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R o d r i g o L i m a

Aos/Às ocupas de 2016!


A gra d e ciment os

Agradeço ao IFSC por ter proporcionado os recursos para


a realização da pesquisa que deu origem a este livro, através do
Edital n° 34/2017/Proppi/DAE; às estudantes do curso integrado
em vestuário, Marine Burin Rodriguez e Ana Carolina da Silveira
de Souza, que foram bolsistas do projeto de pesquisa em 2018 e
contribuíram significativamente para o processo de entrevistas e
o levantamento de informações sobre as ocupações. Ao Emanuel
Flôres e ao Filipe dos Santos, pelas informações relacionadas ao
surgimento do movimento Resistência Estudantil Contra os Cor-
tes na Educação (RECCE-IFSC). Ao Guilherme Moutinho que
prestou suporte jurídico. Ao Luciano Peres, que, além do ótimo
trabalho de revisão, deu orientações fundamentais para a publi-
cação do livro. À Débora Porto e à equipe da Editora Polifonia,
pelo ótimo trabalho de edição. Ao camarada Walter Lippold, por
suas valiosas informações sobre o processo de publicação. Ao Lu-
ciano Faria pelas informações prestadas e ao Cassiano Oliveira,
pela elaboração da arte de capa do livro. À Bruna Vanti, por ter
colaborado na sistematização e na análise dos dados sobre o perfil
dos/as estudantes do IFSC, além do seu companheirismo e suges-
tões. Ao Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação
Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe) – Seção IFSC, pelo
financiamento dos custos de edição e impressão dos exemplares
desta obra. E por fim agradeço aos/as ocupas que se dispuseram
a prestar seus depoimentos sobre as experiências vivenciadas no
movimento; suas contribuições foram fundamentais para a elabo-
ração do livro.
Muito obrigado!
Mas renova-se a esperança
Nova aurora a cada dia
E há que se cuidar do broto
Pra que a vida nos dê flor e fruto

Milton Nascimento
Sumári o

PREFÁCIO................................................................................. 11
INTRODUÇÃO......................................................................... 15
1. O BRASIL EM TRANSE: O GOLPE DE ESTADO DE 2016.....21
O GOLPE E A ONDA CONSERVADORA...............................31
NEOLIBERALISMO, AUSTERIDADE E
CONTRARREFORMAS..............................................................38
2. A PRIMAVERA SECUNDARISTA....................................... 47
AS OCUPAÇÕES ENTRE O GLOBAL E O LOCAL..............47
OCUPAR E RESISTIR: AS DUAS ONDAS...............................58
3. O QUE SÃO OS INSTITUTOS FEDERAIS?........................ 67
OS INSTITUTOS FEDERAIS DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E
TECNOLOGIA.............................................................................67
O INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA (IFSC).. 78
4. AS OCUPAÇÕES ESTUDANTIS NO INSTITUTO FEDERAL
DE SANTA CATARINA............................................................ 87
A ORGANIZAÇÃO DAS OCUPAÇÕES..................................91
REPRESSÃO E O FIM DAS OCUPAÇÕES............................105
UMA OUTRA EDUCAÇÃO É POSSÍVEL............................114
5. O QUE FICOU DAS OCUPAÇÕES?................................... 121
CRONOLOGIA....................................................................... 125
2013 ..............................................................................................125
2014 ..............................................................................................125
2015 ..............................................................................................126
2016 ..............................................................................................126
2017 ..............................................................................................129
REFERÊNCIAS........................................................................ 131
APÊNDICE.............................................................................. 139
PRE FÁCI O

O presente livro, escrito por Rodrigo Lima, analisa o processo


de ocupações de escolas por estudantes secundaristas, com ênfase
no processo ocorrido no IFSC em 2016. Em âmbito nacional, o
processo teve seu auge no estado de São Paulo, como respostas
dos estudantes à chamada “reorganização escolar”, entenda-se
fechamento de escolas, por parte do então governador Geraldo
Alckmin (PSDB).
Em São Paulo, foram ocupadas mais de 200 escolas, ocupação
que se espalhou para outros estados, como Goiás, Mato Grosso,
Espírito Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. No estado de
Santa Catarina, foram protagonistas desse processo os estudantes
dos Institutos Federais, o que foi materializado na ocupação de
campi do IFSC e do IF.
Em seu livro, Rodrigo localiza essas lutas dentro do marco his-
tórico iniciado com o contraditório processo de junho de 2013.
Naquele processo, entrou em cena uma vanguarda jovem cansada
com a falta de condições básicas por parte do Estado, após ter
explodido a luta em torno do transporte público em São Paulo.
Em âmbito nacional e municipal, tratava-se de governos do PT,
encabeçados por Dilma e Haddad, respectivamente. Esses gover-
nos, ao mesmo tempo que faziam promessas de melhoria para a
população mais pobre, garantiam os interesses de banqueiros e da
burguesia.

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Uma nova geração de jovens descontentes com a situação do
país enxergava a necessidade de se mobilizar, mas, ao mesmo
tempo, se via sem direção. As principais organizações operárias
e estudantis tinham sido cooptadas pelos governos petistas, fa-
zendo com que as mobilizações escasseassem durante anos e as
lutas se voltassem exclusivamente para pressionar o governo e o
parlamento.
Em 2013, havia um vazio de direção e, mesmo que a confusa
pauta das primeiras mobilizações fosse claramente progressista,
não demorou para que grupos conservadores se inserissem nesse
movimento e transformassem lutas justas em reivindicações rea-
cionárias exclusivas para destruir o PT. Com isso, demagogos de
direita, fossem em movimentos organizados, como o MBL, ou po-
líticos hipócritas, como Bolsonaro, ganharam espaço. O bonapar-
tista de toga logo entrou em cena para também ajudar a derrubar
no âmbito jurídico o governo do PT. O corolário desse processo
foi o impeachment de Dilma e a prisão de Lula.
Contudo, no âmbito das lutas, a disposição dos trabalhadores
e da juventude não se arrefeceu, e Rodrigo mostra isso claramen-
te. Os governos Temer e Bolsonaro implantaram medidas contra
os direitos dos trabalhadores e da juventude, como as reformas
previdenciária e trabalhista, impuseram o “teto de gastos” e apro-
varam a reforma do ensino médio. Em cada um desses ataques,
trabalhadores e juventude se mobilizaram e lutaram, mas, a todo
o momento, além de enfrentarem a direita organizada em torno
das instituições do Estado, infelizmente também contaram com
o imobilismo das direções dos trabalhadores, que visualizavam
prioritariamente a volta ao governo central preferencialmente
com Lula.

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No âmbito da educação, além do Novo Ensino Médio, por
parte do Estado se viram ações como o fechamento de escolas ou
o ataque e a censura a professores por meio de aberrações como
o Escola Sem Partido. No caso dos Institutos Federais, mesmo
havendo durante anos um governo do PT, não significava que a
situação fosse diferente. Rodrigo resgata em seu livro o processo
de criação dos Institutos Federais, a partir de 2008, em torno da
reestruturação de escolas técnicas, agrotécnicas e centros federais
de tecnologia então existentes. Essa expansão, em grande parte
para o interior dos estados, se deu sem a garantia de uma estrutu-
ra básica de funcionamento para os campi.
Em Santa Catarina, viram-se duas experiências distintas. O
IFSC nasceu da expansão do antigo CEFET para o interior, sendo
criadas unidades em cidades localizadas nas diferentes regiões do
estado. O IFC, por sua vez, nasceu da fusão de escolas agrícolas
então existentes, também vindo a se expandir por diferentes regi-
ões. Em ambos os casos, por diferentes razões, notaram-se novas
estruturas institucionais marcadas pela fragmentação pedagógica
e estrutural. Além do mais, observa-se a permanência de vícios
como o “caciquismo” por parte de muitos gestores que vinham
das instituições anteriores.
Portanto, ao ocuparem os campi em 2016, os estudantes dessas
instituições, ainda que nem sempre de forma consciente, ques-
tionavam as estruturas então colocadas e a precária expansão da
educação técnica e tecnológica em âmbito federal.
Questionavam, enfim, o que aquelas instituições podiam ofe-
recer para sua formação profissional e mesmo para a sua vida no
futuro, e reivindicavam melhorias.

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O livro de Rodrigo Lima capta essas particularidades, espe-
cialmente ao colocar a fala de sujeitos que participaram do pro-
cesso das ocupações. Nesse sentido, trata-se de um rico material
para entender a conjuntura dos últimos dez anos, marcada justa-
mente pela situação política aberta com as mobilizações de junho
de 2013.
Este livro nos ajuda a entender como se deu a construção da
consciência dessa juventude que se colocou na vanguarda da de-
fesa de uma educação pública, gratuita e, se possível, para todos.
E, também, é uma reflexão por parte desses sujeitos acerca da es-
trutura pedagógica e institucional que vem sendo implementada
na rede federal, que, a despeito de seus méritos, precisa ainda de
muitas melhorias.

Blumenau, julho de 2023

Michel Goulart da Silva


Doutor em História pela Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC)
Técnico em Assuntos Educacionais no
Instituto Federal Catarinense (IFC)

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INTROD UÇÃ O

Este livro é um registro do processo de mobilização dos/as es-


tudantes do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), que entre
os meses de outubro e dezembro de 2016 ousaram ocupar sete dos
vinte e três campi da instituição. O movimento articulou-se com
a mobilização nacional de ocupações, que tinha como pautas cen-
trais as lutas contra a reforma do ensino médio, o avanço da pauta
conservadora na educação e o projeto de emenda constitucional,
que implicou na criação do teto de gastos públicos por vinte anos,
limitando os recursos orçamentários para as áreas sociais, com
fortes impactos na educação.
O livro foi diretamente inspirado na obra “Escolas de Luta”,
dos autores Antônio Campos, Jonas Medeiros e Márcio Ribeiro.
Obra publicada em 2016 e que relata o movimento de ocupa-
ções estudantis ocorrido no Estado de São Paulo em 2015. Uma
referência nos estudos sobre o tema. Seguindo o caminho dos
autores, procurei privilegiar as perspectivas dos/as estudantes a
partir de suas falas e compreensões sobre o processo do qual
foram protagonistas.
O principal objetivo deste estudo é compreender o proces-
so de ocupação estudantil que ocorreu no ano de 2016 no IFSC
e como esse movimento se desenvolveu no contexto dos campi
ocupados, a partir das perspectivas dos/as estudantes envolvidos
naquela luta.

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As ocupações no IFSC articularam-se à primavera secundaris-
ta que ocorreu no Brasil nos anos de 2015 e 2016, mas também foi
um desdobramento do esforço dos/as estudantes na busca por no-
vas formas de organização. O IFSC foi criado em 2008, integrando
a Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica,
cujas instituições tiveram sua origem no início do século XX. As
ocupações ocorreram nos marcos de uma nova institucionalidade,
que apresentava a verticalidade na oferta dos cursos e uma gran-
de capilaridade no território catarinense, o que permitiu englobar
importantes regiões e suas peculiaridades socioeconômicas e cul-
turais. Mesmo nesse cenário complexo, o movimento estudantil
conseguiu estabelecer novas formas de articulação e organização,
tornando-se uma referência histórica nas mobilizações estudantis
do IFSC.
O movimento dos/as ocupas, que ocorreu por todo o país,
levantou-se contra as arbitrariedades do governo Temer, con-
vertendo-se no maior movimento de resistência contra o golpe
de Estado de 2016 e contra a agenda de reformas, que incluiu o
Novo Ensino Médio (NEM), a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) e o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) do Teto de
Gastos, então chamada de PEC do fim do mundo.
O movimento dos/as ocupas também construiu uma forte
resistência à crescente onda conservadora contra as escolas, que
naquele momento era promovida pelos Movimento Escola Sem
Partido (MESP) e Movimento Brasil Livre (MBL). Se colocaram
em alerta contra o crescente autoritarismo e combateram o ovo
da serpente do fascismo, que, dois anos depois, culminou com a
vitória de Jair Bolsonaro para a Presidência da República.

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Os/as estudantes também mostraram um caminho de luta e
resistência. Foram além das elaborações vazias de notas políticas
ou abaixo-assinados, romperam com o imobilismo do movimen-
to sindical, que não esteve à altura do que a conjuntura exigia e
demonstraram que através da organização, da ação direta e da
mobilização poderiam resistir, como de fato resistiram.
No caso do IFSC, as ocupações revelaram a demanda de estu-
dantes de educação profissional e tecnológica (EPT), de diferen-
tes modalidades e níveis educacionais, por uma outra educação.
Elas mostraram, na prática, que um outro modelo de educação
é possível. Os/as estudantes ousaram lutar, enfrentando a buro-
cracia institucional, a reação de movimentos conservadores, a
violência policial e midiática, numa conjuntura regressiva mar-
cada pelo avanço do conservadorismo, do neoliberalismo e da
extrema direita.
A partir de diferentes experiências, cada processo de ocupação
foi construindo o seu caminho. Com maior ou menor articulação
com outros movimentos sociais, com maior ou menor participa-
ção dos/as estudantes, através de formas parciais ou totais de ocu-
pação dos campi, elas compartilharam experiências de profunda
participação democrática, de protagonismo de estudantes em si-
tuação de vulnerabilidade social e de minorias sociais historica-
mente excluídas, como mulheres, negros, indígenas, pessoas com
deficiência e a comunidade LGBTIQAPN+.
As ocupações do IFSC deram voz e vez aos que não eram ou-
vidos, aos que não se viam representados/as nas formalidades
dos colegiados e comissões institucionais, aos/às estudantes que
muitas vezes não têm espaço para organizar, propor e pautar que

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tipo de educação e instituição querem que seja construída. Os/as
ocupas plantaram sementes de um modelo de educação que ainda
está por germinar.
Este livro acabou demorando mais do que eu planejava. O
propósito inicial era publicá-lo em 2019, mas, por uma série de
razões, ele não foi publicado no tempo previsto. No entanto, en-
tendo que o atraso fez com que ele começasse a circular no tem-
po certo. Com distanciamento histórico é possível ver melhor
a relevância das lutas que os jovens de 2016 estabeleceram no
movimento estudantil do país, em particular do IFSC e o quanto
suas pautas seguem atuais, tendo em vista que as lutas contra o
Teto de Gastos1 e o Novo Ensino Médio seguem mobilizando os
movimentos sociais e suas revogações totais ainda estão por ser
realizadas.
A geração de 2016 demarcou um “divisor de águas”, estabele-
cendo um antes e depois do movimento estudantil na instituição.
As ocupações criaram uma referência de lutas que segue viva e
pulsando nos corredores do IFSC. Por isso, ainda é um processo
em aberto. As bases lançadas pelos/as ocupas seguem permeando
os debates educacionais, nas lutas pela revogação do ensino mé-
dio e no caso específico da EPT, sobre qual trabalhador e trabalha-
dora precisamos formar para a construção de um outro modelo
societário, com justiça e igualdade social.

1 Durante as eleições de 2023, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva


comprometeu-se em revogar o teto de gastos. Ao assumir o mandato
presidencial, acabou por substituí-lo pelo novo arcabouço fiscal, uma
medida que mantém restrições aos investimentos públicos nas áreas sociais,
conservando os benefícios ao capital financeiro. A revogação do Novo Ensino
Médio segue mobilizando o movimento estudantil e de trabalhadores em
educação, mas ainda não se concretizou.

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A partir de uma pesquisa desenvolvida no ano de 2018, con-
templada e financiada pelo Edital n° 34/2017/ Proppi/DAE, tendo
sido aprovada e autorizada pela Diretoria de Pesquisa, Pós-gradu-
ação e Inovação do IFSC e respeitando as Resolução CNS 466/12,
de 12/12/2012, e à Resolução CNS 510/16, de 07/04/2016, foi pos-
sível construir uma investigação que privilegiasse a perspectiva
dos/as como protagonistas do processo das ocupações.
Como metodologia de pesquisa, foram realizadas entrevistas
semiestruturadas com sete alunos que participaram do processo
de ocupação no ano de 2016, representando seis dos sete campi
ocupados do IFSC (Araranguá, Chapecó, Florianópolis, Palhoça,
São José, São Miguel do Oeste). Infelizmente, na época da realiza-
ção da coleta de dados, não conseguimos agendar entrevista com
um/a representante do Campus Xanxerê. Também foi realizada
uma consulta às postagens das páginas criadas pelas ocupações na
rede social Facebook.
Para preservar a identidade dos e das estudantes seus nomes
foram mantidos em sigilo, com a utilização de pseudônimos para
identificá-los, apenas referenciando o campus do/a estudante,
para fins de contextualização das falas. Como as entrevistas foram
realizadas em 2018, elas expressaram as perspectivas mais distan-
ciadas dos/as estudantes em relação às ocupações, refletindo uma
avaliação geral do processo do qual foram protagonistas.
O livro é dividido em quatro capítulos, além desta introdução
e das considerações finais. No primeiro, procuro situar o golpe
de Estado de 2016, debatendo as principais causas e os desdobra-
mentos da onda conservadora, do aprofundamento da agenda ne-
oliberal e das políticas de austeridade que avançaram no país nos
meados da década passada. No segundo capítulo, o texto avança

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para a compreensão da “primavera secundarista”, analisando a im-
portância das ocupações de escolas para o movimento estudantil e
para as lutas sociais no Brasil na década de 2010, a partir de uma
discussão sobre as duas ondas de ocupações que ocorreram em
2015 e 2016.
Na terceira parte, analiso de forma geral o que são os Insti-
tutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs), a fim de
contextualizar o/a leitor/a sobre as especificidades que marcaram
o movimento das ocupações nestas instituições, com uma carac-
terização sobre o IFSC.
Por fim, apresento como ocorreu o processo de ocupações no
IFSC, a organização e dinâmica criada pelos/as estudantes, a re-
pressão que enfrentaram, abordo as contribuições do movimento
com relação a EPT e analiso como o movimento terminou e al-
guns de seus desdobramentos.

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1

O BRA SIL E M T R A NS E:
O G OLPE D E E STADO DE 2 0 1 6

A história recente do Brasil será, pois, a


história do colapso do último grande modelo
de conciliação da democracia liberal. Coube
ao Brasil a honra duvidosa de terminar um
ciclo mundial de forma catastrófica.

Vladimir Safatle

O ano de 2016 representou um momento de inflexão na histó-


ria do país. Após um período de estabilidade da democracia libe-
ral e de consolidação da Sexta República, orientada sob os marcos
criados com a Constituição de 1988, o golpe de Estado de 2016
recolocou o horizonte autoritário na agenda nacional. O impea-
chment da então Presidenta Dilma Rousseff, do Partido dos Tra-
balhadores (PT), mobilizada por aparatos midiáticos, judiciários
e parlamentares, ocorreu sob uma fachada de legalidade, suposta-
mente respeitando as regras do Estado de direito, mas que sinali-
zou de fato para uma restrição cada vez maior de direitos políticos
e sociais (Lowy, 2016).
O golpe foi gestado e embalado por setores da burguesia brasi-
leira, associados ao capital financeiro internacional, e com o apoio
da classe média alta, que confrontaram a política de conciliação
de classes, marca dos governos petistas (2003-2016). A crise eco-
nômica que o Brasil enfrentou entre os anos de 2014 e 2016, pri-
meiramente com estagnação, seguida de dois anos de depressão
econômica e significativa queda do PIB2, fez com que os setores
descontentes com as gestões petistas se unificassem e ganhassem
adesão e grande apoio da classe média e de setores mais preca-
rizados da classe trabalhadora, que foram atraídos pela “grande
ofensiva neoliberal restauradora” (Boito Jr., 2016).
Durante o conflito de classes e a disputa pelos rumos do país,
movimentos sociais procuraram resistir à ofensiva neoliberal,
propondo alternativas para além das tentativas da continuidade
da conciliação e para além do jogo político institucional. Uma das
primeiras e mais significativas respostas ao golpe de 2016 foi o
movimento protagonizado por estudantes secundaristas que ocu-
param mais de mil escolas no segundo semestre de 2016. Foi nesse
contexto de resistência contra o golpe que emergiram as ocupa-
ções no IFSC.
Mas antes de analisar este fenômeno, permitam-me recuar um
pouco no tempo para que possamos entender o contexto histórico
no qual se originou o golpe, assim como as resistências contra ele.
Para tanto, vamos voltar à noite do dia 26 de outubro de 2014,
quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciou oficialmen-

2 O biênio 2015/2016 representou uma das maiores recessões da história


do país. Em 2015 o PIB recuou 3,8% e em 2016 o resultado negativo foi de
3,6% de retração em relação ao ano anterior. Todos os setores da economia
registraram taxas negativas no período. Entre os anos de 2014 e 2016, as taxas
de desocupação sofreram um aumento de 74,4% (IBGE).

22
te o resultado do segundo turno das eleições presidenciais. Dilma
Rousseff, havia conquistado a reeleição, derrotando seu adversário
Aécio Neves, do Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB).
Era o pleito mais apertado desde 1989, quando da realização da
primeira eleição presidencial após a redemocratização do país.
O voto popular havia delegado ao PT mais um mandato. O
ciclo petista iniciado em 2003 estender-se-ia até 2018 e as expec-
tativas eram de que, com uma nova candidatura de Luiz Inácio
Lula da Silva em 2018, o Brasil passaria por um longo período
de governos orientados pela estratégia democrático-popular. Mas
no meio do caminho ocorreu um golpe e a sociedade e o cenário
político no Brasil passaram por transformações profundas e, em
certa medida, inesperadas.
O golpe representou uma ruptura no período que foi marca-
do pelo que André Singer (2016) chamou de reformismo fraco,
ou, nas palavras de Valério Arcary (2014), um reformismo quase
sem reformas. Durante os governos petistas, foram implemen-
tadas políticas que mitigaram a extrema pobreza, através de me-
didas compensatórias e da geração de emprego e renda, mas que
não avançaram em reformas profundas e estruturais no Estado
brasileiro.
Os privilégios das classes dominantes e os lucros do capital
financeiro foram mantidos. Concomitantemente, os mais pobres
passaram a ter uma renda básica, com a implementação de polí-
ticas de inclusão social, sustentadas em ações como o Programa
Bolsa Família, a valorização do salário-mínimo, ampliação do
acesso ao emprego e a expansão do crédito para setores da po-
pulação historicamente excluídos. Políticas que possibilitaram o
aumento considerável do consumo, o aquecimento da economia
com base no mercado interno e que expressaram a política do

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“ganha-ganha”, orientada pela lógica da conciliação de classes.
As políticas focalizadas resultaram na redução significativa
da pobreza, culminando com a saída do país do Mapa da Fome
da Organização das Nações Unidas (ONU), durante o primeiro
mandato de Dilma Rousseff (2011-2014).
Na área da educação, os governos do PT preocuparam-se em
ampliar a oferta de vagas nas universidades, primeiramente pri-
vilegiando as redes privadas, com a criação do Programa Uni-
versidade para Todos (Prouni) em 2004, que concedeu bolsas de
estudo integrais e parciais em instituições privadas do ensino su-
perior. O Prouni contemplou estudantes que cursaram o ensino
médio em escolas públicas ou que estudaram em escolas privadas
na condição de bolsistas.
Mas foi durante o segundo mandato do Governo Lula (2007-
2010) que ocorreu a grande expansão da oferta de vagas nas
universidades públicas federais, através do Programa de Apoio
a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Fede-
rais (REUNI), criado em 2007. A criação dos Institutos Federais
(IFs) e a reorganização da Rede Federal de Educação Profissio-
nal, Científica e Tecnológica (RFEPCT), através da Lei nº 11.892,
de 29 de dezembro de 2008, também fizeram parte dessa refor-
ma educacional.
As políticas educacionais dos governos petistas refletiram um
movimento de expansão e capilarização da oferta de educação su-
perior e profissional no país, que passou a contemplar demandas
pelo acesso ao ensino superior aos filhos da classe trabalhadora
brasileira. No caso dos IFs, a verticalização3 foi uma inovação que

3 Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia ofertam cursos de


ensino médio integrado aos cursos técnicos, de cursos técnicos concomitantes

24
permitiu a democratização e ampliação da oferta de ensino profis-
sional, científico e tecnológico.
A expansão do acesso à educação profissional foi uma expres-
são das políticas contraditórias dos governos petistas, pois con-
templou a ampliação do acesso às vagas nas instituições públicas
federais, mas de forma precarizada, ao mesmo tempo em que fa-
voreceu as grandes empresas do ramo da educação privada.
O bloco no poder constituído pelo reequilíbrio de forças pro-
vocado pelo transformismo do PT e da CUT não deixou de ser
efetivamente dirigido pelos setores mais organicamente vin-
culados ao imperialismo. Por isso, as iniciativas do Governo
Lula da Silva seguiram os trilhos da política educacional do
governo Cardoso, como o apoio ao setor privado por meio
de isenções tributárias, os contratos de gestão entre municí-
pios, estados e MEC, a avaliação produtivista dos resultados
(Enade, Enem, Saeb, Provinha Brasil), as medidas focalizadas,
o entusiasmo pela educação a distância, a disjunção da for-
mação profissional e do ensino propedêutico, o conceito de
educação rural proveniente do programa Escola Nova colom-
biano (Leher, 2010, p. 409).

No âmbito da EPT, o Governo Lula fez três movimentos im-


portantes que modificaram substancialmente a oferta dessa mo-
dalidade de ensino na Rede Federal.
O primeiro foi através do Decreto 5.154 de 23 de julho de
2004, que retomou a oferta da educação profissional técnica de

ou subsequentes, de qualificação profissional, de ensino superior de graduação


e de pós-graduação (lato e stricto sensu). Uma configuração que permite a
convivência entre diferentes segmentos dos estudantes, o que também trouxe
novos desafios para a organização do movimento estudantil.

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nível médio de forma integrada ao ensino médio. O segundo foi
a criação dos IFs em 2008, através da Lei nº 11.892, de 29 de de-
zembro de 2008 com a obrigatoriedade da oferta de 50% das va-
gas para cursos de educação profissional técnica de nível médio,
prioritariamente na forma de cursos integrados. E o terceiro mo-
vimento foi a expansão e interiorização da Rede. Se até 2002 ha-
via 140 escolas técnicas federais no país, entre 2003 e 2016 foram
criados 422 novos campi ligados à Rede Federal.
Com a expansão da oferta, relacionada à política de cotas so-
ciais e raciais, a partir da Lei nº 12.711/2012, passou a ser garan-
tida a reserva de 50% das matrículas, por curso e turno, em todas
as Universidades Federais e IFs, para alunos que tenham estudado
integralmente no ensino médio público. Através desta política, o
ingresso nas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) e na
Rede Federal foram democratizadas. As cotas também levam em
conta o percentual de mínimo correspondente à soma da popu-
lação de pretos, pardos e indígenas no estado, de acordo com os
dados do último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística (IBGE).
Através desta política, houve uma ampliação do acesso à EPT,
com fortes implicações no perfil dos/as estudantes dessa modali-
dade de ensino4. Aqui há um elemento importante para a compre-
ensão dos processos das ocupações e das mobilizações estudan-
tis no contexto dos IFs, em particular do IFSC. O protagonismo
de estudantes negros, mulheres, LGBTQIAPN+ e em situação de

4 Os IFs caracterizam-se por ter uma parcela significativa de seus estudantes


de baixa renda, cerca de 60% dos/as alunos/as dos IFs são oriundos de famílias
com renda per capita de até um salário-mínimo e meio. (Plataforma Nilo
Peçanha, 2023)

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vulnerabilidade social refletiu-se na base estudantil que protago-
nizou as ocupações dos campi:
Então, mas eram estudantes que apoiavam muito, e estudantes
como eu digo era tão variados que existiam desde até mesmo
economicamente assim, estudantes que tinham um baixíssi-
mo custo de vida, que tinha vulnerabilidade gigante assim né
socioeconômica, e até... Viam no IFSC uma oportunidade de
dar um alívio, então comiam uma refeição um pouco melhor
aqui né, conseguiu comer de uma forma um pouco melhor
diretamente, dormir no local, enfim, e aí foram estudantes que
depois a gente acabou ajudando, hoje conseguiram um traba-
lho, então hoje tem um pouco mais de condição, até estudan-
tes que tinham um poder aquisitivo razoável em comparação
com a maioria, que também apoiavam, que eram frente ao
movimento, dormiram aqui, então tinham que varrer o chão,
lavar louça, não tinha nenhuma diferença. Era bem diversifi-
cado (José, Campus Araranguá).

As questões racial e de gênero, com o protagonismo de estudan-


tes negros e de mulheres, também se expressaram no movimento:
Era um perfil bem diversificado de questão de classes, assim,
tinha bastante problema com pessoas muito diferentes ocu-
pando o mesmo espaço, e enfim, cozinhando na mesma cozi-
nha e comendo a mesma comida, e convivência é uma coisa
que é complicado né, mas uma coisa que eu notei é que tinha
muitas pessoas negras que eu não conhecia, nem sabia que
tinha tanta gente negra dentro do meu campus. Eu não co-
nhecia isso foi uma coisa que me chamou atenção, a maioria
eram mulheres, tinha gente de todos os tipos, gente de Floripa,
gente que nunca tinha participado de nenhum tipo de debate

R O D R I G O L I M A 27
político ou coisa parecida, tinha gente que já vinha de históri-
co de militância (Bianca, Campus São José).

Os relatos sobre o perfil dos/as estudantes que ocuparam os


campi do IFSC refletem o resultado das políticas adotadas no
âmbito federal. Com as cotas sociais e raciais, setores da clas-
se trabalhadora e da população negra e indígena ampliaram as
perspectivas de acesso à universidade e às escolas técnicas pro-
fissionalizantes.
A inclusão de estudantes de baixa renda nas instituições fede-
rais de educação é uma expressão daquilo que o cientista político
André Singer (2012) denominou como lulismo, termo utilizado
para definir o fenômeno político que se concretizou em torno da
liderança de Lula e do projeto político que foi desenvolvido du-
rante os seus governos e nos de Dilma.
Segundo Singer (2012), o lulismo representou um movimento
de adesão do subproletariado, composto pelos setores mais des-
favorecidos da sociedade, historicamente excluídos das políticas
públicas e do mercado formal de trabalho, que através das políti-
cas redistributivas do Estado passaram a ter acesso a renda, bens
de consumo e possibilidades de acesso à educação, inclusive com
o horizonte do ensino superior para os seus filhos.
Conforme o autor, estes segmentos interpretavam a melhoria
das condições de vida da população de baixíssima renda à inter-
venção de uma liderança popular pela via do Estado, numa rela-
ção direta entre as massas empobrecidas e o poder de Lula. Mas
com as características de uma liderança que não buscava a adesão
popular pelas vias da mobilização e da politização, o que o carac-
terizaria como um lulismo despolitizante. Processo que, segundo
Francisco de Oliveira (2018), resultou no sequestro dos movi-

28
mentos sociais e das organizações da sociedade civil por parte do
lulismo, o que se expressou da seguinte maneira:
Lula nomeou como ministros do Trabalho ex-sindicalistas in-
fluentes na Central Única dos Trabalhadores (CUT). Outros
sindicalistas estão à frente dos poderosos fundos de pensão
das estatais. Os movimentos sociais praticamente desapare-
ceram da agenda política. Mesmo o Movimento dos Traba-
lhadores Rurais Sem Terra (MST) se viu manietado pela forte
dependência em relação ao governo, que financia o assenta-
mento das famílias no programa da reforma agrária (Oliveira,
2018, p. 119-120).

Contudo, tal modelo de conformação dos movimentos sociais


sofreu uma ruptura significativa com as mobilizações que ocorre-
ram em junho de 2013. Segundo Ouriques (2016), as Jornadas de
Junho representaram um ponto de inflexão na vida política nacio-
nal, o Movimento pelo Passe Livre (MPL), que conseguiu barrar o
aumento da passagem do transporte coletivo em centros urbanos
importantes do país, com destaque especial para São Paulo, epi-
centro do movimento, teve um impacto muito maior do que a luta
pela pauta da tarifa do transporte público, questão extremamente
relevante para a classe trabalhadora brasileira que vive nas gran-
des cidades.
Os protestos de junho revelaram a incapacidade do sistema
político em lidar com manifestações de massa após muitos anos
de paralisia dos movimentos sociais. Junho de 2013 criou um
marco nas lutas sociais no país e influenciou diretamente o mo-
vimento de ocupação, e que serviu como uma referência para a
participação política:

R O D R I G O L I M A 29
Aí com alguns processos ali de 2013, com algumas manifesta-
ções que aconteceram do Passe Livre, ah era muito comentado
dentro da Universidade aquilo, todo mundo conversava toda
hora, daí então o pessoal dizia “vai ter manifestação hoje, va-
mos?”, “será que vai?”, “vamos lá ver”, “vamos apoiar” e tal, e aí
todo mundo queria participar e tinha alguma coisa para recla-
mar, não era mais sobre o direito ao passe livre e aí foi quando
eu vi as maiores manifestações, foram as de 2013 né, teve no
país todo, parece que era um clima assim então era hora de
ir pra rua né, e aí depois tiveram outros desdobramentos e
tudo mais e aí comecei a me interessar muito mais por políti-
ca, comecei a tentar pelo menos ouvir um pouco mais e tentar
entender um pouco mais né, porque até então eu não gostava
que era a ideia de que baita negócio chato né, ficar vendo e fi-
car tentando entender com palavras difíceis e tal esse processo
(José, Campus Araranguá).

Como afirma Iasi (2013), a estratégia e as relações estabele-


cidas com os movimentos sociais durante os anos dos governos
petistas, ao mesmo tempo que desarmaram a classe trabalhadora
em sua capacidade de mobilização e pressão, produziram, na base
da sociedade, a explosão de contradições.
Quando as contradições explodiram na fusão propiciada pelo
rompimento do campo prático inerte, elas se expressaram
numa multifacetada manifestação de elementos de bom senso
contra a ordem ao lado de representações de conteúdos con-
servadores e mesmo preocupantes do senso comum – como o
nacionalismo exacerbado, o antipartidarismo, a retomada da
extrema direita (Iasi, 2013, p. 46).

30
A explosão social de junho de 2013, segundo Valério Arcary
(2022), teve um caráter espontâneo e sem direção clara, mas não
se reduziu a uma mobilização de cunho reacionário e conserva-
dor, tendo trazido inovações nas lutas sociais no Brasil, que conti-
nha germes que permitem compreender o processo posterior das
ocupações de escolas:
As mobilizações de junho de 2013 foram, essencialmente, acé-
falas. Foram, politicamente, caóticas, ambíguas, confusas. Mas
tentar desqualificar o seu significado com a caracterização de
que seriam somente a expressão do mal-estar das classes mé-
dias urbanas mais escolarizadas e hostis ao PT, ou seja, reacio-
nárias, demonstrou-se insustentável (Arcary, 2022, s.p.).

A partir de junho de 2013, digladiaram-se de forma explícita


na base da sociedade projetos de novas formas de sociabilidade
e de formas conservadoras apresentadas em nova roupagem. O
movimento dos/as ocupas refletiu a primeira corrente, como uma
flor tentando romper o asfalto.

O GOLPE E A ONDA CONSERVADORA


Com a onda conservadora que avançou no país após 2015 e
que desencadeou no processo de impeachment de Dilma Rousseff
da Presidência da República, a conjuntura política nacional ga-
nhou uma nova configuração.
Depois de 13 anos de governos petistas, o governo ilegítimo de
Michel Temer, do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), as-
sumiu o posto máximo do poder executivo e passou a implemen-

R O D R I G O L I M A 31
tar uma agenda de contrarreformas que atacaram direitos sociais
e trabalhistas.
A ruptura com as políticas de conciliação de classes estabe-
lecidas durante o ciclo petista no governo federal permitiu a im-
plementação de uma agenda assentada em torno das diretrizes do
programa “Ponte para o Futuro”, elaborado pela Fundação Ulysses
Guimarães, ligada ao MDB.
O velho bloco de direita tradicional (que não estava totalmen-
te fora do poder no período petista) retomou o governo, agora
sem a necessidade de um intermediário que cumprisse o papel de
bombeiro da luta de classes.
A ascensão de diferentes setores da direita brasileira ocorreu
em torno de pautas como a guerra cultural, a perseguição à es-
querda e ao comunismo, o combate à violência nos centros urba-
nos e nas áreas rurais a partir do incremento do punitivismo pe-
nal e do armamento da população civil, a defesa da família numa
perspectiva cristã-conservadora e o discurso antissistema e anti-
petista articulado pela extrema direita.
Ao conservadorismo, associou-se a agenda de reformas e pau-
tas neoliberais na economia, conduzida pelo bloco no poder5, re-
configurado após o golpe jurídico-parlamentar e midiático que
destituiu Dilma Rousseff (PT) da Presidência da República em
maio de 2016.

5 Utilizo o conceito de bloco no poder desenvolvido por Nikos Poulantzas, que


o define como “[...] a unidade contraditória particular das classes ou frações
de classe politicamente dominantes, em sua relação com uma forma particular
do Estado capitalista. O bloco no poder refere-se à periodização da formação
capitalista em estádios típicos. Recobre a configuração concreta da unidade
dessas classes ou frações nos estádios caracterizados por um modo específico
de articulação e por um ritmo próprio de escansão do conjunto das instâncias”
(Poulantzas, 1984, p. 123).

32
Após o golpe, a saída apresentada pelo governo Temer para a
superação da crise econômica visava atender as demandas do ca-
pital, rearranjando, a partir de um conjunto de contrarreformas, a
capacidade de extração de mais-valia e ampliação das taxas gerais
de lucro, lançando mais ataques contra à classe trabalhadora. O
processo de exploração do trabalho, a retirada de direitos, inten-
sificando a precarização do trabalho, ampliando e aprofundando
as políticas de austeridade e ajuste fiscal, orientaram a agenda das
contrarreformas.
A burguesia, na sua sanha pela retomada dos seus lucros, não
estava mais disposta a conceder ou terceirizar o governo federal.
Ainda nesse afã da retomada do controle total das políticas eco-
nômicas de aprofundamento da exploração do trabalho, as classes
dominantes alimentaram movimentos neofascistas e conservado-
res, como forma de pressionar e intimidar os movimentos sociais
progressistas, atingir as minorias sociais e reduzir as políticas de
distribuição de renda.
No campo da educação, o núcleo empresarial que apoiou o
golpe concentrava-se em entidades como o “Todos pela Educa-
ção” e o “Movimento Escola Sem Partido”. Grupos que, segundo
Frigotto (2016), pautavam-se pela permanência de uma ordem
social injusta, desigual e excludente, procurando manter os lucros
de uma minoria, sustentada na manipulação ideológica de amplos
setores da população pela pedagogia do medo e da violência. Ou-
tra expressão desse movimento reacionário na educação foi o Mo-
vimento Brasil Livre (MBL), criado em novembro de 2014, com
pautas liberais conservadoras, ligados a uma rede global de think
tanks que difundem o liberalismo econômico.

R O D R I G O L I M A 33
O MBL teve um papel protagonista nas ações de rua a favor
do impeachment de Dilma Rousseff, em 2015 e 2016, e durante
o governo Temer sustentaram a agenda de reformas neoliberais,
utilizando de ferramentas digitais, como o YouTube, para inti-
midar a resistência ao golpe, principalmente o movimento dos/
as estudantes secundaristas que ocuparam escolas em 2016. No
caso das ocupações do IFSC, os/as ocupas enfrentaram os ata-
ques da mídia e do MBL, que procuravam desestabilizá-los e
deslegitimá-los perante a opinião pública.
Teve, a mídia ali da nossa cidade é muito conservadora, não
só a mídia, mas as pessoas, a política. Então, a principal rede
de televisão da cidade ela teve uma influência bem grande
nessa participação contra a nossa ocupação. Eles faziam vá-
rias imagens bem tendenciosas além disso, ainda teve outros
movimentos, MBL, não sei se eu posso citar aqui, mas o MBL
teve muita participação contra o movimento, fazendo vídeos
tendenciosos de coisas que não aconteciam, fora da realidade,
sabe? Faziam o vídeo e colocavam a postagem com a descrição
do que tava acontecendo naquele vídeo e que não tinha nada
a ver. Tipo eu faço um vídeo de uma pessoa comendo pipo-
ca e digo que ela tá jogando lixo na rua, era mais ou menos
isso que acontecia, mas era isso os movimentos contra, MBL,
a mídia da própria cidade, pessoas que eram da própria cidade
(Luís Carlos, Campus Chapecó).

A influência do MBL e do aumento da inserção da direita no


movimento estudantil já era uma realidade no IFSC quando ocor-
reram as ocupações, segundo um relato de estudante do Campus
Florianópolis sobre o Grêmio Estudantil:

34
Então, eu acho que aqui no IFSC, aqui na Mauro Ramos, em
Florianópolis, vai ter uma particularidade muito grande por-
que eu acho que de todas as respostas que vocês poderiam
receber em outros campus seria que ajudou ou não, né? Mas
a verdade que aqui em Florianópolis o grêmio estudantil ele
atrapalhou, mas é que tem um motivo, a última gestão que
tinha sido eleita como eu comentei antes, era uma gestão da
própria direita, né? Tinham jovens ligados ao Movimento Bra-
sil Livre e tinham assumido o grêmio depois de um histórico
de grêmios de esquerda aqui no IFSC. É um grêmio que tem
um movimento estudantil muito ativo e uma polarização mui-
to grande, mas é claro, uma coisa é entender a diretoria de uma
entidade e outra coisa é entender a entidade como um todo,
porque a entidade como um todo são todos os estudantes. En-
tão eu digo que o grêmio atrapalhou, mas é em um sentido
de que a diretoria do grêmio fez de tudo para que a ocupação
não continuasse, inclusive organizou manifestações contra a
ocupação, no dia que a gente paralisou as aulas, eles fizeram
manifestação, depois fizeram outra. Tentaram boicotar o mo-
vimento (Marcos, Campus Florianópolis – Mauro Ramos).

O processo de impeachment, conduzido de forma artificial e


apoiado por segmentos da burguesia industrial, pelos conglome-
rados midiáticos e com o consentimento do capital financeiro, foi
uma forma encontrada pela classe dominante de constituir um
rearranjo institucional que permitisse que as reformas necessárias
para sua tentativa de retomada das taxas de lucro fosse acelerada,
numa concertação política pelo alto, que tinha como horizonte
o desmonte e violentos ataques contra a classe trabalhadora. O
governo Temer aplicou uma série de medidas antipopulares como
privatizar, precarizar o serviço público, criminalizar os movimen-

R O D R I G O L I M A 35
tos e as lutas sociais, implementar uma política de arrocho e de
perda de direitos. Mas não sem encontrar resistência:
Eu comecei a ficar bastante empolgada. Já tava vendo várias
escolas sendo novamente ocupadas eu utilizava bastante as re-
des sociais, o Facebook, então eu ficava sabendo. Eu seguia vá-
rias páginas de educação desde a época dos grupos de 2015 eu
já seguia as páginas, então começou essas ocupações quando
teve o golpe, esse golpe foi tanto motivador para eu me desli-
gar do curso quanto para eu abraçar a luta de novo. Um monte
de gente parada vendo o país indo por água abaixo, que uma
das primeiras coisas que aconteceu, eu tinha perdido a minha
bolsa de assistência estudantil, isso foi problema interno acho
do IFSC, daquele ano de 2016 que tiveram alguns problemas
na finança do Instituto Federal, mas coincidiu justamente no
ano do golpe no ano em que a gente já estava com a verba re-
duzida eu comecei a ouvir falar de outras ocupações (Bianca,
Campus São José).

As lutas sociais desenvolvidas no Brasil, durante a década de


2010, construíram novas e dinâmicas formas de enfrentamento
contra o capital, diante de uma conjuntura muito adversa para
a classe trabalhadora, juventude e os movimentos populares, na
qual a agenda antipovo se intensificou e se aprofundou, princi-
palmente após a ascensão do governo ilegítimo de Temer. O que
veio acompanhado de movimentações e a crescente influência de
grupos de extrema direita no Brasil.
Desde 2015, quando das primeiras grandes mobilizações de
massa capitaneadas por setores liberais e conservadores contra
o Governo Dilma, a ofensiva da direita colocou os setores pro-
gressistas da sociedade numa posição defensiva. O movimento

36
de massas que sustentou socialmente o golpe de Estado de 2016
trouxe o avanço de grupos fascistas, que até então pareciam enfra-
quecidos e desmobilizados no cenário político brasileiro. O ódio e
a violência da extrema direita foram enfrentados pelos/as ocupas
nos campi:
Então até algumas entidades, o MBL por exemplo, foram enti-
dades que faziam parte do MBL que entraram em São José por
exemplo, que bateram de frente com os estudantes, quebraram
muro, e aí teve até algum confronto estudantes, acabaram com
os estudantes não querendo entrar em confronto com o pes-
soal né, mas a parte eu acho que de represália foi a única que
se sentiu assim e as demais entidades só vieram para apoiar
(José, Campus Araranguá).

Pautas como a intervenção militar, a defesa da Ditadura mili-


tar-empresarial, o projeto escola sem partido, o discurso de ódio
contra LGBTQIAPN+, Negros, Mulheres e Indígenas, o antico-
munismo, os ataques aos direitos sociais, a crescente criminaliza-
ção dos movimentos sociais e da esquerda em seu conjunto, são
algumas das bandeiras levantadas pela extrema direita. Mas que
não intimidaram os/as ocupas que através da de uma forte articu-
lação e participação estudantil, combateram os discursos de ódio,
contando com um forte protagonismo de estudantes que faziam
parte de minorias sociais.
As ocupações também enfrentaram um contexto muito adver-
so de despolitização, descrença nos partidos políticos e nas insti-
tuições, radicalização da classe média, no qual o avanço de pautas
ligadas à segurança pública, aos cortes sociais e a política de arro-
cho fiscal criaram as condições para um senso comum conserva-
dor. As ruas passaram a conviver com crescente ameaça de grupos

R O D R I G O L I M A 37
neofascistas que intensificaram os ataques contra a esquerda, as
minorias e os movimentos sociais.
O cenário pós-golpe era muito adverso para a classe trabalha-
dora e a juventude brasileira, o que só engrandece a coragem e o
papel dos/as estudantes que ousaram lutar e participar do proces-
so de ocupação de escolas.

NEOLIBERALISMO, AUSTERIDADE
E CONTRARREFORMAS
O golpe de 2016 abriu uma clivagem que implodiu os pac-
tos e equilíbrios institucionais que mantiveram certa estabilidade
política por quase trinta anos. Foram esgarçados os marcos ori-
ginados no processo de transição da ditadura militar para uma
democracia liberal com ares de reforma social, firmados na Cons-
tituição Federal de 1988.
A “tempestade perfeita” que ocorreu no país em meados da
década de 2010, combinando as crises econômica, institucional e
política, criou as condições para a desestabilização do sistema po-
lítico, possibilitando a emergência da extrema direita como ator
central na política brasileira, que resultou posteriormente na vitó-
ria de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018.
Com o fim das políticas conciliatórias dos governos petistas e
a ascensão de um bloco conservador-liberal ao poder, ocorreu a
implementação de uma série de contrarreformas que aprofunda-
ram o programa de austeridade.
A agenda de ajuste fiscal, que havia iniciado durante o segun-
do mandato de Dilma, como uma resposta à crise econômica,

38
avançou ainda mais durante o governo ilegítimo de Temer. A aus-
teridade representa uma imposição de políticas governamentais
que visam atender os interesses econômicos dos setores ligados ao
capital financeiro e às elites econômicas em detrimento dos direi-
tos sociais das grandes massas da população. Segundo Blyth:
Austeridade é uma forma de deflação voluntária em que a
economia se ajusta através da redução de salários, preços
e despesa pública para restabelecer a competitividade, que
(supostamente) se consegue melhor cortando o orçamento
do Estado, as dívidas e os déficits. Fazê-lo, acham seus defen-
sores, inspirará a “confiança empresarial” uma vez que o go-
verno não estará “esvaziando” o mercado de investimento ao
sugar todo o capital disponível através da emissão de dívida,
nem aumentando a já “demasiada grande” dívida da nação
(Blyth, 2020, p. 26).

A austeridade beneficia as elites capitalistas através de três


grandes fatores: a) gera recessão e desemprego, o que reduz pres-
sões por aumento salarial e acarreta o aumento das margens de
lucros; b) corta gastos e reduz as obrigações sociais, o que permite
a redução da carga tributária sobre as empresas e c) precariza e
desmonta o serviço público, o que aumenta a mercantilização de
setores como a educação e a saúde, ampliando os espaços de atu-
ação da iniciativa privada (Rossi, 2020).
A luta contra a austeridade foi um dos principais motivos da
organização das ocupações pelo movimento estudantil, que foi
profundamente afetado pelos cortes orçamentários na educação
e nas áreas sociais. É na luta antiausteridade que podemos identi-
ficar o que mobilizou os/as estudantes a radicalizarem suas ações
com as ocupações:

R O D R I G O L I M A 39
É que assim, a ocupação no campus ela se deu de uma forma
bem espontânea na verdade. Como eu disse, eu fazia parte do
grêmio estudantil e quando surgiram as mobilizações ainda
pro corte do recurso que era o PAEVS na época, já surgiu um
movimento de resistência, sabe, não só aqui em São Miguel
mas acho que foi, não sei se chegou a atingir o campus de vo-
cês aí, os alunos ficaram sem o auxílio, e eu também, eu era
do grêmio e também fiquei sem o auxílio. E aí começou, sur-
giu o movimento, assim, porque tinham muitos alunos que
iam desistir por não receber a verba, o auxílio né. Logo depois
surgiu as mobilizações contra as emendas, enfim, que tavam,
que iriam ser, que estavam sendo colocadas a votação (Marta,
Campus São Miguel do Oeste).

Na educação, os impactos foram sentidos de forma imediata.


Com o projeto do teto de gastos, limitando os investimentos so-
ciais por 20 anos, a redução dos investimentos públicos na área
projetavam a impossibilidade de alcance das metas propostas pelo
Plano Nacional de Educação (PNE) para o período.
A reforma do ensino médio e a criação da BNCC foram prio-
ridades nos primeiros meses do governo Temer. Iniciada com
a Medida Provisória 746, em setembro de 2016, a proposta de
mudança no ensino médio tramitou em caráter de urgência no
Congresso Nacional e resultou na Lei 13.415/17, sancionada em
fevereiro de 2017. Durante a tramitação do projeto, não houve
abertura de espaços democráticos que possibilitassem a participa-
ção de setores ligados à educação, como sindicatos, universidades,
entidades estudantis e associações representando a comunidade
escolar. A luta contra o NEM foi um fator mobilizador para os/as
estudantes do IFSC realizarem as ocupações:

40
Então, é que a gente tava naquela conjuntura, tava tendo bas-
tante manifestações. O governo tava tirando tudo o que a gen-
te tinha enfim, de mínimo em relação a legislação social, em
relação ao direitos trabalhadores. E quando a gente começou
a ver aquelas manifestações em Curitiba e vendo mais de mil
ocupações ali no Brasil a gente começou a ficar muito de olho
no que que isso ia dar aqui. A gente começava a acompanhar
muito pela internet né? (Marcos, Campus Florianópolis –
Mauro Ramos).

As ocupações estudantis, que sacudiram o país entre setembro


e dezembro de 2016, foram um grito de rebeldia contra os des-
mandos e as imposições de uma reforma que não atendia às reais
demandas dos/as estudantes e da educação pública brasileira.
Para compreender melhor a reforma do ensino médio é pre-
ciso retomar os debates iniciados em 2013, incentivados por se-
tores empresariais da educação, que se aglutinaram em torno do
“Movimento pela Base”. Esse movimento agregou uma rede de
fundações e pesquisadores ligados à educação privada, que tem
no seu conselho deliberativo os seguintes membros: Instituto
Natura, Instituto Unibanco, Itaú: educação e trabalho, Fundação
Lemann, Fundação Telefônica Vivo e Fundação Maria Cecília
Souto Vidigal.
Tais organizações, mantidas por diferentes corporações ca-
pitalistas, com destaque do setor financeiro, pautaram a reforma
do ensino médio como possibilidade de um grande e próspero
negócio. Afinal de contas, trata-se de uma etapa de ensino que
atualmente conta com 7,9 milhões de alunos matriculados, pre-
dominantemente na rede pública, representando 87,8% do total
de estudantes que frequentam o ensino médio em todo o país. Na

R O D R I G O L I M A 41
visão empresarial, um nicho de mercado a ser explorado (INEP/
Censo escolar, 2023).
Em 2013, foi criada no Congresso Nacional a Comissão Espe-
cial destinada a promover Estudos e Proposições para a Reformu-
lação do Ensino Médio (Ceensi), uma iniciativa do deputado fe-
deral Reginaldo Lopes (PT-MG). Os debates da Ceensi resultaram
no Projeto de Lei 6.840/2013, que já apresentava em suas concep-
ções uma orientação de formação pragmática dos/as estudantes,
subordinada ao mercado de trabalho:
No requerimento de criação da Comissão, seu autor alega que
o ensino médio não corresponde às expectativas dos jovens,
especialmente à sua inserção na vida profissional, e vem apre-
sentando resultados que não correspondem ao crescimento
social e econômico do País. Desde aqui já é possível notar a
argumentação de caráter pragmático com base no desempe-
nho nos exames em larga escala e na propalada necessidade
de aproximação entre ensino médio e mercado de trabalho
(Silva; Scheibe, 2017, p. 24-25).

Em 2014, o PNE definiu pela criação da BNCC, estratégica


para que os objetivos presentes no plano fossem alcançados. No
mesmo ano, Dilma, então candidata à reeleição, durante a campa-
nha presidencial sinalizou para a necessidade de uma reforma no
ensino médio, anunciando o que estava por vir:
O jovem do Ensino Médio, ele não pode ficar com doze ma-
térias, incluindo nas doze matérias Filosofia e Sociologia.
Tenho nada contra Filosofia e Sociologia, mas um currículo
com doze matérias não atrai o jovem. Então, nós temos que
primeiro ter uma reforma nos currículos dentre as mudanças
(Dilma, 2014, s.p.).

42
Com o golpe de maio de 2016, Dilma não pode cumprir o
que havia prometido. Coube a Temer intensificar e acelerar a
agenda de reformas, incluindo o ensino médio. A reforma avan-
çou rapidamente, de forma autoritária e sem debates. Articulado
às reformas trabalhista e da previdência (que foi proposta no
governo Temer, mas só foi aprovada no governo Bolsonaro), o
NEM fez parte de um grande projeto dos setores empresariais
no sentido de avançar na sua proposta de flexibilizar, desregu-
lamentar e precarizar ainda mais a educação pública e o mundo
do trabalho no país.
A reforma consistiu em um grande retrocesso na formação
dos/as jovens estudantes brasileiros/as:
A reforma de ensino médio proposta pelo bloco de poder que
tomou o Estado brasileiro por um processo golpista, jurídico,
parlamentar e midiático, liquida a dura conquista do ensino
médio como educação básica universal para a grande maioria
de jovens e adultos, cerca de 85% dos que frequentam a escola
pública. Uma agressão frontal à constituição de 1988 e a Lei
de Diretrizes da Educação Nacional que garantem a universa-
lidade do ensino médio como etapa final de educação básica
(Frigotto, 2016, p. 329).

A agenda empresarial na educação aliou-se à onda conserva-


dora, que tinha como principal expoente no campo da educação
o Projeto “Escola Sem Partido”, que visava censurar o debate e o
pensamento crítico nas escolas, criminalizando e perseguindo os/
as educadores/as. Contra o avanço autoritário, as ocupações res-
ponderam com mais debates, mais democracia e mais politização:
Como eu falei, tinha atividades integradoras, que seria ofici-
nas de diversas coisas, mas sempre tinha todo dia um debate,

R O D R I G O L I M A 43
uma discussão, se a gente não achava alguém de fora para vir
debater, alguma pessoa com mais propriedade, a gente fazia
entre os próprios estudantes, professores do campus, sem-
pre nos apoiaram. Enfim, pessoas de movimentos sociais etc.
(Luís Carlos, Campus Chapecó).

A Reforma do Ensino Médio e a BNCC, combinadas, modifi-


caram profundamente a estrutura curricular do ensino médio. O
então Ministro da Educação, Mendonça Filho, declarou que a re-
forma consistia numa mudança estrutural e a mais relevante dessa
etapa de ensino desde a sanção da LDBEN, em 1996.
Segundo Mendonça Filho (2017), a reforma traria flexibilida-
de para o currículo, tornando o ensino médio mais interessante
para a juventude brasileira. Ele afirmava que o NEM possibilitaria
o ingresso mais rápido ao mercado de trabalho, já que um dos
itinerários formativos tinha como opção os cursos técnicos pro-
fissionalizantes. Em sua visão, o NEM ampliaria essa oferta, con-
templando a demanda por formação profissional no país, já que,
no Brasil, apenas 8% dos jovens estudavam em cursos profissiona-
lizantes, enquanto na Europa o número chegava a 40%.
A reforma estabeleceu que o currículo fosse organizado com
uma carga horária composta em 60% pela BNCC e 40% destinada
a um dos seguintes itinerários formativos: a) Linguagem e suas
Tecnologias; b) Matemática e suas Tecnologias; c) Ciências da Na-
tureza e suas Tecnologias; d) Ciências Humanas e Sociais aplica-
das e e) Formação Técnica e Profissional, além da possibilidade de
um “itinerário formativo integrado, que se traduz na composição
de componentes curriculares da Base Nacional Comum Curricu-
lar – BNCC e dos itinerários formativos” (Brasil, 2017, Artigo 36).

44
O NEM possibilita que o/a estudante “escolha” um dos iti-
nerários durante o curso do ensino médio, mas essa decisão não
ocorre livremente, pois depende do que o sistema de ensino oferta
em cada cidade. O que implica em desigualdades entre os/as es-
tudantes, tendo em vista que, em cidades pequenas ou médias, as
ofertas são limitadas, o que acaba por cercear as possibilidades de
milhões de jovens.
O projeto de reforma do ensino médio enfrentou uma dura
resistência, pois, no ano de 2016, o Brasil vivenciou o segundo
maior processo de ocupações de escolas registrado mundialmente
(Medeiros; Januário; Melo, 2019). Os/as ocupas não conseguiram
barrar a reforma do ensino médio, mas abriram um novo ciclo de
lutas no movimento estudantil brasileiro:
[...] eu acho que a ocupação, ela levantou debates pra além da
questão científica ou acadêmica, pra uma questão discussão
política mais ampla, sobre associar isso tudo que a gente estu-
da com a nossa federal, então eu acho que foi muito importan-
te pra mim (Marcos, Campus Florianópolis – Mauro Ramos).

O processo de politização dos/as estudantes na luta contra a


agenda golpista fez das escolas o principal centro de lutas sociais
no país no ano de 2016. Os/as jovens estudantes resistiram ao au-
toritarismo e ao neoliberalismo, articulando os problemas mais
imediatos do cotidiano escolar aos grandes temas nacionais. De-
ram uma verdadeira aula de resistência e organização.

R O D R I G O L I M A 45
2

A PRIMA VE RA SE CUN DA R I S T A

Ninguém tira o trono do estudar


Ninguém é o dono do que a vida dá
E nem me colocando numa jaula porque
sala de aula
Essa jaula vai virar

Dani Black

AS OCUPAÇÕES ENTRE O GLOBAL E O LOCAL


O movimento social, tal como o conhecemos hoje, é uma ex-
pressão da modernidade. Teve origem na Grã-Bretanha e nos Es-
tados Unidos, no final do século XVIII, fruto da exigência por
direitos e reconhecimento social, de segmentos da população que
não eram contemplados no processo de participação política, no
contexto da emergência da sociedade capitalista industrial e do
Estado Nação (Jasper, 2016). Os movimentos sociais podem ser
definidos em sua concepção mais ampla como:
[...] ações sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural
que viabilizam distintas formas da população se organizar e
expressar suas demandas. Na ação concreta, essas formas ado-
tam diferentes estratégias que variam da simples denúncia,

R O D R I G O L I M A 47
passando pela pressão direta (mobilizações, marchas, concen-
trações, passeatas, distúrbios à ordem constituída, atos de de-
sobediência civil, negociações etc.), até pressões indiretas. Na
atualidade, os principais movimentos sociais atuam por meio
de redes sociais, locais, regionais, nacionais e internacionais,
e utilizam-se muito dos novos meios de comunicação e infor-
mação como a internet (Gohn, 2015, p. 13).

É através da ação coletiva que surgem novas formas de organi-


zação, a incorporação de novos atores sociais e de novas pautas no
debate político mais amplo, produzindo inovações nas formas de
associativismo, o que, segundo Gohn (2015), reflete uma amplia-
ção do leque de atores sociopolíticos, que passam a atuar coletiva-
mente, esgarçando os campos e eixos temáticos de ação coletiva
na atualidade.
Os movimentos sociais na conjuntura histórica caracterizam-se
por mudanças qualitativas em sua forma de organização e atuação.
Tomando a contribuição de Gohn (2019), os novíssimos movimen-
tos sociais traduzem a forma de ação coletiva do século XXI, que se
baseia no uso das novas tecnologias para a comunicação e mobili-
zação; na horizontalidade do processo de decisão, sem a figura pro-
eminente de lideranças ou de direção bem definida; na autonomia
com relação a partidos políticos e ao Estado e na pluralidade em sua
composição e formação social.
Características que apareceram no processo de ocupação no
IFSC:
Então, depois que essa assembleia estudantil aprovou a ocu-
pação, meio que a gente teve uma autonomia organizativa. E
a gente definiu o principal espaço de deliberação, de reunião
que tinha era uma das assembleias diárias, elas aconteciam a

48
noite, elas sempre foram abertas assim, é claro que a gente
fazia ela a noite porque tinha algumas coisas que tinha que
discutir que era foda que todo mundo ouvisse assim, por
exemplo, o dia que a gente paralisou as aulas, não tinha como
a gente divulgar pra meio mundo um dia antes porque a gente
podia acordar de manhã com a polícia na nossa porta, então
a gente teve que fazer algumas táticas assim, mas o nosso ob-
jetivo nunca foi excluir ninguém do debate (Marcos, Campus
Florianópolis – Mauro Ramos).

Os movimentos sociais no século XXI apresentam diferenças


importantes em relação aos movimentos sociais clássicos, orga-
nizados a partir das lutas sindicais e da classe trabalhadora, com
uma estrutura organizacional mais verticalizada, e aos novos mo-
vimentos sociais, cujas pautas identitárias são o foco de mobiliza-
ção e ação coletiva, na luta por reconhecimento das identidades
coletivas (Touraine, 2011).
Após a crise econômica internacional de 2008/09, houve uma
profusão de movimentos de protestos e de contestação à ordem
política, econômica e social em diversas partes do globo.
Nas palavras de Safatle (2022), o século XXI está sendo mar-
cado por insurreições descentralizadas, que não obedecem a uma
linha de comando, ocorrem a partir de lutas amplas, que articu-
lam pautas diversas, indo desde a descolonização dos corpos até a
oposição às formas de exploração e espoliação do trabalho.
Para o autor, o século XXI “começou” em 2010 na periferia
global, a partir das lutas encampadas durante a Primavera Ára-
be. Teve seu início na ação dramática de Mohamed Bouazizi, um
trabalhador informal, que, ao ver seu pedido de devolução de seu
carrinho de fruta negado pelos agentes de segurança da Tunísia,

R O D R I G O L I M A 49
ateou fogo ao próprio corpo, sendo o estopim de protestos que
depois se expandiram para a maioria dos países árabes do Norte
da África e do Oriente Médio.
A conjuntura de crise do capital na segunda década do sé-
culo XXI fez explodir uma série de insurreições mundo afora.
Ainda que haja elementos de guerra híbrida, como a insurreição
EuroMaidan, na Ucrânia, modelo mais bem elaborado da ação
impulsionada por interesses geopolíticos do imperialismo esta-
dunidense, muitas das insurreições e revoltas tinham motivações
que surgiam do descontentamento popular, de setores da classe
trabalhadora e da juventude.
A primavera árabe, o occupy Wall Street, os indignados da
Espanha, as revoltas da praça Taksim na Turquia, manifestações
contra a austeridade em diversos países da Europa e as jornadas
de junho de 2013 no Brasil recolocaram no cenário as mobiliza-
ções, os protestos e os movimentos sociais.
Segundo Jasper (2016, p. 13), “os movimentos sociais são a
forma que o protesto assume com maior frequência no mundo
de hoje”. Eles se desenvolvem globalmente e carregavam algumas
características em comum:
[...] insurreições múltiplas, que ocorrem ao mesmo tempo, re-
cusam centralismo e articulavam, na mesma série, mulheres
egípcias que se afirmavam com os seios à mostra nas redes
sociais e greves gerais. A maioria dessas insurreições irá se de-
bater com as dificuldades de movimentos que levantam contra
si as reações mais brutais e deparam-se com a organização dos
setores mais arcaicos da sociedade na tentativa de preservar o
poder tal como ele sempre foi (Safatle, 2022, p. 8).

50
É nesse amplo processo internacional que podemos situar as
ocupações estudantis no Brasil. Que conseguiram, através das
pautas específicas do movimento, como o exemplo dos/as ocupas
do IFSC, criar espaços muito mais amplos do que eles poderiam
imaginar.
Teve muito o apoio dos sindicatos, da própria comunidade,
comunidade acadêmica do IFSC campus Chapecó. E dos sin-
dicatos também teve muita parceria, sindicatos dos bancários,
outros sindicatos, a associação de mulheres camponesas. Teve
muito auxílio, mas não foi o que nos sustentaram, a maior par-
ceria nossa era com a comunidade acadêmica, os professores
nossos, com a comunidade geral ali perto, com os amigos dos
ocupandos. Era assim que gente sobrevivia, mas ninguém fi-
nanciava nada (Luís Carlos, Campus Chapecó).

O que aproxima as ocupações da definição sobre os novíssi-


mos movimentos sociais e do conceito de atuação em rede, elabo-
rado por Manuel Castells:
Esses movimentos sociais em rede são novos tipos de movi-
mentos democráticos, movimentos que estão reconstruindo
a esfera pública no espaço de autonomia constituído em tor-
no da interação entre localidades e redes da internet, fazendo
experiências com as tomadas de decisão com base em assem-
bleias e reconstituindo a confiança como alicerce da interação
humana (Castells, 2013, p. 31).

Concepções que estavam presentes no movimento dos/as ocu-


pas, que tinham como um de seus princípios a decisão coletiva
e a democracia participativa direta no processo de discussões e
tomada de decisões:

R O D R I G O L I M A 51
Tudo que a gente fez foi sempre a partir de uma assembleia
estudantil que legitimou o movimento, não foi uma ocupação
que pegou e se impôs, ela foi convocada e foi deliberada pelos
estudantes (Marcos, Campus Florianópolis – Mauro Ramos).

Os/as estudantes aprofundaram a participação democrática,


subvertendo a lógica vertical e antidemocrática que muitas vezes
é adotada no seio das instituições de educação:
Se tinha que ser tomada uma decisão era feita uma assembleia
e chamado todos os estudantes, a gente divulgava nas redes
sociais, a gente passava em sala comunicando e era assim que
era tomadas as decisões. Nada em sem a participação de to-
dos os estudantes. E o voto sempre pela maioria (Luís Carlos,
Campus Chapecó).

As ocupações podem ser analisadas a partir das novas confi-


gurações de ação coletiva ao refletir as lutas sociais no âmbito da
educação, em especial o movimento estudantil, ao mesmo tempo
em que se articulou a uma vasta história de lutas e mobilizações
em torno da educação pública no país, elaborando criativamente
novas formas de luta e de organização.
Mas quem de fato, pelo menos ali no IFSC, eu posso dizer isso
com bastante garantia, quem articulou tudo foram militantes
de base, independentes, não tinha nem organizado nada, or-
ganização, né? Da organização, do planejamento anterior, sem
partir de um movimento, nada. Eu acho que isso pode dizer
que tiveram um monte de organizações, partidos que apoia-
ram, muito fortemente assim as ocupações. Eu destaco a orga-
nização que eu participava, a Juventude Comunista Avançan-
do também teve um papel importante nesse momento, mas eu
acho que principalmente foi esse apoio assim porque no sen-

52
tido de fazer a frente eu diria que foi muito mais dos próprios
estudantes vendo a importância daquele momento, vendo o
significado que aquilo a nível nacional tinha, e a importância
que a gente tinha no nosso local de estudo. Isso deu a maior
força, né? (Marcos, Campus Florianópolis – Mauro Ramos).

Segundo Marini (1970), a participação dos/as estudantes nas


lutas sociais é um fenômeno histórico na América Latina, que
apresenta, entre outras características, uma capacidade de mo-
bilização de massa e uma crescente consciência ideológica, que
remetem ao papel dos/as estudantes no processo de luta de clas-
ses mais amplo, assumindo um papel importante na correlação
de forças das lutas sociais em cada contexto nacional específico.
Capacidade de luta e de articulação política demonstradas na fala
do estudante do Campus Florianópolis:
Então, eu acho que de articulação política, de fato, o que a
gente mais avançou foi com as outras ocupações secundaris-
tas, principalmente. E com as da UFSC. Foi ali que de, de fato,
a gente tirou pessoas pra conversar, pra trocar uma ideia, pra
pensar em ações conjuntas. Fora isso, teve uma solidariedade
muito grande assim, de vários movimentos. O dia que a gente
paralisou as aulas, a gente tinha uma ameaça grande já, da
polícia, enfim, até de a direita tentar fazer alguma coisa contra
a gente e aquele momento teve uma solidariedade muito gran-
de, de todo movimento de esquerda da cidade, desde parla-
mentares, até pessoas do movimento sindical, pessoas do mo-
vimento estudantil, que estavam lá desde sete horas da manhã,
pra dar uma força pra gente assim. Então, essa solidariedade
existiu. A gente teve uma articulação com o próprio SINASE-
FE, no sentido de que, eles também foram muito solidários
com a gente (Marcos, Campus Florianópolis – Mauro Ramos).

R O D R I G O L I M A 53
No Brasil, o movimento estudantil tem um longo histórico de
mobilização e participação nas lutas gerais em defesa da educação,
dos direitos sociais e na disputa por projetos societários.
As primeiras formas de organização estudantis surgiram no
final do século XIX, com a criação da Federação dos Estudantes
Brasileiros em 1891. No início do século XX, em 1910, foi realiza-
do o I Congresso Nacional dos Estudantes, em São Paulo. Outro
marco importante no movimento estudantil brasileiro ocorreu em
1937, com a criação da União Nacional dos Estudantes (UNE),
entidade que incorporou as pautas dos universitários. No ano de
1948, foi criada a União Nacional dos Estudantes Secundaristas
(UNES), que teria o seu nome modificado no ano seguinte para
União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), como é
reconhecida até hoje. Mesmo sob forte questionamento dos mo-
vimentos de base em relação as suas capacidades de representar
os interesses dos/as estudantes, tais entidades tiveram uma im-
portante influência no processo de ocupação do IFSC, como foi o
caso do Campus Chapecó:
No Grêmio Estudantil do nosso campus, quem fazia parte tam-
bém fazia parte da UMES, União Municipal dos Estudantes
Secundaristas e que era também totalmente afiliada a UBES,
União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. Por exemplo,
a presidente do grêmio estudantil era suplente, se não me en-
gano ou fazia parte de algum cargo na UMES. Então, eu não
digo que o movimento influenciou a nossa ocupação, mas sim
que já estava ligado, já estava presente. O movimento que co-
meçou pela ocupação do IFSC campus Chapecó era o mesmo
que estava na UMES, na UBES, ou seja, em todo o território
nacional dessas entidades (Luís Carlos, Campus Chapecó).

54
Portanto, organizações estudantis como a UNE, a UBES e a
UMES, são fundamentais para compreender as características
do movimento estudantil brasileiro, tanto na história quanto na
atualidade. Sendo entidades verticalizadas, com forte aproxima-
ção a diferentes correntes político partidárias e com canais de ne-
gociação permanentes com o Estado, apresentam uma estrutura
e forma de organização que se aproxima do modelo clássico de
movimento social. Mesmo numa conjuntura marcada pela des-
confiança com os movimentos sociais tradicionais os/as ocupas
conseguiram estabelecer uma relação dinâmica com as entidades
históricas do movimento estudantil, por um lado questionavam
o modelo tradicional pela sua estrutura e modelo de organização
mais burocratizado, e por outro estabeleceram uma articulação
permanente com as diferentes “uniões dos estudantes”, o que de-
monstra a capacidade de articulação dos/as ocupas:
Teve bastante influência, de estudantes não existia em Ara-
ranguá né, mas tinha o apoio da UNE nacional nas ocupa-
ções, pelo menos era o que a gente naquele momento tinha
de informação né, porque a UNE apoiava tudo aquilo e de-
pois a gente foi acabar descobrindo e conversando um pouco
mais para entender a UNE, mas enfim dos estudantes era isso
mesmo. E algumas outras entidades começaram a entender a
manifestação e começaram a julgar que aquilo era importante
e começaram a vir a dar apoio né, e aí vieram conversar com
a gente, então vieram presidentes de outros sindicatos para
conversar com a gente para perguntar como estávamos e se
precisávamos de algo, aí também vieram pessoas de fora, até
mesmo ex-vereadores vieram aqui se disponibilizaram com
apoio jurídico, falaram “se precisar entender alguma coisa,

R O D R I G O L I M A 55
se vier alguém aqui com polícia algo do tipo para vocês não
ficarem à mercê sem saber o que fazer, a gente vai dar esse
apoio se vocês precisarem”, então a gente recebeu um apoio,
um apoio considerável que foi o que fez a gente conseguir ficar
um pouco mais de tempo aqui né, apoio de professores tam-
bém, que compactuavam, que acreditavam que aquela luta era
importante (José, Campus Araranguá).

O movimento estudantil caracteriza-se por uma composição


policlassista. Com a ampliação de vagas e de ofertas nas redes
públicas de ensino, em especial de educação profissionalizante, a
partir da criação e expansão dos IFs, em 2008, ampliou-se o alcan-
ce social de tais instituições, abrangendo setores historicamente
excluídos com dificuldades em ingressar e permanecer em espa-
ços de educação formal, como os/as estudantes oriundos da clas-
se trabalhadora e dos setores populares. Como veremos adiante,
os/as alunos/as em situação de vulnerabilidade social tiveram um
grande protagonismo na construção das ocupações.
Outro elemento marcante das ocupações estudantis, que as
articula aos movimentos sociais do século XXI, foi o uso das Tec-
nologias de Informação e Comunicação (TICs). As juventudes ti-
veram suas formas de sociabilidade profundamente impactadas
pelo uso da internet. Processo que ocorreu de forma heterogênea,
tendo em vista as desigualdades sociais e regionais que dificultam
o acesso às TICs a parcelas significativas da sociedade.
No caso dos movimentos dos ocupas, o uso de ferramentas
digitais foi um elemento importante na articulação e comunica-
ção na disputa pela opinião pública. O que tem relação com o que
Gohn (2019) define como o poder das redes, que vai além da mo-
bilização, tendo desdobramentos no caráter da ação coletiva, alte-

56
rando questões como a formação, articulação e mobilização dos
movimentos sociais na atualidade.
Então, a gente criou uma página no Facebook pra divulgar
todas as nossas ações. Foi bem seguida essa página até a gente
até não esperava o número. E em questão de WhatsApp, mais
pra nossa organização. A nossa maior rede de divulgação era
o Facebook, até por ser mais prático, e o WhatsApp era nossa
organização interna mesmo, tanto na ocupação, quanto rela-
cionado aos servidores que iam lá nos ajudar, Era mais, de
certa forma, mais fácil de se comunicar, e se não tivesse, por
exemplo, o Facebook ou a página, ninguém saberia nas nossas
ações. Então ali colocava tudo o que a gente fazia diariamente
ou durante a semana pra deixar assim, informação mais clara
pros alunos e pra comunidade ali fora (Marta, Campus São
Miguel do Oeste).

O uso das TICs e das redes sociais também serviu como im-
portante ferramenta de organização e articulação dos/as ocupas
em Chapecó:
Teve uma importância muito grande, a gente até percebeu as-
sim o erro de algumas ocupações de não usar a mídia, as redes
sociais ao seu favor. A gente tava todo dia, todo dia a gente
produzia material e postava na página, inclusive até alguns ví-
deos que a gente impulsionou com o YouTube com arrecada-
ção do nosso próprio dinheiro, pra levar pra mais gente, levar
pra comunidade geral. O que deu muito certo, a gente investiu
bastante em mídia, de fazer filmagens, fotos, enfim. O princi-
pal era o Facebook, pela nossa página do Facebook do grêmio
estudantil (Luís Carlos, Campus Chapecó).
O movimento de ocupações expressou diversas característi-
cas presentes nos movimentos sociais nas primeiras décadas do
século. Articulou-se com as ações coletivas desenvolvidas global-
mente, ao mesmo tempo em que esteve profundamente conecta-
do com a realidade do movimento estudantil do país, implemen-
tando novas táticas e repertórios de ação, renovando as formas de
luta, mas sem negar as entidades e construções históricas dos/as
estudantes brasileiros/as.

OCUPAR E RESISTIR: AS DUAS ONDAS


O ciclo das ocupações estudantis secundaristas que ocorreram
no Brasil entre os anos de 2015 e 2016 não foram um “raio em
céu azul”. Se insere em uma longa trajetória de lutas e mobiliza-
ções protagonizadas pelo movimento secundarista no país. Sem
entrar numa longa imersão histórica, pode-se retomar a criação
da UBES, em 25 de julho de 1948, como um marco das lutas pela
escola pública, gratuita e de qualidade no nível médio.
Estudantes que ao longo do século XX foram protagonistas
nas lutas pelo “Petróleo é Nosso”, na década de 1950; na Frente
de Mobilização Popular, no início dos anos 1960; na resistência
contra a ditadura empresarial-militar (1964-1985) e pela redemo-
cratização; no “Fora Collor”; nas lutas contra as privatizações nos
anos 1990; nas revoltas contra o aumento das passagens, como as
que ocorreram em Salvador (Revolta do Buzu – 2003) e Florianó-
polis (Revolta da Catraca – 2004 e 2005); além das mobilizações
populares de junho de 2013.

58
As ocupações também já faziam parte do repertório dos/as
estudantes brasileiros/as, mas se expressavam principalmente no
movimento estudantil ligado ao ensino superior. Ocupações de
reitorias, de universidades e faculdades são usadas de forma re-
corrente nas mobilizações universitárias. Os Grêmios Estudantis
também fazem parte do cotidiano das escolas públicas de ensino
médio no país e são uma “porta de entrada” de muitos militantes,
que iniciam seus primeiros passos de formação e organização po-
lítica a partir das organizações secundaristas.
A Lei do Grêmio Livre, de 1985, foi uma das principais con-
quistas do movimento secundarista no processo de redemocrati-
zação do país e segue sendo evocada como garantia de indepen-
dência dos/as estudantes em relação a governos e as direções de
escola. Ainda que haja uma narrativa que defenda a tese de “crise
de representatividade”, verificamos na pesquisa que esses espaços,
assim como os centros acadêmicos, tiveram um papel fundamen-
tal na articulação e organização dos/as ocupas.
Sim, na verdade a ocupação, ela se deu início pelo próprio
grêmio estudantil do IFSC campus Chapecó, na verdade a pre-
sidenta do grêmio deu a ideia e a gente foi se organizando até
surgir a primeira assembleia. Além do grêmio estudantil eu
participava também da Juventude Socialista. E bom, sempre
participei em protestos de esquerda e no caso, depois que eu
entrei no IFSC. Antes eu não tinha muito esse meio social aí
(Luís Carlos, Campus Chapecó).

A primavera secundarista, que eclodiu em meados da déca-


da de 2010, também estava articulada às lutas do movimento
estudantil internacional. Como apresentam Campos, Medeiros

R O D R I G O L I M A 59
e Ribeiro (2016), a experiência da “Revolución Pingüina”6, que
ocorreu em 2006 no Chile, foi uma referência para os/as ocupas
brasileiros/as.
Os/as estudantes chilenos haviam utilizado amplamente a tá-
tica da ocupação de escolas secundaristas numa mobilização que
envolveu milhares de jovens, na luta por educação pública e de
qualidade, no país que foi a grande referência na implementação
das políticas neoliberais na América Latina.
Influências internacionais e nacionais que se combinaram nas
ocupações de escolas. Conforme Groppo (2018), podemos enten-
der o ciclo das ocupações secundaristas a partir de duas ondas. A
primeira teve seu início com as ocupações das escolas do estado
de São Paulo, em novembro de 2015, e duraram até julho de 2016.
Elas foram desdobramento das lutas contra o projeto do então
governador Geraldo Alckmin (PSDB) de “reorganização escolar”,
que, por trás de um discurso gerencialista e autoritário, previa o
fechamento de 94 escolas públicas, que resultaria na transferência
de 300 mil alunos.
A resposta inicial foi um movimento que priorizou os pro-
testos de rua entre setembro e novembro daquele ano e que deu
o salto para o processo de ocupação de escolas a partir do dia

6 Os estudantes secundaristas chilenos são chamados de “pinguins” em


referência ao uniforme escolar utilizado. No ano de 2006, eles protagonizaram
uma mobilização massiva, que resultou em marchas, manifestações e ocupações
de escolas que ocorreram por todo o país. O movimento ganhou adesão de
pais e de outros movimentos sociais e abalou o governo da então presidenta
Michelle Bachelet. A “Revolta dos Pinguins” reivindicava desde melhorias
nas estruturas das escolas, passando pela exigência da gratuidade do exame
vestibular e do transporte público, até uma mudança estrutural no sistema
educacional chileno. O movimento foi documentado pelo cineasta Carlos
Pronzatto, no filme “A revolta dos pinguins” de 2015.

60
09 de novembro, tendo como marco a Escola Estadual Diadema,
na região Metropolitana de São Paulo, primeira a ser ocupada. A
partir dessa ação, mais de 200 escolas foram ocupadas no estado.
O que se converteu em referência para estudantes de outras redes
estaduais, que também passavam por processos de precarização e
passaram a utilizar da mesma tática:
Eu lembro que em 2015 já tinha começado a ter umas ocu-
pações em São Paulo e eu fiquei muito fascinada com isso,
tava querendo me desligar da licenciatura por motivos que eu
tenho um pouco de preguiça do sistema acadêmico, de como
funciona a educação no Brasil, tava sempre em conflito se eu
queria abraçar essa luta ou não, e quando eu vi as manifesta-
ções estudantis eu falei “nossa, acho que existe uma luz” [...]
energia nova nessa movida para mudar a educação no país.
Fiz as malas e vim pra São Paulo na época de 2015 quando
começaram essas primeiras ocupações, ainda era outra pauta,
não eram as mesmas de 2016 (Bianca, Campus São José).

Como um rastilho de pólvora, o movimento expandiu-se pelo


país, com ocupações ocorrendo em estados como Goiás, Mato
Grosso, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. A pri-
meira onda teve como característica mobilizações centradas em
escolas públicas estaduais que ofertavam Ensino Médio e tinham
como pauta debates e pautas estadualizadas, ainda que o processo
de precarização e de aprofundamento de políticas neoliberais na
educação tivessem uma articulação nacional.
A segunda onda, na qual se insere o movimento realizado no
IFSC, teve duração mais curta, entre os meses de outubro e de-
zembro de 2016, mas com uma pauta nacional, que contribuiu
para a sua unificação e nacionalização, perpassando as escolas

R O D R I G O L I M A 61
públicas estaduais, abrangendo os institutos e universidades fe-
derais e chegando a repercutir em algumas instituições de ensi-
no privado.
O foco da segunda onda era o protesto contra a Reforma do
Ensino Médio imposta pelo governo Temer, que entrou em vigor
em 23 de setembro de 2016, via Medida Provisória, sem nenhum
debate com os diferentes segmentos da educação, e contra o en-
tão projeto de Teto de Gastos, que propunha (como acabou por
se concretizar) cortes substanciais no orçamento, por vinte anos,
para as áreas sociais, incluindo a educação pública. Outro elemen-
to importante de mobilização foi a resistência contra a ofensiva do
Movimento Escola Sem Partido (MESP).
As ocupações de escolas ocorreram em 22 estados, em todas as
regiões do país. Além de terem impulsionado greves de trabalha-
dores/as da educação, que também se opuseram à agenda ultrali-
beral implementada pelo ilegítimo governo Temer.
As ocupações alinharam-se a movimentos por direitos en-
cabeçados por setores da juventude radicalizada dos grandes
centros urbanos, que tinham como formas de organização a au-
togestão, a horizontalidade, uma certa recusa às formas tradi-
cionais de organização e um sentimento apartidário. O que não
se refletiu integralmente entre os/as estudantes que protagoni-
zaram as ocupações no IFSC. Pois eles não negavam a política,
buscando garantir a autonomia, ao mesmo tempo em que esta-
beleciam uma relação muito articulada com outros movimentos
sociais e partidos políticos de esquerda, conforme as especifici-
dades e características regionais.

62
Então a gente estava muito com essa questão da autonomia
mesmo. A partir do momento que você coloca uma bandei-
ra, você já está levando pautas que não eram as pautas que
a gente estava querendo carregar, que era uma coisa bastan-
te específica, assim, então a gente não permitiu essa entrada,
mas certamente que a gente trocou várias figurinhas, tivemos
apoio assim, logístico né, de outras organizações estudantis e
de outras ocupações também (Bianca, Campus São José).

Os movimentos sociais no Brasil foram incorporando e atuali-


zando uma série de repertórios de luta no decorrer do século XXI.
No que Tavares e Veloso (2019, p. 103) chamam de “emergência
de uma nova realidade no confronto transgressivo brasileiro”, com
táticas que passavam pela ocupação de prédios públicos, marchas
ligadas a temas como a legalização da maconha e os direitos das
mulheres, campanhas em redes sociais e aplicativos via internet,
atuações culturais de caráter contestatório, através de interven-
ções nos espaços urbanos, pelo surgimento de diversos coletivos,
que se sustentaram em práticas e conceitos horizontalistas e mo-
vimentistas.
Esse acúmulo influenciou diretamente as ações coletivas que
explodiram durante a década de 2010, que confrontavam e muitas
vezes rejeitavam as formas tradicionais de organização, como os
sindicatos e os partidos políticos.
Conflitos que também ocorreram no contexto das ocupações,
que criaram uma relação ambígua com movimentos e organiza-
ções “externas”, ao mesmo tempo que mantinham vínculos e pos-
sibilitavam a entrada de apoiadores, procuravam sua autonomia,
com a centralidade nas decisões coletivas dos/as estudantes. Re-
lações que estiveram presentes no processo de ocupação do IFSC.
As ocupações serviram como um espaço de produção de no-
vas formas de sociabilidade e educação. Um laboratório político e
pedagógico, que, ao subverter a dinâmica e disciplina escolar, deu
vez e voz a grupos esquecidos, silenciados e reprimidos.
No Brasil dos anos 2010, com a ascensão da pauta conservado-
ra, alguns dos alvos dos grupos de extrema direita foram a popula-
ção negra, os pobres, as mulheres e a comunidade LGBTQIAPN+.
Conforme aponta Moresco (2019), debates sobre sexo, gênero
e sexualidade já era um tema ausente de muitos currículos escola-
res no Brasil. Mas com o avanço da campanha contra a “ideologia
de gênero” pautada por grupos fundamentalistas religiosos, edu-
cadores e estudantes que procuravam tratar sobre temas relacio-
nados à diversidade eram perseguidos por organizações como o
MBL e o MESP. Foi nesse contexto que as mulheres e as pessoas
LGBTQIAPN+ construíram seu protagonismo nas ocupações:
Corpos que não importam para a tradicional sociedade que
vive sustentada em seus pânicos morais sobre as questões de
gênero e de sexualidade ocuparam o fronte do mais expressivo
movimento estudantil da história do país: as ocupações secun-
daristas (Moresco, 2019, p. 271).

As mulheres tiveram um grande protagonismo, levando deba-


tes de gênero para dentro das ocupações, como uma das agendas
centrais do debate estudantil. Numa conjuntura na qual o conser-
vadorismo avançava sob a bandeira de combater a “ideologia de
gênero” nas escolas, as ocupas posicionavam-se de forma contun-
dente pelos direitos das mulheres.
Mas eu acho que um aspecto que se sobressai aí é que tinha
um protagonismo grande das mulheres aí, desde a organiza-
ção. Eu acho que várias pessoas que foram centrais pra con-

64
dução do ato eram mulheres, e várias delas se colocavam nos
espaços e etc. Às vezes existia um medo muito grande de o
pessoal falar, do pessoal se colocar, e às vezes me chutavam
a bunda pra ir fazer as falas porque tinham medo assim, de
algumas coisas, até porque eu era mais velho também, já era
militante organizado meio que já tinha que ter essa responsa.
Mas as mulheres, de fato, tiveram um papel muito importante
no processo de ocupação, sim (Marcos, Campus Florianópolis
– Mauro Ramos).

O que também se expressou no protagonismo da comunidade


LGBTQIAPN+ no movimento das ocupações, como expressa o
relato abaixo:
[...] tinha poucos heterossexuais assim, mas não gosto muito
de falar porque a galera chama a gente de heterofóbica, então,
né? Mas tinha uma galera bem bacana do LGBT assim, inclu-
sive teve até umas oficinas e tal. Não que hétero não pudesse
participar, mas essa galera aí por ser uma minoria talvez rolou
uma empatia (Manuel, Campus Palhoça).

Estudantes excluídos dos debates e dos espaços institucionais


levaram para dentro dos Campi questões relacionadas a temas
como gênero, livre orientação sexual, antirracismo, antifascismo,
anticapacitismo, contrapondo-se aos ataques do capitalismo ne-
oliberal contra os/as trabalhadores/as e a educação pública. Uma
série de pautas que se apresentavam urgentes para grupos sociais
historicamente excluídos e que não eram totalmente contempla-
das dentro do IFSC. A proliferação de espaços de formação que
levavam em consideração questões urgentes para o movimento
estudantil expôs os limites de uma educação profissional que não
atendia as demandas por uma educação integral.

R O D R I G O L I M A 65
3

O QUE SÃO OS
INSTITUTOS FEDER A I S ?

A escola refletiu sempre o seu tempo e não


podia deixar de refleti-lo; sempre esteve a
serviço das necessidades de um regime
social determinado e, se não fosse capaz
disso, teria sido eliminada como um
corpo estranho inútil.

M.M. Pistrak

OS INSTITUTOS FEDERAIS DE EDUCAÇÃO,


CIÊNCIA E TECNOLOGIA
O processo de criação e expansão dos IFs ocorreu durante o
ciclo de governos petistas (2003-2016), sob o contexto de um re-
formismo de baixa intensidade adotado na elaboração das políti-
cas públicas no período. Os governos de Lula e Dilma, conforme
Singer e Loureiro (2016), tiveram como característica um maior

R O D R I G O L I M A 67
protagonismo do Estado brasileiro, atuando sob um pacto entre
as classes sociais, que pode ser compreendido da seguinte forma:
Beneficiado pelo boom das commodities, o reformismo fra-
co dos governos petistas, apesar de não romper de maneira
radical com o padrão estabelecido desde a Nova República,
retomou a partir de 2003, de maneira diluída, aspirações der-
rotadas em 1964. Conseguiu reduzir desigualdades, sobre-
tudo por meio da política de aumento do salário-mínimo e
de expansão do emprego, mas também mediante programas
específicos, dos quais se poderia destacar o Bolsa Família, o
apoio à pequena agricultura, o subsídio à moradia popular e a
facilitação do acesso à universidade às camadas de baixa ren-
da, entre outros. Ao mesmo tempo, na medida em que buscou
avançar sem fazer transformações estruturais – seja no plano
dos direitos, seja no da economia ou da ideologia –, a segunda
experiência desenvolvimentista caracterizou-se pela extrema
ambiguidade (Singer; Loureiro, 2016, p. 12).

No bojo de tais ambiguidades, as reformas na educação profis-


sional implementadas refletiram as contradições nos projetos de
EPT. Na análise de Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005), as mudan-
ças ocorridas na política de EPT nos primeiros anos dos governos
petistas sinalizavam para um processo conturbado.
Partiram do incremento de propostas como a inclusão social,
o desenvolvimento social e local, além da formação integrada e da
indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão, apontan-
do para a consolidação de uma política educacional profissional
desenvolvida em outro patamar (Frigotto; Ciavatta; Ramos, 2005).
Mas o que se revelou foi, por um lado, a tentativa de superar
a visão neoliberal e neoconservadora de formação profissional vi-

68
gente durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-
2002), que aumentou as desigualdades em relação às trajetórias
educacionais, com a implementação de políticas que reforçaram
a dualidade estrutural. Por outro, os governos do PT mantiveram
alguns princípios e práticas da política anterior, como a visão de
ensino médio profissional e técnico enquanto medida compensa-
tória, compreendendo a profissionalização como processo espe-
cífico e independente da educação geral (Ramos; Ciavatta, 2011).
Contradições que também se expressaram em políticas que
visavam uma maior presença do Estado na oferta de EPT, tendo
como exemplo a criação e a expansão dos IFs, o que ocorreu de
forma combinada com o investimento e transferência de recursos
públicos para instituições privadas:
No âmbito da educação profissional, técnica e tecnológica,
centro de grandes disputas na Constituinte, na LDB e no PNE
em prol de uma concepção não adestradora e tecnicista e de
sua vinculação jurídica e financiamento públicos, esta foi-se
constituindo na grande prioridade da década, sem alterar,
todavia, seu caráter dominantemente privado. Certamente, a
opção pela parceria do público com o privado não favorece a
reversão da dualidade educacional. Pelo contrário, como de-
monstra Cunha (2005), a tendência, desde a década de 1980,
era de ampliá-la para o ensino superior. A transformação da
Rede de Escolas Técnicas Federais em Centros Federais de
Educação Tecnológica (CEFETS) e, nesta década, em uni-
versidades tecnológicas ou Institutos Federais de Educação,
Ciência e Tecnologia (IFETS), confirma tal tendência. Do
mesmo modo, não ajuda a reverter o caráter dominantemente
privado e a apropriação privada de recursos públicos na área
(Frigotto, 2011, p. 46).

R O D R I G O L I M A 69
A ocupação estudantil no contexto de uma instituição que
oferta EPT refletiu a preocupação dos/as estudantes em questio-
nar um modelo de educação que se sustentava na formação tecni-
cista, e que não avançou o suficiente na formação integral, reve-
lando uma certa distância entre as concepções que referenciam os
projetos pedagógicos e as práticas educacionais no seio do IFSC:
E eu acho que a própria questão do conhecimento profissional
tá muito afetado por isso assim. Eu vejo que enquanto eu tava
formando em técnico algumas vezes a gente reproduz uma
certa imbecilidade nas nossas relações sociais, ou fica muito
no aspecto técnico, não entender o que é uma relação de pes-
soas, o que é trabalhar, o que significa o trabalho, porque a
gente acabou discutindo muito isso, o que que essa juventude
trabalhadora ou o que que o futuro tá esperando da gente, o
que que o Temer quer fazer com o nosso futuro, por que ele
quer fazer isso? Eu acho que isso permitiu que a gente fizesse
alguns debates sobre a própria condição de trabalhador que
me fizeram refletir bastante, até porque eu acho que depois
daquilo ali, várias experiências profissionais que eu tive as-
sim, eu me vi muito mais preparado pra lidar com aquilo que
eu tava lidando, muito menos iludido, e muito mais disposto
a entender aquilo, e entender como eu conseguia, enfim, tá
ali, eu ainda consegui tocar uma militância política por aqui-
lo que eu acreditava que deveria acontecer (Marcos, Campus
Florianópolis – Mauro Ramos).

Os Institutos foram criados em 2008, durante o segundo man-


dato de Luís Inácio Lula da Silva (2007-2010). Porém, sua origem
histórica remonta às Escolas de Aprendizes e Artífices concebidas
em 1909, no Governo de Nilo Peçanha. Portanto, a nova institu-

70
cionalidade dos IFs ocorreu a partir de uma escola tradicional, na
época, prestes a completar cem anos de existência. Uma relação
ambígua entre velhas e novas práticas de educação profissional,
que colocadas em conflito geraram novas sínteses e contradições.
Como afirma Cichaczewski:
O aspecto mais evidente nas dificuldades, quando do esta-
belecimento de uma nova institucionalidade a partir de ins-
tituições já existentes é, sem dúvida, o inevitável conflito do
novo com o velho. No caso dos IFs, algumas das instituições
que lhes deram origem já tinham quase um século de his-
tória, com práticas administrativas e pedagógicas que, além
não dialogar com o novo modelo, em alguns casos, eram
diretamente conflitantes, de forma que a sobrevivência do
novo estava condicionada à negação completa do velho (Ci-
chaczewski, 2020, p. 70).

Este contexto colocou desafios muito particulares às ocupa-


ções no contexto dos IFs, nas quais os/as estudantes tinham que
inovar nas formas de organização e luta, dentro de uma institucio-
nalidade recém estabelecida, que, em alguns casos, contava com
movimento estudantil organizado há décadas, convivendo com
campi nos quais a organização dos/as estudantes era muito recen-
te. Isso, sem contar as especificidades, como a sua capilaridade e
dispersão territorial, que fazem com que a organização estudantil
seja muito mais complexa e difícil no interior dos IFs.
Os IFs são instituições de educação superior, básica e profis-
sional, pluricurriculares e multicampi, especializados na oferta de
EPT, nas diferentes modalidades de ensino, com base na conjuga-
ção de conhecimentos técnicos e tecnológicos com as suas práti-
cas pedagógicas (Brasil, 2008).

R O D R I G O L I M A 71
Há diversidade na oferta de modalidades de ensino nos IFs.
Entre as modalidades, estão cursos de formação inicial e conti-
nuada; cursos de educação profissional técnica de nível médio; de
educação superior, como os cursos superiores de tecnologia, de
licenciatura, de bacharelado e engenharia e cursos de pós-gradua-
ção lato sensu, de aperfeiçoamento e especialização, e stricto sen-
su, de mestrado e doutorado. Apesar deste amplo leque de trajetó-
rias formativas, os IFs têm uma clara orientação para a educação
básica, sendo obrigatória a oferta de, no mínimo, 50% das vagas
para a educação profissional técnica de nível médio, prioritaria-
mente na forma integrada (Brasil, 2008).
Desde 2008, os IFs passaram por um processo intenso de ex-
pansão e interiorização. As concepções hegemônicas de educação
– todas elas pró-capitalistas – estão bem presentes no modelo de
expansão e interiorização dos IFs. Apesar de um forte discurso
oficial que buscou projetar e legitimar a expansão sob as bandeiras
da “inclusão” e do “desenvolvimento social”, o impulso real das
políticas organizadas em torno dos IFs estava pautado no senti-
do de atender às demandas do capital monopolista, que havia in-
tensificado o processo de interiorização no país, em busca do au-
mento das taxas de exploração do capital sobre o trabalho (Lima;
Magalhães, 2015).
Os IFs refletiram no campo da EPT as contradições presentes
no projeto petista. Que se revelaram a partir de alguns fatores:
• da expansão de campi e unidades, convivendo com a pre-
carização;

• de novas perspectivas de estudo para os/as trabalhadores/


as (e filhos/as de trabalhadores/as), em um contexto de
desindustrialização e precarização do mundo do trabalho;

• da inclusão de setores da classe trabalhadora, a partir da


ampliação de oferta de vagas para educação profissional,
concomitante com a insuficiência de recursos para assis-
tência estudantil, acarretando problemas na permanência
e êxito;

• da implementação do currículo integrado, convivendo


com a presença de empreendedorismo na formação dos/
as estudantes;

• da ampliação das vagas na EPT pública, mas que se revela-


ram insuficientes para suplantar a hegemonia do Sistema
“S”;

• da incorporação de servidores via concurso público acom-


panhada do aumento do número de trabalhadores/as ter-
ceirizados/as nas unidades de ensino.
A nova institucionalidade criada com o advento dos IFs sub-
meteu-se à permanência, nas políticas de educação profissional,
de uma concepção de educação predominantemente voltada para
produção de recursos humanos, o que se relaciona à própria con-
dução da política econômica do país, fortemente pautada pelo
processo de modernização capitalista, formação contra a qual os/
as estudantes se sublevaram:
O que a gente tentou foi, nesse tempo que a gente tava lá, foi
transformar o IFSC em tudo aquilo que a gente achava que
ele deveria ser, fazer todas as discussões que a gente achava
que o IFSC não fazia, trazer todas as atividades culturais que a

R O D R I G O L I M A 73
gente achava que o IFSC não proporcionava pros estudantes,
fazer os espaços de integração que eram tão raros, enfim, a
gente fez um baita trabalho pra fazer isso, desde exposições,
de fotografia, de pintura, de design, mesas de debate, rodas de
conversa, cine debate, shows, apresentações musicais, a gente
fez uma programação muito completa, muito completa mes-
mo assim, chegou ao ponto de a gente não conseguir classifi-
car todas elas, de tanta coisa que tinha pra fazer. Mas foi meio
que a tática que a gente tentou usar assim, fazer o máximo de
espaços que a gente conseguia, considerava que eram bons,
que eram interessantes, que a gente iria ver se a gente tivesse
passando pelo IFSC, e proporcionar isso assim. Se empenhar,
e usar nosso tempo ali pra isso (Marcos, Campus Florianópo-
lis – Mauro Ramos).

Os IFs inserem-se, portanto, no contexto de formação da força


de trabalho submetida à lógica do capital, formando-a para o tra-
balho nos estreitos limites das demandas provenientes das gran-
des empresas em suas respectivas áreas de influência (microrregi-
ões, arranjos produtivos locais) (Lima; Magalhães, 2015).
Essa mesma lógica sustenta uma formação pedagógica pau-
tada pelas competências e habilidades. Conceitos que buscam
atender à flexibilização e precarização do trabalho, pois elas são
pautadas pelas necessidades do mercado e não pelas demandas
dos/as trabalhadores/as. Na contramão das perspectivas tecni-
cistas e de uma educação subsumida aos interesses do merca-
do, as ocupações buscaram criar outras formas de sociabilidade
no interior dos Campus, implementando práticas de ensino e
aprendizagem baseadas numa perspectiva humanista e na for-
mação pelo trabalho:

74
Olha, é difícil colocar uma coisa só, foram aprendizados muito
subjetivos, mas eu confirmei várias das minhas teses que eu
já tinha na mente tendo licenciatura, que eu sempre critiquei
muito o processo burocrático de educação no Brasil, eu não
concordo com basicamente nenhum desses formatos que a
gente tem né, de sala de aula e professor, acho que está tudo
muito obsoleto mesmo, a gente tá em pleno século 21, e a gen-
te tem um modelo educacional nosso baseado nos Jesuítas,
é muito obsoleto. Então eu vejo que eu consegui confirmar
na prática, assim, que existem outras formas muito eficaz de
se educar. Como eu disse, eu tava na comissão de alimenta-
ção e eu sinto que eu dei aulas incríveis de química ali dentro
daquela cozinha, com resultados efetivos. Durante a ocupa-
ção teve o ENEM e eu lembro que na segunda-feira que teve
ENEM, teve uns dois ou três alunos ali do nosso campus que
vieram me agradecer de alguma conversa informal que a gente
teve na cozinha que caiu na prova de química aquela conversa,
e eles conseguiram ter essa assimilação, conseguiram de fato
acertar uma nota no ENEM por causa de uma conversa que a
gente estava ali, brincando e picando uma batata na cozinha, e
eu explicando porquê de a Batata, sei lá, mudar de cor. Então
assim, eu vejo que a gente consegue lincar muito mais os sabe-
res científicos, tendo uma vivência, uma convivência com os
estudantes, com os alunos (Bianca, Campus São José).

Os/as ocupas trouxeram, com seu movimento, uma forte crí-


tica ao avanço de um modelo de educação neoliberal pautado por
conceitos de empreendedorismo, empresas júnior e incubadoras
de empresas, que estão presentes em projetos pedagógicos dos
cursos e no processo formativo dos/as estudantes. Estas noções
de educação associam-se às mudanças presentes no mundo do

R O D R I G O L I M A 75
trabalho e estão submetidas a uma lógica de expropriação e de
retirada dos direitos sociais e trabalhistas conquistados à custa de
um longo processo histórico de lutas.
Tudo isso, contudo, não se afirmou sem resistência. Servidores
e estudantes protagonizaram grandes enfrentamentos, exigindo
mais investimento e efetiva democracia interna, condições para a
implementação de uma outra tônica à expansão, não submissa aos
interesses empresariais.
Além disso, travaram-se lutas e resistências nos campi dos di-
ferentes IFs, enfrentamentos produzidos pela crescente insatisfa-
ção com o modelo até então concretizado. Nas ocupações, os/as
estudantes procuraram criar espaços que não havia no currículo
ou que eram reduzidos no cotidiano dos campi:
Então, a gente fazia muita oficina, a gente tentava buscar fora
algo que fosse diferente do que a gente sempre tinha em sala
de aula. Então a gente proporcionava oficinas sobre, porque
como a gente tem tecnologia de alimentos, a gente buscava
fora alguém que fosse relacionado a alguma área do curso pra
trazer algo diferente, então a gente fazia palestras, a gente fazia
oficinas práticas, tanto se pintura, sabe, algo mais diversifica-
do do que em sala de aula, enquanto a gente tava na ocupação,
isso era fora do horário de aula, enquanto estava na ocupa-
ção a gente fazia isso e planejava o que as gente ia fazer nos
próximos dias e ficava esperando os resultados também né,
da mobilização que a gente tava fazendo (Marta, Campus São
Miguel do Oeste).

Após o golpe judicial-midiático-parlamentar de 2016, a agen-


da neoliberal foi aprofundada pelo governo ilegítimo de Michel
Temer (MDB), alicerçada no programa “Ponte para o Futuro”, e

76
passou a desestabilizar os IFs, pela perspectiva do avanço da agen-
da de privatizações, combinada com os cortes orçamentários, que
ameaçavam principalmente a permanência e o êxito dos/as estu-
dantes em situação de vulnerabilidade social. O que levou à acele-
ração da precarização e do sucateamento das Universidades e IFs.
O cenário tornou-se ainda mais devastador com a implemen-
tação de uma agenda ultraliberal na economia do país, visando
o avanço do desmonte do Estado, que, na educação pública, teve
como um de seus pilares o projeto de destruição da pesquisa, da
ciência e do pensamento crítico. No caso dos IFs, o interesse do
empresariado está relacionado exclusivamente com a formação de
uma força de trabalho que possa atender às demandas do capital
por extração de mais-valia.
A capilaridade dos institutos, presentes em mais de quinhen-
tos municípios brasileiros, reflete a política pública de expansão
da educação superior, profissional e tecnológica formulada pelo
MEC durante os governos petistas. Novos campi foram alocados
em regiões pobres, com baixo grau de desenvolvimento econô-
mico e social, nas periferias de grandes cidades, e em cidades de
pequeno e médio porte. Regiões onde dificilmente seria possível
algum tipo de interesse em financiamento por parte da iniciativa
privada. Essa nova dinâmica teve efeitos na organização do movi-
mento estudantil, que se interiorizou e se desenvolveu a partir de
dinâmicas de luta regionais. No caso do IFSC, campus do interior
tiveram grande protagonismo nas ocupações e foi a base estudan-
til relacionada aos/às estudantes de baixa renda que impulsionou
a resistência contra as políticas de austeridade e autoritárias que se
aprofundaram após o golpe de 2016.

O INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA (IFSC)


A história da educação profissional de nível médio em Santa
Catarina remonta ao início do século XX, quando da criação, por
parte do Governo Federal, das Escolas de Artífices e Aprendizes
durante a presidência de Nilo Peçanha. No ano de 1910, instalou-
-se em Florianópolis a primeira unidade de educação profissional,
denominada Escola de Artífices e Aprendizes de Santa Catarina.
Essa iniciativa procurava atender basicamente dois tipos de
demandas: por um lado, proporcionar uma profissão para estu-
dantes oriundos dos setores mais desfavorecidos da população,
revelando o caráter assistencialista desta política; e, por outro,
atender as necessidades do processo de urbanização e do ainda
incipiente e débil setor produtivo organizado na capital do estado.
Esta experiência ficou restrita a Florianópolis e demorou a
ser replicada em outras cidades, o que só veio a ocorrer no ano
de 1988, quando da inauguração da primeira unidade de ensino
profissional federal fora da capital, no município de São José, na
Grande Florianópolis. A falta da expansão de unidades para o in-
terior, por quase todo o século XX, mostra certa desconexão das
políticas federais de formação profissional e técnica com o desen-
volvimento socioeconômico de Santa Catarina.
Com relação às escolas de formação profissional organizadas
pelo poder público federal, observa-se uma série de modificações
ao longo do tempo. A antiga Escola de Artífices e Aprendizes foi
substituída em 1937, passando a chamar-se Liceu Industrial de

78
Florianópolis. No ano de 1942, no contexto da reforma Capane-
ma, recebeu a denominação de Escola Industrial de Florianópolis.
Após a promulgação da LDB de 1961, novamente outra mudança
na denominação para Escola Industrial Federal de Santa Catarina,
em 1962. Durante a Ditadura Militar, recebeu o nome de Esco-
la Técnica Federal de Santa Catarina, em 1968. Em 2002, trans-
formou-se em Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa
Catarina (CEFET-SC) e, a partir de 2008, passou a denominar-se
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Ca-
tarina (IF-SC) (IFSC, 2009).
Um novo ciclo de expansão voltou a ocorrer no início dos anos
2000 com o advento do Centro Federal de Educação Tecnológica
de Santa Catarina (CEFET-SC) e a construção de unidades, no
ano de 2006, nas cidades de Chapecó, Joinville, na parte continen-
tal de Florianópolis e, em 2008, na cidade de Araranguá.
A partir de 2008, com a promulgação da Lei nº 11.892, que
criou os IFs, Santa Catarina passou por um novo momento de
expansão e de ampliação de unidades e cursos em diferentes ci-
dades de seu território. O Estado conta atualmente com 22 campi
do IFSC. Os primeiros a serem criados foram, cronologicamen-
te, Florianópolis (1909), São José (1988), Jaraguá do Sul (1994),
Florianópolis Continente, Joinville e Chapecó (2006) e Araranguá
(2008). No processo denominado Expansão II, foram criados tre-
ze campi, que passaram a operar a partir das seguintes cidades:
São Miguel do Oeste, Canoinhas, Criciúma, Gaspar, Lages, Itajaí,
Palhoça, Xanxerê, Caçador, Urupema, Jaraguá do Sul (Geraldo
Weninghaus), Garopaba. O último movimento de expansão ocor-
reu em 2015 com a criação dos campi em São Carlos, Tubarão, e o
Campus Avançado São Lourenço do Oeste, ligado ao Campus São

R O D R I G O L I M A 79
Miguel do Oeste.
Os IFs, em sua organização, fazem parte da Rede Federal, vin-
culada diretamente ao Ministério da Educação. São definidos le-
galmente como autarquias, possuindo autonomia administrativa,
patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar.
A nova institucionalidade criada em 2008 e a capilarização do
IFSC no território catarinense, através dos processos de expansão,
colocou desafios para a organização do movimento estudantil,
tendo em vista que nos campi criados não havia uma cultura de
organização estudantil anterior, que pudesse orientar os/as estu-
dantes ingressantes.
Além disso, a oferta de cursos de forma verticalizada, com a
convivência de grêmios estudantis e centros acadêmicos no mes-
mo campus, colocava desafios para a unificação entre pautas de
níveis educacionais diferentes. As ocupações cumpriram um pa-
pel fundamental na organização estudantil:
[...] mas a minha maior motivação pra tá dentro da ocupação
foi de plantar uma semente, que eu tenho muita certeza de
que todo mundo que passou por ali foi transformado. Todas
as pessoas que passaram ali dentro, passaram por processos
de transformações mesmo, enfim, desculpa, eu me emociono
porque foi realmente muito forte, e eu vejo que vários Cam-
pus que fizeram ocupação, que não tinham Grêmio agora já
tem. Houve uma retomada dos grêmios, que tinham muito
Grêmio dentro do IFSC que não tinham muito viés político
mesmo, assim, e eu consigo sentir essa tomada de posição. Eu
vejo que tem vários Campus que as pessoas que participaram
da ocupação agora estão participando dos centros acadêmicos
e dos grêmios específicos e eu fico muito feliz de ver que as

80
pessoas que participaram dessa vivência tão levando isso pra
frente. Enfim, no cenário de lutas que estão por vir ainda né,
foi muito importante mesmo brotar essa sementinha, eu acho
que elas tão aí ainda e vão nascer ainda, eu acho que a gente
ainda vai ver muito fruto desse movimento de 2016, não só
em Santa Catarina, mas no Brasil inteiro. Eu acho que a gente
ainda vai ver muito disso aí, por aí (Bianca, Campus São José).

Outro desafio enfrentado pelos/as estudantes é que o IFSC não


conta com um Diretório Central dos Estudantes (DCE), que arti-
cule os centros acadêmicos organizados nos campi. Ainda que os/
as estudantes tenham participação nos espaços de colegiados dos
IFSC, como o CONSUP e o CEPE, estes espaços não cumprem o
papel de articulação das lutas e pautas estudantis. Mesmo com es-
tas dificuldades e os desafios colocados pelo arranjo institucional
do IFSC, os/as estudantes conseguiram estabelecer novas redes de
articulação e organização que foram potencializadas pelo movi-
mento de ocupações de 2016.
Para entendermos o movimento, é importante traçarmos um
panorama do perfil socioeconômico dos/as estudantes do IFSC
em 2016, que naquele ano contava com 35.607 estudantes ma-
triculados. Destes, 15.477 cursavam cursos de formação inicial e
continuada (FIC), 14.118 estudavam em cursos técnicos de nível
médio (nas modalidades integrada, subsequente e concomitante),
2.363 em cursos de Tecnologia, 1.023 em cursos de especializa-
ção, e na graduação 2.142 estudavam bacharelado e 429 cursa-
vam licenciatura. Na pós-graduação stricto sensu, 85 estudantes
frequentavam o Mestrado Profissional (DEIA/IFSC).
Naquele ano, a Reitoria era comandada pela Prof.ª Dr.ª Maria
Clara Kaschny Schneider, que foi primeira Reitora eleita da insti-

R O D R I G O L I M A 81
tuição (já que antes da criação do IFSC o cargo máximo no CEFE-
T-SC era o de diretor/a), tendo sido conduzida ao cargo pela pri-
meira vez em 2011 e reeleita em 2015, para um segundo mandato
que durou entre 2016 e 2020. Em 2016, o IFSC contava com 1485
docentes e 1.186 Técnicos Administrativos Educacionais (TAEs).
Os sete campi do IFSC que passaram por ocupações parciais
ou totais representavam 38.2% dos/as estudantes matriculados na
instituição naquele ano. O que reflete a dimensão e o alcance que as
ocupações tiveram no contexto institucional. Proporcionalmente
os campi tinham a seguinte participação no número de matrícu-
las: Araranguá (3,43%), Chapecó (4.05%), Florianópolis – Mauro
Ramos (17,46%), Palhoça Bilíngue (2,38%), São José (4,87%), São
Miguel do Oeste (2.85%) e Xanxerê (3,16%), somados os campi
contavam com o total de 13,746 estudantes matriculados. Ainda
que essa totalidade dos/as estudantes não tenha participado do
processo de ocupação, foram comunidades escolares que tiveram
nas ocupações o centro dos debates e vivências que foram pauta-
dos pelo movimento estudantil entre os meses de outubro e de-
zembro de 2016.
Os campi tinham características distintas em relação à compo-
sição e perfil dos/as estudantes7. No IFSC, os alunos ingressantes
em 2016 tinham o seguinte perfil socioeconômico: 50,28% eram
do sexo feminino e 49,27% do sexo masculino, a média de idade
dos/as estudantes era de 29,85 anos entre as mulheres e 27,63 anos
entre os homens. Destes, 77% declaravam-se brancos, 16,37%

7 Os dados socioeconômicos disponíveis no Departamento de Estatísticas e


Informações Acadêmicas do IFSC são relacionados aos alunos ingressantes
naquele ano na instituição. Ainda que não dê um cenário da totalidade dos
estudantes matriculados, serve como uma boa amostra do perfil de cada
campus do IFSC.

82
pardos, 5,39% pretos, 0,76% amarelos e 0,46% indígenas. Quanto
à residência, 90,70% viviam em área urbana e apenas 9,30% em
área rural.
Sobre o perfil socioeconômico dos campi ocupados, tínhamos
diferentes cenários, relacionados à região metropolitana, sul e
oeste do estado.
Em Araranguá, 40,47 % dos/as estudantes tinham renda fa-
miliar de até dois salários-mínimos, 33,28% tinham renda fami-
liar entre dois e quatro salários-mínimos e apenas 15,42% tinham
renda familiar acima de quatro salários-mínimos. Sobre cor e
raça, 81,28% declaravam-se brancos, 14,4% pardos, 3,29% pretos,
1,04% amarelos e 0,35% indígenas. Quanto ao sexo, 67,94% dos
alunos eram mulheres e 32,06% eram homens.
No Campus Chapecó, 39,1% dos/as estudantes tinham ren-
da familiar de até dois salários-mínimos, 40,45% tinham renda
familiar entre dois e quatro salários-mínimos, e 20,45% tinham
renda familiar acima de quatro salários-mínimos. Sobre cor e
raça, 66,07 % declaravam-se brancos, 23,15% pardos, 7,19% pre-
tos, 3,37% amarelos e 0,22% indígenas. Dos alunos matriculados,
22,02% eram mulheres e 77,98% homens.
No Campus Florianópolis, 36,49% eram mulheres e 63,51%
homens. 79,22% brancos, 13,77% pardos, 5,73% pretos, 0,77%
amarelos e 0,51% indígenas. Quanto à renda familiar, 31,06% dos/
as estudantes recebiam até dois salários-mínimos, 32,19% tinham
renda familiar entre dois e quatro salários-mínimos e 36,74% vi-
viam com mais de quatro salários-mínimos como renda familiar.
Já no Campus Palhoça, 63,60% eram mulheres e 36,40% ho-
mens. Quanto à cor, 78,08% se autodeclaravam brancos, 14,48%
pardos, 6,09% pretos, 0,81% amarelos e 0,54% indígenas. E quan-
to à renda familiar, 39,79 % dos/as estudantes ingressantes possu-

R O D R I G O L I M A 83
íam renda familiar de até dois salários-mínimos, 33,56% recebiam
entre dois e quatro salários-mínimos e 26,65 possuíam renda fa-
miliar acima de quatro salários-mínimos.
O Campus São José, tinha na sua composição 33,62% de mu-
lheres e 66,38% homens. Os que se autodeclaravam brancos eram
80,62%, 12,35% pardos, 6,35% pretos, 0,51% amarelos e 0,17% in-
dígenas. A renda familiar de 32,42% dos/as estudantes era de até
dois salários-mínimos, 38,59% recebiam entre dois e quatro salá-
rios-mínimos e apenas 13,99% viviam com renda familiar acima
de quatro salários-mínimos.
O Campus São Miguel do Oeste tinha 58,48% dos/as estudan-
tes do sexo masculino e 41,52% de estudantes do sexo feminino.
A renda familiar de 42,89% dos estudantes era de até dois salários-
-mínimos, 37,04% recebiam entre dois e quatro salários-mínimos
e apenas 20,08% viviam com renda familiar acima de quatro sa-
lários-mínimos. Quanto à cor, 79,53% dos alunos eram brancos,
12,76% pardos, 7,41% pretos, 0,19% amarelos e 0,19% indígenas.
Em Xanxerê, 55,84% dos/as estudantes eram do sexo femini-
no e 44,16% do sexo masculino. Os que se autodeclaravam bran-
cos eram 72,80%, 23,84% pardos, 2,40% pretos, 0,80% amarelos
e 0,16% indígenas. A renda familiar de 42,44% dos/as estudantes
era de até dois salários-mínimos, 36,80% entre dois e quatro sa-
lários-mínimos, e 20,32% tinham renda familiar acima de quatro
salários-mínimos.
Um cenário muito diverso, mas que aponta para a forte pre-
sença de estudantes de baixa renda, como uma parte significativa
entre os/as alunos/as matriculados/as na maioria dos campi, com
uma composição majoritariamente branca, mas que apresentava

84
importante presença de estudantes pretos, pardos e indígenas, re-
flexo da política de cotas. Os campi de Chapeco e Xanxerê eram
os que apresentavam maior número de alunos negros matricula-
dos e nos campi de Palhoça e Araranguá, onde o processo mais
se radicalizou com a ocupação total dos prédios, havia uma forte
presença feminina na comunidade escolar.
4

AS OCUPA ÇÕE S E S T UDA NT I S


NO INSTITUTO FEDER A L DE
SA NTA CA TA R I NA

Que vivan los estudiantes


Jardín de nuestra alegría
Son aves que no se asustan
De animal ni policía

Violeta Parra

Para compreender o processo de ocupação dos campi do IFSC


entre os meses de outubro e dezembro de 2016, é preciso voltar ao
ano de 2015, que foi marcado pela forte crise econômica e polí-
tica no país. O segundo Governo Dilma havia iniciado sob fortes
protestos de grupos de oposição de direita, que, insatisfeitos com
os resultados econômicos e com a desestabilização institucional
provocada pela Operação Lava Jato, avançaram em protestos de
massa, mobilizados e articulados por setores da mídia hegemôni-
ca, com especial protagonismo da Rede Globo.

R O D R I G O L I M A 87
Dilma, ao contrário do que havia prometido durante as elei-
ções de 2014, implementou um programa neoliberal conduzido
pelo Ministro da Economia, Joaquim Levy, um operador do siste-
ma financeiro, com ligações com o banco Bradesco.
O governo cujo slogan era o de Pátria Educadora, apresentou
uma política de austeridade que, em 2015, resultou no corte de
R$ 10,5 bilhões no orçamento da educação (equivalente a 10% da
pasta), implicando em restrições nos investimentos e nas políticas
de assistência estudantil, com repercussões na RFEPCT.
Uma das reações aos cortes orçamentários e à desvalorização
salarial foi a ação do Sindicato Nacional dos Servidores Federais
da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe) que de-
liberou uma greve nacional, iniciada no dia 13 de julho de 2015,
que só foi encerrada totalmente no dia 14 de novembro daquele
ano, com a conquista de reajuste salarial para docentes e técnico-
-administrativos, mas sem reverter os cortes orçamentários.
Foi diante dessa conjuntura que o movimento estudantil do
IFSC criou a Resistência Estudantil Contra os Cortes na Educa-
ção (RECCE), que tinha como objetivo organizar os/as estudantes
do IFSC no âmbito estadual, visando reverter as restrições orça-
mentárias, que estavam prejudicando a comunidade acadêmica.
O RECCE queria agregar o maior número de estudantes à causa,
para avançar na sua luta por assistência estudantil e educação de
qualidade (RECCE, 2016).
O movimento RECCE nasceu em agosto de 2015 a partir da
necessidade de organização dos/as estudantes do IFSC na luta
pela educação pública, gratuita e de qualidade. No cenário de cri-
se econômica, aumento do desemprego e cortes nos recursos da
instituição, os/as estudantes em situação de vulnerabilidade depa-

88
raram-se com um horizonte muito adverso para a continuidade
dos estudos.
Esse movimento significou uma articulação ampla na base
estudantil do IFSC, uma inovação organizativa que conseguiu
agregar estudantes de diferentes modalidades de cursos, de vá-
rios campi, em regiões bem distintas e distantes do estado. O
RECCE surgiu como uma espécie de embrião do movimento
que culminou nas ocupações estudantis de 2016, já que criou
as condições para o fortalecimento da representação estudantil
dentro da instituição, estreitando a comunicação entre os/as alu-
nos/as (RECCE, 2018).
A luta por assistência estudantil e contra os cortes no Pro-
grama de Atendimento ao Estudante em Vulnerabilidade Social
(PAEVS)8 foi um fator de mobilização do movimento estudantil
do IFSC e cumpriu um papel de articulação e organização dos/as
estudantes de baixa renda, que foram os mais prejudicados pelas
políticas de austeridade.
No dia 2 de agosto de 2016, houve um encontro promovido
pelo RECCE no auditório Marcos Cardoso Filho, no prédio da
Reitoria, que teve como pauta dos/as estudantes a construção de
uma agenda de lutas para reversão do quadro de cortes (Reunião,
2016) . O movimento teve um papel fundamental na construção
de bases de organização e articulação estudantil do IFSC, que cul-
minaram no processo de ocupação, cujas pautas centrais como a
luta contra o Teto de Gastos e a Reforma do Ensino Médio, arti-

8 O Programa de Atendimento ao Estudante em Vulnerabilidade Social


(PAEVS) disponibiliza auxílio financeiro para contribuir com o atendimento
às necessidades de estudantes em vulnerabilidade social, visando a sua
permanência e êxito acadêmico (IFSC, 2023).

R O D R I G O L I M A 89
cularam-se diretamente com as lutas no IFSC contra a agenda de
austeridade nos anos de 2015 e 2016.
As ocupações de 2016 foram influenciadas por movimentos
de juventude organizados na década de 2010 no Brasil. Algumas
das principais referências foram o movimento pelo passe-livre e
as jornadas de junho de 2013, que inspiraram os/as estudantes na
organização das ocupações. principalmente na forma de organi-
zação horizontal e de mobilizações com ações diretas.
Elas articularam-se na conjuntura de lutas estudantis nacio-
nais, uma ação que, no caso do IFSC, foi desdobramento de ações
do movimento estudantil que já lutava contra as políticas de aus-
teridade e que teve, entre os/as estudantes oriundos da classe tra-
balhadora e com as condições sociais mais vulneráveis, seus prin-
cipais protagonistas. Eles conseguiram encontrar novas formas
de articulação e mobilização, criando o RECCE e ocupando os
campi, numa realidade tão diversa, complexa e dispersa como é a
do IFSC. Uma experiência que os marcou profundamente:
Tanto que eu considero que a ocupação do IFSC foi pra mim
uma das minhas maiores experiências, assim, foi meio que
uma escola pra mim. Começando a entender as coisas ain-
da que eu não tivesse me organizado ainda tava aprendendo
muita coisa e ali que o movimento cobrou, né? Cobrou uma
presença, cobrou uma responsabilidade, e eu aprendi muita
coisa assim, muito rápido (Marcos, Campus Florianópolis –
Mauro Ramos).

O que também aparece na fala de uma das protagonistas da


ocupação do Campus Palhoça – Bilíngue:

90
É um marco histórico, tanto no Brasil quanto para quem es-
tuda na instituição que foi ocupada, né? Então, eu acho que
uma coisa que fica aí de exemplo, de força de luta de que que
se pode fazer dentro de uma escola eu acho que a ocupação é
uma dos que vieram dos que vão vir, eu fico pensativa quando
to falando disso, até me perdi no que que tava falando uma
história de inspiração, sabe? De que dá de fazer alguma coisa
e dá pra se organizar como quiser e agora a gente tá com uma
outra chapa que não é a aquela que tava na ocupação e a gente
ainda não teve o momento de fazer uma roda de conversa,
mas em outubro até a gente contatar todos os professores a
gente quer fazer todo outubro de todos os anos um memorial,
uma comemoração, alguma coisa relacionada a ocupação, pra
nunca deixar morrer. Sempre ficar vivo nas memórias das pes-
soas como um exemplo, um marco histórico mesmo do que
foi (Anita, Campus Palhoça – Bilíngue).

As ocupações no contexto do IFSC definiram um marco his-


tórico na organização estudantil dessa instituição. O que revelou a
capacidade de organização e adaptação dos/as estudantes na nova
realidade educacional produzida em 2008. Os/as ocupas de 2016
tornaram-se uma referência nas lutas e do movimento estudantil
catarinense.

A ORGANIZAÇÃO DAS OCUPAÇÕES


No IFSC, a primeira ocupação começou no Campus Araran-
guá na noite do dia 19 de outubro de 2016. Naquela mesma sema-
na, havia ocorrido a primeira ocupação no estado de Santa Catari-
na, no Campus Rio do Sul, do Instituto Federal Catarinense (IFC),
que teve início às 13h do dia 17 de outubro.

R O D R I G O L I M A 91
Em articulação com o movimento nacional, em Santa Catari-
na o movimento iniciou na semana em que as ocupações no es-
tado do Paraná alcançaram seu pico, com 792 escolas estaduais
ocupadas (Firmino; Ribeiro, 2019). Os/as estudantes do IFSC in-
corporam-se na segunda onda de ocupações que tomou o país. O
protagonismo dos/as ocupas de Araranguá revelou a disposição
para a mobilização, ao mesmo tempo em que expressou a inexpe-
riência e incipiência do movimento estudantil no campus:
[...] vamos chamar a assembleia aí”, não lembro direito como
que isso aconteceu, como que acabou enchendo auditório, se
foi a gente que convocou se a gente passou nas salas, e nesse
dia específico no dia que surgiu ocupação né, eu não lembro
especificamente como que o pessoal apareceu, mas sei que a
gente conseguiu reunir o pessoal ali dentro do auditório, e na-
quele sistema “não sei nunca fiz isso”, nunca coordenei isso,
uma fala ou um debate, vou falar pelo menos o que eu estou
sentindo né, essa ideia de tentar até pelo menos rebater isso
que tá vindo, e aí já tínhamos combinado entre os estudan-
tes ali que tinham conversado que a gente iria ocupar né com
os alunos, porque já tinha uma quantidade de alunos muito
grande que queriam fazer a ocupação, então a gente “bom
quando o pessoal for decidindo a gente ocupa o IFSC”, “vamos
ver quantas pessoas mais querem que a gente a gente já tem
um corpo de estudante aí” (José, Araranguá).

Na sequência do Campus Araranguá, houve a ocupação do


Campus Chapecó, um dia depois, por volta das 15h horas do dia
20 de outubro. O Campus Xanxerê foi ocupado a partir do dia 24
de outubro. O Campus São José foi ocupado em 25 de outubro, o
campus Florianópolis no dia 27 de outubro, o Campus Palhoça

92
no dia 01 de novembro e o campus São Miguel do Oeste foi o
último a ser ocupado, no dia 07 de novembro. Na região Oeste,
o Campus Chapecó teve protagonismo no processo de ocupação,
influenciando ocupações que ocorreram posteriormente na cida-
de em escolas estaduais e na Universidade Federal da Fronteira
Sul (UFFS).
Como eu comecei a escutar a respeito das ocupações foi pe-
las redes sociais, como eu tinha colocado. Também um pouco
pelo movimento estudantil, né? Pela UBES, União Brasileira
dos Estudantes Secundaristas também teve bastante discussão
em cima mas foi principalmente pelas redes sociais. Nós que-
ríamos ter também, na região de Santa Catarina, acontecer al-
guma coisa ali no oeste catarinense, a gente queria que o oeste
catarinense também fizesse parte dessa história, também fosse
protagonista. E ali também o IFSC que deu início, querendo
ou não a gente fez a primeira ocupação ali e começou os co-
légios públicos e a universidade federal também em seguida,
então foi isso (Luís Carlos, campus Chapecó).

Durante os meses de outubro e dezembro de 2016, os campi


conviveram com diferentes repertórios táticos nas ocupações, que
foram desenvolvidas parcial ou totalmente, conforme a dinâmica
que os/as estudantes implementavam nas lutas, relacionada aos
contextos locais em que estavam inseridos.
Então, eu meio que fiquei sabendo da ocupação quando ela
já tava prestes a acontecer assim, como eu disse, eu não atu-
ava muito no movimento estudantil ali do IFSC, e o pessoal
começou a articular a ocupação por fora, por fora do grêmio,
até. Porque o grêmio tava na mão de uma chapa de direita. E
começaram a articular isso e eu fiquei sabendo na assembleia

R O D R I G O L I M A 93
que eles chamaram né, uma assembleia que a pauta era justa-
mente a PEC 55 e a reforma do ensino médio e que a pauta
da assembleia seria ocupar ou não, aí eu cheguei até a fazer
uma fala e tal quando eu vi que tava acontecendo eu já sabia a
importância daquele momento, né? (Marcos, campus Floria-
nópolis – Mauro Ramos).

Nos campi Chapecó, Araranguá e Palhoça foi onde o processo


mais se radicalizou. No primeiro, as atividades letivas dos cursos
técnicos foram suspensas; no segundo, o campus esteve totalmen-
te fechado para atividades letivas e administrativas entre os dias
15 e 26 de novembro; e, em Palhoça, as atividades foram total-
mente interrompidas desde o primeiro dia de ocupação.
Acho que gerou um marco bem significativo porque mui-
ta gente tirava sarro do campus da Palhoça, tipo palhocense
não sei o que e mora lá não sei aonde, Geotur, que é uma li-
nha daqui, porque ônibus nunca tem não sei o que. E como a
gente mostrou essa emancipação de ocupar integralmente, ao
contrário do campus de Florianópolis ou de qualquer outro
campus, eles viram a nossa proatividade no sentido de mobi-
lização e de fazer acontecer assim. Foram só dezoito dias, mas
foram espetaculares, os dezoito dias de alunos entrosados, de
oficinas acontecendo, de divisor de água desde servidores até
de alunos mesmo. E eu acho que o que vai ficar pra sempre
assim [...], é trabalho de formiguinha assim não foi do dia pra
noite que o grêmio foi construído, a gente demorou bastante,
hoje tá tendo continuidade dos trabalhos, e um marco histó-
rico fundamental foi a ocupação assim como os outros movi-
mentos estudantis pros IFs (Manuel, Campus Palhoça).

94
No que diz respeito à relação das ocupações com a Reitoria,
houve um grau maior de tensionamento e conflito, conforme o
grau de organização e radicalidade dos/as estudantes. Nos casos
dos campi que passaram a ser controlados diretamente pelos/as
ocupas, a oposição da Reitoria ao movimento aumentou:
E com a Reitoria foi, eu acho até que é engraçado que a gente
teve, porque ela tomou a ocupação de Araranguá como um
exemplo de ocupação, por que ocupava, faziam as mobiliza-
ções as atividades, e não atrapalhavam em nada andamento de
tudo, só que vários Institutos já estavam com essas parciais e
alguns começaram a fechar definitivamente os portões, e rei-
toria começou a usar Araranguá como exemplo, “lá tá funcio-
nando, o pessoal tá forçando né, tão conseguindo se manifes-
tar sem precisar trancar atividades”, só que nesse meio, desses
elogios aí, foi o dia que a gente trancou o instituto Federal e
fechou os portões também, E aí foi o dia que eles usaram o
maior exemplo lá, foi para Palhoça para tentar desmobilizar
Palhoça pra dizer “não, deixa o campus aberto”, E foi nesse
mesmo dia que a gente fechou o Campus, naquela mesma se-
mana, e aí tudo se reverteu aí eles passaram a posição contrá-
ria a de Araranguá (José, Campus Araranguá).

Os Campi Florianópolis e São José tiveram seus acessos blo-


queados pelos/as estudantes no dia 25 de novembro. Era uma
tentativa de radicalizar o movimento, às vésperas da votação da
PEC no Congresso Nacional. Segundo nota do Ocupa Floripa, as
barricadas tinham como objetivo:
O objetivo das barricadas, em nenhum momento, era impe-
dir que aulas acontecessem. O objetivo era que as barricadas
incomodassem e tivessem de ser retiradas, era fazer o estu-

R O D R I G O L I M A 95
dante, professor e servidor perceber que algo no seu cotidiano
está diferente, que existem obstáculos que devem ser retirados
do caminho, para que a vida possa seguir. Nenhuma aula foi
atrasada, pois os estudantes se juntaram e desfizeram as bar-
ricadas em questão de minutos, todas as passagens estavam
livres por volta das 7:15. Isso mostra o poder e a força que nós
possuímos juntos. É por isso que o Ocupa IFSC Floripa con-
vida a todos a se unirem e lutarem conosco contra a PEC 55, a
Lei da Mordaça e a MP do Ensino Médio (746), pois são estas
as medidas que irão barricar, de forma definitiva, o acesso de
milhares de pessoas a uma educação pública e de qualidade
(Ocupa IFSC Floripa, 2016).

As ocupações trouxeram novos desafios para o movimento


estudantil do IFSC. Como os/as ocupas iriam lidar com tarefas
que iam da limpeza dos espaços do campus até a articulação po-
lítica com o movimento nacional de ocupação? Em resposta eles
apostaram num modelo de organização horizontalizada, com de-
liberações construídas democraticamente nos espaços das assem-
bleias e na operacionalização das tarefas via comissões, nas quais
desenvolviam o trabalho coletivo. A democracia direta era uma
realidade, como fica demonstrada nessa fala sobre a situação em
Araranguá:
Então todo esse pessoal se reunia e fazia votação, e era sempre
por votação no auditório e todas as decisões que a gente to-
mou desde comissão desde se a gente ia ocupar ou não ia, das
palestras que aconteciam, todo tipo de decisão mesmo eram
tomadas por votação do pessoal, até era bem complicado que
era todo momento a gente chamando todo mundo “pessoal
se reúne que tem mais coisa para falar”, aí toda noite tinha até

96
um apanhado de coisas que a gente tinha que decidir naquela
noite, então toda noite a gente se reunia no auditório que era
o local onde a gente tinha que era mais confortável pra gente
ficar fazendo essa reunião e tomava as decisões (José, campus
Araranguá).

O movimento dos/as ocupas demonstrou que a escola tem o


potencial de ser um espaço de articulação e mobilização de am-
plos segmentos sociais. Como afirma Gohn (2019), a escola pode
converter-se em um polo de formação de cidadãos ativos e parti-
cipativos, através da construção de pontes e relações entre a escola
e a sociedade civil organizada. Isso faz com que os movimentos
sociais participem das lutas ligadas à educação, ao mesmo tempo
que liga os/as estudantes a lutas sociais mais amplas.
Internamente, as ocupações foram pautadas pela autogestão,
com a organização das tarefas através de comissões, que encami-
nhavam desde questões relacionadas à limpeza até à articulação
política:
Uma coisa bem interessante era, bem complexo ter essa, por-
que ao meu ver todo esse movimento estudantil de ocupação
que aconteceu ele foi, apesar dessa palavra não tá tão presente
no nosso dia-a-dia na ocupação, mas ao meu ver foi uma coisa
muito anarquista, a experiência mais anarquista que eu tive em
toda minha experiência de vida. Assim, comissões. Comissão
de segurança, comissão de alimentação, tinha várias comissões,
mas não tinha nenhuma liderança em nenhuma das escolas
ocupadas, todas as escolas elas tinham a mesma metodologia de
coletivos, e foi fundamental para que a gente a gente tivesse esse
contato, a gente tá muito acostumado no nosso modo de viver
na sociedade de ou obedecer regras ou impor regras, a gente
não tá acostumado a assim “eu acho que eu sou boa para fazer

R O D R I G O L I M A 97
isso e eu vou fazer” e tomar uma iniciativa sem que ninguém
tivesse te mandando, a gente fica um pouco perdido, assim, en-
tão era muito importante a gente ter esse contato mesmo com
os outros lugares que estão ocupados para solucionar dúvidas
desses assim no dia a dia até de convivência mesmo, tipo “como
é que vocês estão dormindo aí?” “vocês tem colchonete?” e até
como que vocês estão fazendo para se organizar para tirar os
alunos da sala de aula pra trazer pras palestras que estavam
acontecendo (Bianca, Campus São José).

Dinâmica que foi uma realidade no Campus Araranguá:


[...] a gente organizou o sistema de limpeza, de comida, de ali-
mentação né? Sistema de Segurança, pessoal que vinha, pes-
soal de imprensa, que ficava a todo momento mandando men-
sagem pro pessoal. Então a gente fazia meio que um tour por
todos os setores que a gente tinha separado, mostrava como
era e convidava os pais que se quisessem a vir dormir aqui,
para que confiassem os filhos a ficar na ocupação né, para ver
que tudo aquilo que realmente eles ouviram falar de ruim na
ocupacional na verdade não acontecia (José, Araranguá).

O que também funcionou com relação à comunicação esta-


belecida pelo movimento de ocupação dos campi. Em 2016, as
principais redes utilizadas pelos/as ocupas eram o WhatsApp, que
cumpria um papel de organização interna, e o Facebook, a prin-
cipal plataforma que atendia à demanda de comunicação pública
das atividades e notas:
Então, a gente tinha uma comissão de comunicação, que era
responsável pelo site, a página do Facebook. Ela era liderada,
ela era alimentada diariamente assim, todo dia tinha conte-
údo lá. Eu acho que foi algo que a gente definiu fazer e foi

98
importante sim. Até porque enquanto ocupação, movimento
organizado assim tinha poucos canais de comunicação que a
gente pudesse externalizar o que a gente tava fazendo e o que
a gente tava pensando. Eu acho que a internet não é a melhor,
a última e a única forma de fazer isso, eu acho que tem vários
problemas, inclusive na própria internet, no Facebook e tal,
mas eu acho que naquele momento foi bem importante assim
(Marcos, Campus Florianópolis – Mauro Ramos).

Ferramentas digitais que também foram utilizadas pelos/as es-


tudantes que ocuparam o campus São José:
A gente tinha basicamente o Facebook de rede social, a gente
não fez nenhuma outra via social, foi só mesmo o Facebook e
a gente estava sempre colocando as atualizações nossa agenda
que a gente tinha que semanal que sempre tinha uma agen-
da semanal de atividades em grupo a gente ia botando a gen-
te utilizou também bastante a rede social do Facebook para
as doações que a gente tava precisando, de alimentação, e o
WhatsApp também. Na verdade, a gente criou uma rede de
WhatsApp bem grande, assim, eu sei porque eu lembro que
eu tava enlouquecendo com meu celular, que eu participava
de uns 25 grupos de diversas ocupações diferentes (Bianca,
Campus São José).

Os/as ocupas do IFSC possibilitaram que os muros da institui-


ção fossem derrubados, no sentido de abrir o espaço da institui-
ção para movimentos sociais regionais/locais, construindo uma
agenda de ensino, pesquisa e extensão sob outra perspectiva, o
que ocorreu de forma muito articulada à politização estudantil.
A radicalidade e disposição de luta do movimento de ocupa-
ções, em particular dos IFs em âmbito nacional, empurraram o

R O D R I G O L I M A 99
movimento sindical para mobilização. O SINASEFE, incorpo-
rou-se à luta através da greve nacional aprovada na 145ª Plena
do sindicato, realizada nos dias 05 e 06 de novembro de 2016. A
greve, que foi deflagrada nacionalmente, teve uma duração de 37
dias, sendo encerrada no dia 17 de dezembro daquele ano, quan-
do o movimento já havia sido derrotado na votação da PEC e as
ocupações já estavam em estágio de declínio e fim. Ao todo, trin-
ta seções sindicais se envolveram na greve, com a paralisação de
125 unidades, abrangendo 20 estados e o Distrito Federal. A seção
IFSC fez um dia de paralisação para realização da assembleia dos
sindicalizados, que ocorreu no dia 25 de novembro. Mas os servi-
dores acabaram deliberando por não aderir à greve nacional.
Ainda que o Sinasefe não tenha aderido à greve, o sindicato
teve uma relação muito intensa com as ocupações.
Teve uma noite que o pessoal da UFSC veio e passou a noite
ali meio que em claro com a gente auxiliando, teve uma noite
também que veio gente da ocupação da UDESC e foi também
lá para dormir no Campus com a gente, participaram ali al-
guns dias, e a gente teve também apoio logístico dos sindi-
catos, do SINASEFE o SINASEFE foi o que participou e mais
ativamente pela proximidade, a gente estava vivendo dentro
do mesmo Campus, tinha vários professores que a gente co-
nhecia, tentaram dar alguns suportes mas foi muito gostoso
seguir essa experiência porque eles falavam “a pauta é de vo-
cês, a gente tá aqui para dar um suporte, a gente pode ajudar
na campanha, trazer alimentos, ajudar na campanha de doa-
ções”, mas as tomadas de decisões e as reuniões aconteciam
exclusivamente com as pessoas que participavam da ocupação
(Bianca, Campus São José).

100
Como foi mencionado acima, a relação estabelecida com ou-
tros campi e ocupações de outras escolas e universidades demons-
trou o nível de articulação e capacidade de organização política do
movimento no IFSC.
Então, a gente também tinha um grupo no Whats com os alu-
nos dos outros campus pra saber como tava o andamento das
outras ocupações, afinal, a gente não tomava uma decisão só
entre os nossos campus. A gente tava sabendo o que tava acon-
tecendo, por exemplo, em Chapecó, em Florianópolis. A gente
tinha esses contatos das lideranças das ocupações de outros
campus pra saber como tava procedendo, né. Em relação às
escolas dos estados aqui, a gente também tinha algumas liga-
ções com as lideranças, por exemplo, ah hoje a gente vai parar
o IFSC por exemplo, então a gente não vai ter aula, e a gente
conversava com os alunos de outras escolas pra tentar fazer o
mesmo, fazer uma mobilização maior, não só interna (Marta,
Campus São Miguel do Oeste).

Um processo que ocorreu com contradições e conflitos, numa


dinâmica que oscilava entre a articulação dos/as ocupas com ou-
tros movimentos sociais e organizações políticas e a preservação
da autonomia, já que a autogestão era um princípio nas ocupa-
ções. A entrada e influência de movimentos externos não era ne-
gada, mas era vista com muita cautela pelos/as estudantes:
Eu acho muito importante as pessoas se organizarem em uma
entidade, alguma juventude, mas não era o momento, pare-
cia um aparelhamento, assim das coisas. Aí a gente já deu uns
cortes, mas em resumo a vontade partiu da gente mas não teve
nenhuma influência externa, teve apoio externo que a gen-
te precisava de ajuda, de suporte (Anita, Campus Palhoça –
Bilíngue).

R O D R I G O L I M A 101
O relato do Campus São Miguel do Oeste demonstra que os/
as ocupas souberam construir uma mediação política entre movi-
mentos sociais presentes no contexto regional, mantendo a auto-
nomia, mas sem cair numa postura de negação da política:
[...] a gente acabou ocupando, a gente teve apoio de algumas
lideranças de movimentos, assim também, movimento de pe-
quenos agricultores que ajudavam a gente tanto quanto ali-
mentação mas em geral foram só os alunos do campus mesmo,
não teve nenhuma intervenção de fora, assim, até porque a
gente preferiu assim, pra, por questões contrárias de alunos
mesmo que participavam da ocupação, mas em geral foi mais
ou menos isso, foi algo que aconteceu naturalmente, assim,
não foi nada planejado (Marta, Campus São Miguel do Oeste).

O relato do Campus Chapecó, demonstra que, ainda que os/


as estudantes prezassem pela autonomia, eles não tinham aversão
ou rejeição aos movimentos sociais e organizações políticas, que
tiveram acesso aos/às ocupas, articulando agendas em comum:
Teve muito o apoio dos sindicatos, da própria comunidade,
comunidade acadêmica do IFSC campus Chapecó. E dos sin-
dicatos também teve muita parceria, sindicatos dos bancários,
outros sindicatos, a associação de mulheres camponesas. Teve
muito auxílio, mas não foi o que nos sustentaram, a maior par-
ceria nossa era com a comunidade acadêmica, os professores
nossos, com a comunidade geral ali perto, com os amigos dos
ocupandos. Era assim que gente sobrevivia, mas ninguém fi-
nanciava nada (Luís Carlos, Campus Chapecó).

Inspirados nos processos de ocupação realizados em São


Paulo e em outros estados do país, os/as estudantes do IFSC
criaram seus repertórios e táticas de mobilização e luta, as ruas

102
eram um espaço importante nas disputas que foram travadas em
suas cidades:
Olha, não tinha uma “Ah, toda semana vai ter um protesto
em tal lugar”, mas de vez em quando a gente se programava
pra fazer um protesto que englobava todas as escolas, inclusi-
ve quando a polícia começou a bater nas escolas que estavam
ocupando a gente reunia todos os campus e as escolas que
estavam ocupando e fazia protestos na frente da prefeitura,
da praça, mas nada muito, não era rotineiro, mas de vez em
quando a gente fazia sim, mas por necessidade mesmo (Luís
Carlos, Campus Chapecó).

A agenda de atividades organizadas pelos/as ocupas tinha


como preocupação a formação política e o debate sobre os gran-
des temas nacionais. O movimento procurou criar uma agenda de
cunho político e cultural através de oficinas, seminários, assem-
bleias, rodas de conversa e uma série de atividades que potenciali-
zassem a politização dos/as estudantes:
Olha, a gente teve uma grande politização no próprio cam-
pus e além disso a politização entre os próprios alunos. O
nome do IFSC ficou muito mais popular na cidade, que isso
era uma pauta antes da ocupação, que o IFSC não era muito
visto na cidade e você falava IFSC e as pessoas não sabiam o
que era, o que que significava. Então, depois dessa ocupação
teve também um impulsionamento do nome do IFSC, as pes-
soas começaram a saber mais o que que era, mas o principal
eu diria que foi a politização dos alunos. Inclusive os alunos
procuraram depois teve várias chapas para disputar o grêmio
estudantil, essa politização que eu falo. Antes da ocupação não
tinha tanto disso, era alguns poucos alunos interessados na
politização. (Luís Carlos, Campus Chapecó).

R O D R I G O L I M A 103
O que também foi constatado no Campus Araranguá:
Primeiro que no geral a gente já criou um grupo mais unido
ali, na verdade não mais unido, mas um grupo que se criou
que não existia, de estudantes que tinha um pensamento pa-
recido, que tinha algum interesse de que a política fazia assim
parte do nosso dia a dia, que a gente tinha que ter atenção
quanto aquilo, e saiu desse grupo de estudantes um movimen-
to popular que hoje a gente se intitula “resistência estudantil
Araranguá”, que são de alunos da ocupação, a residência estu-
dantil são de alunos da ocupação e de outros alunos que foram
agregando e se identificando com o movimento (José, Campus
Araranguá).

É possível identificar nas falas dos/as estudantes como a orga-


nização das ocupações e seus repertórios de lutas estavam articu-
lados com o movimento nacional de ocupações, mas que também
respondia diretamente aos debates e deliberações realizados junto
à base dos/as estudantes.
A democracia direta revelou-se um exercício permanente,
com a tomada decisões de forma coletiva e participativa. Os/as
ocupas utilizaram de ferramentas digitais que permitiram que
as ocupações ganhassem adesão e tivessem ampla repercussão.
Através da criatividade e inovação na comunicação, a juventude
antecipou a importância da utilização das mídias sociais, em um
contexto em que boa parte dos setores progressistas ainda ignora-
va essas ferramentas. Quem sabe se a esquerda tivesse aprendido
com o movimento dos/as ocupas, poderia ter utilizado melhor as
tecnologias de comunicação e informação, não sendo “pega de
surpresa” pelas ações da extrema direita, que utilizou amplamente
tais ferramentas digitais.

104
Os/as ocupas não embarcaram nos discursos da antipolítica
e fomentaram a formação política e a articulação junto a uma sé-
rie de movimentos sociais, mas sem perder a sua autonomia. Não
negaram a presença de partidos políticos, juventudes organizadas
e movimentos sociais que apoiavam as lutas estudantis. Mas tam-
bém tinham uma visão crítica sobre as tentativas de aparelhamen-
to das ocupações. Da mesma forma, utilizaram as estruturas dos
grêmios estudantis e centros acadêmicos, mas foram além deles,
criando uma relação diferente na organização dos/as estudantes
do IFSC e estabelecendo uma nova referência para as futuras lutas
estudantis.

REPRESSÃO E O FIM DAS OCUPAÇÕES


As ocupações enfrentaram um cenário de crescente autorita-
rismo e de fortalecimento do conservadorismo na sociedade bra-
sileira. O golpe de 2016 não se reduziu à destituição da Presiden-
ta Dilma Rousseff, mas representou a vitória de uma agenda que
tinha como objetivo reconfigurar o Estado brasileiro, retirando
direitos trabalhistas e sociais e reduzindo investimentos públicos
em áreas sociais, como a saúde e a educação. Além de ter aberto
um processo violento de criminalização da esquerda e dos movi-
mentos sociais. Opressão que os/as ocupas enfrentaram desde os
primeiros dias de mobilização:
No primeiro dia que a gente dormiu aqui veio, vieram dois ca-
ras num carrão preto: “Ah, o que que tá acontecendo aí?”. Não
se sabe se era a paisana, se era PM, mas esses mesmos caras
que vieram no primeiro dia, no dia da reintegração, quando
tava tudo apagado, antes da polícia chegar, mas que a gente já

R O D R I G O L I M A 105
tava nervoso, eu sou bem intuitiva, até uma coisa fora das coi-
sas objetivas. Tava super nervosa. Pensei ”Vai acontecer algu-
ma coisa” porque luz já tinha acabado no dia anterior, mas tá,
acontece, né? Mas eu tava super nervosa, então, e esses caras
apareceram no mesmo carro e faziam meio que um rally um
racha de coisa aqui na frente, ficavam passando, não se sabe o
que que era, não fizeram nada, ninguém sofreu nenhum aten-
tado mas a gente dormiu tenso, a maioria das noites (Anita,
Campus Palhoça – Bilíngue).

Organizações de direita como o MBL e o MESP foram alguns


dos movimentos que se opuseram aos/às ocupas, procurando cri-
minalizá-los e jogar a opinião pública contra eles. Setores da mí-
dia tradicional também procuraram atacá-los. Talvez o caso mais
emblemático tenha ocorrido no dia 22 de outubro de 2016, em
Chapecó, quando reportagem da RICTV Chapecó produziu uma
matéria jornalística, na qual o repórter expôs uma aluna menor de
idade a uma situação de constrangimento, visando deslegitimar o
movimento.
As ocupações nos campi do IFSC tiveram como um de seus
momentos mais significativos a reunião entre representantes do
movimento estudantil de quase todos os campi da instituição no
dia 18 de novembro, no Campus Palhoça, que era a principal
referência pelo fato de ter sido totalmente ocupado desde o pri-
meiro dia.
Naquela mesma semana, o Campus Araranguá também havia
sido fechado totalmente e o movimento avançava em sua radicali-
dade e articulação, o que poderia ter desdobramentos para outras
unidades, através da crescente capacidade de organização dos/as
estudantes. Tudo indicava que na semana seguinte outros campi
seriam ocupados ampliando a adesão.

106
Mas, na noite do dia 18 de novembro, ocorreu um dos capítulos
mais tristes da história centenária do IFSC, que marcou profunda-
mente os rumos do movimento. O Campus Palhoça Bilíngue foi
desocupado de forma violenta, após o pedido de reintegração de
posse ter sido concedido pelo juiz substituto da 3ª Vara Federal de
Florianópolis. A desocupação foi realizada através da interven-
ção da Polícia Federal (PF) e da Polícia Militar de Santa Catarina
(PMSC). A entrada da força policial no campus remeteu a um
cenário que só pode ser comparado aos anos de chumbo da Dita-
dura Empresarial-Militar.
Por volta das 19h30m, a energia elétrica do campus foi desli-
gada a pedido da reitoria do IFSC e às 23h, em plena escuridão,
agentes da PF e soldados da PMSC, acompanhados de um oficial
de justiça, ingressaram no campus para cumprir mandado de de-
socupação do prédio. Enquanto isso, membros da reitoria “impe-
diram o acompanhamento da ação policial pelos servidores, pais
e familiares ora presentes, tendo sido liberada apenas a presença
da Assistente Social após solicitação à Conselheira Tutelar” (SI-
NASEFE, 2016, p.3). O relato de quem vivenciou aquela noite é
muito impactante:
Primeiro chegou aqueles carros estranhos [...]. Depois foi che-
gando o camburão da BOPE, aí chegou um ônibus da BOPE,
em torno de 100 policiais e tinha umas vinte pessoas na escola,
foi o dia que mais teve gente e foi aquele terror assim de entrar
com arma dentro da instituição, e mirar com luz na cara assim
“Vaza, vaza, vaza” e a galera toda tipo “O que que eu levo” , “o
que que eu faço”, “para onde vamos?”, ”o que está acontecen-
do?” e primeiro momento foi sair correndo e se esconder, né?
Vai saber (Manuel, Campus Palhoça – Bilíngue).

R O D R I G O L I M A 107
Eles colocaram todo mundo em um paredão, como se fosse-
mos bandidos aqui dentro. Não deixaram ninguém que tava
por fora entrar porque eu com os meus 3% de bateria consegui
avisar o máximo de pessoas que eu pude (Manuel, Campus
Palhoça – Bilíngue).
Aí basicamente a gente foi pro paredão, eles revistaram a gen-
te, foram totalmente abusivos, teve gente que teve as partes
íntimas tocadas, sabe? Por falta de respeito dos profissionais
ali. Debocharam, os policiais (Anita, Campus Palhoça – Bi-
lingue).
Não estavam identificados, a gente não conseguia ver o nome
de ninguém. As servidoras que estavam ali do IFSC, elas es-
tavam presencialmente ali, mas estavam pensando em outra
coisa, porque estavam olhando pra outra coisa. Não estavam
deixando a própria assistente social do campus entrar. A gente
tava apavorado lá dentro, parecia que a gente tava dentro de
uma prisão mesmo (Anita, Campus Palhoça – Bilingue).

Dada a repercussão negativa da desocupação, a Reitora Maria


Clara posicionou-se sobre os fatos apenas no dia 24 de novembro,
através de uma nota na qual também citava a situação dos campi
Araranguá e Chapecó, o texto foi publicado da seguinte forma no
site oficial, tentando justificar as desocupações:
No Câmpus Palhoça-Bilíngue, a atitude foi tomada após alu-
nos, servidores (inclusive a diretora), e pais de alunos serem
impedidos de entrar no câmpus, bem como denúncias no Mi-
nistério Público Federal (MPF) e Procuradoria Geral Federal
(PGF) da Advocacia Geral da União (AGU). A situação foi
agravada na sexta-feira, com o convite para uma festa pública
no campus, no sábado, com participação de pessoas externas

108
ao IFSC, me marcando inclusive nas redes sociais, de forma
bem provocativa. Infelizmente, fomos obrigados a agir para
garantir a integridade da instituição, bem como de seus alu-
nos. Nesta segunda e terça-feira, dias 21 e 22, reuniões que
envolveram o MPF e a AGU, direções-gerais e integrantes dos
movimentos de ocupação, foi acordado que os câmpus Ara-
ranguá e Chapecó serão desocupados pelo movimento estu-
dantil até a meia-noite desta sexta-feira, dia 25, com retorno
das aulas regulares no dia 28. Essas desocupações também
foram motivadas pela restrição de acesso de servidores e estu-
dantes ao câmpus. Tentamos, assim, evitar uma reintegração
pela justiça, que determina força policial nesses casos, a qual
não poderíamos intervir. Estamos tristes em termos que tomar
esse tipo de medida, visto que sempre manifestamos apoio à
manifestação pacífica dos estudantes. Não podemos, no en-
tanto, como gestores públicos, deixar de zelar pela integrida-
de das pessoas, do patrimônio público e pela regularidade da
prestação de nossos serviços. Precisamos respeitar o direito
de todos, tanto de quem quer aderir ao movimento quanto de
quem não quer! Princípio democrático de manifestações com
respeito mútuo. Aguardamos a colaboração de todos para que
as desocupações ocorram de forma pacífica (IFSC, 2016, s.p.).

Com a judicialização e criminalização do movimento e após


a desocupação violenta do Campus Palhoça – Bilíngue, o movi-
mento foi perdendo força. No dia 25 de novembro, os campi Cha-
pecó e Araranguá foram desocupados. Como exposto no relato de
um dos ocupas:
A finalização dessa ocupação veio com, aí veio a Advocacia
Geral da União tentou articular junto à Reitoria, a pedido da
Reitoria do IFSC, e a Reitoria também fez um pedido de rein-

R O D R I G O L I M A 109
tegração de posse dos institutos federais, um deles saiu para
Palhoça e outro aqui para Araranguá, esse pedido no dia que
saiu para Palhoça a Polícia Militar foi até lá, então foi uma saí-
da bem ruim lá, segundo relatos dos estudantes de lá, teve bas-
tante repressão por parte da polícia e usaram táticas de guer-
ra, como desligar a luz, cortar a água do ambiente momentos
antes, para os alunos chegarem a acabar a bateria de celulares
e não conseguiram filmar algumas ações e tal. Eu acho que
talvez por esse dobramento não ficou muito bem visto isso que
aconteceu na Palhoça, talvez por conta desse desdobramentos
da ação dos estudantes ali que recriminaram isso né, aí a reito-
ria acabou tentando agir diferente em Araranguá, ela mandou
esse pedido não ficou com a Comarca de Florianópolis com o
juiz de lá, ele mandou para a comarca aqui do Sul e o juiz do
Sul decidiu esperar esse pedido para que fizesse uma negocia-
ção antes com IFSC, e aí veio o Ministério Público, um repre-
sentante do Ministério Público conversar e aí eu acho que da
advocacia-geral da União conversou com o Ministério Públi-
co, acho que não eles não vieram até aqui, mas veio um repre-
sentante do Ministério Público que conversou também com
a Reitoria e fez uma proposta para a gente, o pedido de rein-
tegração de posse saiu no meu nome, então assinado né que
tinha uma série de estudantes mas como o estudante tal, para
que ele saísse do IFSC, e numa conversa rápida com os alunos
foi “bom o pedido veio para mim eu posso sair né tem que
impedir um por um, se eles quiserem tirar todo mundo”, mas a
gente conversou com os estudantes que veio essa proposta do
ministério público para a gente, aí o pessoal já estava bem can-
sado, que era bem desgastante, enfim, todas as atividades que
estavam acontecendo, a repressão, a pressão de fora, pessoal
tendo que dormir aqui, então tudo isso de um desgaste gigante

110
no pessoal tava aqui dentro, mesmo tendo aquele espírito de
querer lutar um pouco mais, mas quando veio esse pedido a
gente acabou sentando todo mundo e fizemos uma votação de
novo, como já é de praxe, como pedido foi para mim acabei
me dispondo a seu último a voltar para talvez não influenciar
a ideia dos demais, foi até um pedido de um dos outros alunos,
para a gente começar a fazer de uma forma mais assim do que
realmente eles queriam, não que aquilo geraria algum prejuízo
a mim ou algo do tipo, mas se eles realmente queriam finalizar
ocupação, se achavam que tinha tinham cumprido seu papel
ou não, e aí uma maioria de gente acabou decidindo desocu-
par (José, Campus Araranguá).

Após o processo de desocupação nos campi citados acima, os/


as estudantes voltaram suas forças para a participação no ato que
ocorreu em Brasília no dia 29 de novembro, dia da votação em pri-
meiro turno da PEC do Teto de Gastos na Câmara de Deputados.
A mobilização, que contou com cerca de 40 mil pessoas na
Esplanada dos Ministérios, representou um dos momentos mais
importantes do processo de luta pela derrubada das contrarre-
formas do governo Temer. Estudantes de centenas de unidades
escolares ocupadas de todo o país mobilizaram-se e ocuparam
Brasília, sofrendo uma brutal repressão policial. Representan-
tes do movimento estudantil do IFSC também participaram das
manifestações.
A PEC foi aprovada e representou uma derrota para o movi-
mento dos/as ocupas. O país estava condenado a cortes orçamen-
tários em áreas sociais, como saúde e educação, por 20 anos. Os/
as ocupas travaram uma luta justa, alertando a sociedade brasilei-
ra para os malefícios das contrarreformas, o que infelizmente se
confirmou. Após Brasília, as ocupações entraram num ritmo de
refluxo, ainda que algumas escolas e campi tenham permanecido
ocupados até dezembro, o movimento caminhava para o seu fim.
Então, o fim da ocupação ele veio por parte de, no final da
ocupação, a ocupação própria decidiu radicalizar um pouco,
em uns dois, três dias a gente trancou o campus inteiro sem o
acesso do curso que não estava realizando a ocupação. E esse
curso que não estava realizando a ocupação, então ele come-
çou a buscar outros caminhos para terminar essa ocupação.
Diante dessa pressão toda, e como já tava em um processo
final da pec 241, enfim, a ocupação terminou, na verdade,
quando a pec 241 foi aprovada, mas também era a reta final
e já tinha muita pressão desses outros cursos mas se deu mais
pela aprovação da pec 241 (Luís Carlos, Campus Chapecó).
E aí meio que acabou na hora até por inanição assim, tipo,
como o pessoal não fez um movimento de acabar por cima,
acabar quando o movimento ainda tava legítimo, quando ain-
da tava com a legitimidade boa, tava com uma força ali, tava
com uma expressão ele meio que acabou gradualmente con-
forme ele já não tinha mais pernas pra existir, e eu acho que
isso é ruim. Na medida que o movimento conseguisse acabar
por cima, tem um saldo político maior para o próximo perí-
odo. Mas foi um pouco de como aconteceu (Marcos, Campus
Florianópolis – Mauro Ramos).

Mas a repercussão da desocupação violenta do Campus Palhoça


– Bilíngue seguiu na instituição. No dia 29 de novembro, ocorreu
uma audiência pública no prédio da Reitoria do IFSC, cuja pauta
era a desocupação, que contou com a participação de lideranças es-
tudantis e de servidores/as que apoiavam as ocupações.

112
Após as desocupações dos Campi Palhoça, Araranguá e Cha-
pecó por meio de reintegração de posse e com derrota na votação
da PEC 55/2016, na votação em primeiro turno no Senado, no dia
29 de novembro, o movimento no IFSC foi perdendo força.
A ocupação de Xanxerê foi desmobilizada no dia 27 de no-
vembro e os Campi de Florianópolis e São José tiveram as ocupa-
ções encerradas nos dias 07 e 08 de dezembro, respectivamente.
O último foco de resistência foi a ocupação do Campus São
Miguel do Oeste, que terminou no dia 14 de dezembro. O ato final
dos/as ocupas do IFSC foi a divulgação de uma nota política que
anunciou:
Desocupamos, de cabeça e pulsos erguidos!
Após 37 dias e a luta não vai parar, temos muito o que cons-
truir juntos.
Gratidão por todo o apoio vindo de alunos, pais, professores/
servidores, movimentos sociais e toda comunidade externa. A
ocupação foi só o primeiro passo, para dizermos QUE O MO-
VIMENTO ESTUDANTIL ESTÁ VIVO! Para nós estudantes,
nem uma sala de aula vai proporcionar à experiência e formação
política que esse movimento nos proporcionou. Nos unimos,
em torno de uma única causa: LUTAR PELO QUE É NOSSO.
Mais uma vez, muitíssimo obrigado companheir@s e tenham
certeza que a luta continua! (Ocupa IFSC-SMO, 2016, s.p.)

Terminava um dos capítulos mais potentes da história do mo-


vimento estudantil no IFSC. Durante quase dois meses as ocupa-
ções sacudiram a instituição e colocaram os temas nacionais no
centro dos debates da comunidade do IFSC.

R O D R I G O L I M A 113
Mesmo os campi que não foram ocupados viveram sob o es-
pectro das ocupações. Os campi ocupados tiveram suas rotinas
profundamente alteradas, numa subversão da ordem institucional
que foi suplantada por uma nova dinâmica de organização escolar
e acadêmica. A autogestão e o debate político fizeram parte da for-
mação de centenas de estudantes. Eram tempos em que o MESP
e o MBL visavam silenciar e censurar qualquer debate no interior
das escolas. Os/as ocupas resistiram aos ataques da extrema direi-
ta e propuseram alternativas transformadoras para a educação e a
sociedade brasileira.
O movimento foi muito além dos muros do IFSC, levando o
debate sobre o Teto de Gastos e a Reforma do Ensino Médio para
as ruas de cidades catarinenses e trouxeram para dentro dos cam-
pi os movimentos sociais, a comunidade, e estudantes de outras
instituições que passaram a ver nas ocupações do IFSC uma refe-
rência de luta e resistência contra o golpe de 2016. Os/as ocupas
anunciaram as perversidades que a agenda golpista traria para o
país, o que infelizmente se concretizou nos anos de governo Te-
mer e Bolsonaro.
A geração de 2016 ousou “tomar o céu de assalto”, construindo
um marco nas lutas estudantis no IFSC. As ocupações acabaram,
mas suas pautas e seu legado seguem circulando nos corredores
da instituição. A luta continua!

UMA OUTRA EDUCAÇÃO É POSSÍVEL


A primavera de 2016, quando das ocupações no IFSC, fez
desabrochar uma perspectiva de educação proposta e pautada
pelo movimento estudantil. Opondo-se ao NEM e à proposta da

114
BNCC, os/as estudantes colocaram-se em defesa do currículo
integrado na instituição e aprofundaram o debate político nos
campi.
Articulado à luta de estudantes de baixa renda, que iniciaram
um movimento de luta contra a austeridade e os cortes na educa-
ção, as ocupações deram voz e vez às minorias dos campi. Negros
e negras, pessoas com deficiência, mulheres, comunidade LGB-
TQIAPN+ tiveram um protagonismo importante. Estudantes da
EPT afrontaram a lógica de uma educação tecnicista muito pre-
sente no IFSC e propuseram debates que não eram abordados em
sala de aula:
Então, a gente fazia muita oficina, a gente tentava buscar fora
algo que fosse diferente do que a gente sempre tinha em sala
de aula. Então a gente proporcionava oficinas sobre, porque
como a gente tem tecnologia de alimentos, a gente buscava
fora alguém que fosse relacionado a alguma área do curso pra
trazer algo diferente, então a gente fazia palestras, a gente fazia
oficinas práticas, tanto se pintura, sabe, algo mais diversifica-
do do que em sala de aula, enquanto a gente tava na ocupação,
isso era fora do horário de aula, enquanto estava na ocupa-
ção a gente fazia isso e planejava o que as gente ia fazer nos
próximos dias e ficava esperando os resultados também né,
da mobilização que a gente tava fazendo (Marta, Campus São
Miguel do Oeste).

Os/as estudantes realizaram um trabalho coletivo de organi-


zação e de autogestão que marcou profundamente sua formação
educacional e política:
Pra mim, aprender a trabalhar em grupo. Eu acho que traba-
lhar, coordenar coisas muito importantes em grupo e dividir

R O D R I G O L I M A 115
as tarefas, era tão legal e cada um fazia uma coisa e vendo que
era possível cada um fazia um pouquinho e tudo ia fluindo
ao invés de um que sempre manda e os outros vão fazendo e
também esqueci. Aprender a trabalhar em grupo, isso que eu
já falei pra vocês e também começar a observar ainda mais do
que eu já observava de que tudo que é mostrado pra gente tem
alguma coisa por trás, tudo. E isso é bem importante pra tu
fazer as análises e reflexões sobre como as coisas funcionam e
porque são assim e se devem continuar dessa forma. Foi um
crescimento bem importante do lado pessoal, do lado profis-
sional não sei... (Anita, Campus Palhoça).

A politização dos/as estudantes também foi um fator emble-


mático. Em poucas semanas, jovens que não tinham experiência
com movimentos sociais, estavam participando de debates, orga-
nizando passeatas, barricadas, contatos com a imprensa e criando
ferramentas próprias de comunicação e agitação.
A ocupação foi um momento de aprendizagem política pra
todo mundo assim, eu infelizmente já participei da ocupação
e já tava saindo, então acho que o acúmulo que eu ganhei na-
quela ocupação eu não consegui depois reverter em um acú-
mulo do grêmio, mas várias pessoas fizeram isso. Eu sei que
depois da ocupação várias pessoas acabaram até se organizan-
do, qualificando a sua militância, se formando politicamente,
aderindo a uma linha política mais combativa. O movimento,
como eu falei, teve esse saldo político no grêmio estudantil,
que a gente conseguiu retomar pro movimento (Marcos, Cam-
pus Florianópolis – Mauro Ramos).

Contexto que teve um desdobramento perceptível na organi-


zação das entidades estudantis dos campi nos anos seguintes. Em
2017, principalmente durante o primeiro semestre, houve uma

116
forte atuação dos/as estudantes que participaram das ocupações
em manifestações como a Greve Geral de 28 de abril e o Ocu-
pa Brasília, que ocorreu no dia 24 de maio daquele ano. Os/as
ocupas criaram espaços de articulação entre movimentos sociais
regionais, que potencializaram lutas contra o governo golpista de
Michel Temer.
Eu acho que assim, o próximo grêmio, o grêmio que entrou
depois já sentiu a necessidade de, poxa, se acontecer alguma
coisa a gente sabe o que fazer, a gente pode tomar alguma ati-
tude, porque antes era tudo muito, era um grêmio estudantil
mas só tinha mobilização estudantil relacionado a nada que
acontece, pode ser que teja acontecendo alguma coisa relacio-
nado indiretamente dos estudantes, mas não tenha coragem
pra fazer algo. Acho que depois da ocupação, despertou in-
teresse nos alunos, sabe, de não se calar de não ficar só “ah,
tá tudo bem”. Acho que isso encorajou mais os alunos e fez
com que eles percebessem que realmente a gente tem que se
mobilizar quando a gente acha que algo não está certo (Marta,
Campus São Miguel do Oeste).

Eles também derrotaram o movimento de extrema direita em


campi nos quais o MBL já aparecia como uma força política rele-
vante, como foi o caso de Florianópolis.
Tanto que o saldo político que teve da ocupação foi que o grê-
mio que estava na mão da direita, quando a ocupação acaba,
não tá mais na mão da direita, porque por mais que eles ainda
tivessem o mandato deles, de um ano, eles não tinham mais
coragem de aparecer no grêmio, a maioria das pessoas que to-
cavam o grêmio a partir daí, eram pessoas que enfim, estavam
ligadas ao movimento, dispostas a fazer o movimento. Então,

R O D R I G O L I M A 117
tem essa particularidade que eu acho muito interessante as-
sim, até pra entender essa tal da polarização política que existe
e uma demonstração de força mesmo, né? Porque apesar de
tudo e até mesmo o grêmio tentando boicotar, a gente con-
seguiu ser vitorioso na ocupação e ser vitorioso na luta pelo
grêmio estudantil, que é uma entidade legítima, uma entidade
importante para qualquer instituto federal aí, qualquer escola
poder estar organizando o movimento secundarista (Marcos,
Campus Florianópolis – Mauro Ramos).

A democracia participativa direta também foi uma marca en-


tre os/as estudantes que atuaram nas ocupações.
[...] como esse grupo de alunos de pessoas no ambiente só é
interessante a igualdade entre todo mundo, eu acho que foi
o que mais identifiquei naquele momento, que todo mundo
é igual, tinham o mesmo voto e todas as falas eram válidas,
eram escutadas e eram debatidas, até por isso levava muito
tempo nas nossas reuniões iam até duas, três da manhã, o
pessoal começava ali por volta das 10, 11 horas e se estendia
muito tempo conversando, então essa igualdade entre todo
mundo, acho que principalmente para mim como talvez até
como carreira profissional, como professor, essa ideia de estar
atento às políticas públicas a todo momento, eu acho que de-
pois disso eu comecei muito mais a me preocupar com a po-
lítica, então tentar contribuir de alguma forma com a minha
visão e tentar trazer isso que eu aprendo aqui dentro [..] (José,
Campus Araranguá).

Os/as ocupas souberam conviver com diferentes grupos e opi-


niões e questionaram o processo de aprendizado dentro da insti-
tuição, visando superar uma visão de educação tecnicista, avan-
çando num debate de educação socialmente referenciada.

118
Eu cresci muito no sentido de vida assim no sentido de desen-
volver as minhas habilidades de me portar assim, no sentido
do ativismo, de lidar com pessoas de diferentes idades e dife-
rentes nichos de população tanto gente mais provida de di-
nheiro quanto gente menos provida de dinheiro. E por acabar
tomando frente da questão ali acabava tendo uma influência
nos alunos, né? Então eu trabalhei bastante essa questão de
intermediária entre uma instância e outra e a oratória assim
sabe no estudo em si dentro da sala de aula eu vi que consegui
refletir bastante sobre as coisas que aconteceram no processo
e parar de aceitar o que vinha de graça, sabe? Questionava
mais porque sabia que era muito importante essa necessidade
de sempre tá questionando porque tem professor que só quer
que tu aprenda o cru ali mas tu não sai com o ensino dali to-
talmente, né? Porque o ensino vai além da sala de aula, isso é
muito importante dentro do IFSC pra gente saber disso, né?
(Manuel, Campus Palhoça).

A importância do trabalho coletivo foi um dos desdobramen-


tos que ficou na formação política proporcionada pelas ocupações
estudantis.
A experiência dos/as ocupas apresentou um modelo de edu-
cação baseado na autogestão e na articulação da educação profis-
sional com os grandes problemas nacionais. Não negou a relação
e a importância dos/as trabalhadores/as em educação, mas procu-
rou estabelecer novas formas no processo ensino-aprendizagem
e levou a democracia participativa direta como um princípio,
aprofundando-a.
O movimento combateu o obscurantismo do MESP e do MBL,
que ameaçavam a educação. Em resposta propuseram muitas ati-
vidades, difundindo cultura, arte e ciência, através de atividades

R O D R I G O L I M A 119
que valorizavam a formação integral dos/as estudantes, colocando
em prática princípios da educação histórico-crítica que orientam
o IFSC. Os/as ocupas formaram-se enquanto sujeitos históricos,
protagonistas, assentaram suas práticas no trabalho coletivo, ar-
ticularam de forma inédita os campi com os movimentos sociais.
Deram um banho de povo no IFSC.
Defenderam a educação pública num cenário de ofensiva ne-
oliberal, cavaram trincheiras de resistência contra o esvaziamento
do currículo e pautaram debates sobre gênero, sexualidade, antir-
racismo e formação política, quando a censura tentava se abater
sobre as escolas através dos projetos que queriam uma “escola sem
partido”. Naqueles dois meses, outra educação profissional e tec-
nológica revelou-se possível.

120
5

O QUE FICOU
D A S OCUPAÇÕ ES ?

Pelos caminhos que ando


um dia vai ser
só não sei quando

Paulo Leminski

Este livro não tem a pretensão de dar conta de todo o processo


das ocupações no IFSC. Muitas histórias aguardam por ser con-
tadas e o tema segue em aberto para futuras pesquisas e estudos
sobre um movimento que marcou profundamente o movimento
estudantil na instituição.
Entre outubro e dezembro de 2016, milhares de estudantes
se envolveram no processo de ocupações em todas as regiões do
país. No caso do IFSC, é possível afirmar que centenas de estu-
dantes se mobilizaram nas ocupações dos campi, direta e indireta-
mente toda a comunidade acadêmica e escolar foi impactada pelo
movimento.
Dos/as ocupas, muitos, provavelmente, ainda seguem estu-
dando no IFSC ou retornarão para suas salas de aula em algum

R O D R I G O L I M A 121
momento da vida. Muitos seguiram suas vidas profissionais e aca-
dêmicas em outros espaços e instituições, mas seu legado de lutas
segue presente.
Jovens que se levantaram contra as arbitrariedades e o autori-
tarismo, que ousaram resistir numa das conjunturas mais adver-
sas para os movimentos sociais, que se colocaram na trincheira de
defesa da educação pública e foram além, propuseram, na prática,
novas formas de sociabilidade, de poder e de organização coletiva.
Criaram espaços e articulações com movimentos sociais sem pre-
cedentes na história do IFSC. Os campi ocupados converteram-se
em verdadeiros bastiões de resistência contra o golpe, aglutinando
sindicatos, coletivos, partidos políticos e juventudes que busca-
vam algum ponto de unidade num cenário de defensiva das forças
progressistas e populares.
Todos/as os/as ocupas, independente da forma como partici-
param, contribuíram de alguma forma para o processo de ocu-
pação, seja na organização de um debate, em uma fala numa
roda de conversa, pintando um cartaz, na preparação de alimen-
tos ou trancando uma rua. Através de suas ações, abriram novos
caminhos.
Durante a pesquisa, foi possível identificar que a forma de or-
ganização das ocupações teve relação direta com as formas de or-
ganização dos chamados novíssimos movimentos sociais, numa
articulação das lutas locais com as formas de organização dos mo-
vimentos sociais em escala global no século XXI. As ocupações
foram construções horizontalizadas, profundamente democráti-
cas e que procuraram manter a autonomia do movimento, po-
rém sem negar a política, construindo amplas e diversas interfaces
com outros movimentos sociais e organizações políticas.

122
Os/as estudantes do IFSC criticaram o modelo de educação
baseado em competências e habilidades e expuseram que pers-
pectivas tecnicistas, de formação voltada para o mercado de tra-
balho, mesmo no marco da nova institucionalidade permaneciam
hegemônicas, orientando a formação no contexto de educação
profissional e tecnológica dos campi do IFSC.
Os/as ocupas anunciaram que, sem resistência ao golpe, o
pior estaria por vir, o que infelizmente acabou se concretizando.
O movimento não contou com a adesão suficiente dos/as traba-
lhadores/as em educação e o movimento sindical só teve forças
para propor uma greve geral, meses depois que as ocupações ha-
viam sido encerradas. Anos de imobilismo e cooptação dos mo-
vimentos sociais cobraram seu preço. A resistência não conseguiu
barrar o golpe e foi derrotada. Os principais projetos da agenda
neoliberal foram aprovados, com graves consequências ao povo
trabalhador brasileiro.
As lutas estudantis alertaram a sociedade brasileira das graves
consequências que a reforma do ensino médio, o teto de gastos e o
conservadorismo poderiam trazer caso tais projetos avançassem.
As consequências foram sentidas imediatamente com o agra-
vamento dos cortes no orçamento da educação, no avanço de um
currículo rebaixado, que limitou as possibilidades de formação
crítica no ensino médio, além do avanço da violência de grupos
de extrema direita contra as escolas, que passaram a se concretizar
com atentados cada vez mais frequentes.
É difícil mensurar e avaliar o tamanho do legado das ocu-
pações no IFSC. O que podemos afirmar é que as ocupações fo-
ram um marco na Instituição. Uma referência de resistência que
seguirá viva por muito tempo, influenciando novas gerações.

R O D R I G O L I M A 123
Esse livro faz parte de um esforço para que esse momento fique
registrado e siga provocando debates e reflexões sobre o movi-
mento estudantil, inspirando outros/as estudantes.
A disposição de luta dos/das ocupas contrapôs o autoritarismo
e, em resposta, aprofundou a democracia participativa. Formados
no contexto da educação profissional, científica e tecnológica, se
posicionaram contra uma educação tecnicista, eles e elas não que-
riam ser meros operadores ou técnicos, lutavam por mais.
O Brasil e o IFSC não foram mais os mesmos depois de 2016.
As ocupações trouxeram um alerta através de suas lutas. Infeliz-
mente a onda conservadora e o autoritarismo enfrentados pelos/
as ocupas só se agravaram nos anos seguintes, com a ascensão da
extrema direita e a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro em 2018.
Já se passaram sete anos da luta protagonizada pelos/as ocu-
pas. Mas suas bandeiras e pautas seguem vivas e pulsando na
agenda do movimento estudantil no país, mobilizando amplos
setores da juventude trabalhadora. Questões como a democracia
participativa, a revogação de todas as contrarreformas aprovadas
após o golpe, a luta contra a agenda de austeridade, o fim do Novo
Ensino Médio, a derrota da extrema-direita e a construção de uma
escola e de uma sociedade que supere o modelo de exploração
e opressão capitalista são objetivos que devem ser alcançados.
O lema “ocupar e resistir” segue cada vez mais atual!

124
CRONOLOGI A

2013
• Abril – surgimento do Movimento Pela Base Nacional Co-
mum (MPB), a partir do Seminário Internacional “Lide-
rando Reformas Educacionais”, que ocorreu em São Paulo,
na Fundação Victor Civita – Grupo Abril, organizado pela
Universidade de Yale e pela Fundação Lehman.
• 06 de junho – Manifestação convocada pelo Movimento
Passe Livre em São Paulo contra o reajuste das tarifas de
ônibus, metrô e trens. Início das Jornadas de Junho.
• 27 de novembro – Apresentação do Projeto de Lei n.
6840/2013, pela Comissão Especial destinada a promover
estudos e proposições para a reformulação do ensino médio.

2014
• 26 de outubro – Reeleição de Dilma Rousseff (PT) no se-
gundo turno das eleições presidenciais. Com 51,6% dos vo-
tos válidos, ela derrotou o candidato Aécio Neves (PSDB).
• 27 de novembro – Dilma Rousseff anuncia Joaquim Levy
como futuro ministro da economia. Implementar-se-ia
um programa de ajuste fiscal que teve como consequência
uma das maiores recessões da história do país.

R O D R I G O L I M A 125
2015
• 13 de julho – Início da greve no ensino público federal
contra os cortes orçamentários na educação e por reajuste
salarial.
• 23 de setembro – O Governo do Estado de São Paulo
anuncia um projeto de reestruturação da rede escolar.
• 09 de novembro – A Escola Estadual de Diadema foi a pri-
meira a ser ocupada.
• 14 de novembro – Fim da Greve do Sinasefe.
• 02 de dezembro – Eduardo Cunha aceita o pedido de Im-
peachment de Dilma Rousseff.
• Em agosto – Criação da Resistência Estudantil Contra os
Cortes na Educação (RECCE).

2016
• 17 de abril – Aprovado, na Câmara dos deputados, o impe-
achment de Dilma Rousseff.
• 12 de maio – Michel Temer assume interinamente a Presi-
dência da República.
• 03 de junho – O senador Magno Malta apresentou ao Se-
nado Federal o Projeto de Lei do Senado nº 193, conheci-
do como o programa Escola Sem Partido.

126
• 15 de junho – Apresentação da Proposta de Emenda à
Constituição n. 241/2016, pelo Poder Executivo, que: “Al-
tera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,
para instituir o Novo Regime Fiscal”
• 31 de agosto – Michel Temer assume de forma definitiva
a Presidência da República, com mandato até o dia 31 de
dezembro de 2018.
• 23 de setembro – Publicada a Medida Provisória nº
746/2016, que promove as alterações no ensino médio.
• 03 de outubro – Primeira ocupação de escola no Paraná,
na Escola CE Arnaldo Jansen, em São José dos Pinhais.
O movimento chegaria a 850 escolas ocupadas no estado,
o segundo maior movimento de ocupações de escola na
história.
• 17 de outubro – Ocupação do Campus Rio do Sul (IFC).
Primeira ocupação no IF em Santa Catarina.
• 19 de outubro – Ocupação do Campus Araranguá (IFSC).
• 20 de outubro – Ocupação do Campus Chapecó (IFSC).
• 24 de outubro – Ocupação nos Campi São José e Xanxerê
(IFSC).
• 27 de outubro – Ocupação do Campus Mauro Ramos –
Floripa (IFSC).
• 01 de novembro – Ocupação do Campus Palhoça – Bilín-
gue (IFSC).

R O D R I G O L I M A 127
• 08 de novembro – Ocupação do Campus São Miguel do
Oeste (IFSC).
• 11 de novembro – Tentativa fracassada de integrantes do
Movimento Brasil Livre (MBL) desocuparem o Campus
Florianópolis.
• 18 de novembro – Encontro dos Estudantes dos Campi do
IFSC realizado no Campus Palhoça – Bilíngue.
• 23h – Desocupação do Campus Palhoça com a presença
de oficiais de Justiça com participação da Polícia Federal e
de policiais militares do 16º BPM.
• 25 de novembro – Fim da ocupação no Campus Chapecó
e Campus Araranguá.
• 27 de novembro – Fim da ocupação no Campus Xanxerê.
• 29 de novembro – Ocupa Brasília – Aprovação da PEC 95
no primeiro turno – repressão em Brasília.
• 14h – Audiência Pública com a Reitoria do IFSC sobre a
desocupação do Campus Palhoça – Bilíngue.
• 07 de dezembro – Fim da ocupação do Campus Florianó-
polis (Mauro Ramos).
• 08 de dezembro – Fim da ocupação do Campus São José.
• 13 de dezembro – PEC aprovada em segundo turno pelo
Senado, por 53 votos contra 16.
• 14 de dezembro – Fim da ocupação no Campus São Mi-
guel do Oeste.

128
• 15 de dezembro – A PEC foi promulgada no Congresso
Nacional.
• 17 de dezembro – Fim da Greve Nacional do Sinasefe.

2017
16 de fevereiro – Aprovada a Lei nº 13.415/2017, que alterou
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e criou o Novo
Ensino Médio.

R O D R I G O L I M A 129
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to-Lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943, e o Decreto-Lei n 236, de
28 de fevereiro de 1967; revoga a Lei nº 11.161, de 5 de agosto de
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R O D R I G O L I M A 137
A PÊND IC E

Figura 1: Mapa dos Campus do IFSC

Fonte: Portal do IFSC.


Disponível em: https://www.ifsc.edu.br/campus.

R O D R I G O L I M A 139
Figura 2: Evolução da Unidade da Rede Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia

Fonte: Plataforma Nilo Peçanha. Elaborada pelo autor.

Figura 3: Ocupação do Campus Araranguá

Fonte: página da Ocupação IFSC Araranguá no Facebook.

140
Figura 4: Ocupação do Campus Palhoça Bilingue

Fonte: página no Facebook da Ocupação Palhoça Bilíngue.

Figura 5: Estudantes elaboram cartazes na


ocupação do Campus Xanxerê

Fonte: página do Facebook do Ocupa Tudo Xanxerê.

R O D R I G O L I M A 141
Figura 6: Ocupação do Campus Chapecó

Fonte: página do Sinasefe Seção IFSC no Facebook.

Figura 7: Ocupação do Campus São José

Fonte: página do Sinasefe Seção IFSC no Facebook.

142
Figura 8: Acampamento no hall do
Campus Florianópolis – Mauro Ramos

Fonte: página do Facebook do Ocupa IFSC Floripa.

Figura 9: Ocupação do Campus São Miguel do Oeste

Fonte: página do Facebook do Ocupa IFSC SMO.

R O D R I G O L I M A 143
Figura 10: Atividade com a Juventude do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra na ocupação do Campus Chapecó

Fonte: página do Facebook do Grêmio Integrar.

Figura 11: Ato dos ocupas no Centro de Araranguá

Fonte: página da Ocupação IFSC Araranguá no Facebook.

144
Figura 12: Barricada feita pelos ocupas no Campus São José

Fonte: página do Facebook Ocupa IFSC São José.

Figura 13: Carros da PM em frente ao


Campus Palhoça Bilíngue no dia da desocupação

Fonte: página do Facebook Sinasefe, seção IFSC.

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Figura 14: Protesto dos ocupas contra a
votação da PEC 241 em Brasília

Fonte: Sérgio Lima/Poder360.

Figura 15: Alunos pintam faixa na ocupação do


Campus Florianópolis – Mauro Ramos

Fonte: página do Facebook do Ocupa IFSC Floripa.

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Texto revisado segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990,
que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Capa Cassiano de Oliveira


Ilustrações e Arte de Capa Cassiano de Oliveira
Diagramação Évelyn Araujo
Editora Débora Porto
Assistente Editorial Patrícia Aragão
Revisão Daiane Pereira e Luciano Peres dos Santos

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Elaborada pela Bibliotecária Janaina Ramos – CRB-8/9166

L732g

Lima, Rodrigo da Costa


A gente ocupa o IFSC: as ocupações estudantis no Instituto Federal de Santa
Catarina / Rodrigo da Costa Lima. – Porto Alegre: Polifonia, 2023.

148 p.; 15 X 21 cm

ISBN 978-65-87420-24-0

1. Ativismo estudantil. I. Lima, Rodrigo da Costa. II. Título.

CDD 371.81

Índice para catálogo sistemático


I. Ativismo estudantil

Todos os direitos reservados ao autor.

www.editorapolifonia.com.br
Livro composto pela Editora Polifonia,
em Retro Team e Minion Pro
na Primavera de 2023.

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