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3. Revisão de literatura
1. Modelos de Crescimento económico
O crescimento económico é um fenómeno complexo, de modo que, vários economistas
tentam explica – lo a partir de modelos económicos, com vista a simplificar ao máximo o
processo.
Brito (2015), cita o modelo endógeno de Romer, que considera o conhecimento como um
bem de capital com produtividade marginal crescente. Para que ocorra crescimento é
necessário a acumulação e ou aquisição do conhecimento, pois, as mudanças tecnológicas
são resultadas do progresso endógeno.
Romer assume que o consumidor toma as decisões da poupança e consumo com base nas
taxas de juros e as empresas produtoras de bens duradouras maximizam o lucro com base
nas taxas de juro, se a economia estiver em equilíbrio (Brito 2015).
Podemos encontrar outros modelos que explicam o crescimento endógeno, como por
exemplo o modelo de Lucas, baseado no modelo de Romer que considera o capital humano
como um nível de habilidade geral do indivíduo, servindo como um condutor para o
crescimento económico os modelos de Grossman e Helpman e dos economistas Aghion e
Howitt que considera o progresso tecnológico o motor do crescimento económico, contudo
é necessário atividades relacionadas com o I&D, ou seja, investigação e desenvolvimento
(Brito 2015).
3. Políticas estruturais
Silva (2009) incorpora políticas estruturais como um dos instrumentos que influência o
crescimento económico. Ele aponta fatores importante para o crescimento como, as
infraestruturas, inovação, investigação e desenvolvimento, regime e estabilidade política,
liberalização e abertura da economia, sistema judicial e direitos de propriedade e a situação
geográfica.
2. Efeitos da taxa de juro no crescimento económico
O ato do surgimento da taxa de juro, de cordo com Daniel, (1954) ocorreu quando os
monarcas espanhóis mais poderosos do século XVI começaram a fazer empréstimos
jurando pela bíblia como forma de garantia para honrar os seus compromissos, de modo,
que a divida pública emitida naquela época na Espanha se chamava juros, ou seja, segundo
o autor a palavra juro é resultante dos juramentos.
A taxa de juro é o preço do uso do dinheiro num determinado período de tempo, na ótica de
Omar (2005), ou taxa de juro é a recompensa pela renúncia da liquidez por um tempo
determinado (Keynes 1936).
O facto de a taxa de juro ser um preço ele tem um grande impacto na economia, uma vez,
que as decisões das famílias e dos investidores são afetadas pela taxa de juro e
consequentemente interferem ou afetam a estrutura económica de um país.
De modo, que o crescimento económico muitas vezes depende das políticas monetárias
existentes que incentivam a procura e a produção (Keynes 1936,). Sendo assim, Antunes
(2011) considera a taxa de juro um dos parâmetros macroeconómicos mais importantes que
está diretamente relacionada com o crescimento económico.
Neste sentido o economista afirma que a taxa de juro serve como um estímulo ao
investimento, ou seja, quanto menor for a taxa de juro maior será o Investimento.
O aumento do investimento significa mais emprego as pessoas e mais rendimento, o que
implica no aumento do consumo e da poupança, estimulando a atividade do sistema.
Segundo ele a taxa de juro é determinada pela quantidade da moeda no mercado associada
a preferência pela liquidez em certas circunstâncias
Os clássicos declararam a taxa de juro como um estabilizador automático, ou seja, a taxa de
juro é um autorregulador que opera sem a necessidade de nenhuma intervenção.
Consideraram a taxa de juro como o fator que equilibra a procura de investimento com a
oferta da poupança, pelo que a poupança é função da taxa de juro. Para o economista inglês
James Mill que traduziu a lei de Say de Jean Baptiste Say, quanto maior é a taxa de juro,
mais dispendioso será consumir no presente, pelo que, optar por consumir no futuro
apresenta maiores vantagens, o que estimula a poupança. (Keynes,1936) (Davidson, 2009).
A teoria clássica e a teoria keynesiana são de acordo que o investimento é estimulado pela
taxa de juro (taxa de juro baixo).
A teoria Monetarista de Friedmann diz que a política monetária expansionista leva à
redução das taxas de juros reais e ao aumento dos gastos com investimentos,
consequentemente a demanda agregada aumenta. E o aumento da demanda agregada leva
ao aumento da produção econômica do nível de preços. Isso implica uma relação negativa
entre taxa de juros e crescimento econômico Raynold et al., (2021).
Os efeitos da taxa de juro no crescimento económico têm sido um tema de destaque nas
investigações de diversos autores, contudo em Cabo Verde não tem suscitado interesse, de
modo que, até o momento é limitada ou inexistente trabalhos científicos relacionados ao
assunto. Neste sentido, esta secção irá rever as investigações científicas elaboradas em
países cuja conjuntura económica assimilam a Cabo Verde, com vista a identificar as
variáveis, métodos e os resultados alcançados por diferentes autores em contexto
semelhantes.
Njie e Badjie (2021) realizaram estudos sobre os efeitos da taxa de juro no crescimento
económico da Gambia de 1993- 2017, utilizando ao longo da investigação o método de
autoregressão vectorial (VAR) com o objetivo de compreender melhor a relação entre as
variáveis analisadas, o PIB, taxa de câmbio e a taxa de juro real. Os resultados obtidos
demonstram que a taxa de juros tem um impacto negativo no crescimento económico da
Gambia a longo prazo, verificando que no curto prazo não existe qualquer ligação entre as
duas variáveis. O estudo recomendou ao governo prudência na gestão do orçamento do
estado.
Ainda no continente africano, Jelilov (2016) constatou que na Nigéria de 1990 á 2013 a
taxa de juro teve um leve impacto no crescimento económico. Sugerindo uma redefinição
das políticas de taxas de juros por parte das autoridades nigerianas no sentido de
impulsionar o crescimento. O autor utilizou o método dos mínimos quadrados ordinários
(OLS).
Na mesma ótica Salami (2018), utilizou o método idêntico ao do Jelilov, o método de
mínimos quadrados ordinários (OLS) para analisar a relação entre a taxa de juro e o
investimento com o crescimento económico e verificou que na Swazilândia nos períodos de
1980 – 2016 a taxa de juro teve relação negativa com o crescimento económico.
Observando que a expansão da taxa de juro diminui o crescimento do PIB porque na
Swazilândia a taxa é elevada, que não contribuiu para crescimento. Salami recomenda a
estabilização da taxa de juro, de modo a fomentar o crescimento da economia. Mutinda
(2012) verificou que na Quénia a taxa de juro teve relação negativa com o crescimento
económico nos períodos analisados de 2003- 2012. Utilizando o método dos mínimos
quadros ordinários (OLS) examinou a relação entre o deficit orçamental, taxa de inflação
taxa de câmbio e Investimento bruto.
Tadera et al (2020) examinaram a relação entre a taxa de juro e a inflação com o
crescimento económico nos países da União Aduaneira da Africa Austral (SACU) de 1991
– 2018, utilizando os estimadores do modelo Pooled Mean Group (PMG). Concluíram que
a inflação teve impacto positivo sobre o crescimento económico enquanto que a taxa de
juro teve impacto negativo no crescimento ao longo prazo.
Cabo Verde, desde a sua independência em 1975 á atualidade vem traçando metas com
vista a atingir o crescimento económico desejado. Atualmente o país tem uma economia
fortemente dependente do turismo, que contribui com aproximadamente 20 % do PIB de
acordo com o Banco Mundial.
De 2001 a 2010 como ilustra o gráfico abaixo, a economia cresceu á uma taxa media de
4,9%, e o padrão de vida das famílias cabo-verdianas aumentaram consideravelmente
verificando picos de crescimento em 2003 (cerca de 28,9%) e 2007(20,9%). Contudo em
2009 o crescimento económico ficou a quem do desejado decrescendo 1,3% fruto das
consequências da crise económica de 2008 e da diminuição da procura interna (-3,7%), do
investimento (- 9,3%) e do turismo (-16%). E o PIB per capita diminui 3,1%, no entanto,
um valor superior comparado ao ano homólogo (Relatório anual do BCV) e (Banco
Mundial).
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Segundo Brito(2015), Cabo Verde apresenta vários fatores que constituem barreiras para o
crescimento económico, de modo que, aumentar a competitividade do país diminuindo
barreiras para o investimento como por exemplo proporcionar maiores oportunidades aos
empresários nacionais com o objetivo de aproveitaram do IDE e da grande abertura ao
comércio externo; incentivar os investimentos noutros setores de atividades, para reduzir a
concentração dos créditos no ramo da construção e aumentar a diversificação dos mercados
e dos produtos exportados; criar condições para melhoria da qualidade das instituições de
modo a reduzir os custos de financiamento bancário. Essas políticas servem como uma das
ferramentas que Governo pode e deve utilizar para fomentar o crescimento e fortalecer a
coesão social, que pode ser conseguida via formação do capital humano e melhor
distribuição dos rendimentos.
3. Metodologia
Vários estudos têm sido feitos nos países em desenvolvimento sobre os efeitos da taxa de
juro no crescimento económico. Autores como Njie e Badjie (2021), Jelilov (2016), Salami
(2018), Mutinda (2012), Tadera et al (2020), Mayo e Pierre (2018), Njimanted et al (2016),
Holson et al (2017), Hatmanu et al (2020), Harswari e Hamza (2017), Saymeh e Orabi
(2013) realizam investigações sobre o tema, utilizando na analise variáveis como a taxa de
cambio, inflação, índice de produção Industrial, clima empresarial, Investimento direto
Estrangeiro, deficit orçamental, entre outros.
Neste trabalho as variáveis assumidas como sendo importante para a analise são, a taxa de
juro de facilidade permanente de cedência de liquidez, a taxa de cambio, inflação, e o PIB
real. As investigações dos autores revistos na literatura influenciaram na escolha dos dados,
tendo em conta a semelhança das economias analisadas e do tema.
Os dados foram recolhidos de fontes primárias como o Banco de Cabo Verde, Instituto
Nacional de Estatísticas de Cabo Verde, e as amostras encontram agrupadas em series
temporais, no período de 2001 a 2020.
Inflação
A inflação é um processo que consiste na subida persistente e generalizada dos preços dos
bens duráveis e não duráveis, bens de capital, insumos, mão de obra e recursos naturais ao
longo de um dado período de tempo [BCV (2008), Gutierres (2004)].
Ela tem efeitos negativos na economia e custos como, o custo da incerteza para os
consumidores e investidores o custo cobertura de risco associados as actividades
financeiras o custo de redistribuição da riqueza gerando distorções a nível social
prejudicando os mais desfavorecidos, Custos de sola dos sapatos (shoe-leather costs)
funcionando como um imposto tirando oculto, tambem apresenta custo para a
competitividade e custos de menu (BCV 2008).
Brito (2015), diz que Cabo Verde comparado com os países do continente Africano o
nível de inflação é baixo devido ao acordo de paridade com a união europeia, de modo que
a inflação não constitui obstáculo ao investimento e a economia
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Inflação Média Anual
Taxa de câmbio
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Em Cabo Verde vigora dois regimes câmbio, o regime da taxa de câmbio fixo e o regime da
taxa de cambio flexível.
A taxa de câmbio fixo funciona como uma âncora nominal eficaz na promoção da
estabilidade de preços. Quando a taxa de cambio é fixa, um país que se defronta com um
aumento do nível de preços externo sairá do equilíbrio, e por fim, importará inflação
internacional sendo maior o seu impacto no crescimento económico, no entanto, a taxa de
câmbio fixo apresenta uma maior disciplina sobre os preços, argumento esse conhecido
como a âncora cambial (Mankiw).
Por outro lado, para Krugman e Obstfeld (2000) as taxas flutuantes promovem ajustes
rápidos e sem grandes esforços a certos tipos de mudanças econômicas. Mesmo em
situações de ausência de uma política monetária ativa, o ajuste rápido das taxas de câmbio
auxiliaria os países a manter os equilíbrios, mesmo com mudanças na demanda agregada.
Com isso, o movimento da taxa de câmbio flutuante estabilizaria a economia, reduzindo os
efeitos da inflação importada sobre o produto e o emprego (Krugman e Obstfeld, 2000).
Para a realização do trabalho foi escolhida a taxa de Câmbio USD/CVE por ser flutuante e
permite ao Banco de Cabo Verde responder em caso de choques externos. Na base da
escolha pesou o facto de Cabo Verde ter assinado o acordo de paridade cambial com
Portugal em 1998 e mais tarde em 1999 com a zona euro o que na ótica de Brito (2015) não
apresenta obstáculos, uma vez que a taxa de câmbio é fixa.
Em 2001 o valor medio do USD/CVE era de 123,2 o maior valor registado ao longo do
período em analise. Apesar de uma performance desfavorável de economia americana na
altura o dólar valorizou – se 5% face ao euro de acordo com o Relatório de contas do BCV
(2001). De 2002- 2008 devido as decisões politicas adotadas para estimular a procura
tomada pela Federal Reserve a tendência do dólar foi depreciar, vale realçar a crise
económica de 2008 que obrigou os Estados Unidos a diminuir o fed fund rate para 0,25%
desvalorizando o dólar no mercado livre de câmbio. Em 2009 o dólar voltou a apreciar face
ao euro (Relatório de contas BCV 2002- 2020).
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A redução da taxa de juro em 2020 para valores extramente baixa, foi uma das medidas
adotas pelo BCV para combater a crise de saúde publica provocada pelo vírus covid -19 na
economia, facilitando assim o aceso a crédito por parte dos bancos comercias, a fim dos
bancos comercias transmitir essa mesma facilidade as famílias e as empresas, assegurando
o bem-estar da nossa economia.
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T.J FPC
De acordo com Jacquinet (2019), existem várias óticas e medições do PIB, ele pode ser
calculado na ótica das despesas na ótica da produção na ótica dos fatores de produção,
transformado em PND e distinguindo – se ainda entre PIB nominal e PIB real.
Para o trabalho, escolhe o PIB real, visto que, permite – nos conhecer a evolução das
quantidades produzidas independentemente da variação dos preços, sendo o melhor para
avaliar o crescimento económico (Gomes 2012).
O gráfico 5 ilustra as variações do PIB real de 2001 – 2020. Em 2006 a economia cabo-
verdiana cresceu 9,4%, o crescimento mais elevado de todos os períodos. Na base desse
crescimento estiveram alguns fatores importantes como o aumento das receitas brutas
provenientes do turismo do consumo das famílias e do investimento quando comparado aos
anos posteriores. A crise económica de 2008 não originou grandes choques na estrutura
económica do país contrastando a realidade de outros parceiros económicos de Cabo Verde.
O curioso é que durante a crise económica com a derrocada dos principais parceiros o IDE
registou o maior crescimento de todos os tempos, cerca de 15, 4%.
Os momentos em que o PIB real ficou abaixo de zero (0) foi em 2009, devido às sequelas e/
ou efeitos da crise de 2008, decrescendo a uma taxa de 1.3%. Um outro momento negativo
da nossa economia foi em 2020, o ano em que o PIB real desmoronou para – 14,7% como
resultado da crise pandémica cujos as principais atividades económicas geradoras de
recuros paralisaram.
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PIB real
Para Silva (2012), de acordo com Kaldor (1957) o propósito de criar um modelo de
crescimento económico é mostrar a natureza das variáveis económicas que determinam o
crescimento.
De modo que a taxa de juro é considerando um dos determinante que tem influencia no
crescimento, pois, Akandwanaho (2018) afirma que o crescimento é maximizado quando a
taxa real de juros está dentro da faixa normal
Limitações
O objetivo deste trabalho é analisar os efeitos reais da taxa de juro no crescimento
económico de Cabo Verde de 2000 á 2020.
De modo que, a priori a taxa de juro que seria utilizada na analise era de a taxa de juro real,
mas infelizmente devido a carência desses dados nas nossas instituições não foi possível ter
acesso aos dados. Contudo, o site do BM disponibiliza os dados a taxa de juro real, num
período de tempo menor, a partir de 2006
Mediante esta situação propus trabalhar com a taxa de juro diretiva, porém infelizmente os
dados disponibilizados no site do BCV estão disponíveis a partir de abril de 2007, logo tive
de usar a taxa de juro de facilidade permanente de liquidez, por ser a única que corresponde
as exigências do trabalho.