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ISSN 1978-5134
Os números alarmantes de O papa reacende
intoxicação por agrotóxico Pág. 6 a fé em Cuba Pág. 15
Ademar Bogo Luiz Ricardo Leitão Marcelo Barros
editorial
Enraivar o cão
-se com uma facção criminosa e vive secretamente em uma cobertu-
ra de luxo. Para desqualificá-lo ainda mais, o autor o faz zombar dos
militantes sociais, com direito até a uma cena de escracho da Anistia
Internacional.
É claro que o PSOL se incomodou com o veneno destilado pela
KARL MARX PARTIU do enten-
dimento de que a sociedade capi-
O mercado não No Brasil, os equívocos alia-
ram-se aos desvios e levaram ao
produção e emitiu uma nota a respeito, à qual a direção da emisso-
ra respondeu afirmando que tudo não passa de ficção... Será que os
talista funciona com dois mundos
superpostos, o dos homens e o das
pode ser visto como comportamento passivo das for-
ças que deveriam aproveitar o
demiurgos da Vênus Platinada são assim tão inocentes ou tudo não
passa do velho filme rebobinado a que assistimos desde a década de
mercadorias. Daí então, quando o
mundo das mercadorias se desen-
o instrumento momento para impulsionar o as-
salto ao mundo das mercadorias
1980, após o fim da ditadura em cujas tetas a família Marinho ma-
mou por duas décadas?
tende, o mundo dos homens se de- para alcançar a para construírem outra forma de
sintegra. poder político. No entanto, essas
A interação entre as diferen- igualdade social, forças estão aliadas com aqueles Na geleia geral global, pelo visto, a
tes crises atuais põem às claras os que perderam a base social, mo-
equívocos dos devotos do desen- nem tampouco os ral e política, e por isso, apanham ficção e a realidade andam de mãos
volvimentismo que entregaram ao junto. Satisfazem-se em defen-
mercado a responsabilidade de fa- direitos podem ser der um projeto que os distancia dadas na sagrada missão de criar
zer a promoção da igualdade so- cada vez mais da responsabilida-
cial; deu aos que tinham o poder alcançados pelo de de cumprir o verdadeiro papel perversas máscaras sociais
de comprar, a ampliação dessa sa- na história, que é o de desfazer o
tisfação e, aos que não tinham, valor de troca. mundo das mercadorias para que
bolsas e créditos subsidiados para não gere mais crises.
que pudessem experimentar uma Cão que mostra os O pior é que, para justificar os Os leitores mais calejados decerto hão de se lembrar de “Vale Tu-
sensação temporária de acesso ao ataques, os atacados, disparam do”, novela de 1988-1989, cuja trama se atinha à “inversão de valo-
mundo das mercadorias. dentes, ninguém que, “ninguém chuta cachorro res no Brasil do final dos anos de 1980”, tematizando a falta de éti-
Mas o mercado não pode ser um morto”. É verdade, quem chutaria ca e a corrupção no país (caiu a ficha?) por meio do confronto entre
justiceiro social. As suas leis são chuta, e se chuta, alguém que já passou para o mun- a honesta Raquel (Regina Duarte) e Maria de Fátima (Glória Pires),
leis do mundo das coisas que se do dos mortos? Mas também nin- sua filha vigarista. O tom moralizante da dramaturgia, às vésperas da
tornam incontroláveis pelos ho- terá a punição que guém chuta um cachorro enraive- primeira eleição direta pós-ditadura, era um preâmbulo magnífico
mens quando as mercadorias pas-
sam a não ter mais o poder de mo- merece cido. Qual é então o cachorro que
se “chuta”? Aquele que está deita-
para a vitoriosa campanha de Collor de Melo, o fantástico “caçador
de marajás” criado (e desconstruído) pela própria TV Globo.
vimentar as pessoas a seu favor. do. É este que a burguesia e seus E o que dizer da saga de Sassá Mutema, o personagem interpreta-
Daí surgem as crises que afetam aliados estão chutando. Este cão do por Lima Duarte em “O Salvador da Pátria”, também em 1989?
diretamente o mundo dos homens está deitado sob o banco do gover- Muitos talvez nem se lembrem, mas o tosco “caipira” que viria a se
e as ondas de satisfação, conver- no sobre o qual a burguesia está eleger presidente era uma caricatura enviesada de Lula (antes da
tem-se em ondas de reação e pro- sentada e que, na próxima reforma versão Paz & Amor). Desprovido de qualquer formação escolar e sem
testos contra as cores, as siglas, in- ministerial, a presidenta Dilma se- prévia atuação político-administrativa, ele servia como uma adver-
divíduos, governantes etc., como rá empurrada para a ponta. Fica- tência explícita da ficção sobre os riscos catastróficos de uma experi-
se todos fossem culpados pelas de- rá ainda sentada, mas já com uma ência mais “popular” de governo no país dos pactos oligárquicos e da
savenças criadas no mundo das nádega de fora. “modernização conservadora”.
mercadorias. É preciso enraivar o cão ador- Por fim, vale lembrar o caso emblemático de “O Rei do Gado”
Nas crises, os governantes per- em sua crise pelo baixo rendimen- mecido sob o banco do governo e (1996-97), em que o MST, execrado no “Jornal Nacional”, ocupava
dem bases em três sentidos: mo- to das mercadorias. fazê-lo voltar para o lugar das lu- pela primeira vez as telinhas de Bruzundanga. A presença do movi-
ral, político e social, porque pro- As crises também enfraque- tas sociais. O mercado não po- mento na cena ficcional tem um quê de escárnio: uma de suas líde-
curam salvar a pele fazendo cor- cem as forças produtivas e as re- de ser visto como o instrumento res, a camponesa Luana (Patrícia Pillar), apaixona-se pelo fazendei-
tes nos recursos que asseguram os lações sociais de produção pondo para alcançar a igualdade social, ro Bruno Metzenga (Antônio Fagundes), um latifundiário tão “gene-
direitos no mundo dos homens, em desvantagem a revolução tec- nem tampouco os direitos podem roso” que é capaz de oferecer um churrasco aos lavradores que ocu-
como por exemplo, na educação, nológica do mundo das mercado- ser alcançados pelo valor de tro- pam suas terras. Assim, ela deixa o movimento e, depois de superar
saúde e moradia. Mas nada cor- rias, mas abre oportunidades para ca. Cão que mostra os dentes, nin- as barreiras típicas de um melodrama, casa-se com Bruno... Final fe-
tam no mundo das mercadorias; as forças revolucionárias, no mun- guém chuta, e se chuta, terá a pu- liz? Na geleia geral global, pelo visto, a ficção e a realidade andam de
de lá aguardam as soluções. Então, do dos homens. É verdade, não em nição que merece. mãos dadas na sagrada missão de criar perversas máscaras sociais.
as dívidas públicas de natureza so- todos os lugares, principalmen-
cial deixam de ser pagas, tendo em te onde os equívocos tornaram- Ademar Bogo é filósofo e escritor, Luiz Ricardo Leitão é doutor em Estudos Literários (Universidade de La Ha-
vista que há de se pagar a dívida -se princípios e os desvios, virtu- autor do livro, A linguagem das mer- bana) e professor associado da UERJ, é o autor de Noel Rosa: Poeta da Vi-
pública com o capital, penalizado des morais. cadorias em Marx. la, Cronista do Brasil e ¿Adónde va la telenovela brasileña? (Cuba, 2001).
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de 1º a 7 de outubro de 2015 3
A arte de envelhecer
A ONU CONSAGRA o 1º de outubro como dia internacio-
nal de proteção às pessoas idosas. No Brasil, nessa data, em
2003, foi assinado o Estatuto do Idoso. Nesse mesmo ano, a
CNBB começou a Pastoral das Pessoas Idosas, com o objeti-
vo de assegurar a dignidade e a valorização integral dos ido-
sos na sociedade.
No mundo atual, um número sempre maior de pessoas
atinge idades que, em outros tempos, poucos conseguiam al-
cançar. O desafio é lhes proporcionar uma vida o mais pos-
sível ativa e integrada no conjunto da sociedade. Na socie-
dade atual, apesar do envelhecimento da população, a socie-
dade é pensada para a juventude. Como os mais velhos não
produzem mais, perdem sua importância social. Parece que
só a juventude importa. As pessoas fazem cirurgia plástica e
malhação para se manter sempre jovens. Envelhecer se tor-
na mais doloroso e difícil. No Brasil, são 22 milhões de pes-
soas que passam dos 65 anos. Isso exige aumento de assis-
tência e médicos especializados. Uma senhora de mais de 90
anos afirmava à sua filha: “Agora, está muito difícil morrer”.
Em muitas cidades, existem associações da terceira idade
que promovem encontros, lazer, danças e até passeios. Para
elas, as universidades têm programas de extensão universitá-
ria e atividades como cursos de computação, ginástica, nata-
ção, música, dança e outras artes.
Às pessoas idosas e a toda sociedade, essas organizações
propõem fazer as coisas com calma no lugar da agitação.
Sugerem a disponibilidade no lugar do estresse. Valorizam
mais a identidade do que só a função; a qualidade e não so-
mente a quantidade. Trata-se, finalmente, de viver a graça
do dia de hoje mais do que o afã da permanente projeção pa-
ra o amanhã.
Em qualquer cultura, para toda pessoa, envelhecer é sem-
pre um processo difícil e exigente. Não é fácil ver o corpo ir
progressivamente decaindo e manter o espírito jovial. Enve-
lhecer fisicamente é um processo inexorável e ninguém pode
mudar isso. Não depende da vontade da pessoa. No entanto,
podemos fazer escolhas que nos permitam envelhecer de for-
ma mais humanizada e humanizadora.
Ninguém sabe ainda a causa biológica do envelhecimento,
Igor Fuser nem se pode, até agora, deter ou evitar esse fenômeno. Clineu
de Melo, médico especialista em geriatria da USP, afirmou:
“O envelhecimento é a perda gradativa das reservas que to-
É hora de ir às ruas
o processo do envelhecimento depende da saúde, do clima e
mesmo da raça a qual pertencemos, mas depende também do
temperamento e estilo de vida. Por isso, podemos dizer que
até certo ponto a espiritualidade, isso é, a energia do espírito
em ação na pessoa, pode ter aí uma boa influência. A primeira
POUCO A POUCO A SITUAÇÃO no país vai se configu- Diariamente, nos dizem que o remédio para sair da coisa que as tradições espirituais propõem é manter sempre
rando da forma como os que perderam a eleição pre- crise deve ser os cortes nos investimentos sociais, a re- um projeto de vida profundo e de acordo com o projeto divino
sidencial planejaram. Ou seja, dia após dia, o proje- tirada dos direitos trabalhistas, pois pesam na folha de para o mundo e a comunidade a qual pertencemos.
to derrotado na eleição passada vai ganhando corpo e pagamento das empresas, privatização de empresas co- No começo dos anos de 1990, no Recife, Dom Hélder Câ-
seus operadores vão se fortalecendo nas esferas do po- mo a Petrobras, os Correios, etc. É a receita neoliberal. mara, com seus quase 90 anos, recebeu a visita do Abbé
der ditando as regras, mudando as leis e aplicando seus A classe trabalhadora não vai aceitar passivamente a Pierre, fundador de uma associação que trabalha com sofre-
planos. volta de um projeto que penaliza cada vez mais os po- dores de rua. Os dois anciãos conversaram durante horas.
A grande maioria que votou pela continuidade de um bres. Não se pode aceitar essa política econômica na qual Depois, um jornalista perguntou: - Como vocês se sentem
projeto ganhou, mas não levou. Esse projeto vinha dan- quem paga a conta da crise são os que ganham menos. ao perceber que, depois de consagrarem toda a vida à liber-
do certo, com desemprego baixo, aumento real do salá- É hora de resistir, de demonstrar descontentamento e tação dos pobres do mundo, conseguiram tão pouco? Dom
rio mínimo, aumento do poder de compra, programas de exigir que o governo cumpra o projeto para o qual foi Helder falou: - Ficamos felizes de ter conseguido ao menos
sociais inclusivos, mas também exigia avanços com pro- eleito. É hora de ir às ruas. É hora de pressionar por mu- esse pouco e nos comprometemos em dar até o nosso último
jetos estruturais. danças estruturais, é hora de retomar o diálogo com o suspiro por essa causa na qual acreditamos e pela qual que-
O que vemos é um governo acuado, perdendo cada vez povo para fortalecer essa luta. remos dar a vida.
mais base de sustentação e apoios. Um governo chanta- Nos dias 2 e 3 de outubro, haverá mobilizações em to-
geado por um parlamento corrupto, por uma burguesia do o país levantando essa bandeira por uma nova polí- Marcelo Barros é monge beneditino e teólogo. Atualmente,
sedenta de lucros estratosféricos e por um conjunto de tica econômica e para que os ricos paguem pela crise. é coordenador latino-americano da Associação Ecumênica de
ações articuladas por esses setores que têm como prin- Ocorrerão várias atividades de rua ao longo desses dias. Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT) e assessora comunidades
cipal porta-voz os meios de comunicações empresariais. Participe! eclesiais de base e movimentos sociais.
fatos em foco
da Redação
Aumenta número de 120 dias para que todos os órgãos façam a também abono de R$ 2.500. Os bancá- que representa os funcionários, 15 milhões
sem-teto em Los Angeles regulamentação. O Conselho Curador do rios farão assembleias em todo o país na de pessoas deixaram de ser atendidas nesse
A cidade norte-americana declarou, dia FGTS publicou, dia 25, a resolução Nº 780, próxima quinta (1º). O comando prevê a período de paralisação. Ainda vai ser defini-
22 de setembro, estado de emergência em que define a obrigatoriedade do recolhimen- deflagração de greve a partir do dia 6 se do – com o governo e com os grevistas – se
razão da “invasão” de acampamentos de to do FGTS e determina que a Caixa defina não houver alteração na proposta. O lucro haverá plantão para repor o tempo parado.
moradores de rua, que ocupam desde pas- os procedimentos operacionais. Cabe ao líquido dos cinco maiores bancos (Banco A categoria dos peritos continua em greve
sagens debaixo de rodovias até calçadas de empregador fazer o pedido de inclusão do do Brasil, Caixa Federal, Bradesco, Itaú e em todo o país. A paralisação começou dia
bairros chiques. Los Angeles é a primeira empregado doméstico, sob sua responsabili- Santander), nos seis primeiros meses do 4 de setembro e segundo a Associação Na-
no país a dar um passo drástico frente ao dade. Os valores referentes a outubro devem ano, atingiu a marca de R$ 36,3 bilhões, cional dos Médicos Peritos em Previdência
problema, que só vem aumentando desde a ser depositados a partir de novembro. um crescimento de 27,3% na comparação Social, ainda não há previsão de fim do mo-
crise de 2008. Fala-se em 26 mil moradores com o primeiro semestre de 2014. vimento. (Agência Sindical)
de rua na cidade. (Agência Sindical) Com proposta de 5,5%, bancários
indicam greve para dia 6 Servidores do INSS encerram greve Mais de 24% da juventude
Empregados domésticos passam O Comando Nacional dos Bancários em todo o país está sem emprego na França
a ter direito ao FGTS em outubro considera que a proposta feita hoje pe- Após 78 dias, a greve dos servidores do A França, segunda maior potência da zona
O Fundo de Garantia do Tempo de Ser- la federação dos bancos, a Fenaban, de Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) do euro, continuou com a sua economia estag-
viço (FGTS) passa a ser obrigatório a partir 5,5% de reajuste, deve ser rejeitada pela foi encerrada dia 25 de setembro. O aten- nada no segundo trimestre, com a população
de 1º de outubro a todos os trabalhadores categoria. Segundo os representantes dimento deve ser normalizado em todo o amargando altos índices de desemprego e pre-
domésticos. O direito aos domésticos foi dos bancários nas negociações, a oferta país. Os servidores aceitaram a proposta carização das condições de trabalho e de vida.
regulamentado pela Lei Complementar 150, patronal “não chega perto de repor a in- de aumento do governo: 10,8%. Uma parte A taxa de desemprego no país está em 10,4%,
sancionada pela presidenta Dilma Rousseff flação de 9,88%, e representaria perdas de será paga em agosto do ano que vem e ou- alcançando os 24,1% para os jovens com me-
em 2 de junho desse ano, e deu prazo até 4% para os bancários”. A proposta prevê tra em janeiro de 2017. Segundo o Sindicato nos de 25 anos. (Agência Sindical)
4 de 1º a 7 de outubro de 2015 brasil 5
“Discutir o fechamento de escola passa por discutir o próprio projeto de campo” Karina Zambrana/SGEPMS
ENTREVISTA grandes elementos desse novo governo.
Para Alessandro Mariano,
Hoje a gente está pleiteando a constru- SEMINÁRIO
ção de 100 centros de educação infantil Leonardo Severo
Paulo H. Carvalho/MDA
Cátia Guimarães esse espaço difusor de cultura, que vai pamentos de reforma agrária, ao ensi-
de Brasília (DF) para além do conhecimento sistemati- no superior. Hoje, da população jovem
A crescente
O professor João Antonio Felicio, da CSI, falou sobre o avanço do capital estrangeiro
camente elaborado a partir dos conte- que se vincula à reforma agrária, ape-
DURANTE CINCO dias, mais de 1.500 údos. nas 1% tem conseguido acessar a uni-
educadoras e educadores ligados ao versidade. O que a gente tem indicado
Movimento dos Trabalhadores Rurais O fechamento de escolas atende a como uma reivindicação é que o MEC
desnacionalização do ensino
Sem Terra (MST), pesquisadores e pro- que interesses e a que projeto de se coloque como um parceiro do MDA
fessores convidados se reuniram entre campo? e do INCRA no fortalecimento do Pro-
os dias 21 e 25 de setembro, no II En- Hoje, nós vivenciamos no Brasil uma nera e que isso chegue ao conjunto das
contro Nacional de Educadoras e Edu- crise financeira e política. E a principal universidades públicas do Brasil, que
cadores da Reforma Agrária, em Luzi- resposta assumida pelas forças que es- se coloque como uma política de forma
ânia (GO), para compartilhar experiên- tão na nossa sociedade é esse modelo mais efetiva. E o oitavo ponto é um pro-
cias sobre a educação no campo, apon- que a gente chama de agronegócio, um grama de capacitação profissional pa- EDUCAÇÃO monia econômica e política, deixando o 200 mil alunos no país. Em outubro do
tar desafios e perspectivas, e, acima de modelo composto pelas grandes mul- ra os assentamentos de reforma agrá- país refém dos seus interesses”. mesmo ano, o Grupo Anima, formado
tudo, lutar. tinacionais do agronegócio – Monsan- ria que esteja de acordo com a realidade Seminário da Contee João Felicio também alertou para o pelo Centro Universitário de Belo Hori-
Foi para denunciar o fechamento de to, Cargyl, Syngenta —, que produzem e as especificidades presentes em cada alerta para mercantilização fim da liberdade de cátedra através da zonte (UNIBH) e a UNA, da capital mi-
mais de 4 mil escolas rurais só em 2014 as sementes e dominam toda a comer- realidade do país e que também se vin- “padronização” imposta pelas insti- neira, a Unimonte de Santos e o fun-
e cobrar compromisso do governo fe- cialização dos produtos do setor agríco- cule às instituições públicas de ensino. que avança com recursos tuições mercantis, “sem relação com a do de Investimento BR Educacional, na
deral com uma educação de qualidade la. Isso se coloca como a grande saída Não queremos a forma do próprio Pro- nossa concepção cultural, geográfica ou sua oferta pública inicial de ações (IPO)
também para quem mora nas cidades da crise. No Plano Safra 2015, o agrone- natec Campo, que coloca o Sistema S públicos do FIES e do histórica, pois suas necessidades são na Bolsa de Valores, captou R$ 468,1
que os educadores ocuparam as aveni- gócio ganhou R$ 180 milhões enquan- como seu principal parceiro. Nós que- tão somente a de gestão da empresa, milhões para expansão de suas ativida-
das de Brasília em uma marcha e tam- to a agricultura camponesa familiar re- remos que, de fato, tentemos um pro-
ProUni, denunciam a maximização dos lucros com mão de des. Em 11 de abril de 2014, o mesmo
bém os ministérios da Educação e da cebeu, na política geral, R$ 28 milhões grama de capacitação profissional, mas professores obra barata, anulando o papel do cida- Grupo Anima adquiriu uma tradicional
Agricultura. Neste último, a parada foi do Estado. Mas se pegarmos os planos que seja vinculado às instituições públi- dão”. “Qualquer professor que expres- instituição educacional da capital pau-
também para protestar contra a estag- Safra anteriores, vemos que o acesso da cas e às demandas e necessidades pos- se uma concepção diferente desta ficará lista, Universidade São Judas Tadeu,
nação da reforma agrária no país e uma Evento reuniu 1.500 educadoras e educadores para compartilhar experiências sobre a educação no campo agricultura camponesa a esses recursos tas aí pelos movimentos sociais, as en- muito pouco tempo nestas instituições, com 25,8 mil alunos em 35 cursos, por
série de políticas que ameaçam os tra- é ainda menor pela condição burocrá- tidades de trabalhadores que se vincu- Leonardo Wexell Severo será dispensado”, enfatizou. R$320 milhões.
balhadores e trabalhadoras do campo e pria comunidade ache que não tem fô- “No Paraná, que é de onde eu venho, tica. Porque o camponês não tem a es- lam aos trabalhadores do campo. Então de São Paulo (SP) O professor Celso Napolitano, presi-
toda a sociedade brasileira, como a uti- lego para manter a escola no campo. Se trutura que as grandes empresas e co- esses oito pontos se colocam como uma dente do Departamento Intersindical de Sistema perverso
lização de agrotóxicos. você fecha uma turma de primeiro ano não houve fechamento de escola, mas operativas do agronegócio têm. Então, pauta de reivindicação. A divulgação “ESTAMOS DIANTE de uma crescente Assessoria Parlamentar (DIAP), denun- Para Lucas da Silva Tasquetto, pes-
Nesta entrevista, Alessandro Maria- de ensino médio, isso significa que no a estratégia posta é o fechamento das nem esse valor tão menor a gente con- pelo MEC desse Grupo de Trabalho da desnacionalização do ensino, uma mer- ciou que “com o FIES, as grandes corpo- quisador de pós-doutorado pela UFR-
no, do setor de educação do MST, de- ano seguinte também não vai ter um se- segue acessar. Essa é uma estrutura da Educação do Campo é importante, mas cantilização que avança em nosso país rações trocaram receitas duvidosas por GS e professor do curso de Relações
talha as dificuldades pelas quais pas- gundo ano. A curto prazo a comunida- turmas, o desaquecimento dessa escola política agrícola no Brasil que vai deter- só isso não resolve. Nós temos que ter, com recursos públicos do FIES (Fun- certas, um capitalismo sem risco, com Internacionais da Pontifícia Universi-
sam atualmente os estudantes campo- de não consegue identificar isso, mas a minar a expulsão dos camponeses, po- de fato, ações concretas e estruturantes. do de Financiamento Estudantil) e do aluno cativo e dinheiro do Tesouro Na- dade Católica de São Paulo (PUC-SP),
neses em todo o Brasil e como o mode- médio prazo, daqui a três anos, significa para que daqui a pouco a própria vos indígenas e quilombolas do campo e ProUni (Programa Universidade para cional”. Citando a entrevista do reitor nem foi preciso o Brasil ser signatário
lo de agricultura baseado no agronegó- que a escola não tem mais fôlego. comunidade ache que não tem fôlego vai efetivamente implicar o fechamento Todos). Nesta disputa entre o público da Universidade Federal do Rio, Rober- de acordos de livre comércio para que
cio é insustentável. das escolas. É esse processo que a gente “A escola tem um papel central no e o privado o problema não está só no to Leher, Celso lembrou que com a aqui- o capital estrangeiro pintasse e bor-
Quando as escolas são fechadas, para manter a escola no campo” está denunciando e enfrentando. Mas, financiamento, mas no conteúdo ideo- sição da Anhanguera pelo grupo inter- dasse, tanto na aquisição de empresas
Por que priorizar o tema do para onde vai a população que ao mesmo tempo, a gente — como MST, sentido de fortalecer a luta dessas lógico que passa a ser repassado”, afir- nacional Kroton, o conglomerado pas- quanto na negociação da bolsa de valo-
fechamento das escolas do depende de uma escola próxima? como movimento social e até como lu- mou a professora Fátima Silva, dirigen- sou a contar com 1,2 milhão de estudan- res. “Temos um sistema lucrativo priva-
campo durante o 2º Enera? Esse A saída posta é o transporte rural, o ta indígena — é a resistência no campo.
comunidades, ao mesmo tempo que vai te da Confederação Nacional dos Traba- tes, “passando a ser maior do que todas do de massa extremamente perverso”,
processo está se intensificando? transporte escolar. O Paraná, por exem- damental, que é possibilitar ao jovem, Fazemos ocupação de terras e, se a gen- construir a possibilidade de acesso ao lhadores em Estabelecimentos de Ensi- as universidades federais juntas”. disse Tasquetto, defendendo uma ação
Alessandro Mariano – O Enera se plo, gasta R$ 80 milhões por ano com à criança e até ao adulto que não pode te pega a realidade do Mato Grosso, por no (Contee), no seminário internacio- governamental mais firme para frear o
expressa como um momento impor- transporte rural. O que isso implica efe- frequentar a escola numa idade deter- exemplo — onde os indígenas têm se co- conhecimento e fortalecimento da luta” nal “Os diferentes modos de privatiza- descontrole.
tante de denúncia e enfrentamento. A tivamente nos municípios? É a velha minada, um espaço de acesso ao conhe- locado no enfrentamento do agronegó- ção da educação no mundo e as estra- “Qualquer professor que Na avaliação de Lalo Watanabe Min-
partir do congresso do MST, quando permuta. Por que quem é o empresário cimento. Por isso denunciamos a im- cio no cerrado, que hoje é o grande es- tégias globais e locais de enfrentamen- to, professor da Faculdade de Educa-
os sem-terrinha ocuparam o Ministério do transporte rural? Praticamente são possibilidade de nossos educandos fre- paço de expansão do agronegócio —, ve- to”. Iniciado na segunda-feira, 21 de se- expresse uma concepção ção da Universidade de Campinas (Uni-
da Educação, tivemos uma resposta do os amigos das lideranças, do prefeito, quentarem a escola 40 ou 60 dias em mos que, ao mesmo tempo que a políti- Comenta-se que, por conta do tembro, e encerrado na quinta, dia 24, camp), sem regras para sua atuação,
MEC, que foi a proposição de um aden- vereador. No Paraná, os educandos fi- função das chuvas. Pode não resolver ca se torna hegemônica a partir do agro- ajuste fiscal, o Ministério do o evento realizado pela Contee, no Ho-
diferente desta ficará “o capital está se apropriando do setor
do à Lei de Diretrizes e Bases da Educa- cam 40, 60 dias sem poder acessar a es- de forma total, porque a infraestrutura negócio, a população do campo tam- Desenvolvimento Agrário, que tel Braston, em São Paulo, reuniu espe- muito pouco tempo nestas educacional de todas as maneiras pos-
ção apontando a necessidade de se con- cola porque as estradas estão num es- das escolas do campo tem que ser dis- bém se coloca no enfrentamento, se- entre outras coisas desenvolve cialistas e sindicalistas do ramo. síveis, legais e ilegais, éticas e não éti-
sultar as comunidades para fechamen- tado deplorável. Essa é uma alternativa cutida, mas se a escola está mais próxi- ja na ocupação de terra – que o MST se o Pronera, pode ser extinto. “O fato é que essas instituições do mer- instituições, será dispensado” cas”. Esta apropriação “pelos interes-
to de escolas. No entanto, isso não re- que acaba prejudicando de forma efeti- ma, o jovem, a criança e o próprio adul- coloca como tarefa — seja na resistência Como é que o MST está lidando cado preferem trabalhar com o FIES e o ses políticos, econômicos e ideológicos
sultou ainda num processo contrário ao va até a possibilidade dos 200 dias le- to tem mais condições de acessá-la. Mas na terra que já estão sob o domínio des- com esse risco? Prouni, pois há uma transferência auto- de grupos tornam o ensino um modelo
fechamento. Eu venho do estado do Pa- tivos. Mas, ao mesmo tempo, favorece, junto desse papel da escola, de acesso sas comunidades tradicionais, como é o A nossa resposta é a resposta de luta. mática de recursos, é dinheiro líquido de negócio rentável”, desprezando sua
raná e este ano de 2015 foi o que mais nos pequenos municípios, alguns gru- ao conhecimento produzido, a escola caso das comunidades indígenas. A es- O próprio Enera se coloca no enfrenta- e certo, sem os riscos de uma mensali- No dia 22 de abril de 2013, quando importância para o interesse individual
se ressaltou o fechamento de escolas. É pos que vão dar sustentação política pa- também se constitui como um núcleo cola tem um papel central no sentido de mento do modelo agrícola que é hege- dade”, destacou Fátima, lembrando que Kroton e Anhanguera anunciaram sua e coletivo. “Temos que retomar as lutas
um processo crescente. A análise que a ra os partidos em torno do próprio go- de cultura na comunidade. Além de de- fortalecer a luta dessas comunidades ao mônico hoje no Brasil e que está levan- programas pensados para ser transitó- “fusão”, criando uma nova companhia, em defesa da educação pública como
gente vem fazendo é que discutir o fe- verno do estado. sempenhar o papel de ter aulas, conte- mesmo tempo que vai construir a pos- do, por exemplo, ao consumo acelerado rios acabaram se cristalizando, passan- avaliada em 5,9 bilhões de dólares – a único modo de resistir e contrapor-se
chamento de escola passa por discutir údos curriculares, a escola também vai sibilidade de acesso ao conhecimento e de agrotóxicos. Por isso nós tivemos a do a sugar importantes parcelas do Or- maior do mundo – passaram a contar a essas forças, que são muito podero-
o próprio projeto de campo. O Enera se Quando se fecham escolas do se constituir como esse espaço de reu- fortalecimento da luta. ocupação do Ministério da Agricultura çamento da educação para os cofres pri- com 123 campus de ensino presencial, sas”, defendeu, denunciando a crescen-
coloca nessa tarefa, por exemplo, quan- campo, qual a distância que os nião da comunidade, onde outras ações e Pecuária. Se isso se efetivar, eu não te- vados. “A qualidade do ensino também 647 polos de ensino à distância, uni- te influência privatista sobre o Executi-
do a gente faz a ocupação do Ministé- alunos precisam percorrer para podem ser desenvolvidas no contratur- O MEC sinalizou a criação de um nho dúvida de que nós, enquanto movi- vem sofrendo com esta opção”, alertou, dades em 80 cidades do país e mais de vo, o Legislativo e o Judiciário). Exem-
rio da Agricultura no sentido de denun- estudar? no. Nós temos experiências em nível de Grupo de Trabalho para discutir mentos sociais, tanto MST como outros “uma vez que essas empresas trabalham dois mil cursos de graduação, mestrado plo disso, citou, são os 10% do PIB para
ciar o modelo de agricultura vigente sob Temos realidades distintas, não exis- Brasil, no Coletivo das Mulheres, o Co- a situação das escolas do campo. movimentos sociais, vamos fazer uma com a demissão de quadros altamente e doutorado, tendo obtido receita líqui- a Educação, alvo de intensa disputa en-
o agronegócio. Porque um campo sem te uma média. Mas no Paraná, que é um letivo da Juventude. Cooperativas de Como vocês avaliam essa resposta? luta muito fervorosa no sentido de de- qualificados, substituídos por professo- da de 3 bilhões de reais e lucro líquido de tre o público e o privado.
gente, que é o que o agronegócio apre- estado com uma condição razoável, eu assentamento têm na escola esse espa- O anúncio do MEC é um elemento fender essas conquistas —que são pou- res que ganham 50% menos”. 420 milhões de reais. Naquele momen- A professora Madalena Guasco Peixo-
goa, evidentemente vai resultar no fe- conheço comunidades em que os edu- ço de unidade da própria comunidade. bastante importante, mas não resolve. cas, mas que concretamente têm nos to, a fusão englobava cerca de 15% de to- to, coordenadora-geral da Contee, tra-
chamento das escolas, no definhamen- candos têm que andar 80 quilômetros É importante a gente destacar o papel Nós temos uma pauta de reivindicações possibilitado avançar. E o MDA se co- dos os alunos do ensino superior do país. çou um histórico da expansão da educa-
to das comunidades do campo. Essa é diariamente para acessar o ensino mé- que a escola tem na nossa sociedade, com oito pontos. O primeiro é o investi- loca nesse grande marco de reversão. “O fato é que essas instituições do No Brasil, apontou Celso Napolitano, ção superior brasileira, a partir da mer-
a lógica do capitalismo no campo: que dio. Claro que tem assentamentos mais relacionado ao conhecimento historica- mento de 10% do PIB e dos royalties do Comentários a gente ouve muitos, mas cinco fundos de investimento têm 40% cantilização e financeirização do setor.
ele se torne um espaço de produção de próximos ao núcleo urbano mas, ao mente construído, mas ela tem outra ta- Petróleo na educação, o que já foi apro- isso ainda não se oficializou. Se de fa- mercado preferem trabalhar com das matrículas da educação superior A concentração mercantil, avalia, ga-
mercadoria unicamente em detrimento mesmo tempo, temos esses extremos. vado mas não se efetivou. O segundo é to o governo federal assumir essa pos- brasileira e apenas três fundos contro- nhou força a partir do ProUni e do Fies.
a um campo como espaço de relação, de Em dia que chove, praticamente não se
Reprodução/Facebook
a certificação das licenciaturas em edu- tura, eu não tenho dúvida de que a gen-
o FIES e o Prouni, pois há uma lam 60% da educação à distância. Tam- Para Madalena, além de lutar para
vida, de cultura. Isso exalta a necessida- vai. E isso se reflete na perda de 40, 60 cação do campo, que estão sendo ofe- te vai fazer o enfrentamento, vai fazer a transferência automática de recursos, bém presidente da Federação dos Pro- que os recursos públicos fiquem inte-
de de se construírem espaços como as dias de aula. recidas, como fruto da luta dos movi- denúncia. Vamos fazer a crítica ao go- fessores do Estado de São Paulo (Fe- gralmente na esfera pública, é funda-
escolas do campo. mentos sociais, mas que ainda não con- verno federal, a alguns erros e equívo- é dinheiro líquido e certo, sem os pesp), Celso apresentou o estudo Aná- mental buscar uma regulação mais efi-
Além de minimizar esse sacrifício seguimos efetivar o reconhecimento do cos que a gente tem divulgado, mas ao lise econômico financeira de empresas ciente para garantir a qualidade do en-
Que resposta foi essa que o MEC dos alunos para terem acesso à curso para que os egressos possam par- mesmo tempo temos que entender que riscos de uma mensalidade” do setor de Educação com indicado- sino, obrigando as instituições a cum-
deu em relação à LDB? escola, qual é a importância de ticipar dos concursos, dos processos em esse governo hoje foi o que nos permitiu res e resultados dos grupos (de capital prirem com suas responsabilidades.
Houve um adendo na Lei de Diretri- existirem escolas no campo, mais seus espaços. O que eu já disse pra ti, a algumas conquistas que são fundamen- aberto) Kroton-Anhanguera, Estácio, “Daí a importância em pressionar pela
zes e Bases, que acho que é de agosto próximas da população? necessidade de construção de 300 no- tais. O próprio MDA, o Incra e o Pro- Anima e Ser; e empresas particulares aprovação do Insaes (Instituto Nacio-
do ano passado. Foi a inclusão de um Hoje nós temos uma demanda jun- vas escolas, apontando também a ne- nera se colocam nesse contexto. Então, Setor estratégico de capital fechado (Mackenzie e Unic- nal de Supervisão e Avaliação da Edu-
parágrafo colocando a necessidade de to ao MEC de construção de 300 esco- cessidade de desburocratizar esse pro- é uma critica ao processo desencadea- Prestigiando o Seminário, o profes- sul). Entre outros abusos, foi constata- cação Superior)”, sublinhou.
consulta à comunidade local sobre o fe- las em locais de reforma agrária. É uma cesso porque a burocracia tem sido o do que a gente está vivenciando, mas, sor João Antonio Felicio, presidente da do que as companhias Kroton, Anima, Iniciado na segunda-feira e encerra-
chamento das escolas do campo, indí- pauta já antiga, vencida. Só no esta- principal empecilho para a gente aces- ao mesmo tempo, temos que defender Confederação Sindical Internacional Estácio e Ser tiveram, em média, salto do nesta quinta, o evento realizado pela
genas e quilombolas. Com esse aden- do do Paraná nós temos encaminhada, sar isso. Há mais de oito anos a gente essas conquistas que são fundamentais (CSI) e membro da executiva nacional de 201% na receita líquida no período, Contee no Hotel Braston, em São Pau-
do na LDB, há uma mudança na táti- junto ao MEC e à Secretaria de Educa- tem a pauta de 20 escolas lá no Para- para a gente continuar nesse momen- da CUT, também alertou para os riscos direcionando cada vez menos recursos lo (SP), contou com a parceria da In-
ca constituída: fecham-se cursos e tur- ção, a construção de 20 escolas de en- ná com o processo todo iniciado jun- to de resistência. De fato é resistir, ten- do avanço do capital estrangeiro “em aos professores. ternacional de Educação (IE), da Con-
mas e isso vai definhando a escola. Por sino médio em assentamentos da refor- to à Secretaria de Estado da Educação tar qualificar as ações que a gente vem um setor estratégico, que dialoga com Contando com a injeção de recur- federação Nacional dos Trabalhadores
exemplo, no Paraná, que é de onde eu ma agrária. Porque a escola acaba, jun- e junto ao MEC mas a gente não con- desenvolvendo e ampliá-las dentro da a construção de um projeto de país, de sos públicos, em agosto de 2013, o gru- em Educação (CNTE) e da Federação
venho, não houve fechamento de esco- to com outras instâncias da comunida- segue de fato implementar essas esco- conjuntura e da correlação de forças nação”. Transferir o ensino universitá- po americano proprietário da Anhembi de Sindicatos de Professores e Profes-
la, mas a estratégia posta é o fechamen- de camponesa, se constituindo como las. E um quarto elemento é o centro de posta na sociedade brasileira. (Escola rio a essas grandes corporações trans- Morumbi adquiriu as Faculdades Me- soras de Instituições Federais de Ensi-
to das turmas, o desaquecimento des- esse centro cultural da própria comuni- educação infantil que na própria cam- Politécnica de Saúde Joaquim Venân- nacionais, sublinhou, “abre espaço pa- tropolitanas Unidas (FMU) por R$ 1 bi- no Superior e de Ensino Básico, Técnico
sa escola para que daqui a pouco a pró- dade. Então, a escola tem um papel fun- Alessandro Mariano, do setor de educação do MST panha da Dilma colocou como um dos cio – EPSJV/Fiocruz) ra que sejamos submetidos à sua hege- lhão, passando a contar com mais de e Tecnológico (Proifes-Federação).
6 de 1º a 7 de outubro de 2015 brasil
ENTREVISTA Segundo a
pesquisadora Larissa Mies Bombardi,
em 2005 o consumo médio de
agrotóxicos era da ordem de 5 kg/
hectare e, em 2011, passou a ser de
11 kg/hectare. Ou seja, em menos de
uma década dobramos a quantidade
de agrotóxicos utilizada no país
Patricia Fachin
de São Leopoldo (RS)
“O pior de tudo é não querer saber” Arquivo Público do Estado de São Paulo
ENTREVISTA na Penitenciária de Linhares. Era im-
portante? Para compor a minha história,
Com reportagens era. Eu queria ver onde o Milton pisou,
contundentes tentar entender um pouco o que ele sen-
tiu naquela clausura, como era aquele lu-
transformadas em livros, gar, qual era o seu cheiro. Claro que is-
so é importante. Estamos perdendo um
jornalista Daniela Arbex pouco essa prática pela pressa dos fecha-
mentos e também pelo desinteresse, por
dá um “pito” em parte essa ideia de fazer jornalismo de gabine-
da sociedade brasileira te. Isso não existe. Quem quer ser jorna-
lista de gabinete nem seja!
que lida com episódios
A cena em que você descreve o
dramáticos de sua história encontro com a família do Milton
com cabeça de avestruz em Porto Alegre é forte (na roda
de chimarrão, Daniela perguntou
aos familiares como eles gostariam
que Milton fosse lembrado. O
Paulo Hebmüller irmão Edelson respondeu: “Como
de São Paulo (SP) está sendo agora”).
da Rede Brasil Atual Milton Soares (destacado) e outros guerrilheiros do Caparaó após serem presos Exatamente. Em 2002, entrevistei a
família por telefone, porque o jornal não
COVA 312 “é uma Comissão da Verda- podia me mandar e eu não tinha dinhei-
Henrique Viard/Divulgação
de”, disse a militante Amelinha Teles du- ro para ir ao Rio Grande do Sul. Agora
rante debate de lançamento do livro da foi totalmente diferente, e por isso dedi-
jornalista Daniela Arbex em São Paulo. quei um capítulo àquele encontro. Ali foi
Para Amelinha, que foi presa e tortura- possível ver e abraçar. A Gessi (irmã de
da na ditadura e assessorou a Comissão Milton) estava curiosa em relação a mim
da Verdade Rubens Paiva, da Assembleia e eu em relação a ela, e ela disse que eu
Legislativa paulista, se houvesse uma estava trazendo o Milton comigo. Essas
Daniela trabalhando em cada um dos ca- coisas só acontecem estando junto, ven-
sos de mortos e desaparecidos deixados do e conhecendo as pessoas, e compõem
pelo regime todas essas histórias esta- a história que você vai contar.
riam esclarecidas.
O livro recupera a trajetória de Milton Você menciona a sempre
Soares de Castro, morto em 1967, aos presente argumentação de que
26 anos. Um dos militantes capturados determinados temas já são “velhos
na desastrada tentativa de implantação e batidos”, que ninguém quer mais
da guerrilha do Caparaó, na divisa en- Cova no cemitério de Juiz de Fora onde estava enterrado Milton Soares saber deles e que é preciso trazer
tre Minas Gerais e Espírito Santo, o gaú- um “fato novo”. Você trouxe,
cho foi o único preso político encontra- Só tive acesso 12 anos depois do início mandava você ir “buscar a lua” e, mas o livro conta também uma
do morto na Penitenciária de Linhares, da investigação. As fotos fizeram toda a quando conseguia, dizia que história “velha” pouco conhecida
em Juiz de Fora (MG). O hoje governa- diferença porque eram as provas funda- “você pode ir além”. Estão – Linhares foi uma prisão política
dor de Minas Gerais, Fernando Pimen- mentais. Eu tinha o local e a documen- faltando esse rigor e essa busca importantíssima e ainda funciona.
tel (PT), e o atual prefeito de Belo Hori- tação do sepultamento, mas não tinha o no jornalismo praticado Esse conceito é um erro. Linhares tem
zonte, Márcio Lacerda (PSB), estiveram cadáver. As fotos do cadáver me permi- atualmente? Temos apuração de uma história paralela incrível e apagada.
entre os encarcerados em Linhares du- tiram provar não só que o Milton real- menos e opinião demais? Existe no nosso imaginário a ideia de que
rante a ditadura. mente foi morto em dependências do Acho que sim. No congresso da Abraji, tudo já foi falado sobre a ditadura. Não
A versão oficial da morte de Milton Estado, como também que as lesões que assisti a uma palestra da Fabiana Moraes foi – ou não teríamos uma lista de 434
apontava suicídio por enforcamento, e ele trazia eram incompatíveis com suicí- (repórter especial do Jornal do Commer- mortos e desaparecidos políticos no re-
o Exército nunca informou à família on- dio. Mais do que isso: um perito da épo- cio, de Recife, e autora do livro O nasci- latório da CNV. Só teremos tudo falado
de estava o corpo. Numa investigação em ca volta atrás. mento de Joicy – leia reportagem na edi- e esclarecido quando todos os corpos ti-
2002 para o jornal Tribuna de Minas, de Acho que é uma confissão histórica ção 107). Ela faz um trabalho maravilho- verem sido localizados e todas as histó-
Juiz de Fora, Daniela localizou a sepultu- que precisa ser levada em conta: qua- so, com reportagens incríveis pela ousa- rias resgatadas. Estamos longe de conhe-
ra do jovem – a do título do livro –, o que se 50 anos depois a pessoa diz que estão dia e pelos temas super-controversos e cer a ditadura. A gente não sabe de nada.
mudou os registros históricos sobre o ca- caracterizadas a asfixia e o enforcamen- delicados, como transexualidade, e con- Acabei de fazer uma matéria sobre o re-
so em publicações como Direito à Me- to, mas não o suicídio. Ele só não dis- segue um grande espaço. Ai alguém fa- latório da Comissão Municipal da Verda-
mória e à Verdade, da Comissão Espe- se: “O Milton foi assassinado”, porque aí lou: “Ah, mas o jornal dá esse espaço pa- de em Juiz de Fora. Todo mundo fala que
cial sobre Mortos e Desaparecidos Polí- também era demais – e nem precisava. ra ela”. Eu respondi: “Não, isso é fruto do conhece tudo sobre a ditadura em Juiz de
ticos da Secretaria de Direitos Humanos Creio que foi uma grande descoberta fa- esforço individual da repórter de brigar Fora porque o golpe partiu de lá e o gene-
da Presidência da República. Doze anos zer uma pessoa daquela época pratica- por esse espaço, de ter sensibilidade, de ral Mourão (Olympio Mourão Filho, co-
depois, a jornalista retomou a investiga- mente confessar. conseguir convencer o entrevistado a se mandante da 4ª Região Militar e 4ª Divi-
ção e teve acesso em Brasília ao inquéri- deixar fotografar em determinadas situ- são de Infantaria) saiu de lá com as tro-
to sobre a morte de Milton, desmontan- Como você recebe as afirmações ações”. Eu sei porque vivo muito isso no pas. Mas é só isso que a gente sabe!
do finalmente a tese de suicídio. da Amelinha Teles, dizendo que jornal. Consegue-se o espaço porque nes- Se você perguntar a alguém: mas en-
Daniela Arbex, 42 anos, é autora tam- o seu livro “é uma Comissão da se esforço pessoal você traz uma infor- tão, o que mais você sabe? “Bom, o gene-
bém de Holocausto Brasileiro (assim co- Verdade” e que com uma Daniela mação que o jornal não tem como dizer ral Mourão partiu de lá com as tropas...”
mo Cova 312, da Geração Editorial), um para cada caso todas as histórias que não vai publicar. As dificuldades são E é só. As pessoas não têm ideia do que
relato das décadas de abandono e vio- estariam esclarecidas? grandes em todas as redações, principal- é ser perseguido, perder familiares e em-
lência a que foram submetidas milha- São superelogios, claro, mas acho que mente porque o jornalismo diário é mas- prego, viver na clandestinidade, mudar
res de pessoas no manicômio Colônia, ela exagerou. O livro levanta a versão sacrante e sempre falta tempo. Mas tam- de carreira e nunca mais resgatar essas
na cidade mineira de Barbacena – esti- mais próxima da verdade, e não posso bém faltam interesse e disposição. coisas. É um grande equívoco achar que
ma-se que cerca de 60 mil morreram ali. me furtar de dizer que mudou um capí- conhecemos essa história. O Cova 312
Lançado em 2013, Holocausto já vendeu tulo da história – de uma pessoa, mas já está me mostrando que as pessoas não só
mais de 100 mil exemplares e será trans- é importante. Não conseguimos avançar “Há em nosso imaginário a ideia de que não sabem como resistem a saber. E isso
formado em documentário da HBO. Em mais porque há famílias altamente mo- é uma pena, porque quem vence a resis-
São Paulo, onde participou, em julho, do bilizadas e outras completamente des- tudo já foi falado sobre a ditadura. Não tência de conhecer esse período se apai-
10º Congresso Internacional da Associa- mobilizadas. Precisaríamos ter uma vi- xona e conhece um Brasil e personagens
ção Brasileira de Jornalismo Investigati- gilância e uma busca permanente em re-
foi. Só teremos tudo esclarecido quando que a história oficial não contemplou. O
vo (Abraji), a repórter concedeu esta en- lação ao tema. Mas o Brasil não tem es- todos os corpos tiverem sido localizados pior de tudo é não querer saber.
trevista. Fala sobre seus livros, o futuro sa cultura de investigar, de buscar e de
do trabalho dos jornalistas e a resistência questionar, como na Argentina ou no e todas as histórias, resgatadas. Estamos Como você avalia a crise do
de boa parte da população em conhecer Chile. Simplesmente são aceitas as ver- jornalismo, ou do modelo de
o que de fato aconteceu na ditadura. “O sões mais esdrúxulas. longe de conhecer a ditadura” negócios da imprensa?
pior de tudo é não querer saber.” Não sei onde essa crise vai dar e não sei
As famílias não são um bloco se daqui a 15 anos vamos ter jornal im-
Sua investigação mudou a história monolítico, há posturas presso como hoje. Tenho certeza absolu-
no caso do Milton e é citada em diferentes entre elas, não é? E parece que os mais novos ta, e saí do congresso da Abraji com ela,
publicações oficiais sobre os É verdade, existe muita mágoa e muito querem resolver tudo pela de que temos que zelar pelo conteúdo,
mortos e desaparecidos. Você sofrimento em relação à ditadura. A pró- internet, ou, quem sabe, por em que plataforma for. A questão não é
espera mudanças com o Cova 312, pria família do Milton não quis a exuma- telefone... discutir se vai morrer o jornal impresso
que praticamente comprova o ção, o que para mim é um erro. Ao mes- Pois é. O pessoal diz que quer me en- ou coisa parecida. A questão é discutir se
assassinato? mo tempo, entendo o sofrimento de não trevistar, aí dou meu telefone e eles fa- estamos fazendo jornalismo de qualida-
Daniela Arbex – Talvez não. Creio que querer passar por tudo aquilo de novo. lam: “Ah, vou te mandar as perguntas de, onde quer que estejamos. Temos de
pode ser corrigida a versão final do rela- O Milton foi enterrado numa cova rasa por e-mail”. Sem olho no olho, sem vir achar um caminho, porque o jornalis-
tório da Comissão Nacional da Verdade que a cada cinco anos era revolvida para me encontrar, como você fez! Fico im- mo não vai morrer – a democracia preci-
(CNV), que dá o Milton como desapare- receber novos corpos. Na cova dele, até pressionada com essa ideia do esfor- sa dele. O foco da nossa preocupação tem
cido. É um equívoco histórico que preci- 2002, foram enterradas mais sete pesso- ço mínimo e digo que não vou respon- de ser o risco de deixarmos de fazer jor-
sa ser corrigido, porque o corpo está lá. as. A informação relevante veio depois, der por escrito. Acho absurdo. O meni- nalismo de qualidade, porque aí a socie-
Você tem a imagem da necropsia, o ca- com as fotos da necropsia e com a confis- no diz: “Eu sou seu fã!” E eu respondo: dade estará lascada.
dáver, o local onde foi enterrado e, por- são de um envolvido. A exumação nesse “Então você não quer olhar no meu olho,
tanto, tem o corpo. Muito mais do que caso não fez falta. vir me conhecer? Isso é o mínimo para Seu livro anterior, Holocausto
corrigir versões, o livro faz justiça à me- descrever um entrevistado”. Fico preo- Brasileiro, teve vários
mória do Milton. Além disso, pode mos- Como se pode avançar em cupada, porque sem gastar sola de sapa- desdobramentos: você viajou o
trar ao Brasil que é possível continuar relação à questão dos mortos e to não se faz reportagem. A internet é in- Brasil inteiro falando dele, houve
encontrando nossos mortos e desapare- desaparecidos? crível, ajuda a pular etapas e a localizar o lançamento em Portugal e
cidos políticos. Essa foi uma investiga- Acho que o Brasil esperava mais do coisas, mas o corpo a corpo é insubstituí- agora está sendo produzido um
ção individual, relativamente simples, e trabalho da CNV. Existia uma expecta- vel. Por exemplo: eu briguei para entrar documentário a respeito. Como
que consegui fazer sem grandes recur- tiva muito grande de que se resolvessem Divulgação anda esse processo?
sos. Creio que há vários Miltons por aí mais casos, o que não aconteceu. Na ver- Foram 40 dias de filmagem de um do-
a serem localizados. O Cova mostra o dade, isso não desmerece o esforço im- cumentário para a HBO, que deve ir ao
tamanho do abismo entre a nossa his- portante e sério feito pela comissão, mas ar no ano que vem. Vai ser um trabalho
tória e a população brasileira. É muito também mostra que os arquivos do país surpreendente até para o leitor do Ho-
grave rejeitar o passado e deixar de que- continuam fechados, porque nem a CNV locausto porque há personagens novos
rer saber o que aconteceu. Somos talvez teve acesso a tudo. Para ter acesso ao in- e histórias que eu conheci depois do li-
o único país da América do Sul que te- quérito do Milton, tive de pedir autori- vro. O que me orgulha muito é que o Ho-
ve uma ditadura em que não há empe- zação ao presidente do Superior Tribu- locausto conseguiu colocar no centro do
nho da população em continuar desco- nal Militar (STM) e justificar meu pe- debate público a questão da saúde men-
brindo seus mortos, e no qual há uma dido. Fiquei à mercê de uma autoriza- tal, que estava muito periférica. O livro
resistência a querer saber. Como pode- ção que poderia ser negada. Como isso interferiu inclusive na formação dos no-
mos não nos interessar pela nossa his- é possível? Tem de haver um esforço co- vos psicólogos e psiquiatras, e mesmo de
tória recente? letivo para abrir esses arquivos. Se não quem já está no mercado de trabalho.
conseguimos acessá-los, como vamos Várias faculdades, de várias especialida-
Ter acesso ao inquérito e resolver os casos? des, adotaram o livro, e isso é maravilho-
às fotos da morte do Milton so. O maior presente que o livro pôde me
fez toda a diferença em sua Você conta que a editora-executiva trazer é ver essa história sendo lida e sen-
investigação, não é? do jornal, Denise Gonçalves, A jornalista Daniela Arbex do útil. (Revista do Brasil)
10 de 1º a 7 de outubro de 2015 brasil 11
ESPECIAL Moradores
dava nada”
Ser fã
CRÔNICA Alguém já disse que um fanático
é um sujeito que não muda de opinião nem
de assunto. O impulso de ser fã – de ter uma
admiração incondicional e permanente por
algo ou alguém – não está somente em quem
gosta de “Star Trek” ou de “Senhor dos Anéis”
Braulio Tavares
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PALAVRAS CRUZADAS
Horizontais: 1.Empresa alemã que denunciou um esquema de propinas pagas, há 20 anos, por
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
11 transnacionais ao PSDB de São Paulo, para que elas vençam licitações, que envolvem o metrô 1
e os trens, com valores superfaturados – Primeiro papa latino-americano. 2.Segunda nota musi-
cal. 3.Proposta feita por Dilma para tratar da reforma política que em poucos dias foi engavetada. 2
4.Ordinário – Em alemão, diz-se “Farbe” – Doei – Interjeição de frustração. 5.A Organização Mun-
dial da Saúde – Computador pessoal – Presidente dos Estados Unidos. 6.Divisão de uma escola 3
capital deste estado (sigla) é chamado de soteropolitano. 13.O contrário de “volta” – Na lingua-
gem informal “ter aparência de”. 14.Chamado de sétima arte, seu nome tem origem na palavra
grega que significa “movimento” – O nome deste estado (sigla) vem de um termo em tupi que 16.AR. 17.Placa. 18.Osso – Cama.
significa “bico de tucano”. 15.Em inglês, diz-se “aunt” – Um dos mais citados na história do Brasil 9.TCC – Belo. 10.Frio. 11.Retrocessos. 12.BA. 13.Ida – Pinta. 14.Cinema – TO. 15.Tia – Monte.
é o “Castelo”, tomado por tropas brasileiras durante a Segunda Guerra Mundial. 16.Aviso de re-
Verticais: 1.Tucano – UFC. 3.Molde. 4.Um. 5.CMS – ONU. 6.Eco – PT. 7.NP – Lê. 8.SOS – Pare.
11.Corrupção – Suave.
cebimento dos Correios. 17.Todo o carro precisa ter uma. 18.Na linguagem informal, diz-se de – PC – Obama. 6.Ala – Eca – Ai. 7.Onda – MDC. 8.Plebiscito – AC. 9.Pote – Nona. 10.Trem.
Horizontais: 1.Siemens – Francisco. 2.Ré. 3.Constituinte. 4.Comum – Cor – Dei – Pô. 5.OMS
algo “difícil” – Leito.
cultura de 1º a 7 de outubro de 2015 13
O Preço da Fama
CINEMA Filme coproduzido pelos irmãos Dardenne presta tributo a Charles Chaplin
Divulgação
História verdadeira
ela vem cometendo muitos erros de or-
tografia. Enquanto isto ele vai visitar a
mulher e é informado pelo médico que
Noor necessita de repouso absoluto e de
cirurgia nos quadris. A operação custa-
rá uma pequena fortuna (para os pa-
drões monetários da família). Até a TV
transmitir uma notícia muito impor- O circo do filme de “O Preço da Fama” cometem falha grave e são pegos com fa-
tante (a morte de Charles Chaplin, no de São Paulo (SP) é comandado por Rosa, uma bela mulher cilidade. Confessam e mostraram onde
Natal de 1977) o filme parecerá mais um (Chiara Mastroianni) e por integran- haviam enterrado o caixão de “Carlitos”.
tocante drama sobre imigrantes pobres. Xavier Beauvois, de 48 anos, diretor te da verdadeira família Chaplin (Eu-
de “Homens e Deuses” e “Não Se Es- gène). Outro membro da família (Dolo- Julgamento
Maquinações queça que Você Vai Morrer”, recriou res Chaplin) interpreta uma das filhas O melhor do filme acontecerá no julga-
Os noticiários suíços e as sessões es- com muita liberdade o que realmente se do cineasta, que participa do processo mento dos imigrantes que ousaram se-
peciais dos filmes do pai de Carlitos, o passou em março de 1978, poucos me- de negociação com os sequestradores. questrar o caixão de Chaplin. O acusador
eterno vagabundo, vão alimentando a ses depois da morte de Chaplin, já que lamentará ato tão vil. O defensor, com a
engenhosa cabeça do ex-presidiário. Ele seu intento era realizar um drama hu- verve dos grandes advogados, lembra o
ouve um locutor de telejornal dizer que manista, com pitadas de comédia. Pa- O melhor do filme homem pobre que Chaplin fôra e a mi-
Chaplin morrera, aos 88 anos, milio- ra tanto, buscou apoio dos irmãos Dar- séria vivida em especial num de seus fil-
nário. Que só de direitos autorais pro- denne, os mais respeitados cineastas da acontecerá no julgamento mes mais famosos (“Em Busca do Ouro”,
venientes de seus filmes, recebia fan- Bélgica. Eles se tornaram, então, copro- 1925). Quem conseguirá esquecer – per-
tásticas somas em dólares. Fragmen- dutores de “O Preço da Fama”.
dos imigrantes que gunta o defensor – “do Carlitos que, em
tos das obras do genial criador britâni- A primeira atitude de Beauvois, ao es- ousaram sequestrar o situação de fome extrema, come os ca-
co se somam a hilariante trecho do mé- crever o roteiro, foi mudar a nacionali- darços dos próprios sapatos”?
dia-metragem “O Balneário” (“The Wa- dade dos imigrantes que sequestraram caixão de Chaplin A família Chaplin, pelo que nos mos-
ter Cure”, de 1971, 31 minutos). o caixão de Chaplin: um polonês (Ro- tra o filme, perdoou os ladrões e até pa-
Criador (Chaplin) e criatura (Carli- man Vardas) e um búlgaro (Gantscho gou pela cirurgia de Noor. Mas a jovem
tos) começam a fertilizar as maquina- Ganey), dois mecânicos de automóvel Mas quem comanda, para valer, a ope- mãe árabe, por princípios e para dar bom
ções de Eddy, que quer ajudar o ami- que viviam em Corsier-sur-Vevey, cida- ração, é o secretário particular da famí- exemplo a Samira, fez uma exigência ao
go a arrumar dinheiro para a cirurgia de às margens do Lago Léman. lia, interpretado pelo ator norte-ameri- marido Osman. Exigência explicitada em
de Noor. Ele tem, então, uma “gran- Para que a homenagem a Chaplin cano Peter Coyote. Ele aplica seus co- frente ao túmulo restaurado de Chaplin.
de ideia”: roubar o caixão de Chaplin e fosse ainda mais explícita, o realizador nhecimentos adquiridos na Força Aérea Aos espectadores mais afoitos, uma
pedir um milhão de dólares de resgate abriu espaço nobre para o circo, a gran- dos EUA, para endurecer o jogo com os recomendação: não saiam antes dos
a Oona O’Neill Chaplin, viúva do artis- de escola do criador de Carlitos, nasci- sequestradores. A polícia, constrangida créditos finais, pois gag visual virá ar-
ta, e a seus muitos filhos. Num primei- do e criado em ambiente miserável, nu- com o roubo do caixão do grande artista rematar a trama.
ro momento, Osman resiste. Mas acaba ma Inglaterra monárquico-classista. E que, perseguido pelo macarthismo, es- “O Preço da Fama”, de Xavier Beau-
concordando com o amigo. Os dois vão que, talentoso, foi trabalhar em circos colhera a Suíça como morada definiti- vois – Coprodução franco-belga (2014).
ao cemitério e retiram o caixão de Cha- mambembes. E, mais tarde, realizar va, agiu com muita cautela. Com Benoît Poelvoorde, Roschdy Zem,
plin da tumba. E vão enterrá-lo em lugar dois de seus grandes filmes “O Circo” Na primeira tentativa de pagamento Nadine Labaki, Chiara Mastroianni,
desconhecido. O que se seguirá são inú- (1928), e “Luzes da Ribalta” (1952), no do resgate, tal qual numa comédia cha- Peter Coyote, Dolores Chaplin e Eugè-
meros contatos, via cabines telefônicas, qual interpreta Calvero, um velho pa- pliniana, o acaso se impõe. Na segunda, ne Chaplin. Duração: 1h54. Lançamen-
e insistente pedido de resgate. lhaço alcóolatra). os dois sequestradores, já desgastados, to Mares Filmes (MRC)
CONJUNTURA
Trabalho, que contou
com 37 especialistas de
diversos países – incluindo
brasileiros –, aponta
quatro cenários para os
países da região até 2030:
“mobilização, tensão,
transformação e agonia”
Hylda Cavalcanti
de Brasília (DF)
da Rede Brasil Atual
A DEMOCRACIA na América Latina tem Foto de capa do Facebook do evento de lançamento da pesquisa Alerta Democrático
previsão de atingir quatro estados pos-
síveis nos próximos 15 anos, caso os go- Inovação e reformas ro”, avaliou Mille Bojer, diretora da en- conduzir a um empoderamento do cida-
vernos não revejam situações de violên- Para 2022, por exemplo, o estudo tidade internacional Reos Partners, res- dão mais amplo e transparente ao longo
cia, estratégias de cooperação horizon- aponta que o cenário previsto pode vir ponsável pelo trabalho. de 15 anos, levando a “benefícios concre-
tal, casos de corrupção, outras tomadas a ser de uma demanda generalizada por Integram o grupo de estudos que ela- tos no campo da mobilização da pressão
de decisões políticas e medidas para for- essa reforma das instituições democrá- borou o documento acadêmicos, parla- e da criatividade popular diante do poder
talecimento de suas instituições. O “aler- ticas, com inovação e superação de pro- mentares, sociólogos, advogados, prefei- tradicional”.
ta”, que traçou um cenário permeado por blemas estruturais, além de mais inves- tos, ex-prefeitos e ex-ministros da Bolí- “Se os tempos são de desconfiança dos
fases de “transformação, tensão, mobili- timentos no capital humano e na cultu- via, Brasil, Peru, Guatemala, Honduras, políticos, é necessário se pensar em co-
zação e agonia” do processo democrático ra do empreendedorismo. Em 2028, ca- Estados Unidos e México. mo institucionalizar essa desconfiança.
nos países da região até o ano 2030, es- so essas reformas sejam bem-sucedidas, As instituições democráticas modernas
tá sendo feito por trabalho que resultou tais mudanças começarão, de acordo Poder concentrado (o parlamento, os freios e contrapesos, o
num ciclo de debates com 37 lideranças e com o documento, a impactar em proble- Segundo esses organizadores do estu- judiciário independente, a imprensa) são
pesquisadores latino-americanos, nos úl- mas como drogas e crime organizado le- do, o cenário da “democracia em trans- instituições de desconfiança. Encontrar o
timos seis meses. Contou, por aqui, com vando a uma redução desses problemas. formação” é de uma conjuntura de redis- difícil equilíbrio entre novas instituições
a participação de nove parceiros, dentre E a América Latina poderá ter um poder tribuição do poder, com fortalecimento de desconfiança que permitam o funcio-
eles, o deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) e econômico mais diversificado, com mais da democracia e sistemas mais distan- namento de um Estado capaz de respon-
o advogado e ex-secretário do Ministério responsabilidade corporativa. tes da corrupção e do crime organizado. der, com políticas públicas, às demandas
da Justiça, Pedro Abramovay, e que foi Se esses caminhos forem seguidos, a Já o da “democracia sob tensão” aborda sociais é o grande desafio desse proces-
lançado dia 29 de setembro, na Câmara região poderá chegar a 2030 com uma a possibilidade de países, nos próximos so. Ninguém disse que seria fácil”, enfa-
dos Deputados. liderança política mais diversificada e a anos, cada vez mais com uma democra- tizou, em artigo onde fala sobre as ins-
Com o título de Alerta Democrático, o relação entre governos e sociedade civil cia apenas aparente, onde o poder está tituições, a democracia e a internet, Pe-
estudo será divulgado simultaneamente mais colaborativa. Mas esses efeitos va- concentrado e em disputa com diversas dro Abramovay – diretor da Open Socie-
em cinco países e já adianta a perspecti- riam dependendo das escolhas a serem forças políticas e econômicas, causando ty Foundation e um dos brasileiros inte-
va de que, num cenário até 2020, a de- feitas pelos governos, das condições eco- frustração social. grantes do “Alerta”.
manda pela reforma das instituições fará nômicas e do nível de resistência das eli- O cenário intitulado “democracia em Já o deputado Jean Wyllys lembrou,
surgir novas propostas políticas e meca- tes em cada um dos países latino-ame- mobilização” prevê a atuação e pressão ao abordar num texto o cenário da de-
nismos de participação, com um eleito- ricanos. O grupo que elaborou o traba- populares em movimentos que desafiem mocracia em tensão, que continuam
rado cada vez mais exigente por mudan- lho destaca a formação de quatro cená- as estruturas tradicionais de poder. E o predominando em países latino-ame-
ças que os levem a resolver seus proble- rios possíveis, nem todos positivos. Pas- da “democracia em agonia” mostra um ricanos “lógicas inerciais de concentra-
mas estruturais. Aponta, como avaliação sam tanto pela democracia fortalecida sistema dominado pelo crime organiza- ção ou de reconcentração do poder po-
sobre este ano de 2015, que os escânda- pela equidade na participação política, do, provocando medo e sentimento der- lítico e econômico, em uma região que
los de corrupção e abuso de poder (ob- com deliberação política e instituições rotista entre os cidadãos. continua marcada por uma cultura polí-
servados não apenas no Brasil) e combi- mais robustas, até a que se encontra no “São perspectivas que devem ser leva- tica caudilhista, clientelista e com vícios
nados com deterioração nos indicadores chamado “limite”, com modelos à beira das em conta, inclusive para outros estu- autoritários”.
de pobreza e desigualdade nos últimos da exaustão por fatores como corrupção, dos, de forma a serem catalisadas discus- “Em alguns países e sub-regiões, re-
anos têm levado ao declínio na confiança crime e desejo de poder centralizador. sões estratégicas que levem a mudanças gistram-se avanços sem precedentes em
da população nos líderes e instituições. nesses países”, avaliou o sociólogo Fer- matéria de direitos econômicos, sociais e
“A América Latina está em uma encru- “Democracias reais” nando Rezende, do Centro de Estudos culturais, mas sem alterar completamen-
zilhada, mas a consolidação da democra- “Se desde a leitura e revisão desses ce- Josué de Castro, que tem doutorado em te o padrão de desenvolvimento concen-
cia é um auspicioso processo que, entre- nários tivéssemos conseguido, na Amé- trabalhos e avaliações sobre conflitos na trador nem as lógicas da corrupção e da
tanto, ainda está muito longe de ser ir- rica Latina, que diversos atores sociais América Latina. violência, e ainda sob o patrocínio de es-
reversível. Dessa forma, chegamos a um e autoridades em exercício impulsionas- quemas de poder que apostam delibera-
ponto de bifurcação do qual emergem sem democracias reais e não apenas pro- Pressão e criatividade popular damente em subordinar as instituições
múltiplos caminhos que a região poderia cessos eleitorais, fortalecessem as ins- Um dos pontos mais positivos traça- democráticas”, afirmou o parlamentar.
percorrer. Os cenários do “Alerta Demo- tituições democráticas e motivassem a dos pelo trabalho é o de que, no chama- Segundo a ReosPartners, os quatro ce-
crático” são uma jornada por essas possi- transformação dos partidos políticos, do cenário da “democracia em mobiliza- nários tendem a fornecer subsídios para
bilidades futuras”, enfatiza o trabalho em por exemplo, talvez estivéssemos atin- ção”, a análise feita é de que esquemas de o aprofundamento do diálogo em torno
sua abertura. gindo cenários promissores para o futu- cooperação com vários atores tendem a da América Latina.
OPINIÃO
ESPANHA
Processo pela
independência da
Catalunha vem ganhando
força desde o início da crise
que assolou a Espanha
nos últimos anos, com
a votação dos partidos
nacionalistas (à esquerda e
à direita) crescendo