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REVISTA DE CIÊNCIAS GERENCIAIS

O PROFISSIONAL PEDAGOGO EMPRESARIAL


ANÁLISES EM TORNO DE SUA IDENTIDADE E ATUAÇÃO NA GESTÃO DE PESSOAS

Robson Carlos Silva – Universidade Estadual do Piauí - UESPI


Cândida Angélica Moura – Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA

RESUMO: O artigo versa sobre o profissional pedagogo empresarial, a construção de Palavras-chave:


sua identidade e sua atuação em empresas e organizações. O problema que fomentou pedagogia empresarial. Identidade.
Gestão de pessoas.
o estudo foi elaborado a partir da seguinte inquirição: quais atividades são inerentes
ao pedagogo empresarial e como ele deve planejar e organizar as atividades que
caracterizam sua ação nas instituições? No sentido de responder nosso problema Keywords:
realizamos uma investigação bibliográfica em livros e artigos que versam sobre a Business Pedagogue, Identity,
temática, efetivando um diálogo com nossas experiências práticas no planejamento People Management.
e na condução de processos em gestão de pessoas em diversas instituições. O estudo
teve como fio condutor as ideais de Ribeiro (2008, 2010), Lopes (2009), Bomfin (2007),
Senge (2006), Libâneo (1991) e Freire (2001a, 2011b). Os resultados encontrados
remetem ao entendimento de que o pedagogo empresarial, além de se constituir em
um profissional de fundamental importância, pode contribuir de forma significativa
na solidificação de trabalhos exitosos em gestão de pessoas no contexto de instituições
e organizações empresariais.

ABSTRACT: The article comes about the professional business pedagogue, building
its identity and performance in enterprises and organizations. The problem that has
fostered the study was prepared from the following question: what activities are
inherent to the business teacher and how he must plan and organize activities that
characterize its action in institutions? In order of answering our problem we conducted
a literature search in books and articles dealing with the subject, effecting one dialogue
with our practical experience in the planning and conduct of people management
processes in various institutions. The study was to thread the ideas of Ribeiro (2008,
2010), Lopes (2009), Bomfin (2007), Senge (2006), Libâneo (1991) and Freire (2001a,
2011b). The results refer to the understanding that the business pedagogue, besides
being a professional critical, can significantly contribute to the solidification of
successful work in people management in the context of institutions and business
organizations.

Artigo Original
Recebido em: 02/10/2013
Avaliado em: 22/10/2013
Publicado em: 23/06/2014

Publicação
Anhanguera Educacional Ltda.

Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE

Correspondência
Sistema Anhanguera de
Revistas Eletrônicas - SARE
rc.ipade@anhanguera.com

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O profissional pedagogo empresarial: análises em torno de sua identidade e atuação na gestão de pessoas

1. INTRODUÇÃO
O presente artigo é fruto de uma investigação acerca do papel, atuação e perfil do pedagogo
nas Empresas e Organizações. Na atualidade chama atenção a ampliação das possibilidades
de atuação do profissional pedagogo em diversos espaços organizacionais na sociedade, em
especial na gestão de pessoas e na organização dos processos intencionais de planejamento,
acompanhamento e avaliação de serviços próprios de organizações tais como: Hospitais,
Fundações, Consultorias, Presídios, dentre outras.
Assim sendo nos despertou várias questões, como por exemplo, qual o papel e o
perfil do pedagogo empresarial? Quais atividades são inerentes e caracterizam o pedagogo
empresarial? Como o pedagogo empresarial deve planejar e organizar as atividades que
caracterizam sua ação nestas instituições?
Para responder essas questões e identificando a não existência de estudos aprofundados
a partir de experiências práticas da pedagogia empresarial em Teresina-PI, realizamos
um estudo bibliográfico nos detendo em obras literárias que versam sobre a temática,
além da investigação em periódicos da área de gestão de pessoas, e artigos publicados e
disponibilizados na internet em sites e blogs especializados na socialização de trabalhos
desta natureza.
Utilizamos como principais referenciais Ribeiro (2008, 2010), Lopes (2009), Bonfim
(2007), Senge (2006), Libâneo (1991) e Freire (2001a, 2011b), tendo como propósito identificar
a função o perfil e as ações que caracterizam a atuação do pedagogo empresarial. Neste
sentido analisamos as diversas teorias disponibilizadas nas obras investigadas e a partir
dessa análise traçamos um perfil ideal de pedagogo empresarial o qual acreditamos melhor
atende as necessidades, anseios e expectativas dos profissionais que buscam formação nesta
área, o que se da a partir do confronto das teorias investigadas, dos referenciais estudados
no Curso de Especialização em gestão de pessoas na Universidade Estadual Vale do
Acaraú em parceria com a Múltipla Educação Profissional e de nossa experiência prática
em pedagogia empresarial, de 08 anos em diversas empresas, escolas e instituições em
Teresina-PI, prestando consultoria, planejando e organizando material teórico/prático para
o desenvolvimento das ações previstas.
Assim sendo, acreditamos que o presente artigo poderá contribuir significativamente
na orientação das atividades do pedagogo empresarial além de contribuir na construção do
ideário teórico na área da pedagogia empresarial.

2. CONHECENDO A PEDAGOGIA EMPRESARIAL


Para melhor entendermos a pedagogia empresarial devemos compreender o processo
educativo de forma geral e especificamente a natureza da pedagogia. Utilizando a ideia de

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Brandão (1981) podemos afirmar que a educação é um processo que acompanha e marca
profundamente o homem em todos momentos de sua existência, ocorrendo em suas relações
no meio ambiente natural e social, em suas relações cotidianas, em casa, na rua, nas diversas
instituições sociais, tais como, igrejas, na escola, na imprensa, dentre outros, se constituindo
enquanto sujeito histórico e culturalmente atuante.
Assim sendo a educação consiste no processo de garantia da difusão de aprendizagens
sócio culturais de geração em geração, contribuindo significativamente na formação da
herança cultural acumulada historicamente pela humanidade, ou seja, educação é um
processo que ocorre em todos os momentos de nossa vida.
Seguindo as ideais de Freire (1983) não há educação fora das sociedades humanas
e não existe a possibilidade de se conceber o ser humano enquanto um ser vazio, ou seja,
todos são marcados profundamente pelas condições especiais de cada sociedade, sendo que
a educação ocupa lugar preponderante nessa relação.
É por meio da educação que os seres humanos se tornam pessoas, sujeitos de sua
própria história, inclusive superando a condição ingênua de suas consciências, condição
essa conceituada por Freire (1983) de “sombra”, e atingindo uma conscientização crítica
diante de sua existência. Esse, portanto, o papel da educação, essa sua função primeira,
tornar as pessoas humanas e, mais ainda:
Expulsar esta sombra pela conscientização é uma das fundamentais tarefas de uma
educação realmente libertadora e por isto respeitadora do homem como pessoa. [...]
no esforço de humanização e libertação do homem e da sociedade [...]. (FREIRE,
1983, p. 37)

Em relação a pedagogia podemos afirmar que se trata do caráter intencional do


processo educativo, se constituindo em um campo que versa sobre a organização das práticas
educativas, concedendo a essa um caráter intencional a partir de um olhar cientifico. A
pedagogia, neste sentido, se constitui em um campo de investigação das diversas atividades
voltadas para o educacional e o educativo (LIBÂNEO, 1991).
Surgindo enquanto ciência da educação, sendo o pedagogo concebido como uma
espécie de operador educativo, ou especialista em educação, a pedagogia foi assumindo
status de uma complexa rede de teorias, práxis, posicionamentos sobre educação, além da
associação intencional e racional de currículos, métodos e práticas que amparam e orientam
o saber e o agir sobre a educação.
O profissional pedagogo dedica suas atividades exatamente a partir dessa variedade
de atividades que marca a pedagogia, tais como: pesquisa, documentação, formação,
acompanhamento e avaliação de profissionais, orientação pedagógica de diversas naturezas,
atuação em atividades de lazer e, especialmente, na gestão e formação continuada de
processos educativos e empresariais.

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Vale destacar que é ao pedagogo que cabe, pela utilização de conceitos libertadores,
estimular as pessoas, quando em sua prática profissional, no papel de educador, a realizar
sempre uma reflexão crítica acerca da realidade que os cerca, por meio de uma educação
problematizadora e reflexiva, indispensável para o desvelamento da realidade, sendo o
modelo de educação, assim acreditamos, que todo pedagogo deve contemplar.
Antes, porém, de adentrarmos nas análises e compreensões mais específicas acerca da
pedagogia empresarial, é importante destacar em qual cenário estão situadas as modernas
organizações contemporâneas, sejam elas públicas ou privadas, além de pontuar o impacto
das rápidas mudanças que se configuram nesse cenário, a partir do intenso e rápido processo
de inovações tecnológicas e do acirramento da concorrência, fruto das exigências sociais por
melhoria na qualidade dos serviços, bem como, da crescente e acelerada busca e acesso pela
produção de conhecimento que marca profundamente as sociedades atuais.
Na realidade, um rápido olhar pela história da humanidade, deixa evidente que
em todas as épocas cada geração acredita estar passando por expressivas mudanças, o
que, também, se pode verificar em nossa realidade. Além disso, os acelerados avanços
tecnológicos e de comunicação contribuem para que a realidade que presenciamos seja
percebida enquanto período de significativas mudanças econômicas, políticas e culturais,
expressadas, em especial, na categoria da “globalização”.
Portanto, as organizações e instituições, sejam públicas e privadas, vão se constituindo e
se estruturando a partir e dentro de um contexto de configuração global ditada pela interação
entre o indescritível processo de inovação tecnológica e a força do alcance promovido
pelos meios midiáticos, acirrando competições, exigindo alto padrão de produção, efetiva
qualidade na prestação de serviços e na formação das pessoas, dentre outros aspectos.
Neste contexto, o ritmo de desenvolvimento econômico, mesmo em sociedades e
culturas historicamente excluídas, atinge acentuados níveis de desenvolvimento econômico,
melhorando os índices de qualidade de vida e proporcionando possibilidades alargadas de
acessos a bens e serviços antes impensáveis.
Dois teóricos que nos permitem melhor compreender esse processo são Giddens e
Hutton (2004), por assentarem suas análises sobre o processo de globalização, a qual a
pontuam enquanto produto de várias tendências sobrepostas, novos paradigmas, tais
como, a revolução mundial das comunicações e a nova economia do conhecimento, ambas
formando uma base sólida em que o mercado financeiro se constitua enquanto vanguarda,
visto que,
Os mercados financeiros de hoje são estonteantes em seu alcance, em sua natureza
instantânea e na enorme rotatividade e [...] a globalização refere-se a mudanças
profundas que acontecem no nível da vida cotidiana. [...] Esta mudança está ligada
a transformações que afetam a família e a vida emocional em termos mais gerais,
não só nas sociedades ocidentais como também, em grau maior ou menor, por toda
parte. (HUTTON, GIDDENS, 2004, p. 14)

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Portanto, é nesse cenário de profundas mudanças, de significativa valorização


do conhecimento e de possibilidades inimagináveis nos alcances da comunicação,
proporcionando influências generalizadas nas culturas e nos padrões de vida das
sociedades e refletindo de forma significativa nos processos de produção e promovendo
transformações, política, econômica, cultural e educacional expressivas, que situamos as
recentes configurações em que se estabelece a pedagogia empresarial.
Partindo das afirmações acima e utilizando Ribeiro (2008) podemos situar a pedagogia
empresarial enquanto:
[...] uma das possibilidades de formação/atuação do pedagogo bastante recente,
especialmente no contexto brasileiro. Tem seu surgimento vinculado a ideia da
necessidade de formação e/ou preparação dos Recursos Humanos nas empresas.
Nem sempre, no entanto, as empresas preocuparam-se com o desenvolvimento
de seus recursos humanos, entendidos como fator principal do Êxito empresarial.
(RIBEIRO, 2008, p. 9)

A pedagogia empresarial surge, a partir das novas exigências das sociedades modernas,
enquanto elemento de ligação, integração e articulação das ações desenvolvidas pelas
pessoas e as estratégias características de cada organização, envolvendo tanto os aspectos
instrumentais quanto as dinâmicas humanas, notadamente a valorização das dimensões
social e ética. (CHIAVENATO, 1999).
Ao pensarmos sobre a pedagogia empresarial, devemos levar em conta que se
trata de uma especificidade atrelada a área educacional e ao desenvolvimento humano,
principalmente centrando seu olhar e atuação na coordenação dos projetos que são objeto
da organização, notadamente no incentivo do desenvolvimento do conhecimento intelectual
de seus colaboradores.
Fica evidente que a pedagogia empresarial se ocupa basicamente com os conhecimentos,
as competências, as habilidades e as atitudes indispensáveis à melhoria da produtividade
nessas instituições.
Dentre as funções específicas cabe ao profissional pedagogo empresarial o planejamento,
a implantação, o acompanhamento e a avaliação de programas de qualificação profissional,
produzindo e difundindo conhecimentos (EBOLI, 2004).
Além disso, a pedagogia empresarial é uma área associada à estruturação do setor
de treinamento, em especial no desenvolvimento de programas de levantamentos de
necessidades de treinamento, na adaptação de metodologias da informação e da comunicação
e na valorização das experiências já adquiridas pelos colaboradores (RIBEIRO, 2008).
Essa perspectiva se ancora no planejamento e na construção de estratégias e métodos
garantidores de conhecimento, bem como da apropriação e difusão de informações em
busca da realização plena dos ideais, dos valores e dos objetivos definidos como finalidade
principal de determinada empresa.

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Trata-se, portanto, de uma área que visa dar suporte no sentido de provocar
mudanças efetivas no comportamento das pessoas para que sejam capazes de melhorar
significativamente a qualidade do seu desempenho profissional e pessoal no contexto das
empresas e organizações.
São essas ações, perfil, competências, habilidades, atitudes, dentre outras, que
caracterizam a identidade do profissional pedagogo empresarial que buscaremos aprofundar
a seguir.

3. O PERFIL E ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EMPRESARIAL:


CARACTERÍSTICAS ANSEIOS E EXPECTATIVAS
De acordo com Ribeiro (2008), o perfil do pedagogo empresarial pode ser delineado a
partir de três competências básicas. São elas, em primeiro lugar, a capacidade de trabalhar
em equipe, que consiste na regulação indispensável a própria equipe, visto se tratar da
influência sobre o comportamento e as decisões dos demais.
Poderíamos dizer que se trata da capacidade de liderar, envolvendo o entendimento
a respeito do valor da cooperação, enquanto elemento garantidor do equilíbrio do grupo,
fomentando nas pessoas o entendimento e a prática do espírito de equipe, do discernimento
e capacidade de negociação dos problemas além da capacidade de empatia.
Em segundo lugar, Ribeiro (2008) aponta a capacidade de dirigir um grupo de trabalho
e conduzir reuniões, o que significa dar vida a equipe; o que exige a reflexão e percepção
cuidadosa a respeito do comportamento do grupo, assim como aprofundamento sobre as
dimensões da organização de reuniões. O principal é que o pedagogo empresarial se assuma
e seja percebido enquanto um líder e não enquanto um ditador que determina sem diálogo,
sem discussão, ou seja, não comanda, “manda”.
Finalmente, é destacada a competência de enfrentar e analisar em conjunto situações
complexas, práticas e problemas profissionais, competência esta relacionada a capacidade
de afastar as insatisfações por meio da autonomia e da negociação, exigindo maturidade,
estabilidade e serenidade, bem como a efetiva capacidade de mediação, no sentido de obter
maior clareza sobre os desafios que se constituem.
A partir destas caracterizações e dos inúmeros avanços tecnológicos e científicos
que tem refletido de forma efetiva as sociedades atuais, muitas organizações, instituições
e empresas focam seus esforços na modificação em sua cultura, em especial buscando o
atingimento de objetivos, tais como, maior autonomia, participação e comprometimento
das pessoas.
Com a percepção de que nem sempre as pessoas estão acostumadas ou preparadas
para as mudanças e inovações, o papel da pedagogia empresarial emerge como importante
e central na área da gestão de pessoas, em especial pela possibilidade de desenvolver a
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criatividade; promovendo ações como encorajar e tornar viável a mudança; definir, por
meio do planejamento participativo, objetivos claros, racionais e objetivos; impulsionar
novas ideias e viabilizar a interação efetiva; além de proporcionar o clima organizacional
favorável à liberdade e ao reconhecimento pessoal.
Já a concepção de Lopes (2009), o pedagogo empresarial deve ser o profissional
conhecedor profundo de estratégias de aprendizagem, em especial tendo a responsabilidade
de desenvolver a capacidade de verbalização, de organização de pensamento, além do
entendimento de uma parte ou do todo que envolve o processo de gestão e coordenação de
pessoas, área hoje fundamental no campo da administração.
Esse entendimento diz respeito ainda a uma característica fundamental do pedagogo
empresarial que é a capacidade de promover uma educação com qualidade e prazerosa, o
que exige:
[...] estudar/conhecer o produto e/ou o serviço e agregá-lo ao paradigma, para
realmente promover o desenvolvimento pessoal e, consequentemente, o empresarial,
ou seja, você conhece bem o produto, o serviço, toda sua cadeia de produção, de
divulgação. Isto tudo associado a uma cadeia consistente que é proporcionada
pela escolha e pelo conhecimento do paradigma leva ao desenvolvimento pessoal,
individual, o que leva ao desenvolvimento empresarial porque toda empresa é feita
por pessoas. (LOPES, 2009, p. 59)

Outro conceito bastante esclarecedor é o trabalhado por Ribeiro (2010) na obra Temas
atuais em pedagogia empresarial: aprender para ser competitivo, em que, numa espécie de
síntese, a autora destaca como principal função do pedagogo empresarial a capacidade de
entendimento aprofundado sobre os comportamentos humanos, o que inclui o seu próprio,
no contexto organizacional, deixando evidente que o principal fator para a atuação deste
profissional é o cuidado para com a dimensão humana.
Deve-se entender, também, que a pedagogia empresarial não seja empregada somente
na coordenação de treinamento, na avaliação do desenvolvimento das pessoas, na realização
de cursos de relações humanas e na elaboração de planos didáticos, mas que, acima de
tudo, o profissional pedagogo empresarial seja visto como um profissional que possa
suprir as expectativas da empresa e ajudar na plena realização dos objetivos propostos,
um profissional que entenda as necessidades dos trabalhadores e possa exercer a função de
articulador e mediador entre empresa e seus profissionais e parceiros.
Tomando como análise as novas competências exigidas no mundo moderno, Cadinha
(2009) afirma que a pedagogia empresarial se apresenta enquanto:
[...] uma ponte entre o desenvolvimento das pessoas e as estratégias organizacionais.
Isto porque, como já foi abordado, a pedagogia é a ciência que estuda de forma
sistematizada o ato educativo, isto é a prática educativa concreta que se realiza na
sociedade. [...] Assim [...] no mundo empresarial, surge a pedagogia empresarial,
um ramo da pedagogia que se ocupa em delinear frentes para que ocorra o
desenvolvimento dos profissionais, como um diferencial entre as empresas.
(CADINHA, 2009, p. 32). (grifo nosso)

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Um aspecto constantemente presente nas teorias que versam a respeito da pedagogia


empresarial, assim como, da identidade do profissional pedagogo empresarial trata-se da
questão ético-profissional.
Salta aos olhos a responsabilidade ético-profissional que todo profissional deve ter ao
assumir trabalhar com pessoas, sendo que suas atitudes frente ao trabalho destas pessoas
não pode deixar rastros que incidam negativamente, seja em sua trajetória profissional, seja
em sua vida pessoal.
O profissional eticamente comprometido com sua formação e no desenvolvimento
de sua função, enquanto gestor deve fazer a diferença no seu espaço de trabalho, se
constituindo em exemplo a ser seguido, acreditando na qualidade de seu trabalho em
contribuir efetivamente no bem estar de todos.
Neste sentido, concluímos esta seção entendendo que o pedagogo empresarial é,
acima de tudo, o profissional detentor de um vasto conhecimento acerca do comportamento
humano, um articulador de interesses, um líder na dinâmica organizacional, aspectos que
aprofundaremos a seguir.

4. CONSTRUINDO UMA IDENTIDADE HUMANA E


PROFISSIONAL DO PEDAGOGO EMPRESARIAL
Após compreendermos sobre o caráter intencional da pedagogia, o perfil do pedagogo e
mais especificamente as características fundamentais do profissional pedagogo empresarial
defenderemos nessa seção aquilo que entendemos como essencial na construção identitária
desse profissional, envolvendo, além das leituras sobre os teóricos abordados nesse artigo,
nossa experiência no exercício da função em tela em diversas instituições e organizações
empresarias em Teresina/PI.
Em primeiro lugar, nos apoiamos nas ideias de Senge (2006), ressaltando que as ideias,
desse teórico, com as quais trabalhamos nesse artigo, se constituem em componentes de um
sistema de gestão elaborado por ele, com o intuito de contribuir para que as organizações se
transformem em espaços e ambientes de aprendizagem contínua e constante, diariamente,
tornando cultural o foco na aprendizagem organizacional, assim como, contribuindo
para que a equipe empresarial como um todo possa efetivamente alcançar níveis de
aprendizagens mais ricas e mais eficazes para a empresa; seria, portanto, um novo padrão
de aprendizagem organizacional, de natureza coletiva e, significativamente, superior às
aprendizagens individuais.
Ancorados, portanto, nas ideias de Senge (2006), iniciamos destacando como principais
características da identidade do pedagogo cinco aspectos essenciais. Primeiramente o
pensamento sistêmico, que significa o entendimento sobre o todo, jamais se prendendo as

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peculiaridades e as individualidades, mas sim compreendendo as conexões e as interrelações,


ou seja, somente poderemos entender um sistema se contemplamos o todo, não uma parte
individual do padrão.
Em seguida o domínio pessoal, relacionado ao nível de proficiência e não de controle,
remetendo a capacidade de esclarecer e aprofundar nossa visão pessoal, da concentração de
energias, do desenvolvimento da paciência e da capacidade de fazer uma leitura objetiva
da realidade. Neste domínio, podemos situar uma importante característica da organização
aberta ao aprender, a de que sua capacidade e comprometimento com o aprender jamais
podem ser superiores a de seus integrantes.
O terceiro aspecto, ou domínio, são os modelos mentais, que significam o conhecimento
aprofundado, as generalizações e as imagens que influenciam diretamente nossa forma de
ver e agir no mundo. Neste domínio se situam ou se incluem a capacidade das organizações
em
[...] aprender a desenterrar novas imagens internas do mundo, a levá-las à superfície
e mantê-las sob rigorosa análise. Inclui também a capacidade de realizar conversas
ricas em aprendizados, que equilibrem a indagação e argumentação, em que as
pessoa exponham de forma eficaz seus próprios pensamentos e estejam abertas à
influência dos outros. (SENGE, 2006, p. 42).

Na sequência o autor aponta a construção de uma visão compartilhada, atrelada a


habilidade de descobrir imagens compartilhadas que motivem o compromisso e estimulem
o envolvimento legítimo das pessoas. Este domínio aparece atrelado a ideia de liderança e
da capacidade de cada empresa em “[...] reunir as pessoas em torno de uma identidade e um
senso de destinos comuns.” (SENGE, 2006, p. 43).
Por meio desse domínio, fica evidente a crença de que as pessoas, ao se depararem
com uma real visão compartilhada, darão tudo de si e se colocarão numa atitude de abertura
espontânea frente ao aprender, descobrir imagens de futuro compartilhadas, desenvolvendo
o compromisso genuíno e o envolvimento pleno.
Finalmente é destacado o domínio da aprendizagem em equipe, capacidade vital para
tornar a equipe uma unidade de aprendizagem fundamental no contexto das organizações
modernas. Sobre essa capacidade é enfatizado que:
Quando as equipes realmente estão aprendendo, não só produzem resultados
extraordinários como também seus integrantes crescem com maior rapidez do que
ocorreria de outra forma. A disciplina da aprendizagem em equipe começa pelo
diálogo, a capacidade dos membros de deixarem de lado as ideias preconcebidas e
participarem de um verdadeiro pensar em conjunto. (SENGE, 2006, p. 41).

Vale ressaltar que, a partir da concepção que defendemos de pedagogia empresarial,


nos colocamos ao lado de Senge (2006) quando este teórico propõe que os domínios
trabalhados sejam concebidos como “disciplinas”, pois este conceito remete ao entendimento
de algo posto de forma coerente, um corpo de teorias e técnicas, que devem ser estudadas e
aprofundadas para serem colocadas em prática, sendo que, neste sentido, seriam orientações

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em “[...] nossa forma de pensar, com o que realmente queremos, e como interagimos e
aprendemos uns com os outros.”. (SENGE, 2006, p. 45).
A partir de um diálogo com nossa prática em pedagogia e gestão empresarial,
podemos afirmar que, quando as equipes organizacionais se predispõem a se tornar
organismos vivos e sistêmicos, a capacidade de abertura para o aprender se constitui em
uma característica significativa e relevante, contribuindo efetivamente no crescimento da
equipe e no atingimento adequado de seus objetivos e metas.
Por outro lado, efetivando um cruzamento entre as ideais abordadas por Senge (2006)
e nossa prática em gestão de pessoas, na realidade de uma instituição educacional de
natureza privada1, podemos afirmar que as organizações vêm se organizando e propondo
projetos de investimento na educação, deixando evidente a importância da construção do
conhecimento e do crescimento intelectual dos profissionais e de seus colaboradores.
Acreditamos, assim, que a capacidade de aprender pode levar a uma vantagem
competitiva e a uma posição de destaque para as instituições que investem nesse novo
perfil, o que nos leva a pensar junto com Senge (2006, p. 37) defendendo a categoria das
“organizações aprendentes”, enfatizando que nestas organizações e instituições as pessoas
tem plena possibilidade de expandir continuamente sua capacidade de atingimento dos
resultados que almejam, pois se constituem em ambientes empresariais onde as pessoas
ganham liberdade e autonomia para aprender contínua, integral e articuladamente.
Em nossa prática no espaço destacado acima foram inúmeras as experiências em que
essa capacidade de se criar um organismo vivo de aprendizagem contribuiu de forma efetiva
para o crescimento pessoal e profissional das pessoas, trazendo contribuições exitosas nos
resultados educacionais objetivados no projeto pedagógico da instituição, refletido na
melhoria dos índices de aprovação e, em especial, na diminuição nos casos de indisciplina.
Isso remete, ainda, ao entendimento de Paulo Freire, importante pensador da
educação brasileira e no mundo, quando nos convida a refletir constantemente a respeito
da convivência, da cooperação, da capacidade do entendimento e do “aprender”, sempre e
constantemente com outro (FREIRE, 2011a).
Neste sentido, podemos afirmar que as organizações que aprendem conseguem obter
retorno significativo tanto na satisfação dos colaboradores como no crescimento econômico,
visto que as pessoas passam a ter maior comprometimento com a equipe da qual fazem
parte e conseguem ser exitosas na superação dos desafios.
Em outra obra interessante, Educação e Mudança, Paulo Freire segue contribuindo
efetivamente para a construção da identidade de profissionais que trabalham diretamente na
gestão de pessoas, ou seja, o compromisso profissional de pessoas na condição de gestores,
como o pedagogo empresarial, passa fundamentalmente pelo entendimento de que o mais
1 Trata-se de uma escola privada, de expressiva representação no cenário educacional de Teresina/PI, porém resguardamos
o direito de ocultar o nome da mesma, no sentido de preservar sua identidade e garantir sua privacidade e dos profissionais que lá
trabalham.

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importante na relação profissional, seja ela qual for, é o aspecto humano, em que o homem
não pode jamais está fora do contexto histórico-social, pois é nas interrelações com os outros
que constrói o seu “eu”, além de contribuir na formação do fazer-se profissional. (FREIRE,
2011b).
Ao confrontarmos a fala de Freire (2001b) destacada acima, com nossa prática recente
junto a uma instituição empresarial privada2, cujo objetivo central era desenvolver projeto de
formação de pessoas, em especial para atuarem de forma exitosa em suas áreas profissionais
específicas, todas desenvolvidas em empresas privadas de Teresina/PI, podemos afirmar que
educar nas organizações significa, acima de tudo, provocar mudanças de comportamento,
proporcionando o crescimento e o desenvolvimento da qualidade dos serviços prestados
pela organização e de seus principais colaboradores, o que, e aqui concordamos com as
ideias de Freire (2011b), deve fundamentalmente favorecer a flexibilidade, a agilidade na
elaboração de raciocínio e a capacidade de análise.
Seguindo o fio condutor de nosso raciocínio, Libâneo (1991) destaca que, no contexto
das relações da gestão de pessoas, o desenvolvimento de competências comunicativas
contribui de forma efetiva para o fomento do diálogo e do consenso baseado numa razão
crítica, razão esta que proporciona o desenvolvimento da autonomia e, voltando a reflexão
para nosso tema, contribui para que o profissional pedagogo empresarial possa se constituir
em um interlocutor competente, capaz de expressar suas ideias, suas vontades e considerar
os interesses e expectativas dos demais, de forma cognitiva e verbal, tomando como central
a perspectiva dos outros, tudo isso a partir da competência e da qualidade do diálogo, ou
seja, de seu desenvolvimento na dimensão humana.
Este aspecto ficou evidenciado numa experiência recente que desenvolvemos no
contexto de uma Fundação especializada na captação de recursos e no treinamento de
pessoas, desenvolvendo projetos de assessoria a secretarias de educação e ação social em
diversas prefeituras no Estado do Piauí.
Diante do desafio de planejar e acompanhar programas de formação de educadores
sociais para desenvolver ações educativas com jovens o diálogo e as interações humanas
foram fundamentais para superar as diferenças culturais e educacionais que separava os
ideais curriculares planejados e o perfil destes educadores.
Podemos concluir nossas análises, entendendo a partir de Bomfin (2007) que a
identidade do pedagogo empresarial, situado enquanto um gestor de pessoas, pode ser
construída e efetivada a partir de competências que versam sobre comunicação, negociação,
administração do tempo, delegação, coesão de equipe e liderança.
São essas competências, aliadas as habilidades humanas, que compõe o corpo de
conteúdos principal sobre o qual o pedagogo empresarial deve focar o seu interesse e

2 Seguindo a opção feita, também, aqui, não é destacado o nome da referida instituição, no intuito de preservar a identidade da
mesma.

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intensificar o seu compromisso, além de fortalecer sua identidade, expressa adequadamente


no trato com seus pares, assim como nas relações cotidianas com os clientes internos e
externos de sua organização.
Assim sendo, concluímos defendendo que o foco no fazer, ancorado nas dimensões
pedagógicas acima, visualizando sempre a cooperação, o trabalho em equipe e a liderança,
aliado ao desenvolvimento na dimensão humana são habilidades fundamentais na
construção da identidade e na ampliação da competência profissional e humana do pedagogo
empresarial.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo demonstrou a relevância e legitimidade da atuação do pedagogo nas
sociedades modernas. É notório o crescimento acelerado da procura deste profissional
em diversas intuições públicas e privadas em Teresina/PI com a demanda e a oferta dos
primeiros cursos de especializações acadêmicas em instituições, públicas e privadas, de
ensino superior.
Apesar deste crescimento ainda nos ressentimos da resistência de estudos sobre o
perfil e atuação do pedagogo empresarial e acreditamos que esta pesquisa possa servir de
guia para futuros estudos no campo de conhecimento da gestão de pessoas, visto se tratar
de uma função que trabalha eminentemente com pessoas, identificando seus anseios em
busca do atendimento de suas expectativas, tanto individuais como coletivas.
Neste sentido podemos concluir este artigo apontando algumas pistas encontradas e
desvelando as características que entendemos serem fundamentais para o desenvolvimento
das atividades pertinentes ao profissional pedagogo empresarial.
São elas, o pensamento sistêmico, o domínio pessoal, os modelos mentais, a visão
compartilhada e o trabalho em equipe, que aliadas ao desenvolvimento pessoal se
constituem em competências capazes de contribuir de forma efetiva no trabalho exitoso
desse profissional no contexto das organizações e instituições nas quais atua no papel de
gestor de pessoas.
Nossa conclusão também versa sobre a revelação de que esse trabalho se torna mais
efetivamente de qualidade quando o pedagogo empresarial é capaz de tornar sua equipe e
sua instituição em organismo vivo, atuante e aberto ao aprender.
Assim sendo, concluímos o presente estudo, afirmando que a pedagogia empresarial
se constitui em uma área que necessita de maior aprofundamento e amparada por estudos
legitimados no sentido de ser uma função do campo da gestão de pessoas e que pode
contribuir efetivamente no planejamento e no desenvolvimento de ações concretas em
empresas instituições e organizações públicas e privadas, sendo essas a principal contribuição
do profissional em pedagogia empresarial.
Revista de Ciências Gerenciais
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Robson Carlos Silva, Cândida Angélica Moura

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v.17 • n.26 • 2013 • p. 57-69


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