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Walte r B ar retto Jr.

O Fim do Dinheiro
O fim dos cartões
O fim dos bancos
O fim do sistema financeiro
Será o avanço do capitalismo
O sistema capitalista vive sob constantes crises, gerando graves
conflitos sociais e claramente precisa de mudanças.

A proposta é retirar todo o dinheiro de circulação e as pessoas


continuarem fazendo as mesmas coisas que sempre fizeram:
trabalhando, estudando, consumindo, se divertindo, somente
sem a utilização do dinheiro.

No livro, de forma prática e objetiva, o autor mostra que com o


fim do dinheiro o capitalismo avança, a produtividade aumenta
e os conflitos sociais são drasticamente reduzidos, a merito-
cracia passa a ser a mola propulsora do desenvolvimento, o
mundo fica mais justo e humano e as pessoas serão mais felizes.

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CONTRIBUA COM O DEBATE

The end of money

ECONOMIA
ISBN (13) 978-85-920526-0-7
Lendo o discurso que o Papa Francisco fez no Para sua surpresa, com o fim do dinheiro o siste-
Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em ma capitalista funcionará com mais eficiência,
Santa Cruz de la Sierra, no dia 9 de julho de 2015, a produtividade aumentará e os conflitos serão
o autor tomou a decisão de escrever este livro, drasticamente reduzidos, a meritocracia passa-
fruto de uma análise que já tinha realizado sobre rá a ser a mola propulsora do desenvolvimento,
o avanço que teria o sistema capitalista com o fim a sociedade ficará mais justa e, certamente, as
do dinheiro, o fim dos cartões, o fim dos bancos, pessoas serão mais felizes.
o fim do sistema financeiro. “A primeira tarefa é pôr a economia a serviço
“Se é assim – insisto – digamo-lo sem medo: dos povos. Os serem humanos e a nature-
Queremos uma mudança, uma mudança za não devem estar a serviço do dinheiro.
real, uma mudança de estruturas. Este sis- Digamos NÃO a uma economia de exclusão
tema é insuportável: não o suportam os e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez
camponeses, não o suportam os trabalha- de servir. Esta economia mata. Esta economia
dores, não o suportam as comunidades, exclui. Esta economia destrói a Mãe Terra”.
não o suportam os povos... E nem sequer o (Papa Francisco)
suporta a Terra, a irmã Mãe Terra como dizia O fim do dinheiro será o avanço do sistema
São Francisco”. (Papa Francisco) capitalista!
A necessidade de mudança no nosso sistema “Esta economia é não apenas desejável e
capitalista parece ser um pensamento dominante necessária, mas também possível. Não é uma
nesse início de século, o sistema capitalista mun- utopia, nem uma fantasia. É uma perspectiva
dial está certamente com problemas e vive sob extremamente realista. Podemos consegui-
constantes crises financeiras, as crises se alternam -la. Os recursos disponíveis no mundo, fruto
entre países, regiões, continentes, porém, todas do trabalho intergeneracional dos povos e
elas, com maior ou menor grau de intensidade, dos dons da criação, são mais que suficientes
têm gerado graves conflitos sociais. para o desenvolvimento integral de ‘todos os
homens e do homem todo’”. (Papa Francisco)
“Está -se a castigar a terra, os povos e as
De forma prática e objetiva O Fim do Dinheiro
pessoas de forma quase selvagem. E por
apresenta os caminhos para a nova sociedade.
trás de tanto sofrimento, tanta morte e des-
truição, sente s-e o cheiro daquilo que Basílio Provavelmente você vai ter muito a contribuir com
de Cesareia chamava ‘o esterco do diabo’: essa nova ideia: o fim do dinheiro!
reina a ambição desenfreada de dinheiro.
O serviço ao bem comum fica em segundo BAIXE O E-BOOK GRATUITO
plano. Quando o capital se torna um ídolo e
dirige as opções dos seres humanos, quando www.ofimdodinheiro.com
a avidez do dinheiro domina todo o sistema www.theendofmoney.org
socioeconômico, arruína a sociedade, condena www.elfindeldinero.com
o homem, transforma o- em escravo, destrói
a fraternidade inter h- umana, faz lutar povo CONTRIBUA COM O DEBATE
contra povo e até, como vemos, põe em risco
esta nossa casa comum.” (Papa Francisco) The end of money

Nas reflexões do autor veio a pergunta: qual o gran-


de gerador dos conflitos no sistema capitalista?
Walter Barretto Jr.
E a resposta foi rápida e clara: o “dinheiro”.
Brasileiro, nasceu em
E o que acontecerá se decretarmos o fim do di- 1966, formado em
nheiro, o fim dos cartões, o fim dos bancos, o fim arquitetura e urbanismo
do sistema financeiro? e empresário.
Walter Barretto Jr.
Copyright © 2016 by Walter Barretto Jr.
All rights reserved.

1ª edição — Janeiro de 2016

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa


de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009

Capa e Projeto Gráfico


Marcelo Barreto

Diagramação
Alan Maia

Revisão
Marcia Benjamim

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Barretto Junior, Walter


O fim do dinheiro : o fim dos cartões : o fim dos bancos :
o fim do sistema financeiro : será o avanço do capitalismo.
/ Walter Barretto Jr.. ‑­‑ 1. ed. -- Salvador, BA : Ed. do Autor, 2016.

ISBN: 978-85-920526-0-7

1. Capitalismo 2. Capitalismo – Aspectos sociais 3. Crise econômica


4. Crise econômica e financeira 5. Dinheiro 6. Sistema financeiro
I. Título.

16-00081 CDD: 330.15

Índices para catálogo sistemático

1. Capitalismo : Economia 330.15

Impresso no Brasil
Printed in Brazil
AGRADECIMENTO

Agradeço as aulas que tive com meu pai,


economista e humanista.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................................9

O FIM DO DINHEIRO......................................................................................................11

O SISTEMA DEMOCRÁTICO.................................................................................... 15

OS PROBLEMAS GERADOS PELO DINHEIRO.............................................. 25

GANHAR DINHEIRO É UMA HABILIDADE ESPECÍFICA...........................27

O QUE MUDA?............................................................................................................... 29

OS RISCOS DE O DINHEIRO SER MAIOR DO QUE TODOS NÓS..........37

POR UMA SOCIEDADE MAIS PRODUTIVA..................................................... 41

AVANÇOS TECNOLÓGICOS x AVANÇOS HUMANOS................................ 43

POR QUE O DINHEIRO EXISTE?.......................................................................... 45

AS VANTAGENS............................................................................................................47

O PLANETA MARTE....................................................................................................57

COMO IMPLANTAR A MUDANÇA....................................................................... 59


Walter Barretto Jr.

O PREJUÍZO VAI FICAR PEQUENO..................................................................... 63

A LIVRARIA..................................................................................................................... 65

QUERO TER MAIS TEMPO PARA LER..............................................................69

O SISTEMA DEMOCRÁTICO E O SISTEMA FINANCEIRO.........................71

PROPOSTA RADICAL.................................................................................................73

POR QUE O FIM DO DINHEIRO?...........................................................................75

A SABEDORIA DOS MAIS VELHOS.....................................................................77

A MENTE DOS JOVENS.............................................................................................79

PRESERVAR A TERRA............................................................................................... 81

DISCURSO DO PAPA AOS MOVIMENTOS POPULARES (TEXTO INTEGRAL)...... 83

8
INTRODUÇÃO

Certamente muitos concordam que o sistema capitalista nesse


início de século XXI está com problemas, as crises econômicas
serão ainda mais constantes e a cada momento mais prejudiciais
aos países e a população como um todo.

A sociedade precisa estudar soluções para o aprimoramento do


sistema capitalista, pautado em regimes democráticos, fazendo
assim uma transição entre o modelo atual para um modelo mais
justo, humano e com aumento de produtividade.

Sabemos também que o grande motivador dos conflitos no siste‑


ma capitalista é o “dinheiro”, fato que me fez pensar em retirá­‑lo de
circulação e assim estudar as consequências do funcionamento da
nova sociedade com o fim do dinheiro, o fim dos cartões, o fim dos
bancos, o fim do sistema financeiro.

Fica claro que acontece “o avanço do sistema capitalista” exata‑


mente após a retirada do dinheiro de circulação. A sociedade fun‑
ciona melhor, com mais eficiência, a produtividade aumenta e os
conflitos sociais são drasticamente reduzidos, a meritocracia passa
a ser a mola propulsora do desenvolvimento, a sociedade fica mais
justa e humana e certamente as pessoas serão mais felizes, então
vejamos como seria essa nova sociedade com “O Fim do Dinheiro”.
O FIM DO DINHEIRO

Imaginemos uma sociedade onde o dinheiro não exista e todos


vivam praticando um consumo consciente, sempre compatível com
sua importância na sociedade.

O nosso objetivo nessa nova sociedade é retirar todo o dinheiro de


circulação e as pessoas continuarem fazendo as mesmas coisas
que sempre fizeram, somente sem a utilização do dinheiro.

Se sou médico, continuarei indo para o hospital que trabalho e con‑


tinuarei trabalhando normalmente, somente no final do mês não
receberei salário. Continuarei também indo ao supermercado todos
os dias que forem necessários e farei minhas compras normalmente,
somente na saída não pagarei. E o funcionário do supermercado vai
me atender como sempre me atendeu e eu o atenderei no hospital
como sempre o atendi, e não pagarei a conta do supermercado e ele
não pagará a conta do hospital, porque o dinheiro não mais existirá.

E as pessoas continuarão fazendo tudo o que fazem, trabalhando,


consumindo, se divertindo, cuidando da saúde, da mente, somente
sem a utilização do dinheiro.
Walter Barretto Jr.

Esse raciocínio valerá para todas as pessoas e para todos os setores


da sociedade: o público, o privado e também para o terceiro setor;
para os poderes executivo, legislativo e judiciário; para os funcio‑
nários e empresários de uma empresa privada, os funcionários do
setor público e do terceiro setor; para as crianças e os aposentados,
para todo o conjunto da sociedade.

Esse sistema é o comunismo? Lógico que não!

É o avanço do sistema capitalista.

Nesta nova sociedade, as pessoas que produzem mais e são mais


importantes para a coletividade continuarão consumindo mais. O
médico tomará o vinho francês da região de Bordeaux, produto que
o funcionário do supermercado não deverá tomar.

Por que falei “não deverá” ao invés de “não poderá”? Porque se o


funcionário do supermercado for à loja especializada em vinhos
e levar para sua casa um vinho da tradicional região francesa, ele
sim vai degustar esse vinho, porém, neste caso, ele poderá estar
furtando a sociedade e poderá ser julgado e punido pelos poderes
constituídos, exatamente como na nossa sociedade atual.

Continuarão existindo as pessoas que trabalharão para o esta‑


do, os que preferirão trabalhar na iniciativa privada e os que se
dedicarão ao terceiro setor, exatamente como acontece na nossa
sociedade atual, a única diferença é que nenhum deles receberá
remuneração: o funcionário não receberá salário e o empresário
não terá o lucro em dinheiro.

12
O Fim do Dinheiro

Para implementar o fim do dinheiro precisamos de uma sociedade


mais avançada do ponto de vista humano? Certamente que sim!

Temos capacidade de avançar na questão humana? Certamente


que sim, também!

E qual terá que ser o avanço nas questões humanas? O cidadão


terá que ter uma grande percepção do seu valor como pessoa, da
sua importância para o conjunto da sociedade e fazer uma análi‑
se do que é necessário e do que lhe dá prazer consumir para, com
base na sua importância e nas suas necessidades e desejos, fazer
um consumo consciente, consumo este que acontecerá sem a troca
de dinheiro pelo produto ou serviço prestado.
O SISTEMA DEMOCRÁTICO

Com o fim do dinheiro teremos uma sociedade mais livre e avança‑


da, uma sociedade mais democrática e justa com todos os cidadãos.

A sociedade continuará com sua estrutura exatamente como ela


funciona hoje. As atribuições e responsabilidades de cada setor
também continuarão as mesmas, porém com muitos avanços e
simplificações no seu funcionamento, devido à retirada do dinheiro
de circulação.

Uma das bases do sistema democrático é a igualdade de direitos


e de oportunidades para todos, e nós sabemos que no sistema ca‑
pitalista atual — onde o dinheiro assume um papel de muita im‑
portância —, muitas vezes se compromete os princípios básicos,
interferindo inclusive nos destinos dos povos com a desigualdade
enorme entre as pessoas; com a interferência do dinheiro no siste‑
ma de votação para escolha dos líderes que conduzem os destinos
dos países; com as injustiças sociais que comprometem a vida de
muitos, ou seja, o dinheiro do nosso sistema capitalista interfere de
forma nociva nos pilares básicos do sistema democrático.
Walter Barretto Jr.

Na nova sociedade teremos mais liberdade para escolher onde tra‑


balhar e como servir à coletividade. Continuaremos tendo pessoas
com espírito empresarial que serão os donos dos seus negócios; te‑
remos os que têm vocação para trabalhar no setor público e assim o
farão; teremos os que preferirão os empregos na iniciativa privada;
teremos ainda mais pessoas dedicadas ao terceiro setor e teremos
também, como toda sociedade tem, os que não vão querer produ‑
zir ou pouco produzirão e serão sustentados integralmente ou em
parte pela sociedade produtiva, exatamente como funciona hoje,
porém, nosso sistema de consumo mínimo será mais eficiente e jus‑
to. Viveremos todos muito melhor.

Sem o dinheiro veremos que a sociedade dará oportunidades iguais


a todos e a meritocracia será o norte que definirá o caminho que
cada cidadão irá tomar e, desta forma, a nova sociedade será um
avanço também para o regime democrático, numa sociedade mais
justa e humana, mais equilibrada no acesso às oportunidades, mais
livre para o cidadão decidir o que fazer, onde trabalhar, como gerar
mais benefícios para a coletividade; teremos sim uma sociedade
mais democrática com o fim do dinheiro.

16
O Fim do Dinheiro

O SETOR PÚBLICO

Os poderes do sistema capitalista — Executivo, Legislativo e


Judiciário —, continuarão existindo na nova sociedade e com as
mesmas funções e importâncias, como se vê abaixo:

• O poder Executivo será formado pelos gestores dos serviços


públicos que serão eleitos pelo voto popular, assim como os
funcionários públicos de carreira, exatamente como funciona
hoje no sistema democrático. Da mesma forma como todos na
sociedade, eles não receberão remuneração e poderão consu‑
mir livremente, logicamente respeitando o equilíbrio entre a sua
importância na sociedade e o total do seu consumo.

• O poder Legislativo também manterá as mesmas caracterís‑


ticas que temos hoje na nossa sociedade, e os seus represen‑
tantes, da mesma forma como os representantes do poder
Executivo, consumirão conforme todos os outros cidadãos.

• O poder Judiciário terá um grande avanço, porque haverá uma


redução de processos devido a não existência dos roubos e dos
conflitos entre pessoas e empresas, conflitos na maioria das
vezes gerados pela existência do dinheiro. O poder Judiciário,
dentre todas as atribuições atuais, terá que julgar, quando de‑
mandado, a relação entre o consumo de um cidadão e os bene‑
fícios gerados por ele para a sociedade, fruto do seu trabalho,
para analisar se é justo o consumo do referido cidadão.
Walter Barretto Jr.

Ou seja, continuaremos com todos os três poderes do regime de‑


mocrático e com exatamente as suas mesmas atribuições atuais,
porém teremos avanços na simplificação da gestão dos poderes e
na redução dos problemas sociais, como veremos a seguir.

Com o fim do dinheiro um grande avanço que teremos no setor pú‑


blico será a não existência dos impostos, simplesmente porque não
haverá mais dinheiro, porém o sistema público continuará prestan‑
do os mesmos serviços que a sociedade demanda hoje, porque não
terá que pagar os salários dos funcionários públicos e os produtos
e serviços que o estado precisar, a sociedade produtiva fornecerá,
também sem custo para o estado.

Na nossa sociedade atual cabe ao estado a responsabilidade de re‑


distribuir a riqueza gerada, cobrando dos que mais produzem para
viabilizar um padrão mínimo de vida para os menos favorecidos. Na
sociedade sem dinheiro essa questão será um dos grandes avan‑
ços do Estado que permitirá que qualquer cidadão, mesmo os que
nada produzem, tenha o direito ao consumo mínimo de produtos
e serviços, e assim teremos uma sociedade mais justa e humana.

E você poderá estar se perguntando: de onde virá a produção para


todos consumirem? Veremos lá na frente.

18
O Fim do Dinheiro

O SETOR PRIVADO

O setor privado não terá alteração no seu sistema de funciona‑


mento, exceto a eliminação do dinheiro na troca entre produtos
e serviços.

As empresas continuarão sendo geridas pelos seus proprietários e


a sua produção será fruto do trabalho dos seus funcionários que,
em conjunto, produzirão e fornecerão os seus produtos e serviços.
A única diferença é que os sócios da empresa não terão o lucro e os
seus funcionários não receberão os salários.

As empresas não receberão dos seus clientes o dinheiro, fruto da


remuneração do produto ou serviço prestado, porém também não
terão que pagar as despesas que hoje possuem: matéria­‑prima,
salários, impostos, aluguel, transporte, publicidade etc.

Com o fim do dinheiro serão mantidas todas as transações comer‑


ciais que existem no sistema atual, somente não haverá o paga‑
mento em dinheiro nas transações. Muito mais simples!

Na nova sociedade, o trabalhador do setor privado continuará


também realizando a sua função na empresa exatamente como
faz hoje, somente não receberá o salário; em contrapartida, pode‑
rá consumir os produtos que achar necessários e prazerosos, desde
que sejam compatíveis com a sua capacidade de produção, man‑
tendo assim o equilíbrio do sistema.
Walter Barretto Jr.

Imaginemos um conjunto de empresas privadas e pessoas que hoje


se relacionam comercialmente, começando do campo até a cidade:
um empresário é proprietário de uma fazenda que possui planta‑
ção de tomate e faz toda a gestão do seu negócio, unindo equipe de
funcionários para trabalhar nas máquinas e no campo, tendo sua
equipe a função de cuidar da colheita e entregar a sua produção de
tomate; essa produção passará para uma empresa transportadora
que será gerida pelo seu proprietário e sua equipe de funcionários
fará chegar o tomate até a indústria; nela, seus funcionários, sob
a liderança dos empresários industriais, trabalharão no beneficia‑
mento do tomate chegando ao produto final para consumo que
é o extrato de tomate; novamente teremos outra transportadora
para levar o produto — o extrato de tomate — até o supermerca‑
do; o supermercado será de propriedade de um empresário co‑
merciante que cuidará de toda a sua gestão, tendo uma equipe de
profissionais como seus funcionários; o extrato de tomate, exposto
na prateleira do supermercado, será o fim da linha de um ciclo de
produção quando o cliente entrar no supermercado e, sem dinheiro
na transação, escolher o produto e levar para sua casa. Como pode‑
mos ver o sistema de produção nessa nova sociedade é exatamen‑
te igual ao da nossa sociedade atual, exceto com uma diferença:
não terá a circulação do dinheiro nas trocas dos produtos e serviços.

Dessa forma, com o fim do dinheiro entre as empresas, pessoas e o


estado, os empresários terão uma gestão simplificada porque não
será necessário fazer a gestão financeira das suas empresas, focan‑
do assim suas energias no planejamento, no produto, no marketing,
no avanço tecnológico, no atendimento ao cliente e outras áreas
que farão sua empresa ser mais eficiente e útil para a sociedade.

20
O Fim do Dinheiro

E por que a minha empresa teria que produzir mais e melhor se eu


como empresário não terei o lucro em dinheiro, fruto desta eficiên‑
cia? Porque o seu consumo e o de sua família, empresários na nova
sociedade, terá que ser compatível com o valor do seu trabalho na
sociedade, ou seja, quanto mais e melhor a sua empresa produzir,
você e sua família poderão se beneficiar consumindo os produtos e
serviços que acharem por bem consumir, exatamente como funcio‑
na na sociedade atual: os empresários que produzem mais e me‑
lhor podem consumir mais.

E por que eu, funcionário, terei que trabalhar sem receber salário?
Exatamente pelo mesmo motivo do empresário, os funcionários
que tiverem mais responsabilidades na sua atividade, que mais
trabalharem e que, portanto, mais produzirem poderão se bene‑
ficiar consumindo mais produtos no seu dia a dia, do que outro
funcionário em função menos qualificada ou que queira trabalhar
menos horas por mês.

E se eu que sou funcionário de uma empresa e achar que devo me


tornar empresário, como devo fazer? Exatamente como faria na
sociedade atual, só que de forma mais fácil pela não existência do
dinheiro. Você terá que montar o plano de negócios, executá­‑lo,
colocar o produto ou serviço à disposição da sociedade, e traba‑
lhar para o seu produto ser bem­‑aceito por todos. Tendo sucesso
no novo negócio a empresa continuará colaborando com a socie‑
dade e você e sua família poderão consumir produtos e serviços
compatíveis com o que você estará gerando de riqueza na sua
empresa para a sociedade, exatamente como no sistema atual,
somente sem o dinheiro.
Walter Barretto Jr.

E se eu for empresário e resolver que quero ser funcionário de uma


empresa, como devo fazer? Se sua empresa for útil para a sociedade
você provavelmente encontrará alguém que queira substituí­‑lo como
empresário, se o negócio não gerar benefícios mais à sociedade, a
empresa pode ser desativada, exatamente como funciona hoje no
sistema capitalista, com a diferença que você passaria a sua empresa
sem receber o dinheiro fruto da transferência, e no caso de desativá­
‑la não teria a possibilidade de você ficar devedor. Depois você procu‑
raria emprego para continuar trabalhando e sendo útil à sociedade.

Nos dois casos acima o consumo de todos os envolvidos no processo


terá que ser compatível com a riqueza gerada para a sociedade: o em‑
presário que transfere a empresa próspera poderá consumir mais do
que o empresário que desativou a empresa que não tinha mais utili‑
dade para o conjunto da sociedade, exatamente como funciona hoje.

Fica claro que sem o dinheiro teremos um capitalismo gerador de mais


oportunidades a todos, gerador de oportunidades para quem deseja
produzir mais, sem as travas que o dinheiro submete ao desenvolvi‑
mento dos negócios e ainda teremos menos traumas nos fechamentos
das atividades que não mais são úteis para o conjunto da sociedade.

As pessoas mais ambiciosas — com capacidade de liderança, com


iniciativa para empreender — terão muito mais oportunidades na
nova sociedade do que têm no capitalismo atual, que limita e difi‑
culta, em muitos casos, o surgimento de novos empresários somen‑
te pela falta do capital para iniciar o negócio.

Outra questão que vai impulsionar o setor produtivo na nova socie‑


dade será a educação focada unicamente na meritocracia, assunto
que trataremos adiante.

22
O Fim do Dinheiro

O TERCEIRO SETOR

No terceiro setor teremos um avanço especial!

Com o fim do dinheiro as instituições de auxílio às pessoas ne‑


cessitadas irão consumir os produtos necessários para que eles
tenham uma vida digna. O consumo de alimentação, as neces‑
sidades ligadas à saúde, o lazer e tudo o mais que torna nossa
vida saudável e prazerosa estará à disposição para o consumo dos
mais necessitados.

Dando um exemplo prático, o líder de um asilo para idosos terá o


direito de pegar nos supermercados, farmácias, feiras populares, lo‑
jas de vestuário, todos os produtos necessários para que os idosos
tenham uma vida digna, sem pagar por nenhum produto porque
não existirá mais o dinheiro.

E por que o dono do supermercado entregará o quilo de fei‑


jão para o asilo sem cobrar nada? Primeiro porque não existirá
mais o dinheiro, e segundo porque o empresário do agronegó‑
cio e o agricultor e as empresas de transporte nada cobrarão
para abastecer o supermercado da quantidade de feijão neces‑
sária para que todos daquela região o consumam. Muito sim‑
ples não é?

E se não tiver alimento para todos? E se não tiver remédio para


todos? E se não tiver vestuário para todos? Continuando a leitura
você verá que teremos o aumento de produção para suprir todas as
necessidades da sociedade contemporânea.
OS PROBLEMAS GERADOS
PELO DINHEIRO

Quantas pessoas passam privações das necessidades básicas para


a sobrevivência? Todos poderão consumir com equilíbrio e terão di‑
reito à alimentação e saúde básica.

Quantas pessoas hoje vivem angustiadas por causa do dinheiro?


Não teremos mais que ficar fazendo conta do saldo em bancos e
consumo nos cartões de crédito e tomando empréstimos para su‑
prir eventualidades.

Quantas pessoas vivem hoje preocupadas com sua aposentadoria?


Todos trabalharão até quando tiverem saúde, energia e disposição
para trabalhar e servir a sociedade, e continuarão consumindo até
o último dia de vida.

Quantas brigas em famílias e entre amigos são geradas por causa


do dinheiro? As amizades serão mais preservadas e as famílias fica‑
rão livres desse risco de desentendimento.

Quantas pessoas sofrem traumas, ou mesmo morrem, fruto de as‑


saltos? No mundo sem dinheiro, e com o consumo livre, não tere‑
mos mais os roubos e os assaltos.
GANHAR DINHEIRO É UMA
HABILIDADE ESPECÍFICA

Tem pessoas na nossa sociedade que sabem ganhar dinheiro e ou‑


tras que claramente não sabem como ganhá­‑lo. Ganhar dinheiro é
uma habilidade específica, desvinculada de certa forma da impor‑
tância do trabalho gerado pelo cidadão à coletividade.

Todos nós certamente conhecemos pessoas que são extrema‑


mente importantes para a sociedade e terminam tendo dificuldades
financeiras pela falta de habilidade com o dinheiro, pela falta de
habilidade para ganhar o dinheiro, e conhecemos outras pessoas
também que em todo negócio que faz ganham muito dinheiro e os
negócios não necessariamente são importantes para a sociedade,
na dimensão do dinheiro ganho por elas.

Nada de errado no exemplo acima, temos que parabenizar as pes‑


soas que sabem ganhar dinheiro. Esse é o sistema capitalista vigen‑
te e as regras atuais é que geram muitas vezes essas injustiças com
algumas pessoas.
Walter Barretto Jr.

Porém, na sociedade que propomos, na sociedade sem dinheiro, a


regra do jogo vai mudar. Vai ter o direito de consumir mais, de usu‑
fruir do conforto da vida contemporânea quem mais gerar benefí‑
cios, riquezas, quem mais for útil para a sociedade e essas injustiças
que hoje assistimos de desequilíbrio entre a importância gerada
para a sociedade e o valor ganho será drasticamente eliminada
com o fim do dinheiro.

Teremos a relação entre o trabalho e o prazer do consumo mais


justa e equilibrada, uma das bases do sistema capitalista, fato que
gerará mais riqueza para todos.

28
O QUE MUDA?

NA FAMÍLIA

Vamos imaginar uma família onde moram todos juntos: um casal,


dois filhos e uma senhora idosa. Como essa família fará a gestão do
consumo dos seus cinco membros?

Considerando que a senhora idosa não trabalha mais e as crianças


não podem trabalhar, por serem menores de idade e estarem es‑
tudando, e que apenas o casal trabalhe, teremos que imaginar o
quanto de valor o casal produz de benefício para a sociedade, mais
o quanto de valor a senhora idosa gerou enquanto produzia, e este
benefício para a coletividade terá que ser o valor máximo a ser con‑
sumido pelos cinco integrantes da família.

Muito simples, somaremos os benefícios dos que produzem e dos


que já produziram e dividiremos pelo total de pessoas da família,
tudo isso feito sem cálculo matemático nem conta de somar e
diminuir, somente usando o bom senso, o espírito de coletividade,
evitando o desperdício, fazendo comparações com outros grupos
semelhantes, pensando sempre no coletivo, pensando sempre
em produzir mais do que consumir, pensando sempre no bem­
‑estar de todos.
Walter Barretto Jr.

NO DIREITO À PROPRIEDADE

Sim, com o fim do dinheiro todos poderão ser proprietários de em‑


presas e imóveis, desde que essa propriedade gere benefícios para
a sociedade, ou seja útil para os indivíduos.

E se eu for dono de uma fazenda e nada entender, nem gostar de


fazenda, e deixar a terra improdutiva? Nesse caso, você terá que
escolher outra pessoa ou conjunto de pessoas para tornar a sua fa‑
zenda produtiva e transferir a propriedade.

Então o sistema é comunista? Mais uma vez, lógico que não! Se a


fazenda tem um dono, um proprietário, e não é propriedade do es‑
tado, o sistema não é comunista, é o avanço do sistema capitalista.

O sistema capitalista não prega a produção? Então, tem algum


sentido para a coletividade eu ser dono de uma fazenda e nada
produzir, nem permitir que alguém produza? Analisando a base de
pensamento do capitalismo, com certeza não!

Se eu sou dono de uma terra produtiva, se a sociedade estiver pre‑


cisando dos produtos agrícolas, se as sementes, as máquinas para
plantar e colher, a equipe para trabalhar nas máquinas e na terra
estão à minha disposição para eu produzir sem custo, dependendo
apenas da minha disposição e capacidade de fazer a gestão como
empresário agricultor, se mesmo assim, eu nada quiser fazer com a
terra e nada deixar que outro faça, esse pensamento claramente
é um pensamento egoísta e, na nova sociedade, teremos que ter
um pensamento coletivo e eu terei sim que ceder a terra para outro
ou outros que queiram produzir, para o bem da coletividade, para o
bem do capitalismo que prega a produção e a riqueza.

30
O Fim do Dinheiro

Estão percebendo que todos nós, coletivamente, seremos mais ri‑


cos e prósperos? Que a proposta de retirada do dinheiro é o avanço
do sistema capitalista?

E se meus pais são proprietários de uma fazenda produtiva e


eu quiser continuar na atividade agrícola, e meus pais quiserem
se aposentar, essa fazenda passará para a minha propriedade?
Exatamente! Desde que a família queira continuar produzindo para
o bem da sociedade, a família continuará sendo a sua proprietária,
exatamente como funciona na sociedade atual.

Então, se uma família, por exemplo, tem uma fazenda produtiva


como propriedade e na sucessão familiar não tenha nenhuma pes‑
soa no grupo que queira manter a fazenda produzindo, esses fami‑
liares sucessores terão que colocar o negócio disponível para que
outra pessoa ou grupo de pessoas mantenha a terra produtiva.

E esses familiares, que transferiram o direito de administrar a fa‑


zenda, serão então prejudicados? Lógico que não! Na nova so‑
ciedade, todos têm que procurar exercer funções que considerem
prazerosas, ou seja, temos que fazer o que gostamos para fazermos
melhor. Se eles não sentem prazer em trabalhar na gestão de uma
fazenda poderão escolher outra atividade empresarial ou profissão
que lhes deixem mais felizes e que, consequentemente, gerem mais
benefícios para o conjunto da sociedade.
Walter Barretto Jr.

Vamos agora imaginar um proprietário de dois imóveis residenciais,


porém, que só necessita de um imóvel para morar. O que ele fará
com o outro imóvel? Deixará fechado ou cederá para alguém usar?
É claro que para o melhor funcionamento do sistema capitalista o
imóvel não deverá ficar vazio e sim deverá ser ocupado, senão ve‑
jamos: o investimento na construção do imóvel foi realizado, a in‑
fraestrutura urbana está disponível, os centros urbanos devem ter
sua estrutura ocupada antes de se fazerem novos investimentos, e
se existem pessoas precisando morar naquela região, por que ficar
um imóvel fechado?

E o aluguel que o dono do imóvel recebe na sociedade atual, ele vai


perder? Vamos inverter a pergunta, se não existirá mais o dinheiro,
se o dono do imóvel poderá consumir sem pagar, para que receber
o aluguel?

Lógico, mais uma vez, para o bom funcionamento do sistema capi‑


talista, não terá espaço na nova sociedade para pessoas que vivem
de renda do capital acumulado, seja ele imóveis, dinheiro, terras,
ações, e desta forma todos serão incentivados a produzir, a conti‑
nuar produzindo, e todos nós teremos mais riqueza para distribuir e
poderemos sempre consumir mais.

NO DIREITO À HERANÇA

A herança em dinheiro lógico que acabará com o fim do dinheiro, fi‑


cando somente a herança dos negócios, desde que a família queira
continuar produzindo, e dos imóveis utilizados pela família e com‑
patíveis com a sua produção.

32
O Fim do Dinheiro

O que então os filhos poderão herdar dos pais? Os filhos ou de‑


pendentes terão a preferência pelo direito de dar continuidade a
projetos que os seus pais possuírem. Como exemplo, podemos citar
um empresário comerciante, proprietário de uma loja de materiais
de construção; quando esse comerciante achar que está chegando
o momento de parar de trabalhar e se aposentar, ele terá que es‑
colher quem vai substituí­‑lo nessa função e, caso ele considere um
dos seus sucessores preparado para assumir, poderá sim transferir
a propriedade da sua loja para um filho. Caso, entre os seus herdei‑
ros, o empresário perceba que nenhum deles tem vocação para dar
continuidade ao negócio, ou mesmo nenhum deles queira exercer
essa função, o empresário escolherá uma pessoa, ou conjunto de
pessoas, que ele achar mais qualificada para continuar adminis‑
trando a tal casa de materiais de construção.

Em caso de falecimento dos pais, o que acontecerá com a residên‑


cia da família? A própria família terá que analisar se eles produzem
para a coletividade um valor compatível com o referido imóvel. Se
produzirem, poderão continuar residindo na casa, caso contrário, se
mudarão para um imóvel compatível com os benefícios que eles
geram para a sociedade.

Nesse novo formato de herança, não mais existirá o jovem filho


de pais ricos que, herdando muitos recursos dos pais, poderá ter
uma vida farta e improdutiva. Todos devem produzir para garantir
o consumo dos bens que acharem necessários e prazerosos, todos
devem se capacitar para produzir para o conjunto da sociedade e,
desta forma, teremos uma sociedade mais justa e pessoas mais
produtivas e felizes.
Walter Barretto Jr.

ACÚMULO DE CAPITAL FINANCEIRO

Não existindo mais o dinheiro, não existindo mais a possibilidade


de acúmulo de capital financeiro, toda a riqueza gerada, fruto da
produção da sociedade, que era acumulada em forma de dinheiro,
será distribuída imediatamente para a sociedade, tornando toda a
sociedade mais justa e mais equilibrada no que diz respeito às ne‑
cessidades básicas de consumo, com resultado positivo para todos.

Pensando bem, para que uma pessoa precisa falecer com uns bi‑
lhões de dólares na conta? Para nada, não é verdade!

Então, o que os ricos, os bilionários, os empresários de sucesso que‑


rem em vida? Pode perguntar a todos eles: querem ter o prazer de
produzir, o prazer de realizar, o prazer de servir à sociedade. Eles
querem o prazer do poder, o prazer de tomar as decisões e interferir
na sociedade e, no caso do fim do dinheiro, todos esses desejos dos
empresários serão ainda mais atendidos.

Sem o dinheiro circulando, a capacidade empresarial ficará vincu‑


lada somente à capacidade de gestão do negócio, de inovação, de
liderança, a capacidade de ter novas ideias, de adequar os produtos
às necessidades da sociedade, tudo isso que os empresários sabem
fazer muito bem, e serão ainda mais demandados pela nova gera‑
ção que chega e quer mais e melhores produtos e serviços.

34
O Fim do Dinheiro

Com o fim do dinheiro e o avanço do sistema capitalista teremos


mais e mais competentes empresários, mais preparados na ques‑
tão educacional, tema que trataremos à frente, mais oportuni‑
dades para o início da carreira empresarial pela não existência do
dinheiro como trava e mais motivação pela oportunidade do traba‑
lho coletivo, que todos nós sabemos, quando é iniciado contamina
de forma positiva a todos.

NAS RELAÇÕES AFETIVAS

O que muda nas relações afetivas entre as pessoas quando implan‑


tarmos a nova sociedade sem dinheiro?

Como não haverá mais herança em dinheiro e toda herança em pro‑


priedade estará vinculada à capacidade de produção no presente,
não existirá mais sentido a manutenção de uma relação onde um
dos pares esteja interessado no que poderá vir a receber quando do
falecimento do outro.

A vida a dois será desfrutada diariamente. Se num determinado


casal, um gera mais valor à sociedade do que o outro poderá, se
for a vontade do casal, somar os benefícios gerados pelos dois e
ter o consumo partilhado por eles; dessa forma, a pessoa a qual o
seu trabalho gerar menos valor à sociedade se beneficiará de um
consumo maior enquanto estiver na relação afetiva, porque, com
o fim desta relação, cada um, de forma isolada, terá que consumir
conforme a sua produção para o conjunto da sociedade.
Walter Barretto Jr.

E o sexo? Segundo os médicos, o estresse é muito prejudicial à ati‑


vidade sexual e todos nós sabemos que o dinheiro muitas vezes
provoca briga entre os casais e ainda, sem a gestão do dinheiro, cer‑
tamente teremos mais tempo livre, ou seja, o sexo vai melhorar com
o fim do dinheiro.

E você imaginava quando leu o título do livro O Fim do Dinheiro que


até o sexo iria melhorar? Eu quando comecei a escrever também
não imaginava não!

36
OS RISCOS DE O DINHEIRO SER
MAIOR DO QUE TODOS NÓS

O CONSUMO MAIOR DO QUE A PRODUÇÃO

E se uma parte significativa da sociedade resolver consumir mais


do que produz e isto levar à ruptura do sistema? Para isso aconte‑
cer, teremos que acreditar que, na nossa sociedade, possuímos uma
quantidade elevada de pessoas desonestas.

O fim do dinheiro exige, e isto é condição essencial, uma sociedade


formada por pessoas mais preocupadas com o coletivo ao invés do
individualismo. Será que conseguiremos? Eu acredito que sim!
Walter Barretto Jr.

E por que eu acredito que conseguiremos? A grande maioria da so‑


ciedade já percebeu que o modelo atual do capitalismo se exauriu,
muitos já perceberam que a vida não pode ser focada apenas no
dinheiro, uma grande quantidade de pessoas sabe que o dinheiro
gera muitos conflitos, das relações pessoais até entre os povos, que
o mundo precisa mudar e temos que encontrar esses caminhos,
que o homem por natureza tem vontades e ambições específicas,
que precisamos construir uma sociedade mais equilibrada e jus‑
ta para o bem de todos, que precisamos encontrar um norte para
seguir e fazer uma transição sem traumas do sistema atual para o
um sistema que gere mais riqueza e mais paz para todos e, quando
a maioria perceber que essa mudança só virá com a mudança de
mentalidade, com a mudança do pensamento individualista para
o pensamento coletivo, todos nós abraçaremos essa causa e cami‑
nharemos para um futuro melhor.

Nesse mundo melhor o consumo não será a base da felicidade, será


a liberdade, a produtividade, a vontade de realizar mais pelo coleti‑
vo e nós já pensamos assim de certa forma, quer ver:

Na sociedade sem dinheiro, você vai preferir não trabalhar ou você


vai optar por um trabalho que te dê prazer e que seja útil para a
coletividade?

Certamente você preferirá ser útil à nova sociedade, vivendo assim


numa sociedade mais justa, mais equilibrada, sem os desconfortos
que o dinheiro gera, trabalharemos ainda mais pelo prazer de tra‑
balhar, gerando mais riquezas, base do sistema capitalista.

38
O Fim do Dinheiro

O DINHEIRO É O MEU TRABALHO ATUAL

Com o fim do dinheiro, o fim dos cartões, o fim dos bancos, o fim
do sistema financeiro, se uma pessoa trabalha numa função que
será extinta na nova sociedade, o que ela passará a fazer e como
se sustentará?

Na transição entre o sistema atual e o novo sistema, essas pessoas,


que estão em posições que se tornarão desnecessárias, migrarão
para outras áreas e isto gerará uma riqueza enorme para toda a so‑
ciedade, lógico que nessa transição essas pessoas poderão continu‑
ar consumindo normalmente até sua nova colocação na sociedade.

Com a eliminação do dinheiro e a simplificação da gestão teremos


uma economia de hora de trabalho para uma considerável parcela
da sociedade, fato que gerará espaço para o aumento de produti‑
vidade, para o direcionamento de pessoas para o terceiro setor ou,
ainda, para ampliar o tempo de lazer de todos.
POR UMA SOCIEDADE
MAIS PRODUTIVA

O sistema financeiro mundial possui na sua estrutura competentes


profissionais, grandes empresas e muita inteligência agregada, sem
dúvida é um dos setores da nossa sociedade mais próspero e essa
inteligência e riqueza precisa ser aproveitada na nova sociedade.

Sabemos também que, para o bem do sistema capitalista, temos


que privilegiar o setor produtivo e reduzir ao máximo o setor meio e,
desta forma, estimular a geração de riqueza e simplificar a produção.

Com o fim do dinheiro faremos um grande avanço na simplifica‑


ção da produção e eliminaremos muitos processos e muita energia
dispensada na gestão do dinheiro, e esses profissionais de extrema
competência que hoje estão no setor financeiro saberão focar sua
inteligência para os setores produtivos, para o aumento da riqueza,
para a simplificação dos processos, para o crescimento do terceiro
setor e a redução das desigualdades. Teremos grandes profissionais
colaborando de forma mais direcionada para a coletividade.

Dá para imaginar o quanto teremos de aumento de produtividade


quando todos do setor financeiro forem trabalhar no setor produti‑
vo? Quanto teremos de novos negócios? De novas ideias?

Será um avanço enorme para o sistema capitalista eliminar todo o


setor financeiro e focar no setor produtivo.
AVANÇOS TECNOLÓGICOS x AVANÇOS HUMANOS

É completamente desnecessário listarmos aqui os avanços da socie‑


dade atual na área tecnológica. Hoje temos inteligência para desen‑
volver projetos que ultrapassam os limites do nosso planeta Terra.

Também é desnecessário dizer que as desigualdades sociais e


humanas no mundo ainda estão com atraso secular.

Por que tanto avanço na área tecnológica e tamanho atraso nas


questões humanas?

Claramente, nas questões humanas não nos desenvolvemos tan‑


to quanto na área tecnológica, pois temos ainda conflitos entre os
povos e um mundo muito violento e desumano com parte repre‑
sentativa da população; em contrapartida, parte da população do
mundo usufrui de conforto que nas últimas décadas foram sobre‑
maneira incorporados.
Walter Barretto Jr.

Para viabilizar a nova sociedade, teremos, sim, que avançar na


questão humana da mesma forma que nas últimas décadas avan‑
çamos na questão tecnológica. Para avançarmos nas questões hu‑
manas, precisamos apenas focar nossa inteligência para essa área
e, certamente, evoluiremos muito nessa questão que ainda, e de
forma inexplicável, é menosprezada pela maioria das pessoas.

Precisamos de uma sociedade mais avançada para implantar


o fim do dinheiro? Sim, porém, estamos aqui exatamente para
avançar, e temos que acreditar na capacidade de adaptação e
avanço das pessoas.

O homem é capaz de avançar!

44
POR QUE O DINHEIRO EXISTE?

O dinheiro existe pela falta de confiança entre as pessoas nas


relações comerciais, falta de confiança que na nossa sociedade
atual é um fato.

Então, por que acreditar que é possível retirar o dinheiro do sistema


capitalista?

Exatamente porque acreditamos no avanço da sociedade, no avan‑


ço das relações entre pessoas e empresas, na necessidade imediata
de avançarmos na área humana sob pena de continuarmos num
mundo com conflitos frequentes.

Esses conflitos frequentes são desde os de dimensões e efeitos mun‑


diais: entre povos, países, regiões; e até os pequenos conflitos gerados
pelo dinheiro na vida das pessoas. Essa soma de problemas gerados
pelo dinheiro, dos grandes aos pequenos, das relações comerciais às
relações pessoais, tem dimensão extraordinária e é inclusive de difícil
dimensionamento com relação ao mal gerado à toda a sociedade.

Vamos avançar sim, vamos criar uma sociedade mais justa e de


maior confiança entre as pessoas, uma sociedade onde não precise
de uma moeda para nos regular e limitar.
AS VANTAGENS

TRABALHAR POR PRAZER

Todos nós sabemos que é muito importante, para se ter qualidade


de vida, que a pessoa trabalhe com prazer.

Como na nova sociedade não haverá remuneração em dinheiro pelo


trabalho, as pessoas tenderão a escolher suas atividades e profis‑
sões com base no que mais gostam de fazer, o que termina gerando
resultados mais eficientes para a sociedade e pessoas mais felizes.

Quantas vezes já vimos jovens escolhendo a profissão pela expec‑


tativa de resultado financeiro maior?

Esse caminho, o de definir os estudos e seguir a carreira profissio‑


nal tendo a questão financeira como prioridade, nós sabemos que
não é saudável para a pessoa e, consequentemente, também pre‑
judicial para a sociedade. Com o fim do dinheiro esse pensamento
tenderá a diminuir e as pessoas tenderão a escolher suas profissões
com base na vocação pessoal e nos benefícios que poderá gerar
para a sociedade e assim, certamente, teremos profissionais mais
competentes e motivados.
Walter Barretto Jr.

NO SETOR EDUCACIONAL

No setor educacional teremos grande avanço com o fim do dinheiro.

Continuaremos tendo as escolas e universidades públicas e priva‑


das. Nas públicas nenhuma mudança acontecerá porque já não
existe o pagamento em dinheiro por parte do aluno. Nas escolas e
universidades privadas teremos grande mudança, vejamos:

As escolas privadas, administradas pelos seus proprietários, empre‑


sários do setor de educação, não cobrarão mais pelo curso simples‑
mente porque não haverá mais dinheiro, exatamente como todas
as outras empresas, e terminaremos tendo todo o setor de educa‑
ção sem custo para os seus estudantes e familiares.

Com as escolas privadas passando a não cobrar pelo ensino, o cri‑


tério de seleção dos seus alunos será simplesmente a competência,
ou seja, sem ter que pagar, qualquer aluno pode escolher livremen‑
te a escola ou universidade que achar melhor cursar, tendo apenas
que ter competência para ser o selecionado entre os que tomarem
a mesma decisão.

No setor educacional teremos unicamente a meritocracia como se‑


leção para o ingresso nas escolas e universidades, fato que gerará
enorme justiça e mobilidade social e, consequentemente, mais pro‑
dutividade e riqueza para toda a sociedade.

48
O Fim do Dinheiro

Com o fim do dinheiro, o médico continuará morando melhor


do que o porteiro do hospital, terá direito a viagens maravilhosas
enquanto o porteiro do hospital não poderá se hospedar em hotéis
de luxo. O médico tomará vinhos franceses e o porteiro tomará
sua cerveja feliz da vida. O médico poderá usar roupas exclusivas
e o porteiro terá que usar as roupas produzidas em série para as
grandes massas, e as massas italianas do médico certamente serão
mais deliciosas do que o macarrão do almoço do porteiro, porém,
quando os filhos dos dois chegarem à escola e à universidade, os
dois disputarão a vaga nas mesmas condições, terão a mesma
oportunidade, e o melhor será o médico no futuro.

O mérito como base para a educação vai gerar uma riqueza para a
sociedade incalculável, somado a isso a facilidade para o empre‑
endedorismo e o estímulo ao trabalho prazeroso, tudo somado,
princípios do sistema capitalista, teremos ao longo do tempo uma
sociedade muito mais culta, rica, produtiva, educada e feliz.
Walter Barretto Jr.

MAIS SEGURANÇA E MENOS ARMAS

Os assaltos acabarão e muitas mortes serão evitadas, porque, ao


invés de o ladrão apontar a arma para o cidadão e roubar seu carro,
por exemplo, correndo o risco de morte e de traumas, ele simples‑
mente entrará na concessionária, será atendido educadamente
pelo vendedor e sairá guiando pelas ruas da cidade, sem a violência
de um assalto. Não estou dizendo que a atitude dele está corre‑
ta, indo até uma concessionária e pegando um produto, sem que
ele tenha produzido algo de igual ou maior valor para a sociedade,
apenas estou dizendo que os males de pegar na empresa que ven‑
de o produto são infinitamente inferiores aos males dos assaltos.

Com menos assaltos, a venda de armas se reduzirá e consequente‑


mente a sua produção.

O que substituirá os assaltos, roubos e a corrupção será o indivíduo


consumir da sociedade mais do que ele produz, porém este procedi‑
mento irregular é muito menos maléfico para a sociedade.

Quanto vale para o indivíduo a segurança de circular livremente


sem o risco do assalto? Quanto vale caminharmos numa socieda‑
de onde o dinheiro não existe e assim os roubos também não mais
existirão? Quantas famílias choram seus parentes perdidos, fruto
da existência do dinheiro? Quantas vidas serão poupadas com o
fim do dinheiro?

Com o fim do dinheiro teremos a redução da violência e as pessoas


poderão circular livremente.

50
O Fim do Dinheiro

O estado também reduzirá, e muito, o consumo de produtos, ser‑


viços e horas de trabalho por causa da não existência dos roubos
e assaltos, as polícias direcionarão sua inteligência e energia para
ações sociais de prevenção dos conflitos entre as pessoas. Será um
grande avanço na segurança pública.

O TRÁFICO DE DROGAS

O consumo de drogas, na sociedade atual, está muito ligado à exis‑


tência do dinheiro e a expectativa de lucro das pessoas que produ‑
zem e comercializam as drogas.

Com o fim do dinheiro as pessoas que trabalham para se beneficia‑


rem do resultado financeiro que a comercialização das drogas gera,
deverão direcionar seus esforços para outra atividade, ou mesmo,
por índole, entrarão no grupo de pessoas que consumirão sem pro‑
duzir, fato que, se analisarmos friamente, causará prejuízo muito
menor à nossa nova sociedade.

Em paralelo a essa grande vantagem, teremos o terceiro setor, com


todos os recursos disponíveis: seja de mão de obra, alimentos e ma‑
teriais, para enfrentar esse grande mal da humanidade que é o con‑
sumo de drogas e a destruição do futuro de muitos jovens.
Walter Barretto Jr.

Nós sabemos que parte das pessoas que procuram as drogas se‑
gue este caminho por não encontrarem estímulos e oportunidades
na nossa sociedade atual, com a nova sociedade teremos um setor
educacional com mais oportunidades para os jovens e a atividade
empresarial de mais fácil acesso a todos, ou seja, uma soma de fa‑
tores que certamente fará com que haja uma redução de pessoas
seguindo o caminho das drogas.

O fim do dinheiro e o avanço do sistema capitalista será a mola pro‑


pulsora para a redução do consumo de drogas.

CONSUMO CONSCIENTE

Tendência da sociedade atual, o consumo consciente será impul‑


sionado com o fim do dinheiro, muitos dos produtos poderão ser
compartilhados já que nenhum de nós comprará e não será o pro‑
prietário dos produtos e sim cessionários.

Na nova sociedade as pessoas que consumirem mais do que produ‑


zem serão recriminadas pelos demais, e algumas ficarão constran‑
gidas mudando seu perfil de consumo para se adequar, passando
a consumir o que é justo. Enquanto outras não, continuarão con‑
sumindo mais do que produzem, cometendo o crime de prejudicar
a sociedade de uma forma geral, comportamento que pode vir a
gerar punição por parte do estado.

Com o fim do dinheiro teremos que ter a consciência no ato do con‑


sumo. O meio ambiente agradecerá!

52
O Fim do Dinheiro

CULTURA DO NÃO DESPERDÍCIO

Na sociedade atual o desperdício está em todas as áreas: recursos


naturais, tempo, energia do trabalho, alimentação, conhecimen‑
to e muito do que temos de valioso poderia ser otimizado ou
reutilizado, fazendo com que as pessoas vivessem num mundo
melhor.

Na nova sociedade o desperdício será mais recriminado do que


é hoje porque hoje o que eu desperdiço é produto de minha pro‑
priedade e foi pago com o meu dinheiro, com o avanço do sistema
capitalista e o fim do dinheiro os produtos serão gerados pela socie‑
dade e não serão cobrados, ou seja, o cidadão que pegar um produ‑
to para ele e não utilizar estará fazendo isso com um produto que
não é sua propriedade, apenas está à sua disposição se de fato ele
quiser consumir e não desperdiçar.

Com o fim do dinheiro, a sociedade dará um grande passo em todas


as áreas, para a redução do desperdício e, consequentemente, para
a vida num mundo melhor. O meio ambiente agradecerá!
Walter Barretto Jr.

REDUZIR O CONSUMO

A filosofia que defendemos do novo sistema capitalista, que pre‑


ga o pensamento coletivo em detrimento do pensamento indivi‑
dualista, tende a levar as pessoas para uma redução gradual do
consumo de alguns produtos que podem ser compartilhados. Essa
prática de compartilhamento já é bem difundida entre os jovens
que tem uma visão de mundo mais avançada e que estão focando
mais no consumo dos produtos de qualidade.

Muitos hoje já procuram consumir no setor de alimentos produtos


de melhor qualidade e que fazem mais bem à saúde, e isso tem
mudado inclusive a forma de agir de grandes marcas e empresas,
focando os seus produtos na qualidade de vida.

Na indústria automobilística os carros que menos poluem serão o


futuro; os carros menores serão a tendência e, mais ainda, o trans‑
porte coletivo em detrimento do transporte individual.

No setor médico, estamos avançando muito mais na medicina pre‑


ventiva, cuidando do corpo e da mente; cuidando para ter uma vida
saudável, base para uma boa saúde.

Em todos os setores o avanço é sempre pela qualidade de vida, pre‑


servação da natureza, mais saúde, menos estresse, trabalho pra‑
zeroso, tempo para o lazer, pensamento que vai de encontro com
o fim do dinheiro e o consequente avanço do sistema capitalista.

54
O Fim do Dinheiro

Teremos também uma redução real de produtos e serviços que são


necessários hoje para a gestão do dinheiro. Imaginem quanto gas‑
tamos da riqueza do mundo para a circulação, controle, gestão e
fiscalização do dinheiro? Quantas horas dispensadas por milhares
de pessoas por causa da existência do dinheiro? O fim do dinheiro
certamente gerará uma redução enorme do consumo de produtos
e serviços que deixarão de existir pela ausência do dinheiro. O meio
ambiente agradecerá!

MERITOCRACIA

Vale registrar que, com o fim do dinheiro e o fim da sua influência


nas relações comerciais e pessoais, a sociedade vai passar a ser re‑
gida pela meritocracia.

As pessoas mais importantes para a sociedade terão mais valor e


poderão consumir mais e não haverá mais a influência do dinheiro
alterando a ordem natural do capitalismo que é privilegiar os
melhores, os mais competentes, os mais úteis para a sociedade.

Na nova sociedade teremos um capitalismo mais eficiente, um


capitalismo que privilegiará a geração de riqueza e bem­‑estar para
todos, o verdadeiro capitalismo.
O PLANETA MARTE

O homem chegou a Marte!

Levaremos o dinheiro para Marte?

Para levarmos o dinheiro teremos que levar também as agências


bancárias, os cartões de crédito, as empresas de plano de saúde, de
seguro de vida e aposentadoria, os equipamentos de informática e
os sistemas de controle financeiro para as empresas, os profissionais
da área financeira; os caixas eletrônicos; as equipes de segurança
para evitar o roubo do dinheiro; os cofres; a cobrança de impostos;
os salários; o lucro e até as filas para esperarmos o pagamento nos
pontos comerciais.

Parece que é melhor não levarmos o dinheiro para Marte.

E por que não? Porque não é necessário e, além disso, se levarmos o


nosso sistema atual de dinheiro para Marte, estaremos incorporan‑
do um ingrediente complicador na vida em Marte.

Então, como funcionaria a ocupação de Marte sem o dinheiro?


Walter Barretto Jr.

Levaremos para Marte as pessoas que tenham como contribuir


para a nova sociedade que se forma, por exemplo: levaremos
professores, médicos e suas equipes de apoio; engenheiros, pes‑
soas que cuidarão da manutenção; representantes dos poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário; atores, artistas, garçons, chefes
de cozinha, agricultores, cientistas, todos os tipos de profissionais
que compõem uma sociedade e todos trabalharão sem receber di‑
nheiro, porém poderão consumir o que acharem necessário e pra‑
zeroso, desde que seu consumo seja compatível com a importância
que tem na sociedade.

Simples assim!

Quem se candidata a participar dessa nova sociedade mais huma‑


na e justa em Marte?

E se você chegou à conclusão que, de fato, não temos que levar o di‑
nheiro para Marte, acredita agora que podemos estudar caminhos
para melhorar o nosso planeta Terra, e um deles, certamente um
dos mais revolucionários e de melhor benefício para todos, será o
fim do dinheiro?

Temos sempre que acreditar na capacidade de evolução da espé‑


cie humana.

58
COMO IMPLANTAR A MUDANÇA

Colocando os pés na terra!

A pergunta que devemos nos fazer agora é a seguinte: seremos


mais felizes ou não com o fim do dinheiro?

Se chegarmos à conclusão que a mudança será benéfica para a


sociedade poderemos assim combinar em avançar para que um dia
a sociedade tenha uma forma mais humana e prazerosa de lidar
com o consumo.

E essa mudança seria implantada de uma só vez ou por etapas?


Sugiro a implantação por etapas. Vejamos a seguir.
Walter Barretto Jr.

PRIMEIRA FASE

GERAL

Começaríamos pelo terceiro setor, permitindo que todas as insti‑


tuições de apoio aos mais necessitados possam utilizar as pessoas
e os produtos necessários, sem que para isso tenham que desem‑
bolsar recursos. Os funcionários dessas instituições de caridade
também poderiam consumir sem que tivessem que pagar pelos
produtos consumidos. Nesse caso específico, já faremos uma revo‑
lução humana na nossa nova sociedade, acabando com a fome e
com a miséria, reduzindo e muito as injustiças sociais.

Todas as instituições de caridade, todas as pessoas carentes, todas


as pessoas que não trabalham e nada produzem, poderão consu‑
mir livremente os produtos básicos para uma vida digna: alimentos,
remédios, vestuário, lazer e tudo que um cidadão, independente
da sua capacidade de produção, merece ter, para o bem geral da
sociedade.

Alguém duvida que essa medida reduzirá a violência no mundo e


nos levará ao caminho da paz? Quanto bem­‑estar geraremos para
os mais necessitados? Quanto vale isso para toda a humanidade?

60
O Fim do Dinheiro

A ÁFRICA

Ainda na primeira fase teremos que atacar a fome e a miséria da África,


continente com os maiores problemas sociais do nosso planeta.

Na África muito terá que ser feito.

Teremos que fazer um planejamento das necessidades de consumo


básico da sua população e chamarmos os grandes agentes mun‑
diais para, instalando bases na própria África, implantarem suas
unidades que produzirão para o consumo interno.

Essa produção suprirá a população da África dos itens essenciais


para uma vida digna e para um crescimento intelectual. Teremos a
produção de alimentos, a indústria do agronegócio, a indústria far‑
macêutica, a de vestuário e a implantação de um projeto educacio‑
nal para treinar a sua população para a produção e também para o
desenvolvimento sustentável do continente africano.

Essa ação que hoje é praticamente impossível de ser realizada


porque as empresas operam tendo o lucro financeiro como con‑
dição, e analisando friamente o sistema capitalista atual o pen‑
samento muitas vezes tem que ser esse mesmo, sem o lucro as
empresas quebram gerando transtornos para todos, porém, com
o fim do dinheiro, o pensamento dominante e gerador do direito
de consumir será gerar benefício para a sociedade, então, montar
um negócio na África para fornecer produtos e serviços para uma
população hoje desassistida atende e muito os princípios básicos
da nova sociedade que propomos e é esse o avanço que daremos
no sistema capitalista.
Walter Barretto Jr.

Vejamos de forma prática: se eu quero ter uma empresa com alta


rentabilidade na nova sociedade terei que fazer negócios que ge‑
rem o máximo de benefícios possíveis para o conjunto da socieda‑
de. E então, me responda essa pergunta: na nova sociedade qual
a fábrica de remédios que dará mais lucro, mais benefícios para a
população, uma implantada nos Estados Unidos ou uma fábrica de
remédios implantada na Zâmbia? Na Zâmbia, lógico! Então os seus
proprietários e funcionários poderão consumir mais do que os da
fábrica dos Estados Unidos, diferentemente do padrão de capita‑
lismo atual.

SEGUNDA FASE

O segundo passo seria avançar no setor público, fazendo com que


os funcionários públicos trabalhassem sem receber o salário, e os
produtos necessários para o pleno funcionamento das atividades
públicas seriam fornecidos pelas empresas que também nada rece‑
beriam do estado. Na implantação dessa fase os impostos seriam
eliminados do sistema.

TERCEIRA FASE

A terceira e última fase implantaríamos no setor privado e, assim,


teríamos todo o sistema funcionando sem a necessidade do dinhei‑
ro, ou seja, será o fim do dinheiro. Essa terceira fase poderá ser im‑
plementada no mesmo momento da segunda fase.

62
O PREJUÍZO VAI FICAR PEQUENO

Fazendo uma análise unicamente financeira no sistema atual e


comparando com a nova sociedade, chegamos facilmente à con‑
clusão que o consumo além do valor produzido por parte de uma
parcela da sociedade com o fim do dinheiro será infinitamente
menor do que os recursos perdidos no nosso sistema atual, pelo
simples fato de que hoje o desvio de recursos é ilimitado, podendo
ultrapassar milhares de vezes a capacidade de consumo de deter‑
minada pessoa, enquanto que na nova sociedade o ladrão terá que
consumir o fruto do roubo em vida.

A sociedade também fiscalizará de forma muito fácil os cidadãos,


analisando o trabalho que exercem para o conjunto da socieda‑
de e seus hábitos de consumo, o que resultará em denúncias que
serão investigadas pelo estado, diferentemente dos recursos em
dinheiro cuja fiscalização exige maior complexidade e a presença
única do estado.
Walter Barretto Jr.

E se não tiver alimentos, remédios e vestuário para todos? Com o


desenvolvimento do setor produtivo, com uma educação de qua‑
lidade e proporcionando igualdade de acesso, com a simplificação
dos processos, com a energia do setor financeiro direcionada para
o setor produtivo, com o fim das terras improdutivas, com o fim das
patentes, com a necessidade de ampliação da oferta, com o incen‑
tivo ao espírito empreendedor, teremos sim muito mais produção
e consequentemente muito mais alimentos, mais remédios, mais
roupas e mais riqueza será produzida para todos.

64
A LIVRARIA

Com o fim do dinheiro teremos uma tendência maior ao comparti‑


lhamento devido à redução da sensação de propriedade.

Vamos dar o exemplo de uma livraria.

Na sociedade atual, quando queremos um livro, o caminho mais


utilizado é ir a uma livraria e comprar o referido livro. Na nova so‑
ciedade faremos exatamente assim, porém, na saída da livraria,
não pagaremos pelo livro. Essa mudança entre pagar e não pagar
o livro tem um efeito psicológico grande sobre a pessoa: quando
eu pago o livro, ele é de minha propriedade, quando eu não pago
o livro ele é meu enquanto eu estiver com a posse, porém, clara‑
mente, o livro é fruto do trabalho de várias pessoas que convivem
comigo em sociedade.
Walter Barretto Jr.

E o que deve acontecer de diferente no comportamento da pessoa


depois que ler o livro? Se o livro foi pago existe uma probabilidade
maior de o leitor colocá­‑lo na estante de sua casa e deixá­‑lo por um
bom tempo, parado, sem uso, sem gerar conhecimento nem rique‑
za; agora, se eu apenas pegar o livro na livraria, sem pagar, porque
o dinheiro não mais existirá, a tendência será de eu achar, o que é a
pura verdade, que aquele livro não é meu, apenas foi colocado pela
sociedade à minha disposição para a leitura e, depois de lido, devol‑
verei à livraria para que outras pessoas façam o mesmo.

Simples assim!

E sabe quanto nós ganhamos com isso?

• Cada livro publicado poderá ser impresso em menor quanti‑


dade porque haverá o compartilhamento.

• Reduzindo a produção por livro poderemos aumentar a


quantidade de publicações.

• Propagação maior do conhecimento, porque hoje muitas


pessoas não leem determinados livros por não terem recur‑
sos para comprar. Vale registrar que esse ganho é de efeito
positivo incalculável.

66
O Fim do Dinheiro

Vamos para um exemplo prático: na nova sociedade, vou o dia que


quiser à livraria ou peço para entregarem em minha casa o livro que
eu quiser ler. Posso pegar o livro e levar para o trabalho, viajar com
ele, deixar na minha casa enquanto leio e consulto, ou seja, pos‑
so ficar com o livro quantos dias quiser e ainda com quantos livros
eu desejar, e vamos supor que eu leia sempre três livros ao mesmo
tempo e que durante a minha vida eu consiga ler mais de dois mil
livros, quanto a sociedade investirá em mim para eu ler os mais de
dois mil livros? O investimento da sociedade em mim será de ape‑
nas três livros. Ou seja, com baixo investimento da sociedade, com o
compartilhamento dos livros, e eu terei acesso a todos os livros que
quiser, todo o tempo de minha vida, custando muito pouco a todos.

E todos nós faremos assim, poderemos ler todos os livros do mundo,


e o que não deveremos fazer é reter o livro em casa, sem ninguém
ler, sem ninguém consultar, sem nenhuma utilidade, sem difundir o
conhecimento e, para alegria de quem gosta de ler, as livrarias serão
o gabinete de nossa casa.

E você tem ideia da quantidade de pessoas que hoje, no nosso sis‑


tema capitalista atual, se priva de ler e de adquirir conhecimento
por não ter condição financeira para comprar um livro? Sendo bem
objetivo, esse não é o conceito do capitalismo. O sistema capitalista
prega exatamente o contrário, a difusão do conhecimento para o
aumento da produtividade e da riqueza e, mais uma vez, chegamos
à conclusão que a retirada do dinheiro de circulação nos levará ao
avanço do sistema capitalista.
Walter Barretto Jr.

E aí você me diz “mas no futuro será que todos lerão na internet e


nem livraria existirá mais”?

Grande engano pensar assim!

Com o fim do dinheiro teremos uma vida mais prazerosa. Certamente


o ato de ir a uma livraria, encontrar e fazer amigos, discutir opções
de leitura e debater os temas que nos interessam sempre fizeram
parte do prazer da leitura, situações que a vida atual e o corre­‑corre,
muitas vezes nos priva.

68
QUERO TER MAIS TEMPO PARA LER

Quantas horas você ganhará para ler com o fim do dinheiro?

Vamos ver a lista de atividades e o esforço dispendido que você tem


hoje para conviver com o dinheiro:

• Uma vez por mês analiso o saldo da minha conta corrente;

• Uma vez por mês analiso minhas despesas no cartão de


crédito;

• Várias vezes por mês tenho que pagar minhas contas pela
internet;

• Todos os dias me dirijo a alguma loja e tenho que ficar es‑


perando o caixa operar o pagamento da conta e ainda em
algumas lojas tenho que aguardar na fila;

• Nos restaurantes sempre fico aguardando a conta para


pagar;

• Uma vez por ano faço uma análise geral sobre as aplicações
dos recursos financeiros;
Walter Barretto Jr.

• Uma vez por ano renovo meus seguros de carro, casa e vida;

• Uma vez por ano faço uma análise sobre o meu plano de
previdência;

• Quando preciso fazer um financiamento tenho que calcular


as taxas de juros e negociar os valores do empréstimo;

• Várias vezes ao mês perco tempo em sites de compras digi‑


tando o número do meu cartão de crédito;

• Duas vezes por ano tenho que entrar em algum sistema para
mudar uma senha que esqueci;

• Se estou sem dinheiro tenho que discutir com minha família


para cortar as despesas;

• Se estou com muito dinheiro tenho que discutir com minha


família as possíveis aplicações do dinheiro;

• Tenho que fazer cursos, assistir palestras e ler livros sobre a


gestão do dinheiro na vida contemporânea — esse foi o pior
de todos!

A pergunta que nós devemos nos fazer agora é a seguinte: seremos


mais felizes ou não com o fim do dinheiro?

70
O SISTEMA DEMOCRÁTICO E
O SISTEMA FINANCEIRO

Vamos fazer uma comparação entre o avanço do sistema demo‑


crático nas últimas décadas no mundo, e os problemas econômicos
que vivemos na nossa sociedade.

O sistema democrático avançou muito. Há pouco tempo muitos


países viviam regimes ditatoriais onde a população não tinha a li‑
berdade de escolher os seus líderes e, consequentemente, os seus
destinos. Hoje temos, na maioria dos países, regimes democráticos
onde as votações para os liderem políticos são livres, transparentes,
equilibradas e o voto do rico e do pobre têm o mesmo peso, e assim
esses líderes, para se manterem no poder, têm que atender ao con‑
junto da sociedade.

Já no sistema financeiro estamos muito atrasados. Poucos e


grandes investidores mundiais que, representando fundos de in‑
vestimentos e empresas de avaliação de crédito, podem alterar o
destino de um país, de uma nação, de milhares de pessoas, apenas
com um movimento de recursos financeiros ou mesmo apenas com
um rebaixamento do crédito de um país, ou mesmo somente com
previsões na imprensa sobre o futuro de um país ou de uma região.
Walter Barretto Jr.

Quer dizer que poucos atores mundiais, que não foram eleitos nem
escolhidos pelo conjunto da sociedade, podem sim prejudicar uma
sociedade formada por cidadãos que estão trabalhando, produzin‑
do, estudando, vivendo com suas famílias, tendo uma vida real e
digna? Sim.

De fato há algo de errado na nossa sociedade. O sistema democrá‑


tico está sendo influenciado de forma negativa pelo sistema finan‑
ceiro. E o que dizer da influência do sistema financeiro nos atores
políticos que, muitas vezes, são forçados a tomar medidas com
base no pensamento econômico vigente e não com base no pensa‑
mento da sociedade que o elegeu.

Com certeza o meio político tem que se fortalecer em relação ao


mercado financeiro e um bom caminho para que isso aconteça po‑
derá ser com o fim do dinheiro.

72
PROPOSTA RADICAL

Você achou o fim do dinheiro uma proposta muito radical? E você


acha que o mundo com tantos problemas como o nosso, com crises
econômicas constantes, somente mudando de região e exigindo
sacrifícios enormes dos seus povos; com jovens sem conseguirem
o primeiro emprego; com a miséria e a fome matando em pleno
século XXI; com guerras constantes para consumir a produção de
armas e para retirar as riquezas naturais das regiões; com guerras
civis e tantos países com muita violência urbana; com o egoísmo
vencendo o pensamento coletivo; com o terrorismo assustando,
matando e tirando a liberdade; com falta de liberdade para circu‑
lar com segurança em muitas partes do mundo; com movimentos
financeiros de especuladores que quebram países e geram preju‑
ízos enormes para famílias; com o dinheiro sendo a mola mestra
e a prioridade em muitas das decisões tomadas no mundo e mais
outros problemas, você imaginaria resolver ou começar a resolver
tantos ou parte desses problemas com uma solução simples e de
fácil implementação? A proposta é radical sim! Só que eu acho
que a saída de cena do dinheiro pode ser o melhor caminho para
o avanço do sistema capitalista e para começarmos a vislumbrar
tempos melhores.

E mais uma vez registro que nós temos uma enorme capacidade
de superação, precisamos somente direcionar esforço e inteligência
para o caminho certo.
POR QUE O FIM DO DINHEIRO?

• Porque limita o espírito empreendedor, exigindo para o de‑


senvolvimento dos negócios o capital;

• Porque simplificará a gestão das empresas e seus integran‑


tes terão mais tempo para dedicar as questões produtivas;

• Porque eliminará a renda fruto do acúmulo de riqueza, in‑


centivando sempre a produção;

• Porque o custo do dinheiro atualmente inviabiliza muitas


empresas importantes para a sociedade;

• Porque as injustiças causadas no desequilíbrio da remunera‑


ção prejudicam a produção;

• Porque o capitalismo sem o dinheiro leva a meritocracia;

• Porque a inteligência dispendida no setor financeiro será


direcionada ao setor produtivo e para o terceiro setor;

• Porque simplificará a gestão do estado, aumentando assim


a qualidade dos serviços prestados à população;

• Porque reduzirá os processos judiciais;


Walter Barretto Jr.

• Porque o dinheiro dificulta o pensamento coletivo, o consumo


coletivo e, consequentemente, prejudica o meio ambiente;

• Porque gastamos muito tempo no nosso dia a dia com a


gestão pessoal do dinheiro, tempo esse que poderia ser dire‑
cionado para a produtividade e para o lazer;

• Para eliminar os roubos e assaltos, e assim reduziremos o con‑


sumo de armas e evitaremos muitos traumas e até mortes;

• Porque com o fim do dinheiro o tráfico de drogas reduzirá


drasticamente;

• Porque a herança é geradora de conflitos familiares e em


alguns casos estimula o ócio;

• Porque o dinheiro desequilibra as oportunidades educacio‑


nais, limitando o desenvolvimento futuro da sociedade;

• Porque o dinheiro reduz o acesso à cultura;

• Para o terceiro setor operar com eficiência e assim reduzir a


fome e a miséria no mundo;

• Porque prejudica a relação entre as pessoas, entre as famí‑


lias, entre os amigos;

• Para a sociedade produzir mais e gerar mais riqueza;

• Para as pessoas serem mais felizes;

76
A SABEDORIA DOS MAIS VELHOS

Os mais velhos sabem que a vida passa e passa rápido e se tem


uma coisa que não devemos fazer é complicá­‑la.

A gestão do dinheiro hoje certamente é um dos maiores incômo‑


dos para quem já caminhou muito e quer uma vida mais feliz e em
paz e, certamente, o fim do dinheiro será apoiado com vigor por
todos eles.
A MENTE DOS JOVENS

Você já notou que os jovens pensam muito de forma coletiva?

Você já notou que os jovens gostam do bom consumo, do consumo


dos produtos de qualidade?

O fim do dinheiro vem exatamente para atender aos novos habi‑


tantes do mundo, que nascem hoje se preocupando com a coletivi‑
dade e com a qualidade e quantidade dos bens consumidos.

Na nova sociedade todos certamente consumirão menos, porque,


com a liberdade de consumir, com a facilidade de consumir, com
a nova forma de ver o mundo, a usar mais o compartilhamento de
produtos, esse caminho mais focado no humano e menos no mate‑
rial, esse caminho é um caminho sem volta.

Os jovens querem o fim da fome e da miséria, os jovens querem o


fim dos conflitos, o fim das tensões sociais, os jovens querem a paz.

Os jovens querem consumir os produtos que não agridam a nature‑


za e que façam bem ao corpo, os jovens querem manter a saúde em
forma e querem evitar o estresse.
Walter Barretto Jr.

Os jovens querem ampla disponibilidade a todas as formas de


educação e cultura.

Os jovens querem um mundo mais equilibrado ambientalmente,


mais rico em natureza e com seus ecossistemas preservados.

Os jovens querem o capitalismo com pensamento coletivo!

80
PRESERVAR A TERRA

E o que todos nós juntos queremos? O que todos nós dessa imensa
Terra mais queremos? Apenas o bem comum e a preservação do
nosso planeta Terra.

Um bom passo poderá ser dado com o fim do dinheiro.


DISCURSO DO PAPA AOS MOVIMENTOS POPULARES
(TEXTO INTEGRAL)
Versão integral do discurso do Papa Francisco aos Movimentos Populares
reunidos na Bolívia:
(Bolívia, Santa Cruz — Expo Feira, 9 de Julho de 2015)
http://pt.radiovaticana.va/news/2015/07/10/discurso_do_papa_aos_movimentos_populares_(texto_integral)/1157336

Boa tarde a todos! do seu povo e também eu quero voltar a unir


a minha voz à vossa: terra, tecto e trabalho
Há alguns meses, reunimo-nos em Roma e
para todos os nossos irmãos e irmãs. Disse-o
não esqueço aquele nosso primeiro encon‑
e repito: são direitos sagrados. Vale a pena,
tro. Durante este tempo, trouxe-vos no meu
vale a pena lutar por eles. Que o clamor dos
coração e nas minhas orações. Alegra-me
excluídos seja escutado na América Latina e
vê-vos de novo aqui, debatendo os melhores
em toda a terra.
caminhos para superar as graves situações de
injustiça que padecem os excluídos em todo 1. Comecemos por reconhecer que precisa‑
o mundo. Obrigado Senhor Presidente Evo mos duma mudança. Quero esclarecer, para
Morales, por sustentar tão decididamente que não haja mal-entendidos, que falo dos
este Encontro. problemas comuns de todos os latino-ame‑
ricanos e, em geral, de toda a humanidade.
Então, em Roma, senti algo muito belo: fra‑
Problemas, que têm uma matriz global e que
ternidade, paixão, entrega, sede de justiça.
actualmente nenhum Estado pode resolver
Hoje, em Santa Cruz de la Sierra, volto a sen‑
por si mesmo. Feito este esclarecimento, pro‑
tir o mesmo. Obrigado! Soube também, pelo
ponho que nos coloquemos estas perguntas:
Pontifício Conselho “Justiça e Paz” presidi‑
do pelo Cardeal Turkson, que são muitos na — Reconhecemos nós que as coisas não an‑
Igreja aqueles que se sentem mais próximos dam bem num mundo onde há tantos cam‑
dos movimentos populares. Muito me alegro poneses sem terra, tantas famílias sem tecto,
por isso! Ver a Igreja com as portas abertas a tantos trabalhadores sem direitos, tantas
todos vós, que se envolve, acompanha e con‑ pessoas feridas na sua dignidade?
segue sistematizar em cada diocese, em cada — Reconhecemos nós que as coisas não an‑
comissão “Justiça e Paz”, uma colaboração dam bem, quando explodem tantas guerras
real, permanente e comprometida com os sem sentido e a violência fratricida se apode‑
movimentos populares. Convido-vos a todos, ra até dos nossos bairros? Reconhecemos nós
bispos, sacerdotes e leigos, juntamente com que as coisas não andam bem, quando o solo,
as organizações sociais das periferias urbanas a água, o ar e todos os seres da criação estão
e rurais a aprofundar este encontro. sob ameaça constante?
Deus permitiu que nos voltássemos a ver hoje. Então digamo-lo sem medo: Precisamos e
A Bíblia lembra-nos que Deus escuta o clamor queremos uma mudança.
Walter Barretto Jr.

Nas vossas cartas e nos nossos encontros, — redentora. Porque é dela que precisamos.
relataram-me as múltiplas exclusões e injus‑ Sei que buscais uma mudança e não apenas
tiças que sofrem em cada actividade laboral, vós: nos diferentes encontros, nas várias via‑
em cada bairro, em cada território. São tan‑ gens, verifiquei que há uma expectativa, uma
tas e tão variadas como muitas e diferentes busca forte, um anseio de mudança em todos
são as formas próprias de as enfrentar. Mas os povos do mundo. Mesmo dentro da mino‑
há um elo invisível que une cada uma destas ria cada vez mais reduzida que pensa sair be‑
exclusões: conseguimos nós reconhecê-lo? neficiada deste sistema, reina a insatisfação
É que não se trata de questões isoladas. e sobretudo a tristeza. Muitos esperam uma
Pergunto-me se somos capazes de reconhe‑ mudança que os liberte desta tristeza indivi‑
cer que estas realidades destrutivas corres‑ dualista que escraviza.
pondem a um sistema que se tornou global.
O tempo, irmãos e irmãs, o tempo parece
Reconhecemos nós que este sistema impôs
exaurir-se; já não nos contentamos com lutar
a lógica do lucro a todo o custo, sem pen‑
entre nós, mas chegamos até a assanhar-nos
sar na exclusão social nem na destruição da
contra a nossa casa. Hoje, a comunidade
natureza?
científica aceita aquilo que os pobres já há
Se é assim — insisto — digamo-lo sem medo: muito denunciam: estão a produzir-se danos
Queremos uma mudança, uma mudança real, talvez irreversíveis no ecossistema. Está-se a
uma mudança de estruturas. Este sistema é castigar a terra, os povos e as pessoas de for‑
insuportável: não o suportam os campone‑ ma quase selvagem. E por trás de tanto so‑
ses, não o suportam os trabalhadores, não o frimento, tanta morte e destruição, sente-se
suportam as comunidades, não o suportam o cheiro daquilo que Basílio de Cesareia cha‑
os povos.... E nem sequer o suporta a Terra, a mava “o esterco do diabo”: reina a ambição
irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco. desenfreada de dinheiro. O serviço ao bem
Queremos uma mudança nas nossas vidas, comum fica em segundo plano. Quando o ca‑
nos nossos bairros, no vilarejo, na nossa rea‑ pital se torna um ídolo e dirige as opções dos
lidade mais próxima; mas uma mudança que seres humanos, quando a avidez do dinheiro
toque também o mundo inteiro, porque hoje domina todo o sistema socioecónomico, ar‑
a interdependência global requer respostas ruína a sociedade, condena o homem, trans‑
globais para os problemas locais. A globali‑ forma-o em escravo, destrói a fraternidade
zação da esperança, que nasce dos povos e inter-humana, faz lutar povo contra povo e
cresce entre os pobres, deve substituir esta até, como vemos, põe em risco esta nossa
globalização da exclusão e da indiferença. casa comum.

Hoje quero reflectir convosco sobre a mudan‑ Não quero alongar-me na descrição dos
ça que queremos e precisamos. Como sabem, efeitos malignos desta ditadura subtil: vós
recentemente escrevi sobre os problemas da conhecei-los! Mas também não basta assi‑
mudança climática. Mas, desta vez, quero nalar as causas estruturais do drama social
falar duma mudança noutro sentido. Uma e ambiental contemporâneo. Sofremos de
mudança positiva, uma mudança que nos um certo excesso de diagnóstico, que às ve‑
faça bem, uma mudança — poderíamos dizer zes nos leva a um pessimismo charlatão ou a

84
O Fim do Dinheiro

rejubilar com o negativo. Ao ver a crónica ne‑ amargamente, que uma mudança de estru‑
gra de cada dia, pensamos que não haja nada turas, que não seja acompanhada por uma
que se possa fazer para além de cuidar de nós conversão sincera das atitudes e do coração,
mesmos e do pequeno círculo da família e acaba a longo ou curto prazo por burocra‑
dos amigos. tizar-se, corromper-se e sucumbir. Por isso
gosto tanto da imagem do processo, onde a
Que posso fazer eu, recolhedor de papelão,
paixão por semear, por regar serenamente o
catador de lixo, limpador, reciclador, frente
que outros verão florescer, substitui a ansie‑
a tantos problemas, se mal ganho para co‑
dade de ocupar todos os espaços de poder
mer? Que posso fazer eu, artesão, vendedor
disponíveis e de ver resultados imediatos.
ambulante, carregador, trabalhador irregular,
Cada um de nós é apenas uma parte de um
se não tenho sequer direitos laborais? Que
todo complexo e diversificado interagindo
posso fazer eu, camponesa, indígena, pesca‑
no tempo: povos que lutam por uma afirma‑
dor que dificilmente consigo resistir à propa‑
ção, por um destino, por viver com dignida‑
gação das grandes corporações? Que posso
de, por “viver bem”.
fazer eu, a partir da minha comunidade, do
meu barraco, da minha povoação, da minha Vós, a partir dos movimentos populares,
favela, quando sou diariamente discrimina‑ assumis as tarefas comuns motivados pelo
do e marginalizado? Que pode fazer aquele amor fraterno, que se rebela contra a injus‑
estudante, aquele jovem, aquele militante, tiça social. Quando olhamos o rosto dos que
aquele missionário que atravessa as favelas sofrem, o rosto do camponês ameaçado, do
e os paradeiros com o coração cheio de so‑ trabalhador excluído, do indígena oprimido,
nhos, mas quase sem nenhuma solução para da família sem tecto, do imigrante perse‑
os meus problemas? Muito! Podem fazer guido, do jovem desempregado, da criança
muito. Vós, os mais humildes, os explorados, explorada, da mãe que perdeu o seu filho
os pobres e excluídos, podeis e fazeis muito. num tiroteio porque o bairro foi tomado
Atrevo-me a dizer que o futuro da humanida‑ pelo narcotráfico, do pai que perdeu a sua
de está, em grande medida, nas vossas mãos, filha porque foi sujeita à escravidão; quando
na vossa capacidade de vos organizar e pro‑ recordamos estes “rostos e nomes” estre‑
mover alternativas criativas na busca diária mecem-nos as entranhas diante de tanto
dos “3 T” (trabalho, tecto, terra), e também sofrimento e comovemo-nos…. Porque “vi‑
na vossa participação como protagonistas mos e ouvimos”, não a fria estatística, mas as
nos grandes processos de mudança nacio‑ feridas da humanidade dolorida, as nossas
nais, regionais e mundiais. Não se acanhem! feridas, a nossa carne. Isto é muito diferente
da teorização abstracta ou da indignação
2. Vós sois semeadores de mudança. Aqui, elegante. Isto comove-nos, move-nos e pro‑
na Bolívia, ouvi uma frase de que gosto curamos o outro para nos movermos juntos.
muito: “processo de mudança”. A mudan‑ Esta emoção feita acção comunitária é in‑
ça concebida, não como algo que um dia compreensível apenas com a razão: tem um
chegará porque se impôs esta ou aquela plus de sentido que só os povos entendem e
opção política ou porque se estabeleceu que confere a sua mística particular aos ver‑
esta ou aquela estrutura social. Sabemos, dadeiros movimentos populares.
Walter Barretto Jr.

Vós viveis, cada dia, imersos na crueza da rebentos; mas, ao mesmo tempo, com uma
tormenta humana. Falastes-me das vossas perspectiva mais ampla, protegendo o arvo‑
causas, partilhastes comigo as vossas lutas. E redo. Trabalhais numa perspectiva que não
agradeço-vos. Queridos irmãos, muitas vezes só aborda a realidade sectorial que cada um
trabalhais no insignificante, no que aparece de vós representa e na qual felizmente está
ao vosso alcance, na realidade injusta que vos enraizada, mas procurais também resolver,
foi imposta e a que não vos resignais opondo na sua raiz, os problemas gerais de pobreza,
uma resistência activa ao sistema idólatra desigualdade e exclusão.
que exclui, degrada e mata. Vi-vos trabalhar
Felicito-vos por isso. É imprescindível que, a par
incansavelmente pela terra e a agricultura
da reivindicação dos seus legítimos direitos, os
camponesa, pelos vossos territórios e co‑
povos e as suas organizações sociais construam
munidades, pela dignificação da economia
uma alternativa humana à globalização exclu‑
popular, pela integração urbana das vossas
siva. Vós sois semeadores de mudança. Que
favelas e agrupamentos, pela auto-constru‑
Deus vos dê coragem, alegria, perseverança e
ção de moradias e o desenvolvimento das
paixão para continuar a semear. Podeis ter a
infra-estruturas do bairro e em muitas activi‑
certeza de que, mais cedo ou mais tarde, vamos
dades comunitárias que tendem à reafirma‑
ver os frutos. Peço aos dirigentes: sede criativos
ção de algo tão elementar e inegavelmente
e nunca percais o apego às coisas próximas,
necessário como o direito aos “3 T”: terra, tec‑
porque o pai da mentira sabe usurpar palavras
to e trabalho.
nobres, promover modas intelectuais e adop‑
Este apego ao bairro, à terra, ao território, à tar posições ideológicas, mas se construirdes
profissão, à corporação, este reconhecer-se sobre bases sólidas, sobre as necessidades re‑
no rosto do outro, esta proximidade no dia‑ ais e a experiência viva dos vossos irmãos, dos
-a-dia, com as suas misérias e os seus hero‑ camponeses e indígenas, dos trabalhadores
ísmos quotidianos, é o que permite realizar o excluídos e famílias marginalizadas, de certeza
mandamento do amor, não a partir de ideias não vos equivocareis.
ou conceitos, mas a partir do genuíno encon‑
tro entre pessoas, porque não se amam os A Igreja não pode nem deve ser alheia a este
conceitos nem as ideias; amam-se as pes‑ processo no anúncio do Evangelho. Muitos
soas. A entrega, a verdadeira entrega nasce sacerdotes e agentes pastorais realizam uma
do amor pelos homens e mulheres, crianças tarefa imensa acompanhando e promoven‑
e idosos, vilarejos e comunidades... Rostos e do os excluídos em todo o mundo, ao lado
nomes que enchem o coração. A partir destas de cooperativas, dando impulso a empreen‑
sementes de esperança semeadas paciente‑ dimentos, construindo casas, trabalhando
mente nas periferias esquecidas do planeta, abnegadamente nas áreas da saúde, des‑
destes rebentos de ternura que lutam por porto e educação. Estou convencido de que
subsistir na escuridão da exclusão, crescerão a cooperação amistosa com os movimentos
grandes árvores, surgirão bosques densos de populares pode robustecer estes esforços e
esperança para oxigenar este mundo. fortalecer os processos de mudança.

Vejo, com alegria, que trabalhais no que No coração, tenhamos sempre a Virgem
aparece ao vosso alcance, cuidando dos Maria, uma jovem humilde duma pequena

86
O Fim do Dinheiro

aldeia perdida na periferia dum grande im‑ economia mata. Esta economia exclui. Esta
pério, uma mãe sem teto que soube trans‑ economia destrói a Mãe Terra.
formar um curral de animais na casa de Jesus
com uns pobres paninhos e uma montanha A economia não deveria ser um mecanismo
de ternura. Maria é sinal de esperança para os de acumulação, mas a condigna administra‑
povos que sofrem dores de parto até que bro‑ ção da casa comum. Isto implica cuidar zelo‑
te a justiça. Rezo à Virgem do Carmo, padro‑ samente da casa e distribuir adequadamente
eira da Bolívia, para fazer com que este nosso os bens entre todos. A sua finalidade não é
Encontro seja fermento de mudança. unicamente garantir o alimento ou um “deco‑
roso sustento”. Não é sequer, embora fosse já
3. Por último, gostaria que reflectíssemos, um grande passo, garantir o acesso aos “3 T”
juntos, sobre algumas tarefas importantes pelos quais combateis. Uma economia verda‑
neste momento histórico, pois queremos uma deiramente comunitária — poder-se-ia dizer,
mudança positiva em benefício de todos os uma economia de inspiração cristã — deve
nossos irmãos e irmãs. Disto estamos certos! garantir aos povos dignidade, “prosperidade
Queremos uma mudança que se enriqueça e civilização em seus múltiplos aspectos”.[1]
com o trabalho conjunto de governos, mo‑ Isto envolve os “3 T” mas também acesso à
vimentos populares e outras forças sociais. educação, à saúde, à inovação, às manifesta‑
Sabemos isto também! Mas não é tão fácil ções artísticas e culturais, à comunicação, ao
definir o conteúdo da mudança, ou seja, o desporto e à recreação. Uma economia justa
programa social que reflicta este projecto de deve criar as condições para que cada pessoa
fraternidade e justiça que esperamos. Neste possa gozar duma infância sem privações,
sentido, não esperem uma receita deste desenvolver os seus talentos durante a juven‑
Papa. Nem o Papa nem a Igreja têm o mo‑ tude, trabalhar com plenos direitos durante
nopólio da interpretação da realidade social os anos de actividade e ter acesso a uma dig‑
e da proposta de soluções para os problemas na aposentação na velhice. É uma economia
contemporâneos. Atrever-me-ia a dizer que onde o ser humano, em harmonia com a na‑
não existe uma receita. A história é construída tureza, estrutura todo o sistema de produção
pelas gerações que se vão sucedendo no hori‑ e distribuição de tal modo que as capacida‑
zonte de povos que avançam individuando o des e necessidades de cada um encontrem
próprio caminho e respeitando os valores que um apoio adequado no ser social. Vós — e
Deus colocou no coração. outros povos também — resumis este anseio
Gostaria, no entanto, de vos propor três gran‑ duma maneira simples e bela: “viver bem”.
des tarefas que requerem a decisiva contribui‑
ção do conjunto dos movimentos populares: Esta economia é não apenas desejável e ne‑
cessária, mas também possível. Não é uma
3.1 A primeira tarefa é pôr a economia ao ser‑ utopia, nem uma fantasia. É uma perspectiva
viço dos povos. extremamente realista. Podemos consegui-la.
Os seres humanos e a natureza não devem Os recursos disponíveis no mundo, fruto do tra‑
estar ao serviço do dinheiro. Digamos NÃO a balho intergeneracional dos povos e dos dons
uma economia de exclusão e desigualdade, da criação, são mais que suficientes para o de‑
onde o dinheiro reina em vez de servir. Esta senvolvimento integral de “todos os homens e
Walter Barretto Jr.

do homem todo”.[2] Mas o problema é outro. outras formas de organização comunitária,


Existe um sistema com outros objectivos. Um conseguiram criar trabalho onde só havia
sistema que, apesar de acelerar irresponsa‑ sobras da economia idólatra. As empresas re‑
velmente os ritmos da produção, apesar de cuperadas, as feiras francas e as cooperativas
implementar métodos na indústria e na agri‑ de catadores de papelão são exemplos desta
cultura que sacrificam a Mãe Terra na ara da economia popular que surge da exclusão e
“produtividade”, continua a negar a milhares que pouco a pouco, com esforço e paciência,
de milhões de irmãos os mais elementares adopta formas solidárias que a dignificam.
direitos económicos, sociais e culturais. Este Quão diferente é isto do facto de os descar‑
sistema atenta contra o projecto de Jesus. tados pelo mercado formal serem explorados
como escravos!
A justa distribuição dos frutos da terra e do
trabalho humano não é mera filantropia. É Os governos que assumem como própria a
um dever moral. Para os cristãos, o encargo é tarefa de colocar a economia ao serviço das
ainda mais forte: é um mandamento. Trata- pessoas devem promover o fortalecimento,
se de devolver aos pobres e às pessoas o que melhoria, coordenação e expansão destas
lhes pertence. O destino universal dos bens formas de economia popular e produção co‑
não é um adorno retórico da doutrina social munitária. Isto implica melhorar os processos
da Igreja. É uma realidade anterior à pro‑ de trabalho, prover de adequadas infra-es‑
priedade privada. A propriedade, sobretudo truturas e garantir plenos direitos aos traba‑
quando afecta os recursos naturais, deve es‑ lhadores deste sector alternativo. Quando
tar sempre em função das necessidades das Estado e organizações sociais assumem,
pessoas. E estas necessidades não se limitam juntos, a missão dos “3 T”, activam-se os prin‑
ao consumo. Não basta deixar cair algumas cípios de solidariedade e subsidiariedade que
gotas, quando os pobres agitam este copo permitem construir o bem comum numa de‑
que, por si só, nunca derrama. Os planos de mocracia plena e participativa.
assistência que acodem a certas emergências
3.2 A segunda tarefa é unir os nossos povos
deveriam ser pensados apenas como respos‑
no caminho da paz e da justiça.
tas transitórias. Nunca poderão substituir
a verdadeira inclusão: a inclusão que dá o Os povos do mundo querem ser artífices do
trabalho digno, livre, criativo, participativo e seu próprio destino. Querem caminhar em
solidário. paz para a justiça. Não querem tutelas nem
interferências, onde o mais forte subordina o
Neste caminho, os movimentos populares
mais fraco. Querem que a sua cultura, o seu
têm um papel essencial, não apenas exigin‑
idioma, os seus processos sociais e tradições
do e reclamando, mas fundamentalmente
religiosas sejam respeitados. Nenhum poder
criando. Vós sois poetas sociais: criadores de
efectivamente constituído tem direito de pri‑
trabalho, construtores de casas, produtores
var os países pobres do pleno exercício da sua
de alimentos, sobretudo para os descartados
soberania e, quando o fazem, vemos novas
pelo mercado global.
formas de colonialismo que afectam seria‑
Conheci de perto várias experiências, onde mente as possibilidades de paz e justiça, por‑
os trabalhadores, unidos em cooperativas e que “a paz funda-se não só no respeito pelos

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O Fim do Dinheiro

direitos do homem, mas também no respeito vez mais impotentes para levar adiante pro‑
pelo direito dos povos, sobretudo o direito à jetos de desenvolvimento a serviço de suas
independência”.[3] populações”.[4] Noutras ocasiões, sob o
nobre disfarce da luta contra a corrupção, o
Os povos da América Latina alcançaram, com
narcotráfico ou o terrorismo — graves males
um parto doloroso, a sua independência po‑
dos nossos tempos que requerem uma ac‑
lítica e, desde então, viveram já quase dois
ção internacional coordenada — vemos que
séculos duma história dramática e cheia de
se impõem aos Estados medidas que pouco
contradições procurando conquistar uma in‑
têm a ver com a resolução de tais problemá‑
dependência plena.
ticas e muitas vezes tornam as coisas piores.
Nos últimos anos, depois de tantos mal-en‑
tendidos, muitos países latino-americanos Da mesma forma, a concentração mono‑
viram crescer a fraternidade entre os seus po‑ polista dos meios de comunicação social
vos. Os governos da região juntaram seus es‑ que pretende impor padrões alienantes
forços para fazer respeitar a sua soberania, a de consumo e certa uniformidade cultu‑
de cada país e a da região como um todo que, ral é outra das formas que adopta o novo
de forma muito bela como faziam os nossos colonialismo. É o colonialismo ideológico.
antepassados, chamam a “Pátria Grande”. Como dizem os bispos da África, muitas
Peço-vos, irmãos e irmãs dos movimentos vezes pretende-se converter os países po‑
populares, que cuidem e façam crescer esta bres em “peças de um mecanismo, partes
unidade. É necessário manter a unidade con‑ de uma engrenagem gigante”.[5]
tra toda a tentativa de divisão, para que a Temos de reconhecer que nenhum dos graves
região cresça em paz e justiça. problemas da humanidade pode ser resolvi‑
Apesar destes avanços, ainda subsistem do sem a interacção dos Estados e dos povos
factores que atentam contra este desen‑ a nível internacional. Qualquer acto de en‑
volvimento humano equitativo e coarctam vergadura realizado numa parte do Planeta
a soberania dos países da «Pátria Grande» repercute-se no todo em termos económicos,
e doutras latitudes do Planeta. O novo co‑ ecológicos, sociais e culturais. Até o crime e a
lonialismo assume variadas fisionomias. Às violência se globalizaram. Por isso, nenhum
vezes, é o poder anónimo do ídolo dinhei‑ governo pode actuar à margem duma respon‑
ro: corporações, credores, alguns tratados sabilidade comum. Se queremos realmente
denominados “de livre comércio” e a im‑ uma mudança positiva, temos de assumir
posição de medidas de “austeridade” que humildemente a nossa interdependência.
sempre apertam o cinto dos trabalhadores Mas interacção não é sinónimo de imposição,
e dos pobres. Os bispos latino-americanos não é subordinação de uns em função dos
denunciam-no muito claramente, no docu‑ interesses dos outros. O colonialismo, novo e
mento de Aparecida, quando afirmam que velho, que reduz os países pobres a meros for‑
“as instituições financeiras e as empresas necedores de matérias-primas e mão de obra
transnacionais se fortalecem ao ponto de barata, gera violência, miséria, emigrações
subordinar as economias locais, sobretudo forçadas e todos os males que vêm juntos...
debilitando os Estados, que aparecem cada precisamente porque, ao pôr a periferia em
Walter Barretto Jr.

função do centro, nega-lhes o direito a um países, se empenham por apagar, talvez por‑
desenvolvimento integral. Isto é desigualda‑ que a nossa fé é revolucionária, porque a nos‑
de, e a desigualdade gera violência que ne‑ sa fé desafia a tirania do ídolo dinheiro. Hoje
nhum recurso policial, militar ou dos serviços vemos, com horror, como no Médio Oriente e
secretos será capaz de deter. noutros lugares do mundo se persegue, tortu‑
ra, assassina a muitos irmãos nossos pela sua
Digamos NÃO às velhas e novas formas de
fé em Jesus. Isto também devemos denun‑
colonialismo. Digamos SIM ao encontro entre
ciá-lo: dentro desta terceira guerra mundial
povos e culturas. Bem-aventurados os que
em parcelas que vivemos, há uma espécie de
trabalham pela paz.
genocídio em curso que deve cessar.
Aqui quero deter-me num tema importan‑
Aos irmãos e irmãs do movimento indígena
te. É que alguém poderá, com direito, dizer:
latino-americano, deixem-me expressar a
“Quando o Papa fala de colonialismo, es‑
minha mais profunda estima e felicitá-los por
quece-se de certas acções da Igreja”. Com
procurarem a conjugação dos seus povos e
pesar, vo-lo digo: Cometeram-se muitos e
culturas segundo uma forma de convivência,
graves pecados contra os povos nativos da
a que eu chamo poliédrica, onde as partes
América, em nome de Deus. Reconheceram-
conservam a sua identidade construindo, jun‑
no os meus antecessores, afirmou-o o CELAM
tas, uma pluralidade que não atenta contra
e quero reafirmá-lo eu também. Como São
a unidade, mas fortalece-a. A sua procura
João Paulo II, peço que a Igreja “se ajoelhe
desta interculturalidade que conjuga a reafir‑
diante de Deus e implore o perdão para os
mação dos direitos dos povos nativos com o
pecados passados e presentes dos seus fi‑
respeito à integridade territorial dos Estados
lhos”.[6] E eu quero dizer-vos, quero ser muito
enriquece-nos e fortalece-nos a todos.
claro, como foi São João Paulo II: Peço humil‑
demente perdão, não só para as ofensas da 3.3 A terceira tarefa, e talvez a mais impor‑
própria Igreja, mas também para os crimes tante que devemos assumir hoje, é defender
contra os povos nativos durante a chamada a Mãe Terra.
conquista da América.
A casa comum de todos nós está a ser sa‑
Peço-vos também a todos, crentes e não queada, devastada, vexada impunemente. A
crentes, que se recordem de tantos bispos, covardia em defendê-la é um pecado grave.
sacerdotes e leigos que pregaram e pregam a Vemos, com crescente decepção, sucederem‑
boa nova de Jesus com coragem e mansidão, -se uma após outra cimeiras internacionais
respeito e em paz; que, na sua passagem por sem qualquer resultado importante. Existe
esta vida, deixaram impressionantes obras um claro, definitivo e inadiável imperativo éti‑
de promoção humana e de amor, pondo-se co de actuar que não está a ser cumprido. Não
muitas vezes ao lado dos povos indígenas se pode permitir que certos interesses — que
ou acompanhando os próprios movimentos são globais, mas não universais — se impo‑
populares mesmo até ao martírio. A Igreja, os nham, submetendo Estados e organismos in‑
seus filhos e filhas, fazem parte da identida‑ ternacionais, e continuem a destruir a criação.
de dos povos na América Latina. Identidade Os povos e os seus movimentos são chama‑
que alguns poderes, tanto aqui como noutros dos a clamar, mobilizar-se, exigir — pacífica

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O Fim do Dinheiro

mas tenazmente — a adopção urgente de camponês sem terra, nenhum trabalhador


medidas apropriadas. Peço-vos, em nome de sem direitos, nenhum povo sem soberania,
Deus, que defendais a Mãe Terra. Sobre este nenhuma pessoa sem dignidade, nenhuma
assunto, expressei-me devidamente na carta criança sem infância, nenhum jovem sem
encíclica Laudato si. possibilidades, nenhum idoso sem uma ve‑
4. Para concluir, quero dizer-lhes novamen‑ neranda velhice. Continuai com a vossa luta
te: O futuro da humanidade não está unica‑ e, por favor, cuidai bem da Mãe Terra. Rezo
mente nas mãos dos grandes dirigentes, das por vós, rezo convosco e quero pedir a nosso
grandes potências e das elites. Está funda‑ Pai Deus que vos acompanhe e abençoe, que
mentalmente nas mãos dos povos; na sua vos cumule do seu amor e defenda no cami‑
capacidade de se organizarem e também nho concedendo-vos, em abundância, aquela
nas suas mãos que regem, com humildade e força que nos mantém de pé: esta força é a
convicção, este processo de mudança. Estou esperança, a esperança que não decepciona.
convosco. Digamos juntos do fundo do co‑ Obrigado! E peço-vos, por favor, que rezeis
ração: nenhuma família sem tecto, nenhum por mim.

[1] JOÃO XXIII, Carta enc. Mater et Magistra (15 de Maio de 1961), 3: AAS 53 (1961), 402.

[2] PAULO VI, Carta enc. Popolorum progressio, 14.

[3] PONTIFÍCIO CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ”, Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 157.

[4] V CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO CARIBE (2007), Documento de Aparecida, 66.

[5] JOÃO PAULO II, Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Africa (14 de Setembro de 1995), 52: AAS 88 (1996), 32-33. Cf. IDEM,
Carta enc. Sollicitudo rei socialis (30 de Dezembro de 1987), 22: AAS 80 (1988), 539.

[6] JOÃO PAULO II, Bula Incarnationis mysterium, 11.


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Walter Barretto Jr.
Brasileiro, nasceu em 1966, formado em arquitetura e urbanismo e empresário.

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