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Teoria do Capital

Humano
Perspectivas e implicações para a
educação brasileira
Faculdade de Educação
Estado, Economia e Educação
Grupo 8: Graziela Dias, Isabel Llagostera, Julia Dietrich,
Soraya Coutinho, Rafael Nascimento e Tiziana Ferrero
Agenda de apresentação

● Breve introdução ao tema:


○ Autores de referência, contexto histórico e definições
● Fundamentação conceitual: ser humano, capital, trabalho
● Apropriações, usos e discursos
● Contexto Brasileiro e "A Produtividade da escola improdutiva"
1
Breve introdução ao tema
Autores, contexto histórico e definições
Ponto de partida

Teoria central Análise Crítica

Complementações

André Martins
Theodore Gaudêncio Robin Alexander
Gary Becker EdQual
Schultz Frigotto
Perspectiva foucaultiana
Ideia de um capital Investimento e retorno via A produtividade da escola Perspectiva humanista/ crítica
humano capital humano improdutiva Perspectiva decolonial
Contexto histórico

Período
Século XIX Século XX
pré-industrial

Educação como Aspecto moral da Educação com papel


preparação moral dos educação como fundamental na
indivíduos para a mediador garantia das funções
sociedade comercial/ fundamental entre o do Estado de fomentar
industrial econômico e o social o crescimento
econômico e
promover a cidadania
social
Principais Influências
● No Liberalismo clássico (SMITH, 1776), entende-se 4 formas/ tipos de capital:
○ máquinas, instrumentos úteis [bens] para troca;
○ estabelecimentos capazes de gerar renda;
○ melhorias na terra;
○ habilidades adquiridas e úteis dos membros de uma sociedade.

“A aquisição dessas habilidades para a manutenção de quem as adquiriu


durante o período de sua formação, estudo ou aprendizagem, sempre custa uma
despesa real, que constitui um capital fixo e como que encarnado na sua pessoa.
Assim como essas habilidades fazem parte da fortuna da pessoa, da mesma
forma fazem parte da sociedade à qual ela pertence. A destreza de um
trabalhador pode ser enquadrada na mesma categoria que uma máquina ou
instrumento de trabalho que facilita e abrevia o trabalho e que, embora custe
certa despesa, compensa essa despesa com lucro” (SMITH, 1996, p. 290)
Principais Influências
● Liberalismo: Fisher (1906), com base em
Walras: capital como todo conjunto de
riquezas num tempo/ espaço, incluindo
as qualidades do homem
● Marginalistas/ Utilitarismo: trabalho
não é um fator de produção invariável;
Marshall - custos da educação versus
investimento na capacidade futura de
"recebíveis"
● Neoliberalismo: Estado ineficaz para a
"boa governança"
Capital Humano
● É um paradigma teórico que explica as diferenças de
produtividade individuais em função do nível de consumo e
investimento em educação por cada indivíduo. Os maiores
níveis de produtividade que aparecem associados a maiores
níveis de qualificação acadêmica, justificariam que
trabalhadores mais qualificados fossem recompensados com
empregos mais produtivos, com maior prestígio social e maior
remuneração.
● Neste sentido, os trabalhadores tornaram-se capitalistas não
porque tenham se tornado proprietários, mas pela aquisição de
saberes e competências com valor econômico que são
produtos de investimentos pessoais.
● Para Schultz, o capital (em forma de competências e
conhecimento) é parte substancial de um investimento
intencional. A maior parte daquilo que os indivíduos consomem
constitui um investimento no capital humano, como despesas
diretas na educação, saúde e migrações internas com o intuito
de aproveitar melhores oportunidades de emprego.
● De acordo com Becker, o capital humano é diretamente útil no
processo de produção, aumentando a produtividade do
trabalhador em todas as tarefas, embora possivelmente de
forma diferente em diferentes atividades, organizações e
situações.
● Becker parte do pressuposto que investimentos em educação e
outras políticas sociais geram impactos como melhora na saúde,
aumento de renda dos indivíduos, qualificam a apreciação das
pessoas pela arte e pela cultura. Em outras palavras, os gastos
em educação, treinamento, serviços médicos, entre outros, são
investimentos no próprio capital. Porém, “estes produzem
capital humano, não físico ou financeiro, porque você não pode
separar uma pessoa de seus conhecimentos, habilidades, saúde
ou valores”.
● Para Becker, o foco da teoria do Capital Humano está em
desenvolver modelos estatísticos explicativos e preditivos das
diferenças salariais (de ganhos) entre as pessoas, entre
territórios e de poder e crescimento econômico. Os sujeitos são,
portanto, investidores de si próprios, afinal investem
considerando o retorno do investimento.
● O custo de se adquirir o capital humano segue as regras básicas
de economia: oferta e demanda. Ou seja, mesmo os bens
intangíveis que teoricamente compõem o chamado capital
humano é gerado a partir de oportunidades que, em alguma
medida, foram financiadas por alguém.
2
Fundamentação conceitual
Ser humano/Capital/Trabalho/Educação
● Nem todos esses conceitos estão
explícitos nos textos;

● Tentativa de compreender como


esses elementos são tratados e
abordados na Teoria do Capital
Humano.
Capital
“entidades que têm propriedade econômica de
prestar serviços futuros de um valor
determinado” (SCHULTZ, 1973, p. 53)

● Baseia-se no conceito de Irving Fisher-


economista marginalista/neoclássico;
● Conceito abrangente;
● Capital humano: educação e saúde como
“investimento no homem”- fator de
produção;
● Permite analisar o homem como riqueza;
● debates acerca das implicações éticas e
morais, políticas e filosóficas da aplicação
desse conceito em relação aos seres
humanos;
“é sustentado por muitos ser
degradante ao homem e
moralmente errado tomar-se a sua
educação como uma maneira de
criar-se capital. Para os que
sustentam esse ponto de vista a
própria ideia de capital humano é
repugnante;(...)” (SCHULTZ, 1973, p.81)
Ser humano
● Agente econômico;

● Becker: “firmas empreendedoras”;

● Martins: o que possibilita essa forma de análise?

Consolidação da ciência econômica neoclássica.

● “Destrave moral”- esvaziamento do ser humano;


“Essa maquinização do homem econômico, ao
contrário das suas concepções precedentes, não
apenas o esvaziava de comprometimentos
morais, mas também permitia uma mudança
nos padrões de relutância em tratar
analiticamente os homens enquanto riqueza.”
(MARTINS, 2021, p.56)
“Precisamos incluir todas as indústrias que
produzem capital, humano e não humano”
(SCHULTZ,1973, p.28)
Educação

● Educação= investimento;
● Conhecimento como bem de consumo/ produção:
fonte de utilidades e rendimentos futuros;
“educação para a obtenção de capacitações e
conhecimentos úteis ao esforço econômico e,
dessa forma, um investimento nos rendimentos
futuros” (SCHULTZ, 1973, p.58)
“(...) além de realizar esses objetivos culturais,
algumas espécies de educação podem
incrementar as capacitações de um povo na
medida do seu trabalho e dos seus negócios e
que tais incrementos podem aumentar a
renda nacional” (SCHULTZ, 1973,p.82).
Trabalho
● Schultz questiona noção clássica de
trabalho;
“O trabalho, argumenta Schultz, fora
reduzido à sua dimensão quantitativa,
mensurado em horas trabalhadas(...) O
trabalho, assim como a agricultura,
deveria ser diferenciado pela sua
produtividade, resultado de diferentes
investimentos feitos pelos trabalhadores
na sua capacidade produtiva”
(MARTINS apud SCHULTZ, 2021, p.55)
● Esses conceitos representam o núcleo da Teoria do Capital
Humano e dão pistas da racionalidade em que ela opera.

● Sustentam a argumentação que fundamenta a teoria,


procurando legitimar e produzir uma ciência econômica
da educação.
Mudança paradigmática e estratégica

“ O vigor contínuo da pesquisa em capital humano está


aumentando, testemunho de que esta área de estudo não é uma
das muitas modas que passam, mas uma contribuição
importante e duradoura para a área da economia.
A principal razão, em meu julgamento, é que as análises teóricas e
empíricas são feitas de forma intimamente integradas, com a
teoria sendo frequentemente inspirada por descobertas empíricas.”
Becker,
Mudança paradigmática e estratégica

Falando de Contabilidade Social [National Income Accounts]

“ A forma tradicional de tratar a educação e a saúde


foi de tratá-las como bens/ ítens de consumo. Foram
os economistas que revolucionaram a forma de
pensar sobre elas como bens/ ítens de investimento,
altamente produtivos em diferentes direções.”
Lectures on Human Capital - Becker, G. - University of Chicago: 1
of 19 - Human Capital and Intergeneration Mobility - Introduction
Definições
Investimento no capital humano

Setores
Indivíduo Estado
produtivos

Retorno Desigualdade
financeiro/ Produtividade
ascensão do
indivíduo

Crescimento
econômico
3
Apropriações, usos e discursos
Neoliberalismo e o "novo capital humano"
Apropriações welfaristas da Teoria do
Capital Humano

Welfare-state:
● Planejamento econômico
● Estado intervencionista
● Industrialização
● Seguridade social
● Acordos de Bretton Woods
Apropriações welfaristas da Teoria do
Capital Humano

Planejamento educacional:
● Planejamento de mão-de-obra.
● Concepção de educação: não apenas direito, mas
investimento produtivo.
● Objetivos: preparação de mão-de-obra para o mercado
e difusão dos valores da sociedade industrial.
● Lógica: setor público.
● Princípios: Planejamento, Investimento, expertise da
classe docente
● Políticas: expansão da oferta, qualificação dos
professores, viabilização de condições adequadas de
trabalho, construção de carreira docente atrativa,
redução da relação aluno/turma.
Crise do welfare-state
Múltiplas dimensões:
● Crise econômica e financeira: estagflação.
● Crise nas relações de trabalho: desindustrialização.
● Crise nos modos de governo: Maio de 1968.

Escola como reprodutora de desigualdades.


● Questionam a educação promovida pelo
Welfare-state como promotora de igualdade.

Reformulação do capital humano:


● Estado ineficiente na coordenação dos sistemas de
ensino
Reformulações neoliberais da Teoria do
Capital Humano

Neoliberalismo:
● Austeridade fiscal.
● Acumulação flexível.
● Governo ambiental.
Reformulações neoliberais da Teoria do
Capital Humano

Gestão por incentivos:


● Concepção de educação: desenvolvimento das diferentes
potências individuais.
● Objetivos: preparação de mão-de-obra para o mercado e
construção de ambiente de inovação.
● Lógica: mercado
● Princípios: uso eficiente dos recursos, estrutura de
incentivos de performance, aprendizado com a
experiência.
● Políticas: econometria como ferramenta de avaliação, uso
de novas tecnologias, responsabilização por performance,
escolas charter, escolha escolar, discriminação do corpo
docente, testes de desempenho padronizados
Contexto histórico: Agências intergovernamentais
Novo "Capital Humano"

Capital humano Capital intelectual


● Anos de escolarização,
Capital instrucional ●

Local de estudo
...

Capital social

Capital emocional ● Big five


● Socioemocionais
● ...

Mercado
Novo "Capital Humano"

Lifelong learning ou aprendizagem ao longo da vida

● Escola apontada como insuficiente para suprir as


necessidades de aprendizagem para o que se espera do
mercado;
● Implicações curriculares significativas: BIG FIVE (competências
do mundo do trabalho), BNCC
● Aprendizagem em função do que se espera do mercado: a
quem se destina o lifelong learning?
Contexto histórico: Agências intergovernamentais

Países
recém-fundados; Países com baixo Países com médio Países
pós-recentes grau de grau de desenvolvidos/
conflitos ou em desenvolvimento desenvolvimento Países OCDE
conflito

Sobrevivência Condições de Ampliação do Foco nas


do sistema subsistência acesso competências
Algum tipo de Duração, Educação Responsabilidade
currículo flexibilidade secundária e da educação
Foco principal: grupos Lifelong learning
escolas primárias minoritários

DIETRICH, Julia. Nota: Com base em Tikly (2001; 2011) e Alexander (2015).
4
Análise e Considerações
"Capital humano e o valor econômico da educação"

“Uma crítica, ao mesmo tempo, de ordem epistemológica,


filosófica e política para evidenciar o reducionismo na
concepção de ser humano, sociedade, trabalho e educação [...]"
Contexto histórico

CONTRADIÇÃO Reformas
Origem
Educativas

* Declínio da Ditadura * Instituto de Estudos * Ensino técnico profissionalizante


Militar; Avançados em * Qualidade Total
*Moura Castro e Langoni Educação (Iesae)1972 e * Toda política educacional após a
foram os primeiros a trazer mestrado em educação 64 tem nos postulados da teoria do
o ideário da “teoria” do em 1973 FGV capital humano seu suporte básico
capital humano para o * O “sistema ditatorial * “Democratização” do acesso à
Brasil (cria a disciplina detém a dominação, escola e universidades
Economia da Educação) mas não a hegemonia”. * Caráter regressivo, perda de
Moura é adepto a direitos da classe trabalhadora.
* Pensamento Liberal
Unwort

"Capital humano"
é o palavrão de 2004

● Pesquisadores da Universidade de Frankfurt, anualmente e desde 1994,


escolhem palavras do discurso público que são grosseiramente inadequadas e
até violem a dignidade humana”. Em 2004 “Capital humano” foi escolhido com
a justificativa: degrada pessoas a grandezas de interesse meramente
econômico (FRIGOTTO, 2015 apud ALTVATER, 2010, p. 75).
● Capital Humano concorreu com “Centro de boas-vindas” (Centro de detenção
e deportação de refugiados africanos) e “Direitos de poluição do Ar”
(considera a emissão de gases de efeito estufa inofensiva). Outros candidatos
de 2004 foram: "sobretaxa de aclimatação da pobreza", "estrangeiros
existentes" e o termo "tortura de resgate".
Análise da Fundamentação conceitual
Ser humano/Capital/Trabalho/Educação

Homem e Sociedade/Capital/Trabalho e Classes/Educação

[...] um trabalho endereçado muito menos


à ‘academia’, e mais àqueles que
consomem os postulados da ‘teoria do
capital humano’ (Frigotto, 1989 p. 15).
Capital
“entidades que têm propriedade econômica de prestar
serviços futuros de um valor determinado” (SHULTZ, p. 53)
● Permite analisar o homem como riqueza;

O conceito de capital reduz-se a um mero


fator de produção onde as máquinas em si,
como capital constante e técnico, são tidas
como capazes de criar valor
independentemente da intervenção do
trabalho humano. Mascara-se a origem da
produção da mais-valia. (Frigotto, 1989 p. 66)
Ser humano Homem e Sociedade
● Agente econômico;
● “Destrave moral” esvaziamento do ser humano;
● Becker: “firmas empreendedoras”.

O homem, um devir que se define no conjunto


das relações sociais de produção de sua
existência, um ser histórico, ativo que se
transforma na medida em que transforma o
conjunto destas relações sociais (Gramsci,
1978, p. 38-44) é reduzido a uma concepção de
indivíduo com uma natureza humana dada,
genérica e a-histórica.
Trabalho Trabalho e Classe
O trabalho, assim como a agricultura, deveria ser
diferenciado pela sua produtividade, resultado de
diferentes investimentos feitos pelos trabalhadores
na sua capacidade produtiva” (MARTINS apud
SCHULTZ, 2021, p.55)

O processo de trabalho, que é atividade


dirigida com o fim de criar valores de
uso, de apropriar os elementos naturais
às necessidades humanas, condição
natural e eterna da vida, recebe uma
determinação social, sendo convertido
em trabalho genérico abstrato - força de
trabalho.
Classe

➢ A relação entre classes transforma-se


numa relação entre indivíduos.
➢ A classe passa a constituir uma variável
(média, alta e baixa).
➢ A separação do econômico, do político,
do social faz parecer que existe uma
autonomia supra-histórica.
Educação
● Educação= investimento;
● Conhecimento como bem de consumo/ produção: fonte de
utilidades e rendimentos futuros;

educação para a obtenção de capacitações e conhecimentos úteis
ao esforço econômico e, dessa forma, um investimento nos
rendimentos futuros” (SCHULTZ, 1973, p.58)

➢ As relações capitalista exigem cada vez mais,


contraditoriamente, um trabalho improdutivo
do sistema educacional.
➢ A “improdutividade da escola” parece
constituir, uma mediação necessária e
produtiva para a manutenção das relações
capitalistas de produção.
Educação

➢ A educação, para essa visão, se reduz a um


fator de produção e promoção da cidadania
social;
➢ Adestramento geral, básico, funcional a
produção capitalista;
➢ Dualismo educacional;
➢ A dimensão política da ação pedagógica
escolar está na articulação dos interesses de
cada classe social.
Escola “improdutiva”

O processo educativo reduzido a função de


produzir , habilidades, atitudes, pequenas
doses de conhecimento , geradores da
capacidade de trabalho;

Produtora dos intelectuais;

Funções parasitárias;

Expansão para menos .


Possibilidades

Escola Única Politécnica

teórica política técnica

tem no trabalho humano seu princípio educativo


X Expropriação do
X Espontaneísmo X Dualidade
saber
X Desqualificação X Senso comum X Desinteressada
do trabalho escolar
✓ “tipo superior de X Seletividade
X Meritocracia luta”
Para encerrar...
Discussões finais
● Produtividade do trabalhador: quem colhe seus frutos?

● Aprendizagem ao longo da vida de quem? Serve a quem?


● Qual o papel da Educação? Quem tem direito à educação?
● Qual o papel do Estado na garantia da educação?

O direito à educação “potencializa todos os outros direitos


humanos quando garantido e impede o gozo da maioria deles,
senão de todos, quando negado” (TOMAŠEVSKI, 2003, p.1, tradução
nossa).
Obrigada/o!
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X
Para entender melhor
Discussão complementar da obra de Gary
Becker
Compreendendo sua importância e múltiplos conceitos para aprofundamento,
resumimos a leitura do texto para sua melhor compreensão.
Gary Becker: obra discutida
● Human Capital: A
Theoretical and
Empirical Analysis with
Special Reference to
Education (3rd Edition)/
Capital Humano: uma
análise teórica e
empírica com especial
atenção à Educação, em
tradução livre.
Gary Becker: biografia resumida

● Nascido em 1930 na Pensilvânia, nos Estados Unidos em uma família de classe média,
mudou-se para o Brooklyn, em Nova Iorque, onde cursou sua vida escolar.
● Bacharelado em Artes pela Universidade de Princeton, defendendo sua tese “The Theory of
Multi-Country Trade” (A teoria do comércio multinacional, em tradução livre)
● Em 1957, finaliza seu doutorado na Universidade de Chicago, com a tese “A economia da
discriminação”, em que mostrava que a discriminação (de minorias) era custosa para as
empresas e que estas seriam menos competitivas que outras que não atuavam de
maneira discriminatória.
● Depois de ser nomeado e atuar como professor assistente na Universidade de Chicago por
três anos, aceitou uma posição de professor na Universidade de Columbia e como
pesquisador do Escritório Nacional de Pesquisa Econômica [National Bureau of Economic
Research], onde de fato iniciou sua pesquisa solo sobre a teoria do Capital Humano;
● Junto a Mincer, desenvolveu um Workshop permanente em Economia do Trabalho,
fortalecendo o discurso e explorando as possibilidades teóricas e empíricas da teoria;
● Impulsionado pelas manifestações estudantis de 1968, acreditando que os estudantes
tinham direito ao livre questionamento, e por uma sensação de estagnação em sua
pesquisa, optou por voltar à Universidade de Chicago;
Gary Becker: biografia resumida (II)
● Em 1970, de volta a Chicago, inicia parceria com George Stigler*, renovando seu interesse
em políticas econômicas, com especial interesse nos papéis e desempenho dos grupos de
interesse nas ações e decisões do Estado;
● Ao longo da década de 1970, foca suas pesquisas sobre teoria econômica aplicada à vida e
planejamento familiar e doméstico;
● No período, vê suas pesquisas influenciarem jovens economistas e é reconhecido em várias
premiações e posições de liderança, incluindo a nomeação e exercício da presidência da
sociedade americana de economia;
● Em 1983, torna-se parte integrante do departamento de Sociologia da Universidade de
Chicago. Fato que para ele foi um “sinal do campo da sociologia que a abordagem da
escolha racional era um paradigma teórico respeitável”, em tradução livre de seu texto
autobiográfico publicado pela Fundação Nobel;
● Em 1992 recebeu o Prêmio Nobel em Economia;

*Stiegler, discípulo de Frank Knight e Milton Friedman, na Escola de Chicago, desenvolveu o que se
chama da Teoria da Regulação, afirmando que os grupos de interesse usam os poderes
coercivos e regulatórios do Estado para desenvolver projetos e legislações que lhes sejam
benéficos.
Gary Becker: biografia resumida (III)
● Conservador, Becker manteve uma coluna mensal sobre
política e economia na Business Week, alternando com o
articulista liberal [democrata], Alan Blinder;
● Foi também membro e presidente entre 1990 e 1992 da
Sociedade de Mont Pelerin;
● Foi conselheiro sênior de Bob Dole no Senado e atuou
fortemente por sua campanha à presidência, derrotada
nas primárias por George W. Bush;
● Fundou o grupo TGG [The greater good, ou o Bem Maior,
em tradução livre], consultoria especializada no uso de big
data para planejamento institucional e que tem um forte
braço de atuação para organizações
não-governamentais.

Fonte: Nobel Prize


Gary Becker: ideias centrais

Discriminação Criminalidade
no trabalho e violência
Condições
Saúde
de vida

Economia
● empirismo
Treinamento/ ● capacidade Gênero
Formação Capital Humano explicativa dos
continuada fenômenos
sociais
● custos e retornos

Casamento e
Oportunidades Educação divórcio
Gary Becker: principais influências
Becker se pauta em duas correntes centrais:
- Liberalismo (entendo o papel ● Adam Smith
descentralizado do Estado e a ● Walras
liberdade econômica e de propriedade
como estruturantes); ● Fisher
- Marginalismo: sua teoria parte da ideia ● Horace Mann
de Equilíbrio Geral e foca nos custos e
retornos marginais. Toda sua pesquisa ● Schultz
tem como interesse calcular/ estimar/ ● Daniel Bell
responder aos custos e retornos a partir
de previsões econométricas sobre
● Schultz/
ampla gama de fenômenos sociais. Nelson-Phelps
Por isso, para alguns autores, Becker e seus
● Gardener
contemporâneos da Escola de Chicago os ● Bowles-Gintis
chamam de neoclássicos contemporâneos.
● Spence
A obra: Human Capital (...)
O Capital Humano

● Becker parte do pressuposto que investimentos em educação, saúde e outras

políticas sociais geram impactos como melhora na saúde, aumento de renda dos

indivíduos, qualificam a apreciação das pessoas pela arte e pela cultura;

● Ou seja, os gastos em educação, treinamento, serviços médicos, entre outros, são

investimentos no próprio capital;

● Porém, “estes produzem capital humano, não físico ou financeiro, porque você não

pode separar uma pessoa de seus conhecimentos, habilidades, saúde ou valores”.


A obra: Human Capital (...)
O Capital Humano

● Na introdução para a segunda edição da obra, Becker retoma a


importância das pesquisas em economia aplicada e defende
fortemente a ideia do Capital Humano como lupa de não apenas de
compreensão, mas de confecção das políticas públicas;
● Diferentemente de parte da Escola de Chicago, Becker, suplantado
pelas pesquisas em Capital Humano, retoma a importância do
investimento nas políticas sociais como mecanismo de
desenvolvimento econômico dos países, em especial, dos países em
desenvolvimento. Porém, a formulação teórica foca no indivíduo e seu
papel em gerar oportunidades de investimento para si próprio.
A obra: Human Capital (...)
O Capital Humano

● Capital humano = diretamente útil no processo de produção. Ele está


preocupado com o custos e retornos marginais (marginalismo). O
modelo dele se insere na teoria de equilíbrio geral.
● Becker entender que o capital humano aumenta a produtividade do
trabalhador em todas as tarefas, embora possivelmente de forma
diferente em diferentes atividades, organizações e situações. Nesta
visão, embora o papel do capital humano na produção processo possa
ser bastante complexo, em certo sentido ele o defende como algo
representado por um objeto unidimensional, como o estoque de
conhecimentos ou habilidades (h) e este estoque faz parte diretamente
da função da produção.
A obra: Human Capital (...)
O Capital Humano

● Para Becker, o foco da teoria do Capital Humano está em desenvolver modelos estatísticos
explicativos e preditivos das diferenças salariais (de ganhos) entre as pessoas, entre territórios
e de poder e crescimento econômico;
● Para ele, os sujeitos são investidores de si próprios. Eles investem considerando o retorno do
investimento. Por isso, a tendência é que:
○ investidores mais jovens invistam mais (mais tempo para colher os frutos)
○ investidores têm aversão a riscos. Como o Capital Humano é intangível e não pode servir como
fonte fiduciária ou garantia em empréstimos, por exemplo, seu financiamento nem sempre é
possível. Nessa perspectiva, aqueles que têm mais “de saída” têm maiores chances de investir em
capital humano. Porém, só aumentam esse investimento se encontrarem retorno direto.
● Isto é, o custo de se adquirir o capital humano seguem as regras básicas de economia: oferta
e demanda. Ou seja, mesmo os bens intangíveis que em tese compõem o chamado capital
humano é gerado a partir de oportunidades que em alguma medida foram financiadas por
alguém.
A obra: Human Capital (...)
Pressupostos da teoria

● (...) o retorno [earnings] sobre o capital humano nunca é empiricamente


separado de outros ganhos e do custo desse capital é apenas às vezes e
incompletamente separado.
● Assim, escolher entre atividades "promissoras" e " sem saída "envolvem
exatamente as mesmas considerações como escolher entre continuar a sua
educação e entrar para a força de trabalho - quanto maior os ganhos
subseqüentes, mais eles compensariam suficientemente os custos iniciais;
● Os indivíduos ou a sociedade escolheriam o aprendizado apenas se fosse um
investimento suficientemente bom da mesma forma que eles ou a sociedade
escolheriam formações no trabalho se isso fosse suficientemente rentável.
A obra: Human Capital (...)
Pressupostos da teoria

● “Consequentemente, a conclusão deve ser que aprender é uma forma de


investir no capital humano que formalmente não é diferente da educação,
treinamento no trabalho ou outros investimentos reconhecidos. Então é uma
virtude em vez de um defeito de nossa formulação de custos e retornos que
a aprendizagem é tratada simetricamente com outros investimentos.
E aqui não há nenhum conflito entre as interpretações da fórmula dos perfis
de ganhos com base na teoria de aprendizagem [se referindo às
investigações de Mincer] e aqueles baseados no investimento em capital
humano porque o primeiro é um caso especial do último.”
● Becker reconhece que questões físicas ou psicológicas influenciam na curva
de aprendizagem de cada sujeito, e que o investimento em capital humano
em uma economia de mercado traria hesitação em relacionar estes
aspectos à curva de aprendizagem.
A obra: Human Capital (...)
Perfil do investidor

● Becker responsabiliza o indivíduo pelo investimento no Capital Humano, uma vez que é de
seu interesse.
● À sociedade cabe o incentivo, muito embora ele reconheça o papel do Estado em
oportunizar esses caminhos de incentivo a fim de aumentar a produtividade no trabalho, e
consequentemente aumentar as receitas, afetando positivamente o cenário
macroeconômico.
A obra: Human Capital (...)
Perfil do investidor

● Ao ser questionado sobre o fato do Capital Humano ser mais investido pelos mais jovens,
Becker argumenta que isso se dá não apenas pelo fato de que são mais aptos em relação
ao seu próprio ciclo de vida (mais interessados na aprendizagem, mais capazes de
absorver novas ideias, menos amarrados às responsabilidades familiares, mais facilmente
apoiado por seus pais, ou mais flexível sobre possibilidades de mudar sua rotina e local de
moradia).
● Para ele, é uma questão de incentivo para investir - uma vez que eles teriam mais tempo
para coletar o retorno ao longo de mais anos. Ou seja, o efeito diz de uma lógica simples e
pouco afetada por dinâmicas psicossociais: mais tempo de vida, mais incentivo para
investir e coletar os recebíveis desse investimento.
A obra: Human Capital (...)
Perfil do investidor

● “A alocação ao longo da vida deve ser colocada em um contexto familiar,


com as decisões de maridos, esposas e, possivelmente, também filhos
interagindo um com o outro. Por exemplo, se os salários das esposas fosse
mais estacionário do que seus maridos, uma análise neste artigo prevê que
a participação na força de trabalho de mulheres casadas relativamente
seria mais alta em idades mais jovens e mais velhas, e relativamente baixo
na meia-idade, precisamente o que é observado. Um resultado semelhante
aconteceria se a produtividade - não o consumo do tempo - das mulheres
casadas fosse maior em meia-idade porque a criação dos filhos exige
muito tempo. Uma análise desenvolvida aqui parece capaz de lançar luz
sobre padrões diferenciados de participação na força de trabalho por idade
dos maridos e esposas.”
A obra: Human Capital (...)
Dinâmica de investimento

● Segundo Becker, o retorno do capital humano (educação, saúde, migração) é


maior do que o capital não-humano, mas ele é afetado por dificuldades
financeiras e conhecimento inadequado de oportunidades. O autor não discorre
sobre o Estado nessa equação, pensando em geração de oportunidades mais
equânimes. No texto, o autor observa essa dinâmica na esfera individual -
trabalhando com dois exemplos que merecem destaque:
○ O investimento em capital humano não pode ser utilizado como garantia para
empréstimos
○ “e os tribunais desaprovam os contratos que mesmo indiretamente sugerem servidão
involuntária.” (p. 93)
● Para o autor, “os custos de investimento indireto e direto são equivalentes em
mercados de capitais tanto imperfeitos quanto perfeitos.” (p.94)
● Porém, para ele, as dificuldades de financiar o capital humano também existem
para financiar outros tipos de capital, como o capital físico, por exemplo.
A obra: Human Capital (...)
Dinâmica de investimento

● “O fluxo de ganhos de pessoas que não investem após a idade de dezoito anos, por
exemplo, deveria ser considerado, pelo menos em parte, como um retorno sobre o
investimento que se deu antes dos dezoito anos. Na verdade, na abordagem dos
investimentos aplicados na criação dos filhos, a maioria, senão todos esses
ganhos, seriam então considerados.
● A representação do fluxo de ganhos em uma atividade sem investimento além da
idade inicial (atividade X) seria plana se fossem considerados apenas os ganhos
como resultado inteiramente de investimentos anteriores. A incorporação de
aprendizagem no conceito de investimento no capital humano também sugere
que os perfis de ganhos seriam planos se não houvesse investimento (adicional).
● Finalmente, as evidências empíricas sugerem que os perfis de rendimentos em
ocupações não qualificadas são bastante planos. Se o perfil de ganhos em X
estava estável, o investimento não observado poderia facilmente ser determinado
da maneira usual, uma vez que uma suposição foi feita sobre sua taxa de retorno.”
A obra: Human Capital (...)
Consequências do investimento

● Becker contraargumenta a ideia de que o aumento secular


na média de ganhos foi resultado do conhecimento
tencológico e capital físico do “recebidor”. Porém, para ele,
o “recebidor médio” [average earner] é supostamente
beneficiado indiretamente pela atividade de outros
empreendedores e investidores e entende-se que nos
últimos anos, os ganhos aumentaram conforme o Importante notar que fala-se de

investimento direto em “recebidores”. “recebidor” [earner] e não de

● Assim, no lugar de se beneficiar das atividades realizadas trabalhador. A preocupação de Becker

por outros, esse “recebidor médio” é o principal foca na dinâmica da transação

mobilizador do desenvolvimento ao investir em si próprio. financeira entre investimentos e


recebimentos.
A obra: Human Capital (...)
A questão da habilidade

● Um ponto bastante complexo da Teoria do Capital Humano para Becker diz respeito à ideia de
habilidade, referendada por muitos a partir de testes de QI e aptidão, notas no sistema escolar, testes
comportamentais e de personalidade. Becker reconhece as medidas como relevantes, mas afirma
que não são requerimentos necessários para o sucesso econômico do indivíduo. Para ele, a
habilidade consiste em um conjunto particular de personalidade, persistência e inteligência.
● Para ele, é possível fazer um acordo entre definir a habilidade por ganhos apenas quando muitas
outras variáveis são constantes. Como há, o que Becker chama de uma preocupação em separar
habilidade de educação, treinamento no local de trabalho, o tempo investido nesse tipo de capital
deveria ser constante. Porém, ele argumenta que uma análise completa da questão deveria
considerar questões como discriminação, nepotismo, sorte e outros vários fatores também como
constantes.
● Para ele, então, uma resposta possível a isso seria dizer que se duas pessoas fazem o mesmo
investimento em Capital Humano, aquela que recebe mais estaria demonstrando , em suas palavras,
“maior talento econômico”. Aqui reside uma das principais críticas à teoria do Capital
Humano. Argumenta-se que essa visão simplificaria por demais
todas as outras variáveis em jogo.
A obra: Human Capital (...)
A questão da investimento e retorno
● Para Becker, as pessoas que recebem uma taxa de retorno marginal maior teriam incentivos para
investir mais que as demais;
● Respondendo à ideia de que pessoas mais hábeis investiriam mais que as outras, assumindo uma
correlação positiva entre habilidade e Capital Humano, Becker problematiza que isso não explicaria a
distribuição da renda per capita.
● “Os economistas de Pigou [grupo de economistas ligados a Arthur Cecil Pigou, sucessor de Marshall
na cátedra de Economia Política da Universidade de Cambrige] tentaram reconciliar a forte distorção
na curva de distribuição de recebimentos e outras rendas com uma presumida distribuição de
habilidades.”
● Para ele, porém, a presunção de que o lucro da propriedade não é simetricamente distribuído não
ajudaria a explicar a distorção nos ganhos per capita.
● Dessa forma, Becker argumenta que a Teoria do Capital Humano resolve esse problema. A partir de
uma série de problematizações e análises do modelo econométrico, o autor indica que o Capital
Humano explica não apenas porque a distribuição geral de renda é mais distorcida que a distribuição
de habilidades, mas também porque a curva dos ganhos é mais distorcida entre os mais velhos e
mais hábeis do que entre os mais jovens e menos hábeis.
● Para Becker, este é um ponto central da Teoria pois “ela poderia propor um meio de trazer de volta a
teoria da distribuição pessoal de renda de volta à economia”.
A obra: Human Capital (...)
A questão do tempo e os foregone earnings

● Para Becker, uma das principais diferenças do Capital Humano é que ele está incorporado
na pessoa e portanto a razão pela qual os ganhos marginais diminuem ao passo que novo
capital é acumulado. Isso se dá porque “a capacidade de memória, tamanho físico de
cada investidor é limitado, eventualmente diminuindo os retornos ao produzir capital
adicional. O resultado é aumentar os custos marginais de gerar retorno.”
● E, fortemente dependente a essa questão está a importância do tempo do investidor no
Capital Humano. O tempo disponível do sujeito para investimento é tão importante que um
aumento naquilo investido corresponde em grande parte ao tempo que ele gastou
investindo.
● Não à toa, Becker retoma que uma medida importante de aferição dos efeitos do Capital
Humano é a quantidade de anos na escola ou em treinamento - medidas do tempo próprio
[own time] do investidor dedicado ao investimento daquele capital.
● Os adeptos da teoria batizaram o custo do tempo investido de “ganhos perdidos” [foregone
earnings]. O termo é comumente encontrado na literatura sobre o tema.
A obra: Human Capital (...)
A questão do tempo

Becker se refere às pessoas que investem em Capital Humano como “firmas”* que combinam esse
tipo de capital com outras fontes para ampliar sua capacidade de gerar renda.
Nesse aspecto, ele defende que o investidor - ou as “firmas” - precisam de tempo para
empreender ou tempo empreendedor para gerar Capital Humano.
Como o tempo está incorporado no investidor, em seus professores e gestores ou outras fontes
contratadas de geração de capital humano eles só podem ser substitutos imperfeitos dele.

Ou seja, a capacidade empreendedora do sujeito ou da firma é um conceito claro e definido para


o autor, e que, segundo ele, assume uma contraparte empírica e que pode elevar os custos de
adquirir Capital Humano e por consequência limitar o próprio tamanho do que ele chama de
“firmas”.

*O autor usa o termo “firmas” entre aspas.


A obra: Human Capital (...)
Incentivos

Abler persons are more likely


HUMAN CAPITAL AND THE DISTRIBUTION OF INCOME 131
to receive public and private scholarships, and thus have their supply
curves shifted downward. Or children from higher-income families
probably, on the average, are more intelligent and receive greater
psychic benefits from human capital. On the other hand, private and
public "wars" on poverty can significantly lower the supply curves
of some poor persons. Since the first two considerations have, unquestionably,
been stronger than the third, it is reasonable to presume
a positive120 correlation between supply and demand conditions, perhaps
a sizable one
Breves críticas e complementações
Aprendizagem ao longo da vida

Para Maren Elfert (2015, p. 95), a diferença entre as perspectivas racionais [essencialmente do
pensamento liberal e neoliberal] e do Capital Humano está na inserção e apropriação do termo
lifelong learning ou aprendizagem ao longo da vida pelos defensores da perspectiva do Capital
Humano. Propagado pela OCDE, o conceito de aprender ao longo da vida diz respeito à aquisição
de habilidades e competências para responder às necessidades do mercado de trabalho em um
contexto mais amplo de “sociedade do conhecimento”. Há, segundo a autora, uma distinção
fundamental entre as duas concepções, uma vez que a OCDE inclui aspectos de coesão social e
cidadania à agenda do retorno econômico da educação.

Barrett et al. (2006) e Tickly (2011), por sua vez, não diferenciam a perspectiva economicista da do
Capital Humano, argumentando que ambas têm como foco o retorno econômico, ainda que
reconheçam a inclusão do discurso de coesão social. Para eles, em ambas as perspectivas o
retorno econômico se dá a partir da formação de um capital humano capaz de gerar riquezas.

*Trecho adaptado de DIETRICH, J. O TEMPO NA EDUCAÇÃO LATINOAMERICANA: Análise sobre a relação entre a quantidade de horas na escola e a proficiência em
linguagens e matemática de estudantes do 3º ano da educação básica. Disponível em:
https://biblioteca.ufabc.edu.br/mobile/download.php?idioma=ptbr&acesso=web&codigo=77635&tipo_midia=2&iUsuario=0&obra=118656&tipo=1&downloadApp=1
Breves críticas e complementações
Aprendizagem ao longo da vida

Segundo Elfert, após a década de 1990 e fracasso das tentativas neoliberais na educação dos
países em desenvolvimento, a OCDE ganhou maior relevância e entrada no debate global,
assumindo a posição antes outorgada ao FMI. Este, por sua vez, passou a utilizar o Capital Humano
como parte integrada de sua agenda. Segundo Barrett et al. (2006, p.7), essa mudança de discurso
ficou evidente com as mudanças nos relatórios publicados pelo Banco Mundial nas últimas
décadas, que passaram a incluir o discurso de aprendizagens e substituíram o termo melhoria da
educação por qualidade da educação.

Em uma análise sobre os discursos das organizações intergovernamentais, Rubenson (2006 apud
Elfert, 2015, p. 95) também discute que cada vez mais a teoria do Capital Humano invoca seu lado
economicista, influenciando fortemente o discurso das principais agências intergovernamentais,
incluindo o da própria UNESCO, considerada responsável pela propagação do discurso humanista,
especialmente a partir da iniciativa Education For All (EFA), que se construiu com apoio do Banco
Mundial.
*Trecho adaptado de DIETRICH, J. O TEMPO NA EDUCAÇÃO LATINOAMERICANA: Análise sobre a relação entre a quantidade de horas na escola e a proficiência em
linguagens e matemática de estudantes do 3º ano da educação básica. Disponível em:
https://biblioteca.ufabc.edu.br/mobile/download.php?idioma=ptbr&acesso=web&codigo=77635&tipo_midia=2&iUsuario=0&obra=118656&tipo=1&downloadApp=1
Breves críticas e complementações
Aprendizagem ao longo da vida

O discurso de qualidade como “aprendizado ao longo da vida” e “habilidades e competências”,


que, na última década, certamente ganhou os holofotes do debate educacional e influenciou
fortemente as políticas educacionais tanto no mundo desenvolvido quanto em desenvolvimento
congrega em si uma miríade de relações entre os mecanismos intergovernamentais e entre as
perspectivas de qualidade da educação.

*Trecho adaptado de DIETRICH, J. O TEMPO NA EDUCAÇÃO LATINOAMERICANA: Análise sobre a relação entre a quantidade de horas na escola e a proficiência em
linguagens e matemática de estudantes do 3º ano da educação básica. Disponível em:
https://biblioteca.ufabc.edu.br/mobile/download.php?idioma=ptbr&acesso=web&codigo=77635&tipo_midia=2&iUsuario=0&obra=118656&tipo=1&downloadApp=1
Breves críticas e complementações
Aprendizagem ao longo da vida

Big five
Fonte da imagem: Wikipédia

capacidade de lidar com a


instabilidade emocional
Breves críticas e complementações
Mudança da perspectiva racional do FMI/BM para o Capital Humano

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