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3. Revisão de literatura  
1. Modelos de Crescimento económico  
 
O crescimento económico é um fenómeno complexo, de modo que, vários economistas
tentam explica – lo a partir de modelos económicos, com vista a simplificar ao máximo o
processo. 

Burda e Wyplosz (2001) descreveram o crescimento económico como uma lei imutável da


natureza que apesar das guerras, catástrofes naturais e pandemias que originaram
retrocessos, ainda tem contribuído por mudanças espetaculares na forma como vivemos.  

Neste sentido, Santana (2012) definiu o crescimento económico como


um processo contínuo sustentado ao longo do tempo, no qual, os níveis de atividade
económica aumentam. Ou seja, é um crescimento focado no aumento quantitativo da
quantidade produzida (Silva 2009). 

Analisando a afirmação dos autores acima mencionados podemos observar que


o principal objetivo do crescimento económico é aumentar a capacidade de produção de
um país, driblando ao longo do percurso os ciclos económicos, visando alcançar
as metas estipuladas. 

Desta forma, na segunda metade do século XX surgiram diferentes modelos de


crescimentos, destacando o modelo neoclássico do crescimento económico exógeno
introduzido por Solow e o modelo de crescimento endógeno desenvolvido por Romer, com
o intuito de auxiliar na escolha da melhor ferramenta (Brito 2015).  

A maioria dos estudos relacionados com o crescimento económico focam em abordar o


modelo neoclássico de crescimento nas suas amplas versões. Uma vez que, o elemento
chave do modelo é a suposição de que o progresso técnico é exógeno e de que todos os
países têm a mesma oportunidade tecnológicas, dando a perceber que no estado
estacionário o crescimento depende exclusivamente do crescimento populacional exógeno e
do progresso técnico exógeno. Em contrapartida a teoria do modelo endógeno tem o
pressuposto de que o crescimento económico depende das decisões de investimento, e do
conhecimento, respetivamente (Santana 2012) e (Augusto 2010). 
 
1. Modelos neoclássico do crescimento económico exógeno  
1. Modelo de Solow sem progresso técnico  
 
O modelo de Solow tem o objetivo de explicar a função do capital acumulado no
crescimento económico, uma vez, que projeta uma economia com tendência para um estado
estacionário, ou em outras palavras steady state onde apresenta um crescimento equilibrado
(balanced growth),  crescendo de forma homogénea a uma velocidade constante (Silva
2009). 
De modo que Silva descreve que função produção no modelo de Solow assume as seguintes
características: 
Y = F (K, N). 
Onde: Y é o volume da produção; 
          K é o capital; 
          N é o trabalho;  
 
No modelo a função de produção tem rendimento constante á escala. O aumento dos fatores
trabalho (N) e capital (k) numa dada proporção provoca o aumento da produção (Y) na
mesma proporção, apesar dos fatores produtivos terem rendimento decrescente (Silva
2009). 
Sendo assim, a fórmula apresenta – se da seguinte forma: 
F (λK,λN) = λ ⋅ F (K, N). 

Baseado no pressuposto de rendimentos constantes à escala, a função produção escreve – se


na forma intensiva, relacionando o produto por trabalhador (y=Y/N) com o stock de capital
por trabalhador (k=K/N):  
Y = F (K, N). = N.F(K/N,1) = N.f(K/N) 
⇔ Y/N =f(K/N) 
⇔ Y = f(K). 
2. Modelo de Solow com progresso técnico  
 
De acordo com Silva (2009), o progresso técnico no modelo de Solow reflete no aumento
da produtividade dos fatores de produção, obtendo um maior produto para um mesmo nível
de utilização dos fatores produtivos.  

 Formulando assim a função da produção do progresso técnico de Solow (aumentos da


produtividade do capital). 
Y = F (AK, N). 
Onde: Y volume de produção;  
A tecnologia; 
K é o capital;  
N é o trabalho;  
 
A função produção na forma intensiva obtém-se da seguinte forma: 
 
Y = F (K, AK) = AN. F(K/AN,1) = AN.f (K/AN) 
⇔ Y/AN = f(K/AN) 
⇔ y A = f (k A). 
 
Solow admite duas formas de crescimento. Crescimento transitório na ausência de
progresso técnico e Crescimento contínuo na presença de progresso técnico. Em suma, ele
sugere que o processo de crescimento económico baseado na acumulação de capital não é
sustentável, mas defende um crescimento continuo a partir de progresso técnico permanente
(Silva 2009).  
 
Apesar da sua vasta contribuição no desenvolvimento do modelo de crescimento
económico, Solow  recebe críticas por ter assumido o progresso tecnológico como
exógeno, deixando de explicar os determinantes do crescimento económico, os níveis de
produto per capita demasiado díspares e a taxa de rentabilidade nos países pobres (Brito,
2015) (Silva, 2009).  
 
2. Modelo de crescimento endógeno 
  
As limitações existentes nos modelos neoclássicos impulsionaram alguns economistas a
desenvolverem modelos que explicam internamente o crescimento económico. O modelo
de crescimento económico endógeno tem como objetivo explicar o progresso técnico e os
níveis tecnológicos diferentes dos países, visto que, o progresso técnico é um subproduto
do processo produtivo que gera rendimentos crescentes á escala dando possibilidade ao
crescimento económico permanente (Silva 2009). 

Brito (2015), cita o modelo endógeno de Romer, que considera o conhecimento como um
bem de capital com produtividade marginal crescente. Para que ocorra crescimento é
necessário a acumulação e ou aquisição do conhecimento, pois, as mudanças tecnológicas
são resultadas do progresso endógeno. 

 Brito (2015) menciona que função de produção de Romer engloba quatro (4) variáveis


básicas para o crescimento:  
2. O capital (K) que é medido em unidades de consumo; 
3.  O trabalho (L) que é medido pelo número de pessoas;  
4. O capital humano (H) é o número de anos de escolaridade ou de experiência de
trabalho de escolaridade; 
5. Índice de nível de tecnologia (A) é medido pelo número de designs;  

Romer assume que o consumidor toma as decisões da poupança e consumo com base nas
taxas de juros e as empresas produtoras de bens duradouras maximizam o lucro com base
nas taxas de juro, se a economia estiver em equilíbrio (Brito 2015). 

Podemos encontrar outros modelos que explicam o crescimento endógeno, como por
exemplo o modelo de Lucas, baseado no modelo de Romer que considera o capital humano
como um nível de habilidade geral do indivíduo, servindo como um condutor para o
crescimento económico os modelos de Grossman e Helpman e dos economistas Aghion e
Howitt que considera o progresso tecnológico o motor do crescimento económico, contudo
é necessário atividades relacionadas com o I&D, ou seja, investigação e desenvolvimento
(Brito 2015). 
 
3. Políticas estruturais  
 
Silva (2009) incorpora políticas estruturais como um dos instrumentos que influência o
crescimento económico. Ele aponta fatores importante para o crescimento como, as
infraestruturas, inovação, investigação e desenvolvimento, regime e estabilidade política,
liberalização e abertura da economia, sistema judicial e direitos de propriedade e a situação
geográfica.   

Com base nesses fatores podem ser implementas políticas que estimulam o processo do


crescimento a partir das políticas estruturais citadas por Silva, que são nomeadamente: 
2. Promoção de um nível de poupança apropriado;  
3. Formação de capital humano;  
4. Apoio à inovação e difusão tecnológica; 
5. Investimento em infraestruturas públicas; 
6. Regulação dos mercados; 

 
2. Efeitos da taxa de juro no crescimento económico  
 
O ato do surgimento da taxa de juro, de cordo com Daniel, (1954) ocorreu quando os
monarcas espanhóis mais poderosos do século XVI começaram a fazer empréstimos
jurando pela bíblia como forma de garantia para honrar os seus compromissos, de modo,
que a divida pública emitida naquela época na Espanha se chamava juros, ou seja, segundo
o autor a palavra juro é resultante dos juramentos. 
  
A taxa de juro é o preço do uso do dinheiro num determinado período de tempo, na ótica de
Omar (2005), ou taxa de juro é a recompensa pela renúncia da liquidez por um tempo
determinado (Keynes 1936). 
 
O facto de a taxa de juro ser um preço ele tem um grande impacto na economia, uma vez,
que as decisões das famílias e dos investidores são afetadas pela taxa de juro e
consequentemente interferem ou afetam a estrutura económica de um país. 

De modo, que o crescimento económico muitas vezes depende das políticas monetárias
existentes que incentivam a procura e a produção (Keynes 1936,). Sendo assim, Antunes
(2011) considera a taxa de juro um dos parâmetros macroeconómicos mais importantes que
está diretamente relacionada com o crescimento económico. 

Keynes (1936), afirma que crescimento económico depende do investimento e do consumo


dos agentes económicos, porque considera o investimento um multiplicador económico que
impulsiona o crescimento, gerando novas atividades.  

Neste sentido o economista afirma que a taxa de juro serve como um estímulo ao
investimento, ou seja, quanto menor for a taxa de juro maior será o Investimento.
O aumento do investimento significa mais emprego as pessoas e mais rendimento, o que
implica no aumento do consumo e da poupança, estimulando a atividade do sistema.
Segundo ele a taxa de juro é determinada pela quantidade da moeda no mercado associada
a preferência pela liquidez em certas circunstâncias 
 
Os clássicos declararam a taxa de juro como um estabilizador automático, ou seja, a taxa de
juro é um autorregulador que opera sem a necessidade de nenhuma intervenção.

Consideraram a taxa de juro como o fator que equilibra a procura de investimento com a
oferta da poupança, pelo que a poupança é função da taxa de juro. Para o economista inglês
James Mill que traduziu a lei de Say de Jean Baptiste Say, quanto maior é a taxa de juro,
mais dispendioso será consumir no presente, pelo que, optar por consumir no futuro
apresenta maiores vantagens, o que estimula a poupança. (Keynes,1936) (Davidson, 2009). 

A teoria clássica e a teoria keynesiana são de acordo que o investimento é estimulado pela
taxa de juro (taxa de juro baixo). 
A teoria Monetarista de Friedmann diz que a política monetária expansionista leva à
redução das taxas de juros reais e ao aumento dos gastos com investimentos,
consequentemente a demanda agregada aumenta. E o aumento da demanda agregada leva
ao aumento da produção econômica do nível de preços. Isso implica uma relação negativa
entre taxa de juros e crescimento econômico Raynold et al., (2021).  
 
Os efeitos da taxa de juro no crescimento económico têm sido um tema de destaque nas
investigações de diversos autores, contudo em Cabo Verde não tem suscitado interesse, de
modo que, até o momento é limitada ou inexistente trabalhos científicos relacionados ao
assunto. Neste sentido, esta secção irá rever as investigações científicas elaboradas em
países cuja conjuntura económica assimilam a Cabo Verde, com vista a identificar as
variáveis, métodos e os resultados alcançados por diferentes autores em contexto
semelhantes. 

Njie e Badjie (2021) realizaram estudos sobre os efeitos da taxa de juro no crescimento
económico da Gambia de 1993- 2017, utilizando ao longo da investigação o método de
autoregressão vectorial (VAR) com o objetivo de compreender melhor a relação entre as
variáveis analisadas, o PIB, taxa de câmbio e a taxa de juro real. Os resultados obtidos
demonstram que a taxa de juros tem um impacto negativo no crescimento económico da
Gambia a longo prazo, verificando que no curto prazo não existe qualquer ligação entre as
duas variáveis. O estudo recomendou ao governo prudência na gestão do orçamento do
estado.  

Ainda no continente africano, Jelilov (2016) constatou que na Nigéria de 1990 á 2013 a
taxa de juro teve um leve impacto no crescimento económico. Sugerindo uma redefinição
das políticas de taxas de juros por parte das autoridades nigerianas no sentido de
impulsionar o crescimento. O autor utilizou o método dos mínimos quadrados ordinários
(OLS).  
Na mesma ótica Salami (2018), utilizou o método idêntico ao do Jelilov, o método de
mínimos quadrados ordinários (OLS) para analisar a relação entre a taxa de juro e o
investimento com o crescimento económico e verificou que na Swazilândia nos períodos de
1980 – 2016 a taxa de juro teve relação negativa com o crescimento económico.
Observando que a expansão da taxa de juro diminui o crescimento do PIB porque na
Swazilândia a taxa é elevada, que não contribuiu para crescimento. Salami recomenda a
estabilização da taxa de juro, de modo a fomentar o crescimento da economia. Mutinda
(2012) verificou que na Quénia a taxa de juro teve relação negativa com o crescimento
económico nos períodos analisados de 2003- 2012. Utilizando o método dos mínimos
quadros ordinários (OLS) examinou a relação entre o deficit orçamental, taxa de inflação
taxa de câmbio e Investimento bruto. 
  
Tadera et al (2020) examinaram a relação entre a taxa de juro e a inflação com o
crescimento económico nos países da União Aduaneira da Africa Austral (SACU) de 1991
– 2018, utilizando os estimadores do modelo Pooled Mean Group (PMG). Concluíram que
a inflação teve impacto positivo sobre o crescimento económico enquanto que a taxa de
juro teve impacto negativo no crescimento ao longo prazo.  

Dando sequencia ao estudo, Mayo e Pierre (2018) realizaram estudo semelhante,


examinando o impacto das reformas da taxa de juro no crescimento económico utilizando o
estimador aplicado pelos pesquisadores Tadera et al, nos países que pertencem a
Comunidade para o Desenvolvimento da Africa Austral (SADC) entre 1990 – 2015, os
resultados obtidos informam que as reformas nas taxas de juro tiveram um impacto positivo
no crescimento, contudo o crescimento desencadeou – se por meio da poupança e do
investimento.  

Explorando as comunidades económicas da Africa, Njimanted et al (2016), verificaram que


nos países da Comunidade Económica Monetária da Africa Central nos períodos de 1981-
2015 usando o método de autoregressão linear (VAR) os resultados demostram a existência
uma relação negativa entre as variáveis analisadas (taxa de inflação e taxa de juro) com o
crescimento económico. 

Com o término das revisões empíricas, em países economicamente semelhantes a Cabo


Verde, esta secção preocupou – se em pesquisar investigações relacionadas com o
tópico em análise, nos países desenvolvidos. 
Nesta perspetiva, Holson et al (2017), investigaram os efeitos da taxa de juro o crescimento
económico dos Estados Unidos da América, Canada, União Europeia e Reino Unido nos
períodos compreendido entre 1965 á 2001, utilizando o método de Laubach William e os
resultados evidenciaram que existe uma relação negativa ao longo prazo entre a taxa de juro
e o crescimento económico. Os investigadores Hatmanu et al (2020), realizaram o mesmo
estudo na Roménia examinando a taxa de juro, taxa de cambio real e o clima de negócios
do euro no crescimento de 2003- 2019, aplicando o método de cointegração autorregressiva
de atraso distribuído (ARDL) e os resultados mostraram que no curto prazo a taxa de juro
influencia negativamente o crescimento económico contrariando a influencia positiva da
taxa de cambio no crescimento. 
 
Analisando os países asiáticos, Harswari e Hamza (2017), investigaram o impacto da taxa
de juro na economia de 20 países asiáticos nos períodos de 2006 á 2015. Usaram o método
dos mínimos quadrados (OLS) para estudar a relação entre o Produto Interno Bruto,
Inflação e Investimento Directo Estrangeiro. Os resultados obtidos indicaram que a taxa de
juro teve um impacto negativo no Produto Interno Bruto (PIB) e a Inflação.  
Saymeh e Orabi (2013), concluíram que na Jordânia de 2000 a 2010 usando o método de
máxima verossimilhança multivariada de Johansan que a taxa de juro tem efeito positivo no
crescimento económico tais como as outras variáveis analisadas, taxa de inflação e Produto
Interno Bruto.   

Em suma, as investigações revistas tem um objetivo em comum que é analisar ou examinar


os efeitos da taxa de juro no crescimento económico, embora em países diferentes. Apesar
das diferenças, a maioria concluí que a taxa de juro teve impacto negativo no crescimento
económico. Por conseguinte, os investigadores que durante o estudo verificaram o impacto
da taxa de juro no fomento da economia observaram que foram ambíguas, uma vez, que o
crescimento económico desses países não dependem exclusivamente da taxa de juro, mas
também de outras variáveis macroeconómicas como por exemplo a taxa de câmbio,
inflação, Investimento e a poupança. 
 
 
2.3 Evolução do crescimento económico em Cabo Verde 
O crescimento económico é um processo continuo, que acontece ao longo dos tempos. Se
hoje temos países ricos com padrões de vida elevado é porque ultrapassaram todas as metas
estipuladas até conseguir o objetivo principal. 

Cabo Verde, desde a sua independência em 1975 á atualidade vem traçando metas com
vista a atingir o crescimento económico desejado. Atualmente o país tem uma economia
fortemente dependente do turismo, que contribui com aproximadamente 20 % do PIB de
acordo com o Banco Mundial. 

Na década de 70 á 1980 o pais registava um crescimento económico fraco devido a luta


armada pela independência, tendo verificando um aumento
na produtividade económica, dez anos depois em 1990 justificado pelo aumento de
empresas públicas e mistas, instituições públicas e serviços autónomos e serviços da divida.

No período de 1991 á 2000, a balança comercial registava um aumento nas exportações


com a instalação no país de empresas francas, e verificava na altura com a expansão do
turismo e dos serviços ligados ao transporte aéreo e marítimo favorecendo o crescimento do
VAB (valor acrescentado bruto) a uma taxa media anual de 5,32% de acordo com os dados
das Nações Unidas (Brito 2015). 

De 2001 a 2010 como ilustra o gráfico abaixo, a economia cresceu á uma taxa media de
4,9%, e o padrão de vida das famílias cabo-verdianas aumentaram consideravelmente
verificando picos de crescimento em 2003 (cerca de 28,9%) e 2007(20,9%). Contudo em
2009 o crescimento económico ficou a quem do desejado decrescendo 1,3% fruto das
consequências da crise económica de 2008 e da diminuição da procura interna (-3,7%), do
investimento (- 9,3%) e do turismo (-16%). E o PIB per capita diminui 3,1%, no entanto,
um valor superior comparado ao ano homólogo (Relatório anual do BCV) e (Banco
Mundial). 

 Nos períodos compreendidos de 2011 á 2020 o país cresceu á variações moderadas,


registando a maior taxa de crescimento em 2019 favorecido por um contexto externo e
interno saudável, pela implementação de medidas macroeconómicas acomodatícias e
fortalecimento da confiança dos agentes económicos, ou seja, diminuição da inflação,
aumento do crédito á economia entre outros fatores. Todavia, os dados demonstram que a
renda media do cidadão diminui 0,3%. Devido a pandemia e a paralisação do sector do
turismo a economia registou uma recessão de 14,8% e o PIB per capita contraiu 15,7%, a
maior redução verificado até o momento no país e no continente (Relatório anual do BCV)
e (Banco Mundial). 
 

40

30

20

10

0
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
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-10

-20

PIB real PIB per capita

 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do BCV e CE 


Gráfico 1: Evolução do PIB real e PIB per capita de 2001 - 2020

Segundo Brito(2015), Cabo Verde apresenta vários fatores que constituem barreiras para o
crescimento económico, de modo que, aumentar a competitividade do país  diminuindo
barreiras para o investimento como por exemplo proporcionar maiores oportunidades aos
empresários nacionais com o objetivo de aproveitaram do IDE e da grande abertura ao
comércio externo; incentivar  os investimentos noutros setores de atividades, para reduzir a
concentração dos créditos no ramo da construção e aumentar a diversificação dos mercados
e dos produtos exportados; criar condições para melhoria da qualidade das instituições de
modo a reduzir os custos de financiamento bancário. Essas políticas servem como uma das
ferramentas que Governo pode e deve utilizar para fomentar o crescimento e fortalecer a
coesão social, que pode ser conseguida via formação do capital humano e melhor
distribuição dos rendimentos.  
3. Metodologia

3.1- Dados e Amostras

Vários estudos têm sido feitos nos países em desenvolvimento sobre os efeitos da taxa de
juro no crescimento económico. Autores como Njie e Badjie (2021), Jelilov (2016), Salami
(2018), Mutinda (2012), Tadera et al (2020), Mayo e Pierre (2018), Njimanted et al (2016),
Holson et al (2017), Hatmanu et al (2020), Harswari e Hamza (2017), Saymeh e Orabi
(2013) realizam investigações sobre o tema, utilizando na analise variáveis como a taxa de
cambio, inflação, índice de produção Industrial, clima empresarial, Investimento direto
Estrangeiro, deficit orçamental, entre outros.

Neste trabalho as variáveis assumidas como sendo importante para a analise são, a taxa de
juro de facilidade permanente de cedência de liquidez, a taxa de cambio, inflação, e o PIB
real. As investigações dos autores revistos na literatura influenciaram na escolha dos dados,
tendo em conta a semelhança das economias analisadas e do tema.

Os dados foram recolhidos de fontes primárias como o Banco de Cabo Verde, Instituto
Nacional de Estatísticas de Cabo Verde, e as amostras encontram agrupadas em series
temporais, no período de 2001 a 2020.

3.1- Técnica de pesquisa e analise de dados

Na primeira etapa do trabalho foram realizadas pesquisas bibliográficas que serviram de


base para a execução dos tópicos iniciais, ou seja, fez - se o uso do método qualitativo.

No entanto, a natureza desta pesquisa é quantitativa. Seguindo os trabalhos de Jelilov


(2016), Salami (2018), Mutinda (2012), Harswari e Hamza (2017), a metodologia
econométrica escolhida foi de Mínimos Quadrados Ordinários (OLS – Ordinary Least
Squares) e para a estimação da regressão foi utilizado o software econométrico EVIEWS
10. Fez – se o uso de muitas técnicas em um esforço de entender melhor a natureza da
relação entre a taxa de juros e o crescimento económico cabo-verdiano. Assim, na análise
dos dados, foram seguidos os seguintes procedimentos.
Primeiro: Especificação do modelo econométrico, depois foram realizados os testes de
estacionariedade das séries, análise de correlação.

Após estimar o modelo foi analisada a qualidade do modelo a partir de teste de


diagnósticos de resíduo da regressão. Por fim foram realizados os testes de normalidade de
resíduo, teste de heterocedasticidade e teste de autocorrelação.

3.3 Variáveis e Modelo

Inflação

A inflação é um processo que consiste na subida persistente e generalizada dos preços dos
bens duráveis e não duráveis, bens de capital, insumos, mão de obra e recursos naturais ao
longo de um dado período de tempo [BCV (2008), Gutierres (2004)].

Ela tem efeitos negativos na economia e custos como, o custo da incerteza para os
consumidores e investidores o custo cobertura de risco associados as actividades
financeiras o custo de redistribuição da riqueza gerando distorções a nível social
prejudicando os mais desfavorecidos, Custos de sola dos sapatos (shoe-leather costs)
funcionando como um imposto tirando oculto, tambem apresenta custo para a
competitividade e custos de menu (BCV 2008).

Para o calculo da taxa de inflação media anual, utiliza – se a seguinte fórmula:

ti= ( somados indices dos ultimos 12 meses até ao mês n do ano N −1 )


soma dos indices dos ultimos 12meses até ao mês n do ano N
−1 x 100

ti= taxa de inflação media anual

Hipótese 1: A inflação não tem influência no crescimento económico de Cabo Verde.

A inflação é um fenômeno encontrado em quase todas as economias mundiais, com


consequências maiores em países em fase de desenvolvimento, Gutierres (2004), países
como Cabo Verde.
A evolução da inflação em Cabo Verde pode ser vista no gráfico 2, é possível verificar que
em 2008 registou – se o pico da inflação, cerca de 6,8%. Este pico deu divido a crise
financeira de 2008, com o aumento dos custos de produção dos principais parceiros
económicos do país, na zona euro, aumentando os preços dos produtos energéticos e dos
bens alimentares transformados (BCV 2008). Por outro lado, em 2004 a taxa de inflação
registou valores negativos, - 1,9%.

Brito (2015), diz que Cabo Verde comparado com os países do continente Africano o
nível de inflação é baixo devido ao acordo de paridade com a união europeia, de modo que
a inflação não constitui obstáculo ao investimento e a economia

8.0

6.0

4.0

2.0

0.0
01 002 003 004 005 006 007 008 009 010 011 012 013 014 015 016 017 018 019 020
20 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
-2.0

-4.0
Inflação Média Anual

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do BCV

Gráfico 2: Inflação Média Anual (%) de 2001 - 2020

Taxa de câmbio

É o preço da moeda (divisa) estrangeira em termos da moeda nacional, dividindo – se em


taxa de câmbio nominal e taxa de câmbio real (Silva 2009).

Taxa de Câmbio nominal é o valor da unidade monetária nacional em termos da unidade


monetária externa enquanto que, a taxa de câmbio real estabelece a relação entre os preços
dos bens na economia nacional e os preços dos bens no exterior [Silva (2009), Njie e Badjie
(2021)].
Formula da taxa de câmbio

p
e=
pf

Em Cabo Verde vigora dois regimes câmbio, o regime da taxa de câmbio fixo e o regime da
taxa de cambio flexível.

A taxa de câmbio fixo funciona como uma âncora nominal eficaz na promoção da
estabilidade de preços. Quando a taxa de cambio é fixa, um país que se defronta com um
aumento do nível de preços externo sairá do equilíbrio, e por fim, importará inflação
internacional sendo maior o seu impacto no crescimento económico, no entanto, a taxa de
câmbio fixo apresenta uma maior disciplina sobre os preços, argumento esse conhecido
como a âncora cambial (Mankiw).

Por outro lado, para Krugman e Obstfeld (2000) as taxas flutuantes promovem ajustes
rápidos e sem grandes esforços a certos tipos de mudanças econômicas. Mesmo em
situações de ausência de uma política monetária ativa, o ajuste rápido das taxas de câmbio
auxiliaria os países a manter os equilíbrios, mesmo com mudanças na demanda agregada.
Com isso, o movimento da taxa de câmbio flutuante estabilizaria a economia, reduzindo os
efeitos da inflação importada sobre o produto e o emprego (Krugman e Obstfeld, 2000).

Para a realização do trabalho foi escolhida a taxa de Câmbio USD/CVE por ser flutuante e
permite ao Banco de Cabo Verde responder em caso de choques externos. Na base da
escolha pesou o facto de Cabo Verde ter assinado o acordo de paridade cambial com
Portugal em 1998 e mais tarde em 1999 com a zona euro o que na ótica de Brito (2015) não
apresenta obstáculos, uma vez que a taxa de câmbio é fixa.

Em 2001 o valor medio do USD/CVE era de 123,2 o maior valor registado ao longo do
período em analise. Apesar de uma performance desfavorável de economia americana na
altura o dólar valorizou – se 5% face ao euro de acordo com o Relatório de contas do BCV
(2001). De 2002- 2008 devido as decisões politicas adotadas para estimular a procura
tomada pela Federal Reserve a tendência do dólar foi depreciar, vale realçar a crise
económica de 2008 que obrigou os Estados Unidos a diminuir o fed fund rate para 0,25%
desvalorizando o dólar no mercado livre de câmbio. Em 2009 o dólar voltou a apreciar face
ao euro (Relatório de contas BCV 2002- 2020).

De 2010 – 2020, a tendência do dólar inverteu, apreciando em relação ao euro, tendo em


conta a gradual recuperação da economia norte – americana, contudo o mercado cambial
sofria forte instabilidade devidas as tenções no mercado das dividas da zona euro. Em 2011
o dólar deprecia novamente. A partir de 2012 houve flutuações no gráfico, como podemos
observar. No entanto, o maior pico negativo nas variações do dólar foi registado em 2017
instigada pela apreciação do euro no mercado cambial e aumento das taxas de juro no EUA
(Relatório anual de contas do BCV 2017).

H2: A taxa de câmbio tem uma relação significativa no crescimento económico.

140.0

120.0

100.0

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0.0
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20

Taxa de Câmbio USD/CVE

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do BCV

Gráfico 3: Taxa de Câmbio USD/CVE – valores médios

Taxa de juro de facilidade permanente de Cedência de liquidez


A taxa de juro de facilidade permanente de liquidez tem o objetivo de ceder liquidez pelo
prazo overnight (BCE 2002).
De acordo com o Banco Central europeu é a taxa que os bancos centrais u

O Banco utiliza a taxa de juro de facilidade permanente de liquidez como um dos


instrumentos de politicas monetárias para ceder liquidez aos bancos comercias.

O objetivo deste trabalho é analisar os efeitos reais da taxa de juro no crescimento


económico de Cabo Verde de 2000 á 2020.

Formula da taxa de juro de facilidade permanente de liquidez

O comportamento da taxa de juro de cedência de liquidez foi decrescente de 2001- 2002


mantendo constante de 2003 – 2004, decrescendo novamente em 2005, permanecendo
constante até 2007. Em 2001 o banco de Cabo Verde aumentou a taxa de juro de cedência
de liquidez (a maior taxa) com o propósito de arrefecer a procura interna e reestabelecer a
estabilidade macroeconómica. Contudo nos anos seguintes os objetivos do BCV mudaram
baixando a taxa de juro de cedência com o intuito de estimular a atividade económica
(Relatório de contas). Para absorver o excesso estrutural de liquidez existente no mercado o
BCV aumentou a taxa de cedência em 2008 para 8,25% e posteriormente em 2010 diminui
a taxa de juro, aumentando em 2012, conforme os interesses do regulador monetário. De
2014 para 2020 a taxa de juro de cedência de liquidez seguiu a tendência decrescente,
registando o menor valor em 2020, cerca de 0,5%.

A redução da taxa de juro em 2020 para valores extramente baixa, foi uma das medidas
adotas pelo BCV para combater a crise de saúde publica provocada pelo vírus covid -19 na
economia, facilitando assim o aceso a crédito por parte dos bancos comercias, a fim dos
bancos comercias transmitir essa mesma facilidade as famílias e as empresas, assegurando
o bem-estar da nossa economia.

H3: A taxa de juro de FPCL tem efeitos diretos no crescimento do PIB.


14.00

12.00

10.00

8.00

6.00

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01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
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T.J FPC

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do BCV

Gráfico 4: Taxa de juro de facilidade permanente de Cedência de liquidez (%)

Produto Interno Bruto

O Produto Interno bruto é o valor monetário de toda a atividade produtiva desenvolvida


num território. (Gomes 2012). Ou seja, é um indicador económico que mede o valor da
produção total de bens e serviços que são produzidos num determinado país durante um
período de tempo (Jacquinet, 2019).

De acordo com Jacquinet (2019), existem várias óticas e medições do PIB, ele pode ser
calculado na ótica das despesas na ótica da produção na ótica dos fatores de produção,
transformado em PND e distinguindo – se ainda entre PIB nominal e PIB real.

Para o trabalho, escolhe o PIB real, visto que, permite – nos conhecer a evolução das
quantidades produzidas independentemente da variação dos preços, sendo o melhor para
avaliar o crescimento económico (Gomes 2012).

Fórmula da variação do PIB real (%)


PIB n−PIB ( n−1 )
PIB real= ¿ x 100
PIB ( n−1 )

O gráfico 5 ilustra as variações do PIB real de 2001 – 2020. Em 2006 a economia cabo-
verdiana cresceu 9,4%, o crescimento mais elevado de todos os períodos. Na base desse
crescimento estiveram alguns fatores importantes como o aumento das receitas brutas
provenientes do turismo do consumo das famílias e do investimento quando comparado aos
anos posteriores. A crise económica de 2008 não originou grandes choques na estrutura
económica do país contrastando a realidade de outros parceiros económicos de Cabo Verde.
O curioso é que durante a crise económica com a derrocada dos principais parceiros o IDE
registou o maior crescimento de todos os tempos, cerca de 15, 4%.

Os momentos em que o PIB real ficou abaixo de zero (0) foi em 2009, devido às sequelas e/
ou efeitos da crise de 2008, decrescendo a uma taxa de 1.3%. Um outro momento negativo
da nossa economia foi em 2020, o ano em que o PIB real desmoronou para – 14,7% como
resultado da crise pandémica cujos as principais atividades económicas geradoras de
recuros paralisaram.

H4: O PIB tem uma relação direta com a taxa de juro.


15

10

0
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20
-5

-10

-15

-20

PIB real

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do BCV

Gráfico 5: Produto Interno Bruto – variação real (%)


Modelo de crescimento económico
O modelo de crescimento económico eleito para o estudo é o modelo de crescimento
económico endógeno, uma vez que, este modelo procura explicar os determinantes do
crescimento económico internos no longo prazo sem levar em consideração as influencia
externa, adotando a ideia de que a economia demonstra capacidade de crescer a partir de
fatores como a inovação tecnológica endógena, capital humano e arranjos institucionais.

Para Silva (2012), de acordo com Kaldor (1957) o propósito de criar um modelo de
crescimento económico é mostrar a natureza das variáveis económicas que determinam o
crescimento.

De modo que a taxa de juro é considerando um dos determinante que tem influencia no
crescimento, pois, Akandwanaho (2018) afirma que o crescimento é maximizado quando a
taxa real de juros está dentro da faixa normal

Limitações
O objetivo deste trabalho é analisar os efeitos reais da taxa de juro no crescimento
económico de Cabo Verde de 2000 á 2020.

De modo que, a priori a taxa de juro que seria utilizada na analise era de a taxa de juro real,
mas infelizmente devido a carência desses dados nas nossas instituições não foi possível ter
acesso aos dados. Contudo, o site do BM disponibiliza os dados a taxa de juro real, num
período de tempo menor, a partir de 2006

Mediante esta situação propus trabalhar com a taxa de juro diretiva, porém infelizmente os
dados disponibilizados no site do BCV estão disponíveis a partir de abril de 2007, logo tive
de usar a taxa de juro de facilidade permanente de liquidez, por ser a única que corresponde
as exigências do trabalho.

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