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Povos da terra,
ambiente e saúde
Realização
Universidade de Pernambuco (UPE)
Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC/UPE)
Produção
Grupo de Estudos e Pesquisas Transdisciplinares sobre Meio
Ambiente Diversidade e Sociedade (GEPT/UPE/CNPq)
Programa de Extensão Direitos em Movimento (DIMO/UPE)
Coordernação/Orientação
Clarissa Marques
Felipo Bona
Fotos
Acervo GEPT e Povo Kapinawa
Projeto Gráfico
Pedro Rhafael Monteiro de Lima
Revisor
Rogério Mendes Coelho (UFRN)
Direitos em Movimento
Povos da terra,
ambiente e saúde
Biblioteca Arcoverde
Universidade de Pernambuco – UPE
Inclui referências.
ISBN 978-65-00-72784-5
A Cartilha Aberta, que possui como título “Povos da Terra, Ambiente e Saúde”,
traz em seu início uma Carta da Deputada Estadual em Pernambuco Rosa
Amorim. Na sequência temos resumos desenvolvidos por discentes, egressas e
egressos, do curso de Direito, campus Arcoverde da UPE, bem como colaboradoras
e colaboradores de outras Universidades, com o objetivo de provocar inquietações
para quem se disponha a realizar uma pausa e ler um pouco das ideias,
resumidamente, apresentadas por nós.
Seguimos fortes!
Equipe DIMO e GEPT
Carta aberta
Não se morre de fome. As pessoas são assassinadas por um projeto que não
alimenta o nosso povo. E é contra esse projeto de morte que o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) luta por Reforma Agrária. A questão da
Terra no Brasil é estrutural e fundante das desigualdades, por isso se torna essencial
para pensarmos um país mais justo e desenvolvido, o processo de Reforma Agrária.
E Reforma Agrária para o MST consiste na distribuição massiva de terras a
camponesas e camponeses, democratizando a propriedade, garantindo o seu acesso,
distribuindo a todos que quiserem dela produzir e usufruir. Mas, a luta pela
Reforma Agrária não é uma luta desassociada, ela está vinculada diretamente às
maiores necessidades do Brasil e do povo brasileiro, desde a produção de alimentos,
mas, também de acesso aos direitos diversos, como saúde, lazer, educação. Produzir
alimento é hoje uma das principais bandeiras de luta do movimento Sem Terra,
sobretudo pela ótica da fome, que assola novamente a vida das pessoas que vivem
no campo, mas, sobretudo das cidades. Além disso, sabemos que a solução para
estes problemas só será possível por meio de um Projeto Popular para o Brasil –
fruto da organização e mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras rurais e
urbanos. E confiamos que a realização da Reforma Agrária Popular, ao
democratizar o acesso à terra e produzir alimentos saudáveis, é nossa contribuição
mais efetiva para a realização de um Projeto Popular para o país.
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Tornando-se assim, mais uma discussão que encontrou dificuldade em avançar,
pois os impedimentos historicamente erguidos pela parcela detentora do poder
latifundiário no Brasil, representam a força política e econômica, que guia as
discussões em torno de mudanças. Assim, em 1970, o INCRA (Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária), criado pelo decreto n° 1.110. Surgiu com o
objetivo de gerir as questões fundiárias do país. Até os dias atuais, percebe-se que
tal problemática é um dos principais entraves a ser superado, pois a dinâmica
existente por trás de conceitos como Territorialidade, Terra e Território, traz
consigo uma carga patrimonialista, quase que simbiótica. Tornou-se imprescindível
reorganizar a estrutura fundiária. Diante dos fatos supracitados, ao observar a
realidade brasileira, a promessa da garantia do direito à terra que tradicionalmente
ocupou e ocupa espaços nas mesas de discussões, tem se esvaído com as várias
tentativas de relativização desse direito. Ocorre que, contemporaneamente o direito
social mitigou-se em detrimento dos valores defendidos pelos latifundiários e
ruralistas, resultando assim, numa inalterabilidade dos mecanismos que
garantiriam o progresso nos debates em torno dessa importante problemática. O
diagnóstico mais comum para essa “tragédia da terra” é de que o forte poder
político-econômico concentrado nas mãos dos grandes latifundiários do país, desde
tempos imemoriais, resultam hoje no cenário de completa descrença, de violência
no campo e na não concretização de um direito basilar do Estado Democrático de
Direito: a moradia. Assim, a promessa da reforma vai, gradativamente,
sucumbindo ao fracasso e, não se sabe ao certo, o quanto esse insucesso ainda irá
custar aos grupos mais vulneráveis.
REFERÊNCIAS
A temática territorialidade pode ser atravessada por diversas óticas. Nesse sentido,
estudar sobre racismo ambiental possibilita conectar diretamente os dois temas.
Dessa forma, o objetivo geral deste resumo é discutir a interseccionalidade existente
entre territorialidade e racismo ambiental. Então, tem-se os seguintes objetivos
específicos: “elucidar conceitos essenciais envolvendo territorialidade e racismo
ambiental”, bem como “analisar de que maneira o racismo ambiental influi na
territorialidade”. Metodologicamente, tem-se uma pesquisa bibliográfica, de
método exploratório e abordagem qualitativa, posto que houve um processo de
levantamento e triagem de fontes intelectuais de modo a explicar o tema proposto
(LAKATOS; MARCONI, 1992). É importante estabelecer que o conceito de
território varia de acordo com o contexto socioespacial em análise, por exemplo: na
perspectiva ocidental capitalista, o território está associado ao Estado e à
propriedade; ao passo que para povos e comunidades tradicionais relaciona-se com
questões culturais, religiosas e coletivas (ALBAGLI, 2004). Isso implica na
existência de um profundo vínculo sociocultural entre povos tradicionais e seus
territórios, dado a influência da terra no modo de vida tradicional. Similarmente, a
noção de territorialidade vem sendo alterada, acrescendo ao seu conceito
tradicional jurídico (vinculado às normas territoriais do Estado) a perspectiva
socioespacial, esta remete à coletividade e à criação de laços comunitários
(ALBAGLI, 2004). Outrossim, o racismo ambiental é a maneira pela qual grupos
étnicos minoritários e povos tradicionais (os ambientalmente excluídos) são
privados do acesso ao território e ao meio ambiente de várias formas, como: o não
reconhecimento do direito à terra, a desapropriação forçada de suas terras e a
convivência com lixo ambiental (ABREU, 2013).
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Constata-se a existência de conflitos territoriais comuns a minorias sociais, é o caso
das dificuldades relacionadas à regulamentação das terras de comunidades
indígenas e quilombolas, abrangendo a morosidade e burocracia dos procedimentos
necessários a esse reconhecimento. Ademais, a retirada de povos tradicionais de
suas terras em prol da realização de grandes obras é um fenômeno recorrente,
conforme foi verificado na Transposição do Rio São Francisco, responsável por
realocar diversos povos tradicionais, dentre eles populações camponesas habitantes
do município de Sertânia-PE. Nos dois exemplos citados anteriormente são
evidenciadas violências relacionadas ao vínculo com terra desenvolvidos por esses
povos tradicionais, sendo ameaçados não só o direito à moradia em si, como
também a cultura, a subsistência e a ancestralidade dessas populações. Além disso,
o lixo ambiental é o produto decorrente da crise ambiental no contexto de
superprodução e exploração predatória dos recursos naturais, atingindo
desigualmente as minorias sociais; é o caso das enchentes que atingem mais
gravemente populações pobres e marginalizadas (ABREU, 2013). Para mais, a
manutenção da subalternização desses grupos minoritários é fundamental ao
racismo ambiental, dado que a invisibilização e marginalização dos mesmos são
naturalizadas, não causando revolta populacional (SANTOS; SILVA; SILVA,
2022). Conclusivamente, o racismo ambiental influencia diretamente na vida das
minorias sociais de diversas maneiras, dentre elas a territorialidade pode ser afetada
diretamente, como nos casos de dificuldade de regularização fundiária ou até
mesmo de desterritorialização, ou indiretamente, prejudicando a qualidade de vida
proporcionada pelo território habitado.
REFERÊNCIAS
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LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Projeto e relatório de
pesquisa. In: LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade.
Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica,
projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1992.
p. 99-136.
SANTOS, Josiane Soares; SILVA, Everton Melo da; SILVA, Mylena da. Racismo
ambiental e desigualdades estruturais no contexto da crise do capital. Temporalis,
Brasília, v. 22, n. 43, p. 158-173, 2022. Disponível em:
https://periodicos.ufes.br/temporalis/article/view/37789. Acesso em: 19 ago. 2022.
CULTURA E TERRITÓRIO: A TRADIÇÃO DA TRANSMISSÃO
DE SABERES DE FORMA ORAL COMO RESISTÊNCIA AO
TRÁFICO ATLÂNTICO
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Esta chegada marcava, além do grande genocídio negro, uma das primeiras
violências à cultura africana: a quebra de vínculo com o território. Segundo
Mbembe (2016), a relação dos povos africanos com o território é marcada pela
história colonial e comercial. Embora ocorram mudanças nessa relação ao longo do
território dos países deste continente, nota-se que na maior parte das culturas este
vínculo, de fato, existe. Para a maior parte dos africanos, a terra é um espaço que
carrega as memórias e a ancestralidade das comunidades. Neste mesmo sentido, a
terra em África não oferece apenas recursos materiais, mas faz parte da construção
da identidade e da cultura destes povos, simbolizando as tradições e as relações
sociais das comunidades africanas. Portanto, retirá-los de suas terras foi um dos
primeiros grandes atos de crueldade do colonialismo, pois, mesmo que em outros
países perpetuasse sua cultura e costumes, o vínculo com seu território enquanto
ancestralidade e cultura já havia sido desfeito.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Leandro Alves de. Oralidade e diáspora africana. São Paulo: Intermeios,
2018.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. Arte & Ensaios, v. 2, n. 32, p. 122-151, 2016.
OLIVEIRA, Julvan Moreira de; LIMA FARIAS, Kelly de. “Só quem sabe onde é
Luanda saberá lhe dar valor”: a tradição oral como herança ancestral. Voluntas:
Revista Internacional de Filosofia, v. 10, n. 1, p. 43-64, jan./jun. 2019.
SISTO, Celso. O conto popular africano: a oralidade que atravessa o tempo,
atravessa o mundo, atravessa o homem. Tabuleiro de Letras, v. 3, n. 1, p. 29-46,
jan./jun. 2010.
DESAFIOS DO PLURALISMO JURÍDICO NA TUTELA DOS
QUILOMBOS DESDE A INTERCULTURALIDADE
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Em seguida, apresentar questões acerca do paradigma dominante e colonização do
saber negro enquanto subalternizado, a partir do livro Racismo Estrutural de Silvio
Almeida (2020) e a dissertação Direito e relações raciais: uma introdução crítica ao
racismo de Dora Lúcia de Lima Bertúlio (1989). Assim como Carlos Marés de
Souza Filho (2021) para ir além acerca da ‘função social da propriedade’ e
problematizar através da ‘jusdiversidade’, Milton Santos para pensar
‘territorialidade’ (2006) no Brasil e Abdias do Nascimento (2020) para refletir a
questão quilombola para além da matriz eurocêntrica, assim como a ‘Hermenêutica
Negra’ de Adilson Moreira (2019). Assim, concluímos que o pluralismo jurídico é
insuficiente para a tutela jurídica quilombola, pois o Estado não buscará legitimar,
em totalidade os direitos destes povos historicamente subalternizados. Por isso,
para delinear a tutela jurídica das comunidades quilombolas deve-se fugir da
percepção neutra e universal da propriedade quilombola para compreender esses
direitos desde a interculturalidade. Para, assim, mobilizar o desenvolvimento
cultural diverso, identitário, através da ‘jusdiversidade’.
REFERÊNCIAS
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WALSH, Catherine. Interculturalidad y colonialidad del poder. Un pensamiento y
posicionamiento ‘otro’ desde la diferencia colonial. In: Santiago Castro y Ramón
Grosfoguel (eds.), El giro decolonial. Reflexiones para una diversidad epistémica
más allá del capitalismo global, p. 47-62. Bogotá-Colombia: Siglo de Hombres
Editores, 2007.
WALSH, Catherine. Interculturalidade crítica e pedagogia de-colonial: In-surgir,
re-existir e re-viver, in: Vera Candau (ed.), Educação Intercultural hoje em América
latina concepções, tensões e propostas, Río de Janeiro: Editora 7 Letras.
WOLKMER, Antônio Carlos. Pluralismo Jurídico - Fundamentos de uma Nova
Cultura do Direito. Ed. Alfa-Ômega, São Paulo, 1994.
EDUCAÇÃO ESCOLAR E AUTORRECONHECIMENTO
QUILOMBOLA: O PAPEL DO CAMPO EDUCACIONAL PARA A
MANUTENÇÃO DOS TERRITÓRIOS
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Daí a necessidade mais acentuada nas comunidades tradicionais de uma educação
escolar quilombola que esteja atenta às necessidades do seu povo, de modo que
também se trabalhe dentro dos conteúdos ensinados seus valores e suas referências
culturais, históricas e sociais, de modo a proporcionar a valorização e a construção
positiva da identidade quilombola (SILVA, 2018). Desta forma, o meio escolar
pode contribuir com o autorreconhecimento dos sujeitos enquanto quilombolas, o
que impacta diretamente no processo de manutenção dos seus territórios, tendo em
vista que a autodefinição é critério para titulação de suas terras, através dos
processos de regularização do direito à posse, reconhecimento, demarcação e
titulação realizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra). Logo, é imprescindível que as ações educativas sejam construídas de forma
participativa, envolvendo ativamente as pessoas da comunidade. Desta maneira, a
educação nas comunidades quilombolas, pensada a partir de uma perspectiva
contra-hegemônica, representa uma ferramenta que possibilita a ressignificação da
identidade quilombola, fortalecendo a memória étnica e o sentimento de
pertencimento à terra das populações residentes nos respectivos territórios. Assim,
visa-se a proteção da memória, das tradições, dos valores ancestrais, a fim de
garantir a preservação das comunidades (DA SILVA; SOUZA FILHO, 2010),
tanto sob a perspectiva do território enquanto espaço físico quanto do seu valor
cultural.
REFERÊNCIAS
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MOURA, Clóvis. Quilombos. Resistência ao escravismo. 3º Edição. São Paulo:
Editora Ática, 1993.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In:
LANDER, Edgardo (org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências
sociais. Perspectivas latinoamericanas. Colección Sur Sur, CLACSO, Ciudad
Autónoma de Buenos Aires, Argentina. Setembro, 2005. (p. 107-130).
SILVA, Delma Josefa. Educação quilombola: um direito a ser efetivado. Cartilha
produzia pelo Centro de Cultura Luiz Freire e Instituto Sumaúma. Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/dados/cartilhas/dht/cartilha_cclf_educ_quilombola_direit
o_a_ser_efetivado.pdf. Acesso em 29 de jul. 2018.
O VÍNCULO DOS POVOS TRADICIONAIS COM O MEIO
AMBIENTE ASSOCIADO AO MODO DE VIDA SUSTENTÁVEL
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Centro Gráfico, 1988.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das
Letras, 2019.
BRASIL. Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e
Comunidades Tradicionais. Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007.
GONÇALVES, Zaíra Lisley Teixeira. et al. Sociedades tradicionais e conservação
da natureza. Revista brasileira de educação ambiental, São Paulo, v. 13, n. 4, p. 79-
86, 2018.
COSTA, Beatriz Sousa; TEIXEIRA, Angélica Cristiny Ezequiel de Avelar.
Sociedades tradicionais, desenvolvimento econômico e meio ambiente: reflexões
sobre a sustentabilidade como valor constitucional. Revista Direito Ambiental e
sociedade, v. 7, n. 2, p. 145-167, 2017.
FERNANDES, Valdir; SAMPAIO, Carlos Alberto Cioce. Problemática ambiental
ou problemática socioambiental? A natureza da relação sociedade/meio ambiente.
Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 18, p. 87-94, jul./dez., 2008.
COSMOVISÕES INDÍGENAS E A PROTEÇÃO AMBIENTAL
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Assim, “os únicos núcleos que ainda consideram que precisam se manter agarrados
nessa Terra são aqueles que ficaram meio esquecidos pelas bordas do planeta”
(KRENAK, 2020), fazendo-se necessário ampliar as suas vozes e aplicar os seus
conhecimentos na busca de uma vida futura e harmoniosa com o meio ambiente.
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Nota-se que a ausência de uma proteção forte da garantia constitucional da posse
permanente dessas terras pelas comunidades indígenas, cria um novo modelo de
genocídio dessas culturas e de sua ligação com a terra.
REFERÊNCIAS
O presente resumo visa discutir a origem estrutural dos Direitos Humanos e sua
associação de eficácia às populações indígenas brasileiras, abordando os conceitos
introduzidos pelo filósofo italiano Norberto Bobbio em consonância à atenção
aborígene. Da mesma forma, a exposição busca analisar as disposições normativas
referentes à proteção e garantia das terras indígenas, entendendo a relação existente
entre a trajetória de lutas e as conquistas destes povos para obter o seu espaço na
projeção contemporânea. Para alcançar o propósito, o estudo, de modo amplo,
discorre sobre os caminhos para repensar a atuação do Poder Público nacional com
relação à tutela dos Direitos Humanos aos povos aborígenes e a busca de meios
para a efetivação dessas garantias fundamentais previstas em lei. Inicialmente,
entende-se que, por mais que o Brasil seja conhecido mundialmente por sua
diversidade cultural, a ausência de uma legislação acerca da proteção das etnias
dispersas territorialmente passou a ser um fator que requer modificações, tendo por
base a análise da história nacional contemplada por uma visão etnocêntrica dos
colonizadores europeus e a opressão a qual os povos nativos foram submetidos
(ALMEIDA, 2018). Outrossim, ainda que a recente Carta Constitucional de 1988
conceda proteção aos povos indígenas, as convicções ideológicas dos últimos
representantes do Estado brasileiro refletem diretamente no cumprimento da
garantia sociojurídica aos seus territórios delimitados, sendo, portanto, ideologias
que estarão diretamente ligadas à eficácia da norma jurídica a estes indivíduos
(SILVA, 2015). Dessa forma, ao obter as informações a partir do contexto histórico
das Constituições brasileiras somado às ponderações feitas pelos representantes do
Poder Executivo, tem-se a essencialidade do reconhecimento e da efetivação prática
dos Direitos Humanos Indígenas no Brasil, visto que o conteúdo, posto à máxima
constitucional, será realizado mediante dispositivos formais junto às interpretações
dos fatos apresentados, estes últimos motivados por políticas públicas e pela
atenção voltada às classes historicamente vulneráveis (MARQUES, 2016).
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Palavras-chave: Direitos Humanos. Povos indígenas. Território.
REFERÊNCIAS
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Essa situação não decorre de uma condição natural, tampouco está relacionada a
uma determinação geográfica ou a uma causalidade histórica. Envolve processos e
estratégias sociais e políticas responsáveis por distribuir de forma desigual a
proteção ambiental. Nesse sentido, além de deteriorar grave e irreversivelmente o
meio ambiente, a economia neoextrativista gera custos sociais, definidos como
perdas que geralmente não constam nas avaliações de impactos ambientais e que
acabam sendo transferidas à sociedade (ACOSTA, 2016). O que existe é uma iníqua
distribuição territorial dos benefícios e ônus dos processos de desenvolvimento,
deflagrando uma injustiça social e ambiental. Assim, conclui-se que o anseio por
crescimento econômico instaurou uma crise civilizatória, a qual foi legitimada a
partir da negação da natureza, das culturas, das territorialidades, da ancestralidade
e da historicidade dos povos que habitam os territórios disputados por grandes
empresas.
REFERÊNCIAS
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Desse modo, não se pode relativizar os impactos ambientais e os conflitos
socioambientais produzidos por grandes projetos de desenvolvimento econômico
com a aplicação de diversas medidas de boa governança ambiental que visem
assegurar uma suposta conciliação entre o respeito aos direitos territoriais dos
povos indígenas e populações tradicionais e o discurso do desenvolvimento
econômico sob a ótica da globalização neoliberal (LÔBO, 2021).
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
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Palavras-chaves: Territorialidade; Desterritorialização; Povos originários; Danos;
Sofrimento.
REFERÊNCIAS