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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

Mestrado em Gestão do Desenvolvimento

Capital Humano: um meio ou fim do Desenvolvimento?

De:
Alba Paulo Mate
(número de estudante)

Dezembro, 2021
Introdução

A questão de desenvolvimento económico das nações é discutida em várias vertentes de acordo


com várias teorias e vários modelos. No âmbito da discussão, levantam-se questões sobre os
factores e os resultados do tal desenvolvimento. Na onda dessas discussões surge o capital
humano, maioritariamente concebido como um factor do desenvolvimento, ou seja, como mais
um dos factores de produção das nações. Diferentes autores defendem o investimento no capital
de modo a alcançar o tão desejado desenvolvimento. Assim, o trabalho gira em torno da relação
entre o capital humano e o desenvolvimento com o objectivo de discutir, com base no confronto
de ideias de diferentes autores, se o capital humano é meio ou fim do desenvolvimento.

Se por um lado o investimento em capital humano é visto como condição sem a qual o
desenvolvimento não se pode alcançar então as nações devem envidar esforços para garantir as
condições indispensáveis para a formação do capital humano. Tais condições devem ser em
propiciar boas escolas para formação intelectual, boa saúde e condições de habitação. Todavia, a
melhoria das condições escolares, hospitalares e habitacionais é dependente do desenvolvimento
das nações o que leva a um paradoxo. Afinal, o que depende de quê? O capital humano do
desenvolvimento ou o contrário? É na tentativa de responder a estas questões que o trabalho
orientar-se-á em torno da questão de partida: o capital humano é um meio ou um fim do
desenvolvimento?

Para isso, o ensaio discute os conceitos de desenvolvimento e de capital humano; estabelece a


relação entre eles e culmina com uma síntese conclusiva depois da qual são apresentadas a
referências bibliográficas.

Conceito de desenvolvimento económico

Segundo Amartya Sen (1981) cit. em Rattner (S/a) desenvolvimento é o processo de ampliação
de capacidade de realizar actividades livremente escolhidas e valorizadas. Por seu turno, Rattner
(S/a, p.1) entende-o como a melhoria da qualidade do bem-estar “em termos de saúde, educação e
mais opções de liberdadede escolha”. Na mesma linha defende a ONU ao defender que o
desenvolvimento implica “a realização de três condições: uma longa vida, boa saúde e aquisição
de um saber que permita o acesso aos recursos necessários para auferir um nível de vida
conveniente” (ONU (S/a, cit. Diniz, 2006, p.35).

Para Diniz (2006, p.36), mais do que acumulação de rendimento e riqueza, o desenvolvimento
“deve centrar-se na pessoa humana” propiciando-lhe ambientes favoráveis para a escolarização,
urbanização e industrialização, componentes do desenvolvimento. Como dizem Veiga e Zatz
(2008), o desenvolvimento é a melhoria de vida das pessoas no concernente a renda, saúde e
educação sem, contudo, ser obtido em prejuízo das futuras gerações, aludindo a um
desenvolvimento que se diga sustentável.
Desta forma podemos assumir que o desenvolvimento é um processo formativo e educacional
que visa melhorar as condições de vida das comunidades consistindo na maximização de
oportunidades para a realização dos sonhos das populações, de transformar vidas das
comunidades naquilo que elas almejam, de tornar as comunidades capazes de elaborar planos
para as suas vidas futuras com possibilidade efectiva de realização. Sendo um processo
formativo, é dependente da intervenção humana suficiente e sobretudo cientificamente bem
formada para conduzir todas as políticas de desenvolvimento.

Conceito de capital humano

Segundo o Banco Mundial (S/a cit. em Rattner, S/a, p.87), capital humano “é o capital resultante
do nível de educação, saúde e acesso à informação da população”. E para Putnan (1984, cit. em
Rattner, S/a) capital humano é o produto de acções individuais em busca de aprendizado e
aperfeiçoamento de modo a que as pessoas, dotada desta capital, sejam capazes de desempenhar
melhor as tarefas e funções que lhe são incumbidas. É um capital incorporado aos seres humanos
na forma de saúde e educação. Como diz Paiva (2001), é o conjunto de virtudes pessoais e
características de personalidade e a capacidade de aplicar de maneira efectiva e original os
conhecimentos.

Sandroni (1994, cit. em Moretto, 1997, p.68) define capital humano como sendo “o conjunto de
investimentos destinados à formação educacional e profissional de determinada população. (...) o
termo é utilizado também para designar as aptidões e habilidades pessoais que permitem um
indivíduo auferir uma renda. Esse capital deriva de aptidões naturais ou adquiridas no processo
de aprendizagem”. Nesse sentido, o conceito de capital humano corresponde ao da capacidade de
trabalho.

Podemos perceber, analisando os autores acima citados, que o capital humano é produzido tanto
pela educação formal quanto pela educação informal. Contudo, quando é formal se torna fácil de
mensurá-lo. Aliás, Becker (1993, cit. em Moretto, 1997, p.69) “o capital humano abrange
também o trabalho acumulado e outros hábitos”. E não só, Teixeira (1999) comunga essa ideia ao
dizer que
“o capital humano engloba o nível de escolaridade e um conjunto de
investimentos, mais abragente, que influenciam o bem-estar e a
produtividade dos indivíduos, das empresas e das nações. Esse
investimento inclui na área de saúde e nutrição e ainda acções de formação
adquiridas fora do sistema formal do ensino bem como a experiência
profissional e pessoal” (Silva, 2008, p. 55).

Entende-se, então que a educação é uma das formas mais importantes para materializar o capital
humano ainda que o capital humano não se resuma só nela. Nesse caso o capital humano
compreende três eixos: capacidades, experiências e conhecimento. A estes, Becker (1964)
acrescenta “a personalidade, a aparência, a reputação e as credenciais como indicadores do
capital humano” enquanto que Davenport (1999) aponta que “o capital humano decompõe-se em
capacidade, comportamento, esforço e tempo” (cit. em Silva, 2008, p. 56).

Em suma, capital humano é um conjunto de conhecimentos, experiências e capacidades das


pessoas que lhes permitem realizar trabalhos úteis com diferentes graus de complexidade e
especialização. Ele tem a capacidade para melhorar e apoiar a produtividade, a inovação e a
empregabilidade. Porém, ele é dependente dos diferentes investimentos feitos para a sua
formação.

Capital humano como meio para o desenvolvimento

Capital humano assim como foi definido neste trabalho pode ser entendido como o capital que
aumenta as possibilidades de produção de bem-estar pessoal, social e económico, influencia o
bem-estar e a produtividade dos individuos, empresas e nações.

O capital humano constitui mais um factor de produção a acrescer aos tradicionais factores de
produção e ao progresso tecnológico. É também um factor crítico para a sustentação da
capacidade de inovação de uma economia (Silva, 2008).

“Os benefícios decorrentes do investimento em capital humano podem ser de natureza económica
(maior inserção no mercado de trabalho, rendimentos mais elevados, maior produtividade e
crescimento económico) ou social (melhores níveis de saúde, baixas taxas de criminalidade e
mais coesão social” (Silva, 2008, p. 64).

De acordo com Silva (S/a, p.518) a educação é tida como um dos factores que auxiliam no
desenvolvimento e nadistribuição social da renda. Do ponto de vista macroeconómico é um
factor que explica as diferenças individuais de produtividade e de renda.

Tal como diz Schultz (1987), “as habilidades adquiridas pelas pessoas, sua instrução,
experiências, aptidões e sua saúde tem um papel bem mais importante para determinar o
progresso económico do país” (cit. em Mafra, S/a, p.5).

Diz ainda Schultz(1987) que, a importância económica da melhoria da qualidade da população


deve-se a contribuição do capital humano à produtividade e ao bem-estar das pessoas
constituintes do país (cit. em Mafra, S/a, p.14).

Capital humano como fim do desenvolvimento

Como vimos anteriormante, uma das fontes do capital humano é a educação formal. Esta
educação deve ser dotada de condições em várias vertentes: infraestruturas, materiais de apoio
técnico e recursos humanos. Estas condições proporcionam um ambiente ideal para a formação
do capital humano. Então, como obter as infraestruturas? Quem provê os mateirais de apoio
técnico? E os recursos humanos com qualidade a altura de potenciação do capital humano?
Mafra (S/a, p.6) diz que “as pessoas efectivamente aumentam seu potencial como produtores e
consumidores através de investimentos nelas mesmas”. Quer dizer, nem todas capacidades
económicas de uma pessoa são determinadas no dia do seu nascimento. É preciso que se
provenham meios para potenciar tais pessoas de um capital humano uma vez que as capacidades
económicas do ser humano são sobretudo resultado de um processo educativo.

Schultz (1961) diz que “o aumento na produtividade por unidade do trabalhador seria
consequência do acúmulo do capital humano pelos trabalhadores. Esses aumentos de
produtividade permitiriam que os trabalhadores recebessem melhores salários” (cit. em Mafra,
S/a, p.19). Isto é, com melhores salários os trabalhadores estão em condições de melhorar a
saúde, de se nutrir e aprender cada vez mais com os desafios impostos no ambiente de trabalho.

Silva (2008, p. 58) diz que “o stock de capital humano depende da estrutura económica educativa
e produtiva de cada país”. Ele quer dizer que o capital humano afigura-se como um fim das
capacidades que um país tem de prover meios para que esse capital exista e que seja cada vez
melhor. Diz ele ainda que “ao olharmos para os rendimentos individuais, vemos que o cálculo
inclui um elemento de benefício público que é o ganho vindo dos elevados impostos pagos pelas
pessoas com elevados rendimentos em resultado da sua escolaridade” (Silva, 2008, p.62).

Tal é o caso do cálculo de IRPS, no caso de Moçambique e outros países, quanto mais os
indivíduos tiverem grau de escolaridade elevado mais impostos serão pagos. Este valor é
investido em ganhos sociais: infraestruturas que condicionam bom ambiente de formação do
capital humano, ou seja, o capital humano é desenvolvido através de novas possibilidades de
escolarização e/ou novas oportunidades de emprego. Estas infraestruturas são resultado do
desenvolvimento, daí que este pode ser considerado como factor do capital humano.

Conclusões

Entendendo desenvolvimento como o processo de provisão de meios pelos quais as populações


terão a possibilidade de melhorar as suas condições através da sua participação no mesmo
processo e capital humano como conjunto de capacidades adquiridas em vários e diferentes meios
de aprendizagem, formal e informal, por via de experiências no trabalho formal ou não, por meio
de convivências ao longo da vida, podemos concluir que há uma relação de reciprocidade entre o
capital humano e desenvolvimento.

Baseando-se em Sen, que considera que a qualidade de vida que se espera do desenvolvimento
deve ser entendido como oportunidades de serviços, bens e confortos efectivas das quais as
pessoas dispõe para ser. Oportunidades dadas pelas realizações colectivas, passadas e presentes
(Herculano, 2000, p.9). Entendemos que o capital humano que hoje está sendo potenciado goza
de oportunidades criadas no passado para que hoje o homem se forme, aumente suas capacidades
de trabalho, tenha saúde, seja nutrido e tenha habitação. Nisto, entende-se o capital humano como
fim do desenvolvimento. De outra forma, o capital humano existente hoje, ainda que esteja em
contínuas melhorias, promove novas oportunidades para o futuro, o que o torna um meio para o
desenvolvimento.

Referências Bibliográficas

Diniz, F. (2006). Crescimento e Desenvolvimento Económico- Modelos e Agentes do Processo.


Portugal, Lisboa: Edições Sílabo, Lda.

Herculano, S. C. (2000). A Qualidade de Vida e seus Indicadores. Acedido a 14 de Agosto de


2014 em http://www.ivt-rj.net/ivt/bibli/Herculano.pdf

Mafra, G.T. (SA). Capital Humano e Desenvolvimento Económico.

Moretto, C. F. (1997). O capital humano e a ciência económica: algumas considerações. Passo


fundo, 5, 9, 67-80. Acedido a 16 de Agosto de 2014 em:
http://www.upf.br/cepeac/download/rev_n09_1997_art4.pdf

Paiva, V. (2001). Sobre o conceito de “capital humano”. Cadernos pesquisa, 113, 185-191.
Recuperado em http://www.scielo.br/pdf/cp/n113/a10n113.pdf

Rattner, H. (S/a), Prioridade: construir o capital social.

Silva, E. C. (S/a). Teoria do capital humano e a relação educação e capitalismo. Recuperado em


http://www.uel.br/eventos/sepech/sumarios/temas/teoria_do_capital_humano_e_a_relacao_e
ducacao_e_capitalismo.pdf

Silva, S. S. B. (2008). Cap. 3- Capital Humano. Capital humano e capital social: construir
estratégias para desenvolvimento dos territórios.

Veiga, J. E. e Zatz. L. (2008). Desenvolvimento Sustentável, que bicho é esse? Brasil, SP:
Autores Associados.

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