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Direitos em Movimento

Povos da terra,
ambiente e saúde

Programa Direitos em Movimento


Realização, Produção e Apoio:

Realização
Universidade de Pernambuco (UPE)
Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC/UPE)

Produção
Grupo de Estudos e Pesquisas Transdisciplinares sobre Meio
Ambiente Diversidade e Sociedade (GEPT/UPE/CNPq)
Programa de Extensão Direitos em Movimento (DIMO/UPE)

Alunas, Alunos, Técnicas e Técnicos


Amana Camile Amaral Pinheiro de Siqueira (UPE)
Anne Gabriele Alves Guimarães (UPE)
Aylla Monteiro de Oliveira (UPE)
Aysla Catarina Oliveira Nascimento (UPE)
Emanuel Christiano Antunes de Moura (UPE)
Ingrid Tereza de Moura Fontes (UFPB)
Joan Kleber Amorim da Silva (UFBA)
João Victor Diogo Novais (UPE)
Lilian Márcia Balmant Emerique (UFRJ)
Luiz Felype Costa de Oliveira (UPE)
Luiz Tiago Galindo Melo (UPE)
Maria Isabel Queiroz dos Santos (UFPB)
Maria Luiza Bezerra Noé (UPE)
Maria Luiza Rodrigues Dantas (UFRJ)
Marina Galvão Tavares de Oliveira Mendonça (UPE)
Pedro Rhafael Monteiro de Lima (UPE)
Suely Emilia de Barros Santos (UPE)
Vitória Cynara da Silva Sousa (UPE)
Wênio Alves de Sousa (UPE)
Yasmin de Souza Pereira (UPE)

Coordernação/Orientação
Clarissa Marques
Felipo Bona

Fotos
Acervo GEPT e Povo Kapinawa

Projeto Gráfico
Pedro Rhafael Monteiro de Lima

Revisor
Rogério Mendes Coelho (UFRN)
Direitos em Movimento
Povos da terra,
ambiente e saúde

Programa Direitos em Movimento


Dados internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

Biblioteca Arcoverde
Universidade de Pernambuco – UPE

Direitos em movimento: povos da terra, ambiente e saúde (Programa


Direitos em Movimento) / Coordenação Clarissa Marques, Felipo Bona.
Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC/UPE). Produção Grupo de Estudos
e Pesquisas Transdisciplinares sobre Meio Ambiente Diversidade e Sociedade
(GEPT/UPE/CNPq), Programa de Extensão Direitos em Movimento (DIMO/UPE).
Arcoverde: Universidade de Pernambuco (UPE), 2023.
47 p.: il.
(Formato digital)

Inclui referências.
ISBN 978-65-00-72784-5

1 Reforma agrária. 2 Terra. 3 Historicidade. 4 Território 5 Pertencimento I.


Marques, Clarissa. II. Bona, Felipo. III. Título

CDD 23th ed. – 340


Deyvison de Figueirêdo Barbosa Cordeiro– CRB-4/2254
Apresentação

Em comemoração à Semana da Terra, a Universidade de Pernambuco, por meio da


Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC), junta-se com outras organizações no
Brasil para discutir e celebrar a temática “Terra”. Nesse sentido, o Programa de
Extensão Direitos em Movimento (DIMO/UPE) e o Grupo de Estudos e Pesquisas
Transdisciplinares sobre Meio Ambiente, Diversidade e Sociedade – GEPT
(CNPq/UPE) convida todes/todas/todos a refletir sobre a proteção ambiental e suas
múltiplas repercussões, a partir do recorte proposto pela UPE.

A Cartilha Aberta, que possui como título “Povos da Terra, Ambiente e Saúde”,
traz em seu início uma Carta da Deputada Estadual em Pernambuco Rosa
Amorim. Na sequência temos resumos desenvolvidos por discentes, egressas e
egressos, do curso de Direito, campus Arcoverde da UPE, bem como colaboradoras
e colaboradores de outras Universidades, com o objetivo de provocar inquietações
para quem se disponha a realizar uma pausa e ler um pouco das ideias,
resumidamente, apresentadas por nós.

As temáticas transmitem parte das angústias acadêmicas que acompanham as ações


de pesquisa e extensão do grupo. Sendo assim, apresentamos a temática Terra e
suas intersecções com os racismos, os direitos de povos e comunidades tradicionais,
bem como com os impactos à saúde integral, especialmente de grupos em condição
de vulnerabilidade.

Agradecemos desde já pelo compartilhamento do tempo de leitura em meio a tantas


obrigações que nos tomam os dias e terminam por nos afastar das relações com
nossos territórios, locais de pertencimento.

Seguimos fortes!
Equipe DIMO e GEPT
Carta aberta

Rosa Amorim, Deputada Estadual em Pernambuco

Não se morre de fome. As pessoas são assassinadas por um projeto que não
alimenta o nosso povo. E é contra esse projeto de morte que o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) luta por Reforma Agrária. A questão da
Terra no Brasil é estrutural e fundante das desigualdades, por isso se torna essencial
para pensarmos um país mais justo e desenvolvido, o processo de Reforma Agrária.
E Reforma Agrária para o MST consiste na distribuição massiva de terras a
camponesas e camponeses, democratizando a propriedade, garantindo o seu acesso,
distribuindo a todos que quiserem dela produzir e usufruir. Mas, a luta pela
Reforma Agrária não é uma luta desassociada, ela está vinculada diretamente às
maiores necessidades do Brasil e do povo brasileiro, desde a produção de alimentos,
mas, também de acesso aos direitos diversos, como saúde, lazer, educação. Produzir
alimento é hoje uma das principais bandeiras de luta do movimento Sem Terra,
sobretudo pela ótica da fome, que assola novamente a vida das pessoas que vivem
no campo, mas, sobretudo das cidades. Além disso, sabemos que a solução para
estes problemas só será possível por meio de um Projeto Popular para o Brasil –
fruto da organização e mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras rurais e
urbanos. E confiamos que a realização da Reforma Agrária Popular, ao
democratizar o acesso à terra e produzir alimentos saudáveis, é nossa contribuição
mais efetiva para a realização de um Projeto Popular para o país.

Recife, 20 de abril de 2023


Rosa Amorim (PT-PE)


DA PROMESSA AGRÁRIA ATÉ A MORTE DA REFORMA

Wênio Alves de Sousa (UPE)


Aysla Catarina Oliveira Nascimento (UPE)

A luta pela terra é uma constante na vida de milhões de brasileiros, especificamente


daqueles que compõem os movimentos sociais. Certamente, em se tratando de
reforma agrária no Brasil, cabe ressaltar os inúmeros processos que resultaram em
diversas promessas “vazias”, principalmente por parte do Legislativo Federal. As
legislações brasileiras, ao longo do seu percurso buscaram, ainda que no plano
formal, estabelecer diretrizes quanto à distribuição de terras. É nesse contexto que a
pauta de garantia à terra ganha notoriedade, mesmo que de maneira limitada, já
que, esse direito não se restringe à mera distribuição de terras, mas esta se configura
como o primeiro passo para a efetivação de outros direitos. Historicamente, as
incursões para a conquista da terra, que garanta a subsistência para os grupos
desamparados e esquecidos pelo Estado, podem ser demarcadas com maior
precisão, desde a implementação do Império, ocorrido em 1822. A partir dessa
marca histórica, as terras passaram a ser administradas por indivíduos detentores
de enorme poder político e econômico. A nobreza e a burguesia mantiveram-se
como os donos de grandes extensões de terras no país. Como consequência disso,
houve o surgimento de inúmeras desigualdades sociais e a formação de latifúndios
que persistem até os dias atuais. Apenas em 1850, foi instituído o primeiro Código
de Terras do Brasil, sendo este, considerado o primeiro grande marco da reforma
agrária no país. Surgiu a partir deste código, a “Lei de Terras", responsável por
caracterizar a terra como um elemento potencializador do lucro obtido em todo o
Brasil. Ocorre que, os grandes latifundiários do país, continuaram com a
apropriação indevida de terras por meio de grilagem, que é a falsificação de
documentos imobiliários. Diante disso, tardiamente o debate em torno dessa
problemática foi evidenciado, pondo em foco a partir de 1950 a discussão a respeito
da distribuição de terras, de maneira mais justa, as parcelas menos favorecidas
historicamente. Porém, apenas em 1966, foi lançado o primeiro Plano Nacional de
Reforma Agrária do Brasil, lamentavelmente esse plano não continha a força
suficiente para ser colocado em prática, resultando assim, em um dos inúmeros
planos de garantir a igualdade pela garantia à terra, que foram esquecidos.

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Tornando-se assim, mais uma discussão que encontrou dificuldade em avançar,
pois os impedimentos historicamente erguidos pela parcela detentora do poder
latifundiário no Brasil, representam a força política e econômica, que guia as
discussões em torno de mudanças. Assim, em 1970, o INCRA (Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária), criado pelo decreto n° 1.110. Surgiu com o
objetivo de gerir as questões fundiárias do país. Até os dias atuais, percebe-se que
tal problemática é um dos principais entraves a ser superado, pois a dinâmica
existente por trás de conceitos como Territorialidade, Terra e Território, traz
consigo uma carga patrimonialista, quase que simbiótica. Tornou-se imprescindível
reorganizar a estrutura fundiária. Diante dos fatos supracitados, ao observar a
realidade brasileira, a promessa da garantia do direito à terra que tradicionalmente
ocupou e ocupa espaços nas mesas de discussões, tem se esvaído com as várias
tentativas de relativização desse direito. Ocorre que, contemporaneamente o direito
social mitigou-se em detrimento dos valores defendidos pelos latifundiários e
ruralistas, resultando assim, numa inalterabilidade dos mecanismos que
garantiriam o progresso nos debates em torno dessa importante problemática. O
diagnóstico mais comum para essa “tragédia da terra” é de que o forte poder
político-econômico concentrado nas mãos dos grandes latifundiários do país, desde
tempos imemoriais, resultam hoje no cenário de completa descrença, de violência
no campo e na não concretização de um direito basilar do Estado Democrático de
Direito: a moradia. Assim, a promessa da reforma vai, gradativamente,
sucumbindo ao fracasso e, não se sabe ao certo, o quanto esse insucesso ainda irá
custar aos grupos mais vulneráveis.

Palavras-chaves: Reforma Agrária; Historicidade; Terra

REFERÊNCIAS

DIAS GONÇALVES, Eloísa. Cultura e desenvolvimento: perspectivas críticas em


notas para o século XXI. In: A reforma agrária no Brasil: entre permanências e
transformações. Ouro Preto, MG: Editora Decoloniza, 2022. 69 p. ISBN 978-65-00-
51061-4.
O VÍNCULO ENTRE TERRITORIALIDADE E RACISMO
AMBIENTAL: COMO A CONDIÇÃO DE MINORIA SOCIAL AFETA
O ACESSO AO TERRITÓRIO

Yasmin de Souza Pereira (UPE)


Clarissa Marques (UPE)
Suely Emilia de Barros Santos (UPE)

A temática territorialidade pode ser atravessada por diversas óticas. Nesse sentido,
estudar sobre racismo ambiental possibilita conectar diretamente os dois temas.
Dessa forma, o objetivo geral deste resumo é discutir a interseccionalidade existente
entre territorialidade e racismo ambiental. Então, tem-se os seguintes objetivos
específicos: “elucidar conceitos essenciais envolvendo territorialidade e racismo
ambiental”, bem como “analisar de que maneira o racismo ambiental influi na
territorialidade”. Metodologicamente, tem-se uma pesquisa bibliográfica, de
método exploratório e abordagem qualitativa, posto que houve um processo de
levantamento e triagem de fontes intelectuais de modo a explicar o tema proposto
(LAKATOS; MARCONI, 1992). É importante estabelecer que o conceito de
território varia de acordo com o contexto socioespacial em análise, por exemplo: na
perspectiva ocidental capitalista, o território está associado ao Estado e à
propriedade; ao passo que para povos e comunidades tradicionais relaciona-se com
questões culturais, religiosas e coletivas (ALBAGLI, 2004). Isso implica na
existência de um profundo vínculo sociocultural entre povos tradicionais e seus
territórios, dado a influência da terra no modo de vida tradicional. Similarmente, a
noção de territorialidade vem sendo alterada, acrescendo ao seu conceito
tradicional jurídico (vinculado às normas territoriais do Estado) a perspectiva
socioespacial, esta remete à coletividade e à criação de laços comunitários
(ALBAGLI, 2004). Outrossim, o racismo ambiental é a maneira pela qual grupos
étnicos minoritários e povos tradicionais (os ambientalmente excluídos) são
privados do acesso ao território e ao meio ambiente de várias formas, como: o não
reconhecimento do direito à terra, a desapropriação forçada de suas terras e a
convivência com lixo ambiental (ABREU, 2013).

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Constata-se a existência de conflitos territoriais comuns a minorias sociais, é o caso
das dificuldades relacionadas à regulamentação das terras de comunidades
indígenas e quilombolas, abrangendo a morosidade e burocracia dos procedimentos
necessários a esse reconhecimento. Ademais, a retirada de povos tradicionais de
suas terras em prol da realização de grandes obras é um fenômeno recorrente,
conforme foi verificado na Transposição do Rio São Francisco, responsável por
realocar diversos povos tradicionais, dentre eles populações camponesas habitantes
do município de Sertânia-PE. Nos dois exemplos citados anteriormente são
evidenciadas violências relacionadas ao vínculo com terra desenvolvidos por esses
povos tradicionais, sendo ameaçados não só o direito à moradia em si, como
também a cultura, a subsistência e a ancestralidade dessas populações. Além disso,
o lixo ambiental é o produto decorrente da crise ambiental no contexto de
superprodução e exploração predatória dos recursos naturais, atingindo
desigualmente as minorias sociais; é o caso das enchentes que atingem mais
gravemente populações pobres e marginalizadas (ABREU, 2013). Para mais, a
manutenção da subalternização desses grupos minoritários é fundamental ao
racismo ambiental, dado que a invisibilização e marginalização dos mesmos são
naturalizadas, não causando revolta populacional (SANTOS; SILVA; SILVA,
2022). Conclusivamente, o racismo ambiental influencia diretamente na vida das
minorias sociais de diversas maneiras, dentre elas a territorialidade pode ser afetada
diretamente, como nos casos de dificuldade de regularização fundiária ou até
mesmo de desterritorialização, ou indiretamente, prejudicando a qualidade de vida
proporcionada pelo território habitado.

Palavras-chaves: Território. Racismo ambiental. Minoria social.

REFERÊNCIAS

ABREU, Ivy Souza. Biopolítica e racismo ambiental no Brasil: a exclusão


ambiental dos cidadãos. Opinión Jurídica, Medellín, v. 12, n. 24, p. 87-99, 2013.
Disponível em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1692-25302013000200006.Acesso em: 6 abr. 2023.
ALBAGLI, Sarita. Território e territorialidade. In: LAGES, Vinícius; BRAGA,
Cristiano; MORELLI, Gustavo (Org.). Territórios em movimento: cultura e
identidade como estratégia de inserção competitiva. ed. 1. Rio de Janeiro: Relume
Dumará / Brasília, DF: SEBRAE, 2004. p. 23 - 70.

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LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Projeto e relatório de
pesquisa. In: LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade.
Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica,
projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1992.
p. 99-136.
SANTOS, Josiane Soares; SILVA, Everton Melo da; SILVA, Mylena da. Racismo
ambiental e desigualdades estruturais no contexto da crise do capital. Temporalis,
Brasília, v. 22, n. 43, p. 158-173, 2022. Disponível em:
https://periodicos.ufes.br/temporalis/article/view/37789. Acesso em: 19 ago. 2022.
CULTURA E TERRITÓRIO: A TRADIÇÃO DA TRANSMISSÃO
DE SABERES DE FORMA ORAL COMO RESISTÊNCIA AO
TRÁFICO ATLÂNTICO

Maria Isabel Queiroz dos Santos (UFPB)

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de caráter qualitativo que teve como


objetivo reconhecer a relação entre a cultura da oralidade em África e a quebra de
vínculo territorial gerada pela diáspora africana. Parte-se do pressuposto de que a
retirada de povos do continente africano no período de escravização foi um dos
principais marcos do genocídio da cultura da oralidade no Brasil por caracterizar a
quebra de vínculo territorial entre África e seus povos. Sendo uma marca do
continente africano, a cultura oral é transmitida de geração em geração através da
fala e memória dos anciãos. Durante séculos, esta oralidade se manteve sem a
interferência da escrita, preservando suas características próprias do saber, do
verbalismo e da maneira como é transmitida (OLIVEIRA; LIMA FARIAS, 2019).
Em linhas gerais, relatos transmitidos de forma oral revelam a expressão cultural de
um determinado povo e preservam as tradições que muitas vezes nem existem mais.
Além disso, revelam formas de sabedoria, refletindo a sociedade e sua maneira de
ensinar e transmitir saberes ao coletivo (SISTO, 2010). Nas diversas investidas em
territórios africanos, o colonialismo instituiu uma estratégia de opressão cultural
que ocasionou consequências devastadoras, principalmente no que diz respeito ao
surgimento de teorias baseadas em ideologias racistas e etnocêntricas. Assim,
culturas que baseavam suas tradições na oralidade foram rejeitadas e
marginalizadas frente ao conhecimento erudito de uma suposta “civilidade
puritana”, que dominava a escrita (ARAÚJO, 2018). A partir de então, os padrões
estabelecidos pelas culturas europeias consideravam que a oralidade enquanto
transmissão de saberes era uma forma primitiva de cultura e tradição.
Consideravam-se, então, os europeus uma civilização evoluída enquanto culturas
não europeias eram encaradas como arcaicas, sendo esta crença uma das
justificativas utilizadas para manter o domínio sobre outros povos. Como um dos
principais destinos da diáspora forçada pela colonização, o Brasil recebeu milhares
de africanos para serem escravizados no país.

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Esta chegada marcava, além do grande genocídio negro, uma das primeiras
violências à cultura africana: a quebra de vínculo com o território. Segundo
Mbembe (2016), a relação dos povos africanos com o território é marcada pela
história colonial e comercial. Embora ocorram mudanças nessa relação ao longo do
território dos países deste continente, nota-se que na maior parte das culturas este
vínculo, de fato, existe. Para a maior parte dos africanos, a terra é um espaço que
carrega as memórias e a ancestralidade das comunidades. Neste mesmo sentido, a
terra em África não oferece apenas recursos materiais, mas faz parte da construção
da identidade e da cultura destes povos, simbolizando as tradições e as relações
sociais das comunidades africanas. Portanto, retirá-los de suas terras foi um dos
primeiros grandes atos de crueldade do colonialismo, pois, mesmo que em outros
países perpetuasse sua cultura e costumes, o vínculo com seu território enquanto
ancestralidade e cultura já havia sido desfeito.

Palavras-chave: Oralidade. Cultura afro-brasileira. Território.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Leandro Alves de. Oralidade e diáspora africana. São Paulo: Intermeios,
2018.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. Arte & Ensaios, v. 2, n. 32, p. 122-151, 2016.
OLIVEIRA, Julvan Moreira de; LIMA FARIAS, Kelly de. “Só quem sabe onde é
Luanda saberá lhe dar valor”: a tradição oral como herança ancestral. Voluntas:
Revista Internacional de Filosofia, v. 10, n. 1, p. 43-64, jan./jun. 2019.
SISTO, Celso. O conto popular africano: a oralidade que atravessa o tempo,
atravessa o mundo, atravessa o homem. Tabuleiro de Letras, v. 3, n. 1, p. 29-46,
jan./jun. 2010.
DESAFIOS DO PLURALISMO JURÍDICO NA TUTELA DOS
QUILOMBOS DESDE A INTERCULTURALIDADE

Maria Luiza Rodrigues Dantas (UFRJ)


Lilian Márcia Balmant Emerique (UFRJ)

O presente texto é fruto das inquietações acerca da tutela jurídica às comunidades


quilombolas. O questionamento se inicia a partir da problematização das
concepções de corpo e território para instrumentalização da propriedade
quilombola no ordenamento jurídico pátrio. Para adentrar na investigação foi
necessário compreender como a universalização do direito, a partir da
colonialidade, somado ao monismo jurídico, empreendeu a manutenção do
aparelho jurídico nas mãos de um único Estado. A pesquisa é essencialmente
qualitativa, bibliográfica e construída a partir de um trajeto metodológico
atravessado por saberes diversos, os quais, em seu interior, dialogam entre si,
incidem em uma proposta de transgressão à produção do conhecimento jurídico
positivado. Nesse sentido, o problema que norteia a pesquisa é: “De que forma o
pluralismo jurídico é insuficiente para tutela jurídica quilombola a partir da
interculturalidade?”. Assim, o objetivo geral do trabalho é compreender de que
forma o pluralismo jurídico é insuficiente para tutela jurídica quilombola a partir
da interculturalidade. Portanto, os objetivos específicos que norteiam essa pesquisa
são: a) entender de que maneira a territorialidade é instrumento para a tutela
jurídica quilombola; b) compreender a percepção monista do direito em
contraposição a interculturalidade; c) problematizar as insuficiências do pluralismo
jurídico a partir da ‘jusdiversidade’. A pesquisa qualitativa será conduzida para
reinterpretação das mensagens e a compreensão de seus significados, utilizando-se
da indução e a intuição como suporte para inserção mais aprofundada dos
fenômenos que se propõe investigar (MORAES, 1999). Nesse sentido, recorremos a
saberes pluriepistemológicos, em diálogo com Adilson Moreira (2019), Catherine
Walsh (2007; 2010) e Antonio Carlos Wolkmer (1994; 2006). A partir da leitura de
Norberto Bobbio (2008) da Teoria Pura do Direito de Hans Kelsen para
compreender o positivismo jurídico e a universalização do direito.

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Em seguida, apresentar questões acerca do paradigma dominante e colonização do
saber negro enquanto subalternizado, a partir do livro Racismo Estrutural de Silvio
Almeida (2020) e a dissertação Direito e relações raciais: uma introdução crítica ao
racismo de Dora Lúcia de Lima Bertúlio (1989). Assim como Carlos Marés de
Souza Filho (2021) para ir além acerca da ‘função social da propriedade’ e
problematizar através da ‘jusdiversidade’, Milton Santos para pensar
‘territorialidade’ (2006) no Brasil e Abdias do Nascimento (2020) para refletir a
questão quilombola para além da matriz eurocêntrica, assim como a ‘Hermenêutica
Negra’ de Adilson Moreira (2019). Assim, concluímos que o pluralismo jurídico é
insuficiente para a tutela jurídica quilombola, pois o Estado não buscará legitimar,
em totalidade os direitos destes povos historicamente subalternizados. Por isso,
para delinear a tutela jurídica das comunidades quilombolas deve-se fugir da
percepção neutra e universal da propriedade quilombola para compreender esses
direitos desde a interculturalidade. Para, assim, mobilizar o desenvolvimento
cultural diverso, identitário, através da ‘jusdiversidade’.

Palavras-chaves: Quilombos; Colonialidade; Pertencimento Territorial.

REFERÊNCIAS

NASCIMENTO, Abdias. O quilombismo. Editora Perspectiva SA, 2020.


ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. Pólen Produção Editorial LTDA, 2019.
BOBBIO, Norberto. Teoria geral do direito. Tradução: Denise Agostinetti; revisão
da tradução: Silvana Cobucci Leite. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
DE SOUZA FILHO, Carlos Marés. Jusdiversidade. Revista Videre, v. 13, n. 26, p.
08-30, 2021.
MARÉS, Carlos Frederico. Função Social da Propriedade. Reforma agrária e meio
ambiente: teoria e prática no estado do Paraná. Curitiba: ITCG, 2010. 344p.
MOREIRA, Adilson José. Pensando como um negro: ensaio de hermenêutica
jurídica. Editora Contracorrente, 2019.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. Ed. 2.
Reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.

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WALSH, Catherine. Interculturalidad y colonialidad del poder. Un pensamiento y
posicionamiento ‘otro’ desde la diferencia colonial. In: Santiago Castro y Ramón
Grosfoguel (eds.), El giro decolonial. Reflexiones para una diversidad epistémica
más allá del capitalismo global, p. 47-62. Bogotá-Colombia: Siglo de Hombres
Editores, 2007.
WALSH, Catherine. Interculturalidade crítica e pedagogia de-colonial: In-surgir,
re-existir e re-viver, in: Vera Candau (ed.), Educação Intercultural hoje em América
latina concepções, tensões e propostas, Río de Janeiro: Editora 7 Letras.
WOLKMER, Antônio Carlos. Pluralismo Jurídico - Fundamentos de uma Nova
Cultura do Direito. Ed. Alfa-Ômega, São Paulo, 1994.
EDUCAÇÃO ESCOLAR E AUTORRECONHECIMENTO
QUILOMBOLA: O PAPEL DO CAMPO EDUCACIONAL PARA A
MANUTENÇÃO DOS TERRITÓRIOS

Joan Kleber Amorim da Silva (UFBA)


A educação integral diz respeito a uma concepção que visa garantir o


desenvolvimento dos indivíduos em todas as suas dimensões, preocupando-se com
os aspectos intelectuais, emocionais, físicos, culturais e sociais. Assim, segundo essa
proposta, além dos requisitos curriculares formais, a educação escolar deve levar
em consideração também a realidade fática dos/as alunos/as para que o
aprendizado se dê de maneira íntegra e responsável. No contexto quilombola, a
aplicação dos princípios da educação integral se faz ainda mais necessária. Isto
porque as comunidades quilombolas possuem traços culturais próprios, a exemplo
da forte relação com suas ancestralidades, assim como a especial relação com o
território, o qual para além de um espaço físico representa uma necessidade
cultural, econômica, política e social. Historicamente, os quilombos manifestaram-
se no âmbito nacional como afirmação da luta contra as condições degradantes às
quais os povos escravizados eram submetidos, estabelecendo internamente
mecanismos de defesa contra o aparelho repressor e instituindo-se até a
contemporaneidade como unidade produtiva, desenvolvendo atividades para
garantir a manutenção de suas terras e alimentar a população ali residente
(MOURA, 1993). Contudo, em razão do processo de colonização ao qual o Brasil
foi submetido e da colonialidade, enquanto traço moderno da lógica de dominação
(QUIJANO, 2005), estabeleceu-se um paradigma de discriminação que reitera o
espaço quilombola como subalterno, resultando em um cenário de racismo e
invisibilização da cultura e dos direitos dos povos tradicionais. Contudo, em razão
do processo de colonização ao qual o Brasil foi submetido e da colonialidade,
enquanto traço moderno da lógica de dominação (QUIJANO, 2005), estabeleceu-se
um paradigma de discriminação que reitera o espaço quilombola como subalterno,
resultando em um cenário de racismo e invisibilização da cultura e dos direitos dos
povos tradicionais.

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Daí a necessidade mais acentuada nas comunidades tradicionais de uma educação
escolar quilombola que esteja atenta às necessidades do seu povo, de modo que
também se trabalhe dentro dos conteúdos ensinados seus valores e suas referências
culturais, históricas e sociais, de modo a proporcionar a valorização e a construção
positiva da identidade quilombola (SILVA, 2018). Desta forma, o meio escolar
pode contribuir com o autorreconhecimento dos sujeitos enquanto quilombolas, o
que impacta diretamente no processo de manutenção dos seus territórios, tendo em
vista que a autodefinição é critério para titulação de suas terras, através dos
processos de regularização do direito à posse, reconhecimento, demarcação e
titulação realizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra). Logo, é imprescindível que as ações educativas sejam construídas de forma
participativa, envolvendo ativamente as pessoas da comunidade. Desta maneira, a
educação nas comunidades quilombolas, pensada a partir de uma perspectiva
contra-hegemônica, representa uma ferramenta que possibilita a ressignificação da
identidade quilombola, fortalecendo a memória étnica e o sentimento de
pertencimento à terra das populações residentes nos respectivos territórios. Assim,
visa-se a proteção da memória, das tradições, dos valores ancestrais, a fim de
garantir a preservação das comunidades (DA SILVA; SOUZA FILHO, 2010),
tanto sob a perspectiva do território enquanto espaço físico quanto do seu valor
cultural.

Palavras-chaves: Educação. Identidade quilombola. Territorialidade.

REFERÊNCIAS

Centro de Referências em Educação Integral. Conceito. Disponível em <


http://educacaointegral.org.br/conceito/>. Acesso em: 25 de jul. de 2018.
Centro de Referências em Educação Integral. Educação Quilombola. Disponível em:
<http://educacaointegral.org.br/glossario/educacao-quilombola/>. Acesso em 25 de
jul. de 2018.
Ministério da Educação. Educação Quilombola – Apresentação. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/educacao-quilombola->. Acesso em 25 de jul. de 2018.
DA SILVA, Liana Amin Lima. SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de.
Marco temporal como retrocesso dos direitos Territoriais originários indígenas e
quilombolas. Os direitos territoriais quilombolas: além do marco Territorial. Coord:
Antonio Carlos Wolkmer, Carlos Frederico Marés de Souza Filho, Maria Cristina
Vidotte Blanco Tarrega. Goiânia: Ed. da PUC Goiás, 2016. 196 p.

23
MOURA, Clóvis. Quilombos. Resistência ao escravismo. 3º Edição. São Paulo:
Editora Ática, 1993.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In:
LANDER, Edgardo (org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências
sociais. Perspectivas latinoamericanas. Colección Sur Sur, CLACSO, Ciudad
Autónoma de Buenos Aires, Argentina. Setembro, 2005. (p. 107-130).
SILVA, Delma Josefa. Educação quilombola: um direito a ser efetivado. Cartilha
produzia pelo Centro de Cultura Luiz Freire e Instituto Sumaúma. Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/dados/cartilhas/dht/cartilha_cclf_educ_quilombola_direit
o_a_ser_efetivado.pdf. Acesso em 29 de jul. 2018.
O VÍNCULO DOS POVOS TRADICIONAIS COM O MEIO
AMBIENTE ASSOCIADO AO MODO DE VIDA SUSTENTÁVEL

Marina Galvão Tavares de Oliveira Mendonça (UPE)

A Constituição Federal de 1988, no artigo 225, caracterizou o meio ambiente


ecologicamente equilibrado como um direito fundamental de todos, crucial para a
qualidade de vida de gerações atuais e futuras, sendo imposto tanto ao Poder
Público quanto à sociedade o dever de defendê-lo e preservá-lo. Infelizmente, o
disposto na carta constitucional ainda é uma utopia, pois o modo de vida das
sociedades ocidentais é voltado para a produção e consumo, enxergando o meio
ambiente apenas como fonte de recursos e riquezas, e não a partir de seu valor
intrínseco (COSTA, TEIXEIRA; 2017). O desenvolvimento, segundo essa visão, é
somente sinônimo de crescimento econômico, ou seja, a exploração e colonização
da terra se torna perfeitamente compreensível desde que esta gere riquezas.
Diferentemente de tal ponto de vista ocidental e puramente economicista, os povos
e comunidades tradicionais são grupos culturalmente diferenciados que ocupam e
usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural,
social, religiosa, ancestral e econômica (BRASIL, 2007). Apresentam uma profunda
relação com o meio ambiente, enxergando-o com o mesmo valor que qualquer
pessoa integrante da sociedade. O povo Krenak, por exemplo, vê o Rio do
território em que habitam em Minas Gerais como seu avô, a montanha, por sua
vez, é vista como um tio, construindo, assim, profunda e verdadeira relação familiar
com o meio ambiente (KRENAK, 2019). Dessa forma, o manejo da terra ocorre de
maneira sustentável, não sendo admitida exploração além do que a terra pode
oferecer, gerando, dessa forma, a efetiva proteção da natureza. Portanto, urge a
necessidade de compreender o meio ambiente a partir da comunhão, pois caso a
Terra adoeça, tudo que há nela também adoece, sendo imprescindível inserir esse
modo de vida sustentável para que, então, seja discutido o pleno desenvolvimento e
proporcionado qualidade de vida (FERNANDES, SAMPAIO; 2008).

Palavras-chaves: Sustentabilidade; povos tradicionais; desenvolvimento.

26
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Centro Gráfico, 1988.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das
Letras, 2019.
BRASIL. Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e
Comunidades Tradicionais. Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007.
GONÇALVES, Zaíra Lisley Teixeira. et al. Sociedades tradicionais e conservação
da natureza. Revista brasileira de educação ambiental, São Paulo, v. 13, n. 4, p. 79-
86, 2018.
COSTA, Beatriz Sousa; TEIXEIRA, Angélica Cristiny Ezequiel de Avelar.
Sociedades tradicionais, desenvolvimento econômico e meio ambiente: reflexões
sobre a sustentabilidade como valor constitucional. Revista Direito Ambiental e
sociedade, v. 7, n. 2, p. 145-167, 2017.
FERNANDES, Valdir; SAMPAIO, Carlos Alberto Cioce. Problemática ambiental
ou problemática socioambiental? A natureza da relação sociedade/meio ambiente.
Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 18, p. 87-94, jul./dez., 2008.
COSMOVISÕES INDÍGENAS E A PROTEÇÃO AMBIENTAL

Amana Camile Amaral Pinheiro de Siqueira (UPE)

Perceber o Brasil a partir das cosmologias indígenas permite visualizar uma


infinidade de maneiras de existir e resistir que persiste de geração em geração, pois,
tais saberes contam o mundo a partir de uma teia de relações entre os seres naturais
e sobrenaturais que incorporam toda a natureza (BONIN, 2015). Assim, nas falas
de Ailton Krenak, “quando nós narramos as histórias antigas, nós criamos o
mundo de novo, limpamos o mundo” (1992, p. 5), renascemos e perpetuamos a
nossa história e do nosso povo, vivenciando tudo aquilo o que a ancestralidade e o
sonho proporcionam à vida. Nesse sentido, o presente estudo tem, como objetivo
geral, perceber como as cosmologias indígenas contribuem para a preservação do
Planeta Terra. Como objetivos específicos, busca-se perceber a ancestralidade
indígena como caminho que propõe o equilíbrio da natureza, por meio da
observância do espírito de todas as coisas. Ademais, explora-se os caminhos que a
prática do bem viver possibilitam para a perpetuação da cultura e das futuras
gerações em harmonia com a natureza. Além de tais fatores, evidencia-se como a
cosmovisão se transforma em uma ferramenta de luta e resistência contra as
tentativas de apagamento cultural e de dizimação dos povos indígenas. Para nortear
a presente pesquisa, utiliza-se os métodos indutivo e qualitativo, analisando dados
de grupos sociais na intenção de generalizá-los e inferir uma verdade universal
(PRODANOV; FREITAS, 2019). Além disso, emprega-se informações já tratadas
acerca da temática a partir de conhecimento de outros autores -pesquisa
bibliográfica-, interpretando os fenômenos de maneira analítica e compreendendo
fatores de escala global a partir de seus componentes (PRODANOV; FREITAS,
2019). Infere-se que a cosmovisão indígena é, além de tudo, um processo que
produz identidade coletiva, através do conhecimento empírico que proporciona a
todos os indivíduos a vivência em harmonia com o Planeta Terra, logo, vai contra a
ideia civilizatória majoritária que suprime a diversidade e a sustentabilidade. Por
isso, entender os saberes indígenas e suas formas de compreender o mundo se faz
tão necessário nos dias atuais, pois essas características possibilitam a todas as
etnias e populações humanas a perpetuação de sua vida e o bem estar com o
planeta, a partir do respeito e da compreensão dos fenômenos naturais.

29
Assim, “os únicos núcleos que ainda consideram que precisam se manter agarrados
nessa Terra são aqueles que ficaram meio esquecidos pelas bordas do planeta”
(KRENAK, 2020), fazendo-se necessário ampliar as suas vozes e aplicar os seus
conhecimentos na busca de uma vida futura e harmoniosa com o meio ambiente.

Palavras-chaves: Cosmovisão. Povos indígenas. Meio Ambiente.


REFERÊNCIAS
BONIN, Iara. Cosmovisão indígena e modelo de desenvolvimento. Jornal
Porantim, julho de 2015. Disponível em: https://cimi.org.br/cosmovisao-indigena-e-
modelo-de-desenvolvimento/
KRENAK, Ailton. Antes, o mundo não existia. In: NOVAES, Adauto (org.).
Tempo e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
KRENAK, Ailton. O amanhã não está à venda. São Paulo: Companhia das Letras,
2020.
PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Metodologia do
Trabalho Científico: Métodos e Técnicas de Pesquisa e do Trabalho Acadêmico. 2ª
edição. Novo Hamburgo: FEEVALE, 2013. E-book.
UMA ANÁLISE HISTÓRICA DA MARGINALIZAÇÃO DOS
POVOS INDÍGENAS E A GARANTIA DAS TERRAS
TRADICIONALMENTE OCUPADAS
Luiz Felype Costa de Oliveira (UPE)

A Partir da modernidade, com o advento do fenômeno colonialista moderno, os


conhecimentos filosóficos indígenas foram sistematicamente oprimidos graças a
genocídio intelectual realizado no âmbito das colônias. É evidente como a invasão
ideológica colonialista provocou severas mudanças na forma de pensar dos povos
nativos. O processo de apagamento intelectual e cultural realizado pelos
colonizadores foi marcado também pela marginalização dos povos originários, que
se deslocavam cada vez mais para áreas em que a perseguição não fosse tão
acentuada. Essa marginalização acaba por modificar a relação das comunidades
com o meio ambiente, que são indiretamente forçadas a se adequar aos parâmetros
eurocêntricos, visto isso, Ailton Krenak (2015) atenta ao fato de se repensar os
conceitos estabelecidas pela relação de dominação, fazendo-se necessário quebrar
com os paradigmas do aculturamento. O ideal acerca da propriedade privada e da
relação com a terra trazido pelos portugueses ao Brasil entrou em conflito direto
com o ideário dos povos originários, e pelo exercício sistemático da violência
(característica do fenômeno colonialista), aquele foi imposto a estes (NOGUEIRA,
2016). Logo, essa relação substancial dos povos indígenas com o território sofre
uma quebra justamente devido à instabilidade histórica das ocupações, essa
instabilidade vai afetar diretamente na garantia constitucional trazida no artigo
231, § 2, que garante o usufruto da terra para as que são tradicionalmente
ocupadas, pois tradicionalidade está ligada a uma visão biológica e memorial da
terra (ALMEIDA, 2004) que muitas fezes não pode ser observada devido a essa
movimentação e a não limitação do povo indígena com um único espaço, ademais,
a previsão ainda versa sobre essas terras tradicionalmente ocupadas serem de posse
permanente, mas, acaba encontrando impedimentos para efetivação desse direito
devido a falta de demarcação dessas terras (MONTEIRO; SQUEF) que sofre com
a invasão, a violência, a falta de proteção e consequentemente com a diminuição e
marginalização desses povos.

32
Nota-se que a ausência de uma proteção forte da garantia constitucional da posse
permanente dessas terras pelas comunidades indígenas, cria um novo modelo de
genocídio dessas culturas e de sua ligação com a terra.

Palavras-chaves: Apagamento; indígenas; Constituição

REFERÊNCIAS

MONTEIRO, Michelle; SQUEFF, Tatiana. De cuestión indígena y la construcion


indígena e da construção de um estado plurinacional. Anais do III seminário
internacional constitucionalismo no século XXI: Direitos humanos para um diálogo
entre América Latina e África. 2019. Disponível em:
https://doi.org/10.22409/rcj.v6i13.748 . Acesso 17 abr. 2023
DE ALMEIDA, Alfredo Wagner. Conceito de terras tradicionalmente ocupadas.
2005.
NOGUEIRA, Renato. Introdução à Filosofia a Partir da História e Culturas dos
Povos Indígenas. Interinstitucional Artes de Educar. Rio de Janeiro, v. 1, n.3, out
2015 - jan 2016.
KRENAK, A. PAISAGENS, TERRITÓRIOS E PRESSÃO COLONIAL. Espaço
Ameríndio, Porto Alegre, v. 9, n. 3, p. 327, 2015. DOI: 10.22456/1982-6524.61133.
Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/EspacoAmerindio/article/view/61133.
Acesso em: 17 abr. 2023.
OS DIREITOS HUMANOS E A SUA OBSERVÂNCIA NO QUE
DIZ RESPEITO ÀS POPULAÇÕES INDÍGENAS BRASILEIRAS
NO CENÁRIO ATUAL
Emanuel Christiano Antunes de Moura (UPE)
João Victor Diogo Novais (UPE)

O presente resumo visa discutir a origem estrutural dos Direitos Humanos e sua
associação de eficácia às populações indígenas brasileiras, abordando os conceitos
introduzidos pelo filósofo italiano Norberto Bobbio em consonância à atenção
aborígene. Da mesma forma, a exposição busca analisar as disposições normativas
referentes à proteção e garantia das terras indígenas, entendendo a relação existente
entre a trajetória de lutas e as conquistas destes povos para obter o seu espaço na
projeção contemporânea. Para alcançar o propósito, o estudo, de modo amplo,
discorre sobre os caminhos para repensar a atuação do Poder Público nacional com
relação à tutela dos Direitos Humanos aos povos aborígenes e a busca de meios
para a efetivação dessas garantias fundamentais previstas em lei. Inicialmente,
entende-se que, por mais que o Brasil seja conhecido mundialmente por sua
diversidade cultural, a ausência de uma legislação acerca da proteção das etnias
dispersas territorialmente passou a ser um fator que requer modificações, tendo por
base a análise da história nacional contemplada por uma visão etnocêntrica dos
colonizadores europeus e a opressão a qual os povos nativos foram submetidos
(ALMEIDA, 2018). Outrossim, ainda que a recente Carta Constitucional de 1988
conceda proteção aos povos indígenas, as convicções ideológicas dos últimos
representantes do Estado brasileiro refletem diretamente no cumprimento da
garantia sociojurídica aos seus territórios delimitados, sendo, portanto, ideologias
que estarão diretamente ligadas à eficácia da norma jurídica a estes indivíduos
(SILVA, 2015). Dessa forma, ao obter as informações a partir do contexto histórico
das Constituições brasileiras somado às ponderações feitas pelos representantes do
Poder Executivo, tem-se a essencialidade do reconhecimento e da efetivação prática
dos Direitos Humanos Indígenas no Brasil, visto que o conteúdo, posto à máxima
constitucional, será realizado mediante dispositivos formais junto às interpretações
dos fatos apresentados, estes últimos motivados por políticas públicas e pela
atenção voltada às classes historicamente vulneráveis (MARQUES, 2016).

34
Palavras-chave: Direitos Humanos. Povos indígenas. Território.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Antonio Cavalcante. Aspectos das políticas indigenistas no Brasil.


Scielo Brasil, 2018. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/inter/a/rQk3vztRBF6WNbwCdwPTPFQ/?lang=pt. Acesso
em: 7 out. 2022.
MARQUES, Clarissa. Propriedade e função social: uma hipótese de não-colisão?
Duc In Altum - Cadernos de Direito, v. 3, n. 4, 2016. Disponível em:
https://revistas.faculdadedamas.edu.br/index.php/cihjur/article/view/130. Acesso
em: 7 out. 2022.
SILVA, S. A. O conceito de ideologia: Tracy, Marx, Engels e Gramsci. In:
Seminário Nacional de Serviço Social, Trabalho e Política Social, Florianópolis,
2015. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/180623/Eixo_2_21.pdf?
sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 7 out. 2022.
NEOEXTRATIVISMO E PROCESSOS DE
DESTERRITORIALIZAÇÃO: POSSÍVEIS IMPACTOS ÀS
IDENTIDADES SOCIOCULTURAIS DE POVOS E COMUNIDADES
TRADICIONAIS
Ingrid Tereza de Moura Fontes (UFPB)
Anne Gabriele Alves Guimarães (FACCON)

O presente resumo apresenta o neoextrativismo enquanto modelo de


desenvolvimento e os processos de desterritorialização, inerentes a
megaempreendimentos neoextrativistas. Para compor o percurso metodológico
dessa pesquisa, trabalha-se a transdisciplinaridade ao relacionar direitos humanos,
justiça ambiental, valores socioeconômicos, culturais, raciais e étnicos (ROBLES,
2013). Entende-se que as megaobras contribuem para o enfraquecimento das
identidades culturais e socioterritoriais, bem como para a marginalização
significativa do “lugar” enquanto espaço de imaginários diversos e de pluralidade
de modos de ser (ESCOBAR, 2005). Os “lugares de memória” dos sujeitos são
afetados em razão do rompimento do vínculo entre o indivíduo e seu espaço
geossimbólico (BONNEMAISON, 2002), o qual é carregado de afetividade e de
significações para os indivíduos que nele vivem. Por esta razão, torna-se um
território-santuário, um local de comunhão entre aquelas pessoas; não podendo a
noção territorial ser desvencilhada da ideia de conservação cultural. Ao abordar a
construção de megaempreendimentos em territórios de Povos e Comunidades
Tradicionais (PCTs), deve-se mencionar os prováveis impactos/danos às
identidades socioculturais dos sujeitos envolvidos. Nesse contexto, os processos de
desterritorialização ocorrem paralelamente às questões da identidade, uma vez que
a desterritorialização pode estar ligada a uma hibridização cultural, impedindo ou
dificultando o reconhecimento de identidades previamente definidas
(HAESBAERT, 2004). No tocante ao grau de exposição a esses danos, os PCTs
sofrem de forma mais direta e imediata, pois na maioria das vezes, a instalação de
megaempreendimentos que visam o desenvolvimento econômico é feita dentro (ou
nas proximidades) de territórios tradicionais.

37
Essa situação não decorre de uma condição natural, tampouco está relacionada a
uma determinação geográfica ou a uma causalidade histórica. Envolve processos e
estratégias sociais e políticas responsáveis por distribuir de forma desigual a
proteção ambiental. Nesse sentido, além de deteriorar grave e irreversivelmente o
meio ambiente, a economia neoextrativista gera custos sociais, definidos como
perdas que geralmente não constam nas avaliações de impactos ambientais e que
acabam sendo transferidas à sociedade (ACOSTA, 2016). O que existe é uma iníqua
distribuição territorial dos benefícios e ônus dos processos de desenvolvimento,
deflagrando uma injustiça social e ambiental. Assim, conclui-se que o anseio por
crescimento econômico instaurou uma crise civilizatória, a qual foi legitimada a
partir da negação da natureza, das culturas, das territorialidades, da ancestralidade
e da historicidade dos povos que habitam os territórios disputados por grandes
empresas.

Palavras-chaves: Neoextrativismo. Desenvolvimento. Territorialidades. Povos e


Comunidades Tradicionais.

REFERÊNCIAS

ACOSTA, Alberto. Extrativismo e neoextrativismo: duas faces da mesma


maldição. In: DILGER, Gerhard; LANG, Miriam; PEREIRA FILHO, Jorge
(Orgs.). Descolonizar o imaginário: debates sobre pós-extrativismo e alternativas ao
desenvolvimento. São Paulo: Elefante, 2016. p. 47-85.
BONNEMAISON, Joël. Viagem em torno do território. In: Geografia Cultural: um
século. Rio de Janeiro, Eduerj, 2002, p. 83-131.
ESCOBAR, Arturo. O lugar da natureza e a natureza do lugar:globalização oupós-
desenvolvimento?. In: LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber:
eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Colección Sur Sur,
CLACSO - Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, Ciudad Autónoma de
Buenos Aires, Argentina, 2005.
HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do fim dos territórios à
multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil, 2004. Capítulo 2.
Definindo Território para Entender a Desterritorialização. P. 35-98.
ROBLES, Gabriel A. Luchas, experiencias y resistencias en la diversidad y
multiplicidad. Bogotá: Mundo Berriak, 2013.
O POVO INDÍGENA KAPINAWÁ: CONFLITOS
SOCIOAMBIENTAIS E ENERGIA RENOVÁVEL
Aylla Monteiro de Oliveira (UPE)

A proposta de construção de parques eólicos tem sido defendida por diversos


setores como medida adequada para substituir ou diminuir a produção de energia
elétrica proveniente de fontes fósseis e não renováveis como o petróleo, o carvão
mineral e o gás natural, incluindo-a como importante recurso para o
desenvolvimento sustentado. No ano de 2021 a energia eólica tornou-se a segunda
maior fonte de geração de energia do Brasil, perdendo apenas para a energia
hidráulica, sendo a região Nordeste a responsável por 86% da produção desse tipo
de energia, possuindo 708 dos 805 parques instalados no país (BRASIL, 2022). Em
contraposição ao discurso oficial que defende a compatibilidade da energia eólica
com as atividades rurais e o aumento da produção, esses parques eólicos modificam
substancialmente a relação que essas populações têm com os seus territórios e os
recursos naturais existentes para sua reprodução física e cultural, com modificações
significativas da paisagem natural desses ambientes. Nesse contexto, analisando a
questão através da realidade indígena, podemos observar o projeto amparado por
um relatório ambiental simplificado para a instauração de um parque eólico na
cidade de Buíque, interior do estado de Pernambuco. Ocorre que o
empreendimento proposto se encontra justamente dentro dos limites da área
reivindicada para que ocorra a ampliação do Território Indígena Kapinawá, além
de estar também em área de fronteira com as terras já demarcadas, com previsão de
cerca de 70 aerogeradores, ocupando uma área de aproximadamente 3000 ha.
Assim, a ideia de desenvolvimento econômico em conformidade com a
implementação e impactos da instauração de energia renovável em contexto de
comunidades tradicionais, evidencia também a fragilidade dos licenciamentos
ambientais no tocante ao componente indígena (CHAVES; BRANNSTROM;
SILVA, 2017). Além disso, serão abordadas as concepções de territorialidade e os
conflitos territoriais envolvendo o processo de demarcação da TI Kapinawá frente
a todas as idealizações de desenvolvimento e sustentabilidade.

40
Desse modo, não se pode relativizar os impactos ambientais e os conflitos
socioambientais produzidos por grandes projetos de desenvolvimento econômico
com a aplicação de diversas medidas de boa governança ambiental que visem
assegurar uma suposta conciliação entre o respeito aos direitos territoriais dos
povos indígenas e populações tradicionais e o discurso do desenvolvimento
econômico sob a ótica da globalização neoliberal (LÔBO, 2021).

Palavras-chaves: Energia Eólica. Povo Kapinawá. Conflitos Socioambientais.


Territorialidade.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Brasil sobe para a sexta posição em


ranking internacional de energia eólica. Brasília, 2022. Disponível em:
https://www.gov.br/mme/pt-br/assuntos/noticias/brasil-sobe-para-a-sexta-posicao-
em-ranking-internacional-de-energia-eolica. Acesso em: 04/04/2023.
CHAVES, Leilane Oliveira; BRANNSTROM, Christian; SILVA, Edson Vicente
da. Energia eólica e a criação de conflitos: ocupação dos espaços de lazer em uma
comunidade no Nordeste do Brasil. Sociedade e Território – Natal. Vol. 29, n. 2, p.
49-69, Jul./Dez. de 2017, pp. 49-69. Disponível em:
https://periodicos.ufrn.br/sociedadeeterritorio/article/view/12881/9074. Acesso: 06
de out. 2022.
LÔBO, Sandro Henrique Calheiros. Mineração e Direitos Humanos: a resistência
indígena à mineração no âmbito do Sistema Interamericano de Direitos Humanos.
Tese (Doutorado) Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Universidade
Federal de Pernambuco, PE, Recife: 2021. Disponível em:
https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/43732. Acesso: 06 de out. 2022.
A INTERIORIZAÇÃO DOS PARQUES DE ENERGIA EÓLICA
EM PERNAMBUCO E OS SEUS IMPACTOS SOBRE OS
TERRITÓRIOS
Maria Luiza Bezerra Noé (UPE)

A sociedade colonial brasileira enquanto fruto da modernidade e da monocultura


do açúcar floresceu, a princípio, em terras pernambucanas. Nesse sentido, explica
Galeano (2020) que tal território foi alvo de subordinação à monocultura, de forma
que foi estabelecida historicamente e estruturalmente uma relação de exploração,
colocando determinadas regiões em “atraso”, segundo a ótica desenvolvimentista.
Tal relação, enquanto moeda de troca moderna, é fator determinante para a
legitimação, reverberação e existência do modelo socioeconômico imperialista, além
de construir cárceres que constantemente retiram a humanidade de seus alvos
(GALEANO, 2020). A falta deste polo de subalternidade implica na falência da
modernidade (MAGALHÃES, 2015). Santana e Silva (2021) ainda expõem que os
grandes empreendimentos transformam locais subalternos em alvos pela
consequente facilidade de dominação territorial. Assim, no que tange à
interiorização de grandes empreendimentos energéticos e de estrutura, territórios
mais vulneráveis e “menos desenvolvidos” de Pernambuco são invadidos sob a
inobservância do valor material e imaterial para as comunidades-alvo, bem como
são utilizados discursos deturpados sobre possíveis benefícios. Como consequência,
tais comunidades convivem diariamente com as injustiças territoriais e a turbação
pelo estabelecimento destes grandes empreendimentos em áreas camponesas.
Assim, como objetivo geral, buscou-se analisar os impactos da interiorização dos
parques de energia eólica em Pernambuco e os seus impactos sobre os territórios.
Quanto aos objetivos específicos, visou-se: 1) Compreender a visão de
desenvolvimento em Pernambuco sob a ótica moderna; e 2) Investigar os impactos
da implementação e interiorização da energia eólica nos territórios pernambucanos.
Como metodologia, utilizou-se a dedução em razão de partir de questões gerais
para chegar a conclusões particulares, bem como foi satisfatória a modalidade de
pesquisa bibliográfica (GIL, 1999). Historicamente, com as invasões à América em
1492, há o estabelecimento de um sistema de Estado baseado na hegemonia
europeia. Essa lógica hegemônica de sistema, dita “desenvolvimentista”, tornou-se
um modelo que prospera na carência de direitos dos subalternizados
(MAGALHÃES, 2015).
42
Com tal configuração socioeconômica sendo estabelecida em terras brasileiras, foi
firmada ao longo do tempo a monocultura açucareira na região de Pernambuco.
Em razão disso, vê-se estabelecida a supracitada relação de subalternização com
fins de exploração. Tal artifício colonial reverbera ainda contemporaneamente pela
exploração de grandes empreendimentos em áreas estruturalmente vulneráveis.
Nesse sentido, são vivenciadas injustiças territoriais em razão da implantação dos
parques eólicos nas áreas de moradia camponesa. Acerca da injustiça territorial,
Bezerra (2021) entende que é a situação socioespacial e territorial em que há o
estabelecimento invasivo de sujeitos hegemônicos, pois há relações de poder
calcadas na lógica de acumulação capitalista e colonizadora. Percebe-se, então, que,
dentre os impactos territoriais, podem ser citadas a divisão da classe camponesa
mediante contratos de arrendamento para fins de controle territorial, a
reconfiguração dos territórios para melhor desfrute empresarial, a interrupção da
vida e do trabalho no campo e, por fim, a desterritorialização das comunidades
camponesas pelas injustiças territoriais (BEZERRA, 2021).

Palavras-chave: Interiorização da energia eólica. Territórios. Injustiça ambiental.

REFERÊNCIAS

BEZERRA, Alexandre Chaves. Territórios camponeses e a dinâmica territorial dos


negócios dos ventos: um caso de injustiça socioambiental e territorial provocada pela
energia eólica no nordeste do Brasil. 2021. Dissertação (Mestrado em Geografia) –
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2021.
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. 1. ed. Porto Alegre:
L&PM, 2020.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4. ed. São Paulo: Atlas,
1999.
MAGALHÃES, José Luiz Quadros de. Novo constitucionalismo e superação da
modernidade. Rev. Fac. Direito UFMG, Belo Horizonte, v. 3, n. 66, p. 375-394,
2015.
SANTANA, Amanda Oliveira de; SILVA, Tarcísio Augusto Alves da. Produção de
energia eólica em Pernambuco e a injustiça ambiental sobre comunidades rurais.
Katál, Florianópolis, ed. 24, n. 1, jan./abr. 2021.
A DESTERRITORIALIZAÇÃO E OS DANOS DA PERDA

Vitória Cynara da Silva Sousa (UPE)


Luiz Tiago Galindo Melo (UPE)
Clarissa Marques (UPE)
Suely Emilia Santos (UPE)

Nos tempos atuais, é perceptível como o Estado, enquanto máquina de produção e


sistematização humana, legitima e subsidia grandes empreendimentos em função do
ideal desenvolvimentista imposto à sociedade. Tal ideia, fomentada em grande
parte pelo modelo capitalista que permeia o ocidente, contribui para uma lógica
excludente e limitante, que concentra o acesso ao tão prometido “desenvolvimento”
em pouquíssimas mãos. A partir dessa sistemática, é possível conceber que uma das
ferramentas utilizadas na busca por espaços “disponíveis” para megaconstruções é
a desterritorialização. É nítido que essa lógica provoca graves impactos,
principalmente, quando ocorre em comunidades vulneráveis, na medida em que a
retirada de pessoas de seus territórios atinge não somente a situação econômica,
mas toda a estrutura e vivência, dado que as mesmas são submetidas à aceitação do
modelo de desenvolvimento imposto, e, consequentemente, a todos os danos por ele
gerados. Nesse ínterim, a “constante movimentação de dinheiro para gerar cada vez
mais riquezas concentradas nas mãos de poucos” (MARQUES; et all, 2021, p. 439)
repercute no processo de retirada de comunidades dos seus lares, das suas terras,
em função de uma produção econômica desigual que se perpetua no Brasil. Além
disso, há uma desconsideração e segregação, que acaba por inviabilizar direitos e
garantias constitucionais, a exemplo da dignidade da pessoa humana, prevista no
art. 1º, inciso III, da Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Sendo
assim, é imprescindível investigarmos a territorialidade e os processos que
danificam a terra como um dano não apenas econômico, dado que o território é
vital para a cultura, para os hábitos e rituais dos povos e comunidades
vulnerabilizados. Quando o desenvolvimento não é para todos, e muito menos para
aqueles vulnerabilizados, o que sobra é o ônus da relação abusiva de
desterritorialização sentida por quem se encontra na base da cadeia de poder.

45
Palavras-chaves: Territorialidade; Desterritorialização; Povos originários; Danos;
Sofrimento.

REFERÊNCIAS

DA COSTA, R. G. de S.; OLIVEIRA, M. C. da S. Etnografia do ambientalismo


corporativo: notas para uma antropologia do estado de morte que marca o campo
dos megaempreendimentos. Antropolítica - Revista Contemporânea De
Antropologia, n. 49, 2020.
GUIMARÃES, Anne Gabriele Alves; MARQUES, Clarissa; SANTOS, Suely
Emilia de Barros. TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO: O padrão
desenvolvimentista através de megaempreendimentos e seus consequentes
deslocamentos forçados. Revista Científica do UniRios, n. 30, p. 437-459, 2021.1.
Programa Direitos em Movimento

Universidade de Pernambuco (UPE)


Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC/UPE)

Realização, Produção e Apoio:

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