4. A ordem socioeconômica: concentração ou dispersão?
AXIOMA 4: A probabilidade de um governo tolerar uma oposição aumenta na medida
em que os recursos disponíveis do governo para a supressão declinam em relação aos recursos de uma oposição.
Dois principais recursos usados por governos para eliminar oposições:
Meios violentos de coerção, persuasão e indução tipicamente empregados
por forças policiais e militares; Meios não violentos de coerção, persuasão e indução sanções socioeconômicas; principalmente na forma de controle sob recursos econômicos, os meios de comunicação e os processos de educação e socialização política.
AXIOMA 5: A probabilidade de um governo tolerar uma oposição aumenta com a
redução da capacidade de o governo usar de violência ou sanções socioeconômicas para eliminar uma oposição.
Tipos de circunstâncias que podem reduzir a capacidade de um governo de fazer o
uso da violência ou de sanções socioeconômicas contra uma oposição:
Esses fatores às vezes deixam de ser disponíveis como recursos políticos;
Essa possibilidade é principalmente relevante para violência contra oponentes do governo exercida por forças policias e militares. Isto porque as forças policiais ou militares são efetivamente muito pequenas ou porque se tornam tão despolitizadas que já não podem ser utilizadas por líderes políticos para fins políticos internos. Esses recursos podem estar tão dispersos que nenhum grupo unificado, nem mesmo o governo, tem um monopólio sobre eles. ‘’Nos lugares onde as forças militares são relativamente grandes, centralizadas e hierárquicas, como acontece na maioria dos países, hoje em dia, a poliarquia é certamente impossível a menos que os militares sejam suficientemente despolitizados para permitir um governo civil. ‘’ As chances atuais para a poliarquia são diretamente dependentes da força de certas crenças não só entre civis mas entre militares de todas as patentes.
Quando um governo tem um monopólio sobre a violência e as sanções
socioeconômicas e é livre para usar esses recursos para eliminar oposições, as chances de uma política competitiva praticamente inexistem; isto também não quer dizer que a mera ausência de um monopólio governamental sobre esses recursos decisivos necessariamente favoreça a política competitiva.
Tabela 4.1. Ver no texto
As circunstâncias mais favoráveis para a política competitiva existem quando o acesso
à violência e a sanções econômicas ou está disperso, ou é negado tanto a oposição como ao governo.
As circunstâncias menos favoráveis ocorrem quando a violência e as sanções
socioeconômicas estão disponíveis exclusivamente no governo e são negadas as oposições.
Recursos decisivos como monopólio da oposição este caso puro dificilmente
existiria na realidade; visto que nessas condições um ‘’governo’’ não teria as características definidoras de governo – ocasiões como quando um pequeno grupo de proprietários ou administradores locais são monopolizadores de recursos econômicas, ou quando forças militares estão politicamente comprometidas com a defesa de ideologias ou de camadas sociais específicas – neste caso, um governo tende a ser fraco e instável, visto que sempre que sua conduta desagradar a oposição, ele pode ser facilmente derrubado.
‘’Nos lugares onde as forças militares se mostram propensas a intervir na vida
política em defesa de interesses especiais ou de sua própria concepção dos interesses do país, qualquer governo que perseguir políticas que elas desaprovem provavelmente terá vida curta, como acontece na Argentina. ‘’
Tabela 4. 2. Ver texto
A situação mais favorável para uma política competitiva é nitidamente a de A (acesso
a sanções socioeconômicas e a violência são ambos dispersos ou neutralizados), que são chamados de ordem social pluralista; A situação menos favorável para a política competitiva e mais favorável a hegemonia é D (o acesso a sanções socioeconômicas e a violência são monopolizados), que são chamados de ordem social centralmente dominada.
Situação B países com uma ordem social quase-pluralista mas com violência repressiva (Espanha, Portugal, Argentina)
Situação C ordem social quase-dominada, sem violência repressiva, parece rara;
uma elite governante com recursos tão grandes para a dominação não teria estímulos para permitir que todos os principais instrumentos de violência sejam dispersos ou politicamente neutralizados e possuiriam, provavelmente, recursos suficientes para impedi-lo.
Sociedades agrícolas: as sociedades agrárias parecem se aproximar a dois
extremos: Tipo predominante – sociedade camponesa tradicional: propensão muito grande para a desigualdade, hierarquia e a hegemonia política.
Desigualdades extremas em: distribuição de terra, instrumentos de coerção; são
reforçadas por normas que favorecem as desigualdades de casta, propriedade ou classe desigualdades extremas em recursos políticos sistema çpolítico hegemônico ordem social centralmente dominada.
Sociedade de agricultores livres: consideravelmente mais igualitário e
democrático (exemplos históricos: Suíça, EUA, Canadá, Nova Zelândia e Noruega); tendências na direção da igualdade ou na direção de um limite mais baixo de desigualdade;
Igualdade considerável em: distribuição de terra, instrumentos de coerção; são
reforçadas por normas que favorecem a igualdade social e política igualdade considerável em recursos políticos sistema político competitivo ordem social pluralista.
Peso considerável aos efeitos independentes das crenças, inclusive, naturalmente,
das crenças sobre ‘’igualdade’’ normas sobre a igualdade;
O grau de igualdade na distribuição da terra a desigualdade em termos de
propriedade fundiária em uma sociedade agrícola equivale a desigualdade na distribuição dos recursos políticos; a posse da terra ou direito de produzir na terra é a principal fonte de status, renda e riqueza poder esta fortemente relacionado a propriedade fundiária;
Estágio da tecnologia militar, o respaldo, na tecnologia, da capacidade de os
indivíduos empregarem a coerção; a tecnologia militar reforça as desigualdades facilitando o monopólio sobre os instrumentos de coerção por uma pequena minoria. Em alguns períodos, todavia, a tecnologia militar reforçou a igualdade, disseminando os instrumentos mais eficazes de coerção pela população.
Sociedades comerciais e industriais mais hospitaleiras para políticas competitivas
do que as sociedades agrárias;
Doutrina liberal clássica:
Política competitiva uma ordem social pluralista; uma econômica competitiva propriedade privada (a política competitiva exigiria uma economia competitiva); o liberalismo clássico estabelecia como rígida premissa ao capitalismo competitivo a existência da política competitiva, e posteriormente, da poliarquia; Uma economia socialista uma ordem social centralmente dominada um regime hegemônico (se optar por uma economia socialista, opta-se por um regime hegemônico e pela destruição das liberdades políticas);
Análise persuasiva que não demonstra efetivamente que as equações estavam
corretas; a propriedade privada não é uma condição suficiente para a competição econômica – é apenas uma condição necessária.
Experiências posteriores com numerosas ditaduras (Itália, Alemanha, Japão,
etc) mostraram que a propriedade privada não representa nenhuma garantia real de uma economia competitiva ou de uma ordem social que permita a contestação publica e muito menos a poliarquia – propriedade privada pode coexistir mesmo com uma ordem social centralmente dominada. As equações falam de condições necessárias e não suficientes; Praticamente todos os países industrializados com regimes poliárquicos substituíram um capitalismo competitivo puro por sistemas mistos, e no processo, eles conseguiram manter ordens sociais pluralistas; Equações corretas:
Política competitiva ordem social pluralista economia descentralizada;
Economia altamente centralizada ordem social centralmente dominada regime hegemônico;
Argumentos deste capítulo podem ser resumidos da seguinte maneira:
1. Um regime político competitivo, e, portanto, uma poliarquia, dificilmente será
mantido sem uma ordem social pluralista. Uma ordem social centralmente dominada é mais favorável a um regime hegemônico do que a um competitivo (e, portanto, a uma poliarquia). 2. Um regime competitivo não pode ser mantido num país onde as forças policiais e militares estão acostumadas a intervir na política, mesmo que a ordem social seja, sobre outros aspectos, pluralista e não centralmente dominada. 3. As sociedades agrárias parecem aproximar dois tipos extremos, a sociedade camponesa tradicional, caracteristicamente associada a um regime político hegemônico, e a sociedade de agricultores livres, caracteristicamente associada a um regime competitivo e a evolução na direção da poliarquia. Os principais fatores determinantes da direção que uma sociedade agrária toma parecem ser: as normas sobre igualdade, a distribuição da terra e as técnicas militares. 4. A propriedade privada não é uma condição necessária nem suficiente para uma ordem social pluralista, e, portanto, para a contestação pública e a poliarquia. 5. Uma ordem social pluralista e, portanto, a contestação pública e a poliarquia, podem existir num país com uma economia descentralizada, seja qual for a forma de propriedade. 6. Mas a contestação pública e, portanto, a poliarquia, provavelmente não existirão num país com direção altamente centralizada da econômica, seja qual for a forma de propriedade.