o mesmo período, uma parcela de significância de por volta de
10%. Isso também ajuda a refutar o modelo de Mankiw, Romer e Weil (1992) que considera
o acúmulo de capital humano prévio como característica no potencial de desenvolvimento
econômico do país (ou seja, países com maiores estoques de capital humano prévios, sendo
eles países tendencialmente mais ricos, tenderiam a ter um crescimento econômico maior ou
mais acelerado) bem como vetor de explicação do próprio crescimento econômico.

3.3. Análise, metodologia e discussão de resultados do artigo de Lúcio et al.


(2019)
O artigo de Lúcio et al (2019) buscará, de forma correlata ao estudo de Chaves et al
(2019), investigar se o investimento em capital humano impactará no crescimento do PIB dos
estados brasileiros no período de 2005 à 2014. O artigo, porém, diferencia-se do anterior pelo
fato do capital humano ser representado, no estudo, pelo nível de investimento na educação
básica brasileira de 2005 à 2014, mensurado por dois componentes de cunhos diferentes que
formarão o proxy de capital humano (quantitativo e qualitativo) do estudo, a saber, os “anos
de estudo da população economicamente ativa (PEA)” multiplicado pelo “Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB” para cada estado brasileiro no mesmo
período. De forma paralela, o autor busca compreender se a dinâmica de investimentos no
capital humano delineado, ou seja, nos investimentos e do nível da educação básica, impacta
no crescimento econômico dos estados brasileiros ao longo do mesmo período, bem como
busca compreender se estes impactos são significativos e se explicam ou ajudariam a explicar,
as mudanças no crescimento econômico do país.
A metodologia utilizada no estudo foi baseada especialmente no modelo de Mankiw,
Romer e Weil (1992). que explicita-se o capital humano (desagregado do capital físico) como
fator explicativo do crescimento econômico. A análise foi baseada em um modelo de dados
em painel e baseada no modelo de Mankiw, Romer e Weil, na qual utilizou de quatro
variáveis e suas proxies. A primeira delas é o PIB, oriunda dos dados do IBGE sobre o PIB do
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país no período supracitado, a segunda refere-se cao capital físico tendo como proxy o
consumo de energia elétrica não-residencial, a terceira representa o trabalho com proxy na
porcentagem de indivíduos ocupados com base na PNAD e multiplicada pela população
residente em cada estado de acordo com os dados do IBGE, por fim temos o capital humano
representado por duas proxys referindo-se a qualidade e quantidade de educação. Esta
composição será a multiplicação entre a variável quantitativa “anos de estudo” da população
economicamente ativa - PEA pela proxy que capte a qualidade do ensino, onde os autores
optaram pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – Ideb do terceiro ano do
ensino médio, pois é neste estágio que o indivíduo deixa a formação básica e, teoricamente,
está minimamente pronto para o mercado de trabalho.

fonte: LÚCIO et al (2019)

O resultados dos testes empíricos denotam que, através da análise do modelos de


dados em painel, foi optado pelos autores o uso do método de mínimos quadrados
generalizados (GLS) com efeitos aleatórios para correção da heterogeneidade das unidades,
da heterocedasticidade e da autocorrelação. Este método denotou, de acordo com os autores,
que todas as variáveis explicativas possuíam grande significância estatística no impacto do
crescimento econômico de acordo com seus valores. A análise, através da soma dos
coeficientes, denotou retornos crescentes de escala e, baseado especialmente nos efeitos
aleatórios dos mínimos quadrados generalizados (GLS), a variável explicativa em especial
análise “capital humano” apresentou o valor de 0.87, podendo indiciar possíveis
externalidades positivas geradas pelo capital humano no desenvolvimento do PIB dos estados
brasileiros.

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Desta forma, os autores concluíram que os resultados obtidos corroboraram com as
teoria dos modelos de crescimento econômico baseados especialmente no fomento ao capital
humano, bem como conseguiram chegar em seu objetivo que era delinear a importância do
capital humano, especialmente em relação aos investimentos e a qualidade da educação básica
como propulsores do crescimento econômico dos estados brasileiros. Isso provoca a
relevância de entender os modelos de crescimento econômico e como o capital humano é um
investimento crucial para o desenvolvimento do país.

4. CONCLUSÃO

A presença e importância do capital humano na compreensão do crescimento


econômico são ponto focal de discussões há muitos anos, de tal modo que avanços na sua
incorporação à teoria econômica e em seus respectivos modelos são notáveis nas décadas
recentes. De tal modo, o presente trabalhou buscou analisar, de início, a configuração teórica
na qual se baseia o papel do capital humano nos modelos de explicação sobre o crescimento
econômico, retratando o papel dos teóricos fundamentais no estado atual da teoria, para então,
tratar, a partir de uma revisão bibliográfica, qual é o impacto do capital humano no
crescimento econômico brasileiro. Com este intuito, o trabalho compara dois artigos com
objetos de estudos próximos: ambos visam analisar os impactos que a formação educacional
pode ter na potencialização do crescimento econômico nos estados brasileiros.
Ainda que com metodologias diferentes, em especial ao que se trata da especificação
dos modelos econométricos e suas variáveis, e comparando períodos históricos distintos,
esperava-se encontrar resultados semelhantes. O que pôde se observar, todavia, foram
conclusões opostas. A relevância do investimento em capital humano educacional na
explicação do crescimento econômico diferiu entre as pesquisas, tanto a curto quanto a longo
prazo.
O artigo de Chaves et al. (2019), conclui que a acumulação de capital humano não
teve relevância estatística na explicação do crescimento econômico, enquanto o artigo de
Lúcio et al. (2019) traz como resultado um impacto positivo tanto do investimento em
educação quanto da qualidade desta para o crescimento. É importante salientar que - mesmo
usando modelos baseados no capital humano - a escolha de referenciais que representem este
capital humano (como por exemplo, a educação superior ou educação básica) apresentam
resultados bastante distintos quanto aos impactos que o capital humano pode ou não promover
ao desenvolvimento, denotando que a escolha do tipo de capital humano enquanto variável
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explicativa pode ser crucial também nos seus desdobramentos, ou seja, nos próprios impactos
potenciais do capital humano no desenvolvimento econômico, podendo da mesma forma dar
maior robustez aos modelos de crescimento com capital humano ou mesmo refutá-los, como
foi apresentado pelos dois artigos.
Com isso, podemos ver que o impacto, de forma mais ampla, do capital humano no
crescimento econômico terá, diferentemente do que se vê nas proposições teóricas, resultados
empíricos distintos a depender da metodologia e proxies utilizadas na análise.
Deste modo, para alimentar cada vez mais as discussões de investimento no capital
humano, é possível traçar paralelos com outras áreas de análises socioeconômicas. O estudo
dos benefícios sociais e no crescimento econômico de cada um dos níveis educacionais
enquanto proxies para impulsionar o crescimento, juntamente com os resultados das pesquisas
estudadas neste artigo, podem orientar a proporção do destino dos investimentos em capital
humano dentre estes graus de escolaridade, de maneira que o impacto deste
emprego/investimento de recursos reverbere não apenas no PIB, mas também no próprio
desenvolvimento educacional do país como um todo através de seus impactos nos indivíduos
e na sociedade, retroalimentando e impulsionando o processo de crescimento.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHAVES, Marcelo Santos et al. A Relação de Capital Humano com o Desempenho


Econômico Brasileiro. Planejamento e Políticas Públicas (PPP), n. 52, 2019. Disponível em:
<http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/9731/1/ppp_n52_rela%C3%A7ao.pdf>

COSTA, Nilson do Rosário; FONSECA, Elize Massard da. O Índice de Capital Humano:
um desafio para o Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 25(9):3611-3614, 2020. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/csc/a/7fVv7Gy6kd5W7YCXMLyWbcJ/?lang=pt&format=pdf>

JONES, C. Introdução à Teoria do Crescimento Econômico. Ed. Campus: São Paulo,


2000.

LÚCIO, Francisco Germano Carvalho et al. Educação básica, capital humano e


crescimento econômico: uma análise para os estados brasileiros. Economia Ensaios, v. 33,
n. 2, 2019. Disponível em: <https://seer.ufu.br/index.php/revistaeconomiaensaios/ar
ticle/view/40470>
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