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organizadores
mídia e poiítica
Núdeo de Estudos em Arte,
Mídia e Potítica
PUC-5P
MÍDIA E POLÍTICA
Escritos Neamp
MÍDIA E POLÍTICA
Equipe de Produção
Prq/eto Grú/tco c Dta^ra/wação.* Oficina Editorial
VortHafixação.* Tânia Pinaffi Rodrigues
Capa.* Sara Rosa
VER A CH A!A
M lG U E L CHA!A
MiGUEL ÜHA1A
VERA ÜHA1A
Deus é dez
26
! 27
rado quanto subestimar os atores potíticos como Mário Palco Político. A conjuntura
política vista pela imprensa -
Covas é superestimá-los. No entanto, não temos elemen P línio M arcos, C opolla e
Glauber Rocha - Car/o.s zl/óerto
tos fortes o suficiente para descartar hipóteses. O bura Furtado de Afe/o
co no govemo do Estado é tão profundo e obscuro, que
qualquer sombra pode fazer a alegoria da cavema.
VERA ÜHA1A
MARCO ANTONiO TEIXEIRA
derativa do Brasil, promulgada em 1988, que rege so Máfia dos fiscais e as estreias
da cidadania - téra CAaia e
bre as funções e atribuições do Ministério Público, este Marco rinionio Teixeira
poder é independente, separado dos poderes Executivo
e Judiciário. Cabe ao Ministério, dentre outras funções,
"promover o inquérito civil e a ação civil pública, para
a proteção do patrimônio público e social,..." (Consti
tuição, pág. 92). Agindo neste sentido, os procuradores
ganharam destaque e transformaram-se, aos olhos da
população, em paladinos da justiça e benfeitores dos
cidadãos.
Essas denúncias subsidiaram um pedido de ins
talação de CPI feita pela oposição, o que acabou resul
tando num direcionamento das notícias no sentido de
que além das investigações existentes no Ministério
Público, era necessário também que o Legislativo in
vestigasse os fatos já que naquele momento muitos ve
readores eram citados como "comandantes" do esque
ma. Houve uma intensa campanha na mídia no sentido
da aprovação da CPI, mas a mesma teve seu pedido re
jeitado por 29 a 24 votos em 23 de fevereiro. Os parla
mentares govemistas mal sabiam que o resultado não
significava que a mídia se retiraria do cenário político.
No dia seguinte os principais jornais estampa
ram a foto dos vereadores contrários a CPI com os res
pectivos telefones de seus gabinetes e pediam aos leito
res que ligassem pedindo explicações. As emissoras de
TV fizeram o mesmo ao destacar o nome dos vereado
res que votaram contra a CPI. O Canal 21 veiculou, em
vanos momentos de sua programação, o rosto de cada
um dos vereadores solicitando ao público que ligasse
Para a Câmara cobrando o porquê do posicionamento
contrário. A revista %y'<2-5P, de 01 à 07 de março, colo
cou na capa a foto de três vereadores govemistas - Wadih
^utran, Brasil Vita e Vicente Viscome rindo como se
Máfia dos (Iscais e as estreias
estivessem zombando dos cidadãos que apoiavam a ins
da cidadania - t&ra CAa/a e
talação da CPI. O títuio de capa da f^/a-BP foi taxativa: Afarco /tnMa/a 7èúre;ra
"E a cidade que se dane". No interior da revista também
se veiculou a fotografia de todos os vereadores contrári
os a instalação da CPI com os dizeres "estes fugiram da
raia".
A Rádio Eldorado, por sua vez, enxertou na pro
gramação normal um editorial crítico aos vereadores da
Câmara Municipal de São Paulo que votaram contra a
instalação de uma CPI. De tempo em tempo a Eldorado
divulgava os nomes destes vereadores: "P atenção a maA
a/gtoM nowas âc vcrcaâorcy tyae votaram na Câmara
contra a in.sta/ação âa CP/ apararia a A/á/ia âa
Propina na.s aâminAtraçõc.s' rcgionaA/ /Vata/icio Bezer
ra, âo PPB, Paa/o Prange, tamâém âo PPB, o partiâo
âo pre/eito Ce/.so Pitta; A/i/ton Leite, âo PA/DB e Jo.sé
^mor/m âo P7B. Cm âeta/Ae importante é ^ae o verea-
âor L/anna Gariâ não esteve premente, e/e /oi e/eito âc-
pataão e.^taãna/, ma.s o ?ap/ente âe/e /lare/ino ãe
/fnãraãe âo PPB tamòém votoa contra a in^ta/ação âa
C P /...".
Assustados com a repercussão, alguns vereado
res foram lentamente anunciando que mudariam de po
sição caso se apresentasse um novo pedido de CPI. A
vereadora Míriam Athiê, do PPB, até então líder do coro
dos contrários, anunciou que a mudança de posição por
se sentir envergonhada em ver sua fotografia estampada
nos jomais "como se fosse uma criminosa procurada".
Um novo pedido de CP! foi aprovado por unanimidade
em 03 de março. A justificativa pela mudança de posi
ção dos govemistas oscilou entre obedecer a vontade
popular e não suportar a pressão da mídia.
É inegável que a cobertura dada pela mídia con
tribuiu decisivamente para que as investigações sobre a
"Máfia dos Fiscais" ocorresse com eficiência e alcan Máfia dos fiscais e as estreias
da cidadania - t&ra CAa/a e
çasse os chamados "peixes graúdos" que na visão da Afarco /fníonio 7èúre;ra
popuiação sempre acabam se preservando em casos
como esse. No caso da pressão exercida sobre o parla
mento quando da rejeição da CPI, fica ciaro que os ve
readores só mudaram de posição quando perceberam que
os meios de comunicação não abandonariam o caso.
Quais as iições que podemos tirar de todo este
processo? Os vereadores saíram de seus gabinetes e
mostraram sua "cara" e estão começando a prestar contas
de seus atos. O prefeito Celso Pitta atendeu a todos os
'convites' da mídia para também prestar contas e
esclarecer fatos denunciados envolvendo seus abados
políticos e fiscais concursados da Prefeitura. Os
promotores assumiram suas novas funções e sairam à
caça dos infratores das ieis. Os meios de comunicação
reveiaram um iado do jornalismo, o investigativo, que
não se iimita a relatar o acontecido, mas sai à busca de
pistas que elucidem certas questões obscuras. O rádio
retoma seu lugar de estreia, peia iarga penetração na
opinião púbiica.
Os cidadãos pauiistanos recobraram, peio me
nos em parte, a confiança em aigumas autoridades pú-
biicas. Os ieitores, ouvintes e telespectadores estão
acompanhando com grande interesse as averiguações, e
recuperando a esperança de que a impunidade está sen
do questionada. ^
S ESTRELASDACIDADANIA
E A MAF!A D O S F!SCA!S
Uma "nomeação"
Fortuna e acaso
ACM e as CP!s
VERA CHAiA
ÜSA DE JORNAL
embora intemamente acrescentassem muito pouco, ou
nada, ao revelado até ah. "Essa gente quando pega, pega
mesmo pra valer".
No domingo à noite aqueles importantes mem
CARLOS ALBERTO FURTADO DE MELO bros do governo, entregaram seus cargos ao presidente
da República e deram por finda a queda-de-braço que
ah se explicitara. Retiravam-se do intrincado jogo em
que os partidos da aliança que sustenta o govemo se
LFs recentes fatos em tomo do grampo tele
digladiavam pela ampliação de espaços no próximo
fônico no BNDES, que culminaram com a demissão de
ministério, de olho no cabalistico ano de 2002. Aban
seis importantes membros do governo, têm servido para
donaram, talvez, a possibilidade da adoção de novos
a reflexão em tomo do papel da imprensa e seus efeitos
caminhos que se contraponham (ou complementem) à
políticos. Consta que Luiz Carlos Mendonça de Barros,
política econômica fundamentalista do "laissez faire,
seu irmão, José Roberto, e André Lara Resende resol
laissez passer" que tem determinado uma enorme de
veram pedir demissão do governo num sábado à noite.
pendência nacional em relação aos capitais especulativos
Na quinta-feira daquela semana Luiz Carlos compare
de curtíssimo prazo. Saíram do govem o e sumiram das
cera ao Senado e fora triturado pelos senadores. Ouvira bancas.
do senador Pedro Simon (PMDB-RS) - num dos mais
memoráveis discursos dos últimos tempos — o conse Luiz Carlos Mendonça de Barros voltou à pri
meira página, no O Ey;a<fo áfe 5".PaM/o, contando sua
lho de retirar-se do governo dentre outros motivos por
versão do movimento que o derrubara. Mas aí Inês já
que a imprensa não lhe deixaria em paz. "Essa gente
era morta, já se fazia escuro. Hoje, há um eventual mi-
quando pega, pega pra valer", disse o senador num tom
msterio da Produção à busca desesperada de um minis-
fraterno.
O- há um sorumbático presidente à procura de um pro
O ministro, o presidente do BNDES e o secre
jeto e uma parcela da imprensa sob suspeita de incom
tário do com ércio Exterior do governo Fernando
petência ou má-fé. E um pais à beira do precipício. O
Henrique aguardaram até o final de semana para cons
^ n o so é que as criticas, as investigações, as suspeitas
tatar que Simon estava certo. As principais revistas se
Poderíam surgir durante a campanha eleitora) só
manais do País foram unânimes: estamparam o ministro
efetivamente depois do jogo terminado,
e do porque só políticos sabiam dos grampos
Noe] (, ^ Cayman. Certamente, assim como Papai
Carlos CorMí/o de Afeto é doutorando do Programa de Pós-Gradu
ação em Ciências Sociais e pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte Mídia ouvira "^*sem -cabeça existem, nenhum jornalista
e Política da PUC-SP. ar dos casos durante a campanha.
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Mas ironias à parte, por que as "denúncias", os C o isa de jo rn a i - Car/os
/) /Aerfo Far;a&< áe Me/o
trechos "picantes", as paiavras "grosseiras", a "inconti-
nência verba!" do ministro sumiram da mídia? Afinal,
não fora a própria imprensa que mencionara a existên
cia de "mais ou menos" 57 fitas? Onde estão as novas
revelações que poderíam fazer "estremecer a Repúbli
ca"? Tomaram Doril! O pobre e desinformado leitor,
obrigado a consumir as notícias do "escândalo" da moda,
ficou, de repente, solitário e procurando com lentes de
aumento as últimas notícias no garimpo das páginas pa
res e nos rodapés. Quem conseguiu uma ou duas fitas
não conseguiría mais uma ou duas, pelo menos?
As suspeitas eram infundadas e não mereciam
tão estrondosa divulgação, ou tinham fúndo de verdade
e, agora, se procura esfriar o caso, sabe-se lá por quais
motivos.
Mendonça de Barros, o ministro, envolvera-se
em várias frentes de disputa política. Sua queda interes
sava a muita gente. Até aqui ficouconstatado que seu
verdadeiro erro foi político — não faz parte da "boa"
política enfrentar tantos interesses de uma só vez. Ques
tões de relevo moral, ético e penal, se possuem, de fato,
algum fundamento não foram até aqui comprovadas.
Se argumentarem que o caso ainda está sendo apurado,
fica, então, admitido que se denunciou sem antes ter-
se provas mais concretas. Acusou-se por meio de evi
dências duvidosas, o que é pouco consistente para se
acusar quem quer que seja. Se o que se tem são apenas
indícios e evidências, o que justifica a denúncia estron
dosa, amplificada nas capas e nas primeiras páginas?
Para uns, o furo. Para outros, os interesses que não es
tão muito claros. Faltaram critérios e cuidados. Mas, o
pior é que, de repente, se parou de acusar sem dizer o
porquê.
M/cf/a e Po/íf/ca
C oisa de jo m a i - C ar/cs
Que interesses políticos estão envolvidos na di
vulgação das fitas que são capazes de, num estaio de
dedos, interromper um processo que muitos compara
vam ao impeachment de Fernando Colior? Sinceramen
te, não épossívei definir se a imprensa foi irresponsáve),
vazia e inconseqüente em ievantar o caso a que não deu
continuidade, ou se foi submissa ao tirá-io de destaque.
A quem serviu? A resposta pode estar no axioma de que
"isto é coisa de jomai", como se diz por ai.
EDUARDO VtVEiROS
EDUARDO VlVElROS
Nem t2, nem 40: que tai os 7 N e m 1 2 , nem 40: que tal os 7
FHC, a quem não teriam faltado noóres cansas para tan cados no "Correio Mercantil" entre 1867 e 1868, con
de um Gabinete do Império? d e u m G abinete do império?
to, pois era preciso, digamos, motivar a pro/ana a/iança -Eítuarrto tâelro.s tribuiu para a queda do gabinete Zacarias, levando os - &tMarr!o Hveiro.s
para /azer o Congresso aprovar as ro/orwa.s* constituci conservadores de volta ao poder, depois de um jejum de
onais. Invoca a instalação de uma (metafórica) guilhoti 4 anos.
na na Esplanada dos Ministérios, para instar FHC a en Nos seus folhetins, França Júnior foi um dos
trar para a História, cortando cabeças com vontade e precursores do jornalismo político do país, ao colocar,
"peito". Como ensina Roseana Samey, no Maranhão. lado a lado, crítica de costumes políticos e análise dos
Acrescenta, ainda, o exemplo de ACM, vice- hábitos e tendências da pequena burguesia carioca do
rei rio PFL no Norte e Norâeste, em conflito com parte século passado, usando de fina ironia e abusando de
do Poder Judiciário brasileiro, depois de "prescrever" metáforas para ilustrar suas críticas. Por exem plo,
cirurgias na Justiça do Trabalho, Justiça Militar e Tribu associando cada ministério a uma peça de mobília e,
nais de Contas da União, Estados e Municípios. A pro com 7 peças, compondo a decoração de um Gabinete
dução de instrum entos cortantes do senhor José onde rema a extravagância, o âisparate e o contraste
Nêumanne não tem fim! nas mais pequenas coAa,S',' é a caâeira antiga âe
O jornalista conclui seu artigo, ainda afiado, com yacaranâá ao /aâo âo/o/ô âivã âe âania.sco. a secretária
uma observação interessante: ou FHC (a "bola da vez"?) âe mogno /nnlo a ton move/ âo séctâo AT77/, a pintara
extitpa toâos esses apênâices ia ate A ou sen segunâo c/unesa a/àzer caretas a ama cópia âe /?a/àe/, etc., etc.
governo vai/ícar com essa trAte cara cie /im âeyesta, âo (17/05/1867). E pensar que FHC, pelo menos no primeiro
primeiro ao á/timo âia. Bem, já se passaram mais de mandato, trocava os quadros de seu gabinete todos os
100 dias... meses!
Por que não, então, instigar a sanha guilhotinesca Inspirando, quem sabe por que "corte" intelec
do "terror" tucano-pefelista, e cortar o número de minis tual, seus colegas jornalistas do futuro, França Júnior
térios até chegarmos, inicialmente, aos 7 do Império, por ameaçava (metaforicamente) um Andrada histórico
exemplo, no Gabinete Liberal do Conselheiro Zacarias (Martim Francisco Ribeiro de Andrada, ministro dos
de Góes e Vasconcelos (1866-1868)? Simplificando para Estrangeiros, depois da Justiça, do Gabinete Zacarias
Ministérios da Guerra, da Marinha, da Justiça, dos Es de Góes) com a mesma sorte do senhor Guillotin (que
trangeiros, do Império, da Fazenda e Agricultura, Co perdeu - literalmente - a cabeça pelo instrumento que
mércio e Obras Públicas, estaríamos livres de "abces- mventou). O Andrada citado seria o suposto autor de
sos" como Trabalho, Educação, Ciência e Tecnologia... Januário Garcia, o .Sete Ore/úas, ârama cm 3 atos. c
Para tanto, é preciso trazer à cena a crítica cor cinco qaaâro.s, que serviria de mote para França Júnior,
rosiva de França Júnior (Joaquim José de França Júnior, no folhetim de 26 de maio de 1867, apresentar aos /ei-
1838-1890), jornalista panfletário conservador, comedió- ores as sele ore/Zias âo paA. Novamente o número 7,
grafo (autor de Caiu o Ministério/ e Como seyâzia am 'nvocado em 26 de abril do mesmo ano, quando o autor
âeputaâo) e homem de governo que, em folhetins publi- falava em sele peâaqos âo paA (...) que va/em o estuâo
Nem )2, nem 40: que tai os 7
<Te tvwa graatTc òfòúotcca, .^ctc tfc
de um Gabinete do Império?
sete pccatTo^ wortaA ou .sctc casacas.
Como toda época tem o cronista que !he cabe,
na literatura ou nas artes cênicas, é no teatro que busca
mos os termos de mais uma comparação com a cena
política atual e uma sugestão sobre o número de Minis
térios para o último(?) govemo FHC. Significativamen
te, a Companhia Teatro <Ta f&rtigew prepara a estréia,
para o final deste semestre, de uma versão do ^poca/:j9se,
escrita por Femando Bonassi.
Chegamos, assim, ao limite dos "cortes". Inspi
rados no ^pocaúp^e (do teatro), sugerimos a redução a
4 do número de ministérios para o govemo FHC. A cada
"pasta", para facilitar a identificação, será dado o nome
de uma das 4 bestas do Apocalipse: branco (o poder),
vermelho (a guerra), preto (a fome) e amarelo (a Morte).
Quem se aventura a prever os nomes dos futuros minis
tros cavaleiros? ^
USO DO JORNAL
C O M O MATERtAL EDUCAT!VO
4"ton,
Ntcle, rrmdade é mestre em Ciências Sociais e pesquisador do
° e Estudos em Arte. Mídia e Política da PUC-SP.
O uso do jorna] como matéria] o jornal pode favorecer a que o leitor/estudante entenda O uso do jorna! como matéria]
fazendo uma abordagem embasada por algumas de nos educativo - /tntonto /l/Aerfo
educativo - /tuíonio ^4/&erto
sas conclusões. as vantagens de fazer uso permanente deste material que 7hnt/a</e
A finalidade da educação escolar tem sido, cada lhe possibilita informar-se, acompanhar o percurso e
vez mais, pensada para além dos parâmetros repre desdobramento dos fatos e acompanhar as diversas lei
sentados pelo conjunto dos conhecimentos sistema turas, intenções e ações que se desenvolvem sobre de
tizados que, na escola, são apresentados aos educandos terminada questão. Estas são algumas das conclusões a
a partir dos livros didáticos e paradidáticos. O objetivo que chegamos e que nos dão a segurança de afirmar que
de "formar" cidadãos, tem introduzido no espaço escolar o jornal é válido como material pedagógico.
o debate sobre a necessidade de encontrar e (ou) Certamente, o leitor deste artigo deve estar se
desenvolver novos materiais pedagógicos e metodologias perguntando: não estaria a questão da validade ou não
que ofereçam possibilidades mais amplas de colocar o do material jornal como material educativo vinculada à
educando em contato com a realidade de seu tempo; neste da qualidade e característica editorial do produto
sentido, o jornal impresso começa a ganhar notoriedade. jomalistico? E a questão ideológica? Como pode o jor
Como meio de informação, o jornal pode pro nal ser um material pedagógico se, dentre suas inten
porcionar ao leitor a cobertura de assuntos dos campos ções, está a de formar opinião? Os programas Jornal na
mais variados do conhecimento; isto ocorre sem que este Educação, desenvolvem um trabalho de qualidade? O
veículo busque corresponder a qualquer intenção jornal deve modiíicar-se em algum sentido para servir
educativa ou pedagógica; o fato é que sua forma mesma como material pedagógico? Utilizando o jomal de ma
traz àquele que o utiliza uma gama de assuntos aborda neira crítica, professores e alunos podem encontrar ma
dos com a utilização de diversos recursos de comunica neiras bastante fecundas de desenvolverem processos
ção; isso pode favorecer a uma abordagem interdis- educativos mais amplos, que tragam para a reflexão co
ciplinar na escola. A linguagem jornalística pode ga tidiana da sala de aula, dos corredores, das ruas etc. os
rantir lances de inovação na forma como a escola abor elementos da realidade que encontram pouco espaço na
da o conhecimento sistematizado apoiando-se em livros escola. O que é oferecido pelas diversas empresas edi
didáticos e paradidáticos. O jornal, se utilizado de ma toriais pode ser conhecido, consumido e criticado, posi-
neira adequada na escola, pode trazer para o universo do úva ou negativamente, sendo que, para tanto, o consu-
aluno a informação organizada e pode favorecer a que nrdor deve dispor - e aqui entra a escola - de seu
este passe a fazer uso desta informação como mais um "letodo de análise e submeter a ele os diversos matéri
instrumento na defesa de seus interesses. No jornal, o as, e este método, que carrega sua visão de mundo e
leitor/estudante pode encontrar conteúdos novos funda sua capacidade de compreensão e reflexão, o que lhe dá
mentais num processo educativo; pode encontrar maté ase para fazer sua crítica. Este exercício de apropriar-
rias que possibilitam exercitar com informação atual - o se dos diversos conteúdos expressos nos jornais fazen-
que pode ser estimulante - muito daquilo que é traba a leitura crítica do material é perfeitamente desejável
do
lhado como conteúdo do currículo escolar. Trabalhar com Ponto de vista educativo. Desta forma, podemos afir-
O uso do jom a) como matéria)
mar que todos os jornais servem como matéria! edu
educativo - /t/Aerto
cativo, independentemente do que publicam.
O joma!, a)ém de pubiicar opiniões próprias
(da equipe editoria!), veicuia matéria de investigação e
grande quantidade de informação que lhe chega dado
seu de instituição cujo pape! na sociedade é o de
!evar os fatos ao conhecimento do público. Divulgar o
que quer que seja em joma! é uma atitude cultural e
este produto é reconhecido culturalmente como veículo
de informação. Se os diferentes jornais defendem
posições e interesses na sociedade, isso se dá porque o
produto jornal representa, ele próprio, uma das formas
como as disputas se expressam. No entanto, no jornal,
os m ais d iv erso s grupos buscam firm ar id éias,
conquistar posições e interesses etc. mesmo cientes de
que isso não se dá em condições de igualdade; a
importância de tomar públicas as idéias e defesas, as
criticas e denúncias é entendida por todos os grupos
sociais e, desta forma, todos buscam espaço nos jornais.
A lém d isso , podem os dizer que a d iscu ssã o da
credibilidade do meio de informação assume dimensões
cada vez mais amplas e profundas quanto mais uma
sociedade busca aprimorar-se no tratamento das
questões referentes às relações entre indivíduos e
instituições. A busca da imparcialidade no tratamento
dos fatos figura hoje como uma das discussões mais
importantes nesta questão da credibilidade do meio de
informação e a relevância da questão está expressa,
por exemplo, nos informes publicitários destinados a
divulgar os mais diferentes m eios de comunicação;
pode-se notar, por tudo isso, um esforço da imprensa
em ser reconhecida em sua fúnçâo de informar, de gerar
o debate, de esclarecer. Esta possível tendência dos
m eios de com unicação, acreditam os, pode estar
expressando um aprimoramento da idéia de democracia O uso do joma! como matéria!
educativo - /fotonio /t/Aerto
imposto peias necessidades decorrentes da comple 7hWa6Íe
xidade do mundo atua! no campo das relações politicas
e econômicas. Ainda que se possa fazer uso ideológico
do jornal - algo que pode ser feito com qualquer outro
material impresso - não se pode dizer que este produto
cultura! é instrumento ideológico.
Se, por um lado, podemos afirmar que o jomal
serve como material educativo, não havendo nada que
possa desqualificá-lo em comparação com outros mate
riais educativos conhecidos e tradicionalmente utiliza
dos na escola, por outro, devemos dizer que ainda é
bastante incipiente o acúm ulo que as em presas
jornalísticas têm no que se refere aos resultados peda
gógicos de tais programas. A estrutura dos programas
Joma! na Educação - ao menos dos brasileiros - se pen
sarmos a partir das informações que obtivemos da ANJ
(Associação Nacional de Jornais), pode ser considera
da como algo relativamente simples. Um programa
pode ser desenvolvido sem grandes custos para o jor
nal, sem muito investimento na formação daqueles que
deverão trabalhar com o jomal em sala de aula e sem
um acompanhamento mais rigoroso dos resultados ge
rais das iniciativas.
Assim como todos os materiais e práticas peda-
gogtcas da escola são alvo de permanente avaliação, tam
bém o trabalho com jomal deve ser. O acompanhamen-
o dos efeitos e resultados do uso deste material na es
cola é fundamental sobretudo neste momento inicial -
caso do Brasil - deste tipo de interferência; sem ava-
^ a o permanente, com metodologia adequada, não ha-
ra formas sequer de as empresas jornalísticas funda-
rem os processos de sensibilização e envolvimento
Professores para uso do jomal. A empresa jomalistica.
que ainda não tem acúmulos importantes nesta área, deve O uso do jornal como matéria] O uso do jornai como matéria)
deverá ser o desenvolvimento do leitor e a conquista e
educativo - /intento 4/Aerto educativo - in ten to /i/Aerfo
partir do pressuposto de que, na escola, há profissionais 7rtn&Mte ampliação do público do jomal. 7h'ntAtt?e
que acumularam experiências diversas no que se refere Por fim, queremos chamar a atenção para a ne
aos usos de recursos pedagógicos de diferentes tipos; o cessidade de que os programas Jomal na Educação se
jornal, antes de ser proposto como válido, importante e jam elaborados mediante profunda reflexão, por parte
adequado - como ocorre hoje - , deve ser proposto como dos organizadores/coordenadores do jomal, sobre edu
objeto a ser usado e avaliado; como material de progra cação - algo que parece não ocorrer satisfatoriamente.
mas que buscam contar com a experiência do docente Além disso, é fundamental que os programas sejam as
para se estruturarem da melhor maneira. Não será pos sistidos por cada um dos responsáveis dos vários setores
sível às empresas jornalísticas, contudo, sensibilizarem do jomal e não apenas por aqueles ligados ao setor de
professores e alunos para o uso significativo do jornal marketing, como ocorre na maioria dos programas. En
na sala de aula se a proposta não puder ser apresentada a tendemos também que é imprescindível criar espaço para
estes - principalmente aos professores - pela via da re que professores reflitam junto às empresas jornalísticas
flexão pedagógica e filosófica - o campo das concep sobre as melhores maneiras de utilizar o produto em sala
ções de educação. Não basta apresentar aos professores de aula. Os profissionais da escola devem ser melhor
- como fazem muitos programas - cadernos com suges informados, sensibilizados e preparados para utilizar o
tões de atividades; estes, pouco oferecem além de mo material e isso pode ser feito se forem estruturados gru
delos de utilização. pos envolvendo professores, pedagogos, jornalistas e
Se há interesse das empresas jornalísticas em outros profissionais interessados, com a finalidade de
colocar o jornal na escola, devem estar sensíveis à dinâ discutir as possibilidades e importância do uso do jor
mica do trntnJo ufa eÚMcaçdo e estar abertas a mudanças nal na escola.
e reformulações em seus produtos e propostas, em bene A pesquisa que desenvolvemos é bastante ampla
ficio da estruturação deste tipo de interferência. Neste e não seria possivel neste artigo apresentar detalhes do
sentido, por exemplo, o jomal pode dedicar-se - de for trabalho. Vale à pena, contudo, finalizarm os esta
ma sistemática - a publicar matérias destinadas a elevar exposição apresentando outros conteúdos que podem
o nível cultural do público; este é um campo onde há 'nteressar ao leitor. No trabalho, fazemos uma análise
carências profundas e no qual o jomal pode ajudar. A das atividades propostas com o uso do jomal pelo Folha
união entre leitor e jomal pode ser pensada a partir de Educação submetendo-as a categorias de análise que
uma relação que traz benefícios mútuos. Os leitores, que Podem servir tanto para que o leitor analise o tipo de
são para o jomal econôwtco^, cqpnzay tfe Proposta que desenvolve utilizando jomal - participando
a íá y M Ú ú r a.s* p u M c a ç õ a s * <? t fe y â z ê - Ú M p o r OM- não de algum programa Jomal na Educação como
P w , devem receber em troca algo de que têm necessida a estruturação de novas propostas de trabalho; não
de. O trabalho do jomal, neste sentido, está em identifi — Presentamos modelos de nenhum tipo, mas reflexões
car tais necessidades e corresponder a elas; o retomo
por todos os que desejam atuar neste campo. Da mesma O uso do jornai como matéria]
educativo - /iníonto /l/Aerto
forma, o material é importante para que as empresas
jornalísticas pensem e avaliem os programas que de
senvolvem. Também trazemos informações e reflexões
fundamentais sobre objetivos educacionais e sobre o uso
de novas tecnologias na educação, temas apresentados
em sua relação com o uso do jomal na escola. ^
M ER C O S U L
E A iMPRENSA PAUUSTA
Os autores
Os colunistas
Escavações e descobertas
]. Embora não sendo o primeiro, o autor trata muito bem deste aspecto. Mas,
a quem estiver especialmente interessado no assunto, recomenda-se o tra
balho do professores Fernando Lattman-Weltman, José Alan Dias Carnei
ro e Plinio de Abreu, "A Imprensa faz e desfaz um presidente" (Editora
Nova Fronteira, 1994, 166 páginas). Com outra metodologia e algumas
diferenças de foco e objetivos, os pesquisadores do CPDoc da Fundação
Getúlio Vargas, realizaram um trabalho esclarecedor a respeito da estraté
gia e da trajetória do chamado "fenômeno Collor".
^OBERTURA DE GUERRA!
P O U C O GLAMOUR E MU!TO TRABALHO DURO
JUD! CAVALCANTE
dinheiro é suficiente - nunca é se o computador é numa cobertura como essa e que o pessoal da retaguarda
compatível com a internet, se é fácil obter suprimen trabalha duro para evitar que os seus erros cheguem até
tos. Tudo é importante, até fósforos e velas. Numa guer o leitor".
ra, tudo fica mais caro, principalmente as comunica
ções e os vicios, como o cigarro e a bebida", fala Boa cobertura
Kennedy.
Apesar de alertar para o fato de que não existe Pelo levantamento que a equipe de pesquisado
uma fórmula para se efetuar uma boa cobertura de guer res do Neamp fez sobre a cobertura da Guerra de Kosovo
ra, ele diz que existem algumas dicas importantes, como desenvolvida pelos jomais Fo/Aa F.Paa/o e O F va-
procurar sempre a embaixada brasileira na região do & & Paa/o, foi possível perceber que o envio de um
conflito. "Lá eles sempre têm informações interessan correspondente à região do conflito enriqueceu o traba-
tes, possuem mapas e podem dar toques fundamentais Iho jornalístico da Fo/Aa e leitor saiu ganhando. Para
para o correspondente." Outra providência essencial a Kennedy, isso foi possível porque, com um jornalista
ser feita pelo jornalista é o credenciamento. "Um su "° front, a Fo/Aa pode apresentar minimamente outra
jeito estrangeiro, na área de conflito, sem identificação ^itura dos fatos que não a da Otan ou a do govemo
e que não sabe falar a língua local muito bem é um
sérvio.
potencial espião e pode se dar mal por isso", explica Na avaliação dos resultados da mesa-redonda,
Kennedy. professora Vera Chaia, mediadora do evento e uma
Na sua opinião, o grande diferencial da cobertura ^ coordenadoras do Neamp, considerou extremamen-
que a Fo/Aa Je Ó.PaM/o fez sobre a guerra de Kosovo foi F Positivas as narrativas feitas pelos três jornalistas, pois
Cobertura de guerra: pouco
tMPRENSA ESCMIÁ
elas forneceram um rico material para quem pretende glam our e m uito trabaiho
atuar profissionalmente ou desenvolver pesquisas aca duro - Juí/t Cava/canfe
BEATRIZ WEY
1. A mesa-redonda Direto c?o Fmttt.' a coAertara t?e guerra /èita pe/o.syor-
Ma;.s foi organizada Judi Cavalcante, com a colaboração da aluna de Rela
ções Internacionais, Cláudia Taddei.
BEATRIZ WEY
ao criar um espaço para a divulgação dos trabalhos rea A imprensa cuhana diante do
fenômeno jurídico - Reaír;;
lizados pelos órgãos legiferantes ela reproduz um su
posto discurso democrático, por outro, ao aproximar o
leitor do direito revela seu intuito de provar a eficácia
das leis, seja porque são legitimadas pelas autoridades
responsáveis, e em consequência estão condicionadas
ao sistema de governo do país, seja porque existe infra-
estrutura suficiente para colocá-las em prática.
O ato de divulgar o que está sendo alterado ou
mantido é uma forma de tomar público o que deve ser
respeitadoe aceito, o que é de direito e o que é de dever.
Em suma, fazer da justiça algo acessível e transparente,
uma tarefa impossível de ser realizada pelas próprias
instituições que compõe a justiça, em vista de suas atri
buições e sua linguagem, distante da realidade de boa
parte do povo.
Ora, poderiamos nos indagar se esta não é só
mais uma forma de fazer valer uma situação já ganha
mas difícil de ser sustentada, sinceramente creio que não.
Normalmente não existe interesse algum por parte da
'mprensa em democratizar as informações referentes a
justiça, ainda que estando de acordo com o sistema de
governo, ou sendo o próprio governo. Há muitos outros
caminhos de defender um sistema que não este. Ao fazê-
loo GraMmn se destaca mais uma vez, diferenciando-se
*^3s demais imprensas.
O que normalmente lemos na imprensa escrita
sobre a justiça é algo que não pode mais ser escondido,
Nest
es casos os órgãos que compõe estão envolvidos
em
algum tipo de escândalo e corrupção.
No entanto, no Grnnwa, a lei aparece como um
do;
caminhos plausíveis para os indivíduos compreen-
r^em um, utijygi-gQ a que estão subjugados. Este
r* Conamento não é uma forma simples de traduzir o
direito como controie social externo, mas de aproximá- das associações e sindicatos, criando obrigações e de A imprensa cubana diante do
fenômeno jurídico - Reafriz
lo daquele que o usufrui, querendo ou não. w&y veres intragrupais não oriundas dos órgãos do Estado,
Ainda que tais leis não sejam convenientes para mas que por vezes possuem força coativa superior às
a sociedade cubana, esta tem o direito de conhecê-las e, que o são e prevalecem em casos de conflito.
a partir de então, questioná-las. Por mais que seja im Desde forma, vale salientar que mesmo agindo
provável alterar a legislação em Cuba, o fato de conhecê- em prol da manutenção da ordem instituída, o Granwa
la é meio caminho para buscar uma transformação, du tem assumido o compromisso de divulgar cada nova lei
vidar disso é duvidar do poder da opinião pública. e até mesmo analisá-las.
No entanto, não me parece ser esta uma prática Ao traduzir com certa frequência o direito como
comum da imprensa de forma geral, pelo menos não se o um bem adquirido que direta ou indiretamente lida
nos reportarmos à nossa realidade. A exemplo disso po com situações conflitantes, esta imprensa prioriza, ao
demos citar o poder judiciário, tão em voga em função menos neste aspecto, o conflito e sua composição, fa
CPI, mas totalmente esquecido com relação às reformas zendo do direito algo público.
que deve sofrer, reformas que estão engavetadas a anos Cabe repensarmos o quanto tem interessado a
e que ninguém ousa a comentar profúndamente. nossa imprensa se omitir da sua tarefa de tornar público
Pouco ou quase nada sabemos sobre as refor o que é de interesse público, e de mostrar o quanto a
mas do judiciário. No fundo, nada conhecemos sobre a justiça pode nos beneficiar e soubermos interpretá-la
nossa legislação e menos ainda sobre as alterações que a adequadamente. A exemplo disso, podemos citar o es
mesma deve sofrer para melhor funcionar. tatuto da terra, que entre outros salienta quanto maior
Mesmo que o cubano não tenha poder algum for a pressão social e seu grau de contradição, maior as
para transformar o código vigente, coisa que nós brasi possibilidades reais para que haja uma verdadeira refor
leiros também não temos, a ele, todavia, cabe o direito ma agrária.
de estar informando sobre o mesmo. Que fique claro nesta sintética exposição que
Será que não divulgam nossas leis simplesmen "ao estou defendendo o conjunto de normas de conduta
te para que elas não sejam cumpridas, e em Cuba, pelo 9ue disciplinam as relações sociais em Cuba ou no Bra-
interesse do govemo de colocá-las em prática, exibisse S'!, mas sim a possibilidade de conhecermos mais do
diariamente relatórios sobre o universo jurídico? que escândalos de corrupção que envolvem instrumen
Não acho que a resposta seja tão simples, visto tos humanos de realização da ordem juridica c de suas
que o direito é mais do um mero instrumento do Estado "stituiçòes, ou seja. de conhecermos a funda as nossas
para a reprodução de um modo de produção, é também HPróprias leis e suas reais limitações.
o resultado de uma realidade social condicionante, que Se não cabe a imprensa realizar a tarefa, quem
em grande número de casos transforma o costume em poderá fazê-la?
direito positivo, acolhido e institucionalizado nas leis
que os órgãos da sociedade editaram. Além de emanar
EFLEXÕES Sendo assim, cabe a uma sociedade democráti R eflexões sob re o sistem a
poiítico e as Eieições 98: a mídia
ca de alguma forma controlar aqueles que, apesar de como instância democrática -
privados, falam em nome do público, do coletivo, tendo Francisco Fonseca
SOBRE O StSTEMA P O L m C O E AS ELEtÇÕES em vista a responsabilidade que possuem. Afinal, por
9 8 : A M!D!A C O M O !NS1ÂNCÍA DEMOCRÁTICA mais que no capitalismo a notícia seja também uma
mercadoria - que obedece a um processo de produção e
FRANCISCO FONSECA se personifica em imagens, sons, papel etc. o é de um
tipo especial, pois tanto o seu conteúdo como a forma
de expressá-lo podem alterar os embates cotidianos que
se travam na sociedade. Portanto, informação como for
S,o fim de um processo eicitora!. aigumas re ma de poder é um truísmo continuamente validado.
flexões acerca da democracia brasileira fazem-se neces Por outro lado, controlar a informação (isto é,
sárias. A começar pelo que, no mundo modemo, enten- controlar uma forma de poder) não pode, numa socie
de-se por democracia, notadamente quanto ao seu caráter dade que se requer democrática, confundir-se com cen
procedimental, isto é, a questão dos pré-requisitos for sura. E possível, isto sim, o estabelecimento de limites
mais que possibilitam a vida democrática. Nesta pers que impeçam monopólio ou oligopólio, formal ou in
pectiva, devemos incluir necessariamente a mídia, ten formal, da midia - como, aliás, existentes em diversos
do em vista o papel fundamental que exerce como medi países democráticos. Afinal, se as mercadorias (de qual
adora entre candidatos e eleitores quando das campa quer natureza), seu processo produtivo e a concorrência
nhas eleitorais e, mais importante, como mediadora de entre elas são controlados através de instituições públi
interesses heterogêneos. Trata-se, portanto, de um papel cas estatais como a Secretaria de Direito Econômico
e, consequentemente, de uma responsabilidade, públi (SDE), o Conselho de Administração e Direito Econô
cos. N o entanto, a mídia constitui-se - em sua esmaga mico (Cade), Procons, entre tantas outras, e mesmo por
dora parte - de empresas privadas que, como quaisquer instituições privadas de direito público, ou público não-
outras, objetivam o lucro. Ora, há aqui então uma rele estatal, por que a notícia - como mercadoria, e, mais
vante questão, pois os órgãos da midia representam um atnda, de tipo especial - não poderia estar sob patama
tipo de instituição em que, nos dizeres de M. H. res também públicos?
Capelato, em e T/Aíórúz tfo Rra.si7: "(---) se Esta discussão se justifica plenamente no Bra-
mesclam o público e o privado, [em que] os direitos como sabemos, devido á oligopolização crescente
dos cidadãos se confundem com os do dono do jomal dos meios de comunicação. Em certas circunstâncias esta
[e da midia como um todo]. Os limites entre uns e ou Questão se manifesta integral e ostensivamente, caso dos
tros são muito tênues." recentes processos eleitorais pós-redemocratização. Não
bastasse o já histórico caso Rede Globo/Collor, a recen-
Francisco Fonseca é professor do Departamento de Poiítica da PUC-SP. ^ campanha eleitoral mostrou uma espetacular adesão
dos meios de comunicação como um todo à reeieição do R eRexões sobre o sistema
poiítico e as Eleições 98: a mídia
presidente, a ponto de a campanha naciona) praticamen como instância democrática -
Francisco Fonseca
te não ter existido na imprensa! Isto se toma ainda mais
grave quando sabemos que vivemos numa era modelada
pelo chamado pensamento único - políticas de caráter
neolibera), propugnadoras de reformas orientadas para
o mercado, o que inclui privatizações, abertura comer
cial, desregulamentação, crescente mercadorização da
força de trabalho; em síntese, trata-se da precedência
quase que absoíuta do privado sobre o coletivo, do gran
de capita) sobre todas os outros agentes sociais.
Ora, não caberia à imprensa destoar de qualquer
forma de úmco? Afina), não é possíve!
conceber, conceitua)mente, uma democracia sem plura
lismo - aliás, um legado liberal! Mais ainda, uma das
críticas mais eloquentes ao mundo socialista não dizia
respeito justamente ao constrangimento da informação
e ao massacre ideológico, portanto ao pensamento
único?!
Nesse sentido, as próprias pesquisas de inten
ção de voto, em períodos eleitorais, são informações que
atuam diretamente na decisão do eleitor, afetando por
tanto a circulação das elites políticas no poder. Repre
sentam, evidentemente, também uma forma de poder,
mais sutil, é claro, pois persuasiva. Por isso, toda a
polêmica acerca de alguns candidatos que passaram (ou
não) para o segundo tumo nas disputas para os govemos
estaduais, notadamente em São Paulo, demonstra, uma
vez mais, a necessidade premente de repensarmos a de
mocracia brasileira, à luz, antes de tudo, da informação
e de seus meios.
Na verdade, o próprio sistema político é com
posto também pelos meios de comunicação - nas suas
mais diversas modalidades. O que, a rigor, é atestado
Reflexões sobre o sistema
peia própria teoria política. Uma vez mais, sabemos que
poiítico e as Eieições 98: a mídia
outros países democráticos adotam mecanismos que: a) como instância democrática -
impedem a pubticação de pesquisas eíeitorais alguns dias Francisco Fonseca
antes das eleições; b) controlam rigidamente sua
metodologia; c) responsabilizam os que transgridem as
normas procedimentais; e d) punem vigorosamente tais
transgressores.
Por outro lado, as disputas no segundo tumo,
especialmente nos grandes estados, representaram a vi
tória da po/fhcn sobre o isto é, a vitória de
partidos, candidatos e campanhas de alguma forma com
prometidos com suas próprias trajetórias e com seus com
promissos históricos. O marketing manipulatório teve a
ilusão de que faria campanhas "científicas", como se os
candidatos fossem meros produtos, indistinguíveis de
vido ao, suposto, definhamento das ideologias; certos
publicitários imaginaram que eles próprios, no limite,
estavam sendo "eleitos", pois, ao criarem verdadeiros
mundos virtuais, procuraram transformar, pasteurizan
do, candidatos em prestidigitadores. Não é casual, por
tanto, que figuras como Duda Mendonça saiam com sua
credibilidade "marketológica" arranhada - para o bem
da política, entendida como ação conflitiva e heterogênea
nas esferas públicas.
Tudo o que dissemos até aqui conflui para que
reflitamos sobre a democracia brasileira e, mais ainda,
sobre a necessidade de reformas politicas, das quais as
diversas modalidades dos meios de comunicação, como
afirmamos, necessariamente fazem parte. Reformas que,
aliás, até agora foram negligenciadas, estando ausentes
^ agenda pública.
Afinal, tendo em vista que nossas sociedades
transformam-se cada vez mais em sociedades midiáticas,
informação passa a ocupar crescentemente um papel
ainda mais importante e decisivo do que ocupava há R efiexões sobre o sistema
poiítico e as Eteições 98: a mídia
aiguns anos. Como exem pio, basta observarmos a como instância democrática -
protiferação de órgãos informativos /a // a'?we, tanto no Francisco Fonseca
R E L A Ç Ã O Q U E TRAZ V O T O
JUD! CAVALCANTE
MARCO ANTONtO TEIXEIRA
PAULA PAP)S
1RT
subsidiada pelo governo, ou até mesmo pela população, Crise na TV Cuitura: a TV
púbtica e o pape) do Estado -
no moldes das emissoras públicas européias como a BBC, Paa/a Pap/.s
de Londres - que esteja buscando a excelência na
qualidade da informação e do entretenimento saudável
para a população.
No surgimento da BBC aponta Laurindo Lalo
Leal Filho, em seu livro ^ me/úor 7V tfo wunJo, seus
fundadores estavam preocupados em criar uma televisão
para gerar e disseminar a riqueza lingüística, espiritual,
estética e ética dos povos e nações. Tanto que a televisão
teria a importância das demais instituições culturais como
museus e bibliotecas, sendo que, aqui no Brasil e no
mundo, estas entidades pertencem ao Estado ou sua
grande maioria sobrevive com recursos federais, estaduais,
municipais através das leis de fomento à cultura.
Se a TV pública, no caso a Cultura, não tem al
cançado grandes indices de audiência - justificando-se
aí, perversamente, o desinteresse da população - isto
não deve servir de argumento para sua falta de impor
tância. É notória a qualidade da programação da emis
sora, inclusive premiada intemacionalmente. Todavia,
há ajustes a serem feitos que dependem muito mais de
recursos técnicos e humanos - o que custa dinheiro,
muito dinheiro - que, acredito, a emissora não dispõe.
Mesmo diante destas dificuldades, a emissora mostrou
em sua proposta de programação boas opções, como os
infantis e os debates . Lembremos também do extinto
Matéria Pr/wa, apresentado por Serginho Groissman
(agora no SBT), cuja fórmula bate-papo para adolescen
tes e muita música foi copiada por outras emissoras, e
hoje, encontra-se tristemente aproveitada em programas
como o / / da TV Bandeirantes.
Vale ressaltar que uma TV pública de qualida
de deve oferecer também um jornalismo ágil, com os
assuntos da atualidade. Um noticiário inteiigente, sem Crise na TV Cuitura: a TV
púbiica e o pape) do Estado -
deixar de iado as questões do dia-a-dia, seja da violên Paa/a Pa/M.s
cia nas grandes cidades, da cobertura do esporte etc...O
espaço para a comunidade - a boa prestação de serviço
- está diretamente ligada a qualidade da informação que
recebe. Ter uma posição de vanguarda, principalmente,
no que se refere às artes, estimulando e favorecendo o
que há de bom e de novo na música, no cinema, no tea
tro etc., sem precisar ficar subordinado às "sugestões"
das grandes produtoras, gravadoras e editoras.
São questões que devem ser pensadas e, princi
palmente, discutidas com a sociedade para que ela reco
nheça esse direito que tem à cultura, incluindo-se a tele
visão de qualidade como fonte de informação/íbrmação
e entretenimento.
Sobre a TV Cultura, resta-nos observar que a
abertura para a publicidade ajudará a controlar o "cai
xa" mas, com certeza, em virtude das pressões do mer
cado, pode começar a influir em sua "cara", ou pior, sua
programação. E, se continuar esperando apenas os re
cursos do govemo, a emissora, ao que parece, permane
cerá em crise. gg
DESEMPREGO
É FANTÁSUCO?
ROSEMARY SEGURADO
GUGA DOREA