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Revisitando a “Teoria Geral”

dos Partidos Políticos de Maurice Duverger*

Paulo S. Peres

Introdução cia Política e da Sociologia Política contem­


porâneas: a dos partidos políticos enquanto
O desenvolvimento da democracia repre­ estruturas organizacionais. Precisamente em
sentativa. fòi uma longa marcha que começou 1951, Maurice Duverger publicou Lespartis
com a fundamentação dos direitos civis nos sé­ politiqueSi livro que viria a ser considerado
culos XVTI e XVin, ensejada pelo pensamen­ uma das principais contribuições aos estudos
to liberal e as revoluções burguesas, seguindo do. fenómeno político-partidário.
com a posterior luta pelos direitos políticos, Em realidade, dada a relevância dos par­
nos séculos XIX e XX. Nesse contexro, os tidos para o funcionamento da democracia
partidos políticos surgiram, já no século XIX representativa, é no mínimo curioso o fato
e, especialmente, nas primeiras décadas do sé­ de que o primeiro estudo mais aprofundado
culo XX, como Os instrumentos centrais das e exclusivamente dedicado ao problema ti­
democracias representativas. Embora muitas vesse sido lançado apenas em 1902, por Os-
vezes vistos de forma negativa —e outras tantas trogorski, e que, até o início dos anos 1950,
de forma positiva —, o fato indisputável é que quando Duverger lançou sua obra seminal,
os partidos realmente mostraram ser os ele­ apenas outro trabalho mais sistemático tivesr
mentos básicos e cruciais da dinâmica demo­ se sido publicado —o de Robert Michelií, em
crática, a ponto de os governos parlamentares 1911. O próprio Duverger (1951, p. ix) res­
sempre terem sido considerados governos par­ saltou esse ponto, ao afirmar que, “deixando
tidários (Schattschneider, 1942; Lapaíombara de lado essas duas obras, não existe, nenhum,
e 'Weiner, 1966; Mair, 1990). Desse modo, estudo comparativo das estruturas partidá­
conforme observa Scarrow (2002, p. ix), “os rias”. Não é por menos que Bali (1903, p.
partidos políticos enráizaram-se a despeito de 501), ao resenhar os dois volumes da obra
todas as reservas, e floresceram de tal modo de Ostrogorski, enfatizou que, àquela altura,
que o século XX passou a ser denominado sé­ ainda, “havia espaçó para um. tratado que to­
culo da democracia partidária”. masse a organização e a máquina partidárias
Nesse contexto, há quase sessenta anos como seu objeto específico, e que buscasse
seria lançada na França aquela que viria a tratar esse fenômeno da política moderna
ser uma das obras fundamentais de uma das com a mesma importância do papel desem­
mais importantes linhas de esrudo da Ciên­ penhado por eles nos governos modernos”.

* Agradeço imensamente aos pareceristas anónimos pelos comentários críticos e pelas valiosas sugestões
que, certamente, contribuíram de maneira significativa para que o texto chegasse a este resultado. Obvia­
mente, quaisquer falhas remanescentes são de m inha inteira responsabilidade. Agradeço ainda a Raquel
W eiss peia tradução das citações que estavam originalm ente ou em inglês on em francês.

BIB, São Paulo, n° 68, 2a semestre de 2009,. pp. 17-58. 17


Consequentemente, a importância do obviamente, mas apenas como requisito ne­
tema e a escassez de estudos e de modelos cessário ao conhecimento especializado da
analíticos mais bem aquilatados até aquele evolução histórica dos estudos partidários?
momento fizeram com que o texto de Mau- Neste artigo, defendo a posição de que
rice Duverger assumisse quase imediatamen­ a obra de Duverger (1951) continua sendó
te a posição de uma obra teórica e metodoló­ referência indispensável do pontó de vista
gica fundadora de um importante programa do desenvolvimento histórico dessa linha
de pesquisa - a despeito de inúmeras críticas de investigação; consequentemente, seu es­
endereçadas ao seu livro já à época do lan­ tudo ainda deve ser estimulado e exigido de
çamento (como em Diamant, 1952). Por­ todos aqueles que procuram se especializar
tanto, sua ascensão quase imediata ao status nessa área. Mas, além disso, conforme tam­
de clássico deveu-se sobretudo às inovações bém procurarei argumentar, alguns aspectos
analíticas importantes trazidas pelo autor à de seu modelo continuam válidos e seriam
área dos estudos partidários (Schlesinger e extremamente úteis se aplicados nas atuais
Schlesinger, 2006J. Desde então, seu livro e pesquisas empíricas sobre as organizações
modelò de análise são referências obrigató­ partidárias. Assim sendo, buscarei discutir e
rias nas disciplinas de graduação e de pós- enquadrar anal iticamente as propostas do au­
graduação dedicadas à temática, assim como tor quanto às classificações das organizações
no interior do debate acadêmico mais espe­ partidárias e dos sistemas de partidos com a
cializado, de forma que é impensável estudar intenção de atingir dois objetivos principais.
ou pesquisar os partidos políticos sem que se O primeiro deles é apresentar uma espécie de
tenha pelo menos um conhecimento básico guiá dé leitura para a introdução contextua-
da teoria duvergeriana. lizada e esquemática dp texto, còm o intuito
Porém, a despeito da indiscutível im­ de tentar despertar o interesse do leitor ainda
portância de sua teoria sobre os partidos e não muito familiarizado com o tema e com a
sistemas partidários, é preciso saber em que obra para amhas as coisas. O segundo obje­
medida o modelo de análise organizacional tivo é destacar as contribuições de Duverger
dos partidos desenhado pelo autor ainda se­ à análise dos partidos, apontando tanto as li­
ria aplicável aos estudos atuais. Sabidamen­ mitações de seu modelo como suas possíveis
te, é atribuída a Duverger a autoria de uma aplicações nos estudos partidários atuais.
das poucas “leis” formuladas no âmbito da
Ciência Política, “lei” esta qüe estabelece 0 contexto da obra
uma correlação, entre a fórmula eleitoral e o
formato quantitativo do sistema partidário; Les partis politiques veio a lume num
por isso, a “Lei de Duverger” ainda é cen­ momento em que existiam apenas dois tra­
tral e extremamente atual nas linhas de pes­ balhos mais sistemáticos sobre o tema e que,
quisas sobre os sistemas eleitorais e sistemas igualmente, viriam a ser considerados semi­
partidários em perspectiva comparada. Mas, nais1. Estes trabalhos eram La démocratie et
será que poderíamos dizer o mesmo quanto l ’o rganisation des partis politiques, de Moisei
aó seu modelo analítico e à sua classificação Ostrogorski’, editado em 19023; e Zur So-
tipológica das organizações partidárias? Ou ziologie des Parteiwesens in der M odem en De-
seja, seria esse um modelo conceituai ain­ mokrâtie, de. Robert Michels4, lançado em
da válido ou sua importância seria somente 19115. Evidentemente, antes dessas três obras,
intelectual, cujo estudo seria indispensável, muito já havia sido escrito sobre os partidos

is
(cf. Scarrow, 2002)6, David Hume (1742) e como um conjunto de procedimentos axíó-
Edmund Burke (1770), por exemplo, no sé­ logicamente neutros de observação, de des­
culo XVIII, delimitaram-se ao debate acerca crição acurada do fenômeno e, finalmente,
dos aspectos positivos e negativos da atuação de generalizações empíricas (Butler, 1958;
partidária no que se refere à coesão social e aos Catlin, 1962); de outra parte, à mudança na
interesses gerais. Frederick Grimke (1848), unidade de análise, passando do formalismo
Gustavé Struve (184:8) e François Guizot das instituições de governo às forças sociais
(1849), quase no final da primeira metade concretas que atuariam na política - os par­
do século XIX, incumbiram-se da discussão tidos enquanto organizações e os grupos que
sobre as funções partidárias na dinâmica po­ atuariam em seu interior.
lítica das sociedades em transformação à sua Bryce (ihidem) também já chamava a
época. Na segunda metade do mesmo sécu­ atenção para esses pontos, ao ressaltar que,
lo XIX, Waiter Bagehot (1867) e Woodrow até aquele momento, “ninguém produziu
Wilson (1885} se ocuparam com a análise da qualquer tratado contendo uma descrição e.
relação entre os partidos, as legislaturas e o um exame sistemáticos da estrutura dos par­
Executivo. Contudo, nada de mais sistemá­ tidos, tomados enquanto organizações gover­
tico sobre os partidos enquanto estruturas nadas por regras consolidadas e que operam
organizacionais tinha sido trazido a público, segundo métodos estabelecidos”. Décadas
até o inicio do século XX (cf. Engelmann, depois, Lipset (1964, p. xi) reforçou as pala­
1963), quando, finalmente, Ostrogorski e vras de Bryce, afirmando, em concordância
Michels dedicaram maior e exclusiva atenção com as avaliações um pouco mais recentes
às organizações partidárias em seus trabalhos de McKenzie (1955), Butler (1958) e Catlin
pioneiros . Conforme destacado por James (1962), que “Ostrogorski foi o primeiro a ar­
Bryce (1902, p. xxxix), prefaciador da edição gumentar pela necessidade de irmos além da
em. inglês da obra de Ostrogorski, análise formal das instituições políticas, pela
necessidade de estudarmos o comportamen­
[...] embora ds partidos políticas sejam tão to político real dos homens e das instituições
antigos quanto o próprio governo popular, exógenas à esfera governamental”. E, é claro,
sua natureza; suas. forças é o modo como eles o próprio Ostrogorski (1902, p. li) tinha ple­
se organizavam receberam comparativamen­ na consciência do enquadramento inovador
te, pouea atenção por parte, dos historiadores que estava empregando, prpclamando-o sem
e dos autores vinculados ao que estava come­ tergiversações logo no início do primeiro vo­
çando a ser chamado de C iência Política". lume de sua extensíssima obra de dois tomos:
“neste livro”, asseverava o autor, “eu investigo
E provável então que o primeiro estudo o funcionamento do governo democrático.
“cientificamente orientado” sobre o tema te­ Mas não são as instiruições que constituem
nha sido publicado pelo russo Ostrogorski; o objeto de minha pesquisa, nem mesmo as
estudo este que acabou, direta ou indire­ formas políticas, e.sim as forças políticas”.
tamente, estabelecendo vários parâmetros Ostrogorski então acabou promovendo
analíticos para as investigações subsequentes uma ruptura com as análises políticas tradi­
(Lipset, 1964; Linz, 1968), O pioneirismo cionais, cujos enfoques eram extremamente
de tal estudo se deve a pelo menos duas gran­ constitucionalistas, centrados nas leis e no
des inovações: de uma parte, à ênfase ain­ governo, nas avaliações formalistas das im­
da rara na metodologia científica entendida plicações dos tipos de governo e da iegisla-

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çáo sobre.a dinâmica da política stricto sensu. termédio de seu mestre e amigo Max Weber
Para o autor, tal abordagem apreenderia ape­ (cf. Roth, 1563)9, Michels ainda receberia
nas um espírito descarnado, sem as forças e influências diretas do escritor russo na for­
os interesses reais que estariam em jogo nas mulação de sua célebre “Lei de Ferro da Oli­
lutas e nas disputas, acima de tudo, sociais. garquia” (cf. Runciman, 1963). Ademais, o
A parte a forma de governo e o próprio go­ próprio eixo central da agenda de pesquisas
verno, as leis e as constituições, existiriam as de Weber e de Michels seguia o mote dado
forças reais que moveriam a política, os gru­ por Ostrogorski, abarcando a preocupação
pos organizados que atuariam no governo e com os efeitos do sufrágio eleitoral universal
que escolheriam a legislação. Tratava-se, por­ sobre os governos democráticos.
tanto, de investigar as forças sociais, em cena, Portanto, todos aqueles autores viam
em ação no novo contexto da democracia de com cautela e certo pessimismo o fato, se­
massas: os partidos políticos modernos. Em gundo sua perspectiva, inescapável, de que a
decorrência de tal postura, o autor é consi­ organização dps processos político-eleitorais
derado, inclusive, um dos precursores da por intermédio de partidos de massas, tam­
Sociologia Política (cf. Lipset, 1962; Barker bém complexamente organizados, pudesse
e Howard-Jonston, 1975; Balão, 2001)8 e, levar o regime democrático a se degenerar,
de certò modo, do movimento favorável à transformando-se numa oligarquia. Ob­
abordagem comportamentalista do fenôme­ viamente, os partidos tinham importância
no político5'. capital nesse processo, na medida em que a
Em grande pme, o: tipo de abordagem necessidade de organização das massas de­
bem como as inferências que podiam ser ex­ mandava a organização interna de suas ativi­
traídas da análise de Ostrogorski (1902) tive­ dades e de suas funções, levando à formação
ram grande influência sobre dois autores que de burocracias profissionais especializadas e,
viriam a ser centrais na análise das organiza­ no limite, às oligarquias e ao consequente di­
ções burocráticas, incluindo-se os partidos: vórcio entre representantes e representados.
Max Weber e Ro.bert Michels. (cf. Schieder, Michels (2001, pp. 9; 53-5) vislumbrava isso
1962). Em sua famosa palestra Politik ais Be- na forma de um curioso paradoxo:
ruf (A Política como Vocação)10, e num texto
voltado à discussão da burocracia estatal e da [.,.] a democracia não é pensável sem organi­
ação partidária, intitulado Parlament u n d Re- zação. [...] [Mas,] quem diz organização, diz
gieru ng im Neugeordneten D eutschland [Par­ propensão a oligarquia. [...] [Assim,] a de­
lamento e governo na nova ordem alemã]11., mocracia enrra em fase de declínio à medida
Weber se baseou nas ideias e nos conceitos que aumenta o. nível da organização. [Por­
trazidos pelo estudo de Ostrogorski acerca tanto,] a democracia conduz à oligarquia,
das políticas partidárias e parlamentares nor- transforma-se em oligarquia.
te-americanas e inglesas, chegando até a su­
gerir a pertinência de se estender tais enqua­ Na verdade, a desconfiança em relação à
dramentos analíticos aos partidos alemãesli. democracia de massas não era nenhuma ex­
Destarte, Weber praticamente estabeleceu o clusividade do pensamento daqueles autores;
plano da pesquisa que Michels viria a desen­ nem terminou com eles. Antes de Ostrogor-
volver e que resultaria em seu trabalho clássi­ skii Cónstant (1810) eTocqueville (1848) já
co sobre o Partido Social Democrata alemão. haviam se adiantado no alerta para os peri­
Mas, além dessa influência indireta, por in­ gos tanto da “tirania da maioria” como da

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“tirania da minoria”. Mosca (1936, 1947), sua “teoria geral dos partidos”. Num nível
igualmente, já atento às relações a entre or­ teórico mais profundo, dois pontos motivam
ganização e a formação de elites, lidou com a suas discussões. O primeiro deles é de natu­
dicotomia democracia/oligarquia, destacan­ reza teórico-normativa e consiste na tentativa
do que haveria apenas duas formas de go­ de relativizar aquele pessimismo em relação
verno possíveis, a aristocracia e a oligarquia, à alegada incompatibilidade entre as organi­
sendo a democracia nada mais do que um zações partidárias modernas e a democracia.
tipo de recrutamento “aberto” dos membros Como vimos, tal incompatibilidade havia
da classe dirigente. Também contemporâneo sido estabelecida pelas duas implacáveis “leis”
do autor russo, o francês Gusrave Le Bon sociológicas proclamadas pelos elitistas: a
(1909, 1919), ressaltando os peculiares ele­ “Lei da Circulação das Elites” ou da “Classe
mentos psicológicos das massas, impôs sérias Dirigente”, de Pareto e Mosca, e a "Lei dè
reticências quanto à viabilidade da democra­ Ferro da Oligarquia”, de Michels. Duverger
cia representativa de larga escaia; depois, Or- procura então conciliar ambas as leis numa
tega y Gasset (1937) estendeu tais preocupa­ lógica um pouco mais otimista em relação,
ções até os limites da metafísica. E mesmo à dinâmica democrática, embora fosse este
os fatos históricos pareciam confirmar tais um otimismo um tanto contido ou, por que
preocupações, como a emergência de fenô­ não dizer, conformado à aceitação de que,
menos totalitários —o fascismo, o nazismo e de fato, todo governo, fosse qual fosse, seria
o socialismo soviético. sempre e necessariamente uma oligarquia, e
Desse modo, se a desconfiança em rela­ que os partidos, mesmo os societários —so­
ção às massas incorporadas à política ocupou cialistas e comunistas —, nãó escapariam à
as mentes - e por que não dizer, os corações regra da concentração do poder decisório
- de vários pensadores, os partidos políticos, em um pequeno grupo de dirigentes. Não
responsáveis peia intermediação daquelas obstante, segundo o autor, se, de uma parte,
com o sistema político, consequentemente, seriam verdadeiras as máximas elitistas acerca
tornaram-se objetos centrais de reflexão crí­ das partidos de massas, de outra, seria inegá­
tica. O problema é que, se os partidos, en­ vel que estes cumpririam duas funções chave
quanto organizações como quaisquer outras, nos governos representativos, ou seja, (1) a
também se curvariam à lei sociológica da de recrutar uma elite societária e formá-la
concentração do poder em um grupo mino­ no interior do partido e (2) a de promover a
ritário, em decorrência da burocratização e ascensão dessa elite popular ao sistema parla­
da especialização das fimções dos dirigentes mentar por intermédio da verdadeira repre­
partidários, conforme sugeriram Ostrogorski sentação política, que seria a representação
e Michels, esse indispensável instrumento orgânica dos diversos grupos sociais14.
da política moderna, contraditoriamente, A “solução duvergeriana” para os para­
poderia significar uma ameaça à existência doxos democráticos apontados pelos elitistas
da democracia. As organizações partidárias, consistiu, portanto, no seguinte raciocínio: a
portanto, passariam a ser vistas como. um es­ despeito das suas estruturas organizacionais
pectro da oligarquia a rondar as nações com oligárquicas, os partidos de massas promove­
sufrágio universal e governo representativo, riam uma real ascensão do demos à polis, im­
E nesse contexto que, ao longo das quase pondo uma mobilidade social e política ver­
500 páginas da edição original de Les partis tical, na medida em que os “representantes”
politiques, Duverger (1951) nos apresenta verdadeiros —no sentido de pertencimento

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de classe - das camadas populares ascende­ societária, a genuína e legítima representante
riam à condição de “classe dirigente”, ou seja, dos interesses populares. Por isso mesmo, a
de uma elite política popular. No mundo dos existência dos partidos de massas seria a con­
partidos de quadros, prevalecia apenas a dele­ dição indispensável, embora não suficiente,
gação ou a representação política abstrata, já para o funcionamento efetivo da democracia
que os parlamentares recebiam dos demais representativa e para uma política governa­
cidadãos a incumbência de produzir a legis­ mental mais progressista; afinal., de acordo
lação e as políticas sem que houvesse quais­ com Duverger (1951, pp. 458-9):
quer ligações orgânicas entre os mandantes
—o povo - e os mandatários —as elites. Já no Um regime sem partidos assegura a pereni­
mundo dos partidos de massas, a mera repre­ dade das elires dirigentes estabelecidas por
sentação política selada no momento eleito­ critérios de nascença, de dinheiro ou d®
ral pela cessão dos direitos abstratos de agir funções desempenhadas, [...] Um regime
como um “delegado” da “vontade popular”, sem partidos é necessariamente um regime
sém que o. representante realmente perten­ conservador. [...] Um. sistema [de partidos]
cesse aos grupos populares, característico do permite ao mesmo tempo a constituição de
final do século XIX, quando ainda eram vigo­ uma classe dirigente oriunda do povo, que:
rosos os partidos de quadros, seria substituída subsrinú as classes antigas. Em relação a este
pela “verdadeira representação política”, pois últim o ponto, partido único e regimes plu­
consistiria sobretudo numa representação de ralistas se aproximam. A significação mais
natureza estrutural —representantes oriundos profunda dós partidos políticos é que eles
da mesma classe ou do mesmo grupo social. promovem a criação de novas elites, que
Assim sendo, no momento cerimoniai den­ restituem o verdadeiro sentido da represen­
tro da cabine de votação, além da produção tação, o único sentido reaJ. Todo governo é
simbólica e contratual da delegação política, oligárquico por natureza: mas a origem das
efetivada mediante o depósito da cédula na oligarquias e sua formação podem ser m uito
urna, teríamos, simultaneamente, a concreti­ diferentes, e é isso que determina sua ação. E
zação da representação orgânica” . preciso substituir a fórmula govern o do p ovo
Dessa forma, o desenvolvimento da de­ para o p o v o pela seguinte: govern o d o p o v o p o r
mocracia representativa, o que significa dizer um a elite oriunda do povo.
a ampliação do sufrágio, não apenas criou
um ambiente eleitoral mais corripedtivo, Desse ponto de vista, a democracia não
demandando outro, modelo organizacional, seria incompatível com os partidos de massàs
mais complexo - hierárquico, centralizado e por serem eles oligárquicos, pois, em realida­
disciplinado —, como também a necessidade de., qualquer governo seria invariavelmente
de sistemas partidários realmente mais re­ oligárquico, independentemente dos mode­
presentativos dos interesses de classe. Con­ los organizacionais dos partidos em questão.
sequentemente, além de terem conseguido Muito pelo contrário: a democracia repre­
se organizar de modo que se fizessem mais sentativa não apenas seria compatível com os
competitivos, os partidos de massas trouxe­ partidos de massas como somente seria efetiva
ram igualmente a possibilidade de conciliar a se operada por eles. O problema não residi­
delegação política com a representação orgâ­ ria, portanto, nos partidos ou em sua estru­
nica dos diversos grupos sociais por intermé­ tura organizacional, mas sim na concepção
dio dó recrutamento “aberto” de uma elite de democracia predominante naquele mo-

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mento, por demais impregnada de “aspira­ lar1''. Redunda disso a necessidade imperiosa
ções filosóficas falaciosas”. Nas palavras de de se estudar sistematicamente as organiza­
Duverger (pp. 464-5): ções partidárias de maneira a que se entenda
não;apenas seu funcionamento interno, mas
Nós vivemos com um a noção irreal de de­ suas relações com as outras variáveis sociais
mocracia, forjada pèlos juristas na esteira dos e políticas.
filósofos do século XVIII. “Governo do povo Este último aspecto, nos leva aci segundo
para o povo”, “governo da nação pór seus. re­ ponto que motiva a reflexão do autor, que é
presentantes”: belas fórmulas, eficazes para a tentativa de esquadrinhar uma teoria geral
promover o entusiasmo e para facilitar o dos partidos. Duverger, entretanto, tinha ple­
desenvolvimento, da oratória. Belas fórmulas na consciência do grande paradoxo contido
que não significam nada. N unca se viu uni nessa tarefa, pois se aventurava num campo
povo governar a si mesmo, e jam ais se verá. ainda pouco explorado e* por isso mesmo,
Todo governo é oligárquico, o que pressupõe sua teorização, necessariamente, seria precá­
a dominação de poucos sobre muitos [...]. ria e sujeita a sucessivas modificações. Isso
A verdadeira democracia é outra coisa: ela é porque a construção de uma teoria empiri­
mais hum ilde, porém, m ais real. camente fundamentada deveria consistir na
busca de generalizações baseadas em estudos
Mudandò-se o entendimento do que de monográficos preexistentes; mas, a ausência
fato seria o regime democrático, ficariam cla­ de uma teoria geral dificultava a própria rea­
ras seja a possibilidade de nele se acomodar lização desses estudos de caso. Então, apesar
o fenômeno partidário, seja a centralidade de até haver alguns estudos, especialmente
dos partidos.no funcionamento dos gover­ nos Estados LTnidos e, notadamente:, sobre os.
nos representativos. Para Duverger, uma partidos norte-americanos, “nenhum deles,
concepção mais “realista” acerca da demo­ contudo, esclarece reaimente os problemas
cracia, levar-nos-ia a compreendê-la apenas da evolução das estruturas partidárias, do nú­
como um “regime no qual os governantes mero e das relações recíprocas entre os parti­
são escolhidos pelos governados, mediante dos [e] de seu papel no Estado” (Duverger,
eleições honestas é livres” (p. 387), o que, 1951, p. vii). A ruptura desse círculo vicioso
por sua vez, conduzir-nos-ia à conclusão de em favor das pesquisas comparativas sobre as.
que a democracia deve deixar de ser consi­ organizações partidárias exigia, assim, o ris­
derada uma forma de governo para ser vista co, que o autor aceita correr, de se aventu­
tão somente como um mecanismo de re­ rai no primeiro esboço de uma “teoria geral”
crutamento das elites16 —exatamente como dos partidos políticos, embora sujeita a. erros,
na teoria de Mosca (1947). Evidentemente, correções e reconstruções. Devido a isso, ele
para qué o processo de “renovação da classe mostra uma preocupação bastante grande
dirigente” funcione de maneira efetiva, os com a operação metodológica das pesquisas
partidos se fazem mais do que necessários, futuras e, com tal intuito, procura elaborar
fazem-se essenciais, no senddo mais literal um modelo de análise formal, passível de
do termo, cabendo-lhes a necessária rotação aplicação em estudos de caso e em estudos
das engrenagens que produzem novas elites, comparativos variados. Outra preocupação
oriundas agora da própria sociedade civil metodológica de Duverger é reunir todas as
i mais abrangente; elites societárias capazes do questões essenciais relativas aos partidos e suas
verdadeiro exercício da representação popu­ relações com outras variáveis institucionais,

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psicológicas e sociais, de modo a estabelecer também em Bordeaux, em 1948. Tornou-
“as hipóteses suscetíveis de guiar pesquisas fu­ se ainda proféssòr emérito da Sorbonne é
turas, que um dia permitirão a formulação de membro da Fondation Nationale des Scien­
leis sociológicas autênticas’’ (p. viii). ces Politiques (FNSP)19. Mas, além da atu­
Sob tal perspectiva, as seguintes pergun­ ação acadêmica, Duverger empenhou-se
tas de fundo conduziram sua teorização: o igualmente na militância política, aderindo,
que seriam os partidos polídcos? Por que em 1933, à Union Populaire Republicaine,
teriam surgido? Quais os tipos possíveis de e filiando-se ao Parti Populaire, em 1936.
partidos? O que explicaria sua variabilidade Entre 1990 e 1994, foi membro do Grupo
organizacional e funcional? Quais suas carac­ dos Partidos Socialistas Europeus, no Parla­
terísticas estruturais principais? Quais suas mento Europeu.
funções básicas? O que explicaria a variação Segundo Hoffmann-Martinor (2005),
no número de partidos de cada país? Qual quando criança, Duverger cogitou ser biólo­
sua relação com outras instituições sociais e go e se interessava, sobretudo, pelos insetos
políticas? e por sua classificação. Inclusive, interessou-
Podemos perceber pelo teor das ques­ se de tal modo que acabou tomando gosto
tões endereçadas ao problema que, embora o pelo raciocínio classificador, a ponto de ele
autor reconheça a importância de se estudar mesmo supor que esse fascínio, depois de
as doutrinas ou ideologias partidárias e sua ele já ter se desviado da Biologia, por qual­
composição social, sua proposta consistiu em quer motivo, tenha-o conduzido finalmente
explorar um aspecto até então quase inexplo­ ao Direito Constitucional, uma ciência de
rado do fenômeno, qual seja, a estrutura or­ vocação elassificatória, e, por extensão, à
ganizacional dos partidos, especialmente dos Sociologia Política, dedicada aos construtos
partidos modernos. Portanto, o caráter mais tipológicos, à metodologia e às análises com­
distintivo dos partidos modernos é sua estru­ paradas dos governos20 e, no caso em ques­
tura organizacional extremamente complexa tão, dos partidos políticos21.
e burocratizada. Isso significa que uma teoria Sob tal perspectiva, Duverger persegue
geral dos partidos tem que ser uma teoria so­ três objetivos principais em Les partis politi-
bre a organização partidária. ques. O primeiro deles consiste na elaboração
do esboço de uma primeira teoria geral das
A “estasiologia” de Duverger10 organizações partidárias, com a apresentação
de critérios de análise e métodos de pesquisa.
Nascido em 1917, em Angoulême, uma Seu segundo objetivo é apresentar um mode­
comuna francesa da região centro-oeste dó lo de análise formal, contendo algumas ques­
país, Maurice Duverger se dedicou aos es­ tões centrais do problema, conceitos opera­
tudos jurídicos e iniciou sua carreira como cionais básicos e critérios classificatórios, por
professor de Direito Administrativo na Uni­ meio de uma heurística taxonômica. Final­
versidade de Bordeaux, onde, cada vez mais, mente, seu terceiro principal objetivo é pro­
interessou-se pelo Direito Constitucional e por algumas hipóteses de pesquisa a serem
pela Sociologia Política, o que viria a se re­ restadas em agendas de investigação futuras,
fletir em sua obra, dedicada especiaimente a de modo que seja possível a formulação de
tais temas. Inclusive, em decorrência desse "leis sociológicas”. Para atingir tais óbjetivoSj
interesse, acabou por ser um dos fundadores Duverger desenvolveu a exposição sobre dois
da primeira Faculdade de Ciência Política, eixos analíticos centrais, quais sejam: (1) a

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explicação do surgimento dos partidos, da teoria evolucionista de Darwin —como ex­
lógica de sua evolução e dos tipos partidários plicar a variabilidade sincrônica e diacrônica
de acordo com. sua estrutura organizacional e das espécies. É nessa seara biológica, taxonô-
(2) a proposição de hipóteses sobre a relação, mica, e também vinculada ao evolucionismo
entre os partidos em seu conjunto, especial­ darwiniano, que Duverger nos oferece seu
mente no que se refere ao formato quantita­ “tratado de história natural” dos partidos,
tivo do sistema partidário, e certas variáveis pois, nele, o autor analisa a “origem das es­
políticas e sociais, como (a) as correntes de pécies partidárias”, por assim dizer. Trata-se
opinião (b) a estrutura social, (c) a fórmula de uma “história natural” porque a premissa
eleitoral e (d) a dinâmica dos regimes políti­ adotada é a de que cada tipo de organização
cos ou dos governos. partidária teria aparecido como uma “respos­
ta” histórica e “ambientalmente” necessária
A perspectiva teórico -metodológica a cada configuração do habitat social. Daí
a importância da investigação da origem
Duvergér utiliza a metodologia classi- ou a “genealogia" tanto do “gênero parti­
ficatória, baseada na observação de diversos do” como das “espécies partidárias”, afinal,
casos para a construção de uma tipologia na perspectiva evolucionista, a origem tem
empírica. Em termos epistemológicos, é pos­ relação, ao mesmo tempo, com o “gênero”
sível afirmar que o autor trabalha com um e com as “espécies”, na medida em que há,
“paradigma analógico”22, aplicando o m o- igualmente, um momento histórico èm que
dus operandi da táxonomia empregada pela ò “gênero” emergiu e um momento histórico
Biologia ao estudo cíassificatório dos parti­ em que surgiu cada “espécie”. Não à toa, seu
dos políticos. Estes, enquanto um “gênero”, estudo inicia precisamente com uma intro­
abrigariam em seu interior determinadas “es­ dução intitulada “A origem dos partidos”, na
pécies’23. Grosso modo, a unidade taxonômi- qual busca uma ancestralidade comum que
ea “gênero” serve para agrupar um conjunto possa caracterizar o surgimento do “gênero
de “espécies” com semelhanças morfológicas partidário” para, a partir daí, identificar as
e funcionais, apresentando, assim, elevando variações evolutivas em seu interior ou as
grau de “comunal idade” e uma “ancestrali- “espécies partidárias” que foram sucedendo
dade” compartilhada. As espécies, por sua umas às outras.
vez, compreendem cada um dos grupos em Uma vez identificadas as origens das “es­
que se divide o “gênero” e apresentam certas pécies” partidárias, o próximo passo consiste
variações estruturais, embora com semelhan­ na catalogação das espécies, com a finalidade
ças funcionais. O problema empírico, então, de encontrar o conjunto de características
seria descrever as características específicas morfofisiológicas que lhe conferem certo
de cada espécie partidária e encontrar as grau de especificidade. Isso demandaria um
possíveis explicações para tal variabilidade. procedimento de “dissecação”, ou a prática
Dito de outro modo: seria preciso descrever da “anatomia”, levando à identificação ana­
as diferentes espécies de partidos, desde ttm lítica das panes que compõem suas “estru­
“gênero” comum, e explicar o porquê do turas internas” e das funções endógenas às
surgimento do gênero e de tal variação de próprias estruturas. Mas, essa “anatomia;”
espécies. não mostraria apenas as estruturas e funções
Esse problema, posto dessa forma, não de cada espécie, mostraria também como
é outro senão o mesmo já enfrentado pela cada uma delas possui uma morfologia e

25
ama fisiologia mais bem adaptadas ou não cada esmirura social, seria mais propícia à
ao “sistema ecológico” ou habitat em ques­ manifestação de determinadas instituições
tão, assim como em que medida cada espé- políticas ou, no caso específico, de deter­
cie teria surgido justamente em sintonia com minadas organizações partidárias. Assim,
cada contexto ambientai2,3. Como veremos para Duverger (p. x), “os partidos modernos
mais adiante, no caso dos partidos em geral, caracterizam-se antes de tudo por sua anato­
o contesto ambiental de seu surgimento foi a mia: aos protozoários das épocas anteriores
emergência da democracia representativa, e, sucederam-se os partidos com organismos
no caso da evolução dos partidos d e quadros complexos e diferenciados do século XX”.
para os partidos de massas, foi a ampliação do
sufrágio eleitoral. A “genealogia”e a “anatom ia' das organizações
Com efeito, o autor utiliza uma lógica partidárias
de inferências indutiva, servindo ao pro­
pósito da organização teórica dos “dados A “genealogia5' partidária deve responder
observados” e da formulação de hipóteses à seguinte pergunta: como e por que surgiu o
construídas empiricamente. O procedimen­ “gênero” partidário e suas “espécies”? A “ana­
to inferencial consiste em encontrar alguma tomia partidária, por sua vez, mcumbir-se-ia
regularidade empírica na relação entre certas da resposta a uma indagação mais analítica:
variáveis e, a partir disso, propor hipóteses, como é a estrutura de cada espécie partidária
cóm estatuto de quase-lei. Os exaustivos e como cada qual funciona? Isso significa que
exemplos de casos, expostos em contrapo­ os aspectos mais importantes da análise das
sição uns aos outros, comparativamente, organizações partidárias são o contexto his­
servem, assim, a dois propósitos epistemo- tórico que explica o seu surgimento e a tipo­
lógicos bastante claros: (1) reunir uma fonte logia que distingue as “espécies" de partidos,
histórica de fatos que justifiquem a formula­ de acordo com as principais características
ção de uma teoria é de um conjunto de hi­ de.suas estruturas internas. Inclusive, haveria
póteses e quase-leis e (2) servir de “evidência" certa relação causal implicada na interação
do tipo “verificacionista” para a sustentação da origem partidária com as estruturas or­
tanto do modelo teórico como da validade ganizacionais e a tipologia. Antes de rudo,
das hipóteses e das quase-leis formuladas. a origem dos. partidos é importante porque
Portanto. sua abordagem é taxonômica condiciona a estrutura organizacional e, as­
—elássificatória, comparativa e indutiva —e sim, sua dinâmica interna e sua interação
evohicionista. Mas nãõ sé trata dó evolucio- com o ambiente. Nesse sentido, a origem
nismo simplificado, e sim da necessidade condiciona a própria ontologia partidária,
histórica de certas organizações políticas em assim como o grau de concentração de po­
contextos que demandem tais tipos de orga­ der no interior da organização e a pluralida­
nizações - daí a ideia de resistência dever ser de das facções de cada exemplar específico,
substituída pelas ideias de flexibilidade e de condicionando, assim, o grau das tensões e
adaptação. Com efeito, a história das insti­ dos conflitos internos e externos, bem como
tuições sociais consistiria numa evolução or­ o alcance do afastamento do partido em re­
gânica, qualitativamente mutável, dinâmica lação ao seu programa e à sua organização
e flexível, que conduziria à evolução mais ou originais ao longo de seu processo evolutivo.
menos concomitante e “acoplada” das Insti­ Levando tudo isso em consideração, para
tuições políticas"7'. Cada contexto histórico, Duverger (1951, p. 1), toda a análise parti­

26
dária deve começar com uma “genealogia” Porém, em sua dinâmica evolutiva, o
porque “assim como os homens carregam ambiente eleitoral foi se cornando cada vez
a marca de sua infância durante toda a sua mais competitivo e qualitativamente dife­
vida, os partidos também são submetidos às rente, na medida em que a ampliação do
influências de sua origem”. Sinteticamente, sufrágio até sua universalização não levou
a “genealogia” partidária realizada pelo autor apenas um grande contingente populacional
segue essa linha de raciocínio. Em termos qualquer aos processos eleitorais, mas sim as
genéricos, o partido, enquanto um fenôme­ massas “proletárias”. Esse novo ambiente,
no organizacional, surgiu em decorrência da configurado a partir do final do século XIX e
aparição da democracia representativa, mais aprofundado nas primeiras décadas do século
ou menos em meados do século XIX. Os XX, impôs a necessidade de uma organização
grupos parlamentares aristocráticos daquela partidária mais bem adaptada a esse habitat
época se viram de uma hora para a outra na reconfigurado, e essa nova espécie partidá­
inusitada situação de terem dè exercer o po­ ria, os partidos de massas, emergiu com um
der político como representantes da vontade conjunto de características que lhe ofereciam
popular, com mandatos fixos e renováveis, consideráveis vantagens comparativas: orga­
legitimados pelo voto. Tais grupos tiveram nizacionais, doutrinárias, retóricas etc.
então de se mobilizar para a disputa eleitoral, Diferencemence dos partidos de quadros,
o que os levou à criação de comitês eleitorais. os partidos de masscts tiveram sua origem nós:
A relação entre esses grupos parlamentares e grupos sociais organizados —e não nos gru­
os comitês eleitorais, por sua vez,, daria a tô­ pos parlamentares aristocráticos - , como os
nica do que passaria a ser a primeira espécie sindicatos, por exempio. Esses grupos sociais
partidária moderna: o partido d e quadros. Por decidiram lutar pelo poder poiírico no âmbi­
ter sido criado por grupos parlamentares, ou to da competição eleitoral e perceberam que
seja, uma aristocracia que já estava alojada suas chances de vitória eram incrementadas
no Poder Legislativo, o partido de quadros na razão diretamente proporcional à amplia­
ceve uma origem endógena ao sistema po­ ção dos direitos políticos e à estruturação
lítico, o que acabaria conferindo-lhe certas permanente e burocratizada de suas unida­
características morfofisiológicas distintivas. des organizacionais. Desse modo, os grupos
Então, de acordo com Duverger (p. 85): sociais criaram seus cómitês eleitorais para
competir nas eleições e, depois, formaram
O partido de quadros [...] procura reunir seus grupos parlamentares com seus mem­
pessoas ilustres paia preparar as eleições, bros já eleitos, de maneira que a direção par­
conduzi-las e manter o contato com os tidária pudesse exercer controle sobre eles.
candidatos. Pessoas ilustres cujo nome, O compósito dos grupos sociais, dos co­
prestígio ou brilho servirão como caução mitês eleitorais e dos grupos parlamentares
ao candidato e lhe garantirão voz; técnicos resultou na estrutura organizacional dos par­
notáveis que conhecem a arte de manipular tidos de massas. Assim, enquanto o vetor da
os eleitores e de organizar uma campanha; origem dos partidos d.e quadros se inicia nos
notáveis financiadores que trarão o que há grupos parlamentares, passa pelos comitês
de mais essencial, o dinheiro. Aqui é a qua­ eleitorais e resulta na estrutura partidária, o
lidade o que mais importa: o tamanho do vetor de origem dos partidos de massas co­
prestígio, a habilidade da técnica, o mon­ meça nos grupos sociais organizados, passa
tante financeiro. depois pelos comitês eleitorais e pelos gru­

27
pos parlamentares, para então resultar na sua partidários posteriores que, quase sempre,
organização partidária específica. De acordo orientaram-se pela heurística classificatória
com Duverger (p, .85), ‘os partidos de mas­ què procurava identificar em que medida
sas caracterizam-se pelo apelo ao público: ao teria ocorrido a evolução partidária em cada
público pagador, que permite que a campa­ país analisado, em que medida cada conjunto
nha eleitoral escape à servidão capitalista; ao de partidos correspondia, e em que grau, ao
público ouvinte e mobilizado, que recebe perfil originário e organizacional dos partidos
uma educação política e aprende como in­ d e massas. Estes, inclusive, acabaram sendo
tervir na vida do Estado”. tomados muitas vezes não apenas como uma
De maneira bastante sintética, podería­ ‘'espécie” partidária, mas como o tipo ver­
mos identificar, então, as seguintes caracte­ dadeiro e mais desenvolvido de organização
rísticas próprias de cada espécie partidária partidária, um ideal normativo a ser perse­
identificada pelo autor. Ospartidos de quadros guido pelas democracias instáveis ou pelas
- geralmente burgueses - caracterizar-se-iam novas democracias. No Quadro 1, estão resu­
por: (a) pouca atividade de recrutamento, midas as principais características distintivas
(b) atividade partidária apenas eleitoral, (c) dos dois tipos partidários.
financiamento autônomo das próprias elites Podemos perceber que as diferentes ori­
partidárias, (d) pouca complexidade admi­ gens são correlacionadas às diferentes ideo­
nistrativa, (e) direção concentrada e perso­ logias, composições sociais e, o mais impor­
nalista, (f) alto grau de disputa interna entre tante, âs estruturas organizacionais de cada
poucos e pequenos grupos desvinculados da tipo. Os partidos de origem interna refletem
base, (g) pouca consistência programática, os interesses de grupos aristocráticos ou de
(h) pouca importância dada a fatores ideoló­ uma elite “fechada”, cuja doutrina se iden­
gicos e (i) estrutura decisória descentralizada tificaria historicamente com os valores bur­
e pouco hierárquica. Os partidos de massas, gueses. Enquanto o voto era censitário, seus
por sua vez - os socialistas e comunistas —, apelos e sua organização, pouco complexa
apresentariam: (a) atividades de recrutamen­ e sazonal, voítada meramente aos períodos
to permanentes, (b) atividades de propagan­ eleitorais, esses partidos puderam sobreviver.
da e de doutrinação constantes, (e) contri­ Mas as mudanças estruturais provocadas pela
buições financeiras dos membros ao partido, revolução industrial, em concomitância com
(d) uma organização complexa, com rede o alargamento da democracia representativa,
de unidades e subunidades políticas e uma tornou possível o surgimento de um parti­
burocracia permanente, (e) pouco persona­ do societário, identificado com os interesses
lismo das lideranças, {£) disputas internas dos trabalhadores e portador de valores so­
orientadas por divergências ideológicas, (g) cialistas. Por isso, em termos sociológicos, a
alta consistência programática, (h) grande primeira “espécie” partidária, os partidos de
relevância de fatores ideológicos e (i) estru­ quadros, coincide com os partidos burgueses,
tura decisória hierárquica e centralizada. e a segunda, os partidos de massas, com os
Assim, a distinção dicotômica partidos partidos socialistas .
de quadros!partidos de massas, elaborada a Além disso, o aumento da competição,
partir da origem de cada espécie e das con­ provocado pela ampliação dos direitos políti­
sequências organizacionais implicadas em cos, demandou que se realizassem atividades
cada origem acabou representando uma das constantes de recrutamento, com a finalida­
grandes contribuições do autor aos estudos de de suprir duas necessidades: um corpo vo-

28
Quadro 1
Características Distintivas das Espécies Partidárias, segundo Duverger (1951)
Partidos de Massas Partidos de Quadros
Genealogia
Origem Externa Interna
Vecor da gênese A pardr do topo A partir da base
(lideranças ou grupos burocráticos das (os próprios parlamentares compõem a
organizações sociais) base do partido)
Desenvolvimento Diretórios criados a partir do centro O centro é criado a partir dos diretórios
Ocorrência histórica De meados do séc. XIX até o início do Início do séc. XX
séc. XX
Exemplares Partidos proletários Partidos burgueses
(socialistas e comunistas) (liberais e conservadores)
Morfologia
Grau de centralização Mais centralizados Menos centralizados
(o grau de centralização da organização (cada diretório tem bastante poder de
depende da estrutura da organização social decisão sobre as questões de interesse de
que fundou o partido) cada instância)
Grau de Altamente kierárquico Pouco hierárquico
hierarquização (as decisões são verticalmente impostas) (as instâncias locais nem sempre seguem
as decisões superiores)
Constitucional ismo Elevado Reduzido
partidário (encontros, congressos, assembleias etc.)
Grau de autonomia Lideranças centrais com Lideranças centrais com
dos dirigentes maior liberdade de ação menor liberdade de ação
Burocracia Elevada burocratização Baixa burocratização
Estrutura Complexa Simples
organizacional
Fisiologia
Objetivos principais Políticas [policy-seeking] Vitória eleitoral [vote-seeking]
Educação política Cargos governamentais [office-seeking
Atividades Permanentes Sazonais [períodos eleitorais]
Campanha de filiação Intensa Esmorecida
Financiamento Contribuição dos filiados “Investimento” dos quadros dirigentes
Função da ideologia Preponderante Secundária
Temas dos debates interesses doutrinários e coletivos Interesses pessoais
internos
Processos decisórios Complexos Simples
Vetor de influência Do partido sobre os parlamentares Dos parlamentares sobre o partido
Grau de disciplina Alta Baixa

29
lumoso de militantes dispostos ao trabalho A avaliação do arcabouço partidário,
voluntário pelo. partido e o financiamento nó que se refere ao tipo de estrutura, deve
crescente da organização por meio de contri­ considerar o grau de independência do par­
buições dos filiados. Em razão disso, surgiu a tido em relação à sociedade civil organizada.
necessidade de formação de uma burocracia Desse modo, os partidos diretos são aqueles
permanente e cada vez mais numerosa, assim cujos adeptos formaram a organização sem
como a construção de uma rede complexa de a mediação de outros grupos sociais organi­
unidades políticas e administrativas. Parale­ zados; já os partidos indiretos são resultantes
lamente, o caráter societário de sua origem da união de grupos sociais de base preexis­
lhe conferiu maior nitidez e consistência tentes, como os sindicatos e os movimentos
ideológica, do mesmo modo que maior dis­ religiosos. Nesse caso, os grupos sociais e os
ciplina por parte de seus membros, inclusive partidos são praticamente indistintos, preva­
dos parlamentares. lecendo um forte vetor de influência desses
Mas, vejamos cóm maior detalhe a grupos sobre a organização partidária e seus
análise da estrutura organizacional que, ao respectivos parlamentares.. Geralmente, os.
mesmo tempo, conduziu à elaboração do partidos de quadros são diretos e os partidos de
modelo formal proposto pelo autor para os massas indiretos.
estudos partidários. Avancemos, então, da Entretanto, segundo Duverger (1951,
“genealogia” para a “anatomia” dos partidos. p. 34), '\im partido não é uma comunida­
Em termos organizacionais* devem ser de, mas um conjunto de comunidades, uma
considerados na análise, seja do “gênero reunião de pequenos grupos disseminados,
partido” seja das espécies, os seguintes ele­ por todo o país (seções, comitês, associações
mentos: (1) o arcabouço partidário, (2) os locais erc.) ligados pelas instituições coorde­
membros do partido e (3) a direção partidá­ nadoras”. Ou seja, a análise do arcabouço
ria. Quanto ao que o autor chamou de arca­ partidário deve levar em conta igualmente
bouço partidário, devem ser considerados os os elementos de base da organização, pois
seguintes aspectos: (a) o tipo de estrutura (se “a arquitetura das ligações e relações entre os
direta ou indireta), (b) os elementos de base grupos elementares do partido exerce uma
(as instâncias estruturais, ou seja, os diretó­ profunda influência sobre seus militantes,
rios, os comitês, as seções, a célula, as milícias sobre sua unidade doutrinária e sobre a efi­
etc.) e (c) a articulação entre tais instâncias cácia de sua. ação, e até mesmo sobre seus
(se forte ou fraca, se horizontal ou vertical, métodos e seus princípios” (p. 59). Devem-
se centralizada ou descentralizada). No caso se então avaliar as prerrogativas estatutárias,
dos membros, a análise deve se concentrar a composição e os interesses relativos que
(a) no processo de filiação (critérios para a caracterizam cada uma dessas instâncias que
adesão e estatísticas dos adeptos), (b) na na­ dão vida à organização partidária.
tureza da participação (se sagrado/profano, Considerando-se que um partido, em
se comunal/social) e (c) no grau da participa­ essência, é um aglomerado de micro-organi-
ção (intensidade do envolvimento). Em re­ zações articuladas, e que, comumente, estru­
lação à análise da direção partidária, deve-se tura-se de maneira hierárquica e piramidal,
atentar para (a) os procedimentos de escolha o mais importante é analisar o padrão das
dos dirigentes, (b) a natureza oligárquica dos relações verticais e horizontais que dão. a tô­
grupos dirigentes e (c) a relação entre a dire­ nica do funcionamento de cada partido. Em
ção do partido e seus parlamentares. primeiro lugar, tais relações podem ser fortes

30
ou fracas, designando o grau de influência á descentralização local quando prevalecesse
entre as instâncias, seja de forma hierárquica grande autonomia da base e da direção das
descendente - do topo para a base —seja de instâncias locais do partido. Esse tipo de
forma hierárquica ascendente —da base para descentralização incentivaria o localismo
o topo. Assim, em partidos de articulação político em detrimento das grandes questões
fra ca seriam muito tênues quaisquer influên­ nacionais, dificultando inclusive a forma­
cias de determinadas instâncias sobre outras, ção de uma agenda partidária unificada. A
inviabilizando a democracia interna do par­ descentralização ideológica consistiria numa
tido. Por outro lado, quando a articulação é situação de grande autonomia das correntes
forte, é possível tanto a democracia interna doutrinárias internas à organização, a ponto
- articulação fo n e ascendente —como sua de o estatuto, às vezes, prever alguma forma
inexistência, dado que o vetor de influência de representação proporciona) dessas corren­
pode sé manifestar apenas ho sentido que vai tes nas diversas esferas diretivas. Esse tipo, de
do topo à base da organização —articulação uma parte, promove intenso debate interno,
fo rte descendente2 . com o predomínio de grandes temas, mas,
Além da força das relações, devemos de outra, potencializa as tensões internas,
também analisar o sentido da ligação entre as promove a fragmentação interna, podendo
instâncias. Este pode ser identificado em duas levar a impasses e até a cisÕes. A descenp'a-
dimensões: uma, pela dicòtomia horizontall lização social seria aquela em que o partido
vertical-, outra, pelo contínuo centralização! se organiza de acordo com sua composição
descentralização. Enquanto a dicotomia per­ socioeconômica, dando poder às categorias
mite apreender as formas de coordenação profissionais às quais seus membros perten­
das instâncias partidárias, o contínuo possi­ cem. Suas seções são corporativas e predomi­
bilita a observação das formas de distribui­ nam os debates e os interesses setoriais. Em­
ção dos poderes entre estas. Partidas com bora a intenção seja a “harmonia’ baseada
predomínio do sentido horizontal permitem na cooperação e na divisão do trabalho, esse
maior interação, tanto dos membros de uma tipo possibilita a tensão interna e dificulta a
mesma instância como das instâncias. Onde, formação de uma agenda política nacional.
contrariamente, predominam as. relações Finalmente, a desce?itralização federativa
verticais, o controle hierárquico descendente nada mais seria dó que uma forma mimética
é rígido e as instâncias equivalentes somen­ de organização partidária a partir do federa­
te se relacionam com a intermediação das lismo estatal.
instâncias superiores. Geralmente, pattidos Com relação às modalidades de centra­
com articulação fi-aca apresentam relações lização, prevaleceria o centralismo autocrático
horizontais e.:.são, muitas vezes, partidos dire­ nas organizações em que as decisões seriam
tos e de origem interna. Já os partidos indire­ sempre uma imposição do topo às instân­
tos costumam ter articulação fo rte e relações cias inferiores, cabendo aos representantes
verticais, com origem externa. da direção máxima o controle rígido de sua
Do ponto de vista da centralização!des­ aplicação a todos os membros. Esse meca­
centralização, o autor propõe que façamos nismo cumpriria o propósito de se manter
uma subdivisão desse contínuo em certas um controle permanente do topo sobre as
modalidades de centralização (autocrática bases do partido. Não há debates no inte­
ou democrática) e de descentralização (lo­ rior desse tipo de organização e as tensões
cal, ideológica, social e federativa}-s. Haveria são resolvidas geralmente com punições aos
transgressores. Rigidamente hierárquica, a membros, da mesma forma que tais variá­
centralização autocrática é aquela que mais veis poderiam ser correlacionadas ao tipo de
assemelha o partido a uma organização mi­ parrido em questão. Em relação à natureza
litar, D centralismo democrático, por sua vez, da participação, a intenção é produzir uma
garantiria mais liberdade para o exercício da avaliação qualitativa do tipo de relação que
controvérsia e do debate, favorecendo a ma­ os diversos membros, em seus variados graus
nifestação das diversas posições dos grupos de envolvimento, mantêm com o partido.
que habitam os partidos. Assim, as decisões Nesse caso, a relação poderia ser tão envol­
são subsidiadas com vários pontos de vista, vente e totalizante que seria do tipo sagrada-,
aproximando os processos decisórios da ló­ séu contrário, uma relação mais distanciada,
gica deliberativa. Porém, uma vez tomada a fria e racionalizada, ou seja, uma relação do
decislo, a direção, geral se incumbe de aplicá- cipo profana. Encremences, tal relação tam­
la com rigor a todos os membros do partido. bém poderia ter sido estabelecida de maneúa
Enquanto a base tem grande influência sobre automática e, portanto involuntária, enqua-
a direção no processo de tomada de decisão, drando-se no tipo comunal. Se uma criança
a direção tem grande peso na imposição da é socializada em um ambiente familiar no
decisão tomada sobre a base partidária. qual as pessoas sejam altamente envolvidas
Avançando agora para o caso dos adep­ com determinado parrido, será provável a
tos, segundo Duverger, devem ser avaliados ocorrência de adesão da criança ao mesmo
os critérios de filiação, se rígidos ou flexíveis, partido “por similitude”. Em caso contrário,
óu seja, se há Ou não a necessidade de paga­ ou seja, no caso de um envolvimento volun­
mento de taxas e de contribuições mensais, tário, espontâneo, teríamos o tipo social*3.
de comprometimento com a disciplina par­ Já a análise da direção partidária deve
tidária e com a ideologia, com a militância estar atenta, sobretudo, para a propensão à
intensiva, e assim por diante. Se a. resposta oligarquia, ou seja, à centralização do poder
for positiva a todas essas questões, prevalece decisório e. à consequente perpetuação dos
a adesão regulamentada; em caso contrário, a mesmos líderes nos postos de comando, ou
adesão aberta. Este último caso coincide com então, quando muito, à renovação “fechada"
os partidos de quadros e o primeiro com os da elite dirigente, o que significa dizer que
partidos de massas. Com relação às estatísti­ o acesso, à direção seria restrito aos familia­
cas dos adeptos, trata-se do levantamento de. res ou asseclas dos dirigentes antigos. A es­
dados quantitativos que permitam avaliar colha dos novos dirigentes,, portanto, é um
a evolução do partido no que se refere à problema capital, havendo duas formas para
composição social dos filiados e às taxas de sua seleção: a direta (todos os filiados votam
crescimento ou de declínio, das adesões. Tais com pesos iguais) e a indireta (voto restrito
medidas, portanto, dão o tamanho e o perfil a alguns membros). Inclusive, no caso dos
social dos partidos. partidos de massas, sua contribuição mais rer
Quanto aos graus de participação, a ideia levante à democracia representativa é a possi­
é distinguir três tipos de atuação em relação bilidade de que, por intermédio do partido,
ao parrido, que podem ser: (a) meramente ocorra uma renovação da “classe dirigente”.
eleitoral, (b) como simpatizante e (ç) como Essa renovação deve ocorrer inicialmente no
militante. Inclusive, seria:possível correlacio­ interior do partido e, depois, no âmbito do
nar estatisticamente o grau de envolvimento governo, quando essa nova elite partidária
com o perfil social dos membros e dos não conquista a vitória eleitoral. Se a oligarquia:

32
partidária se transformasse numa oligarquia da direção sobre ós parlamentares ou (b) a
fechada, tornar-se-ia inócua à “circulação influência dos parlamentares sobre a direção.
das elites”, cessando, assim, a grande con­ O primeiro caso coincide com os partidos de
tribuição dos partidos de massas ao governo massas e, o segundo, com os partidos de qua­
representativo. Por último, quanto à relação dros. A seguir, temos uma síntese esquemáti­
entre direção partidária e parlamentares, esta ca do modelo de análise proposto pelo autor
pode se dar de dois modos: (a) a influência (Quadro 2).

Quadro 2
Síntese Esquemática do Modelo de Análise dá Estrutura e da
Dinâmica Partidária Proposto por Duverger (1951)
Estrutura
Dimensões Variáveis Operacionalizaçao
Partidária
Direta Formada por indivíduos
Estrutura
Indireta Formada por associações
• Complexidade
Instâncias Diretórios, comitês, seções etc.
* Simplicidade
* Forte
Articulação das Unidades
* Fraca
Sentido da relação entre as * Horizontal
unidades • Vertical
Interação estrutural
Centralização
Arcabouço
(autocrática/democrática)
Distribuição do poder
Descentralização
(local/ideológica/social/federativa)
Dinâmica
Variáveis Operacionalizaçao
Partidária
* Aberta
Adesão
• Regulamentada
• Sagrada/Profana
Natureza da participação
* Comunal/Social
• Eleitor
Membros
Grau da participação • Simpatizante
• Militante
• Direta
Escolha dos dirigentes
• Indireta
* Recrutamento aberto
Propensão à oligarquia
• Recrutamento fechado
Direção * Partido => Parlamentares
Relação de influência
• Parlamentares => Partido

33
Embora sua elaboração tenha se baseado o estudo dos desenhos constitucionais do re­
em observações de diversos casos europeus gime democrático; e a outra para o estudo das
confinados às décadas da primeira metade relações entre os sistemas partidários e os sis­
do século XX, é possível afirmar que o autor temas eleitorais.
conseguiu chegar a um modelo de análise No primeiro caso, o autor defendeu a
formal e estrutural, em princípio aplicável consideração do sistema partidário como
ao estudo das organizações partidárias atuais, uma variável relevante na análise dos efeitos
obviamente, com as devidas adaptações e re­ dos desenhos constitucionais sobre a relação
formulações. Portanto, apesar de ter como entre os poderes Executivo e Legislativo, prin­
referências básicas os partidos de quadros e os cipalmente no que se refere à maior ou menor
partidos de massas:, e de até sugerir que estes governabilidade de cada nação democrática.
últimos fossem a “espécie” mais bem adapta­ Naquele período, os raros estudos sobre os
da à democracia representativa, devendo se sistemas de partidos abordavam o problema
impor como ripo predominante, seu modelo a partir da dicotomia “pluralismo partidário
de análise estrutural pode servir como prin­ versus monopartidarismo”, identificando-a
cípio heurístico para o estudo de organiza­ com outra dicotomia, relativa aos regimes
ções que venham a discrepar do perfil identi­ políticos: “democracia versus totalitarismo”.
ficado com os partidos de massas. Enquanto o pluralismo partidário era visto
còmo inerente à democracia, “sistemas” mo-
A “ecologia” dos sistemas partidários nopartidários eram considerados intrínsecos
aos regimes totaJitáriòs. No entanto, obser­
Na perspectiva de Duverger, os sistemas va o autor, embora haja uma coincidência
partidários seriam o produro de uma intera­ entre o totalitarismo e o monopartidarismo,
ção competitiva das unidades organizacionais nem sempre encontramos o mesmo ripo de
num ambiente social e político-institucional. pluralismo partidário em regimes democrá­
Isso significa que a interação dos partidos im­ ticos. Isso porque, se contarmos os partidos
plicaria um fenômeno qualitativamente di­ em competição em cada país, veremos que há
ferente das organizações partidárias tomadas uma variação importante a ser considerada.
isoladamente, redundando num certo ‘pa­ Dado que as democracias se caracterizam pela
drão interativo”. Com efeito, o conjunto de pluralidade de partidos, o que as distinguiria
partidos de cada país constitui um sistema, ou seria sua quantidade variável, ou seja, se seus
seja, um todo composto de partes diferencia­ sistemas são bipartidários ou multípartidários
das que, movimentando-se em cqnjunto, dão - estes ditimos com variação “de três ao infi­
vida e perfil a esse compósito. Desse modo, nito”, como observa o autor.
“as formas e as modalidades dessa coexistên­ Descuidados dessa variação, os analistas
cia definem o sistema de partidos’ (Duverger, da épóca tratavam os sistemas partidários dos
1951, p- 233). Posto isso, haveria duas gran­ países democráticos como constantes, procu­
des questões a serem enfrentadas na análise rando explicar as diferenças ho funcionamen­
“ecológica” desse fenômeno: (1) por que há to das diversas democracias apenas em função
variação no número de partidos de cada país da forma de governo - presidencialismo ou
e (2) que efeito o formato quantitativo do sis­ parlamentarismo —e da estrutura do Poder
tema partidário exerce sobre a dinâmica dos Legislativo —unicameralismo ou bicameralis-
governos? A resposta de Duverger traz duas mo. Contudo, para Duverger, a variação no
importantes contribuições teóricas: uma para número de partidos de um sistema exerceria

34
um efeito determinante para a estabilidade o sistema eleitoral, que acaba por se consti­
ou instabilidade dos governos. Vistos sob esse tuir na objeto central de sua reflexão, acerca
prisma, os regimes parlamentaristas bipartida- dos sistemas partidários. Isso porque, segun­
rios revélar-se-iam muito semelhantes em seu do ele, a influência mais direta da fórmula
funcionamento aos regimes presidencialistas, eleitoral “poderia ser comparada àquela de
igualmente bipartidários; do mesmo modo, um freio ,ou de um acelerador: determinado
os governos presidencialistas multipartidários regime eleitoral facilita a multiplicação dos
assemelhar-se-iam aos governos parlamenta­ partidos, engendrada pela ação de outros fa­
ristas multipartidários. Ocorre que os sistemas tores; outro impõe obstáculos a essè processo
bipartidários dispensariam as coalizões para a etc.” (Duverger, 1951, p. 235)30.
formação do governo e para a obtenção de go­ Mas, antes mesmo de cogitar qualquer
vernabilidade, e, por outro lado, os sistemas relação entre o númerq de partidos e as regras
multipartidários, por definição fragmenta- eleitorais, o autor faz questão de salientar a
dores do poder representativo, demandariam influência de fatores sociais e ideológicos na
coalizões majoritárias para promóvê-la. Em conformação dos partidos e, por extensão,
decorrência disso, segundo o autor, os gover­ do sistema partidário. De inícto, afirma que
nos multipartidários seriam mais instáveis do o curso natural da manifestação das opiniões
que os bipartidários, independentemente de sociais é dualista, ou seja, as crenças, os dese­
eles serem parlamentaristas ou presidencialis­ jos e as ideologias sociais seriam sempre duais.
tas, unicamerais ou bicamerais. Portanto, de acordo cõm Duverger (p. 245):
Portanto, uma das características mais.
importantes dos desenhos constitucionais Toda política implica um a escolha entre dois
seria o formato quantitativo do sistema par­ ripos de soluções: as soluções ditas intermediá­
tidário e isto exigiria a explicação do que rias vinculara-se a um ou a outro. Isso quer di­
levaria um sistema a ser bipartidário ou mul- zer que não existe eentro na política; é possí­
tipartidário. Seria uma questão de escolha? vel exisdr um partido de centro, mas não uma
Seria uma determinação das estruturas so- tendência do centro, um a doutrina do centro.
cioèeonômicas? Seria resultante de caracte­ Chamamos de “centro” o lugar geométrico no
rísticas históricas e culturais? Seria o produto qual se encontram os moderados, de esquerda
de influências multifatoriaís? Para Duverger, e:os moderados de direira. Todo centro é divi­
o caráter do sistema partidário e seu núme­ dido contra ele mesmo, é sempre dividido em
ro de partidos seriam o resultado de fatores duas metadés, 6 céntro-ésquerda e o centro^
gerais e específicos de: cada país, fatores es­ direita. Porque o centro não é nada além do
tes bastante complexos e inter-relacio nados. agrupamento artificial da parte de direita da
Quanto aos fatores específicos, figurariam a esquerda.e da parte de esquerda da direita. O
tradição, a história, as crenças religiosas, as destino do centro é ser esquartejado, sacudi­
rivalidades nacionais, a composição étnica, e do, aniquilado: esquartejado quando um a de
assim por diante. No que se refere aos fatores suas metades vota à esquerda e outra metade
gerais, ou seja, aqueles que transcenderiam o à direita; aniquilado, quando se abstém. O
tempo e o espaço, o autor destaca trés: (1) fa­ sonho do centro é o de realizar a síntese de
tores socioeconômicos (estrutura de classes), aspirações contraditórias [...jj l .
(2) fatores ideológicos (crenças, interesses,
doutrinas etc.) e (3) fatores técnicos. Neste Historicamente, esse dualismo político
último caso, o “fator técnico essencial” seria das sociedades se “traduziu” em dualismo par-

35
ridário, cujo conteúdo teria variado em cor­ Mas, então, se o bipartidarismó seriá a,
respondência com certos acontecimentos re- expressão natural do dualismo social e o mui-
definidores das disputas sociais. Na primeira tipartidarismo um desvio desse curso, devido
metade dó século XIX, ainda sob os auspícios à sobreposição de dualismos ou à fragmenta­
do sufrágio censitário, altamente restritivo, ção das posições duais, o que garantiria que
emergiu o bipartidarismó do tipo burguês, o dualismo ou sua fragmentação, de fato,
opondo os conservadores aos liberais. Ain­ pudessem ser “traduzidos” num determinado
da no século XIX, já agora era sua segunda formato quantitativo do sistema partidário,
metade, e avançando sobre os primeiros anos ou seja, em bipartidarismó ou em multipar-
do século XX, as pressões sociais advindas das üdarismo? Nesse ponto, as fórmulas eleitorais
transformações estruturais desencadeadas pela entram na equação. Segundo Duverger, na
Revolução Industrial europeia conduziram ausência de qualquer regra eleitoral que res­
à ampliação do sufrágio, dando lugar a uma trinja a liberdade da “livre empresa” partidá­
nova dualidade partidária: socialistas versus ria, poderia emergir um sistema multipartidá-
liberais e/ou conservadores, conforme o país rio. Em outros termos, enquanto a fórmula
em questão. A época da redação de seu texto, eleitoral majoritária induziria mecânica e psi­
Duverger identificou um terceiro tipo de dua­ cologicamente à organização de um sistema
lismo partidário, pelo qual se opunham parti­ bipartidário, a fórmula eleitoral proporcional
dos comunistas, de um lado, aos partidos não poderia ensejar a emergência de um sistema
comunistas, de outro; ou seja, partidos antis- com um número de partidos maior ou igual a
sistema e partidos pró-sistema democrático. três. Obviamente, a representação proporcio­
Porém, se o bipartidarismó é a expressão nal não “causaria” o multipanidarismo, pois
de uma dualidade “natural” das sociedades, isso dependeria também das “correntes de
como explicar a existência de sistemas mul- opinião” estruturadas na sociedade em ques­
tipartidários? Para o autor, a expressão do tão, mas certamente tal fórmula facilitaria o
dualismo social no sistema partidário não é surgimento de vários partidos e sua durabi­
automática, sendo esse “desvio' explicado por lidade, na medida em que lhe confere algum
dois fatores: (1) histórico-sociológicos e (2) poder parlamentar na ordem mais ou menos
técnicos. Os primeiros consistiriam em duas proporcional ao seu desempenho eleitoral.
possibilidades. A primeira delas seria o “fra- Concentrando-se na relação entre a
cionamento interno das opiniões”, que, por quantidade de parddos e as regras eleitorais,
variadas razões, poderia se: subdividir em di­ Duverger formula então “as leis” que viriam a
versas posições; a segunda, a 'superposição de ser conhecidas pelo seu nome. Em realidade,
dualismos”, ou seja, a coexistência de diver­ ã primeira é considerada uma “quase-lei” so­
sas dualidades em relação a diversos tópicos ciológica, porque deveria ainda ser submetida
sociais, econômicos e políticos importantes. a sucessivos testes, enquanto as outras duas se­
No primeiro caso, poderíamos encontrar riam tendências prováveis. Tais proposições e
utn partido com facções que se radicalizam, seus enunciados encontram-se no Quadro 3.
provocando uma cisão que conduziria à cria­ A fórmula majoritária provocaria a sub-
ção de um novo partido. No segundo caso, represehtação dos partidos menos votados,
poderiam emergir simultaneamente duas uma vez que a vitória pertenceria ao candidato
dualidades sobrepostas, como, por exemplo, ou partido mais votado num dado distrito elei­
catolicismo versus protestantismo e socialismo toral. Esse efeito “mecânico” da representação
versus social-democracia, e assim por diante. majoritária, num segundo momento, induzi­

36
Quadro 3
Proposições Enunciados das “Leis de Duverger” (1951)
Proposições Enunciados
1a Proposição Eleições com fórmula majoritária de um único rurno conduzem a um
sistema bipartidário, com alternância entre grandes partidos independentes.
2a Proposição Eleições com fórmula majoritária de dois turnos tendem a um sistema
multipartidário., com parados flexíveis, dependentes e estáveis.
3a Proposição Eleições com fórmula proporcional tendem a um sistema multipartidário,
com partidos rígidos, independentes e estáveis.

ria os eleitores dos partidos menos votados a ou “forçaria” que os desvios a tal dualismo
um comportamento estratégico de coordena­ retornassem a uma posição dual, pelo menos
ção de seus votos, atribuindo-os aos partidos no âmbito do. sistema partidário. O propor-
com chances reais de vitória. Esse seria o “efeito cionalismo, por sua vez, daria oportunidade
psicológico”, induzido pelo “efeito mecânico”, para a expressão de qualquer fragmentação
ambos provocados pelo escrutínio majoritário das posições duais ou sobreposição de dua-
de um único mino. No caso da fórmula majo­ lismos no interior do sistema partidário. Os
ritária de dois turnos, tais efeitos seriam muito efeitos mecânico e psicológico, nesse caso,
reduzidos, na medida em que o primeiro rumo seriam, respectivamente, a ausência da sub-
funcionaria como um “teste” das possibilidades representação e a despolarização.
eleitorais de todos os partidos e também como Seria o caso de s.e concluir, então, que
o momento de “capitalização eleitoral” daque­ teríamos um sistema multipartidário onde
les que não conseguiram passar para o segundo encontrássemos um sistema eleitoral pro­
turno e que, certamente, serão incentivados porcional ou majoritário de dois. turnos, e,
pelos dois concorrentes finais à formação de alternativamente, teríamos um sistema bipar-
alianças de apoio a cada um deles: na segunda tidário onde houvesse um sistema eleitoral
rodada eleitoral. majoritário de turno único. Ademais, con­
Assim, enquanto a fórmula majoritária forme mostrado no Quadro 4, haveria pelo
exerceria efeito restritivo na representação menos dois tipos de bipartidarismo e de mul-
partidária e, extensivamente, no compor­ ripartidarismo, conforme a posição dos parti­
tamento eleitoral, a fórmula proporciona], dos em relação ao regime democrático - algo
contrariamente, não exerceria efeito algum mais relacionado com os sistemas biparridá-
nesse sentido. O majoritarismo ou daria re­ rios - e a proliferação partidária - algo mais
presentação ao dualismo social preexistente relacionado com os sistemas proporcionais.

Quadro 4
Tipos de Sistemas Partidários, segundo Duverger (1951)
Sistemas Partidários Tipos Caracterização
Bipartidários Teórico Partidos pró-sistema democrático
Metafísico Partidos antissistema democrático
Multipartidários Ordenado e limitado Resultante da cisão dos antigos partidos
Desordenado e anárquico Resultante do surgimento de novos partidos

37
Quadro 5
Caracterização dos Regimes e Governos conforme o Sistema Eleitoral e o
Sistema Partidário (Duverger, .1951)
Sistema Eleitoral Formato Quantitativo Formato Qualitativo Regime Coalizões Governo
Fechado Monopartidirio Direirismo/ Totalitário/ Não Estável
Imobilismo Autoritário
Majoritário de Bipartidário Esquerdismo ou Democrático Não Estável
1 turno direirismo
Majoritário de Muitipartidário Esquerdismo ou Democrático Sim Instável
2 turnos centrismo ou
direitismo
Proporcional Multipartidáriõ Esquerdismo ou Democrático Sim Instável
centrismo ou
direitismo

No Quádro 5 são apresentados alguns seu estudo: (1) a relação entre o número de
dos elementos básicos da teorização do au­ partidos e o sistema eleitoral e (2) a aná­
tor acerca dos sistemas partidários de modo lise organizacional dos partidos políticos.
geral, com destaque para a relação entre as A primeira delas acabou por se constituir
características dos sistemas eleitorais e dos numa das questões mais debatidas e pes­
formatos quantitativo e qualitativo e destes quisadas empiricamente nos últimos trin­
com ôs regimes e governos. Em sua concep­ ta anos pela área de Política Comparada.
ção, regimes com sistemas majoritários se­ Conforme observa o próprio Duverger
riam mais estáveis do que os proporcionais (1986, p. 69), num ártigò de retrospectiva
porque dispensariam as coalizões e mante­ de suas formulações, depois de um período
riam as disputas polarizadas, sem o centra­ de “dormência” até meados dos anos 1970,
lismo artificial dos sistemas multipartidários. “nossa Bela Adormecida realmente des­
Entretanto, o autor esqueceu-se de observar pertou”. De fatq, desde então surgiu uma
que, em alguns casos, notadamente em go­ profusão de pesquisas e textos focados na
vernos presidencialistas, o bipartidarismo formalização e no teste empírico das leis
pode levar a uma relação bastante tensa en­ de Duverger” (cf. Benoit, 2006), muito
tre ó Executivo e o Legislativo, se ocorrer o provavelmente em virtude do trabalho re­
fenômeno do “governo dividido” - quando ferencial de Douglas Rae (1967) que, ao
o partido do presidente é minoritária no final dà década de 1960, recolocou a temá­
parlamento. tica em evidência.
Porém, várias críticas foram feitas às pro­
Análise conclusiva posições de Duverger, e, talvez, as mais re­
presentativas sejam.as de Riker (1976, 1982,
Para encerrar, vejamos algumas das li­ 1986) e Sartori (1968, 1976, 1986). Riker
mitações e potencialidades da “teoria geral” endereça-lhe duas críticas. Primeiramente,
dos partidos de Duverger a partir da con­ observa que, a despeito das “leis” que rege­
sideração das duas temáticas principais de riam a relação entre o número de partidos e

38
as regras eleitorais levarem o nome do autor, Acontece que a ideia de uma “lei socio­
de modo algum este teria sido o primeiro lógica” implicaria uma relação de causalida­
a tratar da questão. Ele, obviamente, teria de entre as variáveis, ou seja, a satisfação das
o mérito de haver proclamado de maneira condições de necessidade, e suficiência. No
mais direta tal relação e de tê-la apresenta­ entanto, nos enunciados das proposições,
do como se se tratasse de “leis sociológicas”; o autor francês sempre recorreu aos termos
porém, ai formulações contidas em sul obra “tende” ou “favorece”, o que sugere uma re­
já eram densamente discutidas pelo menos lação apenas probabilística. Em realidade,
desde que surgiram propostas alternativas à Riker chega a suspeitar de que "a formula­
representação majoritária por pluralidade, ção foi deliberadamente ambígua porque o
a partir da segunda metade do século XIX. próprio autor não estava plenamente certo
Realmente, autores cómo Marshall (1853), daquilo que ele pretendia dizer”.
Droop (1871, 1881), Bailey (1872), Loweli Sartori (1968, 1976, 1986) investe na
(1896), MacDonaid (1909), Holcombe mesma linha de argumentação crítica. Se­
(1910), Friedrich (1937), Schattschneider gundo ele, Duverger teria feito confusão en­
(1942) e Key (1949) discutiram, com graus tre as ideias de causa e de associação, ou seja,
e interesses variados, os efeitos da lei elei­ a coincidência entre o número de partidos e
toral sobre a representação e, por extensão, certas regras eleitorais não significaria que tal
o número de partidos. Inclusive, tivemos relação de associação estatística seria, necessa­
debates antológicos opondo os defensores riamente, uma relação causal. Inclusive, para
da representação proporcional, como Hare nos certificarmos de uma relação de causali­
(1859), Dodgson (1884)32 e, seguindo o pri­ dade entre dadas variáveis, seria preciso que
meiro, MilI (2006 [1861])33, aos defensores estivessem bem especificados tanro as causas
da representação majoritária, como Bagehor como seus efeitos, o que não seria o caso das
(1867), Finer (1924) e Hermens (1941) - proposições duvergerianas. Principalmente
este último chegou a culpar a representação os efeitos —bipartidarismo e multipartidaris­
proporcional pela proliferação de pequenos mo —são muito vagos, pois coma determinar
partidos, redução da responsabilização, en­ o que seria um sistema bipartidário se não
fraquecimento do Executivo, instabilidade há qualquer regra rigorosa de contagem34. A
dos governos è, finalmente, pela ascensão ausência de uma definição precisa e passível
do nazismo. de verificação das variáveis bipartídarismo e
Em segundo lugar, Riker (1986, p. 20) multipartidarismo impediria a devida deter­
faz um questionamento metodológico e, até minação dos efeitos do sistema eleitoral. Afi­
certo ponto, epistemelógico: em que medida nal, a partir de qual porcentagem de votação
as “leis de Duverger” realmente seriam ‘"leis”? poderíamos considerar que o sistema seria
Isso porque, para ele, bipartidário e não monopartidário ou, até
mesmo, conforme o caso, multipartidário?
[...] não é nada fácil resolver a ambiguidade E a variação quantitativa dos sistemas mul-
presente na afirmação [de Duverger] sobre a ripamdáriqs, como tratá-la? Duverger, ao
relação entré sistemas eleitorais e número de longo da obra, utiliza critérios tão variados
partidos. O voto majoritário [de um único e, às vezes, contraditórios, que nunca chega
turno] é um a condição necessária para um a justificá-los plenamente. “Em suma: dado
sistema bipartidário ou um a condição, sufi­ que o efeito do fator causal nunca pode ser
ciente, ou ambos, ou nenhum a delas? plenamente demonstrado, Duverger pode

39
sempre reivindicar que a evidência apresenta­ das proposições de Duverger, possibilitando
da é confirmatória” (Sarrori, 1986, p. 44). o tratamento mais apurado da relação entre
Não obstante, apesar de ser uma das pro­ magnitude do distrito eleitoral e proporcio­
posições mais contestadas, “entre os estudio­ nalidade da representação no que se refere ao
sos dos sistemas eleitorais, não há algo mais número de partidos de dado sistema.
conhecido, mais investigado ou amplamente Desse modo, após vários testes e refor­
citado do que as relações entre as regras elei­ mulações, ainda falamos nas “leis de Duver­
torais majoritárias e os sistemas bipartidá- ger”, qué mantiveram o nome dò autor e o
rios, conhecidas como as leis de Duverger” polêmico status de lei especialmente porque
(Benoit, 2006, p. 69). Estas talvez sejam o cânone dessa linha de pesquisa repousa
também algumas das hipóteses mais testadas muito, mais sobre a afirmação teórica geral de
da Ciência Política e, na maioria das vezes, que o sistema eleitoral tem peso importan­
confirmadas (a exemplo de Rae, 1967; Katz, te na conformação do sistema partidário dó
1980; Bogdanor e Butler, 1983; Lijphart e que em qualquer outra coisa (Grofman, Blais
Grofman, 1984; Lijphart, 1986, 1994; Gro- e Bowler, 2009b). Tais “leis” são importantes
fman e Liíphart, 1986; Palfrey, 1990; Blais sobretudo porque ainda mantêm o interesse
e Carty, 1991; Taagepera e Shugart, 1990, renovado dos pesquisadores em relação à in­
1993; Cox, 1997; Norris, 2004; Grofman, fluência do.sistema eleitoral sobre o sistema
Blais e Bowler, 2009a)35. Com efeito, “des­ partidário e, por extensão, no próprio, dese­
de sua publicação [...] centenas de artigos e nho constitucional mais amplo. Essa é uma
livros foram escritos com a finalidade de ela­ agenda de pesquisas bastante profícua, que
borar as operacionalizações das proposições vem acumulando considerável conhecimen­
de Duverger” (Benoit, ibideni). to empírico sobre o fenômeno e destacada
Consequentemente, encontramos des­ sofisticação teórica e metodológica. Portan­
dobramentos mais recentes desse debate em to, o trabalho de Duverger sobre os sistemas
outras obras seminais. Rae (1967), por exem­ partidários, apontando a importância do
plo, investiu na reflexão sobre a relação enne- número de partidos para o desempenho dos.
a proporcionalidade da representação e o ta­ governqs e para a produção da representação,
manho ou magnitude dos distritos eleitorais. assim como a importância das regras eleito­
Sartori (1968, 1976) trouxe inovações com rais para a formatação dos sistemas partidá­
seu estudo acerca da relação entre magnitude rios continua extremamente atual.
do distrito e voto estratégico, contribuindo No caso da segunda temática central de
ainda ao apontar que os eleitos do escrutínio sua obra, qual seja, a análise organizacional
majoritário de turno único ocorreriam apenas dos partidos, é preciso destacar alguns aspec­
no nível distrital. Depois, Taagepera e Shugart tos. O primeiro déies é que há três eixos em
(1990) deram destacada contribuição à análi­ sua teorização: (1) a proposta de se conside­
se da relação entre a magnitude dos distritos rar a origem e as características èstruturais
e a quantidade de partidos. Lijphart (1986, dos partidos sob a ótica evolucionista, (2) a
1994) introduziu o debate sobre a necessida­ construção de um modelo formal para a aná­
de de que a proporcionalidade fosse avaliada lise estrutural das organizações partidárias e
de acordo com seus graus de manifestação (3) a tipologia classificatórià opondo os p a r­
no âmbito dos próprios sistemas proporcio­ tidos de quadros aos partidos de massas. O se­
nais. Finalmente, Cox (1997) trouxe uma gundo aspecto é que os dois primeiros eixos
das maiores contribuições à formalização foram relativamente desconsiderados pelos

40
especialistas, que deram destaque quase ex­ (1956), opondo os partidos de representação
clusivo ao último, de forma que apenas a ti­ individual aos partidos de integração dem o­
pologia dos partidos acabou sendo elevada à. crática, bèm como as mais recentes, de Pa-
categoria dé maior contribuição do autor ao nebianco (1982), Poguntke (1987, 1993),
tema. O terceiro aspecto a. destacar é que o Koole (1994, 1996) e Hopkin e Paolucci
desenvolvimento histórico das organizações (1999). Estes últimos propuseram o tipo bu-
partidárias desde as anos 1960 redundou siness firm party, enquanto Poguntke propôs
na transformação de várias características o tipo neu>politicsparty. Koolé (1994, 1996),
distintivas dos partidos segundo a tipologia por sua vez, procurou atualizar a tipologia
duvergeriana, provocando uma sucessão de duvergeriana, elaborando o modelo descriti­
novas tipologias apresentadas por outros vo do que chamou de modernos partidos de
pesquisadores e a alegação de que a teoria quadros, cuja estrutura organizacional seria
partidária daquele autor estava condenada parecida com a dos partidos de inassas —uni­
à obsolescência. Mas, será que, de fato^ sua dades de relações verticais e horizontais, còm
teoria partidária é obsoleta? Duverger não certo grau de hierarquia ascendente e descen­
teria nada a nos dizer se quiséssemos estudar dente mas com características semelhantes
empiricamente os partidos de hoje? aos (antigos) partidos d e quadros —poucos
Para responder a tais perguntas, é ne­ membros, pequena burocracia e voltados à
cessária uma breve consideração do percur­ conquista de votos, porém, com menos vora­
so teórico que foi traçado pelos estudiosos cidade dó que aquela dos partidos pega-tudo.
depois da obra daquele autor. De modo Panebianco (1982) também faz certa atua­
geral, segundo Katz e Mair (2002), desde lização em sua tipologia, opondo o partido
Les partis politiques, a área de estudos par­ burocrático d e massas ao partido profissional
tidários constitui-se sobre quatro principais eleitoral. O primeiro seria uma junção dos
tipologias organizacionais: o partido de qua­ partidos de massas de Duverger com os parti­
dros - correspondente aos períodos iniciais dos de integração dem ocrática de Neumann; o
da democracia representativa —, o partido segundo, uma extensão do partido pega-tudo
d e massas - surgido no ambiente competi­ de Kirchheirner (1966) aos elementos orga­
tivo da ampliação do. sufrágio eleitoral —, o nizacionais, não tratados por aqueie.
partido cateh-all —período de elevada com­ Seja como for, a própria evolução das
petição, depois dos anos 1960 - e o partido tipologias partidárias mostra duas coisas. De
cartel —característico dos últimos vinte ou uma parte, a classificação de Duverger conti­
trinta anos e altamente dependente dos re­ nuou sendo o parâmetro modelar tanto para
cursos estatais. Os dois primeiros compõem as novas classificações como para a própria
a tipologia de Duverger (1951), o terceiro compreensão mais geral do fenômeno par­
foi apresentado por Kirchheirner (1966) e, tidário;. de outra, sua tipologia foi apresen­
o último, pelos próprios Katz e Mair (1995, tando problemas de adequação empírica, por
1996)3fí, que conferiram uma validade histo­ isso classificações posteriores foram elabora­
ricamente contextualizada aos quatro mode­ das. Tal é a observação de Wolinetz (2002,
los, cada qual sendo verdadeiro e válido em pp. 140-1), ao salientar que “a distinção
seu período, o que significa que esses autores proposta por Duverger permanece apartada
os concebem num contínuo evolutivo. de suas origens teóricas. Usamos o termo
Obviamente, poderíamos acrescentar ‘partido de quadros’ para descrever tanto os:
à lista a referencial tipologia de Neumann partidos pouco organizados como aqueles

41
sem um grande número de afiliados”. Entre­ Contudo,, é importante observar que
tanto, pondera o autor, “se isso oferece uma não apenas a teoria de Duverger, mas todas as
mensuração suficientemente refinada para teorias sobre as organizações partidárias não
distinguir os partidos contemporâneos é uma estão isentas de problemas, muito pelo con­
questão que permanece em aberto trário. Conforme observa Wolinetz (2002),
Katz e Mair (1992) não têm dúvidas de as tipologias, usualmente dicotômicas, são
que a tipologia do autor foi perdendo sua sempre muito redueionistas diante da imen­
validade, pois o desenvolvimento histórico sa variedade de organizações partidárias do
dos partidos europeus analisados peio pró­ mundo real, de modo que sua classificação
prio Duverger discrepou de sua classificação. sempre demandou certo simplismo e teve
Aqueles considerados partidos de quadros vi­ de admitir diversas exceções. Além disso, o
ram crescer suas estruturas organizacionais, próprio caráter estático das tipologias, que
enquanto os partidos de massas assistiram à estabelecem características, por princípio,
perda crescente de seus filiados. Diante desse imutáveis para cada tipo lógico ou histórico,
quadra, Wolinetz (p. 14 L) assevera que deixa escapar o fato de que as instituições so­
ciais mudam, e o.s partidos políticos não são
[...] se muitos dos “partidos de quadros’".mais diferentes, eles se transformam, mais cedo
antigos possuem estruturas organizacionais ou mais tarde, alguns mais, outros menos. E
bem definidas, e se os “partidos de massas™ ainda deve ser observado que todas as princi­
encontram dificuldades em registrar boa pais classificações foram construídas com as
parte de seus apoiadores como membros, lentes dos pesquisadores voltadas apenas para
tal comò acontecia anteriormente, então,;a a Europa. Portanto, as tipologias partidárias
distinção entre “partidos de quadros" e 'par­ são essencialmente “eurocêntricas” e baseadas
tidos de massas” se toma embaçada. em países parlamentaristas. As novas demo­
cracias, especialmente as presidencialistas,
A partir dessas constatações, o deba­ ainda estão à espera de teorizações originais
te sobre as contribuições e as limitações da que possam dizer mais sobre seus partidos do
“teoria geral” dos partidos de Duverger, saí­ que a pouco esclarecedora conclusão de que
da do prelo há quase sessenta anos, conclui eles seriam “subdesenvolvidos”.
que sua teoria sobre os sistemas partidários, Acrescentemos aiiida que no próprio
especialmente no que se refere à relação en­ contexto europeu, as teorias e os estudos or­
tre o número de partidos e o sistema eleito­ ganizacionais sobre os partidos não apenas
ral, continua válida porque além de motivar estão em xeque, diante das constantes alega­
uma agenda de pesquisas comparativas e o ções de “crise partidária”, como, na verdade,
desenvolvimento metodológico, suas pro­ nunca foram totalmente consolidados, Isso
posições, conhecidas pelo epíteto de “leis de em virtude de quatro motivos. Em primeiro
Duverger”, ainda são empiricamente válidas lugar, vários analistas resolveram aplicar seus
ou pelo menos demandam novos testes. Por próprios modelos de análise organizacional,
outro lado, sua teoria sobre as organizações o que sempre dificultou a formatação de um
partidárias seria historicamente limitada, sem paradigma hegemônico. Em segundo lugar,
validade empírica, principalmente por causa desde os anos 1960, a maioria dos estudos
da sua tipologia dos partidos. Devido a isso, partidários acabou se concentrando na aná­
tal teoria não poderia ser utilizada nos estu­ lise da competição eleitoral interpartidária,
dos partidários atuais. com o objetivo de discutir os processos de

42
estabilida.de/insta.bilidade sistêmica ou de porém, sua tipologia é apenas um dos três
Ediiihamento/realinbamento das clivagens eixos da teorização düvergeriana e, de modo
partidárias, e isso desviou o Foco das estrutu­ algum, o mais importante, ao contrário do
ras organizacionais. O terceiro motivo é que, que se costuma pensar. Na verdade, os. ele­
a partir dos anos 1970, emergiu o debate mentos mais importantes e ainda válidos e,
sobre uma suposta “crise da representação” portanto, aplicáveis são os dois primeiros dos
em favor de novas formas de intermediação três eixos destacados anteriormente, quais
política, como os movimentos sociais e as sejam: sua proposta de uma abordagem evo-
organizações civis, ou de iormas de demo­ lucionista das organizações partidárias e o
cracia direta, com algumas experiências de­ modelo formal que pode servir de heurística
liberativas e participativas. Finalmente, des­ para a análise estrutural dessas organizações.
de os anos 1990, consolidou-se na Ciência Quando propõe que ós partidos pode­
Política o paradigma neoinstituçionalista da riam ser tratados como entidades orgânicas,
escolha racional, cuja unidade de análise é cujos surgimento e evolução poderiam ser
voltada aos indivíduos e não às organizações, explicados pelas necessidades ambientais e
segundo a qual um partido não é nada mais por suas mudanças^ Duverger dava a enten­
do que uma ação coletiva coordenada e não der que cada “espécie” partidária correspon­
uma estrutura organizacional. deria à melhor estrutura adaptada às carac­
Diante de tudo isso, simplesmente acei­ terísticas de seu habitat. Se cada contexto
tar a suposição de que a teoria partidária histórico e institucional enseja o surgimento
de Duverger seria inadequada ou obsoleta e a organização de determinadas “espécies”
significaria perder de vista o quadro mais partidárias, temos como consequência o fato
geral. Afinai, qual teoria sobre os partidos de que estas mudarão em concomitância
não poderia ser considerada da mesma for­ com as mudanças históricas e institucionais.
ma, inclusive as mais recentes? Não obstan­ Ou seja, se sua tipologia não é mais válida
te, essa deficiência generalizada não resolve justamente porque os partidos mudaram,
a questão, porque isso não quer dizer que à sua perspectiva evòlucionista não apenas
teoria düvergeriana ainda seja aplicável so­ previra tal desfecho como ainda oferece uma
mente porque todas as outras utilizadas no resposta bastante clara: é preciso continuar a
presente, de um modo ou de outro, padecem análise das organizações, de modo a apreen­
dos mesmos problemas. É preciso encontrar der tais mudanças e as novas configurações
elementos imanentes à própria teoria que que surgiram em resposta às transformações
justifiquem sua aplicação nos estudos atuais. ambientais.
Pois bem, esses elementos existem e po­ Nesse caso, o autor oferece uma segunda
dem ser identificados no próprio desdobra­ contribuição ainda válida, que é seu modelo
mento das teorizações subsequentes. Ocorre formal de análise organizacional. Embora
que o maior equívoco cometido pela litera­ possa ser adaptado ou até modificado, seu
tura especializada foi ter rejeitado toda a.ela­ conjunto de critérios para a “dissecação” das
boração teórica de Duverger ao perceber que estruturas da organização partidária é uma
sua tipologia partidária não mais seria válida. heurística bastante produtiva para quem
De fato, a classificação dicotômica partidos quiser se aventurar nesse tipo de análise.
de massas!partido de quadros perdeu sua con­ Quando olhamos para dentro de um parti­
sistência empírica com o passar dos anos, se do, o que devemos buscar? O que devemos
é que teve rea! validade em algum momento; observar e o que mensurar? Quais seriam os

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dados mais relevantes? Ainda é importante posição de novas tipologias para substituir a
saber o grau de complexidade de uma orga­ tipologia obsoleta de Duverger, com base na
nização, os grupos sociais que a formaram, o constatação de que houve várias transforma­
desenho dos processos de tomada de decisão, ções no mundo político e, por consequência,
o grau de centralismo, de hierarquização e no mundo partidário, ao invés de refutar a
assim por diante. Analisar tais coisas inde­ “teoria geral” do autor, em realidade, atesta
pende de estarmos ou não na presença de sua validade.
partidos de quadros ou partidos de massas, ou Portanto, sua obra ainda deve ser estu­
ainda de partidospega-tudo, partidosprofissio- dada porque, além de fazer parte da evolução
nais-eleitorais e partiM s-çartéis. história dos estudos partidários, sendo uma
Assim sendo, para apreendermos os das obras fundadoras da Sociologia Política
partidos da forma como se apresentam hoje voltada ao tema, é também um exemplar
e até para elaborar novas tipologias, ainda Uustradvo do que poderia ser uma elabora­
devemos partir dos pontos indicados por ção teórica e metodológica. O autor ilustra
Duverger: a origem de cada parddo em os procedimentos de construção de uma teo­
decorrência da evolução de seu ambiente ria, de elaboração metodológica de concei­
e como cada um deles se estrutura organi- tos, ilustra os processos de construção de ti­
zacionalmente. Em essência, Katz e Mair pologias e de estabelecimento de correlações
(1995, 1996, 2002) utilizam tal concepção lógicas. entre variáveis etc. Seu livro poderia
não somente ao defender que cada tipo teó­ ser usado tanto para a introdução, aos estu­
rico principal teria descrito a própria evolu­ dos organizacionais dos partidos como para
ção das organizações partidárias ao longo do a aprendizagem metodológica de como fazer
tempo, como também ao propor que o mo­ pesquisas empíricas sobre esse objeto. Mas,
delo tipológico de Duverger seria.aquele que acima de tudo, sua obra ainda deve ser estu­
melhor enquadraria o fenômeno partidário dada porque sua abordagem ao fenômeno e
do mundo contemporâneo. Ou seja, a pro­ stia heurística continuam válidas e atuais.

Notas

1 Segundo o próprio Duverger (1986), as ideias principais desse livro já haviam sido apre­
sentadas em alguns de seus trabalhos anteriores (1946a, 1946b, 1950).
2 Moisei Yakovlevich Ostrogorski [1854-1919] nasceu em Grodno, Rússia. Estudou Direito
na Universidade de São Petersburgo, dedicando-se intensamente à História, à Política e à
Jurisprudência. Nos anos 1880, viveu em Paris, onde estudou Política na Ecole Libre des
Sciences Politiques. Também viveu vários anos das décadas de 1880 e 1890 nos Estados
Unidos e na Inglaterra, chegando a publicar diversos artigos sobre os partidos daqueles
países em jornais franceses e norte-americanos.
3 Esse volumoso estudo sobre as organizações partidárias inglesas e norte-americanas é o
resultado de uma série de artigos que o autor publicou em revistas francesas e norte-
americanas ao longo dos anos 1890.
4 Robert Michels [1876-1936] nasceu em Colônia, Alemanha, e estudou na própria Alema­
nha, na Inglaterra e na França. Além de ter sido um acadêmico profissional, atuando como

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professor tanto em seu país como na Itália e até nós Estados Unidos, Michels também teve
uma ativa vida de militância política e sindical. Foi membro do Partido Social Democrata
alemão, tendo participado dos Congressos de 1903, 1904 e 1905. Em 1907, desligou-se
desse partido e tornou-se delegado do Partido Socialista italiano.
5 Essa obra foi traduzida para o inglês em 1962, com o título Political parties: a sociological
stiidy o ftb e oligarchical tendencies o f m odem democracy, pela Free Press, com ótima intro­
dução de Martin Seymour Lipset. No Brasil, sua primeira tradução foi como Os partidos
políticos, pela editora Senzala, sem data da edição, mas provavelmente final dos anos 1960;
e depois como Sociologia dos partidos políticos, pela editora da UnB, em 1986. Mais recen­
temente, em 2001, surgiu uma excelente edição, Para urna sociologia dos partidos políticos
na democracia moderna, publicada em Portugal pela editora Antígona. As duas melhores
sínteses dessa obra clássica são as de Lipset (1962) e May (1965).
6 Scarrow (2002) organizou uma coletânea de textos formidáveis sobre os partidos, sendo
parte deles ou desconhecidos do grande público ou muito pouco conhecidos até peios
especialistas no tema. Sua coletânea traz vários excertos de textos do século XVIII e avança
até o início do século XX.
7 Não obstante, é possível apontar pélas menòs três trabalhos anteriores já muito próximos
do que seria realizado por Ostrogorski; estes trabalhos são os de A. C. Bernheim (1888),
de Henryjones Ford (1898) e, o mais importante deles, o de James Bryce (1891). Nessa
obra de Bryce, já encontramos um tratamento sistemático e sofisticado da relação entre
a seleção de candidatos e a organização partidária, mostrando a importância da primeira
para o delineamento da segunda, além de uma descrição detalhada do sistema partidário
norte-americano, com suas máquinas partidárias, os bòsses partidários e o spòil system. O.
autor dedica 210 páginas exclusivamente aos partidos norte-americanos, na parte III do
segundo volume de seu The American commomueglth.
8 Para melhor definição da Sociologia Política a partir de sua diferenciação de outras formas
de abordagem, ver Sartori (1969).
9 Somente anos depois da publicação do estudo de Ostrogorski, já na década de 1920, viría­
mos a ter manifestações mais contundentes em defesa de uma nova abordagem - com-
portamentalista —dos fenômenos políticos, inclusive os partidos. Este foi principalmente
o caso de Charles Merriam, um dos “fundadores” da Ciência Política empírica norte-
americana e professor da Universidade de Chicago. Merriam (1925) reuniria num livro,
até hoje muito influente, um conjunto de artigos publicados na então recentemente criada
American Political Science Review, entre outros textos inéditos, seus argumentos e suas
sugestões quanto à nova abordagem. Para uma discussão detalhada do processo histórico, e
metodológico de ascensão do comportamentalismo na política, ver Peres (2008).
10 Proferida por Weber em janeiro de 1919, na Universidade de Munique, essa palestra foi
logo publicada, em junho do mesmo ano. Nesse texto, o autor sintetiza vários elementos
de seu. pensamento e de sua teoria sociológica relacionada à política, como a atualmente
clássica definição de Estado, a tipologia das formas de dominação legítima, a ética relativa
à atividade política etc. Nele, Weber amda trata do fenômeno partidário na nova sociedade

43
de massas, destacando os aspectos positivos do surgimento do político profissional, a di­
nâmica de racionalização da vida político-partidária e a consequente burocratização de sua
estrutura organizacional.
11 Este trabalho foi incluído numa coletânea de textos de Weber, intitulada Gesammelte Poii-
tische Schriften, organizada por Johannes Winckelmann, sendo a primeira edição publica­
da em 1921 e a secunda em 1958, No Brasil, foi publicado inicialmente no volume Ensaios
de Sociologia e outros escritos, da coleção Os Pensadores, em 1974, traduzidos diretamente
do alemão.
12 Weber, inclusive, antecipou aquela que seria a distinção dicotômica dos objetivos partidá­
rios adotada pela literatura temática atual: office-seeking e policy-seekitig - e isso sem men­
cionar o objetivo vote-seeking, destacado por Anthony Downs (1957), embora esse seja
um objetivo um tanto redundante em relação à definição canônica do que seja um partido
político, conforme sugerido pelo próprio Weber. Da mesma forma, ainda nesse texto, ele
também antecipa, em linhas gerais, a distinção entre partidos de notáveis - rígida e hie­
rarquicamente organizados —e os partidos de massas — em princípio, mais democráticos.
Tal distinção viria a ser explorada e aprofundada por Duverger (1951) no que se refere às
características organizacionais dos partidos de quadros e dos partidos de massas. No entanto,
também é possível identificar em Frederick Grimke (1848) um precursor mais remoto
daquela que viria a ser a concepção de partidos de massas, conforme pode ser constatado
na discussão encaminhada por este autor nos capítulos VI, VII e VIII do primeiro livro de
sua obra máxima.
13 A influência intelectual exercida pór Weber, bem como seus laços deamizade foram, inclu­
sive, reconhecidos publicamente por Michels, que resolveu dedicar-lhe a primeira edição
alemã de seu livro sobre os partidos.
14 Esses aspectos são explorados mais detidamente no capítulo 3, da segunda parte de Les
partis politiques. Tais trechos nem sempre são devidamente analisados, más neles reside
uma importante contribuição do. autor ao debate acerca da teoria democrática, bem corno
fica mais evidente sua vincuíação à teoria elitista.
15 Esse é, claramente, um enfoque de Sociologia Política, pelo qual o sistema partidário é
concebido como a “tradução” da estrutura de classes no sistema político —enfoque este que
seria teoricamente mais explicitado e justificado por Lipset (1959), alguns anos depois.
Entretanto, Duverger é um pouco mais complexo do que isso, pois, segundo Schlesinger
e Schlesinger (2006), nessa mesma obra, podemos encontrar uma duplicidade de pers­
pectivas, inclusive antagônicas. Quando trata dos partidos, Duverger sé baseia na vertente
sociológica estruturalista; mas, quando trata do sistema partidário e da influência da fór­
mula eleitoral sobre o número de partidos, o autor recorre à perspectiva da rational choice
theory.
16 A propósito, um dos maiores equívocos interpretativos usualmente cometidos é o de se su­
por que o autor francês julgava set o partido de massas uma organização mais democrática
em sua estrutura interna e totalmente harmonizada com o próprio regime democrático.
Na verdade, para ele, o partido de massas não passaria de um instrumento mais aberto ao

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recrutamento de elires populares, antes impedidas de adentrar o sistema político devido
ao recrutamento fechado, aristocrático e, portanto, hereditário do período dos partidos de

17 Essencialmente, a “solução duvergeriana” para a aparente incompatibilidade entre os par­


tidos de massas e a democracia consistiu, portanto, em amalgamar a teoria da formação
das oligarquias partidárias, de Michels, com a concepção de democracia contida na teoria
elitista de Mosca. Podemos perceber então que, enquanto Schumpeter (1942) foi aquele
que colmatou a teoria política elitista de Mosca com o raciocínio econômico, Duverger foi
aquele que fez o mesmo com relação à teoria dos partidos.
18 Duverger julgou ser tão relevante o estudo sistemático dos partidos que sugeriu fosse éste
umá ciência específica, cujo nome poderia ser “estasiologia”. O autor ainda retomaria a
teorização partidária de maneira mais sintética em outras obras (Duverger, 1955, 1966,
1972, 1978, 1986).
19 Instituição criada, em 1945, por Charles de Gaulle, para fazer a transição da École Libre
des Sciences Politiques (ELSP) para o Institut d’Estudes Polítiques de Paris (IEP). O ELSP
foi criado em 1872.por alguns intelectuais, políticos e empresários, Cómo Hippolyté Taine,
Albert Sorri, Françóis Guizot e Emíly Botttny, com o objetivo de introduzir reformas no
ensino e no treinamento dos políticos e diplomatas franceses, com a finalidade de recu­
perar o prestígio internacional do país, depois de sua derrota na guerra contra a Prússia,
em 1870, e da Comuna de Paris, em 1871. O currículo privilegiava o ensino científico
e objetivo das Ciências Sociais, Porém, em 1945, havia grande descontentamento com a
orientação literária, historiográfica e filosófica qúe acabou predominando no ensino mi­
nistrado no ELSP, de modo que este foi nacionalizado e dividido em duas instituições, a
Fundation Nationale des Sciences Politiques (FNSP), dedicada às tarefas burocráticas e
administrativas do conjunto, denominado Sciences Po, e o IEP, dedicado ao ensino e à
pesquisa.
20 Como pode ser evidenciado por alguns de seus mais notórios trabalhos sobre a metodo­
logia de pesquisa (Duverger, 1959), sobre a teoria política (Duverger, 1955- 1961, 1966),
especialmente seu estudo clássico sobre o semipresidencialismo (Duverger, 1978).
21 Além de Les partis politiques, Duverger voltaria a tratar dos partidos, de maneira mais
resumida, em pelo menos mais três obras (Duverger, 1955, 1966,, 1972).
22 Um paradigma analógico consiste na aplicação de um paradigma de uma área científica a
um problema de outra área científica. Portanto, ao se utilizar um paradigma analógico, as
proposições a serem analisadas e explicadas são deduzidas, por analogia, de um corpo de:
conhecimentos já produzidos em outra área científica. Obviamente, o conceito de paradig­
ma é aquele definido por Kuhn (1962) e sua adjetivação, ou seja, sua caracterização como
analógico, segue a classificação de Boudon. (1970).
23 Se considerarmos ainda que todas as instituições, indistintamente, compreendem a unida­
de taxonômica “ordem”, e que aquelas se subdividem em grupos denominados “famílias",
temos que as instituições sociais, econômicas, religiosas e políticas seriam as “famílias” que

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compõem a “ordem” das instituições em geral. No interior da família das instituições polí­
ticas, encontramos vários tipos de organização, sendo s. partidária uma delas. Desse modo,
teremos então a seguinte sequência taxonômica tacitamente seguida pelo autor: “ordem
(instituições em geral) “família” (instituições políticas) “gênero” (organizações parti­
dárias) >=> “espécies” (tipos de partidos) <=> “indivíduos” (subtipos de partidos).
24 Por isso, depois da “genealogia”, passa-se à morfologia e à fisiologia dos partidos. No pri­
meiro caso, estudam-se suas estruturas constitutivas e suas funções; no segundo, as subs­
tâncias que lhe conferem “energia” e “movimento” ou, mais propriamente, seu funciona­
mento. Tal heurística já fica evidente no índice do livro de Duverger (1951). Lá podemos
perceber que a exposição se divide em duas partes, cada uma delas :com três capítulos.
Na primeira, temos uma preocupação com a “^lòrfofisiologia’, dos partidos, cabendo ao
capítulo 1 o estudo morfológico (o arcabouço dos partidos), e aos dois seguintes, o estudo
sobre a fisiologia partidária (os adeptos e a participação). Na segunda, analisam-se as inte­
rações dos partidos uns com os outros e destes com o sistema eleitoral (capítulos 1 e 2) e
com os governos (capítulo 3), numa abordagem, portanto, ecológica do problema. Então,
a parte 1 compreende a “anatomia” partidária e, a parte 2, a ecologia partidária.
25 Com isso, sua perspectiva sistêmica está analogamente mais próxima da Biologia do que da
Cibernética, como viria a ser a tônica a partir dos anos 1960, conforme a proposta teórica
de Easton (1965).
26 Entretanto, é importante ressaltar que tal coincidência é histórica e não lógica, ou seja, em
princípio, seria possível haver partidos “internos” tanto de direita como de esquerda; do
mésmo modo, partidos “externos’' de esquerda ou de direita.
27 Duverger dá grande ênfase, nesse caso, aos “incentivos” técnicos do sistema eleitoral para
a estruturação de arcabouços com articulação forte entre suas instâncias. Segundo ele, em
sistemas com listas partidárias e grandes distritos eleitorais, haveria a necessidade de muita
coordenação entre diretórios, favorecendo uma articulação forte, seja no sentido horizon­
tal, seja no vertical. Se esse mesmo sistema eleitoral fosse proporcional, haveria um incre­
mento em tais incentivos. Por outro lado, sistemas majoritários com M = 1, o incentivo
seria inverso.
28 Estranhamente, Duverger acaba propondo uma dicotomia conceituai numa relação que,
logicamente, é um contínuo. Assim, a ideia de centralização/descentralização, geralmen­
te concebida como uma variação gradativa, é apresentada como dois conceitos separa­
dos, com a possibilidade, inclusive, de sobreposições. Por exemplo, seria possível encon­
trar um partido com tuna organização descentralizada ideologicamente que, ao mesmo
tempo, contemplasse o centralismo democrático. O próprio Partido dos Trabalhadores
no Brasil foi considerado durante muito tempo um tipo de organização estruturada
dessa forma.
29 Duverger utiliza aqui a dualidade de conceitos de sagrado e profano de Durkheim, e de
comunidade e sociedade deTõnnies. Quanto à última dualidade, também poderiam ser uti­
lizados os conceitos durkheimianos de solidariedade mecânica e de solidariedade orgânica.

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30 Não obstante, mantendo-se fiel aos ditames da Sociologia Política, Duverger (1951, p. 235)
acabaria atribuindo ao. sistema eleitoral uma importância secundária diante das variáveis so­
ciais. Segundo ele, “os modos de escrutínio não desempenham propriamente um papel mo­
tor: geralmente são as realidades nacionais, as ideologias e sobretudo as estruturas socioeco-
nômicas que exercem uma ação mais decisiva a esse respeito’.
3 1 Duverger apresenta rima ideia oposta à competição espacial dos partidos nas eleições, teo­
rizada por Anthony Downs (1957). Segundo ele, a entrada de um terceiro competidor
num sistema bipartidário polarizado retiraria os votos do próprio centro, numa dinâmica
de competição centrífuga. Ou seja, num sistema bipartidário, a melhor posição não se
localiza no centro do espectro ideológico. Isso. tem relação direta com sua perspectiva
sobre a disputa política, concebida como dualista, na qual não haveria uma posição real e
independente posicionada no centro ideológico. Conferir tal raciocínio na análise que o
autor faz do caso inglês, no início do primeiro capítulo dó livro II.
32 Charles Dodgson, o famoso criador de Alice no pais das maravilhas, não apenas apresentava
um modelo diferente de representação proporcional como, ao defendê-lo, teria utilizado
um i fundamentação que o levaria a ser considerado pioneiro da futura teoria dos jogos {ef.
Black, 1969; Grofman, 1987).
33 Poderíamos incluir na lista de defensores da representação proporcional o brasileiro José
de Alencar (1868), cuja obra política relevante foi reeditada pela UFRJ, sob os cuidados
de Wanderley Guilherme dos Santos (1991).
34 A propósito, justamente a busca por critérios mais rigorosos de contagem acabou ievando
à sofisticação de várias formas de mensuração nessa área de pesquisa, entre as quais se
destacam os índices de fracionaJização de Rae (1967), de volatilidade de Pedersen (1979)
e de desproporcionalidade de Loosemore e Hanby (1971), assim como o numero efetivo
de partidos de Laakso e Taagepera (1979).
35 A lista seria por demais longa, por isso são destacados alguns poucos exemplos. Para uma
revisão da evolução dos estudos sobre os sistemas eleitorais, ver Shugart (2005).
36 Para uma análise histórica e conceituai mais detalhada sobre o desenvolvimento do debate
acerca dos partidos e sistemas partidários europeus, ver Mair (1990); "Ware (199.6); Maor
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Artigo recebido em maio/20.09


Aprovado em fevereiro/2010

Resumo

Revisitando a “teoria geral”dos partidos políticos de Maurice Duverger


Em 1951, Maurice Duverger publicou Les partis politiques, livro que viria a ser considerado uma das
principais contribuições originais aos estudos do fenômeno polídco-partidário. Mas, a despeito da in­
discutível importância de sua teoria sobre os partidos e os sistemas partidários, uma questão a ser con­
siderada é saber em que medida o modelo de análise organizacional dos partidos desenhado peio autor
ainda seria aplicável aos estudos atuais. Neste artigo, defendo a posição de que essa obra de Duverger
continua sendo referência indispensável do ponto de vista do desenvolvimento histórico dessa linha de
investigação e, consequentemente, seu estudo ainda deve ser estimulado e exigido de todos aqueles: que
procuram se especializar nessa área. Além disso, procuro também argumentar que alguns aspectos de seu
modelo continuam válidos e seriam extremamente úteis se aplicados nas atuais pesquisas empíricas sobre
as organizações partidárias.
Palavras-chave: Partidos políticos; Organizações partidárias; Partidos e sistemas partidários; Maurice
Duverger.

Abstract

Revisiting the General Theory o f Political Parties o f Maurice Duverger


In 1951 Maurice Duverger published Les partis politiques, a book that would be considered a major
original contribution to the studies of the political party phenomenon. However, despite the undoubted
importance of his theory on parties and part)7 systems, an issue to be considered is to what extent the
model óf organizational analysis of parties designed by the author will srill be applicable to current stud­
ies. In this article we take the position that this work of Duverger remains an indispensable reference on
the point of view of the historical development of this line of research, and therefore his study should srill
be encouraged and required from all those who seek to specialize in this area. Moreover, we also aim at
arguing that some aspects of his model are still valid and would be extremely useful if deployed in current
empirical researches on party organizations.
Keywords: Political parties, Pam r organizations, Parries and parr)’ systems; Maurice Duverger.

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Résumé

Réexamen de la "théorie générale" des partis politiques de Maurice Duverger


En 1951, Maurice Duverger publie Les partis politiques, livre qui serait considéré l’une des principales
contributions originales aux études du phénomène de la politique partisane. Mais, malgré l’importance
incontestable de sa théorie sur les partis et les systèmes partisans, une question à être considérée est dans
quelle mesure le modèle d’analyse organisationnelle des partis conçu par l’auteur serait applicable aux
études actuelles. Dans cet article, je soutiens que cette œuvre de Duverger demeure une référence indis­
pensable du point de vue du développement historique de ce coûtant de la recherche et, par conséquent,
son étude doit être encouragée et exigée de tous ceux qui cherchent à se spécialiser dans ce domaine. Par
ailleurs, je tente aussi de soutenir que certains aspects de son modèle demeurent valables ét seraient extrê­
mement utiles si appliqués aux recherches empiriques actuelles sur les organisations partisanes.
Mots-clés: Partis politiques; Organisations partisanes; Partis et systèmes partisans; Maurice Duverger.

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